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Estruturas em Concretos Especiais

Brasília-DF.
Elaboração

Tatiana Conceição Machado Barretto

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO....................................................................................................... 9

Capítulo 1
Concreto de alto desempenho.......................................................................................... 9

Capítulo 2
Materiais componentes e o comportamento na estrutura .......................................... 15

Capítulo 3
Fabricação e aplicações ................................................................................................. 22

Unidade iI
CONCRETO AUTOADENSÁVEL............................................................................................................... 26

Capítulo 1
Concreto autoadensável................................................................................................. 26

Capítulo 2
Características e aplicações........................................................................................... 37

Unidade iII
CONCRETO CELULAR........................................................................................................................... 43

Capítulo 1
Definições e materiais......................................................................................................... 43

Capítulo 2
Propriedades e características ....................................................................................... 54

Capítulo 3
Aplicações........................................................................................................................... 66

Unidade iV
CONCRETOS MISTURADOS................................................................................................................... 72

Capítulo 1
Concreto com fibras........................................................................................................ 72

Referências................................................................................................................................... 94
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Designers e empreiteiros geralmente se deparam com problemas que exigem soluções
especiais envolvendo concreto. Um concreto especial, feito com ingredientes especiais
ou por um processo especial, pode ser ideal para tal necessidade.

Frequentemente, o concreto pode ser usado para algum propósito especial para o qual
as propriedades especiais são mais importantes do que as comumente consideradas. Às
vezes, pode ser de grande importância melhorar uma das propriedades comuns. Essas
aplicações especiais muitas vezes se tornam aparentes como novos desenvolvimentos,
usando novos materiais ou com melhorias usando os materiais básicos.

Alguns utilizam agregados especiais (agregados leves, fibras de aço, fibras plásticas,
fibra de vidro e agregados pesados especiais). Algumas propriedades especiais como
aumento da resistência à compressão e à tração, impermeabilização e resistência
química melhorada são obtidas com os polímeros, como misturas ou tratamento de
superfície do concreto endurecido.

Nesse material, estudaremos os concretos especiais. Aqui se discute algumas das


amplas possibilidades de concretos especiais. Breves descrições são dadas para que
o leitor possa estar melhor preparado para explorá-las em profundidade quando
surgirem situações incomuns. Esses concretos incluídos são: de alta resistência, de alta
densidade, com fibra de aço e concretos celulares.

Objetivos
»» Caracterizar diferentes tipos de concretos especiais, fornecendo dados
para uma comparação criteriosa sobre os impactos advindos da utilização
desse tipo de material.

»» Estudar o concreto de cimento e seus materiais constituintes com ênfase


na produção, aplicação e controle da qualidade de concretos especiais,
bem como suas propriedades e tecnologias de manutenção.

»» Conhecer as principais aplicações dos concretos de alto desempenho, a


alta densidade, fibra de aço e concretos celulares.

7
»» Conhecer e estudar a NBR 8953 - Concretos para fins estruturais
- Classificação pela massa específica, por grupos de resistência e
consistência.

»» Estudar a macroestrutura do concreto de alto desempenho (CAD).

»» Avaliar a importância dos aditivos químicos no CAD.

»» Estudar e conhecer as fases e as zonas de transição.

»» Conhecer as aplicações práticas.

»» Conhecer e estudar os métodos de ensaios do concreto autoadensável


(CAA).

»» Conhecer e estudar a NBR 15823 - Normalização Brasileira de Concreto


Autoadensável.

»» Conhecer e estudar a norma internacional EFNARC.

»» Identificar as principais aplicações do concreto autoadensável (CAA).

»» Identificar e selecionar materiais e aditivos.

»» Aplicar as metodologias de ensaios para definir dosagem.

»» Entender como são formados os concretos celulares e as suas principais


propriedades.

»» Conhecer um pouco mais sobre o concreto reforçado por fibras, suas


propriedades e utilizações.

8
CONCRETO DE ALTO Unidade I
DESEMPENHO

Esta unidade foi escrita baseada nas seguintes bibliografias: “Concreto-Ensino, pesquisa
e realizações”, de Geraldo C. Isaia, editado pela IBRACON, e “Concreto, estrutura,
propriedades e materiais” e “Concreto: microestrutura, propriedades e materiais”,
ambos de P. Kumar Mehta, e Paulo J. M. Monteiro.

Capítulo 1
Concreto de alto desempenho

Introdução
O material de construção de maior aplicabilidade no mundo, hoje, é o concreto armado.
As bases científicas do material que o constitui são do início do século XX e a sua
implementação em obras de construção civil, infraestrutura de transportes, plantas
industriais, grandes projetos estruturais etc., configuraram o potencial desse material
a partir da década de 1950.

Grande parte das obras criadas na segunda metade do século passado, que não passaram
por manutenção, estão sofrendo deterioração acentuada e em alguns casos extremos a
necessidade de reconstrução é eminente. Nesse cenário foi exigida uma nova tecnologia
do concreto, com a necessidade técnico-econômica de se aumentar a durabilidade das
estruturas em concreto.

Depois de anos de pesquisa, foi desenvolvido um material de elevada resistência


mecânica, com maior durabilidade, maior vida útil, uma redução das despesas
potenciais com manutenção e eventuais recuperações, quando comparado ao concreto
tradicional. Esse novo material ficou conhecido como concreto de alto desempenho e
sua base material se assemelha com a do concreto armado comum: uma mistura de
brita, areia, cimento e água, onde são incorporados alguns aditivos químicos e minerais.

9
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

O desenvolvimento de uma grande variedade de produtos químicos – os aditivos


químicos, esses responsáveis por alterar determinadas características dos concretos –,
aliado a materiais pozolânicos, conferiram ao concreto características superiores em
termos de resistência e durabilidade quando comparados ao concreto armado comum.

A capacidade de carga por unidade de custos maior quando comparada com os concretos
convencionais, torna o CAD mais atrativo em algumas aplicações, compensando todos
os custos envolvidos na sua fabricação, logo essa é uma das maiores vantagens desse
material.

As principais vantagens da utilização do CAD, de acordo com Mendes (2000, p.146),


são:

Redução significativa nas dimensões de pilares de edifícios


altos, aumentando a área útil, principalmente, nos andares mais
sobrecarregados; redução do peso próprio da estrutura e da carga nas
fundações; possível redução nas taxas de armadura dos pilares; maior
rapidez na desforma, aumentando a velocidade de execução da obra;
menor segregação propiciando melhor acabamento em peças pré-
moldadas; aumento da durabilidade das estruturas. E uma possível
redução de custos devido, principalmente, à diminuição das dimensões
dos elementos estruturais e pelo aumento da velocidade de execução.

Definições
Muitos conceitos já foram propostos para esse concreto, alguns relacionados às
características de resistência e durabilidade, à consistência, pega, acabamento e
estabilidade volumétrica.

Atualmente, ainda permanece um embaraço nos conceitos sobre o significado das


expressões ‘concreto de alta resistência’ (CAR) e ‘concreto de alto desempenho’ (CAD),
que teria uma abrangência mais ampla, podendo ser aplicada a várias propriedades de
interesse.

O entendimento da definição CAD, de acordo com Almeida (2005, p. 1162)

Surgiu, então, aquela que pode ser uma das definições mais simples,
divulgada em 1999 pela então presidente do American Concrete
Institute, Jo Coke: “CAD é o concreto otimizado para uma determinada
utilização”.

10
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

A NBR 8953 (2015) classifica os concretos estruturais em dois grupos de resistência,


segundo a resistência característica à compressão (fck): no grupo I estão os concretos
entre 20 e 50 MPa, e no grupo II, os concretos de 55 a 100 MPa. De acordo com a norma,
os concretos pertencentes ao grupo II (fck > 50 MPa) são concretos com características
e resistências além do convencional, para os quais as atuais normas brasileiras não
são apropriadas. Nesse sentido, devido às suas características diferenciadas, parece
razoável considerar esses concretos como de alta resistência.

Mehta e Monteiro (1994) consideram que, para dosagens feitas com agregados normais,
os concretos de alta resistência são aqueles que apresentam resistência à compressão
maior que 40 MPa. Dois argumentos foram utilizados para justificar essa definição:

»» A maioria dos concretos convencionais está na faixa de 21 a 42 MPa.


Para produzir concretos acima de 40 MPa são necessários controles de
qualidade mais rigorosos e maior cuidado na seleção e na dosagem dos
materiais constituintes do concreto. Assim, para distinguir esse concreto
especialmente formulado para uma resistência maior que 40 MPa, deve-
se chamá-lo de concreto de alta resistência.

»» Estudos experimentais comprovaram que a microestrutura e as


propriedades do concreto com resistência acima de 40 MPa são
consideravelmente diferentes das dos concretos convencionais. Como a
prática atual de dimensionamento de estruturas ainda está fundamentada
em experimentos realizados com concretos convencionais, é preferível
manter os concretos com resistências acima de 40 MPa em uma classe
diferenciada, de maneira a alertar o projetista da necessidade de ajustes
nas equações existentes.

Aïtcin (2000) classifica os concretos sem se deter na resistência à compressão como


parâmetro principal. Assim, define um concreto de alto desempenho como sendo
essencialmente aquele que possui uma relação água/aglomerante baixa, estabelecida
em 0,40 como fronteira entre esse tipo e o concreto comum.

No caso do concreto de alta resistência contendo superplastificante e sílica ativa, o


aumento da resistência está associado a uma microestrutura mais densa e com menos
vazios.

Dessa maneira, as aplicações desse concreto estão ligadas não só à resistência à


compressão do material, mas também a outras propriedades vantajosas como baixa
permeabilidade, alta estabilidade dimensional, alta resistência à abrasão, alta resistência
ao ataque de agentes agressivos, ou seja, maior durabilidade. Por essas razões, vários
pesquisadores denominam esse concreto de concreto de alto desempenho (CAD).

11
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

Macroestrutura
Na essência, os concretos são materiais heterogêneos e compostos que apresentam vazios
na sua estrutura e mais duas fases: a matriz (pasta de cimento) e a carga (agregados).

O comportamento dos concretos está atrelado à qualidade intrínseca das fases descritas
acima, bem como sua interação conhecida como ligação ou interface agregado-pasta.

Do ponto de vista dos materiais, o CAD não é nada mais do que um concreto com
porosidade muito baixa, conseguida principalmente pelo uso de menos água de mistura
do que no concreto usual, de tal forma que as partículas de cimento e de material
cimentício suplementar estejam muito mais próximas umas das outras do que nos
traços de concreto usual. (AÏTCIN, 2000, p. 110)

Após diversas pesquisas com diversos tipos de concretos de várias classes de resistência
à compressão, utilizando seixo britado de boa resistência como agregado, pode-se
observar:

»» em concretos com resistência até 80 MPa, as fissuras se desenvolveram


na pasta e na interface agregado-pasta, característica típica de material
composto;

»» entre 80 e 100 MPa, as fissuras começavam a penetrar nos agregados, os


concretos nessa faixa se comportavam como material homogêneo;

»» a partir de 100MPa de resistência de compressão, os agregados eram os


mais fracos e o concreto se comportava novamente como um material
composto.

Na modelagem de computador, na Figura 1, pode-se observar a relação das fissuras e os


agregados em cada tipo de concreto.

Figura 1. (a) Concreto convencional; (b) Concreto leve; (c) Concreto de alta resistência.

Fonte: Mindess, 1983.

12
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

Diante dos resultados, pode-se concluir que para resistências superiores a 80 MPa,
três aspectos devem ser levados em consideração: a qualidade da pasta de cimento, da
interface agregado-pasta do concreto e dos agregados, sendo esses que vão conferir as
propriedades especiais ao CAD.

Microestrutura
Na fase “pasta de cimento”, caracterizada pela mistura de cimento e água. A água tem
um papel de promover a trabalhabilidade da mistura e hidratar as partículas de cimento,
produzindo, assim, a fase aglomerante do concreto (ou pasta de cimento).

A resistência da pasta é influenciada por fatores diversos como: a natureza e a dosagem


do cimento, a idade do material, o grau de hidratação do cimento, a relação água/
cimento e a própria porosidade.

A Lei de Abrams com relação A/C é válida para os CAD, onde essa relação deve
permanecer na faixa 0,20 e 0,40.

