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FIH - UFVJM

Cidadania e Direitos Humanos na


Constituição de 1988: uma conquista?

Bruna Loli de Lima

Diamantina
2017
Bruna Loli de Lima

Cidadania e Direitos Humanos na


Constituição de 1988: uma conquista?

Monografia apresentada à FIH –


UFVJM como um dos pré-requisitos
para obtenção do grau de Bacharel em
Humanidades.

Diamantina
2017

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Orientadora: Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale

Examinadores:
Adriana Gomes de Paiva
Lúcio do Carmo Moura

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O Brasil precisa de uma Constituição em que o
povo seja o fundador, por votação direta, do
governo e da lei. (Ulisses Guimarães)

3
Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, e a Universidade Federal dos Vales do


Jequitinhonha e Mucuri pela oportunidade de concluir o curso de Bacharelado Interdisciplinar
em Humanidades, que me proporcionou uma visão ampla da sociedade da qual participo. E foi
através desse curso também que conheci pessoas que tanto agregaram em minha vida e formação
acadêmica. Dentre essas pessoas, está a minha professora/orientadora Teresa Cristina Vale que,
acreditou em mim quando eu não mais acreditava, e me incentivou a concluir esse árduo trabalho
de conclusão de curso. Agradeço ao meu noivo Maxsuel de Jesus Santos e minha prima e amiga
Flaviane Mara Rodrigues Cerveira que me incentivaram a prosseguir na confecção desse
trabalho. Agradeço também a meu pai Sebastião Brizamar de Lima e a minha madrasta Tânia
Maria dos Santos pela educação que me deram, pois sem eles, eu não chegaria até aqui, e nem
tão pouco, teria suporte emocional para concluir o curso.

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Resumo

A Constituição de 1988 é conhecida como a Carta Cidadã. Isso porque, em seus artigos,
encontram-se diversas referências aos direitos, sobretudo, aos Direitos Humanos. Diante disso,
esse trabalho tem por questão primeira apresentar uma discussão, sem a pretensão de esgotá-la,
acerca do que significa ser uma Carta Cidadã? Para tanto, o objetivo do trabalho é apresentar os
princípios constitucionais que se referem à cidadania e aos Direitos Humanos tentando fazer um
diálogo com a teoria que envolve esses conceitos. Por hipótese, tem-se que a Constituição de
1988 tem ampla abrangência dos princípios de cidadania e Direitos Humanos, garantindo, de
fato, a alcunha recebida. A pesquisa se faz por um levantamento teórico e, em seguida, uma
análise documental desta Carta a partir dessa teoria levantada. Para tornar viável e lógico o
argumento, este trabalho se divide em 4 itens, além da introdução e conclusão: 1) conceito e
história da cidadania, 2) conceito e história de Direitos Humanos, 3) Novas perspectivas para a
cidadania a partir dos Direitos Humanos ; e 4) a constituição de 1988 e os pressupostos de
cidadania e Direitos Humanos.

Palavras-Chave: Direitos Humanos, Cidadania, Constituição de 1988

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Sumário

Introdução 7

1. Conceito e História sobre a Cidadania 8


1.1. Percurso Histórico da Cidadania 8
1.2. Definição do Conceito de Cidadania 10
1.3. Cidadania no Brasil 13

2. Conceito e História sobre os Direitos Humanos 15


2.1. Percurso Histórico dos Direitos Humanos 15
2.2. Definição do Conceito de Direitos Humanos 17

3. Novas perspectivas para a cidadania a partir dos Direitos Humanos 24


3.1. A Cidadania Mundial por Avritzer (2002) 24
3.2. A Cidadania Pós-Nacional por Carvalhais (2006) 25

4. A constituição de 1988 e os pressupostos de cidadania e Direitos Humanos 29


4.1. O Pré-1988: a Criação da Constituição 29
4.2. O(s) Sentido(s) da Constituição de 1988 31
4.3. Características e Estruturas da Constituição de 1988 33
4.4. Avaliação Geral da Constituição de 1988 40

Conclusão 43

Bibliografia 45

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Introdução

A Constituição de 1988 é conhecida como a Carta Cidadã. Isso porque, em seus artigos,
encontram-se diversas referências aos direitos, sobretudo aos Direitos Humanos. Diante disso,
esse trabalho tem por questão primeira apresentar uma discussão, sem a pretensão de esgotá-la,
acerca do que significa ser uma Carta Cidadã? O tema abordado nesse trabalho parece um tanto
exaustivo frente às discussões cominadas no cenário político social da atualidade. Ao se fazer
referência tanto à cidadania quanto aos Direitos Humanos, deseja-se fazer uma análise de como,
esses dois temas se encaixam na famosa e atualmente tão citada Constituição Federal de 1988.
O objetivo do trabalho é apresentar os princípios constitucionais que se referem à
cidadania e aos Direitos Humanos tentando fazer um diálogo com a teoria. Por hipótese, tem-se
que a Constituição de 1988 tem ampla abrangência aos princípios de cidadania e Direitos
Humanos, garantindo, de fato, a alcunha recebida. A pesquisa se faz por um levantamento
teórico e, em seguida, uma análise documental desta Carta a partir dessa teoria levantada. Esta se
justifica pela sua relevância acadêmica, ao contribuir para o debate já existente, e social, por
levantar questões tão caras ao cidadão brasileiro e de outra nacionalidade que por ventura viva no
Brasil.
Para tornar viável e lógico o argumento, este trabalho se divide em 4 itens, além da
introdução e conclusão: 1) conceito e história da cidadania, 2) conceito e história de Direitos
Humanos, 3) Novas perspectivas para a cidadania a partir dos Direitos Humanos ; e 4) a
constituição de 1988 e os pressupostos de cidadania e Direitos Humanos.

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1. Conceito e História sobre a Cidadania

Esta parte tem por objetivo descrever o percurso histórico da cidadania, as principais
questões levantadas acerca do conceito e como este se deu historicamente no Brasil. Não é
pretensão deste esgotar tal discussão. Apenas pretende-se colocar os principais pontos que se
considera relevante para o objetivo deste trabalho.

1.1. Percurso Histórico da Cidadania


Dentre as várias discussões em pauta na sociedade atual, a cidadania é certamente uma
que se destaca. Este conceito remodelado diversas vezes, entendido até mesmo como uma
categoria, desperta em inúmeros pesquisadores interesses e reflexões. Mas, afinal, o que é
cidadania e por que esse conceito e as suas implicações são tão discutidas na atualidade?
Quando pensamos em cidadania no passado, na sua trajetória histórica, sempre nos
referenciamos a Grécia/Roma como berço desta. Pode-se começar por volta do século V a.C. em
Atenas e em Roma. A cidadania neste período histórico não era como nós a conhecemos hoje,
mas sim uma forma diferenciada. Em Atenas e em Roma, a cidadania era um status concedido a
apenas um diminuto grupo. Não eram incluídos os escravos, mulheres, etc. Podemos retomar até
mesmo ao Antigo testamento para começar a formatar seus primeiros contornos. Há ainda
registros nas leis judaicas e mesopotâmicas (código de Hamurabi) que abordam temáticas que
irão culminar naquilo que conhecemos hoje por cidadania.
De Roma, no século 1 até o início da formação do Estado Moderno (Renascença, século
XIV-XVI) se tem a cidadania como algo hereditário. A partir de uma gradativa dissolução do
paternalismo medieval, ocorre uma ênfase na centralização do poder político nas monarquias, e
através disso, surge o Estado absolutista no século XVII. O exemplo mais evidente nesse caso,
seria o de Luís XIV. Para lembrar, Luis XIV, também conhecido como "o Grande" e "Rei do Sol"
foi um dos percursores da centralização do poder, nos seus 72 anos de reinado, instaurando uma

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nova era, a Absolutista, a partir de 1643. A partir disso, a cidadania passa a ter desenhado novos
contornos.
Desses ocorridos, surge uma necessidade de se dar substância a ideia de Estado, e a partir
disso, surgem as teorias contratualistas entre os séculos XVII e XVIII com John Locke, Thomas
Hobbes e Rousseau, por exemplo. O contratualismo se funda em um poder político baseado num
contrato social, que seria o divisor de águas entre o homem em seu estado natural, e o homem
como um sujeito social e político. Isso seria necessário para se estabelecer uma república
legítima. Dito de outra maneira, após o contrato social, os associados (povo), na leitura
rousseauniana, dentro da República são chamados de cidadãos enquanto participantes “da
autoridade soberana” (ROUSSEAU apud WEFFORT, 2005).
A partir dessa discussão chega-se a ideia de que o soberano é o povo (cidadão). E esse
povo vai se acrescendo, formando um grupo cada vez maior de cidadão. Surgirá então as
discussões sobre a democracia onde a autoridade soberana, tal como foi concebida na
democracia representativa e implementada na maioria dos países ocidentais, define a cidadania
como um modo do povo de participar do poder. Neste sistema político delega-se o poder a
outrem, seu representante. Assim, o povo, atribui seu poder, sua soberania a um novo corpo,
criado para servi-los: o legislador. Marx (1983), por exemplo, vai criticar a cidadania a partir
desse ponto, justamente porque, para ele, o cidadão ao delegar seu poder a outrem, perde-o,
ficando a merce desse novo corpus. A questão é que as deliberações acerca da cidadania nos
mostra que ela não é um conceito pronto. Como afirma José Murilo de Carvalho (2002) “o
fenômeno da cidadania é complexo e historicamente definido. Isso se dá devido a sua mutação
decorrente do tempo, das diferenças sociais, do momento histórico" (CARVALHO, 2002, p. 07).
Esta afirmação de Carvalho (2002) demonstra o perigo de se comparar a definição de
cidadania da Grécia Antiga – ou dos demais períodos históricos - com a definição compreendida
dos dias atuais. Ao se analisar quem era cidadão na era clássica percebe-se que a democracia
existente na Grécia Antiga era restrita a um pequeno grupo.
Continuando sob a ótica da trajetória histórica do conceito da cidadania, baseada na
corrente filosófica contratualista, especialmente de Jean Jacques Rousseau (apud WEFFORT,
2005), a Revolução Francesa – Revolução Americana, Industrial, etc - representa um dos marcos

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da construção do que conhecemos hoje como cidadania. A pauta, nesse caso, seria basicamente a
liberdade individual ou o que chamaremos posteriormente de direitos civis.

