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Resumo
Vivemos numa sociedade desigual. A educação tem sido vista como redentora dessa
injustiça. Na prática esse poder atribuído à educação não tem se verificado. A forma
de organização da atividade econômica representada pelo cooperativismo é
apontada como solução para o desencontro entre a educação e o trabalho. As
teorias pedagógicas da escola unitária, de Antônio Gramsci, da escola libertária
anarquista e os liceos bolivarianos da Venezuela reforçam o discurso que prega o
poder da educação. Enquanto o discurso político não for acompanhado de práticas
que creditem à educação o papel de protagonista do desenvolvimento, a educação
perderá valor, torna-se um discurso contraditório quando continua a ressaltar o seu
poder transformador, mas, deixar de indicar quem ou o que pode conseguir essa
transformação ou é responsável pela falta de transformação.
Enquanto houver uma separação entre o discurso que reforça o poder transformador
da educação e os resultados que essa educação alcança, o discurso pedagógico
estará prejudicado. Convivemos com alunos e professores desinteressados porque
não encontram as respostas procuradas para a realização de seus anseios
psíquicos e sociais através do trabalho. Ao sistema educacional acaba restando o
triste papel de excluir, de servir como barreira impossível de ser vencida pelo
educando. A educação, se não for precedida de um projeto de desenvolvimento
econômico, acaba prometendo muito e realizando pouco. Por mais que ela consiga
reunir as pessoas em torno de um objetivo comum, é ineficaz quando não é
impulsionada pela atividade econômica.
Para o doutor da UFF, Edison Oyama (2010) na sua tese de doutorado sobre Lenin
e a construção da república dos Sovietes da revolução comunista de 1917, a
questão se a educação é ou poderia ser instrumento de mudança/transformação
social, é restrita pelo alcance das ações revolucionárias no modo de produção
capitalista.
Para Ponce (2001, p. 169, apud OYAMA, 2010, p. 12) “nenhuma reforma
pedagógica fundamental pode impor-se antes do triunfo da classe revolucionária que
a reclama.” A maioria da sociedade, representada pela classe trabalhadora, reclama
uma revolução. Reclama por uma revolução que acabe com a propriedade privada
dos meios de produção e com a injusta concentração da riqueza. Nesse caso, após
a revolução, caberia à escola, apenas, fornecer seus militantes.
Oyama (2010) afirma que sem uma revolução, as propostas pedagógicas que não
consigam transformar o modo de produção capitalista, que não convivam com essas
transformações, não conseguirão consolidar sua atuação. Se apesar da escola, o
capitalismo se mantém, é porque essas escolas
Euzébios Filho e Guzzo (2005) afirmam, ainda, que precisamos incentivar o olhar
crítico sobre a sociedade capitalista para que possamos despertar uma consciência
acerca da nossa atuação política e econômica na sociedade.
Podemos potencializar a atuação da educação, se conseguirmos fazer uma síntese
das reflexões teóricas sobre a real capacidade da educação de provocar as
transformações sociais que se propõe. Assim, tanto do lado da política quanto da
educação, a transformação social mais necessária é a que caminhe na direção da
diminuição das desigualdades. Queremos, pois, encontrar uma resposta para a
questão de como a organização política do trabalho e a educação precisam se
articular para que a transformação ocorra. De um lado, precisamos de uma
organização trabalhista que premie o esforço dos alunos formados e do outro, uma
pedagogia que ensine que o valor do conhecimento está no fato de ser um
patrimônio que tem que ser usado em benefício de todos. O comportamento político
social de cada um, a apropriação que cada faz dos frutos do trabalho é que decidirá
a sociedade que teremos.
Existe uma contradição no ensino, quando quer disseminar um ideal de uma escola
de inclusão, de acolhimento, onde predomine a colaboração, se o sistema é o de
mercado, selvagem e excludente. Encontramos muita resistência à ideia de que não
é somente através da educação dos alunos, de que não é somente através da
formação da consciência das novas gerações, que conseguiremos mudar o regime.
3 – Cooperativismo
O modelo de produção do cooperativismo é uma forma como a sociedade pode
assegurar a transformação social para uma sociedade mais justa e igualitária. É uma
forma de garantir a transformação assegurando aos estudantes os preceitos
necessários para sua implantação e, depois de formados, as oportunidades de
trabalho através das políticas de organização social das cooperativas de produção e
consumo. Medidas político educativas que propiciem o sustento digno dos membros
da sociedade. Precisamos de uma organização do trabalho que beneficie toda a
comunidade. Segundo a pesquisadora de ciências sociais Claudete Pagotto (2003),
a forma de organização do trabalho em cooperativas surgiu no meio das lutas
operárias do século XIX como uma alternativa às contradições das relações
capitalistas com o objetivo de realizar transformações sociais.
