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APOSTILA DE

RAIVOSOS
ANÔNIMOS

AQUI, AQUI..
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(INSPIRADO NO LIVRO ANGER BUSTING 101)

ÍNDICE

CAP 1 – PRIMEIRO PASSO --------------------------------------------------------------PÁG 02

CAP 2- A HISTÓRIA DE JIM--------------------------------------------------------------PÁG 06

CAP 3- A RAIVA COMO ADICÇÃO-----------------------------------------------------PÁG 08

CAP 4- OS EVITES DA RAIVA------------------------------------------------------------PÁG 12

CAP 5- OS PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DE R.A.----------------------------------------PÁG 29

CAP 6- APRENDENDO A FALAR COM OS OUTROS--------------------------------PÁG 38

CAP 7- O QUESTIONÁRIO---------------------------------------------------------------PÁG 45

CAP 8- A ABSTINÊNCIA É VIDA! -------------------------------------------------------PÁG 49

CAP 9- AS PESSOAS QUE AMAMOS --------------------------------------------------PÁG 51

CAP10- UMA LINDA CONCLUSÃO-----------------------------------------------------PÁG 55

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O 1º PASSO DE RAIVOSOS ANÔNIMOS

“ADMITIMOS QUE ÉRAMOS IMPOTENTES PERANTE À RAIVA E QUE PERDEMOS O DOMÍNIO DE


NOSSAS VIDAS,”

“Ela era a nossa questão maior. O nosso pano de fundo. No final, ficamos apenas nós dois:
“Eu” e “Ela”. “Eu” representa toda e qualquer pessoa que não tenha domínio sobre “Ela”. “Ela”
representa toda a degradação, desequilíbrio, sofrimento, perdas irreparáveis de amigos, amores,
família, saúde, oportunidades de crescimento e sonhos. Ela fora a nossa grande Desconstrução Do
Ser. Nada e ninguém conseguiu crescer saudável ao nosso lado. Com o tempo, assistimos impotentes
todos irem embora, escorregando por nossas mãos incapazes de vencê-la por nossa própria força.
Não conseguimos aproveitar a convivência daqueles que nos amaram enquanto estavam vivos.
Também não conseguimos nos alinhar com os que ainda estavam por perto. Mas tudo o que fizemos,
tudo o que dissemos, jamais fora falta de amor. Longe disso! O nosso problema encontrava-se em
nossa total impossibilidade de viver sem ela, a quem hoje podemos chamar de IRA!”
Sim, somos viciados em raiva. Por toda a nossa vida, sofremos, sem entender porque os
outros nos causavam tanta instabilidade. Trocamos de parceiros, de empregos, e até mesmo de
cidade, a fim de recomeçarmos. Estudamos as melhores possibilidades de atrairmos pessoas mais
saudáveis, para que desta vez, nossos relacionamentos prosperassem. Fomos atrás de grandes
caminhos espirituais, para aprendermos atrair PESSOAS mais leves. Quanto mais nos esforçávamos,
menos resultado tinha, pois nada funcionava. Elas continuavam a nos magoar, cada vez mais. Nosso
ressentimento já não concebia mais a ideia do perdão. Estávamos realmente muito feridos... E
zangados.
Enfim, chegamos a uma encruzilhada: não conseguíamos mais conviver com os outros, e nos
colocamos em uma posição de isolamento. Por outro lado, ainda pertencíamos à raça humana, e não
conseguiríamos viver felizes, sem eles. Assim, continuamos a tentar. Cada vez mais, sentíamo-nos
injustiçados e irritados, e nos tornamos mais reativos, aumentando em muito, o grau de nossas
ofensas. A culpa havia se tornado a nossa melhor vestimenta. Começamos então a nos humilhar,
pedindo perdão por nossas palavras e atitudes violentas, e multiplicamos nossas promessas de
interromper todo este processo, que tanto feria a quem mais amávamos. Ainda assim, dias ou até
horas depois, já estávamos com raiva, novamente.
Tendo chegado a um imensurável fundo de posso, onde nossa alma já não sentia ânimo de
viver em nosso corpo, decidimos pedir ajuda.
Foi então, que chegamos à irmandade Raivosos Anônimos, cujo único requisito para ingresso,
é o desejo de viver abstinente da raiva compulsiva. Em vez de continuarmos a fazer mais juramentos,
cada vez mais ineficazes, decidimos tentar outra abordagem: a total abstinência dos
comportamentos raivosos. Seymour Feshbach, um precursor pioneiro na pesquisa da raiva, explorou
a hostilidade e a agressividade escolhendo um grupo de meninos que não eram especialmente
agressivos ou destrutivos. Assim, encorajou-os a chutar móveis e a brincar com brinquedos violentos,
com entusiasmo, e em vez de esvaziar esses meninos dos comportamentos agressivos, incentivou-
os. Os meninos se tornaram cada vez mais hostis e destrutivos. Assim, concluiu que, ao contrário do
que se pensava, expressar a raiva aumenta consideravelmente à violência. Assim, Raivosos Anônimos
adverte: Abster-se completamente da expressão de raiva, é a única chance que o raivoso compulsivo
tem, de possuir uma vida feliz, saudável, próspera, e útil.

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Durante muito tempo, pensamos que fosse saudável expressar a nossa raiva. Nos últimos 50
anos, o mundo nos disse: "Expresse-se". - Deixe-a sair. “É saudável expressar seus sentimentos”. “Faz
mal à saúde reprimi-los”. Porém, novas experiências comprovam sérias alterações bioquímicas em
nossos corpos quando a raiva compulsiva é ativada. Aqueles que sofrem desta doença têm muito
mais problemas de saúde do que as pessoas que conseguem conter a raiva com facilidade. As teses
psicológicas que defendiam a necessidade de expressar a raiva por razões de saúde mental e física
foram provadas como falsas, quando colocadas sob o microscópio da pesquisa científica. Quanto
mais gritarmos e nos exaltarmos, pior a nossa saúde ficará, pois mais propensos estaremos a ataques
cardíacos, e ainda mais sérios o nosso problema de raiva se tornará.
Esta irmandade não é certamente para todas as pessoas. Mas para aqueles que podem vir a
falecer, se não se recuperarem a tempo. E para quem ainda não acredita, vale a expressão “atuar na
raiva, é levar a vida em brancas nuvens e morrer sem ter vivido.”
A verdade é que alguns podem precisar aprender a expressar a sua raiva, mas outros se
tornam realmente viciados, como se fosse álcool. Assim como os alcoólatras, fizemos juramentos
solenes a quem magoamos, insistindo que iríamos usar toda a nossa força de vontade para "nos
controlarmos", falhando, porém, repetidamente. Ainda assim, continuamos a tentar conter nossa ira
com toda nossa paixão, recorrendo a religiões, meditação, psiquiatria, prática do perdão... Mas nada
funcionou. Derrotados, estávamos convencidos enfim, que não havia maneira de interromper a
nossa ira, e achamos mais fácil e menos doloroso, por muito tempo, responsabilizar o mundo. Mas
não eram eles. O mal estava realmente em nós. Nossa raiva nos impelia a adentrar nos mares revoltos
da derrota, onde assistimos impotentes, tudo o que construímos afundar. Não adiantava nos casar,
pois nos separaríamos. Não adiantava termos filhos, pois eles iriam adoecer ou se revoltar; não
adiantava trabalhar, pois não conseguiríamos confiar nos outros, ou achá-los competentes. Logo,
iríamos ingressar na próxima discórdia, pois eram imperfeitos demais para nós.

AS DUAS TEORIAS DA RAIVA QUE DOMINARAM O SÉCULO PASSADO

TEORIA HIDRÁULICA - Freud confiava nesta teoria. Imaginemos uma panela de pressão, onde
na hora da fervura, retiramos a tampa. Pessoas com problemas de raiva, eram encorajadas a
expressá-la, para que a raiva não os prejudicasse fisicamente. Muitos que acreditam na teoria
hidráulica da raiva sugerem uma grande liberação, indicando retirar a tampa, e deixar sair todo o
vapor.
TERAPIA EXPRESSIVA – Está associada a terapias de grupo e psicodrama, e encoraja a bater
em travesseiros, gritar, e socar bonecos que representem pessoas importantes em nossas vidas.
Segundo ela, o nosso passado está com raiva. No psicodrama, somos encorajados a gritar e a dizer a
estas pessoas como realmente nos sentíamos.
Exemplo: James, um raivoso compulsivo, escolheu o modelo catártico de psicoterapia para
liberar-se da raiva. (“Precisamos nos expressar”, o terapeuta dizia! Joguem esses sentimentos para
fora! ) Enquanto James gritava, percebia que ficava ainda mais irado. A ideia era que ele se tornasse
inteiro confiando em seus impulsos. Alguns colegas batiam em travesseiros e almofadinhas e
gritavam histéricos até a exaustão. Choravam nos braços de alguns espantalhos, o que fez James sair
de si completamente, acabando por agredir violentamente o terapeuta, com um soco na cara.
Eis a nossa questão:
Quanto mais um viciado em raiva se expressar, mais necessidade terá de fazê-lo.

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Não conseguimos, apesar de inúmeras tentativas, aprender a expressar a nossa raiva
adequadamente.
Mais uma vez, vamos imaginar uma panela de pressão, porém em vez de tirar a tampa, vamos
definir a válvula de pressão para liberar lentamente o vapor, quando ela atingir certa intensidade.
Por exemplo, podemos tentar dizer aos nossos cônjuges: “Tenho alguns sentimentos de
ressentimento em relação a você ou "Seu comportamento nos últimos dias, me criou alguns
sentimentos de ressentimento" ou "Gostaria apenas de deixar você saber como estou me sentindo.”
Confesso que estou bastante irritado com você por causa de seu comportamento na noite passada.”.
A ideia de que podemos expressar a raiva de forma contida, apropriada e deixar o vapor para
fora gradualmente, é ilusória. Muitos de nós, fomos a terapeutas, para conseguirmos lidar melhor
com o problema. Pensávamos que se conseguíssemos usar a "raiva de maneira apropriada" em torno
de questões de ressentimento e descontentamento, ela poderia atingir a consciência da outra pessoa
de forma benéfica.
Exemplo: Willian, raivoso compulsivo, disse a esposa: "Querida, eu gostaria de sentar e
compartilhar com você, alguns sentimentos meus, após o jantar." Assim, sentou-se no sofá, e
confortavelmente, após ter realizado anteriormente alguns treinamentos com sua terapeuta, Willian
disse: "Eu tenho me sentido irritado e ressentido com algumas coisas". A esposa indagou: Posso saber
por quê? William continuou: Você nem imagina? Não reparou como me deixou sozinho neste fim de
semana? Ao que a esposa disse logo: Willian, você é a pessoa mais carente que já conheci. Está tão
doente que não consegue ver que estamos com dívidas e que alguém aqui precisa trabalhar; já que
o homem da casa não faz nada, eu tenho que fazer, afinal de contas, preciso comer!
Achamos que não é preciso contar o final dessa história, mas se insistirem em saber, nós
poderemos informar o endereço da delegacia mais próxima à residência do casal.
Não estamos sugerindo que já perdemos o direito de impor nossos limites de convivência,
mas que devemos compreender que a raiva compulsiva é uma doença de adicção, progressiva, lenta
e fatal.
Estamos doentes, precisamos fazer uma desintoxicação, por um período sugerido de 40 dias,
abstendo-nos de todo e qualquer impulso que possa nos engatilhar a um novo ataque de ira. Sim,
durante este tempo, não tentaremos expor nem mesmo os nossos pontos de vista. O mundo pode
sobreviver sem eles.

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Iremos agora, aos EVITES DA RAIVA, sugeridos por RAIVOSOS COMPULSIVOS ANÔNIMOS.

1. LEITURA DIÁRIA PARA SE PROTEGER DA RAIVA:

Um adicto à raiva é uma pessoa viciada na expressão da raiva. Enquanto muitas pessoas
sentem-se melhores ao "colocarem a raiva para fora" um adicto à raiva deve abster-se total e
completamente de expressar sua raiva. Se ira ou raiva é um problema para você ou alguém que você
ama, as seguintes sugestões irão ajudá-lo a encaminhar sua vida em uma direção mais positiva. Leia
esta lista todas as manhãs antes de começar o seu dia:

1-Só por hoje, praticarei a auto-restrição como “prioridade máxima em minha vida.” (Observe que a
oração não diz: “Vou praticar a raiva apenas quando estiver certo”.).

2-Só por hoje, agirei da maneira oposta a como me sinto, quando estiver sentindo raiva. (Observe
que a oração não diz: “Irei ao menos, compartilhar como eu realmente me sinto”.).

3-Só por hoje, ao sentir que minha raiva está prestes a entrar em erupção, silenciosamente deixarei
para lá (Observe que a oração não diz: "Refletirei sobre este pensamento e processarei meus
sentimentos.")

4-Só por hoje, encontrarei a verdade em todas as críticas dirigidas a mim, especialmente as de meu
parceiro. (Observe que a oração não diz: "Apenas explicarei meu ponto de vista").

5-Só por hoje, direi: "Você está certo", de uma maneira sincera e significativa quando for criticado.
(Observe que a oração não diz: "Você está certo, mas...”)

6-Só por hoje, darei um exemplo de como a pessoa que me criticou está correta. (Observe que a
oração não diz: “Apontarei apenas uma exceção à sua observação.”)

7-Só por hoje, repetirei a seguinte frase: “É melhor “me enganar”, porque quando estou certo, sou
perigoso. " (Observe que a oração não diz:" Preciso parar de me defender quando eu estiver com
razão. A explicação disso é muito simples: sabemos que perdemos o direito de estar certos. A razão
é mortal para nós. Acabamos por destruir todas as nossas relações “em nome da justiça”. Então
deixemos a razão para os outros e fiquemos com a paz, a saúde, a felicidade e o amor.)

8-“Só por hoje, evitarei justificar minhas atitudes, dizendo:” Eu não tenho ideia do porquê de minha
atitude... Isso também não faz sentido para mim. "(Observe que a oração não diz:” Preciso ter certeza
de que esta pessoa entende o meu ponto de vista.” A vida pode continuar sem que você seja
compreendido e isto evitará um novo episódio de raiva. Justificar-se pode dar início a um debate ou
discussão.

9-Só por hoje, ouvirei com simpatia o meu parceiro, quando ele me falar sobre o seu dia. Isto significa
que manterei contato visual e desligarei a televisão Não colocarei apenas modo mudo.

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10-Só por hoje, não darei conselhos não solicitados para ninguém, especialmente para minha esposa
ou filhos. Isso também significa não fazer perguntas como: “Você sabe o que você deve fazer”? Ou
"Você quer saber por que isso aconteceu?”.

11-Só por hoje, evitarei culpar as pessoas próximas a mim por qualquer motivo, especialmente
quando a culpa é delas. Ao invés disso, direi palavras confortadoras.

12-Só por hoje, evitarei tentar fazer com que as pessoas compreendam qual a melhor atitude a ser
tomada. Poderemos descobrir que eles não desejam entender o que julgamos ser o melhor a se fazer.

13-Só por hoje, manterei o tom de minha voz baixa, e treinarei o hábito de falar calmamente com as
pessoas. Assim, expulsarei a ira e deixarei que o atributo da humildade entre em meu coração.

14-Só por hoje, desenvolverei o hábito do elogio.

15-Só por hoje, manterei o compromisso de remover meus comportamentos raivosos, e deixarei
minha contribuição para um mundo mais pacífico. Sei que há suficiente raiva e tristeza no mundo, e
opto por incentivar a paz no mundo.

A história de Jim

“Minha família tem uma longa e violenta tradição. Meu avô sacou sua arma e matou um
homem desarmado em uma pequena cidade de Oklahoma, depois de uma discussão. O grande júri
não o acusou porque ele era o único dentista do local. Meu pai também matou um homem antes de
eu nascer, mas ninguém nunca me explicou muito bem essa história. Certa vez, meu pai e meus
irmãos mais velhos zombaram de mim porque apanhei de meninos mais velhos na escola. No dia
seguinte, os mesmos meninos vieram atrás de mim novamente. Desta vez, corri para casa para pegar
a pistola do meu irmão e os botei pra correr... Depois de ouvir minha façanha, meu pai e meus irmãos
riram e ficaram orgulhosos de mim. Admiraram minha coragem, sem saber que faziam brotar em
mim, a mais violenta raiva e seus grandes aliados: instinto de vingança e vício de poder.”

Assim, cresci brigando... E sentir raiva tornou-se algo corriqueiro em minha vida. A raiva
parecia fazer parte da minha personalidade. Embora eu tenha brigado e lutado fisicamente com
muitas pessoas, durante todos esses anos, eu nunca bati em minha esposa ou filhos, apesar de ter
sido demasiadamente abusivo com as palavras, intimidando-os constantemente.

Fui esfaqueado e baleado, por enfrentar homens que estavam armados e quase morri nestes
dois episódios. Uma vez, bati tanto num homem, que quase o levei a morte. Pensei que eu sentiria o
remorso por ter agido assim, mas no dia seguinte, acordei me sentindo vingado. Lembro que o chutei
várias vezes na cabeça, e o deixei ali para morrer. Mas soube que sobreviveu.
Mesmo depois que parei de beber e comecei a tomar remédios receitados pelo psiquiatra,
devido a doença maníaco-depressiva, o meu problema de raiva continuou. A raiva parecia ter vida
própria, e cada vez tornava-se mais forte.
Hoje, aos 65 anos, estou em liberdade condicional por asfixiar minha neta de 20 anos de
idade. Ela estava gritando com minha esposa e se recusou a calar a boca. Enquanto estava deitada

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no chão inconsciente, pensei que a tinha matado. Nunca senti tanta dor, desespero e vergonha em
minha vida. Eu amo a minha neta mais que tudo, e quando me dei conta, já tinha “saído de mim e
agido daquela maneira”. Era como se eu estivesse completamente drogado. Minha neta sobreviveu,
graças a Deus, mas eu fui preso e minha esposa me deixou. Meus filhos se recusam a falar comigo.
Fui encaminhado pelo meu psiquiatra para Raivosos Anônimos, e foi neste momento, que
minha vida começou a mudar. No início, fiquei meio incrédulo em relação à mudança de um hábito
tão antigo e enraizado em minha vida.
Na minha idade, seria possível tornar-me alguém completamente diferente?
Porém, a recuperação fez todo o sentido para mim.
Assim como evitei o primeiro gole de álcool há 25 anos atrás, em Alcoólicos Anônimos, pois
sou um alcoólico em recuperação, comecei a tratar minha raiva com o mesmíssimo método...
Simplesmente, decidi não ceder mais ao impulso de expressar a raiva, não importa o que
acontecesse.
“Nasça quem nascer, morra quem morrer, à raiva não vou ceder!”
Em Raivosos Anônimos, usamos o método da total abstenção, da fé em um Poder Superior
e do trabalho dos 12 passos.

O primeiro passo me ajudou a entender que sou um doente raivoso compulsivo sendo crucial
para mim, transformar a maneira de pensar e de enxergar o mundo. Que eu só sabia fazer através
das “fantasias violentas de vingança.”
Aprendi a evitar o primeiro pensamento que me acionava a primeira fantasia violenta de
vingança. Eu me abstenho de fantasias violentas, assim como os viciados em amor abstêm-se da
primeira fantasia romântica.
Mudando o pensamento, muda-se o sentimento, e assim evita-se uma possível recaída.
Forço-me fazer repetidas vezes a oração da serenidade como um mantra (às vezes em voz
alta), quando estou dirigindo.
Pratico os evites da raiva. Penso em cenas agradáveis, reais ou imaginárias, no momento em
que sinto a raiva querendo surgir.
E Só por hoje, desisti de expressar a raiva completamente, em minha vida.
Minha esposa percebeu a mudança e voltou para casa.
Todos, menos um dos meus filhos, voltaram a falar comigo.
Agora posso fazer o que nunca pensei ser possível: Perder. Estar errado, ou estar certo e não
necessitar de justiça.
Afasto-me calmamente de qualquer situação que possa me levar para aquele lugar sombrio
e infeliz, onde vive a Poderosa Raiva.
Se eu pude me modificar, sei que qualquer um também poderá.
Raivosos Anônimos não é para quem precisa. É para quem deseja ser feliz, ser útil e próspero.
O mundo não mudou. Mas eu mudei. Não sei como vivem as pessoas que ainda anseiam por
vingança e justiça. Mas sei como vivo: hoje sou um Homem feliz, vivo com minha esposa e minha
amada neta, que não precisou sentir-se vingada. Ela me perdoou, e demonstrou amar-me, ao que
retribui.
Não há mais amor desperdiçado, amor jogado fora.
Um dia de cada vez, sinto minha vida prosperar e agradeço às 24h de sobriedade nas
emoções.

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A RAIVA COMO ADICÇÃO (MITOS, REALIDADES E CARACTERÍSTICAS DO VÍCIO).

Mitos e realidades sobre o vício da raiva: muitas vezes, acreditamos em mitos sobre a maneira
certa de lidarmos com a raiva. Grandes psicólogos afirmam que é saudável externá-la sempre que a
sentirmos. Quem de nós nunca ouviu dizer que quem entuba a raiva, pode adoecer de câncer ou de
outra doença fatal? Tentaremos desmistificar aqui alguns mitos sobre o tema, e nos conectar com a
realidade, verdadeiro caminho de luz que deveremos sempre tentar seguir.

Mito 1: “A agressão é a catarse instintiva feita através da raiva.”


Realidade: A agressão é um hábito catártico adquirido, uma reação aprendida e praticada por
pessoas que pensam que podem fugir do desconforto, através deste comportamento.

Mito 2: "Ao expressar nossa raiva, conseguiremos nos esvaziar de toda a toxidade interna, e
ficaremos libertos de todo o mal - ou ao menos, ficaremos menos irritados.”
Realidade: Uma série de estudos indica que expressar abertamente a raiva poderá aumentá-la ainda
mais. Antes de a externarmos, deveremos sempre “rodar nosso filme para trás”, e nos lembrar da
nossa última briga devastadora. Somente assim, teremos condições para avaliar se será prudente
continuarmos enraivecidos ou não.

Mito 3: “As birras e outras raivas infantis são expressões saudáveis de raiva que impedem as
neuroses.”
Realidade: As emoções estão sujeitas a leis de aprendizagem, como qualquer outro comportamento.
Os picos de raiva que aparecem aos dois e três anos de idade, começam a diminuir aos quatro anos,
a menos que a criança aprenda a controlar os outros através desse comportamento.

Quais são os sinais de que a raiva tenha se transformado em um vício?


Todos os vícios têm sintomas, o que nos permite reconhecer esses problemas como doenças de
adicção. Os sinais da adicção são a auto- estimulação, compulsão, obsessão, negação, síndrome de
abstinência e comportamento imprevisível. Como o alcoolismo ou o uso de drogas, a ira satisfaz
vários critérios de auto- estimulação.

