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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


DEPARTAMENTO DE HISTORIA

Disciplina: História da Gália


Professora: Adriana Baron Tacla
Aluno: Flavia Silva Barros Ximenes

Resenha do livro

História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da


Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944)

Este livro é a versão revisada da tese de doutorado de Glaydson José da Silva,


chamada Antiguidade, Arqueologia e a França de Vichy: usos do passado, que foi
defendida no ano de 2005 no Programa de Pós-graduação em História da Unicamp.
Publicado em 2007 com o título História Antiga e usos do passado: um estudo de
apropriações da Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944), nele o autor propõe
problematizar o uso do passado em questões políticas do presente, tendo como base o
uso da Antiguidade feito pelo governo da França de Vichy e estendendo sua análise até
as reivindicações nacionalistas da extrema direita francesa que se intensificaram nos
anos 1980.
No primeiro capítulo, o autor começa questionando os estudos da Antiguidade,
que, vistos como pouco teóricos, tem visto a mudança dessa situação desde o fim do
século XX com o aparecimento de trabalhos que buscam um melhor entendimento das
relações entre o passado estudado e o presente do estudioso. Esse questionamento é a
espinha dorsal do trabalho, examinar os usos e apropriações do passado para finalidades
políticas. Para ele, a História é um discurso sobre o passado sendo, por isso, dependente
da perspectiva de quem realiza o discurso. Logo, o historiador deve estar atento ao tipo
de discurso que está reproduzindo, tanto quanto os leitores desse discurso devem atentar
para o contexto em que ele foi produzido.
Ele segue explicando que tanto a História como a Arqueologia tem sido usadas
para legitimar heranças étnicas ou direitos territoriais, cada uma com sua especificidade,
apesar dos usos similares e apresenta Itália e Alemanha como dois casos emblemáticos
dessa apropriação. O fascismo de Mussolini evoca a continuidade da glória da Roma
imperial, associando de tal forma a Itália fascista com a Roma antiga que a História e a
Arqueologia da Roma medieval ou renascentista são expurgadas dos discursos oficiais,
só interessando o passado glorioso da Roma dos Césares, dos quais Mussolini se vê
como continuador. A arqueologia da pré-história é preterida em favor da arqueologia da
Antiguidade, que recebe substanciais subvenções do Estado. Na Alemanha, apesar da
estética ligada à Antiguidade Clássica, por exemplo, na arquitetura e escultura, é a Pré-
História, mais precisamente a Arqueologia Pré-Histórica, que terá uma importância
crucial para o Terceiro Reich, legitimando as teorias raciais e a expansão territorial.
Seguindo as teorias de Kossina, achados arqueológicos foram usados para comprovar a
conservação da pureza racial do povo alemão e os direitos desse povo sobre os
territórios ocupados por ele em tempos remotos.
Ainda no primeiro capítulo, agora na França, o uso de um personagem de acordo
com momentos históricos e interesses diferentes é apresentado na figura de
Vercingetórix, líder vencido das tribos gaulesas, imortalizado no relato de Júlio César
De Bello Gálico, onde também nasceram a Gália e os gauleses, uma vez que essas
imagens foram construídas pela narrativa de César, já que não sobreviveram relatos de
como os próprios habitantes da “Gália” viam e nomeavam a si próprios. O herói
Vercingetórix nasce com Napoleão III, que busca se identificar como herói popular,
cresce durante a ocupação de Paris em 1814-15, em apelo à luta pela liberdade, e no pós
1870, com o trauma da derrota para o exército alemão, finalmente se torna o protótipo
do herói resistente, “o primeiro herói francês”.
O segundo capítulo discute o uso da Antiguidade pela França de Vichy, tendo
um prólogo sobre os problemas historiográficos referentes a um período visto como um
