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LITERATURA – AULA 9
CRIAÇÃO DE PERSONAGENS – PARTE 2
VILÕES E ANTAGONISTAS
NECESSIDADES LITERÁRIAS
Muitos escritores/roteiristas
costumam dizer que uma grande
história começa com um grande
vilão. O herói pode ser aquele que
leva todas as glórias, onde é
divertido acompanhar cada passo da
superação dos problemas que
surgem, mas é o vilão que causa tais
problemas. Consequentemente,
quanto melhor e mais perigoso o
vilão, mais difícil se tornará a jornada
do herói e mais interessante será
para o público.
Duas-Caras, por outro lado, era Harvey Dent, um excelente promotor público que
via a justiça na sociedade muito em preto no branco. Com ele não havia os tons de
cinza. Entretanto, durante um julgamento, o réu que acusava atirou ácido em seu
rosto, desfigurando metade dele. O incidente despertou em Harvey uma segunda
personalidade, que ficou conhecida como "Duas-Caras". Enquanto seu rosto limpo
representa seu lado bom, justo e correto, seu lado desfigurado representa seu lado
negro e a vontade de simplesmente julgar a sociedade como deve ser julgada,
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onde ele é juiz, júri e executor. E em qualquer questão, costuma ouvir ou um lado
ou o outro. Tal dúvida é representada em uma moeda, onde um lado é riscada
(Duas-Caras) e a outra, a coroa, é limpa (Harvey Dent). Ao arremessá-la para o
clássico cara-e-coroa, ele agirá conforme o lado sorteado.
E o que Batman tem a ver com Duas-Caras? Harvey Dent faz ligação com Bruce
Wayne, enquanto Duas-Caras faz ligação com Batman. Ambos vestem máscaras
para que possam ser seus "verdadeiros eus" e disfarces para que
contrabalanceiem suas ações questionáveis. Batman enxerga muito de si mesmo
em Duas-Caras e Duas-Caras não consegue mais viver em um mundo onde não
há alguém como Batman para servir de freio moral. Um depende do outro, como
parasitas.
Esses dois vilões servem para mostrar que um bom vilão é aquele que representa
o extremo oposto de uma única faceta do herói e é ali que o escritor deve trabalhar
com ele. Nada melhor para provar que uma boa história tem que ter um bom vilão.
NECESSIDADES SOCIAIS
Em uma sociedade, o vilão serve a dois propósitos. O primeiro é o propósito de
"válvula de escape". O segundo é o propósito de evolução. Vamos ver cada
propósito em partes.
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A sociedade parece que tem uma necessidade quase patológica de "acabar com
alguém" quando algum fato polêmico acontece, apontando os dedos sem pensar.
E quando a poeira começa a se assentar e os fatos vão se desdobrando, já é tarde
demais.
Essa é a tal válvula de escape, onde a sociedade inerentemente não quer ter a
sensação de impunidade rolando solta. É reconfortante, embora as pessoas não
percebam, ter a sensação de que se algo acontecer a elas, uma justiça será feita.
O "vencedor" pode
ser entendido como
no exemplo dos
samurais e ninjas.
Os samurais, a elite
japonesa, eram os
que governavam o
país durante o
período do
xogunato. Temos
vários documentos
e provas históricas
das ações dos
samurais. Mas e os
ninjas? São um
mistério. Não
deixaram quase nada. Isso se deve em parte por sua filosofia de agir e em parte
aos rumos da própria História.
Esse exemplo dos samurais e ninjas só mostra que o "vencedor" (no caso, os
samurais, não porque fossem melhores ou tivessem conseguido exterminar os
ninjas - o que não fizeram! - mas é pelo puro fato de estarem no poder) é quem
mostra a "verdade".
coisas), não haveria o consciente coletivo de melhoria de nossa raça. Então o vilão
é também necessário dessa forma.
PERSONAGENS SECUNDÁRIOS
Os personagens secundários são quase tão importantes quanto o personagem
principal, também recebendo um altíssimo grau de atenção no momento de criá-
los. Entretanto, não é necessário escrever um amontoado tão grande de páginas
para eles. As perguntas, os quesitos a serem criados são os mesmos, mas não se
preocupe em responder cada item com um volume tão grande de texto.
