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O MUNDO FORA DOS AUTOS

Advogados, escrevam menos e


ganhem mais dinheiro
Notas sobre o tamanho e o estilo das petições no Brasil e nos EUA

CÁSSIO
CASAGRANDE

22/04/2019 12:10

Imagem: PIxabay

Quando um novo estagiário


aparece para trabalhar comigo, a
primeira ordem que recebe é a
seguinte: nenhuma petição pode
ter mais de 20 páginas. Nenhuma.
Pode ser o caso mais complexo
que já surgiu no Brasil desde
quando as Ordenações Filipinas
ainda estavam em vigor. Ele deverá
ser reduzido a, no máximo, duas
dezenas de folhas. E já acho isto
um verdadeiro exagero. Idealmente,
uma petição deve ter entre 6 e 12
laudas. Para mim, se uma causa
precisa de mais de vinte páginas
para ser sustentada, o direito que a
embasa não deve ser nada bom.

Uma vez, no Ministério Público,


ajuizei uma ação civil pública
simples. Ela tinha 14 ou 15 páginas,
o que já é muito para mim. Era uma
questão jurídica banal, havia
dezenas de casos idênticos àquele
tramitando na Justiça. Não era
nada demais. Os juízes
entenderiam o caso com um lançar
de olhos sobre o pedido.

+JOTA: Assine o JOTA e não


deixe de ler nenhum
destaque!

Pois bem, para responder a esta


ação, o advogado da parte
contrária apareceu com uma
contestação de 180 laudas. Ele
entregou o calhamaço com um
sorriso de orgulho ao juiz (na
Justiça do Trabalho a contestação
era apresentada \sicamente em
audiência). Ainda comentou,
sardonicamente, que sua defesa
estava “um pouquinho grande“.
Imediatamente concluí que se
tratava de um tolo ou trapaceiro.
Era tolo se precisava de 180 laudas
para contestar uma ação de 15. Era
trapaceiro se estava cobrando
honorários do seu cliente por lauda.
Depois, enfrentei este advogado
outras vezes e concluí que se
tratava de um tolo e trapaceiro.

Por isso, creio


que os tribunais
deveriam
limitar, por ato
administrativo,
o tamanho das
petições. É
assim nos
Estados
Unidos.

O equivalente ao código de
processo civil americano (Federal
Rules of Civil Procedure)
estabelece em sua regra 8 que as
petições devem ser “simples e
breves” (short and plain). Não raro,
os juízes determinam aos
advogados que sejam menos
prolixos e substituam as suas
petições por outras mais sucintas,
como já aconteceu na Justiça
Federal de Nova York, em decisão
do Juiz William Pauley III. A
Suprema Corte tem um
regulamento próprio e estabelece
em seu Regimento Interno (rule
33) um limite de nove mil palavras
para o writ of certiorari (equivalente
ao nosso “recurso extraordinário”).
Se o recorrente não apresentar sua
petição com precisão, brevidade e
clareza, o recurso poderá deixar de
ser conhecido (rule 14, 3 e 4).

Aqui no Brasil, algumas tentativas


tímidas têm sido tentadas, em
razão da implantação do processo
eletrônico. O Tribunal de Justiça de
São Paulo estabeleceu o\cialmente
um limite de 300 páginas, o que é a
mesma coisa que nada. Nesta
mesma corte, durante sua
permanência na corregedoria
(2014-2015), o Desembargador
José Renato Nalini lançou uma
campanha para convencer as
partes e os juízes a limitarem as
petições e decisões a dez páginas,
mas parece que a ideia não
decolou. O Tribunal de Justiça de
Santa Catarinaconsiderou válida
decisão de juiz de primeiro grau
que mandou reduzir de quarenta
para dez páginas a petição em um
processo trivial. O TRT de Minas
Gerais \xou um limite – razoável –
de quarenta páginas para recursos,
mas a medida foi derrubada pelo
TST. O mesmo ocorreu há dois
anos em Brasília, conforme
noticiado pelo JOTA: uma juíza da
5ª Vara do Trabalho determinou
que o advogado do Banco do Brasil
reduzisse uma petição de 113 para
no máximo 30 laudas, mas a
decisão acabou sendo revertida
pelo TRT da 10ª Região.

