Sunteți pe pagina 1din 50

17

PRESÍDIO DE MURIAÉ
SUBSECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL - SUAPI

Max Willian Alves Barbosa

VIDA & OBRA DE PIO SOARES CANÊDO: UM MURIAEENSE QUE HONROU


MINAS, UM MINEIRO QUE DIGNIFICOU O BRASIL

Muriaé
2009
27

Max Willian Alves Barbosa

VIDA & OBRA DE PIO SOARES CANÊDO: UM MURIAEENSE QUE HONROU


MINAS, UM MINEIRO QUE DIGNIFICOU O BRASIL

Monografia apresentada à Secretaria de


Estado de Defesa Social (SEDS) como
requisito na participação do concurso que
visa premiar trabalhos monográficos sobre a
vida e obra dos patronos dos estabeleci-
mentos prisionais em Minas Gerias desen-
volvidos por agentes penitenciários atuantes
nas Unidades do Estado.

Orientador: Valdiney Nunes Mariano

Muriaé
2009
37

Dedico este trabalho aos meus


familiares e à família Canêdo tão digna
do apreço de seu povo e da admiração
de sua terra.
47

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, princípio e fim de tudo, o Alfa e o


Ômega, entidade sagrada que nos concedeu a dádiva da vida, a inteligência e a
sabedoria para que possamos alcançar os nossos objetivos.
Aos insignes diretores do Presídio de Muriaé e a todos os agentes de
segurança penitenciário, sem exceção, pela gratificante e inesquecível convivência
bem como os demais funcionários que proporcionam à Unidade onde estou lotado
um ambiente harmônico e familiar.
Aos familiares do saudoso Pio Soares Canêdo em especial seus filhos
Auta Isla, Pio Júnior e Maria Cândida, sua sobrinha Srª. Eudóxia Canêdo e sua
sobrinha-neta Márcia Canêdo Bizzo pelo apoio e pela contribuição no
desenvolvimento deste trabalho.
Por fim, agradeço aos meus familiares que se dispuseram em ajudar-me
no que podiam e por depositarem em mim a confiança de ser alguém obstinado a
vencer. Agradeço aos meus pais, aos meus avós, aos meus tios e irmãos.

Max Willian Alves Barbosa


Outubro de 2009
57

“(...) Não é a altura, nem o peso, nem


os músculos que tornam uma
pessoa grande... é a sua
sensibilidade sem tamanho...”

William Shakespeare
vi67

RESUMO

BARBOSA, Max Willian Alves. VIDA & OBRA DE PIO SOARES CANEDO: UM
MURIAEENSE QUE HONROU MINAS, UM MINEIRO QUE DIGNIFICOU O BRASIL.
2009. 49f. (Monografia apresentada ao concurso de trabalhos monográfico sobre a vida e
obra dos patronos dos estabelecimentos prisionais de Minas Gerais). PRESÍDIO DE
MURIAÉ - SUBSECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL - SUAPI – Muriaé-MG.1

Nascido em Muriaé, na Zona da Mata mineira, aos 21 de agosto de 1909, Pio Soares
Canêdo, foi uma personalidade ímpar que insculpiu o seu nome na história política de
Minas e do Brasil. Advogado, vereador, prefeito, deputado, líder partidário, ex-
governador, presidente e vice-presidente de instituições renomadas e órgão de
competências como Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE), Fundação João
Pinheiro, Fundação Israel Pinheiro, Conselho Nacional de Política Penitenciária
(CNPP), membro da Academia Barbacenense de Letras, conselheiro nato, esposo
dedicado e pai exemplar de quatro filhos, o insigne mineiro, falecido na noite de
sábado do dia 21 de agosto de 1999, em Ouro Preto, onde comemorava com a família
o dia do seu 90º aniversário, tem o seu nome até os dias de hoje exaltado. Sua
ascensão política não ocorreu apenas pelo largo prestígio que desfrutava em sua
região por descender de uma família nobre, mas sim pelo seu passado impoluto, de
assinalados serviços público prestados à comunidade mineira. Nesta senda, o escopo
deste trabalho consiste em prestar tributo ao patrono da Unidade Prisional de Pará de
Minas digno do apreço de seu povo e da admiração de sua terra e proporcionar
concomitantemente junto à Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), um
envolvimento mais profundamente dos agentes de segurança penitenciário com a
história dos patronos dos estabelecimentos penais onde estão lotados.

Palavras-chave: Agentes de Segurança Penitenciário, Patronos, Sistema Prisional,


Muriaé, Pio Soares Canêdo.
________________________
1
Orientador: Valdiney Nunes Mariano – Diretor-geral do Presídio de Muriaé - Muriaé-MG.
vii77

ABSTRACT

BARBOSA, Max Willian Alves. LIFE AND WORK OF PIO SOARES CANEDO: A
MURIAEENSE HONORED TO MINAS, A MINEIRO WHO DIGNIFY BRAZIL. 2009.
49f. (Monograph presented to the contest of monographic work on the life and work
of the patrons of the prison in Minas Gerais). PRISON OF MURIAÉ -
SUBSECRETARIAT FOR ADMINISTRATION PRISON - SUAPI - Muriaé-MG.1

Born in Muriaé, in the Zona da Mata, Minas Gerais, on 21st August 1909, Pio Soares
Canêdo, was a unique personality to inscribe his name in the political history of
Minas Gerais and Brazil. Lawyer, alderman, mayor, deputy, party leader, former
governor, president and vice president of renowned institutions and national powers,
such as Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE), João Pinheiro Foundation,
Israel Pinheiro Foundation, Conselho Nacional de Política Penitenciária (CNPP), a
member of the Academy of Arts Barbacenense, born counselor, devoted husband
and father of four children, the famous miner, died Saturday night of August 21,
1999, in Ouro Preto, where he was celebrating with family the day of his 90th
birthday, his name until the day exalted. His political rise has not occurred just off the
prestige it enjoyed in its region by descent from a noble family, but by his
unblemished past, marked the public service rendered to the mining community. In
this vein, the scope of this work is to pay tribute to the patron Prison Unit Pará de
Minas worthy of appreciation of his people and the admiration of their land and
provide concurrently with the State Department of Social Defense (SEDS), greater
involvement deep security officers with prison history of patrons of the penal
institutions where they are crowded.

Keywords: Agents Security Penitentiary, Patrons, the Prison System, Muriaé city,
Pio Soares Canêdo.
________________________
1
Guiding: Valdiney Nunes Mariano – General Director of Prision of Muriaé - Muriaé-MG.
viii87

LISTA DE ABREVIATURAS & SIGLAS

ARENA: Aliança Renovadora Nacional

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

BEMGE: Banco do Estado de Minas Gerais

JK: Juscelino Kubitschek

MG: Minas Gerais

PFL: Partido da Frente Liberal

PSDB: Partido da Social Democracia Brasileira

PDS: Partido Democrático Social

PRM: Partido Republicano Mineiro

PTB: Partido Trabalhista Brasileiro

PSD: Partido Social Democrata

SEDS: Secretaria de Estado de Defesa Social

TRE-MG: Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais

UDN: União Democrática Nacional

UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais


ix97

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Página

FIGURA 1 - Pio Soares Canêdo cursando o ginásio no Colégio Santa Rosa em


Niterói entre 1922 e 1925 ......................................................................6

FIGURA 2 - Casa de propriedade da Família de Pio Canêdo em Barbacena, on-


de o mesmo morou quando voltou de Niterói e antes de ir para Belo
Horizonte .................................................................................................7

FIGURA 3 - Pio Soares Canêdo em sua Formatura na Faculdade de Direito em


Belo Horizonte no ano de 1931.............................................................9

FIGURA 4 - Pio Soares Canêdo em sua Formatura na Faculdade de Direito em


Belo Horizonte no ano de 1931.............................................................9

FIGURA 5 - Pio Soares Canêdo jovem em Barbacena......................................... 10

FIGURA 6 - Pio Soares Canêdo (à direita da foto sentado à mesa) como Verea-
dor em Muriaé no ano de 1936 .......................................................... 13

FIGURA 7 - Comício em Muriaé para a candidatura de Tancredo Neves a Go-


vernador do Estado ............................................................................. 15

FIGURA 8 - Pio Canêdo ladeado de Tancredo Neves (candidato à Governador


do Estado de Minas) em comício na cidade de Muriaé ................... 16

FIGURA 9 - Chegada de Pio Canêdo (Vice-Governador) junto de Israel Pinheiro


(Governador) no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte aos 31 de
janeiro de 1966 .................................................................................... 17
10
x7

FIGURA 10 - Pio Canêdo com a esposa Maria Ângela, ladeada de Israel Pinheiro,
em comemoração solene ao empossar-se do cargo de Vice-
Governador do Estado em Belo Horizonte ....................................... 18

FIGURA 11 - Pio Soares Canêdo junto à primeira esposa Sr a. Mazília Gontijo ... 21

FIGURA 12 - Pio Soares Canêdo com a esposa Maria Ângela, todos os filhos e 2
netos em sua residência em Belo Horizonte .................................... 22

FIGURA 13 - Pio Soares Canêdo: foto do acervo histórico da Assembleia Legis-


lativa de Minas Gerais......................................................................... 27

FIGURA 14 - Grande Hotel Muriahé reformado e denominado por vez como Cen-
tro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo (maio de
2009) .................................................................................................... 30

FIGURA 15 - Grande Hotel Muriahé reformado e denominado por vez como Cen-
tro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo (maio de
2009) .................................................................................................... 30
117

SUMÁRIO

Página

RESUMO................................................................................................vi

ABSTRACT...........................................................................................vii

LISTA DE ABREVIATURAS & SIGLAS .............................................. viii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES .....................................................................ix

INTRODUÇÃO ........................................................................................1
1.1 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ................................................................... 3

2 PRIMÓRDIOS DA VIDA DE PIO SOARES CANÊDO: DO NATALÍ-


CIO AO INGRESSO POLÍTICO ..............................................................4
2.1 DO ENSINO PRIMÁRIO AO BACHARELADO: UMA ABORDAGEM SO-
BRE A VIDA ACADÊMICA DE PIO CANÊDO E EVENTUALIDADES OCORRIDAS5

