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Introdução
Conceito
A responsabilidade civil é uma das fontes das obrigações1. Nos contratos, a
obrigação nasce a partir de uma conduta lícita e bilateral, através de um acordo de
vontades. Na responsabilidade civil, por outro lado, a obrigação resulta de uma conduta
unilateral e, via de regra, ilícita.
Evolução
Direito Antigo
A responsabilidade civil teve um quadro evolutivo cuja origem remonta à
vingança privada do direito romano. Posteriormente, o Estado passou a chamar pra si a
função de organizar essa vingança, o que culminou com a Lei das XII Tábuas. Havia,
nesse modelo, uma tipologia de atos específicos, associados a crimes como furto,
assassinato, etc., e que geravam a responsabilidade do agente. Dava-se ao agente, nesse
modelo, a oportunidade de indenizar a vítima, em dinheiro, antes da vingança
propriamente dita. Mas, em todo caso, continuava sendo uma forma de vingança - só
que institucionalizada e tipificada.
1 O Código atual divide as fontes das obrigações em quatro, a saber, os contratos, os títulos de crédito, os atos
unilaterais e a responsabilidade civil.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Dessa ideia pode-se inferir alguns dados. Primeiro, que a conduta externada pode
ser ativa ou passiva, mas sempre voluntária, o que pressupõe o discernimento do
agente. Deve haver, portanto, uma vontade juridicamente apreciável, e não mera
vontade natural.
Segundo, ressalte-se que o agente que com essa conduta causa prejuízo a outrem
fica obrigado a reparar. A conduta, portanto, tem que ser a causa do dano. Ademais, tal
conduta deve violar direito alheio, sendo portanto uma conduta ilícita, via de regra.
Nesse contexto, portanto, a culpa era o critério de que se valia o legislador para
“escolher quem vai indenizar”. Era, em outras palavras, o nexo de imputação da
responsabilidade civil. No figurino clássico da responsabilidade, então, quem indeniza é
o culpado, havendo assim uma sobreposição entre as condições de culpado e
responsável.
O art. 59 do código de 1916, assim como sua origem francesa, é a tradução clara
do que se chama de responsabilidade civil subjetiva, ou aquiliana. Esse artigo foi
reproduzido no Código Civil de 2002, com algumas mudanças entretanto, que
demonstram uma evolução do tema.
Cabe salientar que, no seu quadro tradicional, a responsabilidade civil atendia a
uma ideologia própria daquele momento. Não apenas o código brasileiro, mas todos os
2Segundo o art. 1382 do Código francês, “tout fait quelconque de l'homme, qui cause à autrui un dommage, oblige
celui par la faute duquel il est arrivé à le réparer”.
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Figurino
Clássico da
Responsabilidade
Conduta Civil o culpado
voluntária deve indenizá-
culposa la
Culpa
que
causa Diminuição
de modo
que
Individualismo
patrimonial da
vítima
Patrimonialismo
1. Individualismo;
Os códigos do século XIX, são ainda hoje acoimados de códigos individualistas.
Foram, de fato, uma forma de afirmação de um espaço privado contra um Estado
que até então era absolutista, onipresente nas relações privadas. Não deixa de ser
verdade que eram individualistas, mas o fato é que esses códigos atenderam a um
reclamo fundamental da época. No âmbito da responsabilidade civil, esse
individualismo se refletiu numa responsabilidade individualizada, na qual vale a
máxima “o culpado indeniza”.
2. Patrimonialismo;
A ideologia fundamental da revolução francesa foi garantir um espaço para as
relações interprivadas, mas afetas fundamentalmente a um novo estamento social
que acendia: a burguesia.
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Faz-se uma critica a esses códigos por serem eminentemente patrimonialistas. Isso
se reflete na responsabilidade civil, que era eminentemente patrimonializada. Era
uma responsabilidade civil cuja ocupação fundamental era, portanto, de
recomposição do patrimônio da vitima desfalcado pelo cometimento do ilícito.
O tal do “prejuízo causado”, que gerava a obrigação de indenizar, era entendido
como um desfalque no patrimônio. Essa ideia remete à teoria da diferença,
segundo a qual a determinação da indenização se daria por mera conta
matemática: patrimônio antes do dano menos patrimônio depois do dano. Isso só
faz sentido partindo-se do pressuposto de que o dano é sempre um prejuízo
patrimonial, e portanto mensurável pecuniarimanete.
3. Culpa;
Quem é o culpado pelo prejuízo? O nexo de imputação nesse modelo é
fundamentalmente a culpa. Assim, na ausência de culpa, mesmo que haja conduta,
dano, e nexo causal, não há indenização.
1. A Revolução Industrial;
No campo dos contratos, a revolução industrial trouxe a massificação dos
contratos, os contratos standartizados. No campo dos danos, observou-se o
advento da “era dos acidentes”. De fato, a produção no modelo fordista, com o
uso generalizado de máquinas, favoreceu em grande medida a eclosão de eventos
danosos. O grande problema é que nos acidentes, principalmente quando
causados por máquinas, nem sempre é possível identificar o “culpado”, que
muitas vezes ficava anônimo. Mesmo que possível, a prova dessa culpa era
sempre muito difícil para a vítima, o que obstava sua indenização.
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2. Guerras mundiais;
A segunda guerra mundial trouxe o fenômeno de subalternização, reificação do
ser humano. No campo da responsabilidade civil, esse fenômeno levou a uma
nova preocupação do sistema: entendeu-se que a responsabilidade civil não
deveria ser mero instrumento de recomposição patrimonial da vítima... deveria ter
também um papel preventivo do dano.
Ademais, mesmo já tendo se verificada a ocorrência do dano, a preocupação não
deveria ser apenas de recomposição pecuniária, mas também pessoal da vítima.
Daí a ideia hoje da existência de danos pessoais: físicos, psíquicos, em suma,
danos extrapatrimoniais.
1. Responsabilidade Coletivizada;
O advento de uma responsabilidade socializada traz em si a ideia fundamental de
eficiência do sistema. De fato, diante da magnitude dos resultados danosos e da
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Problema 1
Por que a indenização não é sempre coletivizada?
2. Indenidade Pessoal;
A responsabilidade civil, nesse quadro evolutivo, se desprendeu daquela ideia
exclusivamente patrimonialista (teoria da diferença), passando a ostentar também
uma preocupação com a integridade pessoal da vítima. É essa ideia de preservar
não só o patrimônio da pessoa, mas ela própria, que deu desenvolvimento à
doutrina do dano moral.
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3. Risco;
Como vimos, com a crescente industrialização e consequente prodigalização dos
acidentes, a culpa passou a ser insuficiente como critério de imputação. Diante
dessa insuficiência, desenvolve-se a ideia da responsabilidade civil sem culpa,
objetiva. Nesse sentido, erigiu-se um outro nexo de imputação que pudesse
substituir a culpa em determinados casos com o intuito de garantir a indenização à
vítima: o risco.
Problema 2
Por que não abandonar de vez a culpa?
Apesar do surgimento de outros critérios de imputação, não dá pra abandonar a culpa por
completo. Primeiro, porque a culpa, que é a grosso modo um erro de conduta, tem um
papel profilático, educativo, no sistema. Ou seja, as pessoas deveriam se preocupar em
não agir com culpa e em não causar prejuízo a outrem. E responsabilizar culpados tem um
papel no sentido de desincentivar condutas culposas.
Outro argumento, mais pragmático, remete à questão do direito de regresso. Como
vimos, há determinadas pessoas que respondem independentemente de culpa - por outro
nexo qualquer de imputação. Há alguns casos que essas pessoas, depois de indenizar,
podem exercitar o direito de regresso. E, não raro, nesse exercício se discuta a culpa.Por
exemplo, o Estado responde pelo dano que seus servidores causam a terceiros, mas tem
direito de regresso contra esse servidor, e no exercício desse direito de regresso discute-se
a culpa do último.
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(1916) Art. 159. Aquele que, por ação (2002) Art. 186. Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência, ou ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito, ou causar imprudência, violar direito e causar dano 2
prejuízo a outrem, fica obrigado a a outrem, ainda que exclusivamente
reparar o dano. moral, comete ato ilícito.
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1. Imprescindibilidade do Dano;
O código atual tirou o “ou” e colocou o “e”. Com isso, o legislador quis indicar
que o que se indeniza é o dano, então uma violação a direito alheio que não causa
dano algum não se indeniza.
Por exemplo, contrato uma demolidora para demolir um muro no meu quintal,
mas na madrugada antes disso um caminhão desgovernado derruba o muro (sem
causar outros danos). Há dois momentos distintos: no momento em que o
caminhão derrubou o muro, alterou-se a realidade, inclusive do ponto de vista
econômico (havia um muro, e não há mais). Foi, portanto, um evento danoso. Mas
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Dano evento portanto se refere à ocorrência no mundo dos fatos que o altera;
dessa ocorrência, num segundo momento - dano prejuízo - pode ou não decorrer
um prejuízo pra vítima.
3. Dano Moral;
A terceira mudança diz respeito à previsão expressa do dano moral, que inexistia
no código velho. Assim, o prejuízo não é mais associado apenas a um aspecto
material. Não obstante a falta de previsão expressa, alguns artigo eram
interpretados como contemplativos do dano moral. Uma dessas interpretações era
acerca do próprio art. 159 e aquele “ou”: entendia-se que quando o sujeito
violasse direito alheio mas sem causar prejuízo patrimonial, era dano moral.
Mas isso não faz mais sentido. Afinal, admite-se hoje que o próprio dano pode ser
também moral, então o temo “dano” já abrange a ideia de dano moral.
4. Responsabilidade Objetiva;
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Foi também incluído, no art. 927, um parágrafo único segundo o qual também
haverá a obrigação de reparar o dano - independentemente de culpa, um
responsabilidade civil objetiva portanto - nos casos expressos em lei, ou quando a
atividade normalmente desempenhada pelo agente implicar risco ao direito de
outrem.
Ok, há responsabilidade civil sem culpa. Mas onde estão esses casos? Segundo o
parágrafo, em primeiro lugar, nos casos previstos em lei, seja em lei própria
(responsabilidade do CDC, por dano ambiental, por dano atômico, etc); seja no
próprio código civil, que prevê uma série de casos especiais (responsabilidade dos
pais, do empregador, dentre outras hipóteses casuísticas).
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No fundo, o que fez o código foi, nessa tese, abrir espaço a diferentes nexos de
imputação da obrigação de indenizar. Parece ter ainda ficado naquela dicotomia
binária de culpa e risco, apesar de trazer outras hipóteses de indenização sem
culpa e distinta do risco, mas de maneira especial. Em outras palavras, estabeleceu
uma cláusula geral de responsabilidade objetiva fundada no risco, que figura hoje
ao lado da cláusula geral da responsabilidade subjetiva, mas outros nexos de
imputação continuam restritos a casos especiais.
Todos esses modelos se complementam, afinal a atual responsabilidade civil se
caracteriza pela multiplicidade de critérios de imputação. Mas cabe salientar que,
desde o direito romano, a responsabilidade civil gira primariamente em torno da
reparação de um dano, e hoje há também na ideia de prevenção. Mas o que
importa é que, seja objetiva ou subjetiva a responsabilidade, é imprescindível que
haja um dano - a reparar ou a prevenir.
Responsabilidade
Civil
Conduta Dano
Nexo
Causal
Dano
No seu modelo tradicional, o dano era concebido como um desfalque
patrimonial causado pela conduta ilícita do agente. No âmbito da responsabilidade
civil, todavia, um dos assuntos que mais evolui foi justamente a ideia de dano. Quanto
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É preciso observar, porém, que não é qualquer dano que atrai a incidência da
disciplina da responsabilidade civil. Em outras palavras, não é todo dano que se
indeniza, mas tão somente o dano injusto.
De fato, diariamente sofremos uma miríade de danos, mas na maioria das vezes
“faz parte”. Por exemplo, tenho uma padaria, e certo dia um concorrente - em
decorrência da sua livre iniciativa constitucionalmente assegurada - resolve abrir uma
outra padaria perto. Ora, se ele não incorrer em nenhum ato de concorrência desleal, a
concorrência é a priori lícita, e apesar de naturalmente me acarretar um dano, não tenho
nenhum direito a indenização.
Requisitos
Quando a doutrina examina esse requisito fundamental da responsabilidade civil,
costuma identificar três notas distintivas daquilo que efetivamente configura um dano:
deve ser atual, certo e subsistente. Mas esses requisitos são inafastáveis? Vamos antes
de tudo defini-los:
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Problema 3
E se a extensão do dano não for atual?
Há determinados danos que até são certos, e subsistentes, mas sua extensão não é
exatamente atual. Por exemplo, Tício passa no sinal vermelho e atropela Caio, que propõe
uma ação de indenização nos moldes tradicionais - ele pleiteia uma indenização pelos
danos sofridos (valores das cirurgias, dos tratamentos médicos, etc.). Durante os meses
que se seguem, apesar de no instante imediato da operação não ter sido necessário, surge a
necessidade de se colocar uma prótese. Ou seja, pela própria essência da lesão, é possível
que haja futuramente um agravamento dela. É um desdobramento da atualidade do
dano.
