Sunteți pe pagina 1din 46

No 8 – Agosto de 2014

Ciclones Tropicais
Cláusula Compromissória
Compliance
Corretor de Seguros
Desastres Naturais
Gestão de Risco
História do Seguro
Interação jurídico-atuarial
Lei Anticorrupção
Mercado Segurador Brasileiro
Resseguro
Seguro de Vida
Sites de Cotação
1º EXAME PARA
CERTIFICAÇÃO
DE PROFICIÊNCIA
EM RESSEGUROS Avalie seus
conhecimentos
O Exame para Certificação de Proficiência em Resseguros
(CPR 1) tem como objetivo promover a melhoria
e valorize
contínua e a qualidade dos profissionais de empresas o currículo!
seguradoras, resseguradoras e corretores de resseguro
(brokers) que atuam direta ou indiretamente nos
mercados segurador e ressegurador.

PROVA
DIA 6/11
RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO INSCREVA-SE JÁ
WWW.FUNENSEG.ORG.BR

Contatos
(21) 3380-1042 / 3380-1023 / 3380-1026
execucao@funenseg.org.br

Realização Apoio
Editorial
2014 em movimento
Desde a última edição da Opinião.Seg, em maio passado, até agora, podemos
afirmar que no setor de seguros e na sociedade em geral, não reinou a monotonia.
No setor, analisando os principais acontecimentos, em junho, entrou em vigor a
Lei 12.965, que estabeleceu o Marco Civil da Internet, trazendo a oportunidade de
novos produtos e melhor ambiente para o comércio eletrônico.
Também em junho foi expedida a Resolução CNSP 311, que estabeleceu a presta-
ção de serviços de auditoria atuarial independente para as sociedades seguradoras,
entidades abertas de previdência complementar, sociedades de capitalização e
resseguradores locais. E apesar de entrar em vigor em 1º de janeiro de 2015, já pro-
duzirá efeitos já em relação ao exercício de 2014.
Ainda no mesmo mês o governo lançou o portal Consumidor.gov.br, criado para
permitir que reclamantes e empresas reclamadas cheguem a um acordo sem a
intervenção do Poder Judiciário; importante ferramenta para a desjudicialização.
No final de julho, a Circular SUSEP 492 estabeleceu os critérios para a constitui-
ção de Banco de Dados de Perdas Operacionais pelas sociedades seguradoras,
entidades abertas de previdência complementar, sociedades de capitalização e
resseguradores locais, para fins de estudos de aprimoramento do modelo regula-
tório de capital de risco baseado no risco operacional.
Em agosto foi sancionado o SuperSimples, trazendo a desoneração tributária para
a categoria dos Corretores de Seguros, os quais poderão investir mais em seus
negócios.
Em meio a todas essas novas regulamentações, não deixamos de documentar e
acompanhar, no LegisCor, o lançamento de novos produtos, novas campanhas de
incentivo à venda de seguros, premiações e etc.
Vivenciamos a Copa do Mundo 2014 e mais recentemente fomos impactados com
a trágica morte do candidato à presidência Eduardo Campos.
Agora é a hora de nos prepararmos para as Eleições 2014, em outubro.
Também em outubro acontecerá o CONEC.
Em dezembro, logo depois do Natal, no dia 29, comemoraremos o Jubileu de Ouro
da Lei 4.594, a Lei dos Corretores de Seguros.
Apesar de os atuais índices econômicos não serem os mais positivos, repito a frase
inspiradora de Abílio Diniz, numa entrevista sobre a crise econômica, que foi men-
cionada em dois artigos desta edição: “Enquanto muitos choram, eu vendo lenços”.
2014, haja fôlego!

Christina Roncarati
Agosto de 2014
Índice
3 Editorial
Christina Roncarati

6 Cenário positivo para o mercado segurador brasileiro


Roberto Dalla Vechia

8 O tamanho do nosso mercado


José Marcelino Risden

9 Uma breve história do seguro, por gestões, desde o


Decreto-Lei 73/66 aos dias de hoje e o futuro
Carlos Josias Menna de Oliveira

12 Mercado segurador brasileiro: a Copa acabou, e agora?


Acacio Queiroz

14 A importância da interação jurídico-atuarial


Heitor Rigueira

17 Os desafios da cláusula compromissória nos contratos de


seguro
Marcia Cicarelli Barbosa de Oliveira
Camila Affonso Prado

19 Seguradoras enfrentam risco compartilhado da escalada


de desastres naturais
Luciene Magalhães

21 A importância de programas de Compliance para o


mercado de Seguros
Camila Leal Calais
Marcella Hill

ISSN 2176-5944
24 Operações estruturadas de resseguro como ferramentas
para a otimização de capital
Edson Wiggers
A revista eletrônica Opinião.Seg é
editada pela Editora Roncarati e
distribuída gratuitamente. 30 Seguro de vida: um direito de todos
Alaor Silva

EDITORA RONCARATI LTDA


Fone: (11) 3071-1086
33 Como Fica o Corretor?
Antonio Penteado Mendonça
www.editoraroncarati.com.br
contato@editoraroncarati.com.br
35 Cavalo de Troia no
seu quintal?
Fabio Luchetti
Os textos publicados nesta revista
são de responsabilidade única
de seus autores e podem não 38 O risco de ciclones tropicais no Brasil
Peter Zimmerli
expressar necessariamente a
opinião desta Editora.
40 Os resultados das pesquisas de campo e seus impactos
nos programas de Gestão de Riscos
Antonio Fernando Navarro

44 A Lei Anticorrupção e os Intermediários


Valeria Schmitke

4  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


www.yasuda.com.br www.maritima.com.br
Cenário positivo para
o mercado segurador
brasileiro
do investidor internacional na aquisição e
abertura de novas Companhias Segurado-
ras. Diante desse cenário, entrevistamos
Roberto Dalla Vechia, diretor-executivo da
AD Corretora de Seguros e especialista em
diferentes ramos da atividade seguradora.
Vechia fala sobre as particularidades e ten-
dências do mercado segurador, o impacto
dos seguros na economia e ainda apre-
senta as novas modalidades de apólices
que despontam no mundo e, sobretudo,
no Brasil. Confira a entrevista:
Roberto Dalla Vechia
Diretor-Executivo da Área Internacional Qual a influência do mercado
segurador no contexto social e
econômico da atualidade?
Ao assumir os riscos causados por incerte-
zas futuras na proteção de um indivíduo ou
uma empresa, o mercado segurador exerce
Mercado de seguros o seu papel fundamental no contexto social

mundial enfrenta e econômico, trazendo além do bem-estar,


o equilíbrio financeiro tão necessário para o
cenário desafiador. desenvolvimento da economia.
Para o Brasil, as
Qual o princípio básico de
perspectivas são qualquer modalidade de
favoráveis seguro?

O
As diversas modalidades de seguros agru-
s mercados de seguros norte ame- pam riscos da mesma natureza a que estão
ricano e europeu têm enfrentando um sujeitos indivíduos ou empresas, sistemati-
cenário desafiador em 2014, especial- zando e definindo coberturas que melhor
mente em função das baixas taxas de juros venham atender às exposições aos riscos.
e da pressão por parte dos investidores O segurador tem a tarefa de garantir o
em relação a resultados. Além disso, ainda tomador do seguro contra um risco que,
há o impacto do atendimento às novas por definição, tem que ser provável, mas,
regulamentações do setor. Neste contexto, ao mesmo tempo, aleatório, isto é, sujeito
os países emergentes têm sido favorecidos ao acaso. A partir do conhecimento do
e o Brasil continua a despertar o interesse número de vezes que determinado risco

6  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


concretiza tem-se uma ideia muito apro- de crescimento para o novo segmento
ximada da probabilidade de o mesmo dos Microsseguros destinados a uma
voltar a ocorrer. Entre as modalidades mais camada da população de baixa renda. Em
comuns estão os seguros de Automóveis, função da natureza de suas atividades e do
Residências e Saúde. ambiente em que vivem, essa população
é geralmente mais exposta a doenças,
Quais as principais novidades acidentes, mortes e a uma série de danos
e perdas patrimoniais. O desenvolvimento
e tendências em seguros?
de outras modalidades de seguro ainda
Quais novos tipos de seguros
carece de uma atenção mais próxima das
despontam no Brasil e no
autoridades governamentais. É o que caso
mundo?
do Seguro Rural, com a implantação de
Com um cenário mundial em constantes incentivos na contratação de tais seguros
transformações e em função da necessi- pelo produtor rural.
dade do bem-estar das pessoas, surgem,
a todo instante, demandas para novas
Qual impacto do mercado
coberturas de seguros, bem como a
segurador na economia
inserção de novas cláusulas nos termos e
mundial? E especificamente
condições existentes. Coberturas desen-
em relação à economia
volvidas mais recentemente no mercado
brasileira?
mundial e que, aos poucos, vão chegando
ao Brasil têm a haver principalmente com O mercado segurador desempenha um
Riscos Ambientais e Riscos Cibernéticos. A papel vital na economia mundial, princi-
exposição a esses riscos tem aumentado, o palmente em relação ao fornecimento de
que alerta para perigos que podem abalar estabilidade em longo prazo e proteção
a saúde financeira das empresas ao redor financeira para os indivíduos e instituições
do mundo. afins. Para que se tenha o fiel cumprimento
desse importante papel, mecanismos
regulatórios foram criados, inclusive com
Por que alguns tipos de
a criação da ferramenta de Avaliação dos
seguros, já comuns em
Próprios Riscos e Insolvência (ORSA – Own
outros países, ainda não são
Risk of Solvency Assessment) como espinha
comercializados por aqui?
dorsal do regime de Solvência II, que visa
De forma geral, a abertura do mercado de a aumentar a solidez das seguradoras e,
Resseguros no Brasil, ocorrida em 2007, em consequência, a confiança dos consu-
tem contribuído para que tenhamos a midores. Em relação ao Brasil, o mercado
possibilidade de trazer mais rapidamente segurador brasileiro tem contribuído para
quaisquer melhorias e inovações em a economia com um crescimento anual
coberturas de seguros desenvolvida em da receita de prêmios e uma elevação na
outras partes do mundo. Há expectativas participação do PIB conforme tabela.

Ano Receita Anual de Prêmios % PIB


2010 115,9 3,07%
2011 135,3 3,27%
2012 163,6 3,72%
2013 181,1 3,78%
2014 202,0 ( Previsão ) 3,90% ( Previsão )

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  7


O tamanho do nosso
mercado

prognósticos otimistas. Teríamos Obras do


PAC, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos,
Infra Estrutura, mercado imobiliário aque-
cido, altos investimentos no setor privado,
etc. etc...
Aos olhos da economia mundial, o Brasil
(particularmente o mercado segurador
e ressegurador), como um dos países
emergentes, era a “bola da vez”. Tivemos
a entrada de novos players: seguradoras,
resseguradoras, brokers e, com eles, a per-
gunta: haverá negócios suficientes para
todos?

José Marcelino Risden Hoje, nossa realidade mostra que a econo-


Presidente da Berkley Brasil mia anda de lado, a indústria se retrai, os
investimentos privados são represados, os
negócios resultantes de Copa, Jogos Olím-
picos, PAC e outros, não corresponderam
às expectativas e, temos um número maior
de operadores no mercado, disputando o
mesmo bolo que passou a ser dividido em
maior quantidade de fatias.
Resultado: taxas mais baixas, subscri-

“E
ção menos criteriosa, sinistralidade em
nquanto muitos choram, eu vendo alta, mais despesas, resultado menor ou
lenços”. Frase de Abílio Diniz, ainda no negativo.
comando do Grupo Pão de Açúcar, em
O que fazer? Este é o momento de refletir,
entrevista sobre a crise econômica.
reavaliar as estratégias e processos, imple-
Esta frase marcante deve servir para o mentar novos planos de ação e se dedicar
momento que vivemos no mercado de a muito trabalho. Afinal, já que não posso
seguros. É certo que os demais setores
ter a maior fatia deste bolo, quero o melhor
da economia também sofrem, com maior
pedaço e, enquanto muitos continuarem a
ou menor intensidade, as consequências
chorar, eu vou vender lenços.
da situação que o país atravessa. Mas,
tratando do nosso segmento, não é difícil Nosso mercado é do tamanho da nossa
lembrar que, há pouco tempo, fazíamos competência.

