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Ideação Suicida em Prostitutas de Rua

Resumo

Este estudo te m co mo objectivo explorar a incidência de


ideação suicida, numa a most ra de prost it utas de rua.
Para atingir este objectivo foram entrevistadas 52 mulheres
que exercia m prostit uição de rua, às quais foi aplicado o
Questionário de Ideação Suicida (QIS), a Escala de Satisfação co m o
Suporte Social (ESSS) e uma entrevista. Entre outros resultados, no
QIS obteve-se uma média de 41,71 pont os, co m u m desvio padrão
29,92 pont os, valores que indicia m um risco elevado de suicídio.
Acresce que a percentagem de mulheres, que apresenta no QIS um
valor superior a 41 pont os é de 46,15%, o que se trata de um valor
muit o elevado. No que respeita ao suporte social percebido,
encontrou-se uma correlação negativa, estatist ica mente significativa,
entre este e o nível de ideação suicida.
Os dados que obt ive mos sugere m não só que a ideação suicida
nestas mulheres é superior à encontrada na população geral, co mo
també m que existe uma elevada prevalência de tentativas de suicídio
naquelas.

Résumé

Cette étude vise à explorer l'incidence des idées suicidaires


dans un échantillon de prostit uées de rue.
Afin d'atteindre cet objectif, nous avons interrogé 52 fe mme s qui
pratique la prostitution de rue, qui a été appliqué un Questionnaire
des Idéations S uicidaires (QIS), l'échelle de satisfaction avec le
sout ien sociale (ESSS) et une interview. Parmi les autres résultats, le
QIS a obtenu une moyenne de 41,71 points avec un écart type de
29,92 point s, les valeurs qui indiquent un risque élevé de suicide. En
out re, le pourcentage de fe mmes qui, dans le QIS un plus de 41
point s est 46,15%, qui est une valeur t rès élevée. En ce qui concerne
le soutien sociale perçue, a trouvé une corrélation négative,

 
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statistique ment significative, entre cette et le niveau de l'idéation


suicidaire.
Les données que nous avons obtenus suggèrent que non
seule ment les idées suicidaires chez ces fe mmes est plus élevé que
la population générale, mais aussi qu’il existe une forte prévalence
des tentatives de suicide dans ces.

Abstract

This st udy aims t o explore t he incidence of suicidal ideation in


a sample of st reet prost it utes.
To achieve t his objective 52 women who perform st reet
prost it ution were interviewed, using t he S uicide I deation
Qestionnaire (QIS), the Scale for Social Support Satisfaction (ESSS)
and a Interview. Among ot her results, the QIS obtained an average of
41,71 point s wit h a standard deviation of 29,92 points, values t hat
indicate a high risk of suicide. Moreover, the percentage of women,
wich performed higher than 41 point s in t he QIS is of 46,15%, wich
is a very high value. W it h regard to perceived social support , we
found a negative correlation, statistically significant , between t his
and t he level of suicidal ideation.
The data we obtained suggest t hat not only suicidal ideation in
these women is higher than the general population, but also there is
a high prevalence of suicide attempts in t hose.

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Agradecimentos

Sendo este, acima de tudo um trabalho académico, faz sent ido


acima de tudo agradecer às pessoas, que para a sua realizaçã o
cont ribuíram de alguma forma. Correndo o risco de olvidar algué m,
segue um pequeno leque de pessoas e inst it uições, se m as quais
este trabalho não teria sido possível.
Começando pelas mulheres que são o cerne deste estudo.
Gostaria de agradecer-lhes, não apenas pelas respostas que deram
para este est udo, mas acima de t udo por tere m tão a mavelmente
aceite part ilhar comigo algo de tão profundo e int imo, co mo são os
pensa ment os e emoções relacionados co m o colocar termo à própria
vida.
Às inst it uições que me abrira m as portas e comigo partilhara m
as suas experiências do mundo da prostituição de rua; à S.A.O.M., ao
Espaço Pessoa, à Norte Vida, aos Médicos do Mundo e à Auto-Estima,
deixo o meu agradecimento, fora m t odos inexcedíveis e sem a sua
colaboração este trabalho ainda estaria na fase de projecto.
Ao Professor João Paulo Pereira, que com absoluta
disponibilidade, me auxiliou no trata ment o estatístico dos dados.
Às pessoas, que não estando aqui no meadas, cont ribuira m de
alguma forma para a prossecução deste trabalho, deixo o me u
agradeciment o
Por fim, um par de agradeciment os especiais.
À Professora Alexandra Oliveira, que da primeira à última linha,
se mpre deu a sua opinião válida sobre o mundo da prost it uição e
elevou substancialmente a qualidade do trabalho aqui apresentado, o
meu eterno agradeciment o.
Este agradeciment o, não estaria complet o, se m o fazer à
Jacinta, que compreendeu, aceitou e motivou- me a sair todas as
noites na minha procura de saber mais sobre ideação suicida e m
prostitutas de rua, sabendo que me aguardava no final de cada
noite. As palavras não bastam para expressar o meu agradeciment o e
ela sabe-o.

 
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Lista de Siglas e Abreviaturas

ESSS – Escala de Satisfação co m o S uporte Social

INE – Instit ut o Nacional de Estatistica

QIS – Questionário de Ideação S uicida

S.A.O.M. – Serviço de Assistência das Organizações de Maria

SPSS – Statistical Package for S ocial S ciences

UNFPA – United Nations Population Fund

WHO – W orld Healt h Organizat ion

 
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Índice
Introdução 6
Enquadramento Teórico 8
1. Comportament os Suicidários 8
1.1. Definições 10
1.1.1. Ideação Suicida 10
1.1.2. Para-S uicídio 12
1.1.3. Tentativa de S uicídio 13
1.1.4. S uicídio 14
1.2. Fact ores de Risco nos Comporta ment os S uicidários 18
1.3. Prevalência de Comportament os Suicidários 22
2. Trabalho Sexual 27
2.1. Definição 27
2.2. Prost it uiçã o de Rua 32
2.3. A Rua como u m Palco 34
2.4. Fact ores de Risco da Prost ituição de Rua 36
2.5. A Gestão do Estigma e a Procura do S uporte Social 39
2.6. Prost it uição e Consumo de Drogas 42
2.7. Comportament o S uicidário e Prost ituição de Rua 44
Componente Empírica 50
3. Object ivos 50
4. Hipóteses 51
5. Mét odo 51
5.1. Instrument os e Técnicas 51
5.1.1. Questionário de Ideação S uicida 51
5.1.2. Escala de Satisfação co m o S uporte Social 52
5.1.3. Entrevista Estrut urada 53
5.2. Amostra 54
5.3. Procedimentos 56
6. Apresentação e Discussão dos Resultados 58
Conclusão 74
Bibliografia 76
Anexos

 
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Introdução

Este est udo pretende dar um cont ribut o para o conheciment o


sobre o fenómeno do suicídio, mais especifica mente sobre o suicídio
em prostit utas de rua, dado o seu interesse médico legal,
no meadamente para o diagnóst ico diferencial (suicídio, ho micídio ou
acidente) das causas de morte violenta.
Procurare mos aquilatar da existência de ideação suicida e m
prost it utas de rua, tentando perceber se nesta população específica
esta é mais alta do que na população geral. Pretende mos igualmente
perceber de que forma a satisfação com o suporte social influencia a
ideação suicida nestas mulheres.
O primeiro passo neste trabalho passou por fazer uma revisão
bibliográfica, contida no primeiro capít ulo, sobre comportament os
suicidários, co m maior ênfase na ideação suicida, e, no segundo
capítulo, sobre trabalho sexual, destacando aqui a prostituição de
rua. Nas poucas situações e m que tal foi possível, procuramos
encontrar trabalhos que abordasse m a questão da ideação suicida
e m prostit utas. Os trabalhos que consideramos relevantes para o
nosso est udo encont ram-se vertidos na componente teórica deste
trabalho.
No sentido de prosseguir os objectivos a que nos propuse mos,
selecciona mos os inst rument os que consideráva mos, serem os mais
adequados para obter os dados necessários, utilizando uma
met odologia de cariz quantitativo.
Decidimos, assim, ut ilizar um instrument o combinado que
conté m um Questionário de Ideação S uicida (QIS), uma Escala de
Satisfação co m o Suporte Social (ESSS) e uma entrevista estrut urada.
Antes de avançarmos para o terreno, t ivemos inicialmente de
entrar em contacto com instit uições que leva m a cabo um trabalho
de proximidade com prost it utas de rua. Após obtermos o
consent iment o de cada uma das inst it uições, partimos para o terreno
co m o apoio das equipas técnicas de cada u ma das inst ituições.
Fora m os elementos das equipas técnicas que serviram de

 
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intermediários entre nós e as prostitutas de rua, permitindo assim a


nossa presença neste context o.
Opta mos por uma amostra de conveniência, por ser a mais
adequada, quer às características da população que pretendía mos
est udar, quer ao intervalo de tempo disponível
A recolha de dados, decorreu de Deze mbro de 2009 a Março de
2010 e abrangeu 52 mulheres, que acederam a colaborar.
O tratamento estatístico da informação obtida foi efectuado
através do recurso ao S PSS, versão 16.0 para o W indows.
As questões que procuramos verificar neste trabalho e os
resultados obtidos pode m ser analisados em profundidade na
co mponente e mpírica deste trabalho.

 
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Enquadramento Teórico

Pretendendo este est udo debruçar-se sobre a prevalência de


ideação suicida em prost itutas de rua, torna-se necessário antes de
mais definir alguns conceitos associados a este fenómeno e a esta
população. E mbora se encont re uma extensa bibliografia publicada
sobre ideação suicida e sobre prost it uição de rua, e m separado,
quando estes temas são associados, os est udos existentes são ainda
escassos. Este fact o impossibilita uma visão abrangente sobre a
ideação suicida nesta população específica.
Por uma questão de melhor organização e consequente melhor
co mpreensão dos objectivos do est udo, a componente teórica deste
trabalho encontra-se dividida em três tópicos.
O primeiro t ópico versará sobre os co mporta ment os
suicidários. Analisando os diferentes tipos de comportament os
suicidários, os fact ores de risco associados a esses mes mos
co mportament os, e alguns dados epidemiológicos de cada um dos
co mportament os suicidários.
O segundo tópico irá debruçar-se sobre o trabalho sexual. Irá
ser dado um enfoque especial à prostituição de rua, bem como uma
análise aos fact ores de risco co mu mmente encont rados neste tipo de
prost it uiçã o.
O objectivo do últ imo t ópico será o de promover um encont ro e
análise dos fact ores de risco apresentados para os comportament os
suicidários e para a prostituição.

1. Comportamentos suicidários

O suicídio, enquant o fenómeno, já há muit o que intriga e


desperta a curiosidade do ser huma no, nas mais diversas áreas do
conhecimento social. De fact o esta questão é de tal forma fulcral na
co mpreensão do comportament o huma no que Albert Ca mus chega
mesmo a defender que “ Só há um problem a filosófico

 
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verdadeiram ent e sério: é o s uicídio. J ulgar se a vida m erece ou não


ser vivida é responder a um a q ue st ão f un dam ent al da Filosofia.”
(1942, cit in Saraiva, 2006, p.15).
No entant o, apesar de ser u m fenómeno que desde se mpre
despertou a curiosidade do ser huma no, este não é de todo um
fenómeno simples e unifacetado, pelo que ta mbé m a sua definição
não é simples nem unifacetada, de tal forma que “ não exist e ainda
hoj e um a nom enclat ura globalm ent e aceit e para nos referirm os aos
com port am ent os sui cidários.” (Moreira, 2008, p. 25).
Apesar de não exist ir uma no menclat ura globalmente aceite, o
co mportament o suicidário é tipicamente descrit o num cont in uum de
letalidade que vai desde a ideação suicida, passando pelos
co mportament os aut o lesivos e pelas tentativas de suicídio até ao
suicídio consu ma do (Crosby et al., 1999 cit in W eaver et al., 2007;
W ebster, 1996). E mbora não vejamos o comportament o suicidário
co mo u m ca minho que cada um te m de percorrer passando por todas
as etapas até atingir o resultado final do suicídio consumado,
acreditamos que para uma melhor co mpreensão do co mportament o
suicidário, esta esque matização de cont inuum , possa ser út il.
Cre mos que será importante neste mo ment o le mbrar a posição de
Edwards (1999), ao referir que este não é um t ópico consensual.
Bertolote et al. (2005), també m afina pela mesma batuta ao referir-
se à existência de fact ores cult urais importantes no comportament o
suicidário que necessitam de posterior investigação e que não
permite m para já aceitar acrit ica mente a tese de cont inuum .
Relativa mente à visão de cont in uum dos co mportament os
suicidários propost o por Crosby et al. (1999 cit in W eaver et al.,
2007) e W ebster (1996) parece-nos que esta peca por não fazer uma
dist inção mais fina no que concerne a tentativas de suicídio, pelo
que no nosso estudo fare mos a dist inção entre para-suicídio e
tentativa de suicídio.
De seguida, ire mos debruçar-nos sobre os diferentes
co mportament os suicidários por orde m crescente de potencial
letalidade, começando pela ideação suicida, passando pelo para-

 
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suicídio e tentativa de suicídio até chegarmos ao suicídio


consu ma do.

1.1. Definições

1.1.1. Ideação Suicida

De uma forma geral todos os co mporta mentos suicidários nã o


letais tende m a ter um bom nível de previsibilidade de fut uros
co mportament os suicidários e do seu potencial letal (W ebster, 1996).
Destes, o const ruct o que te m sido mais ut ilizado, na tentativa de
prever o perigo de fut uros comporta ment os suicidários, tem sido a
ideação suicida. Tal deve-se, por um lado, à existência de vários
inst rument os padronizados que permite m avaliar este const ruct o e,
por outro, ao facto de ter provado ser um bom indicador do perigo
da efectivação de co mporta ment os suicidários (B rown, Beck; Steer &
Grisha m, 2000), no meadamente no género fe minino (Lewinsohn,
Rohde, Seeley & Baldwin, 2001 cit in W eaver et al., 2007). Esta
diferença no que concerne ao género, pode ser explicada e m parte
pelo facto de as mulheres tere m uma maior recorrência de ideação
suicida (DeMan, 1998 cit in Edwards, 1999) e de co mportament os
suicidários do que os homens (Langhinrichsen-Rohling et al., 1998
cit in Edwards, 1999; Hopp, 2005; Kushner, 1995 cit in Canett o
2008).
Alguns aut ores como, Van Heering, consideram a ideação
suicida como “ a ocorrência de q uaisq uer pensam ent os acerca de um
com port am ent o a utodest r ut ivo, independent em ent e da presença, o u
não, de int enção de m orrer” (2001 cit in Gil, 2006, p. 378), enquant o
W ebster (1996) define a ideação suicida, como a existência de ideias
ou pensament os relativos ao act o de cometer um suicídio ou de se
provocar aut o lesões que pode m ou não ser letais. Se a primeira
definição peca pela indiferença dada à intencionalidade do desejo de
morte, a segunda falha ao não ser mais específica quanto à
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intensidade e continuidade destes pensa ment os, pelo que acha mos
que a definição mais completa e abrangente de ideação suicida é a
que baliza num cont in uum que vai desde pensamentos generalistas
acerca da morte, passando pela ideia de suicídio, até aspect os mais
concret os e operacionais da colocação e m ma rcha do plano suicida,
co mo a elaboração, planeament o e execução, com maior ou menor
grau de a mbivalência (Cassorla, 2004; Meleiro & Bahls, 2004 cit in
Gil, 2006).
Se é cert o que a existência de vários instrument os
padronizados veio de alguma forma auxiliar na identificação da
presença de ideação suicida, não pode mos cair no logro de acreditar
que este constructo é facilmente detectável. Partimos desde logo da
dificuldade de encontrar uma definição de ideação suicida
universalmente aceite (como pode mos constatar dos exe mplos acima
descritos). A esta dificuldade acre sce o busílis de a ideação suicida
ser o único const ruct o dos co mporta ment os suicidários que sendo
um pensa ment o ou ideia, não é passível de uma observação
objectiva, podendo ocorrer sit uações em que por quest ões morais,
religiosas, culturais ou outras a pessoa negue a existência de
ideação suicida, quando na realidade esta está presente, o que pode
ocasionar um enviesamento dos resultados obtidos (Silva et al.,
2006).
Para finalizar, recorre mos à expressão de Shea (2002, p. 20),
de que o “t urbilhão em q ue cada indivíd uo se enco nt ra é único” , para
reforçar a ideia de que não deveremos catalogar todos os indivíduos
que apresentem alguma ideação suicida de uma for ma simplista, uma
vez que a passage m ao acto, de um indivíduo co m ideação suicida,
ocorre em me nos de 1% das sit uações, e depende de um
conglome rado de fact ores, tais como, st ressores externos, conflit os
internos, disfunções neurobiológicas, entre outros (S hea, 2002).