A questão é: verificado o agravamento, o valor dessa prótese precisa ser objeto de uma
nova ação de indenização contra Tício? Afinal, ele já foi condenado a indenizar,
reconhecido culpado pela eclosão do evento danoso... Não! Caio não precisa promover
outra ação de indenização, porque toda a dinâmica do efeito danoso já foi apreciada: não
se exclui que o resultado danoso tenha outros desdobramentos. É claro que Tício poderá
discutir por exemplo se a prótese era necessária, mas não pode discutir a responsabilidade.
A ideia de dano atual, portanto, precisa ser compreendida em termos, porque pode haver
sim esses desdobramentos danosos não de início aferífeis - mas isso não tira a atualidade
do dano.
Por exemplo: Caio passa no sinal vermelho e bate no taxi de Ticio, que gasta X
reais pra conserta-lo (dano emergente), e fica 30 dias parado durante esse conserto.
Consequentemente, deixa de lucrar a receita que ele auferiria nesses 30 dias se o dano
não tivesse ocorrido (lucro cessante).
Mas se o dano tem que ser certo, como posso dizer que é certo se é relativo a um
lucro futuro? Nos 30 dias é possível que Ticio não tivesse nenhum passageiro, podia
ficar doente e por isso ficar parado...
Essa certeza, portanto, tem que ser compreendida em termos: conforme o caso,
tem que ser compreendida como probabilidade, a partir de um juízo de razoabilidade.
Tanto é que quando o Código Civil define o lucro cessante, utiliza expressamente o
temo “razoavelmente deixou de lucrar”.
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No exemplo, se Ticio nos últimos dois ano a cada 30 dias tinha um rendimento
médio de y reais, é razoável imaginar que no tempo que ficou parado também teria esse
rendimento. Assim, a título de lucro cessante, é isso que lhe será pago.
Problema 5
Responsabilidade pela perda de uma chance: dano certo ou remoto?
Talvez o grande segredo dessa matéria seja tentar interpretar pela negativa:
imaginar as hipóteses em que o dano é hipotético, remoto. Por exemplo, Tício estava
indo prestar um concurso público, mas foi atropelado no caminho. A título de lucro
cessante, ele poderia pedir todo o salário que ganharia até se aposentar no cargo, com os
prováveis acréscimos por tempo de serviço? Não, porque isso é um dano remoto! Quem
garante que se ele tivesse chegado no concurso, ele passaria?
Mas em outra hipótese, imaginemos que Ticio já está investido no cargo e ao ser
atropelado é obrigado a se aposentar por invalidez. Nesse caso, a situação muda: aqui o
dano não é remoto, passado o tempo se ele não morresse ele seria promovido - então são
devidos os acréscimos.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
A pergunta é: mas se houvesse uma resposta certa, qual a garantia que a autora
teria acertado? Entendeu-se que ela tinha uma probabilidade bastante razoável de
acertar. A produtora do programa recorreu ao STJ, que, trabalhando com a ideia de
probabilidade, reduziu a indenização a 1/4 do valor do prêmio. Partiu-se da premissa de
que, como eram quatro alternativas, se houve uma correta ela tinha 25% de chance de
acertar. É uma solução casuística, e não tecnicamente certa, mas mais equânime.
Vistos os requisitos do dano, vamos ver algumas classificações:
Certo
Requisitos Atual
Subsistente
Dano
Classificação
Lucro cessante
Direto Individual Patrimonial
Lucro emergente
Indireto Coletivo Extrapatrimonial
Perda de uma
chance
Dano de risco?
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Dano de Risco
A questão do “dano de risco” coloca-se dentro do problema da certeza do dano.
Dano Moral
Dano moral, apesar de ser uma expressão consagrada, pode suscitar um
equívoco que se reconduz à origem de seu desenvolvimento. O equívoco consiste
em associar o dano moral à ideia de dor, sofrimento, angústia.
Claro que a vítima pode experimentar esses sentimentos diante do dano, mas
não há como saber! A ideia canônica de “preço da dor” está totalmente superada.
Alias, associar o dano moral a essas sensações tem consequências lógicas
insustentáveis: significaria, por exemplo, negar o dano moral do recém nascido.
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Não
confundir
Não com simples
transtorno! Entendido
associar
de maneira
com dor e
residual
sofrimento!
Agravo sério...
Dano
Extrapatrimonial
...a direito
essencial Resultado não
aferível
economicamente
Problema 6
Pessoa jurídica sofre dano moral?
Na doutrina, diz-se que a dignidade é o valor fonte dos direitos morais. Ora, se os
danos morais decorrem de lesão a direitos essenciais, e estes por sua vez se baseiam
na dignidade, então é preciso ser pessoa natural para sofrer dano moral. Pessoa
jurídica, afinal, não tem dignidade...
Nesse sentido, boa parte da doutrina sustenta que o que pode acontecer na pessoa
jurídica é um dano que não pode ser apreciável, mas que ainda assim é econômico.
A jurisprudência, no entanto, vai no sentido contrário. Godoy, por sua vez, sustenta
que é claro que o dano moral, concebido como violação a direito da personalidade, só
pode ser sofrido por pessoa natural. Mas o código civil estabelece, no art. 52, que às
pessoas jurídicas aplica-se no que couber os direito protetivos dos direitos da
personalidade da pessoa natural. Ou seja, não se nega que a pessoa jurídica não tem a
dignidade humana, mas o código lhe empresta esses direitos protetivos. Nesse
sentido, seria possível extender também por empréstimo a questão da indenização
moral.
A pessoa jurídica é um expediente a favor da pessoa natural, um instrumento de
persecução comum de interesses das pessoas naturais, o que justificaria o empréstimo.
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Assim, por ser uma resposta sistemática dessa magnitude, não pode ser
banalizado. Anderson Schreiber, em “Novos Paradigmas da Responsabilidade
Civil”, trata justamente dessa preocupação de não banalizar o dano moral, dando
exemplos de ações frívolas.
Indenização
Moral
Função Função
Não pode ser Reparatória Preventiva Não pode ser
muito alto! (se
muito baixo!
for, gera
(se for, não
enriquecimento
afeta o ofensor)
sem causa)
Vítima foco Ofensor
Valor Valor
compensatório dissuasório
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Verificado o dano moral, o juiz fixa a indenização... mas qual é o valor desta?
De que critérios se vale o juiz para fixá-la? Antes de tudo, é preciso estabelecer
algumas premissas: é preciso determinar qual a função da responsabilidade civil,
isto é, se é só reparatória, se tem um cunho preventivo, ou até mesmo punitivo.
3 Há uma crítica acerca da penuniarização do dano moral: por que é sempre uma resposta pecuniária? Criou-se,
diante desse questionamento, uma série de respostas alternativas, como retratação pública por exemplo.
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Problema 7
E se não houver valor que atenda a ambas as funções?
Dado que os critérios para a fixação da indenização são distintos de acordo com a
função que se almeja, e considerando-se que ambas as funções devem ser observadas,
o juiz poderia chegar a uma situação de aporia: dependendo da disparidade da situação
econômica da vítima e do autor, nunca vai chegar a um valor que atenda
simultaneamente a ambos os critérios, ou seja, um valor que compense a vítima sem
enriquece-la, certamente não será um valor dissuasório do ofensor, e vice versa.
Uma solução para isso seria uma aplicação analógica do dispositivo do parágrafo
único do art. 883, que diz:
Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim
ilícito, imoral, ou proibido por lei.
Parágrafo único. No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de
estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz.
Assim, se aplicar-se essa solução, parte do valor indenizatório seria revertida para
vítima, na extensão suficiente para que ela fosse compensada, e parte para uma
instituição altruística.
Problema 8
A indenização tem função punitiva?
É possível imaginar que a responsabilidade civil tenha também uma função punitiva.
A jurisprudência, ao fixar a indenização moral, mais que uma preocupação preventiva
e prospetiva, tem se utilizado da indenização para punir o ofensor. Mas a questão é:
realmente existe essa função no nosso sistema indenizatório?
Como vimos, deve-se considerar no arbitramento da indenização a compensação da
vítima, sem enriquece-la, e a dissuasão do ofensor - mas isso não deve ser confundido
com um valor punitivo. São coisas diferentes: na prevenção, olha-se para ao futuro,.
Uma indenização preventiva é prespectiva, enquanto a punitiva olha para o que o
sujeito já fez, é retrospectiva portanto.
OBS: há no Brasil inúmeros projetos de lei no CN para tarifar o dano moral - isso
implicaria tipificar quais são as ofensas. entende-e a preocupação do legislador em
estabelecer parâmetros máximos e mínimos, como forma de dar previsibilidade. mas
se a IM é uma rsposta, geralmente, a agravo sério a direito essencial, seria
constitucional impor limitações apriorísticas à indenização, à tutela?
seria um ganho de segurança jurídica mas com grande risco de injustiça. adstringe-se
a esses patamares situações, vítimas, completamente diferentes.
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Acão de indenização
Por exemplo, Caio atropela Ticio, cujos filhos podem sofrer eventualmente
dano material reflexo, e certamente dano moral reflexo. O dano é reflexo, pois é
uma consequência da morte do pai.
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Problema 9
E se o filho tinha renda?
Digamos que o pai morre e deixa um filho maior que tinha emprego. O dever que um
pai deve a um filho maior que se sustenta é um dever de socorro, não de sustento. De
fato, o filho não precisava da assistência naquele momento, mas fica privado da
possibilidade de pedir alimentos se precisasse no futuro. Mas aí voltamos à questão
dos requisitos do dano: há certeza ou é um dano hipotético? Isso envolve a verificação
de qual a probabilidade dessa assistência mostrar-se necessária.
O maior problema do dano moral é o limite. Não se pode aprioriticamente limitar a
incidência da responsabilidade, principalmente quando relacionada ao parentesco.
Mas também deve-se evitar abusos!
No dano coletivo, por sua vez, é uma comunidade que sofre o prejuízo, o que
dá uma dimensão diferente ao dano. Para identificar o dano coletivo, o próprio
CDC, no art. 81, define o que seria interesse coletivo, que violado gera um dano
coletivo:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.
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Individual strito
Interesse sensu
Individualmente
Individual aferível
Individual
homogêneo
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Normalmente nessa área, como vimos, trabalha-se com a ideia de fundos, que
podem ser uma solução para isso.
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que ele fez propaganda pra uma determinada cerveja mas trocou pra outra
abruptamente. Isso gerou diversas discussões sobre o desrespeito a boa fé
objetiva contratual e como aquilo representava um dano moral coletivo.
A segunda pergunta: pra onde vai a indenização? Junqueira defendia que seria
para o autor até certo ponto pelo dano que ele próprio prove ter experimentado.
O juiz, por sua vez, fixaria um plus a título de dano social - e que reverteria ao autor
como uma espécie de prêmio por ter atuado no interesse da sociedade. Mas
Junqueira também não rejeitava a ideia de que esse prêmio poderia ser revertido não
ao autor mas a um fundo, o que o Godoy acha mais justo.
O maior problema dessa tese diz respeito à natureza desse plus: a ideia de um
plus indenizatório também não remeteria a uma função punitiva da
responsabilidade? Ele não enfrentou de frente o problema, que no fundo remete à
questão: é possível no Brasil uma indenização essencialmente punitiva?
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Problema 10
Há função punitiva da responsabilidade civil?
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Nexo Causal
A questão mais difícil da RC é histórica: a questão do nexo causal. Este
envolve menos um problema jurídico e mais uma questão de fato, de acordo com a
doutrina de forma geral. O nexo causal liga o evento à conduta, de modo a
concluir-se que naquele caso o fato antecedente (conduta) foi o motivo de
ocorrência do fenômeno lesivo (dano).
A determinação do nexo causal visa à identificação de qual foi ou quais foram
as causas eficientes para a eclosão do evento danoso, o que pode ser difícil na
prática.
Causalidade
Suposta ou Coletiva ou
Simples Omissiva Múltipla
Alternativa Anônima
Nexo causal Nexo causal
físico normativo
naturalístico Nexo Causal
Plúrimo
Contribuição de várias
pessoas ao mesmo
tempo
Causalidade
Sucessiva
Contribuição de várias
causas diferentes
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Mas então dá onde vem o nexo causal nessas hipóteses? A conduta omissiva
envolve outra questão, uma questão normativa, e não física. Estabelece-se um elo
com as providências que o sujeito tinha a obrigação de enfrentar. O elo, dessa
forma, se estabelece com a conduta que foi omitida, e não com a omissão em si. Se
estabelece, portanto, com o que juridicamente o sujeito tinha que fazer mas não
fez.
Concausalidade
Quando a causalidade é simples não há problemas. O complicado é quando
nos deparamos com concausas, ou seja, casos em que mais de uma causa leva à
eclosão do resultado danoso. A questão que surge nessas hipóteses é: ok, são várias
causas, mas quais dentre esses antecedentes causais é o fato que podemos
considerar eficiente, necessário pra eclosão do evento danoso?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
4O raciocínio lógico seguido para se determinar quais são essas causas dar-se-ia pela exclusão: se, ao eliminar-se
mentalmente uma determinada condição da cadeia de circunstâncias, o resultado danoso deixaria de concretizar-se,
então aquela condição foi causa, e, portanto, existe o nexo causal entre ela e o resultado. Por isso, é também
conhecida como teoria da conditio sine qua non.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Alguns autores criticam essa teoria dizendo que esse artigo só se aplica para
casos de inexecução contratual, mas isso é um equívoco porque o artigo está
na parte geral.