8  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Uma breve história do
seguro, por gestões, desde
o Decreto-Lei 73/66 aos
dias de hoje e o futuro

E m março de 2013 fomos convidados


pela HDI SEGUROS para um workshop que
reuniria diretoria e executivos, cujo obje-
tivo era uma reflexão sobre as relações de
seguradores com segurados e corretores,
mirando obter uma melhor compreensão
e se possível o aperfeiçoamento no trato
delas. O pedido era para que fosse con-
tada um pouco da história destas relações
ao longo dos anos. Fruto disto nasceu
um breve artigo lançado na coluna que
escrevemos na News Letter do SINDSEG RS
e que, posteriormente, foi incluída no livro
– CONFLITOS QUE GERAM PRODUTOS – da
Di Primio Editora Ltda – 11/2013 – págs Carlos Josias Menna de Oliveira
69/71 – lançado quando do aniversário
de 30 anos do escritório em novembro C. JOSIAS
de 2013 – e que nada mais é do que uma
coletânea de artigos publicados em infor- & FERRER
ADVOGADOS ASSOCIADOS
mativos e revistas do mercado subscritos
pelos sócios C JOSIAS E FERRER ADVOGA-
DOS ASSOCIADOS.
sem direito a interpretações desfavoráveis
Na ocasião, sem ter a pretensão de lecionar a quem traçou os mandamentos e com
sobre seguro, salvo emprestar um pouco o segurado pouco ou nada conhecendo
da visão do que acompanhamos ao longo do contrato, ele era quase um alienígena
de 44 anos como expectadores e militan- na relação. 2) A Era da Divulgação – vés-
tes, dividimos tais relações em Três Eras a peras do CDC quando o Judiciário tomou
partir do advento do Decreto-Lei 73/66 e a iniciativa de, por construção pretoriana,
a saber em síntese apertadíssima: 1) A Era inverter seriamente o ônus da prova e
da Negativa – quando o seguro era pessi- estendeu sua mão protetiva ao segu-
mamente divulgado, as regras pertenciam rado, tido como parte mais fraca, ocasião
soberanamente aos seguradores que as em que as seguradoras se obrigaram a
ditavam e executavam, vigorando abso- divulgar mais o contrato e dar a conhe-
luto o estabelecido via Pacta Sunt Servanda cer mais aos seus segurados e corretores,

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  9


qualificando o mercado e preparando-o deixar de ser, era amador. O pioneirismo
para recepcionar um diploma mais exi- carrega isto, os pioneiros se movem quase
gente. E, por fim a 3) Era do Conhecimento no escuro, por tato e intuição. Os geren-
– quando diante de grande divulgação tes de seguradoras fundavam as vendas
por exigência do Código do Consumidor o pela via do relacionamento exclusiva-
segurado passa a efetivamente conhecer mente pessoal, vinculado à amizade e até
o contrato e este recebe definitivamente parentesco nos terrenos regionais – e os
o rótulo de ´produto`; o CDC que, de início corretores carregavam pastinhas para
aparentava ser um Bicho Papão passa a ser venda de porta em porta como quem
a grande mola propulsora para popularizar vendia livro. Eram raras e estrangeiras, em
o conhecimento do ramo e para diversifi- regra, as empresas corretoras efetivamente
car nas prateleiras das empresas do setor estruturadas e com planejamento de
a comercialização de todos os tipos de venda e atendimento, se limitavam a talvez
garantias a riscos que se podia imaginar. O meia dúzia no Brasil inteiro e alcançavam
que assustava virou aliado. os grandes conglomerados econômicos
Parece claro que existem várias maneiras de então, a massificação do seguro viria
de se observar a evolução dos seguros depois – estas grandes corretoras esta-
nestes anos a partir da Lei do Seguro que vam no centro do país e mandavam seus
reuniu o Sistema Nacional e traçou um pacotes prontos para os Estados. Comum,
projeto para a operacionalização do ramo. rotineiro, que as Seguradoras mantives-
E se as três fases acima podem sugerir uma sem uma corretora das chamadas cativas,
visão em depoimento pessoal das relações não raramente também sob a influência
segurado, corretor e segurador, outras do gerente, e nelas um número de identifi-
também podem ser construídas. cação era concedido a muitos vendedores
que sequer corretores eram. As vendas se
Neste sentido e observando a movimen-
processavam e os sinistros nem sempre
tação dos seguradores no mesmo período
eram liquidados pela melhor técnica, roti-
é possível também uma divisão por uma
neiro era o atendimento por liberalidade e
expressão da moda: Gestão.
interesse comercial, onde o que mais valia
O Decreto-Lei 73/66 propiciou a operacio- não era exatamente o risco havido estar
nalização do Sistema Nacional de Seguros incluso no contrato como coberto e sim
mas o projeto de profissionalização levaria a influência que tinha o intermediário que
alguns anos para se estabelecer – o que era vendeu a apólice. Era assim que era.
previsível. Este projeto do seu nascedouro
Esta dependência vinculada, relacio-
engatinhou, cresceu e adquiriu a maturi-
namento, amizade, gerente, corretor,
dade: acho que estamos nela rumando,
segurado, movia os negócios.
quem sabe, para uma nova revolução, sob
pena de envelhecimento. O Gerente Geral da empresa acumulava,
na verdade, cargos que hoje estão dis-
Por Gestão. Vejamos os Marcos do Desen-
tribuídos pela técnica, administração e
volvimento:
comercial.

Marco 1. – O engatinhar. Dá para se dizer que este modelo, ao


menos regionalmente, perdurou até mea-
Os primeiros passos custam a ser dados. dos da década de 80. Algo em torno de
Antes dele obrigatoriamente ‘se engatinha’. 20 anos foi assim, de 1966 quem sabe
O primeiro modelo de Gestão ao alvorecer até 1982, possivelmente, ainda que pro-
da égide do Decreto Lei, como não poderia gredindo, evoluindo, e se aperfeiçoando

10  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


dentro do quadro que se tinha. No final da Cada um cuidando do que sabia fazer. O
década de 70 os corretores, com Lei própria Comercial vendia e não mais decidia o que
ganharam mais expressão e importância. tinha e o que não tinha cobertura. Sepul-
tado de vez, na regra geral, ao menos, a
Marco 2. – O Crescimento. interferência de um no outro.

A exigência de mercado e a popularização Foi um choque cultural difícil de ser


do seguro, em especial o automóvel e o domado e em especial de ser com-
vida em grupo, passaram a chamar a aten- preendido pelos corretores que estavam
ção das empresas de seguros como um habituados a solucionar todas as pendên-
nicho tão ou até mais importante que as cias por uma voz só.
grandes empresas e grupos econômicos Foi difícil no início e a falência do modelo
eis que no volume se concentrava um giro era cantada por quem se enraizara no
de valores impressionante. passado.
O Gerente Geral já se mostrava insuficiente Venceu a modernidade. Hoje não há quem
para controlar com efetividade e compe- não veja no modelo vigente a progressão
tência toda a operação de uma seguradora do sistema de seguros.
e foi necessário se munir de profissionais No passo dele as seguradoras passaram a
da técnica e do comercial que com mais administrar o PASSIVO JUDICIAL, que ao
autonomia e rigorismo manuseassem e longo dos anos fora deixado completa-
comandassem o negócio. Os ditos inte- mente de lado.
resses comerciais para atendimento de
pequenos sinistros – médios alguns e até Nele se vislumbrou a possibilidade mais
grandes – estavam a denunciar prejuízos do que relevante na evitação do caos
e muitas empresas enfrentaram inclusive a financeiro ao longo dos anos. Houve uma
liquidação diante de preços que antes de reviravolta no controle das causas judiciais.
competitivos eram aviltantes. Políticas de acordos foram estabelecidas e
o mercado em geral passou a desfrutar de
O mercado se alterava significativamente mais respeito inclusive do Judiciário.
e se qualificava de meados da década de
80 a meados da década de 90 de forma
progressiva.
Marco 4. – O futuro = evitar
envelhecer.
As Gerências de Produção, Técnica e Admi-
Evitar envelhecer é o foco. Parece que
nistrativa passaram a se encaminhar para
o Decreto-Lei 73/66 cumpriu uma fun-
vida própria e a relação de todos eles com
ção importante mas urge que um novo
o mercado em geral e corretores passavam
diploma se encarregue de aparelhar
a ser intensas e muito mais profissionais.
melhor o mercado.

Marco 3. – A Maturidade. Uma evidência, a necessidade de um


Código nosso.
Passa a ser introduzido no país o modelo
de departamentos completamente inde- Parece, smj, que está mais do que na hora
pendentes. Não havia mais autonomia disto se tornar realidade e há já um projeto
de um Gerenciador interferir no depar- que persegue esta revolução.
tamento de outro. Comercial, Técnico e Esperamos que isto seja a fonte da juven-
Administrativo ganharam vida própria. tude que precisamos.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  11


Mercado segurador
brasileiro: a Copa
acabou, e agora?
Em contrapartida, os seguros gerais estão
crescendo 13%, puxados pelo crescimento
de Auto, DPVAT, Responsabilidade Civil,
Habitacional e Patrimonial. O interessante
é que desde o início do ano até agora já
vimos várias previsões. Em janeiro falava-
-se em um crescimento de 14%. Os mais
otimistas previam 17%. Agora, nas diversas
estatísticas publicadas pelas empresas de
consultoria, há previsões de crescimento
de 4%, 9% e assim por diante.
O fato é que não tem nenhuma estatística
que apresente um crescimento de dois
dígitos, como ocorria nos anos anteriores.
Os motivos para essas previsões são mui-
Acacio Queiroz
tos: decréscimo significativo da produção
Formado em Economia, pós-graduado em Finanças
e com especialização em Business nos Estados e licenciamento de veículos, redução da
Unidos, Acacio possui certificação no Programa
atividade industrial e econômica como
de Desenvolvimento de Conselheiros pela
Fundação Dom Cabral, bem como é Conselheiro um todo. No início do ano falávamos de
de Administração Certificado pelo IBGC – Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa. Escreveu o
um crescimento do PIB de 3,5%. Hoje o
livro “Minhas Bagagens” e atua como palestrante nas governo assume que deverá ser de 1,8%
áreas de Economia, Liderança e Motivação.
e os especialistas dizem que não ultrapas-
sará 1%, ou seja, a redução da atividade
econômica atinge diretamente o mercado
segurador, em consequência das reduções
da importação de bens de capitais, de
estoques, da circulação de mercadorias, do

A
consumo geral, das vagas de emprego, de
pós diversos anos de crescimento investimentos, infraestrutura, serviços, etc.,
robusto do mercado segurador brasileiro, atingindo diretamente todos os ramos de
este ano, segundo as últimas estatísticas seguros.
da Susep, o crescimento até maio está em Para o segundo semestre existem as
0,6%, sendo que os seguros de pessoas mesmas inconsistências. Alguns acham
estão decrescendo 7%, em especial pela que iremos crescer e outros entendem
redução dos seguros de vida coletivos e que permaneceremos com o mesmo
o VGBL, tanto individual quanto coletivo. cenário do primeiro semestre, inclusive

12  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


as previsões apresentadas pela Rating quer dizer que em números nominais o
Consultoria: ICSS (Índice de Confiança do mercado segurador não crescerá.
Setor de Seguros), que é composto pelo
Este é um ano especial, pois teremos que
ICES (Índice de Confiança e Expectativa
fazer em nove meses o que normalmente
das Seguradoras) e ICER (Índice de Con-
faríamos em um ano. Um mês pela Copa
fiança e Expectativa das Resseguradoras)
do Mundo e dois meses pelas eleições que
e ICGC (Índice de Confiança das Grandes
se aproximam. Isto somado ao momento
Corretoras), está no menor percentual
econômico, diríamos que se empatarmos
até agora verificado, ou seja 84%. Todos
com 2013, já estamos ganhando.
esses fatores não deixam de ser também
desafiadores para a economia nacional, A rentabilidade das empresas tem apre-
pois as seguradoras terão ao final deste sentado um relativo aumento em função
ano praticamente meio trilhão de reais em da alta da taxa de juros, rentabilidade que
reservas, sem contar com os patrimônios deverá proporcionalmente ser reduzida
líquidos das mesmas. Somos um dos gran- até o final do ano devido ao aumento real
des players com relação a investimentos dos salários e a diminuição significativa da
em títulos do governo e, em menor escala, produtividade, pressionando, consequen-
em títulos privados. temente, os custos administrativos.

