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INTRODUÇÃO
NARRAÇÃO
A narração consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se "In
Media Res", ou seja, em plena ação. Vasco da Gama e sua frota se dirigem
para o Cabo da Boa Esperança, com o intuito de alcançarem a Índia pelo
mar. Auxiliados pelos deuses Vênus e Marte e perseguidos por Baco e
Netuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre
comprovando seu valor e fazendo prevalecer sua fé cristã. Ao pararem em
Melinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, os portugueses
vão contando a história dos feitos heróicos de seu povo. Completada a
viagem, são recompensados por Vênus com um momento de descanso e
prazer na Ilha dos Amores, verdadeiro paraíso natural que em muito lembra
a imagem que então se fazia do recém descoberto Brasil.
ESTRUTURA NARRATIVA
O poema se estrutura através de uma narrativa principal, que apresenta
a viagem da armada de Vasco da Gama. A esse fio narrativo condutor é
incorporada inicialmente a narração feita por Vasco da Gama ao rei de
Melinde, em que conta a história de Portugal até a sua própria viagem. Na
voz do Gama, ouvem-se os feitos dos heróis portugueses anteriores a ele,
como Dom Nuno Álvares Pereira, o caso de amor trágico de Inês de Castro, o
relato de sua própria partida, com o irado e premonitório discurso do Velho
do Restelo e o episódio do Gigante Adamastor, representação mítica do Cabo
da Boa Esperança.
Em seguida são acrescentadas as narrativas feitas aos seus
companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata o episódio dos Doze da
Inglaterra. Por fim, já na Índia, Paulo da Gama, irmão de Vasco, conta ainda
outros feitos heróicos portugueses ao Catual de Calicute.
A estrutura narrativa do poema é composta, portanto, por três narrativas
remetendo à história de Portugal, interligadas pela narração da viagem de
Vasco da Gama.
ECLETISMO RELIGIOSO
O poema apresenta um ecletismo religioso bastante curioso. Mescla a
mitologia greco-romana a um catolicismo fervoroso. Protegidos pelos deuses,
os portugueses procuram impor aos infiéis mouros sua fé cristã. O
português é visto por Camões como representante de toda a cultura
ocidental, batendo-se contra o inimigo oriental, o árabe não-cristão. Todo
esse fervor religioso não impede a utilização pelo poeta do erotismo de cunho
pagão, como no episódio da Ilha dos Amores e seus defensores lusitanos são
protegidos, ao longo de todo o poema, por uma deusa pagã, Vênus. É curioso
notar que a imagem clássica do deus romano Baco (o Dioniso dos gregos),
amigo do vinho e do desregramento, inimigo maior dos portugueses, é a de
um ser de chifres e rabo. A mesma que foi utilizada pela igreja católica para
representar o demônio.
Episódios Principais
Diversos são os episódios célebres de Os Lusíadas que merecem
um olhar mais atento. Um deles é o da ilha dos Amores, (Canto IX, estrofes
68 a 95) em que a "Máquina do Mundo", com suas inúmeras profecias, é
apresentada aos portugueses. Nessa passagem do final do poema o plano
mítico – dos deuses – e o histórico – dos homens – encontram-se: os
portugueses são elevados simbolicamente à condição de deuses, pois só aos
últimos é permitido contemplar a “Máquina do Mundo”. Foi o episódio da ilha
dos Amores que inspirou o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade a
compor seu poema "A Máquina do Mundo".
Outro é o do Gigante Adamastor, (Canto V, estrofes 37 a 60),
representação figurada do Cabo da Boa Esperança, que simboliza os perigos
e tormentas enfrentados pelos navegadores lusitanos no caminho da Índia.
Adamastor é o próprio Cabo, que foi transformado em rocha pelo deus Peleu,
como vingança por ter seduzido sua esposa, a ninfa Tétis. Esse episódio foi
recriado por Fernando Pessoa (1888-1935) no poema "O Mostrengo" do livro
Mensagem (1934):
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
O Amor, somente ele, foi quem causou a morte de Inês, como se ela fosse
uma inimiga. Dizem que o Amor feroz, cruel, não se satisfaz com as
lágrimas, com a tristeza, mas exige, como um deus severo e despótico,
banhar seus altares (“aras”) em sangue humano: requer sacrifícios
humanos.
A palavra "pérfido", na obra, geralmente se refere aos Mouros inimigos.
Nesse verso, parece indicar que Inês foi morta com a mesma crueldade que
se usava contra eles.