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1.1.2. Para-suicídio

De entre os comporta ment os suicidários que ire mos abordar, o


conceit o de para-suicídio é aquele que teve o seu surgimento mais
tardiamente. Tal deveu-se e m parte à necessidade, cada vez mais
sentida, de perceber melhor a disparidade entre as estatísticas do
suicídio e das tentativas de suicídio.
A questão da intencionalidade letal é fulcral para se proceder à
dist inção entre tentativa de suicídio e para-suicídio. No caso da
tentativa de suicídio, o object ivo seria a morte, mas, por qualquer
mot ivo, esse objectivo não foi alcançado. No caso do para-suicídio
estaría mos perante uma situação primordialmente de apelo, onde o
objectivo final não seria a morte, mas sim a alteração das condições
existenciais.
A propósit o da dist inção entre tentativa de suicídio e para-
suicídio cre mos que o exe mplo dado por Keir, em 1986, é
esclarecedor: “ Um velho que deixa um a cart a de despedida e t om a
um a dose excessiva de psicofárm acos desej aria a m ort e; um j ovem
q ue t oma um a caixa de psicofárm acos e cham a por alg uém não
desej aria m orrer. Am bos poderão dar ent rada n um Serviço de
Urgências, m as enq ua nt o o primeiro parece corresponder a um
s uicídio fr ust rado, o últ im o é um para-s uicídio” (cit in Saraiva, 2006,
p. 39). Este exe mplo prático reflecte be m o espírito da definição
dada pelos aut ores do conceit o, e m 1969 (Kreit man, Philip, Greer &
Bagley), quando definem o para-suicidio co mo qualquer act o
co metido deliberada mente e que mimet iza um gest o suicidário, mas
que não conduz à morte (cit in Saraiva, 2006). Pese embora Kreit man
et al. coloque m a ênfase na imitação do gest o suicidário e na não
condução à morte do mesmo, não deve mos desvalorizar os gestos
para-suicidas, a fim de não correr o risco de avaliar erradamente um
potencial suicida, co m base numa avaliação de gesto ma nipulativo
se m risco (S chmidt, O’Neal & Robins, 1954 cit in Saraiva 2006).
S hea (2002) alerta para o risco de desvalorizar os gest os para-
suicidas, ao afirmar que um gest o suicidário, com a intenção de

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lançar um apelo e conseguir int roduzir mudanças na sua vida, pode


resultar inadvertida mente na morte, transformando um para-suicídio
nu m suicídio consumado.

1.1.3. Tentativa de Suicídio

Para definirmos este conceit o, partimos da definição dada por


Durkheim (1997) que post ula que as tentativas de suicídio são todos
os casos de morte que resulta m directa ou indirectamente de uma
act o positivo ou negativo da própria vítima, sendo que a vítima sabia
que podia obter este resultado, tendo no entant o falhado o objectivo
final (a morte). Definição similar, mas mais simples, apresenta
Webster (1996), quando afirma que a tentativa de suicídio é um acto
auto lesivo, com a intencionalidade ou o potencial para causar a
morte, mas que falhou. Ambas as definições parece m-n os
pertinentes, no sentido de cha mar a atenção para dois pont os que
consideramos importantes. Por u m lado, enfatiza m o conheciment o e
a intencionalidade de atingir o objectivo letal por parte do potencial
suicida e, por outro lado, refere m que o act o por algum mot ivo não
se concretizou. Ao referire m que o suicídio não se concretizou
apenas por uma falha ou erro, estes autores acabam por reforçar a
ideia de Kreit man et al., já mencionada no pont o anterior, no qual
neste último não haveria intenção de morrer e o acto e m si, seria
apenas uma imitação da tentativa de suicídio, com o object ivo de
conseguir promover mudanças na sua vida e no seu ent orno (1969
cit in Saraiva, 2006).
Do ponto de vista teórico, a principal distinção entre para-
suicídio e tentativa de suicídio encontra-se ao nível da
intencionalidade de atingir a letalidade. Esta dist inção, que na teoria
parece ser clara e inequívoca, na prática é ext raordinariamente
difícil de avaliar se m marge m para dúvidas quant o ao grau de
intencionalidade fatal, mesmo quando é possível questionar os
sobreviventes sobre o seu object ivo (Canetto, 2008).

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É importante referir que em a mbos os co mporta ment os, est á


subjacente uma dor psicológica profunda (S hea, 2002), e um
t urbilhão de sentiment os que por vezes são de masiado profundos e
angust iantes para permitir ao indivíduo perspectivar out ra saída,
para além da que é “ oferecida” por u m co mporta ment o suicidário, e
que, por esse mot ivo, a mbos os co mporta ment os devem ser
encarados com seriedade a fim de evitar um desfecho mais sombrio.

1.1.4. Suicídio

Como já referimos anteriormente, o suicídio é um


co mportament o complexo e que tem despertado o interesse de
várias áreas do conhecime nt o huma no, não sendo pois de estranhar
a existência de diferentes definições para este comporta ment o.
Desde logo, temos a definição clássica do sociólogo Emile Durkheim
(1997) que considera que o termo suicídio é aplicado a todos os
casos de morte, resultantes directa ou indirectamente de um act o
positivo (por exemplo, disparar uma arma apontada à cabeça) ou
negativo (por exemplo, deixar de se alimentar) da própria vítima,
que sabia que iria provocar esse resultado. A mo rte por lesão,
envenenament o ou sufocação, onde existe evidência de que a lesão
foi aut o-infligida e de que o falecido t inha intenção de se matar, foi
a definição de suicídio proposta por O’Carrol et al. (1996 cit in
Moreira, 2008).
A Organização Mundial de Saúde, como parte do seu esforço
para mit igar os óbit os por suicídio no mundo, definiu o suicídio
co mo u m act o deliberado, iniciado e levado a cabo por um sujeito,
tendo este consciência de um resultado fatal (W HO, 2002).
Às definições já apresentadas une-as o facto de e m t odas ser
ressalvado o fact o de o indivíduo ter consciência de que o act o que
realiza poder, resultar e m morte, be m como é esse o seu desejo.
Apesar destes pont os e m comu m, nenhuma destas definições te m e m
consideração questões como a a mbivalência, a procura do suicídio

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co mo u ma solução para um determinado proble ma ou dile ma, ne m


tão pouco a dor psicológica a que Shneidman cha maria de psy chache
(1996).
S hneidman (1994) iria dar uma definição de suicídio onde a
questão da saúde e do discerniment o do indivíduo assume bastante
relevância ao referir que se trata de um act o consciente de
autodestruição, entendido como um mal-estar mult idimensional,
levado a cabo por um indivíduo carente, que, perante uma
determinada situação, acredita ser esse comporta ment o a melhor
solução.
A questão da saúde, nomeadamente da saúde mental no
suicídio, é uma questão que há muit o divide que m se interessa por
este tema. A este respeito, Cant or defende que o suicídio não é uma
doença, mas si m uma forma de comporta ment o cujas causas se tê m
vindo a compreender (2000 cit in Vaz Serra, 2006). Não podemos, no
entanto, ignorar que na maioria dos casos de suicídio, tentativas de
suicídio, para-suicídio ou ideação suicida estão presentes,
conco mitantemente, diagnósticos de pat ologias do foro mental,
no meadamente pert urbações do espectro do humor e pert urbações
de personalidade, be m co mo consu mos de álcool e drogas,
independentemente da população, género, idade ou contexto
socioeconó mico analisados ( Melt zer et al., 2002 cit in Gil, 2006;
Cheng, 1995; Conwel et al., 1996; J. Costa Sant os, 1998 cit in
Saraiva, 2006; W eaver et al., 2007; Baby et al., 2006; Hopp, 2005;
Moreira, 2010).
A co-ocorrência de patologia mental, e m casos de suicídio, é
uma evidência e mpírica, já profusamente docu mentada, no entant o,
tal não nos permit e concluir que na génese do co mportament o
suicidário esteja uma pat ologia do foro mental.
S hneidman (1994), apesar de defender que cada suicídio é u m
act o único e que na suicidologia não se pode falar de leis universais,
refere que o melhor que pode tentar fazer é encontrar as
característ icas que são mais comuns à grande maioria dos suicídios.
Assim, Shneidman (1994) post ula um conjunt o de dez característ icas

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que estariam presentes em 95 de cada 100 suicídios e que


passaremos de seguida a descrever.
O propósit o comum no suicídio, seria a procura de uma soluçã o
para um problema, dilema, crise, ou sit uação criadora de um
sofrimento considerado insuportável.
Quant o ao objectivo, que se encontra por trás da maioria dos
suicídios, este seria a cessação da consciência , de forma a conseguir
terminar co m a dor incomportável que vivencia naquele mome nt o.
O estímulo mais comu mme nte encontrado no suicídio é a dor
psicológica insuportável (psy chache), da qual o indivíduo procura a
t odo o cust o fugir, encarando o suicídio como a única saída para
fugir à dor que sente como insuportável.
Já o st ressor, que surge co m maior frequência, refere-se à
frustração das necessidades psicológicas, podendo estas
necessidades psicológicas estar relacionadas co m sentimentos de
culpa, vergonha, ou então co m a necessidade de evitar críticas ou
hu milhações públicas.
Quant o à emoção, S hneidman propõe que a que está mais
presente na mente de um suicida, seja o desa mparo/desespero. O
suicida estaria perante um sentimento crescente e imparável de
impotência, onde não haveria nada que pudesse fazer para alterar a
sua sit uação (a não ser o suicídio).
Relativa mente à atitude interna, este autor, considera a
a mbivalência, como a atitude mais presente. O suicida normalmente
não te m a certeza de querer morrer, apenas sabe que não consegue
viver mais da forma como te m vivido e a solução que encont ra, passa
por ir de encontro à morte. É a a mbivalência perante a
irrevogabilidade do suicídio, que leva o suicida a deixar pistas das
quais pode advir ajuda.
A const rição mental, é a principal característica cognitiva que
S hneidman encontrou e que o levou a fazer uma proposta, que
e mbora séria, não deixa de ter um toque de hu mor, ao afirmar que
um indivíduo “ não deve levar um s uicídio por diant e q ua ndo se
enco nt ra pert urbado m entalm ent e” , uma vez que é necessário uma
mente capaz, para analisar todas as alternativas existentes
16 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

(S hneidman, 1994, p. 139). A incapacidade e m encont rar alternativas


deve-se ao fact o do suicida apenas conseguir ter uma visão e m túnel,
da sua situação.
S hneidman considera que a acção que mais comu mmente se
encontra no suicido é a fuga. O suicídio será então a derradeira
fuga, cujo object ivo é aliviar de vez co m o sofrime nt o que tanto
atormenta a mente do suicida.
O suicídio é por definição um act o isolado, onde a pessoa,
planeia, executa e sofre as principais consequências do seu acto, no
entanto, o que comu mmente ocorre é que o suicida, no seu
relacionament o interpessoal, vai dando pistas, quer seja m verbais ou
co mportamentais, nu ma tentativa de co municar a sua intenção. Esta
necessidade de se relacionar com algué m antes do suicídio, pode ser
uma última tentativa de solicitar ajuda.
As dificuldades em identificar um suicida e prevenir um
suicídio, são bem conhecidas. Sendo o suicídio, por definição um
act o único e final, pode mos por vezes manifestar surpresa e afirmar,
que o suicida, nunca t inha feit o nada que o antecipasse. Apesar
disso, S hneidman refere que um individuo apresenta padrões de
resposta consistentes ao longo da vida, a diversas situações, tais
co mo mo ment os de stress, vergonha e humilhação, e que analisando
estes padrões de resposta, poderíamos antecipar com u m elevado
grau de confiança a presença do suicídio como solução final.

Para terminar e reforçar a ideia de que o suicídio é


efectivamente um co mportament o complexo e que está dependente
de vários fact ores, socorremo-nos de W asserman que sugere que o
co mportament o suicidário se pode dever a uma miríade de fact ores
que juntos concorre m para ajudar a explicar este fenómeno, tais
co mo a predisposição genética, experiências precoces t raumát icas,
doenças crónicas, sensibilização a diversos aconteciment os de vida e
o abuso de álcool e drogas ilícitas (2001 cit in Vaz Serra, 2006).

17 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

1.2. Factores de Risco nos Comportamentos Suicidários

Para percebermos um pouco melhor o que pretende mos avaliar,


parece-nos útil clarificar alguns conceit os.
Desde logo, o conceito de risco em termos epidemiológicos,
que Santos (2006) define como sendo a probabilidade de ocorrência
de um aconteciment o que é normalmente prejudicial para a saúde.
Estando este estudo debruçado sobre os co mportament os
suicidários, não podería mos, naturalmente estar mais de acordo co m
a ênfase dada por este autor às consequências prejudiciais para a
saúde. Assume -se que, estando um determinado indivíduo ou grupo
expost os a determinados fact ores considerados de risco, então a
probabilidade de que algo de prejudicial à sua saúde ocorra, será
tanto maior quanto maior e mais frequente for a sua exposição a
estes factores.
Ire mos considerar, assim os fact ores de risco co mo sendo
aqueles que potencia m o aument o de comporta mentos suicidários,
no meadamente na população fe minina. O conheciment o dos fact ores
de risco por detrás dos comporta ment os suicidários pode, por u m
lado, diluir certos mit os existentes e, por out ro, ajudar na prevenção
de comporta mentos suicidários, no geral, e do suicídio consumado,
mais especifica mente.
Sendo o suicídio um fenómeno complexo e mult ifacetado, tal
co mo já defende mos anteriormente, ele pode ser influenciado por
uma miríade de fact ores cult urais, sociais, religiosos, familiares e
pessoais. Da mesma for ma, ta mbé m os fact ores de risco no suicídio
tende m a envolver todas estas esferas da vida do indivíduo.
O organismo federal dos Estados Unidos da América de
cont rolo e prevenção de doenças (Centers for Disease Control and
Prevention) elaborou uma lista dos quinze fact ores de risco, que
considera que isolada mente ou e m conjunt o, potenciam o risco de
suicídio, na população geral.

18 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Factores de Risco nos Comportamentos Suicidários


(Tabela 1)

• História famíliar de maus-tratos na infância


• História familiar de suicídio
• Tentativas de suicídio anteriores
• História dos transtornos mentais, particularmente depressão
• História de abuso de álcool e substâncias psico-activas
• Sentimentos de desesperança
• Tendências impulsivas ou agressivas
• Crenças culturais e religiosas (por exemplo, a crença de que o
suicídio é a resolução nobre de um dilema pessoal)
• Surto local de suicídios
• Isolamento, um sentimento de estar alheado de outras pessoas
• Barreiras no acesso ao tratamento da saúde mental
• Perda (relacional, social, laboral ou financeira)
• Doença física
• Acesso fácil a métodos letais
• Falta de vontade em procurar ajuda por causa do estigma associado à
saúde mental e transtornos por abuso de substâncias ou de
pensamentos suicidas

Traduzido e adaptado de:


http://www.cdc.gov/ViolencePrevention/suicide/riskprotectivefactors.html

Ao nível dos co mporta ment os suicidários, apesar dos homens


terem uma maior taxa de mortalidade, são as mulheres quem te m
uma maior taxa de comporta mentos suicidários tais como ideação
suicida, para-suicídio, tentativa suicídio (Webster, 1996; Edwards,
1999). Este fenómeno denomina-se paradoxo do género do
co mportament o suicidário (Canetto & Sakinofsky, 1998 cit in
Bradvik, 2007) e pode dever-se a diferentes fact ores, que vão desde
questões cult urais, que defende m que a morte por suicídio tem u m
cariz mais masculinizado, estigmatizando mais as mulheres
(Canetto, 2008), passando pela escolha de métodos tradicionalmente
mais violent os e letais por parte dos home ns (Astruc, Torres, Fabrice
et al 2004; Beautrais, 2003; Berglund & Nilsson, 1987, Hanson &
Gilbert, 2004; Heim, 19991; Isometsä & Lönnqvist, 1998 cit in
19 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Bradvik, 2007), até ao facto de, por norma, as mulheres serem mais
propensas a relatar problemas de saúde quando questionadas, be m
co mo a recorrer com maior frequência a serviços de saúde a fim de
tratarem uma depressão. A maior procura por parte das mulheres
dos serviços de saúde resultaria por um lado, numa maior
prevalência de casos conhecidos e, por out ro lado, na diminuição da
letalidade dos comporta ment os suicidários (Moscicki, 1994 cit in
W ebster, 1996).
Como já referimos anteriormente, as mulheres de uma forma
geral, pelo menos no mundo ocidental, apresenta m uma maior
prevalência de comporta ment os suicidários do que os ho mens. Esta
maior prevalência de comportament os suicidários no género
fe minino, deve ser t ida em cont a co mo u m fact or de risco para o
est udo dos co mporta mentos suicidários (Moscicki et al, 1988). N o
entanto, o género não explica t udo per se, e diferentes aut ores
sugere m vários fact ores de risco a que as mulheres se encont raria m
mais expostas.
Da análise da literatura sobre este te ma, sobressaem, co mo
principais fact ores de risco no género fe minino, a conflit ualidade
marital, os episódios de violência perpetrados por estranhos, a
ausência de suporte social (Hopp, 2005), o baixo nível
socioeconó mico, a existência de diagnóst icos psiquiátricos ao longo
da vida (Moscicki et al 1988), no meada mente a depressão e
esquizofrenia (Sánchez, 2001), o baixo nível de escolaridade
(W ebster, 1996), os problemas fa miliares, o assédio, o dese mprego
(Baby et al., 2006), o abuso sexual e físico na infância (Briere &
Runt z, 1986), a vivência de experiências traumáticas, onde se
destacam as violações (com especial destaque para as levadas a cabo
pelos companheiros), e níveis elevados de desesperança, angústia,
uso de drogas e álcool (W eaver et al., 2007).
A vivência em centros urbanos, possivelmente pela maior
alienação e isolamento social que propiciam às mu lheres, també m
foi considerada fact or de risco no género fe minino, nu m est udo
levado a cabo na Dina marca (Qin, Agerbo, W estergard-Nielsen,
Eriksson & Mortenssen 2000). Não menosprezando nenhum dos
20 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

fact ores enunciados, W eaver et al. (2007) consideram que são os


conflit os maritais que representam uma sobrecarga emocional
adicional, podendo potenciar a ideação suicida, devido ao estigma e
isolamento social que este tipo de violência tende a propiciar. Estes
autores refere m ainda que as taxas de comporta mentos suicidários
são maiores nos mo ment os de crise marital.
U ma rápida análise aos fact ores de risco enunciados acima,
revela-nos que, de u ma forma geral, os fact ores de risco associados
aos comporta ment os suicidários têm um cariz marcadamente
pessoal, ou seja, são características inerentes ao próprio indivíduo,
mais do que à comunidade que o rodeia. Quando a atenção se foca
nos fact ores protect ores, constatamos que estes, pelo cont rário, se
localiza m muit o mais na comunidade e na qualidade dos serviços de
saúde oferecidos por esta, como se pode constatar na tabela 2
apresentada abaixo, que indica os fact ores protect ores propost os
pelo Centers for Disease Control and Prevention.