A Mary Jane é seu interesse amoroso? Realmente, mas é com ela que Peter tenta
ser mais normal do que já é. Ele não é um deus como Thor, um alienígena como
Superman ou tantos outros personagens diferentes. Ele é uma pessoa, apenas
uma pessoa. Mas é uma pessoa nerd. E os nerds não tem uma fama muito boa,
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geralmente. E é com Mary Jane que ele tem o lado de tentar ser mais sociável, de
tentar viver uma vida mais dentro dos parâmetros da sociedade. É com ela que
Peter tem uma pontinha de felicidade no meio de tanto caos em sua vida. E às
vezes, nem com ela...
Harry Osborn é seu melhor amigo. Rico, boa pinta, descolado... tudo que ele não
é. E é com Harry que ele tenta achar um figura masculina de amizade mais
próxima, pois é um rapaz que não tem preconceitos, inclusive com nerds. Harry é
um personagem que devido a seu status social e financeiro pode prover várias
possibilidades a Peter. E é claro, pesa o fato de que Harry é filho de Norman
Osborn, o Duende Verde – seu maior inimigo.
Analisando o Homem-Aranha e
alguns de seus coadjuvantes,
imagine Peter de pé, parado.
Agora imagine os personagens
secundário ao redor dele,
formando um círculo. Cada um
deles revelará um aspecto de
Peter ao lidar com ele, sempre
criando conflito – e,
conseqüentemente, Pontos de
Virada – e assim mantendo
suas histórias para frente,
criando várias possibilidades.
negativo, por que lutar? Por Trinity. Após conhecê-la, Neo tinha uma motivação
enorme para continuar lutando quando parecia não haver mais motivos. No caso
de Oráculo, ela era a guia em seu caminho quando tudo se tornava confuso ou
escuro demais.
Se você imagina o seu personagem como um círculo e então o parte como você
dividiria um pedaço de torta, você divide áreas de sua vida em física, emocional,
mental, incidentes sociais ou acontecimentos que formam o tecido do seu
personagem. Dessa forma você pode criar um retrato bem arredondado de seu
personagem e então tudo o que você faz, todas as emoções, pensamentos e senti-
mentos, você dramatiza trabalhando para o benefício da expansão de sua
caracterização.
Por que 10 e 16? Porque acontece de ser uma idade muito importante na vida de
uma pessoa. Há três grandes crescimentos ou expansões da inteligência humana
em nossas vidas. O primeiro grande crescimento da inteligência ocorre por volta
dos quatro anos, quando a criança aprende que ele/ela tem uma identidade; que
ele/ela é um menino ou menina, que tem um nome; quando os quatro anos agem,
há uma resposta e naquela idade ele/ela pertence a uma família, e esses são seus
pais e ele/ela vive nesse lugar. Nessa idade, pelo menos pra grande maioria, a
criança é mais do que nunca, capaz de comunicar suas necessidades.
Dê um tempo para ver o quão forte essa impressão é em sua própria vida; feche
os seus olhos e volte àquele tempo em que você tinha por volta de quinze ou
dezesseis anos, e veja qual incidente ou acontecimento que mais lhe afetou. Qual
foi o incidente ou acontecimento que vêm a sua mente? Se você quiser, toque
alguma música daquele tempo e veja quais lembranças ela traz, e então dê um
tempo para ver como algum incidente em particular daquele período afetou você e
possivelmente mudou a sua vida.
Então se você sente que o seu personagem está muito fino e unidimensional,
muito passivo ou muito ativo, ou fala de forma que seja muito direta ou explicativa,
uma forma de possivelmente resolver o problema é voltar e explorar a sua vida em
termos do Círculo de Existência.
Outro modo de abordar essa idéia tem a ver com a Terceira Lei do Movimento, de
Newton. A lei da física que estabelece que ação e reação são dois lados da
mesma moeda. “Para cada ação há uma reação igual e oposta”. Há uma boa regra
a se seguir ao construir o roteiro. Se algo acontece com um personagem, se eles
são afetados por algum incidente ou acontecimento, a reação é uma parte normal
de revelar aspectos diferentes do personagem. Os personagens estão sempre
agindo e reagindo aos acontecimentos ou forças que os afetam.