2.2 O RETORNO ÀS ORIGENS E O EMBRACAR DO ADVOGADO PARA O


CENÁRIO POLÍTICO DE MURIAÉ E MINAS ............................................................. 9

3 POLÍTICA QUE CORRE NAS VEIAS: PARTICULARIDADES SO-


BRE A FAMÍLIA DE PIO CANÊDO ......................................................12

4 A CARREIRA TRIUNFAL DE PIO SOARES CANÊDO NO CENÁRIO


POLÍTICO .............................................................................................13

5 ASPECTOS GERAIS SOBRE A FAMÍLIA DE PIO SOARES


CANÊDO ...............................................................................................21

6 FATOS E EVENTOS CURIOSOS OCORRIDOS NA VIDA DO


ESTADISTA MINEIRO ..........................................................................23
127

6.1 O MINEIRO QUE PERDEU O “NAVIO” ....................................................... 23

6.2 O LEGADO DE FRANCISCO MENDES PIMENTA ..................................... 24

6.3 UMA CAUSA DE REPERCUSSÃO .............................................................. 24

7 O FIM DA VIDA DO BENQUISTO MINEIRO PIO CANÊDO ............26

8 MEMÓRIAS PÓSTUMAS AO DR. PIO CANÊDO: FIGURA ÍNCLITA


DE NUMEROS PREDICADOS .............................................................28

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................35


13
17

INTRODUÇÃO

Mineiro natural de Muriaé, Pio Soares Canêdo, foi uma personalidade ímpar
de benevolência inegável e conspicuidade inquestionável. Alinhando-se entre as
figuras de maior vulto da política estadual, Doutor Pio, como era conhecido e tratado
pelos correligionários, amigos e companheiros do antigo Partido Social Democrata
(PSD), foi um político tão digno e ilustre, que faz com que muitos mineiros e
muriaeenses, em especial, se enchem de orgulho em ter como conterrâneo um
homem como o tal, cidadão emérito de muitas virtudes que honrou o estado e
dignificou o Brasil.
Sua ascensão política não ocorreu apenas pelo largo prestígio que desfrutava
em toda a Zona da Mata, mas, principalmente, pelo seu passado impoluto, de
assinalados serviços público prestados à comunidade mineira. Dr. Pio trouxe para a
administração pública de sua cidade aqueles legítimos e reconhecidos predicados
de honradez, clarividência e operosidade, que marcaram a passagem de sua estirpe
pelos mais altos postos do regimento dos serviços públicos Municipal e Estadual, e,
mais ainda, os dotes de caráter e magnitude de seu coração, sobrelevantes em sua
personalidade de cidadão e de homem público, sempre a serviço do povo. Destarte,
as magníficas qualidades que sempre repontaram de sua hombridade, chamaram-
no a exercer as mais elevadas investiduras, na administração de seu estado natal1.
Por sua notável carreira, o político possui sobejas razões para ser lembrado.
Seu falecimento foi lamentado por muitos e os jornais de quase todo o Estado
noticiaram com grande lástima sua morte em matérias de página inteira, pois Minas
Gerais perdera o último representante do velho jeito mineiro de fazer política: com
seriedade, fidelidade partidária, respeito aos companheiros e serenidade. Pio
Canêdo tornou-se uma figura memorável na história e faz jus às inúmeras
homenagens prestadas, e isto, não ocorre somente por seus numerosos feitos, mas
por sua dignidade de comportamento e caráter.

1
REVISTA ACAIACA. Número especial dedicado ao centenário de Muriaé. Dr. Pio Soares Canêdo. Belo
Horizonte, 1955, p. 22-23.
14
27

Arlindo Porto, Senador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) lamentou a


morte de Dr. Pio e em sua homenagem póstuma afirmou: “Minas e o mundo político
perdem um luminar, um exemplo (...).”2 Nas palavras de Fábio Doyle, jornalista
pertencente à Academia Mineira de Letras, “Ninguém, que eu tenha conhecido, foi
mais mineiro na atividade política, no que ela tem de mais nobre, do que Pio
Canêdo.”3 Todavia, as homenagens prestadas ao estadista mineiro não se encerram
em palavras e pronunciamento, pois o mesmo é memorizado e imortalizado com o
seu nome estampado em ruas, praças, construções e instituições diversas. Em
2003, por exemplo, o Governador Aécio Neves, prestou sua homenagem ao
benquisto político levando à Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais o
projeto de Lei de n° 1.257/2003, que dava a denominação de Penitenciária Doutor
Pio Soares Canêdo ao Estabelecimento Penal localizado no Município de Pará de
Minas4. Mais do que justo, no ano seguinte, em 2004, o projeto de autoria do
Governador do Estado, foi aprovado e assim se faz mais um entre os vários preitos
rendidos ao distinto político.
Na auspiciosa data em que comemorou-se o centenário de seu natalício, Pio
Canêdo foi lembrado por muitos e lamentado por tantos outros ao mesmo tempo,
pois sua memória fora recordada com certa angústia pelo fato de as pessoas
sentirem desaparecer do panorama humano do poder público no Brasil homens de
sua inteireza. Ocupando a tribuna da Câmara dos Deputados para homenagear o
centenário de nascimento do político, o Deputado José Santana durante o seu
pronunciamento lembrou que Pio soube agigantar-se na modéstia, na simplicidade e
na ousadia, marcando todas as suas posições políticas como homem de bastidores,
de poucos discursos e muita ação, capaz de refletir com sabedoria, habilidades e
segurança, para decidir com isenção, ética e justiça5.
Homem de formação moral requintada, coração de inexcedível
magnanimidade e espírito de extremo devotamento, Pio Canêdo é merecedor de
todo o apreço de seu povo e de toda a admiração de sua terra, nesta senda, o
2
PORTO, Arlindo. Homenagem de pesar ao político mineiro Pio Soares Canêdo, falecido no último dia 21.
Brasília: Senado Federal, 25 ago. 1999. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronuncia
mento/detTexto.asp?t=248427>. Acessado em 10 de out. 2009.
3
DOYLE, Fábio. Recordando Pio Canêdo. Diário da Tarde, Belo Horizonte, 10 ago. 1998. p. 2.
4
ASSEMBLEIA DE MINAS. Diário do Legislativo. Lei de n° 1.257/2003. Belo Horizonte: 16 abr. 2004.
Disponível em: <http://www.almg.gov.br/dia/A_2004/04/L160404.htm>. Acessado em: 12 out. 2009.
5
DEPUTADO José Santana homenageia Pio Soares Canêdo. Belo Horizonte, 09 set. 2009. Disponível em:
<http://www.deputadojosesantana.com.br/noticia3.asp?CodNoticia=367>. Acessado em: 6 out. 2009.
15
37

escopo deste trabalho consiste em homenagear o insigne político muriaeense que é


patrono da Unidade Prisional de Pará de Minas e proporcionar concomitantemente
aos agentes penitenciários do Estado e demais interessados a oportunidade de
conhecerem e se envolverem mais profundamente com a história do patrono do
estabelecimento onde estão lotados. Apresentada à Secretaria de Estado de Defesa
Social (SEDS), o presente estudo é também exibido como requisito na participação
do concurso que visa premiar trabalhos monográficos sobre a vida e obra dos
patronos dos estabelecimentos prisionais em Minas Gerais desenvolvidos por
agentes penitenciários que labutam nas diversas Unidades do Estado.

1.1 TRAJETÓTIA METODOLÓGICA

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, fez-se necessário utilizar


algumas técnicas de pesquisa cuja finalidade se encerra em obter informações
sobre a vida e obra de Pio Soares Canêdo, deste modo foi desenvolvida uma
pesquisa histórica6 que é definida ainda como exploratório-descritiva de acordo com
os seus objetivos e bibliográfica de acordo com os procedimentos técnicos
adotados7. O estudo é assim caracterizado, pois almeja-se familiarizar-se com tema
proposto envolvendo levantamento bibliográfico, entrevistas despadronizada 8,
correspondências eletrônicas (e-mails) e conversações telefônicas com os entes do
político muriaeense com vista na elucidação de particularidades sobre o mesmo.
Com o fim de tornar a investigação e o desenvolvimento deste estudo úbere,
foram empregadas atividades e utilizadas técnicas padronizadas de coleta de dados
que assume neste caso a forma de levantamento elaborado a partir da utilização de
materiais publicados ou não como livros, jornais, revistas, artigos de periódicos,
conteúdos disponibilizados na internet e documentos pessoais tais como fotos,
imagens, certificados, diplomas, menções honrosas, etc.

6
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004,
passim.
7
SILVA, Lúcia Edna; MENEZES, Estela Muszakt. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação. 3. ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001, p. 21.
8
Neste tipo de entrevista não é exigido uma rigidez no seu roteiro e algumas questões podem ser
exploradas de forma mais ampla e produtiva. Contudo, não foram descartados tampouco desconsiderados
os procedimentos éticos e legais adotados nas pesquisas com seres humanos conforme Resolução nº.
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS).
16
47

2 PRIMÓRDIOS DA VIDA DE PIO SOARES CANÊDO: DO


NATALÍCIO AO INGRESSO POLÍTICO

Nascido em Muriaé, na Zona da Mata mineira, aos 21 de agosto de 1909, Pio


Soares Canêdo era filho de Afonso Augusto da Silva Canêdo e Maria Soares
Canêdo. Seu pai descendia do Juiz de Direito e, mais tarde, Desembargador Antônio
Augusto da Silva Canêdo e da digníssima Eudóxia Canêdo de Oliveira Pena. De
família com raízes em Portugal e oriundos de Barbacena, Dr. Antônio Augusto
Canêdo juntamente com a esposa, que ainda eram primos, vieram à cidade, pois Dr.
Antônio Augusto Canêdo fora nomeado Juiz de Direito – o primeiro juiz nomeado da
Comarca de São Paulo do Muriahé, em 1862. Embora radicados nesta cidade, a
família Canêdo jamais deixou de manter relações afetivas com sua terra de origem,
Barbacena. Quanto à mãe de Pio, esta provinha de fazendeiros e nascera em um
distrito de Muriaé9,10.
Afonso Augusto da Silva Canêdo e Maria Soares Canêdo tiveram seis filhos:
Affonso Augusto Canêdo Filho, Carolina Soares Canêdo, Antônio Soares Canêdo,
José Soares Canêdo e Maria Isabel Soares Canêdo11. Pio Canêdo foi o quinto filho
do casal e foi assim batizado como uma forma de homenagear o Dr. Pio Alves
Pequeno, médico em Barbacena, muito amigo de seu pai que era inclusive, casado
com sua prima12.
Segundo relatos, Pio Canêdo teve uma convivência muito harmônica e
afetuosa com os pais. Concernente ao relacionamento com os avós, conviveu
apenas com D. Carolina Soares da Silva, sua avó materna, pois os demais já
haviam falecido quando nascera. Seus pais preocupavam-se muitíssimo com a
educação dos filhos. Formado em contabilidade em Juiz de Fora e atuando como
comerciante de café, comprando e exportando, o Sr. Afonso Canêdo, pai de Pio

9
REVISTA ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
10
SILVA, Auta Isla Canêdo Gonçalves (filha do estadista mineiro Pio Soares Canêdo). Pio Canêdo
[mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <aicgs@hotmail.com> em: 27 out. 2009.
11
MURIAÉ. Fundação de Cultura e Artes de Muriaé (FUNDARTE) - Assessoria de Comunicação: Centro
Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo. Pio Soares Canêdo. (microfilme). Muriaé, 29 mai.
2009, 5 min. 22 s. son. color.
12
MINAS GERAIS. Assembléia Legislativa: Pio Soares Canêdo. Belo Horizonte: Assembléia Legislativa
do Estado de Minas Gerais, 1996, p. 21.
17
57

Canêdo sustentava a família e juntamente com esposa, fizeram tudo para que os
filhos estudassem e pudessem em decorrência disto, vencer na vida 13.
A meninice de Pio foi inteiramente vivida em Muriaé, e com os outros garotos
mantinha um relacionamento aprazível. Perto de sua casa havia uma travessa que
fora transformada em um campo de futebol onde Pio Canêdo reunia-se com os
meninos da vizinhança para se divertirem. Pelo fato de ser o dono da bola, o
pequeno Pio era quem constituía e liderava o seu time. Em suma, durante todo o
tempo em que esteve na cidade, teve uma vida muito ativa e agradável 14.