1) Auto- estimulação - Para nós “adictos à raiva”, expressar nossa raiva é auto-
estimulante. Isso desencadeia nossa compulsão por mais raiva. É tão absurdo quando os terapeutas
dizem aos seus pacientes que para eliminar o problema com a raiva basta expressá-la, quanto os que
dizem aos pacientes alcoólicos para “maneirar” na bebida.

2) Adicção- Quanto mais os alcoólatras bebem, mais eles querem beber. Quanto mais raiva
expressarmos, mais queremos expressá-la. Uma maneira de definir o alcoolismo é que quando o
alcoolista ingere álcool, ele configura um sistema auto-estimulante no qual acaba por ansiar por mais
álcool. Quanto mais uma pessoa bebe, mais álcool precisará tomar. Funciona da mesma maneira com
a compulsão pela raiva. A adicção por raiva é uma busca compulsiva por uma mudança de humor ao
nos envolvermos repetidamente em episódios de fúria, apesar das consequências prejudiciais.
Adictos à raiva são indivíduos que continuam a atuar na raiva compulsivamente, sem levar em conta
as consequências negativas.

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3) Compulsão - É ela que sinaliza a doença do vício. Apesar de todo julgamento, razão,
percepção ou consequências destrutivas, continuamos a usar "a substância" compulsivamente.
Compulsão ou perda de controle é a incapacidade de parar de expressar raiva uma vez que
começamos. A incapacidade de controlar palavras agressivas é certo sinal de adicção por raiva.

4) Perda de controle – Caracteriza o vício. Quando não podemos mais controlar o quanto
ou quando nos enfurecemos, cruzamos a linha para o vício. Breves períodos de abstinência de fúria
podem ocorrer devido à culpa ou preocupação com a perda de um companheiro ou ameaças de
demissão no trabalho, mas, eventualmente, apesar das melhores intenções para controlar a nossa
língua ou mãos, nos encontramos novamente quando menos esperamos, em outro ataque de raiva.
Nossa reatividade claramente progrediu ao longo dos anos, e nossas atitudes parecem ter entrado
em uma fase crucial do vício, e talvez nunca mais vão regressar à expressão controlada da raiva. Uma
vez que chegamos a este ponto, não poderemos mais prever as nossas reações, ou até onde
avançaremos com o nosso comportamento agressivo e destrutivo. Isto se torna tão desconcertante
para nós, quanto para aqueles que nos rodeiam.

Além disso, parece existir também um paradoxo com todos os outros vícios. Os viciados
em raiva, geralmente, fazem uso de outras adicções. Muitos bebem, usam drogas ou comem demais
para se anestesiar dos destroços causados pela doença, mas, em vez de relaxarem, sentem-se pior
ainda a cada dia.
Viciados em raiva tentarão resolver seu problema de qualquer maneira, exceto optando
por se abster dos comportamentos que desencadeiam o vício. Uma vez que a compulsão é
desencadeada, todo e qualquer esforço de controlá-la irá falhar. Por isso, é tão importante nos
comprometermos com uma quarentena de abstinência, praticando os evites da raiva com total
honestidade, mente aberta e boa vontade. Muitos de nós, decidimos inclusive, nos comprometer a
passar este período dos 40 dias sem sequer aumentar o tom de nossas vozes, almejando alcançar
assim, uma total mudança interna, e a verdadeira transformação da personalidade.

Em todas as formas de dependência, o controle sobre pensamentos e comportamentos é


perdido. À medida que o vício avança, nossas perdas se tornam cada vez mais profundas, e nossas
vidas já não se encontram mais sob nosso controle.
Somos quem nos provoca. Somos nosso maior inimigo. Não é mais uma questão de
sabermos quem está ou não com a razão. Sabemos que mais cedo ou mais tarde, iremos nos
desentender novamente com alguém. Sabemos que nossas relações continuarão turbulentas, ainda
que mudemos mais uma vez, de parceiros, e amigos de trabalho. Sabemos que iremos culpar
novamente os outros no trânsito, no mercado, ou até mesmo em locais de diversão. Que os
acusaremos de incompetentes, maus caráter ou provocadores. Que nos sentiremos vítimas mais uma
vez, de uma sociedade falida. Que nos magoaremos de novo, por nos acharmos copiosamente,
desrespeitados pelas pessoas de nosso convívio. E então virá ainda mais forte a vontade de desistir
de tudo e de nos isolar cada vez mais.

A verdade é que é difícil admitir que nossos pensamentos tornaram-se dominados pelo
vício e que temos procurado oportunidades para satisfazê-lo.
A raiva, a vingança e agressividade assumiram há muito tempo, o comando de nossas
vidas, e é duro admitir que nos tornassem infelizes, sozinhos e isolados da sociedade em
consequência de todos esses anos de destruição.

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Nossas vidas se transformaram em uma armadilha, feita de orgulho e vingança, pois
ficamos a espera de alguém nos ofenda de maneira real ou imaginária, para explodirmos de raiva,
mais uma vez.
Certa vez, um companheiro de R.A. comentou: "Eu costumava ter problemas para dormir
à noite, porque levava de duas a três horas me imaginando respondendo à altura, a todos aqueles
que um dia me irritaram ou que me fizeram mal. Muitas vezes, eu já não os via a mais de uma
década”.

Os viciados em raiva encontram-se frequentemente preocupados com ressentimentos e


fantasias de vingança, sem conseguir visualizar a sua parte nos desentendimentos. Esses
pensamentos, muitas vezes, levantam-se poderosamente, e não os permitem mudar de sintonia,
para pensamentos mais leves. Por mais que tentem detê-los, predominam ideias fixas de indignação
e vingança.
A força da raiva, muitas vezes é irresistível e seguida de ação. Portanto, a preocupação
com os "erros" dos outros e a necessidade de vingança os leva continuamente à raiva.
Progressivamente, esses pensamentos dominam todos os outros até que a vida torne-se
cronicamente triste, fracassada e insustentável. Nesse ponto, a raiva acaba por controlar a mente, e
fazer com que comportem-se como pessoas desprovidas de amor ao próximo. É verdade psicológica
que nos movemos em direção ao nosso pensamento dominante, e tal compulsão faz com que
tenhamos uma vida pesada e negativa que jamais teríamos se não fôssemos doentes crônicos de
raiva.

5) Negação- A negação mantém os viciados em raiva presos à doença. É o processo


mental pelo qual concluímos que o vício não é o maior problema, mas a ignorância a respeito do
mesmo e a incapacidade emocional de se enxergar. Por isso, entendemos estando em recuperação,
sobre a importância da frequência às reuniões, vez que, no depoimento de pessoas semelhantes,
conseguiremos enxergar nitidamente o espelho de nossas crenças irracionais e irreais, enxergar
nossos comportamentos destrutivos e suas consequências. Em outras palavras, é através das
reuniões de Raivosos Anônimos que conheceremos e visualizaremos a nossa doença, em toda a sua
extensão.
Porém, antes de RA, vivíamos na cegueira da adicção, sem saber como viver. Assim,
negávamos haver algo de errado conosco.
Precisamos entender que o sistema da negação garante que o processo de raiva e
indignação se justifique, ou seja, encontre razão de ser. Uma frase bíblica acerta em cheio: "Retire a
trave do teu olho, e só assim verás com nitidez para tirar o cisco que está no olho do teu irmão".
Pode ser que haja uma mancha nos olhos de nossos companheiros, amigos ou empregados, e o outro
pode de fato estar errado, mas nosso foco deve estar em nossos olhos, na maneira em que
registramos os acontecimentos, transformando-os em mais oportunidades de expressar a nossa
raiva. A indignação justificada mantém nosso foco fora de nós mesmos. É por isso que somos raivosos
do tipo que raramente pode afirmar: “Estou certo e você está errado”.

6) Síndrome de abstinência- Como em qualquer vício, a raiva tem um período de


desintoxicação. Este é um momento muito vulnerável, quando os adictos muitas vezes sentem-se
muito mal, como se tivessem abandonado quem são. “O desejo é alto durante este período”. Aqueles
que se abstêm de chamar por nomes feios, falar palavrões e soltar gritos durante este período relata
mais depressão do que o habitual nos primeiros três meses. Mas se conseguirmos alcançar a
abstinência completa e mantê-la por 90 dias, passará a não pensar mais em termos profanos ou

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depreciativos. Poderá até tornar-se chocante quando ouvirmos outras pessoas a dizê-los. Muitas
vezes, durante uma ressaca da raiva, sentimos que provavelmente poderíamos fazer o que fosse
preciso para vivermos o resto de nossas vidas sem expressá-la- e sem violência verbal ou física.
Normalmente, durante os primeiros 90 dias de abstinência, nós agressores habituais, nos
sentimos vulneráveis e passamos muito tempo pensando e esperando uma situação que nos permita
usar a violência por algum propósito heroico. Isto representa um desejo nosso de externar a raiva,
assim como o viciado em heroína também procura um grande motivo para voltar a injetar.
Somos soldados inquietos esperando "uma pequena guerra legal." Mas agora poderá ser
hora de "vencer nossas lanças em arados". Muitos de nós fomos treinados para funcionar como
guerrilheiros, através de nossa educação. A raiva entrou em nosso sangue e não mais saiu.

É interessante nos perguntar quanto tempo ficamos imersos no vício e utilizamos de


violência física ou verbal achando que assim, iríamos nos proteger dos dissabores da vida. Só mesmo
uma doença tão sutil e poderosa seria capaz de nos fazer ficar cegos diante do sofrimento imenso
que tivemos que passar por tentar evitar a dor.
Se não fosse a doença, seria mesmo pura tolice. Todas essas fantasias violentas que
pensamos ser indispensáveis a nos proteger e proteger nossas famílias dos outros seres humanos,
na verdade, constituíam um perigo muito menor do que a nossa agressividade. As estatísticas
mostram que a pessoa com maior probabilidade de ferir a nossos entes queridos somos nós mesmos.

7) Comportamento imprevisível- Outra definição de alcoolismo é que quando um


alcoólico bebe, não há como prever seu comportamento. Ele poderá até beber adequadamente de
vez em quando, assim como o viciado em raiva pode expressar a raiva apropriadamente às vezes,
mas quando começar a beber álcool, todas as apostas são desligadas. Ninguém sabe ao certo o que
irá acontecer. Da mesma forma, quando o viciado em raiva começar a expressar sua raiva, ninguém
sabe aonde irá parar. O mais provável é que ele exploda e não consiga se controlar. Nós raivosos
gostaríamos de aprender como expressar nossa raiva de forma adequada, assim como os alcoólatras
gostariam de aprender a beber adequadamente. Mas poderemos aprender a fazer isso? Sim,
poderemos ser ensinados, mas quando a adrenalina surgir será uma desculpa para explodirmos
novamente.
Continuaremos a argumentar que estamos nos expressando adequadamente. Assim,
encorajamos aqueles com problemas de raiva a absterem-se totalmente de sua expressão por um
ano. Lembre-se, este plano é apenas para essa pequena porcentagem de pessoas que tem problemas
de raiva ou violência. (A abordagem não é para todos.) Para os viciados em raiva, não funcionará a
tentativa de expressá-la de maneira assertiva. Nós já tentamos antes e sabemos que isto nunca
funcionou. Muitos de nós fizemos terapia por anos e trabalhamos muito para aprender a expressar
nossa raiva de forma adequada. No entanto, muitas vezes nos sentíamos frustrados e não sabíamos
por que não conseguíamos aprender.
Na verdade, poderemos nos sentir aliviados quando entendermos que está certo
abandonar a tentativa de expressar nossa raiva de forma adequada e começar a aprender a abster-
nos totalmente de sua expressão.

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ENTENDENDO OS EVITES DA RAIVA

"Descobrimos que a raiva justificada deve ser deixada para aqueles que sejam melhores
“Qualificados para lidar com ela.” (Os Doze Passos e Doze Tradições, Alcoólicos Anônimos)

Introdução

A primeira pergunta a se fazer é:


Por que estou em Raivosos Anônimos?

O fato de termos chegados até aqui, significa que percebemos ter um problema. Muitos de
nós tivemos problemas com nossos parceiros, pois esses ameaçaram nos deixar ou mesmo foram
embora. Nossos familiares não se encontravam satisfeitos conosco; fomos demitidos do emprego ou
chegamos bem perto disso; tornamo-nos cada vez mais solitários, e em isolamento e mantivemos
nosso medo de nos relacionar novamente com as pessoas, seja afetiva ou profissionalmente. Outros
ainda tiveram problemas com a lei, ou sentiam-se culpados pela maneira como a sua raiva afetava
sua família e vida pessoal. Além do dano causado ao seu casamento, sabemos que o conflito entre
os pais sempre é muito traumático para as crianças.
Uma pesquisa feita durante vários anos na vida de 400 crianças estudou a diferença
comportamental entre as crianças cujos pais brigavam, e aquelas cujos pais não brigavam. Descobriu-
se que as crianças das famílias que brigavam tornaram-se mais deprimidas do que as crianças das
famílias que não brigavam. Observou-se o seguinte: as crianças de famílias onde a raiva predominava,
tornaram-se adultos pessimistas e derrotistas. Passaram a enxergar os eventos ruins ou difíceis da
vida, como permanentes e pessoais, ou seja, se algo ruim acontecesse, é porque mereciam aquilo,
ou mesmo, consideravam azarados demais para merecer que a vida lhes ofertasse bons presentes...
Do leve otimismo da infância migraram para o pessimismo sombrio de adultos deprimidos. Muitas
crianças reagem às discussões e brigas de seus pais, desenvolvendo uma perda de segurança tão
destrutiva, que marca o início de uma vida de depressão.
Mas o que podemos fazer para nunca mais explodirmos com nossos familiares novamente,
ou com o resto do mundo?
Para nós, adictos à raiva conseguirmos nos recuperar totalmente, deveremos nos abster
completamente dos comportamentos raivosos. Deveremos parar de raciocinar em prol da raiva.

Podemos ter falado coisas como:


"Eu não vou ficar quieto, e deixá-la falar dessa maneira comigo.”
“Ela é a única que está errada e que precisa calar de vez".

Podemos ter tomado decisões como:


“Eu nunca mais ofenderei ninguém.”
“Eu nunca mais gritarei com ele.”
"Não voltarei a falar mal dela".

Fazer promessas e tomar decisões como "Eu nunca mais farei isto de novo" não funcionará
para nós, pois se funcionasse, não teríamos ingressado em Raivosos Anônimos, a procura de ajuda.
Embora nossas intenções sejam muitas vezes boas, nós, viciados em raiva, simplesmente não
podemos cumprir nossas promessas e decisões. Autoafirmações e firmamentos de metas relativas
ao nosso "autocontrole" sequer foram capazes de um dia nos fazer cócegas. Embora devêssemos

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estar cientes de nossas vozes internas, o que podemos fazer é aprender um plano de ação para
impedir nossos impulsos raivosos de virem à tona.

PLANO DE AÇÃO EFETIVO:


Para abster-se completamente de expressar raiva, evite os seguintes comportamentos:

1-PARE DE FALAR:

“O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que abre muito os lábios se destrói” (Provérbios
13:13) “Até o tolo quando se cala, é tido por sábio; e se dominar a sua língua, parecerá ter
discernimento.” ( Provérbios 17:28)

Pare de dizer a si mesmo:


“Eu não vou ficar quieto, e deixá-la falar dessa maneira comigo.”
“Ela é a única aqui que está errada e que precisa se calar de vez".

A melhor ação que podemos tomar, à prova de todas as falhas quando sentirmos a raiva se
aproximar é o silêncio. Devemos abster-nos de falar, “manter a nossa tampa na panela de pressão”,
até que os pensamentos percam força e diminuam totalmente a sua pressão. Nós também
precisamos mudar nosso diálogo interno ou aprender a desligá-lo.
Um exemplo de silêncio é ilustrado pelo seguinte diálogo: numa manhã de sábado, a esposa
de Joe pediu que ele a acompanhasse em algumas incumbências, algo que ele odiava fazer. Chovia,
e o trânsito estava terrível, o que dobrou para quatro horas de duração as tais incumbências. Debbie,
que havia sofrido um acidente de carro a apenas alguns meses atrás, entrou em pânico, criticando e
controlando a direção de Joe. Nem precisamos dizer que Joe, adicto à raiva, a esta altura já estava
para lá de irritado, mas como estava em recuperação, decidiu seguir o princípio do silêncio em
relação à Debbie:
Debbie: Por que você não está falando comigo?
Joe: Querida, estou me concentrando em dirigir.
Debbie: Você está com raiva de mim, Joe?
Joe: De maneira alguma.
Debbie: Você tem certeza?
Joe: Sim, nunca estive tão apaixonado por você em toda minha vida.

O silêncio é o primeiro comportamento que precisamos aprender. Estar em silêncio não


significa que paramos de ouvir. Em vez disso, significa que agora temos o controle da nossa raiva.

O Silêncio e Abstinência da raiva – Após o encerramento de uma reunião de RA, um membro


recém-chegado chamou um companheiro antigo no corredor e disse: "Eu percebi que você está
conseguindo controlar o seu problema com a raiva. Eu realmente quero fazer esse programa, mas
nunca consegui ficar mais de três dias sem explodir. O que devo fazer? Sem falar, o antigo membro
de RA fez um gesto para ele o seguir até a mesa de coordenação. Pegou um cartãozinho na gaveta e
nele escreveu: QUANDO ESTIVER IRRITADO, NÃO FALE". Perplexo, o novato olhou para ele e disse:
não tenho certeza do que você quer dizer... Se alguém disser algo que me deixe com raiva, eu

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simplesmente não direi nada? "O antigo membro gesticulou para que ele olhasse para o verso do
cartão, onde estava escrito: “CALE-SE AGORA”!” No dia seguinte, o novato voltou à reunião, e ao
final, foi reclamar com o mesmo companheiro. Disse ele: Eu não vou conseguir. Eu não posso ficar
quieto quando alguém me provocar. Nunca consegui ficar calado e não posso imaginar que eu
consiga mudar. "Deixe-me perguntar algo", disse o antigo. "Se você estivesse andando pela rua à
noite, e alguém viesse por trás, e colocasse uma pistola em sua cabeça e dissesse: "Se você falar algo,
eu vou explodir o seu cérebro”, acha que ao menos nesta situação conseguiria se calar? "Bem, aí
sim." E se o bandido te ofendesse e dissesse coisas ruins sobre sua mãe e os insultasse de todas as
maneiras imagináveis? Eu continuaria calado também”, disse o novato. Assim, o companheiro
explicou: “Então você está me dizendo que é possível se conter em qualquer situação, mesmo que
seja insultado, porém o que muda é a sua motivação, que não tem sido suficientemente forte”.
Em vez de dizer frases como: "Não consigo suportar", você pode dizer "Sim, eu posso aceitar
o que vier e me calar". Se a sua motivação for forte o suficiente, você poderá praticar não falar.
Pratique o primeiro passo e entenda que é impotente perante a raiva e que sua vida será mais cedo
ou mais tarde totalmente destruída, se continuar a falar. Isso pode ser feito. Eu vi muitos homens
fazê-lo quando seus casamentos estavam em jogo. Não espere até lá. Cale-se agora!

2-VÁ EMBORA. "Melhor um homem paciente do que um guerreiro. Mais vale controlar o próprio
temperamento do que conquistar uma cidade.” – (Provérbios 16:32)

Pare de dizer a si mesmo:


“Mas ela odeia quando eu saio de perto".
“É minha casa, não vou a lugar nenhum.”

O que significa "ir embora"? Isso significa sair de cena de forma rápida e silenciosa.
Imaginemos uma escala de raiva de 0 a 10. Zero representa “ausência de raiva” e 10 representa a
raiva. Uma vez que começarmos a senti-la crescer, e percebermos que ela já atingiu a pontuação de
5 ou mais, devemos sair imediatamente. Provavelmente será tarde demais se esperarmos até o
número 8 ou mais. Na verdade, se chegarmos até este ponto de raiva, seremos incapazes de nos
conter, e de partir. Quando a raiva começar aumentar na escala ou pular diretamente para o número
5, jamais deveremos ficar no local. Deveremos sair em silêncio.
Como poderemos agir quando atingirmos um nível cinco na escala da raiva? Bem, devemos
começar a monitorar nossos sinais de raiva, para tomarmos consciência de nossos estados internos.
Cada pessoa tem diferentes respostas físicas. Algumas pessoas tenderão a tremer profundamente.
Outras começarão a suar, sentirão o coração disparar, terão vermelhidão, tonteiras, sentirão um
aperto muscular, ficarão com mãos úmidas, e outros ainda sentirão sua pressão sanguínea aumentar.
Devemos aprender os nossos sinais de raiva.
Exemplo:
Marido: (entra na sala) Olá, querida, o que tem para o jantar?
Esposa: (explodindo em raiva, começa a berrar) Você não merece que eu cozinhe seu alimento, seu
cretino! Se quiser comer, cozinhe você mesmo! Estou cansada de cozinhar para você.
Marido: Estou saindo e voltarei em uma hora.
Esposa: (aos gritos) Eu não estarei aqui quando você voltar.
Marido: (Ele sai pela porta e fecha-a em silêncio.) Ele retorna em uma hora e muda o assunto,
dizendo: Como você está?

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Esposa: Estava tudo bem, até eu ver o seu rosto. O que você está fazendo de volta aqui? Eu disse
para você ficar longe.
Neste ponto, o marido decide dormir num hotel e diz: falamos novamente amanhã, se você
estiver melhor.

O ponto chave aqui é ficar longe até que a outra pessoa se acalme. Se ela continuar nos
agredindo, pode ser que saiamos de nossa abstinência e, portanto, de nosso propósito. Espere o
tempo necessário para que o outro se acalme. Por outro lado, as pessoas, e principalmente familiares
e parceiros afetivos não gostam da ideia de virarmos as costas e irmos embora, durante uma
discussão. Muitas vezes, eles dirão algo como: "Volte aqui e fale comigo como um homem". Ou "Você
sempre se esquiva quando eu quero falar com você”.
Quando o novo integrante de RA passou por esta situação, foi correndo ao antigo
companheiro, agora então, eleito seu padrinho. “O que faço agora, ele disse." FUJAA! ““, disse o
padrinho. “Ou poderia dizer:” Número 1: "Cale a boca"... Número dois: “Vá embora".

3-EVITE OLHAR FIXAMENTE.

Pare de dizer a si mesmo:


"Eu só estava olhando para ela".
“Eu não estou olhando fixamente. Ela quer que eu a olhe quando ela fala, então estava olhando.”