Para obtenção de CAD, não basta uma elevação na dosagem de cimento associado à
redução da dosagem de água, para manter a trabalhabilidade são adicionados aditivos
químicos redutores de água e minerais.

Na fase “agregados”, esses exercem um papel muito importante à medida que o concreto
a ser produzido deve possuir elevada resistência a compressão. As características
dos agregados que mais influenciam a resistência são: o módulo da elasticidade, a
granulometria, dimensão máxima, módulo de finura, a forma e textura superficial, a
natureza mineralógica, a absorção e resistência à compressão (ou esmagamento).

A ligação agregado-pasta, ou zona de transição, é responsável pela resistência dos


concretos, logo o fortalecimento dessa ligação irá elevar a sua resistência, já que esta é a
parte mais fraca da sua microestrutura, uma região frágil e porosa onde se desenvolvem
as primeiras microfissuras do material.

A relação A/C é um dos principais parâmetros que influenciam a resistência da pasta e


ainda a aderência da pasta aos agregados.

Podemos perceber a microestrutura de um concreto, na Figura 2, que de acordo com


Mehta (1986)

Nas menores idades, especialmente quando ocorreu uma exsudação


interna significativa, o volume e o tamanho dos vazios da zona de

13
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

transição são maiores que no meio da pasta de cimento ou argamassa. A


concentração e a dimensão de compostos cristalinos, como o hidróxido
de cálcio e a etringita, são também maiores nessa região. As fissuras
formam-se facilmente na direção normal ao eixo longitudinal dos
cristais, provocando a diminuição da resistência da zona de transição
em relação à pasta de cimento.

Figura 2. Representação esquemática da zona de transição entre agregados e a pasta de cimento dos

concretos.

Fonte: Mehta, 1986.

A adição de materiais pozolânicos finamente moídos, capazes de promover a nucleação


e o desenvolvimento de numerosos pequenos cristais de CH, aleatoriamente orientados,
contribuem para redução na espessura da zona de transição e assim fortalece essa zona.

14
Capítulo 2
Materiais componentes e o
comportamento na estrutura

Os critérios utilizados na seleção dos materiais para produção dos concretos


convencionais não são suficientes para serem aplicados na produção de concretos de
alto desempenho.

A seleção de materiais para a produção de CAD é mais complicada e deve ser feita
cuidadosamente, uma vez que os cimentos e agregados disponíveis apresentam
grandes variações nas suas composições e propriedades. Outro fator importante é a
diversidade de aditivos químicos e adições minerais existentes que podem ser utilizados
simultaneamente, dificultando ainda mais a escolha dos materiais mais adequados.

Aïtcin (2000) afirma que a melhor forma de garantir a seleção da maioria dos materiais
adequados para o CAD é por meio da realização de estudos preliminares em laboratório.

Figura 3. Componentes.

Fonte: Próprio autor.

Água
A água ocupa um papel secundário em termos de componentes do concreto. Porém, o
aspecto quantitativo desse material é crucial para o sucesso do CAD.

15
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

A dosagem de água dos concretos depende de muitos fatores, tais como: o tamanho, a
forma, a absorção e a densidade dos agregados, a natureza e a dosagem de cimento e a
temperatura e trabalhabilidade do concreto.

Cimento
A escolha do tipo de cimento é importante para produção do CAD, visto que esse
componente influencia diretamente a resistência da pasta e a intensidade de aderência
do agregado-pasta. Os fatores preponderantes são: a uniformidade, a natureza e a
dosagem de cimento.

A princípio, qualquer tipo de cimento pode ser utilizado para a obtenção de CAD.
Entretanto, o ACI 363R-92 (2001) coloca que o melhor cimento é aquele que apresenta
menor variabilidade em termos de resistência à compressão.

Gutiérrez e Cánovas (1996) afirmam que é necessária a utilização de cimentos de alta


resistência para produção de CAD.

A seleção de um cimento deve levar em consideração a sua uniformidade durante


um período em que a obra será realizada. Dentro de um mesmo tipo de cimento, as
tolerâncias de variações de composições permitidas pelas normas podem provocar
variações nas resistências à compressão.

A natureza do cimento influencia a demanda de água dos concretos para obtenção


de uma dada trabalhabilidade. Em termos de finura, quanto maior for a superfície
específica em contato com a água, mais rapidamente ocorrerá a hidratação do cimento,
aumentando sua resistência à compressão, principalmente nas primeiras idades.
Por outro lado, quanto mais fino o cimento, maior a dosagem de superplastificante
necessária para alcançar uma mesma trabalhabilidade, uma vez que a eficiência do
aditivo é influenciada diretamente pela finura do cimento. O teor de SO3 aparentemente
não afeta significativamente a resistência à compressão.

As dosagens de cimento comumente utilizadas na fabricação do CAD, em geral, variam


na faixa de 400 e 600 kg/m³, enquanto que no concreto convencional estão na faixa
de 300 kg/m³. O emprego de altos consumos pode ser limitado por fatores como a
elevação da relação A/C, a partir de certos limites, outros fatores entram na equação,
como, a elevação da temperatura do concreto, a maior dificuldade de obtenção de
misturas homogêneas, a perda acelerada de abatimento e a maior sensibilidade à cura.

O excesso de cimento pode ainda levar a uma queda de resistência mecânica, em virtude
da perda de aderência entre a pasta e o agregado, resultante da fissuração por tensões

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CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

de retração. A solução para este problema pode ser conseguida com a substituição
parcial do cimento por materiais cimentícios suplementares, como a sílica ativa e
pelo aumento da eficiência do cimento no concreto, obtida com o auxílio dos aditivos
superplastificantes.

Agregados
As altas resistências dos agregados não elevam a resistência da pasta, assim a elevação
na quantidade de concreto não confere um aumento substancial na resistência de
compressão do concreto. Em geral, a resistência dos agregados deve ser maior do que a
classe de resistência do concreto que se pretende obter

A influência do módulo de elasticidade dos agregados na resistência dos concretos é


controversa. Contudo, com o intuito de reduzir possíveis concentrações de tensões,
utiliza-se agregados com módulo de elasticidade elevado.

O tamanho dos agregados influencia a relação A/C dos concretos. Em geral, os materiais
mais grossos necessitam de menos água devido à sua menor superfície específica. Isso
proporciona uma trabalhabilidade com uma relação A/C menor.

Em geral, os CAD devem apresentar as seguintes dosagens de agregados:

»» agregados graúdos: de 1.000 a 1.150 kg/m³;

»» agregados miúdos: de 420 a 750 kg/m³.

Aditivos químicos
Os aditivos químicos redutores de água de amassamento, atuam como plastificantes,
permitem a confecção de concretos trabalháveis, com uma relação A/C baixa, como
ocorre na fabricação dos CAD. A diminuição dessa relação favorece a redução de
porosidade do material e por consequência o fortalecimento das duas regiões da
microestrutura do concreto, o que eleva substancialmente a resistência e a durabilidade
do material.

A influência de qualquer aditivo redutor de água depende da dosagem do cimento,


da consistência, do processo de mistura, das condições de cura, da temperatura do
ambiente e do concreto, da natureza do cimento, da granulometria dos agregados,
entre outros.

17
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

O emprego de bases químicas tende a diminuir as perdas aceleradas de abatimento,


incorporações inesperadas de ar, exsudações e alterações imprevistas nos tempos de
pega dos concretos. Para a composição de CAD, as dosagens usuais variam entre 1% a
3% da massa de cimento.

Os aditivos superplastificantes proporcionam ao concreto as seguintes vantagens:

»» ganhos de resistência excepcionais;

»» redução da permeabilidade;

»» diminuição da segregação;

»» redução no consumo de cimento;

»» melhoria considerável da trabalhabilidade.

Adições de minerais
A adição de minerais que possuem características pozolânicas, proporcionam alterações
de características do concreto, tanto no estado fresco quanto no estado endurecido,
a maior parte dessas alterações surgem na microestrutura. Algumas desvantagens
importantes desse aditivo mineral puderam ser superadas com a associação dos aditivos
químicos, conferindo assim propriedades superiores à nova família de concretos.

As adições em geral atuam na fase pasta cimento e também na interface ou ligação


agregado-pasta desse material.

O efeito esperado com adição da sílica ativa ou das cinzas volantes: atua na forma física,
com o preenchimento de vazios (efeito de fíler); no aumento da coesão e da compacidade;
na forma química, quando diz respeito à reação pozolânica de transformação do
hidróxido de cálcio no silicato de cálcio hidratado.

A sílica ativa, cinzas volantes, pozolanas naturais, cinzas de casca de arroz e metacaulim
são aditivos minerais empregados com maior frequência na produção do CAD, em
dosagens que variam de 8% a 12% da massa do cimento.

A sílica ativa é um subproduto do processo de fabricação do silício metálico ou das ligas


de ferro-silício. A produção dessas ligas se dá em fornos elétricos de fusão, tipo arco-
voltaico, onde ocorre a redução do quartzo a silício pelo carbono a temperaturas da
ordem de 2.000°C. A sílica ativa bruta é coletada ao passar através de filtros especiais
denominados filtros de manga.

18
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

As matérias-primas utilizadas no processo são o quartzo de alta pureza, o carvão ou o


coque (fonte de carbono), cavacos de madeira e, eventualmente, o minério de ferro no
caso da produção de ferro-silício. A Figura 4 mostra a representação esquemática da
captação da sílica ativa.

Figura 4. Processo de produção de silício e captação da sílica ativa.

Fonte: Dal Molin, 1995.

Proporcionamento
O proporcionamento do CAD é mais crítico do que os outros concretos, cada material
deve ser analisado com cautela, pois a interação e combinação dos materiais que compõe
pode levar a resultados diferentes do esperado, sendo necessárias muitas misturas
experimentais para gerar os dados que permitam a escolha dos materiais ótimos e das
proporções ideais.

Alguns aspectos relativos ao proporcionamento dos CAD são: o consumo de cimento


é elevado, a relação A/C é baixa, utilização de aditivos químicos redutores de água e
adições minerais. Quanto ao proporcionamento dos agregados, a granulometria do
agregado miúdo tem influência nas propriedades dos CAD, tanto no estado fresco como
endurecido. Quantidades menores de agregados miúdos em conjunto com quantidades
maiores de agregados graúdos têm resultado em menores necessidades de pasta,
proporcionando concretos mais econômicos e mais resistentes. Em contrapartida,
esse proporcionamento pode levar a concretos com problemas de trabalhabilidade,
necessitando de maior energia de compactação.

19
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

Comportamento no estado fresco


A perda de abatimento dos CAD com o tempo pode ser mais rápida do que os concretos
convencionais, a qual pode ser evitada de várias formas, como realizar em menor tempo
possível os procedimentos de mistura e lançamento do concreto nas fôrmas.

O tempo de pega dos CAD, devido ao alto teor de aditivos, é retardado em comparação aos
concretos convencionais. Devido às baixas relações água/cimento, os CAD geralmente
apresentam baixa exsudação, podendo ser nula, o que poderá promover o surgimento
de fissuras de retração plástica, principalmente em situações de pouca umidade, alta
temperatura e muita aeração.

Comportamento no estado endurecido


Em comparação com um concreto convencional de 20 MPa, a resistência à compressão
dos CAD pode atingir cerca de 120 MPa. A elevação da resistência à tração, direta na
flexão ou na compressão diametral, nos CAD não ocorre na mesma proporção em
elevação da resistência à compressão, podendo atingir valores na ordem de 10 MPa.

O mesmo ocorre com o módulo de elasticidade, que não é proporcional à resistência à


compressão. O módulo de elasticidade dos CAD pode chegar a 50 GPa. Assim como nos
concretos convencionais, o coeficiente de Poisson mantém-se em cerca de 0,2.

A fluência específica é inversamente proporcional à resistência à compressão do


concreto e nos CAD é reduzida. Em peças estruturais protendidas, por exemplo, haverá
menores perdas de protensão por fluência, o que gera economia de aço.

A aderência entre o concreto e as barras de armadura é maior, devido à redução da zona


de transição existente entre a armadura e a pasta de cimento.

