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Material de apoio
Produção de Leitura e de texto 2011-2
Professores Responsáveis:
Leila Cardoso
Camila Lemos
Carmem Toniazzo
Cinara Almeida Barcelos
Edson Santana
Flávia Mariano da Silva
Laine Andrade
Geniana dos Santos
Simone Sanches Vicente
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Várzea Grande
Março/2012
Caros acadêmicos,
Este material é fruto das reflexões dos professores das disciplinas de Formação Geral. Está alicerçado nos
livros referenciados. O mesmo não substitui em nenhum momento e em nenhuma hipótese, os livros, os manuais, as
enciclopédias, as pesquisas na internet, entre outros. Ela visa apenas facilitar um processo.
Cronograma de atividades
Mês Dia Atividade
Aula 1
Concepções de linguagem
A palavra leitura pode ser interpretada de diversas formas. Se formos tratá-la de uma
maneira mais ampla, ela poderá ser entendida como atribuição de sentido e, de acordo com esta
acepção, pode servir tanto à oralidade como à escrita. Assim, a leitura se torna possível sempre
que nos deparamos com qualquer forma de linguagem. Mas leitura pode ser vista, também, como
concepção. Neste sentido, ela está relacionada à compreensão de mundo do leitor e, por isto
mesmo, tem caráter ideológico (ORLANDI, 2001).
É olhando leitura por estes ângulos, como atribuição de sentido e como concepção, mais especificamente,
que procuraremos delinear nosso pensamento no decorrer deste trabalho.
Vista desta forma, a leitura é uma atividade que vai além da simples decodificação. O verdadeiro leitor é
aquele que, ao ler um texto, é capaz de relacioná-lo com o mundo e com outros textos já produzidos.
Ler é, sobretudo, ser capaz de, colocando o texto lido dentro de um contexto maior, posicionar-se
criticamente diante das ideias ali postas. Em outras palavras, ler é uma forma de interagir com o texto e também com
o seu autor. Pode-se dizer, dessa forma, que a leitura verdadeiramente interativa é aquela que o leitor faz com um
olho no texto e outro no mundo, ou seja, atento ao texto e, ao mesmo tempo, estabelecendo um elo de ligação entre
este e o seu contexto.
Quando o leitor não é capaz de compreender o sentido do que lê e de estabelecer essa ponte entre o texto e
seu contexto, corre o risco de ser, facilmente, manipulado por interpretações de segunda mão.
Para Platão e Fiorin (1990, p. 241) “Leitor perspicaz é aquele que consegue ler nas entrelinhas. Caso
contrário, ele pode passar por cima de significados importantes e decisivos ou – o que é pior – pode concordar com
coisas que rejeitaria se as percebesse”.
Dessa forma, a leitura reflexiva e interativa é porta de entrada para a socialização, para a politização dos
indivíduos. É, pois, por meio desta, além, é claro, de outras fontes, que os indivíduos estabelecem contato com o
mundo da informação. Portanto, o acesso aos mais variados tipos de textos e o contato com o maior número possível
deles só fará ampliar a visão de mundo desses indivíduos.
Enquanto que as concepções de linguagem estão relacionadas aos modos como o homem compreende a si
mesmo, a língua materna e o universo em que se situa e podem ser 3: a) A linguagem como expressão do
pensamento, b) a linguagem entendida como meio de comunicação e c) a linguagem como interação.
a) Linguagem como expressão do pensamento
Compreende a linguagem como dom individual, que se aprende por maturação, em que o sujeito se expressava pelos
“insights” por “saltos”. A linguagem, então, é produzida no interior da mente dos indivíduos racionais. É o uso o da
gramática pela gramática.
Sistema de signos capazes de representar, através de alguma substancia significativa (som, cor, imagem, gesto),
significados básicos que resultam de uma interpretação da realidade e da categorização mental dos resultados dessa
interpretação. É o processo de interação comunicativa que se constitui pela construção de sentidos Possui caráter
universal.
Língua – sistema particular de signos. Para cada grupo linguístico, o signo possui determinadas significações. Possui
caráter grupal.
Fala – É a forma pela qual cada um de nós coloca em prática o efetivo exercício da linguagem por meio da adoção de
um sistema particular de signos. Possui caráter individual.
Signo Linguístico – São elementos de significação nos quais se baseiam as línguas, e possuem uma dupla face:
Exemplos:
“[...] será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que
é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação
comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão". (KOCH e
TRAVAGLIA, 1990, p. 10)
Para estes autores, o que possibilita que os usuários da língua percebam uma sequência linguística como
uma unidade significativa é a textualidade, definida como “[...] aquilo que converte uma sequência linguística em
texto” (KOCH & TRAVAGLIA,1990, p.45).
Referências
KOCH, Ingedore Villaça.; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
PLATÃO SAVIOLI, Francisco; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto. Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.
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DESCRIÇÃO: é descrever um objeto, uma pessoa, um lugar. Requer observação cuidadosa, para tornar o que vai ser
descrito em um modelo inconfundível, porém, não se trata de enumerar uma série de elementos, mas transmitir
sensações, sentimentos. É criar o que não se vê, mas se percebe ou imagina; é não copiar friamente uma imagem,
mas deixá-la rica, pois o ser e o ambiente são aspectos importantíssimos na descrição.
Existem duas possibilidades de descrição:
a) Descrição objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, são apresentadas no seu sentido real. Exemplo: "Sua altura é
1,85m. Seu peso, 70Kg. Aparência atlética, ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e
lisos".
b) Descrição subjetiva: quando há maior participação da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem
são apresentados em sentido figurado. Exemplo: "Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao homem.
Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um
anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei..."
NARRAÇÃO: narrar é relatar fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, vividos por indivíduos, envolvendo ação e
movimento.
Estrutura:
a) Introdução: apresenta as personagens, localizando-as no tempo e no espaço.
b) Desenvolvimento: através das ações das personagens, constrói-se a trama e o suspense que culmina no clímax.
c) Conclusão: existem várias maneiras de se concluir uma narração, por exemplo, esclarecer a trama.
Características:
a) Verbos de ação, discursos direto, indireto e indireto livre.
b) Imaginação para compor uma história cativante que entretenha o leitor, provocando expectativa. Pode ser
romântica, dramática ou humorística.
c) A narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo às seguintes perguntas essenciais:
O enredo é prioridade;
Fundamental é situar o tempo e o espaço físico onde ocorrem os fatos;
Dar preferência ao verbo de ação, ao dinamismo, para tornar mais viva a narrativa;
O pretérito perfeito e o mais-que-perfeito do indicativo predominam na narrativa;
O autor adota a postura de narrador.
O raciocínio é que deve imperar neste tipo de composição, e quanto maior a fundamentação argumentativa, mais
brilhante será o desempenho.
Estrutura:
a) Introdução: consiste na proposição do tema, da idéia principal, apresentada de modo a sugerir o desenvolvimento.
b) Desenvolvimento: consiste no desenvolvimento da matéria, isto é, discutir e avaliar as ideias em torno do assunto
permitindo uma conclusão.
c) Conclusão: pode ser feita por uma síntese das idéias discutidas no desenvolvimento. É o resultado final.
d) Gostar de uma casa é psicologicamente importante em qualquer tipo de compra, seja ela para residência ou para
investimento.
e) O mercado imobiliário oferece oportunidades mais seguras para o investidor que para o especulador.
Gabarito 1. D 2. B
ELEMENTOS NARRATIVOS
Na aula passada vimos um pouco sobre os tipos textuais, Narração, Descrição e Dissertação, percebemos que
nesses textos sempre aparece a voz do narrador e em alguns casos a voz dos personagens, quando isso acontece
dizemos que temos no texto o Discurso Direto ou o Discurso Indireto. Vamos então aprofundar um pouco esse
estudo sobre os tipos de Discursos que aparecem nos textos.
Em uma narrativa, o narrador pode apresentar a fala das personagens através do discurso direto ou do
discurso indireto.
A posição que o Narrador assume para narrar uma história chama-se foco narrativo ou ponto de vista.
Basicamente há dois tipos de focos narrativos:
*Foco narrativo em 1ª pessoa – o narrador é uma das personagens envolvidas na história, falando dela
mesma, por isso emprega-se a primeira pessoa, (eu). Denomina-se narrador personagem.
* Foco narrativo em 3ª pessoa – o narrador não participa dos acontecimentos. Ele fala das personagens, por
isso emprega-se a terceira pessoa (ele(s), ela(s)). É um observador. Denomina-se narrador observador.
Dependendo do tipo de narrador tem-se então um tipo de Discurso.
O discurso é direto quando são as personagens que falam. O narrador, interrompendo a narrativa, põe-nas em cena
e cede-lhes a palavra. O discurso direto caracteriza-se pela reprodução fiel da fala do personagem. Exemplo:
“ Diz o guarda, Estou precisando de um pouco de lenha, Diz o feitor, Lá irá. Diz o guarda, E um pouco de telhas, Diz o
feitor, Não se preocupe, lá irá. Diz o guarda, Agradeça ao senhor, e diga-lhe que estarei sempre à sua disposição. Até
mais ver, Até mais, responde o feitor.” (Levantados do Chão. Saramago. José,1988)
No discurso indireto não há diálogo, o narrador não põe as personagens para falar diretamente, mas faz-se de
intérprete delas, transmitindo ao leitor o que disseram ou pensaram. Quando isso acontece, diz-se que temos um
Narrador Onisciente, isto é, ele sabe o que se passa com as personagens, até mesmo o que elas pensam, e repassa
isso para o Leitor. Exemplo:
Meu engraxate
É por causa do meu engraxate que ando agora em plena desolação. Meu engraxate me deixou. Passei duas vezes
pela porta onde ele trabalhava e nada. Então me inquietei, não sei que doenças mortíferas, que mudança pra outras
portas se pensaram em mim, resolvi perguntar ao menino que trabalhava na outra cadeira. O menino é um retalho
de hungarês, cara de infeliz, não dá simpatia alguma. É tímido, o que torna instintivamente a gente muito combinado
com o universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença. “Está vendendo bilhete de loteria”,
respondeu antipático, me deixando numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem engraxate! Os olhos do
menino chispavam ávidos, porque sou dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei seguramente um minuto pra
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definir que tinha de continuar engraxando sapatos toda a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando,
podia ficar engraxate bom.
(Andrade, Mário de. Os filhos da Candinha. São Paulo, Martins, 1963. p.167)
Discurso indireto livre: É um discurso misto onde há uma maior liberdade, o narrador insere a fala do personagem de
forma sutil, sem fazer uso das marcas do discurso direto. É necessário que se tenha atenção para não confundir a fala
do narrador com a fala do personagem, pois esta surge de repente em meio a fala do narrador.
Exemplo de discurso indireto: A menina disse em tom zangado, que não gostava daquilo.
Exemplo de discurso indireto livre: A menina perambulava pela sala irritada e zangada. Eu não gosto disso! E parecia
que ninguém a ouvia.
EXERCÍCIOS
1) Transforme o excerto do discurso direto: “ Diz o guarda, Estou precisando de um pouco de lenha, Diz o feitor,
Lá irá. Diz o guarda, E um pouco de telhas, Diz o feitor, Não se preocupe, lá irá. Diz o guarda, Agradeça ao senhor, e
diga-lhe que estarei sempre à sua disposição. Até mais ver, Até mais, responde o feitor.” (Levantados do Chão.
Saramago. José,1988) em discurso indireto:
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b) Marcos disse a sua mãe que estava cansado. Ela recomendou-lhe que dormisse mais cedo e não ficasse tanto
tempo no computador.
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b) Decidi abandonar meu marido. Não posso mais viver com ele. Talvez ele não se incomode muito com isso,
não creio que ele goste mesmo de mim. Não somos sequer amigos, no sentido trivial da palavra [...] ( Rubem
Fonseca. A coleira do cão)
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brutal expediente. Mas desde que olhava para Eurídice se apoderava de mim uma fúria aniquiladora. E sentia
a moça nos braços do outro. Penetrava-me um desejo de tê-la, de poder possuí-la [...]. ( Rego, José Lins do.
Eurídice. in Obra completa vol.2. Rio de janeiro 1976) .
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CONTO
O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas
principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total, o conto
precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade. Ao escritor de contos dá-se o nome de
contista.
Introdução
Muitos teóricos discutem, até hoje, quais são os limites do conto, onde ele termina e onde começa a novela
ou o romance, o que o diferencia da crônica, quais os aspectos que fazem dele um conto e não outro tipo de
narrativa. Num movimento cíclico, com momentos de auge e outros de puro ostracismo, o conto tem acompanhado,
desde os primórdios, o avanço da humanidade através do tempo, num meio que, na maioria das vezes, é hostil e
nada propício para criar, ouvir ou ler esse tipo de narrativa.
Partindo das inscrições nas cavernas, das narrativas quase guturais ao redor das fogueiras, passando pelos
relatos de antigas culturas, pelo tremendo impulso dado pelos jornais no século XIX, chegaremos aos nossos dias,
mergulhando rapidamente no conto breve e até nos contos publicados na Internet que, muitas vezes, fogem dos
padrões e estão criando novos formatos dentro deste tipo de narrativa. Nesse primeiro momento, faremos um rápido
histórico do gênero, analisando, portanto, as principais características do enredo no conto.
William Somerset Maugham, também citado por Magalhães (1972, p. 18), considera o enredo
fundamental: "é um natural desejo de o leitor saber o que acontece às pessoas por quem se interessa e o enredo é
um meio de satisfazer tal desejo". Porém, nem todos os contos oferecem uma estrutura tão clara e precisa. Por isso é
possível falar em enredo psicológico ou até em contos que parecem não ter um enredo lógico e coerente.
Afirma Cândida Vilares Ganchos (2000, p. 12 - 13): "[...] falta-nos falar sobre a narrativa psicológica,
na qual os fatos nem sempre são evidentes, porque não equivalem a ações concretas do personagem, mas a
movimentos interiores; seriam fatos emocionais que comporiam o enredo psicológico." Mais adiante, conclui: "o
enredo psicológico se estrutura como enredo de ação; isto equivale a dizer que tem um conflito, apresenta partes,
verossimilhança e, portanto, é passível de análise."
Veremos, então, as partes que formam o enredo e servem como espinha dorsal do conto.
Elemento que abre o conto, introduzindo personagens, espaço, ambiente, ações iniciais, etc.
Complicação
Pode ser definido como o momento em que surge um fato novo que muda o rumo da história, provoca uma
reação do personagem ou personagens, cria um clima instável que necessariamente requer uma solução. Esse fato
que muda destinos e provoca modificações no rumo da história é parte integrante da complicação. Esta parte é,
também, o próprio desenvolvimento do enredo. Desenvolve-se a história, mostrando o que acontece com o
personagem ou personagens, o movimento dele ou deles dentro da narrativa, procurando solucionar o desequilíbrio
causado por determinada peripécia.
Clímax
Momento de maior tensão e intensidade dentro da narração. Pico máximo dos acontecimentos, facilmente
identificado pelo leitor, momento de auge no qual as ações atingem sua máxima expressão. Toda a estrutura do
enredo parece direcionada para este momento culminante da história.
Vejamos o exemplo:
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até
parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e
descansou na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu
a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode
pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta.
Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca. Cada pessoa
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que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta
à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se
na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-
chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina.
Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância.
Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do
quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o
rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las. Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o
incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau
da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e
alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de
outra cidade. Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as
calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi
pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na
mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso
era com o rabecão. A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara
duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um
defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não
pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se
espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos,
quase o retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá
estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha
queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record, Rio de Janeiro, 1979, pág.20..
1)A partir da leitura do conto acima, qual é seu ponto de vista sobre o comportamento social das pessoas nos
grandes centros, será que se a cena retratada acontecesse numa cidade do interior, numa cidadezinha qualquer, a
reação e o comportamento das pessoas seriam o mesmo? Disserte sobre o tema apresentado no conto, aponte as
causas e as consequências desse tipo de comportamento, o que leva as pessoas a agirem dessa forma?
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2)Retire do Conto, o protagonista e as personagens secundárias.
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3)Qual é o tipo de narrador que se apresenta no Conto?
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4)Apresente o clímax do conto Uma Vela para Dario.
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5)Retire do conto uma parte em que apareça o Discurso Direto e o Indireto.
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6)Transforme o Conto “Uma vela para Dario”, em uma notícia, não se esqueça de colocar os elementos essenciais de
uma notícia: Onde – Quando – Como – Quem – Por quê?
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Referências
CUNHA. Celso. In. Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição, MEC-FENAME.