Alguns casais, familiares, ou companheiros de trabalho se encaram intensamente quando


estão bravos. Olhar para alguém de forma hostil é arrogante e provocativo. Nas ruas, esse tipo de
comportamento pode levar a golpes graves e até mesmo a mortes. Muitos raivosos compulsivos
usam o olhar fixo e maligno para intimidar seus “adversários”.
Ex: Richard, Luanda e as crianças estavam sentados à mesa de jantar, discutindo sobre o que iriam
fazer no fim de semana. A criança mais nova perguntou o que estavam programando para o sábado.
Luanda: “Nada”. Não há dinheiro para o fim de semana. Seu pai comprou ingressos para o jogo de
basquete, e agora estamos sem dinheiro.
Richard: Eu tenho economizado para poder ir a esse jogo, mas este dinheiro não saiu do orçamento
da casa.
Luanda: Richard, todo o dinheiro que ganhamos faz parte do orçamento familiar.
(Richard olhou com ódio para Luanda).
Luanda: Richard me poupe dessa encarada. Eu não tenho medo de você.
(Luanda olha para outro lado e Richard fica mais irritado. Recompondo-se, Richard recuou e olhou
para o chão).
Richard: Ouça querida, vamos jantar bem, e conversar sobre os problemas de dinheiro mais tarde.
(Luanda também recuou, e a explosão de raiva de Richard foi desarmada. A família continuou a ter
um jantar agradável, pois Richard estava em recuperação em RA).

Assim, evite encarar alguém quando estiver com raiva.


Olhe para o chão, olhe para o teto, mas não olhe para a outra pessoa. Ele só inflama sua raiva.

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4-PARE DE INTERROMPER

Pare de dizer a si mesmo:


"Eu tenho que interromper porque o que ela está dizendo é errado".
O que você quer dizer com “não a interrompa? Ela foi à única que me interrompeu.”.

Às vezes, é impossível adivinhar quem interrompeu em primeiro lugar, ou quem começou


a causar o mau- estar. Porém, é importante não interromper, mas sim permitir que outros nos
interrompam. Essa é a única coisa que a maioria de nós raivosos pensou não conseguir suportar. Por
que é que nós ficamos tão furiosos sempre que estamos a ponto de esclarecer um profundo e
interessante ponto de vista, e alguém nos interrompe?
Poderemos dizer: “Opa, essa é a única coisa que não aguento”.
Precisamos nos treinar para não interromper os outros e se alguém nos interromper deverá
ser permitido. Se nos interromperem, precisaremos voltar ao número um: Abster-nos de falar. Se
começarmos a ficar muito nervosos, então deveremos ir embora (número 2). Os outros notarão que
decidimos ficar em silêncio, bem como nossa decisão de nos retirar, silenciosamente. Perceberão
também que permitimos que eles nos interrompam e que optamos por não fazer o mesmo.
Isso lembra um grande ensinamento: “O exemplo não é a melhor forma de ensinar; é a
única!”.

Exemplo: Durante uma sessão, um terapeuta tentava fazer com que seu paciente, um advogado
raivoso, se percebesse, e assim, salvasse seu casamento:
Terapeuta: Com licença, estou interrompendo você.
Advogado: Mas eu não terminei de falar.
Terapeuta: Você nunca termina de falar, faz parte do seu problema.
Advogado: (com raiva) Ouça, estou lhe pagando para me ouvir e terminarei de falar.
Terapeuta: (rindo) Não, você não entende. Você está me pagando para interrompê-lo, porque quer
continuar casado. Esse comportamento é uma das razões pelas quais sua esposa está te expulsando
de casa.
Advogado: (em um misto de raiva e risos) "Eu não gosto disso e adoraria te processar por tamanha
injúria, mas tudo bem vá em frente. Vou fingir que você está certo.”.
Se seguirmos com sucesso os quatro primeiros evites da raiva, estaremos no caminho certo
para controlar nossa adicção e estaremos prontos para o próximo estágio. Se assim fizermos,
veremos uma mudança significativa em nossos comportamentos e em nossa qualidade de vida. Se
praticarmos estes quatro comportamentos de abstenção, os outros notarão a diferença. E isto é
bom!

6-PARE DE XINGAR. Evite palavrões, xingamentos e palavras de baixo calão.

Pare de dizer a si mesmo:


"Ei, você não sabe onde eu trabalho. Lá, eles falam palavrão o tempo todo".
"Você quer dizer que eu deveria chamá-la de meu benzinho, em vez de filha da mãe, depois do que
ela me fez? E o que ela me disse, não conta? Eu “sai de mim” por causa dela.

Um dos comportamentos mais importantes que precisamos nos abster imediatamente é de


falar palavrão. Não é o ponto de vista moral ou religioso que nos interessa aqui, mas falamos sob

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uma perspectiva psicológica e comportamental. Se não usamos xingamentos, não inflamamos nossa
raiva. Se nos privarmos de todo e qualquer palavrão, haja o que houver, imediatamente, a raiva que
estivermos sentindo diminuirá e não colocaremos tudo a perder. Nada teremos para nos arrepender.
Em outras palavras, xingamentos acrescentam vapor à nossa panela de pressão e inflama nossa raiva.
Ex: Ralph entrou em uma briga com seu enteado de 19 anos e, quando sua esposa tentou
separá-los, ele a empurrou. A namorada do enteado chamou a polícia e Ralph foi preso. Sua esposa
pediu o divórcio, e obteve um pedido de restrição. Na reunião de RA, Ralph soluçava e dizia que faria
qualquer coisa para recuperar sua esposa. Ele queria saber o que poderia fazer hoje, para que ela
soubesse que ele estava mudando.
A resposta de um companheiro experiente de RA foi: Há algo que você pode fazer, mas é
difícil.
Ralph: Eu farei qualquer coisa.
Companheiro: Pare com todos os palavrões. Não os pronuncie, nem nas piores circunstâncias. E nem
mesmo os mais leves.
Ralph: Você não entende. Eu trabalho numa ferrovia a vinte anos, onde este é o linguajar habitual.
Todos falam palavrão lá. Isto é normal para nós. Como eu posso parar de xingar agora? Impossível
não escapar algum.
Companheiro: Se você quiser recuperar sua esposa, você será o único funcionário desta ferrovia que
não falará um palavrão!
Ralph: Eu vou fazer isso (disse ele, chorando).
Na próxima reunião, Ralph informou que não estava discutindo com sua esposa pelo telefone
tão intensamente quanto pensou, porque ele havia parado de xingar. Na terceira reunião, Ralph
contou uma cena romântica. Ele sentiu que as coisas finalmente começaram a funcionar, pois o
respeito havia sido restabelecido.
Se sofrermos, por acaso, um “temper trantum” (ataque de fúria) e conseguirmos vivenciá-lo
sem palavrões, poderemos bater o pé e dizer: “Meu Deus, você realmente me magoou”, Estou
realmente chateada, e vou dar uma volta para esfriar a cabeça. Conversaremos num outro dia.
Se conseguirmos nos sair bem assim, poderemos até tirar uma amostra de nosso sangue, e
provavelmente não encontraremos nele nenhuma mudança bioquímica. E este é o nosso maior
objetivo. Temos direito a uma vida equilibrada, sem autos e baixos aceitos por nós, como um convite
para destruírem nossas vidas. Se pretendêssemos continuar a falar palavrões, mesmo que não
estivéssemos com raiva, mas tirássemos uma amostra de sangue, encontraríamos ainda assim, uma
mudança bioquímica. Essas mudanças ocorreriam porque o uso de palavrões inicia o fluxo de
adrenalina para raivosos. Então, se nos abstermos de palavrões, teremos menos raiva e as pessoas
ficarão menos bravas conosco. Algumas pessoas podem conseguir isso rapidamente; Para outras
pessoas, leva um tempo maior para lidar com isso. Alguns companheiros mais comprometidos com
a doença levaram quase um ano inteiro para conseguir passar um dia inteiro sem usar palavras de
baixo calão. Outros foram mais felizes, conseguindo fazê-lo quase instantaneamente.

7-PARE DE ATRIBUIR NOMES NEGATIVOS AOS OUTROS

Pare de dizer a si mesmo:

"Mas ele me chamou de louca primeiro. Ele é o único problemático aqui. Eu não falei do fundo do
coração. Ele sabe que eu estava com raiva.”

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Atribuir nomes degenerativos é outra maneira de produzir vapor. É também um
comportamento que nós raivosos precisamos abster-nos de imediato. Precisamos parar de usar não
só os nomes vis e grosseiros, mas também atribuições negativas como “estúpido, louco, maluco.". O
uso desses nomes inflama nossos argumentos. Quando chamamos as pessoas por atributo negativo,
mesmo que de brincadeira, elas poderão não entender que estamos apenas brincando e se
magoarão. Isto aumenta o nível de raiva das pessoas. Atribuir nomes negativos é elemento destrutivo
em um relacionamento. Se chamarmos nossos entes queridos ou parceiros de um nome ruim, não
haverá volta. Poderá levar meses para que eles se recuperem. Podemos pensar: “Eu estava com raiva,
então porque ele não pode esquecer isso e deixar pra lá”? “Não entendo o nível de destruição que
isto possa causar”. Eu só o chamei de doente mental! Assim, também pensou o ex-presidente
Truman, quando disse ao imperador do Japão: “Foram apenas algumas bombas”. Qual é o problema
nisso?
Eis aqui um cenário típico de xingamento através de nomes negativos: John estava assistindo
televisão. Mary, sua esposa, estava trabalhando em casa e escrevendo um relatório no computador.
O monitor, de repente, ficou todo branco. Mary, assustada, chamou John para olhar para o
computador. Depois de trabalhar com computadores o dia todo, John não estava com a menor
vontade de solucionar problemas de computador em casa. Mary continuou pedindo para que ele
visse o que havia de errado com o computador.
Mary: John, por favor, veja o meu computador e me diga o que há de errado.
John: Eu não estou com vontade. Vou fazer isso amanhã.
Mary: Mas, John, eu preciso fazer esse relatório para entregar no trabalho amanhã de manhã.
John: Que pena, mas terá que esperar.
Mary: Eu preciso disso agora. Levará apenas um minuto.
John: Tudo bem, você vai me deixar em paz depois?
(John, contrariado, foi para o computador e descobriu que o cabo do monitor tinha saído da tomada.
Ele o colocou de voltou e o computador funcionou). Irritado por ter sido interrompido, explodiu:
“Você é realmente dotada de pouca inteligência, não é”? Só uma pessoa estúpida para pedir ajuda
num caso esses. Você não poderia descobrir isso sozinha? (Mary ficou em silêncio). Seis meses
depois, John a perguntou:
John: Mary, você me ajudaria a descobrir como usar esse novo processador de alimentos?
Mary: Eu não posso ajudá-lo. Lembre-se, sou estúpida.
John: De onde veio isso?
Mary: Você não se lembra de me dizer a quão estúpida eu seja? Vire-se você mesmo.

(Quando chamamos os outros por nomes negativos, isto os machuca e inflama nossa raiva).

8-PARE DE AMEAÇAR.

Pare de dizer a si mesmo:


“Às vezes, eu só quero adverti-lo de que está passando dos limites".
"Você não vai falar comigo dessa maneira, e se continuar, vou embora e não volto mais. Eu não levo
desaforo pra casa. Você vai ver do que sou capaz de fazer, se me destratar novamente."

Ameaças sempre implicam em ideias como: Vou abandoná-lo ou machucá-lo. Mesmo


ameaças sutis causam estragos em termos de medo de abandono no parceiro. Um diálogo típico de

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ameaças pode ser: Justin depois de trabalhar duro o dia inteiro na fábrica de refinaria, antes de voltar
para casa, parou numa praça para falar com uns amigos. Heather sua namorada, ficou chateada
porque ele não telefonou. Justin "Olá, querida, eu já cheguei em casa.
Heather: Onde você esteve
Justin: Eu estava trabalhando tarde e depois parei para conversar com uns amigos.
Heather: Certo, você estava trabalhando até tarde e parou para conversar com amigos que não sei
quem são... Você a está vendo de novo?
Justin: Quem?
Heather: Sua namorada. Justin: Que namorada? Minha namorada é você. Não estou vendo ninguém
além de você. Nunca namorei ninguém desde que nos conhecemos.
Heather: Eu não acredito em você.
Justin: Querida, eu realmente a amo, e lamento que você não confie em mim. Eu sei que deve ser
difícil para você ter essas suspeitas. O que posso fazer para ajudar? Vamos ver até onde aguento.

Algumas mulheres podem ficar ainda mais inseguras com a pergunta debochada de Justin, e
sentirem ainda mais raiva e medo de abandono. O que diríamos para Justin: Se ela duvida de você,
então a convença. Não é hora de sarcasmo.
Justin poderia fazer com que Heather se sentisse mais segura, se não usasse do deboche, que
só serve para aumentar a raiva e medo do abandono. As ameaças podem ser claras e diretas, ou
implícitas em atitudes não acolhedoras.
Justin: Eu não posso mais aguentar essas suspeitas. Estão me deixando louco. Eu preciso sair desse
relacionamento. Se ela não confia em mim, eu vou sair. Talvez então eu encontre alguém que confie.
Em vez de usar ameaças, Justin poderia lembrar os comportamentos de abstenção (EVITES)
para controlar sua raiva. Assim, ele diria:
Justin: “Querida, eu te amo muito e lamento que você não confie em mim”. Eu sei que deve ser difícil
para você ter essas suspeitas. Nunca mais vou deixar de lhe avisar se eu me demorar em algum lugar,
pois você nunca age assim comigo. Além disso, é você que eu quero e nunca terei outra namorada.
“Heather sentiu-se mais segura, se acalmou e eles ficaram bem”. Se Justin tivesse agido da segunda
forma, sem deboches e ameaças, a insegurança, a raiva e o medo de Heather jamais aumentariam,
e não haveria qualquer indisposição. Precisamos nos monitorar. Precisamos parar de usar ameaças
explícitas e implícitas.

9-PARE DE APONTAR.

Pare de dizer a si mesmo


“Eu estava apenas tentando chamar sua atenção.”
“Eu nem percebo quando aponto o dedo ou acuso alguém”. Isto é algo natural para mim.

Apontar um dedo para alguém é geralmente, um comportamento inconsciente. Nós, raivosos,


precisamos pedir aos nossos parceiros, familiares e amigos que nos avisem quando fizermos isso. Em
RA, os membros se conscientizam aos poucos deste comportamento. Em vez de apontarmos para a
outra pessoa, precisamos olhar para nós mesmos. É fisicamente verdade que quando apontamos um
dedo a alguém, os outros três dedos apontam para nós e o polegar aponta para cima, ou melhor,
aponta para o Poder Superior.
Por isso, deveremos identificar nosso comportamento assim que ele começar, seja na forma
de acusações, seja na forma física do apontamento. Quando um companheiro faz sinal com a mão

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de que vai apontar, diremos “Não aponte!”. Muitas vezes, ele abaixa esta mão, e sem perceber,
levanta a outra mão, e então diremos: Não aponte mesmo!

10-PARE DE GRITAR, AUMENTAR A VOZ OU FALAR EM TOM ÁSPERO.

Pare de dizer a si mesmo.


"Gritar é a única maneira de chamar sua atenção e deixá-la saber que eu estou falando sério.”
“Não estou gritando. Ela que não está ouvindo. Se ela simplesmente escutasse, eu não teria que
gritar.”

Como outros comportamentos autodestrutivos, aumentar nossa voz ou gritar contribui para
alimentar nossa raiva. Como apontar os dedos, às vezes nós ignoramos o quão alto estamos falando.
Em primeiro lugar, devemos nos conscientizar desses comportamentos. Em uma escala de 0-10 (zero
é igual ao silêncio), quando levantamos a voz para 3 ou 2, faz-se mister que isto comece a chamar a
nossa atenção. Mas como saberemos se será 2 ou 3? Podemos pedir às pessoas de nosso convívio
que nos avisem disso. É importante pedirmos aos nossos parceiros, membros da família, amigos e
colegas de trabalho, que intervenham assim que começarmos elevar o nosso tom de voz. (Se
tivermos intimidade para tanto). Eles podem dizer algo como "Você está começando a elevar sua voz.
Por favor, fale mais baixo." Como raivosos, a nossa resposta apropriada deve ser: "Você está certo.
Obrigado por avisar." Ter pessoas que possam nos servir de “termômetro” para quando elevarmos
nossa voz nos ajudará a perceber e controlar o nosso comportamento. Isto se torna um mecanismo
externo de defesa contra a raiva, em nosso processo de recuperação. Phil e Nancy estavam sentados
na mesa da cozinha, discutindo como pagar suas contas. Ele começou a ficar nervoso ao perceber
que não conseguiriam pagá-las, sem ter que fazer um empréstimo.

Phil: Estou muito preocupado, pois não sei como vamos fazer para pagar as contas este mês.
Nancy: Nós iremos dar um jeito.
Phil: Como assim, você diz que iremos dar um jeito? Não temos dinheiro. Se você não tivesse
comprado tantas roupas, não estaríamos passando por esta situação.
Nancy: Pare de gritar comigo!
Phil: Se você me ouvisse, eu não teria que gritar.
Phil (recompondo-se): Você está certa. Obrigada por me avisar.

Além disso, pare de dizer a si mesmo:


"Ei, do que ela está falando? Não estava gritando!". É assim que eu normalmente falo. Se ela quisesse
um cara que falasse baixo, ela deveria ter se casado com um. Esse certamente não sou eu.”

O "tom áspero" é uma questão importante, mas difícil de ser entendida pelos raivosos.
Muitas vezes, dizemos as pessoas irritadas que ingressam em RA, que elas pensam que se
inscreveram para uma corrida de uma volta só no quarteirão. Elas correm uma volta, cantam vitória,
apenas para serem informados pelo árbitro que esta é uma corrida de 4 voltas. Há mais três voltas
para se correr. O que queremos dizer é que muitos membros de RA trabalham muito durante vários
meses para conter seus gritos e acusações, e depois escutam de seus entes queridos: Você não está
em recuperação, pois não melhorou nada. Continua um grosseirão!

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Interrompermos os comportamentos irritadiços não é suficiente. É necessário, mas não
suficiente, ter um casamento feliz. Certa vez, a esposa de um membro de RA, disse aos outros, no
término de uma reunião:
Esposa: "Ele não está nada melhor".
Marido: “Querida, eu estou há três meses sem falar palavrões, sem atribuir nomes, sem explodir e
sem aumentar a minha voz”. Não bati na parede, nem joguei objetos e nem te ofendi. Do que você
está falando?
Um companheiro: Eu lhe parabenizo pela prática desses evites, porque eu sou seu companheiro, e
eu sei que você mudou. Também sei que tem sido um trabalho árduo, mas ainda há coisas que fazem
a sua esposa se sentir muito ferida. E pode ser muito difícil para você entender.
Esposa: Ele ainda fala comigo em um tom áspero, com uma voz desanimada, e isso me machuca
muito.
Marido: Um tom áspero, uma voz de desânimo? Eu não sei do que você está falando.

Nossos parceiros e familiares podem se magoar quando ouvem um tom áspero ou


desanimado. Mesmo nos abstendo dos comportamentos mais óbvios da raiva, parar de falar, ir
embora, ou mesmo não gritar, as pessoas podem achar que as desprezamos ou mesmo as odiamos,
apenas pelo tom da nossa voz. Este é um conceito difícil de entendermos, porém muito importante.
Nós o apelidamos de outras três voltas da corrida no quarteirão. São "tons significativos" que podem
danificar nossas relações, tão quanto gritos, brigas e qualquer outra forma de discórdia. Assim,
devemos incluir em nossa lista de evites, não conversarmos com os outros em um tom desanimado,
áspero ou severo. O desgosto, o desdém e o ódio podem ser identificados facilmente, pelo tom de
nossa voz.

11-PARE DE SER SARCÁSTICO. PARE DE ZOMBAR.

Pare de dizer a si mesmo:

"Ela não entende que estou apenas brincando".


"Ela não tem senso de humor. Esse é o verdadeiro problema".

As pessoas sarcásticas são boas para fazer boas matérias, críticas e reportagens na internet
e mídia, mas são péssimos para manter um casamento na vida real e ter uma vida familiar feliz. Em
outras palavras, sua vida pessoal possui uma baixíssima qualidade. Quando os atores deixam o palco
depois de fazer suas observações sarcásticas, eles precisam voltar aos seus camarins, e encarar as
consequências. Muitas vezes, não percebemos quanta dor nossas observações infelizes e sarcásticas
causam. Minimizamos o impacto de nosso sarcasmo. Em recuperação, evitamos fazer piadas em
relação às qualidades e defeitos de nossos parceiros, amigos, colegas de trabalho e familiares.
Enquanto visitava seus pais, Janete (uma gastadora compulsiva) recebeu um presente de sua
avó. Era um belo colar que pertencia a sua bisavó. Para mostrar sua apreciação, Janete ligou para sua
avó para agradecer.
No passado, Janete penhorava joias que ganhava de presente para conseguir pagar suas
contas. Sabendo disto, enquanto toda a família estava sentada ao redor de Janete admirando o colar,
seu pai comentou: "Aposto que assim que você terminar este jantar irá sair daqui cantando os pneus
até a casa de penhor mais próxima!". Todos na mesa riram inclusive o marido e a mãe de Janete.

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Com raiva, Janete levantou-se da mesa e foi embora. Ficou tão chateada que não voltou para revê-
los durante um ano.
O sarcasmo é uma maneira de expressar a nossa raiva em forma de humilhação.

Além disso, pare de dizer a si mesmo:


“Eu estava apenas tentando mostrar a ele o que parece quando erra no trabalho o tempo todo”.
“Essa é a maneira que eu tenho para deixá-lo saber quando está me irritando demais”.

Tendo um problema de longa data com a raiva, Robert tinha muito ciúmes de sua esposa. Ele
fantasiava constantemente, que ela estava flertando com quase todos os homens que ela via. Robert
ficava particularmente chateado, quando pensava que Rachel estava flertando com os homens pelo
telefone. No trabalho, antes de ir para casa, ele ligou para o celular dela, e ficou ainda mais irritado
e ciumento, quando viu que estava ocupado, pois ela estava falando com alguém, e ainda por cima,
não atendia sua chamada na espera. Quando ele chegou disse:
Robert: Oi. Cheguei.
Rachel: Oi, querido. Como foi o seu dia?
Robert: Com quem você estava falando no telefone?
Rachel: Estava falando com um amigo.
Robert: Por que você não atendeu quando ouviu a ligação em espera? Você estava numa conversa
extremamente importante?
Rachel: (rindo) Por quê? Você está com ciúmes? Eu só estava conversando com o George.
Robert: (zombando da risada de Rachel)"Yee, hee, eu só estava conversando com Georgeee.”
(Rachel não gostou da postura de Robert, e se sentiu muito humilhada, enojada e envergonhada).

Zombar é um dos comportamentos mais cruéis que podemos ter. Como será que nos
sentiríamos ao sermos ridicularizados por alguém que amamos? O ato de zombar e o sarcasmo, são
atitudes muito destrutivas em um relacionamento, seja ele qual for. São muito dolorosos para quem
os escuta.

12-PARE DE JOGAR COISAS, BATER PORTAS OU SOCAR PAREDES.

Pare de dizer a si mesmo:

“Não estou machucando ninguém. É apenas uma maneira de desabafar. Pelo menos, não quebro
mais as coisas como costumava fazer. Agora extravaso arremessando travesseiros”.