“parêntese histórico” por muitos franceses, e segue tratando do retorno do mito de
Vercingetórix. A França dominada pela Alemanha nazista reinterpreta a conquista da
Gália por Roma não como uma conquista, mas como a fusão da Gália com o Império
Romano, da qual teriam se originado os franceses. A imagem de Vercingetórix é
associada com a do Marechal Pétain, como dois heróis que de igual modo se
sacrificaram pela salvação da Gália-França. O regime se apropria do passado para
legitimar a Révolucion National.
Num segundo momento o autor ressalta o uso da História e da Arqueologia para
justificar a política de Vichy, moldando as origens nacionais como convém ao regime.
Enquanto a Arqueologia francesa busca legitimar um passado galo-romano como
fundador das origens nacionais a alemã busca atestar uma presença germânica pré-
histórica em território francês.
O terceiro capítulo é dedicado a Jérôme Carcopino, historiador, arqueólogo e
epigrafista que ocupou o cargo de Ministro da Educação no governo de Vichy, e faz a
reflexão acerca da posição do intelectual: a colaboração com um regime totalitário
interfere na avaliação de suas obras como acadêmico? É possível reconhecer o valor de
seu trabalho, sem justificar sua atuação política?
O quarto e último capítulo traz o passado sendo instrumentalizado mais uma vez
pelas extremas direitas francesas que surgem no pós-guerra, compartilhando a mesma
ideologia de Vichy, motivo pelo qual especialistas as consideram herdeiras políticas do
regime, e analisa dois grupos em particular: o Front Nacional, partido de Jean Marie Le
Pen, que fundamenta sua posição xenófoba na individualidade da nação francesa e
usando para isso o mito gaulês como modelo de identidade nacional, e o movimento
desenvolvido a partir da revista Terre et Peuple, liderado por Pierre Vial, ícone da
extrema direita francesa e defensor de uma “guerra étnica”. Sob o ideal de “a cada povo
uma terra”, também usava o passado gaulês para advogar a pureza do povo francês e
ressuscita novamente Vercingetórix, desta vez para conclamar a batalha por uma
“França para os franceses”.
Partindo da premissa de que conhecimento é poder, pode-se inferir que os
detentores do conhecimento sobre o passado tem o dever de refletir sobre o poder que
detém e o uso que farão dele. Essa advertência perpassa toda a obra, cuja análise dos
usos ideológicos e políticos do passado para favorecer determinados grupos leva a uma
reflexão sobre a necessidade de desenvolver um olhar crítico e atento aos contextos de
produção dos discursos, sendo necessário atentar para o que pretende ser dito com
determinada fala.
Na ficção 1984, George Orwell leva ao extremo a manipulação do passado para
controlar o presente. De acordo com os acontecimentos uma equipe estava pronta para
alterar os registros do passado de forma que ele se adequasse ao que se desenrolava no
presente. Sem os exageros da ficção, a História e a Arqueologia sempre estiveram
ligadas ao poder, à legitimação de governantes, políticas, identidades, etc. Em relação à
Arqueologia Diaz-Andreu (2006) afirma que sua conversão de atividade secundária a
profissional se dá a partir da ascensão do nacionalismo como ideologia política, no fim
do século XVIII, com a importância que o conhecimento sobre o passado adquire para
validar as nações emergentes.
Assim, não surpreende que a França de Vichy tenha buscado na História e na
Arqueologia os fundamentos da sua existência. O trauma da queda diante da Alemanha
devia ser vista não como uma derrota, mas como uma possibilidade de recomeço, e para
isso nada como reinventar a conquista da Gália, transformando-a numa fusão com a
cultura romana e transformando Vercingetórix, de líder vencido num herói que se
sacrifica pelo crescimento da pátria. Vercingetórix se destaca como um personagem de
múltiplas utilidades, uma para cada momento histórico da França. Desde sua
“descoberta” por Napoleão III, que arranca a figura do antigo líder das páginas do De