No texto imaginado no princípio desta lição, trabalha-se com a oposição civilização versus natureza. É preciso
agora ver como se encadeiam esses termos ao longo do texto. Temos nele o seguinte esquema: apresentam-se os
elementos relativos à civilização urbana, ou seja, afirma-se o termo civilização; propõe-se o abandono das cidades,
isto é, nega-se a civilização; mostram-se os elementos concernentes à natureza, ou seja, afirma-se a natureza. Nos
textos, a oposição fundamental encadeia-se da seguinte maneira: afirma-se um dos termos da oposição; em seguida,
nega-se o termo que fora afirmado; depois, afirma-se o outro. Assim, como a oposição de base regula os diferentes
sentidos superficiais, esse esquema básico em que se nega um termo da oposição e se afirma o outro explica o
movimento do texto, ou seja, como se encadeiam seus significados.
Texto comentado
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Neste texto, temos um diálogo entre Severino, retirante, e uma mulher a quem ele pede trabalho. O texto
divide-se em dois blocos: o primeiro, em que Severino expõe o que sabe fazer e em que a mulher desqualifica esse
saber, dizendo-o inútil naquele lugar; o segundo, em que a mulher mostra qual o saber útil no lugar em que estão.
Os elementos do texto podem ser classificados em três grupos:
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1) saber de Severino – lavrador – cultivar a terra, arar a calva da pedra, conhecer as roças;
2) desqualificação do saber de Severino – “de pouco adianta”, “pouco existe o que arar”, “nem pedra há aqui
que amassar”, “já não quer financiar”;
3) saber útil naquele lugar – rezar benditos, cantar excelências, encomendar defuntos, tirar ladainhas, enterrar
mortos, ajudar a morte, “profissões que fazem da morte ofício ou bazar”, etc.
Os elementos do primeiro grupo afirmam a vida (ato de produzir), os do segundo negam a vida (não se pode
produzir), os do terceiro afirmam a morte (ato de ajudar a morte). O texto constrói-se, pois, sobre a oposição
semântica vida versus morte, mostrando que a morte suplanta a vida.
Levando em conta o ofício que a mulher exerce e o lucro daí advindo, o ofício de zelar pela vida é valorizado
negativamente, pois mal-recompensado, enquanto o de cuidar da morte é valorizado positivamente, pois lucrativo.
Essa valorização é um paradoxo que ressalta o absurdo da situação relatada.
Referência
FIORIN, José Luiz. SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007.
Intertextualidade
A intertextualidade pode ser caracterizada como relação entre textos, diálogo. Quando se diz “texto”, entenda-
se que se trata de tudo aquilo que pode ser lido, interpretado. Uma imagem, um poema, uma propaganda, tudo isso
é texto. Uma piada que é retomada por meio de uma frase em uma conversa entre amigos, um grito de torcida que
adapta uma música já existente e outras ocorrências são formas de intertextualidade.
A construção da intelectualidade humana é repleta de diálogos com textos. Essa constatação é vista no poema
“Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto: “Um galo sozinho não tece uma manhã:/ Ele precisará sempre de
outros galos/ (...) E de outros galos/ que com muitos outros galos se cruzem/ os fios de sol de seus gritos de galo,/
para que a manhã, desde uma teia tênue,/ se vá tecendo, entre todos os galos”. A compreensão desse diálogo entre
textos pressupõe um universo cultural amplo e, em certas situações, complexo, visto que implica reconhecimento de
obras ou de trechos diversos; ou seja, à medida que se amplia a quantidade de mundo do indivíduo, e, portanto, de
suas experiências textuais, maior é a capacidade de leitura e de produção intertextual.
A paródia é tipo de intertextualidade. Ela consiste em uma nova interpretação de um texto já existente. Sua
proposta é adaptar o original a um novo contexto, valendo-se, em geral, da fama já agregada pelo original, propondo,
em muitas ocasiões, tons de riso e deboche. Obverve os versos do “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de
Andrade: “Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”. Agora
observe o poema “Com licença poética”, de Adélia Prado: “Quando nasci um anjo esbelto,/ desses que tocam
trombeta, anunciou:/ vai carregar bandeira.”.
A “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, é fonte de diversas paródias. Veja o texto original: “Minha terra tem
palmeiras,/ onde canta o sabiá;/ as aves, que aqui gorjeiam,/ não gojeiam como lá”. Observe, agora, a paródia
proposta por Oswald: “Minha terra tem palmares/ onde gorjeia o mar/ Os passarinhos daqui/ Não cantam como os
de lá”. O texto-base é da primeira fase romântica, na qual o autor tem importância única, por fundar e consolidar a
poesia romântica na literatura nacional, além de ser um dos precursores de um projeto de construção da cultura,
nacionalmente, brasileira. É, na primeira fase doRomantismo, que o clamor nacionalista permite à poesia criar mitos
e heróis com roupagens brasilieras – por isso, que os índios são um dos elementos mais importantes dessa fase. O
texto de Oswald, poeta modernista, por outro lado, quebra com as referencias idealistas do poema romântico,
mostrando que, nessa terra na qual “em se plantando tudo dá”, há também palmares, referência ao Quilombo dos
Palmares. Nessa terra em que o índio vira herói, o negro é apagado da literatura, relegado ao status de “peça”.
Outros tipos de intertextualidade são a epígrafe e a citação. A primeira é uma frase ou uma menção curta,
disponível no início dos livros, dos capítulos, dos poemas, entre outros textos. Uma conhecida epígrafe é a da obra
“Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro: “O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem
histórias”. É um pequeno texto que dialoga com o livro, tendo por objetivo preparar o leitor para o tema que será
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abordado. Já a citação é a transcrição de um texto alheio. No capítulo 4, do evangelho de Lucas, Jesus Cristo toma em
suas mãos um livro e cita as palavras do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para
evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os humildes de coração, a pregar liberdade aos escravos, e restauração da
vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, e a anunciar o ano aceitável do Senhor”.
Outra forma de intertextualidade é a paráfrase. Esse modo de diálogo textual realiza-se quando um texto é
transcrito de uma forma diversa, mas mantendo a idéia original. Resumos de obras literárias, o ato de recontar
histórias ou adaptar textos são exemplos de paráfrase. E isso cabe, por exemplo, a filmes que são adaptações de
livros. Na música “Monte Castelo”, da banda Legião Urbana, há uma paráfrase do capítulo 13 da 1.a Epístola aos
Coríntios no trecho: “Ainda que eu falasse/ A língua dos homens/ E falasse a língua dos anjos/ Sem amor, eu nada
seria .../ É só o amor, é só o amor/ Que conhece o que é verdade/ O amor é bom, não quer o mal/ Não sente inveja/
Ou se envaidece”.
Ainda podem ser citados como casos de intertextualidade, o pastiche e a tradução. O primeiro é uma imitação
do estilo de outros artistas. Silviano Santiago, no livro “Em Liberdade”, fantasia a saída de Graciliano Ramos da prisão.
O livro é um diário com anotações sobre momentos após a liberdade de Graciliano, preso pelo regime varguista.
Silviano faz um pastiche, com o intuito de criar a impressão de que o livro foi escrito pelo próprio Graciliano. Já a
tradução consiste na transferência de um texto de uma língua para outra. Mas uma expressão italiana exprime o que
é esse processo: tradutore, traditore – ou seja, tradução, traição. Muitas vezes, há elementos em um texto que
impedem que sua tradução seja fiel ao original. O que seria traduzir um livro do moçambicano Mia Couto para o
inglês, por exemplo? Veja um trecho de “O último voo do flamingo”: “E foi o inteiro dia, uma roda curiosa,
cozinhando rumores. Vocabuliam-se dúvidas, instantaneavam- se ordens: [...]”. Vocabuliam? instantaneavam? Como
traduzir para uma outra língua e manter esse jogo criado pelo autor africano? Cada língua é uma representação da
cultura de um povo, um retrato de uma época, de uma nação. E cada texto é um mundo, que pode se relacionar com
outros mundos, confrontando, integrando, construindo uma nova visão, uma nova leitura.
Alex Pitta
O Rio Severino
Um tísico à míngua espera a tarde inteira Me diz, o que é que você tem
Mas vem de tudo n`água suja, escura e espessa deste O que é que você tem
Mas quem não tem abc não pode entender HIV Me diz o que é que você tem
Nem cobrir, evitar ou ferver É muita gente ingrata reclamando de barriga d`água
cheia
O rio é um rosário cujas contas são cidades
São maus cidadãos
À espera de um Deus que dê
É essa gente analfabeta interessada em denegrir
Quem possa lhes dizer
A boa imagem da nossa nação
O que é que você tem
És tu Brasil, ó pátria amada, idolatrada
O que é que eu posso te dizer
17
Por quem tem acesso fácil a todos os teus bens O que é que você tem
Enquanto o resto se agarra no rosário, e sofre e reza O que é que você tem
Nova ortografia
Alfabeto
Nova Regra
O alfabeto será formado por 26 letras
Como é
As letras “k”, “w” e “y” não são consideradas integrantes do alfabeto
Como será
Essas letras serão usadas em unidades de medida, nomes próprios, palavras estrangeiras e outras palavras em geral.
Exemplos: km, kg, watt, playground, William, Kafka, kafkiano.
Trema
Nova regra
Não existirá mais o trema na língua portuguesa. Será mantido apenas em casos de nomes estrangeiros. Exemplo:
Müller, mülleriano.
Como é
Agüentar, conseqüência, cinqüenta, freqüência, tranqüilo, lingüiça, bilíngüe.
Como será
Aguentar, consequência, cinquenta, frequência, tranquilo, linguiça, bilíngue.
Como é
Assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, Coréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico
Como será
Assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, Coreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico.
Obs: Nos ditongos abertos de palavras oxítonas terminadas em éi, éu e ói e monossílabas o acento continua: herói,
constrói, dói, anéis, papéis, troféu, céu, chapéu.
Hiato
Nova regra
Os hiatos "oo" e "ee" não serão mais acentuados
Como é
enjôo, vôo, perdôo, abençôo, povôo, crêem, dêem, lêem, vêem, relêem
Como será
enjoo, voo, perdoo, abençoo, povoo, creem, deem, leem, veem, releem
Palavras homônimas
Nova regra
Não existirá mais o acento diferencial em palavras homônimas (grafia igual, som e sentido diferentes)
Como é
Pára/para, péla/pela, pêlo/pelo, pêra/pera, pólo/polo
Como será
para, pela, pelo, pera, polo
Obs 1: O acento diferencial ainda permanece no verbo poder (pôde, quando usado no passado) e no verbo pôr (para
diferenciar da preposição por).
Obs 2: É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do
acento deixa a frase mais clara. Exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?
Exercícios
01.Assinale a opção em que todas as palavras estão grafadas e acentuadas corretamente:
a)microondas, arqui inimigo, vôo, idéia;
b)micro-ondas, arqui-inimigo, vôo, idéia;
c)microondas, arquiinimigo, vôo, ideia;
d)microondas, arqui-inimigo, voo, ideia;
e)micro-ondas, arqui-inimigo, voo, ideia.
03. (UFPR) Assinale a alternativa em que todos os vocábulos são acentuados por serem oxítonos:
a) paletó, avô, pajé, café, jiló;
b) parabéns, vêm, hífen, saí, oásis;
c) você, capilé, Paraná, lápis, régua;
d) amém, amável, filó, porém, além;
e) caí, aí, ímã, ipê, abricó.
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04. (CESCEM) “Sob um ___ de nuvens, atracou no ____ o navio que trazia o ____”.
Preencha as lacunas corretamente:
a)veu, porto, herói;
b)veu, pôrto, herói;
c)véu, pôrto, herói;
d)véu, porto, herói;
e)veu, porto, herói.
05. (CARLOS CHAGAS) “À luz de seu magnífico _________, _____, parece uma cidade __________” .
A alternativa correta é:
a)por-do-sol, Paranavaí, tranquila;
b)por do sol, Paranavai, tranqüila;
c)pôr-do-sol, Paranavai, tranqüila;
d)pôr-do-sol, Paranavaí, tranquila;
e)pôr do sol, Paranavaí, tranqüila.
História em quadrinhos
Banda desenhada, BD, história aos quadradinhos ou história em quadrinhos, quadrinhos, gibi, HQ,
revistinha é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados
gêneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais.
Também é conhecida por arte sequencial e narrativa figurada.
A banda desenhada é chamada de "Nona Arte" dando sequência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo
"arte sequencial" (traduzido do original sequential art), criado pelo quadrinista Will Eisner com o fim de definir "o
arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia", é comumente utilizado
para definir a linguagem usada nesta forma de representação, sendo no entanto um termo mais abrangente já que
uma fotonovela e um infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.
Apesar de nunca terem sido oficialmente batizados, os quadrinhos receberam diferentes nomes de acordo
com as circunstâncias específicas dos diversos países em que se estabeleceram. A banda desenhada é conhecida por
comics nos Estados Unidos, fumet na Itália, tebeos em Espanha, historietas na Argentina, muñequitos e cómicos em
Cuba, mangás no Japão, manhwas na Coréia do Sul, manhuas na China e por outras várias designações pelo mundo
fora.
Por exemplo, nos EUA, convencionou-se chamar comics, pois as primeiras manifestações do formato eram
histórias humorísticas, cómicas; na França, eram publicadas em tiras - bandes - diariamente nos jornais e ficaram
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conhecidas por bandes-dessinées; em Portugal por Histórias aos Quadradinhos (HQ) ou Banda Desenhada (uma
tradução literal do francês); na Itália, ganharam o nome dos balõezinhos ou fumacinhas (fumet) que indicam a fala
das personagens; na Espanha, chamou-se de tebeo, nome de uma revista infantil (TBO), da mesma forma que, no
Brasil, chamou-se por muito tempo e (continua a ser largamente usado) de gibi (também nome de uma revista).
Originalmente, a palavra gibi significava menino, mas mudou de sentido e passou a ser sinônimo de história em
quadrinhos.
Tudo, no entanto, se refere a mesma coisa: uma forma narrativa por meio de imagens fixas, ou seja, uma
história narrada em sequência de pequenos quadros. Nesse sentido, o nome utilizado no Brasil seria história em
quadrinhos, semelhante à expressão que caiu em desuso em Portugal 'histórias aos quadradinhos'.
No Japão são chamados Mangá. Os autores japoneses são destaque na década de 2000 como os maiores
sucessos comerciais do meio no mundo todo. É nesta época que o mangá se popularizou definitivamente por conta
das suas altas vendas na Europa, Estados Unidos e Brasil principalmente.
Registros primitivos
É possível remontar aos tipos de registos pictóricos utilizados pelo homem pré-histórico para representar, por
meio de desenhos, suas crenças e o mundo ao seu redor. Ao longo da história esse tipo de registro desenvolveu-se de
várias formas, desde a escrita hieroglífica egípcia até às tapeçarias medievais, bem como aos códigos/histórias
contidos numa única pintura. Por exemplo, a obra de Bosch, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Portugal, As
Tentações de Santo Antão, representam sequencialmente passos da vida do santo.
Porém, a banda desenhada não se confina à obra original, sendo antes um produto que nasce da novidade que foi a
Imprensa escrita. Assim, terá de ser impressa e distribuída por formatos de revista ou álbum. Só assim é a arte que
conhecemos. Qualquer analogia com aqueles exemplos históricos é apenas coincidência, pois a BD não é a única arte
que conta uma história por método sequencial.
Advindo dessa sua ligação embrionária à Imprensa, a banda desenhada encontra seus precedentes nas
sátiras políticas publicadas por jornais e revistas europeus e norte-americanos, que traziam caricaturas
acompanhadas de comentários ou pequenos diálogos humorísticos entre as personagens retratados.
Mais tarde esse recurso daria origem aos "balões", recurso gráfico que indica ao leitor qual das personagens
em cena está falando (donde o termo italiano "fumetti" - os balões lembram fumaça saindo da boca dos
interlocutores).
Origens históricas
A revista apontada como principal influência na banda desenhada é a britânica Punch criada em 1841, a
revista influenciou não só a produção ocidental, como também os lianhuanhua chineses (pequenos livros ilustrados
precursores dos atuais manhuas e os mangás japoneses.
No século XIX o livro Max und Moritz (1865), do escritor e desenhista alemão Wilhelm Busch é considerado
como o precursor dos quadrinhos - pois cada ação era ricamente ilustrada, tornando o texto mais agradável ao
público infantil.
A obra reconhecida pelo Festival Internacional de Banda desenhada de Angoulême é o livro Les Amours de
monsieur Vieux Bois (Os amores do senhor Jacarandá, no Brasil) de Rodolphe Töpffer publicado em 1827.
Deve-se registrar ainda o trabalho original publicado na imprensa do Brasil, de autoria do artista italiano
Angelo Agostini, que fez inúmeras charges e caricaturas de figuras políticas da época de Dom Pedro II, além de criar
banda desenhada com textos na forma de legenda, consideradas por vários como igualmente precursoras desse tipo
de arte.