Factores Protectores nos Comportamentos Suicidários


(Tabela 2)

• Acompanhamento clínico apropriado e eficaz para patologias do foro


mental, físico e desordens de abuso de substâncias
• Acesso facilitado a uma variedade de serviços médicos e de apoio
aos que procuram ajuda
• Apoio familiar e da comunidade
• Cuidados médicos e de saúde mental continuados no tempo
• Aprendizagem de competências de resolução de problemas, de
resolução de conflitos e de formas não violentas de lidar com
conflitos
• Crenças culturais e religiosas que desencorajem o suicídio e
potenciem os instintos de auto preservação

Traduzido e adaptado de:


http://www.cdc.gov/ViolencePrevention/suicide/riskprotectivefactors.html

21 

 
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Apesar da maioria dos factores protectores se encont rarem ao


nível da co munidade, não pode mos olvidar, a existência de fact ores
protect ores de cariz mais individual, tais co mo a existência de
relações significativas e posit ivas, vida social satisfat ória, prática de
actividades de lazer (Sánchez, 2001), casa ment o, no meadamente
quando existe m crianças dentro do casa ment o (Qin et al, 2000).

1.3. Prevalência de Comportamentos Suicidários

Quando se pretende descortinar a prevalência dos


co mportament os suicidários deparamos co m algumas dificuldades
pratica mente universais, desde a inexistência de nomenclat uras co m
plena aceitação, com o consequente enviesamento na metodologia de
recolha dos dados (Prieto & Tavares, 2005), até, muitas vezes, à
dificuldade em determinar se um determinado óbit o foi um suicídio,
acidente ou ho micídio. A dificuldade e m determinar a causa do óbit o
pode dever-se a questões cult urais e religiosas, e m que o suicídio
não sendo be m aceite é por vezes “ mascarado” de outras causas
(Marín-León & Barros, 2003; Saraiva, 2006).
Relativa mente à ideação suicida, a principal dificuldade prende -
se com o fact o de não ser um co mportament o object iva mente
observável, o que leva a que possa ser dissimulado, levando a
dificuldades acrescidas na avaliação da sua real dimensão (Silva et
al, 2006).
Pese embora, ests dificuldades é possível apresentar alguns
dados.
Hist oricamente, Port ugal a par de out ros países do sul da
Europa, co mo a Espanha, Itália ou Grécia, te m taxas de suicídio
consideradas baixas quando comparadas com países do Norte ,
Cent ro e Leste Europeu (Veiga, 2006).
Ao longo dos últimos 50 anos, a prevalência de suicídios em
Port ugal, te m rondado os 10 suicídios por 100.000 habitantes (W HO,
2006). Se, de uma forma geral, Portugal apresenta baixas taxas de

22 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

suicídios consu ma dos, na verdade, esta mos perante duas realidades


antagónicas. No Norte do país, temos valores considerados baixos,
co m taxas a rondare m os 4 suicídios por 100.000 habitantes,
enquant o no S ul, te mos taxas de cerca de 20 suicídios por 100.000
habitantes. Os valores encont rados no S ul do país rivaliza m com o s
valores de alguns países do Norte da Europa, que apresentam a s
taxas mais elevadas do continente europeu (Veiga, 2006).
Quando analisa mos a prevalência de suicídios perpetrados por
mulheres co mparativamente aos levados a cabo por homens,
constatamos que Portugal segue a tendência geral de ter cerca de
um suicídio fe minino por cada três suicídios masculinos 1, o que leva
a que a taxa de suicídios fe mininos e m Port ugal ronde os 5 por
100.000 habitantes de acordo co m valores de 2003 (W HO, 2006), o
que significa que entre 2004 e 2008 terão falecido cerca de 1217
mulheres por suicídio e m Port ugal (INE, 2009).
Relativa mente aos co mporta ment os suicidários não letais, de
acordo com u m est udo levado a cabo na década de noventa por
investigadores de Coimbra, estima-se que a sua prevalência e m
Port ugal seja ent re 20 a 30 vezes superior às taxas de suicídio
consu ma do, oscilando entre os cerca de 150 por 100.000 e os 250
por 100.000 (Veiga, 2006; Saraiva 2006). Este est udo confirmou a
existência do paradoxo do género do co mporta ment o suicidário
propost o por Canetto e Sakinofsky e m 1998, ao encont rar uma
relação fe minino/masculino de 2 para 1 (Veiga, 2006). Esmiuçando
mais os resultados obt idos para o género fe minino é possível
const atar que neste grupo o sujeito padrão te m me nos de 25 anos
de idade, encontra-se divorciada e é economicamente não-activa
(domésticas 2 e estudantes) (Veiga, 2006).

                                                            
1
  O K u w a i t , o B a h r e i n e a C h i n a s ã o d o s p o u c o s p aí s e s o n d e a t a x a d e s u i c í d i o f e m i n i n a é
superior à masculina. No caso da China, a taxa de suicídio feminina é cerca de 25% superior à
m a s c u l i n a ( P h i l l i p s , L i & Z h a n g , 2 0 0 2 ) .   
2
  Neste momento gostaríamos de fazer um pequeno aparte que cremos poderá ser relevante e
que se relaciona com a categorização de “domésticas” utilizado por Veiga. Não sendo a
prostituição uma profissão que usufrua dos mesmos direitos e deveres legais e fiscais de tantas
outras profissões, e acarretando um estigma social, muitas das mulheres que a praticam, quando
23 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

No último pont o deste capít ulo, ire mos abordar a prevalência


da ideação suicida. Pese e mbora não tenha mos conheciment o de
nenhum est udo levado a cabo na população geral adulta co m o
intuit o de estudar a prevalência da ideação suicida e m Portugal,
estando os est udos sobre ideação suicida mais focados e m a most ras
de jovens, como são os casos dos estudos de Sampaio (2000) e
Oliveira (2004), ou ,então, em populações especificas, co mo é o caso
da população reclusa, apresentado nos trabalhos de Moreira (2008,
2010), existe m no entanto vários est udos internacionais donde
pode mos inferir algumas considerações.
W eissman e colaboradores, nu m est udo levado a cabo e m nove
países encont raram u ma oscilação de ideação suicida que variou
entre 2.1% e 18.5% (1999 cit in Cha mberlain, Goldney, Delfabbro,
Gill & Dal Grande, 2009). O próprio Cha mberlain e colaboradores
(2009), num inquérit o telefónico que decorreu ent re 2002 e 2007, na
Aust rália, encontraram u ma prevalência de ideação suicida na orde m
dos 5%.
Diversos estudos sugere m que as variações encont radas por
W eissman e m diferentes países ta mbé m pode m ser encontradas
dentro de um mesmo país 3 (W ebster, 1996; Phillips, Li & Zhang,
2002). Num est udo levado a cabo por Bellerosse e colaboradores e m
1994, foram encont radas prevalências de ideação suicida que
variava m entre 11.9% na faixa etária entre os 15 e os 24 anos, e
1.6% na faixa etária acima dos 65 anos. Quando se teve em
consideração apenas os últimos doze meses, os valores descera m
para os 8% e os 0.7% respectiva mente. Ainda relativa mente à
população Canadiana, E mond e colaboradores, num est udo publicado
e m 1988, referente à presença de ideação suicida no últ imo ano,

                                                                                                                                                                                    
questionadas sobre a sua actividade profissional, preferem denominar-se de “domésticas” a
expor-se como prostitutas. Tal poderá ter como consequência o enviesamento dessa categoria e,
logo, a contaminação de certos estudos. 
3
  Sendo Portugal um país geograficamente pequeno não deixa de ser um país com bastantes
heterogeneidades, que, no caso dos comportamentos suicidários são bem patentes,
nomeadamente entre o Norte e o Sul do país, tal como salientamos para os suicídios
consumados. 
24 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

apresentaram dados co mpartimentados por género e estado civil,


tendo encont rado uma prevalência geral de 3.9%, sendo que nas
mulheres essa prevalência subia para 4.1% enquanto nos ho mens não
passava dos 3.7%. De acordo co m o mesmo est udo a prevalência de
ideação suicida diminuía à medida que a idade dos respondentes
aumentava, independentemente do género. No que concerne ao
estado civil, os divorciados e solteiros era m os que apresentava m
maior prevalência de ideação suicida, 8.3% e 5.9% respectiva mente,
quando comparadas com as pessoas casadas 2.7% e viúvas 2.2% (cit
in W ebster, 1996).
Ra msay e Bagley, num est udo levado a cabo na cidade de
Calgary, onde quest ionaram 679 indivíduos, obtiveram prevalências
de comporta mentos suicidários ao longo da vida de 13.4%, 5.9% e
4.2%, relativa mente a ideação suicida, para-suicídio e tentativa de
suicídio respectivamente. Tal como no est udo de Bellerosse, quando
se diminuiu o período em estudo para os últ imos doze meses, os
valores descera m para 3.9%, 1.3% e 0.8% respectiva mente (1985 cit
in W ebster, 1996).
Na Europa, e mais especifica mente no Reino Unido, Melt zer e
colaboradores (2002) levara m a cabo um estudo co m uma a most ra da
população geral, onde encont rara m prevalências de ideação suicida
ao longo da vida de 14.9%, tendo estes valores diminuído quando se
referiam ao último ano para 3.9%, e última se mana para 0.4%.
Quant o à seg mentação por género, Metlzer constatou que a ideação
suicida era mais frequente nas mulheres, com 17 % cont ra apenas
13% nos ho mens. Com o aument o da idade a prevalência de ideação
suicida diminuiu, tendo oscilado entre os 17% para a faixa etária
entre os 16 e os 44 anos e 6% entre os 65 e 74 anos, o que é de
rest o congruente co m os restantes est udos apresentados. Quando
analisou o estado civil e a ocupação profissional, Meltzer encontrou
valores de ideação suicida mais alt os nas mulheres divorciadas: 28%
cont ra apenas 13% nas mulheres casadas, e mais altas nos
dese mpregados: 23.4% cont ra 13.2% nos e mpregados a tempo inteiro
e 15.7% nos e mpregados a tempo parcial. Por fi m, referindo-se à
questão da saúde mental, Melt zer encont rou uma maior prevalência
25 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

de ideias de suicídio e m indivíduos com sint omas de pânico, fóbicos,


obsessivos, compulsivos e depressivos, do que em indivíduos
assint omáticos, com u ma prevalência de 40% e 5% respectiva mente.
De uma forma sucinta, as principais ilações que pode mos
retirar destes estudos, prende m-se com o fact o das mulheres sere m
mais propensas a ter um maior nível de ideação suicida (be m, como
mais comporta ment os suicidários de uma forma geral); serem os
indivíduos mais jovens a tere m maior prevalência de ideação suicida;
o casa ment o parecer ser um fact or protect or, relativamente a ser-se
divorciado ou solteiro; o e mpreg o surgir co mo fact or protect or
importante; a ideação suicida apresentar uma forte correlação com a
presença de sint omat ologia psiquiátrica e ser dos comportament os
suicidários aquele que te m u ma maior prevalência, parecendo
mit igar-se com o aument o da idade.

26 

 
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2. Trabalho sexual

2.1. Definição

O desejo deste est udo é dedicar-se a apenas um dos t ipos de


prostituição existentes: a prostituição de rua e, mais
especifica mente, a um dos actores da prostituição de rua, as
mulheres.
Pelo que t orna-se necessário enquadrar este t ipo de trabalho
nu m context o mais extenso que é o do t rabalho sexual e a partir daí
definirmos o que entende mos por mulheres que exercem prostituição
de rua e quais os fact ores de risco mais co mummente encont rados
neste grupo específico e que nos levara m originalmente a escolher
este grupo e m detriment o de out ros dentro do t rabalho sexual.
Ao desejarmos part ir da definição de trabalho sexual e avançar
desde esse pont o, importa referir que hist orica mente esta
no menclatura é bastante recente, tendo co meçado a ser ut ilizada a
partir da década de 70 do século XX (Oliveira, 2004). O surgiment o
deste termo cu mpriu dois objectivos. Por um lado, ut ilizar u ma
no menclat ura mais object iva e cientifica escapando à utilização de
cert os termos mais pejorativos e carregados de algum peso moral.
Por out ro lado, pretende-se distinguir a pessoa que pratica
determinado acto sexual profissional, do acto e m si, deixando esta
de ser um mero object o sexual e passando a ser uma trabalhadora
que negoceia uma t roca de serviços sexuais por dinheiro (ou out ros
bens) (Chapkis, 1997).
A mulher 4 deixa de ser encarada como vít ima e começa a ser
cada vez mais encarada co mo uma interveniente activa e co m

                                                            
4
 Este enfoque que damos à mulher no trabalho sexual prende-se com o facto do âmbito deste
estudo se focar em prostitutas (mulheres) de rua, pelo que nos parece supérfluo estar, neste
momento, a centrar atenções na prostituição levada a cabo por homens e trangéneros, pese
e m b o r a s e j a u m a v e r t e n t e d o t r a b a l h o s e x u a l a in d a b a s t a n t e n e g l i g e n c i a d a ( O l i v e i r a , 2 0 0 4 ) e
que merece, assim, um olhar mais detalhado. 
27 

