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Resolução
A noção de obrigação (civil) está prevista no art. 397.º do Código Civil (C.Civ.).
Nos termos do art. 402.º do C.Civ., obrigação natural é aquela que se “funda
num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é
judicialmente exigível mas corresponde a um dever der justiça”.
O credor de uma dívida prescrita (neste caso A) pode por isso propor uma ação
de cumprimento. Se o devedor invocar a prescrição, a ação será julgada
improcedente: a obrigação civil converte-se em obrigação natural. Se o devedor
não invocar a prescrição, a ação será julgada procedente e o devedor condenado
a adotar a conduta exigida: a obrigação civil continua a ser civil.
Nos termos do art. 304.º, n.º 2, não pode ser repetida a prestação realizada
espontaneamente em cumprimento de uma obrigação prescrita, ainda quando for
feita com ignorância da prescrição.
II
Resolução
a) Obrigação natural típica: dívida de jogo e aposta (art. 1245.º). Não pode exigir
judicialmente o pagamento porque a garantia é mais fraca.
b) Cinge-se ao art. 403.º - não pode ser repetido o que for prestado
espontaneamente em cumprimento de uma obrigação natural exceto se o
devedor não tiver capacidade para efetuar a prestação. O erro sobre a
coercibilidade jurídica do cumprimento é irrelevante.
III
IV
Resolução
Nos termos do art. 407.º do C.Civ. “quando, por contratos sucessivos, se constituírem a
favor de pessoas diferentes mas sobre a mesma coisa, direitos pessoais de gozo
incompatíveis entre si, prevalece o direito mais antigo em data, sem prejuízo das regras
próprias do registo”.
Importa pois saber qual é o “direito mais antigo em data”. A questão é controversa.
Para uma primeira tese, o direito pessoal de gozo mais antigo em data é o direito
decorrente do contrato celebrado ou concluído em primeiro lugar. Assim, existindo dois
contratos de arrendamento conflituantes por incidirem sobre a mesma coisa e por terem
prazos total ou parcialmente sobrepostos, concluídos em datas diferentes, o direito
decorrente do contrato primeiramente concluído prevaleceria sobre o direito decorrente
do contrato concluído em segundo lugar.
De acordo com uma segunda tese, o direito pessoal de gozo mais antigo em data é o
direito decorrente do contrato cumprido em primeiro lugar. Assim, existindo dois
contratos de arrendamento conflituantes, concluídos em datas diferentes, prevaleceria o
direito do arrendatário que primeiro conseguisse a entrega da coisa.
ANDRADE MESQUITA considera que nos direitos pessoais de gozo existe um núcleo
central e uma zona periférica. O núcleo central seria constituído pelo “direito de retirar
certas utilidades da coisa”; a zona periférica pelas obrigações, positivas ou negativas,
indispensáveis à constituição e ao exercício desse “direito de retirar certas utilidades da
coisa”. Assim, por exemplo, no que respeita ao direito do arrendatário, o núcleo central
englobaria os poderes de uso e fruição da coisa arrendada, a zona periférica englobaria o
poder do arrendatário de exigir do locador determinados comportamentos positivos (v.g.
a entrega da coisa – art. 1031.º al. a)) e determinados comportamentos negativos (a
omissão de “atos que impeçam ou prejudiquem o gozo da coisa pelo locatário, com
exceção do que a lei ou os usos facultem ou o próprio locatário consinta em cada caso”.
O direito pessoal de gozo em sentido amplo abrange quer o núcleo central quer a zona
periférica. O direito pessoal de gozo em sentido estrito abrange só o núcleo central.
ANDRADE MESQUITA, defensor desta segunda tese, entende que a expressão “direitos
pessoais de gozo” utilizada pelo art. 407.º se refere aos “direitos pessoais de gozo em
sentido estrito ou próprio”. Ora, o direito pessoal de gozo em sentido estrito ou próprio,
sendo o direito de retirar certas utilidades da coisa, só se constitui com o cumprimento
da obrigação de entrega da coisa. Assim, o titular do direito mais antigo em data é
aquele que primeiro consegue o cumprimento pois só a partir do cumprimento é que é
possível dizer que ele é titular de um direito pessoal de gozo enquanto categoria jurídica
autónoma.