De tempos em tempos, aparecem outras obras consideradas pioneiras, como foi o caso de Our House In
Town do escocês William Heath e publicada no jornal The Glasgow Looking Glass, em 1825.
O formato das tiras de jornal foram criados pelo teuto-americano Rudolph Dirks, retratando as aprontações
de um par de gêmeos, Hans e Fritz - editados no Brasil como Os Sobrinhos do Capitão, e título original
Katzenjammer Kids.
Nos jornais surgiram dois tipos de tiras, as diárias publicadas em preto e branco e as dominicais (também
chamadas de "páginas" ou "pranchas") publicadas em cores publicados em suplementos (cadernos de jornais
dedicados a tiras e publicados no formato tabloide).
suficiente. Surgiram os estúdios especializados na produção de histórias produzidas especificamente para a página de
revistas. A liberdade de usar a página (livre das restrições da "tira") permitiu aos quadrinistas um salto criativo.
As primeiras comic books eram revistas grandes no formato tabloide (mesmo formato dos suplementos de
tiras dominicais dos jornais, surgiu a idéia de dobrar o tabloide para se publicar mais páginas de quadrinhos, surge
então o formato meio-tabloide (um tabloide possuia 16 páginas e um meio tabloide possuia 64 páginas).
Além disso, a partir dos anos 30, as revistas em quadrinhos se multiplicaram: eram muito baratas e vendiam
muito bem no clima de devastação econômica criado pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.
Em 1938, com a publicação e o estrondoso sucesso da primeira história do Superman, surgiu o gênero dos
super-heróis, que se tornaria o paradigma dos quadrinhos norte-americanos. Em torno desses heróis mascarados, a
partir da década de 1940, desenvolveu-se uma verdadeira indústria do entretenimento.
Na década de 1950, a popularidade e a variedade das revistas em quadrinhos norte-americanas eram
enormes (a maioria traduzida ao redor do mundo). Faziam muito sucesso, além dos super-heróis, revistas de guerra e
terror. Considerados excessivamente violentos e uma influência perniciosa para a "juventude", os quadradinhos
passaram a sofrer fortes pressões governamentais. Essas pressões acabaram por forçar, nos EUA, a criação do Comics
Code Authority, um código de "ética" que conseguiu praticamente exterminar a criatividade dos quadradinhos norte-
americanos nas duas décadas seguintes. Praticamente, porque na década de 1960 autores underground como Robert
Crumb começaram a vender nas esquinas seus quadradinhos extremamente autorais, sem limites. Crumb e
numerosos colaboradores da lendária Zap Comix influenciaram uma nova geração, mostrando que os quadradinhos
eram um meio de expressão de grande potencial.
Hoje, os quadrinhos são publicados em mídia impressa e eletrônica e agregam ao seu redor um universo de
criações que são adaptadas aos jogos, às artes plásticas e a produtos como brinquedos, coleções de roupas, etc.
Entre os elementos de linguagem, além do já citado balão, podem ser destacados]: o uso de sinais gráficos
convencionados (como as onomatopéias para a tradução dos sons, pequenas estrelas sobre a cabeça de um
personagem indicando dor ou tontura, o próprio formato do balão pode indicar o volume ou tom da fala e até
mesmo informar que se trata de um pensamento); uso da "calha" para separar um quadro de outro e estabelecer um
sentido de evolução no tempo entre as cenas representadas; uso de cartelas ou recordatórios para estabelecer uma
"voz do narrador" dentro da história; e o uso de diagramação versátil dos quadros, de acordo com a necessidade
dramática de cada cena, entre outros.
Com a popularização da impressão, a partir do começo do século XIX para o XX a banda desenhada tornou-se
imensamente popular em todo o mundo. A sua linguagem é cada vez mais apurada e, apesar de ser tratada, muitas
vezes com preconceito, como uma forma de expressão menor seu respeito nos meios acadêmicos vem crescendo a
cada dia.
Os quadradinhos são lidos pelas mais diversas faixas etárias, desde crianças em idade de alfabetização a
idosos colecionadores.
A banda desenhada como uma forma de arte poderá representar diversos estilos e formatos de publicação,
muito embora seja discutível, ainda hoje e nos meios acadêmicos, se o cartoon (por exemplo) não será antes uma
arte autônoma.
Tira
A tira é uma sequência de imagens. O termo é atualmente mais usado para definir as tiras curtas publicadas
diariamente em jornais, mas historicamente o termo foi designado para definir qualquer espécie de tira, não
havendo limite máximo de quadros, sendo o mínimo de dois. As tiras dominicais dos Estados Unidos eram coloridas e
de início ocupavam uma página inteira de jornal.
Revista em quadrinhos
A revista em quadrinhos, como é chamada no Brasil, ou "comic book" como é predominantemente
conhecida nos Estados Unidos, é o formato comumente usado para a publicação de histórias do gênero, desde séries
românticas aos populares super-heróis. Em Portugal a expressão usada é 'Revista de Banda Desenhada'.
Graphic novel
Graphic novel (romance gráfico) é um termo para um formato de revista em quadrinhos que geralmente
trazem enredos longos e complexos, frequentemente direcionados ao público adulto. Contudo o termo não é
estritamente delimitado, sendo usado muitas vezes para implicar diferenças subjetivas na qualidade artística entre
um trabalho e outro. Em Portugal usa-se também a tradução Novela Gráfica.
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Webcomic
Webcomics, também conhecido como "online comics", "web comics" ou "digital comics" são histórias em
quadrinhos publicadas na internet. Muitas webcomics são divulgadas e vendidas exclusivamente na rede, enquanto
outras são publicadas em papel mas mantendo um arquivo virtual por razões comerciais ou artísticas. Com a
popularização da internet, o formato webcomic evoluiu, passando a tratar desde as tradicionais tiras até graphic
novels.
Storyboard
Storyboards são ilustrações dispostas em sequência, com o propósito de prever uma cena animada ou real
de um filme. Um storyboard é essencialmente uma versão em banda desenhada de um filme ou de uma secção
específica de um filme, produzido previamente para auxiliar os diretores e cineastas a visualizar as cenas e encontrar
potenciais problemas antes que eles aconteçam. Os storyboards muitas vezes trazem setas e instruções que indicam
movimento.
Fanzine
Um fanzine é uma revista amadora, feita de forma artesanal a partir de fotocopiadoras ou mimeógrafos. É
uma alternativa barata àqueles que desejam produzir suas próprias revistas para um público específico, e conta com
estratégias informais de distribuição. Diversos cartunistas começaram desta maneira antes de passarem para
espécies mais tradicionais de publicação, enquanto outros artistas estabilizados continuam a produzir fanzines
paralelamente à suas carreiras.
O termo é também usado para definir publicações amadoras feitas por fãs de outros meios de
entretenimento, trazendo notícias e ensaios sobre música, esportes e programas de televisão em geral.
JQ - Jornalismo em Quadrinhos
Pode ser publicado em livro-reportagem, numa revista, online ou no próprio jornal. O especial do JQ é que
ele representa a realidade e atende aos padrões do jornalismo na veracidade de seus dados e histórias, através de
entrevistas e apuração. Joe Sacco é um dos nomes mais aclamados na área, mas as publicações estão crescendo. Por
causa do poder da informação visual o jornalismo em forma de quadrinhos se aproxima e cativa mais o leitor. Além, é
claro, de atrair um público mais amplo, afinal o objetivo das histórias gráficas é facilitar a compreensão.
Cartoons
O cartoon ou cartum, ou charge, no português brasileiro, originalmente tratado como os esboços de um
artista, é considerado por muitos especialistas, entre eles R.C. Harvey, como um formato de arte sequencial animada.
Embora composto de uma única imagem, foi debatido que, uma vez que o cartum combina tanto palavras quanto
imagens e constrói uma narrativa, ele merece sua inclusão entre os formatos de quadrinhos.
Um cartoon, cartune ou cartum é um desenho humorístico acompanhado ou não de legenda, de caráter
extremamente crítico retratando de uma forma bastante sintetizada algo que envolve o dia-a-dia de uma sociedade.
O termo é de origem britânica, e foi pela primeira vez utilizado neste contexto na década de 1840, quando a
revista Punch publicou uma série de charges que parodiavam estudos para os frescos do Palácio de Westminster,
adaptados para satirizar acontecimentos da política contemporânea. O significado original da palavra cartoon é
mesmo "estudo", ou "esboço", e é muito utilizada nas artes plásticas.
Este tipo de desenho é ainda considerado uma forma de comédia e mantém o seu espaço na imprensa
escrita atual.
Na imprensa escrita moderna, o cartoon aparece como uma obra de arte, geralmente com intenção de
humor. Esse costume data de 1843, quando a Revista Punch utilizou o termo em desenhos satíricos em suas páginas,
para designar quadros de John Leech.
Charge
Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum
acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de origem francesa e significa carga, ou
seja, exagera traços do caráter de alguém ou de algo para torná-lo burlesco. Muito utilizadas em críticas políticas no
Brasil. Apesar de ser confundido com cartoon (ou cartum), que é uma palavra de origem inglesa, é considerado como
algo totalmente diferente, pois ao contrário da charge, que sempre é uma crítica contundente, o cartoon retrata
situações mais corriqueiras do dia-a-dia da sociedade. Mais do que um simples desenho, a charge é uma crítica
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político-social onde o artista expressa graficamente sua visão sobre determinadas situações cotidianas através do
humor e da sátira. Para entender uma charge, não é preciso ser necessariamente uma pessoa culta, basta estar por
dentro do que acontece ao seu redor. A charge tem um alcance maior do que um editorial, por exemplo, por isso a
charge, como desenho crítico, é temida pelos poderosos. Não é à toa que quando se estabelece censura em algum
país, a charge é o primeiro alvo dos censores.
O termo charge vem do francês charger que significa carga, exagero ou, até mesmo ataque violento (carga de
cavalaria). Isto significa aqui uma representação pictográfica de caráter, como diz no primeiro parágrafo, burlesco e
de caricaturas. É um cartum que satiriza um certo fato, como idéia, acontecimento, situação ou pessoa, envolvendo
principalmente casos de caráter político que seja de conhecimento do público.
As charges foram criadas no princípio do século XIX (dezenove), por pessoas opostas a governos ou críticos
políticos que queriam se expressar de forma jamais apresentada, inusitada. Foram reprimidos por governos
(principalmente impérios), porém ganharam grande popularidade com a população, fato que acarretou sua
existência até os tempos de hoje.
O discurso chargístico
As charges recorrem a variadas estratégias de discurso para produzir os efeitos cômicos e reflexivos a que se
propõem. Na maioria dos casos, apenas algumas técnicas são empregadas em uma mesma produção, mas certos
elementos mostram-se frequentes ou mesmo essenciais e, por vezes, aparecem juntos.
Linguagem visual
O elemento visual é característica presente em toda e qualquer charge. As codificações visuais proporcionam
maior compreensão da crítica que o chargista pretende passar. É claro que, na maioria das vezes, às imagens se alia a
linguagem verbal para enriquecer o discurso elaborado.
O exagero
Grande parte das charges trabalham com a questão do exagero. Exagerando, o chargista consegue dar ênfase
maior ao que está tentando dizer ao evidenciar aspectos marcantes do que a obra se propões a retratar. São
distorções que distanciam o desenho da realidade, mas aproximam-no da verdade. Ao mesmo tempo, os exageros
são responsáveis por enaltecer o caráter cômico das charges e provocar o riso dos leitores.
O ridículo
O homem ri do ridículo humano, daquilo que foge à normalidade das ações dos homens, ao cotidiano. As
charges procuram expor figuras públicas a situações ridículas ou a mostrar de forma não convencional temas
normalmente tratados com maior seriedade, suscitando assim o riso.
Ruptura discursiva
Um final inesperado é um fator muito usado em charges para provocar o efeito de comicidade. Trata-se de
uma ruptura do discurso construído. O riso está associado a essa súbita quebra de lógica que surpreende o leitor. A
surpresa é um fator imprescindível nesse caso, e uma virtude do bom chargista é saber escondê-la sutilmente do
leitor para revelá-la somente no momento certo.
Polifonia
Vemos em várias charges enunciadores diferentes, cujos discursos dialogam para produzir o sentido que o
autor pretende passar aos leitores. Essa polifonia pode ser aplicada de variadas maneiras: dois personagens; um
personagem e um texto explicativo que contextualize a situação; etc.
Intertextualidade
Uma charge nunca será autoexplicativa. O discurso chargístico está associado a outros textos, a
acontecimentos que o contextualizam com determinada situação da sociedade. Muitas charges dialogam com
notícias e editoriais do próprio jornal em que foram publicadas. Essa intertextualidade é utilizada pelo chargista
geralmente de forma implícita, o que exige do leitor um conhecimento prévio deles para que possa entender a
charge.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_desenhada
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartoon
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charge
A ideia de unir os temas de mito e história em quadrinhos é muito própria, pois ambos parecem ser uma
espécie de “primos pobres” em comparação com um outro par formado por “filosofia e literatura”. Enquanto estes
dois últimos são socialmente valorizados como produtos nobres da razão e da criatividade humana, ao mito e à
história em quadrinhos parece ser reservado um lugar inferior, identificado com aspectos negativamente carregados
como “mentira”, “invenção”, “produto de massa”. No entanto, o estudo dos mitos e da história em quadrinhos
afirma-se repetidamente não como um subproduto acadêmico e cultural, mas sim como uma forma “alternativa” de
apreender o universo e a relação do homem com o mundo natural e social e de expressar essa interação de um
modo não apenas racional, mas também intuitivo e emocional, buscando a totalidade do ser humano. O mito passa a
ser encarado como uma necessidade universal em qualquer época, não mais sendo visto como exclusividade de
grupos menos desenvolvidos, o que faz com que seja percebido como um fenômeno presente na sociedade
contemporânea.
Provavelmente a noção mais difundida de mito e de mitologia é aquela de um grupo hierarquizado de
deuses, semi-deuses, heróis, demônios e criaturas sobre-humanas, com as narrativas de seus feitos e eventuais
relações com os seres humanos, como na mitologia grega, egípcia, nórdica, indiana, etc. No Japão antigo, a religião
original xintoísta era politeísta e animista, ou seja, havia vários deuses superiores e espíritos para as forças da
natureza, bem como demônios e outros seres maléficos. Com relação à vida após a morte, havia a crença na
imortalidade da alma e no seu julgamento, que levava ao inferno ou a um lugar paradisíaco até o momento da
reencarnação. Todo esse substrato de lendas e mitos permanece no imaginário japonês e é largamente utilizado em
mangás. Podemos aqui traçar um paralelo com a cultura indígena brasileira, sendo que a revista em quadrinhos
Turma do Pererê apresentava personagens da mitologia dos índios brasileiros, como a Iara e a Caipora. Do mesmo
modo, figuras do imaginário japonês são utilizadas como personagens de mangás, como nas histórias sobre youkai,
seres sobrenaturais nem sempre benignos, as quais constituem um gênero em si. Esse tipo de mangá geralmente
enfoca menos os feitos dos youkai em si, mas sim as suas relações, amistosas ou não, com os seres humanos.
Tais histórias podem se passar em um tempo mítico no passado, quando humanos, demônios, espíritos e
youkai conviviam cotidianamente, como em Yotoden, Inuyasha e Youkaiyourentan. Nesta última, temos diversas
histórias de encontros de humanos com youkai: na primeira história, por exemplo, vemos como um youkai da água,
que havia sido capturado por humanos gananciosos que pretendiam usá-lo para obter lucro, fazendo chover em
épocas de seca, é libertado por uma jovem ladra e, encantado com sua delicadeza, resolve casar-se com ela,
salvando-a de vários perigos. Nos demais episódios, encontramos outros exemplos de youkai que se apaixonam por
seres humanos ou que os usam como joguetes em seus planos.
http://www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca/agaque/ano3/numero3/agaquev3n3_com1.htm
FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Comunicação é o processo pelo qual os seres humanos trocam entre si informações. Nesta breve definição
temos já implicitamente presentes os elementos nucleares do ato comunicativo: o emissor, o receptor (“seres
humanos”) e a mensagem (“informações”). Em qualquer ato comunicativo encontramos alguém que procura
transmitir a outrem uma informação. Além desses três elementos, é costume considerar outros três: o código, o
canal e o contexto. Nenhum ato comunicativo seria possível, na ausência de qualquer um desses elementos. De fato,
é necessária a intervenção de, pelo menos, dois indivíduos, um que emita e outro que receba; algo tem que ser
transmitido pelo emissor ao receptor; para que o emissor e o receptor comuniquem é necessário que esteja
disponível um canal de comunicação; a informação a transmitir tem que estar “traduzida” num código conhecido,
quer pelo emissor, quer pelo receptor; finalmente todo o ato comunicativo se realiza num determinado contexto e é
determinado por esse contexto.
