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Claudio Madureira
Doutor em Direito pela PUC/SP. Mestre em Direito Processual pela UFES. Professor dos
Cursos de Graduação e Mestrado em Direito da UFES. Procurador do Estado do Espírito
Santo e Advogado. madureira.fmr@gmail.com
1 Introdução
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
1
Lemos , ambos os autores, o belíssimo e profundo trabalho de Daniel Mitidiero, “A
Colaboração no Processo Civil” (3. ed.). Novo livro, novo texto, nova estrutura, novas
ideias; escritas como resultado da aguda reflexão de Mitidiero sobre como se apresenta
o Processo Civil Brasileiro após a edição do Novo Código. Trata-se de obra realmente
admirável, cuja leitura recomendamos a todos.
2
Um dos autores escreveu um livro inspirado pelo Formalismo-Valorativo de Carlos
3
Alberto Alvaro de Oliveira , pelas aulas no mestrado na UFES (à época uma das linhas
de pesquisa era sobre o Formalismo-Valorativo) e por esse recente trabalho de Mitidiero;
o outro lhe prometeu um prefácio. Das leituras que fizemos do livro de Mitidiero surgiu a
ideia de convertermos em texto as nossas impressões conjuntas, que conjugam,
sinteticamente, considerações que poderão ser encontradas no livro publicado e no
prefácio que está sendo escrito para uma eventual segunda edição deste livro inspirado
(entre outras referências) pela obra de Mitidiero. Em específico, desejamos discutir, em
vista da mudança cultural proposta pelo Formalismo-Valorativo e que parece haver sido
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assimilada pelo novo Código , se, de fato, é necessário abandonar a expressão
Formalismo-Valorativo, porque traria dois potenciais significados ambíguos, conforme
propôs Mitidiero no novo trabalho. Esse é, pois, o problema científico e cultural que nos
dedicaremos a enfrentar.
Posto isso, a questão que se coloca é como fazê-lo. O processo, como hoje se sabe, é
cultura. Assim, nada como um pouco de cultura para iluminar o processo e as questões
jurídicas que sobressaem do seu estudo no plano da Ciência. Gertrude Stein
(1874-1946), autora do poema citado na epígrafe, notabilizou-se por hospedar em seus
salões notável geração de artistas composta, entre outros, por Pablo Picasso, Amedeo
Modigliani, Henry Matisse, Ernest Hemingway, James Joyce, Ezra Pound, dos quais,
muitas vezes, foi mecenas e curadora, e que frequentaram, na mesma época (Belle
Époque), a sua residência de Paris. Pioneira feminista, Stein, quando disse que “uma
rosa é uma rosa é uma rosa” (a rose is a rose is a rose), quis realçar os vários sentidos
da rosa – mulher, cor, flor –, rediscutindo, depois de quase trezentos anos, passagem de
Shakespeare (1564-616), em Romeu e Julieta, na qual Julieta afirma a Romeu, um
Motecchio, família rival aos Capuleto, sua família, que o nome das coisas não afetam o
que elas realmente são, fazendo analogia à flor e ao seu perfume (a rose by any other
name would smell as sweet). Acreditamos que essas reflexões de Gertrude Stein e
William Shakespeare possam iluminar a resolução do nosso problema, que
enfrentaremos com amplas referências aos nossos dois homenageados neste texto: o
saudoso professor Carlos Alberto Alvaro de Oliveira e o caríssimo colega e amigo Daniel
Mitidiero.
2 O Formalismo-Valorativo como fase atual do desenvolvimento do processo
Em reação aos exageros desse período, alguns juristas passaram a reconhecer variados
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escopos à jurisdição e ao processo (social, jurídico e político) , caracterizando a
denominada fase instrumentalista, que procura, segundo Dinamarco, “definir os
objetivos com os quais o Estado exerce a jurisdição, como premissa necessária ao
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estabelecimento de técnicas adequadas e convenientes” , deixando para trás o
conceitualismo e abstração excessivos e preocupando-se com o endereçamento
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teleológico e a conotação deontológica do processo .
O que se verificou, nesse contexto, foi que a postura autonomista, que soava
absolutamente natural e perfeitamente justificável num momento em que se pretendia
construir cientificamente métodos objetivos para a resolução dos conflitos individuais,
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materializou-se num sistema falho na sua missão de produzir justiça . A premissa que
orienta o declínio do processualismo é a inauguração da preocupação dos intérpretes
(aplicadores do Direito) com a efetividade da tutela jurisdicional, com os resultados do
processo, com sua capacidade de realizar concretamente o ideal de justiça. Nessa
conjuntura, o processo passou a ser analisado sob um ponto de vista externo (e não
mais sob a ótica introspectiva que marcou a fase autonomista) e examinado em seus
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resultados práticos . Esses são, em apertada síntese, os elementos que singularizam a
terceira fase metodológica do processo, que Dinamarco convencionou chamar fase
instrumentalista e que, preliminarmente, foi designada por Mitidiero como
21
Formalismo-Valorativo .