Sendo otimista, a minha previsão é a de A sinistralidade, segundo estatísticas da


que deveremos crescer até o final do ano Susep, nos primeiros cinco meses aumen-
mesmo que pouco, no seguro de pessoas, tou 5% no seguro de pessoas e ficou
considerando uma reação positiva do praticamente estável nos seguros gerais,
VGBL individual no segundo semestre. Os fazendo com que no número relativo ao
seguros gerais continuarão apresentando total do mercado tivéssemos uma variação
um crescimento positivo. Deveremos de +4,2%, percentual que também deverá
terminar o ano com um crescimento do ter um acréscimo até dezembro/2014.
mercado em torno de 8%, o que está bem Os fatos que delineiam 2014 serão extre-
abaixo da média dos anos anteriores, mas mamente considerados também em 2015,
assim mesmo, é um número significativo, segundo os especialistas. O mercado segu-
pois cresceremos algumas vezes mais que rador precisará de muitas ações, criatividade
o PIB do país. É claro que se descontarmos e inovação, pois estávamos até recente-
a inflação, esse crescimento ficará próximo mente acostumados com um cenário
de zero, porque embora tenhamos o totalmente diferente e bem mais favorável,
IPCA previsto para fechar o ano em 6,5%, mas isso já faz parte do passado. Uns cho-
sabemos que os preços administrados, ram, outros vendem lenços. Vamos todos
quando corrigidos, irão influir na taxa de vender lenços e contribuir para o cresci-
inflação em aproximadamente 2%, o que mento do nosso mercado e do nosso país.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  13


A importância da interação
jurídico-atuarial
regulamento/condições gerais dos pro-
dutos, ou seja, estabelecer em síntese os
meios para efetivação das contratações.
Este trabalho conjunto tem por objetivo
descrever os clausulados dos produtos
atendendo às exigências das legislações
e satisfazendo o equacionado em Nota
Técnica Atuarial, mantendo com isso o
equilíbrio das operações de forma consis-
tente e duradoura ao longo da vigência
dos contratos.
Apesar de tudo isto ser de pleno conheci-
mento das administrações das empresas,
a atuação dos atuários e dos advogados
nem sempre ocorre de forma uníssona na
estruturação dos produtos de seguros e
Heitor Rigueira previdência ou até mesmo na solução dos
Consultor Atuarial questionamentos que possam advir da
hr@hrservicosatuariais.com.br
comercialização.
Hoje as empresas já dispõem de ouvido-
rias que num primeiro estágio procuram
dirimir as dúvidas do consumidor. Porém,

N
nem sempre os pontos questionados são
as atividades das operadoras de segu- de fácil solução, necessitando de esclare-
ros em geral e previdência é inquestionável cimentos mais técnicos que envolvem a
a importância dos serviços profissionais de área atuarial ou jurídica, até mesmo ambas.
atuários e advogados. É neste momento, quando o consumidor
não entende ou não aceita as explicações
O atuário tem participação no desenho
da empresa, que ele parte para reclamação
dos produtos, na definição das premissas junto ao órgão fiscalizador ou aos Procon’s,
técnicas e na avaliação das estatísticas, indo em muitos casos até o judiciário.
quando é o caso, tudo para dimensionar o
Quando a discórdia chega às raias da
custeio e, em consequência, estabelecer a
justiça, cabe ao departamento jurídico
precificação dos produtos.
da empresa avaliar a questão. Muitas das
Em paralelo à atuação do atuário, a admi- vezes, por acúmulo de serviço e aparente
nistração da empresa deve, em conjunto pouca importância da causa, é frequente
com a área jurídica, tratar do preparo do a defesa da empresa ser entregue ao

14  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


patrocínio de advogado terceirizado, Instalada a fase pericial no processo,
nem sempre especializado na matéria em torna-se importante, até porque não dizer
debate, mormente quando se faz neces- imprescindível, a interação do advogado
sário o auxílio do cálculo atuarial ou até que defende a empresa com o atuário
mesmo de fundamentos atuariais. que venha a ser seu assistente técnico
no processo. Este trabalho deve começar
O grau de impor tância dado pelas
com o estudo da peça inicial, avaliando-se
empresas às demandas está diretamente
o pedido da parte autora e daí o preparo
relacionado ao montante do valor em dis-
em conjunto da quesitação a ser levada
cussão em cada ação versus a despesa para
ao processo de modo a contrapor-se
defender posição tecnicamente correta. ao requerido e conduzir as respostas do
Muitas das vezes não é dada relevância perito do Juízo na sequência da linha de
à repercussão que um julgado negativo raciocínio correta como está estruturado o
para a empresa possa ter no futuro em produto objeto da demanda.
situações similares, sendo que por eco-
Isto tudo deve ser devidamente esclare-
nomia processual admite-se acordo sem
cido ao Juízo para que ao final possa ser
vislumbrar as consequências para o patri-
atingido o sucesso, ou seja, a rejeição do
mônio da empresa. E este risco é crescente,
pedido do autor.
principalmente quando cada vez mais as
empresas se voltam para a comercialização A atuação do assistente técnico, sempre
de planos coletivos, o que é facilmente em conjunto com o advogado, deve ava-
observado em relação aos produtos da área liar os quesitos da parte autora e interagir
de saúde, seguros e previdência. com o perito do Juízo de forma a obter
respostas à quesitação na linha de defesa
De uma maneira geral, os produtos estão da empresa ré.
estruturados de forma correta, com aval
Apresentado o laudo pelo perito do Juízo,
dos órgãos fiscalizadores, fundados nos
cabe ao assistente técnico avaliá-lo e a par-
dispositivos das legislações. Porém, nem
tir daí emitir Parecer Técnico que deve ser
sempre são assim entendidos pelo judiciá-
juntado ao processo em petição do advo-
rio se não forem devidamente explicados
gado. Objetiva-se assim sentença favorável
e fundamentados tecnicamente.
e no caso do prosseguimento do feito
Por isto é que nas demandas judiciais, ter-se subsídios técnicos consistentes para
onde seguradoras, entidades de previ- prevalecerem em instâncias superiores,
dência complementar, planos de saúde e obtendo-se ao final o resultado desejado.
produtos afins sejam acionados com pedi-
Apesar do descrito, vem sendo crescente
dos que impliquem em questionamento a interação entre advogados e atuários
sobre cláusulas contratuais relacionadas à nos trabalhos em processos judiciais
matéria atuarial, deve ser requerida perícia contra empresas dos segmentos ligados
específica logo na peça de contestação de as atividades securitárias não só quando
modo a subsidiar o processo de elementos a parte autora é pessoa física, mas prin-
técnicos que venham apresentar ao Juízo cipalmente quando ambas as partes são
condição de convencimento da correção pessoas jurídicas: de um lado a segu-
das justificativas expostas pela defesa. Isto radora, plano de saúde ou previdência
não deve ser deixado para mais adiante no complementar e de outro lado empresas,
curso do processo, sob pena de que após dos mais diversos ramos de atividade,
a sentença a perícia se torne inócua diante que contratam ou intermediam pro-
dos prejuízos que daí possam advir. dutos securitários e/ou previdenciários

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  15


seja para si ou para seus colaboradores. demanda é entre pessoas jurídicas. Por
Nestes casos os volumes de recursos em ora, esta alternativa ainda requer tempo
discussão são mais substanciais, além da para ser consolidada, sendo, porém, de se
representatividade do cliente na carteira destacar que nas discussões no âmbito do
da empresa securitária. resseguro é frequente a nível internacional
a adoção de Tribunais Arbitrais.
As matérias que envolvem temas relacio-
nados às áreas de seguros, previdência e Enfim, por tudo relatado, cabe aos admi-
afins vêm num crescendo em demandas nistradores das empresas dos segmentos
levadas ao judiciário. Tratam-se, em geral, de seguro, previdência e afins, em con-
de assuntos técnicos que careceriam em junto com seus advogados, diante dos
muitos casos de acolhimento em tribunais processos em que suas empresas sejam
arbitrais no amparo da Lei nº 9307/96, acionadas, identificar a cada caso a oportu-
porém até então são rejeitados neste nidade do requerimento da perícia atuarial,
sentido diante da considerada hipossu- utilizando-se de assistência técnica nestas
ficiência dos autores, quando pessoas demandas de modo que a matéria possa
físicas, diante de supostos poderosos. ser discutida consistentemente de forma
Isto nem sempre é verdade quando a técnica.

16  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Os desafios da cláusula
compromissória nos
contratos de seguro
1. A importância da Cláusula
Compromissória
A arbitragem tem se revelado uma impor-
tante ferramenta alternativa de solução
das controvérsias que envolvam a inter-
pretação e execução do contrato de
seguro, especialmente em casos com-
plexos, envolvendo grandes riscos, que
demandam decisões céleres proferidas
não apenas por julgadores independen-
tes e imparciais, mas por especialistas em
Direito do Seguro, técnica atuarial e regu- Marcia Cicarelli Barbosa de Oliveira
lação de sinistros. Mestre em Direito Civil pela Universidade de São Paulo (USP).
Especialista em Direito Securitário e Ressecuritário pela
De acordo com o artigo 4º, caput, da Lei nº Fundação Getulio Vargas (FGV). Professora de Arbitragem e
9.307/96, é por meio da cláusula compro- Direito Regulatório do MBA em Direito do Seguro e Resseguro
da Escola Nacional de Seguros (Funenseg). Advogada.
missória que as partes acordam submeter à
arbitragem os litígios eventualmente surgi-
dos de determinado contrato. Esta cláusula,
contudo, somente terá eficácia e autorizará
a implementação automática da arbitra-
gem se determinados requisitos formais
forem cumpridos, tal como dispõem os §1º
e §2º do referido dispositivo legal.
Todavia, nos contratos de seguro, a ins-
tituição da arbitragem nos litígios entre
segurado e seguradora ainda encontra
diversos óbices, tendo em vista que as
cláusulas inseridas nas apólices, em sua
maioria, não atendem aos requisitos Camila Affonso Prado
necessários. Doutoranda e Mestre em Direito Civil pela
Universidade de São Paulo (USP). Especialista
em Direito Civil pela Universidade Presbiteriana
2. Os principais problemas das Mackenzie. Advogada.
Cláusulas Compromissórias
em Apólices de Seguro
Em primeiro lugar, via de regra, a cláusula
compromissória inserida nas apólices de

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  17


seguro não é vinculante para o segurado. O cenário se agrava ainda mais porque as
Isso porque, tratando-se o seguro de apólices, em sua maioria, contêm cláusulas
contrato tipicamente de adesão, a cláu- patológicas e conflitantes, que, concomi-
sula compromissória, além de ser escrita, tantemente, dispõem sobre a solução das
deverá contar com a sua concordância controvérsias por meio da arbitragem e da
expressa, manifestada em documento jurisdição estatal, impossibilitando, mui-
anexo, ou por meio de visto especial na tas vezes, a compreensão da intenção ali
cláusula contida no contrato, redigida manifestada.
em destaque. Também é possível que a
anuência do segurado com a cláusula arbi- 3. Conclusão: da necessidade
tral se dê por outros meios, como o “e-mail” de revisão das Cláusulas
por exemplo. O importante é que haja Compromissórias nas Apólices
concordância expressa com essa forma de Seguro
de resolução de litígio, que exclui o Poder
Verifica-se, portanto, que, sendo a arbi-
Judiciário.
tragem o procedimento mais adequado
O problema que se coloca é que, na para a solução dos litígios eventualmente
prática, a apólice não é assinada pelo decorrentes de determinado contrato de
segurado em virtude da própria dinâ- seguro, as apólices deverão ser revistas a
mica do contrato de seguro, de modo fim de, primeiramente, estabelecerem tão
que a cláusula compromissória se torna somente a cláusula compromissória, sem
meramente indicativa, cabendo exclusiva- qualquer previsão de foro judicial, salvo
mente ao segurado decidir se quer se valer se bem delimitados quais os litígios serão
da Arbitragem para decidir determinado submetidos à arbitragem e quais serão
litígio. julgados pelo Poder Judiciário.
Mas, mesmo quando o segurado opta pela As apólices devem, ainda, conter cláusulas
Arbitragem, as cláusulas utilizadas pelas compromissórias cheias, com relação às
Seguradoras não permitem a sua institui- quais o segurado tenha expressamente
ção imediata, na medida em que seguem, anuído, viabilizando-se a instituição auto-
em geral, o padrão previsto nos artigos 44 mática do procedimento tanto pelo
e 85 das Circulares nº 256/2004 e 302/2005 segurado como pela seguradora. Neste
da SUSEP, respectivamente, que dispõem ponto, ressalta-se que a assinatura isolada
sobre cláusulas vazias, inviabilizando a do corretor de seguros não produz efeito,
instituição do procedimento por apenas já que não atua na condição de mandatá-
uma das partes. Tais cláusulas apenas rio do segurado, sendo necessário que o
estabelecem que eventual litígio será deci- próprio segurado concorde com a cláu-
dido por meio de arbitragem, sem prever sula, seja na proposta do seguro, seja em
as especificidades do procedimento, tais documento apartado à apólice, já que esta
como a forma de indicação do árbitro, a é emitida por ato unilateral da seguradora.
sede, o idioma e a lei aplicável, assim como Cumpridos estes requisitos, a cláusula
o órgão arbitral escolhido para solucionar compromissória produzirá efeitos e, em
o litígio, de modo que o início do proce- caso de conflito, autorizará a instituição
dimento fica condicionado à celebração automática da arbitragem por qualquer
de compromisso arbitral, que exigirá uma das partes, assegurando-se o seu interesse
negociação entre segurado e seguradora em obter decisão especializada para litígios
ou a propositura de medida judicial espe- que, por sua própria natureza, demandam
cífica para este fim. soluções céleres e especializadas.