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Os elementos da comunicação:
EMISSOR – que emite, codifica a mensagem; RECEPTOR – que recebe, decodifica a mensagem; CANAL - meio pelo
qual circula a mensagem; CÓDIGO - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; REFERENTE -
contexto relacionado a emissor e receptor; MENSAGEM - conteúdo transmitido pelo emissor.
FUNÇÃO FÁTICA
Ocorre quando emissor deseja verificar se o canal de comunicação está funcionando, ou se ele, emissor, está sendo
compreendido.
Ex.: Alô... / - Entenderam?
FUNÇÃO METALINGUÍSITCA
Toda mensagem que fala sobre a própria linguagem é metalinguística. Metalinguagem é, portanto, a linguagem sobre
a linguagem, a utilização da linguagem em referência ao próprio código, para esclarecê-lo ou ensiná-lo a alguém.
Ex.: estética s.f. 1. Parte da filosofia que trata das leis e dos princípios do belo. 2. Caráter estético;
27
FUNÇÃO POÉTICA
A função poética realça a elaboração da mensagem e caracteriza-se pela criatividade da
linguagem. Percebe-se um cuidado especial na organização da mensagem através da exploração das figuras de
linguagem, do ritmo, das sonoridades e da polissemia (variação de significados) das palavras.
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
http://libertosdoopressor.blogspot.com/2011/07/por-que-ir-voce-reclama-tanto-do-
seu.html
28
ATIVIDADE 3: CHARGE
Cartum disponível em: http://www.cartuns.com.br/page1.html,
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
b) Caracterize o paciente. Por que ele necessita de dois
bancos?
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_____________________________________________
c) Explique o humor nessa charge.
_____________________________________________
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d) A charge critica, pela ironia, uma situação muito recorrente na realidade brasileira. A que situação se faz
referência?
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Aula 5
Roteiro de Leitura
I – ESTRUTURA RETÓRICA DO TEXTO:
II – PARÁGRAFOS:
Faça uma descrição das imagem e/ou desenhos que acompanham o texto.
As escolhas pictóricas do texto facilitam ou não a compreensão do texto? Por quê?
Considerando que o texto foi retirado de uma revista de publicação mensal, como poderia ser explicada a
colocação do texto na coluna em que está inserido?
V – CONSTRUA, INDIVIDUALMENTE, UM PARÁGRAFO CRÍTICO SOBRE O TEXTO LIDO PARA SER ENTREGUE NO DIA
28 DE MARÇO .
Pequena introdução, descrição do assunto, apreciação crítica e considerações finais (tudo bem resumido em um
parágrafo)
O artigo foi elaborado com o intuito de apresentar os resultados de uma pesquisa sobre famílias com crianças em
Belo Horizonte, destacando a estrutura familiar, a dinâmica interna e a relação com a sociedade. O texto inicia com a
descrição de diferentes grupos familiares. Dentro do texto foram enfocados diversos temas como: a situação
ocupacional das crianças e adolescentes e dos pais, a divisão das tarefas, a participação dos pais na vida das crianças
e adolescentes, a educação, o lazer, os conflitos do grupo familiar e as condições de moradia. As autoras retomam a
discussão sobre a diversidade das formas de família nos diferentes momentos históricos e nas diferentes culturas.
Tais diferenças expressam as diversidades de forma de organizar a vida privada, relacionadas às condições de vida e
aos valores dos grupos sociais.
Josué Machado
"Um conceito sagrado para quem quer sobreviver no mercado são as boas prátic
Quando "ser" funciona como verbo de ligação, pode concordar com o predicativo
concordar com o sujeito (predicativo é o complemento do verbo de ligação).
Casos mais comuns
A Se na frase (sujeito + verbo "ser" + predicativo) houver nome próprio ou p
verbo concordará com a pessoa ou o pronome; se houver nome próprio e pro
estiver no plural, a concordância será feita com o termo que estiver no plural
"Alugam-se casas."
"Devem-se cobrar resultados."
Quando o "se" for partícula apassivadora, a oração estará na voz passiva. Para saber se ocorre partícula
apassivadora, transforma-se a oração em passiva analítica:
Atenção: o verbo transitivo direto pode ter complemento direto com preposição: Amar a Deus. Nesse caso,
em "Ama-se a Deus", o "se" é índice de indeterminação do sujeito e não partícula apassivadora, por isso o
verbo fica na terceira pessoa do singular.
Dica: Em caso de dúvida, basta converter a estrutura anterior (voz passiva sintética) em voz passiva
analítica: "Vendem-se deputados e senadores" > "Deputados e senadores são vendidos".
Abaixo, um exemplo de frase de jornal que confundiu o "se" apassivador com o "se" indicador do sujeito
indeterminado:
"Criaram-se as condições ideais para as reformas, aplicaram-se as pressões adequadas, mas recorreram-se às
fórmulas erradas."
O certo seria: "Criaram-se as condições ideais para as reformas, aplicaram-se as pressões adequadas, mas
recorreu-se às fórmulas erradas".
Isso se explica pois as condições são criadas, as pressões são aplicadas. Mas recorre-se "a" alguma coisa. As
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fórmulas não podem ser recorridas. Deve ser, portanto, "...mas recorreu-se às fórmulas erradas", por causa da
preposição.
4- O verbo "haver"
Usado na forma impessoal, o verbo "haver" sempre vai na 3ª pessoa do
singular
Com os sentidos de existir, ocorrer, decorrer, fazer (tempo), o verbo "haver" é utilizado sempre como
impessoal e na terceira pessoa do singular. Também fica na terceira pessoa do singular o auxiliar do haver
impessoal. Os verbos que "haver" impessoal substitui (exceto "fazer", com tempo) variam normalmente:
"existem bons repórteres", "existiam roupas", "ocorriam assaltos", etc.
Se o ponto de referência é uma data passada, e não a atual, deve-se usar o pretérito imperfeito ("havia") e não
o presente ("há").
"Em 2012, na presidência havia (ou fazia, não 'faz') um ano, achava que tudo ia bem."
5- O plural indevido
Objeto de distrações, o plural segue critérios que vão além da sintaxe,
implicando o sentido do que se quer dizer
De um jornal:
"As aquisições feitas pelo grupo até agora estão na casa de US$ 5,4 bilhões, incluindo as participações dos
sócios da VBC em cada operação."
"As participações", escreveu o redator, como se faz em latim e inglês, mas deveria ser "a participação."
Registra-se aqui uma das distrações mais comuns e menos discutidas e explicadas da língua. Difícil teorizar,
mas, se uma propriedade se refere a sujeitos diversos, deve manter-se no singular. E mais: quando são vários
os possuidores, o nome da coisa possuída fica no singular, inclusive partes do corpo, se unitárias, ou atributos
da pessoa. Mais exemplos podem esclarecer essa teoria.
"O governador Alckmin recebeu as visitas do deputado Paulo Maluf e do prefeito Kassab." (recebeu a visita)
O fato é que de tanto escrever e falar assim, acaba-se nem sentindo mais. Claro que diremos no plural:
"lavamos as mãos, os pés", "curamos os rins, os pulmões"; "elevemos as mãos para o alto, as pernas, as
orelhas", porque temos pares desses acessórios. Mas: "elevemos o coração, a cabeça, o fígado, o nariz, a boca,
o pescoço, o pâncreas"... E o que mais for unitário.
6- Colocação pronominal
Com variações entre a fala e a escrita, a ordem pronominal deve obedecer a
certas regras e observar as situações de comunicação
Volta e meia a má colocação pronominal dá as caras em publicações variadas, como podemos ver abaixo (a
boa colocação é a que está entre parênteses):
Em todos esses casos (há vários semelhantes em jornais e revistas todos os dias), os pronomes oblíquos
átonos foram maltratados. Eles devem se colocar antes do verbo (próclise) em orações nas quais há:
palavras negativas e advérbios (não, nem, ainda, assaz, bastante, bem, já, jamais, mais, mal, muito,
menos, pouco, quanto, quase, quiçá, sempre, só, talvez, tanto, etc.);
A leitura e o bom ouvido são fundamentais na colocação pronominal. No português do Brasil, em geral se
coloca o pronome átono antes do verbo. Mas o infinitivo verbal não flexionado tem força para neutralizar a
tendência à próclise. Pode ocorrer então a ênclise (pronome depois do verbo principal): "Impossível não irritar-
se".
No Brasil, mesmo em relação ao infinitivo, a tendência sempre frequente é antecipar o pronome ao verbo.
"Impossível não se irritar". Mesmo que não haja palavras negativas, pronomes ou conjunções na frase, a
antecipação natural na linguagem informal é cada vez mais frequente na formal. No entanto, apesar da
tendência, deve-se evitar tal uso. Jamais o pronome vem depois de verbos no particípio passado ("comido",
"partido", "posto"), no futuro do indicativo ("caberá") ou do futuro do pretérito, o velho condicional ("caberia").
Nos casos em que não houver atração, será "havia-se formado", "caber-lhe-á" e "caber-lhe-ia".
Lhe x o/a
Distração comum é o uso de "lhe", "lhes" em lugar de "o", "a", "os", "as" com verbos transitivos diretos, que
rejeitam preposição. O "lhe" substitui complementos com preposição. É complemento de verbos transitivos
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indiretos, que exigem preposição. Nada de "Eu lhe amo", "Conheceu-lhe na rua...". O certo é "Eu a amo";
"Conheceu-o na rua...".
Há verbos que rejeitam o "lhe", mesmo sendo transitivos indiretos: "aludir", "aspirar", "assistir" (como
presenciar) e "recorrer". Em tais casos, usa-se "a ele" ou "a ela".
7- Ter x haver
É preciso atenção para usar adequadamente os verbos "ter" e "haver",
muitas vezes trocados na linguagem cotidiana
Em relação a "haver", ocorre com muita frequência, principalmente na linguagem oral, a troca de "haver" por
"ter". Como nos versos de Drummond, já ousado em 1928:
Na linguagem formal culta, deve-se usar "haver", impessoal no sentido de existir como já vimos:
8- Ver x vir
Como esses verbos semelhantes geram confusões quando o assunto é o
futuro do subjuntivo
"Ver" e "vir" confundem-se no futuro do subjuntivo. O mesmo ocorre com os compostos: "antever", "prever",
"rever", etc; "convir", "intervir", "entrevir", "revir", etc.
É muito comum mais ouvir do que ler coisas como: "Se ela me ver" ou "quando ela me ver" - mesmo de
pessoas bem escolarizadas. A forma adequada é "vir", futuro do subjuntivo de "ver": "Se ela me vir" ou
"quando ela me vir".
Dica: pode-se extrair o futuro do subjuntivo do passado perfeito do indicativo, na terceira pessoa do plural.
Verbo VER: eles viram; tira-se o sufixo (-am) e obtém-se a primeira pessoa do futuro do subjuntivo: VIR.
Futuro do subjuntivo
Ver Vir
Vir Vier
Vires Vieres
Vir Vier
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Virmos Viermos
Virdes Vierdes
Virem Vierem
Nota: "Prover" difere dos demais: provejo, provês, provê, etc. Provi, proveste, proveu, provemos,
provestes,proveram (-am): Futuro do subjuntivo: se eu prover, se tu proveres, etc.
9- A vírgula
Como o uso indevido do sinal de pontuação mais comum do idioma pode
alterar o sentido da frase
Há muito a dizer sobre a vírgula, porém dois princípios são essenciais para a correta virgulação:
A) Jamais se separa o sujeito da predicado (verbo). Mesmo que o sujeito esteja longe do verbo.
"Todos os empregados que precisem viajar para fora do país, devem comparecer ao serviço de medicina..."
A vírgula depois de "país" separa o sujeito (empregados) de seu predicado verbal (devem comparecer).
"Melhorar a eficácia de fogões alimentados por combustível, teria impacto positivo na saúde humana e no
ambiente dessas regiões."
A vírgula depois de "combustível" separa o sujeito ("Melhorar... combustível") de seu predicado verbal "teria".
B) Jamais se separa o verbo de seus complementos. Mesmo que o verbo esteja longe deles.
"A Bolsa do Rio garantia, a bancos e corretoras, o pagamento da compra de ações feita..."
"A bancos e corretoras" é objeto indireto; não deveria aparecer entre vírgulas.
Dica
Separam-se por vírgulas orações intercaladas ou adjuntos adverbiais deslocados no início da frase
(deslocados porque a ordem natural dos adjuntos é no fim da frase).
"E todos sabem que existe dois tipos de computadores..." (existem dois)
Haver e existir
Costuma-se confundir a concordância de "existir" com a de "haver".
"Haver" é impessoal e fica na terceira pessoa quando significa "existir": "há
seguros", "há bons motivos". Mas a de "existir" varia: "existem seguros",
"existem bons motivos".
Nos exemplos negativos seguintes, ouvidos em entrevistas ou tirados de publicações, a forma correta aparece
entre parênteses:
Faz calor.
Fazia muito frio.
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Aula 6 Argumentação
ARGUMENTAÇÃO
Normalmente, pensa-se que comunicar é simplesmente transmitir informações. A teoria da comunicação diz
que, para haver um ato comunicativo, é preciso que tenhamos o emissor (aquele que produz a mensagem), o
receptor (aquele a quem a mensagem é transmitida), a mensagem (elemento material, por exemplo, um conjunto de
sons, que veicula um conjunto de informações), o código (sistema linguísticos, por exemplo, uma língua, ou seja,
conjunto de regras que permite produzir uma mensagem), o canal (conjunto de meios sensoriais ou materiais pelos
quais a mensagem é transmitida, por exemplo, o canal auditivo, o telefone) e o referente (situação a que a
mensagem remete).
As coisas são mais complicadas no ato comunicativo. Há uma diferença bem distinta entre comunicação
recebida e comunicação assumida. Como comunicar é agir sobre o outro, quando se comunica não se visa somente a
que o receptor receba e compreenda a mensagem, mas também a que a aceite, ou seja, creia nela e a faça o que
nela se propõe. Comunicar não é, pois, somente um fazer saber, mas também um fazer crer e um fazer. A aceitação
depende de uma série de fatores: emoções, sentimentos, valores, ideologia, visão de mundo, convicções políticas
etc. A persuasão é então o ato de levar o outro a aceitar o que está sendo dito, pois só quando ele o fizer a
comunicação será eficaz.
Em geral, pensa-se que argumentar é extrair conclusões lógicas de premissas colocadas anteriormente, como
no silogismo, forma de raciocínio em que de duas proposições iniciais se extrai uma conclusão necessária: Todo
homem é mortal. Pedro é homem. Logo, Pedro é mortal.
No entanto, podemos convencer uma pessoa de alguma coisa com raciocínios que não são logicamente
demonstráveis, mas que são plausíveis. Quando a publicidade do Banco do Brasil diz que ele serve o cliente há mais
de cem anos, o raciocínio implícito é que, se ele é tão antigo, deve prestar bons serviços. Essa conclusão a que a
publicidade encaminha não é necessariamente verdadeira, mas possivelmente correta. Por isso, argumenta-se não só
com aquilo que é necessariamente certo, mas também com o que é possível, provável, plausível.
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Argumento aqui será então usado em sentido geral. Observemos a origem do termo: vem do latim
argumentum, cujo sentido primeiro é fazer brilhar, cintilar uma ideia. Assim, chamamos argumento a todo
procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no
que foi dito e a fazer o que foi proposto.
Nesse sentido, todo texto é argumentativo, porque todos os textos são, de um jeito ou de outro, persuasivos.
Alguns se apresentam explicitamente como discursos persuasivos, como a publicidade, outros se colocam como
discursos de busca e comunicação do conhecimento, como o científico.
Se considerarmos a argumentação em sentido mais amplo ou estrito, o que é certo é que, quando bem feita,
dá consistência ao texto, produzindo sensação de realidade ou impressão de verdade. Achamos que o texto está
falando de coisas reais ou verdadeiras. Acreditamos nele.
São inúmeros os recursos linguísticos usados com a finalidade de convencer. Trataremos de alguns tipos de
argumento.
1. Argumento de autoridade
É a citação de autores renomados, autoridades num certo domínio do saber, numa área da atividade
humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. O uso de citações, de um lado, cria a imagem de que o falante
conhece bem o assunto que está discutindo, porque já leu o que sobre ele pensaram outros autores; de outro, torna
os autores citados fiadores da veracidade de um dado ponto de vista.
2. Argumento baseado no consenso
As matemáticas trabalham com axiomas, que são proposições evidentes por si mesmas e, portanto, não
necessitam ser demonstradas: o todo é maior do que a parte; duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre
si, etc. Outras ciências trabalham também com máximas e proposições aceitas como verdadeiras, numa certa época,
e que, portanto, prescindem de demonstração, a menos que o objetivo de um texto seja demonstrá-las. Podemos
usar essas proposições evidentes por si, ou universalmente aceitas, para efeitos de argumentação.