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aflitivo problema que assola o direito processual” . Essa doutrina jurídica ultrapassa a
visão do processo como técnica e diz “respeito à totalidade formal do processo,
compreendendo não só a forma, ou as formalidades”, mas voltando a atenção também
aos poderes e deveres dos sujeitos processuais, bem como à “ordenação do
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procedimento e organização do processo” . Ela encerra movimento cultural que procura
impregnar o processo com os valores constitucionais, introduzidos, no texto da
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Constituição, sob a forma de princípios , e com isso confere caráter axiológico à
atividade cognitiva desenvolvida pelos interpretes/aplicadores, realçando a busca pelo
justo, o compromisso com a justiça substancial e a visão de que o processo tem
dimensão problemática e é instrumento ético, sem deixar de ter estrutura técnica.
Enfim, a proposta do Formalismo-Valorativo é analisar o processo a partir de
perspectivas constitucionais, e, em consequência disso, entender sua configuração como
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um direito fundamental e a democracia constitucional como uma democracia de
direitos.
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O breve quadro comparativo que segue abaixo apresenta algumas das distinções e
aproximações que depreendem-se do debate que se instala entre Instrumentalismo e o
Formalismo-Valorativo:
Instrumentalismo Formalismo-Valorativo
– Modelo adequado ao Estado de Direito – Modelo adequado ao Estado Democrático
tradicional. Constitucional (e ao novo conceito de
legalidade, direito e jurisdição que lhe são
correlatos).
– No Instrumentalismo, o processo civil está – Prevalece a constitucionalização do
em pé de igualdade com a Constituição. processo (unidade narrativa da constituição
Insiste-se nos valores da doutrina clássica e em todo ordenamento jurídico). Não existe
na preservação de uma esfera de qualquer óbice formal ou teórico a releitura
autonomia teórica em relação ao direito das normas processuais a partir do texto
constitucional. Busca-se realizar, no constitucional. A constituição é o
proceso, escopos metajurídicos (social e fundamento formal e material de validade
político), considerados externos, mesmo de todas as normas processuais. Primazia
que relevantes. Ocorre a relativização do do julgamento de mérito, boa-fé processual
binômio direito material e processo, que na objetiva, cooperação, fundamentação
chamada fase autonomista era analítica, e hermeneuticamente adequada,
imprescindível para compreender o e contraditório como valor-fonte do
processo. processo são desdobramentos da
constitucionalização do processo.
– As normas jurídicas do processo figuram – As normas jurídicas do processo
como garantias liberais ou sociais, apresentam características próprias da
submetidas ao conteúdo jurídico do direito teoria dos direitos fundamentais.
material. Constituem, elas mesmas, direitos
fundamentais.
– O fim do processo é a “vontade concreta – O fim do processo é a Justiça,
do direito” e a realização do direito material compreendida como tutela dos direitos e
(univocidade e finalidade do direito). pretensão de correção em conformidade
com a Constituição. O fim do processo é a
tutela dos direitos, adequada, efetiva e
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
tempestiva.
– O Instrumentalismo é assimétrico. O – O Formalismo-Valorativo é cooperativo,
papel mais relevante na relação processual determinando também ao juiz deveres
é relegado ao Estado-juiz (topo da pirâmide como o contraditório (direito de influência e
processual). dever de debates). “O formalismo
processual ideal encerra um justo equilíbrio
entre as posições jurídicas do Autor, do Juiz
e do Réu”. Vale a máxima da cooperação.
– O Instrumentalismo entende a jurisdição – Entende o processo como centro, polo
como centro do processo. Atividade de metodológico, ressaltando a função
“mera revelação do preexistente, sem nada participativa do procedimento em
acrescer ao mundo jurídico além da contraditório e as consequências profundas
certeza”. Função meramente declaratória da da alteração do direito e da jurisdição no
ordem jurídica pré-estabelecida pelo modelo do Estado Democrático
legislador. Constitucional, principalmente no que diz
respeito ao giro linguístico, consistente na
“Revolução Hermenêutica” do séc. XX.
– O processo se apresenta como fenômeno – O processo a partir de sua
marcadamente formal, muito embora substancialização e a forma não é oca ou
tivesse escopos “externos” de cunho vazia, mas preenchida pela ideologia
material. constitucional, afetada pelos valores
constitucionais.
– Prepondera a visão do processo para a – Reconhece a importância do equilíbrio da
efetividade, reconhecendo a necessidade de distribuição do tempo do processo entre as
outorgarmos espaço para o “processo civil partes, mas avança no sentido de ponderar
do autor”. Surgem as tutelas antecipatórias a adequação do procedimento sempre
e de evidência visando diminuir o “dano através de um juízo equilibrado entre
marginal” do tempo no processo. efetividade e segurança jurídica, como
elementos não-antagônicos e
não-suprimíveis do fenômeno processual.
do direito), não abarcando, assim, considerações sobre a justa aplicação do Direito (ou
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sobre a aplicação de um Direito justo) .