2.1 DO ENSINO PRIMÁRIO AO BACHARELADO: UMA ABORDAGEM SOBRE


A VIDA ACADÊMICA DE PIO CANÊDO E EVENTUALIDADES OCORRIDAS

Aos sete anos de idade, Pio Canêdo deu início aos estudos no grupo Escolar
Silveira Brum em sua terra natal. Após a conclusão do ensino primário, cursou o
secundário no Colégio Salesiano Santa Rosa em Niterói-RJ15. Arguido pelos
historiadores Sílvia Barata de Paula Pinto e Hugo Antônio Avelar16, sobre a vivência
no ambiente escolar de Niterói e da influência do sistema neste sobre os alunos
principalmente ao mineirinho, Pio Canêdo, o mesmo respondeu que os professores
eram em sua maioria internos e padres que relacionavam muito bem com os seus
alunos e o tratamento dispensado aos mesmos era muito amistoso. “Na hora do
recreio, jogavam futebol conosco.”17 Pio Canêdo relatou ainda que:

Naquela época, o regime seguido pelos colégios, especialmente os


católicos, era muito severo. Os salesianos eram, como se diz hoje, muito
“caxias” [expressão designada àquele que cumpre com extremo rigor suas
obrigações e responsabilidade]: ministravam intensamente a doutrina
católica e faziam-nos acompanhar as missas, comunhões, etc. Os padres

13
PEREIRA, Lígia Maria Leite; DULCI, Otávio Soares. Projeto integrado - memória e história: visões de
Minas. Entrevistado: Dr. Pio Canêdo. Universidade Federal de Minas Gerais: Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas. Belo Horizonte, 23 jul. 1992. 28p. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/historia
oral/entrevistas/Hist%F3ria%20das%20Elites/PIO%20CANÊDO/Pio%20Canêdo.pdf>. p. 4.
14
Ibdem, p. 15.
15
MURIAÉ, op. cit.
16
Os depoimentos concedidos pelo político inauguravam o projeto de história oral Memória Política de
Minas Gerais, da Assembleia Legislativa do estado de Minas Gerais. Realizadas em Belo Horizonte, entre
novembro de 1993 e agosto de 1994, as sessões de depoimento duraram 26 horas e 16 minutos e
ocuparam 36 fitas cassetes.
17
MINAS GERAIS, op. cit., p. 18.
18
67

salesianos tinham uma rota e a seguiam com muito fervor. Seus alunos
tornavam-se católicos praticantes e convictos.

Após os relatos de que sempre sofrera influência no colégio religioso, pelo


fato de estar próximo do Rio e toda a política nacional reverberar-se ali, o político
prosseguiu dizendo:

(...) o colégio de Niterói era um dos melhores do País, junto com o Anchieta.
Existiam colégios salesianos também em São Paulo e em outros lugares.
Dom João Resende Costa era salesiano, estudou em Niterói. Também Dom
Helvécio, mais tarde arcebispo em Mariana, e o irmão dele, que foi bispo
18
em Goiás .

No Colégio Santa Rosa, Pio Canêdo teve muitos colegas que ingressaram
posteriormente na política obtendo sucesso e influência como o tal. Dentre eles
merecem destaque José Monteiro de Castro, político, advogado, empresário, Chefe
da Casa Civil do Presidente Café Filho e no Governo Magalhães Pinto, ocupou
várias Secretarias de Estado, foi um dos principais articuladores do movimento de
31 de março de 1964 e pertenceu à União Democrática Nacional (UDN) e à Aliança
Renovadora Nacional (ARENA); Géo, irmão de José Monteiro e os Mascarenhas.
Depois de estudar quatro anos no
Salesiano, Pio Canêdo foi para Barbacena,
estudou um ano na cidade e prestou os
preparatórios oficiais perante banca examinadora
do Ginásio Mineiro de Barbacena. Sua evasão do
Salesiano ocorreu pelo fato de enfadar-se do
regime que enleava seus alunos e os alheava ao
mesmo tempo, pois estes viviam o tempo todo
dentro do colégio. À procura de seu pai, Pio
Canêdo confessou-se enfastiado. Para cumprir a
vontade do filho, Afonso Augusto Canêdo o enviou
para a casa de Valdemar Dinis Alves Pequeno19, Figura 1 - Pio Soares Canêdo cursando
o ginásio no Colégio Santa Rosa em
que morava com sua família em uma casa de Niterói entre 1922 e 1925.

sua propriedade em Barbacena,

18
MINAS GERAIS, loc cit., p. 17-18.
19
Valdemar Dinis Alves Pequeno era um respeitável político, advogado, escritor pertencente à
Academia Mineira de Letras, apoiou a Revolução Constitucionalista de 1932 e integrou o Partido
19
7

casarão de estilo manuelino gótico, erguido por D. Eudóxia Canêdo em 1893, como
um forma de presenteá-lo20.

Figura 2 - Casa de propriedade da Família de Pio Canêdo em


Barbacena, onde o mesmo morou quando voltou de Niterói e antes de
ir para Belo Horizonte.

Agradando-se muitíssimo da cidade e aspirando um novo ar de liberdade, Pio


Canêdo fez muitos amigos e estudou com os melhores professores da cidade.
Optando posteriormente pelo bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais21, Pio
mudou-se para Belo Horizonte em 1927 e acreditava ser esta a melhor opção, pelo
fato de este campo de atuação ser mais amplo, pouco limitado ao contrário das
engenharias, ciências médicas ou outras profissões, e também por favorecer o seu
engajamento na carreira política. Mineiro autêntico e grande patriota, Pio escolheu a
capital de seu Estado, pois o mesmo desejava dar um sentido mais mineiro à sua
formação. Além disso, queria vivenciar o clima político de Minas, especialmente o de
Belo Horizonte22.
De acordo com Pio, a capital era na época quase que inacessível. De Muriaé
ao Rio eram de seis a sete horas e o ponto de parada para dar continuidade ao seu
itinerário era em Entre-Rios-MG. Nesta cidade, era esperado o noturno que passava

Republicano Mineiro (PRM). Seu pai era o Dr. Pio Alves Pequeno, médico barbacenense relatado
anteriormente que era muito amigo do Sr. Afonso Canêdo
20
FARIAS, Juliana. Gótico português: Tombado por Barbacena (MG), casarão da família Pio Canêdo é
uma das últimas amostras do estilo manuelino gótico. Revista de História da Biblioteca Nacional, 17 set.
2009. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2622>. Acessado em:
2 out. 2009.
21
CANÊDO, Pio Soares; PENNA, Carlos Alberto. Barbacena: o sentido da permanência. Barbacena:
Academia Barbacenense de Letras, 1979.
22
MINAS GERAIS, op. cit., p. 22.
20
87

à meia-noite e assim, sua chegada à Belo Horizonte se dava no dia seguinte pela
manhã. No ano em que fora para a capital, Antônio Carlos, Presidente do Estado,
fundou e inaugurou aos sete de setembro a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), que incluía a Faculdade de Direito. Assim, com o seu ingresso nesta
instituição, no ano de 1931, em 1936, Pio Canêdo juntamente com sua turma foi a
primeira a diplomar-se em Direito pela UFMG23.
Antes de fixar-se na capital, Pio Canêdo hospedou-se na pensão do Conde
Belle de Sardes, cônsul da Itália, na Rua Espírito Santo. Lá moravam também,
Guilhermino César da Silva que tornou-se advogado, magistrado, professor e
jornalista; e Alcides Rodrigues Júnior, um colega de Juiz de Fora. Ao todo eram
quatro hóspedes homens e duas mulheres. O cônsul da Itália aceitava pensionistas
porque passava por dificuldades financeiras e consoante Pio, isto ocorrera, pois
“naquele tempo, ninguém ganhava dinheiro, porque ninguém roubava!”. No 4º ou 5º
ano de Direito, Pio Canêdo mudou-se para uma pensão na Rua Guarani, defronte à
casa dos Neves e realizava o seu trajeto diariamente a pé até à Faculdade, na Praça
Afonso Arianos, por considerá-la próximo de onde morava. Hospedando-se nesta
pensão até o término do seu curso e durante todo este tempo de faculdade, Pio
Canêdo declarou ter vivido muito bem.
Em sua graduação, teve como mestre grandes ícones que ocupavam além da
docência outras funções e entraram para a história como: Estevão Leite de
Magalhães Pinto, advogado, magistrado, jurista e banqueiro; Tito Fulgêncio Alves
Pereira, político, advogado, jurista e magistrado; Francisco José de Almeida Brant,
magistrado e reitor da UFMG em vários períodos; José Eduardo Teixeira da
Fonseca, advogado e escritor; Oscar Negrão de Lima, médico e escritor; e Pedro da
Mata Machado, político pertencente ao PRM, advogado, industrial e escritor.
Os divertimentos nesta época consistiam de passeios pela Praça da
Liberdade ao entardecer; prática de golfe, no Parque Municipal; idas frequentes ao
cinema; e encontros rotineiros no Bar do Ponto. Havia também os cabarés: o da
Olímpia, que era muito famoso, e alguns outros de menor importância, como o
Montanhês. Pio e seus amigos também frequentavam festas sociais e eram por

23
MINAS GERAIS, loc cit.
21
97

vezes recebidos e tratados com virtuosidade. De uma forma geral, a vida na capital
era para Pio tranquila e lhe proporcionava muito prazer24.