A resistência ao desgaste é cerca de dez vezes maior do que nos concretos convencionais,
favorecendo as aplicações em pisos, pavimentos e estruturas hidráulicas sujeitas à
abrasão.

Durabilidade
Segundo Mehta (1994), os concretos de alta resistência com superplastificantes,
baixas relações A/C, altas dosagens de cimento e pozolanas de boa qualidade, revelam
maior potencial de emprego onde os principais fatores considerados sejam as maiores
impermeabilidades ou durabilidades, e não as mais elevadas resistências.

20
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

Existem levantamentos que dão razão a essa assertiva, relatando a utilização em maior
escala dos CAD por conta da maior durabilidade, e não pelas mais elevadas resistências
mecânicas, como poderia ser esperado.

O CAD apresenta permeabilidade, porosidade e absorção capilar extremamente


reduzidas. Por essas características, a resistência à penetração de cloretos e ao ataque
de sulfetos são significativamente ampliadas.

21
Capítulo 3
Fabricação e aplicações

Na construção civil o concreto é um dos materiais de construção mais utilizados em


todo o mundo, provavelmente porque a maioria demanda apenas o emprego de mão
de obra, instalações e equipamentos de baixo nível de sofisticação para sua produção e
aplicação.

A versatilidade do concreto de alto desempenho proporcionou a realização de grandes


obras de engenharia com um custo reduzido, pois o CAD satisfaz o princípio de
exequibilidade da construção civil, ou seja, pode ser misturado, transportado, moldado,
acabado e curado com eficiência com equipamentos, materiais e procedimentos usuais
nas obras.

A complexidade da produção do CAD é explicada por Aïtcin (2000):

[...] fazer concreto de alto desempenho é mais complicado do que


produzir o concreto usual. A razão para isso é que, na medida em
que a resistência à compressão cresce, as propriedades do concreto
não são mais relacionadas apenas com a relação água/aglomerante,
o parâmetro fundamental governa as propriedades do concreto usual
em virtude da porosidade da pasta hidratada do cimento. No concreto
usual, tanta água é colocada na mistura que tanto o grosso da pasta
hidratada de cimento como a zona de transição representam o elo
mais fraco na microestrutura do concreto, onde o colapso mecânico
começa a se desenvolver quando o concreto é submetido à carga de
compressão [...] a maioria das propriedades de resistência do concreto
de alto desempenho estão relacionadas com a hidratação de silicatos,
enquanto na maior parte do tempo, o comportamento reológico está
controlado pela hidratação da fase intersticial na presença de íons de
enxofre e de cálcio [...]

Mistura
Uma avaliação criteriosa deve ser implementada e um controle de qualidade mais
rigoroso deve ser adotado na seleção do material antes da mistura, visto que qualquer
variação nos materiais afetará o desempenho do concreto endurecido. Sem contar que

22
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

o controle da umidade dos agregados (principalmente os miúdos) deve ser rígido, pois
pode alterar a relação A/C.

É importante o bom funcionamento das betoneiras ou misturadores, pois os CAD


geralmente possuem baixa dosagem de água e alta dosagem de cimento, o que dificulta
a obtenção de uma mistura homogênea. A introdução de aditivos químicos torna-se
mais efetiva quando realizada ao final do processo de mistura.

Os materiais componentes devem ser mantidos à temperatura mais baixa possível


(porém, acima de 0°C), parâmetro que influencia o consumo de água e a velocidade de
perda de trabalhabilidade do concreto.

Transporte e lançamento
Os CAD, em geral, podem ser transportados pelos processos e equipamentos
convencionais. Devido ao alto teor de aglomerante e agregados de dimensão máxima
não muito elevada, podem ser transportados por bombeamento. Recomenda-se que o
tempo decorrido entre a fabricação e o transporte do CAD deve ser o menor possível.

O lançamento do CAD geralmente não difere do usual nos concretos correntes, e como
no transporte, deve ser efetuado o mais rápido possível.

Adensamento
As técnicas para compactação dos CAD se fundamentam no conceito de remoção de
vazios do concreto com objetivo direto de elevar a resistência. São elas: a compactação
com rolos vibratórios, a compactação com pressão, a vibração combinada com pressão,
a vibração simultânea com vibradores de imersão e de superfície e a revibração.

O método mais eficiente e prático para a compactação dos CAD em obras ainda é a
vibração interna com vibradores de agulha. Sendo conveniente a utilização de um
vibrador de frequência variável, que permita uma vibração inicial de baixa frequência
para mobilizar partículas maiores de concreto como as do agregado graúdo e uma
frequência mais elevada para mobilizar partículas menores. Existem várias técnicas
para a compactação dos CAD.

23
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

Cura
É um processo crítico no CAD, ele determinará a qualidade do concreto, sendo
recomendada a cura com aspersão ou imersão de água. A cura adequada é condição
essencial para obtenção de um concreto durável conforme as especificações do projeto
estrutural.

Alguns pesquisadores acreditam que uma perda significativa da água da mistura original
afeta a resistência no sentido de diminuir em 40% o seu valor. Opinião essa que é
contestada por outros autores, que afirmam que no caso dos CAD que contêm geralmente
um teor relativamente alto de cimento, contam com a presença de superplastificantes
e são confeccionados com relação A/C da ordem de 0,3, um período de uma a duas
semanas de cura úmida seria suficiente para tornar o material impermeável, acima
desse tempo de cura úmida a influência da umidade não é relevante na melhoria da
resistência, sendo indicado a cura ao ar.

Concretos com quantidades de 10% a 12% de sílica ativa, da massa de cimento, curados
com selagem em lona plástica demonstraram eficiência equivalente à cura com imersão
em água, concluindo que em condições práticas de obra o envolvimento das peças de
concreto moldados in loco, especialmente pilares, com lona plástica, conduz a resultados
melhores que a pulverização intermitente com água.

Aplicações
O processo de construção de uma estrutura com CAD requer considerações que devem
ser observadas com maior atenção quando comparado com concretos convencionais,
conforme discutido anteriormente.

Nos CAR e CAD, o alto consumo de cimento, a incorporação de aditivo superplastificante,


a adição de sílica ativa, a necessidade do uso de agregados de alta qualidade e a maior
complexidade do seu uso, inevitavelmente, fazem com que o custo unitário deste
material seja bastante superior ao dos concretos convencionais.

Entretanto, a resistência mecânica superior dos CAD e a durabilidade elevada quando


comparada ao CAR, possibilita aos projetistas de estruturas reduzir o consumo de
concreto aplicado e mais significativamente reduzir o peso de aço necessário para os
pilares. Outros fatores que interferem nas comparações de custos das obras são:

»» reduções de solicitações nas fundações;

»» reduções nas áreas de formas;

»» reduções de custos de manutenção da estrutura, devido à maior


durabilidade dessas.
24
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO │ UNIDADE I

Sua utilização mais comum é nos pilares de edificações, em que geralmente são obtidas
reduções de áreas e volumes das peças estruturais, as quais proporcionam ampliação
da área útil das edificações, maior liberdade arquitetônica, agilidade na construção em
altura, maior reaproveitamento de fôrmas, redução da quantidade de fôrmas, armação
e concreto, menor encurtamento axial etc.

Outras aplicações do CAD são em pontes e obras de arte especiais, peças estruturais
pré-fabricadas, pisos e pavimentos, em recuperações estruturais, entre outras.

Em pontes, o uso do CAD proporciona projetos mais leves e esbeltos, com maiores vãos,
menor sensibilidade às solicitações dinâmicas, de construção mais fácil e rápida, maior
economia e de menor necessidade de manutenção.

25
CONCRETO Unidade iI
AUTOADENSÁVEL

Capítulo 1
Concreto autoadensável

Introdução
O concreto autoadensável (CAA) tem uma característica de fluir com facilidade no
interior das fôrmas sob ação exclusiva de seu peso próprio, sem a necessidade de
adensamento do material, garantindo o preenchimento de todos os espaços vazios de
maneira uniforme, utilizando menos mão de obra.

O concreto autoadensável, também conhecido como concreto fluido ou autocompactável


é obtido com a introdução de adições minerais, adições de filers, aditivos químicos e
superplastificantes ao concreto, que proporciona maior facilidade de bombeamento,
excelente homogeneidade, resistência e durabilidade. O CAA foi criado no Japão
para suprir a falta de mão de obra qualificada na operação de concretagem, já que o
adensamento inadequado do concreto reduz a durabilidade.

O concreto autoadensável permite, ainda, a concretagem em regiões com grande


densidade de armaduras, como ocorre na Figura 6, onde o uso de vibrador é difícil,
acabando com o risco de exposição do aço e a consequente deterioração da estrutura.

26
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Figura 6. Lançamento de CAA em estrutura densamente armada.

Fonte: Tutikian, 2004.

A facilidade com que pode ser aplicado o concreto autoadensável é muito superior
ao concreto convencional. A velocidade de execução aumenta, requerem-se menos
trabalhadores e equipamentos, pois dispensa o adensamento e a produtividade chega a
ser três vezes maior, sem contar que podem ser produzidos nas mesmas centrais e com
os mesmos materiais.

O CAA possui elevada fluidez e estabilidade da mistura, que são mensuráveis por meio
de três propriedades básicas:

»» habilidade de preenchimento dos espaços (filling ability);

»» habilidade de passar por restrições (passing ability) e

»» capacidade de resistir à segregação.

Constantes pesquisas estão sendo desenvolvidas com novos materiais no sentido de


obter o CAA, de forma que esse se tornará cada vez mais viável, mas apresenta algumas
desvantagens possíveis de serem contornadas; são as seguintes:

»» não é fácil de ser obtido, precisando de mão de obra especializada para


sua confecção, controle tecnológico e aplicação;

»» tem maior necessidade de controle, durante sua aplicação, do que o


concreto convencional;

»» necessita de cuidados especiais com o transporte, para evitar a segregação;

»» apresenta menor tempo disponível para aplicação em relação ao concreto


convencional.

27
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

Materiais
O concreto autoadensável é constituído pelos mesmos materiais utilizados na produção
de concretos convencionais: aglomerante (cimento), agregados (areia e brita) e água;
com exceção dos aditivos químicos e minerais.

O CAA é bastante suscetível em suas propriedades no estado fresco, e algumas


características dos materiais constituintes como, por exemplo, tamanho, textura e
distribuição granulométrica dos agregados, são importantes para a garantia da fluidez
desejada da mistura. É indispensável na produção de CAA o uso de aditivos químicos, a
fim de que se obtenham as características esperadas do concreto no estado fresco.

A seguir, são apresentadas as principais recomendações dos materiais mais comumente


utilizados na produção do concreto autoadensável.

A utilização de água no processo de produção do concreto é de grande relevância, pois


quanto maior a quantidade de água no concreto, menor é a tensão limite de escoamento,
ocasionando um aumento na sua deformabilidade e diminuindo a viscosidade da
mistura. Assim a relação água/cimento deverá ser sempre observada.

Cimento
A princípio, todos os tipos de cimentos utilizados na produção do concreto convencional
podem ser empregados na produção do CAA. Pequenas variações no tipo de cimento
afetam diretamente as propriedades do concreto autoadensável, podendo dessa forma
comprometer a compatibilidade com os aditivos químicos.
Duas características principais do cimento são relevantes: sua finura e sua capacidade
de absorver o dispersante. Com cimentos mais finos, tem-se maior superfície específica,
o que proporciona menor tensão de escoamento e maior viscosidade da mistura,
decorrente do aumento da quantidade de partículas em contato com a água, diminuindo
a distância entre os grãos e aumentado a frequência de colisão entre eles.
O cimento mais utilizado é o cimento Portland (CP), tipo bastante produzido e facilmente
comercializado. Porém, alguns estudos têm recomendado um cimento com alguns
ajustes, levando em consideração a composição da mistura do concreto autoadensável,
como segue:
A adsorção do aditivo superplastificante pelas partículas do cimento
ocorre preferencialmente nos aluminatos (Aluminato tricálcico - C3A e
Ferroaluminato tetracálcico - C4AF). No entanto, a quantidade desses
compostos deve ser moderada, para que ocorra uma adsorção mais
uniforme. O teor de C3A em massa deve ser inferior a 10%. (EFNARC,
2002)

28
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Mehta e Monteiro (1994), consideram o limite máximo de C3A (Aluminatos tricálcicos),


em geral, é de 8 %.