1.2. Definição do Conceito de Cidadania


A obra considerada magistral para a construção do percurso das conquistas dos direitos e,
consequentemente, a definição da cidadania nos moldes modernos é a obra de T.H Marshall
(1967). Seguido a esta, temos também as obras de Bendix (1979), Vieira (1999) e outros que
permitem refletir sobre o tema. Serão desses autores que utilizaremos para a construção da
definição do conceito, bem como, suas críticas.
T.H Marshall, sociólogo da década de 1940, discute a cidadania tomando como base a
sociedade inglesa do início do século XX. Ele organiza a cidadania em três direitos. E é
perceptível que sua organização é em certo ponto “lógica” e é utilizada como base para o
entendimento e, consequentemente, a construção da cidadania nos demais locais. Frisa-se é claro,
que essa ordem, não ocorreu da mesma maneira em todos os lugares, observando que, as
realidades sociais, históricas e políticas, são diferentes na maioria das vezes.
Marshall inicia sua discussão sobre cidadania a partir do padrão de vida considerado
como apropriado na sociedade de seu contexto. Ou seja, existe um padrão em que o homem deve
chegar, de modo que torne um “cavalheiro” (cidadão). Portanto, "a reivindicação de todos para
gozar dessas condições é uma exigência para ser admitido numa participação na herança social, o
que por sua vez, significa uma reivindicação para serem admitidos como membros completos da
sociedade, isto é, como cidadão" (MARSHALL, 1967, p. 61-62) Nesse sentido, para o autor, o
nivelamento econômico não é o mais importante, mas sim a “participação integral na
comunidade” (MARSHALL, 1967, p. 62), sendo a cidadania reconhecida, portanto, ele cria na
“igualdade básica de participação”.
A partir daí, o autor conceitua a cidadania como

um status concedido àqueles que são membros integrais de uma


comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito
aos direitos e obrigações pertinentes ao Estado. Não há nenhum princípio
universal que determine o que estes direitos e obrigações serão, mas as

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sociedades as quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimento
criam uma imagem de uma cidadania ideal em relação à qual o sucesso
pode ser medido e em relação à qual a aspiração pode ser dirigida
(MARSHALL, 1967, p.76).

Mediante isso, as gerações de direitos foram surgindo dentro de uma relação íntima com
o Estado, cujo o início, ocorre à partir do século XVIII como os direitos civis – direito de ir e vir,
direito à propriedade e à justiça, etc. Esses direitos são, segundo o autor, extremamente
importantes ao mercado, permitindo o amplo desenvolvimento do capitalismo. O direito político,
surge no século XIX, em decorrência dos direitos civis. Dentro desses direitos, ou como diz
Marshall, elementos políticos, o direito de votar e ser votado. E por fim, o elemento social no
século XX, que só é possível através da ampliação do direito político das pessoas se organizarem
protestarem e formarem opinião. A partir disso, o direito social se manifesta com o intuito de
garantir o bem-estar social/econômico, dando o direito de participar da “herança social”. Cria-se,
portanto, o Welfare State.
Ainda, para Marshall,

a cidadania exige um elo de natureza diferente, um sentimento direto de


participação numa comunidade baseado numa lealdade a uma civilização
que é um patrimônio comum. Compreende a lealdade de homens livres,
imbuídos de direitos e protegidos por uma lei comum. Seu
desenvolvimento é estimulado tanto pela luta para adquirir tais direitos
como pelo gozo dos mesmos, uma vez adquiridos (MARSHALL, 1967,
p.84).

Marshall também coloca, dentro dessa discussão sobre cidadania, o fato de estar
vinculada a esta, os direitos e obrigações colocadas pelo Estado. Mas, ele defende que, o Estado
tem a obrigação única e exclusiva – de fato – a conceder um direito inalienável: direito de
educação às crianças.
Da astuta e cuidadosa construção marshalliana sobre a questão da cidadania, teremos
Bendix (1996) que atrelará a cada grupo de direitos a criação de uma instituição. Segundo ele,
foram criados

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Os tribunais, para a salvaguarda dos direitos civis e, especificamente, para a
proteção de todos os direitos extensivos aos membros menos articulados da
comunidade nacional.
Os corpos representativos locais e nacionais como vias de acesso à participação
na tomada de decisão e na legislação.
Os serviços sociais, para garantir um mínimo de proteção contra a pobreza, a
doença, e outros infortúnios; e as escolas, para possibilitar a todos os membros da
comunidade receberem pelo menos os elementos básicos de uma educação
(BENDIX, 1996, p.111)

A cidadania, tal como concebida na construção do Estado Moderno, tem como


características: 1) um caráter universalista, já que amplia direitos a todos, não importando classe,
status ou casta; 2) um caráter individualista, já que cada indivíduo tem direitos que dizem
respeito somente a ele, por exemplo, o seu direito ao voto; e 3) é territorializada, pois sua
abrangência, enquanto status, delimita-se pelo território pertencente a um determinado povo e
pertencente a um Estado-Nação (VIEIRA, 1999).
Vieira (1999) também apontará as principais críticas a este conceito. Para o autor, as
críticas vão do evolucionismo e da linearidade marshalliana à simplificação dos direitos em três
grupos homogêneos (civis, políticos e sociais). Vieira (1999) chama esta caracterização da
cidadania de passiva, pois coloca a ênfase apenas nos direitos, esquecendo-se dos deveres
cívicos. Para o autor, o conceito de cidadania deve ir além, ou seja, tais direitos têm que ser
associados e complementados com o exercício ativo de responsabilidades e virtudes – o que nos
leva à vontade política e, conseqüentemente, à participação.Por fim, o autor menciona que
cidadania é, para além de um status concedido, uma identidade compartilhada, ou seja, é a
expressão do pertencimento de um indivíduo a uma comunidade política, sendo comum a vários
grupos de uma mesma sociedade.
Face às discussões, o que se pode perceber, segundo Vieira (1999), são as discussões
sobre o tema cidadania, mas existe aí uma enorme dificuldade em “apontar na direção de uma
teoria da cidadania” (VIEIRA, 1999, p. 1). Este autor aborda duas grandes interpretações
contraditória na construção do conceito de cidadania. Uma, seria a conceituação lockeana, onde
o papel do cidadão é visto de forma individualista e instrumental, segundo a tradição liberal. Os

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indivíduos são vistos como pessoas privadas e externas ao Estado. A segunda concepção
abordada por Vieira (1999), seria a comunitarista, oriunda da tradição filosofia de Aristóteles,
onde a cidadania é ativa, e integrada em uma comunidade política. Um seria, portanto, baseada
nos direitos individuais, e no igual tratamento, e o outro, que define a participação no governo
como essência da liberdade.

1.3. Cidadania no Brasil


Em se tratando da cidadania no Brasil, a organização apontada por Marshall (1967),
ocorrida na Inglaterra, não foi semelhante. José Murilo de Carvalho (1996, 2002, 2003) ao fazer
a análise dessa trajetória no Brasil, mostra que nesse caso, a nossa cidadania diferencia-se da
Inglaterra, principalmente devido a maior importância nos direitos sociais, e ao fato de esses
direitos, terem sido os primeiros a se manifestarem, seguido do político e somente depois o
direito civil.
A ênfase no direito social, é colocado por Carvalho (2002) como uma cidadania ocorrida
de cima para baixo, ou seja, em certa medida, não uma cidadania ativa, mas uma cidadania
concedida, doada, segundo o interesse de cada governo, passiva. No Brasil, a cidadania se
desenvolve primeiro, à partir dos direitos sociais. José Murilo de Carvalho (1996, p. 338) se
baseia na análise de Bryan S. Turner, discute a cidadania sob a ótica de dois sustentáculos: um
seria o “movimento que produz a cidadania”, e o outro seria a dicotomia entre público e privado.
No que se refere à cidadania de cima para baixo, esta é obtida através do Estado, ou seja,
o Estado toma frente da construção da cidadania de uma determinada sociedade. Quando se fala
em cidadania obtida de baixo para cima, significa que a população “age” para adquirir direitos.
Carvalho (1996), ramificando esses dois movimentos, afirma que

[esses] dois eixos dão lugar a quatro tipos de cidadania. O primeiro, em que a
cidadania é conquistada de baixo para cima, dentro do espaço público, seria
representado pela trajetória francesa. A cidadania seria aí, fruto da ação revolucionária
e se efetivaria mediante a transformação do Estado em nação. No segundo, a cidadania
seria também obtida de baixo para cima, mas dentro do espaço privado. O exemplo
seria o caso norte-americano. O terceiro tipo refere-se aos casos de cidadania
conquistada mediante a universalização de direitos individuais (espaço público) mas
com base em concepção do cidadão como súdito. Corresponderia ao caso inglês após o

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acordo de 1688 que restaurou a monarquia. Finalmente, uma cidadania construída de
cima para baixo dentro do espaço privado poderia ser encontrada na Alemanha. Nesse
último caso, ser cidadão poderia ser sinônimo de ser leal ao Estado. O cidadão alemão
teria sido criado pelo Estado e não teria a energia associativa do cidadão norte
americano (CARVALHO, 1996, p. 338).