Figura 3 - Pio Soares Canêdo em sua Formatura na Figura 4 - Pio Soares Canêdo em sua Formatura na
Faculdade de Direito em Belo Horizonte no ano de Faculdade de Direito em Belo Horizonte no ano de
1931. 1931.

2.2 O RETORNO ÀS ORIGENS E O EMBRACAR DO ADVOGADO PARA O


CENÁRIO POLÍTICO DE MURIAÉ E MINAS

Depois de terminados os estudos na capital, aos 7 de setembro de 1931, Dr.


Pio regressou à sua terra natal e deu início ao exercício de sua profissão. Não
obstante, isto só ocorreu porque Estêvão Pinto, ex-professor de Pio, a quem muito
estimava insistiu para que o mesmo retornasse para Muriaé e desse início à “(...) sua
vida esforçando-se para competir com pessoas mais adiantadas no Direito e mais
experimentadas na advocacia” 25.
Perplexo, seu saber como começar a vida, Pio Canêdo pretendia ir para Rio
Casca, por isso procurou seu ex-professor que era na época Presidente do Banco
24
MINAS GERAIS, op. cit., p. 25.
25
MINAS GERAIS, op. cit., p. 36-37.
227
10

Hipotecário de Minas Gerais (extinto Banco do Estado de Minas Gerais - BEMGE).


Sem rumo definido, o advogado recém formado acreditava que Rio Casca era uma
boa opção, no entanto já tinha dois advogados na cidade e mais o seu colega de
turma que lhe informou estar a caminho da cidade para advogar lá. Pio acreditava
que “santo de casa” não fazia milagre, por isso não queria voltar para Muriaé, além
disso, achava que seria difícil competir com os advogados de sua cidade que na
ocasião já somavam de nove a dez. Obediente, Pio seguiu o conselho do professor
e no dia 1º de outubro já estava em Muriaé para tentar a advocacia 26.
Concomitante à sua carreira como advogado Dr. Pio realizara sua intromissão
na política local. Depois de ser convidado ao cargo de Secretário Municipal do
Partido Republicano Mineiro (PRM), pelo Diretório Municipal do partido, dirigido pelo
Coronel Francisco Pereira, Pio Canêdo passou a chefiar praticamente a política
local27. Na Comarca de sua cidade, o advodado também ocupou os cargos de Vice-
Presidente e Presidente da 36ª Secção da Ordem dos Advogados28.
Além de Muriaé, Pio Canêdo exerceu suas atividades jurídicas em Belo
Horizonte, em comarcas da Zona da
Mata e do Vale do Rio Doce, nos
estados do Rio de Janeiro e Espírito
Santo. Isto ocorrera devido à confiança
que os seus amigos, residentes fora da
Comarca de Muriaé, lhe depositavam e
pelo fato destes pertencerem ao seu
partido, logo, o mesmo era levado a
patrocinar causas em Comarcas
vizinhas. Na ocasião, o Estado do Rio,
por exemplo, já era de fácil acesso, nada
obstante a distância não o impedia de
realizar suas defesas, assim Dr. Pio
tinha de vencer longos trajetos que fazia

Figura 5 - Pio Soares Canêdo jovem em Barbacena.


26
MINAS GERAIS, loc. cit.
27
MINAS GERAIS, passim.
28
ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
237
11

à Aimorés, pois não poderia dispensar seus clientes.29


Em entrevista aos historiadores da Assembléia Legislativa, Pio Canêdo
revelou que o fato de ser político, de militar na política, deu lhe uma projeção natural
no exercício da advocacia, entretanto financeiramente, isto foi-lhe muito
desfavorável, “porque um advogado-político ganha muito pouco e tem muito
serviço.”30

29
MINAS GERAIS, op. cit., p. 38.
30
MINAS GERAIS, loc. cit.
247
12

3 POLÍTICA QUE CORRE NAS VEIAS: PARTICULARIDADES


SOBRE A FAMÍLIA CANÊDO

Dr. Pio era tido como um daqueles homens que já nascem com a política
correndo nas veias, pois herdera um sobrenome tradicional de grandes
personalidades que fizeram a história da cidade de Muriaé aparecer no cenário
nacional. Como foi citado anteriormente, Pio Canêdo era neto do Desembargador
Antônio Augusto da Silva Canêdo, primeiro Juiz de Direito de Muriaé, ocupando
também o cargo de Deputado Estadual e Federal. Seu pai, Afonso Canêdo, tinha
grande projeção política em Muriaé, pois além de ser um comerciante bem sucedido,
era Prefeito da cidade e fora nomeado com a Revolução. Afonso Canêdo foi um dos
chefes de Revolução em 1930 e assim ocupou o cargo de Prefeito em sua cidade.
Homem do Conselho Consultivo, Sr. Afonso Canêdo exerceu sua atividade política
juntamente com o meu seu irmão Agenor Canêdo, que foi Deputado Estadual ligado
ao Presidente Antônio Carlos até 1930.
Seu irmão Antônio Augusto Soares Canêdo foi Prefeito de Muriaé e Deputado
Estadual, seu sobrinho Ronaldo Passos Canêdo foi Deputado Estadual e Federal e
Christiano Canêdo foi Prefeito em Muriaé e também Deputado Estadual. 31 Então,
verifica-se que de sua família havia como ascendente direto seu pai, Afonso Canêdo
e seu tio, Agenor Canêdo. Os filhos, por intermédio dos pais, tinham uma
significativa projeção natural na política, mas adicionando-se ao parentesco próximo
com o Afonso Pena Júnior que era primo primeiro do seu pai, a intromissão na
política era ainda mais fortalecida e Afonso Pena Júnior até a Revolução de 30 foi
uma figura de grande expressão no estado de Minas Gerais32.

31
MURIAÉ, op. cit., 2009.
32
PEREIRA; DULCI, op. cit. passim.
257
13

4 A CARREIRA TRIUNFAL DE PIO SOARES CANÊDO NO CENÁRIO


POLÍTICO

Ocupando o cargo de vereador à Câmara Municipal de Muriaé em 1936 pelo


Partido Republicano Mineiro (PRM), Pio Canêdo revelou-se um homem público e
obstinado a lutar pelas causas de seu povo. Por dedicar-se e corresponder à
confiança e aos anseios dos seus, pela imensa influência e pela amizade com o
então Governador do Estado Benedito Valadares, foi nomeado Prefeito33 de sua
cidade em 1942, cargo que exerceu até 194634,35. Na ocasião, Pio Canêdo, já era
integrante do Partido Social Democrático (PSD), partido que veio substituir o PRM
antigo, que em Muriaé recebia o apelido de “Puaia” e se contrapunha aos “Goteira”,
apelido dos militantes da antiga União Democrática Nacional (UDN)36.

Figura 6 - Pio Soares Canêdo (à direita da foto sentado à mesa) como Vereador em Muriaé no ano de 1936.

33
Nesta época como tratava-se do período do Estado Novo não havia eleição direta para prefeito e estes
eram escolhidos entre os vereadores da Câmara Municipal, contudo para ocupar o cargo de vereador era
necessário ser eleito.
34
MURIAÉ, op. cit., 2009.
35
MINAS GERAIS, op. cit., p. 64.
36
Op. cit.
267
14

Na fase das interventorias37, Pio Canêdo estava em Belo Horizonte e exercia


ainda o mandato de Prefeito em Muriaé. Por telefone, foi convidado pelo Ministro da
Justiça Carlos Coimbra da Luz, a ir ao Rio de Janeiro para assistir à posse do
interventor Júlio Ferreira de Carvalho. Além da viagem, Dr. Pio fora ao mesmo
tempo alertado sobre o convite que receberia do interventor para o cargo de
Secretário da Justiça como uma homenagem aos prefeitos do interior 38. Assim, em
agosto de 1946 Pio Canêdo mudou-se para Belo Horizonte empossando-se do
cargo de Secretário de Estado na Secretaria de Interior e Justiça no Governo Júlio
Ferreira de Carvalho39. Em novembro do mesmo ano, foi guinado para a Secretaria
da Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho, já no Governo do saudoso Noraldino
de Lima40. A gestão de Pio nesta Secretaria durou cerca de um mês e pouco, tempo
em que durou a interventoria do Noraldino. Neste lapso temporal, Pio Canêdo
cercou-se de bons assessores e, mudou inteiramente sua face política. O político
que atuava como militante, na Secretaria de Agricultura atuou como técnico,
orientado pelos técnicos41. Este período foi um momento bastante conturbado na
política estadual com várias mudanças de interventores estaduais. Já no início de
1947, Pio voltou para Muriaé e continuou exercendo seu mandato de vereador com
grande brilhantismo até o ano de 195042,43.
No ano de 1947, Pio Canêdo havia se candidatado como Deputado, todavia
fora impedido pela desincompatibilização – era Secretário de Governo, assim
acabou-se por candidatar seu irmão, Antônio Canêdo. Em 1950, quando terminou o
mandato do irmão, Pio foi candidato, mas não se elegeu, pois na região a qual os
votos eram destinadas ao político – Aimorés e Mutum, uma região “quente” –, as

37
As interventorias teve início em fins de 1945, mais exatamente em novembro sendo o primeiro
Interventor Federal de Minas Gerais Nísio Batista de Oliveira, que ficou até fevereiro do ano seguinte;
seguido deste, veio João Tavares Correia Beraldo, que ficou de fevereiro a agosto, posteriormente veio
Júlio Ferreira de Carvalhos, que ficou de agosto a novembro, em seguida veio Noraldino Lima, que ficou de
novembro a dezembro, e, finalmente, Alcides Lins, que ficou de dezembro a fevereiro e em seguida
presidiu as eleições.
38
MINAS GERAIS, op. cit., p. 74.
39
PORTO, op. cit.
40
ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
41
MINAS GERAIS, op. cit., p. 81.
42
MURIAÉ, op. cit., 2009.
43
Op. cit., p.22-23.
277
15

eleições foram anuladas por questões locais e a votação apenas e Muriaé não dava
para eleger um Deputado44.
Com Juscelino Kubitschek (JK) no Palácio da Liberdade, partidário que
também foi um dos luminares do velho PSD, Dr. Pio, foi eleito pela Assembléia do
Banco Mineiro da Produção S/A. e exerceu de abril de 1950 a dezembro de 1954, o
cargo de Membro do Conselho da Administração desse conceituado
estabelecimento de crédito45,46.
Em 1954, Pio Canêdo decidiu concentrar sua campanha na sua região, onde
trabalhava como advogado e Secretário do partido. Muriaé possuía um contingente
eleitoral muito grande, porque vários distritos, hordienamente emancipados, ainda
pertenciam à sede. Nesta região, a influência de Pio era mais direta e positiva,
porque o mesmo estava sempre presente como advogado e como político 47.