Por exemplo:
A educação é a base do desenvolvimento.
consequência.
Além de ser mais chique, do ponto de vista ideológico, o seminário é mais cômodo para ambos os lados: nem
o professor prepara a aula, nem o aluno estuda, e ambos entram com sua cota de “participação crítica”
O mais grave é revertê-lo, pois as facilidades se transformam em direito adquirido. (…)
Já que o mundo passa por uma histeria de volta ao passado, ao menos em relação ao que parecia “futuro”
nos anos 60, talvez fizéssemos bem em rever grande parte das mudanças do ensino nestes 30 anos.
Porque os resultados, mesmo nas boas escolas, na parecem encorajadores. A ideologia do ensino crítico está
produzindo gerações de tontos. A lassidão, o vale-tudo, a falta de autoridade professoral desestimula a própria
rebeldia do estudante.
Folha de S. Paulo, 17 nov. 1994, p.1-2.
Um dos defeitos da argumentação com base no raciocínio lógico é fugir do tema. Esse expediente é muito
usado por políticos, para evitar questões embaraçosas, ou advogados, quando não têm como refutar as acusações
imputadas a seu cliente. Nada é pior para convencer do que um texto incoerente, que apresenta afirmações que não
se implicam umas às outras, ou seja, cheio de contradições.
ARTIGO DE OPINIÃO
Gênero da ordem do argumentar – cujo domínio de comunicação social é o da discussão de assuntos sociais
controversos, visando um entendimento e um posicionamento perante eles. Suas particularidades: características, a
quem destina-se, finalidade para produção do veículo utilizado (meio) e produto final.
O artigo de opinião é um gênero do discurso que busca convencer a outra pessoa de uma determinada ideia,
influenciar e transformar seus valores através da argumentação de uma determinada posição de quem produz e de
outras opiniões divergentes. Para tal é necessário sustentar as afirmações com dados consistentes que possam
convencer.
É indispensável para produção de um artigo de opinião uma situação e uma questão para ser debatida, referente a
algum tema que seja capaz de criar uma polêmica.
O desenvolvimento do texto acontece pelo confronto de informações com o fato contrário. É necessário
estabelecer uma relação entre o autor e o leitor. Mais uma característica e o uso dos tempos verbais no presente do
indicativo ou do subjuntivo na apresentação de uma questão, da argumentação e da contra argumentação e o uso
das aspas para indicar um pensamento de outro escritor ou para questionar uma frase, palavra ou expressão.
Compreender a linguagem do gênero opinativo permite uma noção mais real e verdadeira sobre a intenção
do texto, de modo crítico e responsável pela escrita e análise do fato em questão.
Portanto, toda ação de linguagem tem uma decisão que é individual, pessoal, mas ao mesmo tempo de
fatores socioculturais e do contexto onde o sujeito está inserido. Ainda segundo Bronckart, as condições de produção
do texto são: o assunto, o objetivo, o destinatário, o local de circulação do texto, o lugar social e o gênero a ser
produzido.
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da situação de produção de seu texto, portanto, seu contexto físico (local de produção, momento, emissor,
modalidade oral ou escrita, e o receptor) e qual o seu contexto sócio-subjetivo, ou seja, qual o lugar social de
produção (escola, família, igreja, imprensa etc.), qual a posição social do emissor/ enunciador na interação
que se dará via texto de tal gênero (pai, professor, patrão, presidente, etc.) e qual o objetivo (ou objetivos
dessa interação;
da organização textual, do layout, dos tipos de discurso, dos tipos de sequência (narrativa, argumentativa,
etc.) e de suas articulações no interior de um texto desse gênero, formando a sua infraestrutura textual;
da linguagem, ou seja, dos aspectos linguístico-discursivos, nos quais encontramos os mecanismos de
textualização (coesão verbal, coesão nominal e conexão) e os mecanismos de enunciação (modalização e
vozes).
Leia a seguir, um artigo de opinião sobre um tema polêmico que vem sendo muito debatido no Brasil.
Cotas: o justo e o injusto
O medo do diferente causa conflitos por toda parte, em circunstâncias as mais variadas. Alguns são embates
espantosos, outros são mal-entendidos sutis, mas em tudo existe sofrimento, maldade explícita ou silenciosa
perfídia, mágoa, frustração e injustiça.
Cresci numa cidadezinha onde as pessoas (as famílias, sobretudo) se dividiam entre católicos e protestantes.
Muita dor nasceu disso. Casamentos foram proibidos, convívios prejudicados, vidas podadas. Hoje, essa diferença
nem entra em cogitação quando se formam pares amorosos ou círculos de amigos. Mas, como o mundo anda em
círculos ou elipses, neste momento, neste nosso país, muito se fala em uma questão que estimula tristemente a
diferença racial e social: as cotas de ingresso em universidades para estudantes negros e/ou saídos de escolas
públicas. O tema libera muita verborragia populista e burra, produz frustração e hostilidade. Instiga o preconceito
racial e social. Todas as “bondades” dirigidas aos integrantes de alguma minoria, seja de gênero, raça ou condição
social, realçam o fato de que eles estão em desvantagem, precisam desse destaque especial porque, devido a algum
fator que pode ser de raça, gênero, escolaridade ou outros, não estão no desejado patamar de autonomia e
valorização. Que pena.
Nas universidades inicia-se a batalha pelas cotas. Alunos que se saíram bem no vestibular – só quem já teve
filhos e netos nessa situação conhece o sacrifício, a disciplina, o estudo e os gastos implicados nisso – são rejeitados
em troca de que se saiu menos bem, mas é de origem africana ou vem de escola pública. E os outros? Os pobres
brancos, os remediados de origem portuguesa, italiana, polonesa, alemã, ou o que for, cujos pais lutaram duramente
para lhes dar casa, saúde, educação?
A ideia das cotas reforça dois conceitos nefastos: o de que negros são menos capazes, e por isso precisam
desse empurrão, e o de que a escola pública é péssima e não tem salvação. É uma ideia esquisita, mal pensada e mal
executada. Teremos agora famílias brancas e pobres para as quais perderá o sentido lutar para que seus filhos
tenham boa escolaridade e consigam entrar numa universidade, porque o lugar deles será concedido a outro. Mais
uma vez, relega-se o estudo a qualquer coisa de menor importância.
Lembro-me da fase, há talvez vinte anos ou mais, em que filhos de agricultores que quisessem entrar nas
faculdades de agronomia (e veterinária?) ali chegavam através de cotas, pela chamada “lei do boi”. Constatou-se,
porém, que verdadeiros filhos de agricultores eram em número reduzido. Os beneficiados eram em geral filhos de
pais ricos, donos de algum sítio próximo, que com esse recurso acabaram ocupando o lugar de alunos que mereciam,
pelo esforço, aplicação, estudo e nota, aquela oportunidade. Muita injustiça assim se cometeu, até que os pais,
entrando na Justiça, conseguiram por liminares que seus filhos recebessem o lugar que lhes era devido por direito.
Finalmente a lei do boi foi para o brejo.
Nem todos os envolvidos nessa nova lei discriminatória e injusta são responsáveis por esse desmando. Os
alunos beneficiados têm todo o direito de reivindicar uma possibilidade que se lhes oferece. Mas o triste é serem
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massa de manobra para um populismo interesseiro, vítimas de desinformação e de uma visão estreita, que os deixa
em má posição. Não entram na universidade por mérito pessoal e pelo apoio da família, mas pelo que o governo,
melancolicamente, considera deficiência: a raça ou a escola de onde vieram – esta, aliás, oferecida pelo próprio
governo.
Lamento essa trapalhada que prejudica a todos: os que são oficialmente considerados menos capacitados, e
por isso recebem o pirulito do favorecimento, e os que ficam chupando o dedo da frustração, não importando os
anos de estudo, a batalha dos pais e seu mérito pessoal. Meus pêsames, mais uma vez, à educação brasileira.
(LUFT, Lya. Veja, n. 2046.)
*Observação: Nos gêneros argumentativos em geral, o autor sempre tem a intenção de convencer seus
interlocutores/leitores. Utilizando-se de bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões. As verdades são
baseadas em afirmações universalmente aceitas, quanto dados científicos em geral (dados estatísticos, resultados de
pesquisas sociais ou em laboratórios, dentre outras). Já as opiniões são fundamentadas em impressões pessoais do
autor do texto, sendo por isso mais vulneráveis de contestação.
No artigo de opinião da autora Lya Luft, o tema e o seu ponto de vista foram explicitados por meio de ampla
apresentação. Responda:
a)Qual o tema do artigo de opinião?
_______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
d)Num texto de opinião, a ideia principal defendida pelo autor precisa ser fundamentada com bons argumentos, isto
é, com razões ou explicações. Quais são eles.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
e)A conclusão da autora é coerente com a ideia e com os argumentos apresentados ao longo do texto? Justifique sua
resposta.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
No artigo de opinião, os fatos e situações servem para argumentar sobre alguma situação. Quando se tem
opinião você coloca uma ideia sua, mas que na verdade também já foi construída, ou seja, suas argumentações
pertinentes ao gênero e quando você tem um fato que parte de alguma notícia que não é sua você está expondo. A
sua argumentação leva em consideração tudo que já foi construído e dito antes nesse gênero escolhido, toda sua
abrangência, um estilo, sua própria individualidade, situação sociocultural e também o que será construído depois, o
público que você pretende atingir, a situação que esse público está inserido, etc.
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Aula 7 Coerência
COERÊNCIA
Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas
de São Paulo. Ele era tao fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os
pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em
alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas para o ar. O menino não
pensou duas vezes. Correu para o carro e tirou de lá o motorista, que era um homem
corpulento. Carregou-o até a calçada, parou um carro e levou o homem para o hospital.
Assim, salvou-lhe a vida.
Esse texto, uma redação escolar, apresenta uma incoerência: se o menino era tao fraco que quase não podia
carregar a cesta de amendoins, como conseguiu carregar um homem corpulento até o carro?
Quando se fala em redação, sempre se aponta a coerência das ideias como uma qualidade indispensável para
qualquer tipo texto. Mas nem todos explicitam de maneira clara em que consiste essa coerência, sobre a qual tanto
se insiste, e como se pode conseguí-la.
Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmonico, em que
todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada lógico, nada
contraditório, nada desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais.
Todos os elementos do texto devem ser coerentes.
Quando se defende o ponto de vista de que o homem deve buscar o amor e a amizade, não se pode dizer em
seguida que não se deve confiar em ninguém e que por isso é melhor viver isolado.
Num esquema de argumentação, joga-se com certos pressupostos ou certos dados e deles se fazem
inferências ou se tiram conclusões que estejam verdadeiramente implicados nos elementos lançados como base do
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raciocínio que se quer monstar. Se os pressupostos ou os dados de base não permitem tirar as conclusões que foram
tiradas, comete-se a incoerência de nível argumentativo.
Se o texto parte de uma premissa de que todos são iguais perante a lei, cai na incoerência se defender
posteriormente o privilégio de algumas categorias profissionais não esterem obrigadas a pagar imposto de renda. O
argumentador pode até defender essas regalias, mas não pode partir da premissa de que todos são iguais perante a
lei.
Assim também é incoerente defender ponto de vista contrário a qualquer tipo de violência e ser favorável à
pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar como uma ação de violência.
Coesão Textual
Quando lemos com atenção um texto bem construído, não nos perdemos por entre os enunciados que o
constituem, nem perdemos a noção de conjunto. Com efeito, é possível perceber a conexão existente entre os vários
segmentos de um texto e compreender que todos estão interligados entre si.
A título de exemplificação do que foi dito, observe-se o texto que vem a seguir:
É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para a produção agrícola. É
sabido ainda que a população escrava era recrutada principalmente entre prisioneiros de guerra.
Em vista disso, a pacificação das fronteiras fez diminuir consideravelmente a população escrava.
Como o sistema não podia prescindir de mão-de-obra escrava, foi necessário encontrar outra forma de
manter inalterada essa população.
Como se pode observar, os enunciados desse texto não estão amontoados caoticamente, mas estritamente
interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há conexão entre cada uma das partes.
A essa conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto dá-se o nome de coesão. Diz-se, pois, que um
texto tem coesão quando seus vários enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação
entre eles.
A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente não é fruto do acaso, mas
das relações de sentido que existem entre eles. Essa relaçãoes de sentido são manifestadas sobretudo por certa
categorias de palavras, as quais são chamadas conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é exatamente
a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados.
No caso do texto citado acima, pode-se observar a função de alguns desses elementos de coesão. A palavra
ainda no primeiro parágrafo (“É sabido ainda que”...) serve para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e
acrescentar um outro dado: que o recrutamento de escravos era feito junto dos prisioneiros de guerra.
O segundo parágrafo inicia-se com a expressão em vista disso, que estabelece uma relação de implicação
causal entre o dado anterior e o que vem a seguir: a pacificação das fronteiras diminui o fornecimento de escravos
porque estes eram recrutados principalmente entre os prisioneiros de guerra.
O terceiro parágrafo inicia-se pelo conectivo como, que manifesta uma outra relação causal, isto é: foi
necessário encontrar outra forma de fornecimento de escravos porque o sistema não podia prescindir deles.
São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento de coesão:
- as preposições: a, de, para, com, por, etc.;
- os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc.;
O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto e contribui consideravelmente para a
expressão clara das ideias. O uso inadequado sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passagens
incompreensíveis.
Consideramos como elementos de coesão todas as palavras ou expressões que servem para estabelecer elos,
para criar relações entre segmentos do discurso tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas ,
assim, daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras.
O que se coloca como mais importante no uso desses elementos de coesão é que cada um deles tem seu
valor típico. Além de ligarem partes do discurso, estabelecem entre elas um certo tipo de relação semântica: causa,
finalidade, conclusão, contradição, condição, etc. Dessa forma, cada elemento de coesão manifesta um tipo de
relação distinta. Ao escrever, deve-se ter o cuidado de usar o elemento apropriado para exprimir o tipo de relação
que se quer estabelecer.
O porém, por exemplo, presta-se para manifestar uma relação de contradição: usado entre dois enunciados
ou entre dois segmentos do texto, manifesta que um contraria o outro. Observe-se o exemplo que segue:
Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a exportar certos produtos
agrícolas.
No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados existe uma contradição. Seria
descabido permutar o porém pelo porque, que serve para indicar causa. De fato, a exportação de produtos agrícolas
não pode ser vista como a causa de Israel ter um solo árido.
Muitas pessoas, ao redigir, não atentam para as diferentes relações que os elementos de coesão menifestam
e acabam empregando-os mal, criando, com isso, paradoxos semânticos.
Esses elementos não são formas vazias que podem ser substituídas entre si, sem nenhuma consequência.
Pelo contrário, são formas linguísticas portadoras de significado e exatamente por isso não se prestam para ser
usadas sem critério. A coiesão do texto é afetada quando se usa o elemento de coesão inadequado.
Vejamos as relações que alguns elementos de coesão estabelecem:
a)assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A sequência introduzida por eles serve
normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se disse antes.
O governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa pela liderança do partido.
Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que venha a vencer.
b) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito antes; inicia uma progressão
semântica que adiciona, acrescenta algum dado novo. Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser
evitada. Ao dizer:
O e introduz sum segmento que acrescenta uma informação nova. Por isso seu uso é apropriado. Mas, ao dizer:
o segmento introduzido pelo e não adiciona nenhuma informação nova. Trata-se, portanto, de um uso inadequado.
c) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão, ou para
incluir um elemento a mais dentro de um conjunto qualquer.
O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos. Convém lembrar ainda que os serviços
públicos são extremamente deficientes.
d)aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo,
como se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe final no argumento contrário.
Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminiu consideravelmente seu poder de
compra. Além de tudo são considerados como renda e taxados com impostos.
e)isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos, retificações ou desenvolvimentos do
que foi dito anteriormente.
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Muitos jornais fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de seu não comprometimento com
nenhuma das forças em ação no interior da sociedade.
f)mas, porém, contudo e outros conectivos adversativos: marcam oposição entre dois enunciados ou dois segmentos
do texto. Não se podem ligar, com esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz enttre
significados implícitos no texto.
g)embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma relação de contradição e de
concessão. Servem para admitir um lado contrário para depois negar seu valor de argumento. Trata-se de um
expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista
contrário.
Observe-se o exemplo:
Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos confortáveis, pés velozes como o raio,
olhos de longo alcance e asas para voar, não resolveram o problemas das injustiças.
Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da técnica e da ciência, afirma-se uma
desvantagem maior.
O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de contradição que, se não houver, deixa o
enunciado descabido. Exemplo:
Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis, vamos resolver o problema da fome.
h)Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os componentes de uma certa escala. Alguns,
como mesmo, até, até mesmo, situam alguma coisa no topo da escala. ; outros, como ao menos, pelo menos, no
mínimo, situam-na no plano mais baixo.