Equivalencia
Verificação todos os fatos
1 que condicionaram a
eclosão do evento danoso.
Adequada
Verifica-se quais dessas Imediata
condições são causas Por fim, verifica-se se houve
2 eficientes. algo que interrompeu o nexo
causal entre a causa e o
resultado danoso.
3
5 Segundo o art. 430, “ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual.”
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Há, ainda, um outro julgado8 , que tratou do caso de uma mulher que foi
arrebatada de noite no banco, extorquida e violentada. Propôs, por isso, uma ação
de indenização contra o banco pelos danos pessoais que havia sofrido: além do dano
físico, o dano moral. Entrou em relevo a discussão sobre a interrupção do nexo.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
que o primeiro fato permaneça na cadeia, o último não precisa nem ser uma
conseqüência natural dele, basta que tenha sido por ele favorecido.
Nesse último caso, não se pode negar que o arrebatamento favoreceu o evento
danoso. Então, na opinião do Godoy, não teria havido interrupção do nexo.
Por fim, pra não deixar de fora a doutrina, na obra “O Problema do Nexo
Causal”, de Gisele Sampaio da Cruz, há uma profunda análise dessas questões.
Acerca da interrupção, a autora dá o exemplo de Pereira Coelho: um caminhão bate
numa casa afetando suas fundações e, posteriormente, um vento forte a derruba. A
que se deveu a queda da casa? O ciclone não é conseqüência necessária da batida,
óbvio. Mas o resultado (queda da casa) do fato 2 (ciclone) foi favorecido pelo fato 1
(batida), que por sua vez causou o abalo das estruturas da casa. Diante disso, o
autor defende que não haveria interrupção, pois o primeiro fato favoreceu o efeito
mais danoso do segundo.
Problema 11
E se for impossível identificar o certo dentre os possíveis responsáveis?
Imaginemos que Caio e Ticio vão caçar, separadamente. Por coincidência, foram caçar
no mesmo lugar, com o mesmo tipo de arma e munição. Por mais coincidência ainda,
atiram ao mesmo tempo e um deles atinge uma pessoa que estava passando. Partindo-
se da premissa de que no caso concreto não foi possível demonstrar quem atirou no
sujeito, se era da arma de Caio ou Tício, mas que era certo que foi um dos dois... o
que fazer? Ninguém responde, afinal não se provou o nexo causal? Respondem os
dois, e um vai ter que pagar pelo que não fez?
Transportado esse exemplo pra outro contexto menos hipotético, há o caso do vaso
que caiu do edifício Copan na cabeça de um transeunte. Quem responde: o dono da
unidade por onde o vaso foi atirado. Mas e se não se identificar de qual unidade caiu?
Por vezes não há como se provar de qual unidade caiu, mas há como provar que caiu!
A jurisprudência passou da ideia de irresponsabilidade nesse caso, para a ideia de
responsabilidade do condomínio, e hoje traz ideia de responsabilização das unidades
de onde poderia ter caído.
32
Responsabilidade Civil Giselle Viana
Culpa
A culpa só faz sentido dentro da ideia de responsabilidade subjetiva, sendo
seu nexo de imputação e elemento nuclear.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão Art. 927. Aquele que, por ato ilícito
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e (arts. 186 e 187), causar dano a
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente outrem, fica obrigado a repará-lo.
moral, comete ato ilícito.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Dolo
A distinção entre o dolo e a culpa reside na intenção, que é o elemento
finalístico da vontade. Intenção, logo, é a vontade dirigida para um fim
predeterminado. A perquirição da intenção volta-se para o agente: quando o agente
age com dolo, ele projeta, antevê, e persegue o resultado danoso.
Ademais, no dolo, a conduta já nasce ilícita. O juízo de desvalor incide sobre
a própria conduta, que é ilícita desde sua origem. Isso porque o agente causador
projetou o resultado, e conscientemente dirigiu sua vontade ao encontro do evento
danoso. É uma infração consciente do dever jurídico.
Comportamento
voluntário Representação
do resultado
antijurídico
Previsibilidade
Culpa Dolo
Consciência da
Violação de um ilicitude desse
dever de cuidado Desvalor Desvalor
resultado
incide incide
objetivo
sobre o sobre a
resultado conduta
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
limite mínimo da culpa - o resultado tem que ser previsível, mesmo que não tenha
na prática sido previsto pela agente.
Dever
de
Cuidado
Escolha da Melhor Habilidade do
conduta agente
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Evolução Histórica
Assim como a própria responsabilidade civil evoluiu com o tempo, a ideia de
culpa sofreu algumas alterações, sobretudo com a passagem do estado liberal para o
estado social.
Estado Liberal
No contexto do liberalismo, a culpa tinha uma dimensão marcadamente
axiológica. O dever objetivo de cuidado era pautado por uma avaliação moral e
subjetiva da conduta individual. Assim, seu exame se dava em concreto: pela
investigação das características do agente, sua intenção, etc.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Estado Social
Com o avanço científico, a difusão dos danos anônimos e inevitáveis, e o
surgimento do Estado social, o direito civil teve que moldar-se aos novos valores
em jogo. Assim, aqueles princípios liberais foram relativizados, com o surgimento
dos princípios da boa-fé objetiva, da equidade e da força social do contrato.
No campo da responsabilidade civil, o nascimento do Estado social marca a
passagem de uma concepção psicológica da culpa para uma concepção normativa:
a culpa se objetiva. O foco que antes era sobre o agente, o empresário, passa a ser a
vítima.
37
Responsabilidade Civil Giselle Viana
Atualmente
Desde o surgimento do estado social, portanto, observamos em geral uma
progressiva objetivação da responsabilidade civil. O dado novo da atualidade é a
crescente pluralidade social.
Numa sociedade plural, multifacetada, há uma fragmentação dos modelos
abstratos de conduta: não há um único a servir de parâmetro para as condutas
concretas. Os modelos de conduta são múltiplos, e levam em consideração a
atividade na qual se deu o evento lesivo, as circunstâncias pessoais e
socioeconômicas dos atores envolvidos, etc. Para as mais diversas situações são
utilizados parâmetros de conduta específicos e diferenciados. Assim, não há mais
um único padrão ético de conduta: o modelo não é mais o bonus pater famielies,
pois este não comporta a pluralidade da realidade moderna.
Estado Liberal
Concepção
principiológica e Estado Social
psicológica da culpa. Concepção normativa da
Análise moral e culpa. Atualmente
subjetiva da conduta Comparação entre Sociedade multifacetada
concreta. conduta concreta e e consequente
Foco: empresário ideal: boa-fé objetiva. fragmentação dos
Foco: reparação de modelos de conduta.
danos injustos. Parâmetros e critérios
diferenciados para cada
situação.
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Classificações
A negligência, por sua vez, é uma conduta omissiva. Assim, o motorista que
não se atenta ao cuidado exigido, em relação à manutenção dos freios por exemplo,
age de forma negligente.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
intensidade da culpa
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
desgraça dos herdeiros da vítima para o causador do dano que agiu com uma culpa
levíssima, por exemplo. Por isso, por um imperativo de equidade, inseriu-se no
código esse parágrafo único, que prevê a possibilidade excepcional de uma redução
equitativa da indenização.
Problema 11
Há redução equitativa quando o dano é moral?
Essa redução é aplicada em caso de dano moral? Não, pois no dano moral não há um
ressarcimento de dano, mas uma compensação por um dano extrapatrimonial. Ela é
arbitrada judicialmente, e não medida pela extensão do dano.
Isso, todavia, não significa que o ressarcimento por dano moral não leva em
consideração esse tipo de desproporção entre culpa e dano. Afinal, para fins desse
arbitramento, leva-se em conta vários critérios, e dentre eles a culpa do agente, e
também a condição socioeconômica da vítima e do agente, a reprobabilidade da
conduta, etc.
Dizer que o 944 não se aplica ao dano moral não implica uma repercussão negativa ao
agente, pois sua culpa já será valorada no momento do arbitramento da compensação
financeira.
Culpa Concorrente
A culpa concorrente vem tratada no art. 945 do código. Para a ocorrência do
dano a vítima colaborou, concorreu. Isso ocorrendo, haverá uma minoração da
indenização. Mais uma vez, é o princípio da eticidade inspirando a solução do caso
concreto: primeiro pela incorporação dessa norma no código civil, e posteriormente
na aplicação no caso concreto.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano.
Efeito
Uma vez verificada a culpa concorrente da vítima, o que acontece? Uma
corrente afirma que o efeito é o compartilhamento na mesma proporção dos
prejuízos (meio a meio do valor indenizatório). Essa seria a solução mais coerente
se partirmos do pressuposto de que o que importa é só a extensão do dano, e não a
intensidade da culpa.
9Percebe-se, aqui, uma mitigação daquela visão segundo a qual a intensidade da culpa é irrelevante. Outro aspecto
dessa mitigação é o caso do parágrafo único do 944, que trata da redução equitativa no caso de desproporção.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Responsabilidade Objetiva
Na responsabilidade subjetiva, ao nexo de causalidade agrega-se um elemento
que qualifica a conduta, isto é, a culpa.
Nexos de Imputação
Grosso modo, a responsabilidade civil objetiva é uma responsabilidade civil
independente de culpa. Há situações portanto em que é suficiente a mera
causalidade entre a conduta e o dano para que se configure o dever de indenizar.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Mas isso não significa necessariamente que ela sempre dispense qualquer nexo de
imputação. Pode haver, com efeito, exigência de um nexo de imputação especial
(diferente da culpa, obviamente) e isso sem que a responsabilidade deixe de ser
objetiva.
Responsabildiade
Culpa
Conduta Subjetiva
Nexo de Responsabildiade
Causalidade Objetiva Agravada
Risco
Dano defeito Responsabildiade
etc.
Objetiva
10 A não ser que seja um profissional liberal, pois nesse caso volta-se a exigir a culpa. O pressuposto é de que a
contratação de profissionais liberais são pessoais, se estabelecem com base na confiança, e por isso é menos
rigoroso. Mas se, por exemplo, contrato uma empresa de prestação de serviço médico, voltar-se-ia à
responsabilidade civil sem culpa.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Saliente-se, portanto, que apesar de ser uma lei tutelar, o CDC não se contenta
com a causalidade pura! A causalidade deve ser qualificada por um nexo de
imputação, que no caso é o defeito. Assim, dispensa-se a culpa mas exige-se o
defeito como critério de imputação.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
1. Atividade;
Muitos extendem a noção desse dispositivo pra aplicar a casos que são de
enorme risco, que envolvem um imenso perigo, mas que não envolvem uma
atividade.
Por exemplo, Caio dá uma carona a Tício, mas sofre um acidente durante o
trajeto - é atingido por outro carro que passou no sinal vermelho. Caio não teve
culpa, e ambos se machucam e querem propor uma ação de indenização. Podem
propor uma ação contra o motorista do outro carro - para isso, o título jurídico de
que vão se valer é a responsabilidade civil subjetiva (afinal, ele atravessou no sinal
vermelho!). Mas Ticio não pode processar Caio sob o fundamento de ele ter dado a
carona, exercendo um ato de grande risco, uma vez que dirigir um automóvel
realmente envolve um risco diferenciado. Ele não pode fazer isso porque ato não se
confunde com atividade, e a cláusula geral do 927 exige a atividade.
Agora, se outorgo uma procuração pra que ele administre meu patrimônio, o
que ele fará é uma série de atos coordenados entre si e voltados para um objetivo
único: a administração do meu patrimônio. Estará, portanto, realizando uma
atividade.Esse conceito de atividade suscita algumas questões. Em primeiro lugar,
essa atividade precisa ser lucrativa? Há quem entenda que sim... há quem entenda
que não. Veremos isso depois.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 12
Responsabilidade do 927 e do CDC: diferentes nexos de imputação
2. "Normalmente";
O que é indiscutível é que a atividade que pode atrair a aplicação do parágrafo
único do 927 é uma atividade lícita. Ora, se a atividade foi ilícita ficamos no caso
geral da responsabilidade subjetiva.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Normalmente
Licitude Habitualidade
Ausência de
defeito
3. Risco;
O artigo define as atividades por ele abrangidas como aquelas que por sua
natureza implicam risco aos direitos de outrem. Mas que risco é esse?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 13
Risco do 927: integral ou mitigado?
Estabelecemos então que risco integral remete à causalidade pura, enquanto o risco
mitigado não. Mas a questão agora é: e o risco mencionado no 927, é o integral ou o
mitigado?
Na opinião do Godoy, não é caso da causalidade pura. O pior argumento a favor desse
entendimento é a constatação de que as hipóteses de causalidade pura precisam estar
especialmente dispostas, porque são sempre excepcionais no sistema. Outro argumento,
melhor, é que a própria referência que a lei fez à exigência de um risco a rigor já afasta a
hipótese de ser causalidade pura.