… decide matar Inês, para que o filho seja libertado do seu amor. O pai
acredita que só o sangue da morte apagará o fogo do amor. Que fúria foi
essa que fez com que a espada cortante que afrontara o poder dos Mouros
fosse levantada contra uma frágil e indefesa mulher?
“Se já vimos que até os animais selvagens, cujos instintos são cruéis, e as
aves de rapina têm piedade com as crianças, como demostraram as histórias
da mãe de Nino e a dos fundadores de Roma…”
Semíramis, rainha da Assíria e mãe de Nino, a abandonara num monte. Nino
foi alimentada por aves de rapina. Rômulo e Remo, fundadores de Roma,
foram abandonados quando infantes e amamentados por uma loba.
Sendo assim, ele, o rei, que tinha o rosto e o coração humanos (se é que é
humano matar uma mulher só porque esta ama um homem que a
conquistou), poderia ao menos ter respeito e consideração às crianças, ainda
que não se importasse com a triste morte da mãe. Inês suplica, então, que o
rei se compadeça dela e das crianças, já que não queria perdoá-la ou
absolvê-la de uma culpa, um crime, que não tinha cometido.
Que ele a colocasse entre as feras, onde poderia encontrar a piedade que
não achara entre os homens. Ali, por amor daquele por quem morria ou
sofria, criaria os filhos, que era recordações do pai e seriam consolação da
mãe.
O rei bondoso queria perdoar Inês, comovido por suas palavras. Mas o
povo obstinado, persistente e o destino de Inês (que assim o quis) não lhe
perdoaram. Os que proclamavam que ela deveria morrer puxam suas
espadas. Mostram-se valentes atacando uma dama.
Assim como Pirro se prepara com a espada (“ferro”) para matar Policena,
por ordem do fantasma de Aquiles, e ela - mansa e serenamente -, movendo
os olhos para a mãe, enlouquecida de dor, oferece-se ao sacrifício…
Aquiles, herói da guerra de Tróia, era invulnerável por ter sido
submergido, logo ao nascer, na água da lagoa Estígia (Lagoa da Morte).
Personagem da Ilíada de Homero, morreu durante a guerra de Tróia, quando
foi atingido por uma seta no calcanhar, o único ponto vulnerável do seu
corpo. Pirro, filho de Aquiles, teria sido aconselhado pelo fantasma
(“sombra”) do pai a matar Policena, noiva do herói morto. Matou-a quando
esta se encontrava sobre o túmulo de Aquiles.
Naquele dia, o sol deveria ter-se escondido, como fizera quando Tiestes
comeu os próprios filhos em um banquete servido por Atreu, para não ver o
terrível crime. A última palavra de Inês - o nome de Pedro, o príncipe - ecoou
longa e repetidamente através da região.
Camões iguala a crueldade da morte de Inês à da história de Atreu e
Tiestes. Tiestes era filho de Pélops e irmão de Atreu. Seduziu a esposa do
irmão. Atreu deu a comer a Tiestes os filhos que nasceram daquela união.
Uma mãe fala ao filho, lamentando-se de que ele, que iria ampará-la e
cuidar dela na velhice, a está abandonando para servir de alimento aos
peixes. O lamento das mulheres nessa e na estrofe seguinte é plenamente
justificado: a frota de Vasco da Gama deixou o cais do Restelo com 170
homens, dos quais apenas 55 retornariam vivos a Portugal.
Já que é assim, não estão ali perto os Mouros (“o Ismaelita”), com quem
sempre terá guerras de sobra (muitos combates)? Não seguem eles a lei
maldita dos árabes (refere-se ao Corão – lei islâmica, criada por Maomé,
profeta de Alá), enquanto você guerreia (“pelejas”) pela lei de Cristo? Se luta
para enriquecer (“terras e riqueza mais desejas”), os mouros tem muitas
cidades e terra; eles são guerreiros valentes (“por armas esforçado”), se o que
deseja é ser glorificado, elogiado pelas vitórias na guerra.
Ismaelita é a designação dada aos descendentes de Ismael, filho de
Abraão e da escrava Agar. Os ismaelitas viviam numa confederação de tribos
no deserto da Arábia e deram origem aos árabes.
O Velho amaldiçoa o homem que fez o primeiro barco (“pôs velas nas
ondas”), como merecedor do inferno (“dino da eterna pena do profundo”), se
houver justiça como a que ele acredita. Que nunca sejam feitos um alto
conceito, nem música (“cítara sonora”) ou poesia (“vivo engenho”) que
eternize sua memória por este feito (“Te dê por isso fama nem memória”),
mas que, com o inventor do primeiro barco, morram sua fama, sua
reputação (“seu nome”) e sua glória.