Precisamos parar de jogar coisas como travesseiros, chaves e outros objetos. Qualquer objeto,
incluindo camisas, jaquetas e roupas íntimas também não deverá ser jogado. Lançar é um ato
agressivo que é percebido como ameaçador e intimidante por aqueles que nos rodeiam. Jogar coisas
inofensivas é tão prejudicial quanto lançar objetos pesados, pois alimenta ainda mais a nossa raiva e
a dos outros. Não deveremos jogar nada com raiva.

Também pare de dizer a si mesmo:


“Bater portas é apenas minha maneira de deixá-la saber que eu realmente quero ficar sozinho”.

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"Por que alguém vai se sentir ferido, se eu liberar minha raiva um pouco, dando um soco na parede?
Esta, com certeza, não sentirá coisa alguma”.

Bater a porta funciona para nós, como “a última palavra.” Iremos a chegar às últimas
consequências, se não cuidarmos de nossa doença. Em primeiro lugar, usamos de xingamentos com
quem “nos irrita”, e depois batemos a porta, para intimidá-los. Esperamos mais um segundo, então
abrimos a porta novamente, apenas para batê-la de novo, com o mesmo intuito. Estas ações
destrutivas alimentam a nossa raiva. Em segundo lugar, tais atitudes representam uma boa maneira
de enfurecer os outros, alimentando a raiva deles também. Maneira melhor não há de se fugir da
paz e equilíbrio emocional.

Jason tinha problema com a raiva, de longa data e aprendeu cedo a gostar do "efeito" de
bater portas. Certa vez, uma simples conversa com sua esposa, Marlene, a respeito de quem seria
responsável por lavar os pratos naquela noite, resultou em uma explosão.
Jason: Não vou lavar a louça esta noite.
Marlene: Mas hoje é a sua vez.
Jason: Não, eu lavei uma vez a mais na semana passada.
Marlene: Então não irei cozinhar amanhã à noite.
Jason: (encaminhando-se para a porta): Marlene, você está agindo como um verdadeiro bebê. Seu
comportamento é estúpido e infantil.
(Jason sai e bate na porta. Poucos segundos depois, ele volta à sala e grita: Você é uma egoísta,
centrada em si mesma, parece uma “rainha bebê”! Amanhã nem virei para casa, você vai ver)!

Novamente, ele saiu da sala e bateu a porta ainda mais forte. Marlene, considerando o seu
comportamento errado demais para suportar, o seguiu gritando:
“Não estou nem aí, seu preguiçoso. Eu não cozinho mais para você, e de hoje em diante, jantará na
rua!”

Ao ingressar em RA no dia seguinte, por indicação de um amigo, Jason, muito triste, contou o
ocorrido e exclamou:" Eu não sei o que há de errado com Marlene. Ela me seguiu até a garagem,
gritando e me envergonhou diante de nossos vizinhos. Marlene é realmente a pessoa com o
problema da raiva. Só o que fiz foi bater a porta. Não faço ideia porque ela ficou tão alvoroçada.”
Bater portas mantém nossa raiva acesa, e acabamos extraindo dos outros, o seu pior.

13-EVITE SEGURAR ALGUÉM COM RAIVA.

Pare de dizer a si mesmo:


"Ela estava fora de controle. Eu estava apenas segurando-a na cama para que ela pudesse se
controlar."
“Eu estava me defendendo, pois ela tentou me dar uma bofetada.”

É inaceitável para nós, RA em recuperação, segurarmos ou sequer, encostar-se a alguma


pessoa, quando estamos com raiva, incluindo qualquer tipo de toque agressivo, como empurrar ou
segurar. Também é uma má ideia. Isso é violência doméstica. Podemos acabar na cadeia. Ed e Carol

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começaram a brigar, quando descobriu que ele não estava pagando o condomínio há tempos, e
estavam quase perdendo o imóvel. Depois de gritos e mais gritos, Carol ficou tão fora de si, que
agrediu Ed. Segundo ele, ele a segurou na cama para ajudá-la a recuperar o controle. Quando os
vizinhos chamaram a polícia, seguiu-se o seguinte diálogo:
Policial: O que está acontecendo aqui?
Carol: Ele me atacou.
Ed: Isso não é verdade. Eu a segurei na cama, para que ela pudesse recuperar a compostura. Eu só
estava tentando ajudá-la.
Carol: Veja como ele me machucou. Olhe para meus braços negros e azuis. Isso está me ajudando?
(Depois de observar as contusões no braço de Carol, o policial prendeu Ed, que foi acusado de
violência doméstica. Ele não se emocionou com a tentativa de Ed de "ajudar" Carol. Ed feriu a lei, ao
restringir fisicamente sua esposa).
Não toque, segure, empurre alguém com raiva. O toque agressivo é um crime, e o nosso fim
será a cadeia, se não pararmos agora com esses comportamentos.

14-PARE DE JUSTIFICAR A RAIVA E DE SE VANGLORIAR".

Pare de dizer a si mesmo:

"Eu só queria que você entendesse o que realmente aconteceu."


“Eu fiz muito bem, considerando que fui provocado.”

"Histórias heroicas" são histórias que contamos sobre como perdemos a paciência, ou
justificativas sobre termos feito uma observação. Quando contamos novamente a história, isso nos
faz exaltar nossas atitudes. Raramente contamos essas histórias com vergonha, mas com orgulho. “É
como se estivéssemos esperando que a nossa audiência nos aclamasse como um herói”. Isso nos traz
a mais falsa sensação de poder que poderíamos ter. Devemos entender que a raiva é a base dos
fracassados, pois nada além de fracassos, perdas, doenças e isolamento, ela nos trouxe.
Muitas vezes, nos flagramos falando palavrões ao contar nossa história. Vangloriarmo-nos, ou
seja, “contar histórias heroicas” é como recair duas vezes em nossa recuperação. Perdemos o nosso
propósito, pois ressentimos e vivenciamos novamente o acontecimento, e recebemos uma
aceleração de adrenalina, e desencadeamos a compulsão. Algum tempo depois, seremos capazes de
conta-la a mais uma pessoa, para continuarmos a nos drogar de raiva.
Certa noite, estávamos em uma reunião de RA, quando um homem chamado Larry decidiu
ingressar. Em seu depoimento, contou que um dia, começou a gritar e usar de xingamento com sua
esposa, ameaçando-a de morte. Quando acabou, sua esposa o deixou, e tempos depois, ela casou-
se novamente, com outro homem, respeitoso e pacífico. Ele começou a descrever ao grupo, as
ameaças que fez ela ao telefone, e ao seu novo parceiro. Tratava-se de uma história heroico sobre o
quão ruim, temível e corajoso Larry era. Quando acabou de contar, com uma expressão raivosa,
agradeceu a oportunidade de estar lá. Em seguida, foi dada a palavra a um antigo e sábio
companheiro. Ele sugeriu a Larry que colocasse os cotovelos sobre os joelhos, suavizasse o olhar, e
falasse sobre como ele realmente se sentia. Depois de um breve silêncio, Larry começou a soluçar,
pois estava triste e como ele mesmo confessou, estava morrendo por dentro. Atrás da história do

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herói não havia um guerreiro, mas um homem com grande dor e angústia pela perda de um grande
amor.

As histórias heroicas que contamos, apenas alimentam nossa raiva, fazendo-nos parecer maiores
do que realmente somos. Elas escondem, muitas vezes, a nossa dor, angústia e medo. Quando um
padrinho de RA percebe que seu afilhado está irritado ao relatá-lo uma história, ele o diz: Preciso
interrompê-lo, porque isso está me parecendo uma história heroica. Em vez de me contar o que sua
esposa e filhos fizeram, respire, amanse sua raiva, e apenas conte o que você fez de errado e, o mais
importante: o que poderia ter feito de uma maneira diferente.

15-PARE RECLAMAR, SUSPIRAR, OU REVIRAR SEUS OLHOS.

Pare de dizer a si mesmo:

"Bom, é desanimador ouvir sua queixa o tempo todo".


“Gosto muito de você, mas lhe acho uma pessoa muito difícil! Por que não toma jeito?”

Todos nós sabemos que uma hora ou outra, iremos acabar com o bom do amor, se nós
continuarmos a reclamar incessantemente. Ninguém aguenta um reclamador de plantão, seja no
trabalho, em casa, ou num curso. Todos percebem quem tem tendência a reclamar, e quem tem a
tendência a agradecer. Parecem estes dois tipos de pessoas ter vindo de planetas diferentes. Os que
reclamam estão sempre com raiva, impacientes, tristes e deprimidos. Geralmente, não são bem
sucedidos em nenhuma área da vida e possuem uma fé que não funciona. Acostumamos a perder
mais do que a ganhar. Já as que agradecem, costumam ser otimistas, de bem com a vida, e o Universo
parece querer retribuí-los com bênçãos infinitas. Por isso, a famosa expressão, “Um coração
agradecido nunca encontra tempo para reclamar”.
Nós, raivosos em recuperação, devemos nos abster por completo das reclamações, pois “uma é
pouco e mil não bastam”, quando começamos a reclamar, nada nos faz parar.
Outro comportamento para abster-nos, é usar vários tipos de suspiros. Esses sons são, muitas
vezes, uma maneira de expressar nossa raiva, desgosto ou desaprovação.
Os suspiros também podem aquecer um argumento, especialmente se formos excessivamente
sensíveis ao humor, um do outro.
Missy: Vamos ao cinema esta noite? Eu realmente preciso sair da casa.
Carl: (suspirando): O que você quer ver?
Missy: Você nunca quer ir a lugar nenhum. Tudo o que você quer é se jogar neste sofá, e assistir a
televisão.
Carl: Eu disse que aceito ir ao cinema. Qual é o seu problema?
Missy: Seu suspiro me diz que você realmente não quer ir. Você está apenas fazendo isso para me
acalmar. Eu não quero arrastá-lo para qualquer lugar. Eu simplesmente irei sozinha.
Carl: Não estou suspirando porque não quero ir ao cinema, mas porque estou cansado.
Missy: Sei, sei.

Os suspiros podem facilmente, ser confundidos pela outra pessoa como expressão de
sentimentos negativos. Eles também podem ser uma maneira de expressar raiva. Se você tem
adolescentes em sua casa, está familiarizado com as técnicas que eles usam para expulsar seus pais
do quarto, por exemplo. Uma conversa típica pode ser assim:

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Pai: Você vai tirar o lixo?
Adolescente: Tsc, tsc.
Pai: O que você disse?
Adolescente: Nada não.
Pai: Não me faça esses sons.
Adolescente: Que sons? Por que você está ficando tão chateado? Eu não disse nada.

Essas respostas explosivas não verbais expressam hostilidade. Mais e mais pesquisadores
estão descobrindo que os casais expressam a maior parte da hostilidade entre si de maneiras não
verbais, e são tão importantes quanto aquilo que dizemos. As respostas não verbais aumentam a
raiva em ambas partes. Eles devem ser reconhecidos, evitados e parados.
Revirar os olhos para cima pode causar o mesmo efeito. Por exemplo, David e Leah
convidaram algumas pessoas para um jantar em sua casa. Durante a conversa no jantar, Leah contou
de sua última viagem à França, esquecendo que já tinha contado para o mesmo casal, na semana
passada. Temendo que os convidados se aborrecessem, David revirou os olhos quando anunciou que
iria pegar o álbum de fotos. Quando os convidados se foram, David perguntou a Leah se ela gostou
da noite.
Leah: Não, me senti muito mal.
David: Por quê?
Leah: Você me envergonhou e humilhou.
David: Como?
Leah: Você não sabe? Não se lembra de revirar os olhos para cima, quando eu disse para você pegar
o álbum de fotos?
David: Querida, eu só estava brincando.
Leah: Brinque assim com outra pessoa, pois eu não achei a menor graça. Nunca mais me humilhe e
me embaraça assim na frente das pessoas.
(Podemos comunicar o desgosto e a ira de forma não verbal, ao revirar nossos olhos).

16-PARE DE CRITICAR E TENTAR AJUDAR QUANDO NÃO FOR SOLICITADO

Pare de dizer a si mesmo:

“Como não vou reclamar deste leite cheio de gordura? Ela não poderia ter comprado o desnatado,
se já sabe que não gosto deste? Agora terei que comer esta porcaria.”

“Mas ele é mais burro do que uma porta, consertou o armário que nem a cara dele. Como não chama-
lo a atenção?”

Não somos pessoas que podem e devem criticar. Longe disso, reconhecemos ser totalmente
incapazes de fazer a primeira crítica. Em poucos instantes, uma observação construtiva poderá se
transformar em ofensas inacreditáveis. Somos adictos à raiva, e precisamos mantê-la em um sono
eterno, praticando seus evites, um dia de cada vez. Isso nos faz lembrar uma companheira de RA,
que também pertencia a Alcoólicos Anônimos. Certa vez, ela nos contou, que sempre em seus
depoimentos em AA, dizia que costumava levar às reuniões, o “seu bebê para não beber.” Ela
equiparava a doença do alcoolismo a um bebê (“de Rosemary”), o qual colocava para dormir, um dia

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após o outro. Se ele acordasse, iria fazê-la beber novamente. Podemos equiparar esta história com
a doença da raiva. Se ela acordar, não nos responsabilizaremos por nossas palavras e atitudes. Uma
mágoa, sentimentos de frustração ou mesmo uma simples irritação poderão surgir rapidamente e se
transformarem num impulso invencível.
Dito isso, sugerimos aos novos companheiros tentarem passar uma semana inteira sem
criticar a ninguém. Nenhuma espécie de crítica, nem mesmo a moral. Não falaremos nem mesmo
sobre o que consideramos que os outros poderiam ter feito de outra maneira. Não daremos
conselhos quando não forem pedidos.
Pessoas com problemas de raiva normalmente acreditam que foram nomeados por Deus
para consertar as pessoas, e endireitar todos os problemas do mundo. Deve ficar claro agora, que
não é nosso trabalho mudarmos os outros, apontando-lhes o que estão fazendo de errado.
Em vez disso, acreditamos que Deus tenha nos trazido a RA para que entendêssemos a
importância de aprendermos a aceitar e apreciar os outros como são. Aprendermos a amá-los
inclusive com seus defeitos. Aprendermos a nos abster de criticá-los sob qualquer circunstância.
Aprendermos a tecer elogios e a expressar nosso amor, diariamente, aos nossos cônjuges.
Aprendermos a beijar nossos pais, e a vê-los como o maior instrumento de Deus neste mundo, pois
foi o canal que nos possibilitou migrar para este mundo. Aprendermos a amar o nosso próximo,
respeitando seu tempo de evolução com paciência, pois sabemos que eles foram, por muitas vezes,
pacientes conosco.
Após conseguirmos passar uma semana sem ir à primeira crítica, já saberemos o que fazer em
seguida: partiremos rumo à segunda semana!

Também pare de dizer a si mesmo:


"Se eu não criticá-la, como ela saberá que está fazendo algo errado?"
“Você quer dizer que eu não posso expressar nenhum dos meus sentimentos”?

Só por hoje, não daremos conselhos, se não forem solicitados. Muitos adictos à raiva pensam que
é seu dever ajudar seus parceiros e familiares a melhorar, apontando-lhes suas falhas. Parar esse
comportamento em nós mesmos exige uma mudança dramática em nossos valores, algo que
discutiremos mais adiante.
Jack e Suzanne se casaram há 10 anos, e experimentaram conflitos conjugais na maior parte desse
tempo. Suzanne saturada de tudo sugeriu a Jack, que os dois ingressassem em R.A., para tentar salvar
a relação, o que Jack aceitou. Durante a reunião, Jack, saiu da sala para Suzanne dar o seu
depoimento, conforme foi sugerido para casais, em R.A.
Suzanne: “Estou cansada de Jack me criticar o tempo todo”. Na noite passada, eu estava cortando o
repolho para o jantar. Jack caminhou até a cozinha, e criticou minha maneira de fazê-lo. Ele me disse
que eu deveria cortá-lo de forma diferente.
Ao acabar a reunião, o padrinho de Jack, ao ouvir sua versão da história, o perguntou: Jack, você
desistiria de criticar o corte do repolho para salvar seu casamento?
Jack: Eu estava apenas tentando ajudá-la. Não é um dever meu ajudá-la a se tornar uma cozinheira
melhor?
Padrinho: Não é seu dever ajudá-la em nada em que ela não peça ajuda. Se Suzanne quisesse ajuda
para se tornar uma cozinheira melhor, certamente a pediria a você. Sei que você acha que a sua
crítica expressa seu amor e preocupação, mas Suzanne não vê desta maneira, mas apenas como uma
crítica. Não é nossa função na vida, apontar o que os outros estão fazendo de errado.

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17-EVITE DIRIGIR FURIOSO

Pare de dizer a si mesmo:


“Olha só como esse ruim de roda me cortou. Agora vou cortá-lo e ele vai ver!”
“Só disse xingamentos e mostrei meu dedo obsceno porque ele é um burro irresponsável e poderia
ter causado um acidente. A culpa é toda dele e não sou de ferro!”

Uma expressão de R.A. deve ser gravada urgentemente, em nossa mente: “O NOSSO MODO DE
AGIR LÁ FORA É O QUE IRÁ ESTRAGAR AQUI DENTRO!” Toda e qualquer palavra ou ação que usamos
fora de nossas casas são o que irão destruir nossas famílias. Estes dois mundos estão completamente
interligados. Nossa doença de adicção à raiva influencia cada momento, cada palavra e cada atitude
nossa, prejudicando todas as áreas de nossas vidas. Assim, o nosso jeito de dirigir e nos portar no
trânsito é apenas um reflexo da nossa raiva. Nada mais. A culpa não é dos outros. Assim, não teremos
a ilusão de conseguir nos abster de expressar a nossa raiva em casa, se dirigirmos até lá com uma
mão no volante, e a outra na janela, mostrando o dedo médio para os outros. Faz-se mister nos
prepararmos para voltar em paz para nossos lares. E antes disso, deveremos também, nos preparar
para chegarmos ao trabalho em paz, e assim, sucessivamente.
Essa pode ser a primeira evidência tangível de que podemos mudar.

“Quais são as diretrizes para a condução, quando estamos em recuperação”?


1. Dirija sempre dentro do limite de velocidade.
2. Se ultrapassarmos o limite de velocidade por mais de 5 minutos, deveremos mantê-lo nos
próximos 10 minutos.
3. Não segure o volante com raiva.
4. Uma vez que o outro motorista o veja, pare de buzinar.
5. Pare quando o sinal estiver amarelo.
6. Se alguém quiser passar sua frente, deixe-o. Evite o contato com os olhos quando outro motorista
estiver com raiva.
7. Não faça comentários críticos sobre a condução de outra pessoa.

18-PARE DE FOFOCAR

Pare de dizer a si mesmo:

“Eu precisava desabafar com alguém.”


“Contei só para ela, que me prometeu não contar a mais ninguém.”
“Não foi fofoca, só quis alertá-lo sobre certa pessoa.”

A fofoca é a exacerbação de nosso ego à custa de outrem. Não haverá a recuperação da


adicção à raiva, se não nos abstermos da fofoca completamente. Esta representa outra grande
adicção, que se aliada à raiva, é causa de destruição total. Quando Pedro me fala de Paulo, fico
sabendo mais sobre Pedro do que de Paulo. Todos percebem as intenções do fofoqueiro. Todos o
reconhecem como fofoqueiro e malfeitor. O fofoqueiro acaba seus dias no maior dos abandonos. A
fofoca alimenta o vício de raiva, a raiva alimenta o vício da fofoca.

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O que dizer àqueles que querem nos contar uma fofoca?
1.Quando esta for sobre nós, podemos dizer-lhes:
Prefiro que não me conte nada, e se fizer tanta questão assim, pergunte a esta pessoa, se ela permite
que me conte essa história. Na grande maioria das vezes, o mal feitor não é quem falou de nós, mas
quem vem trazer a notícia para nós.
2.Quando esta for sobre os outros, podemos dizer-lhes:
Prefiro não falar desta pessoa que não está aqui presente para se defender. Obrigada!

Ex: Paula, colega de faculdade de Eveline, disse a ela que queria contar-lhe uma fofoca sobre Tamine,
mas pediu para lhe prometer que não contaria para ninguém.
Paula: Eveline, você não vai acreditar no “babado” que tenho para contar sobre Tamine!
Eveline: Conta logo, amiga, estou curiosa. Prometo não contar a ninguém!
Paula: Contaram-me que Tamine dormiu com um garoto que conheceu na festa que fomos no
sábado, e que ele nem telefonou para ela no dia seguinte. Veja só como ela é fácil!
Eveline: Paula fui eu que te contei esta história, e você me jurou que não contaria a ninguém.
Esqueceu?

“QUE VENHAM OS EVITES!”

As simples técnicas de abstinência descritas neste capítulo são difíceis e muitas vezes dolorosas
no início. Quando as pessoas ingressam em R.A., ao praticarem os “evites da raiva”, percebemos as
mulheres deprimidas tornarem-se com o tempo, muito felizes e aliviadas. Sua saúde física é
geralmente, restaurada. Os homens, no entanto, sofrem uma abstinência difícil e dolorosa da raiva,
durante os primeiros meses. No entanto, a prática da abstinência é eficaz para eliminar a raiva
doentia e suas explosões, para ambos os sexos. Reduzem demais o stress e o vício de sofrimento.
Mas as recompensas vindouras nos nossos relacionamentos e em nossa vida profissional farão valer
o esforço. Priorize os evites como a coisa mais importante em sua vida, assim como a alcoólico faz
em relação ao primeiro gole, e conhecerá uma vida que jamais sonhou existir!

PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DE R.A. PARA A PAZ, FELICIDADE E MUDANÇA PERMANENTE.


Pare de dizer a si mesmo:
“Eu disse “eu te amo”. Isso não é bom o suficiente”?
“Eu parei com a raiva. Isso não é bom o suficiente”?

Parabéns para aqueles de nós que pararam de ser raivosos. Isso pode ser bom o suficiente e
isso pode ser tudo o que precisávamos fazer. Alguns membros de RA, no entanto, descobrem que
podem se abster por um tempo, mas então voltam aos seus velhos comportamentos. Alguns de nós
podemos achar que a abstenção dos 15 comportamentos descritos no primeiro capítulo seja o
suficiente para levá-los de volta para casa ou para suspender o processo de divórcio. Talvez tenha
sido suficiente para muitos aprenderem a evitar os gatilhos da Raiva, e agora decidirem parar de

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frequentar as reuniões de RA e de levar a mensagem aos raivosos compulsivos que ainda estão
sofrendo. No entanto, muitos de nós encontramos dois grandes motivos para pensar diferente:
1. Entendemos que a adicção à raiva é uma doença incurável, assim como qualquer outro vício.
Assim, a manutenção do tratamento através da frequência de reuniões e prática dos 12 passos torna-
se indispensável para que continuemos abstêmios. 2. Podemos querer mais do que simplesmente
nos abstermos da raiva. Podemos querer um casamento feliz ou encontrar um nível de felicidade
mais profunda do que já sonhamos ser possível.