O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio semelhantes, até mesmo do futuro e
da morte.
Ou
É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou, no mínimo, a moradia, o alimento e a
saúde.
Para encerrar essas considerações sobre o uso dos elementos de coesão, convém dizer que, às vezes, cria-se o
paradoxo semântico provocando determinados efeitos de sentido. Pode – se conseguir, por exemplo, um efeito de
humor ou de ironia ou revelar preconceitos estabelecendo-se uma relação de contradição entre dois segmentos que,
usualmente, são vistos como contraditórios. Sirva de exemplo uma passagem como essa:
Como se nota, o mas passa a estabelecer uma relação de contradição entre ser mulher e ser capaz. Essa relação
revela humor ou preconceito do enunciador. Nos dois casos, no entanto, pressupõe-se que as mulheres não sejam
capazes.
48
É claro que o uso desses paradoxos deve ser feito com cuidado e dentro de um contexto que não dê margem a
ambiguidades.
José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é calmo, aquele é explosivo.
O termo este retoma o nome próprio “Renato” , enquanto aquele faz a mesma coisa com a palavra “José”. “Este” e
“aquele” são chamados anafóricos.
Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve para retomar um termo já
expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão depois. São anafóricos, por exemplo, os pronomes
demonstrativos (este, esse, aquele), os pronomes relativos (que, o qual, onde, cujo), advérbios e expressões
adverbiais (então, dessa feita, acima, atrás), etc.
Quando um elemento anafóricoc está empregado em um contexto tal que pode referir-se a dois termos
antecedentes distintos, isso provoca ambiguidade e constitui uma ruptura de coesão. Na escrita, é preciso tomar
cuidado para que o leitor perceba claramente a que termo se refere o elemento anafórico.
Eis alguns exemplos de ambiguidade por causa do uso dos anafóricos:
O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua proposta de aumento de salário.
Para desfazer a ambiguidade, apela-se para outras formas de construção da frase, como, por exemplo:
O uso do pronome relativo pode também provocar ambiguidade, como na frase que segue:
Via ao longe o sol e a floresta, que tingia a paisagem com suas variadas cores.
Há frases das redações escolares em que simplesmente não há coesão nenhuma. É o que ocorre nesta frase, citada
pela Profª Maria Tereza Fraga no seu livro sobre redação no vestibular:
Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sinceridade de quem as escreveu.
Como se vê, o enunciado fica desconexo porque o pronome o qual não recupera antecedente algum.
ATIVIDADES
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Questões de 1 a 4
Nas questões de 1 a 4, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por ponto final. Retire o ponto final e
estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os elementos de coesão
adequados.
Questão 1
O solo do nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quando caem as chuvas, imediatamente brotam a
vegetação.
Questão 2
Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento e os preços vão disparar.
Questão 3
Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país.
Questão 4
O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas chuvas inundaram a
cidade.
Questões de 5 a 8
As questões de 5 a 8 apresentam problemas de coesão por causa do mau uso do conectivo, isto é, da palavra que
estabelece a conexão. A palavra ou expressão conectiva inadequada vem em destaque. Procure descobrir a razão
dessa impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.
Questão 5
Em São Paulo já não chove a mais de dois meses, apesar de que já se pense em racionamento de água e energia
elétrica.
Questão 6
As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse perigo algum, mas o policial continua
folgadamente tomando o seu café no bar.
Questão 7
Talvez seja adiado o jogo entre Botafofo e Flamengo, pois o estado do gramado do Maracaná não é dos piores.
Questão 8
Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com fome, onde ocorre o grande número de desistências.
Questão 9
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Chegaram instruções repletas de recomendações para que os participantes do congresso, que, por sinal, acabou não
se realizando por causa de fortes chuvas, que inundaram a cidade e paralisaram todos os meios de comunicação.
Questão 10
Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas populares, os jornais, na
semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por um político eleito pelo povo.
Questão 11
O fragmento que segue inicia uma crônica de Paulo Mendes Campos e define certas características e atitudes de um
personagem (Jacinto):
Nunca ouvimos de Jacinto uma palavra áspera, uma lamúria, nunca respondeu com irritação às crianças que o
insultavam, impiedosas, quando passava embriagado. Bêbado, sorria beatífico e acima de todas as misérias, e falava
de coisas alegres, às vezes numa língua particular, ininteligível.
Questão 12
Uma leitura eficiente do texto pressupõe, entre outros cuidados, o de depreender as conexões estabelecidas pelos
conectivos e anafóricos. O texto que se segue traz bons exemplos desses elementos.
Pulo do Gato
O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção sociológica. É claro que, tratando da sociedade, o
jornalismo é também um pouco de sociologia – mas a sociologia deve ir para o lugar próprio, os artigos elaborados
com mais tempo, os editoriais e tópicos e, bem digerida em um texto fluido, a reportagem. 5
Jornalismo é razão e emoção. O texto apenas racional é frio, e só comunica aos que se encontrem diretamente
interessados no assunto. O texto deve saber dosar emoção e razão, e é nesso equilíbrio que está o chamado “pulo do
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gato”. Muitos jornalistas acreditam que o adjetivo emociona. Enganam-se. Quanto mais despida uma frase, mais
cortante seu efeito. 10
“E amolou o machado, preparou um toco para servir de cepo, chamou o menino, amarrou-lhe as mãos, fez-lhe um
sinal para que ficasse calado, e rachou seu corpo em sete pedaços. O menino P... de cinco anos, não era seu filho e F.
descobrira isso poucos minutos antes, quando discutia com a mulher.” Leads como esse são sempre possíveis na
reportagem de polícia: não necessitam de adjetivos. As tragédias, como os cantores famosos, dispensam
apresentações. 16
Nota: Lead é a palavra inglesa, usada no jornalismo para indicar um pequeno texto de apresentação de um texto
maior.
b)Na frase “O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção sociológica”, o o em detaque é um
pronome demonstrativo. A que elemento do texto ele se refere?
Questão 13
O uso da palavra também faz pressupor algum outro significado além do que está explícito no texto?
Questão 14
Na linha 3 ocorre o conectivo mas, que manifesta uma relação de contradição entre dois enunciados. Como se
explica essa contradição?
Questão 15
Na linha 6, ao dizer que o texto apenas racional é frio, o que pretende dizer o autor com o uso de apenas?
Questão 16
Na linha 9, a expressão quanto mais manifesta uma relação proporcional entre dois termos. Quais são os dois termos
dessa relação proporcional?
Questão 17
Na linha 12, a quem se refere o lhe que ocorre em “amarrou-lhe as mãos” e “fez-lhe um sinal”?
52
Questão 18
Na linhas 12 e 13, está dito: “e rachou o seu corpo”; na linha 113 afirma-se: “não era seu filho”. A que termos se
refere o pronome possessivo seu em cada caso?
Questão 19
Questão 20
Questão 21
Na linha 15, o conectivo como, ao estabelecer uma relação de comparação entre tragédias e cantores famosos, indica
uma semelhança entre ambos. Em que consiste essa semelhança?
PROPOSTA DE REDAÇÃO
A título de exercício, para perceber a função e a importância dos conectivos na montagem da redação, você
tentará elaborar um texto de acordo com a seguinte proposta:
- apresentamos um parágrafo que contém uma dessas concepções controvertidas, isto é, aquele tipo de
concepção que não é aceita unanimemente, havendo quem lhe contraponha muitas ressalvas;
- propomos a seguir um conectivo para o início de cada parágrafo: você desenvolverá a dissertação,
oberservando o valor desses conectivos e construindo cada parágrafo com o conteúdo adequado, de modo que os
três se encaixem de maneira concatenada e coesa.
Muitas pessoas afirmam que há liberdade de expressão quando o Estado não intervém para controlar
a informação ou quando a censura oficial não proibe a circulação de opiniões e do pensamento em geral.
Mas....
Assim...
Portanto.....
REFERÊNCIA
FIORIN & PLATÃO. Para entender o texto. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
53
Aula 8
Nasci com essa paixão, esse encantamento pelas palavras. Quando pequena, repetia para mim mesma, as que
achavam mais bonitas: pareciam caramelos na minha boca. Colecionava mentalmente as mais doces, como
translucido, magnólia, borbulha, Libélula, e não sei quais as outras. Lembro que por um tempo depositei meu nome
curtinho e sem graça: pedia a minha mãe que o trocasse por algo belo como gardênia, magnólia, Virginia. Açucena
fascinou-me quando o li no 1º ano da escola, e quis me chamar assim. Mas eu queria muitas coisas impossíveis.
Como lia muito (minha cama era embutida em prateleiras onde, em horas de insônia, bastava estender a mão e ter
a companhia de um livro), a linguagem sempre fez parte da minha vida como às ficções. Eu lia o que me caia nas
mãos desde gibis até complicados volumes que eu não entendia, mas pegava na biblioteca do meu pai e lia achando
impressionante e bonito, misterioso ou triste.
Comecei a trabalhar com a nossa língua bastante cedo, traduzido obras literárias do inglês e do alemão. Mais ou
menos nessa época, inicio dos 20 anos, passei escrever crônicas de jornal, e poemas avulsos, que aos poucos foram
sendo publicados e lidos, até finalmente iniciar uma carreira de ficcionista já beirando aos 40 anos antes disso fiz
mestrado em linguística, e fui professora dessa matéria em uma faculdade particular durante dez anos. Não escrevo
isso para dar meu currículo, mas para dizer que não desconheço o assunto: ler escrever é para mim é tão natural
quanto respirar, e conheço alguma teoria. Nosso idioma, o português do Brasil, me é intimo, querido, respeitado
amado - esta em mim como a própria alma . A língua reconhece-se, se analisa e se expressa através da palavra.
De vez em quando, inventa-se alguma reforma para essa sutil, forte e independente engrenagem. Passei por
várias nesses muitos anos as ortografias em geral, algumas muito mal feitas. Porém a gente se adapta, até por
razões de ofício. Mas, por favor, não tentem defender nosso português de estrangeiros: a língua não precisa ser
54
defendida. Ela é soberana. Ela é flexível. Ela é viva. Nenhum gramático ou legislador, brilhante ou tacanho, poderá
botar essa dama em camisa de força, nem a conter num regime policialesco. Ela continuará sua trajetória, talvez
sacudindo a cabeça diante das nossas desajeitadas tentativas de controla lá. Como dirá qualquer bom professor de
português, ou qualquer linguísta dedicado, estudioso, uma parcela imensa dessas palavras dos termos que hoje
usamos e que por uma classe culta foram dicionarizadas - o dicionário sempre corre atrás da realidade -, começou
como estrangeirismo. Não preciso citar, mais cito garagem do francês, futebol, do inglês, coquetel da mesma forma.
A língua incorpora esses termos se são úteis, e os adapta ao seu sistema. Voltou “m" final e miragem, por exemplo,
por que no nosso sistema de palavras não terminam em “age”.
Muitos termos não podem ser traduzidos: quem diz isso e essa velha tradutora que dedicou a isso milhares de
horas da sua vida. Não é possível formar frases descendentes, fluidas, claras, expressivas como devem ser as frases,
se a cada "estrangeirismos" tivemos de fazer um rodeio, uma explicação da palavra intraduzível. Isso, além do mais,
nos colocaria na rabeira do mundo civilizado e globalizado, onde palavras - como objeto de bom uso - circulam de
um lado para o outro, ousam aqui ou ali, adaptam-se simplesmente. Quando não passam, e por que são
necessárias, e acabam colocadas entre aspas ou em itálico. Línguas altamente civilizadas usam "estrangeirismos”
livremente, sem culpa nem preconceito, como fator de expressividade. Isso nem as humilhou, nós e que precisamos
lutar contra uma onda terceira mundista, uma postura de inferioridade que nos faz gastar energia que poderia ser
aplicada em algo urgente como um orçamento 20 vezes maior para a própria educação do nosso povo.
Vamos escrever
Faça um parágrafo reflexivo sobre o tema tratado pela autora Lya Luft.
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Nasci com essa paixão, esse encantamento pelas palavras. Quando pequena, repetia para mim mesma, as que
achavam mais bonitas: pareciam caramelos na minha boca. Lya Luft 2011.
1) A concordância dos verbos “nasci e achavam” representa para a norma culta a concordância verbal. Explique
esse fenômeno.
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2) O fragmento “o português do Brasil, me é íntimo, querido, respeitado amado - esta em mim como a própria
alma. Neste caso o verbo é está no singular referindo-se a que expressão:
a) íntimo
b) o português do Brasil
c) íntimo e respeitado
d) respeitado
Línguas altamente civilizadas usam "estrangeirismos” livremente, sem culpa nem preconceito, como fator de
expressividade. Isso nem as humilhou, nós e que precisamos lutar contra uma onda terceira mundista, uma postura
de inferioridade que nos faz gastar energia que poderia ser aplicada em algo urgente como um orçamento 20 vezes
maior para a própria educação do nosso povo. Lya Luft 2011.
Destaque os substantivos e faça um parágrafo sobre a concordância nominal e verbal do recorte do artigo da autora
Lya Luft “Deixa em paz a nossa língua”.
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A Concordância Nominal é o acordo entre o nome (substantivo) e seus modificadores (artigo, pronome,
numeral, adjetivo) quanto ao gênero (masculino ou feminino) e o número (plural ou singular).
Observe que, de acordo com a análise da oração, o termo “na” é a junção da preposição “em” com o artigo
“a” e, portanto, concorda com o substantivo feminino multidão, ao mesmo tempo em que o adjetivo “capitalista”
também faz referência ao substantivo e concorda em gênero (feminino) e número (singular).
Temos o substantivo “casa”, o qual é núcleo do sujeito “Minha casa”. O pronome possessivo “minha” está no
gênero feminino e concorda com o substantivo. O adjetivo “extraordinária”, o qual é predicativo do sujeito (trata-se
de uma oração com complemento conectado ao sujeito por um verbo de ligação), também concorda com o
substantivo “casa” em gênero (feminino) e número (singular).Para finalizar, veremos mais um exemplo, com análise
bem detalhada:
Dois cavalos fortes venceram a competição.
Primeiro, verificamos qual é o substantivo da oração acima: cavalos. Os termos modificadores do substantivo
“cavalos” são: o numeral “Dois” e o adjetivo “fortes”. Os termos que fazem relação com o substantivo na
concordância nominal devem, de acordo com a norma culta, concordar em gênero e número com o ele.
Nesse caso, o substantivo “cavalos” está no masculino e no plural e a concordância dos modificadores está
correta, já que “dois” e “fortes” estão no gênero masculino e no plural. Observe que o numeral “dois” está no plural
porque indica uma quantidade maior do que “um”.
Então temos por regra geral da concordância nominal que os termos referentes ao substantivo são seus
modificadores e devem concordar com ele em gênero e número.
Importante: Localize na oração o substantivo primeiramente, como foi feito no último exemplo. Após a
constatação do substantivo, observe o seu gênero e o número. Os termos referentes ao substantivo são seus
modificadores e devem estar em concordância de gênero e número com o nome (substantivo).
Silepse – A figura de linguagem que causa dúvidas na concordância nominal
A silepse é uma figura de sintaxe que faz concordância não através de regras gramaticais, mas sim pela idéia, daí
dizer que é a concordância ideológica ou concordância figurada. A silepse pode ser de número, de gênero e de
pessoa.
1. A silepse de número ocorre quando o sujeito é coletivo ou indica coletividade (mais de um):
Exemplo: A turma veio aqui em casa e deixaram a maior bagunça.
Exemplo: O casal resolveram não pagar a conta, pois questionaram o valor.
2. A silepse de gênero ocorre quando a concordância vem através da idéia que está implícita.
Exemplo: Patos de Minas é muito calorosa. (calorosa diz respeito às pessoas da cidade, que são receptivas).
Vossa Excelência está equivocado. (a referência aqui se faz ao sexo da pessoa e não ao pronome de tratamento).
3. A silepse de pessoa geralmente acontece quando o verbo está na primeira pessoa do plural e o sujeito, na
terceira pessoa do plural. Dessa forma, ao analisarmos a concordância, percebemos que a mesma se diverge.
Exemplo: Os brasileiros somos bastante patriotas.
Neste caso, verificamos que o sujeito se refere à terceira pessoa do plural (Eles), porém, o verbo que na
verdade deveria concordar com este, se encontra na primeira pessoa do plural (nós).
Concordância Verbal
Regra Geral
O verbo de uma oração deve concordar em número e pessoa com o sujeito, para que a linguagem seja clara e a
escrita esteja de acordo com as normas vigentes da gramática.
Observe:
O sujeito “eles” está na 3ª pessoa do plural e exige um verbo no plural. Essa constatação deixa a primeira
oração incorreta e a segunda correta. Primeiramente, devemos observar quem é o sujeito da frase, bem como
analisar se ele é simples ou se é composto.