Toda atividade envolve um risco. Se fosse pra dizer que era uma hipótese de causalidade
pura, bastava que o legislador dissesse que quem exerce uma atividade responde pelos
danos por ela causados. Mas não, ele explicita que deve haver risco, qualificando a
atividade portanto.
2. Risco Defeito;
A ideia de risco defeito demonstra uma tentativa de trazer um paralelo perfeito
entre o código civil e o CDC, exigindo-se a existência de um defeito. Já
falamos sobre isso.
3. Risco Empresa;
Alguns autores sustentam que esse risco de que o 927 trata é o risco
profissional ou empresarial, que junto com o risco administrativo forma uma
espécie de tríade de atividades profissionais em sentido amplo e que geram
risco e que portanto devem gerar a responsabilidade civil para as pessoas que
as exercem.
Quem defende isso toma por base a origem sociológica do dispositivo pra
defender que quem exerce uma atividade empresarial ou profissional e com
isso gera risco a outrem deve responder independentemente de culpa.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
O problema disso é que há atividades que não são lucrativas mas que podem
ter uma alta potencialidade danosa.
4. Risco Proveito;
É um problema entrever aqui ou não a necessidade de o risco ser risco-
proveito. Esse proveito precisa ser econômico, lucrativo?
5. Risco Perigo;
O Código não tratou de “atividade de risco” mas de risco da atividade. Para o
Godoy, não precisa ser uma atividade perigosa. Algumas atividades bancárias
por exemplo não são perigosas, mas geram um enorme risco.
5. Risco Especial;
Ok, nenhuma das classificações acima se demonstrou suficiente pra definir o
risco do 927, mas então qual é esse risco? Qual é o nexo de imputação?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Risco
Especial
Critérios de aferição
Por exemplo, a negativação significa dizer que a pessoa tem seu nome
apontado num órgão de cadastramento de proteção ao crédito. Se o indivíduo
está negativado, fica obstado de comprar crédito, o que é bem grave. Quem
indica o nome pra esses órgãos são os associados, e isso gera um grande risco.
Não precisa de estatísticas pra saber que esse é um risco especial: todo mundo
sabe que a negativacao é produto de alguns atos que geram especial risco.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Todavia, a comprovação pelo réu que ele tomou todas as medidas de cautela
possíveis para evitar que o risco se convertesse em dano não configura um
excludente! Provar isso é provar que não teve culpa - e esse é um casos de
responsabilidade objetiva, então a existência ou não de culpa é irrelevante. Há
códigos em que há uma presunção relativa de culpa, o que possibilita ao réu provar
que não teve culpa porque tomou todas as medidas de cautela necessárias, mas aí
não é responsabilidade objetiva.
Fato do Serviço;
Como o código civil se situa em relação ao CDC nessa questão da
responsabilidade? É preciso distinguir o dano que acontece em decorrência da
atividade, e o que acontece em virtude do produto, que já está fora da esfera de
controle do agente, já posto em circulação.
Essa diferenciação é importante pois se a vítima experimenta o dano em
virtude do produto, não se aplica o 927 mesmo se a relação for civil. Nesse caso,
aplica-se o fato do produto, que está tratado no código civil no art. 931. Se a relação
for consumerista, aplica-se o art. 12 do CDC.
[CDC] Art. 14. O fornecedor de serviços [CDC] Art. 927. (...) Parágrafo único.
responde, independentemente da Haverá obrigação de reparar o dano,
existência de culpa, pela reparação dos independentemente de culpa, nos
danos causados aos consumidores por casos especificados em lei, ou quando a
defeitos relativos à prestação dos atividade normalmente desenvolvida pelo
serviços, bem como por informações autor do dano implicar, por sua natureza,
insuficientes ou inadequadas sobre sua risco para os direitos de outrem.
fruição e riscos.
Há, com efeito, uma intersecção: se for uma prestação de serviço, seria
possível enquadra-la tanto no 927 quanto no CDC. Disso decorre que, se for uma
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Fato do produto;
O fato do produto está disposto no art. 12 do CDC e no 931 do Código civil:
[CDC] Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, [CC] Art. 931. Ressalvados
nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, outros casos previstos em lei
independentemente da existência de culpa, pela especial, os empresários
reparação dos danos causados aos consumidores por individuais e as empresas
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, r e s p o n d e m
construção, montagem, fórmulas, manipulação, independentemente de
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, culpa pelos danos causados
bem como por informações insuficientes ou pelos produtos postos em
inadequadas sobre sua utilização e riscos. circulação.
Para o Godoy, tem que se exigir defeito em ambos, mesmo nas relações
paritárias abrangidas pelo 931, ainda que este não exija o defeito expressamente.
Isso porque o produto já está longe da esfera de controle do fornecedor, então ele
não poderia ter uma responsabilidade agravada em relação à responsabilidade sobre
a atividade (o 927 exige o risco).
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Mas, no fundo, o banco também é vítima dos falsários! Então qual é o título
jurídica da sua responsabilidade? Alguns defendem que ele falhou com o dever de
segurança. Mas a falsificação pode ser absolutamente imperceptível, não resultando
de uma falha de segurança do banco. Ademais, no CDC o dever de segurança é
baseado no que era razoável se esperar. Será que seria razoável exigir do banco que
em cada contratação fizesse uma perícia nos documentos?
O ponto é que esses órgãos exercem uma atividade, regular, mas que não é
uma atividade lucrativa, porque são associações. É uma atividade de utilidade
pública, cujo intuito é dar mais segurança ao crédito público, minimizando o risco
de inadimplência e consequentemente garantindo créditos mais baratos. Isso parece
enfraquecer a tese de que a atividade, para fins de aplicação do parágrafo único do
art. 927, precisa ser lucrativa.
Outro caso é o do empregador. O art. 7o, inciso XXVIII, diz que o empregador
responde pelo dano sofrido pelo empregado durante o trabalho em caso de dolo ou
culpa. O empregado, portanto, tem que provar o dolo ou culpa do empregador. Mas
se essa atividade empresarial é uma atividade de especial risco, o empregado pode
55
Responsabilidade Civil Giselle Viana
se valer do 927? Alguns autores sustentam que não, argumentando que o código
civil não pode se sobrevaler à constituição. Mas, vendo sob a ótica da evolução do
direito civil, pode-se imaginar que o que a constituição fez foi um grande avanço,
pois antes era preciso provar dolo, e que o código civil deu prosseguimento a essa
evolução, prevendo a responsabilidade objetiva nesse caso.
Podemos, por fim, falar do exemplo dos grupos não institucionalizados: desde
que não nos filiemos à teoria do risco empresa, até pode-se-ia considerar a
responsabilidade objetiva, se possível provar que era um grupo constante e sempre
com as mesmas pessoas, nos moldes de uma atividade.
Responsabilidade do Incapaz
Na ideia de voluntariedade está ínsita a compreensão de discernimento do agente.
Disso decorre que o agente, para fins de responsabilidade civil, é aquele que tem, do
ponto de vista jurídico, consciência da sua conduta e das consequências que ela traz.
É por isso que, no sistema brasileiro, o incapaz nunca respondeu – por faltar-lhe essa
consciência.
Havia no código anterior uma única exceção, uma única hipótese em que
excepcionalmente o incapaz podia responder civilmente: o art. 15611. No sistema
brasileiro, a incapacidade é graduada (relativa ou absoluta) e pode derivar de causas
diferentes (etária, etc). Dizia o artigo que o menor entre 16 e 21 anos, equiparava-se ao
maior quanto às obrigações resultantes de atos ilícitos, quando procedeu com culpa. Era,
portanto, uma responsabilidade subjetiva que afetava o menor púbere.
Esse entendimento está expresso no art. 928, que prevê uma hipótese em que esse
incapaz, não obstante sua falta de discernimento, pode responder:
11Diz o art. 156: “O menor, entre dezesseis e vinte e um anos, equipara-se ao maior quanto às
obrigações resultantes de atos ilícitos, em que for culpado.”
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que de- verá ser
eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que
dele dependem.
Condições
Quando o incapaz pratica um ato danoso já há quem por lei responda por ele -
normalmente seus pais, o educador, a instituição em que estiver abrigado.
Desde o código anterior há quem responda pelo incapaz na regra geral, e portanto
já havia mecanismos para ressarcir a vítima nesses casos. Todavia, há situações em que
a lei determina que quem normalmente responderia pelo incapaz no caso concreto não
responde. Quando concretamente não houve essa responsabilização, aí o incapaz pode
responder... Mas ainda com uma cautela suplementar: se a responsabilidade não
acarretar ao incapaz - ou pra quem dele dependa - qualquer especial risco.
O art. 928, caput, então, estabelece uma regra geral (o incapaz não responde) e
uma exceção - poderá responder desde que aconteça uma de duas condições: ou os
responsáveis pelo incapaz no caso concreto não têm a obrigação de responder por ele;
ou não têm meios para pagar a indenização.
Os pais respondem pelos atos danosos dos filhos menores que estejam sob sua
autoridade e em sua companhia. Mas pode ser que o ato tenha sido praticado fora dessa
hipótese, os pais podem estar com seu poder familiar suspenso, por exemplo. Ainda,
quanto à segunda hipótese, há pais que estão no exercício do poder familiar, o filho
estava sob sua autoridade, mas os pais não tem meios para pagar a indenização, não têm
patrimônio. Mas o filho tem - então nesse caso é possível que o incapaz responda
também.
Observe-se que não importa o tipo de incapacidade, para fins desse dispositivo.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Indenização Equitativa
Chegando-se a conclusão de que no caso concreto o incapaz vai responder, ele
não responderá como o capaz: responderá por uma indenização equitativa. Por traz
desses artigos está uma ideia de equidade, portanto, que nada mais é que uma justa
distribuição, uma solução mais justa pra um problema concreto.
Fixada a obrigação indenizatória do incapaz, destarte, essa indenização deverá ser
equitativa e não será paga se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que
dependem dele. A ideia do legislador foi de fazer do incapaz alguém responsável pelo
pagamento da indenização desde que isso não lhe traga um risco. Assim, ainda que o
incapaz tenha que responder, ele só será condenado a pagar indenização desde que o
juiz esteja seguro que não lhe trará qualquer risco a sua existência digna dentro do
padrão de vida que sempre teve.
Critérios de Fixação
Se ele puder pagar, uma vez observados os dois pressupostos, mesmo assim a
indenização será equitativa. Mas o que é indenização equitativa? Ora, se é equitativa
então de alguma forma ela foge à regra normal da indenização. Essa regra, segundo o
art. 449, caput, é que a indenização como regra se fixa em razão do tamanho do prejuízo
causado. Se mede, portanto, pela extensão do dano.
Se aqui a indenização é equitativa, para arbitrá-la o juiz não deverá levar em conta
exclusivamente a regra geral, de extensão do dano, portanto. Tem, antes de tudo, que ser
a solução mais justa ao caso concreto, levando em conta que quem está indenizando é
um incapaz, isto é, alguém que normalmente não indenizaria.
Ok, tem que ser justa e não se mede só pelo dano. Mas quais os critérios para fixar
uma indenização equitativa?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 14
A indenização equitativa é sempre reduzida?
Boa parte da doutrina, diante disso, sustenta que essa indenização será reduzida, ou seja,
menor que o prejuízo efetivamente causado. Mas quanto a menos? A lei não estabelece
quais os critérios para essa redução, mas há um consenso que se deve levar em
consideração as condições pessoais do incapaz e da vítima, além de critérios objetivos
como o grau de reprobabilidade da conduta.
godoy não concorda que a indenização deve ser necessariamente reduzida por dois
motivos:
1. Quando o legislador quis uma indenização equitativa necessariamente reduzida, em
outra passagem (no parágrafo único do 994 - desproporção entre o grau de culpa do
agentes e o tamanho do prejuízo causado à vítima, que já vimos), esse disse "reduzida".
Aqui ele não disse.
2. No caso concreto, uma indenização completa pode sim ser equitativa. Se o incapaz
tiver muito patrimônio e pra ele não fazer diferença, porque não pagar o valor integral?
Poder-se-ia argumentar que essa avaliação econômica das partes é indevida, mas a
consideração econômica das parte será feita de qualquer modo, a fins de determinar o
quanto será reduzido - então não é aprioristicamente uma consideração indevida.
Mas, se o incapaz pagar o valor integral, não se equipara ao capaz? Não! Porque a
diferença entre eles já está feita - só se está cogitando o pagamento da indenização pois
no caso concreto passou-se já por todos aqueles pressupostos.
Para Godoy, portanto, essa indenização equitativa não se mede pelo tamanho do prejuízo
causado, mas não se deve excluir a possibilidade dela no caso concreto ser cabal.
Responsabilidade Indireta
É chamada de responsabilidade civil indireta ou complexa porque quem paga a
indenização não é quem praticou o ato danoso.