18  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Seguradoras enfrentam
risco compartilhado da
escalada de desastres
naturais

E m resposta aos eventos climáticos


drásticos enfrentados por todos os con-
tinentes, uma onda de iniciativas globais
multilaterais visa melhorar a resistência do
mundo aos desastres. Agora é o momento
das seguradoras colaborarem com par-
ceiros públicos, privados e ONGs para
enfrentar um problema premente que é
muito relevante para todas as comunida-
des e para a sustentabilidade do setor.
Os resultados destrutivos das mudanças
climáticas têm um enorme custo humano
e econômico, de acordo com a Munich
Re, que observou que os países de baixa
e média renda são desproporcionalmente Luciene Magalhães
afetados, representando 85 por cento das Sócia líder da prática de seguros da KPMG no Brasil.
mortes por desastres naturais. Ela também
estimou que os prejuízos relacionados ao
clima global aumentaram quatro vezes,
de uma média de US$ 50 bilhões por ano
na década de 1980 para cerca de US$ 200
bilhões por ano na última década.
de Hyogo (HFA – Hyogo Framework for
Felizmente, os líderes mundiais estão des-
Action) de 10 anos, assinado em 2005
pertando para esse problema. Em um nível
para aumentar a resistência das nações
mais amplo, um sucessor para os Objetivos
aos desastres. Alinhado com os novos
de Desenvolvimento do Milênio da ONU
Objetivos de Desenvolvimento Sustentá-
será concluído até 2015, visando orientar
vel da ONU, o HFA2 fornecerá orientação
os planos nacionais para a erradicação da
para ajudar a prevenir a criação de novos
pobreza, responder às mudanças climáti-
riscos, reduzir o risco existente abordando
cas e fortalecer a resiliência.
a exposição e vulnerabilidade, e fortalecer
Em paralelo, 160 países se reunirão no a resiliência por meio de medidas sociais e
Japão em 2015 para chegar a acordo econômicas – incluindo o financiamento e
sobre um sucessor para o Marco de Ação seguros contra riscos de desastres.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  19


Agora é o momento do setor privado previsão do tempo e avaliação de danos
participar da conversa. Nossa equipe de avançadas, enquanto os telefones celula-
cidadania corporativa global focou o res e mobile money ampliam o alcance do
desenvolvimento sustentável e redução microseguro para comunidades remotas.
de riscos, fornecendo liderança e análise
Diversas seguradoras colaboraram recente-
das questões e coordenando a resposta mente com modelos de código aberto, por
global da KPMG ao desenvolvimento eco- exemplo, desenvolvendo o Modelo de Ter-
nômico inclusivo e desastres naturais. Mais remotos Globais e Visualizador de Dados de
recentemente, a equipe trabalhou com Riscos Globais, lideradas pelo Escritório das
a Oxfam para compartilhar a especializa- Nações Unidas para a Redução de Risco de
ção das firmas-membro visando aumentar Desastres. Enquanto isso, o Zurich Insurance
a resistência de comunidades propensas a Group e sua Fundação Zurich diferencia-
desastres nas Filipinas. ram-se em 2013 ao renovar uma parceria de
cinco anos e US$ 23 milhões com a Fede-
O papel das seguradoras ração Internacional da Cruz Vermelha para
torna-se claro estabelecer um programa de resistência
a inundações de comunidades, com o
O papel das seguradoras é amplo, apon-
México sendo o primeiro de vários países a
tando primeiramente para a Iniciativa
incluir projetos comunitários e modelagem
Financeira do Programa Ambiental das
de riscos de inundação sofisticada.
Nações Unidas, os Princípios para o Seguro
Sustentável. Esses quatro princípios, lança- As seguradoras têm uma enorme influên-
dos em junho de 2012, descrevem como o cia, seja como fornecedoras de macro,
setor de seguros pode incorporar as ques- meso e micro soluções de transferência de
tões ambientais, sociais e de governança riscos, ou ao precificar com precisão o risco,
na tomada de decisões, trabalhar com o que norteia as empresas e governos a
parceiros para gerenciar o risco e desen- tomar decisões de investimento apropria-
volver soluções de uma forma responsável das. Elas podem investir em adaptação
e transparente. climática, como projetos de energia reno-
vável e compartilhar sua especialização
O mundo está olhando para o setor em gestão de riscos para desenvolver as
de seguros como uma fonte de capital capacidades dos governos de gerir riscos
paciente para financiar projetos de infraes- complexos inter-relacionados no âmbito
trutura resiliente, como uma fonte de nacional. Todos esses esforços podem nos
dados de risco e especialização na gestão ajudar a reduzir, gerenciar e subscrever
de riscos para fortalecer a capacidade melhor os riscos, e manter o setor de segu-
do governo, e como um fornecedor de ros relevante para o futuro.
soluções de transferência de riscos para
Uma vez que o setor privado representa
considerar a mentalidade de redução de
cerca de 85 por cento do investimento
risco de desastres e resiliência nas suas
global, as decisões tomadas hoje nos
estratégias e estruturas de gestão de riscos.
afetarão por décadas. Devemos acelerar
E agora é um momento realmente interes- a reflexão sobre como tornarmos o inves-
sante para as seguradoras se envolverem, à timento de negócios mais resistente e
luz das mudanças tecnológicas que tornam como podemos trabalhar juntos, incluindo
muitas coisas possíveis a um preço acessí- seguradoras, o setor privado mais amplo,
vel, observando como a detecção remota, governos e a sociedade civil, uma vez que
análise de dados e computação em nuvem nenhum de nós pode enfrentar o desafio
possibilitam uma modelagem de riscos, individualmente.

20  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


A importância
de programas de
Compliance para o
mercado de Seguros
A pós importantes mudanças na eco-
nomia brasileira nas últimas décadas,
principalmente em função das privatiza-
ções, foi necessária uma adequação do
papel do Estado na economia. A própria
Constituição Federal já previa tal neces-
sidade determinando o Estado como
“agente normativo e regulador da atividade
econômica”, exercendo “as funções de fisca-
lização, incentivo e planejamento”1.
A regulação do mercado visa dois obje-
tivos essenciais: defender os direitos dos
cidadãos; e oferecer segurança jurídica
para as empresas privadas. Para tanto, são
criadas normas que estabelecem os parâ-
metros corretos de conduta que devem
ser seguidos pelos participantes de um
dado mercado.
O setor de Seguros segue este mesmo
racional, onde o Conselho Nacional de Camila Leal Calais
Seguros Privados e a Superintendência de Marcella Hill
Seguros Privados estabelecem as regras
a serem seguidas pelas seguradoras, res-
seguradoras, entidades de previdência
privada e capitalização, dentre outros,
visando a defesa dos consumidores dos
produtos de seguros e um mercado seguro
para as atividades dos entes regulados no
que tange a solvência, fraude, lavagem de
dinheiro, entre outros aspectos.
Para que o mercado possa existir e evoluir
de modo saudável, é importante que as

1 Artigo 174.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  21


regras emanadas pelos órgãos reguladores mos devem ser observados, tais como (i)
sejam efetivamente cumpridas. O efetivo a orientação, formação e reciclagem de
cumprimento destas regras pode ser empregados e diretores sobre políticas de
traduzido como “Compliance”. Este termo, combate à lavagem de dinheiro, (ii) a ela-
proveniente do verbo da língua inglesa “to boração de manuais de controles internos,
comply”, significa cumprir, executar, obser- (iii) a organização da coleta, sistematização
var, satisfazer o que foi imposto. Ou seja, é e checagem de informações sobre clientes,
o ato ou procedimento para assegurar o empregados, parceiros, representantes,
cumprimento das normas reguladoras de fornecedores e operações praticadas com
um determinado setor. sua colaboração ou assistência, principal-
Compliance tem uma relação direta com o mente em caso de pessoas politicamente
cumprimento de programas ou políticas expostas, (iv) a comunicação aos órgãos
adotadas por uma determinada empresa reguladores competentes sobre atos sus-
relacionadas a sua gestão. Estes programas peitos relacionados a lavagem de dinheiro,
são preparados para identificar ações de (v) a implementação de sistema de riscos
riscos internos de operacionalidade, uma relacionados às suas atividades, (vi) a polí-
referência para estratégia e prevenção de tica de prevenção a fraudes, e (vii) política
potenciais riscos a que uma empresa pode de subscrição de riscos.
estar exposta. Vale lembrar que os diretores das socie-
Em função do universo e complexidade dades destinatárias destas regras são
de normas que são emanadas pelo CNSP e responsáveis pela efetiva adoção de tais
pela SUSEP, aplicáveis às mais diversas ati- critérios mínimos pela empresa.
vidades dos entes regulados, surge então Tais critérios mínimos são mandatórios
a necessidade de criação de programas de
para sociedades destinatárias destas
Compliance adequados às atividades das
regras, mas podem também trazer diversos
seguradoras, resseguradoras, entidades de
benefícios aos entes regulados ao fazerem
previdência privada e capitalização, dentre
com que estas sociedades tenham con-
outros.
troles diversos sobre suas atividades. Estes
Os programas de Compliance são compos- controles, quando efetivamente aplicados,
tos por conjuntos de práticas desenvolvidas reduzem as chances de infrações às leis
dentro de uma empresa com intuito de e normas aplicáveis, minimizam perdas
zelar pelo cumprimento de leis, regulamen- financeiras, protegem a reputação, auxi-
tos e normas aplicáveis a todas atividades liam na detecção de possíveis problemas,
por ela desenvolvidas, ainda que fora do estabelecem uma cultura interna de
seu objeto social. Estas regras podem ser comunicação e reporte. Programas de
internas, tais como políticas da própria Compliance demonstram que a empresa
empresa e/ou do grupo econômico ao está comprometida a fazer o seu trabalho de
qual pertencem, governamentais ou pro- forma ética e legal e possui uma boa comu-
venientes de estruturas de auto-regulação. nicação interna. Para que estes controles
De acordo com as regras aplicáveis ao funcionem efetivamente, é importante
mercado securitário2, alguns critérios míni- que todos os colaboradores da sociedade
tenham conhecimento da sua existência e
atuem de acordo com tais regras.
2 Especialmente a Lei n° 9.613, de 3 de março de 1998,
a Circular SUSEP n° 249, de 20 de fevereiro de 2004, Estes controles são fundamentais para o
alterada pela Circular SUSEP n° 363, de 21 de maio de
2008, a Circular SUSEP n° 344, de 21 de junho de 2007, e
mercado de seguros, que também está
a Circular SUSEP n° 445, de 2 de julho de 2010. sujeito a inspeções in loco da SUSEP. Nestas

22  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


inspeções, a SUSEP tem estado cada vez aplicação de multa administrativa à pessoa
mais preocupada em verificar, dentre natural ou física responsável pela infração
outros aspectos das atividades dos entes em situações em que for possível identifi-
regulados, a existência de políticas de con- car ou atribuir a ela o dolo ou culpa pelo
troles internos e o efetivo cumprimento e ilícito administrativo apurado. Portanto,
aderência a estas políticas pela sociedade e considerando que a responsabilidade
seus colaboradores. Caso sejam verificadas para efetiva adoção de critérios mínimos
possíveis irregularidades ou não cum- de controles internos é dos diretores/
primento das normas em vigor em uma administradores das sociedades destina-
inspeção pela SUSEP, os entes regulados tárias das regras de Compliance, é ainda
estão sujeitos a processos administrativos mais importante que tais controles sejam
sancionadores que podem resultar em efetivamente estabelecidos, de modo a
multas de valores significativos. evitar possíveis processos administrativos
A Resolução CNSP n° 243, de 6 de dezem- e multas, tanto à empresa quanto aos seus
bro de 2011, trouxe a possibilidade de gestores.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  23


Operações estruturadas
de resseguro como
ferramentas para a
otimização de capital
atingiu o segmento de seguros e ressegu-
ros, com um dos piores anos de perda de
catástrofe da história.
Mas essa não foi a realidade do mercado
Brasileiro de Seguros, que por sua vez tem
experimentado um consistente desen-
volvimento ao longo dos últimos 5 anos,
acumulando crescimento médio próximo
a 20% entre 2009 e 2014. Como principais
aspectos deste crescimento, além da aber-
tura do mercado Brasileiro de resseguros,
destacam-se sobretudo a ascensão social
de cerca de 50 milhões de Brasileiros e a
maior participação do mercado de segu-
ros no PIB, que em 2010 era de 3,4% e
deverá fechar 2014 próximo aos 6,0%.
Edson Wiggers
Importante salientar que este segmento
Diretor de Contratos
ainda mantém um potencial de crescimento
elevado quando comparamos o Brasil com
mercados desenvolvidos, onde este índice
varia entre 8 e até mais de 11% do PIB.
Contudo as empresas de seguros do Brasil
estão cada vez mais voltando sua aten-