Figura 7 - Comício em Muriaé para a candidatura de Tancredo Neves a Governador do Estado.

44
Ibdem., p. 196
45
PORTO, op. cit.
46
ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
47
MINAS GERAIS, loc. cit.
287
16

Figura 8 - Pio Canêdo ladeado de Tancredo Neves (candidato a Governador do Estado de Minas) em comício
na cidade de Muriaé.

Por seu decoroso trabalho, Pio Canêdo teve em 1954 o reconhecimento do


seu público e em boa hora, o seu nome foi sufragado nas urnas livres e soberanas,
o que o elevou às árduas, mas honrosas funções de Deputado Estadual. Assim,
ainda Presidente do Diretório do Partido Social Democrático (PSD) do seu município
e também Secretário, Pio Canêdo deixou o exercício da advocacia, em cuja
profissão se manteve ininterruptamente até a data de 1º de fevereiro de 1955, para
assumir a sua cadeira à Assembléia Legislativa Estadual, a qual foi eleito por
expressiva votação48.
Quando Pio Canêdo foi à reunião dos eleitos para empossar-se do cargo
chegou atrasado. Presidida por Ribeiro Pena, a reunião ocorrera duas horas antes e
quando Pio chegou à Assembleia, já havia terminado. À procura do Presidente que
ainda estava na Assembleia juntamente com os vários Deputados recém-eleitos Pio
foi informado que na reunião encerrada a pouco, fora aclamado líder do PSD.
Apesar de estar no seu primeiro mandato como Deputado, Pio Canêdo era muito

48
ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
297
17

conhecido dentro do partido e prestava ao mesmo inúmeros serviços. Talvez, tenha


sido esta, a influência na decisão dos parlamentares. E foi assim, que as forças
políticas mais prestigiosas do PSD, representadas pelos ilustres pessedistas,
aclamaram-no líder se sua bancada, numa prova inequívoca do alto conceito que
desfrutava entre os seus pares49 e enquanto se manteve na Assembléia, o político
muriaeense persistia na luta pelos interesses de Minas e de Muriaé.
Terminado o Governo JK no Estado, Pio Canêdo reelegeu-se para a
Assembleia Legislativa, que presidiu, tornando-se novamente líder do seu partido,
PSD, da maioria e também da minoria, ficando como Deputado até o ano de 1966 50,
quando renunciou ao mandato para exercer o cargo de Vice-Presidente do Estado
de Minas Gerais, eleito que fora na chapa junto ao Governador Israel Pinheiro
(1966-1971). Concluído o mandato, não mais se candidatou a outro cargo eletivo 51.

Figura 9 - Chegada de Pio Canêdo (Vice-Governador) junto de Israel Pinheiro (Governador) no Palácio da
Liberdade em Belo Horizonte aos 31 de janeiro de 1966.

49
ACAIACA, loc. cit.
50
PORTO, op. cit.
51
MURIAÉ, op. cit.
307
18

Figura 10 - Pio Canêdo com a esposa Maria Ângela, ladeada de Israel Pinheiro, em comemoração solene ao
empossar-se do cargo de Vice-Governador do Estado em Belo Horizonte.

Impelido pelo artificialismo político do regime militar e suas mudanças de regras,


Pio Canêdo acabou por participar da criação da Aliança Renovadora Nacional
(ARENA), em Minas Gerais no ano de 1965, que em Muriaé se dividia em ARENA 1,
sendo representado pelos Puaias e ARENA 2, representado pelos Goteiras. Pio
Canêdo permaneceu na ARENA até a sua extinção, quando, mantendo o vínculo aos
antigos partidários, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS) e ao Partido da Frente
Liberal (PFL)52. No PDS, Dr. Pio tornou-se parte indispensável no PDS, partido que fora
criado depois de liberadas as agremiações políticas de se agruparem livremente.
Pio Soares Canêdo foi, ainda, Vice-Presidente do Banco do Estado de Minas
Gerais (BEMGE), Presidente da Fundação João Pinheiro e da Fundação Israel
Pinheiro, além de membro da Academia Barbacenense de Letras53.
Mesmo exercendo uma atividade fora da política, como na Presidência da
Fundação João Pinheiro, Pio Canêdo relatou que não se afastou da política, tanto que

52
Op. cit.
53
OLIVEIRA, Andréa. Gazeta Cultural: Grande Hotel irá homenagear Pio Canêdo. Gazeta de Muriaé,
Muriaé, 2008. Disponível em: <http://www.gazetademuriae.com.br/notimg/noticia.php?id=631>. Acessado
em: 20 out. 2009.
317
19

não quis ir para o Tribunal de Contas. “Nas funções que exerci de Diretor do BEMGE ou
de Presidente do Conselho Nacional de Política Penitenciária, nada me inibia de
exercer as atividades políticas.”54 Atividades estas que consistiam de “conversas,
entendimentos, dentre e fora da Assembléia, com ex-colegas. No plano federal, com
deputados com os quais matinha boas relações. Enfim, dando a minha colaboração ou,
em outras palavras, palpitando.” 55
Por intermédio de Ibrahim Abi-Ackel, Ministro da Justiça, no governo do
Presidente Figueiredo, Pio Canêdo exerceu a função de Presidente do Conselho
Nacional de Política Penitenciária (CNPP)56, atual Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária (CNPCP), permanecendo neste posto durante quatro anos
(1980-1984), o primeiro presidente do Conselho57 contribuiu muitíssimo para a
consolidação e melhorias das condições do Sistema Prisional. O Conselho
proporcionava, segundo consta da exposição de motivos, valioso contingente de
informações, de análises, de deliberações e de estímulo intelectual e material às
atividades de prevenção da criminalidade. Este órgão preconiza ainda,

a implementação, em todo o território nacional, de uma nova política criminal e


principalmente penitenciária a partir de periódicas avaliações do sistema
criminal, criminológico e penitenciário, bem como a execução de planos
nacionais de desenvolvimento quanto às metas e prioridades da política a ser
58
executada.

Em suma, o CNPP, com sede na Capital da República, é o primeiro dos órgãos


da execução estando subordinado ao Ministro da Justiça e tem por fim reger a
administração penitenciária e estabelecer aos reclusos, direitos essenciais para o
cumprimento de pena. Com a criação deste Conselho, foi também assegurado aos
presos o respeito à sua individualidade, integridade física e dignidade pessoal59.

54
MINAS GERAIS, op. cit., p. 380.
55
MINAS GERAIS, loc. cit.
56
Ibdem., p. 381.
57
BRASIL. Ministério da Justiça. Execução Penal. CNPCP. Histórico. Presidentes: Pio Soares Canêdo,
Belo Horizonte-MG (DOU de 25/06/80 - Portaria nº 658 de 24/06/1980). Brasília, 2007-2009.
Disponível em: <http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJE9614C8CITEMID64869A86B5D94C3297F464
436AD82308PTBRIE.htm>. Acessado em: 11 out. 2009.
58
Idem., Histórico. Brasília, 2007-2009. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJE9614C
8CITEMID64869A86B5D94C3297F464436AD8230 8PTBRIE.htm>. Acessado em: 11 out. 2009.
59
Idem., Diretrizes. Resolução CNPCP nº 14, de 11 de novembro de 1994: trata das regras mínimas
para tratamento dos presos no Brasil. Brasília, 2007-2009. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/cnpcp/
327
20

Na época em que presidia o Conselho, Pio Canêdo disse que o órgão era
composto por onze membros, representando os onze Estados, e estes eram
geralmente juristas dedicados à área penal. O CNPP exercia árduas tarefas e as leis
das execuções penais foram praticamente constituídas pelo Conselho. As questões
referentes às penitenciárias, ao regime penitenciário, tudo isso passava pelo conselho,
que opinava sobre esses fatos. Pio Canêdo relatou também que fez visitas às
penitenciárias de Pernambuco, do Paraná e do Rio Grande do Sul, e como presidente
do Conselho, comparecia a sessões de interesse dos respectivos Estados nas suas
penitenciárias60.
A notável carreira de Pio Canêdo na política e como um homem público de uma
forma geral, rendeu-lhe várias homenagens, certificações, premiações e medalhas de
honra ao mérito. Dentre os vários reconhecimentos verificados no acervo histórico da
Prefeitura Municipal de Muriaé e no seu memorial em sua cidade natal, merecem
destaque a Medalha de Mérito Santos Dumont criada em 1956 pelo então presidente
Juscelino Kubischeck para premiar militares, cidadãos brasileiros e estrangeiros que
tenham prestado serviços relevantes à Aeronáutica, a Medalha Juscelino Kubitscheck,
grau Grande Medalha, conferida em setembro de 1996 por relevantes serviços
prestados ao país; o especial reconhecimento da Assembleia Legislativa do Estado de
Minas consignado, por ocasião do lançamento do Centro de Memória de Minas, em
dezembro de 1996 pelo exercício nobre e digno do mandato de Deputado Estadual,
construindo para a valorização político-parlamentar no Estado; a medalha Coronel
Fulgêncio de Souza Santos, cunhada a ouro e concedida em junho de 1997 pelos
significativos serviços prestados à União dos Reformados da Polícia Militar61.
Pio Canêdo, ainda atuou no desenvolvimento de dois livros: Memórias Políticas
de Minas e Barbacena: o Sentido da Permanência. O primeiro dá início a uma coleção,
que visa contribuir para maior compreensão da história contemporânea do estado, por
meio de depoimentos de personalidades que a viveram intensamente na condição de
protagonistas e o segundo trata-se de um opúsculo que contém o discurso proferido do
político por vez Acadêmico na Academia Barbacenense de Letras empossando-se da
cadeira de número 12, e ambos foram utilizados no desenvolvimento deste trabalho.

data/Pages/MJE9614C8CITEMIDD4BA0295587E40C6A2C6F741CF662E79PTBRIE.htm>. Acessado
em: Acesso em: 25 out. 2008.
60
MINAS GERAIS, op. cit., p. 382.
61
MURIAÉ, op. cit.
337
21

5 ASPECTOS GERAIS SOBRE A FAMÍLIA DE PIO SOARES


CANÊDO

Político habilidoso, mestre na arte da articulação, amigo sempre disponível,


dono de uma sensibilidade e de uma formação humanística exemplar, Pio Soares
Canêdo era um homem de temperamento afável e trato fidalgo, que jamais permitiu
que se desvirtuassem sua inteireza de seu caráter e a magnanimidade de seu
coração. No meio familiar, Pio Canêdo era visto como um homem inteiramente
dedicado ao lar e pai exemplar de quatro filhos62,63.
Do seu primeiro matrimônio com Mazília Gontijo, Pio Canêdo, teve uma filha:
Auta Isla Gontijo Canêdo. Ficando viúvo se consorciou em segundas núpcias com
Maria Ângela de Medeiros Canêdo, em 1948, tendo o casal 3 filhos: Ângela Maria
Canêdo, Maria Cândida Canêdo e Pio Soares Canêdo Júnior64,65.

a
Figura 11 - Pio Soares Canêdo junto à primeira esposa Sr . Mazília Gontijo.