Em defesa da posição instrumentalista, Dinamarco sugere que o processo não pode ser
designado como elemento central porque ele, “em si próprio, como conjunto ou modelo
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de atos, traz profunda e indisfarçável marca de formalismo ” . Daí que, para o grande
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
jurista paulista, “colocar como polo principal do sistema esse instituto assim
marcadamente formal e potencialmente instrumental conduziria aos extremos de incluir
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na teoria geral áreas jurídicas até onde não chega a utilidade desta” .
Essa afirmação de Dinamarco quanto a ser impróprio colocar ao centro da Teoria esse
“instituto assim marcadamente formal” claramente desconsidera a distinção entre forma,
formalidade e formalismo, que para o Formalismo-Valorativo tem fundamental
importância teórica e prática para a realização, no curso do processo, dos direitos e da
justiça. Com efeito, na lição de Alvaro de Oliveira, o Formalismo-Valorativo (ou forma
em sentido amplo, daqui por diante, neste parágrafo, apenas “formalismo”) não deve ser
confundido com a forma do ato processual individualmente considerado, já que “diz
respeito à totalidade formal do processo”, porque compreende não só a forma, ou as
formalidades, abarcando, sobretudo, “a delimitação dos poderes, faculdades e deveres
dos sujeitos processuais, a coordenação de sua atividade, a ordenação do procedimento
e a organização do processo, com vistas a que sejam atingidas suas finalidades
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primordiais” .
Essas alterações normativas revelam, conforme Fredie Didier Júnior, Paula Sarno Braga
e Rafael Oliveira, a opção do legislador brasileiro pela aplicação entre nós da teoria dos
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precedentes .
Vê-se, pois, que a realização do Direito não mais observa a fórmula geral segundo a qual
compete aos juízes aplicar no processo um direito material preexistente, pressupondo,
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em rigor, a adoção de metódica tópico-problemática , num contexto em que não
apenas a lei, mas também a dogmática e os precedentes compõem os catálogos tópicos
empregados pelos intérpretes/aplicadores para a construção das normas concretas que
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solucionarão os litígios .
concretos não necessariamente corresponde ao direito positivado nos textos legais (na
medida em que é resultado de atividade reconstrutiva desenvolvida pelos intérpretes no
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processo judicial ), seja porque, posto isso, as decisões jurídicas proferidas em seu
corpo precisam ser legitimadas pela efetiva participação das partes na formação do
juízo. E por isso se apresenta, como postulam os formalistas-valorativos, como direito
fundamental do cidadão, precisamente porque se qualifica como ambiente de “criação” (
rectius: reconstrução) do Direito.
Devemos registrar, contudo, que Daniel Mitidiero, na terceira edição do seu “Colaboração
no Processo Civil”, passou a designar essa quarta fase metodológica do processo como
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Processo Civil no Estado Constitucional . Essa sua opção teórica encontra-se
reproduzida, entre outras passagens, na sua referência, nessa nova edição, à
configuração de “quatro grandes linhas atinentes ao direito processual civil: o praxismo,
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o processualismo, o instrumentalismo e o processo civil no Estado Constitucional ” ; e
80
também na sua afirmação – em modificação ao que assentou anteriormente – no
sentido de que:
Deve estar claro, contudo, que Mitidiero não repudiou, nesse seu posicionamento mais
recente, a construção teórica subjacente à doutrina do Formalismo-Valorativo. Sua
intenção, na verdade, foi coligar o momento atual do desenvolvimento do processo a
designação que, sob certa ótica, teria melhor assimilação no plano da Ciência.
Basta ver que Mitidiero expressou, na sequência de sua fala, “que existem várias
expressões que visam delinear essa quarta fase metodológica”, reportando-se, a
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propósito, ao Neoprocessualismo (denominação empregada por Fredie Didier Júnior e
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por Eduardo Cambi ) e ao Formalismo-Valorativo (qualificação cunhada por Carlos
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Alberto Alvaro de Oliveira e utilizada em outros trabalhos de Mitidiero e nas edições
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anteriores do seu “Colaboração no Processo Civil”) . Mitidiero expõe que essas são boas
expressões, mas expressa que considera problemática a sua utilização como marco
representativo do momento atual do desenvolvimento histórico do Processo Civil
86
Brasileiro .
Não estamos de acordo com as justificativas apresentadas por Mitidiero para promover a
substituição das expressões.
Divergimos de Mitidiero, em primeiro lugar, porque, como ele mesmo destacou, o debate
instaurado, na Teoria do Direito, entre formalismo jurídico e formalismo interpretativo
“em nada se confunde com o conceito de formalismo processual e formalismo
valorativo”, pelo que eventuais digressões nesse sentido não passam, como sobressai de
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suas próprias palavras, de “identificações e assimilações teóricas indevidas” . Ao
ensejo, é importante perceber que o Formalismo-Valorativo se insere no movimento do
giro linguístico, sendo Carlos Alberto Alvaro de Oliveira plenamente ciente da distinção
texto e norma, da filosofia analítica desenvolvida pela Escola de Gênova, a começar por
Giovanni Tarelo, e da importância da hermenêutica filosófica para a compreensão do
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direito .