Outra abordagem colocada por Carvalho (1996), está baseada em três tipos de cultura
política: paroquial ou localista, súdita e participativa e a cultura cívica. Para essa análise, o autor
utiliza-se da discussão de Almond e Verba (1965) fazendo alusão às diversas formas existentes
em que a população se relacionar com o sistema político e de se relacionam entre si.
Carvalho (1996) nos chama a atenção para o fato de que, apesar de a cidadania
brasileira ter sido concedida, ou seja, de cima para baixo, sob um poder centralizado no Estado,
este não se comporta necessariamente como “público e universalista”, uma vez que “de um lado,
o Estado coopta seletivamente os cidadãos, e de outro, os cidadãos buscam o Estado para o
atendimento de interesses privados” (CARVALHO, 1996, p. 339). Portanto, um caráter não
cívico, ou participativo, ou algo como um cidadão inativo (que seria equivalente ao
paroquialismo de Amond e Verba (1965) é o que acaba como forma predominante no Brasil.
Além dessas concepções e ramificações, a cidadania também abarca a questão de
identidade: “a existência de uma identidade nacional, para além da simples titularidade de
direitos, tem sido reconhecida como ingrediente indispensável da cidadania” (CARVALHO,
1996, p. 342). O que se percebe hoje, é que a diferente trajetória brasileira passou por diversos
percursos, em alguns avançando, em outros, retrocedendo. Ou seja, não ocorrera de forma tão
“lógica e organizada” como na Inglaterra.
Diante deste percurso construído nesta parte - história, conceito e a cidadania no Brasil -
cumpre seguir no propósito deste trabalho. Mas antes, é necessário definir os Direitos Humanos,
bem como sua trajetória histórica. É o que se fará na parte a seguir.

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2. Conceito e História sobre os Direitos Humanos

A partir do proposto na parte anterior, podemos entender a cidadania como um status


territorializado, individual, mas também coletivo, em que, quem tem tal status, é detentor de
direitos e deveres. Nesta parte do trabalho, pretende-se apresentar uma discussão sobre os
Direitos Humanos. Como verão no desenrolar deste, os direitos apresentados na discussão sobre
cidadania são os mesmos direitos que serão abordados nos Direitos Humanos. No entanto, na
literatura, por propor a discussão através de perspectivas distintas, distingue estes conceitos. A
parte 3 deste trabalho tentará uni-las. Mas antes de tal entento, vamos ao percurso histórico sobre
os Direitos Humanos.

2.1. Percurso Histórico dos Direitos Humanos


O ser humano nunca esteve tão ficcionado nas discussões sobre os Direitos Humanos
quanto atualmente. Principalmente após a ênfase dada quando do trágico evento histórico
conhecido por Holocausto. O fim da Segunda Guerra Mundial, trouxe à tona a barbaridade do
Estado Nazista Alemão contra grupos étnicos não arianos, principalmente os judeus. A partir de
então, há uma perceptível e constante busca de legitimar grupos, comunidades, culturas
específicas que são consideradas marginalizadas e em muitos casos, alheia à Declaração
Universal dos Direitos Humanos - documento resultante de tamanha catástrofe humana.
A discussão sobre os Direitos Humanos trouxe uma mudança significativa na concepção
do ser, e consequentemente, mudanças relacionadas a preservação dos mesmos. Isto porque, em
vários momentos da história, inclusive até hoje, foram e são cometidos desrespeito, violações de
um para com o outro, sob a forma de guerras, torturas, governos totalitários que oprimem seus
cidadãos, trabalho escravos e outros terríveis exemplos.
Hoje, com esse interesse no humano visto como um ser livre e igual em dignidade e
direitos surgem também questões sobre até que ponto existe, ou não, efetivamente a dignidade e
direitos. Também, surge um amplo debate sobre a necessidade de se relativizar tal documento
universal frente as diversas culturas. Esse é um debate inacabado e bastante amplo uma vez que

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existem povos tão distintos e, como tal, deve-se respeitá-los. A discussão da universalidade
acaba por trazer um risco de hierarquização entre as culturas, comparando-as umas com as outras
e inferiorizando uma frente a outra.
Dessa maneira, para iniciar a discussão proposta é importante fazer um breve histórico
acerca dos primórdios do pensar sobre o homem e sua dignidade. Segundo o autor Comparato
(2010) tudo gira em torno do homem e, consequentemente, da sua existência.
Segundo Comparato (2010) há relatos que o termo dignidade humana foi construído em
três etapas, sendo primeiramente baseado no âmbito religioso, “com a afirmação da fé
monoteísta”. (COMPARATO, 2010, p. 13). Segundo essa concepção, o homem é tido como
frágil e passageiro, mas ao mesmo tempo, de suma importância na criação do mundo, pois,
segundo a bíblia (tradição cristã/judaica), ao homem foi dado o poder sobre todos os seres
viventes.
Essa "eminente posição do ser humano no mundo” (COMPARATO, 2010. p. 15)
também fora discutida na filosofia surgindo a segunda etapa da formulação das ideias sobre
dignidade humana, em que a principal questão ali colocada era: “quem é o homem”? Por meio
desta indagação, surge uma valorização da posição do homem como um ser que possui a
capacidade singular de pensar sobre si mesmo, ou seja, capacidade de ser racional, de colocar “a
si mesmo como objeto de reflexão” (COMPARATO, 2010, p. 15).
A terceira e última etapa, de acordo com Comparato (2010), começa a surgir com a
filosofia Moderna de Descartes. Neste momento, esta modifica-se para explicações mais
racionalizadas através do advento da teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. Esta
última, em certa medida, afasta mesmo que de maneira sutil, a religião das explicações
concernentes à criação do mundo, e dos seres, incluindo é claro, o ser humano. Mas ainda
mantém o homem como ser predominante dentre os animais.
Ainda segundo Comparato (2010), a concepção Darwiniana coloca o ser humano como
ápice da cadeia evolutiva, e tudo gira em torno dele. A partir daí, inicia-se um fervoroso e
interminável debate sobre a existência dos seres e se a sua evolução está vinculada ao Deus
bíblico ou ao acaso. Toda essa discussão é colocada pelo autor como de grande importância,
principalmente porque as bases dos Direitos Humanos têm as suas raízes nessas ideias,

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afirmando a importância de não ignorar a existência, uma vez que ignorando-a, não se pode, por
exemplo, distinguir a justiça da iniquidade (COMPARATO, 2010, p. 17).
O autor estabelece também um período na história chamado de período axial, que ocorre
no século VIII a. C, século em que o monoteísmo é fortemente enfatizado pelo profeta Isaías.
Para o autor, foi nesse período que “se enunciaram os grandes princípios e se estabeleceram as
diretrizes fundamentais de vida, em vigor até hoje” (COMPARATO, 2010, p. 21). Já no século V
a. C., nasce a filosofia, e juntamente com ela a refutação dos mitos religiosos tradicionais sob
essa questão do homem. Portanto,

é a partir desse período axial, que pela primeira vez na história, o ser humano
passa a ser considerado, em sua igualdade essencial, como ser dotado de
liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou
costumes sociais. Lançavam-se assim, os fundamentos intelectuais para a
compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência de direitos
universais, porque estão a elas inerentes (COMPARATO, 2010, p. 24).

Mas, mesmo com essas concepções do ser humanos, somente séculos depois é que irão ser
consolidados e que serão reconhecidos praticamente todos os povos como livres e iguais em
igualdade e em direitos.

2.2. Definição do Conceito de Direitos Humanos


Partindo da contextualização histórica, fica evidente que é impossível conceituar Direitos
Humanos sem a compreensão do que vem a ser a Dignidade Humana. Segundo Monsalve e
Ròman (2009), a noção de dignidade humana possuem várias aplicações, bem como vários
pontos de vista relacionados a si. Para eles, existe um grande paradoxo que gira em torno desse
tipo de conceito, uma vez que há uma certa confusão na noção de dignidade do homem oriental e
ocidental. Portanto,

Essa história recente, por sua vez, foi dominada por um grande paradoxo:
apesar de existir um consenso quase absoluto em torno da dignidade
humana como ideia fundadora dos Direitos Humanos, o significado e
alcance concreto dessa ideia apresenta, ao contrário, um desacordo

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generalizado e amplo (BOBBIO 1991 apud MONSALVE E ROMÁN,
2009, p. 41)

Como tentativa de se evitar esses dilemas, faz-se necessário reformular essa problemática
em que os autores traçam a reconstrução conceitual de três tensões que giram em torno da
dignidade humana. Primeiramente, é abordada a tensão entre o caráter natural e artificial, em
que o caráter natural se dá como inerente, ou seja, que faça parte da espécie humana “sem
importar traços acidentais, tais como seu lugar de nascimento, sua origem étnica, sua posição
social, seu gênero etc”. (MONSALVE e ROMÀN, 2009, p. 43). E, tal atributo, segundo os
autores, é dado por Deus ou pela própria natureza. Sendo assim, a dignidade humana está nele
(ser humano) desde a sua criação.
A primeira tensão se refere a dignidade humana como algo que lhe está impregnado
desde sempre, algo que já nasce com ele, de maneira que não cabe ao Estado reconhecer essa
dignidade, uma vez que, qualquer ser humano a possui seja sob qualquer condição de existência
como local de nascimento, condição social, etc. A questão dessa característica “natural da
dignidade humana” é: quem conferiu essa dignidade? Ou seja se não é o Estado que confere a
todo o ser humano, quem a confere? Nesse tocante, seria Deus? Seria por acaso, uma questão de
fé? Nesse sentido, a tensão desse caráter natural, está colocado pelos autores como uma “carga
metafísica”, uma vez que não se pode ter apenas “uma única natureza humana”.
Dessa discussão deriva outro caráter sobre a dignidade humana, ou seja, um caráter
artificial. Neste é atribuído a condição de dignidade humana como um acordo entre inter
humanidade. Nesse caso, a dignidade é como “uma ficção moral, política e, em especial, jurídica
que se predica de todos os membros da espécie humana. Assim, são os Estados, em particular os
constitucionais respeitosos dos direitos e das liberdades, que criam o princípio jurídico-político
da dignidade humana. (MONSALVE e ROMÀN, 2009, p. 44)
A tensão desse caráter artificial considera que, segundo os autores, a dignidade humana
encontra-se nas mãos apenas de um princípio jurídico/político, por mais que seja garantidor de
uma certa ordem na sociedade. Tal princípio dá a eles o poder de, em algum momento, “não se