62
PORTO, op. cit.
63
CANÊDO JÚNIOR, Pio Soares. (filho do estadista mineiro Pio Soares Canêdo). Trabalho
monográfico sobre Pio Canêdo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<piosoares@noventa.com.br> em: 28 out. 2009.
64
MURIAÉ, op. cit.
65
ACAIACA, op. cit., p. 22-23.
347
22

Sua conduta pública e privada, de estadista e de cidadão, jamais sofreram


solução de continuidade, quer como um dos mais eminentes próceres do
Pessedismo mineiro, quer como simples e patriarcal chefe de família.66
De acordo com os relatos de sua filha, Maria Cândida,

Pio Canêdo [antes de morrer] permaneceu lúcido e com vida intelectual


ativa, ainda advogava, discutia temas políticos com os amigos, era
procurado para dar conselhos, lia muito. Presidiu a Fundação Israel
Pinheiro, tinha sempre atividades relativas à instituição. Entre a família e os
amigos, era uma pessoa admirada e querida, sempre equilibrada. Tinha
67
humor e um carinho especial com cada filho, neto, sobrinhos .

Figura 12 - Pio Soares Canêdo com a esposa Maria Ângela, todos os filhos e 2 netos em sua residência em
Belo Horizonte.

66
ACAIACA, loc. cit.
67
CANÊDO, Maria Cândida. (filha do estadista mineiro Pio Soares Canêdo). Trabalho monográfico
sobre Pio Canêdo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <mcmCanêdo@yahoo.com.br>
em: 29 out. 2009.
357
23

6 FATOS E EVENTOS CURIOSOS OCORRIDOS NA VIDA DO


ESTADISTA MINEIRO

6.1 O MINEIRO QUE PERDEU O “NAVIO”

Nos tempos de faculdade, Pio Canêdo juntamente com seu amigo Hugo
Gouthier dirigiam um jornal acadêmico que tratava de problemas estudantis, mas
não tinha reivindicações como as de hoje, porque o tempo não permitia e não era
usual. Nesse período tendo o companheiro arrumando-lhe uma excursão para o
Uruguai, o bacharelando em direito juntamente com os colegas embarcaram em um
navio chamado Jaceguai, que segundo Pio existia até o momento de sua entrevista
aos historiadores da Assembleia. A excursão foi para o estudante mineiro até o
regressar, muito agradável e tranquila, pois neste dia, Pio Canêdo saiu para comprar
uns discos e entretendo-se com algumas moças muito bonitas, atrasou-se por 15
minutos e perdeu o navio que saíra às 11 horas.
“Corri, me socorri: „Olha aqui, são 15 minutos. O navio ainda está na barra‟. O
chefe falou: „Eu sei, mas o senhor não pode ir porque a lei não permite tomar um
navio na barra‟. „Então, eu tenho que ficar aqui?‟ „O senhor tem que ficar‟.”68
Sozinho, Pio Canêdo se lembrou do embaixador brasileiro no Uruguai.
Chegando na embaixada, Pio se anunciou e o Secretário da Embaixada respondeu-
lhe que já sabiam que um acadêmico havia sobrado. Levado ao Embaixador, o
mesmo interrogou-lhe: “Mas o senhor não é mineiro? Mineiro não perde trem! Como
é que o senhor perde navio?” Ao interrogar o Embaixador sobre sua naturalidade, o
mesmo disse-lhe que era de Juiz de Fora e Pio retrucou responder-lhe que era de
Muriaé. Entusiasmado, o Embaixador disse: “Oh, eu tenho um amigo fraternal em
Muriaé, um amigo que morou comigo no mesmo quarto e se formou comigo em Juiz
de Fora, chama-se Afonso Canêdo. O senhor o conhece?”. O grandiloquente fato,
parecia algo de cinema e surpreso com a inimaginável coincidência o estudante
respondeu: “É meu pai.”69

68
MINAS GERAIS, op. cit., p. 28
69
Ibdem., p. 29
367
24

Depois disso, o embaixador chamou o secretário e mandou que


hospedassem o filho de seu amigo no melhor hotel e providenciassem uma
passagem para o mesmo regressar no primeiro navio. Agradecido, Pio Canêdo saiu
da embaixada para comprar um colarinho, pois sua camisa estava suja e no dia
seguinte seguiu para o porto. Chegando em Santos, o Jaceguai estava lá assim, o
estudante mineiro deixou o navio em que vinha e passou para o Jaceguai chegando
ao Rio com os seus colegas de turma. Ao desembarcar, Pio telefonou para sua mãe,
mas como a mesma estava desesperada pelo ocorrido com o filho, não tinha
condições de falar-lhe ao telefone. E foi assim, que a vida do mineiro como
estudante foi marcada: “um mineiro perde um navio”70

6.2 O LEGADO DE FRANCISCO MENDES PIMENTA

Quando Pio Soares Canêdo iniciou seus estudos jurídicos em Belo Horizonte,
o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) era Mendes Pimenta,
professor, político, advogado, jornalista, grande jurista, signatário do Manifesto dos
Mineiros, pertenceu ao PP, à UDN e à ARENA. Mendes Pimenta foi professor de Pio
mas antes que formasse a primeira turma, o reitor acabou por renunciar-se em 1930
devido a um sério incidente em que se envolveu um de seus filhos71. Por capricho do
destino Pio Canêdo aos 14 de dezembro de 1979, no Palácio da Revolução Liberal,
sede do Legislativo do Município de Barbacena-MG, empossou-se da cadeira de
número 12 a qual tem como patrono o jurista Doutor Francisco Mendes Pimenta72,
ex-professor de Pio Canêdo em Belo Horizonte.

6.3 UMA CAUSA DE REPERCUSSÃO

Dr. Pio disse aos historiadores e entrevistadores da Assembleia que teve


duas causas de grande repercussão. Uma delas, era de um crime ocorrido em

70
MINAS GERAIS, loc. cit.
71
Ibdem., p. 28.
72
CANÊDO; PENNA, op. cit., p. 23.
377
25

Mutum, com uma pessoa muito ligada ao político – Antenor Laviola. Foragido,
Antenor foi à Muriaé e telefonou ao Dr. Pio dizendo que precisava muito falar-lhe
algo, mas não poderia ir ao seu escritório. Depois de ter marcado um local
apropriado, Dr. Pio encontrou-se com Antenor e após horas de conversa o mesmo
relatou que havia cometido um crime contra uma pessoa de grande projeção na sua
cidade e queria ser defendido por Pio Canêdo. Recusando-se tanto quanto possível
Dr. Pio não pode negar o patrocínio desta causa, pois Antenor insistiu-lhe
muitíssimo. Mais tarde, Pio Canêdo percebeu que um dos motivos pelos quais ele
havia o convidado era o fato de o Dr. Artur Eutrópio, advogado da vítima, ser seu
conterrâneo, seu amigo e pertencente ao seu partido. Pio ficou surpreso, mas já
estava em Mutum e decidiu ir até o fim. Foi um júri tumultuado e o Antenor acabou
sendo absolvido, destarte, esta defesa marcou muito sua atividade.
Antenor cometeu outros crimes posteriormente e permaneceu em Muriaé.
Ainda que adversário político de Pio Canêdo, era muito grato, muito amigo do
político e não se hesitava em dizer: “Ah, com o Dr. Pio vocês não mexem, porque,
mexendo com ele, vocês mexem comigo”73. E como Antenor era um homem dado
ao crime, não havia quem o desafiasse.

73
MINAS GERAIS, op. cit., p. 40.
387
26

7 O FIM DA VIDA DO BENQUISTO MINEIRO PIO CANÊDO

Vítima de um infarto, Pio Soares Canêdo deixou a família e os mineiros


pesados. Seu falecimento ocorreu na noite de sábado do dia 21 de agosto de 1999,
em Ouro Preto, onde comemorava com a família o dia do seu 90º aniversário 74.
Tendo em vista que Maria Ângela havia falecido há menos de um ano, Pio Canêdo,
não fez questão de festejo decidindo por vez em ir para Ouro Preto com a família
reunida – filhos, nora, genros e netos – para uma celebração singela. De acordo
coma a filha Maria Cândida, a morte de seu pai foi inesperada, “(...) passeamos e
almoçamos todos juntos. À noite, ele sofreu o enfarto.”75
O corpo do prezado advogado e estadista mineiro foi velado no salão nobre
da Assembleia Legislativa, com a presença dos familiares, amigos e vários políticos
que, a todo tempo, lamentavam a perda de um homem culto, inteligente, lhano no
trato e um dos maiores líderes políticos do estado. O sepultamento foi realizado no
dia seguinte no cemitério do Bonfim em Belo Horizonte e o cortejo fúnebre foi
acompanhado por muitos sob grande comoção. E foi assim, na tarde do dia 22 de
agosto de 1999, que aqueles que o estimava e prestigiava se despediram 76. Depois
de sua morte, a família pediu que fosse celebrada em sua terra natal uma missa de
7º Dia.
O ex-governador Eduardo Azevedo (Partido da Social Democracia Brasileira -
PSDB/MG) que comparecera ao sepultamento pronunciou-se: "Agora resta-nos
reverenciar a vida dele e tirar lições da escola do antigo PSD [Partido Social
Democrata]: habilidade e tolerância.” Paulino Cícero, Secretário de Estado de Minas
e Energia, que também estava presente declarou: “É uma perda muito assinalada
para Minas. Pio Canêdo era uma pessoa suave, mas que sabia exercer a árdua
tarefa de viver – que é conviver." 77

74
MURIAÉ, op. cit.
75
CANÊDO, op. cit.
76
RODRIGUES, Hila. Minas de luto por Pio Canêdo: ex-vice-governador era remanescente da geração
política mais competente de Minas.
77
RODRIGUES, loc. cit.
397
27