Resolução
No plano das relações internas, o devedor solidário que houver satisfeito o direito do
credor além da parte que lhe cabia no débito comum tem direito de regresso contra cada
um dos condevedores pela parte respetiva.
O art. 516.º estabelece a presunção de que os devedores solidários participam em partes
iguais na dívida ou no crédito sempre que da relação jurídica entre eles existente não
resulte que são diferentes as suas partes, ou que só um deles deve suportar o encargo da
dívida. A dívida comercial de B, C e D tem o montante global de 15.000 €. Assim, a
quota de cada um dos devedores é de 5000 €.
Estando B insolvente, a sua quota-parte de 5000 € há-de ser repartida
proporcionalmente entre todos os demais devedores “incluindo o credor de regresso”
(art. 526.º, n.º 1). Assim, a quota de C e de D passam a ser de 7500 € cada uma. Aquele
que satisfizer o direito do credor poderá exigir do outro, em via de regresso, a quantia de
7500 €.
VI
Resolução
A obrigação de B, C, D e E é uma obrigação plural por existir mais do que um
devedor (pluralidade passiva). As obrigações plurais podem ser conjuntas (se a
pluralidade de sujeitos é cumulativa) ou disjuntas (se a pluralidade de sujeitos é
alternativa); as obrigações conjuntas dividem-se em parciárias e em solidárias.
O art. 513.º consagra o regime-regra da parciaridade ao estabelecer que “[a]
solidariedade de devedores ou credores só existe quando resulte da lei ou da vontade das
partes”.
Neste caso, a obrigação é solidária uma vez que as partes convencionaram a
solidariedade.
Existindo solidariedade “cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera” (art. 512.º, n.º 1, 1.ª parte). A solidariedade passiva tem
assim duas características essenciais: em primeiro lugar, o credor tem direito de exigir a
prestação integral de qualquer um dos devedores (art. 519.º, n.º 1, 1.ª parte); e, em
segundo lugar, a prestação efetuada por qualquer dos devedores solidários libera a
todos.
O “perdão” da dívida de A a B configura-se como uma remissão. O enunciado
diz-nos que A declarou que o “perdão” não prejudicava a sua faculdade de exigir a
totalidade dessa quantia aos restantes devedores, devendo concluir-se que “o credor […]
reserv[ou] o seu direito, por inteiro, contra os outros devedores” (art. 864.º, n.º 2). Em
tais casos, o credor conclui com o devedor solidário cuja dívida é remitida “uma espécie
de pactum non petendo”, conservando os demais devedores solidários o seu direito de
regresso
Em consequência da sucessão nos direitos de A, C é simultaneamente credor e
(con)devedor da obrigação solidária (art. 868.º do C.Civ.).
Nos termos do art. n.º 1 do art. 869.º, “a reunião na mesma pessoa das
qualidades de devedor solidário e de credor exonera os demais obrigados, mas só na
parte da dívida relativa a esse devedor”. O art. 516.º do C.Civ. estabelece a presunção
de que os devedores solidários comparticipam em partes iguais na dívida ou no crédito,
“sempre que da relação jurídica entre eles existente não resulte que são diferentes as
suas partes, ou que só um deles deve suportar o encargo da dívida”. A dívida de B, C, D
e E tem o montante global de 60 000 euros; a quota de cada um dos devedores
solidários é assim de 15 000 euros. B, D e E continuam devedores solidários face a C ,
deduzindo-se à prestação integral a quota correspondente ao antigo devedor: ou seja,
deduzindo-se aos 60.000 euros os 15.000 euros correspondentes à quota de C e ficando-
se com 45.000 euros.
A confusão e a remissão têm as seguintes consequências:
a) No plano das relações externas (das relações entre credor e devedores
solidários):
- C não pode exigir a prestação integral a B por A ter concluído com ele o
contrato de remissão (art. 864.º, n.º 1).