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considerem alguns membros da espécie como portadores dessa ficção chamada ‘dignidade’”.
(MONSALVE e ROMÀN, 2009, p. 44)
A segunda tensão está no contraponto entre o aspecto abstrato ou concreto da
dignidade humana. Inicialmente a dignidade humana está baseada na teoria de Kant, onde
nenhum ser humano pode ser “instrumentalizado para nenhum outro fim” (MONSALVE e
ROMÀN, 2009, p 44). Ou seja, ao ser humano não pode ser atribuído qualquer tipo de preço, não
poder ser usado como um meio para a realização de ideais de outrem, mas apenas como um fim
para si próprio. Segundo os autores, Kant objetivou dizer ao contrário do utilitarismo, falando
sobre a “sua liberdade inata” (MONSALVE e ROMÀN, 2009, p. 44). Portanto, devido a essa
liberdade inata, e a sua racionalidade e, por conseguinte, sua capacidade “autolegisladora”, a
dignidade humana se torna algo universalizado.
Para Monsalve e Roman, o oposto dessa afirmação é tratado muitas vezes como um
caráter quase que inquestionável, mas nesse contexto, é necessário uma concepção mais prática,
o que envolve uma ideia de dignidade humana conectada a ideia de bem-viver. Segundo os
autores, “não obstante, o risco que se corre por esse caminho é o de desfigurar a tal ponto a
própria ideia de dignidade, de tal forma que ficaria reduzida a questões determinadas, pontuais,
cotidianas e até irrelevantes" (MONSALVE e ROMÀN, 2009, p. 45).
Por fim, a terceira tensão tem seu pilar está baseado na ideia de uma dignidade humana
universal e engessada, como uma qualidade atribuída a todo o ser humano em qualquer lugar.
Porém, essa concepção ignora que há anacronismos e equívocos no tocante à cultura, locais e
épocas. Seria como se considerasse o mundo ainda como uma pangeia (geográfica e social). Em
oposição, o caráter particular, teria a argumentação de que o que existe são uma série de
concepções de diversos tipos de dignidades postos em prática sob determinados grupos. A tensão
aí seria que, nessa construção universal de uma dignidade humana, não se leva em consideração
por exemplo, que o ser humano “sofre e tem necessidades, não enquanto ser humano em geral,
mas enquanto trabalhador explorado, ou enquanto mulher, ou enquanto indígena etc”.
(MONSALVE e ROMÀN apud FERNÀNDEZ, 2001, p. 46). Ao mesmo tempo, no caráter
particular, torna-se perigosa essa variedade de particularidades, uma vez que se pode dissolver a
ideia de dignidade humana. Ainda sobre a dignidade da pessoa humana, os autores aqui

19
mencionados falam da dignidade da pessoa humana aludidas nos tratados internacionais. Os
autores apontam como e onde no documentos, a dignidade humana é explicitada.
Tendo em vista a origem e os princípios associados aos Direitos Humanos, resta
conceitua-lo. Para iniciar, os Direitos Humanos são conceitos e não conceito, no singular.
Quando se diz conceitos quer dizer que apesar de um mínimo comum, os Direitos Humanos têm
como afirma o teórico Dornelles (1993) diversos tipos de lentes, e que podem variar, dependendo
da percepção de uma determinada cultura (política ou social). Para ele está claro que, não existe
um conceito uniforme que se possa definir os Direitos Humanos.
Na Atualidade, pensar em direitos internacionais está intrinsecamente ligado a pensar
Direitos Humanos. O direito internacional referente aos Direitos Humanos possui um amplo
conjunto de diretrizes que visam a proteção da dignidade da pessoa humana. Portanto, para
Dornelles (1993), é impossível se ter apenas um único respaldo para fundamentar os Direitos
Humanos. “O que importa é que os direitos ou valores (dependendo da ótica) considerados
fundamentais sofrem uma variação de acordo com o modo de organização da vida social”
(DORNELLES, 1993, p. 15/16).
Nesse sentido, o autor pressupõe então, três concepções filosóficas, a saber: concepções
idealistas: pressupõe como tratando os Direitos Humanos baseado em uma visão “metafísica e
abstrata”, cujos valores, que são transcendentais, são manifestadas mediante a vontade divina.
Essa é a concepção que trata os Direitos Humanos como inerentes à pessoa humana, ou seja,
“independente do seu reconhecimento pelo estado. (DORNELLES, 1993, p. 16); concepções
positivistas: os Direitos Humanos que emanam do poder do Estado através de um
reconhecimento jurídico, portanto, os direitos fundamentais e a sua praticabilidade “dependem
do reconhecimento do poder público”. (DORNELLES, p. 16-7); e concepções
crítico-materialistas: acentua-se no século XIX, com base no pensamento Marxista, como uma
crítica ao pensamento liberal, onde se tratava os Direitos Humanos, conceituados de maneira a se
viabilizar um certo benefício aos interesses da burguesia ascendente naquele momento.
Com relação a essas concepções, Dornelles (1993) afirma que “com base nessas três
concepções é que se desenvolveram as diferentes explicações sobre os Direitos Humanos,

20
marcando profundamente o processo de formulação e evolução conceitual do tema”
(DORNELLES, 1993, p. 17).
Dornelles fala sobre as três gerações dos Direitos Humanos, que já fora explicitado nesse
trabalho, na primeira parte. Mas diante dessas fases da construção das diversas concepções do
que são Direitos Humanos, a maior preocupação com essa discussão ganham relevância
principalmente após a Segunda Guerra Mundial, diante dos abusos e violações da dignidade da
pessoa humana ocorridos nesse período, também já mencionado anteriormente. Com isso,
inicia-se uma série de tratados internacionais, que foram se alastrando e, com o passar do tempo,
começam a ser amplamente discutidos e difundidos e, consequentemente, implantados.
Portanto, para Dornelles (1993), o processo que se iniciou no século XX foi a progressiva
incorporação dos Direitos Humanos no plano internacional, enquanto o século XIX se
caracterizou por ser o momento do reconhecimento constitucional, em cada Estado, dos direitos
fundamentais. Portanto, para ele, a área do conhecimento que começou a tratar do tema passou a
ser chamada de "direito internacional dos Direitos Humanos ", encontrando-se ainda em processo
de formação conceitual.
Ainda sobre a importância dos Direitos Humanos neste século, o autor menciona que

Durante o decorrer do século XX, a comunidade organizada das nações, seja no


marco das organizações mundiais como as Nações Unidas (ONU), seja no
marco dos organismos especializados como a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) ou a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura (UNESCO), seja nos foros regionais de associações internacionais,
corno a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização da
Unidade Africana (OUA) e o Conselho da Europa, tem aprovado inúmeros
dispositivos, textos, declarações, instrumentos de validade jurídica na defesa e
proteção internacional dos Direitos Humanos buscando assegurar o respeito e o
reconhecimento por parte de governos e de particulares. (DORNELLES, 1993,
p. 38)

Portanto, esse contexto do século XX trouxe uma nova realidade que com o passar do
tempo, e através de reivindicações cada vez mais específicas feitas através de, e principalmente,
movimentos sociais, aparecessem novas necessidades que estavam além dos direitos

21
fundamentais. Como exemplo, o autor cita o direito à paz, o direito ao desenvolvimento, e assim
por diante.
Com isso, fez-se necessário a criação de ferramentas para que se pudesse ter um maior
controle das ações estatais para com os seus habitantes. Para que isso ocorresse, procurou-se
promover os direitos e garantias fundamentais de modo que o próprio estado adotasse uma
política internacional para “uma resolução pacífica dos conflitos e contradições e de efetivo
respeito ao elenco de direitos conhecidos internacionalmente, independentemente de
nacionalidade, raça, sexo, idade, religião, opinião política, condição social, etc”. (DORNELLES,
1993, p. 39)
Mas, como tudo tem um porém, o autor fala que, apesar desses avanços, o problema
maior empregado no direito internacional, seria a carência de “um órgão controlador direto e
fiscalizador com capacidade de exigibilidade sobre as ações violadoras de um Estado"
(DORNELLES, 1993, p. 39). Para ele, a soberania nacional em certo ponto, impede a efetividade
da ação desses tratados internacionais criando aí a necessidade de novas convenções e tratados
que possam assegurar o respeito devido à paz e a segurança nacional. Portanto,

O processo de universalização dos mecanismos de proteção dos Direitos Humanos tem


sido marcado não apenas pelo reconhecimento formal desses direitos, mas
principalmente pelas lutas dos povos contra a opressão, contra a exploração económica
e contra a miséria, o que passou a exigir a efetivação dos direitos enunciados pelos
diferentes documentos internacionais. (DORNELLES, 1993, p. 44)

Por fim, os Direitos Humanos como uma construção conceitual podem ser visualizados
ao longo dos processos históricos sem qualquer linearidade ou evolução. Percebe-se que há
momentos de avanços e momentos de retrocesso se confundindo no tempo e espaço humano. Em
termos conceituais Dornelles (1989) afirma que,

todos os direitos são humanos, pois somente os seres humanos são


capazes de serem sujeitos e terem suas faculdades, prerrogativas,
interesses e necessidades protegidas, resguardadas e regulamentadas pelo
Estado (...) [mas] nem todos os seres humanos, durante a história da
humanidade, foram considerado como tal, nem seus direitos foram
reconhecidos (DORNELLES, 1989, p.11).