Alguns membros de RA acabam sendo gratos pela crise que os trouxe à irmandade, porque a
maneira como estavam vivendo suas vidas antes não estava funcionando de maneira alguma.
Este capítulo convida-nos a olhar para dentro de nós mesmos e examinar os valores pelos
quais vivemos nossas vidas até agora. Uma mudança de valores nos permitirá manter as mudanças
que já fizemos, sem todo o esforço que talvez estejamos exercendo agora. Os 20 princípios a seguir,
se praticados, irão prevenir até a irritação mais leve de surgir.
Começamos com a abstenção, o que pode trazer mudanças rápidas de fora para dentro. Crer
em um novo conjunto de princípios fará com que nossa recuperação funcione de dentro para fora, e
poderá sustentar as mudanças que fizemos até aqui. Nós, adictos à raiva, fomos criados com
princípios ou valores que podem funcionar contra nós no desenvolvimento de uma vida feliz, e de
uma convivência familiar feliz. Muitos dos princípios nos quais operamos nos impedem de ter uma
sensação de paz, regozijo e prazer na vida. Neste capítulo, discutiremos alguns dos princípios
espirituais universais comuns a todas as principais tradições espirituais e religiosas, e como eles
podem se aplicar especificamente a pessoas com problemas de raiva.

Conversa com uma pessoa raivosa, sobre Deus:

Vamos falar aqui, sobre diferentes valores nos quais podemos basear o nosso
comportamento, e que nos levarão a um casamento mais feliz, felicidade no trabalho e mais paz
interior. Diremos a você, (raivoso em recuperação), algumas coisas sobre um Poder Superior; ou
Deus, se assim preferir:
A única coisa que precisa saber sobre Deus para praticar esses princípios espirituais é que
"Você não é Ele". Esses princípios podem ser entendidos e aplicados por ateus, agnósticos ou pessoas

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de qualquer religião. A fim de dar espaço a essas mudanças, nós, pessoas raivosas, devemos perceber
que não controlamos o universo.
Entender que não deveríamos estar dirigindo o show é um grande passo adiante e uma
profunda mudança espiritual que é mais fácil de ser dita do que feita. Embora possamos falar de
valores espirituais, a maior parte do comportamento raivoso baseia-se no princípio de "Minha
esposa, as crianças, outros motoristas e colegas de trabalho que devem fazê-lo da maneira certa
(minha maneira)". O mundo não foi configurado para que nós tenhamos nossos caminhos. É claro,
nós não queremos que nossa esposa tenha um caso amoroso com outra pessoa. Nós não queremos
que nossos filhos usem drogas. Nós não queremos perder nossos empregos. Nós não queremos que
nossa mãe tenha Alzheimer. Podemos ter alguma influência em alguns desses eventos, mas não
temos influência absoluta sobre praticamente nada.
Esse conceito subjacente de renunciar-se como o governante do universo é básico para os
princípios que se seguem.
Há mais de 80 anos, os grupos de Alcóolicos Anônimos defenderam o uso de princípios
espirituais para superar vícios e seus defeitos característicos. O livro intitulado “Alcoólicos
Anônimos”, publicado originalmente em 1939, aceita a espiritualidade como fator fundamental para
a mudança: “Foi uma ótima notícia para nós, pois assumimos que não poderíamos usar princípios
espirituais, a menos que aceitássemos muitas coisas sobre a fé que pareciam difíceis de acreditar.
Quando as pessoas nos apresentavam abordagens espirituais, com frequência dizíamos: "Eu gostaria
de ter o que esse homem tem. Tenho certeza de que funcionaria, se eu pudesse apenas acreditar
como ele acredita. Mas “não posso aceitar com certeza os muitos artigos de fé que são claros para
ele. Por isso, foi reconfortante saber que poderíamos começar em um nível mais simples”.
Esta literatura é projetada como um recurso inter-religioso amigável que não compete ou
entra em conflito com suas opiniões religiosas; em vez disso, pode enriquecer e animar suas crenças,
e ajudá-lo a aplicá-las ainda mais efetivamente em sua vida cotidiana. Bo Lozoff, que passou uma
vida útil ajudando os presos a aplicar princípios espirituais universais para suas vidas, escreveu um
livro intitulado “Profundo e Simples: Um caminho espiritual para tempos modernos”. Nele, este autor
resume as grandes tradições religiosas, em uma pequena e linda expressão: “O Universo a tudo
enxerga, então seja gentil!” eis o trecho:
“Tenho grande afeição pelas escrituras religiosas do mundo, e eu acredito com todo o meu coração
que elas mostram mais semelhanças do que diferenças. Nenhuma delas criticaria um estilo de vida
de simplicidade, serviço e prática. Nenhuma poderia achar falhas no termo “profundo e simples”. De

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acordo com as grandes escrituras do mundo, o significado da vida é profundo e as regras da vida são
simples. Uma maneira inter-religiosa de dizer o mesmo, seria: O Universo a tudo enxerga, então seja
gentil. Esta expressão é um lembrete para o nosso intelecto, de que a vida é mais profunda do que
parece. Então, “ser gentil” é uma instrução simples para o coração. Você não conseguirá ser um bom
cristão, muçulmano, hindu, budista ou judeu, ou bom em qualquer outra coisa, até que entenda
verdades universais como estas”.

1- Pratique a auto-restrição – Não se expresse sempre.

O princípio mais importante a ser adotado pelos raivosos em recuperação é a auto-restrição.


Você já tem praticado esse princípio, se tem se privado dos 15 comportamentos descritos no Capítulo
1.
Nos últimos 50 anos, uma crença psicológica popular tem ensinado às pessoas sobre a
importância da liberação da raiva e de seu consequente “colocar para fora”. A crença no valor de
expressar nossos sentimentos se tornou um princípio quase sagrado na psicologia. No entanto,
nenhuma grande religião ou tradição espiritual dos últimos 2.000 anos sugeriu esta liberação. Pelo
contrário, o conceito espiritual tradicional de todas as religiões é a restrição. É um conceito crítico
para pessoas raivosas e sua importância é resumida assim: O nosso primeiro objetivo será o
desenvolvimento da autocontenção. Isso traz uma classificação de prioridade máxima. Quando nós
falamos ou agimos precipitadamente ou com vivacidade, a capacidade de ser justo e tolerante
evapora no mesmo momento. Uma tirada grosseira ou um grito intencional de julgamento podem
arruinar um relacionamento com outra pessoa por um dia inteiro ou talvez por um ano inteiro. Nada
vale a pena como a contenção da língua e da caneta. Devemos evitar a crítica rápida e os argumentos
furiosos e impulsionados pelo poder. O mesmo vale para o mau humor ou desprezo silencioso. Essas
são armadilhas emocionais bobas embargadas com orgulho e vingança. Nosso primeiro trabalho é
evitar as armadilhas. Quando somos tentados pela isca, devemos nos treinar para dar um passo atrás
e pensar. Pois não podemos nem pensar e nem agir com bom propósito, até que a autocontenção se
torne automática... Observe que esta afirmação diz que, quando falamos ou agimos
precipitadamente ou com vivacidade, isso altera a nossa capacidade de pensar. Nosso
comportamento muda nosso pensamento. Não coloque a sua raiva para fora. Nosso comportamento
muda o nosso modo de pensar. Pratique a auto-restrição em vez disso.

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Começamos esta jornada parando de falar quando estivermos com raiva. Para alguns de nós,
fechar a boca é um ato espiritual. Esta atitude atua sobre o princípio da auto-restrição. Este é o
primeiro princípio no nosso novo caminho. Então, se você estiver com raiva, contenha-a, reprima-a,
sufoque-a. Quaisquer que sejam as palavras que você prefira usar para descrevê-la pratiquem a
autocontenção.
Nós assistimos muito na TV e vimos em livros de autoajuda sobre não engarrafar nossos
sentimentos e sobre como é necessário coloca-los para fora. Isso talvez esteja ok para os outros, mas
não para nós, raivosos. Nosso primeiro objetivo é desenvolver a auto-restrição.

2- Pratique a gentileza- não a vingança


"Bondade, eu descobri, é tudo". -lsaac Bashevis Singer

Pare de se dizer a si mesmo:


"O que você quer que eu faça? Que eu me acovarde?"
"Eu não vou aceitar isso de ninguém."

Atuar de uma maneira amável pode exigir o comportamento contrário de como nos sentimos
quando bravos ou irritados. Algumas pessoas dizem que é mais importante que os nossos
comportamentos e sentimentos se combinem. Contudo, comportar-se de forma agradável e falar
com um tom suave é praticar ou aplicar um princípio muito importante: bondade. E o que dizer sobre
a nossa “raiva moral"? Aqueles de nós com problemas de raiva, muitas vezes abusaram severamente
do conceito de honestidade, ao usá-lo como um porrete e uma arma para trazer dor àqueles que
conhecemos e amamos.
Normalmente, aqueles de nós que desenvolveram problemas de raiva e violência acham fácil
dizer às pessoas o que não gostamos. Existe um princípio maior para aqueles de nós com problemas
de raiva, quando confrontados com o dilema de dizer a verdade sobre nossos sentimentos versus ser
amável, gentil e amoroso: Pratique ser gentil, ser amável e amoroso em primeiro lugar. Muitos
raivosos têm a compulsão de contar aos outros sobre a raiva. Não conte. Apenas aja diferente, ou
melhor, docilmente!
Pelo menos por enquanto, para aqueles de nós com uma história de raiva ou violência,
devemos afrouxar nosso controle sobre dizer a verdade sobre como nos sentimos. Isso não nos dá
licença para mentir sobre tudo, apenas para agir com um princípio espiritual quando irritados.

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Podemos ser julgados posteriormente, por não contar a verdade sobre nossos sentimentos quando
estamos bravos ou irritados, mas devemos primeiro colocar o foco em nossa recuperação.
É hora de praticar o princípio espiritual da bondade, dizendo aos outros apenas, uma "verdade
mais profunda”. E a verdade mais profunda é que estamos feridos, assustados, envergonhados ou
nos sentindo culpados. Ao usar essas palavras, mostramos uma verdade mais profunda sobre como
nos sentimos realmente. Isso pode não estar na superfície, mas é o que está subjacente à raiva.
Podemos aprender mais sobre esses sentimentos mais profundos e adotar essas palavras em nosso
vocabulário, as dizendo, especialmente quando não estivermos com raiva.
Deepak Chopra, um médico ocidental nascido na a Índia, diz que podemos dizer que estamos
fazendo progressos espirituais em nossos casamentos ou relacionamentos íntimos quando nós
praticamos comportamentos que não parecem naturais, que são estranhos ou mesmo embaraçosos.
Praticar dizer palavras como, ferido, embaraçado, envergonhado ou qualquer outra coisa que não
seja sinônimo de raiva, vai parecer estranho a princípio. A maioria das pessoas raivosas não tem
crescido ouvindo seus pais dizerem “Eu estava errado. Eu me sinto desamparado. Eu me sinto
magoado. Eu me sinto embaraçado. Eu me sinto envergonhado.” Então se sentir anormal, estranho
ou mesmo embaraçado, isso é um excelente sinal de que estamos fazendo progresso. Estamos
tentando algo novo.

3- Pratique ser gracioso - não crítico.

“Argumentos e descobertas de falhas alheias devem ser evitados como se fossem drogas”
(Alcoólicos Anônimos)

Pare de dizer a si mesmo:


"Mas e se ela estiver errada?"
“É minha responsabilidade apontar o que é errado para meus filhos”.

A maioria de nós raivosos é atraída pela raiva e pela descoberta de falhas alheias como se
fossem drogas que não podemos viver sem. Muitos de nós temos a crença subjacente de que é nosso
trabalho apontar as falhas dos outros, especialmente nossos cônjuges e filhos. Acreditamos ser esta
parte de nossa responsabilidade como bons pais ou bons maridos e esposas.

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Precisamos nos perguntar o quanto eles mudaram por causa da nossa crítica. Normalmente,
criticar nossas famílias, parceiros e filhos apenas muda como eles se sentem sobre nós, não muda
seus comportamentos. Podemos ter um dever moral de apontar os erros de nossos filhos, mas a
maioria de nós tem exagerado nisso. Seria bom perguntarmos a eles, se acham que poderiam
sobreviver se desistíssemos de criticá-los por um dia ou mesmo uma semana.
Certamente, com os adolescentes, poderíamos tentar passar por uma conversa inteira sem
oferecer conselhos ou críticas não solicitadas. Peça pela ajuda deles para apontar isso. Concorde com
eles quando apontarem. Harry, um companheiro de RA, contou-nos certa vez, uma experiência
interessante: “Minha filha de 30 anos e eu estávamos fazendo uma salada juntos na cozinha, quando
percebi que ela estava muito quieta. Percebi que estava dando o que eu pensei que fossem, algumas
sugestões úteis. Eu disse: "Acho que estou exagerando nos conselhos não solicitados.” Ela riu e disse:
“Não brinca papai”!
Devemos imediatamente renunciar ao nosso trabalho de apontar o que há de errado com
nossos parceiros, filhos, motoristas e colegas de trabalho. Sugerimos em RA, que os novos membros
escrevam uma carta de demissão a Deus, afirmando que eles deixarão de indicar o que está errado
em Seu lugar. Esta poderia começar assim: Querido Pai, aqui está minha carteirinha de Deus.
Desculpe ter tentado Lhe substituir novamente. Como pode perceber, deu tudo errado, mais uma
vez. Agora, demito-me humildemente, e se eu tentar pegar a carteira novamente, por favor, não me
entregue! Obrigada, Senhor! Só por hoje, serei um filho quieto”!
Aos filhos devemos definir limites! Mas nenhum conselho. Podemos praticar o oposto de
procurar por falhas- parabenizar, agradecer e elogiar. Concentre-se em praticar o oposto do
argumento... Pratique o acordo.
Seu parceiro talvez não aprecie sua auto-restrição, porque não saberá quando você está se
contendo. No entanto, notará sua gratidão, elogios e parabéns. A boa notícia é que você não precisa
ser criativo ou original com elogios. Há três simples frases que poderiam ser ditas todos os dias:
"Estou grata por ter me casado com você. Você é uma mulher bonita. Eu sou uma mulher de sorte"
e tudo bem se não forem tão originais!
Devemos dizer um simples “obrigado" em todas as oportunidades. Não há como mensurar a
profunda sabedoria que há por trás desta pequena palavra.

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4- Pratique o autoexame- não a culpa.

“Desligando nossas mentes do que o outro fez de errado, resolutamente buscamos nossos
próprios erros. Onde nós fomos egoístas, desonestos, egocêntricos e assustados? Embora a situação
não seja inteiramente nossa culpa, nós tentamos desprezar completamente a outra pessoa
envolvida. Onde nós estávamos para culpar?... Nós admitimos os nossos erros honestamente e
estávamos dispostos a resolver essas questões de forma direta."- Alcoólicos Anônimos.

Pare de dizer a si mesmo:


"Mas ele é quem está errado."
" Ela está tentando me irritar. ”

Como você age para tirar o foco de si mesmo quando está com raiva? Quando alguém aponta
que você está errado e você sente a raiva aumentar, o que diz? A ação a tomar é falar as três palavras
simples que são garantias para terminar qualquer discussão. Alguns homens nunca falaram essas
palavras simples: “Você está certo." Mantenha o foco em seu próprio erro em vez de apontar onde
a outra pessoa errou.
Você pode mudar a direção de qualquer discussão ao dizer: "Você estava certo. Eu que estava
errado." Você não precisa saber aonde você errou quando disser isso. E certamente não precisa sentir
que estava errado. Diga isso primeiro, e depois descubra o percentual que você contribuiu para o
problema. Tente instalar um alarme imaginário em sua cabeça para quando começar a se ouvir dizer:
"Sim, mas..." Sirenes e sinos repicam. "Sim, mas...” é sempre o início de um argumento.
Podemos praticar este princípio dizendo:
1)"Você está certo", e/ou
2) "Eu estava errado" ou
3) "Eu deveria ter ..." ou
4) Não diga nada. Cale-se.
5) Repita 1-4.

5- Pratique a empatia - não o egoísmo.

"Você deve dar algo aos seus companheiros. Mesmo que seja uma coisa pequena, faça algo para
aqueles que precisam de ajuda, algo pelo qual você não receba nada além do privilégio de dar. Para

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lembrar, você não vive em um mundo só seu. Seus irmãos e irmãs estão aqui também.” Albert
Schweitzer

Pare de dizer a si mesmo:


"Ei, se eu não olhar por mim em primeiro lugar, quem vai?"
“Eu não sou santo – eu só quero beber uma cerveja gelada e assistir a televisão em paz. Há algo de
errado com isso? "

O princípio da empatia fala sobre a raiz do nosso problema como pessoas raivosas. Qual a raiz
do nosso problema? O egoísmo. A raiva ocorre quando não conseguimos que algo saia do nosso jeito
ou o que queremos. O ato de nos concentrarmos em nós mesmos, e não perceber as outras pessoas
como seres tão importantes quanto nós, caracteriza um sintoma sério de egoísmo. Alcóolicos
Anônimos identifica essa preocupação consigo mesmo como o ponto crucial do processo de adicção:
“Egoísmo - Ser autocentrado”. Isso, nós pensamos ser a raiz de nossos problemas.
Como podemos praticar o altruísmo em nossos relacionamentos? Podemos escutar as
necessidades e desejos de nossos parceiros, amigos e colegas de trabalho, sem criticá-los de
nenhuma forma, e sempre tentando ser compreensivos e empáticos com o que eles pensam ou
sentem. As frases que nós precisaremos praticar são:
"O que eu ouço você dizer é... É isso mesmo?” (Então espere em silêncio).
“Eu entendo o porquê de você se sentir assim". (Então espere em silêncio).
"Isso deve ser difícil." (Então espere em silêncio, sem opinião, sem pensamentos, sem sentimentos
próprios).
E aí, você está disposto a tentar essa nova maneira de viver, ou prefere voltar aos seus velhos
padrões? Raivosos Anônimos adverte: Mude, ou tenha seu inferno de volta!

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APRENDENDO A CONVERSAR COM OS OUTROS

“Tudo o que aprendemos a fazer, aprendemos fazendo. Construtores aprendem construindo,


e harpistas, tocando a harpa. Da mesma forma, praticando justos atos, aprendemos a ser justos. Ao
agirmos controladamente, aprendemos o auto- controle. Praticando corajosas ações, aprendemos a
ser valentes!” (Aristóteles).
Muitas vezes, quando um homem irritado ou furioso ingressa em Raivosos Anônimos,
encontra-se numa crise profunda. Este era o caso de Ana. Ela estava no "fundo do poço". Havia se
separado de seu marido, que havia pedido o divórcio. Uma pessoa entra num fundo de poço quando,
por exemplo, seu parceiro torna-se tão magoado e triste com suas ações ao longo dos anos, que
apenas consegue se expressar por meio da raiva, rejeição, descontentamento e críticas.

Arrasada, Ana dizia em seus depoimentos que precisava conseguir provar a seu esposo que já
estava fazendo uma mudança profunda e verdadeira. A ela foi dito sobre a importância de abster-
nos dos 15 comportamentos que provocam os adictos à raiva. Ela disse que trabalharia para controlar
seus comportamentos e que não estaria nesta situação se tivesse se abstido dos mesmos
anteriormente, especialmente de falar palavrões. Na semana seguinte, ela voltou a RA, e nos
compartilhou que as coisas, pelo menos, não haviam piorado, pois não havia perdido a paciência,
nenhuma vez. Recebeu muitos elogios e muita força espiritual de todos os companheiros. Ela tinha
feito um bom trabalho de conseguir não explodir, mesmo quando seu esposo a ofendeu, atribuindo
nomes negativos e fazendo-lhe muitas críticas. Recebeu muitos cumprimentos por ter parado de
falar palavrões, dizer nomes feios, zombar e ameaçar, e também conseguiu manter sua voz baixa e
tranquila. Ao final, disse que agora gostaria muito de aprender a parar de discutir com ele, e
perguntou se isso seria possível. Ela contou que eles continuavam tendo discussões muito longas por
telefone, que duravam horas. Dissemos a Ana que havia três palavrinhas que dariam fim a qualquer
discussão, e elas eram: "Você está certo." Essas palavras têm esse poder, porque para que uma
discussão se inicie, deve haver um desentendimento. Sem um desacordo, é impossível surgir uma
discussão. Essas três palavras vão contra o nosso modo de vida antigo. O que aprendemos durante
toda a nossa vida, foi expormos nossos pontos de vista, para provarmos ao mundo que sempre
estivemos certos. Parecia que não conseguiríamos sobreviver sem mostrá-los ao mundo. Vimos que
lutar pelo o que acreditávamos pode ter funcionado em várias áreas de nossas vidas, menos em
nossos relacionamentos. Disso, tínhamos certeza.
A maioria de vocês pode estar pensando: "Mas e se minha parceira não estiver certa? Eu
devo fingir que está? Devo agora tornar-me um mentiroso?" Sugerimos que você:
1. Diga a frase "Você está certo".
2. Encontre alguma verdade no que ela está dizendo e concorde com ela.
3. Feche a boca quando pensar em rebater o seu antigo e fracassado "mas". Faça questão de deixá-
lo fora do caminho. Não diga: Você está certo, mas...
Você pode dar a sua opinião quando sair do fundo do poço.
A verdade é que, não importa o que alguém diga, sempre poderemos encontrar um pouco de
verdade em suas ideias, que apenas, são diferentes das nossas. Poderemos reconhecer que a outra
pessoa está certa, de alguma forma.
Os novos ingressantes de RA, frequentemente, têm a tendência de relutar, dizendo frases
como: “desta vez não deu para não rebater. Foi um absurdo. Ele estava totalmente errado, e me
senti completamente injustiçado.” Ou “isso não é a verdade sobre mim”. Preciso me defender dessas
acusações e mostrar quem realmente sou. Quem eles pensam que são para me invalidarem desta
maneira? Mereço um mínimo de respeito e se eu não me defender, vão montar sobre mim.

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Começamos a perceber que, com o passar do tempo, os que ainda continuavam a insistir
nesta maneira de pensar e agir davam grandes sinais de que não estavam fazendo progressos em
suas recuperações. Embora alguns tenham chegado a perder tudo o que tinham até mesmo seus
empregos e casas por vários anos, ainda conseguiam alegar que não tinham tantos problemas, e
relutavam em continuar a se defender. A negação, maior característica da doença da raiva, os fazia
duvidar de que esta era a grande responsável por suas miseráveis vidas. Ainda achavam em seu
íntimo, que eram vítimas da falta de sorte ou de uma sociedade muito doente, onde seria impossível
manter-se limpo, quando se banhavam em águas turvas.

O teste da raiva e seu ping- pong psicológico:

Aos que realmente queriam ter vidas funcionais, prósperas, e relacionamentos saudáveis e
felizes, seus padrinhos ensinavam uma grande ferramenta de RA: o ping- pong psicológico. Mas como
isto funcionaria? O afilhado seria o primeiro a se expressar, em um ensaio com o padrinho, na forma
de um diálogo perigoso.
Assim, o afilhado diria algo negativo sobre o padrinho:
- “Companheiro, você é um egoísta, egocêntrico e mandão”.
(A regra era que o padrinho tivesse que começar sua resposta com as três palavras):
- “Você está certo". “E depois disso então, ela repetisse o que ouviu, dando um exemplo de como o
outro estava certo.”
-“Você está certo, John. Eu sou um egoísta, e preciso mudar este defeito de caráter. Imagine você
que no fim de semana passado, insisti para minha esposa que assistíssemos a um filme que somente
eu gostaria de ver”.