Posto isso, é relevante investigar qual conotação deve ser dada ao formalismo na fase
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atual do desenvolvimento do processo . Vivemos, conforme Mitidiero, a superação do
Instrumentalismo por acepção teórica que qualifica o processo como direito fundamental
do cidadão (atualizando a compreensão de que as normas processuais figurariam como
garantias liberais ou sociais), que o designa com ambiente em que se processa a
reconstrução do direito positivo pelos intérpretes (substituindo a compreensão de que a
sua finalidade seria realizar um direito material pré-existente) e que coloca o processo
ao centro da Teoria (conferindo-lhe, assim, posição que os instrumentalistas haviam
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atribuído à jurisdição) . Nesse contexto, o formalismo processual passa a funcionar
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como mecanismo de contenção do arbítrio estatal , funcionalidade que, pelo menos
sob a ótica dos jurisdicionados, não se pode considerar negativa. Vistas as coisas desse
modo, a conclusão a que se chega é que a fase atual do desenvolvimento atribui
conotação positiva ao formalismo.
Disso resulta a nossa opção por trilhar caminho distinto daquele empregado por Mitidiero
quando modificou a designação por ele mesmo atribuída à quarta fase metodológica do
processo (que ele anteriormente chamava Formalismo-Valorativo e passou a designar
Processo Civil no Estado Constitucional). Porém, consideramos importante registrar que
Mitidiero parece haver adotado essa escolha teórica com o admitido propósito de fazer
prevalecer, pela via do afastamento de dificuldades que considerou inerentes ao suposto
caráter negativo da expressão formalismo, o que a ele pareceu mais relevante: as
premissas teóricas e as técnicas de atuação que singularizam o Formalismo-Valorativo
(independentemente da designação que lhe seja atribuída) enquanto construção
científica.
Neste sentido, a troca de uma expressão pela outra, a troca de um nome pelo outro, não
muda o nome da rosa, nada muda na essência (para lembrar das citações que servem
de epígrafe a este trabalho). No ponto, é importante reconhecer a seriedade dos
propósitos de Mitidiero, que demonstra, no episódio, invulgar desprendimento científico,
na medida em que abdica da denominação construída com a sua participação direta na
escola processual gaúcha, para que a ciência do processo possa seguir em frente,
livrando-se da centralidade estatal imposta pelo posicionamento da jurisdição ao centro
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
A isso se poderia objetar que esse Estado Constitucional a que refere Mitidiero tem
características muito próprias, que o coliga às premissas teóricas e técnicas de atuação
que singularizam o Formalismo-Valorativo. Porém, semanticamente, a expressão
Processo civil no Estado Constitucional não remete, pelo menos não diretamente, ao
feixe de caracteres que Mitidiero a ela atribuiu, ínsito, pelas razões dantes expostas, às
premissas teóricas e técnicas de atuação adotadas pelo Formalismo-Valorativo. Destarte,
como o Neoprocessualismo, também essa denominação deve ser descartada como
designativa do momento atual do desenvolvimento do processo.
Por uma e outra razão, e por cada uma delas, discordamos de Mitidiero, ainda que tão
somente quanto a esse específico particular, para manter a qualificação da quarta e
última fase medotológica do processo como Formalismo-Valorativo. E assim o fazemos
também porque é necessário que a academia estabeleça, em seus escritos, soluções de
compromisso que permitam preservar suas denominações, para que não se verifique, na
prática, confusão semântica proporcionada pela atribuição de nomes distintos às
mesmas coisas, com sérios prejuízos ao desenvolvimento da Ciência.
4 Conclusão
Abrimos esse parêntese, para deixar muito claro ao Leitor que lhe é dado encontrar no
Novo Processo Civil Brasileiro as referências teóricas que a sua formação pessoal lhes
recomendar.
Sobre a influência de Cândido Rangel Dinamarco observou que “os debates mantidos no
curso de doutoramento nas Arcadas, por volta de 1992 ou 1993, muito contribuíram (...)
para colocar em cena a tutela jurisdicional”, contexto em que Dinamarco, “com sua
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apurada sensibilidade, buscava (...) resgatar essa nova dimensão” .
Referindo-se a José Roberto dos Santos Bedaque, expôs que as “cobranças inteligentes
lançadas publicamente em Congressos” fizeram com esse seu contemporâneo no
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doutorado da USP também tivesse a “sua parte neste ‘latifúndio’, embora
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provavelmente nem esteja ciente disso” .
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6 Como se verá adiante, Mitidiero retificou esse seu posicionamento no seu “Colaboração
no Processo Civil” (MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos
sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Ed. RT, 2009), quando observou que o
Formalismo-Valorativo encerra uma quarta fase metodológica do processo, que sucedeu
o Instrumentalismo; posicionamento que foi mantido na segunda edição desse trabalho
(MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e
éticos. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011). Depois disso, quando da publicação da terceira
edição da mesma obra, Mitidiero passou a designar a quarta fase metodológica do
processo como Processo Civil no Estado Constitucional (MITIDIERO, Daniel. Colaboração
no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2015.
p. 48-50). Sobre a argumentação que se segue, cf.: MADUREIRA, Claudio. Direito,
processo e justiça: o processo como mediador adequado entre o direito e a justiça.