Bello Gallico e o alça à categoria de herói nacional, de tempos em tempos a figura do
chefe gaulês aparece para apoiar o regime ou ideologia vigente.
O autor apresenta Carcopino como um profissional de excelência, porém com
várias ressalvas em razão de sua atitude em assumir um cargo no regime vichysta.
Embora seu exemplo seja útil para a reflexão das relações entre os intelectuais e a
política, o meio acadêmico francês não é “inocente”, em relação às influências e
simpatias alemãs. As relações entre os arqueólogos franceses e alemães datam de pelo
menos dez anos antes da guerra (Olivier). Cartas trocadas entre Gerard Bersu e
Raymond Lantier atestam, além das relações profissionais, laços de amizade e pesquisas
se desenvolviam em colaboração mútua. E bem antes da ocupação alemã, ainda no
século XIX, o fantasma do anti-semitismo já rondava a sociedade francesa, pairando
sobre o caso Dreyfus, militar judeu acusado e condenado por traição num processo
fraudulento. Sem eximir Carcopino da responsabilidade por seus atos, o contexto de sua
atuação abarca um cenário muito mais amplo e não pode ser compreendido levando em
conta apenas os acontecimentos a partir da ocupação.
Depois da 2º Guerra, a herança gaulesa é mais uma vez apropriada em favor da
nação, agora pelas mãos da extrema direita, que busca numa herança celta a justificativa
para seu nacionalismo xenófobo. As pesquisas já confirmaram a total impossibilidade
de tal herança, já que não há como falar de uma cultura celta homogênea e unificada e
nem mesmo é possível afirmar que os povos cujos vestígios foram encontrados na
cultura material de La Tene falavam línguas celtas (Dietler, 1994). Mostrando o quanto
o mito da unidade celta é utilizado de acordo com diversos interesses, Dietler cita o
exemplo dos bretões, separatistas que vêem a si mesmos como uma nação celta
independente, negando ligações com os gauleses continentais – se opondo portanto à
França - e se aproximando dos celtas insulares – portando próximos a Irlanda e
Escócia, por exemplo.
Uma grande nação celta, a ancestralidade gaulesa e tantos outros adjetivos fazem
parte de uma grande tradição inventada e instrumentalizada de acordo com o interesse
vigente no momento. Nacionalistas, separatistas, esquerda, direita, todos reivindicam o
direito a essa herança com igual fervor. Adaptada e moldada conforme o uso desejado,
muitas vezes contando com a cumplicidade de pesquisadores que não hesitaram em
forjar dados em favor da política não se desgastou com o uso, ao contrário, é renovada
sempre que necessário. Vercingetórix já teve a face de Napoleão III, do Marechal
Pétain, já foi elevado à condição de herói francês e incentivador de uma França livre de
imigrantes. Ao fim da leitura da obra de Silva, é necessária uma reflexão sincera sobre o
papel que os intelectuais assumem cada vez que um acontecimento passado é retomado
no presente e nunca é demais lembrar que o relato sobre o passado nunca é puro, mas
carrega em si a ideologia de quem o faz.

Referências Bibliográficas:

Diaz-Andreu, Margarita. Nacionalismo e Arqueologia: O contexto político da nossa


disciplina. Dossiê Identidades Nacionais N° 2, outubro-novembro 2006.

Dietler, Michael. “Our Ancestor the Gauls”: Archaeology, Ethnic Nacionalism, and the
Manipulation of Celtic Identity in Modern Europe. American Anthropologist, New
Series, Vol.96, N° 3(Sep.,1994), 584-605

Olivier, Laurent. A arqueologia do 3º Reich e a França: notas para servir ao estudo da


“banalidade do mal” em arqueologia. In: Funari, Pedro Paulo A.; Orser Jr. Charles E.;
Schiavetto, Solange N. de Oliveira (Orgs.) Identidades, discurso e poder: Estudos de
Arquelogia Contemporânea, São Paulo, Fapesp.

Silva, Glaydson José da. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações
da Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944). São Paulo, Fapesp, 2007.

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