Qual o critério de atribuição? Qual fundamento dessa regra? Porque alguém
responde por um ato que não praticou?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Evolução
No código civil anterior não bastava esse poder de direção do responsável sobre a
conduta do agente lesivo. Com efeito, o código exigia também a culpa do responsável:
ou pela vigilância da conduta do causador direto (culpa in vigilando) ou culpa na
escolha do causador do dano (culpa in eligendo)13. Assim, sempre em que a vítima
pleiteasse a indenização do causador indireto, teria que provar que ele falhou ou na
vigilância que lhe era afeta (pais, tutores, etc) ou na escolha do causador direto (patrão,
preponente, etc). Então seria caso de responsabilidade civil subjetiva.
12 Desconsiderar o inciso V do art. 932. Isso não tem nada a ver com responsabilidade indireta. Ou esse sujeito
participou do crime, e nesses caso é corresponsável e responde direta e solidariamente; OU se aproveitou do ato
criminoso praticado por outrem, e nesse caso terá que se desfazer desse proveito. Mas não terá que ressarcir o
prejuízo, mas o valor do efetivo benefício que teve, a título de enriquecimento ilícito e não de indenização.
13 Nesse sentido, o código dizia, no art. 1523, que “Excetuadas as do art. 1.521, V, só serão responsáveis as
pessoas enumeradas nesse e no art. 1.522, provando-se que elas concorreram para o dano por culpa, ou
negligência de sua parte”.
60
Responsabilidade Civil Giselle Viana
O código de Bevilaqua, no projeto, dizia que havia uma presunção de culpa - ideia
que havia sido construída com base num artigo do código civil francês. Mas, sendo
uma presunção relativa de culpa, ainda estava no campo da responsabilidade subjetiva,
mas já era um passo adiante pois era o responsável que tinha que provar sua não culpa.
Com o avanço da jurisprudência, para o caso do patrão foi editada a súmula 341
do STF, pela qual a presunção de culpa passou a ser absoluta no que concerne à
responsabilidade do empregador14 . Ou seja, se o ato culposo praticado pelo empregado
fosse danoso, o patrão responderia de forma automática. Se a presunção é absoluta, não
admite prova em contrário. Ora, se a culpa deixou de ser discutível, é um caso de
responsabilidade objetiva, e não subjetiva.
O caminho evolutivo dessa matéria acabou desaguando na redação do atual artigo
933:
Alguns sustentam que é o risco - mas não é bem isso (em última instância
significaria dizer que ter filhos é assumir um risco...). O legislador, na verdade, quis
estabelecer uma especial garantia afeta a quem tem uma especial obrigação de
direção (no sentido amplo, de supervisão).
Essa evolução partiu da ideia de que era preciso priorizar a indenidade da vítima.
Mas era necessário estabelecer um critério para essa imputação, e na opinião do Godoy
esse nexo é a direção.
14Segundo a súmula 341 do STF, “é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto”.
61
Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam
sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos
responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e
as pessoas designadas no art. 932.
Incapaz
Mas, no caso específico do incapaz, não está dito que ele só responde se os
responsáveis por ele não podem responder no caso concreto? Ora, se a lei diz que o
incapaz SÓ responde se o responsável não responder no caso concreto, estabeleceu uma
responsabilidade subsidiária. Como imaginar nesse caso uma hipótese de
responsabilidade solidária, se já é subsidiária? No caso do incapaz, portanto, esse
parágrafo do 932 precisa de uma ressalva - há uma contradição entre esse parágrafo
(que diz que todos os responsáveis indiretos e diretos respondem solidariamente) e o
dispositivo do 932 (que diz que o incapaz só responde subsidiariamente).
62
Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 15
A responsabilidade do incapaz é solidária ou subsidiária?
Parece que a solução para superar essa contradição vai contra essa interpretação. Há um
projeto que pretende solucionar isso dizendo que na verdade pode haver sim uma
solidariedade no sentido de que os pais ou responsáveis não tem condição de responder
de maneira completa, e portanto leva-se a uma indenização equitativa dela até onde os
responsáveis poderiam pagar. O incapaz continuará sendo responsável - verificado que
os responsáveis não podem pagar por completo, o incapaz poderia pagar, mas um valor
que os responsáveis seriam solidariamente responsáveis também.
A vantagem é que no caso da responsabilidade dos pais tutores e curadores, ainda que
eles respondam eles próprios podem ser beneficiados por uma indenização equitativa.
Ou seja, se eles ao indenizar também ficarem privados do que pra eles era necessário
também teriam direito a uma indenização equitativa.
Mas essa interpretação é forçada. Melhor entender que responsável indireto e direto
respondem solidariamente, salvo no caso de incapaz, pois nesse caso a responsabilidade
é subsidiária. O problema é que a lei não fez essa ressalva.
Observe-se por fim que se o responsável indireto paga a indenização, tem direito
de regresso, de acordo com o art. 934:
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver
pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu,
absoluta ou relativamente incapaz.
Assim, se o patrão indeniza o dano causado pelo empregado, têm contra o último
direito de regresso pelo que pagou. Não obstante, o artigo faz uma ressalva quanto ao
descendente incapaz. Assim, se o pai indeniza pelo ato que seu filho causou, não poderá
reaver o que pagou em regresso. Isso também reforça a ideia de que a solidariedade não
se aplica a pais e filhos.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Primeiro, os pais não respondem automaticamente por qualquer ato praticado por
qualquer filho. Na verdade, apenas respondem pelos atos danosos e reprováveis
praticados pelos seus filhos menores desde que eles no momento da prática do ato
danoso estejam em sua autoridade e companhia.
Fundamento
Qual é o fundamento básico dessa responsabilidade? No caso dos pais, há um
inerente poder dever de direção e vigilância sobre os filhos menores, pois isso faz
parte do poder dever familiar. Há também o dever de formação, de educação dos
filhos.
O que é o ato praticado pelo filho que esteja sob a autoridade e em companhia dos
pais? Há pais destituídos do poder familiar - pais de descumpriram de maneira grave
seus deveres de pais podem ser destituídos do seu poder familiar - ou seja, que não tem
os filhos sob sua autoridade. O fato é que se os pais foram destituídos do poder familiar,
é simples, pois alguém o está substituindo, e portanto responsável sempre há.
Mas as vezes o que acontece é que os pais estão no exercício do poder familiar
mas só um deles tem a guarda. Daí a pergunta: e se o ato danoso se deu no momento em
que um dos pais não está no exercício do direito de visita? E se ele estava? Quem deve
responder?
A doutrina diverge, mas o Godoy acha que quem responde é o pai que estava com
o filho sob sua autoridade no momento. Essa posição é corroborada pela troca da
palavra poder por autoridade no novo código, dando a entender que menos importaria a
cotitularidade do poder familiar no caso, e mais importaria o poder jurídico de direção
naquele momento.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Nessa linha, se o filho estivesse por exemplo com os avós - que também têm
direito de visita - quem teoricamente responderia seria os avós.
E no momento em que o filho está na escola? Os pais, claro, ainda tem poder
familiar, mas transferem a autoridade à escola? Tem-se entendido que no momento em
que a criança está na escola é a escola que responde pelos seus atos danosos. Há uma
causa jurídica de transferência da autoridade sobre o filho menor, que é o que acontece
quando a criança está na visitação juridicamente acertada dos avós.
O que é importante nessa seara portanto é verificar se há uma causa jurídica para
a transferência dessa autoridade. O pressuposto disso é a preponderância do dever de
vigilância sobre o de educação.
As vezes, o que acontece é que há um a afastamento por causa fática, e não
jurídica - e aí os pais não se eximem da sua autoridade. Por exemplo, autorizei meu
irmão a passear com meu filho e ele bate em alguém. Sou demandada para indenizar, e
eu digo que ele não estava na minha companhia. MAS não havia uma causa jurídica que
me afastasse da autoridade, então sou sim responsável.
Filhos Emancipados
E no caso da emancipação? Há diversas causas de emancipação, como casamento,
exercício de função pública, etc etc. No art. 5o a lei distinguiu causas legais de
emancipação e emancipação concedida. Se a causa é legal, o menor se tornou maior,
então os pais não respondem.
Problema 16
Emancipação concedida afasta a responsabilidade dos pais?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Responsabilidade do Empregador
O empregador e o comitente, respondem independentemente de culpa pelo ato
danoso praticado pelo empregado ou pelo preposto no exercícios o trabalho que lhes
competir ou em razão desse trabalho.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Fundamento
A ideia subjacente a esse dispositivo, que impõe uma responsabilidade ao
proponente por ato que não é seu, é a ideia que quem se vale do serviço de
outrem, tendo sobre esse trabalho qualquer espécie de poder de direção, responde
pelo dano causado diretamente por este que está no exercício do trabalho.
Evolução
O que mudou foi o título de imputação dessa responsabilidade civil, que no
projeto de Bevilaqua era culpa presumida, na redação do 1523 acabou voltando a
ser culpa simples, e que posteriormente, por interpretação evolutiva do código
anterior, a jurisprudência reconheceu que é presumida, como foi já mencionado.
Com a superveniencia do CDC, esse inciso III perdeu muito do seu espaço de
incidência. Afinal, com o CDC, todas as pessoas jurídicas fornecedoras de
produtos ou serviços em massa passaram a responder diretamente pela falha
ou defeito, pelos atos danosos causado por esses produtos ou serviços. Assim,
hipóteses que eram tratadas pelo inciso III (regra de responsabilização indireta)
passaram a ser tratadas pelo CDC (responsabilização direta). Esse dispositivo então
tem hoje uma aplicação residual para hipóteses que não sejam de consumo.
Requisitos
1. Relação de Emprego;
O primeiro requisito para a incidência desse dispositivo é, claro, a existência
da relação de emprego. Pouco importa as condições dessa relação, basta que
o causador direto seja empregado.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Nesse último exemplo, o fato de o motorista estar com o carro que foi objeto
da causa do acidente é algo totalmente favorecido pela relação de emprego, já
que o empregado só estava com aquele carro por conta do emprego como
motorista.
Outro exemplo: o carro era da empresa, mas motorista não era motorista da
empresa, tinha outra função.
Preposto
Não há no direito civil, embora haja no direito trabalhista e no empresarial,
uma exata definição do que é preposição para fins de responsabilidade civil. O
código diz que o comitente responde pelo ato do preposto15. Mas o termo comitente
traz ideia da relação jurídica de comissão, e hoje a comissão é um contrato típico do
código civil. É uma espécie de mandato sem representação - o comissário age no
interesse do comitente mas em nome próprio. Aqui, não tem nada a ver com o
contrato de comissão.
15Não confundir isso com representante legal da pessoa jurídica, que não é preposto, não é empregado e não
é nem representante (não é alguém que fala pela pessoa jurídica, é a própria pessoa jurídica).
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Exemplos
Há uma tendência da jurisprudência de alargar demais o conceito de
preposição. Por exemplo, o empréstimo de um carro: alguns acórdãos dizem que
quem emprestou responde, por força da relação de preposição. Para o Godoy, por
outro lado, quem empresta não responde pelo ato do comodatário por esse título
jurídico. Quem empresta responde pelo fato da coisa, pela titularidade do carro, e
não por uma suposta relação de preposição.
Outro exemplo: o médico assistente erra e causa um dano - posso propor uma
ação contra o cirurgião chefe? Esse, em relação à equipe médica (salvo o
anestesista, cuja atividade é autônoma na cirurgia) não tem nenhuma relação de
emprego. No entanto, ele chefia a equipe. Logo, ele pode ser responsabilizado por
ser preponente.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Alvino Lima, nesse sentido, traz do direito italiano uma ideia ampliada de
proposição, que entende do ponto de vista econômico organizacional. O hospital,
nesse sentido, seria proponente do médico, não porque tenha qualquer opção de
direção sobre o ato cirúrgico, mas porque a organização do ato - dispõe dos meios,
determina como quando onde vai acontecer, etc. - é do hospital. Godoy acha
exagerado. A maioria dos acórdãos, alias, não responsabiliza o hospital, a não ser
que a falha seja da sua própria atuação (ex: falhou a hospedagem, a enfermagem,
etc.). Seguindo esse entendimento, para responsabilizar o hospital então não seria
pela preposição, talvez pelo CDC dependendo do caso.
Responsabilidade do Hoteleiro
O hoteleiro responde pelo hóspede, tenha sido o ato do último contra outro
hóspede, contra um empregado da hotelaria, ou contra terceiro. O que se exige é
que o ato tenha sido praticado durante ou por causa da hospedagem.
Cuidado com a qualificação jurídica! Em relação à responsabilidade do
hospedeiro, é preciso separar as hipóteses em que a responsabilidade civil que ele
tem é contratual e diante da bagagem. O hospedeiro responde pela bagagem do
hóspede por força do contrato de depósito - é portanto uma responsabilidade direta
e própria. Não responder, todavia, por ato ou fato de alguém. O que se trata aqui é
da responsabilidade do hospedeiro pelo ato danoso que o hospede prática durante
a hospedagem.
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serviço, ou aquele que de algum modo é por ele vitimado. Um visitante que sofre
um dano no hotel praticado pelo hospede também é abrangido pelo CDC, nesse
sentido.
Requisitos
Para aplicar esse dispositivo, a hospedagem deve ser onerosa. Essa
onerosidade, todavia, pode ser direta ou indireta. O que se afasta são as
hospedagens por mera cortesia.