22
A discussão acerca dos Direitos Humanos no Brasil ganhou fôlego somente após a
promulgação da Constituição de 1988. Diante disso, a discussão sobre este ficará para a última
parte. Além disso, tendo em vista toda a discussão apresentada, resta fazer uma discussão de
como os Direitos Humanos e a cidadania se unificaram em um único discurso. É o que será feito
na próxima parte deste trabalho.

23
3. Novas perspectivas para a cidadania a partir dos
Direitos Humanos

A partir das discussões feitas anteriormente, é possível afirmar que cidadania e Direitos
Humanos têm íntimas ligações históricas, mas um enorme distanciamento conceitual. A
cidadania diz de uma nação, de um território restrito em que o cidadão saindo deste, não tem
garantidos seus direitos. Os Direitos Humanos tratam dos direitos numa perspectiva planetária.
Indivíduo é indivíduo onde quer que ele esteja e, portanto, é detentor de dignidade, logo, Direitos
Humanos. Esta é uma discussão mais recente na literatura. Há diversos autores, mas aqui nos
concentraremos em apenas dois: Avritzer (2002) e Carvalhais (2006).

3.1. A Cidadania Mundial por Avritzer (2002)


As sociedades encontram-se hoje em um crescente processo de globalização das relações
econômicas, políticas, sociais e culturais para além das fronteiras dos Estados Nacionais. É nessa
perspectiva que Avritzer (2002) faz uma análise da cidadania. O autor aponta uma diferenciação
bem delimitada no percurso histórico de alteração do sentido dado à cidadania. Para ele, nos anos
finais da século XX três autores voltaram a tratar do problema da modernidade na sua relação
entre abstrato e concreto, buscando determinar um padrão de cidadania a partir dessa
diferenciação. São eles: Anthony Giddens, Jürgen Habermas e Boaventura de Souza Santos
(AVRITZER, 2002, p. 35).
A questão da cidadania vai estar em Giddens, como esteve em Marx e em Weber. No
entanto, ela trará as discussões pós-modernas à baila. Para Giddens, a cidadania estaria ligada às
lutas concretas ocorridas no interior do Estado nacional e irá pressupor uma associação singular
entre territorialidade e homogeneidade cultural.

Com o advir do Estado nacional, os estados passam a ter uma unidade


territorial e administrativa que eles não possuíam antes. A extensão da
comunicação não poderá ocorrer sem um envolvimento ‘conceitual’ de
toda a comunidade enquanto uma cidadania com conhecimento de causa

24
(knowledgeable citizenry). O partilhamento de uma linguagem comum e
de uma historicidade simbólica comum são as formas mais completas de
alcançar [essa unidade] (GIDDENS apud AVRITZER, 2002, p. 36).

Avritzer (2002) afirma ser possível pensar a cidadania na atualidade sob duas categorias

A primeira delas é uma cidadania legal transnacional, capaz de dar


direitos civis perante os tribunais às pessoas que estão provisoriamente
ou permanentemente sem cidadania. A segunda categoria seria de uma
cidadania social transnacional, capaz de assegurar no plano internacional
direitos sociais e especialmente condições mínimas de trabalho para que
as mercadorias possam circular internacionalmente (AVRITZER, 2002,
p. 51).

Para esse autor, cada uma dessas modalidades de cidadania, caracterizada por ele de
mundial, seria capaz de minimizar os efeitos perversos do cada vez mais crescente processo de
expansão do mercado financeiro e das restrições impostas pelos Estados Nacionais. Para o autor,
no caso dos direitos legais, eles representariam uma abertura para circulação das pessoas num
mundo em que apenas as mercadorias circulam livremente, de certa forma seria como “estender
o processo de internacionalização das mercadorias para as pessoas” (Avritzer, 2002:51). Já os
direitos sociais globais consistiriam numa regulamentação das condições de trabalho em termos
internacionais, uma luta concreta contra a superexploração (RAMOS e VALE, 2017).

3.2. A Cidadania Pós-Nacional por Carvalhais (2006)

A autora utilizada para esse tópico possui uma sistematização melhor elaborada da
temática, mas na verdade trará a discussão feita por Soysal (1998). No entendimento de Isabel
Carvalhais (2006), cidadania pós-nacional significa que todos os indivíduos teriam direito a “ser
partes ativas nos processos de decisão que potencialmente os afetam” (CARVALHAIS, 2006, p.
17).

Pode-se dizer que a nacionalidade, segundo Carvalhais (2006), é um pressuposto


indispensável para ser ingressante da cidadania. Isso, de certo modo, limita a visão de uma

25
cidadania como algo universal, sendo que, a nacionalidade pode ser entendida como um vínculo
que liga o indivíduo ao Estado soberano, e independe da manifestação da vontade do indivíduo
de fazer ou não parte de determinado povo.

Ou seja, a cidadania está circunscrita à nacionalidade, como afirma Carvalhais (2006),

a história do estado moderno europeu mostra-nos que, no processo de


edificação e consolidação do seu poder, a invenção do critério da
nacionalidade como critério máximo no acesso à cidadania
—apresentada como uma espécie de recurso precioso, raro e por isso de
acesso limitado — surge como a estratégia responsável pela maquinação
de uma sinonímia artificial entre cidadania e nacionalidade
(CARVALHAIS, 2006, p. 109).

Todavia, a necessidade de se pensar um conjunto de direitos que extrapolam os Estados


Nacionais não implica necessariamente e efetivamente que estes perderam sua utilidade e devem
ser extintos. Os desafios impostos pela globalização aos Estados não significam um
enfraquecimento total da sua soberania. Até mesmo no modelo pós-nacional, é função dos
Estados Nacionais garantir os direitos individuais, retomando, assim a discussão sobre dignidade
feita anteriormente, através dos autores Monsalve e Ròman (2009). O Estado continuaria como
elemento central de regulação social, continuaria a ser o pólo organizador da vida em sociedade,
mas com uma legitimação estabelecida em âmbito internacional.

Ao se referir sobre a relação da nacionalidade com a cidadania, ambas têm perspectivas


diferentes, mas ao longo da sua trajetória histórica, elas foram se aproximando, quase se
transformando em sinônimos. Sabe-se hoje que uma não pode ser desvencilhada da outra.
Segundo Carvalhais (2006), a cidadania em sua trajetória, a partir do século XIX, a começa a
abraçar novos setores da sociedades, mas ao mesmo tempo, ela circunscreve-se
geoculturalmente, e até o século XX, nessa elitização da cidadania como inserida na
nacionalidade

26
o culto da aversão ao diferente foram na esfera cultural estratégias de
consolidação do poder do estado relativamente bem sucedidas até aos
inícios do século XX, porque as condições gerais das sociedades (com
destaque óbvio para as condições tecnológicas nas áreas dos transportes e
das comunicações) assim o permitiam (CARVALHAIS, 2006, p. 112).

O maior interesse nesse discurso de cidadania pós nacional, é na realidade questionar a


nacionalidade como requisito para o exercício da cidadania e os direitos que dela emanam. Isso
leva em consideração um histórico de guerras, regimes totalitários que utilizaram do discurso de
pertencimento geocultural para a implementação de seus ideais, descartando totalmente qualquer
um que não se enquadrasse nos seus critérios.

Diante disso, com o advento dos Direitos Humanos, e da ascensão dos estudos referentes
à dignidade humana, a partir do século XXI não se aceita mais, diante de sociedades tão distintas,
a ideia de uma cidadania restrita à esse requisito privilegiado de nacionalidade. Segundo a
autora, essas indagações referentes à cidadania pós-nacionais são importantes uma vez que, uma
concepção restrita de cidadania não está “em compatibilidade com o projeto dos Direitos
Humanos (CARVALHAIS, 2006, p. 113)

Ainda segundo a autora,

Por condição pós-nacional da cidadania entende-se aqui a qualidade de


uma relação entre estado e sociedade pela qual o primeiro se vê
confrontado com a necessidade, desde logo moral (Carens, 1989), de
reequacionar o modo como pensa a integração dos seus residentes legais,
independentemente da sua nacionalidade. Quer isto dizer que a condição
pós-nacional, tal como este texto a entende, não deve ser confundida com
lógica pós-estado ou lógica “para além do estado”. (CARVALHAIS,
2006, p. 114)

27
A cidadania pós nacional pressupõe então um

diálogo aberto e esclarecido com as sociedades civis repensar a inclusão


dos seus não-nacionais,dando-lhes acesso a direitos fundamentais à sua
integração plena, sem lhes exigir em troca a adopção de uma das duas
opções mais típicas: a naturalização (adopção da nacionalidade do estado
receptor) ou a dupla nacionalidade. Mas, a mesma voz poderá ainda
argumentar que, seguindo essa ordem de ideias, tal já não constitui
novidade para a maioria dos estados democráticos europeus receptores de
comunidades não-nacionais, habituados que estão a garantir o acesso a
direitos económicos e sociais aos seus residentes não-nacionais
(CARVALHAIS, 2006, p. 115).

Por fim, o desafio colocado é pensar um tipo de cidadania que ultrapasse o jogo de
inclusão/exclusão que caracteriza a cidadania vinculada ao pertencimento a um Estado Nacional.
Tudo isso sem desconsiderar a identidade original com uma determinada comunidade política,
mas estabelecendo uma mediação entre o sentimento de pertencimento local integrado a uma
comunidade global compartilhado valores éticos, morais e um senso de justiça universal (SILVA,
2008). Para se chegar ao objetivo deste trabalho, vamos agora à Constituição de 1988, nosso
objeto de avaliação e estudos.