Salvador: JusPodivm, 2014. p. 27-34, passim; e MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do
Novo Processo Civil Brasileiro: o processo civil do formalismo-valorativo, cit. p. 21-25,
passim.
8 Ao ensejo, cf., por todos: CINTRA, Antônio Carlos Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrini;
DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 23. ed. São Paulo: Ed. RT,
2007. p. 48.
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
9 Cf. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito processual civil. São Paulo: Ed.
RT, 2000. v. 1. p. 178.
11 Quanto ao particular, cf. a seguinte passagem da obra de José Roberto dos Santos
Bedaque: “Em 1856 travou-se a famosa polêmica entre dois juristas alemães, Bernard
Windscheid, catedrático em Greifswald, e Theodor Muther, professor em Könisberga, a
respeito da actio romana. (...) Para Windscheid, ação significava direito à tutela
jurisdicional, decorrente da violação de outro direito. Não era essa, todavia, a noção do
direito romano, pois o Corpus Júris previa inúmeras actiones, que não pressupunham a
violação de um direito: embora a todo direito corresponda uma ação, a recíproca não é
verdadeira. (...) Os romanos viviam sob um sistema de ações, não de direitos. E a razão
principal era, além de seu senso prático, o grande poder conferido ao magistrado de
decidir até mesmo contra a lei. Importava o que ele dizia, não o que constava do direito
objetivo; a pretensão precisava estar amparada por uma actio dada pelo magistrado que
exercia jurisdição. (...) Segundo Muther, o conceito de ação romana formulado por
Windscheid é inexato. Para ele o direito subjetivo é pressuposto da actio. Quando o
pretor formulava um edito, estava criando norma geral e abstrata para amparar
pretensões. Tal norma, embora não pertencente ao ius civile, lhe era equivalente.
Conclui haver coincidência entre a actio romana e a ação moderna” (BEDAQUE, José
Roberto dos Santos. Direito e processo: influência do direito material sobre o processo.
4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 25).
14 Cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno. 4. ed. São
Paulo: Malheiros, 2001. v. 2. p. 729.
20 Idem.
21 Cf. MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do Novo Processo Civil Brasileiro, cit. p. 24.
23 Quanto a isso, Bedaque acentua que “o estudo da tutela jurisdicional revelao fim da
fase autonomista do direito processual” (BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e
processo, cit. p. 164). Ao ensejo, cf., ainda: MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do
Novo Processo Civil Brasileiro, cit. p. 25-28, passim.
34 Como constatado por Daniel Mitidiero nesta passagem doutrinária: “No plano das
relações entre processo e Constituição, ressalta-se a existência do ‘direito processual
constitucional’ (DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do processo, cit. p.
24], que constitui a ‘condensação metodológica e sistemática dos princípios
constitucionais do processo’ (GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antônio Carlos de
Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do proceso, cit. p. 79). Essa
colocação metodológica revela ao processualista ‘dois sentidos vetoriais’ em que se
podem sentir as relações entre processo e Constituição: de um lado, na via
Constituição-processo, ‘tem-se tutela constitucional deste e dos princípios que devem
regê-lo, alçados a nível constitucional’ (DINAMARCO, Cândido Rangel. A
Instrumentalidade do processo, cit. p. 25); de outro, na perspectiva
processo-Constituição, ‘a chamada jurisdição constitucional, voltada ao controle da
constitucionalidade das leis e atos administrativos e à preservação de garantias
oferecidas pela Constituição’ (DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do
processo, cit. p. 25)” (MITIDIERO, Daniel Francisco. Bases para construção de um
processo civil cooperativo: o direito processual civil no marco teórico do
formalismo-valorativo. Tese de doutorado. Ano de obtenção: 2007. Disponível na
internet: [www.lume.ufrgs.br/handle/10183/13221]. Acesso em 14.04.2017. p. 24).
Trata-se de uma visão supervalorizada do processo e subvalorizada da Constituição.
Essa lógica, como se verá, foi totalmente superada pelo direito positivo brasileiro com o
art. 1º do CPC/2015 (LGL\2015\1656).
38 Conforme Alvaro de Oliveira: “(...) deve-se atentar em que o direito material constitui
a matéria-prima com que irá trabalhar o juiz, mas sob uma luz necessariamente diversa.
O resultado desse trabalho, que é a tutela jurisdicional, refletida na eficácia da sentença,
já não apresenta o direito material em estado puro, mas transformado, em outro nível
qualitativo. O provimento jurisdicional, embora certamente se apoie no direito material,
apresenta outra força, outra eficácia, e com aquele não se confunde, porque, além de
constituir resultado de trabalho de reconstrução e até de criação por parte do órgão
judicial, exibe o selo da autoridade estatal, proferida a decisão com as garantias do
devido processo legal” (ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. O problema da eficácia da
sentença. In: AMARAL, Guilherme Rizzo; MACHADO, Fábio Cardoso (Org.) Polêmica
sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 50-51).