Existem alguns estabelecimentos “mix”, que agregam serviços de hotelaria
anexos a outros, as vezes até de moradia. O que é preciso verificar é o que
predomina: se serviço de flat, de hotel, etc.
Responsabilidade do Educador
O educador responde pelos atos praticados pelos educandos. Atos praticados
pelo educando contra outro educando, contra um terceiro, ou contra um professor
ou empregado do educador.
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Requisitos
Aplicando-se o cdc, o ato danoso reprovável praticado pelo aluno tem que ter
sido praticado em meio à atividade educativa.
Quando o aluno prática o ato danoso durante a aula é fácil. O problema é que
as vezes o aluno prática o ato danoso já fora da escola, mas ainda nos limites da
vigilância da escola. A escola, em regra, responde. Se havia por exemplo
funcionários da escola nesses limites, ainda se mantinha o poder direção, que é a
base do dispositivo.
Direito de Regresso
Se a escola indenizou a vítima, ela tem direito de regresso? Se sim, contra
quem? Esse dispositivo se aplica a hipóteses de estabelecimentos de ensino não
superior, então o pressuposto é que o causador do dano é incapaz. Boa parte da
doutrina sustenta que há direito de regresso contra o incapaz nos moldes do 928.
Mas e os pais, respondem? Para responder isso, temos que voltar àquela
questão sobre o que prevalece para a responsabilização dos pais, se a vigilância ou
o poder dever de formação. Afinal, se entendermos que é a educação formação,
continuam responsáveis mesmo que a criança esteja na escola quando realizou o
dano. Para o Godoy, o que prevalece é o poder dever de vigilância, que foi
transferido à escola no momento em que a criança foi entregue ao educador. Nesse
sentido, os pais não seriam responsáveis.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
responsável papel
pelo dano instrumental
Essa matéria é muito mal tratada no Direito brasileiro. O Código Civil dispõe
sobre alguns casos particulares de responsabilidade sobre fatos de certas coisas, mas
prevê regras distintas para cada caso, regras inclusive contraditórias entre si no que
tange a quem vai responder. Ou seja, falta um critério legal único de imputação da
responsabilidade pelo fato da coisa, o que dificulta bastante para o aplicador do
direito.
Isso não significa que a previsão de uma regra geral per se esgote o debate.
Com efeito, outros ordenamentos, como o francês, apesar de possuírem uma regra
geral, ainda assim enfrentam problemas em definir qual foi o critério adotado pelo
legislador para imputar a responsabilidade pelo fato da coisa.
O Direito Francês
A regra geral da responsabilidade pelo fato da coisa cumpriu um papel
importante no direito francês, uma vez que surgiu no contexto da revolução
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
1. Teoria do Proveito;
Alguns sustentam que essa guarda deve ser examinada à luz do proveito que
ela beneficia. Assim, o responsável seria aquele que se aproveita, que se
beneficia da coisa. No exemplo da máquina, o empresário responderia, por ser
aquele em favor de quem a máquina era operada.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Vamos analisar as três regras sobre responsabilidade civil pelo fato da coisa
previstas no código. Observe-se, primeiramente, que o fato de o código elencar
apenas essas três não exclui, eventualmente, a responsabilidade pelo fato de outras
coisas. Essas outras hipóteses são admitidas por uma construção doutrinária e
jurisprudencial. Afianal, o principio subjacente à responsabilização pelos fatos de
animais, ruínas e efusos e dejetos é o mesmo, por exemplo, na responsabilização do
comodatário no empréstimo de um carro, dentre outros.
2
Art. 936. O dono, ou detentor , do animal ressarcirá o dano por este causado, se
não provar culpa da vítima ou força maior .
1
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
cuidado exigido. Dessa forma, era permitido ao dono ou detentor provar a sua não
culpa. O que havia, nesse sentido, era uma presunção relativa de culpa, que
poderia ser elidida. Não se tratava, destarte, de responsabilidade objetiva.
2. “Dono ou Detentor”
Mas quem responde? Como vimos, a responsabilidade do dono pelo fato da
coisa decorre da presunção de que ele detém a sua guarda. A relevância da guarda é
tal, nesse artigo, que o próprio código diz que, se o dono não tiver a guarda, quem
responde é que a tem, isto é, o “detentor”.
Mas o que é ser detentor? Qual a causa dessa detenção? O código, no capítulo
de posse, dá uma definição para detenção. Detentor é quem não é possuidor pois
tem a coisa consigo em nome e sob as ordens de outrem. Ao dizer “dono ou
detentor”, o código parece afastar a responsabilidade do dono quando há um
detentor.
Caio Mario sustenta que em caso de posse jurídica entregue a outrem – por
exemplo, vou viajar e deposito meu cachorro num pet shop – o dono não responde.
O problema é que, estendendo essa regra ao empréstimo de um carro, o dono
também não responderia. Far-se-ia necessário, nesse caso, determinar se há
realmente um contrato de comodato, ou se há uma mera tolerância, permissão, e não
propriamente um contrato.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
sua fazenda. O título jurídico nas ações contra a rodovia não seriam a
responsabilidade por fato da coisa, mas pela falha na fiscalização que lhe é afeita.
sim indeniza
O dano decorreu Mas essa falta
Interpretação da falta de de reparos era
? ?
literal reparos? manifesta?
não
não indeniza
? !
evolutiva reparos? manifesta!
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
2. Responsabilidade do Dono;
Uma vez determinado o motivo da ruína que acarretou o dano, ou seja, a falta
de reparos, cabe analisar a quem deve ser atribuída a responsabilidade. Aqui, o
código refere-se expressamente à responsabilidade do dono. Nesse ponto, parte
daquele pressuposto de que é ao dono que cabe em primeiro lugar o dever de
cautela, de guarda.
Nessa hipótese, é possível que haja direito de regresso. Mas perante a vítima,
parece que a opção do legislador foi considerar sempre afeta ao dono o dever de
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
A única alteração redacional sofrida pelo art. 938 é que código anterior falava
em “casa”, e o atual fala em prédio, o que amplia o conceito.
Problema 17
Se é o habitante que responde, e o dono?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Despossamento Injusto
Todas as hipóteses que analisamos até agora são hipóteses em que a guarda
tinha uma causa jurídica (locação, comodato, etc). É claro que toda essa discussão
se torna indevida quando o dono é injustamente desapossado. Se um sujeito rouba
um carro, por exemplo, não se pode responsabilizar o dono.
Mas por exemplo, se em vez de roubo foi um furto, que por sua vez ocorreu
pela incúria do próprio dono? O dono, por exemplo, deixa o carro aberto com a
chave dentro. Nesse caso o dono pode responder por concorrência culposa.
Locação e Comodato
No caso da locação, a súmula 492 do STF 16 diz que a empresa locadora de
veículos responde pelo dano causado pelo inquilino pelos danos causados. Mas o
fundamento da responsabilidade não é a responsabilidade pelo fato da coisa, mas a
responsabilidade pelo risco da atividade.
16 Vide p. 54.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos
casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o
vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as
custas em dobro.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
1. Má-fé?
Por predominar a ideia de que esse dispositivo contem uma hipótese de pena,
doutrina e jurisprudência se encaminharam para a tese de que essa cobrança, para
justificar a sanção, deve ter sido realizada de má-fé, ou seja, é preciso que
propositalmente o credor tenha querido cobrar a divida que não podia pois ainda
não vencida. É a tese predominante, e se justifica por uma época em que o próprio
abuso de direito se vinculava à má-fé.
Todavia, hoje o abuso de direito não depende mais de má-fé! Para o Godoy,
deve-se proceder aqui como se procede nas relações de consumo: há uma mesma
sanção no art. 42 paragráfo 1o no CDC:
Art. 41. (...) O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Essas hipóteses estão no dispositivo do art. 333 do Código, que trata das
hipóteses em que há risco de pagamento ou risco da garantia:
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo
estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro
credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias,
ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem
ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a
pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o
equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.
O art. 940 estabelece a responsabilidade daquele que cobra o que já foi pago,
parcialmente pago, ou aquele que cobrar mais do que é devido. No primeiro caso,
deve pagar ao devedor o dobro do que cobrou e, no segundo, o que for cobrado a
mais. Na essência a situação é a mesma daquela do artigo anterior: a cobrança
abusiva de uma divida. Ademais, aqui o fundamento da regra também é de
natureza sancionatória.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Desistência.
O art. 941 diz que as penas dos artigos anteriores não se aplicam quando o
autor desistir da ação antes da contestação da lide. Há, nesse artigo, três aspectos
muito importantes.
3 2
Ideia do mal menor: o
Indenização devedor ainda não chegou
condicionada à não a se abalar para se
incidência da pena! defender daquela cobrança.
Logo de tela nos deparamos com uma contradição no art. 941. Segundo o
artigo, havendo desistência, ressalva-se ao réu o direito de haver uma indenização
mediante prova do prejuízo sofrido. Ou seja, a indenização só será paga se houver a
desistência da demanda antes da contestação. O dispositivo dá a entender, embora
tenha dito que é uma pena, que é uma indenização. Mas se houve a pena, não tem
indenização - que só é devida se for excuída a pena. Se o código diz que é uma
pena, não poderia condicionar a indenização à não incidência da pena!
A jurisprudência tem entendido que o réu não precisa esperar, pode cobrar a
sanção nos mesmos autos da cobrança indevida. Antes exigia-se, para tal, a
reconvenção. Mais modernamente, tem-se entendido que o réu pode exigir o
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 18
E o CDC, o que tem a dizer sobre isso?
Essa matéria cria uma dificuldade pela existência do dispositivo do art. 42, parágrafo
único, do CDC, que diz que o consumidor cobrado em quantia indevida (abarca todas
aquelas hipóteses que analisamos) tem direito à repetição do indébito - em valor igual ao
dobro do que pagou em excesso - salvo engano justificado.
Primeiro, há uma distinção de área de incidência. As relações aqui são de consumo, e
tratam portanto de uma cobrança abusiva veiculada por um fornecedor diante de um
consumidor.
Sucede que o CDC estabelece alguns requisitos diferentes do Código civil - ora mais
restritivos, ora mais ampliativos. De um lado, o CDC não exige má-fé do fornecedor -
este se exime da sanção apenas se provar que o engano foi justificado, como vimos. Tal
engano, observe-se, não pode ser algo que esteja afeto ao dever básico de cuidado que o
fornecedor tem quanto à cobrança. “Erro do sistema”, por exemplo, não é engano
justificado!
Por outro lado, o CDC é mais restritivo em outro aspecto: para haver a incidência da
sanção do dispositivo é preciso que a dívida consumerista indevidamente cobrada tenha
sido paga pelo consumidor. Essa exigência é inferível da previsão do instituto da
repetição do indébito. A sanção da repetição dobrada pressupõe logicamente o
pagamento, pois repetir é devolver, e para devolver tem que ter sido pago.
A grande dificuldade, que não vamos resolver: pode-se misturar os regimes, em favor do
consumidor? Trazer para o CDC, por exemplo, a inexibilidade do código civil do efetivo
pagamento da dívida indevida, mas não trazer a exigência de má-fé, nem a exigência da
demanda judicial? Alguns entendem que pode, outros que não. Mas uma coisa é certa: a
mistura de penas em si não é sempre vedada, mas seria preciso uma espécie de ponto no
sistema que autorizasse isso, não pode ser algo discricionário.
Por exemplo, pode-se levar a inexigibilidade de má-fé para o Código Civil, como vimos,
mas porque própria conceituação da cláusula geral do abuso de direito no Código se
desprendeu da má fé: há uma ponte, não é arbitrário.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Responsabilidade contratual.
A responsabilidade civil historicamente foi tratada à luz de grandes
classificações, ensejadas pela distinção entre nexos de imputação. Mas essas devem
ser examinadas com a função que elas tem, isto é, compreender a essência das
coisas. Uma dessas hipóteses de classificação divide a responsabilidade civil em
contratual e extracontratual.
Tese da Unificação.
Sucede que mesmo na responsabilidade contratual, é a lei que empresta
vinculatividade àquele negocio juridico, estabelecendo as consequências para sua
violação. Diante dessa constatação, há uma tendência crescente em superar essa
dicotomia, ouseja, em trabalhar com a responsabilidade civil dissociada dessa
distinção entre contratual e extracontratual. Defende-se, portanto, uma unificação
da responsabilidade civil nesse ponto, sob o argumento de que, no fundo, o
mecanismo é um só, e as diferenças seriam acidentais.
Quem defende essa tese geralmente argumenta com base no CDC, que por sua
vez não fez expressamente essa dicotomia. De fato, o CDC inclusive estabelece
algumas consequências que se aplicam a todas as hipóteses, independentemente da
existência ou não de um contrato na base da relação de consumo. É o exemplo da
responsabilidade pelo fato de consumo ou serviço.
Diferenças Legais.
Do ponto de vista civil, não obstante, é preciso ter muito cuidado com a ideia
de superação da dicotomia entre responsabilidade contratual e extracontratual, pois
há problemas operacionais que decorreriam dessa unificação. Afinal, há algumas
importantes diferenças de tratamento legal conforme a responsabilidade seja
contratual ou extracontratual.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Mas porque existe essa exceção? É uma escolha que possui como pressuposto
uma gradação: entende-se que o ilícito extracontratual é mais grave. Essa ideia
reporta-se ao mesmo raciocínio do direito penal, que visa a uma resposta imediata
do direito penal à conduta punível.