A composição do cimento portland composto CP II se encontra dentro do especificado


pela EFNARC e a sua facilidade de ser encontrado no Brasil são os principais fatores que o
asseguraram como sendo o mais indicado para utilização em concretos autoadensáveis.

O CAA apresenta geralmente em sua composição uma grande quantidade de finos, o


que gera um alto volume de pasta e reduzido volume de agregado graúdo. No entanto,
um grande volume de pasta necessita de uma grande quantidade de cimento, gerando
assim alto custo e alto calor de hidratação no concreto. Para contornar tal situação, são
utilizados fileres e/ou pozolanas para substituir parte do cimento.

Adições

Fíler Calcário

Os materiais em pó mais utilizados na produção de CAA são: pó de pedra; pó constituído


por partículas finamente moídas, de natureza calcária; dolomita ou granito. O fíler de
calcário de natureza catalíca tem seu uso disseminado nessas aplicações de concreto.

O fíler calcário proporciona um efeito físico e um efeito químico à mistura.

O efeito físico ocorre devido à sua finura, preenchendo todos os espaços vazios existentes
entre as partículas maiores da mistura.

O efeito químico está ligado ao fato do fíler de calcário não ser inerte e funciona como
agente aglutinante de menor intensidade quando comparado ao C-S-H (silicato de cálcio
hidratado), além de acelerar a hidratação dos minerais do clínquer C3S, contribuindo
para o aumento da resistência do concreto.

A partícula de fíler calcário podem afetar a manutenção da fluidez do concreto, como


também diminuir o tempo de pega, efeito observado quando se empregam elevados
teores de aditivos superplastificantes. O uso de fíler calcário com elevado teor de MgO
não é recomendado pela possibilidade de expansão, por formação da taumasita (sulfato,
carbonato e silicato de cálcio com água).

Segundo Esping (2003), foi demonstrado que, mantendo-se constante o teor de água
das misturas, quanto mais fino for o fíler, maior o teor de dispersante que deve ser
empregado para que sejam obtidas as mesmas características de deformabilidade.

29
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

O fíler calcário deve ter finura igual ou menor que a do cimento, porém, quando o
diâmetro médio das partículas é muito pequeno, menor do que 1 µm, pode acarretar
aumento expressivo da tensão de escoamento do concreto. (DE LARRAD, 1999)

Segundo Sonebi et al. (2003), a utilização de fíler calcário em grandes quantidades


pode diminuir a ocorrência de exsudação e segregação.

Cinza volante

É um material de origem inorgânica, com boas propriedades pozolânicas, que pode ser
adicionada ao concreto autoadensável com objetivo de melhorar as propriedades tanto
no estado endurecido quanto no estado fresco.

A adição de cinzas cria um efeito de rolagem dos agregados, diminuindo o atrito interno
entre eles e desse com as partículas de cimento, resultando maior fluidez e menor
consumo de superplastificante.

As características físicas referentes à distribuição granulométrica, forma, finura,


densidade e composição química da cinza exercem influências nas propriedades do
concreto tanto no estado fresco quanto no estado endurecido.

A finura recomendada para cinza volante empregada no CAA está na faixa 500 e 600
m²/kg.

Sílica Ativa

O uso da sílica ativa em CAA está associada à produção de concretos de elevada


resistência a compressão.

Quando a sílica ativa é empregada na faixa de 2 a 8% em relação à massa de cimento,


ocasiona um aumento na resistência à segregação. Contudo um aumento na demanda
por aditivo superplastificante é esperado, sem contar na elevação da tensão de
escoamento do concreto.

Aditivos

Superplastificantes

Os aditivos superplastificantes indicados para CAA precisam promover uma atenuação


mínima de 20% de água. Os aditivos superplastificantes são elementos essenciais nesse
tipo de concreto, pois conferem características de boa trabalhabilidade, elevando a

30
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

fluidez da mistura devido à capacidade de redução de água e também são empregados


para inibir a floculação das partículas de cimento.

Os aditivos à base de policarboxilato são os mais usuais e promovem a dispersão das


partículas, melhorando e mantendo por mais tempo a fluidez da pasta. Já os aditivos
à base de ácidos sulfonados naftaleno formaldeído e melamina formaldeído produzem
uma dispersão das partículas finas, por meio de repulsão eletrostática, acarretando em
uma redução na tensão superficial do meio aquoso do concreto, por consequência a
mistura passa a ser instável e há uma elevação na segregação decorrente da diminuição
da viscosidade da pasta.

O uso do superplastificante resulta na modificação de várias características da pasta de


cimento, incluindo a porosidade e sua distribuição, a taxa de hidratação, a morfologia
dos hidratos, o desenvolvimento da resistência, a fluidez e perda de fluidez com o tempo,
o tempo de pega, a retração, a segregação, a exsudação entre outras.

Para que esses efeitos sejam minimizados, é importante verificar a compatibilidade


entre o cimento e os aditivos usados, de modo que não haja perda de fluidez.

Existe um teor máximo de aditivo capaz de promover aumento de fluidez, que é


denominado de ponto de saturação, e pode ser definido a partir de ensaios em pastas e
argamassas.

Promotores de viscosidade

Os aditivos promotores de viscosidade possuem polímeros solúveis em água e são


empregados para melhorar a resistência à segregação dos concretos autoadensáveis.
Assim, esses aditivos são incumbidos de reter água, diminuir a exsudação e elevar
a viscosidade da pasta. Em sua maioria, são a base de polissacarídeos, com cadeias
poliméricas que absorvem a água e se entrelaçam formando grandes reticulados
flexíveis responsáveis pelo aumento da retenção de água, diminuição da exsudação e o
aumento da viscosidade da pasta, evitando assim a segregação dos agregados.

Produtos à base de sílica precipitada podem ser empregados na composição de aditivos


promotores de viscosidade. Sem contar que esses são aditivos eficientes para suprirem a
falta de finos, além de funcionarem como corretores de composição, caso o suprimento
de materiais constituintes seja variável.

O desempenho dos aditivos está diretamente ligado à compatibilidade entre eles e o


cimento, bem como a sequência de adição e a forma de mistura do CAA.

31
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

Agregados

De acordo com as especificações do EFNARC (2002), todos os tipos de agregados


utilizados em concretos convencionais são adequados para o emprego em CAA.

O volume de agregados ocupa 70% do volume de concreto, sendo dominante nas


propriedades do concreto não somente pela qualidade, mas também pela quantidade.
Portanto a qualidade e graduação dos agregados têm grande influência na qualidade do
concreto.

Todos os tipos de agregados miúdos industrializados ou naturais podem ser utilizados


no concreto autoadensável. A questão relevante é a forma dos grãos de areia que são
mais arredondados e uniformes nas do tipo natural, por esta razão areias originárias da
britagem de pedras são desaconselhadas para o uso.

De modo geral, os agregados miúdos representam entre 40 e 50% do volume nas


argamassas. (Melo, 2005)

Com relação ao tamanho das partículas, são preferíveis areias médias-finas (MF≅2.4) e
finas (MF≅1.0). Areias grossas necessitam de aumento no teor de pasta.

Para a produção dos CAA os agregados graúdos de forma regular, de qualquer natureza,
são os mais recomendados, obedecendo a proporção máxima de 50% no volume de
sólidos.

Agregados que possuem textura áspera, elevadas superfícies específicas e lamelares


devem ser utilizados em granulometria mais fina e contínua, minimizando assim os
efeitos de redução de fluidez na mistura.

Agregados com diâmetro máximo de até 10 mm são os mais utilizados na produção do


CAA, por resultar em uma composição mais econômica, e um melhor desempenho das
propriedades reológicas. Diferentes tipos de agregados são observados na Figura 5.

Figura 5. Diferentes tipos de agregados miúdos e graúdos.

Fonte: Tutikian, 2004.

32
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Métodos de ensaio
Para determinação de algumas características aceitáveis no CAA, utiliza-se o molde
tronco-cônico.

Classifica-se o concreto autoadensável no estado fresco, em função de sua


autoadensabilidade. Os métodos de ensaios utilizados diferem dos convencionais
somente quando analisadas as propriedades no estado fresco do material. A NBR 15823
categoriza os tipos de CAA em classes de acordo com o espalhamento ou tempo para o
espalhamento do concreto.

O método (slump) não se aplica para verificação do CAA. Os métodos mais utilizados
para avaliação das propriedades desse material são: ensaios de espalhamento, para
verificação da habilidade de preenchimento; os ensaios no funil em V e os ensaios das
caixas L e U, para a verificação das habilidades de preencher e de passar por restrições.

O método de análise espalhamento, com molde Cone de Abrams, sendo esse o mesmo
molde (slump). O objetivo desse método e avaliar o espalhamento do material, onde
valor do espalhamento é obtido em mm, revela a capacidade do CAA escoar pela ação
do próprio peso, correspondendo assim à sua habilidade de preenchimento.

Uma variação desse método e conhecido como T50 cm slump flow, onde é cronometrado
o tempo para o espalhamento atingir 500 mm. Concretos autoadensáveis tem
espalhamento igual ou superior a 600 mm e o T 50 cm, em torno de 2 a 5 segundos. A
NBR 15823-2 normatiza a faixa de escoamento, tempo, em classes. Na Figura 6 estão
representados os moldes para realização do ensaio espalhamento e o T 50 cm slump
flow.

Figura 6. Método de ensaio espalhamento.

Fonte: Kazui, 2014.

33
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

O método funil em V é utilizado para avaliar a capacidade de escoamento do concreto


e de passar por estreitamentos, indicado para ensaios de concretos graúdos com
dimensão máxima de 20 mm. A fluidez e viscosidade plástica aparente normatizadas
para esse tipo de concreto estão previstas na NBR 15823-5.

Esse método leva em consideração o tempo – medido em segundos – necessário para


todo o concreto depositado no molde escoar pelo funil (Figura 7) contado a partir da
abertura da portinhola inferior até a observação de luminosidade através do orifício por
onde o concreto irá escoar.

Figura 7. Método de ensaio funil V.

Fonte: Engineering, 2004.

O método de ensaio caixa L é utilizado para avaliar a capacidade do concreto


autoadensável escoar e resistir ao bloqueio ao passar entre as armaduras e espaços
entre as armaduras e as paredes da fôrma. Esse é um dos ensaios mais exigentes para
avaliação do desempenho do CAA no estado fresco.

Esse teste tem o objetivo de analisar, por meio do tempo, a facilidade de escoamento
horizontal do CAA.

A observação do escoamento diz muito sobre as características da mistura. O tempo


necessário para o concreto passar entre as marcações de 200 mm a 400 mm a partir da
face de contenção (Figura 8). O acúmulo de agregados graúdos próximos às barras de
contenção revelam uma mistura de baixa resistência ao bloqueio e coesão insuficiente
para mover-se homogeneamente ao redor dos obstáculos. A relação H2/H1 e conhecida
como razão de bloqueio, indica a facilidade de o concreto escoar e passar por obstáculos
das barras de aço, no CAA esse o valor recomendado deve estar na faixa de 0,8 a 1,0.

Com o objetivo de evitar a influência da segregação, o tempo total de ensaio não deve
exceder 5 minutos.

34
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Figura 8. Método de ensaio Caixa L.

Fonte: EFNARC, 2002.

O método de ensaio caixa U é menos sensível do que o método caixa L, quando é preciso
avaliar a capacidade de o concreto resistir ao bloqueio. A caixa em U é um duto em
forma de U como exibido na Figura 9.

Essa caixa funciona com princípio de vasos comunicantes, quando a portinhola inferior
é aberta o concreto escoa para o outro lado, quando o escoamento cessa é medida a
diferença de altura entre as superfícies horizontais do concreto, também chamada
de altura de preenchimento. Quanto menor essa diferença maior a habilidade de
preenchimento do concreto.

O CAA é considerado adequado quando a altura do concreto no espaço inicialmente


vazio é superior a 300 mm. O tempo do teste não deve ser superior a 5 minutos.

A confecção da caixa U é complexa de ser construída quando comparada com a caixa


L, ambos os métodos de ensaios são empregados para a dosagem do CAA pelo método
Okamura.