42 ZANETI JR, Hermes. O Valor Vinculante dos Precedentes, cit. p. 148 e ss.; ÁVILA,
Humberto, Teoria dos princípios, cit. p. 37.
43 Que vai ao encontro das afirmações de Zaneti e Gomes: (i) quanto a constituir-se o
Formalismo-Valorativo o modelo mais adequado ao Estado Democrático Constitucional
(enquanto o Instrumentalismo se associa ao Estado de Direito tradicional); (ii) quanto
prevalecer no Formalismo-Valorativo a constitucionalização do processo (enquanto no
Instrumentalismo o processo está em pé de igualdade com a Constituição); (iii) quanto a
nele apresentarem as normas processuais características próprias da teoria dos direitos
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Formalismo-Valorativo e o novo Processo Civil
bastante contundente) no regime jurídico nazista (cuja incidência propiciou, entre outras
barbaridades, a perseguição ao povo judeu e o ideal de purificação da raça ariana), que
era muito efetivo, mas nada justo. Destarte, somente se fossem justas todas as leis
editadas pelo Parlamento e, ainda assim, se justa fosse a sua aplicação a todas as
contendas que emergem das relações sociais e culturais que compõem o mundo da vida
(o que é desmentido pela experiência cotidiana) é que se poderia cogitar da realização
da justiça sob a tecnologia instrumentalista. Sobre o assunto, ler também: MADUREIRA,
Claudio. Direito, processo e justiça, cit. p. 77-79, passim e MADUREIRA, Claudio.
Fundamentos do Novo Processo Civil Brasileiro, cit. p. 33-34.
50 FERRAJOLI, Luigi. Principia Iuris. Teoria del Diritto e dela Democrazia. Teoria del
Diritto. Roma/Bari: Laterza, 2007. t. I. p. 15, 35, 119, 526 e 912.
54 Inicialmente designada como Teoria da Relação Circular (cf. ZANETI JR., Hermes.
Direito material e direito processual: relações e perspectivas. Revista Processo e
Constituição: Coleção Galeno Lacerda de Estudos de Direito Constitucional, 2004, p.
245-278, esp. p. 248) e em artigo subsequente já denominada “Teoria Circular dos
Planos”, cf. ZANETI JR., Hermes. A Teoria Circular dos Planos (Direito Material e Direito
Processual). In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Orgs.). Polêmica
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sobre a Ação: a Tutela Jurisdicional na Perspectiva das Relações entre Direito e Processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2006. p. 165-196; ZANETI JR., Hermes. A
Constitucionalização do Processo. O Modelo Constitucional da Justiça Brasileira e as
Relações entre Processo e Constituição. 2. ed (2005). São Paulo: Atlas, 2014. p. 189.
59 Quanto a esse particular, cf.: MADUREIRA, Claudio. Direito, processo e justiça, cit. p.
79-87, passim, e, MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do Novo Processo Civil Brasileiro,
cit. p. 35-50, passim.
62 Idem.
64 A propósito, Mitidiero acentua que contraditório “não se cinge mais a garantir tão
somente a bilateralidade da instância, antes conferindo direito, tanto ao demandante
como ao demandado, de envidar argumentos para influenciar na conformação da decisão
judicial” (MITIDIERO, Daniel. Processo civil e Estado Constitucional. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007. p. 37). Assim, o contraditório é mais do que uma simples
norma de igualdade formal, pois assume “papel central na experiência do processo, cujo
resultado não pode ser outro que não um ‘ato de três pessoas’, como um autêntico
ambiente democrático e cooperativo” (MITIDIERO, Daniel. Processo civil e Estado
Constitucional, cit. p. 37-38). Conforme Mitidiero essa acepção renovada do contraditório
é resultado da consolidação da “dimensão ativa do caráter fortemente problemático do
direito contemporâneo, constatação hoje igualmente corrente, e da complexidade do
ordenamento jurídico atual” (MITIDIERO, Daniel. Processo civil e Estado Constitucional,
cit. p. 37). E induz a compreensão de que a tarefa dos juízes, quanto ao particular, não
se exaure na iniciativa de oportunizar às partes uma manifestação no processo,
abarcando, também (e principalmente), a imposição a que, na motivação de suas
decisões, efetivamente considerem e enfrentem as razões apresentadas. Seguindo no
raciocínio, tem-se que a extensão e a profundidade da motivação construída pelo
magistrado para justificar a sua decisão é também decorrência do princípio do
contraditório. No Código de Processo Civil de 2015 estas noções foram plenamente
acatadas, como se pode ler dos dispositivos sobre contraditório e cooperação (arts. 6º,
7º, 9º e 10º, CPC (LGL\2015\1656)) e sobre a fundamentação analítica e hermenêutica
adequada (art. 489, CPC (LGL\2015\1656)).