28
4. A constituição de 1988 e os pressupostos de cidadania
e Direitos Humanos

Em 02 de fevereiro de 1987, no início dos trabalhos da Assembleia Constituinte, Ulisses


Guimarães afirma: "Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A Nação quer mudar, a Nação
deve mudar, a Nação vai mudar". São essas as palavras que reverberaram durante o processo de
confecção da Carta Magna Brasileira. A Constituição de 1988 foi elaborada em uma conjuntura
bastante diferenciada das outras seis Constituições brasileiras. Além de ser elaborada por todos
os constituintes, divididos em oito grandes comissões, foi permitidas sugestões advindas de
associações, entidades, audiências públicas nas comissões e iniciativa de emenda ao projeto
pró-cidadãos e entidades associativas. O resultado, como disse Fernando Henrique Cardoso, foi
que “nenhuma outra Constituição, que eu saiba, foi feita a partir de mais de 60 mil sugestões
com emendas populares contendo milhões de assinaturas e com a participação de cada
constituinte na comissão que desejasse” (CARDOSO, Jornal do Brasil, 07/10/1989).

4.1. O Pré-1988: a Criação da Constituição


A Constituição de 1988 foi o resultado de uma ruptura do Regime Militar no Brasil e o
retorno à democracia. As experiências de regimes militares na América Latina, assim como
regimes totalitários ocorridos ao longo de todo o século XX, foram exemplos claros e bastante
dolorosos de uma antidemocracia que urgia findar. No período anterior a 1988 havia uma
preocupação de construir uma nova perspectiva de cidadania, em que os Direitos Humanos
fossem plenamente enfatizados.
O processo da elaboração da Carta de 1988, trouxe à tona discussões políticas nas quais
demandaram uma certa amplificação de garantias fundamentais fomentadas na cidadania e nos
Direitos Humanos. Fazendo um breve histórico das constituições anteriores à de 1988, segundo

29
Hack (2012) o Brasil desde a sua independência teve oito constituições diferentes1, sendo quatro
delas promulgadas (1892, 1934, 1946 e 1988) e quatro delas outorgadas (1824, 1937, 1967 e a
emenda constitucional 01/1969). São chamadas constituições promulgadas aquelas que passaram
por um processo de construção e aceitação democráticos. Segundo Moraes (2008) derivadas de
uma Assembleia Nacional Constituinte integrada por representantes do povo. Já as Constituições
outorgadas, se referem àquelas que são deliberadas sem a participação popular, por intermédio de
uma prescrição do poder de sua determinada época.
A Constituição do Brasil Império de 1824 é essencialmente clássica, pois segundo Lafer
(2005) dispunha apenas sobre a competência dos poderes políticos e elencava direitos voltados
para assegurar a liberdade. Já a Constituição de 1892, para o autor, em contraste com a
Constituição do império, contemplou a proibição da guerra de conquista em seu artigo 88 e o
estímulo a arbitragem em seu artigo 34, que fazia alusão a visão de Kant, a qual identificava uma
vocação pacífica na forma republicana de governo. A Constituição de 1934 como Hack (2012)
afirma, foi marcada por ser a primeira a prever direitos de caráter social e a primeira a tratar de
questões econômicas de educação, família e cultura. Além disso, estabeleceu o voto feminino e
criou a Justiça Eleitoral e os Tribunais de Contas. As demais Constituições não trouxeram
novidades. Apenas reacendiam proposições já existentes em outras, como a de 1946, ou
outorgavam regimes autoritários, como as demais.
Com o fim da ditadura militar em 1985, foi nomeada uma junta para que fosse elaborado
um pré projeto constituinte de onde originou a Assembleia Nacional Constituinte, iniciada em 1o
de fevereiro de 1987. A Assembleia Nacional Constituinte segundo Hack (2012) foi formada por
deputados e senadores, e seu texto foi aprovado em dois turnos de discussão, sendo aprovada
pela maioria deles. Foi então que, no dia cinco de outubro de 1988, a Constituição da República
Federativa do Brasil teve seu texto promulgado. Ela foi “aclamada pela maioria da doutrina
como um dos textos constitucionais mais avançados do mundo” (HACK, 2012, p. 50).

1
Sete, se não considerarmos a Emenda Constitucional de 1969.
30
4.2. O(s) Sentido(s) da Constituição de 1988
A Constituição promulgada possui diversos sentidos. Talvez o mais destacado pela
história seja o fato dela ratificar importantes tratados internacionais sobre Direitos Humanos
(PIOVESAN, 2008). A Carta Magna Brasileira incorpora a proteção dos Direitos Humanos no
âmbito do direito brasileiro como jamais aconteceu no país. Diante disso, Piovesan (2008) afirma
que dentre as principais ratificações que estão inseridos na Constituição de 1988, destacam-se

a) da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de


1989; b) da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, em 28 de setembro de 1989; c) da Convenção sobre os Direitos da
Criança, em 24 de setembro de 1990; d) do Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, em 24 de janeiro de 1992; e) do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
So-ciais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; f) da Convenção Americana de Direitos
Humanos, em 25 de setembro de 1992; g) da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995; h) do
Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Morte, em 13 de
agosto de 1996; i) do Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), em 21 de agosto de 1996;
j) da Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de Discriminação
contra Pessoas Portadoras de Deficiência, em 15 de agosto de 2001; k) do Estatuto de
Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, em 20 de junho de 2002; l) do Protocolo
Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
contra a Mulher, em 28 de junho de 2002; m) do Protocolo Facultativo à Convenção
sobre os Direitos da Criança sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados,
em 27 de janeiro de 2004; n) do Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança sobre Venda, Prostituição e Pornografia Infantis, também em 27 de janeiro de
2004; e o) do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, em 11 de janeiro de
2007 (PIOVESAN, 2008, p. 4).

Para Hack (2012), de maneira a assegurar os direitos e garantias do cidadão a


Constituição Federal vem sendo, desde a sua criação, aplicada a este fim. Importante salientar
que anteriormente, esses direitos e garantias eram suprimidos, ou seja, não eram permitidos
questionamentos dos atos estatais. Portanto, a aplicabilidade da Constituição foi um significativo
avanço em direção da proteção da dignidade humana.
O texto final, da Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, se afastou, no campo
da separação dos poderes, do anteprojeto. Ele fez retornar as antigas prerrogativas do

31
parlamento; restaurou o presidencialismo da 4ª República, reduzindo o poder de iniciativa das
leis do chefe do Executivo e tirando-lhe o manuseio do decreto-lei e do decurso de prazo. No
entanto, permitiu a este o recurso das medidas provisórias, do modelo italiano mesmo depois de
tão deploráveis abusos (PORTO, 1989, p. 365).
A Constituição brasileira de 1988 consagra os Direitos Humanos como referências
basilares de toda a legislação interna, ao garantir, logo no seu primeiro artigo a soberania, a
cidadania e a dignidade humana, como os primeiros (daí derivaria, principais) fundamentos do
estado democrático de direito brasileiro. Diz ela,

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
(Constituição de 1988) grifos meus

Em seus nove títulos, cumpre evidenciar, além do já destacado artigo primeiro, os artigos
5o ao 17o (Título II), onde se descrevem os direitos e garantias fundamentais, reunindo os
direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais, a nacionalidade e os direitos
políticos e outros. Outro importante trecho dessa Constituição, fortemente vinculado aos Direitos
Humanos é o Título VIII, Ordem Social. Neste são tratados temas referentes ao desenvolvimento
social, tais como, saúde, educação, cultura, meio ambiente, família, população indígena e outros.
Ou seja, nesse trecho fala-se do acesso à direitos. Abordaremos essa questão com vagar adiante.
Foram muitas as inovações constitucionais. E essas inovações foram extremamente
importantes dado o objetivo de expor uma imagem mais positiva do Estado brasileiro na

32
conjuntura internacional. Segundo Flávia Piovesan (2008), um marco do processo de integração
nos tratados internacionais de Direitos Humanos na Constituição, foi a ratificação da Convenção
contra a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, ocorrido em 1989.
A Constituição Federal de 1988, em seu o art. 1º, parágrafo III, deixa claro uma
referência a esses novos valores de dignidade da pessoa humana adotados através dos tratados
internacionais de Direitos Humanos. Estes acabaram por se tornar uma espécie de espinha dorsal
de todo o documento. Segundo Piovesan (2008) o valor da dignidade humana foi, nessa
Constituição, elevado ao patamar de princípio fundamental da Carta. Tudo isso faz crer que ela
efetivamente colocou em primeiro plano toda a discussão acerca da dignidade da pessoa humana,
amplamente discutida na parte 2 deste trabalho.