Se o afilhado entendesse que o padrinho passou no teste da raiva, então seria a sua vez (padrinho)
de recomeçar a conversa.
- “John, você é um homem de cabeça dura que vai morrer se continuar assim.”.
- "Newton, você está certo. Eu ainda sou assim, e estou trabalhando com todas as minhas forças para
mudar minha maneira de viver. Sei que posso contar com você nesta minha nova caminhada”.

A ideia do teste da raiva e de seu ping-pong psicológico é que comecemos a encontrar verdade
no que os outros dizem, impedindo que nosso ego inflame toda vez que nos considerarmos sendo
ofendidos. Com o tempo, a ideia de ofensa irá desaparecer, e entenderemos que não temos nada a
ver com o que os outros pensam ou dizem. Não discutir e levar uma vida normal, com bons acertos
em nossas atitudes fará com que nosso auto -valor e nossa auto- estima se elevem demais, o que nos
ajudará cada vez mais a nos ofender menos com qualquer palavra infeliz, visto que aquele que sabe
quem é, onde está, e a que veio, conhece milimetricamente o seu verdadeiro valor, e não se engana
com mentiras, pois sabe que suas qualidades não se diminuem nos defeitos alheios. Em outras
palavras, se sabemos ser boas pessoas, por exemplo, não nos engatilharemos quando alguém, disser
o contrário, por ter o defeito de criticar. Assim, como o ladrão rouba porque é ladrão, o crítico apenas
critica, pois compassivo não consegue ser.
Voltando ao jogo, perderia quem não conseguisse repetir o que o outro companheiro disse,
e sobre isto dar um bom exemplo. Como podemos imaginar, à medida que a intensidade do jogo
aumenta, algumas coisas bastante difíceis são ditas sobre a outra pessoa. Mas por que jogar um
ping- pong que poderia nos chatear ou mesmo, nos indispor com nossos companheiros? Não seria
isto realmente perigoso? Começamos e terminamos tal prática com a oração da serenidade e o termo

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de responsabilidade de RA. O ponto é que esta prática quebra o hábito e a mentalidade com os quais
fomos criados e treinados por uma vida inteira- de lutar para defender nosso ego, nossas razões, e
nossos pontos de vista. Precisamos aprender uma maneira mais flexível de lidar com as críticas.
Certa vez, um companheiro de RA compartilhou em seu depoimento:
“Meu amigo Paul zombou de mim, certa vez na escola, porque entrei em conflito com uma
professora por perder a semana de aula, e por ser suspenso”. Ele disse que era como assistir filmes
do velho oeste. Atirei, atirei, com minhas falas incansáveis para provar minha razão, mas como ela
era a professora, mais uma vez perdi, pois ela tinha mais força, já que professores sempre vencem,
assim como os mocinhos dos filmes de faroeste.
Às vezes, nós ficamos confusos, pensando que se dissermos às pessoas que elas estão certas,
entraremos em desvantagem em nossas relações, e nos deixaremos abusar numa relação
codependente, fazendo apenas o que elas querem. Mas a frase "Você está certo" não significa que
concordemos em mudar qualquer coisa. Isso é muito difícil para a maioria dos raivosos
compreenderem, logo no início de suas recuperações. Aceitar alguém nos dizer que somos egoístas,
egocêntricos e ditadores não é o mesmo que aceitarmos um pedido de mudança comportamental.
Estas são fragilidades humanas universais. Podemos querer mudar para melhor, mas este não é o
ponto da conversa aqui. Não temos nenhum compromisso em mudar qualquer comportamento
quando ouvimos estas coisas. Temos que entender que não é hora de argumentarmos quando
estamos no fundo do poço, e foi assim que chegamos ao RA. Temos nossos tanques cheios de
vergonha e achamos muito difícil assumir mais vergonha, escutando essas coisas. Então, quando
alguém nos chama de egoístas, ou nos atribui qualquer defeito, sentimos que devemos transformar
nossa vergonha em raiva instantaneamente, porque a experiência da vergonha é muito
“engatilhadora” para nós. Este é o nosso verdadeiro tendão de Aquiles. Então este é o nosso ponto.
Algumas variações de "Você está certo", incluem "você tem razão, querido." ou “Eu concordo
com você”. Ralph, um companheiro com mais de um ano de sobriedade na raiva, tornou-se
realmente muito habilidoso nesta técnica.
Sua esposa Laura disse:
"Você não se preocupa com a sua família, não está nem aí para os seus filhos.” Ele respondeu:
"Você está certa. Eu poderia fazer muito mais por vocês. Eu adoraria passar o dia inteiro de sábado
só com vocês. O que acha?” É verdade que passei vários finais de semana apenas fazendo coisas de
meu interesse e fui muito egoísta".
Quando estamos no fundo do poço, melhor dizendo, quando ainda estamos morando “na
casa do cachorro”, não devemos querer explicar o nosso comportamento, nem defender nosso ponto
de vista, e muito menos contra-atacar. Trata-se de receber a mensagem e não querer apenas enviá-
la. Argumentos começam a ser dados quando tentamos impor nossa verdade, quando o outro ainda
está se expressando. Isto certamente teria acontecido se Ralph tivesse dito: Laura, você também nem
sempre esteve tão próxima quanto aparenta. Foi visitar seus pais por dois finais de semana seguidos
e deixou as crianças comigo. Se já fizemos o nosso primeiro passo, e entendemos que somos
impotentes perante a doença da raiva, sabemos que falar assim é jogar fósforo aceso na gasolina.
Silvia, uma companheira novata, nos disse certa vez, que estava disposta a fazer qualquer
coisa para salvar o seu casamento. A ela foi sugerido que pedisse outra chance para o marido, para
que provasse a ele, que ela estava em recuperação e, portanto estava pronta para edificar seu lar, e
não destruí-lo como fez por muitos anos. Ele concordou em dar-lhe a última chance para ela mostrar
que poderia mudar. Silvia sabia o que deveria fazer. Quando se sentisse provocada deveria começar
suas frases com "Você está certo, querido" e dar um exemplo de como ele estava com a razão. Um
dia o marido chegou do trabalho, com uma lista de reclamações. Ela deu-lhe a razão, sem exceção,
por 45 minutos. Isso mostrou mudanças significativas e deixou o marido impressionado. Com o

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tempo, encontraram novamente o endereço da paz. O amor entrou naquela casa e pediu para ficar
de vez. Eles, felizes, aceitaram.

E se nos perguntarem por que?


Muitos ficam sem saber o que dizer quando estão em recuperação, quando dentro de uma
conversa, nos perguntam o porquê de nossas atitudes. Para não cairmos em tentação, criamos uma
sigla com as letras iniciais de algumas respostas sugeridas, para nossa memória não nos deixar na
mão. A sigla é TDDE (tolo, desiquilibrado, doente, errado) Antes que você pare de ler, nos dê uma
chance para explicarmos:
Estamos em recuperação. Mas é possível que muitos ainda cometam algumas falhas, pois esta
adicção age em cima de uma emoção, o que levará algum tempo para nos fortalecermos. A intenção
aqui não é nos diminuir ou nos atribuir rótulos negativos, mas não destruirmos tudo até que nos
firmemos em nossas recuperações e nada e nem ninguém consiga mais nos tirar do sério. Este
momento chegará, mas precisamos tentar manter nossos relacionamentos e empregos até lá. Assim,
por hora, nos cairá muito bem um pouco de humildade.
O filho de Matheus o perguntou: Por que você gritou comigo de novo? E por que agiu com
tamanha violência, se já prometeu tantas vezes, que não iria mais agir assim? Ao que Matheus
respondeu: Desculpe filho, eu sou um tolo. Desculpe, acho que me encontrava um tanto
desiquilibrado, mas estou procurando me acalmar. Desculpe, estou doente. Estou procurando
melhorar. Desculpe, eu estava errado e você estava coberto de razão. Pode me perdoar?

Você pode precisar praticar dizer palavras que você nunca disse em sua vida, ou que talvez,
nunca tenha ouvido de seus pais. Devemos nos lembrar de que, quando estamos certos, somos
perigosos! Então, é melhor nos acostumarmos a estar errados aos olhos do mundo. A quem mais
importa nossa verdade do que a nós mesmos? Assim, quando nos fazem perguntas como “Por que
você fez isso” ou “Por que você disse isso?” devemos encará-las como uma tentação para darmos
uma resposta sobre o nosso comportamento, mas se assim fizermos, tenderemos a recair. Este tipo
de pergunta soa como uma provocação em nosso cérebro e pode vir a disparar a raiva. Assim,
deveremos evitar a controvérsia, dando respostas simples e curtas.
Muitas vezes, quando as pessoas perguntam o porquê de alguma atitude, o fazem numa
tentativa de criticar. Devemos ter em mente que nossa meta não é nos defender, mas conseguir sair
da bendita casa do cachorro, aonde temos dormido desde que perdemos o domínio de nossas vidas,
por causa da raiva. Esta casa não tem conforto, é fria, não tem comida e nem amor, pois nem o
cachorro dorme mais lá. A esta altura, até o cãozinho está dormindo em nossa cama, com nossos
entes queridos, e tudo que nos sobrou foi um ossinho roído e um bocado de pulgas...
A esposa de Matheus, o perguntou com raiva: Por que você perdeu a paciência com seu filho
novamente? Por que o fez depois de jurar e prometer que nunca mais agiria assim? Porque você fez
isso?
As duas maneiras pelas quais Matheus conseguiu evitar uma nova discussão foram:
1-Ele não parou para se justificar, explicando que o filho não queria escutá-lo e que virava as costas
quando o chamava.
2-Ele não respondeu a pergunta da esposa com outra pergunta por cima, como: Por que você não
para de me criticar?
Em vez disso, Matthew se imaginou dormindo na casa do cachorro, e disse:
Matheus: Você está certa, querida. Eu não deveria ter perdido a paciência com ele.

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Betty: Bem, então, por que você fez isso?
Matheus: Não sei, eu só posso estar desequilibrado por querer continuar explodindo assim, quando
na verdade sei que você está prestes a se divorciar de mim.
Betty: Você é tolo ao pensar que pode gritar e dizer essas coisas ao seu filho e logo depois dizer que
o ama. Isso não está certo.
Matheus: Foi uma coisa muito ruim que fiz. Eu concordo. Eu me torno errado quando faço esse tipo
de coisas, e não entendo porque as repito.
Betty: Isso não faz nenhum sentido. Você diz as coisas certas quando chega das reuniões, mas depois
dá uma nova mancada.
Matheus: Eu sei que sou tolo, para continuar comendo o mesmo erro.
Betty: Eu acho que você é simplesmente louco. Você deve estar mentalmente doente para pensar
que irei continuar a criar meu filho ao lado de um maníaco como você.
Matheus: Eu concordo. Estou doente. Essa é a única explicação que me faz sentido.
Betty: Algo está errado com você, com certeza. É melhor você corrigi-lo.
Matheus: Estou errado por ter deixado isso acontecer novamente. Não sei o que há comigo, mas
estou lutando e vou conseguir vencer.

Haja Como Se Fosse

Algumas pessoas reagem a esta técnica com horror, dizendo que a irmandade RA ensina e
fomenta a desonestidade e a mentira, e que faz com que nossos membros se tornem piores do que
quando chegaram. Alguns dizem que o melhor seria continuar a nos tratar da codependência e
neuroses, e assim, um dia a raiva iria embora. Alguns terapeutas em particular, discordam desta
abordagem, porque sentem que subverte uma comunicação honesta. Nossa resposta a todos eles é
que pessoas irritadas e violentas não precisam ser ensinadas a expressar a sua raiva. A raiva precisa
urgentemente ser bloqueada em todas as suas saídas. Nada temos contra a recuperação da
codependência, da qual muitos de nós nos valemos, porém a inocência findou-se! Sabemos quem
somos e o que nos pode acontecer de ruim, se voltarmos para aqueles dias de escuridão. Nada temos
que esperar para cessar nossa raiva. Nem tratamentos de codependência, nem resultados de
terapias, por melhor que sejam. Tudo o que precisamos é tomar a decisão completa de não atuar na
primeira discussão, e de assumirmos uma posição única de que não devemos dizer a verdade sobre
cada sentimento que tivermos em nossas relações, pois é possível que acabe em briga. Nossos
desabafos deixaremos em sala, pelo menos nos primeiros dois anos de nossa recuperação. Pessoas
raivosas precisam aprender a conter seus sentimentos e fazer um treinamento de concordar com o
que os outros dizem, buscando encontrar verdade em suas palavras.
Assim, pegamos para nós os ensinamentos de Bill W. Co-fundador de Alcoólicos Anônimos,
mãe de todas as irmandades de 12 passos, a quem oferecemos toda a nossa gratidão. Bill dizia "aja
como se fosse”. Em outras palavras, “finja que você é isso, até que se torne isso”
Se alguns raivosos ainda teimam em chamar esta ferramenta espiritual de mentira, podemos
dizer a eles: “Ainda assim, isto seria melhor do que o que você está fazendo agora.” Outra crítica que
recebemos com frequência, é que estaríamos sugerindo aos nossos membros que atribuam a si
mesmos rótulos ruins, como doente, errado e tolo, e, portanto causando-lhes um sentimento de
vergonha e humilhação, que poderia até agravar a sua raiva. A estas pessoas podemos responder
“Vocês estão certos”.

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Muitas pessoas são cheias de culpa e vergonha. É importante que superemos isto se
quisermos ser felizes em nossas vidas. Será uma grande oportunidade para envergonhar e humilhar
o nosso ego, pois quanto mais ele se esvaziar, mais livres e humildes seremos.
Podemos relembrar o que dizia Dr. Bob, outro co-fundador de AA. Sobre a humildade:
“Humildade é o silêncio perpétuo do coração. É eu estar sem problemas. É nunca estar
descontente, contrariado, irritado, ou ofendido. É não me surpreender com qualquer coisa feita
contra mim, mas sentir que nada é feito contra mim. Significa que, quando eu for ofendido ou
desprezado, eu tenho um lar abençoado dentro de mim, onde eu possa entrar fechar a porta,
ajoelhar-me em frente ao meu PAI em segredo, e estar em paz como profundo mar de calmaria,
quando tudo ao meu redor está parecendo agitação.”

Descobrimos que estávamos doentes, e admitimos que muitas vezes nós agimos como tolos
e insanos. Sim, estivemos errados por achar que os outros é que erravam. Ninguém nunca esteve
errado, pois cada um é livre para ter suas próprias visões. Entendemos que podemos guardar as
nossas para nós mesmos, e respeitar as diferenças. Nunca seremos iguais, pois fomos criados em
épocas, famílias, maneiras e sociedades diferentes. E isso é bom. Assim, sentimos alívio por aceitar
ter esses e outros defeitos humanos. Não precisávamos mais fingir que nada estava errado conosco,
e paramos enfim, de nos defender.

Passamos anos de nossas vidas lutando para tentar provar a nossa normalidade, pois
sentíamos medo que as pessoas "descobrissem" que enxergávamos a vida sob um ângulo de 180
graus contrários. Tentávamos impor respeito aos berros, e não percebíamos que um imperador que
grita para sê-lo, jamais imperará. Logo, se porventura formos chamados de loucos, poderemos
responder que não são novas estas informações. Não estamos preocupados com o que os outros
pensam aqui, pois nosso objetivo é encontrarmos uma maneira melhor de sentir e pensar.
Para os que afirmam estar errado o fato de nunca lutarmos para impor nossas razões,
podemos afirmar: este é um programa de não-violência. Não revidaremos, não reagiremos. Não
importa que eles nos magoem ou nos machuquem. Responderemos com o amor, pois este sempre
venceu em toda a história. Nada é tão digno do que não mais precisar estar certo. Nada é tão belo
do que ver a humilhação se transformar em humildade, lugar de onde nunca saímos ofendidos ou
rebaixados.
Alguns companheiros, muitas vezes, perguntam se o “aja como se fosse” sugere que
mintamos sobre o que realmente pensamos e sentimos. Nossa resposta é: Mentir e amar seria uma
grande melhoria em relação ao que vocês estão fazendo agora. O que pensam ou sentem pode estar
comprometido pela doença, no início da recuperação.

Aprendendo a pedir desculpas:

Quando tentamos dar um abraço em nosso companheiro e ele nos diz: "Não se atreva a me
tocar", percebemos ainda estar na casa do cachorro. Agora pode ser hora de aprendermos a nos
desculpar. Então, o próximo conjunto de frases em nossa nova língua é:
"Sinto muito”.
“Foi tudo culpa minha”.
"Por favor, perdoe-me”.
" O que posso fazer para compensar você”?

43
Lembram-se ainda de Matheus e Betty? Vamos analisar o seu novo diálogo.
Matheus: Sinto muito por ter explodido com nosso filho, novamente. Eu sei que é traumático para
ele.
Betty: Sim. Isso é o que você sempre diz.
Matheus: Foi mesmo culpa minha. Ele nada mereceu.
Betty: Eu sei disso. Estou feliz que você finalmente tenha me entendido.
Matheus: Por favor, perdoe-me.
Betty: Estou cansada de te perdoar, especialmente quando você errou novamente.
Matheus: Poderia me dar uma nova chance?
Betty: Está falando sério desta vez? Você está finalmente disposto a fazer alguma coisa?
Matheus: Sim, estou falando sério. O que você quer que eu faça?
Betty: Eu quero que você vá mais vezes na irmandade Raivosos Anônimos.
Matheus: Eu gostaria, mas você sabe que eu não acredito tanto nessas terapias em grupo. Não sei se
vou me curar lá, apesar de ter gostado muito.
Betty: Eu não pedi você para acreditar. Eu só quero que você compareça.
Matheus: Querida, dê-me os outros horários e estarei lá. Se eu aceitar me dedicar, poderei parar de
dormir na casa do cachorro?
Betty (sorrindo): Você tem alguma chance. Dependerá de seu empenho. Compromisso é amor. Pare
de jurar que não brigará mais. E jamais repita que seus impulsos são maiores do que você e que não
conseguiu se segurar. Da próxima vez que eu escutar isso, vou pedir o divórcio.
Matheus (sorrindo mais ainda): Ok, você está certa!

Juramentos e promessas:

Juramentos e promessas são as coisas mais inúteis que podemos tentar fazer. Sabemos que
não podemos cumprir isso, pois para nós, o milagre acontece um dia de cada vez. Além disso, “sair
da casa de cachorro” é um projeto que não poderá estar relacionado a algo que ultrapasse nossas
forças.
Lucas e Marília tinham dois cachorros e dois gatos. Lucas não gostava e bichos dentro de casa,
e os mantinha no quintal da casa. Marília, que era louca por bichos, no íntimo guardava uma angústia
devido a imposição do marido em mantê-los do lado de fora. Um dia, Lucas, em um acesso de fúria,
chutou um gato, no quintal. O chute foi bem fraco e não o fez para machucar, mas Marília decidiu ir
embora com os bichinhos. Disse que em tempo algum aceitaria conviver com alguém que maltrata
um bicho.
Lucas: Perdoe-me, Marília, não foi minha intenção. Eu não queria machuca-lo e estou tão
arrependido, que você nem imagina. Eu “sai de mim” de tanta raiva, e não consegui me controlar.
Marília: Eu não conviverei mais um dia com um psicopata que nem você. Fez isso só porque não
limpei o quintal. Você é um monstro! Vou arrumar minhas coisas e ir embora deste lugar.
Lucas: Por favor, Marília, eu te amo e juro que nunca mais farei isto novamente. Prometo deixar você
fazer o que quiser, sem reclamar ou me opor de agora em diante, mas confie em mim. Eu estou muito
triste com minha atitude. Adoro os animais também.
Marília: Posso fazer o que quiser?
Lucas: Sim!
(Marília abriu a porta e deixou os quatro bichos entrarem, os quais foram correndo pular na cama do
casal).
Lucas: Isso não!

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Marília: Tarde demais.

Troque as críticas por palavras de gratidão

Um coração agradecido jamais encontra tempo para reclamar. Sabemos que a gratidão é mais
do que um sentimento ou emoção. É por si mesma, a maior técnica para evitar a depressão e
frustração. Sendo assim, podemos começar dizendo aos nossos entes queridos:
Obrigada, querido, por ter feito um trabalho tão bom.
Obrigado, querida, por fazer um bom jantar esta noite depois de trabalhar o dia todo.
Obrigado, querida, por ter arrumado as crianças dentro do horário para a escola.
Obrigada por tudo o que você faz.
Obrigada por trabalhar e trazer para casa um bom salário.
Obrigado por cuidar tão bem de si mesmo.

Expressaremos a nossa apreciação. Nos dias em que estivermos de mau humor a caminho do
trabalho ou de casa, poderá nos defender dos impulsos da doença, trocando as possíveis críticas por
três apreciações: Eu te respeito, eu te admiro, e Você está certo!

O QUESTIONÁRIO

Certa vez, uma mulher chamada Betty entrou na sala de R.A., assistiu a uma reunião inteira,
mas não ingressou. Quando acabou, ela dirigiu-se a alguns membros, e perguntou como poderia
descobrir se seu marido tinha problemas de vício de raiva. Os membros se entreolharam, e ao invés
de dizê-la que estava fazendo a pergunta errada, perguntaram-na:
Companheiro de RA: Betty, se nós soubéssemos a resposta para isso, como isto lhe seria útil?
Betty: Bem, se eu soubesse com certeza que ele é um viciado em raiva, então talvez eu pudesse dizer-
lhe para obter ajuda. Eu me preocupo com suas atitudes.
Companheiro de RA: O que ele está fazendo que você gostasse que parasse?
Betty: Ele grita com as crianças, é sarcástico e crítico comigo o tempo todo.
Companheiro de RA: É isso que você gostaria de ver mudar?
Betty: Sim
Companheiro de RA: O que você tentou?
Betty: Eu continuo explicando que não é bom para as crianças ouvi-lo me humilhar e me chamar de
nomes o tempo todo.
Companheiro de RA: Parece que ele é um raivoso: ele xinga, grita, é sarcástico e te chama de muitas
coisas. O problema é que não temos certeza de que explicar isso a ele vai fazer alguma diferença.
Betty, achamos que talvez seja melhor você reunir forças para que possa enfrentar seu marido, e
fazer com que ele venha nos ver.
Betty: Eu pensei que vocês iriam me dizer algo para ajudá-lo.
Companheiro de RA: Apenas o que podemos fazer é levar a nossa mensagem a ele, contando a nossa
história, para que ele veja se sente alguma identificação. Mas ele precisa querer se recuperar.
Betty: Estou meio perdida. Como isso seria útil para ele?