Mesmo que não houvesse limites


legais, as petições nos EUA seriam
naturalmente curtas, pois os
americanos não gostam de perder
tempo com \rulas e bobagens. Vou
dar um exemplo. Em 2016, houve o
rumoroso escândalo de assédio
sexual na Fox News. O todo
poderoso diretor Robert Ailes, um
dos papas da TV americana, estava
importunando uma das principais
âncoras do canal, a bela e
respeitada Gretchen Carlson. O
caso saiu em toda a imprensa dos
EUA e até na do Brasil – lembro de
o ter visto na Folha de S. Paulo.

Confesso que, como a maior parte


das pessoas normais, adoro os
detalhes sórdidos de um bom
escândalo judicial, então procurei e
encontrei a petição inicial na
internet. Para minha surpresa, o
processo não estava em sigilo.
Mas a surpresa ainda maior veio
com o tamanho da petição: 8 (oito)
laudas. Na peça inaugural não há
referência à doutrina ou à
jurisprudência.

Aliás, nos EUA,


muitos casos
simples, como
divórcios e
acidentes de
trânsito, são
iniciados
mediante uma
petição
formularizada,
disponível no
site dos
tribunais,
bastando ao
autor preenchê-
la.

Voltando ao caso: logo depois do


ajuizamento da ação contra a Fox
News, os jornais americanos
noticiaram que houve um acordo
para por \m à contenda – nada
mais, nada menos do que 20
milhões de dólares em favor da
autora. Vamos supor que a
advogada de Gretchen Carlson, a
Dra. Nancy Erika Smith, de
Montclair, Nova Jersey, tenha
cobrado 20% de honorários, ou
seja, modestos 4 milhões de
dólares. Isto signi\ca que ela
faturou quinhentos mil dólares por
lauda de petição inicial! Se ela
adotasse o modus operandi de
alguns advogados brasileiros e
escrevesse uma inicial de 50
laudas, invocando doutrina e
jurisprudência, teria faturado
somente oitenta mil dólares por
lauda. Vejam, portanto, o ganho de
produtividade. Não é a toa que
Benjamin Franklin consagrou o
bordão time is money.

Então, reduzir
compulsoriame
nte o tamanho
das petições
iria melhorar a
vida de todo
mundo.

Eu sei que a OAB provavelmente


protestaria. Certos xaropes de
plantão alegariam que tal medida
violaria as prerrogativas da
advocacia, cerceando a liberdade
de expressão do advogado e o
direito de defesa de seus clientes.
Bem, respondo a estes doutores
que se querem exercer sua
liberdade de expressão e criação
sem limites, escrevam livros
jurídicos com suas teses do
tamanho de “A Montanha Mágica”
ou de “Guerra e Paz” (dois
volumes). E comprará e lerá a
maçada quem quiser e não quem
for obrigado a isso por dever de
ofício.

Eu sempre digo aos meus alunos


que o pior da nossa pro\ssão é ser
obrigado a ler coisas inúteis e
cacetes, perdendo um tempo que
poderia ser dedicado à leitura de
estetas como Machado de Assis
ou Tchekhov. Ou mesmo, a jogar
videogame com o seu \lho. Por
isso, sinto profunda inveja de
trabalhadores manuais como
cozinheiros e eletricistas e por
vezes lamento não ter escolhido
uma dessas pro\ssões. É claro que
eles também precisam estudar.
Mas, por exemplo, o cozinheiro lê
somente o estritamente necessário
ao trabalho, uma receita, digamos.
Ele não precisa perder horas lendo
doutrinas repetitivas e
jurisprudências incoerentes de
outros cozinheiros ilustres sobre a
melhor forma de preparar um
assado de cordeiro ao alecrim.

Muitas pessoas
acreditam que é
na faculdade de
Direito onde se
aprende a
escrever uma
boa petição.
Não é.

Aprende-se a escrever – qualquer


coisa – antes de entrar na
faculdade. Tento convencer os
meus alunos que o direito deveria
ser tratado de uma forma simples,
apesar da sua inata complexidade.
Numa petição inicial basta dizer o
que aconteceu com as partes e
qual o direito invocado, formulando
ao \nal um pedido.

É só isso, nada mais; é


efetivamente mais fácil do que
escrever as instruções para o
preparo de um spaghetti a
carbonara (prato predileto do meu
\lho; uma vez tentei escrever a
receita para um amigo e achei mais
complicado do que minutar um
recurso de revista). Então, vamos
deixar o corporativismo de lado e
falar com franqueza: não precisa
sequer fazer faculdade de direito
para escrever uma petição inicial.
Qualquer pessoa que cursou o
ensino fundamental em um bom
colégio consegue fazê-lo.