4.3. Características e Estruturas da Constituição de 1988


A Constituição de 1988 possui uma combinação de regimes jurídicos diferenciados: 1)
um aplicável aos tratados referentes aos Direitos Humanos e 2) outro aplicável aos demais
tratados. O primeiro apresenta hierarquia de norma constitucional e aplicação imediata. Já o
segundo apresenta hierarquia infraconstitucional e se submete a sistemática da incorporação
legislativa (PIOVESAN, 1995). Isso significa que, todas as vezes que o Brasil se torna signatário
a um tratado, pacto ou convenção com referência aos Direitos Humanos, não é necessário a
criação de uma lei para que a norma entre em vigor, como é o caso dos demais tratados.
Isso significa dizer que os documentos internacionais sobre Direitos Humanos ratificados
pelo Brasil apresentam hierarquia de norma constitucional e aplicação imediata. Os demais
tratados internacionais apresentam hierarquia infraconstitucional e se submetem à sistemática da
incorporação legislativa. A Constituição de 1988 inaugura, a partir disso, três grupos distintos de
direitos: os expressos nela; os implícitos, decorrentes de regime e dos princípios adotados pela
carta; e os expressos nos tratados internacionais, subscritos pelo Brasil. Todos eles têm nos
Direitos Humanos fonte basilar e estruturante do direito brasileiro.
Todo o princípio constitucional da Carta Magna Brasileira assenta-se nos pressupostos
democráticos. Para tanto, é necessário apresentar uma breve conceituação do que vem a ser
democracia. Winston Churchill afirmou que a democracia “é o pior dos regimes políticos exceto

33
todos os outros já experimentados" (CHURCHILL, S/D). Para além dessa assertiva do premier
inglês, a democracia é o processo de convivência social em que ocorre a afirmação da cidadania
de um povo, sendo-lhe garantidos os direitos fundamentais, mediante o exercício direto ou
indireto do poder que dele emana, e que visa seu benefício. Seus valores básicos são: liberdade e
a igualdade. Princípios básicos: soberania popular e participação do povo no poder. A
democracia brasileira engloba todos os princípios acima descritos.
Uma avaliação técnica da Constituição de 1988 pode-se dizer que ela está dividida em
nove títulos: Título I - Princípios Fundamentais; Título II - Direitos e Garantias Fundamentais;
Título III - Organização do Estado; Título IV - Organização dos Poderes; Título V - Defesa do
Estado e das Instituições Democráticas; Título VI - Tributação e Orçamento; Título VII - Ordem
Econômica e Financeira; Título VIII - Ordem Social; Título IX - Disposições Constitucionais
Gerais. Para este trabalho os principais são o título I - Princípios Fundamentais; o Título II -
Direitos e Garantias Fundamentais e por fim o Título VIII - a Ordem Social.

a) Do Título I
Em se tratando da estrutura da Constituição de 1988, no Título I, do artigo 1º ao 4º temos
os fundamentos sob os quais constitui-se a República Federativa do Brasil, como já mencionado.
Esta é definida como sendo constituída pelo poder democrático em que seus princípios estão na
dignidade da pessoa humana. Segundo Silva (1998) afirma, a dignidade da pessoa humana na
Carta de 1988 é um valor supremo.

Mas a verdade é que a Constituição lhe dá mais do que isso, quando a


põe como fundamento da República Federativa do Brasil constituída em
Estado Democrático de Direito, Se é fundamento é porque se constitui
num valor supremo, num valor fundante da República, da Federação, do
País, da Democracia e do Direito. Portanto, não é apenas um princípio
da ordem jurídica, mas o é também da ordem política, social,
econômica e cultural. Daí sua natureza de valor supremo, porque está na
base de toda a vida nacional (SILVA, 1998, p. 92).

A Carta Constitucional de 1988 afirma portanto, de maneira explícita, e como nunca na


história, a consolidação dos princípios fundamentais, tais como os direitos civis, políticos,

34
sociais, dentre outros. No artigo 1o parágrafo segundo, CF/88 se refere à cidadania como um
fundamento do Estado democrático de Direito. Nesse sentido, a cidadania está colocada aí, como
afirmam Paulo e Alexandrino (2015) como uma expressão em um sentido mais abrangente, o
que quer dizer que cabe ao poder público

oferecer condições propícias à efetiva participação política dos


indivíduos na condução dos negócios do Estado, fazendo valer seus
direitos, controlando os atos dos órgãos públicos, cobrando de seus
representantes o cumprimento de compromissos assumidos em
campanha eleitoral, enfim, assegurando e oferecendo condições
materiais para a integração irrestrita do indivíduo na sociedade política
organizada (PAULO E ALEXANDRINO, 2015, p. 94)

b) Do Título II
O Título II desta Constituição aborda os Direitos e Garantias Fundamentais, do artigo 5º
ao 17. Nestes são elencados uma série de direitos e garantias, reunidos em cinco grupos básicos e
por capítulos: Capítulo I: Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; Capítulo II: Direitos
Sociais; Capítulo III: Nacionalidade; Capítulo IV: Direitos Políticos; e Capítulo V: Partidos
Políticos. As garantias ali inseridas (muitas delas inexistentes em Constituições anteriores)
representaram um marco na história brasileira. São instrumentos de proteção do indivíduo frente
à atuação do Estado. Basicamente, direito fundamental é direito protetivo. São direitos que
garantem o mínimo necessário para que um indivíduo exista de forma digna dentro de um
Estado.
Portanto, a dignidade da pessoa humana como pré-requisito mínimo para uma vida em
sociedade, dentro de um Estado, não está assegurada se há incongruências que “ferem” os
preceitos dos Direitos e Garantias Fundamentais. Como afirma Silva (1998)

Não é concebível uma vida com dignidade entre a fome, a miséria e a


incultura", pois, a "liberdade humana com freqüência se debilita quando
o homem cai na extrema necessidade", pois, a "igualdade e dignidade
da pessoa exigem que se chegue a uma situação social mais humana e
mais justa. Resulta escandaloso o fato das excessivas desigualdades
econômicas e sociais que se dão entre os membros ou os povos de uma
35
mesma família humana. São contrários à justiça social, à eqüidade, à
dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional" (SILVA,
1998, p. 93)

Pode-se então dizer, que esse segundo título da Constituição Federal, está contida um dos
artigos mais citados e estudados na política, no direito, na sociologia, dentre outros: o art. 5o, que
fala claramente sobre esses aspectos. Mas não é somente no art 5o da Constituição que se pode
encontrar algo sobre direitos e garantias fundamentais, mas ao longo de toda a Constituição, se
fala exaustivamente, mas sem que se corra o risco que que um artigo apenas, como por exemplo
o 5o, anule os demais, conforme dito do parágrafo II desse mesmo artigo.
Fazendo uma breve análise dos termos, direitos e garantias não são palavras sinônimas.
Ambos são fundamentais, ligados a questão da dignidade da pessoa humana, essenciais a
existência do indivíduo de forma digna. O direito nada mais é do que um benefício oferecido à
pessoa pelo Estado. Ou seja, o Estado reconhece algo como existente e literalmente preserva,
respeita. Pode-se dizer, segundo Cavalcante Filho (S/D)

Com base nisso, poderíamos definir os direitos fundamentais como os


direitos considerados básicos para qualquer ser humano,
independentemente de condições pessoais específicas. São direitos que
compõem um núcleo intangível de direitos dos seres humanos
submetidos a uma determinada ordem jurídica (CAVALCANTE
FILHO, S/D, p. 06 ).

Já a garantia pode ser entendida como uma ferramenta que foi criada para assegurar a
realização de direitos que estão previstos pela lei. Então, quando se tem um direito, e esse direito
precisa ser protegido e assegurado com o objetivo ser preservado, e atender o seu propósito
máximo que é o reconhecimento e o respeito à essa declaração, têm-se como instrumento de
efetivação, a chamada garantia.
Portanto, como afirma Paulo e Alexandrino (2015, p. 100)

As garantias fundamentais são estabelecidas pelo texto constitucional como


instrumentos de proteção dos direitos fundamentais. As garantias possibilitam que os
indivíduos façam valer, frente ao Estado, os seus direitos fundamentais. Assim, ao

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direito à vida corresponde a garantia de vedação à pena de morte; ao direito à liberdade
de locomoção corresponde a garantia do habeas corpus; ao direito à liberdade de
manifestação do pensamento, a garantia da proibição da censura etc.

Ou seja, as garantias defendem hoje os direitos consagrados pelo Estado, mas que não
estão sendo respeitados pelo poder público.

c) Do Título III
Da Ordem Social, nome dado ao Título VIII, temos do artigo 193 ao 232 tratados os
temas relacionados ao bom convívio e desenvolvimento social do cidadão, como deveres do
Estado, a saber: Saúde (Seguridade Social e Sistema Único de Saúde); Educação, Cultura e
Desporto; Ciência e Tecnologia; Comunicação Social; Meio Ambiente; Família (incluindo nesta
acepção crianças, adolescentes e idosos); e populações indígenas. A ordem social logrou uma
importância jurídica, principalmente em meados do século XX, sendo seus precursores, a
Constituição Mexicana e a Constituição alemã Weimar.
Em 1934, o Brasil também comportou essa ordem social e econômica, uma vez que,
anteriormente, na Constituição de 1924, a Constituição brasileira estava baseada em ideais mais
liberais. Já na Constituição de 1988, como afirma Denilson Bertolaia e Massimo Palazzolo
(2016) “especificaram-se essas ordens sob títulos próprios: Dos Direitos Sociais (Cap. II, Título
II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais) e Ordem Social (Título VIII)”. (BERTOLAIA e
PALAZZOLO, 2016, p. 285).
Para Silva (1998), o objetivo do título da ordem social nada mais é do que o primado do
trabalho e também o bem estar social e as justiças sociais e, mais ainda, a ordem social é uma
extensão do núcleo fundamental da constituição acerca da proteção ao ser humano, ou seja, os
direitos sociais, tem uma extensão de proteção no título ordem social na constituição. Isso
significa que por razão disso, a ordem social nada mais é do que uma extensão dos direitos
fundamentais previsto do título 2 da constituição. A ideia ali é valorizar o trabalho humano, mas
ao mesmo tempo também preservar a livre iniciativa, e isso traz um equilíbrio às relações sociais
ou seja, garantir às pessoas uma existência digna.