Sujeito simples é aquele que possui um só núcleo e, portanto, a concordância será mais direta. Vejamos:
1. Ela é minha melhor amiga.
2. Eu disse que eles foram à minha casa ontem.
Temos na primeira oração um sujeito simples “Ela”, o qual concorda em pessoa (3ª pessoa) e número
(singular) com o verbo “é”. Já na segunda temos um período formado por duas orações: “Eu disse” que “eles foram
à minha casa ontem”. “Eu” está em concordância em pessoa e número com o verbo “disse” (1ª pessoa do singular),
bem como “eles” e o verbo “foram” (3ª pessoa do plural).
Lembre-se que período é a frase que possui uma ou mais orações, podendo ser simples, quando possui um
verbo, ou então composto quando possuir mais de um verbo.
Sujeito composto é aquele que possui mais de um núcleo e, portanto, o verbo estará no plural. Vejamos:
1. Joana e Mariana saíram logo pela manhã. 2. Cachorros e gatos são animais muito obedientes.
Na primeira oração o sujeito é composto de dois núcleos (Joana e Mariana), que substituído por um
pronome ficará no plural: Joana e Mariana = Elas. O pronome “elas” pertence à terceira pessoa do plural, logo, exige
um verbo que concorde em número e pessoa, como na oração em análise: saíram.
O mesmo acontece na segunda oração: o sujeito composto “cachorros e gatos” é substituído pelo pronome “eles”, o
qual concorda com o verbo são em pessoa (3ª) e número (plural).
A concordância verbal se manifesta pela adequação em número e pessoa que se estabelece entre o verbo e
seu respectivo sujeito.
Em se tratando da concordância verbal, cumpre dizer que ela se define pela harmonia, pelo equilíbrio que se
manifesta entre o verbo e seu respectivo sujeito. Tal equilíbrio diz respeito exatamente à adequação que se dá entre
ambos os elementos em número e pessoa.
No entanto, dados os pormenores que norteiam os fatos linguísticos de uma forma geral, em algumas
circunstâncias pode ser que o verbo permaneça somente no singular, em outras somente no plural e em algumas
ele pode assumir ambas as posições. Estamos falando, pois, das possíveis exceções que tendem a se manifestar.
Falando nelas, passaremos a conhecê-las a partir de agora.
1) No caso de o sujeito estar ligado pela conjunção “ou”, tal ocorrência se encontra atrelada a alguns princípios:
- O verbo permanecerá no plural se o fato expresso por ele abranger todos os núcleos:
A falta de exercícios físicos ou a má alimentação são prejudiciais à saúde.
- Havendo ideia de exclusão, o verbo permanecerá no singular:
3) Quando o sujeito for representado pelas expressões “um e outro” ou “nem um nem outro”, o verbo poderá
permanecer no singular ou ir para o plural:
ASPECTO IMPORTANTE:
4) No caso de o sujeito ser seguido de um aposto resumidor (tudo, nada, ninguém, cada um) o verbo concordará
com o aposto:
Festas, viagens, reunião com amigos, nada o comovia.
5) Quando o sujeito for representado por infinitivos, tal ocorrência obedece aos seguintes critérios:
- Caso não haja determinante o verbo ficará no singular:
Caminhar e dormir faz bem à saúde.
- No caso de haver determinação, o verbo permanecerá no plural:
O lutar e o progredir constituem a conduta humana.
- Se os infinitivos indicarem ações opostas, o verbo permanecerá no plural:
Lutar e desistir são dissociáveis.
7) Casos em que o sujeito é ligado por conjunções correlativas, expressa por “não só... mas também,
tanto...quanto, não só...como também”, entre outras, o verbo tanto pode permanecer no singular como ir para o
plural:
Não só os aplausos, mas também os gritos nos incomodava.
Não só os aplausos, mas também os gritos nos incomodavam.
8) Nos casos relacionados aos verbos “dar, soar e bater”, esses concordam com a expressão numérica que indica
as horas:
Soaram dez horas no relógio da matriz.
Deu uma hora naquele relógio da parede.
10) Quando um verbo no infinitivo aparecer acompanhado de um sujeito representado por pronome oblíquo
átono antecedido dos verbos “deixar, fazer, perceber e mandar”, esse permanece invariável:
Deixe-as entrar, pois são da família.
Mande-os sair rapidamente.
11) Em casos relacionados à expressão “haja vista”, segundo os preceitos gramaticais, ela deve sempre
permanecer invariável:
Não haverá grandes transtornos, haja vista os propósitos antes firmados.
59
12) A concordância com verbos impessoais é demarcada por alguns pressupostos, entre os quais:
- No caso dos verbos que expressam fenômenos da natureza, o verbo permanece na terceira pessoa do singular:
Choveu muito à noite.
Trovejou bastante hoje.
- Os verbos “fazer” e “estar”, indicando tempo ou clima, permanecem na terceira pessoa do singular:
Faz dois anos que não o vejo.
Está frio aqui.
- No caso do verbo “haver”, ora indicando tempo decorrido, existência, ocorrência ou acontecimento, esse sempre
deverá permanecer invariável (ficando na terceira pessoa do singular):
Havia pessoas dispostas e interessadas. (existiam)
Há dois dias que não a vejo por aqui. (tempo decorrido)
13) O verbo “ser” também representa um caso que obedece a alguns princípios específicos, sendo esses
manifestados por:
- Fazendo referência a datas, horas e distância, embora assumindo a condição de impessoal, o verbo concorda com
a expressão a que se refere:
Já é quase uma hora.
Daqui até lá são dois quilômetros.
- No caso de o sujeito ser representado por uma expressão numérica, o verbo “ser” deverá permanecer no singular:
Dez minutos para mim é pouco.
- Em casos de frases demarcadas pela locução “é que”, o verbo “ser” concorda com o substantivo ou pronome
antecedente:
Nós é que fomos os responsáveis pelo projeto.
- No caso de o sujeito ser representado pelos pronomes “tudo, isso, aquilo ou isto”, o verbo “ser” poderá concordar
com o sujeito ou com o predicativo:
Tudo eram superstições sem sentido.
Aquilo era bobagem.
- Nos casos em que há a ocorrência de sujeito e predicativo, a concordância do verbo “ser” se dá com palavras que
se sobressaem entre as demais. Vejamos, pois, alguns casos:
* Em casos referentes à pessoa e coisa, a concordância se manifesta em relação à pessoa:
A população são as mulheres.
* Quando se tratar de nome próprio e nome comum, a concordância prevalecerá sobre o nome próprio:
Machado de Assis era as atrações da Bienal do Livro.
- Em casos referentes à singular e plural, prevalece a concordância relativa ao plural:
A mochila eram panos e zíperes.
- Em se tratando de pronome reto e qualquer outra palavra, a concordância se manifesta com o pronome reto:
O professor sou eu.
Os líderes somos nós.
14) Concordância ideológica representa a concordância que se manifesta não com o termo expresso na oração,
mas com a ideia nela contida. Dessa forma, há três modalidades de concordância:
* Concordância de gênero – manifesta-se quando a concordância se dá com o gênero gramatical:
Vossa Majestade parece ansioso.
* Concordância de número – ocorre quando a concordância se dá com o número gramatical:
A multidão queriam que os portões fossem abertos.
* Concordância de pessoa – manifesta-se quando a concordância se dá com a pessoa gramatical:
Os brasileiros somos todos patriotas.
Vimos, por meio das elucidações aqui expostas, os muitos casos relativos à concordância verbal. Casos esses que
fogem um pouco ao tradicional, dada a presença dos muitos pormenores com os quais compartilhamos. Dada essa
realidade, torna-se interessante também conhecermos os casos referentes a sujeito simples e composto.
Há alguns casos de verbos em que a concordância causa dúvidas. Vejamos aqui os casos especiais, separadamente:
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O verbo ser
a) Quando o sujeito é um dos pronomes: o, isto, isso, aquilo, tudo, o verbo ser concorda com o predicativo:
Exemplo: Tudo era felicidade quando morava na casa do vovô.
b) Quando o predicativo for um pronome pessoal.
Exemplo: O presente que comprei hoje é para você.
c) Quando o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo ser concordará com o sujeito.
Exemplo: Paola é a aluna mais aplicada da sala.
d) Quando o sujeito for uma expressão numérica que dá ideia de conjunto, o verbo ficará no singular.
Exemplo: Quatro horas é pouco tempo para fazer as provas de vestibular.
e) Quando a oração se iniciar com os pronomes interrogativos (Que, Quem), o verbo concorda com o sujeito.
Exemplos: Quem é a pessoa que consegue fazer justiça com as próprias mãos?
f) Quando a oração indicar o dia do mês, o verbo concorda no singular ou no plural, dependerá da intenção.
Exemplos: Hoje é (dia) 11 de setembro. (dia específico). Hoje são 11 de setembro. (dias decorridos até a data)
No sentido de existir ou na ideia de tempo decorrido, o verbo haver é impessoal. Logo, o verbo ficará no singular.
Exemplo: Faz dez dias que não faço exercícios físicos. (tempo decorrido)
Nesta época do ano, faz muito frio.
Quando da locução verbal, tanto o verbo haver quanto o verbo fazer exigem que o auxiliar fique na terceira pessoa
do singular.
O verbo existir
Geralmente, o verbo existir concorda com seu sujeito.
Exemplo: Devem existir muitas pessoas que não gostam de frutos do mar.
O verbo parecer
Quando o verbo parecer vier seguido de infinitivo, poderá ser flexionado ou no singular ou no plural:
A concordância verbal é mais uma dentre as particularidades gramaticais, assim, devemos nos atentar para a
questão de regras e possíveis exceções, e, obviamente, colocá-las em prática sempre que necessário.
Além disso, a mesma se faz presente nos conteúdos programáticos pertencentes à maioria dos concursos e
vestibulares. Algo que aparentemente pode parecer complicado, torna-se passível de total apreensão mediante a
familiaridade com a escrita e aperfeiçoamento de nossos conhecimentos linguísticos.
No intento de aprimorá-los cada vez mais, observaremos a seguir uma relação composta com casos
específicos de sujeito simples, a qual merece total destaque:
Expressões partitivas – A formação se dá pelo sujeito constituído por uma expressão que denota “parte de algo” (a
metade de, a maior parte de, grande parte de, a maioria de), seguida de um substantivo ou pronome no plural:
O verbo poderá ser grafado tanto no singular quanto no plural.
Ex: A maior parte dos funcionários aprovou/aprovaram a decisão.
A expressão mais de um – Quando esta vier associada a verbos que retratem reciprocidade:
O verbo necessariamente permanecerá no plural.
Ex: Mais de um vestibulando se abraçaram durante a comemoração pela vitória.
Quantidade aproximada – É o caso em que o sujeito é formado por expressões que indicam quantidade
aproximada (cerca de, menos de, mais de, perto de) seguidas de numeral e substantivo:
Nomes próprios – a concordância neste caso deverá ser feita levando em consideração a presença ou ausência do
artigo.
Com o artigo, o verbo é gafado no plural e sem ele, o verbo é grafado no singular.
Ex: Os Estados Unidos formam a grande potência mundial.
Goiás é um estado bastante acolhedor.
Pronome interrogativo ou indefinido plural – Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou indefinido plural
(quais, quantos, alguns, quaisquer) seguido do pronome pessoal “nós” ou “vós”:
O verbo concordará com o primeiro pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o pronome pessoal.
Pronome relativo “que” – Quando a formação do sujeito se dá pelo pronome relativo que:
A concordância em número e pessoa se dá com o antecedente do mesmo.
Exemplo: Fui eu que trouxe a encomenda.
Exemplo:Fomos nós que preparamos o evento.
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Na concordância verbal temos alguns casos que podem gerar dúvidas quanto ao sujeito composto e a correta
conjugação do verbo.
a) Quando o sujeito composto estiver antes do verbo, esse último ficará no plural.
Exemplo: Paola e Pedro gostaram do seu interesse em vender a casa.
b) Quando o sujeito vier depois do verbo, esse último ficará no plural ou com o núcleo do sujeito que estiver mais
próximo ao verbo.
Referencia:
Faraco & Moura, Gramática Nova, 8ª edição, Ed. Ática São Paulo 2011.
Aula 9
Filme - Edson
Aula 10
A comunicação faz parte de nossas interações cotidianas. Parece óbvio para você alguns procedimentos
comunicacionais, mas, você sabia que existe um arcabouço teórico que embasa cada anúncio lido por você?
Não percebemos a intencionalidade comunicativa em toda manifestação textual, por isso talvez, tenhamos
hábitos tão parecidos. Somos continuamente enquadrados em um perfil de público alvo. Sendo jovem, velho,
homem, mulher, ricos ou pobres, nada disso importa, sempre haverá um produto pronto para ser consumido por
você, claro, depois de ser pago por você.
Teoria da Comunicação
Segundo Roman Jakobson, em todo ato comunicativo existe, um remetente, um destinatário, um código,
bem como um canal pelo qual se pretende emitir uma mensagem. Para bem compreendermos esse processo
comunicativo precisamos entender previamente que as pessoas que se inserem nesse contexto de comunicação são
sempre representadas pelo o EU – aquele que fala, emite uma mensagem, e por um Tu, que, mais que decodificar a
mensagem, reelabora a partir de suas possibilidades cognitivas um sentido possível para a mesma. Isso ocorre, pois,
de diferentes modos, com mais ou menos eficiência, cada um de nós acessa o significado social disposto pelo texto
que, por sua natureza, é concebido socialmente. Para o assunto tratado pelo texto, consensualmente, atribuímos o
termo ELE.
Pensando nas finalidades da ação comunicativa e na forma como elas se manifestam, Jakobson identificou
seis funções da Linguagem, sendo as seguintes: referencial, emotiva, apelativa, fática, metalinguística e poética.
Um texto poderá ser predominantemente referencial quando apresentar a seguinte estrutura:
Acará
Acará ou cará é o nome genérico atribuído a diversos peixes da família dos ciclídeos. A espécie mais comum
no Brasil pode atingir até 25 cm de comprimento. Grande Enciclopédia Barsa. 3. Ed. São Paulo: Barsa Planeta
Internacional, 2005. P. 39
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Os textos estruturados mediante a função referencial permitem que a informação seja apresentada de
forma objetiva, sem que haja, portanto, sentidos conotativos ou figurados. Tais textos têm como função permitir a
compreensão, e muitas vezes a aprendizagem de conteúdos diversos, escolares ou não.
Alguns textos com foco no remetente apresentam efeitos da subjetividade do mesmo, por isso, são
expressos em primeira pessoa, revelam por meio de advérbios de modo e verbos que denotam impressões, as
opiniões mais singulares, mais idiossincráticas de uma pessoa.
Observe a música:
Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito [...]
MORAES, Davi; Braw, Carlinhos; ANTUNES, Arnaldo; MONTE, Marisa; BABY, Pedro. Velha Infância. Intérpretes:
Arnaldo Antunes, Carlinhos Braw e Marisa Monte. In: Tribalistas. BR Records –EMI, 2002.
Alguns textos centrados no destinatário tem como predomínio a função apelativa. Esta regula
principalmente as formas de persuasão direcionadas ao destinatário, em sua materialidade são comuns: verbos no
imperativo, uso do vocativo, pois tais formas proporcionam uma interação maior com texto.
Textos centrados no contato são estruturados pela função fática, esta função é utilizada para favorecer a
manutenção da comunicação.
Note:
- Papai...
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
Claro que podemos.
É sobre esse seu nariz...
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2002. p. 75.
Textos que focalizam a mensagem apresentam predomínio da função poética. Tais textos podem estar
escritos tanto em prosa, quanto em forma de poema, com rima, versos e estrofes.
Veja os exemplos:
1 O título que lhe dão na Internet varia. Pode ser “Amigos”, “Meus Amigos”, ou “Meus Secretos Amigos”. O mais provável é que este último seja o título original.
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[...]
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um
amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de
memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a
consciência de que ainda se vive.
[...]
A função de metalinguagem estrutura, comumente, textos que procuram expressar sua natureza própria,
para entendermos melhor, pensaremos em uma linguagem que se utiliza de seus próprios recursos linguísticos e
comunicacionais para emitir uma mensagem sobre si mesma, ou sobre a natureza de sua organização linguística.
Assim um texto de natureza filosófica explicará assuntos que tangem a Filosofia, textos escritos em língua portuguesa
tentarão explanar assuntos relativos à gramática...
Bem, será comum a sua realidade acadêmica a presença de tal função da linguagem, isso pois, você irá se
deparar com textos de natureza metalinguística corriqueiramente. Em nossa aula, por exemplo. Estamos, por meio
da linguagem, propondo a reflexão acerca dessa mesma linguagem.
Veja o exemplo:
Sabe o Português?