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Companheiro de RA: Diz-se em RA que “É na história do raivoso que se encontra o remédio”. Escutar
os próprios relatos pode fazer com que ele desperte espiritualmente para a doença que está
destruindo a própria família. E pode ser que ele sinta-se confortável para desabafar conosco, que
somos os seus iguais.
Betty: Entendo, mas o acho tão arrogante para aceitar que é um viciado em raiva...
Companheiro de RA: Ele já bateu em você ou te empurrou?
Betty: Apenas algumas vezes. A última foi na semana passada.
Companheiro de RA: Bem, não achamos seguro continuar sob o mesmo teto de quem agride
fisicamente, e se isto acontecer novamente sugerimos que ligue para a polícia. Nossa experiência
mostra que uma noite na prisão funciona muito melhor do que algumas reencarnações. Outra coisa
é: o abandono também cura. Pode ser que com uma boa dose de medo de perdê-los, ela aceite vir
nos procurar.
Betty: Eu tenho medo até de perguntá-lo.
Companheiro de RA: Vamos fazer o seguinte: passe-nos seu endereço, que iremos mandar-lhe uma
correspondência anônima de RA, com o folheto das 12 perguntas. Não faça nada por enquanto.
Vamos ver o que vai acontecer.
Dois dias depois, o marido recebeu uma carta do correio, sem remetente. Desconfiado, foi
para seu quarto sozinho para abri-la. Lá estava escrito:

Aniquilamos os nossos sonhos.


Destroçamos nossa família.
Afogamo-nos no caos da doença,
Ela tinha um nome. Chamava-se ira.

Ofendemos os nossos amores.


Desmoralizamos os nossos filhos

E apesar de tantas dores


Fizemos de novo, saímos do trilho.

Culpados, queríamos perdão.


Sem compreender por que agimos assim
Onde estava Deus, então?
Quando a raiva teria um fim?

Sim, somos viciados na ira.


Somos filhos da discussão
Mas para um vício há tratamento
Nós o chamamos de recuperação.

Se você tem problemas com a raiva


E quiser mudar seu caminho
Procure-nos na única casa
Onde jamais se sentirá sozinho.
(Raivosos Anônimos – (xx) xxxx-xxxx)

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No verso da carta, havia um questionário sobre a raiva:

QUESTIONÁRIO

1. Eu tive problemas no trabalho por causa do meu temperamento? (Sim) (Não)

1. As pessoas dizem que me irrito facilmente? (Sim) (Não)

3. Não mostro sempre a minha raiva, mas quando eu faço, fico descontrolado, sou estúpido e não
paro quando quero? (Sim) (Não)

4. Ainda fico com raiva quando penso nas coisas ruins que as pessoas fizeram comigo no
passado?(Sim) (Não)

5. Odeio filas, multidões, órgãos públicos e perco rapidamente minha paciência?(Sim) (Não)

6. Muitas vezes, encontro-me envolvido em discussões acaloradas com as pessoas que me são
importantes, arriscando por um fim em um relacionamento antigo? (Sim) (Não)

7. Às vezes, me sinto irado o suficiente para ter vontade de matar alguém, mesmo que eu não o
faça? (Sim) (Não)

8. Quando alguém diz ou faz algo que me perturba, ou reclamo grosseiramente, ou não digo nada
no momento, mas depois gasto muito tempo pensando nas respostas que eu poderia e deveria ter
dito?(Sim) (Não)

9. Considero muito difícil perdoar alguém que me fez mal?(Sim) (Não)

10. Quando as coisas não saem do meu jeito, sinto muita raiva? (Sim) (Não)

11. Sou capaz de ficar tão frustrado a ponto de não conseguir mudar de pensamentos? (Sim) (Não)

12. Fico com tanta raiva, às vezes, que não consigo me lembrar do que eu disse ou fiz? (Sim) (Não)

13. Às vezes, me sinto tão magoado e sozinho, que eu penso em me matar ou que seria melhor que
estivesse morto? (Sim) (Não)

14. Depois de discutir com alguém, me sinto muito culpado e desprezível? Minhas atitudes de ira
baixam minha auto- estima? (Sim) (Não)

15. Quando irado, digo coisas que mais tarde, me arrependerei amargamente de ter dito? (Sim)
(Não)

16. Algumas pessoas têm medo do meu mau humor? (Sim) (Não)

17. Quando fico com raiva, frustrado ou magoado, percebo-me comendo, usando álcool ou outras
drogas?(Sim) (Não)

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18. Quando alguém me machuca, sinto vontade de me vingar? (Sim) (Não)

19. Já fiquei tão furioso a ponto de agredir alguém fisicamente, ou quebrei coisas? (Sim) (Não)

20. Às vezes, fico acordado à noite pensando nas coisas que me aborrecem durante o dia? (Sim)
(Não)

21. Há em minha história de vida, muitas pessoas em quem confiei, mas me decepcionaram,
deixando-me com raiva ou sentimentos de traição? (Sim) (Não)

22. Sou uma pessoa constantemente zangada? Vivo me aborrecendo, pelo menos uma vez por mês
ou mais com as atitudes dos outros? Julgo-os sem caráter ou irresponsáveis com frequência? (Sim)
(Não)

23. Meu temperamento já causou muitos problemas, e preciso de ajuda para mudá-lo? (Sim) (Não)

24. Penso que seria muito mais feliz e que teria uma melhor qualidade de vida, se não tivesse o
problema da raiva? (Sim) (Não)

Se você respondeu SIM a mais de cinco perguntas acima, é possível que esteja sofrendo da
Doença de Adicção por Raiva. Procure-nos e transforme a sua vida!

*********************************************************************************

No mesmo dia, o marido de Betty bateu à porta de Raivosos Anônimos, aos prantos, pedindo
por ajuda. O problema agora não era mais dele; era nosso!

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ABSTINÊNCIA É VIDA!

Devemos tomar cuidado com os seguintes comentários:

1. "Vá em frente e me diga como realmente se sente."


Nós, raivosos gostamos de dizer aos outros como realmente nos sentimos. Às vezes, uma declaração
como: "Vá em frente e me diga como você realmente se sente” é tudo o que precisamos ter para
começarmos a aquecer os tambores. Mas se estivermos trabalhando com os “evites da raiva”, nos
esforçaremos para não expressar nossos sentimentos para nossos parceiros na hora em que
estivermos sob forte emoção, uma vez que isto pode desencadear um novo episódio de raiva. Se o
assunto for inevitável, poderemos esperar o dia seguinte para conversar.

2. “Diga-me quando você está com raiva. Não permita que isso se acumule”.
A ideia é que nunca mais usemos a palavra "RAIVA”. Seria ótimo se pudéssemos aprender a falar
sobre nossos sentimentos, sem nos enfurecer. As pessoas ficam assustadas quando veem a raiva
emergindo em nosso comportamento. Elas, muitas vezes, têm a sensação de que se desabafássemos
constantemente sobre como nos sentimos, em recuperação, não haveria tanta raiva em nosso olhar.
Porém, só porque ela se acumula não significa que tenhamos que deixá-la sair. Podemos manter a
tampa da nossa panela de pressão fechada e apenas deixá-la se dissolver com o tempo. E se
pensarmos bem, temos várias ferramentas para não deixa-la acumular, como compartilhar com
nossos companheiros, trabalhar os 12 passos com nossos padrinhos, e nos acalmar através da oração,
meditação, e literatura de RA.

3. "Precisamos resolver isso agora!"


A pesquisa mostra que 80 por cento das vezes, os casais resolvem seus problemas quando cada
parceiro entende o ponto de vista do outro. Muitas vezes, usamos a frase "resolva" para dizer que
quem está certo sobre isso ou aquilo, e claro, somos nós. Raramente essa forma de resolução de
problemas chega a uma conclusão satisfatória. Comunicar-se com um adicto à raiva, muitas vezes,
significa ingressar no mundo da história sem fim, onde não haverá vencedores. Assim, deveremos
fugir da ideia de “resolver isso agora!” Não precisamos resolver nada em um dia só. RA sugere que
escutemos os desabafos dos outros em silêncio e pedimos um dia para analisar a questão. Então,
teremos tempo para meditar em nossas respostas, trabalhá-las com nossos padrinhos, e no dia
seguinte, livres da raiva, voltarmos com uma opinião assertiva. Ainda assim, não deveremos nos
estender na conversa por mais de 20 minutos.

4. "Você sempre está fugindo. Você nunca quer falar comigo”.


O adicto à raiva precisa sair de cena quando seus sentimentos estão prestes a explodir. Às vezes,
nossos parceiros se queixam por quererem falar sobre o que pensam ou sentem, ficando muito
chateados por optarmos simplesmente fugir da conversa. Algumas pessoas podem saber como
discutir a relação com seus parceiros. Nós, certamente, não. Esperamos que com o tempo, se
quiserem continuar a se relacionar conosco, entendam nossos limites e respeitem a nossa decisão.
Precisamos fugir das discussões assim como o alcoólico foge do primeiro gole. Nosso programa não
é de enfrentamento, mas de abstenção.

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5. "Se você vai gritar comigo, então eu vou gritar com você".
Esta é uma maneira infalível de aumentar o problema. Podemos assegurar a qualquer um que não
conseguiremos parar de gritar após essa disputa para ver quem fala mais alto. Quando nossos
parceiros e familiares começarem a aumentar o tom da voz, precisamos dizer: "Por favor, baixe o
tom da voz. Podemos conversar com amor”. Se não pararem, novamente, poderemos dizer: “Eu não
vou falar com você enquanto estiver gritando”. Se ainda assim, continuarem, precisaremos nos
retirar, delicadamente. No entanto, se formos nós a começar a aumentar o tom, poderemos parar e
dizer-lhes: “Desculpe”. Obrigado por apontar isso. Não fique tímido em me dizer para falar baixo
novamente.

6. “Você está doente e você nunca vai melhorar. Pessoas como você só pioram com o tempo".
Isso certamente é verdade para alguns agressores. Mas não para nós, que optamos por estar em
recuperação. Devemos aceitar o fato de que talvez, nossos parceiros levemos bastante tempo para
reconhecer nossa mudança. E que talvez, tenham se acostumado a brigar, após tanto tempo de
discórdia e nos provoquem, inconscientemente. Porém, somos nós os adictos em recuperação, e a
responsabilidade de evitarmos uma discussão é nossa, pois “Quando um não quer dois não brigam”!

7. “Como você pode dizer que me ama quando me trata assim”?


Muitas vezes, nossos parceiros e familiares irão questionar nosso amor, por nossas ações passadas
ou possíveis mancadas em recuperação. Devemos explica-los com máxima delicadeza e ternura, que
estávamos e muitas vezes, ainda estamos doentes, e que a doença não diminui o nosso amor, mas
nosso amor diminui a doença. Com isso, queremos dizer-lhes que só precisamos de uma coisa: dar
tempo ao tempo. Nossa recuperação é progressiva, e com o tempo, ganharemos mais experiência
para nos defender dos impulsos da adicção.

8. "Vá em frente e me bata. Eu sei que é isso que você quer fazer”.
Esta é uma das piores provocações que nossos parceiros podem vir a fazer. Talvez as mulheres digam
isso para provar que não têm medo e protestar contra serem controladas e intimidadas. Os homens
ou familiares podem pedir para que as mulheres raivosas os ofendam com xingamentos. Os filhos
podem fazer os dois. Não importa qual seja a provocação, deveremos praticar o silêncio e ir embora,
se nosso sangue subir. Recaída maior não há do que a agressão física e uso de palavrões. Esta ressaca
emocional é mortal para nós. Assim, “calamos a boca” imediatamente. O silêncio é uma das mais
poderosas respostas espirituais que podemos dar a qualquer agente provocador. Deixemos que os
outros recebam o troféu da loucura. Nós, não mais.

9. "Você está louco. As coisas que você sente ciúmes não tem sentido algum”.
Muitos de nós, adictos à raiva, também temos problemas com ciúmes. Geralmente sabemos que o
nosso ciúmes é irracional e sequer faz sentido. Muitas vezes, nos sentimos enlouquecendo, e
precisamos pensar bastante para justificar esse ciúmes. Nós, ciumentos e raivosos, muitas vezes
sentimos em recuperação, que estamos prestes a perder o controle nesses momentos. Quando
nossos parceiros nos chamam de loucos, muitas vezes, isto parece confirmar os nossos piores medos
e pode ser a gota d’água para explodirmos de ódio. Podemos quebrar esta turbulência, pedindo
socorro aos nossos companheiros. Se virmos que não dará tempo, poderemos sabotar nossa ira,
pedindo socorro aos nossos próprios parceiros, e praticar um movimento contrário ao elogiá-los: “É
horrível sentir ciúmes”. Odeio quando esse sentimento bate forte em mim. Sei que você me ama e é
uma pessoa honesta. Pode me ajudar, e me deixar sozinho um pouco? Eu te chamo quando me
acalmar.

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10. “AGORA CHEGA. Eu vou me divorciar de você desta vez. Ninguém vai falar assim comigo”.
A ameaça de divórcio durante uma discussão nunca é boa. Pessoas irritadas são, muitas vezes, os
grandes bebês do mundo, e o que mais temem é serem abandonadas. Isso pode desencadear em
nós, uma birra grande e decidirmos “chutar o balde” e fazer de tudo para que o divórcio aconteça
em menos de 5 minutos. Mais uma vez, deveremos pôr em prática o silêncio em nossa recuperação
e lembrarmos: nós somos o balde!

11. “Você nunca conseguirá melhorar até resolver os problemas com seu pai. Isso é o que meu
terapeuta disse estar errado com você”.
“Não há quase nada mais irritante do que ouvir que o terapeuta de nossos parceiros acha que temos
problemas profundos que influenciam todas as suas dificuldades conjugais”. Achamos válido, os
casais fazerem análise comportamental uns dos outros, mas não agirem como "psicólogos". Em
segundo lugar, acreditamos que podemos fazer um bom progresso em relação aos nossos
comportamentos raivosos, mesmo antes de voltarmos aos traumas do passado. Como dissemos
anteriormente, não esperaremos problemas de codependência e neuroses resolverem-se
totalmente para que nos libertemos da raiva. Assim muitos foram presos, muitos foram ao túmulo
ou lá enterraram seres inocentes. Nossa doença é progressiva, perigosa e fatal, e não nos
enganaremos mais com errôneos direcionamentos. Somos adictos à raiva. Nossas vidas e a dos que
nos cercam dependem de nossa total abstenção dos comportamentos raivosos.

Em resumo ...
Os dias de brigas, e de discussões infindáveis acabaram. Não funcionou para nós. Não funcionou para
eles. É hora de tatuarmos em nossa alma as 3 palavras “sagradas” de RA: “Você Está Certo!”

AS PESSOAS QUE AMAMOS:


COMO VIVEM E O QUE SENTEM EM RELAÇÃO À NOSSA RAIVA?

Introdução

Quando alguém ingressa em RA, além de orienta-los em relação ao programa, e sobre a


importância da frequência às reuniões, também fazemos 3 considerações importantes em relação às
pessoas de seu convívio. Sugerimos a eles que se possível, conversem com seus familiares e parceiros
sobre este início de recuperação e os peçam 3 coisas:
1) Tornar absolutamente claro o que querem de nós;
2) Elogiar quando o comportamento correto estiver evidente;
3) Avisar quando o comportamento errado aparecer.

Teceremos agora, alguns comentários sobre alguns pensamentos e comportamentos de nossos


parceiros em relação a nós.

1.Como elas gostariam que agíssemos?


“Não há nada de errado comigo por conseguir que ele mude”

Certa vez, um companheiro de RA chamado Will, encontrava-se muito chateado, pois sua
esposa Jane o proibiu de dormir no mesmo quarto, até que ele se livrasse totalmente da raiva,

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dizendo ser essa a última tentativa para evitar o divórcio. Dormindo no quarto de hóspedes, decidiu
então, pedir ajuda ao seu padrinho, queixando-se de que estava sentindo muita dificuldade de
conviver com ela, pois as brigas eram uma constante naquela casa.
Não é sugerido que aconselhemos casais, muito menos seus familiares, pois não somos
profissionais, e tudo o que podemos fazer é contar a nossa experiência para outro raivoso em
recuperação. Porém, o padrinho decidiu por conta própria, perguntar à esposa de seu afilhado, qual
era a sua versão sobre toda aquela confusão que estava havendo entre eles. O afilhado aceitou o
desafio. Sentaram-se os 3 para tomar um café numa lanchonete, e primeiramente, o padrinho
perguntou ao afilhado:

Padrinho: Diga-me, meu querido, o que acha que sua esposa gostaria que você mudasse em si
mesmo, para que se tornasse o homem de seus sonhos?
Will: Ganhar mais dinheiro e talvez melhorar a comunicação.
Padrinho: O que você poderia fazer para se comunicar melhor?
Will: Não faço ideia!
(O padrinho então fez a mesma pergunta à esposa):
Padrinho: O que gostaria que ele mudasse para que se tornasse o homem de seus sonhos?
Jane: Eu gostaria que ele “me ouvisse”.
Padrinho: Poderia especificar esta necessidade, dando-nos exemplo?
Jane: Eu gostaria que ele desligasse a televisão quando eu quiser conversar com ele, que olhasse pra
mim, na hora em que falo que prestasse atenção no que digo, e que interagisse comigo com vontade.
Então, o padrinho virou-se para o afilhado e disse: “Você não precisa de mais dinheiro”. Precisa
apenas trocar o “abc.” pelo “obedecer”. Agora, quando sua esposa falar, experimente agir assim:
1) Desligue a TV;
2) Olhe para ela;
3) Repita de volta o que ela falou;
4) Pergunte “O que mais?”; e
5) Diga, “Obrigado por compartilhar.”

Assim, aprendemos em recuperação, que devemos dar toda a nossa atenção a quem nos
solicita, seja no trabalho, com nossos amigos e principalmente, com quem dividimos o mesmo teto.
Quando nossos parceiros se dirigem a nós, desligamos a televisão, paramos de nos entreter
com jogos, celulares e computadores; olhamos para eles com atenção e gentileza, e tentamos
interagir. O que é importante para eles também é para nós. Este ensinamento abrange vários
princípios espirituais de RA, como compaixão, amor, empatia e respeito ao próximo. Esta é a
verdadeira proposta de Raivosos Anônimos: uma completa mudança interna capaz de fazer de nós
melhores seres humanos.

2.Nem sempre é Codependência


Eles não estão errados em querer nos ver mudar. “Não há nada de errado com ele querer mudar
para me agradar”.

Há uma diferença interessante entre parceiros codependentes e parceiros de pessoas viciadas


em raiva. Os codependentes procuram agradar os outros e ignoram suas próprias necessidades, mas
a eles poderíamos dizer: “Não se modifique pelo outro. Só mude se realmente quiser mudar”. Ou
“Não se desespere se ele não quiser trabalhar sua criança interior ou trabalhar os problemas com os
pais. A única pessoa que você pode mudar é a si mesma.” Outra coisa é o progresso que as pessoas

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raivosas fazem ao desejar tirar sua atenção de seus desejos egoístas, e optar por se modificar por
seus parceiros. A disposição de um parceiro em ser influenciado pelo outro a melhorar, é um dos
sinais de que o casal terá um casamento longo e feliz.

3. “É melhor descobrir a solução do que descobrir a causa”.


Culpar e reclamar não constitui um catalisador para a mudança em nenhum relacionamento
humano.

Muitas vezes, nos flagramos em uma disputa de egos, onde uma pessoa tenta agredir a outra,
para convencer-lhe de que está agindo errado. Neste tiroteio de reclamações e acusações, não há
quem saia ileso. Mesmo depois de entrarmos em recuperação, nossos familiares e parceiros,
frequentemente, continuam a tentar nos acusar e criticar, com a esperança de que compreendamos
seus sentimentos e decidamos mudar internamente, e agir conforme as suas vontades. Muitos
continuam a nos agredir, pois já se acostumaram com uma vida baseada na raiva. Este pode ser
talvez, um dos testes mais difíceis que enfrentamos ao tentar manter nossa sobriedade.
Ex: Mary disse à Luiza, sua filha: “Você é uma raivosa compulsiva, alcoólica, viciada em trabalho,
insensível, egocêntrica, autocentrada, idiota, narcisista”, e não liga para os seus pais. Esta irmandade
da raiva que você frequenta não está funcionando. Ainda bem que é gratuita, pois eu não darei mais
um tostão para ajudá-la com seu gênio ruim. “Você não tem jeito”.
Nesta ocasião não há chances concordarmos com eles. Mesmo que tenhamos lido a primeira
parte de nossa literatura, que nos ensina sobre os evites, e respondamos “Quer saber? Você está
certo! Nunca pensei nisso desta forma”, a verdade é que nada terá mudado internamente, pois tais
ofensas jamais nos ajudarão a nos desenvolver. Deste exemplo negativo, podemos extrair muita
sabedoria, pois só o amor recupera. Quem sabe amar ajuda a crescer, através de seus elogios,
respeito e apoio. A crítica agressiva só cria a separação entre os que se amam.

4. Existe uma maneira mais eficaz de transformarmos o relacionamento do que sempre termos que
‘esclarecer as coisas.
Famílias e/ou casais felizes no casamento gastam menos tempo partilhando sobre seus
sentimentos e tentando esclarecer as coisas do que as famílias e os casais infelizes no casamento.
Outra “verdade” psicológica dos últimos 50 anos morre aos nossos olhos, com a vinda de
conceitos mais modernos e realistas sobre a saúde nos relacionamentos. Michele Wainer-Davis,
terapeuta e autora de diversos livros sobre relacionamentos sexo-afetivos, relata de maneira clara e
sábia um novo enfoque sobre a necessidade constante de discussões num relacionamento, como
sinônimo de provas de amor:

“Nós mulheres muito frequentemente presumimos que os homens são iguais a nós; que eles
sentem-se aliviados quando analisaram e discutiram as coisas numa conversa”. Na verdade, os
homens geralmente fazem o que podem para evitar longos, íntimos “tête-à-tête”, porque não se
sentem tão confortáveis em falar, como nós nos sentimos. É por isso que costumam se retirar quando
nós queremos falar sobre questões de relacionamento. Não é porque eles não nos amem ou não se
importem com nossos sentimentos. É apenas inquietante para eles, pois não faz parte de sua
natureza. Sentem-se fora de seus domínios. Não conseguimos evitar nos sentir ofendidas e
magoadas. Presumimos que eles não estão comprometidos em fazer o relacionamento dar certo.
Presumimos que eles são egoístas e que não nos amam. Certo?
Olhe, só porque seu companheiro está cansado de conversar, ou parece não estar escutando
uma palavra do que você diz você não deveria levar para o lado de que ele não se importe com seus

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sentimentos. Talvez isso apenas signifique que ele esteja saturado de palavras, e que agora seja hora
de mudar de tática.
Pelo que podemos compreender, por anos, temos visto relacionamentos irem ladeira abaixo,
por estarem pautados em crenças irracionais e destrutivas, enraizadas em nossa sociedade, que nos
faz andar no caminho contrário à realidade, em completo estado de cegueira espiritual e emocional.

5. “Amor e confiança são duas coisas separadas.”