- C pode exigir a prestação integral (de 45.000 euros) a D ou a E, por ter
reservado o seu direito, por inteiro, contra os outros devedores (art. 512.º e
524.º, em ligação com o n.º 2 do art. 864.º do Código Civil).
b) No plano das relações internas (das relações dos devedores solidários entre
si): o devedor que houver satisfeito o direito do credor além da parte que lhe
cabia no débito comum tem direito de regresso contra cada um dos
condevedores pela quota respectiva. Os condevedores conservam o direito de
regresso contra o devedor solidário exonerado (art. 864.º, n.º 2):
- caso C decida exigir os 45000 euros a D, este poderá exigir 15000 euros a
B e 15000 euros a E;
- caso C decida exigir os 45000 a E, este poderá exigir 15000 euros a B e
15000 a D.
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VIII
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A, caçador amador e proprietário de um terreno pequeno, combina com o seu
vizinho B, que possui um terreno muito maior, a possibilidade de, na época de caça,
entrar na propriedade deste último para caçar. Em troca, A compromete-se a dar a B
metade da caça que conseguir.
Classifique as prestações em causa.
1. Estão aqui em causa duas prestações: 1.ª) B obriga-se a permitir que, durante a
época de caça, A entre na sua propriedade para caçar; 2.ª) A obriga-se a dar a B
metade da caça que conseguir.
2. Relativamente à 1.ª prestação, o credor é A e o devedor é B.
Quanto ao objecto podemos classificar esta prestação como uma obrigação de
prestação de facto negativo: o devedor compromete-se a um não fazer ou
suportar “pati”. O devedor fica obrigado a consentir, a tolerar.
3. O objecto directo ou imediato das relações jurídicas obrigacionais é um
comportamento ou conduta do devedor – uma prestação -: nas obrigações de
prestação de facto (positivo ou negativo), o direito de crédito só tem um objecto
imediato – a conduta (acção ou omissão) do devedor -; nas obrigações de
prestação de coisa, o direito de crédito tem simultaneamente um objecto
imediato ou directo – a conduta do devedor – e um objecto mediato ou indirecto
– a própria coisa.
4. Relativamente à 2.ª prestação, o credor é B e o devedor é A.
Quanto ao objecto podemos classificar esta prestação como uma obrigação de
prestação de coisa. Nestas, como já vimos, o direito de crédito tem
simultaneamente um objecto imediato ou directo – a conduta do devedor – e um
objecto mediato ou indirecto – a própria coisa.
O género”obrigação de prestação de coisa” abrange três espécies: a obrigação de
dar, a obrigação de prestar e a obrigação de restituir. Nas obrigações de dar, “a
prestação visa constituir ou transmitir um direito real sobre a coisa” (cf. Arts.
1144.º ou 1181.º, n.º 1); nas obrigações de entregar, a prestação visa transferir a
posse ou detenção da coisa; nas obrigações de restituir, o credor recupera a posse
ou detenção da coisa ou o domínio sobre coisa equivalente, do mesmo género ou
quantidade.
O art. 399.º do C.Civ. admite a promessa de prestação de coisa futura, “sempre
que a lei não a proíba”. O art. 211.º define as coisas futuras como “as que não
estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao tempo da
declaração negocial”.
O intuito da norma é sujeitar ao regime dos negócios sobre bens futuros, e não
às regras sobre a venda de coisa alheia, os actos de disposição relativos a coisas
não pertencentes ao disponente, mas que este conta vir a adquirir em momento
posterior (arts. 88.º, 892.º e 893.º do C.Civ).
XI
XII
Quid juris?
XIII
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c) E se, em vez da segunda prestação, António não tivesse pago a terceira e quarta
prestações?
1. Neste caso, B já poderia reagir porque A faltou ao pagamento de mais do
que uma prestação. Nos termos do art, 934.º poderia resolver o contrato. Nos
contratos constitutivos de obrigações de prestação fraccionada ou repartida, a
resolução abrange todas as prestações – todas as partes da prestação -,
incluindo as já realizadas (art. 434.º, n.º 1). Isto significa que se B optasse
por exercer o direito potestativo de resolução do contrato teria de devolver as
prestações já pagas.
