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Os países pobres e de renda média lideram a emissão de CO2 no século XXI

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

O mundo vive uma emergência climática. A temperatura da Terra já subiu mais de 1º C desde o
início da Revolução Industrial e o ritmo do aquecimento global tem se acelerado. Uma
temperatura de 1,5º C acima do nível médio do século passado pode ser atingida na década de
2030 e a marca de 2º C (prevista como limite máximo do Acordo de Paris) pode ser atingida até
meados do século XXI. Os efeitos deste processo podem ser catastróficos como mostrou – com
base em dados científicos – o jornalista David Wallace-Wells, no livro Terra Inabitável (2019).

A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou de aproximadamente 277


partes por milhão (ppm) em 1750, no início da era industrial, para cerca de 410 ppm em 2019.
O aumento de CO2 atmosférico acima dos níveis pré-industriais foi causado, inicialmente, pela
liberação de carbono na atmosfera do desmatamento e outras atividades de mudança no uso
da terra. Embora as emissões de combustíveis fósseis tenham começado antes da era industrial,
elas só se tornaram a fonte dominante de emissões antropogênicas para a atmosfera por volta
de 1950 e sua participação relativa continuou a aumentar até o presente.

Os países ricos e desenvolvidos foram os principais responsáveis pelas emissões de CO2 no


século XX e, sem dúvida, responderam pelas maiores emissões históricas de gases de efeito
estufa (GEE). Contudo, o crescimento demoeconômico dos países de renda média e baixa fez
com que os nações do “Terceiro Mundo” passassem a liderar as emissões no século XXI.

O gráfico abaixo mostra que a OCDE (proxy dos países ricos) respondia por mais da metade das
emissões de CO2 até o fim do século XX, mas diminuiu o ritmo das emissões na primeira década
do século XXI e apresentou redução das emissões depois da crise econômica de 2008/09. Já os
países de renda média e baixa assumiram a liderança das emissões no século XXI.

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Evidentemente, o maior aumento das emissões ocorreu na China que é o país mais populoso do
mundo e que apresentou, nas últimas 4 décadas, as maiores taxas de crescimento econômico
da história. Mas a China já possui uma população em idade ativa em declínio e tem avançado
rapidamente na mudança da matriz energética, o que tem possibilitado reduzir o ritmo das
emissões de GEE no gigante asiático.

A Índia – o segundo país mais populoso e que vai ultrapassar a China na próxima década – emite
menos que a China, mas é o país que apresenta as maiores taxas de emissão de CO2 entre as
três principais nações mais populosas e mais poluidoras (China, EUA e Índia). A Rússia, pós
regime soviético, diminuiu as emissões, mas continua a ocupar o 4º lugar entre as nações mais
poluidoras. O Japão ocupa a 5ª posição e a Alemanha a 6ª posição no ranking dos maiores
poluidores.

Mas a grande novidade e o grande destaque do século XXI é o aumento acelerado das emissões
de GEE nos países do resto do mundo que não fazem parte da OCDE (e fora China, Índia e Rússia).
Entre 1959 e 2017 a Ásia aumentou em 12,6 vezes suas emissões, a África aumentou 9 vezes e
a OCDE aumentou 2,2 vezes. Entre 2000 e 2017 a Ásia aumentou em 2 vezes suas emissões, a
África aumentou 1,5 vezes e a OCDE reduziu em 10% suas emissões.

O gráfico abaixo mostra a participação dos países ricos (OCDE) e do restante do mundo (países
de renda média e baixa) na emissão de CO2. Nota-se que a OCDE liderava as emissões antes dos
anos 1980, apresentou um certo empate nas duas últimas décadas do século XX e houve uma
inversão das curvas no século XXI, com os países do “Terceiro Mundo” aumentando
significativamente a participação e a responsabilidade no total das emissões globais. Nota-se,
adicionalmente, que os EUA e a União Europeia (28 países) – os dois principais poluidores
históricos - tem reduzido a participação no conjunto das emissões. Ou seja, cerca de dois terços
das emissões de CO2, em 2017, foram do restante do mundo e um terço dos países da OCDE.

Indubitavelmente, as emissões per capitas são muito maiores na OCDE do que no restante do
mundo. Contudo, para considerar as emissões nacionais é preciso considerar não somente as
emissões per capita, mas também o tamanho da população. Em 1959, os países da OCDE tinham
uma população de 787,2 milhões de habitantes e o restante do mundo, com 2,2 bilhões de

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habitantes era 2,8 vezes maior. Mas em 2017, a população da OCDE passou para 1,29 milhões
de pessoas e o restante do mundo com 6,25 bilhões de habitantes era 4,8 vezes maior.

De fato, como mostra o gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, entre os
2,5 bilhões de habitantes de 1950, 814 milhões pertenciam aos países mais desenvolvidos e 1,72
bilhão aos países menos desenvolvidos. Mas, entre os 7,79 bilhões de habitantes de 2020, 1,27
bilhão pertenciam aos países desenvolvidos e 6,5 bilhões aos países menos desenvolvidos.