35
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

Figura 9. Método de ensaio Caixa U.

Fonte: EFNARC, 2002.

A avaliação da segregação no estado fresco para o CAA e feita pela determinação do teor
de agregados graúdos pelo peneiramento e pela lavagem de porções de concreto após
o material repousar um período de tempo. Esse método de análise apresenta muitas
lacunas no procedimento.

A EFNARC (2002) sugere como procedimento de análise da resistência à segregação


a utilização do funil V. E também define outros tipos de métodos de ensaios, que não
foram abordados nesse material.

A classificação, controle e aceitação no estado fresco para o CAA de acordo com as


normas brasileiras estão descritas na ABNT NBR 15823, assim os métodos descritos
são os mais utilizados para determinar o CAA.

Quadro 1. Ensaios e requisitos para CAA.

Propriedade avaliada Método de ensaio Valores limites


Habilidade de preenchimento Espalhamento (Cone de Abrams) Entre 600 mm e 800 mm
Habilidade de preenchimento e de passagem por Funil V Entre 5 e 10 segundos
restrições Caixa L H2/H1 entre 0,8 e 1,0
Observação visual. Não deve haver
Resistência à segregação Espalhamento (Cone de Abrams) e Caixa L
separação dos materiais.

Fonte: Repette, 2005.

36
Capítulo 2
Características e aplicações

O comportamento reológico do concreto autoadensável pode ser satisfatoriamente


simulado pela expressão de Bingham e descrito por meio da tensão de escoamento,
que é a pressão necessária para promover o escoamento no concreto e da viscosidade
plástica.

O estudo da reologia do concreto pode ser medida por reômetros, contudo o uso destes
equipamentos ainda é limitado devido a diversas questões práticas. Sem contar que
apenas os parâmetros reológicos não podem expressar a adequação do CAA, pois esses
não representam a habilidade de passar por restrições, nem da resistência à segregação.

Possui menor tensão de escoamento e maior viscosidade plástica quando comparado


com outros concretos considerados de alto escoamento.

Dosagem
A dosagem tem o objetivo de obter uma proporção econômica dos constituintes do
concreto sem interferir nas características ideais de trabalhabilidade, resistência
mecânica e durabilidade.

O CAA deve ter uma atenção redobrada, pois além de caracterizar o estado endurecido é
necessário caracterizar o estado fresco. O controle das características de fluidez elevada,
resistência à segregação, capacidade de passar por áreas confinadas e se adensar pela
própria ação do peso são dificilmente atingidas na dosagem de forma econômica.

Para o CAA adquirir fluidez elevada, os agregados no interior da pasta de concreto


devem ter seu atrito mínimo, de tal forma que não comprometa o escoamento.

A elevada fluidez e uma viscosidade adequada são conseguidas, quando comparado


ao concreto comum, com o aumento da relação volumétrica finos/agregados e com
emprego de aditivos superplastificantes de alta eficiência.

Uma outra questão muito relevante é a manutenção da fluidez durante o tempo


necessário para aplicação do CAA, que associada ao aditivo superplastificante de
elevado desempenho adicionado ao concreto. O elevado desempenho do aditivo está
ligado ao tipo e teor, à forma de adição, à compatibilidade química com materiais não
inertes e à homogeneização da mistura.

37
UNIDADE I │CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

A distribuição de agregados na massa e uma elevada viscosidade da pasta são fatores que
controlam a segregação. Para obter uma boa segregação, distribuições mais continuas
são recomendadas. Com o intuito de aumentar a retenção de água e a viscosidade da
mistura adiciona-se mais finos no CAA do que no concreto convencional.

A viscosidade da pasta e da argamassa devem ser suficientes para que o concreto escoe
homogeneamente através das restrições, com coesão.

O uso de aditivos promotores de viscosidade pode melhorar o comportamento do


concreto quanto à segregação e a resistência ao bloqueio.

A incorporação de adições minerais, em substituição ao cimento, colabora para a menor


evolução de calor durante a hidratação do cimento e para o menor risco de fissuração
do CAA por retração térmica, sem contar que há um aumento da retenção de água e do
volume de pasta. Nesse caso, a resistência do CAA é reduzida.

Quadro 2. Materiais comuns e os finos no CAA.

Relação de componentes para CAA com finos e materiais convencionais


Cimento 350 a 450 kg/m3
Partículas finas* 150 a 250 kg/m3
Relação água/finos 0,8 a 1,10
Volume de agregados miúdos na argamassa 35% a 50%
Volume de agregados graúdos no concreto 25% a 35%

*partículas menores que 0,075mm

Fonte: próprio autor.

Atualmente, os métodos de dosagem do CAA se dividem de acordo com três estratégias


de dosagem:

»» o método de preenchimento de esqueleto de agregado;

»» controle de segregação;

»» incorporação de agregado em pasta.

Método de preenchimento de esqueleto de


agregado

No método de preenchimento de esqueleto de agregado, primeiro é definida, de forma


teórica ou prática, a composição de agregados graúdos que resulte o maior grau de
empacotamento das partículas, o agregado miúdo é adicionado posteriormente a fim de
se obter o menor índice dos vazios, dessa forma é composto o esqueleto de agregados.

38
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Para definição da pasta, ajustam-se os teores de cimento, água, aditivos e eventualmente


adições, de acordo com requisitos de fluidez e estabilidade da mistura, que são obtidos
por meio dos ensaios no funil de Marsh, no mini-slump, na mesa de consistência e
nos reômetros. Posteriormente, a pasta é incorporada ao esqueleto de agregados e as
propriedades do concreto no estado fresco são determinadas, assim é determinada à
relação satisfatória pasta/agregados.

Controle de segregação

As propriedades da pasta são definidas, por meio de conhecimentos teóricos, de forma


a não haver segregação dos agregados utilizados no concreto autoadensável.

Estimando uma determinada composição de agregados, definem a densidade, tensão


de escoamento e a viscosidade da pasta para que ocorra um equilíbrio de forças sobre
as partículas de modo a evitar a segregação, tanto no concreto em movimento quanto
no concreto em repouso.

O método de ensaio utilizado para ajustar a relação pasta/agregados é do tipo caixa U.

Incorporação de agregado em pasta

A composição da pasta que atende a condições relacionadas principalmente à capacidade


de escoamento e à resistência à segregação são definidas por meio de ensaios. O teor de
aditivos a ser incorporados na maioria das vezes é obtido com base no teor de saturação
na pasta. Em seguida é adicionado à pasta agregados miúdos com a finalidade de
descobrir o teor de areia na argamassa, para isso, utilizam-se ensaios de espalhamento
e de escoamento de mistura.

A composição de graúdos é definida experimentalmente para se obter um elevado grau


de empacotamento das partículas. Incorpora-se o agregado graúdo na argamassa e
determina-se experimentalmente o teor ótimo de agregado graúdo no CAA.

O teor de aditivos obtido inicialmente na pasta é ajustado nas fases de composição da


argamassa e do concreto.

Uma das maiores limitações dos métodos descritos é o fato das propriedades mecânicas
e dos parâmetros de durabilidade do concreto no estado endurecido não serem requisitos
para dosagem, mas simplesmente resultarem da composição do CAA definida com base
nas propriedades no estado fresco.

39
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

O CAA no estado endurecido tem o comportamento à compressão e à tração similar aos


dos concretos convencionais. Já a retração e a fluência são fatores relevantes, visto que
o teor de pasta e de argamassa são maiores do que o concreto convencional.

O método de dosagem Okamura é bastante conhecido e importante para dosagem dos


CAA.

Sobre o método Okamura em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/


handle/10183/11309/000611153.pdf>.

Aplicações

Transporte

O transporte deve ser realizado no menor tempo possível com o objetivo de evitar a perda
de água e a vibração excessiva. Levando em consideração a elevada fluidez e o baixo
atrito interno dos agregados, o método de transporte mais indicado é o bombeamento.

Lançamento

EFNARC (2002) recomenda um lançamento vertical do CAA em queda livre de até 5


m sem que haja falhas no concreto. Característica conferida pelo o grande volume de
argamassa e a elevada resistência à segregação contidos nesse tipo de concreto.

Na movimentação horizontal, recomenda-se que a distância não seja superior a 7 m, a


fim de evitar uma possível segregação. Antes do início do lançamento, é recomendado
a molhagem das superfícies que irão receber o concreto com o intuito de assegurar a
ótima qualidade nas interfaces das várias camadas de concretagem. A Figura 10 mostra
um lançamento do CAA.

Quando a estanqueidade é um requisito, o tempo de lançamento entre as camadas deve


ser minimizado.

40
CONCRETO AUTOADENSÁVEL │ UNIDADE II

Figura 10. Lançamento do CAA.

Fonte: Five Steel Engenharia S.A, 2017.

Cura

A cura no CAA não exige cuidados diferentes do procedimento no concreto comum.


Deve ser iniciada o mais breve possível e assim mantida por 7 dias. Nesse período de
cura ou enquanto não atingir endurecimento satisfatório, o concreto deve ser protegido
de intempéries e interferências. Em caso de utilização da cura com água, está deverá
ser permanente.

A proteção contra secagem prematura, pelo menos durante os sete primeiros dias após
o lançamento do concreto (aumentando esse mínimo quando a natureza do concreto
exigir), pode ser feita mantendo a superfície umedecida ou protegendo-a com uma
película impermeável.

Utilizações
O concreto autoadensável foi desenvolvido no Japão, na década de 1980, sendo que
sua maior aplicação em obras civis ocorreu em 1997, naquele país, com a concretagem
das ancoragens de concreto da ponte metálica de maior vão livre do mundo, a ponte
Akashi-Kaikyo.

A utilização do concreto autoadensável aumenta a cada dia devido à versatilidade do


material: possibilita a redução da mão de obra e do tempo de concretagem, facilidade
de aplicação, grande capacidade de preenchimento de peças estreitas, dentre outras
vantagens. As restrições ao uso do CAA são exatamente onde a elevada fluidez do

41
UNIDADE II │ CONCRETO AUTOADENSÁVEL

material é um inconveniente como por exemplo em desníveis, rampas, vigas invertidas,


concretagem de escadas moldadas no local.

São utilizados CAA em execução de pisos e pavimentos, parede diafragma, reservatórios


com ausência de juntas frias, estação de tratamento de água e esgoto, revestimento
de túneis, lajes de pequena espessura ou lajes nervuradas; paredes, vigas e colunas,
inúmeras outras.

Observa-se também na utilização de elementos pré-fabricados com grande concentração


de armaduras, onde o concreto convencional tem certa dificuldade de percorrer e
preencher os espaços vazios.

A Figura 11 exibe uma estrutura em forma de iglu. Segundo Bernabeu e Laborde (2000)
a edificação possui 5 metros de altura, 11,70 metros de largura e 22 de comprimento,
devido à dificuldade de promover a vibração imposta pelas formas utilizou-se o CAA e
a concretagem foi realizada em duas partes e o volume total foi de, aproximadamente
200 m3.

Figura 11. Estrutura em forma de “iglu” concretada com CAA.

Fonte: Bernabeu e Laborde, 2000.

42
CONCRETO Unidade iII
CELULAR

Capítulo 1
Definições e materiais

Definição
Nos concretos leves, a massa específica varia entre 800 e 2.000 kg/m³. Além do
concreto celular espumoso (ex.: isopor), outro tipo muito comum é a argila expandida.
O concreto celular faz parte desse grupo de concretos leves, com a diferença de que
ao invés de utilizar agregados de reduzida massa específica em sua composição, ele é
obtido por meio da adição de um tipo especial de espuma ao concreto.

Figura 12. Comparação entre a composição de três tipos distintos de concreto.

Fonte: Murucci, 2015.

43
Ou seja, trata-se de um tipo de concreto com minúsculas bolhas de ar, ou células, que
promovem a baixa densidade do concreto, por esse motivo se encaixa no grupo dos
concretos leves.

Figura 13. Concreto Celular.

Fonte: Gruppiconcreto, 2017.

O concreto celular se divide em duas modalidades: o concreto celular autoclavado


(CCA) e o concreto celular espumoso (CCE).

Figura 14. Fluxograma sobre concretos leves.

Fonte: próprio Autor.