A
ção à otimização do capital alocado na
crise econômica de 2008 teve um operação e como podem obter o melhor
impacto significativo na indústria mundial retorno aos acionistas e investidores.
de seguros, com as empresas de seguros e Adicionalmente, a SUSEP está ampliando
resseguros de todo o mundo lutando con- os níveis de controle e exigência com as
tra os efeitos das perdas de capital, redução novas regras de Solvência e fórmulas de
da atividade econômica e uma queda sub- cálculo da necessidade de capital para
sequente da demanda por seus produtos. Risco de Subscrição, Operacional e Crédito.
E poucos anos depois, quando todos acre- Adicionalmente, está programada para
ditavam na sinalização de recuperação Janeiro de 2015 a entrada em vigor do
dos balanços, uma segunda onda da crise Risco de Mercado como parte das regras

24  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


de Solvência da Susep para o mercado do capital total requerido atualmente,
Brasileiro. Esta regra vai gerar um aumento o que significa que muitas seguradoras
significativo do CMR (Capital Mínimo deverão avaliar medidas efetivas de otimi-
Requerido) e, apesar da Susep sinalizar zação de capital para não atingir o limite de
com prazo para alocação total deste capi- 50% de insuficiência quando da introdução
tal adicional, é inegável a necessidade deste novo elemento no requerimento de
das companhias de seguros e de resse- Capital em 2015.
guros avaliar alternativas que possam ser
Como resultado deste cenário, as per-
implementadas no sentido de minimizar
guntas que se apresentam para os
os impactos da necessidade de capital
executivos e líderes do mercado de
adicional e/ou maximizar o capital de suas
seguros são:
empresas.
• Como posso fortalecer o meu balanço
A questão que se coloca então, comum
no ambiente atual?
para todas as companhias de seguros e
resseguros, é a necessidade de reavaliar • Como faço para levantar fundos para a
os critérios de alocação de capital e maxi- expansão dos negócios? Existem fontes
mizar a otimização de capital para apoiar de capital inexploradas?
tanto os negócios em curso, atender às • Como posso melhorar o retorno para
regras da Susep e aproveitar as oportuni- os acionistas e obter fundos adicionais
dades de crescimento no mercado. para a expansão, enquanto estabeleço
boa proteção ao balanço contra futuras
SUSEP – Modelo Interno crises econômicas ou desenvolvimento
Apesar de ainda estar em estudo e desen- adverso do meu portfólio?
volvimento, a SUSEP já manifestou através • Acionistas querem crescimento constante
da Circular 302/2013, que sujeita a sua com resultado; por outro lado não estão
aprovação, as seguradoras poderão desen- dispostos a tolerar a potencial volatili-
volver um Modelo Interno para cálculo
dade de uma estratégia de investimento
do Capital Mínimo Requerido (CMR),
agressivo. Como faço para conseguir um
desde que tal modelo possua um nível de
confiança mínimo de 99%, ou seja, a pro- equilíbrio em relação a isso?
babilidade de ruína máxima seja de 1% • Como faço para otimizar meu balanço e
e abranja todos os quatro riscos funda- me preparar para os rigores do regime
mentais: Risco de Subscrição, Operacional, Solvência?
Crédito e de Mercado.
• Como faço para manter a minha classi-
Contudo registra-se que os Riscos Opera- ficação de risco financeiro? (Rating)
cional, de Crédito e de Mercado não são
diretamente impactados pelo Resseguro,
Você já considerou em
portanto, para fins de alívio de necessi-
resseguro como o substituto
dade de capital, o programa de resseguros
para necessidade de capital?
limita-se ao Capital de Risco de Subscrição.
Resseguro de Quota Parte é um contrato
Importante ressaltar que os resultados apre-
no qual o ressegurador segue a sorte da
sentados pelo grupo de estudo da SUSEP,
seguradora, considerado como uma estru-
responsável pela estruturação do modelo
tura de otimização de capital.
padrão de Risco de Mercado, mostram que
o requerimento de capital para tal risco • A principal vantagem é que lhe dá
representará, em média, entre 25% e 30% acesso ao balanço do ressegurador,

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  25


permitindo a transferência de uma parte oferecem às seguradoras uma capacidade
das suas exposições a uma entidade de resseguro em troca de uma remune-
mais forte, reduzindo a necessidade de ração mínima garantida, combinada com
capital. Esta é a função principal do res- uma limitação nas perdas.
seguro Quota Parte, que faz isso bem; Para isso, os resseguradores se valem de dife-
• É especialmente útil quando os resultados rentes mecanismos de controle e limitação
esperados para a carteira são imprevisí- das perdas, como por exemplo, definindo
veis ou carteiras não desenvolvidas. uma Sinistralidade Máxima ou Índice
Combinado, onde as perdas do ressegura-
Qualquer empresa, para ser bem sucedida,
dor são limitadas a um percentual máximo
precisa manter seu negócio rentável. Ao
agregado ou a um valor previamente
fazer isso, ela impulsiona o seu cresci-
definido, ou um Loss Corridor, (“Corredor”
mento e o resultado para seus acionistas.
de Sinistros) através do qual a seguradora
Com o crescimento contínuo a margens
passa a assumir os sinistros quando dentro
estáveis, a empresa torna-se cada vez mais
de uma determinada faixa de sinistralidade
bem preparada para gerenciar a volatili-
acordada ou ainda uma Comissão Esca-
dade associada a sua carteira de negócios.
lonada (Sliding Scale) voltada à carteira
Em tais circunstâncias, a visão tradicional
cujo resultado histórico é positivo e estável.
seria reduzir as cessões de resseguro
Neste último caso é utilizada uma comissão
Quota Parte, seguindo-se a lógica de
com escala variável em função da sinistrali-
que esta modalidade tende a ceder aos
dade da carteira protegida.
resseguradores um lucro que poderia
ter sido retido pela empresa. Ao aplicarmos o programa de resseguro
Estruturado Quota Parte, sob a perspectiva
de atendimento às regras de Solvência,
Pode um Quota Parte ser
é possível reduzir significativamente as
usado como um substituto
necessidades de capital da seguradora.
para o capital?
Uma solução que se apresenta então como
E por que os resseguradores
uma ferramenta para otimizar o capital oferecem capacidade para
alocado nos negócios e para atender às programas estruturados?
demandas de Capital Mínimo Requerido
estabelecidas pelo órgão regulador, essen- • Eles estão à procura de formas alter-
cialmente em relação ao Risco de Subscrição, nativas de obter um retorno sobre seu
é um programa de resseguro Estruturado, capital.
uma forma diferente de resseguro Quota • Eles estão olhando para diversifi-
Parte, que oferece todos os benefícios de cação dos negócios em diferentes
alívio de necessidade de capital tradicio- modalidades.
nal do Quota Parte, enquanto permite
• Eles estão preparados para limitar o seu
que o ressegurado possa reter a maior
ganho em detrimento de uma perda
fatia do lucro da carteira.
limitada (ou seja, agrada ao ressegura-
dor ter um resultado mais previsível).
O que é a Quota Parte • O quão menos volátil for o resultado
Estruturado? esperado, menor será a margem/lucro
O Quota Parte Estruturado é muito seme- exigida pelo ressegurador e conse-
lhante a um Quota Parte Tradicional; a quentemente maior será o retorno
principal diferença é que os resseguradores oferecido à cedente.

26  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Quota Parte Estruturado vs e que estão à procura de alternativas
Quota Parte Tradicional mais econômicas e flexíveis para alívio de
capital. É importante lembrar que para
O gráfico acima mostra a diferença de
carteiras com maior volatilidade, o resse-
abordagem entre um Quota Parte Estru-
guro tradicional normalmente será mais
turado e um Tradicional. O eixo X (das
eficiente do que o Estruturado.
abcissas) representa a sinistralidade da car-
teira; o eixo Y (das ordenadas) é o lucro ou Finalmente, cumpre-se destacar que
prejuízo do ressegurador em uma deter- se por um lado o ressegurador limita
minada sinistralidade. Como exemplo, a sua perda, por outro ele igualmente
observa-se na linha mais escura (Quota limita o seu ganho (entre 3.5% e 5%) ou
Parte Tradicional), que o ressegurador terá seja, o excedente de resultado que, ao
um lucro de 3 milhões caso a sinistralidade final do contrato de 3 anos, ultrapassar
esteja em torno de 52%. No outro extremo a margem definida pelo ressegurador,
do gráfico, o segurador vai assumir uma será revertida à seguradora na forma
perda de 3 milhões a uma sinistralidade de participação nos lucros.
de 110%. Neste exemplo, os resultados são
proporcionais. Programa de Resseguro Não
Num modelo de Quota Parte Estruturado Proporcional
praticado no mercado internacional com Resseguro de Excesso de Danos é con-
vigência de 36 meses, com a definição de siderado como uma proteção do balanço:
uma sinistralidade de 100% como sendo a
• Protege a seguradora contra o impacto
perda máxima do contrato, o ressegurador
de perdas individuais ou série de perdas
paga por exemplo uma comissão variável que estejam acima do limite definido
(Sliding Scale) limitando a sua perda máxima pela seguradora.
a 2 milhões em qualquer ano, ilustrada
pela linha de cor clara. Essa ferramenta de • Pode ajudar a controlar o desenvol-
limitação de perda do ressegurador ajusta o vimento adverso com frequência
caráter proporcional do contrato. inesperada de perdas em diferentes
classes de negócios.
Em outras palavras, o ressegurador de
programa Quota Parte Estruturado está • Auxilia no gerenciamento de per-
negociando uma perda limitada com das decorrentes de um único evento
um ganho igualmente limitado. Isso vai (catástrofe).
beneficiar empresas cujo portfolio está Como uma alternativa mais tradicional
maduro e consistentemente rentável, no mercado internacional, podem ser

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  27


desenvolvidos programas de alívio de BRL 6m por diversificação, resultando em
necessidade de capital relativo ao Risco de um Capital Mínimo Requerido de BRL 40m.
Subscrição em bases Não Proporcionais,
Consideramos neste exemplo um volume
através dos quais é implementada uma
de reservas de 82 milhões, alinhado com
cobertura em excesso a retenção da segu-
caso hipotético proposto. A demonstração
radora, considerando o estudo da carteira
gráfica abaixo destaca uma cobertura de
e o capital disponível ou a ser alocado.
10 milhões em excesso a 22 milhões para
Para melhor ilustração, no gráfico acima o Risco de Subscrição do Modelo Interno,
vamos criar um exemplo hipotético, con- atingindo desta forma o nível de confiança
siderando uma seguradora com uma de 99.0% exigido pela Susep.
carteira de prêmios retidos de BRL 100m,
Desta forma, com uma estrutura de resse-
uma sinistralidade média de 60% e um
guro não proporcional de 10m em excesso
Patrimônio Líquido Ajustado de BRL 30m.
a 22m, a seguradora passa a ter um alívio
Ainda hipoteticamente, vamos considerar de capital de 10 milhões (o Capital Mínimo
uma necessidade de capital de Risco de Requerido passa a ser 30 milhões) , que
Subscrição de BRL 32m, de Risco de Cré- poderá ser otimizado para atender aos
dito de BRL 5m, Risco de Mercado BRL 6, demais requisitos ou para incrementar sua
Risco Operacional BRL 3m e um alívio de carteira de negócios.

28  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


A Miller somos um dos parceiros mais importan-
tes e tradicionais, a Miller se destaca por
A Miller está preparada para elaborar um
uma presença nos principais mercados
estudo analítico e detalhado das carteiras
de negócios, desenvolver e implementar mundiais, como Europa, Estados Unidos,
programas de resseguros estruturados Japão, Oceania, Taiwan, China, Malásia,
objetivando a melhor adequação da segu- Singapura, Bermudas e Brasil e atua de
radora às suas necessidades e interesses forma diferenciada, além dos programas
de alocação e otimização de capital. de resseguros estruturados, nas linhas
de Transportes, Propriedades, Energia,
Presente no Brasil desde 1999, a Miller do
Brasil conta com uma equipe de técnicos e Riscos de Engenharia, Responsabilidade
executivos com amplo conhecimento de Civil, Vida, Saúde, Transporte de Valores e
mercado além da uma premiada equipe Linhas Financeiras.
no mercado de Londres. Abaixo os últimos reconhecimentos do
Com operações com os maiores Ressegu- mercado de Londres à destacada atuação
radores do mundo e com Lloyd’s, de quem da Miller.