Além da diferença no crescimento demográfico, os países pobres e em desenvolvimento


apresentam taxas mais elevadas de crescimento econômico, pois partem de uma base mais
baixa e lutam para reduzir a pobreza e aumentar o bem-estar. O gráfico abaixo, com dados do
FMI em poder de paridade de compra, mostra que as economias avançadas (países ricos)
representavam cerca de 60% da economia global no final do século XX e as economias
emergentes (países pobres e de renda média) representavam 40%. Atualmente, a correlação de
forças se inverteu e existe uma tendência de ampliação das economias emergentes.

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Os países emergentes da Ásia estão na liderança da economia internacional, com um
crescimento médio em torno de 6,5% ao ano na atual década. Os países da África Subsaariana
tem apresentado crescimento em torno de 4% na atual década. Já os países latino-americanos
tem crescido abaixo de 2% ao ano na atual década. No agregado, as economias avançadas estão
crescendo em torno de 1,7% entre 2011 e 2024, enquanto as economias emergentes estão
crescendo em torno de 4,8% ao ano no período.

Portanto, embora tenham padrões de vida bem desiguais, o impacto negativo do crescimento
demoeconômico sobre a crise climática, no século XXI, será maior nas economias emergentes,
sendo, causticamente falando, os referidos países de renda baixa e média que vão sofrer as
principais consequências dos sinais do colapso climático e ambiental que se avizinha no
horizonte.

O grande paradoxo da atualidade é o dilema entre a necessidade de desenvolvimento


socioeconômico para reduzir a pobreza e aumentar o bem-estar humano nos países em
desenvolvimento e a preservação do meio ambiente e do equilíbrio climático. O fato é que, no
modelo hegemônico de produção e consumo, os países ricos “estouraram o orçamento de
carbono e ambiental” e a emergência dos países pobres e de renda média se dá às custas do
aprofundamento da degradação ecológica e climática.

Assim, é necessário promover um “cavalo de pau” na economia global. O mundo precisa romper
com o “conto de fadas” do crescimento demoeconômico e começar a enfrentar as injustiças das
desigualdades de renda e patrimônio e iniciar o planejamento do decrescimento das atividades
antrópicas, para colocar a Pegada Ecológica em equilíbrio com a Biocapacidade da Terra
(atualmente o déficit ambiental é de 70%).

Insistir na permanência do rumo do crescimento demoeconômico continuado é caminhar no


sentido do abismo. Abismo gerado pela ultrapassagem da capacidade de carga e pelo
desequilíbrio homeostático do clima da Terra. Por conta disto, o grupo “Extinction Rebellion”
(XR) exige que os governos contem a verdade à sociedade declarando uma emergência climática
e ecológica e a adolescente ativista Greta Thunberg disse: “Quero que vocês ajam como se nossa
casa estivesse pegando fogo. Porque está” (THUNBERG, 25/01/2019). Há, nitidamente, um
conflito intergeracional no mundo, pois a juventude atual se sente traída e não quer receber
como herança uma Terra arrasada.

Sem dúvida é necessário mudar o estilo de vida da população mundial e reduzir as desigualdades
sociais, mas a principal medida de mitigação da crise climática é o planejamento de longo prazo
do decrescimento demoeconômico. Mesmo assim, os problemas ecológicos já estão
“contratados” e cerca de 5 bilhões de pessoas vão ser impactadas pelas crise ambiental até 2050
(CHAPLIN-KRAMER, 2019). Neste sentido, o planejamento do decrescimento populacional na
segunda metade do século XXI pode contribuir para a adaptação às mudanças climáticas e ao
colapso ambiental.

Em síntese, existem muitas coisas para serem feitas e muita rebelião para enfrentar as ameaças
de extinção. Mas também não dá para ignorar a resistência das forças fundamentalistas e
dogmáticas, de direita e de esquerda – configurando o pronatalismo antropocêntrico e ecocida
– forças estas quer interditam o debate demográfico. Porém, fica cada vez mais claro que a
reversão do crescimento populacional é uma medida fundamental e essencial para a adaptação
e a mitigação da crise climática e ambiental.

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Referências:
ALVES, JED. Os 25 anos da CIPD: Terra inabitável e o grito da juventude, REBEP, Revista
Brasileira de Estudos de População, 36, 2019
CHAPLIN-KRAMER et al. Global modeling of nature’s contributions to people, Science,
11/10/2019: https://science.sciencemag.org/content/366/6462/255/tab-pdf
Extinction Rebellion (XR): https://rebellion.earth/
THUNBERG, G. Our house is on fire. The Guardian, 25 Jan. 2019.
https://www.theguardian.com/environment/2019/jan/25/our-house-is-on-fire-greta-
thunberg16-urges-leaders-to-act-on-climate
WALLACE-WELLS, D. O mundo está tomando uma direção aterrorizante”. Entrevista El Ágora,
16/10/2019 http://www.ihu.unisinos.br/593482-o-mundo-esta-tomando-uma-direcao-
aterrorizante-entrevista-com-david-wallace-wells

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