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Exclusão social expulsa da escola milhões de crianças – apesar dos mais altos índices
de matrículas da história da educação brasileira
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Evasão – Por outro lado, do ensino básico ao superior, os índices de evasão e repetência são
piores que nos países mais pobres da América Latina. O brasileiro adulto, em média, não
tem seis anos de estudos – menos que panamenhos, equatorianos, colombianos e
salvadorenhos. Apenas 12 em cada 100 brasileiros entre 20 e 24 anos estão numa faculdade
– inferior aos 20 no Chile, 30 no Uruguai e 40 na combalida Argentina.
Ao participar, em outubro passado, da 30ª Assembléia Geral da Organização das Nações
Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o ministro da Educação, Paulo Renato
Souza, concordou que a situação não é a ideal, mas chamou atenção para os avanços
realizados. Como exemplo, destacou a universalização do ensino fundamental, a redução do
analfabetismo e o crescimento das taxas de matrícula.
Alguns números são, de fato, animadores. Com 52,2 milhões de alunos matriculados em
todos os níveis de ensino – fora o superior –, o país teve um incremento de 1,3 milhão de
matrículas entre 1998 e 1999, de acordo com o Censo Escolar. Outro fator positivo é o de
que o total de matrículas da quinta à oitava série do ensino fundamental foi maior do que o
verificado nas séries iniciais. Como há excesso de alunos retidos entre a primeira e quarta
séries devido à repetência, o aumento de matrículas nas últimas séries indica uma correção
do fluxo escolar. O índice de matrículas no ensino médio também teve um crescimento
expressivo, superando o registrado da quinta à oitava série do fundamental. Segundo a
presidente do Inep, Maria Helena Guimarães de Castro, a matrícula no ensino médio
cresceu a uma taxa de 4,1% ao ano, de 80 a 94, atingindo uma média de 9,5%, entre 1995 e
1999 – ano em que o índice chegou a 11,5%, com destaque para a Região Norte, onde o
porcentual de aumento nas matrículas foi de 17,1%, e para o Nordeste, com 14,2%.
Em 1989, estavam fora da escola 16% das crianças de 7 a 14 anos. Uma década depois,
esse índice caiu para 4%. No período de 1995 a 1999, o contingente de brasileiros que
completaram pelo menos o então segundo grau – 11 anos ou mais de escola – cresceu de
14% para 19%. No ensino médio, houve uma explosão de matrículas: 57% entre 1994 e
1999. As matrículas nas faculdades também atingiram picos de 12% em apenas um ano (de
1998 para 1999), um recorde nacional.
“É, em termos concretos, um aumento espetacular das taxas de escolarização dos mais
pobres e uma vitória para todos os que lutam por igualdade”, comemora Paulo Renato,
ministro da Educação. “Em 1992, tínhamos na escola apenas 71% das crianças na faixa dos
20% mais pobres, contra 97% das crianças ricas”, continua. “Sete anos depois, 93% das
crianças mais pobres freqüentavam a escola, contra 99% das ricas. A diferença na
escolarização entre ricos e pobres caiu de 26 pontos porcentuais para apenas seis pontos.
No caso de jovens de 14 a 17 anos, os dados também são animadores: em 1992, menos da
metade dos adolescentes pobres freqüentava a escola, contra 80% dos mais ricos. Em 1999,
quase 70% dos garotos pobres estavam na sala de aula.” Esses resultados não são fruto do
acaso, para o ministro: “Financiados pelo MEC, por ONGs ou pelo Banco Mundial, vários
programas de apoio à alfabetização e de combate à repetência e evasão escolares têm
assegurado a milhares de brasileiros o direito a uma melhor qualidade de vida.”
Clarilza Prado de Sousa, professora da pós-graduação de psicologia da Educação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do Núcleo de
Avaliação Educacional da Fundação Carlos Chagas, destaca a importância dos programas
de aceleração, citando como exemplo o Acelera, Brasil!, do Instituto Ayrton Senna. “Os
programas reforçam a aprendizagem e a auto-estima do estudante”, explica ela. “No caso
do Acelera, o Instituto Ayrton Senna, por meio de convênio com prefeituras, cria a classe,
dá o material e faz o acompanhamento, enquanto o município paga os professores.” Um
aspecto negativo, segundo Clarilza, é o de que muitas escolas tradicionais ainda não se
organizaram para integrar as classes de aceleração. “Um aluno repetente que consegue
ingressar na quinta série, por exemplo, depois de passar por um programa de aceleração,
vai necessitar de um apoio inicial que a escola regular não está preparada para oferecer.”
O otimismo e ufanismo que permeiam as estatísticas educacionais do MEC fazem qualquer
brasileiro ir dormir com orgulho. E acordar caindo na real, pelo menos aqueles dois terços
da população já mencionados (os dos dois salários mínimos). “Há uma preocupação
estatística exagerada no Brasil”, criticava o geógrafo Milton Santos (1926-2001), que se
destacou pelos estudos sobre os aspectos excludentes da globalização. “Educação, hoje, é
apenas um treinamento para retardar a distribuição de renda da população”, resumia. “Nós
deveríamos ter uma cruzada pela ascensão social, que está em baixa.”
No andar de baixo da sociedade, qualquer pai, por mais pobre que seja, sabe que escola é
esperança de futuro melhor para seus filhos. Mas não há otimismo que retire uma criança
da rua quando ela não tem o que comer em casa. Para atenuar esse conflito, algumas
capitais implantaram o Bolsa-Escola, para que as famílias pobres recebam um valor,
geralmente menos de um salário mínimo, para manter seus filhos na escola. Surgiram cerca
de 60 programas semelhantes, em nível municipal e estadual, desde 1995. A prefeitura de
São Paulo também lançou o seu próprio projeto com um valor de
R$ 120. “Nosso objetivo é diminuir a evasão escolar que acontece por expulsão ou sucção,
já que as famílias precisam de um complemento na renda”, aponta Fernando José de
Almeida, secretário municipal da Educação de São Paulo, que cita outras fontes de
exclusão: “As escolas têm um processo perverso. O currículo muitas vezes não é
interessante para os alunos. Os professores também devem estar capacitados para entender
e tentar ajudar os problemas familiares das crianças. Tudo isso afeta o desempenho dos
alunos. O Bolsa-Escola é apenas um dos incentivos.”
*Colaboraram: Thaís Cristina (São Paulo), Mariana Viktor (Porto Alegre) e Beatriz Lima
(Belo Horizonte).