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65 Este debate está no centro da noção de processo cooperativo, como terceira espécie
entre processo inquisitivo ou adversarial. Neste sentido há convergência entre todos os
autores do Formalismo-Valorativo e os autores mais contemporâneos de direito
processual: o processo cooperativo (DIDIER JR., Fredie. Fundamentos do Princípio da
Cooperação no Direito Processual Civil português. Coimbra: Coimbra Editora, 2010;
DIDIER JR., Fredie. Os três modelos de direito processual: inquisitivo, dispositivo e
cooperativo. Revista de Processo, 2011, v. 198, p. 213-225), colaborativo (MITIDIERO,
Daniel. Colaboração no Processo Civil, passim) ou comparticipativo (NUNES, Dierle José
Coelho. Processo Jurisdicional democrático: uma análise crítica das reformas
processuais. Curitiba: Juruá Editora, 2008) é a espécie adequada ao processo civil no
Estado Democrático Constitucional. Na doutrina, Daniel Mitidiero defende que o juiz seria
assimétrico apenas na decisão, o que significa dizer que o magistrado, após considerar e
enfrentar as razões apresentadas por uma e outra parte, deverá apresentar uma solução
para o litígio. Quanto ao particular, cf. MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil.
3. Ed. cit. p. 64-65. Aqui entendemos que a função do juiz não torna assimétrico o
processo, até mesmo porque o próprio juiz está sujeito a controles intersubjetivo endo e
extraprocessuais. Uma leitura explica bem do que estamos tratando neste debate: “O
modelo cooperativo parece ser o mais adequado para uma democracia (...). No entanto,
não há paridade no momento da decisão; as partes não decidem com o juiz; trata-se de
função que lhe é exclusiva. Pode-se dizer que a decisão judicial é fruto da atividade
processual em cooperação, é resultado das discussões travadas ao longo de todo o arco
do procedimento; a atividade cognitiva é compartilhada, mas a decisão é manifestação
do poder; que é exclusivo do órgão jurisdicional, e não pode ser minimizado. Neste
momento, revela-se a necessária assimetria entre as posições das partes e do órgão
jurisdicional: a decisão jurisdicional é essencialmente um ato de poder” (DIDIER JR.,
Fredie. Art. 6º. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (Orgs.). Comentários
ao Novo Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: GEN/Forense, 2016. p. 18-19,
g.n.), muito embora, tanto Fredie Didier Jr., quanto Daniel Mitidiero, ressalvem que em
um processo autoritário e inquisitório também a condução do processo é assimétrica,
devemos firmar aqui o que já foi afirmado no texto: a atividade judicial é
tendencialmente cognitiva, no sentido que aplica o ordenamento jurídico, está vinculada
à lei, aos precedentes e a cultura e tradição jurídica do local, poderá haver ato de
vontade, de poder, mas é exceção. Mesmo nestes casos, exceção submetida à controle
intersubjetivo. O juiz não é, portanto, solipsista – concepção filosófica segundo a qual
além de nós somente existem as nossas experiências – no momento de decidir, e, a
decisão, não é, portanto, assimétrica – mas é sua função, dever-poder, decidir.
67 FERRAJOLI, Luigi. Principia Iuris. Teoria del Diritto e dela Democrazia. Teoria del
Diritto. Roma/Bari: Laterza, 2007. t. I. p. 881; ZANETI JR. Hermes. O Valor Vinculante
dos Precedentes, cit. passim.
68 Ao ensejo, cf.: MADUREIRA, Claudio. Direito, processo e justiça, cit. p. 87-91, passim
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72 DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito
processo civil. Salvador: Juspodivm, 2008. v. 2. p. 348.
73 Cf. ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. O processo civil na perspectiva dos direitos
fundamentais, cit.; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo Constitucional: o modelo
constitucional do processo civil brasileiro, cit. p. 88; e VIEHWEG, Theodor. Tópica e
Jurisprudência. Uma contribuição à investigação dos fundamentos jurídico-científicos.
Trad. de Kelly Susane Alflen da Silva. Porto Alegre: SAFE, 2008.
82 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 18. ed. Salvador: Juspodivm,
2016. v. 1. p. 46. Observe-se que o autor utiliza, também, o termo
Formalismo-Valorativo. Entendemos que este termo é melhor, como é defendido neste
texto. Note-se, ademais, que o termo neoprocessualismo foi cunhado quando no Brasil a
doutrina ainda buscava uma saída para o formalismo-positivista e havia adotado o
chamado neoconstitucionalismo como epítome da reação teórica. Como o próprio Fredie
Didier Jr. indica, em belíssimas e completas notas de pesquisa, o termo
neoconstitucionalismo(s), para usar o conhecido título do livro de Miguel Carbonell,
sempre foi multifacetado e não descreveu nenhuma experiência ou paradigma científico
sólido, nem mesmo os autores reputados neoconstitucionalistas concordaram com este
rótulo (DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. cit. v. 1. p. 44-45).