2. A falta de pagamento de mais do que uma prestação importa, ainda, a perda
do benefício do prazo relativamente às prestações seguintes (art. 781.º e
934.º). Isto significa que B pode, em alternativa à resolução do contrato,
exigir de A as prestações vencidas e as prestações vincendas (que se
venceram antecipadamente).
XV
Distinga:
a) Contratos unilaterais e contratos bilaterais;
b) Contratos comutativos e contratos aleatórios;
c) Contratos de execução instantânea e contratos de execução duradoura
(contratos relacionais)
XVI
Alexandre, promotor de projetos imobiliários, contacta Bento para a aquisição
de dois prédios, que eram propriedade deste. Alexandre faz uma proposta de compra,
seguindo-se várias reuniões e contactos entre ambos, durante dois anos. Como as
negociações se arrastavam, em 2 de Janeiro de 2010, Alexandre começa a negociar dois
prédios idênticos, situados na mesma rua. Tomando conhecimento deste facto, em 14 de
Janeiro de 2010, Bento envia um fax a Alexandre, onde pode ler-se “concordo com
todas as condições propostas para a realização do negócio”. No dia seguinte, Bento
envia a Alexandre todos os documentos necessários a preparação do contrato.
Alexandre inicia imediatamente os preparativos para a celebração do contrato e faz um
pedido de financiamento do negócio junto do Banco X. No dia, 30 de Janeiro de 2010,
Bento não comparece a escritura pública, que tinha sido acordada com A, negando-se a
formalizar o contrato, declarando, sem mais, que havia desistido do negócio. Poderá
Bento ser responsabilizado pelas despesas entretanto feitas por Alexandre?
XVII
A e B, sócios de uma sociedade por quotas que tem por objeto o comércio de
tecidos, desenvolveram negociações verbais com C que pretendia adquirir-lhes
integralmente as suas quotas. Nessas negociações fixou-se o preço da cessão em 5000
euros, que seriam pagos quando se concluísse o contrato por escritura pública na
primeira quinzena de Novembro de 2004. C passou a dirigir a empresa alterando o
horário de trabalho dos empregados. Devido à insistência de C, A e B desistiram das
encomendas para a estação seguinte. Entretanto, C recusa-se a outorgar a escritura
pública de cessão de quotas convencionada. Os sócios A e B pretendem exigir uma
indemnização. Terão razão?
XVIII
C celebra um contrato de compra e venda de um terreno com A. Este havia
afirmado não estar prevista a construção de edifícios entre o terreno e a serra que o
rodeava, o que era verdade. Mais tarde, A consegue adquirir os terrenos situados
naquela zona intermédia e alterar o plano de urbanização, construindo edifícios que
prejudicam as vistas da residência de C. Poderá esta reagir?
XIX
XX
XXII
XXIII
A e B, em documento particular assinado apenas por A, celebram uma convenção nos
termos da qual o primeiro se compromete a vender ao segundo e este se obriga a
comprar, pelo preço de 100.000 euros, um andar para habitação. B entregou de imediato
a quantia de 10.000 euros “a título de princípio de pagamento”. Na data acordada para a
realização da escritura de compra e venda, A recusa-se a comparecer no cartório
notarial, alegando ter entretanto alienado o imóvel a um seu amigo, C. Que direitos
caberão a B?
XXIV
A, proprietário do apartamento X, vende-o por escritura pública datada de Janeiro de
2000 a B, que não regista a sua aquisição. O mesmo A, aproveitando a negligência de
B, promete vender o mesmo apartamento a C, em Julho do mesmo ano. Porque A se
recusa a cumprir a promessa, C propõe e regista imediatamente, em Janeiro de 2001, a
acção de execução específica, que é julgada procedente em Dezembro do mesmo ano.
Tendo C passado a habitar o apartamento, B intenta uma acção de reivindicação, em
que exige o reconhecimento do seu direito de propriedade e a restituição do imóvel.
Quid iuris?
XXV