 
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capacidade de decisão e determinação relativa mente ao trabalho que


desenvolve (Oliveira, 2004).
Quando falamos de trabalho sexual, fala mos de algo muit o
mais abrangente do que apenas a prostituição, referirmo-nos entre
outras actividades, à prostituição, pornografia, striptease, danças
erót icas e cha madas telefónicas erót icas (Kontula, 2008; Weit zer
2000 cit in Oliveira, 2004). O que estas act ividades têm e m co mu m é
o object ivo de obter algum t ipo de lucro e o fact o de o object o da
troca ter um cariz sexual (Oliveira, 2004).
Como é de prostituição que trata este trabalho, torna-se
imperioso aprofundar mais este nicho do trabalho sexual. Assim, nã o
poderíamos deixar de começar esta procura pelo significado da
prost it uição se m abordarmos o t rabalho que Cruz publicou
originalmente e m 1841, onde este aut or na sua tentativa de definir e
clarificar o que se entendia por prostit utas, refere que estas são as
“ q ue recolhem pub licam ent e homens por dinheiro, q ue t êm um a
not oriedade p ública, q ue fazem mal p ublicam ent e do se u corpo
ganhando dinheiro e q ue o fazem const ant em ent e a q uem q uer q ue
for” (Cruz, 1984, p. 49).
À luz dos paradigmas act uais esta definição peca por quatro
mot ivos. Primeiramente, enuncia como prost it utas apenas aquelas
que o faze m publica mente, ignorando que m pratica prost it uição e m
locais privados; posteriormente refere que o fazem com o int uit o de
ganhar dinheiro. Reconhecendo que a mot ivação económica é talvez
a mais importante, não é de fact o a única mot ivação que pode levar
uma mulher a prostituir-se, co mo pode ser o caso das mulheres que
pode m t rocar um serviço sexual por droga ou out ros bens; apenas
faz referência à prost it uição fe minina, ignorando a prostit uição
masculina; e, por fim Cruz i mpregna a sua definição de u ma
avaliação moral que é incompat ível com as exigências actuais do
discurso científico, ao referir que estas mulheres “ fazem m al
p ublicam ent e do se u corpo” .
Posteriormente outros aut ores tentara m apresentar uma
definição mais consensual, co mpleta e isenta de avaliações morais,
do que se entende por prostit uição.
28 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Desde logo, temos a definição sugerida por Flexner, e m 1914,


que defende a prostituição, como sendo caracterizada pela
co mbinação de três elementos distintos: a troca, a promiscuidade e a
indiferença emocional. Assim, para este aut or, será prostit uta(o),
qualquer pessoa que de forma cont ínua ou intermitente tem relações
sexuais mais ou menos promíscuas, e m troca de dinheiro ou de
out ros bens materiais (cit in Goldstein, 1979).
A definição proposta por Corbin, post ula que têm de estar
presentes quat ro condições para se estar perante um acto de
prostituição, como seja: hábito e notoriedade; venalidade; ausência
de escolha e ausência de prazer ou de qualquer satisfação sensual
pela pessoa que se prostit ui (Corbin, 1978 cit in Oliveira, 2008).
Mais do que uma definição, a proposta de Corbin, asse melha-se mais
a uma check list de diagnóst ico do que propriamente a u ma
definição, além de colocar co mo condição o fact o de a pessoa que se
prostitui ter uma ausência de prazer ou qualquer satisfação sensual.
Ora, não sendo a pessoa que se prost it ui um interruptor que se liga
ou desliga automatica mente, parece-nos impossível aferir e afirmar
cont undentemente se no decorrer de uma t roca de serviços sexuais a
pessoa que se prostit ui tem ou não prazer ou satisfação sensua l
nesse serviço. Ta mbé m não nos parece adequado afirmar que não se
está perante uma act o prost it utivo apenas pelo fact o de a pessoa
que se prostit ui ter tido algum t ipo de prazer ou satisfação sensual.
U ma das crít icas efectuadas ao trabalho de Corbin e que talvez
explique a defesa que este faz da ausência de prazer sexual por
parte das mulheres que se prostitue m, é o fact o de este não ter
levado em linha de conta a perspectiva destas mulheres, adoptando
uma visão moldada pelo fascínio que esta população exerce sobre o
desejo masculino e a sociedade (Henderson, 1997).
Por oposição, Kont ula (2008) dá a voz às mulheres que se
prost it uem, e defende que o prazer sexual pode estar presente nu ma
troca comercial entre uma trabalhadora sexual e um cliente. Kont ula
afirma que, e mbora o prazer sexual da prostit uta não seja o cerne
do seu t rabalho e ne m sempre seja evidente, este existe e é parte

29 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

integrante da sua actividade, mesmo que não haja um envolviment o


e mocional com o cliente.
A definição de prostit uição proposta por Henriques apesar de
ser mais antiga do que qualquer das posições assumidas quer por
Corbin, quer por Kont ula, ult rapassa este pont o de uma forma
bastante simples ao afirmar que a implicação emocional, pode ou
não estar presente. Henriques vai ainda mais longe na sua tentativa
de definição, ao afirmar que se trata de todos os actos sexuais,
incluindo os que não compreende m a cópula, usualmente praticados
por indivíduos co m out ros indivíduos, seja m do seu próprio sexo ou
do sexo oposto, por um motivo não sexual; e ainda actos sexuais
co m animais ou object os, praticados co m object ivo de lucro por u m
ou mais indivíduos, e que produze m no espectador qualquer forma
de satisfação (Pryen, 1999 cit in Oliveira, 2008).
Ao apresentar uma definição tão completa, Henriques, acaba
por abarcar cert os act os que cabe m melhor na definição, de trabalho
sexual ou erótico do que simplesmente na definição de prostit uição
(Oliveira, 2004).
Willia mson (2000) nu ma tentativa de apresentar uma definição
sucinta, propõe que se denomine prostit uição co mo a venda ou t roca
do corpo, com obj ectivos sexuais, por dinheiro, habitação ou out ros
bens.
Ao apresentar uma definição de masiado sucinta e generalista,
W illia mson, corre o risco inverso. Nesta definição é possível integrar
determinados trabalhos sexuais, que não sendo actos prostitutivos
não deixam de ter objectivos sexuais.
A similaridade da definição de W illiamson com a definição da
United Nations Population Fund relativa mente ao trabalho sexual,
ve m reforçar a nossa afirmação anterior. A UNF PA refere que o
trabalho sexual pode ser definido como a t roca de dinheiro ou bens
por serviços sexuais, regular ou ocasionalmente, envolvendo pessoas
do sexo fe minino, masculino ou transgénero, onde o trabalhador do
sexo pode ou não definir consciente mente a sua actividade como
geradora de rendiment os (UNF PA, s.d.).

30 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

A dificuldade e m estabelecer fronteiras claras e inequívocas


entre o que é prostituição e o que é trabalho sexual é ta mbé m
reconhecida por Harcourt e Donovan (2005). Estes autores define m
a mbos os termos, co mo a prestação de serviços sexuais por dinheiro
ou seu equivalente, e refere m que os limites do t rabalho sexual são
vagos, podendo ir desde exposições eróticas se m contacto físico
co m o cliente, até relações sexuais desprotegidas e de alto risco co m
múlt iplos clientes.
Todas estas definições têm e m comu m, a relação dual entre
o(a) cliente e a(o) prost it uta(o). A definição de prostit uição avançada
por W inick e Kinsie (1971) ve m acrescentar a esta díade, um terceiro
actor. Para estes autores a prostituição refere-se à concessão de
acesso sexual não marital, estabelecido por mútuo acordo entre a
mulher 5, o cliente, e/ou o seu e mpregador/chulo, mediante
re muneração, podendo esta re muneração significar uma parte ou a
t otalidade de seus meios de subsistência.
Apesar deste trabalho se centrar exclusivamente nas
prost it utas de rua, recorre mos à definição proposta por W inick e
Kinsie (1971), por julgarmos ser importante reconhecer a existência
dos diversos act ores envolvidos nesta realidade, a fim de tomarmos
consciência de que se t rata de um fenó meno mais co mplexo do que à
partida se poderia afigurar.
Cre mos que, a fim de atingir melhor os objectivos a que este
trabalho se propõe, a definição de prost ituição que melhor serve
esse int uit o é a de uma troca comercial, em que uma das partes
aporta um be m com valor económico, co m o int uit o de obter uma
interacção sexual (genital, oral, anal, ou masturbatória) com a outra
parte, sendo que a parte que aporta o corpo para esta troca
co mercial, pode ou não obter prazer sexual e envolviment o
e mocional no decorrer da troca.

                                                            
5
  Se, inicialmente, estes autores, definem a prostituta como sendo “a mulher...”,
posteriormente, fazem a ressalva que a pessoa que se prostitui tanto pode ser feminina como
masculino.
31 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

2.2. Prostituição de Rua

U ma das formas de categorização da prostit uição, passa pelo


local onde este trabalho é levado a cabo, havendo uma clara relação
entre o espaço físico onde o trabalho sexual é realizado e as
característ icas da pessoa que o pratica (Pires, 2009). Para Manita e
Oliveira (2002) características como o aspect o físico, o preço
cobrado por cada serviço, a independência face a exploradores e a
capacidade de negociação co m os clientes, irão influenciar a
diferenciação de classes entre as pessoas que se prostituem. Apesar
de, na prostit uição, as realidades sere m heterogéneas, usualmente,
as pessoas que pratica m prostituição na rua, são provenientes de
classes socio-económicas mais desfavorecidas, co m me nor poder de
negociação com os clientes e encontram-se mais sujeitas a episódios
de violência, dado o local onde exerce m a prost it uição ser mais
expost o (Bartol, 1991 cit in Manita e Oliveira, 2002).
A categorização, co m base no local onde a prostituição t em
lugar, é que mais co mu mmente é utilizada a fim de criar categorias
dentro da prost ituição (Oliveira, 2001).
Como o nosso trabalho irá focar-se apenas na prostituição de
rua e apenas na que é levada a cabo por mulheres, interessa-nos
agora conhecer um pouco melhor esta realidade.
Goldstein (1979) considera prost it uta de rua 6, a mulher que de
uma forma evidente seduz ho mens na rua, oferecendo serviços
sexuais em t roca de um paga ment o. Esta proposta, apesar de
simples e clara, deixa-se prender, na nossa opinião, por
considerações de género, ao não permit ir uma visão mais abrangente
do que a tradicional visão dual, da mulher como be m comercializáve l
e do home m co mo co mprador.
Harcourt e Donovan (2005) prefere m deixar de lado a questão
do género dos intervenientes, e focar-se nos diferentes locais onde
os clientes podem ser abordados e onde a t roca tem lugar. Estes

                                                            
6
  No original, em inglês, os termos “streetwalker” e “prostitute” são substantivos de género
neutro.
32 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

aut ores refere m que os clientes pode m ser abordados na rua,


parques ou out ros locais públicos, sendo a troca habit ualmente
levada a cabo e m ruas secundárias, veículos ou pensões.
Já Goldsmit h apresenta-nos u ma descrição mais focada nas
tendências de moda das prost it utas de rua. De acordo com esta
aut ora, as prostitutas de rua promovem os seus serviços, usando
casacos de pele compridos, cobrindo apenas a roupa interior
fe minina de cetim, ao est ilo Victoria’s Secret , collant s de renda
preta e sapatos ou botas de tacão alt o 7 (1993 cit in F lowers, 1998).
A visão da prostituta de rua apresentada por Goldsmit h, não é
consensual. Mesmo entre as próprias prostitutas de rua, que
consideram esta imagem estigmat izante e vexatória, procurando, e m
muitos casos, afastar-se dessa image m na direcção de uma image m
mais decente da prost it uição. Paradoxalmente, esta tentativa de
algumas prostitutas se afastarem da imagem da mulher que usa
roupas apelativas pela sua exiguidade, acaba por resultar como mais
um fact or estig matizante, sobre que m se veste assim (Chapkis,
1997).
Dentro da categoria das prostitutas de rua, alguns autores
criara m ainda distinções comple mentares, dividindo estas e m: foras
da lei 8, cont roladas por ch ulos (W illia mson, 2000), larápias 9,
senho ras, vet eranas 10, p uro sang ue 11 e drogadas (James, 1972 cit in

                                                            
7
 N a r e a l i d a d e q u e n o s f o i p o s s í v e l o b s e r v a r , e s t a d e s c r i ç ã o a p r e s e n t a d a p o r G o l d s m i t h , n ã o s e
encontrava nas mulheres que se prostituíam na rua, sendo mais próxima da imagem dos
transgéneros com que nos deparamos.
8
A denominação de fora-da-lei é usada pela autora para nomear as prostitutas que não são
controladas por um chulo.
9
Como Oliveira (2004) refere, um dos pontos do código de ética destas mulheres, passa por
não roubar os clientes. Para James, as larápias são mulheres que se servem da prostituição
como uma capa ao abrigo da qual efectuam furtos, sendo essa a sua principal fonte de
rendimentos.
10
Para James, tanto no caso das senhoras, como no caso das veteranas, a idade é um posto, no
entanto, as primeiras destinguem-se das segundas pela maior classe e profissionalismo.
11
  Para James, as puro sangue, são as mulheres novas e com uma atitude profissional
relativamente à prostituição.
33 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Flowers, 1998). É precisa mente a estas últimas, que está reservado o


patamar mais baixo na prostit uição de rua (Flowers, 1998).

2.3. A Rua como um Palco

Tendo-nos já debruçado sobre as definições referentes a


prost it utas de rua, importa ta mbé m referir o que leva muitas destas
mulheres a eleger a rua como seu local de trabalho.
É importante referir que a escolha da rua como local de
trabalho, não é sempre uma opção racional e ponderada. E m alguns
casos, é o estatuto socioeconó mico precário, anterior à entrada na
prostituição, que funciona como uma barreira (Vanwesenbeeck,
1994; Sanchez, 1998), que não permite almejar context os de
trabalho mais seguros e proveitosos. Muitas das mulheres que
trabalham na rua têm, fora desta, experiências laborais precárias,
mal pagas e indiferenciadas, podendo ser a actividade prostitutiva,
um co mple ment o financeiro ao t rabalho diurno norm at ivo (Oliveira,
2004).
W inick e Kinsie (1971), be m como Vanwesenbecck (1994),
refere m que mulheres que sofreram episódios de violência por parte
dos parceiros, també m t ende m a optar pela rua como local de
trabalho.
A própria idade, género, raça, relação com as drogas e
aparência da mulher irá ser um factor importante na escolha do seu
local de trabalho (Oliveira, 2004), quer entre os diferentes meios
onde a prost it uição ocorre, quer na escolha dos melhores pont os
geográficos na prost it uição de rua.
A capacidade de optar por melhores locais de trabalho, é u m
fact or deveras importante para estas mulheres. Determinados
espaços da via pública, pela sua localização, isolamento, iluminação,
entre outros fact ores, tant o pode m propiciar uma maior facilidade de
angariar clientes, como uma maior exposição a episódios de
violência por parte dos clientes (Vanwesenbeeck, 1994),

34 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

co mpanheiros/chulos (Hall, 1992; F lowers, 1998; W illiamson, 2000)


ou sim ples t ranseuntes (Oliveira, 2001, 2004, 2008).
Com a experiência, as mulheres vão desenvolvendo estratégias
de redução de riscos de agressão, que podem passar, pela escolha
de locais menos propícios à vitimação, por se juntarem e m pequenos
grupos (quant o mais não seja aos pares), pela troca de informação
sobre clientes proble máticos, pelo paga mento antes do serviço ou
não entrando e m carros desconhecidos ou que lhes suscitem dúvidas
(Oliveira, 2004).
A rua, sendo geralmente, um meio me nos organizado e
cont rolado, favorece que determinadas mulheres, seja pela sua
situação legal ou pela sua dificuldade em lidar co m regras e
horários, opte m por este contexto, co mo é o caso de mulheres
estrangeiras 12 e/ou das toxicodependentes (Vanwesenbeeck, 1994).
Mesmo outras mulheres, que não se enquadram nestas categorias,
optam por t rabalhar na rua, para não tere m de se submeter a u ma
ent idade pat ronal, obtendo desta forma um maior poder de decisão,
quanto à forma como organiza m o seu trabalho, assim co mo quanto
ao nível dos lucros, da definição do horário de trabalho ou da
selecção dos clientes (Oliveira, 2008).
Se be m que a mobilidade social exista nesta profissão, tal
co mo existe na sociedade em geral, aqui, esta mobilidade parece ser
mais frequente no sent ido descendente (Winick & Kinsie, 1971;
Flowers, 1998), seja, por causa do consumo de drogas (Goldstein,
1979), pela degradação física ou pela idade (Oliveira, 2004).
Apesar da prostituição de rua ser considerada o pata mar mais
baixo da hierarquia do trabalho sexual (Cruz, 1984; Chapkis, 1997;
Meier & Geis, 1997; F lowers, 1998; W illia mson, 2000; Oliveira, 2001,
2004), algumas mulheres transitam da prostit uição de interior para a
de rua, não por já não possuíre m as características físicas exigíveis

                                                            
12
 O c o n t e x t o o n d e a s e s t r a n g e i r a s , e x e r c e m o t r a b a l h o s e x u a l , i r á d e p e n d e r e m g r a n d e p a r t e d a
sua situação legal. Muitas das mulheres que se encontram ilegalmente no país, optam por
trabalhar em contextos de interior, como estratégia de evitamento das autoridades (Oliveira,
2004). 
35 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

na prostit uição de interior, mas porque se sentem mais confortáveis 13


na prostituição de rua. Nestes casos seria incorrecto considerar esta
mudança co mo uma descida de categoria, sendo mais acertado
encarar co mo uma opção estratégica, após a ponderação das
vantagens e desvantagens de ambos os t ipos de trabalho.

2.4. Factores de Risco da Prostituição de Rua

Já referimos anteriormente que para a grande maioria dos


autores, as prostitutas de rua, são aquelas que estarão no patamar
mais baixo desta hierarquia (Cruz, 1984 14; Chapkis, 1997; Meier &
Geis, 1997; Flowers, 1998; W illia mson, 2000; Oliveira, 2001, 2004).
No entant o, esta visão não se cinge apenas a quem observa esta
realidade de fora, sendo de resto, implícita entre as trabalhadoras
do sexo de interior, que olha m co m altivez para as prost it utas de rua
(W inick & Kinsie, 1971).
Existe m vários fact ores, para considerar que as prostitutas de
rua se encont ra m no patamar mais baixo desta hierarquia, tal como
de seguida enumeramos.
Baixas qua lificações académicas: Para Goldstein (1979) e
Vanwesenbeeck (1994), as mulheres com baixas qualificaçõe s
acadé micas, terão e mpregos pouco diferenciados co m menores
oport unidades de encont rare m font es de rendiment o elevado, vendo-
se muitas vezes na urgência de ganhar dinheiro para sustentar os
filhos ou out ros familiares. Esta relação ent re a prostituição de rua e
as baixas baixas qualificações acadé micas, foi de rest o sinalizada
por Chapkis (1997), que refere poder ser esta sit uação uma das
responsáveis pela entrada e permanência das mulheres na
prost it uiçã o de rua.