Afirma que o fogo que o filho de Jápeto trouxe do céu e deu aos homens,
esse fogo o mundo acendeu em armas, em mortes, em desonras. Foi um
grande erro (“engano”) dar o fogo à humanidade. Teria sido melhor a nós e
causado menos dano (prejuízo) ao mundo se a estátua feita por Prometeu
não tivesse o fogo do desejo que a movera.
O filho de Jápeto era Prometeu, o titã que roubou o fogo aos deuses e o
deu aos homens. Prometeu trouxe o fogo do Olimpo escondido em uma
estátua humana. Foi condenado a ficar preso num rochedo enquanto uma
águia lhe comia as entranhas.
Se não fosse esse fogo do desejo, o jovem miserável e digno de pena não
teria ousado guiar o carro do pai, nem o grande arquiteto e seu filho teriam
se arriscado a voar (“cometera o ar vazio”). Um deu nome ao mar e o outro
deu fama ao rio. Camões se refere a Faeton ou Faetonte, filho de Apolo, o
deus Sol, que foi imprudente e caiu com o carro do pai no rio Eridano e
Dédalo, arquiteto do labirinto, que, com cera e penas, construiu asas para si
e para seu filho Ícaro que, descuidado, voou rumo ao sol e acabou caindo no
mar.
Nenhum empreendimento nobre ou perverso, por qualquer modo
realizado (“Por fogo, ferro, água, calma e frio”), o gênero humano (“humana
geração”) não tenta realizar (“deixa intentado”). É um destino miserável e
uma estranha obrigação (ou um estado, um modo de ser esquisito).
O ANTICLÍMAX
A fala do Velho destrói ponto por ponto e mina por dentro o fim orgânico dos
Lusíadas, que é cantar a façanha do Capitão, o nome de Aviz, a nobreza
guerreira e a máquina mercantil lusitana envolvida no projeto. (…)
A viagem e todo o desígnio que ela enfeixa aparecem como um desastre
para a sociedade portuguesa: o campo despovoado, a pobreza envergonhada
ou mendiga, os homens válidos dispersos ou mortos, e, por toda parte,
adultérios e orfandades. “Ao cheiro desta canela / o reino se despovoa”, já
dissera Sá de Miranda.
A mudança radical de perspectiva (que dos olhos do Capitão passa para os
do Velho do Restelo) dá a medida da força espiritual de um Camões ideológico
e contra-ideológico, contraditório e vivo. (…)
No largar da aventura marítima e colonizadora o seu maior escritor
orgânico se faria uma consciência perplexa: “Mísera sorte! Estranha
condição!”
INTERTEXTUALIDADE
MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
O texto de Fernando Pessoa aparenta ser uma resposta à fala do
Velho do Restelo. Admite o sofrimento advindo das grandes navegações, mas
considera que foi necessário para a conquista do mar. A resposta de Pessoa
ao Velho do Restelo é que “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena.” Já
o poema de Saramago atualiza a fala camoniana, trazendo-a para o contexto
da exploração espacial. Como o velho, Saramago alerta o astronauta,
moderno navegador, para os problemas que deixa na terra. Assim, Saramago
reitera o discurso da personagem camoniana, agora em contexto universal.
O narrador é elemento fundamental para o sucesso do texto, pois
esse é o dono da voz, o que conta os fatos e seu desenvolvimento. Atua como
intermediário entre a ação narrada e o leitor.
O narrador assume uma posição em relação ao fato narrado (foco narrativo),
o seu ponto de vista constitui a perspectiva a partir da qual o narrador conta
a história.
ENREDO
O enredo é a estrutura da narrativa, o desenrolar dos acontecimentos gera
um conflito que por sua vez é o responsável pela tensão da narrativa.
OSPERSONAGENS
Os personagens são aqueles que participam da narrativa, podem ser reais ou
imaginários, ou a personificação de elementos da natureza, idéias, etc.
Dependendo de sua importância na trama os personagens podem ser
principais ou secundários.
Há personagem que apresenta personalidade e/ou comportamento de forma
evidente, comuns em novelas e filmes, tornando-se personagem caricatural.
ESPAÇO
O espaço onde transcorrem as ações, onde os personagens se movimentam
auxilia na caracterização dos personagens, pois pode interagir com eles ou
por eles ser transformado.
TEMPO