Colaboraram para esta matéria


Fernando Tilger, Gerente de Contratos da Miller do Brasil
James Mounty, Head de Programas Estruturados da Miller Londres

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  29


Seguro de vida: um
direito de todos

social e para diminuir a pobreza têm sido


amplamente discutidas e várias delas já
têm gerado resultados representativos.
Foi em 1989, que surgiu uma destas ini-
ciativas, quando despertou o desejo de
oferecer ao mercado consumidor alguma
modalidade de seguro de vida e acidentes
em grupo que atendesse amplamente as
classes trabalhadoras menos favorecidas.
Mas jamais poderia imaginar que naquele
momento, além da iniciativa de plantar
as primeiras sementes de um gigantesco
mercado a ser explorado pelas segurado-
ras no Brasil, estava também, diante de
Alaor Silva uma oportunidade única, sendo escolhido
Fundador e presidente do
e preparado para iniciar o desenvolvi-
Plano de Amparo Social Imediato (PASI) mento de uma enorme missão a ser
cumprida no cenário socioeconômico,
através de nossa Instituição Seguros. A
partir de sua implementação, com o apoio
da, então, Vera Cruz Vida e Previdência, já
iniciamos a constituição de uma equipe
sensivelmente comprometida com os pro-
pósitos e responsabilidades dentro deste
projeto.
O PASI (Plano de Amparo Social Imediato)
é o seguro de vida em grupo mais conhe-
cido e recomendado do seu segmento.

A
O reconhecimento de seu pioneirismo
população menos favorecida tem se registrado nas diversas citações publi-
tornado uma das grandes preocupações cadas historicamente não deixa dúvidas
dos governos, não apenas no Brasil, mas que estamos realizando nossa missão. É
em todo o mundo. Este cenário envolve demasiadamente gratificante e estimu-
questões humanitárias, sociais, econômi- lante saber que o PASI foi alvo de estudos
cas e política, pois há um interesse em realizados pela Comissão Consultiva do
promover a justiça entre todas as classes Conselho Nacional de Seguros e Previdên-
sociais. Soluções para aumentar a inclusão cia – CNSP – e pela Superintendência de

30  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


S e g u ro d e V id a e Ac id e n t e s e m Gr u p o

n os na sci a o
Há 25 a
sse g ur o n o B ra si l.
Mi cro

‘‘Em 1989, foi lançado o primeiro seguro destinado à população de baixa renda,
um início do microsseguro, o PASI - Plano de Amparo Social Imediato’’
Trecho extraído do estudo ‘Microfinanças: Microcrédito
e Microsseguros no Brasil’ do CEBDS - 2013

“O aparecimento dos seguros de baixa renda é coisa recente. Com poucas


exceções (notalvemente o PASI)”.
Trecho extraído do estudo ‘Microsseguros no Brasil’ do CENFRI -
Centre for Financial Regulation and Inclusion - 2010

Há 25 anos, quando o PASI foi desenvolvido para proteger e amparar


trabalhadores e empresas, não poderíamos imaginar que estaríamos indo muito
além, mudando a história do mercado segurador brasileiro e de milhões de famílias.
Hoje reconhecido mundialmente como pioneiro, o PASI é motivo de orgulho para
sua equipe, corretores, entidades parceiras, clientes e todo o mercado.

Central PASI de Atendimento 0800 703 6302 - www.pasi.com.br /seguroPASI


Seguros Privados – SUSEP. Consolidando sempre a sustentabilidade do projeto.
sua trajetória, um maior e melhor exemplo, Conseguimos construir pilares estratégi-
de que o PASI vem sendo reconhecido cos que servem de base para a evolução e
pela importância e significado no contexto aprimoramento de seu modelo, na certeza
do desenvolvimento de seguros populares de que as classes trabalhadoras de baixa
e microsseguros no Brasil, é a sua recente e média renda sempre serão contempla-
citação nos estudos que trata dos temas das. Descobrimos, e ao longo de 25 anos,
microfinanças, microcrédito e microssegu- desenvolvemos um modelo simples de
ros, como sendo, na linha do tempo desde proporcionar uma imensa inclusão social,
os seus primórdios, o primeiro produto gerando um gigantesco mercado que
oferecido às classes menos favorecidas, poderá atingir mais de 100 milhões de
através de pesquisas e estudos realizados segurados. Cumprindo nossos objetivos,
pelo CBEDS – Conselho Empresarial Brasi- pretendemos que o PASI possa fazer
leiro para o Desenvolvimento Sustentável. parte do tão sonhado aculturamento do
consumo de seguros e queremos que
Quando criado, atendia 4.500 trabalhado-
isso também ocorra dentro das camadas
res e, hoje, possui 2,5 milhões segurados,
menos favorecidas da população.
entre titulares e dependentes, mais de 20
mil empresas conveniadas e 300 entidades A construção de um modelo de negó-
de classe parceiras. Além do pioneirismo cios sem precedentes, com um enorme
em atender a uma classe com quem impacto social, garantiu ao PASI um histó-
ninguém queria trabalhar, o PASI inovou rico e uma série de informações coletadas
também em conseguir pagar as indeni- que permitem avançar ainda mais para
zações em até 24 horas após a entrega que, muito em breve, ele possa se rein-
da documentação do sinistro. Para que ventar e causar um impacto ainda mais
toda a cadeia de valores que envolvem o surpreendente na sociedade como um
PASI fosse contemplada, desenvolvemos, todo promovendo o fim da herança da
também, mecanismos que permitem pobreza no país.

32  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Como Fica o Corretor?

Antonio Penteado Mendonça


Sócio de Penteado Mendonça Advocacia, presidente
da Academia Paulista de Letras e Articulista do Jornal
O Estado de S.Paulo e articulista

O Brasil está entrando numa quadra


de vacas magras. Tanto faz o que o minis-
A venda de veículos novos tem apre-
sentado resultado piores, mês a mês. As
tro da fazenda pense, ou a presidente, o vendas de televisores durante a Copa
fato é que as coisas estão se complicando do Mundo ficaram abaixo do esperado.
rapidamente, com a desaceleração da Os estoques na indústria e no comércio
economia podendo se transformar numa estão acima do normal. A indústria da
estagflação. construção começa fazer feirões para de-
sovar imóveis prontos com descontos ao
De acordo com as previsões de economis-
redor de 30%. Os imóveis comerciais es-
tas lúcidos, o quadro é complexo e não
tão se esvaziando e em todos os lados
sairemos do buraco com meias medidas.
surgem placas de vende-se e aluga-se. O
Pelo contrário, o remédio será duro e a
comércio de luxo está fechando lojas. O
convalescência demorada. Ou seja, o ano
desemprego ronda os salários mais ele-
de 2015 será mais difícil do que 2014 e não
vados. E por aí vamos.
há nada no horizonte que aponte uma luz
no final do túnel, capaz de fazer de 2016 O cenário político está indefinido. A avas-
um ano de crescimento acelerado. saladora maioria das intenções de voto

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  33


que garantia a reeleição da presidente no Perdem espaço pela diminuição da venda
primeiro turno cai dia a dia. As alianças de carros zero. Perdem espaço pela redu-
inquebrantáveis com o PT começam a ção das renovações. Perdem espaço pelo
rachar. Os quadros estaduais apresentam aumento da sinistralidade. E perdem
cenas no mínimo inusitadas. A falta de espaço para a queda da remuneração dos
chuvas ameaça com o racionamento de investimentos das seguradoras. A soma
água cidades como São Paulo. O raciona- dessas perdas pode desaguar numa outra,
mento de energia elétrica ainda que mais mais grave: a perda de faturamento, por
improvável não pode ser descartado. fechar menos negócios e pela revisão dos
percentuais das comissões.
E assim o Brasil segue ladeira abaixo, dei-
xando para trás as previsões otimistas de Em outras palavras, podem perder dinheiro
vários executivos dos mais diferentes seto- e mercado, mas acima de tudo compe-
res, entre eles, seguros, que no começo do titividade, num momento em que ser
ano falavam em crescimento de 2 dígitos. competitivo é básico, inclusive, porque as
corretoras maiores, espremidas pela crise,
O setor deve crescer, provavelmente acima devem atacar seus clientes, trabalhando
do patamar nacional, mas os 2 dígitos com custos mais baixos e outra escala de
não se repetirão, nem em 2014, nem no produção.
ano que vem. O problema é que além da
Cada vez mais as seguradoras estão padro-
queda no crescimento econômico, a sinis-
nizando os produtos de massa, como
tralidade de várias carteiras, e não só de
seguros de vida e veículos. Isso faz com que
auto, está aumentado e isso compromete
o pequeno corretor deixe de ser uma peça
o resultado das seguradoras.
indispensável para o mercado e ameaça o
Como se não bastasse, a inflação alta come futuro dos menos profissionalizados.
parte dos resultados financeiros indispen-
Qual o caminho? Cada um é cada um e
sáveis para fechar a conta no azul. Uma
as produções, ainda que semelhantes
inflação de 6,5% ao ano significa um juro
quanto aos produtos, têm origem bas-
real de 5%, ou seja, nem todas as segura- tante variada. A única certeza é que ficar
doras conseguirão compensar o resultado como está pode ser a sentença de morte
industrial negativo, principalmente em do pequeno corretor.
automóveis, com a remuneração do inves-
timento dos prêmios. Se o caminho passa pela associação com
outros profissionais; pela busca de suporte
Neste cenário, como fica o corretor de em plataformas já existentes, que lhe
seguros? Será que a virada da economia deem serviços e produtos mais compe-
atinge este profissional, ou para ele conti- titivos; pela continuação do que vinha
nua tudo como estava? sendo feito ou pela mudança de foco, vai
No curto prazo as mudanças não serão depender da realidade, da vontade e da
significativas, mas nos próximos meses o capacidade de cada um.
cenário deve mudar bastante. As correto- O que não pode é ficar parado. Toda crise
ras estruturadas e com foco em segmentos é complicada, mas também abre inúmeras
específicos devem sofrer menos, mas os oportunidades. Quem sabe seja a hora de
corretores menores, por terem o grosso muita gente rever como está trabalhando.
da produção nos seguros de automóveis, No longo prazo, quem chegar lá vai ganhar
devem perder espaço. muito dinheiro.

34  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Cavalo de Troia no
seu quintal?

T enho falado bastante sobre sites de


cotação e preços on-line nos últimos dois
anos e, apesar de ver pouca evolução na
direção do que chamo de “autorregula-
ção” dos corretores de seguros, insisto em
manter isso na minha pauta de debates
e bate-papos, pois acredito que ainda há
tempo para que os corretores percebam
esse Cavalo de Troia.
A internet, sem dúvida, trouxe para a
sociedade e para as empresas um novo
contexto. A possibilidade de interagir on-
-line ampliou o compartilhamento das
informações e, principalmente, nos trouxe Fabio Luchetti
novas formas de consumir produtos e Presidente da Porto Seguro
serviços. Afinal, com um simples clique é
possível ver quais empresas ofertam deter-
minada solução, seu preço e, dessa forma,
podemos comparar entre as mais variadas
opções. E com o seguro não poderia ser
diferente.
isso apenas na hora do sinistro. Poderá ser
Com tantas seguradoras, corretoras e tarde demais.
corretores de seguros, a internet poderia
O cliente deveria priorizar a avaliação de
ajudar o consumidor a buscar a melhor
qual corretor estará mais preparado para
oferta. E aqui inicio a minha reflexão sobre
lhe dar a devida assistência e orientação,
o Cavalo de Troia.
ao longo de toda a vigência do seguro –
Acredito que a procura pelo melhor que geralmente é de 365 dias. Afinal, é a
preço não pode ser o critério prioritário ele que o segurado precisará recorrer na
para o consumidor que quer contratar hora de um sinistro, numa emergência,
um seguro. Ele deve procurar primeiro o na troca do veículo, na ampliação de uma
melhor produto para a sua necessidade e cobertura e em outras necessidades. E os
perfil, e só depois o melhor preço dentre sites de cotação, infelizmente, não ofere-
os produtos/seguradoras que poderão lhe cem esse apoio, pois se propõem apenas
atender. Ora, as seguradoras não são iguais a mostrar os melhores preços. E quando
e, muito menos, seus produtos. E o con- o assunto é seguro, muitas vezes o con-
sumidor não pode deixar para constatar sumidor é leigo e acaba sendo pego por