O Presidente do Partido Progressista Brasileiro (PPB/MG), Deputado Ibrahim


Abi-Ackel, lembrou na ocasião que Pio Canêdo nunca aceitou cargos federais
porque não queria deixar o estado, e relatou ainda que o seu falecido representava o
sobejo da geração mais política e idônea de Minas. Também não faltaram
manifestações de apreço por parte daqueles que, politicamente, sempre atuaram
como adversários de Pio Canêdo. O Senador Francelino Pereira (Partido da Frente
Liberal - PFL/MG) foi um deles. Outro foi o Deputado Bonifácio Andrada (PSDB/MG).
A morte de Pio Canêdo teve grande repercussão no meio político, pois o
mesmo compunha a linhagem política mais competente do Estado e era tido como o
último remanescente das chamadas “raposas” do antigo e extinto PSD mineiro, do
qual faziam parte Benedito Valadares, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, José
Maria de Alkimim, Renato Azeredo, Ovídio de Abreu e muitos outros correligionários,
que faziam da política uma arte e tiveram em decorrência disto fama em todo o País
e seus nomes insculpidos na história78. Em sua última entrevista, Pio Canêdo
afirmou que “o primeiro requisito para um político, para sua marcha triunfal, é o da
lealdade partidária.”79

Figura 13 - Pio Soares Canêdo: foto do acervo


histórico da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais.
78
LOPES, Carlos Herculano. Pio Canêdo: o último pessedista. Estado de Minas. 11 jan. 1998. Fim de
Semana, p.8.
79
MURIAÉ, op. cit.
407
28

8 MEMÓRIAS PÓSTUMAS AO DR. PIO CANÊDO: FIGURA ÍNCLITA


DE NUMEROSOS PREDICADOS

Pio Soares Canêdo deixou marcas indeléveis na história política de seu


estado natal, por este motivo, as despedidas derradeiras, bem como as
homenagens não limitaram-se à tarde do dia 22 de agosto de 1999.
Aos 25 de agosto, o Senador Arlindo Porto do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB/MG) em um pronunciamento na Casa do Senado Federal, prestou suas
homenagens lastimando a morte do político e saudando-o com numerosos
predicados:

(...) estamos de luto, (...) pelo falecimento (...) de uma figura ímpar de nossa
terra. (...) O nome dessa personalidade que marcou e será sempre
lembrado nas terras mineiras é Pio Soares Canêdo (...). Conhecido como
um homem de hábitos modestos, Dr. Pio Canêdo era um gigante na política,
mas marcou todas as suas posições políticas como homem de bastidores,
culto, capaz de refletir com habilidade e segurança a média da opinião
pública e a opinião dos mineiros. Nos últimos anos, mesmo afastado dos
cargos públicos, esteve presente em todos os momentos da política mineira,
sempre bem informado, equilibrado, sensato, pronto a ouvir e aconselhar-
se, predisposto para o entendimento e a conciliação. Quando um político
desse quilate nos deixa, depois de ter marcado a sua vida com dosagens
equilibradas de ousadia, destemor, sagacidade e muito mineiridade, não há
como deixarmos de registrar essa lacuna na tribuna do Senado da
80
República, em nome do Estado de Minas Gerais.

Para o Senador, o seu registro ultrapassava o dever cívico de louvar aqueles


que se dedicaram com altivez ao bem comum.

É também o lamento pela perda de um amigo, amigo e conselheiro sempre


disponível e afável, a quem recorri com freqüência, principalmente durante
os quatro anos em que exerceu cargo de vice-governador do meu Estado
81
de Minas Gerais.

Como fora abordado no prólogo deste trabalho em 2004, um grande preito de


iniciativa do Governador do Estado, Aécio Neves, foi prestado ao político
muriaeense ao levar à Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais o projeto
de Lei de n° 1.257/2003, que dava a denominação de Penitenciária Doutor Pio

80
PORTO, op. cit.
81
Ibdem.
417
29

Soares Canêdo ao Estabelecimento Penal localizado no Município de Pará de


Minas82.
Decorridas as várias homenagens, verifica-se neste certame promovido pela
Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) que visa premiar trabalhos
monográficos sobre a vida e obra dos patronos dos estabelecimentos prisionais em
Minas Gerias, mais uma dentre as várias formas de reverenciar personalidades
marcantes que na ocasião trata-se de Pio Soares Canêdo, homem pundonoroso,
cheio de virtudes e repleto de altas qualidades.
Em sua terra natal, Pio Canêdo jamais fora esquecido, mas como o fim de
enfatizar sua memória e tornar público seus grande feitos, foi criado em maio deste
ano um Centro Comercial, Turístico e Cultural com o seu nome bem como um
memorial. De autoria do vereador João Cândido Batista (João Fiscal), o projeto de
lei que tratava da denominação do Prédio restaurado em Centro Cultural Turístico
Regional “Dr. Pio Soares Canêdo”, muito mais que sensato, foi digno de aprovação,
assim sendo, sem mais preâmbulos, o Prefeito José Braz, sancionou o projeto. Nas
palavras do Vereador João Fiscal a homenagem prestada ao maior político da
história de Muriaé, era mais do que justa, pois Pio Canêdo nascera nesta terra, era
um homem simples, ousado, humanista, um político mineiro autêntico e de poucos
discursos, mas de muita ação política, marco de, pelo menos, uns 50 anos da vida
recente de Minas Gerais83.
Neste viés, a iniciativa, que inseriu a cidade de Muriaé no pólo artístico-
cultural da região, ganhou um “quê” a mais com a aprovação do projeto. Ao dar o
nome de Pio Soares Canêdo ao prédio do antigo Grande Hotel Muriahé, foram
conciliadas história, cultura, política e memória popular, além de permitir um resgate
de épocas grandiosas para a cidade. João Fiscal finalizou sua entrevista ao Jornal
Gazeta de Muriaé dizendo:

O ex-governador Pio Canêdo foi por todos que o conheceram o conciliador


da política mineira, principalmente quando da retomada democrática do
Brasil em 1946. Queremos com esta atitude homenagear seus feitos,
eternizá-los e narrá-los a todos os muriaeenses e àqueles que nos
84
visitam.

82
ASSEMBLEIA DE MINAS, op. cit.
83
OLIVEIRA, op. cit.
84
Ibdem.
427
30

Figura 14 - Grande Hotel Muriahé reformado e denominado por vez como Centro Cultural e
Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo (maio de 2009).

Figura 15 - Grande Hotel Muriahé reformado e denominado por vez como Centro Cultural e
Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo (maio de 2009).

A excelente obra arquitetônica, de estilo neoclássico, possui ricos elementos


artísticos trazidos da Europa e que foi apresentada à população muriaeense, esteve
sob a responsabilidade da arquiteta Márcia Canêdo Bizzo, Coordenadora de
Patrimônio Cultural da FUNDARTE e sobrinha-neta do estadista Pio Canêdo. Na
437
31

inauguração da restauração do grande Hotel no dia 29 de maio de 2009, várias


autoridades estiveram presentes para prestigiar a obra que preiteia o grande político
muriaeense Pio Soares Canêdo. O evento contou com a participação do Vice-
Governador Antônio Augusto Anastasia, os Deputados Federais Lael Varella e
Virgílio Guimarães, o Deputado Estadual Bráulio Braz, o prefeito José Braz, a
Superintendente da FUNDARTE Gilca Napier, os ex-prefeitos Christiano Canêdo
(sobrinho do homenageado) e Carlos Fernando Costa, o Presidente da Câmara dos
Vereadores Ademar Camerino, Mônica Botelho (Presidente da Fundação Cultural
Ormeo Junqueira Botelho), Dr. José Alcino Bicalho e Dr. Marcos Tambasco
(representantes da USIMINAS) secretários municipais, vereadores, prefeitos de toda
região, familiares do homenageado, como o filho Pio Soares Canêdo Júnior e muitas
outras importantes personalidades.
Para o ex-prefeito e sobrinho do homenageado Dr. Christiano Canêdo este é
um momenento especial, “para nossa família este é um momento de muita emoção,
pois meu tio Pio Canêdo foi um exemplo de político para todos nós mineiros. Ter seu
nome exaltado nessa obra fantástica enobrece ainda mais sua vida pública.”85
A data do natalício de Pio Soares comemorada aos 21 de agosto do ano
corrente, foi saudada e recordada por muitos em todo o país. O presidente do
Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TER-MG), Desembargador Almeida
Melo, abriu a sessão da quinta-feira, dia 20 de agosto de 2009 antecipando as
homenagens pelo centenário de nascimento do ex-deputado e Vice-Governador de
Minas Gerais, que aconteceu no dia 21. Em seu pronunciamento, o Desembargador
destacou a vida pública exemplar do político, iniciada como Vereador em Muriaé em
1936, e também do jurista, membro do Conselho do Instituto dos Advogados de
Minas Gerais. O Desembargador chamou atenção ainda para a religiosidade e a
excelente capacidade de articulação do estadista no Governo de Israel Pinheiro no
período de 1966 a 1970.
Com base no que disse o Desembargador, Pio Canêdo era desapegado e
tinha perfeita noção de partido, de fidelidade partidária. Porém, fez-se sábio
conciliador ante o fato consumado da extinção dos partidos em 1965 e a
irreversibilidade do processo revolucionário. Convidado a ser o pacificador das
correntes partidárias, todas, à exceção do pequeno número dos formadores do
85
GRANDE Hotel: novo cartão postal de Muriaé. Centro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares
Canêdo. Gazeta de Muriaé, Muriaé, 5 jun. 2009. p. 4.
447
32

MDB, empenhadas no apoio ao Governo Militar, porém incomunicáveis nas bases


eleitorais, exerceu com mestria e sucesso a função de estabelecer critérios de
convivência política da ARENA entre tradicionais adversários e desafetos. Pio
Canêdo era um homem religioso de profunda fé em Deus, católico praticante e
frequentador assíduo das missas dominicais. Em seu tributo o Desembargador ainda
acrescentou:

Convivemos com o Dr. Pio Canêdo, desde quando ainda era estudante. No
nosso trabalho de apoio aos deputados do PSD. Temos muita honra de ter
merecido a confiança e o prestígio do grande amigo e chefe que, sempre
quando podia, nos visitava. Dava-nos oportunos ensinamentos, dos quais
nunca nos esqueceremos e que colocamos em prática com inabalável
confiança no seu acerto. Com seu depoimento aos historiadores Sílvia
Barata de Paula Pinto e Hugo Antônio Avelar, merecedor de leitura e de
divulgação, inaugurou o projeto de história oral Memória Política de Minas,
da Assembléia Legislativa, na administração do saudoso Deputado
Agostinho Patrus. Reverenciamos e registramos nos anais deste Tribunal o
centenário do grande nome da vida pública de Minas, Pio Soares Canêdo,
cujo nome declinamos com maior respeito e solicitamos que essa
86
homenagem seja comunicada a seus filhos.