4 – A Escola Unitária
Antônio Gramsci, jornalista, cientista político e deputado italiano, criou a proposta
pedagógica da Escola Unitária. Gramsci chamou o exercício do poder político de
hegemonia. A Escola Unitária propõe a preparação das futuras gerações para o
exercício da hegemonia. Para Jesus (1985, p. 3) a “educação só tem sentido
integrada ao processo de transformação da sociedade”, incorporando novos grupos
de indivíduos ao processo hegemônico, segundo a proposta de Gramsci.
A escola que queremos é a escola que forma, instrui e alerta o cidadão, sobre a
ação do poder político. A política tem poder de transformar a sociedade. Logo, o
objetivo dos dois é o de uma sociedade mais igual e, por isso, mais justa.
De acordo com Bomfim (2011, p. 2), a questão que se colocava era a de educar
politicamente, construir uma vontade coletiva, disputar a hegemonia e fundar um
novo Estado, mais justo. O estado e a sociedade organizada, atuando na gestão das
instituições educacionais, assumiriam a responsabilidade pelas políticas
educacionais e culturais, que preparassem os cidadãos para exercer a hegemonia,
que como vimos, para Gramsci, é o poder de decidir políticas estatais. É o que
permite que as diferentes classes sociais tenham acesso ao conhecimento que fará
com que elas, no papel de dirigentes, mantenham os níveis de produção e de
produtividade que interessam a toda a sociedade.
Coutinho (2008, apud BOMFIM, 2011, p. 10) afirma que a ação educacional visa a
uma “reforma intelectual e moral capaz de produzir os novos dirigentes, que para
serem realmente novos assumiram um novo projeto ético-politico centrado no valor
da igualdade.”
Para Gagno e Furtado (2010) Gramsci propõe uma educação voltada para as
classes subalternas que inclua a formação de dirigentes e organizadores da sua
cultura, ou seja, apresentar uma visão de mundo dialética, filosófica, social, científica
e histórica, voltada para formação de uma nova civilização.
5 – A Escola Libertária
O movimento anarquista criou a proposta da Escola Moderna, ou Escola Libertária.
Para pioneiro das propostas anarquistas, o militante político espanhol Francisco
Ferrer y Guàrdia (1859-1909) cujos escritos estão reunidos no livro A escola
moderna (1960 p. 28), a proposta anarquista é a de que formemos “homens que
reprovem os convencionalismos, as crueldades, os artifícios e as mentiras que
servem de base para a sociedade moderna.” Para Guàrdia (1960) o impulso da
organização contínua da sociedade provocaria o desaparecimento progressivo da
servidão. Para ele, os esforços da ciência melhorariam a sorte dos povos. Mas
Ferrer (apud GUÁRDIA) não tarda a expressar sua decepção quando afirma: “longe
disso, estamos cansados de saber que aqueles que disputam o poder não olham
além da defesa de seus interesses, que só se preocupam com a própria vantagem e
a satisfação de seus apetites.” (GUÀRDIA, 1960 p. 30)
6 – A escola Bolivariana
A constituição da Venezuela (CONSTITUICIÓN, 2000), no artigo 102, afirma que a
educação tem a finalidade de
7 – Conclusão
O socialismo, o anarquismo e o novo socialismo bolivariano são os movimentos
sociais que até hoje melhor representaram as esperanças de transformação da
sociedade e definiram políticas que aproveitavam o poder transformador da
educação nesse processo, mas mesmo assim, a transformação só aconteceu e só
conseguiu e consegue se manter, enquanto a sociedade se mantiver mobilizada.
Esses movimentos sociais estiveram representados nas propostas das escolas
unitária e libertária. Atualmente, também estamos vivenciando a proposta bolivariana
da Venezuela.
8 – Referências
ACANDA, J. L. Sociedade civil e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ,
2006.
KRUPSKAIA, N. Papel de Lenin na luta por uma escola politécnica. In: Lenin, V.I.
Sobre a educação. Lisboa, Seara Nova, 1977, vol. 2, pp. 167-173.
LOPES, Milton. Pedro Matera: um nome para a história de Vila Isabel. Edição
especial do boletim do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, Ano VII, No. 20, julho
de 2011. Disponível em
<http://marquesdacosta.files.wordpress.com/2011/12/emece_20.pdf> Acesso em:
Mar, 2013.
PONCE, Aníbal. Educação e luta de classes. 19.ed. São Paulo: Cortez, 2001.