                                                            
13
  Pelas razões enumeradas por Oliveira, em 2008, e que se prendem, maioritariamente, com
uma maior liberdade na gestão da sua carreira.
14
“As vagabundas pelas ruas são em Lisboa, como em todas as cidades da Europa, as mais
b a i x a s , a s m a i s m i s e r á v e i s e d e s g r a ç a d a s d e t o d a s a s p r o s t i t u t a s. ”
36 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Baixos rendim ent os: a questão dos baixos rendiment os é, e m


muitas situações, anterior à entrada na prostituição de rua. Muitas
destas mulheres provê m de meios socio económicos precários
(Flowers, 1998), indo posteriormente ver replicada esta situação no
seu meio laboral.
Quant o aos me nores rendiment os na prostituição de rua, este é
um assunt o que reúne consenso (Oliveira, 2001, 2004).
Vanwesenbeeck (1994) encont rou uma ligação relevante entre
necessidades económicas prementes, seja pela necessidade de
suportar os filhos e restante fa mília, ou pela necessidade de
sustentar o consumo de drogas, e uma baixa satisfação com o
trabalho, com consequentes menores níveis de bem-estar, mais
queixas somát icas e problemas psicológicos.
Maior exposição a episódios de violência: Para Church e
colaboradores (2001), a rua é a variável mais importante e
significativa a ter e m conta na avaliação das causas da violência
levada a cabo contra as prostitutas. Para estes autores a variável
“ rua” tem mais peso na ponderação da vitimação, do que a cidade
onde a mulher se prost it ui, consu mos de drogas, idade de inicio ou
tempo na prostituição. Este dado parece ser concordante, com o
est udo de Johnstone (2007), que avaliou as atit udes masculinas
relativa mente às mulheres que exerce m diferentes tipos de trabalho
sexual, tendo encont rado as atit udes mais negativas relativamente
às prost itutas de rua.
O resultado encontrado por Johnst one, é consonante com o
risco de vitimização a que estas mulheres estão sujeitas,
no meadamente por parte dos clientes (Vanwesenbeeck, 1994;
Church, Henderson, Barnard & Hart, 2001; Raphael & Shapiro, 2004),
co mpanheiros/chulos (Hall, 1992; F lowers, 1998; W illiamson, 2000)
ou terceiros (Oliveira, 2001, 2004, 2008; Surratt, Inciardi, Kurt z &
Kiley, 2004). Sendo este tipo de prostituição levado a cabo na rua, a
mulher acaba por não usufruir do tipo de protecção que o t rabalho
de interior, nomeada mente o que se desenrola, em casas
(organizadas), proporciona. Assim a mulher vê-se numa situação e m

37 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

que está mais exposta a assaltos, violações e outros episódios de


violência (Oliveira, 2008).
A violência levada a cabo pelos clientes é a mais recorrente nas
mulheres que trabalha m na rua. Dependendo do tipo de violência
levado a cabo, os clientes pode m ser responsáveis por ent re 62% a
100% dos act os perpetrados cont ra prost itutas de rua (Raphael &
Shapiro, 2004). Já os actos de violência levados a cabo por clientes
e m a mbientes de interior pode m rondar os 48% (Church, Henderson,
Barnard & Hart, 2001). Percebe mos, assim que em nenhu m dos casos
pode mos falar de um a mbiente de trabalho idílico, sem episódios de
violência, no entant o, no primeiro caso, essa violência parece ser
mais recorrente.
Estima-se que os clientes seja m responsáveis por entre 64% e
84% dos ho micídios perpetrados cont ra prostit utas (Potterat et al.
2004).
Chapkis (1997), refere que parece exist ir a ideia geral de que
as mulheres que se encont ra m no fundo da pirâ mide são as menos
merecedoras de respeito, sendo portanto aceitável e até expectável,
que sejam violentadas e abusadas, por parte da polícia, clientes e
transeuntes. Para Simic e Rhodes (2009), os actos de violência e falta
de respeit o sobre as prost itutas de rua parecem dever-se ao fact o de
existir a percepção de que estas mulheres são merecedoras de algum
tipo de castigo, uma vez que insiste m e m t ransgredir com o se u
co mportament o indecente.
No caso das prostit utas de rua t oxicodependentes, estas
encontram-se ainda mais expostas a episódios de violência, e m
virt ude das suas maiores fragilidades, nomeada mente, por parte dos
clientes que são os responsáveis pela maioria dos episódios de
violência que estas mulheres sofre m (S urratt, Inciardi, Kurt z & Kiley,
2004). Estes autores encont raram igualmente uma correlação
significativa ent re os episódios de violência actuais e a vitimização
destas mulheres na infância.
A vivência recorrente de episódios de violência, acaba por ter
as respectivas consequências psicológicas, que pode m passar por

38 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

experiências dissociativas, sent iment os de angústia e depressão


(Vanwesenbeeck, 1994).
Condições de t rabalho: Para Vanwesenbeeck (1994) a questão
económica é importante na satisfação co m o trabalho desenvolvido.
De acordo co m o mes mo aut or, na prost it uição de rua, tende a haver
um maior número de clientes, mas um menor ganho económico co m
cada um deles 15, levando a uma menor satisfação com o trabalho. A
rua, sendo um meio considerado mais desorganizado, tende a
oferecer uma rede social menos estrut urada 16, be m co mo u m me nor
apoio e protecção (Vanwesenbeeck, 1994), com consequências
directas nos níveis de stress e necessidade de estarem sempre
alerta, na detecção de possíveis agressores ou a meaças ao seu be m-
estar.
Tão importante co mo conhecer os fact ores de risco que
atinge m estas mulheres, importa perceber de que forma são
afectadas pelo estigma que recai sobre elas, e de que maneira o
suporte social de que usufrue m as protege.

2.5. A Gestão do Estigma e a Procura do Suporte Social

U m fact or importante a ter em conta, quando aborda mos a


prost it uição de rua, é o nível de exposição pública a que as mulheres
que pratica m este t ipo de prost it uição se sujeitam. As mulheres que
trabalham na rua, encontrando-se mais expostas, carrega m u m maior
fardo, ao serem imediatamente etiquetadas co mo p ut as (Chapkis,

                                                            
15
  Ao fazermos esta afirmação temos de ter em consideração, que com a maior concorrência,
nomeadamente com a chegada de mulheres estrangeiras, e com as maiores despesas fixas, os
valores ganhos pelas mulheres que se prostituem em apartamentos, não diferem muito dos
valores ganhos pelas mulheres que se prostituem na rua.
16
 Como vimos, quando abordamos a condições de trabalho na rua, apesar de não existir uma
rede formal, informalmente, estas mulheres tendem a manter laços de proximidade. O
estabelecimento de ligações com outras mulheres, pode ter por base, questões meramente
estratégicas de redução de risco de agressão, ou ser resultante simplesmente, de afeição
genuína.
39 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

1997). Ta mbé m Johnst one (2007) refere que dentro da indúst ria do
sexo, são as prost it utas de rua, as que são “ vítimas” das atit udes
mais negativas por parte dos ho mens.
Se por um lado é importante estare m visíveis, a fim de
poderem angariar o maior nú mero possível de clientes, por outro, é
importante resguardare m-se, a fim de evitare m sere m vistas por
determinadas pessoas, que estas mulheres não quere m que saibam
desta sua actividade. Em alguns casos, esta reserva prende-se co m
fact ores puramente inst rumentais, como é exemplo a fuga da polícia,
a fim de evitar a prisão, quer nos países em que a prostit uição é
ilegal (Goffma n, 1986), quer, entre nós, no caso das imigrantes e m
sit uação irregular. Estas mulheres també m tendê m a omit ir
determinada informação aos técnicos dos serviços sociais, a fim de
evitar que estes levante m questões quanto à origem ou quantidade
dos seus rendiment os ou quant o às suas capacidades enquant o
mães 17. Noutros casos, esta reserva, te m cont ornos mais e mocionais
e relacionais, pois não deseja m ser vistas e, consequentemente,
identificadas, como prostitutas de rua, precisamente pelas pessoas
que lhes são mais próxi mas, como familiares, a migos ou conhecidos,
co m receio da estig matização por que m lhes é mais querido
(Oliveira, 2008).
A fim de gerir a informa ção sobre o seu modo de vida, a
mulher pode socorrer-se de variadas estratégias, como ter um
e mprego norm at ivo, que just ifique os ganhos econó micos e as
ausências de casa, escolher locais onde se possa facilmente
esconder, no caso de ver algum conhecido ou t rabalhar e m áreas
afastadas do seu local de residência de forma a não estar tão sujeita
a ser reconhecida e não expor os seus fa miliares à “ vergonha” ou

                                                            
17
 N o d e c u r s o d o n o s s o t r a b a l h o d e t e r r e n o c o n s t a t a m o s a e x i s t ê n c i a d e a l g u m a s m u l h e r e s q u e ,
sendo beneficiárias do Rendimento Social de Inserção (RSI), ocultavam à técnica da Segurança
S o c i a l , q u e a c o m p a n h a v a o s e u c a s o , e s t e s e u t ra b a l h o . E s t a o c u l t a ç ã o t i n h a p o r b a s e q u e r o
receio de que se procedesse ao corte da sua prestação de RSI, quer o receio de que a
informação chegasse às técnicas da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ),
levando a que a guarda dos seus filhos lhes pudesse vir a ser retirada. 
40 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

“ desgosto” de tere m de lidar directamente co m um ele mento da


fa mília a prost it uir-se (Oliveira, 2008).
A gestão da informação 18 e, consequentemente, do estigma, até
pode ser facilmente levada a cabo pela mulher, numa ou nout ra
situação esporádica, no entant o, gerir a informação no decorrer de
um longo período de tempo e a várias pessoas, inclusive das que são
e mocionalmente mais significativas, pode acarretar um peso
inco mensurável sobre estas mulheres (Goffman, 1986).
De acordo co m Nahra (2005, cit in Oliveira, 2008), o estig ma
pode reflectir-se ao nível de uma alta suscept ibilidade à violência
física e psicológica, be m co mo a um baixo be m-estar. A relação
entre o estigma e morbilidade psiquiátrica, no meadamente
depressão, foi encont rada por El-Bassel e colaboradores num est udo
levado a cabo com prost itutas de rua do Harlem (1997).
Quando o estigma é interiorizado e levado a cabo pelas
pessoas e mocionalmente mais significativas, pode ocorrer um
afastament o social (Oliveira, 2008), com u ma consequente
diminuição da percepção da existência de redes sociais disponíveis,
no meadamente ao nível de fa miliares, companheiros e amigos.
Para Ulibarri e colaboradores (2009), será precisa mente a rede
social disponível que poderá auxiliar as trabalhadoras do sexo a
encontrare m formas mais assertivas de lidare m co m fact ores
st ressores, ou simplesmente a fornecer o apoio e mocional essencial
para ajudar a ultrapassar moment os difíceis.
Num est udo levado a cabo nos Estados Unidos da América, com
prostitutas de rua, encontrou-se uma correlação positiva entre a
falta de suporte social e níveis elevados de depressão (Dalla, Xia &
Kennedy, 2003 cit in Ulibarri et al, 2009).

                                                            
18
  Para Goffman (1986), esta gestão da informação passa essencialmente por, mostrar ou não
mostrar; dizer ou não dizer; admitir ou não admitir; mentir ou não mentir, e em cada caso,
decidir a quem, como, quando e onde. 
41 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

2.6. Prostituição e Consumo de Drogas

Se a prostituição de rua, já é considerada como o patamar mais


baixo no trabalho do sexo, as mulheres que se prostitue m na rua e,
conco mitantemente, são t oxicodependentes, são tidas co mo estando
no fundo deste pata mar (Flowers, 1998).
Estima-se que na prost it uição de rua exista um nú mero elevado
de prostit utas t oxicodependentes (Oliveira, 2004). Manita e Oliveira
(2002) num est udo de caracterização de prost itutas de rua na s
cidades do Port o e Mat osinhos, encontrara m uma elevada prevalência
de hist orial de consu mo de drogas, com 36,6% das mulheres
entrevistadas a referire m que consumia m drogas à data do estudo e
8,9% a referir que não consumia m act ualmente, mas já havia m sido
consu midoras.
Flowers (1998), apresenta dados mais altos. Para este autor, as
t oxicodependentes pode m chegar a atingir cerca de 75% do t otal de
prostitutas de rua. Este valor é coerente co m o encontrado por
Goldstein (1979) que refere que cerca de 68% das prost it utas de
classe baixa est udadas eram dependentes de heroína. Este mes mo
autor encont rou diferenças significativas entre os tipos de
prost it uição e a substância adictiva de eleição. Sendo que, na classe
baixa, a droga de eleição seria a heroína, enquanto que na
prostituição de classe alta, seria m os estimulantes a droga de
eleição (Goldstein, 1979).
Com o int uit o de alimentar o seu vício, as toxicodependentes
tende m a praticar preços mais baixos do que qualquer out ra
profissional. Estas mulheres ta mbé m se sujeita m a práticas sexuais a
que as não t oxicodependentes, normalmente, não se sujeitam, tal
co mo a não ut ilização de preservativos co m clientes (Meier & Geis,
1997; Oliveira, 2004).
A existência de um código de ética, mesmo sendo apenas
implícit o, é reconhecido e aceite entre os me mbros desta classe. A
utilização de preservativos é um dos imperativos deste código, e a

42 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

sua não utilização por mot ivos económicos 19, leva a uma maior
ostracização e estig mat ização relativa mente à profissional que não o
usa (Chapkis, 1997), que por norma são as prost it utas
t oxicodependentes. Coloca-se assim, um duplo peso sobre as
prost it utas toxicodependentes, pois ao estigma a que são votadas
pela sociedade no geral, são agora també m ostracizadas e
estig matizadas pelas suas pares.
O peso da prostit uição pode just ificar os resultados
encontrados por Gilchrist , Gruer e At kinson (2005), nu m est udo
levado a cabo com duas a most ras de t oxicodependentes, em que
uma das amostras era constituída por prostitutas. Estes autores
encontrara m níveis superiores de uso de cocaína, drogas injectáveis
e overdoses acidentais, no grupo das prostit utas, sugerindo que a
prostituição seria um fact or ainda mais desequilibrador nas mulheres
t oxicodependentes.
Gilchrist , Gruer e At kinson (2005) encont raram, ainda, valores
superiores de tentativas de suicídio entre as prost itutas
t oxicodependentes, co m uma prevalência de 53% de tentativas de
suicídio ao longo da vida, comparat iva mente co m as não prostit utas,
que apresentava m uma prevalência de apenas 39%.
A conclusões similares chegara m Alegría e colaboradores
(1994) Estes autores, encont raram um forte correlação entre a
sint omatologia depressiva e o uso de drogas injectáveis, exist indo
neste caso u ma percentagem de 90,0% de sint omat ologia depressiva
alta, nas consumidoras de drogas injectáveis, cont ra apenas 52,2 %
nas não consu midoras.
No que diz respeito, ao contexto onde a prostituição ocorre
Alegría e colaboradores (1994), ta mbé m encont raram níveis mais
altos de sint omatologia depressiva em prost itutas de rua,
relativa mente a prostitutas de interior, 86,8% e 45,1 %
respectiva mente.