[...] Temos muitos modos. Mas não só modos de boa educação, daqueles que a sua mãe aconselha a mostrar
às visitas; e sim modos verbais. Dispomos de três, cada qual subdividido em tempos: indicativo, subjuntivo e
imperativo – o menos usado e mais legal. Ou você não acharia o máximo dizer “faze tu!” quando seu irmão pede
alguma coisa?
Mas vamos nos ater ao indicativo, que exprime algo certo. Nele, conjugamos em seis tempos: presente (ok),
pretérito imperfeito ( que não se trata necessariamente de um passado maculado), pretérito perfeito (tampouco se
refere a uma biografia certinha), pretérito mais-que-perfeito (mania de grandeza!), futuro do presente ( eu pensava
“mas, afinal, isso é futuro ou presente?” e, pasme, futuro do pretérito ( que embananou de vez minha cabeça
ginasial).
Portanto, irmão em língua, conjuguemos. Eu conjugo, tu conjugas, ele conjuga. Nós conjugamos, vós
conjugais, eles conjugam. Fácil, pois se trata de um verbo regular de primeira conjugação. É só trocar por qualquer
outra ação terminada em – ar e copiar os finais: eu copio, tu copias, ele copia, nós copiamos, vós copiais, eles
copiam.
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A não ser que o verbo esteja irregular. Alguns nem chegam a mudar tanto, mas outros só podem estar de
sacanagem. Como o verbo ir. Tão pequeno e tão feroz, o danado é uma anomalia. Literalmente: ir é um verbo
anômalo, ou seja, tem mais de um radical quando conjugado. Vejamos, em rápido passeio pelos tempos: eu vou, eu
ia, eu fui, eu fora, eu irei, eu iria. Que vá você. Se eu fosse. Quando eu for. Não vás. Ou vá, você é quem sabe! Já
podia ter ido. Eu “tô” indo. E pensar que chegamos na escola já intuindo boa parte disso. Por isso é que eu digo:
Português é para os fortes.
PASSOS, Clarissa. Garotas que dizem ni! Disponível em: http://www.garotas que dizem ni.com/archives/001504.
Acesso em 15 de fev. 2012.
Ainda acerca das funções de linguagem, faz-se necessário não limitar o processo de compreensão de textos
atrelando a cada texto disposto em nosso meio social uma determinada função, pois, cada texto apresentará, quase
sempre, variadas funções que se relacionam para melhor cumprir as intencionalidades comunicativas.
1)Atividades
a)Elabore um parágrafo analisando o tema apresentado acima.
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b)Observe o uso dos pronomes no texto, qual efeito de sentido os pronomes provocam? Justifique.
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2) Elabore um parágrafo analisando o tema apresentado acima.
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Essa modalidade de texto é fundamental para alertar a sociedade, é produzida com dinheiro público, assim
sendo, todos nós pagamos por tais campanhas.
Atividades
O Anúncio publicitário é um gênero textual que tem a finalidade de promover uma ideia, a marca de um
produto ou ao nome de uma empresa. Os anúncios publicitários mais conhecidos são os comerciais, que circulam na
tv, no rádio, em jornais e revistas.
a)O anúncio lido promove uma ideia ou a marca de um produto?
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b)Quem é o locutor desse anúncio, ou seja, de quem foi a iniciativa de publicar esse anúncio? Justifique sua resposta.
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Intertextualidade
Outro elemento importantíssimo para a formação de sentido de um texto publicitário é denominado de
Intertextualidade. A intertextualidade pode ser definida como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo
pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de
remissões a obras, situações, textos diversos ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a
intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser
compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
Tipos de intertextualidade
Existem oito tipos de intertextualidade: Epígrafe que consiste em escrita introdutória a outra. Citação
consiste em transcrição do texto alheio, marcada por aspas. Paráfrase: as palavras são mudadas, entretanto a ideia
do texto é mantida. Paródia é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com
ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia ou à crítica. Pastiche uma recorrência a um
gênero. O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo. Tradução é considerada um tipo de
intertextualidade, pois consiste na recriação de um texto. Referência e alusão: artifício realizado para que o leitor
possa fazer remissões a outros contextos e textos e a partir de tal recurso consiga melhor sua capacidade leitora.
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Fique atento aos efeitos da publicidade em sua vida cotidiana. Reflita bem sobre o que você realmente
necessita para ser feliz e tudo aquilo que geralmente você compra para satisfazer os desejos fabricados pela
propaganda. Vivemos em um momento singular em nossa sociedade de consumo. Já consumimos muito mais do que
podíamos graças a força da publicidade e ao modelo de nossa sociedade.
Referências
CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T. C. Português linguagens: Literatura, produção de texto e Gramática. 5º ed. São Paulo,
2005.
ABAURRE, M. L.; ABAURRE, M. B.; Português: contexto, interlocuções e sentido. 1º ed. São Paulo, 2010.
PASSOS, C.. Garotas que dizem ni! Disponível em: http://www.garotas que dizem ni.com/archives/001504. Acesso em
15 de fev. 2012.
Aula 11 Crônica
CRÔNICAS
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Em geral, na crônica a narração capta um momento, um flagrante do dia a dia; o desfecho, embora possa ser
conclusivo, nem sempre representa a resolução do conflito, e a imaginação do leitor é estimulada a tirar suas
próprias conclusões. Os fatos cotidianos e as personagens descritas podem ser fictícias ou reais, embora nunca se
espere da crônica a objetividade de uma notícia de jornal, de uma reportagem ou de um ensaio, nela aparece,
geralmente, uma linguagem subjetiva e literária.
O Cronista escolhe a dedo as palavras. Sua linguagem é simples, espontânea, quase uma conversa ao pé do
ouvido com o leitor. Tempera os fatos diários com humor, ironia ou emoção, revelando peculiaridades que as
pessoas, em sua correria, deixam de perceber.
Na Crônica, o autor expressa sua opinião a partir de uma observação detalhada das coisas, das pessoas e da
vida. Diante de um fato o cronista faz inferências não apenas com a razão, mas também com a sensibilidade.
Para ler um texto, não basta identificar letras, sílabas e palavras; é preciso buscar o sentido, compreender,
interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante. Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar
informação, ampliar conhecimento, meditar, entreter-nos.
O objetivo da leitura é que vai mobilizar as estratégias que o leitor utilizará. Sendo assim, ler um artigo de
jornal é diferente de ler um romance, uma história em quadrinhos ou um poema. Ler textos traz desafios para os
alunos. Para melhor compreender um texto, é preciso saber em que situação de comunicação ele foi produzido:
“Quem é o autor”? Para quem ele escreveu? Em que veículo ele publicou a crônica (jornal, revista, internet, livros)?
A pipoca
Rubem Alves
As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei,
entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira
deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela
mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como
pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma
pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas,
as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de
vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria
devem existir juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé
baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé.
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos
graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o
ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso
aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o
fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com
água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos
começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia
com eles: os grãos duros Quebra-Dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam
comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira,
molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é
símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O
milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos
nós: duros, Quebra-Dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos repentinamente, nos transformar
em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a
gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo
jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu
jeito de ser é o melhor jeito de ser.
71
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo
de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos
remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que
sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino
diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é
capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra
coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do
casulo como borboleta voante. Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e
ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de
outro. "Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles
ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser
forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa
a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e
desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os
piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que
se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas
acho que o poder metafórico dos piruás é maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se
recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito
de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não
estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão
dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem
para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma
grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que
aconteceu".
O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
1)Depois da leitura da crônica de Rubens Braga, faça uma reflexão sobre as mudanças que ocorrem nas vidas das
pessoas, na sua vida, o que você era há algum tempo, e como você é hoje, o que mudou? Lembre-se de usar os
conectores adequados para dar coesão e coerência ao seu texto.
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a)“A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura.”
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2)Qual elemento pode substituir a palavra Mas, do seguinte excerto, sem prejuízo de sentido. “Repentinamente os
grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que
acontecia com eles: os grãos duros Quebra-Dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças
podiam comer.”
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Referências
CORREA. Vanessa Loureiro. Língua portuguesa: da Oralidade à Escrita. Curitiba: IESDE BRASIL S. A. 2006.
FARACO E TEZZA. Prática de Texto para estudantes Universitários. 10ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes. 1992.
Aula 12
73
Trata-se de um gênero textual facilmente encontrado em quase todos os veículos de comunicação de massa,
tal como jornais, revistas, televisão, etc. Este texto é construído tendo como base o conhecimento dos entrevistados
acerca da temática escolhida. Assim sendo, para que possamos acessar tais conhecimentos fazemos perguntas aos
entrevistados. Por esta razão, podemos afirmar que se trata de um texto quase que estritamente oral, muito embora
possamos fazer a transcrição das entrevistas, isto é, passar da fala para a escrita.
No tocante à elaboração da entrevista, é importante que seja levado em consideração o público ao qual se
destina a matéria a ser publicada, pois a linguagem é elaborada para atender as especificidades do tema, e do
formato da entrevista, isto é, uma entrevista de caráter jornalístico, por exemplo, requer dos participantes um uso
mais apurado da linguagem. Portanto, podemos afirmar que o interesse e as expectativas do público são de grande
importância no processo de construção de uma entrevista.
A elaboração prévia a respeito do assunto que será discutido é de suma importância, pois o
entrevistador precisa dominar o assunto em pauta, de modo a evitar algumas falhas
indesejáveis. Como também o mesmo deverá se manter totalmente imparcial, na qual a
objetividade deverá prevalecer sempre, sobretudo porque nesse momento é preciso que se
promova uma total credibilidade. (DUARTE, 2010, p.1).
Apresentação: A entrevistada é a professora Mestre em Educação Laine de Andrade e Silva, autora do livro Redação:
qualidade na comunicação escrita. Ela é professora universitária de Língua Portuguesa há 25 anos. Atualmente
ministra aulas no UNIVAG, CFO e SEDAC.
Entrevistada: Sou professora de Língua Portuguesa. Atualmente ministro aulas no UNIVAG de Produção de Leitura e
Texto (PLT),dentre outras disciplinas.Também sou professora no CFO e no SEDAC da mesma disciplina.
Entrevistador: A senhora concorda com o que as pessoas falam a respeito da Língua Portuguesa, isto é, que se trata
de um idioma difícil de aprender e de se falar?
Entrevistada: Viu? Não é difícil a comunicação em nosso idioma. O que as pessoas acham difícil é a gramática
normativa. Mas nossa Língua é muito mais do que apenas as regras da sua gramática. Assim sendo, afirmo que todo
brasileiro sabe falar Português. É claro que não podemos nos esquecer que há as variantes linguísticas, isto é,
diferentes formas de se falar a mesma coisa.
Entrevistador: É bastante interessante esse seu posicionamento. A que a senhora atribui essa máxima de que
brasileiros não sabem Português?
Entrevistada: Ao reducionismo que fazemos em relação à nossa Língua e pelo fato de se considerar a gramática
(conjunto de regras) como um princípio e fim em si mesma. Não pretendo afirmar que a gramática não tem
importância, mas também não podemos nos ater apenas a ela. Outro fator interessante é o contexto e a relação
existente entre os falantes. Se estamos num ambiente informal, não há necessidade de aplicarmos as regras com
rigor.
Entrevistador: Obrigado pela entrevista! Fica marcada a nossa próxima sobre variantes linguísticas.
Referências:
CARVALHO, Márcio Marconato de. A construção do discurso no gênero entrevista com convidados na internet.
Revista Letra Magna: Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura – Ano
02 – nº. 03 – 2º semestre de 2005. ISSN 1807-5193. Disponível em http://www.letramagna.com/. Acesso em 15 de
fevereiro de 2012.
ESSENFELDER, Renato. Marcas da presença da audiência em uma entrevista jornalística. Revista Virtual de Estudos
da Linguagem – ReVEL. v. 3. n. 4. Março de 2005. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br]. Acesso em 15 de fevereiro de
2012.
PINTO, Cândida Martins. Gênero Entrevista: conceito e aplicação no ensino de português para estrangeiros. Revista
da ABRALIN, v. 6, nº 1, p. 183-203, jan./jun. 2007.
Aula 13 Resenha
75
RESENHA
A Resenha é um gênero textual que apresenta a síntese das principais ideias contidas em um texto ou em
uma obra, destacando o seu encadeamento lógico e a sua sequência expositiva.
O Resumo ou Resenha Resumo é um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de
um filme, de uma peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um
texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor.
A Resenha é usada no meio acadêmico para avaliar – elogiar ou criticar – o resultado da produção intelectual
em uma área do saber. De acordo com Platão & Fiorin (1995), citados por Köche, Boff e Pavani (2006, p. 95), “[...]uma
resenha pode ser descritiva ou crítica”.
Tipos de
Conceito
resenha
Resenha Expõe com precisão e fidelidade os elementos referenciais e essenciais de um texto, com a sua
descritiva descrição minuciosa e sucinta, e não apresenta nenhum julgamento do resenhador.
O objetivo da resenha é divulgar objetos de consumo cultural - livros, filmes peças de teatro, etc. Por isso a
resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente, muito mais que outros textos de natureza
opinativa. Geralmente, veiculada por jornais e revistas.
Os julgamentos inteiramente pessoais, que só exprimem o sentimento do autor, tais como eu gosto ou eu
não gosto, devem ser evitados, porque não são justificados pela razão.
Para articular as ideias que compõem a resenha, o resenhador vale-se dos componentes da argumentação
(conectores, sequenciadores, preposições, locuções propositivas, etc.) que ligam os parágrafos entre si e conferem
unidade ao texto, obtendo-se assim coesão e coerência.
A coerência e a coesão textual estão intimamente relacionadas. No entanto, há textos que podem ser
coerentes sem possuir elementos explícitos de coesão e outros que apresentam uma sequência de enunciados
coesos, mas não constituem textos, pois falta-lhes a coerência.
A extensão do texto depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. Observe-se que, em
geral, não se trata de um texto longo.
Devem constar:
1. O título
2. A referência bibliográfica da obra
3. Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada
4. O resumo, ou síntese do conteúdo
5. A avaliação crítica
O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. Pode-se
resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou ideias do objeto resenhado.
Veja exemplo do resumo feito de Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu ensino,
Celso Luft, na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática", escrita por Gilberto Scarton.
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla
- uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de
língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que
se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura
prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas de português".
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação
linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática
76
natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos
falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do
irrelevante.
Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos.
Veja o exemplo da resenha Receitas para manter o coração em forma, Zero Hora, 26 de agosto, 1996, sobre
o livro "Cozinha do Coração Saudável", produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal.
Receitas para manter o coração em forma
Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuação no
organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer
(e evitar) para manter o coração saudável.
As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, entradas, saladas e
sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de
queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de
batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e peras ao vinho tinto são
algumas das iguarias.
Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos:
Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas), do
gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de ideias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua
materna, por combater, veementemente, o ensino da gramática em sala de aula.
Mais um exemplo:
Michael Jackson: uma Bibliografia Não Autorizada (Record: tradução de Alves Calado; 540 páginas, 29,90
reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular do mundo. (Veja, 4 de outubro,
1995).
Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura (inteligente) desse
tipo de texto poderá aumentar o leque de opções para iniciar uma recensão crítica de maneira criativa e cativante,
que leva o leitor a interessar-se pela leitura.
A Resenha Crítica
A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, uma
avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha, resultando num texto em que o
resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram.
O tom da crítica poderá ser moderado, respeitoso, agressivo, etc.
Deve ser lembrado que os resenhistas - como os críticos em geral - também se tornam objetos de críticas por parte
dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que revidam os ataques qualificando os "detratores da obra"
de "ignorantes" (não compreenderam a obra) e de "impulsionados pela má-fé".
Exemplos:
Atwood se perde em panfleto feminista
Marilene Felinto
Da Equipe de Articulistas
Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é
mais conhecida pelo romance "A mulher Comestível" (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-
ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo romance.
O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas
não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A
escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a
uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão "meleca cerebral".
Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer
problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.
77
É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela presença (em
"flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa "femme fatale" que vive roubando os homens das
outras.
Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez -, a antogonista
Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a
partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas
não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse
romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito.
Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher "fora-da-lei",
porque "há poucas personagens mulheres fora-da-lei". As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias,
disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para
Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: "Historiadores
homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e
bombas em paz".
Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: "Há só uma
coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os
homens têm essa química o tempo todo". Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not
History", trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra "História", porque em inglês a palavra pode ser
desmembrada em duas outras, "his" (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o
"his" para "her" (dela).
As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços,
jantares, trabalho, casamento e muita "reflexão feminina" sobre a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma
mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony
pelas guerras.
Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto
ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de agradecimentos - se orgulha de ter
realizado.
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Referências
KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti e PAVANI, Cinara Ferreira. Resenha de obra ou artigo. In:_____.
Prática Textual: atividades de leitura e escrita. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. p. 95-97.
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1985.