Ônus da Prova
Se a responsabilidade é contratual, a situação da vítima do ilícito é mais
cômoda: para a vitima pleitear uma indeização basta ela demonstrar que a prestação
contratual não foi cumprida, e transfere-se ao outro contratante o ônus de provar ou
que cumpriu ou que não cumpriu por uma causa justificada.
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Solidariedade
A regra é que a solidariedade não se presume: ou ela está prevista em lei ou
em manifestação de vontade. No caso da responsabilidade extracontratual, há
previsão legal, no art. 492. Na responsabilidade contratual, por outro lado, em
regra não há solidariedade, a não ser que tenha sido ajustado.
Contratos Benéficos
O art. 392 diz que, nos contratos benéficos responde por culpa o contratante
que dele se aproveita, e somente por dolo aquele a quem o contrato não favorece.
Isso rende muita discussão nos contratos de transporte: a carona é mera cortesia, um
contrato? Se fosse um contrato, seria um contrato benéfico. E, nesse, quem está
propiciando o benefício só responde por dolo. Mas o contrato de transporte presume
onerosidade, então a carona não é um contrato! A responsabilidade civil então é
extracontratual. Transporte só é contrato se for oneroso, então isso está resolvido.
Excludentes de Responsabilidade
Excludentes são causas que ou rompem o nexo de causalidade ou excluem a
ilicitude.
Excludentes
Exercício de direito
reconhecido Fato fortuito ou de
força maior
Estado de
Necessidade
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
O código não organizou muito bem essa matéria. De fato, não há um capitulo
que contemple e organize todas as excludentes, dispondo sobre suas regras de
incidência, elas estão espalhadas pelo Código civil.
Afastamento da Ilicitude
As três primeiras excludentes que vamos analisar afastam a ilicitude da
conduta, mas só afastam a responsabilidade indenizatória conforme o caso.
Essa matéria precisa ser analisada à luz de três artigos. Na parte geral, no art.
188, encontramos a previsão dessas causas como excludentes justamente da
ilicitude. O artigo diz que não constituem atos ilicitos aqueles praticados em
legitima defesa, em exercício de direito legalmente assegurado. ou em estado de
necessidade.
O art. 929 diz que se a pessoa lesada ou dono da coisa no caso do inciso II do
188 (estado de necessidade) - não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito a
indenização pelo prejuízo sofrido. A contrario sensu, se alguém age em estado de
necessidade ou em legítima defesa e causa um dano àquele responsável por criar o
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
estado de perigo ou pela agressão que se quer repelir, então não haverá obrigação
reparatória.
Exclusão da
Exclusão da Ilicitude
responsabilidade
Legitima defesa
Vítima: causador
DANO
Exercício de direito do estado de
reconhecido necessidade ou
da agressão.
Estado de
necessidade
É evidente que se o agente tiver que indenizar um terceiro nesse caso, tem um
direito de regresso contra quem provou a situação de perigo ou agressão.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 19
O agente tem direito de regresso
O que se questiona até hoje é se essa própria escolha do legislador - de não excluir a
responsabilidade ressarcitória pelo dano causado a terceiro - foi boa do ponto de vista
ontológico. Afinal, primeiro, é claro que não é uma escolha fácil, pois há dois interesses
legítimos (aquele que agiu de maneira licita ao repelir uma agressão ou perigo - e de
outro um terceiro que não tem nada a ver com aquilo então não deveria ser prejudicado)
contrapostos. Alguns criticam essa escolha dizendo que os interesses contrapostos são
igualmente legítimos.
E mais, no caso de estado de necessidade, esse tipo de obrigação indenizatória
desestimularia condutas louváveis - como salvar pessoas de situações de perigo. Por
exemplo, pode-se argumentar que diante de um incêncio o indivíduo pensaria duas vezes
para salvar pessoas, pois com isso assumiria o risco de ter que indenizar terceiros caso
resultasse em algum dano.
Pra quem critica essa escolha, a melhor escolha teria sido uma indenização equitativa,
como a do incapaz e do art. 944 paragráfo. Mas não é essa a escolha do legislador, então
a regra geral é que só se exclui a responsabilidade do agente se o dano tiver sido
infringido a quem provocou o estado de necessidade ou a agressão.
Há quem sustente que, quando o agente faz isso e causa dano a outrem no
fundo está gerindo negócio alheio. O princípio que anima a gestão de negocio, isto
é, a administracao oficiosa de direito alheio que gera ao outro a obrigação de
ressarcir, é justamente evitar enriquecimento sem causa. Haveria, nesse sentido,
direito de regresso.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Também concorre a essa questão o art. 930 do Código Civil, que diz:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se
causou o dano (art. 188, inciso I).
ação de
fes
a
regresso
Tício dano
Semprônia
ação de
indenização
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
O que acontece nessa hipótese é que a causa do dano que a vítima sofreu é
atribuível à sua própria conduta, de tal modo que o chamado causador direto foi
mero instrumento da vítima. Consequentemente, quebra-se o nexo de causalidade
entre a conduta do causador direto e o dano infringido à vítima, já que o nexo de
causalidade, na verdade, se estabelece com a conduta da própria vítima.
Conduta
(da vítima)
Cria o nexo de
causalidade Causador Papel
Vitima instrumental!
entre dano e a direto
própria vítima
Dano
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 20
Culpa concorrente da vítima é relevante na resposabilidade objetiva?
A conduta da vítima, de fato, pode ter contribuído com a do ofensor para a causação do
dano. É o caso de concorrência causal culposa da conduta da vitima ao evento lesivo.
Por exemplo, dois carros batem porque um estava em velocidade excessiva e o outro
atravessou no sinal vermelho.
Essa culpa concorrente não é um excludente de responsabilidade. É uma causa de
proporcionalização da responsabilidade civil. Não confunda com culpa exclusiva da
vítima!
O que se discute na culpa concorrente é: se a vitima age com culpa concorrente mas o
agente responde objetivamente, é possível aplicar a proporcionalização? Por exemplo, o
agente é uma empresa de transporte - uma vez demandado, claro que pode alegar culpa
exclusiva da vítima, mas pode se valer da proporcionalização se há concorrência da
culpa da vítima? O fato de a responsabilidade da empresa ser agravada torna irrelevante
a concorrência causal culposa da vítima?
Essa questão pode ser resolvida através do princípio da boa-fé objetiva: seria solidário
imaginar que a vitima pode ser ressarcida de maneira integral por um prejuízo que ela
também provocou? Não! Isso levaria a um enriquecimento sem causa, repudiado pelo
sistema. A questão está hoje portanto resolvida.
Fato de Terceiro
Se um terceiro fecha um ônibus e esse bate na vítima, a empresa de ônibus
pode alegar fato de terceiro para se eximir da responsabilidade de indenizar? Não!
Se fechado no transito é um fato de terceiro que se coloca dentro do risco normal
da atividade, e fato de terceiro interno não exclui a responsabilidade, ainda que
enseje direito de regresso.
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contratual do transportador não é elidida por culpa de terceiro. Esse artigo reproduz a
súmula 186 do STJ:
STF Súmula nº 187 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência Predominante
do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição:
Imprensa Nacional, 1964, p. 96.
Responsabilidade Contratual do Transportador - Acidente com o Passageiro -
Culpa de Terceiro
A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o
passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação
regressiva.
O problema é que o CDC, no art. 14, traz uma disposição inversa... E aí? Não
só no caso do transporte, mas em casos de responsabilidade por fato de terceiro em
geral, nem exclui sempre nem exclui nunca.. O fato de terceiro só é uma causa
excludente desde que no caso concreto tenha força pra romper o nexo de
causalidade. Na responsabilidade objetiva o nexo não é físico naturalistíco, o que
cria uma dificuldade, mas ainda assim o fato de terceiro precisa ser apto a rompe-lo
para que exclua-se a responsabilidade indenizatória.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 21
Pode haver cláusula de não indenizar danos extrapatrimoniais?
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Requisitos
Em alguns casos de responsabilidade contratual, mesmo sendo possível a
pactuação da cláusula de não indenizar, esta tem que atender a certos requisitos.
Materialmente bilateral
Responsabilidade
Requisitos da contratual?
Não incidir em caso de dolo
Cláusula de Não
Indenizar
divergência
Não ferir a ordem pública, a doutrinária
moral e os bons costumes
Primeiro, ela tem que ser negocial. Quer em relações paritárias, quer em
relações consumeristas, ela tem que ser materialmente bilateral, não pode ser
importa por uma das partes. Dessa forma, não pode por exemplo ser imposta num
contrato de adesão em desfavor do aderente.
Além do mais, ela não pode ferir a ordem pública, os bons costumes, e a
moral. O caso de dolo, apesar de ser tratado de maneira específica, é no fundo
contemplado aqui também nesse conceituação genérica, por ferir a moral. Podem
ser encaixadas nesse requisito também algumas situações comuns como cláusulas
que representam um excessivo desequilíbrio (por exemplo, pactuada para uma das
partes e sem uma contrapartida econômica).
Antes do CDC, era possível encaixar nessa hipótese essas cláusulas quando
feriam a própria essência do contrato. É o caso do estacionamento que diz não se
responsabilizar pelos objetos deixados no carro - isso fere a essência do contrato de
depósito. No entanto, nas relações consumeristas isso já é resolvido, de forma mais
direta, pela regra de nulidade de todas essas clausulas de não indenizar.
Muitos autores afastam a incidência dessa cláusula em relação a danos
pessoais - biofísicos etc, entendendo que esse afastamento decorreria da vedação de
cláusulas que afrontam a moral e os bons costumes.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Saliente-se que a coisa julgada se faz para quem foi o autor do fato. Tício
pode, em virtude de um dano sofrido e infringido pelo réu criminal propor uma
ação de indenização contra o empregador desse réu, por exemplo. Afinal, como
este não foi parte do processo criminal, não se faz coisa julgada em relação a ele, e
ele pode ser demandado na esfera cível. É claro que a prova do crime vai ser
aproveitada, então não se discute quem praticou o crime, mas discute-se se o
empregador responde.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
absolvido por varias causas: o juiz pode ter reconhecido que não houve o fato ou
que houve mas o fulano não foi o autor, e nesse caso é categórico. Se o sujeito for
absolvido por falta de prova, por outro lado, não vincula no cível.
Liquidação do Dano
Na parte da responsabilidade civil no código, há uma primeira seção destinada
ao tratamento da obrigação de indenizar, e um segundo ao tratamento da
indenização. Seria mais preciso, aqui, em lugar de indenização, falar-se em
“liquidação do dano”.
Por exemplo, no CDC, art. 12, há um dispositivo que determina que quando
um produto apresenta um defeito o fornecedor tem 30 dias para tentar reparar. É um
caso de reparação in natura.
Quantificação da Indenização
O art. 499, caput, expressa a regra romana segundo a qual a indenização se
mede pelo tamanho do dano. Ok, o difícil é definir exatamente o que é dano.
Como vimos, diante da realidade multifacetária que o dano possui atualmente, nem
sempre é fácil quantificá-lo com base na teoria da diferença, pois há determinados
danos que não são economicamente aferíeis, há danos difusos, há danos que
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Reprobabilidade da Conduta
A regra é, portanto, que a indenização se mede pelo dano. Sendo assim, outros
elementos diferentes da extensão do dano - como, por exemplo, a culpa - nunca
entraram na sua liquidação. Ou seja, historicamente o grau de reprobabilidade da
conduta do agente sempre foi irrelevante para quantificar a indenização, muito ao
contrario do que ocorre no direito penal. De fato, ao fixar a pena, no crime, o juiz
leva em consideração as circunstâncias do art. 159, dentre as quais há o grau de
reprobalbilidade da conduta. No civil, o que importa é o tamanho do dano causado,
o que está consagrado desde a Lex Aquilia.
Redução Equitativa
Problema 22
A redução equitativa da indenização é constitucional?
É constitucional um dispositivo que limita a indenização concedida à vitima, deixando-a
parcialmente irrressarcida? Afinal, a indenização, se reduzida, ficará aquém do prejuízo
causado. Sim, é constitucional, e isso é quase consensual. O que anima esse dispositivo é
também um valor constitucional: a justiça, a equidade daquela relação. Entende-se que
a solução mais justa, nesses casos de desproporção, é repartir desgraças. O legislador
pensou que há determinados casos em que alguém age com um grau de culpa mínimo, e
mesmo assim causa um dano imenso - e quando há essa desproporção séria entre a culpa
e o dano, não é justo transferir toda a desgraça para o ofensor.
Exemplo: Caio senta de maneira um pouco brusca no sofá, que acabou derrubando um
vaso, que cai da janela e mata o transeunte Tício, deixando sua família desamparada.
Saliente-se que é preciso que haja uma culpa levíssima. Logo, aquela máxima segundo a
qual para a responsabilidade é irrelevante o grau de culpa não é tão precisa. Realmente,
como regra, é irrelevante, mas há exceções.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Problema 23
A redução equitativa é faculdade ou dever do juiz?