                                                            
19
  N o e n t a n t o , d e a c o r d o c o m M e i e r e G e i s ( 1 9 9 7) , o p r i n c i p a l r i s c o d e c o n t r a c ç ã o d e V I H
a d v é m p r e c i s a m e n t e d a n ã o u t i l i z a ç ã o d e p r e s e r v at i v o s c o m c l i e n t e s r e g u l a r e s , c o m q u e m j á
existe uma relação mais próxima, levando a um maior facilitismo no uso destes. 
43 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

2.7. Comportamento Suicidário e Prostituição de Rua

Ao nível da correlação entre comporta ment os suicidários e


prostituição de rua não existem estudos, de que tenhamos
conhecimento, que se dedique m exclusivamente à correlação entre
estas duas variáveis.
Quando procura mos explorar um pouco mais este tema fo mo s
encontrando estudos e referências sobre prostit uição que ia m
abordando assuntos relacionados com a saúde destas mulheres ao
mes mo tempo que iam t ocando marginalmente o tema do suicídio.
Exe mplo disso é o trabalho de Vanwesenbeeck (1994) que
refere que, mulheres com e xperiências traumáticas na infância,
apresentam mais tarde uma ma ior prevalência de depressão
ansiógena, bem como u m maior nível de agressividade tant o hetero-
dirigida, co mo auto-dirigida, o que resulta numa maior prevalência
de pesadelos, desconfiança e ideaçã o suicida. Para esta aut ora, out ro
dado importante a reter, é que mulheres com experiências
traumát icas na infância, estão mais sujeitas a serem vítimas de
abusos físicos e sexuais na idade adulta, por parte dos seus
co mpanheiros.
El-Bassel et al. revela m-nos que uma elevada ocorrência de
episódios de abuso na idade adulta, associados aos factores
st ressores e degradantes da prostit uição, poderão explicar a maior
prevalência de sint omas depressivos e tentativas de suicídio nas
prost it utas, comparativamente a não prostit utas (2001 cit in
Gilchrist , Gruer & At kinson, 2005). E mbora não sugerindo causas
explicativas, també m F lowers (1998) refere a existência de u ma
mult iplicidade de problemas psicológicos nas prostit utas que
passariam pela depressão, esquizofrenia e tendências suicidas.
Se be m que, enquant o grupo, as prostit utas pareçam
apresentar mais sint omat ologia so mática e proble mas psicossociais,
não podemos encarar as prostit utas co mo uma unidade indivisível,
uma vez que as suas realidades são díspares, (Vanwesenbeeck,
1994). Será a forma como encara m o seu trabalho, be m como a

44 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

duração, frequência, gravidade e sua percepção à exposição aos


fact ores de risco que irá determinar o nível da deterioração da saúde
física e e mocional das mulheres que se prost it uem na rua
(W illia mson, 2000). Por este mot ivo, será expectável que mulheres
que têm uma carreira mais longa, tenham també m um maior nú mero
de sint omas so máticos (Ulibarri et al, 2009) e um maior número de
co mportament os suicidários, aventamos nós.
Num est udo levado a cabo nos Estados Unidos da América por
Potterat et al. (2004), relativo à mortalidade numa a most ra de
prostitutas, estes autores revela m que, as mulheres que trabalha m
na área da prostituição são as que enfrentam o a mbiente ocupacional
mais perigoso. Estes autores substancia m esta afirmação co m o fact o
da idade média destas mulheres à data do seu faleciment o, ser de 34
anos, e que, como seria de esperar, na maioria dos casos, a morte
ser resultado de um act o violent o.
Dos 111 óbit os cuja causa da morte foi possível apurar, as
principais causas fora m as seguintes:

1. Homicídio (21)
2. Morte relacionada co m consumo de drogas (20)
3. Acidente (13)
4. Morte relacionada co m consumo de álcool (10)
5. VIH/SIDA (9)
6. Doença cerebrovascular (6)
7. S uicídio (5)

Se levarmos em linha de conta que a taxa de suicídios


fe mininos e m Port ugal, ronda os 5 suicídios por cada 100.000
habitantes, e que o est udo levado a cabo por Potterat et al. analisou
“ apenas” 1969 prost it utas, pode mos ter um vislumbre da disparidade
de suicídios ent re as mulheres que se prostit ue m e as que não o
fazem.
Quando espreitamos os co mportament os suicidários, pela
óptica das tentativas de suicídio, percebemos que estas ta mbé m
aparentam ser bastante elevadas, como atesta Johnson ao afirmar,
45 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

que cerca de 50% de t odas as prost itutas, e m algum moment o da sua


vida, efectuara m, pelo menos, uma tentativa de suicídio (1992 cit in
Flowers, 1998), ou Kidd e Kral (2002), no seu trabalho co m jovens
prost it utas e prostit utos (idades compreendidas entre os 17 e os 24
anos), que referem que 76% por cent o da sua a mostra já havia
tentado o suicídio.
Quando analisa mos apenas os últ imos 6 meses, os valores são
nat uralmente mais baixos, mas cont inua m a ser bastante
significativos. Senão, vejamos os resultados apresentados por u m
est udo levado a cabo na China, com 454 trabalhadoras do sexo,
onde se apurou que 8,4% 20 da amostra estudada havia efectuado pelo
menos uma tentativa de suicídio nos últ imos seis meses (Hong, Li,
Fang & Zhao, 2007).
O mes mo est udo de Hong, Li, Fang e Zhao (2007) refere que no
mes mo período de tempo, a prevalência de ideação suicida nesta
a most ra foi de 14,2% 21.
Apesar da taxa de suicídio na China ser consideravelmente
superior à taxa de suicídio global (Phillips, Li & Zhang, 2002), as
taxas apresentadas por esta amostra de trabalhadoras do sexo, são
ainda assim superiores às da população geral Chinesa (Hong, Li,
Fang & Zhao, 2007), o que nos dá um cert o grau de confiança,
apesar de termos presente que as diferenças cult urais entre os

                                                            
20
  Apenas com o intuito de facilitar a interpretação deste dado, recordamos aqui os valores
encontrados no estudo de 1985 de Ramsay e Bagley, que já haviam sido previamente
apresentados no capítulo referente à prevalência de comportamento suicidários. Estes autores
encontraram uma prevalência de tentativas de suicídio ao longo da vida na ordem dos 4.2%,
enquanto, na análise aos últimos doze meses, essa prevalência desceu para apenas 0.8%. 
21
  Do mesmo modo, recordamos os dados de Ramsay e Bagley, referentes à ideação suicida ao
longo da vida, que foram de 13.4%, enquanto, nos últimos doze meses desceu para 3.9%. A
conclusões similares chegaram Meltzer e colaboradores, no seu estudo de 2002, com
prevalências de 14.9% e 3.9% para os mesmos períodos.
Analisando apenas os últimos doze meses, Bellerosse e colaboradores, encontraram no seu
estudo de 1994, uma variação entre 0.7% e 8%, dependendo da faixa etária.
46 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

países ocidentais, dos quais Port ugal faz parte, e a China, també m
se reflecte m nos comportament os suicidários 22.
Hong, Li, Fang e Zhao (2007) refere m a existência de quatro
variáveis estatisticamente significativas para a ideação suicida nas
trabalhadoras do sexo, a saber: a insatisfação com a vida, os
consumos abusivos de álcool, tere m sido forçadas ou ludibriadas
para o sexo comercial e terem um parceiro estável. Quando a
atenção se focou nas tentativas de suicídio, as variáveis
estatisticamente mais significativas prendiam-se com a existência de
múlt iplos parceiros estáveis, experiências de violação nos últ imos 6
meses, pressão de pares para se dedicarem ao t rabalho sexual ou
preocupações financeiras co mo principal motivação para se
dedicarem ao trabalho sexual. No que concerne às características
de mográficas, as principais diferenças entre mulheres que
reportaram ideação/tentativa de suicídio e as que não o fizera m,
prendiam-se com a escolaridade (com uma média de 5,6 anos de
est udo para as primeiras e 6,7 anos de estudo para as últimas), e
co m o fact o de vivere m com o parceiro (com u ma percentagem de
18,4% para as primeiras e de 6,2% para as últimas).
Apesar de considerarmos que este estudo é importante por
dirigir alguma atenção aos comporta ment os suicidários nas
trabalhadoras do sexo, julga mos que falha, ao não procurar saber do
estado da saúde mental destas mulheres. Mesmo defendendo que o
suicídio não é uma doença mental, ne m está se mpre associado a
alguma patologia do foro mental, não pode mos obviar que e m
muit os casos as duas condições se cruza m.
Num est udo co m um cariz mais qualitativo e com o objectivo
de analisar a relação entre o suicídio e a prostituição na
adolescência, Kidd e Kral (2002) focam-se nas e moções e
sentiment os associados a tentativas de suicídio. Para estes aut ores,
os jovens que se prost it uíam, à data da tentativa de suicídio, t inha m

                                                            
22
 No capítulo relativo à prevalência de comportamentos suicidários, já fizemos referência ao
facto da China ser um dos poucos países onde a taxa de suicídio feminino, é superior à taxa de
suicídio masculino. 
47 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

maioritariamente sentimentos de depressão, isolamento, rejeição e


traição, falta de cont rolo, e mor mente uma baixa auto-estima. Para
estes aut ores, a gota que muitas vezes levava a que o copo
transbordasse, podia passar por um “ mau trabalho” . Este “ ma u
trabalho”, podia significar, trabalhar e não ser pago, ser um trabalho
de masiado de morado ou que exigisse de masiado esforço, ser
violentado física ou sexualmente, ou por comentários degradantes.
Ta mbé m Oliveira (2008) faz referência a “ maus t rabalhos” como u m
fact or encarado negativa mente pelas prost itutas de rua.
A fonte de stress e sofriment o e mocional não se prende apenas
co m a esfera profissional destes jovens, sendo extremamente
importante a relação co m os parceiros para esta ponderação. Cerca
de 70% destes jovens referiram os proble mas co m os parceiros co mo
uma font e importante de stress e sofriment o e mocional (Kidd & Kral,
2002).
A presença de sint omat ologia depressiva, foi encontrada e m
dois estudos co m prost it utas, que nos parecem relevantes.
O primeiro estudo foi levado a cabo co m uma a most ra de 97
prost it utas de Port o Alegre, Brasil (S chreiner et al, 2004). Nesta
investigação, os aut ores notaram que 67% das entrevistadas
apresentava m sint omat ologia depressiva, sendo que, do t otal da
a mostra, 47,4% apresentavam sint omatologia moderada a grave. É de
referir que para este est udo foi ut ilizado o Inventário de Depressão
de Beck (BDI), cujo pont o de corte se situou nos 13 pont os (67% da
a most ra tinha pontuação igual ou superior ao pont o de corte), e que
os sint omas são considerados moderados a partir dos 20 pont os
(47,4% da amost ra teve uma pont uação igual ou superior a este
valor). Estes valores serão ainda mais preocupantes, se tivermos e m
consideração que a prevalência de transt ornos depressivos na
população fe minina de Port o Alegre se sit ua apenas nos 14,5 %
(S chreiner et al, 2004).
Ao nível da correlação da sint omatologia depressiva com outras
variáveis, estes aut ores depara m-se com correlações significativas
entre a sint omat ologia depressiva e o consumo de álcool, historial
de doenças sexualmente transmissíveis e a inexistência de prática
48 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

religiosa. Surpreendente mente para nós, este estudo não encontrou


uma relação significativa entre a sintomat ologia depressiva e, idade,
existência de um co mpanheiro fixo, nível de escolaridade, local de
trabalho, razão para se manter na prost it uição, rendiment o médio
mensal, contact o co m os filhos, Interrupções de gravidez, uso de
preservativos, consu mo de tabaco ou uso de drogas ilícita s
(S chreiner et al, 2004).
O segundo estudo que considera mos de interesse, també m se
deparou co m uma prevalência significativa de sint omatologia
depressiva, numa a most ra de trabalhadoras do sexo. O est udo de
Alegría e colaboradores (1994) encont rou uma taxa de 70% de
sint omas elevados de depressão e m trabalhadoras do sexo de Port o
Rico. Este valor tornou-se t odavia mais dramát ico, quando se focou
apenas nas trabalhadoras do sexo, cujo trabalho se desenvolvia na
rua, atingindo neste caso uma prevalência de 86,8%.
Estes dados contraria m, pelo menos no que diz respeit o à
correlação entre o local de trabalho e a prevalência de sintomas
depressivos, o trabalho de S chreiner e colaboradores, que
apresentamos anteriormente. No entant o, as divergências destes
dois est udos, não se fica m por aqui. Alegría e colaboradores (1994)
encontrara m uma correlação elevada entre sint omatologia
depressiva, o uso de drogas injectáveis e, ta mbé m com o uso
irregular de preservativos.
Se bem que estes dois est udos apresentam algumas
divergências no que concerne às variáveis relacionadas com a
sint omatologia depressiva, nu m ponto converge m, que é no fact o de
a mbos os estudos relatare m taxas significativa mente elevadas de
sint omatologia depressiva e m a most ras de trabalhadoras do sexo.
Estes dados, junta mente com os apresentados anteriormente
sobre comporta ment o suicidário em a mostras de trabalhadoras do
sexo vem, e m nosso entender, reforçar a pertinência do nosso
próprio est udo e é precisamente sobre esse que nos iremos debruçar
de seguida.

49 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Componente Empírica

3. Objectivos

Inicia mos este est udo com o objectivo geral de apurar a


existência de ideação suicida em mulheres que se prostituem na rua.
De forma a conseguir atingir este object ivo recorre mos a uma
met odologia quantitativa, por acreditarmos ser a que melhor
permit ia obter os dados que pretendíamos. A informação que
pretendíamos alcançar foi conseguida através do recurso a três
inst rument os diferentes; o Questionário de Ideação S uicida de
Ferreira e Castela; a Escala de Satisfação com o S uporte S ocial de
Pais Ribeiro e uma entrevista est rut urada concebida por nós,
especifica mente para esta investigação.
Para a recolha dos dados foi necessário irmos para o terreno,
o que teria sido imprat icável sem o apoio de inst it uições que
desenvolve m um t rabalho de proximidade com esta população e que
nos facult ou o acesso à nossa amostra.
Os próximos subcapít ulos pretende m dar conta das nossa s
hipóteses, dos nossos procedimentos, be m co mo dar a conhecer a
nossa amostra, procedendo finalmente para a apresentação e
discussão dos dados obtidos.

50 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

4. Hipóteses

Com o objectivo de perceber melhor de que forma as


mulheres que se prostituíam na rua, reflectiam as suas vivências e m
termos de desejos, pensamentos e ideias de suicídio, levantamos as
seguintes hipóteses.

1. Existirá uma maior Ideação Suicida nas prostitutas de


rua relativamente à população geral?

2. Existirá uma correlação significativamente negativa


entre Suporte Social Percebido e Ideação Suicida?

5. Método

5.1. Instrumentos e Técnicas  


 

5.1.1. Questionário de Ideação Suicida


 
  A prevalência de pensa ment os e cognições suicidas, foi
avaliada através da utilização do Questionário de Ideação Suicida
(QIS). Este instrument o é a versão port uguesa do Sui cide Ideat ion
Q uest ionnaire, elaborado originalmente por Reynolds e t raduzido e
adaptado por Ferreira e Castela (Moreira, 2010).
O QIS foi concebido, com o intuit o de que os seus itens
avaliassem u ma hierarquia de pensament os relativos ao suicídio, que
oscila m entre pouco e muit o graves (Ferreira & Castela, 1999). O QIS
é const ituído por 30 itens, sendo disponibilizado para cada item 7

51 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

alternativas de resposta, numa escala do tipo Likert, que oscila m


entre “ Nunca pensei” até “ Pensei sempre” , num sent ido crescente de
gravidade. Para efeit os de avaliação, cada item é cotado
respectiva mente de 0 a 6. A pont uação total pode oscilar entre 0 e
180.
Ferreira e Castela (1999), no seu trabalho de tradução e
adaptação para a população portuguesa, definira m um valor de
23,04 como média para a população fe minina, com u m desvio padrão
de 25,65 pont os. Reynolds, defende que uma pont uação igual ou
superior a 41 pont os, pode ser indicativo de significativa
psicopat ologia e de potencial risco de suicídio (1988 cit in, Moreira,
2010).
Ferreira e Castela (1999) apontam como vantagens dest e
inst rument o o fact o de ter características psicomé tricas bastante
satisfat órias, com um coeficiente alfa de Cronbach de .96, para alé m
de ser de administração rápida e fácil, não ultrapassando e m média
os 10 minut os a preencher. No espectro opost o, estes aut ores,
aponta m co mo limites do instrument o, o fact o de, sendo um
questionário de aut o-avaliação, os respondentes, poderem escolher
as respostas que crêem ser as socialmente mais desejáveis, be m
co mo o fact o da conotação negativa que o suicídio encerra, poder
levar a que determinadas pessoas omita m a existência de
pensa ment os ou cognições suicidas.

5.1.2. Escala de Satisfação com o Suporte Social

A Escala de Satisfação co m o S uporte Social (ESSS), pretende


avaliar o suporte social que a pessoa percepciona co mo tendo
disponível (Ribeiro, 1999). A ESSS é const it uída por 15 itens,
ordenados nu ma escala do t ipo Likert, com 5 posições, que vão
desde “ Concordo t otalmente” a “ Discordo t otalmente” . Os 15 itens
dist ribuem-se por quatro dimensões do suporte social, como a

52 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

satisfação co m os a migos; int imidade; satisfação com a família e


actividades sociais.
O resultado final da ESSS é obt ido pela soma da pontuação de
cada item. Os itens assinalados e m “ A” obtêm u ma pont uação de 1
pont o e os assinalados e m “ F” obtêm u ma pont uação de 5 pont os,
sendo excepção os itens 4,5,9,10,11,12,13,14 e 15, cuja pont uação
é invertida. A pont uação total pode oscilar entre 15 e 75 pont os.
Quanto maior a pont uação, maior é a percepção de suporte social
(Ribeiro, 1999). A ESSS apresenta uma consistência interna bastante
satisfat ória com um alfa de Cronbach de .85.
O fact o de ser um inst rument o de aut o-avaliação, com poucos
itens, leva a que seja um inst rumento de fácil e rápido
preenchiment o.

5.1.3. Entrevista Estruturada

A entrevista ut ilizada, foi elaborada especifica mente para a


realização deste estudo e conté m questões, que fora m consideradas
pertinentes, para aquilatar da relação entre a prostituição e os
co mportament os suicidários. A entrevista é constit uída por 22
questões, que avalia m tópicos co mo carreira prostitutiva e esfera
fa miliar, vitimização, consumo de substâncias psicoactivas, saúde
mental e relação com co mporta mentos suicidários. Para além das 22
questões de respostas fechadas e semiabertas que compõe m a
entrevista, fora m adicionadas 6 questões co m o intuito de obter
dados sociode mográficos sobre as mulheres que entrevistamos.