Lembram-se do casal Jane e Will? Dois meses depois daquela conversa na cafeteria, eles
convidaram o padrinho de Will para jantar, em agradecimento àquela conversa. Depois do jantar,
sentaram-se no sofá para um novo café.

Padrinho: O que melhorou?


Jane: Bem, ele, na verdade, está indo muito bem. Não tenho reclamações nos últimos dois meses,
desde que lhe vimos pela última vez. Embora, eu me questione ainda se realmente posso confiar
nele, em relação a esta doença da raiva.
Padrinho (risos): Absolutamente não. Não confie nele.
Will: Como é?
Jane: O que isso quer dizer? Quando devo começar a confiar nele?
Padrinho: Acredito que você só deva confiar nele na medida em que ele fizer por merecer. A
confiança não deve ser distribuída assim gratuitamente.
Jane: Mas eu realmente o amo.
Padrinho: É importante não misturar confiança e amor. Aprendi isso quando minha filha foi para a
faculdade. Ela tinha um histórico pouco admirável quando se tratava de lidar com dinheiro naquela
época. Ela ligou e perguntou se eu lhe daria um cartão de crédito da minha conta, em seu nome. Falei
de forma assertiva, ‘Isso não vai acontecer. ’ Ela disse, ‘Você não confia em mim. ’ Minha resposta foi
que ela estava absolutamente certa. Eu não confiava nela com um cartão de crédito. Ela começou a
chorar e disse, ‘Você não me ama. ’ Minha resposta foi que eu a amava de todo o meu coração e
daria a minha vida por ela em um segundo, mas não lhe daria um cartão de crédito. Ela riu e disse,
‘Papai, às vezes você não faz sentido. ’ “Eu concordei.”

Jane: Eu gostaria de deixá-lo voltar a dormir em nosso quarto, mas o combinado foi três meses no
quarto de hóspedes, depois de todas as explosões de raiva, falta de atenção, e mau humor que ele
teve em relação a mim.
Will (risos): Como pode perceber padrinho, estou tenho dormido na casinha do cachorro, como diz a
literatura de RA.
Padrinho: Não tenho dúvidas disso, Will... Jane, o que ele teria que fazer para provar que está pronto
para voltar a dormir com você?
Jane calculou o que o marido precisaria fazer e descobriu que ele já estava fazendo, e os três
riram felizes e comemoraram a saída da casa do cachorro com um saboroso e quentinho café.

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UMA DOCE CONCLUSÃO

Felizmente, podemos viver juntos! Aprendemos uma estratégia espiritual de gerenciamento


da raiva, que ajudou milhares de homens e mulheres a superarem esta adicção. Lemos sobre os
comportamentos importantes dos quais devemos nos abster. Também aprendemos princípios
baseados em crenças que nos levarão ao nosso objetivo de paz, felicidade e mudança permanente.
Por último, aprendemos uma linguagem diferente para que nos comuniquemos melhor com os
outros. Essas frases são difíceis de dominar no início. Todo pessoa irritada se sentirá estranha ao
tentar essa nova linguagem, mas logo ela parecerá mais natural.
Porém, para que este programa realmente funcione, é preciso que entendamos os “evites
finais”. Eis o que ainda precisamos nos abster se quisermos conhecer uma nova maneira de viver.

1-Evite consumo de bebida alcoólica

Muitos casais costumam discutir ou até mesmo brigar, ao voltar de festas ou eventos sociais, a
caminho de casa, onde ambos estavam bebendo. Por anos, muitos casais não percebem que apesar
de fazerem um nobre esforço para tentar se entender, é evidente aos olhos do mundo que, enquanto
beberem, não irão conseguir. Não deve ser um segredo para os viciados em raiva, que o álcool não
irá melhorar seu problema. Estes precisam do máximo de autocontrole que puderem obter. Qualquer
substância que diminua ou disperse este autocontrole, aumentará drasticamente suas chances de
perder a paciência.
Quando um novato em RA pergunta aos mais antigos: "O que mais eu posso fazer para não
perder a paciência novamente?", podemos dizer-lhe: Pare de beber! Esta decisão, certamente, não
irá prejudicar sua recuperação em relação à raiva.
Aos raivosos que bebem, podemos dizer: "Você pode ser uma dessas pessoas, que assim
como eu, precisa escolher entre beber e se relacionar.” Tornou-se óbvio para nós, que jamais
poderíamos fazer os dois.

2-Evite qualquer tipo de droga, mesmo as consideradas “mais leves,”.

O que dizer sobre a maconha, a conhecida “droga da paz”? Os dados sobre a maconha
demonstram que ela também libera a inibição, em nada ajudando as pessoas impulsivas e irritadas.
Drogas nos são prejudiciais e ponto final.
Se a raiva for um problema no seu casamento, no trabalho ou em seu ciclo social, você poderia
ajudar muito a si mesmo e aos outros, abstendo-se completamente de qualquer substância
desinibidora de seus comportamentos.

3-Evite o cansaço

A fadiga também é um elemento subestimado em relação à raiva. Em nossa sociedade,


estamos acostumados a trabalhar mais e dormir menos, e ainda assim, não conseguimos
compreender porque nossa sociedade está se tornando cada vez mais irritadiça, seja no trânsito, seja
no tratamento entre um patrão e seus funcionários.
Assim como não podemos beber, também não devemos ficar cansados. Dormir cedo e por no
mínimo 8 horas, é uma parte importante no programa de recuperação da raiva. Aqueles de nós que

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trabalhamos à noite, são mais propensos à fadiga e irritação do que os outros, e terão que tomar
cuidado dobrado para não recaírem em seus comportamentos raivosos.
4-Faça atividade física diariamente

O exercício moderado, como caminhar, ajuda a reduzir a raiva. Uma caminhada vigorosa de
30 minutos diários é indispensável para nossa recuperação. Os esportes radicais, por sua vez, a
pioram. Exercícios físicos adequados aumentam a nossa saúde, e diminui nossa raiva.
Se vocês não têm filhos pequenos, então vocês podem andar juntos enquanto conversam.

5-Evite a fome
Assim como a fadiga, a fome pode causar verdadeiros estragos. Com fome, muitos de nós
ficamos extremamente mal humorados. É útil levar algo no bolso, algum alimento para evitar
qualquer ataque da doença. Importante é também salientar, que devemos nos alimentar sempre
saudavelmente e não passarmos horas sem comer entre uma refeição e outra! Café em excesso e
alimentos que contenham cafeína ou acelerantes naturais, como pó de guaraná, devem ser
diminuídos, e em alguns casos, até mesmo eliminados de nossa dieta alimentar.

Aquele não era eu!

Alguém se lembra de Jim R., sobre quem falamos no início de nossos textos? Ele foi preso por
espancar a própria neta. Naquela época, a esposa o deixou, e seus filhos pararam de falar com ele.
Iremos contar como ele está, após alguns anos de recuperação em RA.
Um companheiro o telefonou, mas foi sua esposa quem atendeu:

Lattie: Olá, Tom, tudo bem com você? Jim anda muito gentil comigo.
Tom (risos): Gentil? Eu devo ter discado o número errado.
Lattie (risos): Não, você ligou para o número certo! Eu fiz uma cirurgia, como você sabe, há dois
meses, e ele ficou em casa o tempo todo cuidando de mim. E não perdeu a paciência, nem me disse
uma palavra grosseira. Muito obrigada por ajudá-lo.
Tom: Não há de que, fico feliz por pelos resultados da recuperação de Jim. Ele não tem vindo ao
grupo depois que você se operou. Sabe quando ele pretende retornar? Estamos sentindo a sua falta.

Lattie: Vou pedir para ele te ligar, quando ele chegar.

Algumas horas depois:


Jim: Oi, Tom, tudo bem? Soube que você me ligou.
Tom: Queria saber quando vai voltar ao grupo.
Jim: Provavelmente já poderei deixar Lattie sozinha na próxima semana.
Tom: Que ótima notícia! Por sinal, parece que você está ótimo. Lattie disse que você foi tão gentil
esse tempo todo em que ela esteve se recuperando da operação, e não teve sequer uma explosão.
Jim (aos risos): Ei, não conte aos homens do grupo que virei um "doce.” Mas confesso que não foi
fácil. Provavelmente o teste mais difícil que enfrentei.
Tom: Você está muito bem. Mas não pense que está curado, hein?
Jim: De jeito nenhum. Para ser realista, me torno mais perigoso quando penso ter resolvido o
problema, e não vou me manter sóbrio na raiva por muito tempo se não voltar ao grupo em breve.

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John e Dorothy são um casal com duas crianças pequenas. Quando chegaram a RA, alguns
anos atrás relataram que estavam separados a mais de um ano. Durante esse período, cada um havia
contratado advogados muito caros e renomados, e gastaram aproximadamente US $ 100.000, na
disputa pela custódia das crianças. Neste interim, um colega de trabalho de John, ouvindo seus
lamentos, sugeriu-lhe frequentar as reuniões de RA, lugar em que presenciara casos muito difíceis
serem resolvidos.
Após algum tempo de programa, John melhorou consideravelmente da raiva, por conseguir
manter-se abstinente dos padrões destrutivos, o que chamou a atenção de Dorothy.
Quando ela elogiou seu comportamento pacífico e equilibrado, ele a confessou que estava se
tratando em um lugar, que, segundo suas próprias palavras, parecia remover por completo o desejo
de brigar.
Dorothy quis imediatamente provar do tal remédio espiritual. Acabaram tendo que dispensar
os advogados, pois decidiram dar mais uma chance de restabelecer a família, e não houve maiores
beneficiados do que as crianças.
Hoje, sentindo-se um homem feliz e realizado, John sempre gosta de relembrar em seus
depoimentos, a primeira e inesquecível conversa que teve com seu padrinho.

Padrinho: Não me importo com o que você julgue ser o problema de sua esposa. Todos nós temos
problemas. Apenas diga-me cinco coisas que realmente gosta nela.
John: Não entendi.
Padrinho: Quanto está pagando mesmo para o seu advogado ajudar a se separar da mulher de sua
vida?
John: Tá bom. Ela é bonita.
Padrinho: Não tenho todo o tempo do mundo. E você? Vai optar por ser infeliz por mais quanto
tempo?
John: E boa mãe.
Padrinho: Acho que vou para casa ver minha esposa e minha neta. Já estou começando a ficar com
saudades delas. Acho até que meus filhos estarão lá também para o jantar.
John: O senhor não entende. Nós passamos o ano passado inteiro travando uma guerra legal.
Ofendemos-nos muito.
Padrinho: Como você a ofendeu?
John (após refletir em silêncio): Eu a ataquei em todos os seus pontos fracos. Fui um covarde.
John (chorando): Não há a menor chance de reatarmos. Ela me odeia por tudo que disse e fiz.
Padrinho: Ouça John, para mim, foi uma grande mudança interna, começar a pensar sobre o que eu
fiz minha família passar, e começar a me concentrar apenas em suas qualidades. Eu o aconselharia a
fazer o mesmo. Tudo o que tenho lhe visto fazer, é uma brilhante análise de seus próprios problemas
e dos defeitos dela, por medo de querer enxergar o estrago causado por sua raiva doentia.
John: Agradeço seus comentários, mas não vejo como as coisas podem melhorar. E ela teria que fazer
algumas mudanças em seus comportamentos também.
Padrinho: John, preste bem atenção no que vou lhe dizer. Talvez você seja como eu. Se não conseguir
calar a sua boca e engolir seus impulsos raivosos, talvez não tenha chances de reatar o seu casamento
e ter seus filhos de volta.
John: Meu Deus! Mas quanto tempo levou para esse programa funcionar e vocês reatarem? Eu não
tenho muito tempo, pois ela já entrou com uma ação.
Padrinho: Todo o dano causado a minha família levou meses para cicatrizar. Você terá que entregar
este prazo a um Poder Superior a você mesmo. Só sei te dizer que o programa de RA funciona.

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John: Você diria que é feliz agora?
Padrinho: Voltamos a viver juntos há 5 anos. Estou satisfeito e feliz no meu casamento em 90% do
tempo, o que é muito bom.
John: Você não fica preocupado com a possibilidade de haver uma separação novamente? Eu acho
que não suportaria passar por isso de novo.
Padrinho: Não me preocupo com isso. Vivo um dia de cada vez, e entreguei minhas preocupações
para o meu Poder Superior. O programa de 12 passos de RA trocou meus medos por uma fé que
realmente funciona!
John: Mas eu não sei o que fazer.
Padrinho: (rindo): Sei, sei.. Acho que você está tentando me dizer que não gosta nada do que terá de
fazer para salvar seu casamento. Tenho certeza de que já leu sobre os “evites.” Você ainda não se
rendeu a eles, não é mesmo? Vamos relembrá-los?

1-Quando estiver com raiva, cale a boca.


2- Em vez de argumentar, diga: "Você está certa" e dê um exemplo de como ela está com a razão.
3- Ao sentir sua raiva subir, desligue delicadamente o telefone ou vá embora, de maneira suave e
gentil.
Agora você tem as ferramentas para não atuar na raiva, nunca mais precisará se enfurecer,
sair de si e destruir sua vida. Saiba que a raiva é a base dos fracassados. Decida ser um vencedor a
partir de agora. Não negocie com sua doença. Estes métodos funcionarão hoje, e para o resto de sua
vida. Agora, entenda que é hora de acordar, calar a boca e crescer. Você tem um caminho espiritual
para deixar de querer estar certo o tempo inteiro e ser feliz de verdade, pela primeira vez em sua
vida.

John (sentindo-se emocionado e rendido): “E ela é amorosa, amiga, e fiel companheira, pois sempre
esteve ao meu lado, fosse na saúde ou na doença.
Padrinho: Você completou as 5 qualidades. Agora posso ir embora em paz.
John: Obrigada, Jim R, não consigo imaginar um homem tão bondoso como você espancando a
própria neta.

Jim R, o padrinho: “aquele não era eu!”.

É possível dizer "Não" sem Raiva?

Às vezes, precisaremos dizer "não", mesmo que venhamos a desapontar os outros.


Interessante é saber que o programa de RA não está centrado nas decisões que tomaremos em
nossas vidas, mas na maneira pela qual decidiremos. Em outras palavras aconteça o que acontecer
certos ou errados, deveremos agir sempre sem raiva. Não estamos aqui para agradar
incondicionalmente os outros, mas para não magoá-los. Não estamos aqui para sempre acertar, mas
errar com dignidade e respeito ao próximo, caso venhamos a fazê-lo. Estamos cientes de que somos
e sempre seremos seres errantes, assim como qualquer outro ser humano. O que podemos fazer é
nosso melhor, dentro do programa de honestidade de RA.
Como podemos dizer "não" de uma maneira que desperte o mínimo possível de insatisfação e
ressentimento nos outros?

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Este cenário pode parecer difícil, mas é com imensa satisfação que podemos afirmar que
temos conseguido ser assertivos, mesmo quando precisamos discordar desmarcar compromissos,
etc. Veja como agiu Charles, um RA em recuperação, em relação a sua esposa:

Sara: Querido, espero que você não tenha se esquecido de que vamos ao casamento de Maria, neste
sábado à tarde.
(Charles simplesmente, não se lembrava de que Maria iria se casas. Ele sequer sabia que ela tinha
um namorado. Ficou pensando em como diria à esposa que tinha combinado uma pescaria com três
amigos no mesmo dia. Havia já organizado a viagem, e depositado o dinheiro da reserva da
hospedagem do lugar, pois era em outra cidade).
A verdade é que não há uma única maneira de dizermos que nos esquecemos de um
compromisso importante, e que não iremos poder cumpri-lo, sem chatearmos ou magoarmos os
outros. Então, o que Charles poderia dizer?
Charles: Neste final de semana irei fazer uma viagem de pesca com meus amigos. Desculpe querida,
não poderei te acompanhar no casamento.
Sarah: O que? O que você está me dizendo? Isso não é justo. Isso não está certo. Você firmou um
compromisso há um mês. Me deu sua palavra! Sabe o quanto é importante para mim que me
acompanhe. Eu simplesmente, nem terei com quem ir em cima da hora, e Maria é uma grande amiga
que nos ajudou muito na vida, inclusive a cuidar de nossos filhos quando bebês, pois tínhamos que
sair para trabalhar. Como você pôde esquecer? Você vai me envergonhar por não estar lá. Mas que
desfeita!

Trabalhar para não nos exaltarmos, ser assertivos, e não ficarmos com raiva, nestes
momentos, é de suma importância para nós. Nem sempre poderemos fazer o que os outros desejam.
Às vezes, no mundo real, haverá mal-entendidos e sentimentos de raiva. Isso nem sempre significa
que tenhamos cometido um erro, mesmo que afirmem que estamos sendo injustos. O que
precisamos compreender, é que acertando ou não, nosso objetivo é evitar a discussão, através de
nossos argumentos. Três são as orientações, para estes momentos:

1-Fale baixo – Mantenha sempre a voz suave e baixa durante toda a conversa.
2-Diga sempre as três palavras mágicas de R.A.: você está certo!

Charles: Você está certa! Esta é uma situação horrível! Como pude esquecer este compromisso e
marcar outro?

3-Não equipare erros- Jamais traga à conversa situações passadas, onde a outra pessoa também
errou na mesma medida ou não manteve sua palavra. Tenha empatia.

Charles: Eu sei que Maria é uma boa amiga, e vai ser embaraçoso para você ir sozinha.
Sarah: Isso significa que você realmente não irá comigo?
Charles: Infelizmente não irei mesmo. Eu já estou comprometido com essa viagem. Existe alguma
outra maneira em que eu possa me reparar com você e ela?
Sarah: Não. Isso é horrível. Você está quebrando sua palavra novamente. Eu não posso acreditar
nisso. Por que você não pode mudar seus planos?
Charles: Querida, não posso. Eu sei que isso é importante para você. Eu te amo. Mas eu realmente
me esqueci deste casamento, marquei esta viagem, paguei por ela e fiz os outros pagarem também.

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Realmente não importa quem esteja certo ou errado. O exemplo é apenas para ilustrar o
valor do nosso trabalho no controle da raiva e na redução de danos. Charles sabia que seria difícil
desde o início. Observe que ele não precisou dizer NÃO. Apenas disse que não poderia desmarcar um
compromisso.
Quando temos problemas com a raiva, precisamos praticar esta forma de lidar com as
pessoas, em momentos difíceis. Deveremos, então, sempre nos lembrar de manter uma voz suave,
dizer as três palavras, termos empatia pelas pessoas, sem trazer seus defeitos e erros à tona. Nosso
objetivo é tentar sempre amenizar seus ressentimentos.

Guia para falar sobre ressentimentos de RA

E se nos ressentirmos com alguém?

Muitas vezes, em nossos relacionamentos, nos sentimos realmente magoados, e sentimos a


necessidade de conversar com quem nos magoou. Mas como fazer isso de uma forma segura, sem
que percamos a cabeça e recaiamos na raiva?
Em recuperação, tomamos a decisão de não tomarmos grandes decisões sozinhos... Sozinhos,
estaremos nas mãos da raiva, em muito pouco tempo. Assim, quando precisarmos conversar com
alguém sobre como estamos nos sentindo por algo que ele tenha dito ou feito, procuramos seguir o
Guia para falar sobre Ressentimentos de RA.

1-Desabafe a raiva com outra pessoa:


Em primeiro lugar, deveremos conversar com nossos padrinhos ou companheiros de RA, a fim de
desabafar nossos sentimentos e diminuir nossas emoções negativas. Assim, quando formos
conversar com quem nos magoou, já não estaremos nos sentindo dentro de uma “panela de pressão”
sentimental, e evitaremos a força dos impulsos que as emoções podem causar.

2-Tente ser breve:


Limite o tempo da conversa, para não dar abertura para a raiva. Não comece a conversar às 10:00 h,
e encerre às 22h. Estabeleça o prazo de 20 minutos e configure seu relógio para despertar.

3-Evite monólogos:
Deixe o outro se explicar.

4-Tente usar frases curtas:


Eu me ressinto de você por "X"(X é igual a uma frase curta). Agir de maneira curta e simples, pode
ser muito difícil se a outra pessoa nos disser algo absolutamente inaceitável. Também é difícil manter
o tempo estabelecido para a conversa sem ultrapassarmos. Mas não deveremos sair do trilho.
Apenas deveremos discutir o problema e expormos nosso ressentimento.

5-Dê tempo para as pessoas refletirem:


Terminada a conversa aos 20 minutos, não deveremos voltar para nenhum dos tópicos por 24 horas.
Muitos especialistas no campo do casamento e da terapia familiar acreditam que a maioria dos
problemas pode ser resolvida por apenas “sermos escutados”. Não precisamos rebater e rebater. É
importante apenas darmos nosso recado e darmos tempo para as pessoas refletirem. A reflexão

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quase nunca é instantânea. Há quem diga que “Deus só nos responde no silêncio”, e então, por que
não deixarmos os outros refletirem nele? A maioria dos casais tenta discutir soluções antes que todos
os sentimentos sejam expostos e as emoções acalmadas. Se os sentimentos puderem ser expostos e
ouvidos de forma respeitosa, sem interrupções e as emoções puderem se aquietar, os resultados de
nossas conversas serão sempre de crescimento espiritual, e nunca de destruição.

Ex: Janet era mãe de Susan, adolescente de 16 anos, que acabara de tirar sua carteira de
motorista. No final da semana, Susan pediu para ir dirigindo para uma festa. Janet negou por achar
muito perigoso ainda a menina dirigir sozinha à noite. Seu marido, portanto, permitiu que ela
dirigisse, por achar que Janet estava sendo super protetora e exagerada.
Susan, RA em recuperação, evitou tentar resolver o problema ou argumentar sobre quem
estava certo. Primeiramente, ouviu as opiniões e sentimentos do marido e da filha. Não discutiu, e
nem se sentiu desrespeitada. Assim, chegaram à conclusão de que a deixariam ir sozinha desta vez,
mas que um dos dois iria segui-la, para ver como estava se saindo.
Susan disse ao marido: “Nós a deixaremos ir desta vez, mas na próxima semana, procuremos
conversar com os outros pais para saber como estão agindo em relação a isto.”.

Assim, devemos analisar as ideias dos outros, em sinal de respeito e recuperação, e sempre
estarmos esvaziados da raiva, para com eles nos acertarmos.
Nós, raivosos em recuperação, poderemos alcançar o amor e a paz que sempre sonhamos.
Nós, raivosos em recuperação, poderemos caminhar na linda estrada da luz espiritual, rumo à
vontade de Deus.
Nós, raivosos em recuperação, poderemos nos sentir envoltos pelos braços de nosso Pai
Amantíssimo, ao sentirmos o gosto da verdadeira vitória, que nunca foi ou será contra os outros, mas
contra a Escuridão e seus artifícios traiçoeiros.
Nós, raivosos em recuperação, poderemos ver a compulsão pela raiva nos abandonar se
entendermos que todas as bênçãos espirituais vêm a nós, pelo Doce Programa de RA.

Seremos serenos.
Hoje e sempre,
Um dia de cada vez
Aqui, aqui...

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