Se a lei diz que o juiz poderá reduzir, a pergunta é: ele pode não reduzir? Em outras
palavras, esse “poderá” denota uma facultatividade do juiz, ou é uma obrigação? Visto
pelo ótica do réu, ele possui um direito subjetivo a essa redução?
Godoy entende que esse “poderá” não é uma faculdade do juiz por si só. Mas será que
por algum outro motivo ele poderá deixar de reduzir? Boa parte dos autores sustenta que
é direito do ofensor não ser condenado a uma indenização cabal, pois o “poderá” deve
ser interpretado como um “deverá”. Godoy não acha. Isso porque o fundamento da regra
é a equidade, ou seja, evita-se simplesmente transferir a desgraça da vítima ao ofensor.
Não há grande divergência quanto a esse fundamento. Se é essa a ideia, mesmo tendo
agido com um grau mínimo de culpa, causando um dano imenso, se o ofensor puder
indenizar sem qualquer desgraça para si, por que não?
A regra geral é da indenização cabal, logo, essa exceção tem que ser interpretada de
forma restritiva, e de acordo com seu fundamento, isto é, a equidade. Deixar de
reduzir, num caso concreto, pode ser mais equânime!
Mas pera, isso não remete a um juízo de ordem econômica? Isto é, se o ofensor tem
dinheiro o suficiente para pagar a indenização cabal sem que isso lhe traga quaisquer
desgraças... um juízo tal não seria indevido e discriminatório?
Ora, de fato é uma discriminação, mas a lei não veda discriminações - veda aquelas sem
causa. Tanto é que, inevitavelmente, a situação econômica dos envolvidos será pondera
uma hora ou outra na indenização. Explico: uma vez determinado que é caso de reduzir,
o juiz deve estabelecer o quanto irá reduzir.
Os critérios de que se vale o juiz para estabelecer o quantum da indenização
equitativa não estão na lei, mas aparecem em outras lei. Com efeito, o código português
diz que deve-se levar em conta a condição econômica das partes. O argentino, a exemplo
do português, diz que o juiz deve levar em consideração a situação econômica do
lesante. Mas se está a levar em consideração a situação econômica das partes
expressamente em algumas legislações estrangeiras, talvez seja uma discriminação
importante, e sendo assim porque não utiliza-la para verificar se é equânime reduzir
aquela indenização?
Para o Godoy, portanto, o juiz pode sim deixar de reduzir a indenização, mas não porque
a lei diz “poderá”, mas se ele considerar que naquele caso concreto a indenização cabal é
equânime. Não se pode apriorisicamente dizer que no caso concreto todo dano causado é
imenso também para o lesante, tratando de maneira abstrata situações que deveriam ser
analisadas em concreto. O ônus da prova, observe-se, é da vítima.
Dano Moral
Isso aplica-se ao dano moral? Não é que não se aplique, mas não se aplica de
maneira literal. No dano moral, não há um prejuízo aprioristicamente
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
mensurável. Se a lei fala de uma redução, é preciso ter um objeto a ser reduzido,
então deve haver um valor previamente aferível. E isso não existe no dano moral, e
por isso não faz muito sentido uma aplicação literal do paragráfo. No entanto, isso
não faz muito diferença na prática, pois as circunstâncias do fato de qualquer
modo devem ser consideradas quando o juiz for arbitrar o valor da indenização
moral.
Responsabilidade Objetiva
Esse dispositivo de aplica a casos de responsabilidade civil objetiva? O
legislador escolheu como e em que medida a equidade de aplica: quando a culpa for
levíssima e o dano enorme. Ora, se ele falou em grau de culpa, está falando de
responsabilidade subjetiva.
Concorrência Culposa
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em
confronto com a do autor do dano.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Se Caio sofreu um dano de 100 reais, e também contribuiu para seu próprio
dano, a pergunta é: a sua conduta culposa, para o seu próprio dano, foi maior ou
menor? Se foi equivalente, então o juiz o condenará a 50. Mas e se foi Tício que
propôs a ação, visando a reparação do dano de 50, e ambos concorreram com igual
grau de culpa - então paga 25! As indenizações podem ser diferentes apesar de
proporcionalmente iguais.
ação de
Caio Tício
indenização
70% concorrência
causal
30%
Indenização:
R$300
Dano de (de Tício a Caio)
Caio =
R$1000
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Casos Especiais
A lei estabelece alguns casos particulares de danos que envolvem dificuldades
próprias na sua liquidação.
O que é o luto da família? Essa discussão era mais aguda no código anterior,
em que não havia a admissão expressa do dano moral. À luz do código anterior,
alguns diziam que esse luto da família era exatamente a previsão de um pagamento
de indenização moral, previsto por lei. Seria uma indenização moral, saliente-se,
por ricochete. Era, nesse sentido, visto como uma espécie de válvula de abertura
para a incidência da indenização moral, que não era expressamente admitida.
Outros sustentavam que era mais uma hipótese de dano material - mas relativo
a que? Às despesas havidas ligadas ao funeral, mas não absolutamente necessárias.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Por exemplo, a despesa com mausoléu17. É essa interpretação que vigora hoje, no
entendimento do Godoy.
Alimentos
O inciso II continua elencando os elementos da indenização em caso de morte.
Diz que também consistirá na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os
devia, considerada a expectativa de vida do morto se o evento não tivesse ocorrido.
Trata-se de um dano material por tabela, por ricochete. Sucede que a morte
pode ter privado alguém vivo de um sustento que o morte lhe dava. As vítimas
diretas ficaram privadas da assistência material, o sustento ou auxílio que o morto
prestava-lhe. Esse dano é ressarcível por meio de uma pensão de alimentos.
Problema: quem são potencialmente essas pessoas privadas do sustento que
lhes era destinado pelo morto? Lembremos da distinção das possíveis origens dos
alimentos: podem originar-se do direito de família, sendo devidos em virtude do
valor básico da solidariedade familiar (o estado elege alguns familiares mais
próximos para socorrer aquele necessitado que não pode sustentar a si próprio, já
que o próprio Estado não pode socorrer todo mundo); pode também decorrer de
manifestação de vontade, sob a forma de uma liberalidade, prescindindo de
qualquer vínculo familiar. A terceira origem possível dos alimentos é justamente
essa: a título de responsabilidade civil.
E se o sujeito não era naquele momento sustentado, mas havia grande chance
de vir a ser. A morte lhe privou, portanto, da chance de ser sustentado. Essa
hipótese envolve a teoria da responsabilidade pela perda de uma chance. Faz-se
mister um juízo de probabilidade, que pressupõe uma análise casuística.
108
Responsabilidade Civil Giselle Viana
E se quem morreu foi um filho menor de idade? Por exemplo, Caio tem 17
anos de idade e trabalha, ajudando no sustento da casa. Nesse caso, já havia uma
contribuição efetiva, então é fácil.
Mas e se o filho menor que morreu era ainda criança, e portanto ainda não
trabalhava. Essa discussão foi travada por muitos anos, mas hoje encontra-se já
superada pela sedimentação de uma súmula do Supremo:
STF Súmula nº 491 - 03/12/1969 - DJ de 10/12/1969, p. 5931; DJ de
11/12/1969, p. 5947; DJ de 12/12/1969, p. 5995.
Indenização - Acidente - Morte de Filho Menor - Trabalho Remunerado
É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não
exerça trabalho remunerado.
Qual o pressuposto dessa súmula? Por que a morte de um filho menor que não
possui remuneração efetiva constitui um dano material reflexo para os pais?
Entende-se que, trabalhando ou não, na realidade brasileira, um filho é sempre uma
força de contribuição para a economia da família. Hoje é raro que só um dos
membros da família se incumba do sustento do lar.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
pagos até quando o filho completaria a idade de sua expectativa de vida (65 anos,
por exemplo). A não ser, é claro, que os pais morram antes.
Portanto, a partir do evento, não importa quantos anos tinha a vítima direta, e
paga-se até quando a vítima em teoria viveria. Esse valor da pensão se reduz no
momento em que a vítima completaria 25 anos.
Sucede que quando morre o filho menor, é muito mais difícil trabalhar com
faixas fixas, pois o futuro é muito distante e incerto. Quando quem morre é maior, a
jurisprudência tem uma facilidade maior de trabalhar com prazos.
Se aquele filho maior de idade que morreu não contribuía com os pais,
ressurge a discussão da perda de uma chance.
E se quem morreu foi o pai, de quanto é a pensão? Se o filho for menor, fica
muito mais fácil avaliar a perda econômica que isso representa: fixa-se a pensão em
função daquilo que o pai efetivamente ganhava, geralmente reduzindo o 1/3 que
ele gastaria consigo mesmo.
Até quando se paga essa pensão? Aqui, tem-se fixado até 25 anos da vítima,
isto é, o filho menor. Ao pressuposto análogo ao do direito de família - o dever de
sustento que os pais tem em relação aos filhos, de acordo com a regra geral, se
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Se o pai morreu mas o filho era maior? A pensão se paga por 5 anos.
Mas não é raro que a mulher não trabalhe efetivamente. Paga-se a indenização
do mesmo jeito, mas com base no salário mínimo, abatando-se o que ela gastaria
consigo mesma. A ideia é de que mesmo não trabalhando, a mulher propicia ao
marido maior potencial de trabalho fora, além de auxiliar na casa. Vale também o
inverso, se o marido cuida da casa e a mulher trabalha.
Mas e se por exemplo o cônjugue não trabalha nem ajuda em casa? Paga-se a
indenização por dano material pela morte dele? Sim, em qualquer circunstância,
como é próprio da relação conjugal ou da união estável, há sempre um suporte do
ponto de vista material ao outro, e por isso é sempre devida a pensão.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Isso não vale para o seguro facultativo, nem pra verbas previdenciárias! Essas
pensões incluem 13o, a não ser que a vítima fosse profissional liberal, que não
recebe 13o. Há, nesse ponto, uma certa sincronia com as regras trabalhistas.
Ainda, segundo o art. 475-Q do CPC, é possível mas não obrigatório que
nessas indenizações o juiz mande constituir o capital que garanta o pagamento da
pensão. Trata-se de uma cautela, que pode ser no caso considerada como
desnecessária pelo juiz. Quando o responsável é pessoa jurídica, é comum incluir
nessa constituição do capital a folha de pagamento da vítima.
É possível que a vítima peça para que essa pensão seja paga de uma só vez. O
código autorizou isso em caso de lesão corporal, mas no caso de morte não há
previsão expressa nesse sentido.
Dano Moral
Quem sofre dano moral pela morte de alguém? Até onde vai essa
possibilidade? Alerta: no nosso sistema, isso é uma aporia.
Mas então é um direito ilimitado? Por óbvio que não. Todos os direitos são
limitados. Qual o limite que o nosso sistema conhece? Ora, o abuso de direito!
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Observe-se que isso não tem nada a ver com o dispositivo do art. 12,
parágrafo 1o, que confere legitimidade extraordinária para que os sucessores tomem
medidas de tutela da personalidade de quem já morreu. Esses familiares não estão
pleiteando direito próprio! Estão pleiteando a tutela de direito de personalidade de
quem já morreu, mas sobre algo que pode projetar efeitos para depois da morte. É
uma preocupação com a tutela da projeção de efeitos do direito da personalidade de
quem já morreu, e não com a indenização dos parentes pelo dano moral decorrente
da morte.
Lesão Corporal
O art. 949 e 950 tratam da lesão a saúde. O art. 949 trata da hipótese de lesão
da qual não decorre incapacitação laboral:
O art. 950 também trata de uma lesão corporal, mas da qual decorre
incapacitação laboral:
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão , ou se lhe diminua a capacidade de trabalho , a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que
se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Dano Estético
A lesão pode acarretar consequências morfológicas à vítima, ou seja, marcas
físicas permanentes, ainda que não incapacitantes.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
O Código anterior dizia, no art. 1538, que a soma devida no caso de lesão
seria duplicada se do ferimento resultasse aleijão ou deformidade. O parágrafo,
ainda, trazia a pérola: “Se o ofendido, aleijão ou deformado, for mulher solteira ou
viuva ainda capaz de casar, a indenização consistirá em dota-la, segundo as posses
do ofensor, as circunstâncias do ofendido e a gravidade do defeito” (!!!).
A dificuldade relativa ao dano estético reporta-se à sua possível autonomia
perante o dano material e o dano moral. De fato, modernamente tem sido entendido
o dano estético como uma categoria autônoma, entendimento endossado pela
súmula 387 do STJ, segundo a qual o dano estético é cumulável com o dano moral.
Ora, se é cumulável significa dizer que não é uma categoria de dano moral!
STJ Súmula nº 387 - 26/08/2009 - DJe 01/09/2009
Licitude - Cumulação - Indenizações de Dano Estético e Dano Moral
É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
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Responsabilidade Civil Giselle Viana
Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa,
estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não
se avantaje àquele.
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Ofensa à Honra
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz
fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias
do caso.
I - o cárcere privado;
O artigo procede dando exemplos dessas ofensas: cárcere privado, prisão por
queixa ou denúncia falsa ou de má-fé, e a prisão ilegal.
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