86 Idem.
87 Ibidem, p. 48-49.
89 SICHES, Luís Recasens. Introducción al estúdio del derecho. 16. ed. México. D.F.:
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Editorial Porrúa S.A., 2009. p. 38. Sobre o assunto, ler também: MADUREIRA, Claudio.
Fundamentos do Novo Processo Civil Brasileiro, cit. p. 36-50, passim.
91 Realizada por Alvaro de Oliveira na obra “Do formalismo no processo civil” (ALVARO
DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil, cit.).
96 A leitura das fontes citadas por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira seja em seus artigos
jurídicos, quanto nos livros mais recentes como Do Formalismo e Teoria e Prática da
Tutela Jurisdicional indicam um leitor de obras de filosofia e profundo interessado na
teoria do direito, aspectos incomuns para os processualistas formados sob a égide do
Código de 1973, caracterizado por um cariz eminentemente técnico. A seguinte
passagem, entre muitas, mostra o que pensava o autor sobre a interpretação: “(...) a
questão da interpretação e criação do direito, no plano jurisdicional, vem sendo objeto
de constante consideração da filosofia do Direito atual. Cada vez mais se firma o
entendimento de que o intérprete, o aplicador do Direito, entre eles o juiz, chamado
intérprete autêntico (Kelsen), interpreta não normas, mas textos normativos e
representações fáticas. O produto da interpretação é a norma, a norma de decisão, no
caso do juiz” (ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Teoria e Prática da Tutela
Jurisdicional, cit. p. 133).
100 Cf. MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil
brasileiro, cit. p.19.
101 Cf. CINTRA, Antônio Carlos Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido
Rangel. Teoria geral do processo, cit. p. 49.
102 Cf.: MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil. 3. ed. cit. p. 29 e 49.
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103 Cf.: ZANETI JR., Hermes; GOMES, Camilla de Magalhães. O processo coletivo e o
formalismo-valorativo como nova fase metodológica do processo civil, cit. p. 20-22 e
MADUREIRA, Claudio. Formalismo, Instrumentalismo e Formalismo-Valorativo, cit.
104 Na medida em que assegura a realização das finalidades do processo, com destaque
para a proteção do jurisdicionado contra a prolação das decisões judiciais arbitrárias que
podem resultar da inclinação teórica quanto a competir apenas aos juízes solucionar os
litígios e exclusivamente sob a ótica da sua percepção pessoal sobre os casos julgados,
portanto sem ter em consideração as razões apresentadas pelos litigantes; contexto em
que o processo, justamente em razão do formalismo que lhe é característico, passa a
funcionar como mecanismo de controle da atividade jurisdicional, em um quadro
institucional que constrange à ‘disponibilidade para a cooperação’, marcada por ‘regras
do jogo’ previamente delimitadas e objetivando resultados não conceituais ou
consensuais, à medida que podem ser aceitos pelos participantes por razões diferentes.
Quanto ao particular, cf. ZANETI JR., Hermes. Processo Constitucional: o modelo
Constitucional do Processo Civil Brasileiro, cit. p. 168.
105 GASSET, José Ortega y. Meditaciones del Quijote. In: GASSET, José Ortega y (Org.).
Obras completas. Madrid: Revista de Occidente, 1966. v. I. p. 322. Ao ensejo, cf., ainda:
MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do Novo Processo Civil Brasileiro, cit. p. 278-279.
106 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Teoria e Prática da Tutela Jurisdicional, cit. p.
XVIII.
108 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Teoria e Prática da Tutela Jurisdicional, cit. p.
XVIII.
109 Cf. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Instrumentalismo e garantismo: visões
opostas do fenômeno processual? cit. p. 23). Sobre o assunto, ler também: BRASIL
JÚNIOR, Samuel Meira. Justiça, Direito e Processo: a argumentação e o direito
processual de resultados justos, cit. p. 71-72).
110 Cf. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Instrumentalismo e garantismo: visões
opostas do fenômeno processual? cit. p. 6-7.
111 Ao ensejo, Bedaque afirma que a metodologia adotada pelo Instrumentalismo (entre
elas a “concessão de maiores poderes ao julgador na condução do processo”) “de modo
nenhum comprometem a liberdade das partes quanto à determinação dos limites
objetivos e subjetivos da decisão, que não pode alcançar senão aquilo que fora
determinado pelos sujeitos parciais ao fixar os limites da demanda” (BEDAQUE, José
Roberto dos Santos. Instrumentalismo e garantismo: visões opostas do fenômeno
processual? cit. p. 14-15), para concluir, noutra passagem, que “considerar a jurisdição
como centro da teoria geral do processo não implica autoritarismo, pois são
perfeitamente delimitados e submetidos a intenso controle os poderes conferidos ao juiz”
(BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Instrumentalismo e garantismo: visões opostas do
fenômeno processual? cit. p. 19).
112 Sobre o assunto, cf.: MADUREIRA, Claudio. Fundamentos do Novo Processo Civil
Brasileiros, cit. p. 85-96, passim.
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