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  35


esses sites, o que o faz deixar de perceber a Essa é minha tese do Cavalo de Troia: a
dimensão da importância do corretor. princípio, todos acham interessante o
uso da internet; mas se não criarmos um
O corretor de seguros é um empresário
formato que fique adequado ao mercado,
e um consultor de seguros. Ele, por ser
um profissional autônomo e profundo no médio prazo, todos sairemos perdendo.
conhecedor dos produtos e processos das A questão é: por que no Brasil seria
seguradoras no Brasil, tem isenção para diferente?
ajudar o consumidor a escolher a melhor
Vamos trocar os mais de 60 mil corretores
opção (custo x benefício) para proteger
no Brasil, que possuem a função de edu-
o patrimônio, a família e a vida dos seus
car, compreender, despertar e proteger
clientes.
a sociedade brasileira dos mais variados
Inspirado por esse mecanismo de oferta de tipos de riscos a que estão expostos, por
seguros e de preços na internet em outros uma dúzia de sites de comparação de
países, no Brasil começaram a surgir vários preços? Esses sites se posicionam como
desses sites. Pesquisei o mercado inglês, “corretores”, mas a meu ver, não operam
que é o mais maduro, e tem muitos anos com os propósitos desta classe. Estão
à frente nessa modalidade e, portanto, preocupados com a sociedade, clientes,
já tem história para contar e acreditar. O melhores soluções? Ou o que importa é
nível de serviços ofertados na Inglaterra conseguir o cliente, deixando inclusive
é baixo e o seguro é obrigatório; logo, as por conta desse – que é leigo – optar pela
diferenças entre as empresas e produtos decisão, a partir da sugestão do menor
são pequenas e potencializam esse tipo preço?
de negócio. Mas a questão é que, há dez
Algumas seguradoras, em especial as que
anos, a visão romântica de algumas segu-
precisam ganhar mais espaço no mer-
radoras era de que ir direto ao consumidor
cado brasileiro, por ambição e ansiedade
diminuiria os custos de distribuição. E após
acabam aceitando participar desses sites,
esses dez anos, viram algo incalculável: os
que não representam nem 1% de suas
custos com os sites de cotação por negó-
vendas. Por outro lado, os corretores são
cios fechados mais os custos com mídias
responsáveis por mais de 90% das vendas
para posicionar a marca na cabeça do con-
de seguros no Brasil, o que parece uma
sumidor quase se igualaram aos custos das
dicotomia. Mas no calor da batalha, parece
comissões que eram pagas aos corretores.
que vale tudo para ganhar mais negócios.
E o pior: negligenciaram o fato de que os
Óbvio que a visão é de curto prazo e, a
corretores eram filtros de seleção de risco.
meu ver, falta uma visão de longo prazo e
A consequência foi que a oferta direta por
de compromisso com os corretores, que
meio dos sites de cotações fez com que
sempre representaram as seguradoras
aumentasse substancialmente as fraudes.
para seus clientes.
Hoje, os resultados no mercado inglês
Então, penso em como deveriam se
são péssimos. Os corretores perderam,
posicionar corretores e seguradoras na
pois muitos quebraram; as seguradoras
internet; afinal, não podemos ignorar a
também perderam, já que seus lucros
tecnologia, os novos hábitos, os novos
deixaram de existir; perderam ainda os
consumidores.
consumidores, em vista da diminuição de
produtos diferenciados e da má qualidade Faço sempre uma analogia com a nossa
dos serviços e atendimento, decorrentes casa, com a escola dos nossos filhos e com
de uma guerra de preços nunca vista. as nossas economias que são aplicadas em

36  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


fundos de investimentos. A internet pode responsabilidade, ofertar a melhor opção
contribuir para pesquisar as opções dispo- para o cliente, e não deixar a “máquina”
níveis, com base no seu perfil e interesses. fazer isso por meio matemático. Existem
E os sites das imobiliárias e fundos de limites entre a tecnologia e a sensibilidade
investimentos são preparados para identi- humana. A tecnologia deveria ser utilizada
ficar seu estilo, perspectiva de valores, grau para deixar nossas vidas mais fáceis, mas
de ousadia, enfim, para fazerem uma boa nunca para decidir por nós.
proposta de valor.
A “mágica” da vida é não sermos escravos
Não imagino comprar uma casa sem vê-la, do destino, e sim, decidirmos o tempo
ou deixar minhas economias aplicadas todo sobre nossas vidas, sobre o que
sem conversar com o gestor ou decidir queremos de melhor para nós e para as
pela escola dos meus filhos sem conhecer pessoas que amamos. Não consigo acredi-
o local e conversar com a coordenadora tar que um site possa fazer isso.
pedagógica.
Posso ser tachado de saudosista, mas a
O seguro, apesar de parecer algo intan- meu ver, o corretor de seguros é e sempre
gível, tem como propósito repor o bem será o profissional capaz de mapear o que
patrimonial ou diminuir o impacto da temos e o que sonhamos. E saberá buscar
perda de um ente querido no sustento a melhor solução para proteger nossos
do lar. Estamos falando da nossa casa, do desejos.
nosso carro, dos nossos filhos. São con-
Qualquer coisa que tente substituir ou
quistas e sonhos que precisam estar muito
se parecer com corretor de seguros, para
bem protegidos e, portanto, merecem
mim, será chamado de “Cavalo de Troia”.
muita atenção e cuidado com os detalhes.
E se os corretores e seus líderes sindicais
Não podem se resumir a uma planilha em
em todos os Estados acordarem a tempo,
ordem decrescente de preços.
terei a certeza de que o meu propósito de
Então, acredito que os corretores e os sites defender o corretor de seguros está acima
que dão o preço “on-line” deveriam usar de tudo, a prosperidade do mercado
a internet para compreender melhor o estará protegida e a sensibilidade humana
perfil dos consumidores e, com calma e ainda terá valor.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  37


O risco de ciclones
tropicais no Brasil
Uma nova publicação da Swiss Re
quase completa desses fenômenos. Então
por que os ciclones tropicais são tão raros?
Utilizando um conjunto de dados de
reanálise atmosférica global referente
(ERA-Interim), o Instituto de Ciências
Atmosféricas e Climáticas (IAC) do Insti-
tuto Federal de Tecnologia de Zurique, na
Suíça, examinou os pré-requisitos mais
importantes para a formação de ciclones
tropicais no período de 1979 a 2011.
Esses pré-requisitos são:
• Altas temperaturas da superfície em
mar (26,5°C para uma profundidade
Peter Zimmerli de 50 metros é um patamar mínimo
Diretor de Riscos Atmosféricos comumente aceito).
• Baixo cisalhamento vertical do vento
(ventos em velocidades ou direções
diferentes em altitudes diversas, o cha-
mado “cisalhamento do vento”, podem

D urante muito tempo, supôs-se que


o Atlântico Sul fosse uma bacia oceânica
inibir a formação de ciclones tropicais).
• Vorticidade suficiente (uma perturba-
ção atmosférica pré-existente como
onde não ocorriam ciclones tropicais. Esse
tempestades, com certo movimento de
raciocínio teve de ser mudado funda-
rotação inicial).
mentalmente com a ocorrência do ciclone
tropical Catarina, em março de 2004. Além de • Umidade elevada (massas de ar seco
uma serie de vítimas, as pessoas que mora- podem inibir a atividade de tempes-
vam nas áreas afetadas ao longo da costa tades necessária para a formação de
dos estados de Santa Catarina e Rio Grande ciclones tropicais).
do Sul sofreram danos materiais, agrícolas e
No estudo do Instituto Federal de Tecnolo-
de infraestrutura consideráveis. Antes desse
gia de Zurique, esses quatro pré-requisitos
fenômeno, tal destruição por este tipo de
foram investigados mensalmente. Uma
perigo natural era considerada impossível.
comparação com outras bacias oceânicas,
Dez anos mais tarde, um novo estudo cien- como o Atlântico Norte ou o Sudoeste do
tífico da Swiss Re, em colaboração com Pacífico, mostrou que, no Atlântico Sul,
uma universidade, explora as principais esses pré-requisitos se alinham raramente
condições atmosféricas que influenciam e em pequenas áreas, limitando assim a
os ciclones tropicais no Atlântico Sul. Se possibilidade da ocorrência de ciclones
observarmos um mapa global do trajeto tropicais. Não chega a ser surpreendente
dos ciclones tropicais, é surpreendente que o estudo mostre que os meses de
que o Atlântico Sul seja a única bacia verão no hemisfério sul (janeiro, fevereiro e
oceânica de todo o mundo com ausência março) são os mais propícios à formação de

38  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


ciclones tropicais. Em termos geográficos, atualmente, o setor de seguros enfrentaria
uma seção do Atlântico Sul ao sudeste do pedidos de indenização de US$ 1 bilhão,
Rio de Janeiro e de São Paulo, entre 22 e 30 um valor sem precedentes para catástrofes
graus sul, é mais favorável à formação de naturais no Brasil.
ciclones tropicais. A boa notícia é que, no
verão, os ventos predominantes tendem a
Mapa de risco de ciclones
soprar qualquer tempestade para o leste,
tropicais no Brasil
na direção do mar aberto. A má notícia é
que as condições que favorecem a forma- Combinando as constatações do estudo
ção de ciclones tropicais também podem externo realizado no Instituto Federal de
reverter a direção do vento. Por vezes, tal Tecnologia de Zurique e as análises internas
mudança de direção levará as tempestades baseadas na metodologia de modelagem
na direção da costa brasileira, como acon- de ciclones tropicais mundiais da Swiss Re,
teceu no caso do ciclone tropical Catarina. compilamos um “Mapa de risco de ciclones
tropicais no Brasil” que, até onde nos é dado
saber, é o primeiro a ser publicado. A distri-
E se o ciclone tropical Catarina buição geográfica dos fatores ambientais
tivesse atingido outro local? que favorecem ou inibem a formação de
Com base em nossa longa experiência na ciclones tropicais, bem como tempestades
modelagem de catástrofes naturais em tropicais modeladas e observadas, nos
escala global, estávamos em posição de permite concluir que a área costeira entre
levar as conclusões do estudo do Instituto Paranaguá (Curitiba) e Florianópolis apre-
Federal de Tecnologia de Zurique a um senta o maior risco de ventos provocados
passo além: estimamos as perdas segu- por ciclones tropicais. Áreas ao sul e ao
radas de uma série de possíveis ciclones norte, bem como no interior, estão em risco
tropicais ao longo da costa brasileira e progressivamente menor. Consideramos
compilamos um mapa do risco de ciclo- este mapa de risco como uma contribuição
nes tropicais no Brasil. Usamos “cenários para a continuidade da investigação do
probabilísticos” – tempestades que não risco de catástrofes naturais no Brasil.
aconteceram, mas que são fenômenos fisi-
camente realistas que poderiam ocorrer no
O quadro mais amplo:
futuro – para estudar os possíveis efeitos de
gerenciamento de riscos
eventuais tempestades no litoral brasileiro.
adequado
Constatamos que os impactos financei-
Este artigo tem dois objetivos principais:
ros de um ciclone tropical que atinja o
em primeiro lugar, procuramos aumentar a
Brasil pode gerar perdas econômicas de
conscientização em relação a um risco mal
cerca de US$ 20 bilhões – um cenário
compreendido e amplamente ignorado.
em que um ciclone, após seguir de sua
Embora os ciclones tropicais continuem a
localização em direção noroeste, atingiria
ser uma ocorrência rara e representem ape-
a costa nas proximidades do importante
nas uma parcela dos “riscos de tempestade”
porto de Santos e do balneário de Praia
no Brasil, seu potencial de acumulação
Grande, afetando também São Paulo, mas
de perdas em áreas amplas não deve ser
abrandando-se no interior. Uma parcela
ignorado. Em segundo lugar, gostaríamos
considerável destas perdas econômicas
de oferecer um ponto de partida para a
não seria segurada.
discussão de eventuais medidas para evitar,
Entretanto, o rápido crescimento eco- conter ou atenuar os riscos decorrentes de
nômico levou a um forte aumento da ciclones tropicais no Brasil. Cada país ou
cobertura de seguro comercial e indus- região precisará encontrar sua combinação
trial, que englobaria as perdas causadas específica de medidas que melhorem sua
por um ciclone tropical. Dado o cenário resiliência aos riscos de catástrofes naturais.
apresentado, e supondo que 5% das Nós da Swiss Re esperamos continuar a ser
perdas econômicas estejam seguradas parte deste processo.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  39


Os resultados das
pesquisas de campo e seus
impactos nos programas
de Gestão de Riscos
Avaliação de uma pesquisa específica

Justificativa da razão de
escolha do tema:
Na área de gestão de Riscos, ou generica-
mente, gerenciamento de riscos, pesquisas
são relativamente comuns, como forma de
verificação das causas de acidentes. As
análises não apresentam custos elevados,
e profissionais experientes podem obter
resultados interessantes. Porém, quase
sempre os resultados das análises não
são implementados, razão pela qual as
pesquisas perdem seu valor, enquanto
ferramentas de análise gerenciais. Neste
artigo serão apresentados resultados
obtidos na análise do “momento” em
que ocorre um acidente de trabalho,
Antonio Fernando Navarro partindo-se da ideia preliminar que o aci-
Físico, engenheiro civil, engenheiro de segurança dente poderia ocorrer em qualquer dia da
do trabalho, mestre em saúde e meio ambiente,
doutorando em engenharia civil, especialista em semana e em qualquer horário. O conceito
gerenciamento de riscos e professor do curso de se analisar qual o dia da semana em
de Ciências Atuariais da Universidade Federal
Fluminense. que mais ocorrem acidentes, surgiu depois
de havermos escrito artigo sob o título:
Segurança contra Incêndio, publicado no
Boletim Informativo FENASEG, ano XVI, nº
793, de 17 de dezembro de 1984, onde,
empregando informações e dados dispo-
nibilizados pelo Corpo de Bombeiros do
Rio de Janeiro, apontávamos qual o dia da
semana e o horário em que ocorria mais
quantidade de chamados para atendi-
mento pelos Bombeiros.