O Senador Arlindo Porto, não se hesitou em dizer no seu pronunciamento que


Minas e o mundo político perdem um luminar, um exemplo; eu, o amigo dileto e
conselheiro de todas as horas, desde que lhe descobri a amizade e a capacidade de
acertar na avaliação das coisas e dos homens. Mesmo agora, no Sendo Federal,
nunca me furtei a recorrer ao velho mestre, pelo que ele tinha de bom senso, de
espírito pacificador, pela sua visão do mundo, do Brasil e da nossa querida Minas
Gerais, Estado pelo qual devotava tal amor que jamais aceitou cargos federais que o
levassem para longe de suas montanhas. Era lá que o Dr. Pio era feliz, era lá que
gostava de receber os amigos, para quem tinha palavras de sabedoria e
sagacidade. “Sendo ele analista sereno de homens, de situações e de movimentos
políticos, sempre me vali de seus juízos e orientações e ele as dava de forma
humilde e despretensiosa.‟‟ 87
Símbolo da tolerância e da sensibilidade política, o Dr. Pio também foi
conselheiro e bom amigo do nosso ex-governador Hélio Garcia, originário da antiga
UDN e um dos seus grandes líderes em Minas. Hélio Garcia nutria pelo Dr. Pio
86
CENTENÁRIO de Pio Canêdo é destacado em sessão do TRE mineiro: Extraído de: Tribunal Regional
Eleitoral de Minas Gerais, em 20 de agosto de 2009. Notícias JusBrasil, Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/1740068/centenario-de-pio-Canêdo-e-destacado-em-sessao-do-tre-
mineiro>. Acessado em: 18 out. 2009.
87
PORTO, op.cit.
45
33
7

Canêdo amizade e admiração. Com ele tinha uma identidade que nunca foi
arranhada pelas filiações a Partidos, já que qualquer ação junto com o Dr. Pio
Canêdo representava a defesa intransigente dos mais altos interesses do povo
mineiro, via conciliação e busca do entendimento político, grande arma para a
conquista dos ideais maiores dos brasileiros.

Como era natural, não faltaram comentários sobre as acentuadas


diferenças entre os políticos daquela geração e os que participam de
maneira pouco decorosa dessa atividade nos dias de hoje. E sempre me
lembro da frase de João Mangabeira, no ensaio sobre Rui Barbosa, quando
assinala que "a política é a mais nobre forma de servir à pátria". Se vivo
fosse, modificaria sua célebre definição para acentuar que a política é a
88
forma mais rápida de se locupletar à custa dos cofres públicos .

88
BADARÓ, Murilo. O centenário de Pio Canêdo. O Tempo on-line. Belo Horizonte, 21 ago. 2009.
Disponível em: <http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=1403&IdColunaEdicao=94
40>. Acessado em: 12 out. 2009.
467
34

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho foi possível resgatar a memória do ilustre mineiro que
teve o seu nome gravado entre os políticos de maior repercussão no Estado. Nos
últimos anos, mesmo afastado dos cargos públicos, esteve presente em todos os
momentos da política mineira, sempre bem informado, equilibrado, sensato, pronto a
ouvir e aconselhar, predisposto para o entendimento e a conciliação.
Pio Canêdo foi humanista, simples e ousado. Sendo ele um grande patriota e
mineiro autêntico, jamais se interessou pelo Parlamento Nacional ou por cargos
federais, por não querer afastar-se de suas origens. Embora, morto, suas idéias,
experiências e ensinamentos de como fazer política ficaram eternamente marcados
para a atual e para as futuras gerações de estadistas e representantes do povo, pois
o Dr. Pio soube acima de tudo, valorizar essas funções e agigantar-se na modéstia
dos mandatos populares.
Enquanto viveu, constatou-se no labutar desta atividade que Pio Canêdo, era
um homem fiel aos princípios éticos e morais. Seus créditos emanavam de seus
notáveis trabalhos como pacificador da política mineira a partir da contra-revolução
de 1964, quando o projeto político engendrado pelos militares previa a extinção dos
partidos políticos e todo seu cortejo de insuficiências.
Diante dos feitos e de seu legado não há quem não se orgulhe de ter como
conterrâneo Pio Soares Canêdo, personalidade que soube fazer da política uma
ferramenta para atender a necessidades do seu povo. Em meio à crescente
degradação das instituições parlamentares e desmoralização da atividade política,
faz-se muito bem cortejar à alma e ao espírito do saudoso e dileto estadista mineiro,
rendendo-lhe o tributo de diversas formas e elevando ao mesmo tempo, várias
preces a Deus para que os homens políticos de hoje sejam iluminados e tomem
como exemplos a atuação pública e privada de Pio Canêdo, um homem generoso
de admiráveis virtudes.
477
35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSEMBLEIA DE MINAS. Diário do Legislativo. Lei de n° 1.257/2003. Belo


Horizonte: 16 abr. 2004. Disponível em: <http://www.almg.gov.br/dia/A_2004/04/
L160404.htm>. Acessado em: 12 out. 2009.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6023:


informação e documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2000. 22p.

______. NBR 10520: informação e documentação – citações em documentos –


apresentação. Rio de janeiro, 2001. 4p.

______. NBR 14724: informação e documentação – trabalhos acadêmicos –


apresentação. Rio de Janeiro, 2005.

BADARÓ, Murilo. O centenário de Pio Canêdo. O Tempo on-line. Belo Horizonte,


21 ago. 2009. Disponível em: <http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?Id
Edicao=1403&IdColunaEdicao=9440>. Acessado em: 12 out. 2009.

BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (CNS). Resolução n. 196, de 10 de


outubro de 1996. Dispõe sobre diretrizes e norma regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/comissao/
conep/resolucao.html>. Acesso em: 20 jul. 2009.

______. Ministério da Justiça. Execução Penal. CNPCP. Histórico. Presidentes: Pio


Soares Canêdo, Belo Horizonte-MG (DOU de 25/06/80 - Portaria nº 658 de
24/06/1980). Brasília, 2007-2009. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/data/Pages/
MJE9614C8CITEMID64869A86B5D94C3297F464436AD82308PTBRIE.htm>.
Acessado em: 11 out. 2009.

______. ______. ______. Diretrizes. Resolução CNPCP nº 14, de 11 de novembro


de 1994: trata das regras mínimas para tratamento dos presos no Brasil. Brasília,
2007-2009. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/cnpcp/data/Pages/MJE9614C8CI
TEMIDD4BA0295587E40C6A2C6F741CF662E79PTBRIE.htm>. Acessado em:
Acesso em: 25 out. 2008.
487
36

______. ______. ______. Histórico. Brasília, 2007-2009. Disponível em:


<http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJE9614C8CITEMID64869A86B5D94C3297F46
4436AD82308PTBRIE.htm>. Acessado em: 11 out. 2009.

CANÊDO JÚNIOR, Pio Soares. (filho do estadista mineiro Pio Soares Canêdo).
Trabalho monográfico sobre Pio Canêdo [mensagem pessoal]. Mensagem
recebida por <piosoares@noventa.com.br> em: 28 out. 2009.

CANÊDO, Maria Cândida. (filha do estadista mineiro Pio Soares Canêdo). Trabalho
monográfico sobre Pio Canêdo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<mcmCanêdo@yahoo.com.br> em: 29 out. 2009.

CANÊDO, Pio Soares; PENNA, Carlos Alberto. Barbacena: o sentido da


permanência. Barbacena: Academia Barbacenense de Letras, 1979. 50p.

CENTRO cultural é inaugurado: Patrimônio cultural coloca Muriaé no circuito turístico


de Minas. A Notícia, Muriaé, 29 mai. 2009. p. 5.

DEPUTADO José Santana homenageia Pio Soares Canêdo. Belo Horizonte, 09 set.
2009. Disponível em: <http://www.deputadojosesantana.com.br/noticia3.asp?CodNo
ticia=367>. Acessado em: 6 out. 2009.

DOYLE, Fábio. Recordando Pio Canêdo. Diário da Tarde, Belo Horizonte, 10 ago.
1998. p. 2

FARIAS, Juliana. Gótico português: Tombado por Barbacena (MG), casarão da


família Pio Canêdo é uma das últimas amostras do estilo manuelino gótico. Revista
de História da Biblioteca Nacional, 17 set. 2009. Disponível em: <http://www.
revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2622>. Acessado em: 2 out.
2009.

GRANDE Hotel: novo cartão postal de Muriaé. Centro Cultural e Turístico Regional
Dr. Pio Soares Canêdo. Gazeta de Muriaé, Muriaé, 5 jun. 2009. p. 4.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua


portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de dados da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 2925p.
497
37

MINAS GERAIS. Assembléia Legislativa: Pio Soares Canêdo. Belo Horizonte:


Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 1996. 442p. (Coleção Memória
Política de Minas).

MURIAÉ. Fundação de Cultura e Artes de Muriaé (FUNDARTE) - Assessoria de


Comunicação: Centro Cultural e Turístico Regional Dr. Pio Soares Canêdo. Pio
Soares Canêdo. (microfilme). Muriaé, 29 mai. 2009, 5 min. 22 s. son. color.

OLIVEIRA, Andréa. Gazeta Cultural: Grande Hotel irá homenagear Pio Canêdo.
Gazeta de Muriaé, Muriaé, 2008. Disponível em: <http://www.gazetademuriae.
com.br/notimg/noticia.php?id=631>. Acessado em: 20 out. 2009.

PEREIRA, Lígia Maria Leite; DULCI, Otávio Soares. Projeto integrado - memória e
história: visões de Minas. Entrevistado: Dr. Pio Canêdo. Universidade Federal de
Minas Gerais: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte, 23 jul.
1992. 28p. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/historiaoral/entrevistas/Hist%
F3ria%20das%20Elites/PIO%20CANÊDO/Pio%20Canêdo.pdf>.

PORTO, Arlindo. Homenagem de pesar ao político mineiro Pio Soares Canêdo,


falecido no ultimo dia 21. Brasília: Senado Federal, 25 ago. 1999. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronunciamento/detTexto.asp?t=248427>.
Acessado em 10 de out. 2009.

REVISTA ACAIACA. Número especial dedicado ao centenário de Muriaé. Dr. Pio


Soares Canêdo. Belo Horizonte, 1955. ca 168p.

SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. 425p.

SIMÃO, Sarah. Complexo Penitenciário Doutor Pio Canêdo (CPDPC). Estrada


dos Costas, Km 02, Pará de Minas-MG, 35660-000. Telefone/Fax: (31) 2129-9798.

SILVA, Auta Isla Canêdo Gonçalves (filha do estadista mineiro Pio Soares Canêdo).
Pio Canêdo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <aicgs@hotmail.com>
em: 27 out. 2009.

SILVA, Lúcia Edna; MENEZES, Estela Muszakt. Metodologia da pesquisa e


elaboração de dissertação. 3. ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2001. 121p.
507
38

S-ar putea să vă placă și