Ambos os materiais são extremamente leves e apresentam as propriedades de


isolamento térmico e acústico. O CCA, em geral, é um material pré-moldado que alia
estrutura, resistência ao fogo, como isolamento acústico e térmico.

44
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Concreto celular espumoso (CCE)


O concreto celular esponjoso (CEE) é consequência da mistura de aglomerante,
agregados finos e agente espumígeno. Esse agente espumígeno é projetado por um
gerador de espuma. Esse material é empregado na obra em estado fresco.

Figura 15. Concreto celular espumoso no estado fresco.

Fonte: Concretos Celulares Brasil, 2017.

Concreto celular autoclavado (CCA)

Histórico

O concreto celular também é denominado de concreto celular autoclavado (CCA), ou


em inglês autoclaved aerated concrete (AAC), concreto autoclavado, concreto poroso,
ou em alemão porenbeton.

Na década de 1920, o arquiteto sueco Johan Axel Eriksson trouxe uma nova proposta
de concreto para o mercado. Concreto esse que misturava leveza, isolamento acústico e
térmico, e resistência ao fogo. O concreto celular autoclavado foi desenvolvido quando
o Dr. Erickon estudava um material com propriedades parecidas às da madeira, com
estrutura sólida, bom isolamento térmico e facilidade de trabalho e manuseio.

45
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

No final dos anos 1920, quando trabalhava com o professor Henrik Kreuger, do Instituto
Real de Tecnologia, o Dr. Axel aperfeiçoou o concreto celular que entrou em produção
em escala industrial na Suécia, em 1929.

O primeiro local a ser fabricado foi em uma fábrica em Hallabrottet, mas devido as suas
excelentes propriedades, logo tornou-se bastante popular e se difundiu pelo mundo.
Trata-se se um material muito utilizado ao redor do mundo, em aplicações como: blocos,
painéis de telhado, paredes, divisórias, revestimento de fachada, vergas, nivelamento
de pisos e em algumas peças estruturais e painéis pré-fabricados.

Figura 16. Possíveis aplicações do CCA.

Fonte: Aircrete Europe, 2017.

A partir dos anos de 1980, ocorreu o aumento considerável, em todo mundo, da utilização
de matérias confeccionados com concreto celular autoclavado (CCA), favorecendo a
abertura de inúmeras fábricas nos cinco continentes.

Hoje, na Europa, houve uma estabilização da produção do CCA, mas há o desenvolvimento


gradual e intenso na Ásia, motivado pela alta necessidade de habitações e espaços
comercias nesse continente. Os maiores mercados desse tipo de material, tanto para
produção, quanto para consumo, são: China, Oriente Médio, Índia e Ásia Central.

O CCA começou a ser fabricado no Brasil no final dos anos 1950, em Ribeirão Preto,
pela SIPOREX Concreto Celular Autoclacado Ltda (antiga PUMEX).

O CCA é utilizado de forma corriqueira e faz muito sucesso ao redor do mundo desde
os anos 1950, mas não no Brasil. Diferentemente de países que chegam a produzir
cerca de meio milhão de casas desse material por ano, o CCA não é muito comum no
nosso país. Mas, nos últimos anos, esse material vem ganhando notoriedade entres os
construtores. Existe muitos projetos para sua utilização em casas populares, como é o
caso do projeto batizado de casa 1.0, patrocinado pela ABCP (Associação Brasileira de
Cimento Portland).

46
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Conceitos

Um concreto celular autoclavado é aquele que se encaixa no grupo dos concretos leves e
é obtido por um processo industrial e formado por materiais calcários (cimento, cal ou
ambos) e materiais ricos em sílica, granulados finamente. Essa definição está descrita
na NBR 13438, destinada a blocos de concreto celular autoclavado.

Em geral, é pré-moldado em forma de bloco, que passa pelo processo de cura a altas
pressões, no interior de fornos especiais, denominados autoclaves (daí vem o nome). O
outro nome que se dá é também conhecido como concreto aerado autoclavado.

A principal diferença entre um CCA e um concreto agregado de peso leve é que o


primeiro possui milhões de células microscópicas que são produzida no decurso do
processo industrial. Comparado aos outros tipos de concreto, um dos pontos positivos e
que diferencia o CCA é o fato de ser possível perfura-lo, serra-lo, prega-lo, ou atarraxa-
lo utilizando ferramentas de carpintaria convencionais.

Sua principal utilização na construção é como isolante térmico à base de concreto, para
ambiente interno e externo.

Apesar de poder ser usado argamassa de cimento normal, na maior parte


dos edifícios construídos com materiais de CCA usa-se uma camada
fina de argamassa, em espessuras em torno ⅛ polegadas, dependendo
dos códigos de construção nacionais. Os materiais de CCA podem ser
revestidos com um estuque ou gesso composto para proteger contra os
elementos, ou cobertos com materiais de revestimentos, como tijolo e
outros. (AIRCRETE EUROPE, 2017)

Um texto que sintetiza bem o conceito de concreto celular autoclavado e a


solidificação de empresas do setor no Brasil. O texto tem por título: Empresa
catarinense se firma no mercado de blocos de concreto celular, de Jorge Aoki
e Rosemeri Ribeiro e está disponível em: <http://www.cimentoitambe.com.br/
leves-e-eficazes/>.

Vantagens

Quando comparado a outros materiais de construção, o CCA apresenta inúmeras e


importantes vantagens, sendo a principal o seu baixo impacto ambiental. Serão aqui
listadas as vantagens mais relevantes do CCA:

47
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

»» Um dos pontos que foram aperfeiçoados no CCA é a sua eficiência térmica,


que possibilitou a redução da carga de aquecimento e resfriamento nas
edificações.

»» Devido a sua estrutura porosa, o CCA apresenta resistência ao fogo muito


maior que de outros materiais.

»» O fator peso é muito interessante nesse material, sua leveza permite


que se reduzam custos com transporte e energia, eleva as possibilidades
de sobrevivência em meio a uma atividade sísmica, diminui despesas
trabalhistas.

»» É possível que se construa blocos maiores, o que permite que as atividades


de alvenaria ocorram de forma mais rápida.

»» Esse material permite uma instalação rápida e fácil devido também ao fato
de permitir o desbaste, polimento e corte no local, utilizando ferramentas
que podem ser de aço carbono padrão.

»» Como já foi dito, o baixo impacto ambiental é uma das principais


vantagens do CCA. Ela se dá devido à utilização eficiente dos recursos
em todas as etapas do seu ciclo de vida que vai desde o processamento de
matérias-primas até a eliminação de resíduos.

»» Uma das características que permite a diminuição da formação de


resíduos sólidos é a trabalhabilidade do CCA que proporciona um corte
preciso.

Materiais
Como já vimos, o concreto celular é um material leve à base de cimento. Ele contém
muitas bolhas de gás uniformemente distribuídas no volume, produzindo pela mistura
e maturação de uma mistura de cimento, enchimento, água, células geradoras de
agentes.

Basicamente, o concreto celular autoclavado é fabricado pela mistura de areia, cimento,


cal e pó de alumínio. O aditivo expansor produz bolhas de ar esféricas e não interligadas.
Ocorre a pré-cura e após moldado, o concreto celular é cortado em blocos. Finalmente,
ocorre a cura em autoclave com alta pressão e temperatura. Nessas condições, são
produzidos silicatos de cálcio que dão resistência à compressão. Devido às bolhas de ar,
o material oferece resistência térmica e acústica.

48
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Para concretos celulares, os agregados não são maiores que a areia. Os agentes de ligação
são: areia de sílica, cal, cimento e água. Alguns países utilizam as cinzas originadas de
usinas térmicas, que possui alto teor de sílica, como agregado.

Areia, cal e cimento são misturados em proporções específicas, são adicionados água
e pó de alumínio. A proporção deste último é de 0,05%-0,08% em volume, depende
muito da densidade desejada. O objetivo do pó de alumínio é o de levantar a mistura.

O concreto é moldado em fôrmas, onde descansa, que são semipreenchidas para que
ocorra o crescimento da pasta. Quando estão nas fôrmas, ocorrem diversas reações
químicas no cimento que lhe darão leveza e possibilitaram o desenvolvimento de
suas propriedades térmicas. O pó de alumínio reage com hidróxido de cálcio e água,
liberando o hidrogênio como um dos produtos da reação. São formadas então pequenas
células cheias de hidrogênio, esse gás é responsável pela formação das bolhas que lhe
dão leveza, que aumentam o volume da mistura. No final do processo, obtém-se um
material sólido, leve e termicamente muito isolante, e o hidrogênio escapa para a
atmosfera e é substituído pelo ar.

Após a retirada das formas, tem-se um material sólido e macio que pode ser cortado em
forma de blocos e painéis e posto em um autoclave de câmara durante 12 horas, em uma
temperatura por volta de 200°C. Esse processo confere ao concreto celular autoclavado
e suas características são definitivas.

Método de produção de aeração de


concretos leves
Uma forma de se obter concreto leve é ​​pela introdução de bolhas de gás na mistura de
argamassa plástica para produzir um material com uma estrutura celular, semelhante
a uma borracha ou esponja, ou seja, o resultado é o nosso concreto celular.

Veremos aqui dois métodos de produção de aeração, e dependendo do método utilizado,


o produto pode receber uma nova nomenclatura, após sua utilização. Os dois métodos
são:

1. utilização de um agente de ar arrastador;

2. utilização de espuma pré-formada.

Se for utilizado um agente de arrastar ar, o concreto será muito provavelmente


denominado concreto celular e, no caso de espuma pré-formada, o nome será concreto
espumado. Uma outra diferenciação é feita ao concreto celular com base no método de

49
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

cura utilizado. Note-se que, tal como no caso de um agente de arrasto de ar, um agente
espumante pode também ser adicionado à mistura, em oposição a um agente pré-
formado, espuma. Esses agentes podem estar em forma de pó ou líquido. Eles diferem
do AEA na medida em que adicionam ar, e não apenas capturam/estabilizam o ar já
preso na mistura.

Geralmente, existem vários métodos de produção de aeração em concreto. No entanto,


todos estes métodos podem ser categorizados em duas categorias:

1. conteúdo de ar controlado e

2. conteúdo de ar não controlado.

Na categoria de conteúdo de ar controlado é utilizado um método que produz um


conteúdo de ar de quantidade conhecida. O concreto espumado é um exemplo de um
método de ar controlado porque uma quantidade conhecida de espuma pré-formada é
usada para fazer concreto espumado.

A espuma é produzida utilizando uma solução de um agente espumante com água e


chicoteando a espuma até obter uma certa densidade. Este método de produzir vazios
no concreto é utilizado para ser o mais econômico e controlável porque não há nenhuma
reação química envolvida.

O método não controlado de conteúdo de ar, onde se produz uma quantidade


desconhecida de ar, produz concreto celular. Nesse método são utilizados produtos
químicos para produzir bolhas de gás que são “aprisionadas” na mistura, produzindo
assim uma matriz porosa. Uma desvantagem desse método é o fato de a quantidade
de ar arrastada para a mistura de concreto ser desconhecida e ser apenas por meio de
observação e testes que se pode estimar o volume de ar arrastado para a mistura de
concreto.

Projeto de mistura de concretos celulares


O concreto celular é diferente do concreto de peso normal no sentido de que não
contém agregado grosseiro. Portanto, os procedimentos de projeto para proporção
de uma mistura que se aplica ao concreto de peso normal não podem ser aplicados a
qualquer forma de concreto celular. Ao longo da literatura, diferentes autores utilizaram
metodologias de projeto de mistura para concreto celular que variam muito daquele do
concreto normal. Todas essas metodologias têm em comum: a massa dos componentes
de mistura é expressa como um fator do teor de cimento em peso.

50
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Alguns afirmam que na fase de projeto de mistura de concreto de peso normal a


relação água / cimento (A/C) determina o projeto. Essa razão A/C dá uma indicação
da resistência do concreto aos 28 dias. Contudo, na concepção de concreto espumado,
determina-se a densidade-alvo e são escolhidas as proporções A/C e areia/cimento
(S/C).

No projeto da mistura de concreto espumado, duas variáveis precisam ser resolvidas:

1. nomeadamente o teor de cimento;

2. o conteúdo de espuma.