Os americanos sabem muito bem


disto, pois, como vimos acima, as
petições por lá são diretas e
simples, sem salamaleques e
pedantismos inúteis. Há casos
célebres de pessoas comuns que
conseguiram inclusive chegar à
Suprema Corte, escrevendo suas
razões de próprio punho. E tiveram
seus recursos providos! Vou contar
três deles, pois são muito
reveladores e inspiradores.

O mais
importante
desses é o caso
Gideon v.
Wainwright,
372 U.S. 335
(1963), não só
porque o autor
recorreu sem
advogado, mas
porque esta
acabou sendo
uma das mais
importantes
decisões da
história da
Suprema Corte
no século XX –
ironicamente,
admitiu-se ali
pela primeira
vez a
imprescindibilid
ade do
advogado em
questões
criminais.

O caso ocorreu da seguinte forma.


Na madrugada do dia 3 de junho de
1961 um homem adentrou em um
clube de natação em Bay Harbor,
Panama City, Florida. O
desconhecido quebrou uma porta,
arrebentou uma máquina de vender
cigarros e um equipamento de
som; também furtou dinheiro de
uma caixa registradora. Pela
manhã, uma testemunha declarou
que tinha visto Clarence Earl
Gideon deixando o local por volta
de cinco horas da madrugada, com
uma garrafa de vinho e dinheiro no
bolso. Com base nesta única prova,
a polícia prendeu Gideon.

Ele foi acusado de invasão de


propriedade e furto. Gideon, um
homem de meia idade,
compareceu em juízo sem
assistência jurídica, por não ter
recursos para contratar um
advogado. O juiz da corte estadual
local lhe dirigiu as seguintes
palavras: “Sr. Gideon, sinto muito,
mas eu não posso indicar um
advogado para representá-lo neste
caso. De acordo com as leis do
Estado da Florida, a única hipótese
de designação de um advogado
para representar um réu é aquela
em que a pessoa é acusada de um
crime punível com penal capital. Eu
sinto muito, tenho que negar seu
requerimento de designação de um
advogado para defendê-lo neste
caso”. Então Gideon respondeu-lhe:
“A Suprema Corte dos Estados
Unidos diz que eu tenho direito de
ser representado por um advogado”.

Ele não estava rigorosamente com


a razão, pelos menos até esse
momento, como veremos. Gideon
passou então a exercer o seu
direito de defesa por si próprio,
declarando sua inocência no caso.
O júri condenou-o a cumprir uma
pena de cinco anos de prisão. Em
sua cela na Florida State Prison,
Gideon estudou os livros de direito
e jurisprudência que encontrou na
biblioteca do presídio. Escrevendo
à lápis, Gideon formulou uma
petição requerendo o writ of
certiorari à Suprema Corte.

Até então, a Suprema Corte só


admitia a obrigatoriedade de
assistência jurídica pelos Estados
em hipóteses que pudessem
culminar com pena capital; afora
esta circunstância, a designação de
advogado só era considerada
exigível em casos excepcionais,
como na hipótese em que o réu
fosse analfabeto ou mentalmente
incapacitado, ou ainda em casos
de grande complexidade
processual que inviabilizassem a
autodefesa.

Em decisão
unânime, a
Corte modiecou
este
precedente,
para determinar
a
obrigatoriedade
de assistência
judiciária em
todo e qualquer
processo
criminal
perante a
Justiça dos
Estados.

Foi uma das decisões mais


celebradas da Era Warren. A
Suprema Corte anulou o processo
e Gideon foi submetido a novo
julgamento, desta vez com
assistência de advogado, que
produziu novas provas. Finalmente,
ele foi absolvido. Ah, sim, a petição
à lápis de Gideon tinha cinco
páginas. Ela hoje é considerada
um documento importantíssimo
da história dos Estados Unidos e
está depositada no National
Archives, em Washington, mesmo
lugar onde os turistas podem ver o
exemplar original da Constituição
elaborada na Filadél\a, em 1787.

Em período mais recente, dois


casos chamaram a atenção da
imprensa americana. Em 1998
Shon Hopwood teve que encerrar
compulsoriamente sua fracassada
carreira de assaltante de bancos no
Nebraska, depois de ser preso e
metido atrás das grades. No início
dos anos dois mil ele estava
cumprindo uma sentença de doze
anos em um presídio federal,
quando um companheiro de cela,
percebendo sua inteligência, pediu-
lhe que interpusesse um recurso
em seu nome para a Suprema
Corte.