37
Seguridade social foi uma das mais relevantes modificações na Carta de 1988. Portanto,
para Guilherme Delgado, Juliana Jaccoud e Roberto Passos Nogueira,

A Constituição Federal (CF) ampliou a cobertura do sistema


previdenciário e flexibilizou o acesso aos benefícios para os
trabalhadores rurais, reconheceu a Assistência Social como política
pública não contributiva que opera tanto serviços como benefícios
monetários, e consolidou a universalização do atendimento à saúde por
meio da criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, a
Seguridade Social articulando as políticas de seguro social, assistência
social, saúde e seguro-desemprego passa a estar fundada em um
conjunto de políticas com vocação universal. nos termos que dispõe a
constituição nada mais é do que a soma de três esferas. Atuação na
chamada assistência social; a previdência social; e a saúde. Sendo uma
diferente da outra, mas uma servindo a outra (DELGADO, JACCOUD
e NOGUEIRA, S/D, p. 17)2.

Nesse sentido, a seguridade social como garantidora de todo um sistema para a sociedade
e preserva o aspecto da saúde, o aspecto da previdência e o aspecto da assistência, do auxílio
social. No Art. 194, traz quais os princípios que regem a chamada seguridade social no Brasil
que é pode ser entendida como um conjunto de ações do poder público, não só vinculado a união
mas a todas as esferas da federação em âmbito nacional e municipal está pautado nos seguintes
princípios: I - princípio da universalidade, da cobertura e de atendimento: significa que todas as
pessoas indistintamente têm direito ou seja, tem acesso e isto vai ser custeado e arcado pelo
Estado, à saúde, à previdência, e a assistência social. II - o princípio da uniformidade e
equivalência dos benefícios e serviços. Tanto em âmbito urbano quanto em âmbito rural não é
possível retirar, privar ou privilegiar urbano ou rural quanto à proteção da seguridade social
(equivalência dos benefícios). III - Princípio da seletividade e distributividade dos benefícios e
serviços: na prestação dos benefícios e serviços da seguridade social, ou seja, vamos atingir o
maior nível possível de pessoas necessitadas e vamos priorizar o atendimento a elas distribuindo

2
Disponível em
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4347/1/bps_n17_vol01_seguridade_social.pdf, 17//02/2017,
20:50h.
38
serviços e benefícios à todos aqueles que precisem do auxílio do Estado para viver de forma
digna nessa sociedade.
É por essa razão que os benefícios da assitência social não são pagos à todos os
indivíduos da sociedade. Só deve receber os benefícios quem precisa. Permitir que todos tenham
acesso e possam ter o direito a saúde assistido em todas as medidas pelo Estado. Esses direitos,
muitos deles são de 2a geração, aplicados ao coletivo.

Por fim, resta apresentar as Dimensões dos Direitos Fundamentais, relevantes para a
constituição da Carta Magna ora avaliada. Essas dimensões iniciam-se com os Ideais da
Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. A primeira dimensão é consagradora de
direitos civis e políticos, porque o enfoque da proteção desses direitos é a liberdade do indivíduo.
Então o que se tutela aos direitos de primeira dimensão é a liberdade do indivíduo, as chamadas
liberdades clássicas. Direito à vida, à existir, à liberdade, à segurança à propriedade, etc. A ideia
é que o estado não interfira, protegendo o indivíduo da condição de ser o que ele é. Estado
liberais, que se abstém de intervir na vida da pessoa. Nessa fase o Estado não tem políticas
públicas para a atuação nesse contexto social.
Na segunda dimensão, a atuação do Estado, ao contrário da primeira dimensão, é ativa,
ou seja, garante o mínimo necessário para que o indivíduo possa usufruir dos direitos. Portanto,
nessa fase, há uma Propiciação de condições mínimas que incluem os indivíduos num contexto
social e proporcionam a eles condições mínimas para que eles possam exercer plenamente os
seus direitos de primeira dimensão (de liberdade). A segunda dimensão tem seu auge no início
do século XX onde se observa uma efetivação de direitos sociais e econômicos. O Estado Social
é ativo, no que se refere ao bem estar social. Pode-se dizer portanto que é uma dimensão de
movimentos proletariados socialistas.
A terceira dimensão se constitui por um Estado fraternal, solidariedade global. Suas
principais características são os Direitos difusos e transindividuais de Amplitude maior onde não
se restringe ao indivíduo. São Direitos que atingem a todos, e não apenas ao indivíduo. O seu
período se dá após segunda guerra mundial.

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4.4. Avaliação Geral da Constituição de 1988

Para este trabalho, foi lida a Constituição e elaborada a tabela abaixo:

Tabela 1: Termos associados aos Direitos Humanos e à Cidadania na Constituição de 1988

Termo Quantidade

Liberdade 15

Igualdade 9

Direitos Humanos 7

Cidadania 4

Direitos 126
Fonte: Planalto, 2018.

As palavras Liberdade e Igualdade ora mencionadas acima tem íntima ligação com
Direitos Humanos e Cidadania, como foi descrito nas partes anteriores. A liberdade, termo
basilar da democracia, está associada à igualdade, consciência, crença, associação, imprensa,
reunião, informação e educação na Constituição. Já o termo igualdade está associada à relação
entre os estados, trabalho, condições, tarifas, relação processual. Diz-se também da redução das
desigualdades, inter-regionais, regionais e sociais.
Associa diretamente a cidadania, encontra-se questões como a gratuidade das ações de
habeas corpus e habeas data, direitos políticos, nacionalidade, direito eleitoral, educação,
qualificação para o trabalho.

Já o termo Direitos associa-se, dentre outros, às garantias fundamentais, aos deveres


individuais e coletivos, crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, contra a
ilegalidade ou abuso de poder, defesa, liberdades fundamentais, suspensão, interdição, preso,
liberdades constitucionais, direitos sociais, trabalhadores urbanos e rurais, indenização, direitos

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políticos, direitos individuais, interesses coletivos ou individuais, nacionalidade, direitos civis,
recurso, uso dos recursos hídricos, tributário, financeiro, penitenciário, econômico, urbanístico,
valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, livre associação sindical, greve,
indenização, direito público, direitos e garantias individuais, eleitoral, penal, à intimidade,
capacidades econômicas, precedência, indígena, segurança pública, responsabilidade, privado, a
todos, culturais, meio ambiente, mulheres, previdenciário, crianças e adolescentes, à vida,
interesses, pensão.
A partir da identificação dos termos na Carta, foi criada uma nuvem de palavras com o
aplicativo Tagcrowd (https://tagcrowd.com/) para avaliação de quantas e quais as palavras mais
são mencionadas, associadas aos Direitos Humanos e à Cidadania. A quantidade se verifica pelo
tamanho e intensidade com que as palavras aparecem. Nesse sentido, é possível perceber que as
palavras acima mencionadas e associada as duas temáticas deste trabalho estão intimamente
ligadas à justiça, república, público, união, princípios, educação, defesa, lei, ordem, social e
outras.

Nuvens de Palavras 1: trechos que abordam as palavras mencionadas na tabela 1

Fonte: Planalto, 2018.

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Por fim, cumpre salientar, que a letra da lei está em conformidade com todos os
princípios e pressupostos teóricos ora apresentados neste trabalho. No entanto, é necessário
verificar a prática dos mesmos. Mas esse é outro trabalho.

42
Conclusão

O presente trabalho teve como objetivo fazer uma análise da Constituição Federal de
1988, através de um estudo bibliográfico e documental. Tal análise tinha por norte os
pressupostos da cidadania e dos Direitos Humanos dentro do texto da constitucional. O primeiro
aspecto abordado, foi a conceituação e a história da cidadania, tratando do seu desenvolvimento
teórico/histórico, tanto no âmbito Nacional quanto no âmbito internacional. O segundo aspecto,
apresentou as variadas discussões acerca do desenvolvimento do debate acerca dos Direitos
Humanos. O norte para este debate foi a discussão do conceito a partir do termo dignidade
humana. Este é um termo extremamente importante para as análises feitas, uma vez que a
dignidade humana é um pressuposto da Carta de 1988 e de toda construção do que veio a ser
basilar para os Direitos Humanos.
Na parte 3, a cidadania e os direitos humanos são aproximados numa tentativa de
construir as semelhanças e contextos sociais/históricos, mas também as diferenças no que se
refere à conceituação. Tudo isso para tentar demonstrar que na atualidade cidadania e Direitos
Humanos têm sido associados e construído uma conceituação de cidadania para além do Estado
Nacional. Na quarta parte abordou-se os vários aspectos que tangem a Constituição Federal de
1988, desde a sua elaboração, até as principais características dessa constituição. Essa Carta é até
nos dias atuais consideradas como uma exemplo de Constituição Cidadã, pois ele é resultado de
inúmeras demandas populares.
Uma das principais características dessa Carta é a ratificação de tratados internacionais
sobre Direitos Humanos. Também, a ênfase dada aos direitos sociais que, como foi demonstrado,
está totalmente atrelado à dignidade da pessoa humana. Em todo o projeto constitucional, a Carta
relembra o povo, que ele tem sim o poder. Poder esse que nenhum governo autoritário/totalitário
pode (ou pelo menos não deveria) corromper. Quanto ao exercício de cidadania, a Constituição
mostra claramente que no nosso país existe, pelo menos no papel, a possibilidade do exercício
pleno da mesma, ainda que de algum maneira nossos direitos não estejam sendo efetivados na
prática, nós temos garantido constitucionalmente a liberdade de exigi-los.

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O propósito aqui não é colocar a CF/88 como um documento perfeito, e nem tão pouco se
ter a ilusão de que ele é plenamente colocado em prática. Todos nós sabemos que não é o que
ocorre de fato, e ainda há um longo caminho a ser percorrido para que isso ocorra. Mas há aqui
um esforço para que se perceba, frente as atrocidades que a sociedade sofreu e sofre, os alcances
de importante documento legal. Pode-se dizer que a Constituição assegura o mínimo necessário
para que uma pessoa possa pelo menos viver dignamente na sociedade brasileira. E isso, inclui
os aspectos que tangem os direitos humanos, a dignidade da pessoa humana, e a cidadania.

44
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