53 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

5.2. Amostra

Para a caracterização sociode mográfica da nossa a mostra,


recolhe mos dados sobre a nacionalidade, a idade, a escolaridade, o
nú mero de filhos e manutenção de uma relação a morosa estável das
prost it utas. Procuramos igualmente conhecer os mot ivos de entrada
e manutenção na prost it uição, o tempo na prost it uição, a existência
de consumo de drogas, o nível de percepção de existência de
suporte social, e por fim, procura mos saber da existência de ideação
suicida e de historial de tentativas de suicídio.
Assim a nossa amostra é constituída por 52 participantes,
exclusivamente do género fe minino, co m idades compreendidas
entre os 18 e 63 anos (M=38.67; DP= 10.28). A maioria das
respondentes é de nacionalidade port uguesa (78,8%), observando-se
a presença residual de mulheres de outras nacionalidades: 11,5 Sul
Americanas, 7,7% originárias dos Países Africanos de Língua Oficial
Port uguesa (PALOP) e 1,9% Romena (ver tabela 3).

Tabela 3
Nacionalidade
F %
Portuguesa 41 78,8
Sul Americana 6 11,5
PALOP 4 7,7
Romena 1 1,9
Total 52 100

54 

 
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No que concerne ao percurso escolar, t rata-se de uma a most ra


pouco escolarizada, sendo que cerca de 60% das part icipantes te m
um nível de escolaridade igual ou inferior ao 2º ciclo e cerca de 70 %
abandonaram a escola até aos 16 anos de idade (Cf. Tabela 4).

Tabela 4
Nível de escolaridade Idade Abandono Escolar
F % F %
1º Ciclo 21 40,4 Antes dos 13 anos 15 29,4
2º Ciclo 10 19,2 14 a 16 anos 21 41,2
3º Ciclo 8 15,4 17 e 18 15 29,4
Secundário 11 21,2 Total 52 100
Superior 2 3,8
Total 52 100

Relativa mente à sua vida privada, mais de metade das


respondentes (55.80%) não manté m act ualmente uma relação
a morosa estável. No que à maternidade se refere, a esmagadora
maioria é mãe (86,5%) e destas, mais de um terço tem 3 ou mais
filhos (37,8%) ( Cf. tabela 5).

Tabela 5
Maternidade Número de filhos
F % F %
Sim 45 86,5 1 12 26,7
Não 7 13,5 2 16 35,6
Total 52 100 3 ou mais 17 37,8
Total 45 100
Relação Amorosa Estável
F %
Sim 23 44,2
Não 29 55,8
Total 52 100

55 

 
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5.3. Procedimentos

U ma das barreiras que se levanta quando pretende mos levar a


cabo um estudo co m prostit utas, é precisamente o acesso a estas.
Oliveira (2004), refere-se a esta população co mo sendo
simultanea mente oculta e marginal, devendo-se estas características
ao fact o da act ividade que desenvolve m, ter um cariz social e
moralmente reprovável
A fim de ult rapassar o obstáculo do acesso co m sucesso foi
imprescindível o recurso a intermediários. No nosso estudo, o papel
de intermediário, foi assumido pelos técnicos que t rabalham e m
inst it uições que prestam apoio à população 23 que visávamos estudar,
e nos facultaram o acesso a esta e sinalizaram potenciais
participantes no est udo, estes intermediários, podem e m alguns
est udos, ser també m denominados de informa ntes com papel
secundário (Oliveira, 2004). O pape l do intermediário no acesso a
context os de difícil entrada é devidamente reconhecido por
Fernandes (1997), no seu est udo et nográfico sobre act ores e
territ órios psicotrópicos, ao afirmar que a simples presença do
intermediário permite a presença do investigador, diminuindo assim,
as resistências que se poderiam colocar à presença e trabalho deste.
Perante a dificuldade de acesso a esta população, tornou-se
necessário ut ilizar uma metodologia de selecção que, permitisse
aceder ao maior nú mero exequível de mulheres, pretendendo desta
forma obter uma a mostra o mais alargada possível. Por esse motivo
a met odologia escolhida foi a da amost rage m por conveniência
(Vilelas, 2009), também denomi nada de a mostragem acidental
(Ribeiro, 2010; F ort in, 2003), que consist iu e m entrevistar todas as
mulheres indicadas pelas instit uições, que correspondesse m a três

                                                            
23
 Dentro do paradigma de intervenção da redução de riscos e minimização de danos, existem
vários projectos que disponibilizam, entre outros, actos de enfermagem, encaminhamento
médico especializado, acompanhamento social e psicológico, disponibilização de informação
s o b r e s a ú d e s e x u a l , e n t r e g a d e b e n s a li m e n t a r e s , p r e s e r v a t i v o s e t r o c a d e K i t s d e p r e v e n ç ã o d e
SIDA.
56 

 
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critérios essenciais; prostituir-se na rua, ter plena compreensão da


língua port uguesa e estar disponível para participar no est udo 24.
Reconhece mos as limitações da a most rage m por conveniência,
no meadamente o fact o da a most ra não ser representativa do t otal
das mulheres que se prostitue m na rua. No entanto, acreditamos que
perante a peculiaridade deste grupo, associada à janela temporal
disponível, este é o mét odo mais adequado ao est udo a que nos
propusemos.
A recolha de dados decorreu ent re 17 de Deze mbro de 2009 e
16 de Março de 2010. As entrevistas decorreram maioritaria mente na
rua, nos locais de trabalho destas mulheres, tendo existido
entrevistas que ocorreram nas instalações de uma das instituições
que presta m apoio a pessoas que exerce m a prostituição. Este último
local, pelo conforto, privacidade e maior disponibilidade de te mpo
das mulheres que aí se dirige m, permit iu que as ent revistas fosse m
respondidas com menos interrupções. As entrevistas decorreram no
período noct urno, entre as 21h30m e as 02h00m. Os horários
variara m ligeira mente, dependendo do dia da se mana, do horário de
funcionament o das instit uições que fora m nossas intermediárias e da
presença e disponibilidade de mulheres, para participar no est udo,
nos locais onde nos encontráva mos.
Após o preenchiment o dos instrument os utilizados, a
informação foi int roduzida numa base de dados, criada
especifica mente para este estudo. Para o tratamento estatístico dos
mes mos ut ilizou-se o programa Statistical Package for S ocial
S ciences (S PSS) na versão 16.0 para o W indows.
Procedeu-se a uma análise descritiva, nomeada mente co m
medidas de tendência central e de dispersão, quer para o QIS quer

                                                            
24
  A todas as participantes, foi explicado o objectivo do estudo e garantido o anonimato e
confidencialidade do mesmo, a fim de obter o seu consentimento. Não foi solicitado a nenhuma
m u l h e r q u e a s s i n a s s e u m d o c u m e n t o d e c o n s e nt i m e n t o i n f o r m a d o , p o r a c r e d i t a r m o s q u e e s t e
seria um obstáculo à sua participação, no entanto todas as participantes foram informadas que
poderiam interromper a sua participação a qualquer momento caso não desejassem prosseguir a
s u a c o l a b o r a ç ã o .   
57 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

para o ESSS. Procedeu-se igualmente à análise das frequências das


variáveis obtidas através da ent revista estrut urada.
A fim de confir mar a validade dos inst rumentos foi utilizado o
Alfa de Cronbach. Além disso, procedeu-se a uma análise inferencial
através da Correlação de Pearso n.

6. Apresentação e Discussão dos Resultados

Começaremos por analisar os aspectos laborais das mulheres


que participara m no est udo (Cf. tabela 6). No que a este tópico
concerne, cre mos poder afirmar, com alguma segurança, estarmos
perante verdadeiras carreiras prost it utivas, uma vez que uma
percentage m bastante considerável destas mulheres (cerca de 70%),
exerce a prost it uição há 5 ou mais anos. Estes dados sugere m que a
actividade prostit utiva, não será neste caso, uma actividade
passageira, mas sim, uma actividade que se prolonga no te mpo.

Tabela 6
Tempo na Prostituição
F %
Até 12 meses 6 11,5
1 a 4 anos 10 19,2
5 ou mais anos 36 69,2
Total 52 100

No que às relações familiares concerne, cerca de 61,5% das


respondentes, afirmara m, ter revelado aos seus fa miliares que se
prostituíam. Entre as mulheres que confidenciaram a sua actividade
aos fa miliares, 78,1% refere m que a reacção destes foi muit o má a
esta notícia (ver tabela 7).
O receio de uma reacção negativa e reprovadora por parte dos
fa miliares pode just ificar, em parte, porque perto de 40% das

58 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

mulheres não confidencia aos seus fa miliares onde e co mo


conseguem obter os seus rendiment os.

Tabela 7
Familiares / Conhecimento Prostituição Familiares / Reacção à Prostituição
F % F %
Sim 32 61,5 Muito Mal 25 78,1
Não 20 38,5 Nem Bem, Nem Mal 7 21,9
Total 52 100 Total 32 100

Quando questionadas, quanto ao motivo, pelo qual se


iniciaram no mundo da prostit uição, a questão económica, foi a ma is
mencionada, com quase 85% a mencionar este mot ivo (Cf. Tabela 8).
No entant o, existe m duas grandes categorias dentro da mot ivação
económica. Aproximada mente 64% refere carências económicas e
dificuldades de subsistência como mot ivação para a ent rada no
mundo da prost ituição, enquant o 21% refere que a necessidade de
dinheiro se deve à existência de consumos de drogas e consequente
urgência e m ganhar dinheiro para manter esses consumos.
Se a principal motivação expressa, para entrar no mundo da
prost it uição se deve na grande maioria dos casos a necessidades
económicas, també m os motivos para aí se manterem, se deve m, de
acordo com as respostas obt idas, à necessidade de ganhar dinheiro
(ver tabela 8). No caso da mot ivação subjacente à manutenção na
prost it uição, aproxi mada mente 78% das mulheres referem que se
mantê m na prost it uição com o int uit o de obtere m dinheiro para
subsistência, enquant o pert o de 20% refere a necessidade de
sustentar o consumo de drogas, como mot ivação para se
prost it uíre m.
Cont rariamente ao imaginário popular, que acha que a maioria
das mulheres que se prostitue m, o faze m, porque são obrigadas por
um chulo, no nosso est udo, apenas seis mulheres (11,5%)
manifestaram ter co meçado a prostit uir-se por influência de u m
chulo ou co mpanheiro. Já quando questionadas sobre a motivação
act ual para se manterem na prostit uição, nenhuma enunciou a
59 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

existência de um chulo ou co mpanheiro como motivação para se


manterem na prost it uição.

Tabela 8
Motivo Entrada Prostituição Motivo Manutenção na Prostituição
F % F %
Chulo/ 6 11,5 Subsistência 40 78,4
Carência 33 63,5 Consumo Drogas 10 19,6
Sustentar Drogas 11 21,2 Passar Tempo 1 2
Influência Amigas 2 3,8 Total 51 100
Total 52 100

O ponto mais consensual, relativa mente à carreira


prost it utiva, prende-se com o desejo de abandonar a prostit uição
(Cf. Tabela 9). Aproxi mada mente 90% das mulheres já teve esse
desejo em algum mo ment o da sua carreira. O objectivo de obter u ma
vida melhor para si, foi o mencionado pela maioria das respondentes
(76,1%). A falta de alternativas econó micas viáveis, foi o principal
mot ivo para estas mulheres se mantere m na prostit uição (88,2%).

Tabela 9
Pensou Deixar Prostituição Porque Pensou Deixar a Prostituição
F % F %
Sim 47 90,4 Desejo Vida Melhor 35 76,1
Não 5 9,6 Familia 7 15,2
Total 52 100 Outros 4 8,7
Total 46 100
Porque não Deixou
F %
Falta Alternativas 45 88,2
Distração/Passar 1 2
Consumo Drogas 5 9,8
Total 51 100

60 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Observemos agora, a questão da saúde mental (tabela 5).


Das mulheres que entrevistamos, aproximada mente 56 %
afirmaram já terem sido diagnost icadas com algum tipo de patologia
do foro mental, sendo que a 88,2% destas mulheres, foi
diagnosticada depressão e e m 13,8% das sit uações o diagnóstico foi
de ansiedade ou stress (ver tabela 10).

Tabela 10
Diagnóstico Saúde Mental Qual foi o Diagnóstico
F % F %
Sim 29 55,8 Depressão 25 88,2
Não 23 44,2 Ansiedade e Stress 4 13,8
Total 52 100 Total 29 100

Na maioria das sit uações (57,1%) o diagnóstico ocorreu nos


últ imos dois anos (ver tabela 11). E m quase 70% das sit uações,
exist iu aco mpanha ment o médico à data do diagnóstico. Quando a
questão do acompanhament o médico se reporta ao presente,
const atamos u ma inversão, sendo que neste caso, apenas 37,9% das
mulheres que mencionara m terem t ido algum t ipo de diagnóstico de
saúde mental, refere m estar a ser acompanhadas actualmente.

Tabela 11
Quando foi Diagnosticada Existiu Acompanhamento
F % F %
Até 12 meses 10 35,7 Sim 20 69
1 a 2 anos 6 21,4 Não 9 31
3 a 4 anos 3 10,7 Total 29 100
5 ou mais anos 9 32,1
Total 28 100
Mantém Acompanhamento
F %
Sim 11 37,9
Não 18 62,1
Total 29 100

61 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

No capítulo referente a prostit uição e consumo de drogas, já


fize mos referência a vários estudos que evidenciavam a relação entre
a prostituição de rua e os consumos de drogas, pelo que agora
trataremos de apresentar os resultados relativos ao consumo de
drogas nas mulheres que entrevistamos.
Quando questionadas, sobre a existência actual de consumos
de drogas, apenas 17 mulheres (32,7%), respondera m
afirmativa mente. Destas, 8 consome m apenas cocaína, enquanto 9
apresentam consumos múlt iplos, que envolve m o consu mo
co mbinado de duas ou t rês substâncias concomitantemente (ver
tabela 12).

Tabela 12
Consumo Drogas Tipo Consumos
F % F %
Sim 17 32,7 Simples 8 47,1
Não 35 67,3 Múltiplos 9 52,9
Total 52 100 Total 17 100

As substâncias referenciadas pelas mulheres que assumira m o


consumo de drogas, fora m a cocaína, a heroína e o haxixe. Destas
três substâncias, apenas a cocaína surge tant o em consumos
isolados, co mo em múlt iplos. Quant o à heroína e ao haxixe, estas
substâncias são apenas consumidas e m co mbinação com as demais,
co mo se pode constatar pela observação da tabela 13.

Tabela 13
Substâncias
F %
Cocaína 8 47,1
Heroína+Cocaína 7 41,2
Heroín+Coca+Hax 1 5,8
Haxixe+Cocaína 1 5,8
Total 17 100

62 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Quando atentamos para a frequência dos consu mos,


verifica mos, que no caso da cocaína e da heroína estes são
maioritariamente diários (ver tabela 14), com uma prevalência de
88,2% e 87,5% respect iva mente. No caso do haxixe, as dua s
mulheres, que assumiram o consumo, refere m que o faze m várias
vezes por semana, não chegando a exist ir um consu mo diário.

Tabela 14
Frequência Consumos Cocaína Frequência Consumos Heroína
F % F %
1 vez por mês ou menos 2 11,8 1 vez por mês ou menos 1 12,5
Todos os dias 15 88,2 Todos os dias 7 87,5
Total 17 100 Total 8 100
Frequência Consumos Haxixe
F %
Várias vezes semana 2 100
Total 2 100

E mbora o álcool não seja uma substância ilícita, quise mos


saber quais os padrões de consu mos relativos a esta substância.
Constatamos logo à partida, que o consu mo de álcool parece
ser menos frequente do que o consu mo de substâncias ilícitas,
sendo relatado por apenas 21,2% das mulheres entrevistadas (ver
tabela 15). Nas mulheres que assume m o consumo de álcool, 63,6 %
refere fazê-lo diaria mente. Quando a questão se reporta à
quant idade consumida diaria mente, a maioria das mulheres (54,5%)
afirma consumir entre 3 e 4 bebidas.

63 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Tabela 15
Consumo Álcool Frequência Consumos Álcool
F % F %
Sim 11 21,2 Até 4 vezes por mês 1 9,1
Não 41 78,8 Várias vezes por semana 3 27,3
Total 52 100 Todos os dias 7 63,6
Total 11 100
Consumo Álcool Diário
F %
1 ou 2 bebidas 2 18,2
3 ou 4 bebidas 6 54,5
Mais de 5 bebidas 3 27,3
Total 11 100

Quando procura mos saber, da existência de episódios de


violência no decurso da sua actividade profissional, constatamos que
este é um fenó meno co mum à quase totalidade das mulheres que
pratica m prostituição na rua (ver tabela 16). Cerca de 94% das
mulheres relatou já ter vivenciado algum tipo de violência no
decurso do seu trabalho.