40  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Objetivos a serem alcançados: profissionais com no mínimo 20 anos de
experiência profissional, coordenados
Vários são os objetivos visados na elabora-
por profissional com mais de 35 anos de
ção do artigo, que podem ser traduzidos
experiência profissional específica em
através de questões bem simples:
atividades de gerenciamento de riscos. A
Será importante se descobrir qual o dia da modelagem do projeto seguiu a seguinte
semana onde as probabilidades de ocor- metodologia, estruturada com as seguin-
rências de acidentes são maiores? tes características:
Para a gestão de riscos é importante se Apresentação dos resultados de análises
saber que o momento da ocorrência dos de acidentes de trabalho, estruturadas
acidentes está próximo? conforme Malhotra (2011). Também con-
A gestão dos riscos é maximizada quando tou-se com o apoio das empresas que
se sabe em qual período do tempo um aci- possibilitaram que seus trabalhadores fos-
dente tem maior probabilidade de ocorrer? sem abordados e questionados acerca dos
temas das pesquisas.
É possível criarem-se barreiras de proteção
contra a ocorrência de acidentes? Extraindo-se a sequência de passos da
publicação Public Services Health and
Na conclusão do artigo, as respostas a Safety Association, através do artigo Risk
estas perguntas serão evidenciadas, pos- Assessment and Job Hazard Analysis,
sibilitando às equipes de gerenciamento publicado em 2011, quando trata do tema
de riscos a neutralização ou mitigação das “Steps in a Job Hazard Analysis”, são apre-
ocorrências, evitando assim perdas finan- sentadas as sequências de passos, idêntica
ceiras, materiais e pessoais menores. ao das pesquisas, como a saber:
O projeto é iniciado “Always start with the
Metodologia a ser adotada: highest priority job task”. E concluído “
A metodologia adotada foi a da pes- Communicate job procedures to all staff
quisa de campo, através da estruturação affected by a particular job task (supervi-
de questionários com perguntas sim- sor, employee, contractor) and monitor for
ples, objetivas e fechadas, realizadas por continued effectiveness of controls”. Em

Pesquisa de Marketing – Uma Orientação Aplicada – 6ª Ed. 2011 ... Autor: Naresh K.
Malhotra; Editora: BOOKMAN; Ano de Edição: 6; N de Páginas: 719.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  41


todas as pesquisas desenvolvidas estabe- As informações foram obtidas na análise
leciam-se os contatos preliminares com os dos registros dos acidentes, registrados
níveis supervisórios, avaliavam-se os cená- nas CATs e nos relatórios de investigação
rios, escolhiam-se aleatoriamente os “alvos” dos acidentes. Por se acreditar que parte
(grupos de trabalhadores”, obtinham-se do percentual informado como ocorrência
as informações requeridas nas pesquisas na segunda-feira possa ter sido devido
e comunicavam-se os resultados obtidos. a acidentes ocorridos nos sábados ou
domingos, devido a causas que não neces-
Apresentação dos Resultados: sariamente tenham sido provocadas pelo
trabalho ou em decorrência do trabalho.
Foram analisados os processos relativos Aplicou-se um filtro nos acidentes relatados
a 143 acidentes do trabalho (amostra da como ocorridos nas terças-feiras e quartas-
pesquisa) relatados por 118 empresas, ocor- -feiras, a fim de se verificar o período do dia
ridos durante o período de 2001 a 2003, em que ocorreram, ainda se ressaltando
todas atuando na execução de atividades que se trabalhou com os registros das
relacionadas à construção e contagem, ocorrências. O resultado obtido, com uma
desde a execução de serviços até o for- segunda amostra de 45 acidentes do traba-
necimento de materiais e montagem de lho, extraída do lote inicial de informações,
equipamentos e instalações. Os processos correspondendo a 31,5% da amostra inicial,
foram escolhidos aleatoriamente nos conduziu ao seguinte resultado:
arquivos das empresas e não guardam
nenhuma relação com as atividades que o Período do dia % de acidentes
autor desenvolvia na ocasião, na gestão de Manhã 39%
atividades de QSMS (qualidade, segurança, Tarde 29%
meio ambiente e saúde). As análises eram Noite 32%
desenvolvidas durante visitas às empresas e No resultado da análise aplicou-se um filtro
ou por ocasião da aplicação de treinamen- para se identificar o horário da ocorrência,
tos específicos ou briefings de segurança considerando o maior percentual obtido –
do trabalho. As análises apontaram para o turno da manhã. Extraindo-se da primeira
seguinte resultado: amostra 17 acidentes, correspondendo a
Dia da semana % de acidentes
11,7% da amostra inicial, chegou-se aos
Segunda-feira 29%
percentuais:
Terça-feira 27% Horário da ocorrência % de acidentes
Quarta-feira 18% 07:00h às 09:00h 19%
Quinta-feira 9% 09:00h às 11:00h 23%
Sexta-feira 13% 11:00h às 13:0h 18%
Sábado 3% 13:00h às 15:00h 22%
Domingo 1% 15:00h às 17:00h 18%

42  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


Essas subdivisões da amostra principal em empresas, como o futebol, representando
duas outras, se deveu ao fato de que bus- cerca de 40%, a realização de atividades,
cava identificar a veracidade dos dados. inclusive de reforma dos próprios imóveis
Por essa razão, buscou-se, na leitura dos ou em auxílio à “laje batida” para a casa do
relatos, a identificação não somente do dia amigo, com cerca de 20%, e outras causas
da semana, como também do período do mais, variando desde um esforço maior em
dia e do horário da ocorrência. Esse sequen- mudanças ou no carregamento de pesos
ciamento de análises também foi baseado em casa. Contudo, nas segundas-feiras,
em artigo publicado pelo Boletim Informa- pelos relatos e entrevistas, os trabalhado-
tivo da FENASEG, anteriormente citado. res estão mais desatentos.
Pergunta: Para a gestão de riscos é
Conclusão: importante se saber que o momento da
As análises possibilitaram a identificação ocorrência dos acidentes está próximo?
que 29% dos acidentes do trabalho são Resposta: Toda e qualquer informação,
registrados nas segundas-feiras. 39% dos por mais simples que possa parecer, é
acidentes ocorrem pelas manhãs, entre o importante no processo de análise dos
horário das nove horas às onze horas da riscos. Na elaboração de “mapas mentais”
manhã. Não é explicitado em cada relato leva-se em consideração toda e qualquer
o porquê dessas ocorrências nesse dia, hipótese que se apresente. Através da
no período do dia e no horário da jornada “engenharia reversa” consegue-se avaliar
de trabalho específica. Excluindo-se o os impactos e identificar as relações, pro-
período entre 11 horas às 13 horas, consi- porcionais e percentuais.
derando que há empresas com horários de
almoço flexíveis, outras, com duas horas Pergunta: A gestão dos riscos é maximi-
de intervalo para almoço ou então aquelas zada quando se sabe em qual período do
que liberam suas equipes em intervalos tempo um acidente tem maior probabili-
específicos a cada meia hora, entre 11 e dade de ocorrer?
13 horas, para menor prejuízo nas ativida- Resposta: A maximização dos riscos é
des, percebe-se que no primeiro período uma expressão que significa a importância
há 42% de relatos, contra 40% no turno maior para o processo de análise. O risco,
da tarde, o que não representa diferença conforme Hemard, é um evento para o
considerável. qual deseja-se contratar uma cobertura
Respondendo às perguntas formuladas de seguros, ou mesmo aplicar ações que
nos objetivos a serem alcançados, razão reduzam ou eliminem os impactos eco-
maior da pesquisa tem-se: nômico-financeiros. Quando um risco é
mais bem identificado a probabilidade de
Pergunta: Será importante se descobrir qual
se obter uma taxa mais adequada é maior.
o dia da semana onde as probabilidades de
ocorrências de acidentes são maiores? Pergunta: É possível criarem-se barrei-
ras de proteção contra a ocorrência de
Resposta: O dia da semana predominante
acidentes?
quanto ao registro das ocorrências não
significa necessariamente o dia em que Resposta: Quando se reconhece o risco e se
o acidente ocorreu. Muitos dos registros sabe o modus operandi do mesmo podem
nas segundas-feiras podem ser devidos ser criadas barreiras que impedem ou miti-
a problemas ou acidentes ocorridos com guem a ocorrência dos mesmos. Quanto
os operários que não guardam qualquer mais precisa for a informação melhor pode-
relação com as atividades exercidas nas rão ser as ferramentas de controle.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  43


A Lei Anticorrupção e
os Intermediários
no comando de uma organização, seja
um partido político, uma empresa ou o
governo de um país, tem a obrigação de
saber o que seus subordinados fazem, seja
porque tem a liberdade de escolher quem
será seu subordinado, seja porque tem a
obrigação de vigiar os atos deles.
Em ética empresarial fala-se muito atual-
mente na “Obrigação de Saber”, ou seja, o
empresariado tem o dever de diligência
sobre os atos de seus empregados, for-
necedores e intermediários. O Ministério
Público e o Judiciário têm utilizado esse
conceito e a imprensa tem sido impiedosa
a respeito. Assim, por exemplo, a Zara tinha
“obrigação de saber” que seus fornecedo-
res estavam utilizando mão de obra similar
à escrava, a Siemens tinha “obrigação de
Valeria Schmitke saber” dos acertos que estavam sendo fei-
Legal & Compliance tos por seus representantes nas licitações
Zurich Minas Brasil Seguros
públicas. Até a Superintendência de Segu-
ros Privados já tem atuado nesse sentido
ao responsabilizar diretores indicados para
a Prevenção à Lavagem de Dinheiro por
não terem implementado corretamente o
programa de PLD nas empresas.
A lei 12.846/13 estabelece sanções às
empresas que obtiverem vantagens em

U
razão da prática de atos de corrupção ativa.
ma herança ficou do julgamento pelo O artigo 5º, III aplica as penas previstas na
Supremo Tribunal Federal da Ação Penal Lei à pessoa que “III - comprovadamente,
470, sobre o mensalão: todos os brasileiros utilizar-se de interposta pessoa física ou
que acompanharam este evento tomaram jurídica para ocultar ou dissimular seus
conhecimento da Teoria do Domínio do reais interesses ou a identidade dos bene-
Fato. Lançada em 1939 por Hans Welzel, ficiários dos atos praticados”. Isso quer dizer
essa teoria já foi utilizada para julgar crimes que as penas previstas na Lei, que são bas-
nazistas, da ditadura militar argentina e até tante altas e podem gerar dano duradouro
o ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori. à imagem da empresa, podem ser aplica-
Resumidamente, indica que a pessoa das ainda que o ato tenha sido praticado

44  Revista Opinião.Seg / Agosto 2014


por interposta pessoa ou, melhor dizendo, due diligence sobre seus contratados e seus
um intermediário. representantes a qualquer título.
Os intermediários, principalmente os que Outro ponto importante: o preço de mer-
atuam junto a órgãos do governo em qual- cado para um determinado serviço. Como
quer dos três poderes, deverão agora ser alegar desconhecimento de atividades
monitorados. Nessa categoria se incluem suspeitas dos fornecedores se o paga-
os advogados, despachantes, empresas mento por determinado serviço junto ao
de recuperação de salvados, corretores e
governo é feito em valor muito acima do
muitos outros. A empresa precisará saber o
normalmente praticado com outros forne-
que cada um deles faz, como faz e de que
cedores para trabalhos semelhantes?
maneira obtém resultados.
Os programas de Compliance das empre-
Passou a época em que o empresário
podia dizer “Não sei como ele faz isso e sas devem em primeiro lugar buscar “fazer
não quero saber”. Não existem milagres, a coisa certa” e subsidiariamente evitar
se um processo junto a um órgão público condenações por descumprimento legal.
demora sessenta dias, algo deve estar Para fazer a coisa certa, em primeiríssimo
acontecendo para que ele seja resolvido lugar, é preciso não fechar os olhos. É pre-
em quinze dias por um intermediário espe- ciso, no dizer de Immanuel Kant “Sapere
cífico. A empresa deverá manter constante Aude”, ou seja, ousar saber.

Revista Opinião.Seg / Agosto 2014  45


A INFORMAÇÃO QUE TODA
SEGURADORA DEVE TER.
A TRANQUILIDADE QUE TODA
CORRETORA DEVE POSSUIR.
A SEGURANÇA QUE TODA
INFORMAÇÃO DEVE OFERECER.

PORTAL DA
LEGISLAÇÃO
DE SEGUROS.

(11) 3071-0869 | contato@editoraroncarati.com.br

www.editoraroncarati.com.br

S-ar putea să vă placă și