Para esse efeito, podem ser apresentadas duas equações, uma baseada na soma da massa
dos constituintes e outra baseada na soma do volume dos constituintes da mistura.

Classificação de concreto celular

Com base no método de formação de poros

Método de arrastamento (concreto de gás)

Produtos químicos formadores de gás são misturados em argamassa de cal ou cimento


durante o estágio líquido ou plástico, resultando em uma massa de volume aumentado
e quando o gás escapa, deixa uma estrutura porosa. Pó de alumínio, peróxido de
hidrogênio/pó de branqueamento e carboneto de cálcio liberam hidrogênio, oxigênio
e acetileno, respectivamente. Entre esses, o pó de alumínio é o agente de aeração mais
utilizado.

A eficácia do processo em pó de alumínio é influenciada pela sua pureza e alcalinidade


do cimento, juntamente com os meios utilizados para evitar a fuga de gás antes do
endurecimento da argamassa. No caso de cimentos Portland com baixa alcalinidade,
adição de hidróxido de sódio ou suplemento de cal, o álcali, é requerida.

Método de espuma (concreto espumado)

Esse é relatado como o processo de formação de poros mais econômico e controlável,


pois não há reações químicas envolvidas. A introdução de poros é conseguida por meios
mecânicos, seja por formação de espuma pré-formada (agente espumante misturado
com uma parte da água de mistura) ou mistura de espuma (agente de formação de
espuma misturado com a argamassa). Os vários agentes espumantes utilizados são

51
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

detergentes, sabão de resina, resinas de cola, saponina, proteínas hidrolisadas, como


a queratina etc.

Método combinado de formação de poros

A produção de concreto celular, combinando métodos de formação de espuma e ar,


também foi adotada usando pó de alumínio e resina de cola.

Com base no tipo de pasta

O concreto arejado é classificado em cimento ou à base de cal, dependendo do aglutinante


utilizado. Tentativas também foram feitas para usar materiais pozolânicos, como cinzas
de combustível pulverizado [3,5 ± 9] ou resíduos de ardósia [10 ± 12], como substituição
parcial do aglutinante ou da areia.

Com base no método de cura

O concreto celular pode ser não autoclavado ou autoclavado com base no método de
cura. A resistência à compressão, o encolhimento de secagem, as propriedades de
absorção etc. dependem diretamente do método e duração da cura.

O desenvolvimento de força é bastante lento para produtos com cura úmida. O autoclave
inicia a reação entre os ingredientes que contêm cal e sílica/alumina. Existe grande
variação na pressão e duração sugerida por vários autores (duração ± 8 ± 16 h e pressão
± 4 ± 16 MPa). As outras variáveis de significância são a idade e condição da mistura
no início do ciclo de cura e as taxas de mudança de temperatura e pressão. O autoclave
é reduz significativamente o encolhimento de secagem e é essencial se os produtos de
concreto arejado forem necessários dentro de níveis aceitáveis ​​de força e encolhimento.

Cura
O concreto celular também pode ser classificado de acordo com o método de cura usado.
Existem vários métodos de cura que são comumente usados ​​para concreto celular.
Esses métodos podem ser classificados em dois grupos:

1. autoclavado;

2. não autoclavado.

52
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Combinando esses métodos de classificação (com base na formação de poros, com


base na cura), o tipo de concreto celular que se pode obter é o concreto celular não
autoclavado e o concreto autoclavado. Uma breve visão geral dos métodos de cura é
agora apresentada.

Autoclavado

O concreto celular pode ser não autoclavado ou autoclavado (AAC) com base no método
de cura.

Autoclavagem é um processo pelo qual o concreto é curado em uma câmara com alta
temperatura e alta pressão por um certo período de tempo. Pode ser utilizada uma ampla
gama na pressão (4-16 MPa) e na duração (8-16 horas) do processo de autoclavagem.
Além disso, a autoclavagem reduz significativamente a retração de secagem em concreto
aerado e é essencial se os produtos de concreto arejado são necessários dentro de níveis
aceitáveis ​​de resistência e retração.

Não autoclavado

Os processos de cura não autoclavados incluem cura úmida, cura a vapor e secagem a
seco.

Embora esses métodos de cura possam ser aplicados ao concreto celular, eles não são
em grande parte favorecidos porque a resistência do concreto resultante é baixa em
comparação com a de autoclavagem. No entanto, a autoclavagem requer produção em
fábrica e se o concreto celular é para avançar como um material estrutural na indústria,
formas alternativas de desenvolvimento de alta resistência em concreto celular teriam
que ser desenvolvidas.

53
Capítulo 2
Propriedades e características

Introdução
Os concretos celulares são, em geral, requeridos devido às suas propriedades. Ele foi um
material desenvolvido para aliar algumas propriedades que em outros tipos de concreto
não seriam encontradas juntas. Os dois tipos, o CCA e CCE, apresentam grande leveza
aliada a propriedades de isolamento térmico e acústico, devido ao ar aprisionado em
suas células.

Nesse tópico, conheceremos um pouco mais das propriedades já descritas e outras


propriedades que os concretos celulares possuem, principalmente os autoclavados.

Na Figura 17, observaremos um resumo das principais vantagens e propriedades dos


concretos celulares.

Figura 17. Vantagens do concreto celular.

Fonte: Aircrete Europe, 2017.

54
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

O concreto celular pode ser feito de modo a ter uma densidade entre de 300-1.800 kg/
m³. Na concepção dos edifícios, o concreto com uma baixa densidade seria favorável
uma vez que a baixa densidade proporcionaria um componente de baixo peso próprio.
As propriedades térmicas do concreto também são importantes.

Um baixo coeficiente de condutividade térmica seria útil, uma vez que seria melhor
equipado do que o concreto normal para proteger o reforço no caso de um incêndio. O
concreto celular também proporcionaria melhor isolamento do que o concreto de peso
normal.

Na indústria do concreto, as vantagens do baixo peso próprio e boas propriedades


térmicas do concreto celular são ofuscadas pela baixa resistência à compressão dos
rendimentos do concreto e pela retração de secagem (o último depende muito do tipo
de regime de cura utilizado).

Os poros presentes nesse tipo de concreto permitem que ele tenha baixa absorção de
água e excelente resistência ao fogo.

Material versátil, e são fáceis de serem moldados. Permite ser: serrado, atarraxado e
perfurado usando ferramentas convencionais.

Principais propriedades do CCA


Como foi dito, daremos um maior enfoque ao CCA, dentre as propriedades que possui,
as mais interessantes estão listadas aqui:

»» peso específico baixo;

»» boa resistência à compressão;

»» potencial elevado como isolante térmico com uma condutibilidade


térmica de 0,083 kcal/hmºC e isolamento acústico (37dB para uma
parede de 10 cm);

»» grande inércia térmica;

»» resistência ao fogo excepcional;

»» impermeabilidade elevada contra vapor, pois a estrutura celular fechada


torna lenta a penetração da água no produto;

»» boa trabalhabilidade como material;

55
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

»» durabilidade ilimitada;

»» o CCA é razoavelmente resistente ao frio e aos sulfatos, permitindo ser


usado ao redor do mundo em todas as zonas climáticas e com uma gama
extensiva de aplicações;

»» quando usado no exterior, o CCA normalmente é protegido por argamassa


ou outras camadas protetoras;

»» o CCA também é um material inorgânico, fazendo dele, 100% à prova de


animais danosos (cupins, por exemplo) e resistente ao apodrecimento.

Microestrutura
No concreto celular, o método de formação de poros (a saber, liberação de gás ou
espuma) implica a microestrutura e, portanto, suas propriedades. A estrutura material
do concreto arejado é caracterizada por sua matriz microporosa sólida e macroporos.
Os macroporos são formados devido à expansão da massa causada pela aeração e os
microporos aparecem nas paredes entre os macroporos. A orientação dos produtos de
hidratação do cimento é significativamente alterada devido à presença de vazios.

O sistema poroso do concreto arejado também é classificado em termos de funções


de distribuição de tamanho de poro como poros de ar artificiais, poros inter-cluster e
poros de partículas inter-partículas e a distribuição de poros na matriz tem influência
sobre suas propriedades. Outro método bem aceito classifica em termos de poros com
um raio, introduzidos por aeração ou agentes tensoativos, microcapilares de 50 nm ou
menos formados nas paredes entre os poros do ar (referidos como microporos) e muito
poucos poros de 50 nm a 50 lm, chamados macrocapilares.

Embora o sistema de ventilação permaneça em grande parte idêntico, existe diferença


na estrutura de concreto celular autoclavado e concreto celular não autoclavado,
causada pela variação nos produtos de hidratação, o que explica a variação em suas
propriedades. Na autoclavagem, uma parte do material silicioso é reativa quimicamente
com material calcário como cal e cal liberada pela hidratação do cimento, formando
uma estrutura microcristalina com uma superfície muito menor. O concreto celular
não autoclavado tem um volume maior de poros devido à presença de água porosa
excessiva. Observou-se que a distribuição de tamanho de macroporo não tem muita
inteferência na resistência à compressão.

56
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Porosidade, distribuição de tamanho de poro


e permeabilidade
As propriedades do concreto, como a resistência, permeabilidade, difusividade,
retração e fluência, estão intimamente relacionadas à sua distribuição, porosidade e
poros. Assim, a caracterização da estrutura dos poros é extremamente importante, e
mais ainda no caso do concreto celular, onde a porosidade pode atingir 80%.

A porosidade e a distribuição do tamanho do poro do concreto celular variam


consideravelmente com a composição e o método de cura. A maior porosidade de
concreto celular foi estabelecida como consequência do aumento do volume de
macroporos, o que, por sua vez, resulta em paredes de poros mais finas, reduzindo
assim a quantidade de volume de microporos.

Também foi demonstrado que a porosidade deve ser qualificada com o método de pré-
tratamento adotado, uma vez que a secagem no forno da amostra para determinar a
porosidade reportou ter levado ao colapso da estrutura celular. Embora a porosidade
varie consideravelmente entre o concreto celular autoclavado feito com métodos de
formação de espuma e gás, a permeabilidade não é muito variável. Verificou-se que os
poros artémicos de ar têm pouca influência sobre a permeabilidade.

Peso específico/densidade
Os concretos celulares apresentam baixo peso específico, o que proporciona a leveza do
material.

Já sabemos que a existência de células minúsculas de ar define a estrutura de um


concreto celular. Durante a sua fabricação, se consegue concretos nos quais os volumes
em massa 350 e 500 kg/m³. Quando comparado ao concreto usual (massa por volta
de 2.400 kg/m³), observa-se que se ganha bastante em leveza, podendo chegar a uma
razão peso/volume, de ambos, a quase 7 vezes menor.

57
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

Figura 18. Concreto celular x concreto convencional.

Fonte: Ecopore, 2017.

Pode-se encontrar duas formas de células, as macrocélulas que apresentam diâmetro


entre 0,5 e 2 mm e as microcélulas com grandezas comparadas às capilares. A quadro
abaixo, é um bom exemplo da quantidade de células sólidas e vazias, em percentual,
concreto celular de 450 kg/m³.

Quadro 3. Volume percentual.

Tipos de células %
Células sólidas 20
Macro células 50
Micro células capilares 30
Fonte: UFRGS, 2017.

Observe o quadro e perceba que o volume de ar corresponde a 80% do concreto celular


e apenas 20% de células sólidas. Podemos concluir que a cada metro cúbico de matéria-
prima investido, são originados cinco metros cúbicos de concreto celular. Esse fator
é de extrema importância quando pensamos em termos ecológicos, o que é muito
interessante.

A relação água/materiais de cimento está relacionada à quantidade de aeração obtida


e, portanto, à densidade. Para uma dada densidade, a relação água/cimento aumenta
com a proporção de areia. Para CCA com pozolanas, a relação água/sólidos parece ser
mais importante do que a relação água/cimentícios, independentemente do método de
formação de poros.

Para o concreto espumoso, uma menor proporção de água e sólidos leva a uma
ventilação insuficiente, enquanto que uma maior resulta na ruptura dos vazios, sendo

58
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

a densidade maior consequência nos dois casos. Assim, o requisito de água deve ser
medido pela consistência da mistura fresca em vez de uma relação pré-determinada de
água/cimento ou água/sólidos.