Sem nada de mais interessante


para fazer na prisão, Hopwood
começou a estudar direito a
apresentou o writ of certiorari para
a alta corte constitucional
americana. Um advogado de
Washington leu a petição e
considerou-a uma das melhores
desta espécie que havia lido em
toda a sua vida. Ele aceitou arguir o
caso na Suprema Corte – desde
que Hopwood o ajudasse com
informações sobre o processo – e
obteve uma decisão unânime em
favor do réu – caso Fellers v.
United States, 540 U.S. 519
(2004).

Hopwood, ao deixar a prisão,


conseguiu uma vaga na Faculdade
de Direito da Universidade de
Washington e depois de formado
foi trabalhar como assessor de
uma juíza federal. Sua carreira
jurídica seguiu de vento em popa e
hoje o ex-assaltante de bancos é
nada mais nada menos do que
professor de direito penal na
prestigiosa faculdade de direito da
Georgetown University.

O último caso, mais recente,


ocorreu em 2015, quando a
Suprema Corte acolheu o direito de
liberdade religiosa de um
prisioneiro do Arkansas, que havia
recorrido de próprio punho para
defender o seu direito – o caso
Holt v. Hobbs, 574 U.S. __ (2015).

No Brasil também já vi coisas


assim, embora seja um pouco mais
raro. Quando eu comecei a
estagiar, em Curitiba, vivíamos os
últimos suspiros das máquinas de
escrever. Eu trabalhava para um
conceituado escritório trabalhista,
que atendia grandes sindicatos.
Numa época, tínhamos lá para
ajuizamento uma enxurrada de
ações idênticas contra uma
mesma empresa, a Itaipu
Binacional. Mudavam apenas
alguns fatos, como as datas de
admissão e desligamento, a função
do trabalhador, o salário, etc.

Então, o escritório desenvolveu um


método industrial de produção de
petições iniciais (eu diria um
método quase fordista). Como
ainda não existia computador, foi
criado o que chamávamos de
“cardápio”. Era uma petição
impressa longa, padronizada e
completa, com todos os pedidos
trabalhistas possíveis e
imagináveis. Com as informações
do cliente, apenas preenchíamos
os espaços em branco e
riscávamos o que não seria
incluído na petição. Se necessário,
acrescentávamos algumas
anotações à caneta, nas margens.

Depois, passávamos o “cardápio”


ao datilógrafo, o Donizete, que era
um às na máquina de escrever
(lembro bem que eram aquelas
IBMs elétricas bojudas, pesadas e
azuis – como não tenho saudade
delas…). Donizete cursava química
e fazia bico no escritório.
Trabalhava até alta madrugada,
ganhando por folha digitada. Por
vezes eu chegava às oito da manhã
para trabalhar e ele ainda estava no
tec-tec-tec, com os olhos
esbugalhados, desde a noite
anterior!

De tanto ler as petições, aprendeu a


CLT inteira e passou a ser ele
próprio um exímio redator de
petições inéditas e mais
complexas. Foi contratado como
rábula, sem jamais ter pisado em
uma faculdade de Direito. Aprendeu
a fazer recurso de revista e dava
aula para os advogados iniciantes.
Debatia a legislação trabalhista
com a autoridade de um ministro
do TST. Talvez tenha se
transformado em uma grande
jurista sem diploma e sem a
carteira da ordem. Não sei dizer,
pois não o vejo há mais de vinte
anos.

Então, se pudesse dar apenas um


único conselho a um jovem
advogado, eu lhe diria: seja objetivo,
escreva com concisão e clareza,
sem descurar da elegância de
estilo. E, tendo poupado o seu
tempo, gaste o que sobrou com
Machado de Assis e Tchekhov. Ou,
simplesmente, jogando videogame
com seu \lho.

***

Nesta semana a coluna “O Mundo


Fora dos Autos” completa um ano.
Agradeço ao diretor do site Felipe
Recondo e ao editor executivo
Kalleo Coura, pelo acolhimento e
incentivo. Ao prestimoso Luís
Viviani, editor de opinião, minha
gratidão pela dedicação à coluna e
trato sempre gentil. E meu muito
obrigado aos leitores e alunos que
me acompanham aqui

CÁSSIO CASAGRANDE – Doutor em Ciência


Política, Professor de Direito Constitucional da
graduação e mestrado (PPGDC) da
Universidade Federal Fluminense - UFF.
Procurador do Ministério Público do Trabalho
no Rio de Janeiro.

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