Tabela 16
Vítima Violência
F %
Sim 49 94,2
Não 3 5,8
Total 52 100

Ao analisarmos mais detalhada mente a tipologia da violência


de que estas mulheres são vítimas, apercebe mo-nos que o tipo de
violência mais co mum é a verbal, nomeada mente através de insult os,
co m uma prevalência que ronda os 85%, seguida de pert o pelos
episódios de furt os e roubos, cuja prevalência se cifra pelos 75,5 %.
A ocorrência de episódios de violência física e sexual, e mbora nã o
seja tão elevada como os de violência verbal e de furtos ou roubos,

64 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

afecta ainda assim, mais de metade das respondentes, co m


prevalências na orde m dos 55% para a primeira situação e 51% na
segunda situação. Por fim, a categoria de violência menos relatada,
prende-se com o rapto ou co m situações e m que as mulheres fora m
forçadas a entrar e m viat uras contra a sua vontade. Estas situações
fora m relatadas por 24,5% das respondentes (Cf. tabela 17).

Tabela 17
Batida, Esmurrada, Pontapeada, Violada / Forçada a Actos Sexuais
F % F %
Sim 27 55,1 Sim 25 51
Não 22 44,9 Não 24 49
Total 49 100 Total 49 100
Insultada Assaltada / Roubada
F % F %
Sim 42 85,7 Sim 37 75,5
Não 7 14,3 Não 12 24,5
Total 49 100 Total 49 100
Raptada / Forçada a Entrar em Carros
F %
Sim 12 24,5
Não 37 75,5
Total 49 100

Quant o à regularidade da violência na vida destas mulheres,


mais de metade das respondentes (54,3%), reportou haver sido
vítima de algum t ipo de violência nos últ imos doze meses. Este valor
sugere que a violência se encontra muit o presente na vida destas
mulheres, existindo um número elevado de episódios de violência
nu m passado ainda muit o recente (ver tabela 18).

Tabela 18
Última Agressão
F %
Últimos 12 meses 19 54,3
1 a 4 anos 6 17,1
5 ou mais anos 10 28,6
Total 35 100

65 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

A violência reveste-se de fact ores object ivos, como o tipo de


violência de que é alvo (por ex: violência física, sexual ou verbal), ou
mes mo o nú mero de vezes que sofre essa violência, mas ta mbém se
reveste de fact ores subjectivos, como por exe mplo, o episódio de
violência que percepciona como tendo sido o pior que sofreu. Foi a
esta questão que procura mos obter resposta. Indo de encontro co m
a principal mot ivação para entrar e permanecer na prost it uição, foi
també m na a meaça e ataque aos seus ganhos monetários, que estas
percepcionaram os piores episódios de violência, mencionando o
roubo violent o como o episódio mais t raumát ico e m 27,8% das
sit uações relatadas (Cf. tabela 19). A violência sexual, na figura da
violação, surge no segundo lugar, das sit uações reportadas, co m
22,2%. As agressões físicas, surge m apenas no terceiro lugar desta
hierarquia. Quando separamos a fonte das agressões físicas
nota mos, que há um equilíbrio, tanto as agressões físicas levadas a
cabo pelos clientes como as levadas a cabo pelos
co mpanheiros/chulos, apresentam ambos uma prevalência de 19,4%
dos casos referidos. O rapt o, sendo o t ipo de violência menos
reportado, é també m o t ipo de violência menos percepcionado co mo
sendo o mais t raumát ico, com 11,1% das sit uações.

Tabela 19
Agressão Mais Grave
F %
Companheiro / Chulo 7 19,4
Roubo Violento 10 27,8
Violação 8 22,2
Agressão Física 7 19,4
Rapto 4 11,1
Total 36 100

66 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Debruçar-nos-e mos de seguida, no t ópico que esteve na ba se


deste trabalho, o co mportament o suicidário.
A respeit o dos co mportament os suicidários na vida das
mulheres que se prostituem na rua, observamos, que cont rariamente
ao que esperávamos encont rar no início do nosso estudo, pelos
relat os que fomos ouvindo de alguns intermediários, deparamo-nos
co m uma relação bastante próxi ma entre as mulheres entrevistadas e
este fenómeno. Esta proximidade, foi encontrada quer através das
próprias experiências pessoais da s mulheres que entrevistamos,
quer através da sua rede relacional.
Das 52 mulheres que entrevistamos, exactamente metade
relata que conhece algué m na sua rede social, que e m algum
mo ment o tent ou o suicídio, não tendo especificado se este foi
consu ma do ou se se ficou apenas pela tentativa se m sucesso.
Quando traze mos a questão do suicídio para a esfera fa miliar,
constatamos, que ainda que a percentagem seja bastante
considerável, esta desce para 25% de respondentes co m fa miliares
que tentaram o suicídio (ver tabela 20).

Tabela 20
Conhecido Tentou Suicídio Familiar Tentou Suicídio
F % F %
Sim 26 50 Sim 13 25
Não 26 50 Não 39 75
Total 52 100 Total 52 100

Aproxi ma ndo ainda mais a questão do suicídio, das mulheres


que participara m no nosso est udo e, perguntando-lhes se já havia m
tentado o suicídio, depara mo-nos co m uma taxa preocupante de
44,2% de mulheres que já haviam tentado o suicídio e m algum
mo ment o da sua vida. Estes dados são t odavia mais preocupantes,
quando 30,4% já tentara m levar o suicídio por diante e m 3 ou mais
ocasiões (ver tabela 21).

67 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Tabela 21
Tentou Suicídio Nº Tentativas Suicídio
F % F %
Sim 23 44,2 1 Vez 10 43,5
Não 29 55,8 2 Vezes 6 26,1
Total 52 100 3 ou Mais Vezes 7 30,4
Total 23 100

E mbora nas impressões que t rocamos com alguns


interlocutores, nomeadamente os que trabalha m e m inst it uições que
prestam algum tipo de apoio a estas mulheres, o suicídio, não surja
co mo um fenómeno presente na realidade destas mulheres, o que
verifica mos é que 60,9% das mulheres que já tentaram o suicídio, o
fizera m nos últimos 4 anos, o que nos sugere que não se trata de um
fenómeno perdido num passado distante (ver tabela 22).

Tabela 22
Última Tentativa Suicídio
F %
Últimos 12 Meses 6 26,1
1 a 4 anos 8 34,8
5 e mais anos 9 39,1
Total 23 100

Se é verdade, que partimos do pressuposto, que seria m a s


condições do trabalho prostitutivo a colocare m estas mulheres em
risco acrescido de executarem comporta ment os suicidários, não
pode mos obviar a importância da sua esfera pessoal, fa miliar e
a morosa. Reflexo incont ornável da importância destas esferas, é o
fact o da maioria das mulheres que tent ou o suicídio (52,2%), estar
envolvida nu ma relação a morosa à data da tentativa de suicídio (Cf.
tabela 23). Um outro dado incont ornável a reforçar a importância da
esfera familiar, nos co mportament os suicidários, é a identificação de
fact ores fa miliares co mo sendo o gerador de tentativas de suicídio
para 65,2% das mulheres entrevistadas. Questões relacionadas com a

68 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

saúde mental, como depressão e stress (30,4%), ou com episódios de


violência decorrentes da actividade profissional (4,3%), surge m
posteriormente às questões fa miliares.

Tabela 23
Relação Amorosa / Suicídio Motivo Tentativa Suicídio
F % F %
Sim 12 52,2 Conflitos Fam. 11 47,8
Não 11 47,8 Filhos 4 17,4
Total 23 100 Saúde Mental 7 30,4
Violência na Prostituição 1 4,3
Total 23 100

Sendo a nossa vontade perceber melhor, de que forma as


mulheres que se prostituíam na rua, reflectiam as suas vivências e m
termos de desejos, pensament os e ideias de suicídio, coloca mos
duas hipótese no início da componente empírica no sent ido de
ajudar a desvendar de que modo a ideação suicida em mulheres que
se prost itue m na rua se manifesta.
No que respeita às hipóteses levantadas no início desta
investigação, passaremos agora à sua confrontação co m os dados
obtidos, de molde a averiguar da sua confirmação ou infirmação.

1. Existirá uma maior Ideação Suicida nas prostitutas de


rua relativamente à população geral?

Para responder a esta questão, recorre mos à ut ilização do


QIS, tendo posteriormente co mparado os resultados obtidos, com os
dados apresentados por Ferreira e Castela na sua tradução e aferição
do inst rument o para a população port uguesa. Indicare mos, també m
co mo referência, o pont o de corte deste inst rument o.

69 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

A fidelidade dos resultados obt idos no QIS fora m avaliados


através da consistência interna. U ma vez que o QIS se trata de uma
escala ordinal, utilizou-se o coeficiente do Alfa de Cronbach. Quanto
maior for a consistência interna, maior será o Alfa de Cronbac h
apresentado (Alme ida & Freire, 2003). No nosso est udo, o valor do
Alfa de Cronbach foi de ,94, indicando uma fidelidade muit o boa do
inst rument o (Almeida & Freire, 2003) e por conseguinte das
respostas obt idas.
A média dos resultados obtidos no QIS cifrou-se nos 41,71
pont os com u m desvio padrão de 29,92 pont os (tabela 9).
Como já referimos anteriormente, não existe m estudos na
população geral port uguesa, de que tenhamos conhecimento, que
avaliem a ideação suicida, pelo que a sua co mparação directa se
t orna impossível. E mbora os dados de Castela e Ferreira (1999) se
reportem a adolescentes e jovens adultos (idade inferior a 21 anos),
tal não invalida a utilização deste inst rumento e m população adulta,
co mo o comprova o est udo de 2010 de Moreira, be m como o Alfa de
Cronbach encont rado no nosso est udo.
A análise da tabela 24 permite constatar que
co mparativa mente aos dados apresentados por Ferreira e Castela, as
nossas respondentes apresentam uma média de ideação suicida
próxi ma do dobro. O valor da nossa média cai precisa mente na
barreira pont ual, que Reynolds definiu, co mo sendo “ indicat ivo de
significativa psicopat ologia e de potencial risco de s ui cídio” (1988,
cit in Moreira, 2010, p.137).

70 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Estes dados permit em-nos não só acreditar que a nossa


hipótese é válida e que, efect iva mente, as prostit utas de rua
apresentam u m nível de ideação suicida superior ao da população
geral, como se encont ra m nu m patamar de risco elevado de tentare m
o suicídio.

Tabela 24
Ideação Suicida (Pontuação QIS)
M DP
Prostitutas de Rua 41,71 29,92 Ponto de corte (Reynolds, ≥ 41

Pop. Feminina 23,04 25,65 1988 cit in Moreira, 2010)

(Ferreira e Castela)

2. Existirá uma correlação significativamente negativa


entre Suporte Social Percebido e Ideação Suicida?

Como o que se pretende, é saber se existe relação entre


duas variáveis e, de que forma a presença de uma, influencia a
presença da outra, recorremos à Correlação de Pearson, para tentar
obter uma resposta a esta questão.
Em termos de intensidade, a correlação entre duas variáveis
pode m oscilar entre -1,00 e +1,00. U m valor de zero indica que que
não existe relação entre as variáveis. Quanto mais próxi mo de -1,00
ou +1,00 mais forte ou perfeita é a correlação entre as variáveis. No
caso de -1,00 por exe mplo, tal significa que a relação é negativa ou
inversa, ou seja a existe uma oscilação inversa entre uma variável e
a outra (por ex: número de faltas às aulas e o rendimento escolar)
(Almeida & F reire, 2003). Na Correlação de Pearson, quer a

71 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

grandeza, quer a direcção da correlação são dois valores


independentes, pelo que importa dar igual importância a a mbos, na
leit ura dos seus resultados.
A Correlação de Pearso n, permite-nos obter uma relação de
previsibilidade, no entanto, não nos permite explicar a nat ureza da
relação das variáveis, ne m encontrar uma relação causa-efeit o
(Ribeiro, 2010).
Observando a tabela 25, pode mos analisar alguns dados,
que cremos podere m ajudar a responder à questão colocada,
relativa mente à relação entre o suporte social percebido e a ideação
suicida.
O valor da correlação de pearso n encont rado foi -,318.
Deste valor pode mos t irar duas informações importantes. A primeira,
é que esta mos perante uma correlação de sentido inverso, ou seja,
pode mos dizer, que quando o suporte social percebido diminui,
provavelmente a ideação suicida aumentará. A segunda informação,
que pode mos obter, refere-se à proxi midade de -1,00. Alguns
aut ores refere m que valores abaixo de .20 ou .30 são fracos, outros
refere m que só a partir de .40 (Corroyer & Wolf, 2003) ou .50 é que
a correlação pode ser considerada moderada (Vilelas, 2009).
Independentemente do autor da nossa eleição, devemos reconhecer
que a correlação encont rada é baixa.
Apesar de reconhecermos que a correlação é baixa. O valor
de Sig. (2-tailed) é de ,021 o que nos indica que estamos perante
uma correlação estatisticamente significativa para um intervalo de
confiança de 0.05.
Estes dados sugere m que apesar de exist ir uma correlaçã o
negativa estatistica mente significa, entre o suporte social percebido
e a ideação suicida, existirão mais fact ores relacionados com a
ideação suicida, que merece m análises fut uras.

72 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Tabela 25

Correlação Ideação Suicida / Suporte Social Percebido


Cotação final Cotação final
da ESSS QIS
Cotação final da -,318*
Pearson Correlation 1,000
ESSS
Sig. (2-tailed) ,021
N 52,000 52

Cotação final QIS Pearson Correlation -,318* 1,000

Sig. (2-tailed) ,021


N 52 52,000

*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

73 

 
Ideação Suicida em Prostitutas de Rua
 

Conclusão

Tant o quant o sabe mos, este trata-se do primeiro est udo a


explorar a existência de ideação suicida em prost it utas de rua,
realizado e m Portugal. No contexto internacional, també m são muito
escassos os trabalhos encontrados que aborde m esta questão junt o
desta população.
A escassez de trabalhos neste ca mpo, se em algum mo mento
dificult ou o nosso t rabalho por não encont rarmos pont os de
co mparação, també m nos motivou a tentar saber mais sobre algo
que se conhece pouco.
Os dados que obtive mos sugere m que estamos perante uma
população que priva mais perto com os comporta ment os suicidários
do que esperaríamos. Cerca de metade das mulheres que
participara m no est udo, conhece algué m que já tentou o suicídio,
25% refere que tê m alguém na família com tentativas de suicídio
levadas a cabo e 44,2% afirma que já tentou inclusiva mente pôr
termo à sua própria vida.
Pese e mbora, estas mulheres confirme m conviver com
múlt iplos fact ores de risco na sua actividade profissional, tais co mo
consu mos regulares de substâncias psicoactivas, episódios de
violência recorrentes e necessidade de se manter na prostituição
para poder subsistir, é na sua esfera intima e fa miliar, que elas
coloca m o ónus das tentativas de suicídio que e mpreenderam, co m
47,8% a verbalizar que foi e m consequência de conflit os fa miliares
que levara m a cabo a tentativa de suicídio. Apenas numa situação, a
tentativa de suicídio decorreu de uma vivência profissional
traumát ica.
Ao nível da ideação suicida, estas mulheres apresentam u ma
média bastante elevada quando comparada com os dados disponíveis
da população geral, estando inclusiva mente acima do pont o de corte
do inst rument o que ut iliza mos. De fact o, 46,15% das mulhere s
entrevistadas estão acima deste ponto de corte.

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A insatisfação com o suporte social surgiu nestas mulheres


co mo estando correlacionada negativa mente co m o nível da ideação
suicida.
Cont udo, não só os dados referentes aos co mporta ment os
suicidários, devem sugerir uma atenção especial a estas mulheres. A
elevada prevalência de prostitutas da nossa a mostra a quem foi
diagnosticada alguma patologia do foro mental (55,8%), co m
marcada incidência de transt ornos do humor, sem consequente
acompanha ment o médico após o diagnóstico, ta mbé m merece
especiais cuidados preventivos.
Se aos fact ores enunciados juntarmos ainda a co-ocorrência
recorrente de episódios sofridos de violência, o consumo regular de
substâncias psicoactivas por parte de muitas destas mulheres e a
dificuldade e m lidar com a conflit ualidade familiar, percebe mos que
para além de necessitarmos de efect uar est udos mais aprofundados,
para conhecer melhor as dinâ micas dos co mporta ment os suicidários
nestas mulheres, urge trabalhar na elaboração de programas de
prevenção de suicídio junt o destas.
Assim, julgamos ter dado um cont ribut o para a compreensão
das mulheres que se prostituem e das dinâmicas que as
caracteriza m, nomeda mente no que respeita aos comporta ment os
suicidários, o que poderá fornecer pistas para uma intervenção
preventiva do suicídio junto dest a população, be m como contribuir
para o conhecime nt o médico legal. Deste modo, este grupo de
mulheres, que te m sido altamente estigmatizado e alvo de exclusões
várias, poderá ter maior probabilidade de vir a beneficiar de medidas
específicas de apoio na área da saúde.

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