Como muitas propriedades físicas do concreto celular dependem da densidade (300 ±


1800 kg/m3), é essencial que suas propriedades sejam qualificadas com densidade. Ao
especificar a densidade, é necessário indicar a condição de umidade (isto é, condição do
forno seco ou em equilíbrio com a atmosfera).

O material fornecido a partir do autoclave pode ser 15 ± 25% mais pesado que o material
seco no forno. Esse valor pode chegar a 45% para o concreto celular com densidade
muito baixa. Um aumento significante na densidade de CCA com alteração da umidade
relativa e temperatura é relatado e é atribuído ao processo de carbonatação, sendo esse
aumento proporcional à densidade seca inicial.

Conforme mencionado anteriormente, o concreto arejado com uma ampla gama de


densidades para aplicações específicas pode ser fabricado variando a composição, o
que, por sua vez, contribui para a estrutura, o tamanho e a distribuição dos poros. Uma
estrutura celular estável e preferencialmente esférica é vital para propriedades estruturais
e funcionais ótimas. Além disso, os poros devem ser distribuídos uniformemente na
massa para obter produtos de densidade uniforme. O desenvolvimento de macroporos
maiores na matriz é relatado para reduzir significativamente a densidade. Em termos
convencionais, a densidade do concreto arejado está relacionada à sua compacidade e
porosidade.

Uma forma de alterar o diâmetro das células, com o objetivo de se conseguir um volume
específico, é a dosagem.

Quando a alvenaria é feita com concreto celular irá permitir que haja um importante
ganho na área útil da construção. Já que uma parede de tijolo cerâmico rebocado possui
um pouco mais do dobro de espessura da mesma parede construída com concreto
celular. Permitindo que ocorra um considerável ganho de área.

Retração do concreto

A retração é uma característica do concreto que está relacionada a variação volumétrica


ocasionada pela movimentação ou perda de água do concreto durante a secagem e que
devido a fenômenos capilares ocasionam esforços internos que provocam à retração.

59
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

Para o concreto celular, a retração provocada pela secagem é em torno de 0,2 mm/m, o
que é considerado uma quantidade muito pequena comparada à retração conseguida
nos blocos de concreto convencional.

A retração de secagem ocorre devido à perda de água adsorvida do material e é


significativo no concreto celular por causa de sua elevada porosidade total (40 ± 80%) e
superfície específica de poros (cerca de 30 m2/g). A diminuição dos tamanhos de poros,
juntamente com uma maior porcentagem de poros de menor tamanho é relatada para
aumentar o encolhimento.

A redução do revestimento de concreto celular com apenas cimento como o aglutinante


é significativamente maior do que a produzida com cal ou cal e cimento. O mínimo de
produtos de cal e cimento é a retração. Com uma quantidade crescente de sílica reativa
na pasta, a retração aumenta e atinge um valor máximo em 30 ± 60% de reposição de
sílica e depois diminui. A duração e o método de cura, a pressão do autoclavagem, a
finura e a composição química da sílica, aditivos como cinzas, o tamanho e a forma do
espécime e o tempo e clima de armazenamento influenciam no processo de retração.

Autoclavagem elimina o problema de retração por secagem. A retração de secagem do


concreto celular que foi autoclavado está entre um quarto e um quinto da retração por
secagem do concreto celular curado por ar. Além disso, se a contração por secagem é
um problema, podem ser empregados agentes redutores de retração para diminuir o
efeito adverso da contração de secagem no concreto.

Absorção de água e capilaridade

O concreto celular é poroso, há uma forte interação entre água, vapor de água e o sistema
poroso, e existe o transporte de umidade.

Mecanismos

No estado seco, os poros estão vazios e o dióxido de vapor de água domina, enquanto
alguns poros são preenchidos em regiões de maior umidade. A sucção capilar predomina
para um elemento em contato com a água. Esses mecanismos tornam difícil prever
a influência da distribuição do tamanho dos poros e do teor de água na migração de
umidade.

A transferência de vapor de água é explicada em termos de permeabilidade ao vapor


de água e coeficiente de dióxido de umidade, enquanto que a sucção capilar e a
permeabilidade à água caracterizam a transferência de água. O fenômeno de transporte

60
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

de umidade em materiais porosos, absorvendo e transmitindo água pela capilaridade,


foi definido por uma propriedade facilmente mensurável.

Resistência à compressão
É possível se conseguir uma resistência a compressão para um bloco de concreto celular
autoclavado até um valor de 6 MPa. Esse fato, impossibilita que esse tipo de material
seja utilizado para construção de edifícios altos. Trata-se de um material interessante
apenas para a construção de até quatro andares. A resistência mínima à ruptura por
compressão podem ser: 15 kgf/cm², 25 kgf/cm², 45 kgf/cm².

O tamanho e a forma do espécime, o método de formação de poros, a direção do


carregamento, a idade, o teor de água, as características dos ingredientes utilizados e o
método de cura são relatados para influenciar a resistência do concreto celular.

A estrutura dos poros de ar e a condição mecânica das conchas dos poros têm uma
influência marcada na resistência à compressão. A redução da densidade pela formação
de grandes macroporos provoca uma queda significativa da resistência. Geralmente, a
força de compressão aumenta linearmente com a densidade.

Quadro 4. Requisitos para construção de um bloco de concreto celular.

Requisitos Bloco de concreto celular autoclavado


Resistência à compressão C 12 fm > 1,2 MPa fi > 1,0 MPa
C 15 fm > 1,5 MPa fi > 1,2 MPa
C 25 fm > 2,5 MPa fi > 2,0 MPa
C 45 fm > 4,5 MPa fi > 3,6 MPa
Densidade aparente média (kg/m³) C 12 < 450
C 15 < 500
C 25 < 550
C 45 < 650
Fonte: UFRGS, 2017.

Se observa que uma diminuição na densidade do concreto dá origem a uma queda


consideravelmente grande na resistência à compressão. Isso tornou o concreto celular
menos considerável para uso estrutural. No entanto, se for utilizado o autoclave, o
concreto resultante tem uma resistência adequada para ser considerado como elemento
estrutural.

Como já vimos, o CCA possui densidades que estão em torno de 300-1800 kg/m3 e a
compressão orbita numa faixa de 2,5-6 N/mm2, o que o torna muito eficiente.

O autoclave aumenta significativamente a resistência à compressão, uma vez que alta


temperatura e pressão resultam em uma forma estável de tobermorite. A resistência

61
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

final é alcançada nesse caso, dependendo da pressão e duração do autoclave. A relação


entre pressão de autoclavagem, duração e resistência à compressão foi relatada para
diferentes tipos de concreto celular. A força do concreto celular não autoclavado
aumenta 30 ± 80% entre 28 dias e 6 meses, e marginalmente além desse período. Uma
parcela desse aumento é atribuída ao processo de carbonatação.

A resistência à compressão varia inversamente com o teor de umidade. Ao secar ao


equilíbrio com a atmosfera normal, há um aumento de força e um aumento ainda maior
na secagem completa. Por isso, testes são recomendados em materiais que alcançaram
equilíbrio com os ambientes. Um fator de correção foi proposto para avaliar o aumento
da resistência à compressão do estado molhado a seco.

Isolamento térmico
Já sabemos que uma das propriedades mais atrativas do concreto celular é o seu
isolamento térmico. Mas também é importante saber que o isolamento interior tem
menos eficiência quando se diz respeito à energia, causado pela transmissão de calor
por pontes térmicas, o que significa que há uma perda de 2/5 da energia.

O concreto celular é homogêneo e maciço, apresenta função de isolante, portanto, não


necessita de isolamento adicional. Essa propriedade é ocasionada, principalmente,
pelos poros presentes. Eles não permitem que haja perdas de calor e sendo barreira
contra ele em momentos de alta temperatura, mas também o aprisiona dentro da
residência em baixas temperaturas.

Outro ponto interessante é que esse material apresenta a característica de


hidrorregulação. É como se ele respirasse, o que permite que o vapor de água produzido
não fique aprisionado. O que é de fundamental importância quando se deseja evitar
todos os riscos de umidade, surgimento de microrganismos e condensação.

Eficiência energética e de recursos


O grande número de poros apresentados pelos concretos celulares permite que ele
seja um excelente isolante térmico e acústico. Esse tipo de material, apresenta uma
condutividade térmica (λ) que pode variar entre 0,08-0,16 W/(mK), esse fator depende
muito da densidade do material utilizado.

Hoje, o mundo está se movendo em direção a uma energia eficiente. O concreto celular
foi desenvolvido com o objetivo de ser um material sustentável, que permite a elevação
da produtividade, aliada a otimização dos recursos disponíveis e da elevação do lucro.
62
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

O concreto celular pode ser considerado uma prática construtiva ecologicamente


correta, devido aos seguintes fatores:

»» A matéria-prima utilizada é encontrada na natureza em grande quantidade,


o que permite com que não haja a utilização de fontes esgotáveis.

»» Não há emissão de gases e/ou vapores nocivos ao ser humano ou à


atmosfera durante a produção.

»» Os resíduos de fabricação são reutilizados como resíduos inertes.

Eficiência em formatos grandes


É possível fabricar grande parte dos elementos em concreto celular, o que irá permitir
que se faça uma construção rápida e ocorra a redução de materiais para instalação e
trabalho.

Resistência ao fogo
O concreto celular permite que haja maior segurança contra incêndio. Além de resistir
ao fogo, o material detém a fumaça e gases tóxicos. Se ocorrer um incêndio, uma parede
de concreto celular apresenta uma capacidade de resistir ao fogo por 6h.

Na prática, a resistência ao fogo do concreto arejado é mais ou tão boa quanto o concreto
denso comum e, portanto, seu uso não envolve qualquer risco de propagação de chamas.
Uma razão importante para tal comportamento é que o material é relativamente
homogêneo, ao contrário do concreto normal, onde a presença de agregado grosseiro
leva a taxas diferenciais de expansão, rachadura e desintegração.

A propriedade de ser resistente ao fogo de concreto celular é onde a estrutura de poro


fechada paga ricos dividendos, uma vez que a transferência de calor através da radiação
é uma função inversa do número de interfaces ar/sólidas percorridas. Isso, juntamente
com a sua baixa condutividade térmica e difusividade dá uma indicação de que o
concreto arejado possui melhores propriedades resistentes ao fogo.

Propriedades acústicas
Alguns estudiosos afirmam que o concreto celular não possui características de
isolamento sonoro únicas ou significativas. O motivo indicado é que a perda de

63
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

transmissão do som transmitido pelo ar depende da lei de massa, que é função da


frequência e da densidade superficial do componente.

Atribuísse a perda de transmissão à rigidez e resistência interna da parede, além da


lei de massa e dá um design de desempenho acústico de concreto celular com base na
densidade e espessura aparente. Tanto isolamento acústico, como o isolamento térmico
e fogo, é afetado pela estrutura porosa fechada.

Figura 19. Propriedades acústicas e térmicas.

Fonte: CELCRET, 2017.

Condutividade térmica
A condutividade térmica depende da densidade, do teor de umidade e dos ingredientes
do material. Como a condutividade térmica é em grande parte uma função da densidade,
na verdade não importa se o produto é curado úmido ou autoclavado em termos de
condutividade térmica. A quantidade de poros e sua distribuição também são críticas
para o isolamento térmico. Mais finos, os poros melhoram o isolamento.

Como a condutividade térmica é influenciada pelo teor de umidade (um aumento de


1% na umidade por massa aumenta a condutividade térmica em 42%), não deve ser
relatado em condições de seco no forno.

64
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Resistência à tração e flexão


Alguns autores relatam a proporção de tensão direta (T) para resistência à compressão
(S) de concreto celular autoclavado para 0,15 ± 0,35, enquanto outros a coloca em 10 ±
15%. Tais variações podem ser atribuídas ao fato de que a determinação da resistência
à tração é mais sensível às condições do teste do que a da resistência à compressão. A
proporção de resistência flexão a compressiva varia de 0,22 a 0,27.

Durabilidade
O concreto celular autoclavado consiste, principalmente, em tobermorite, que é muito
mais estável do que os produtos formados em concreto celular normalmente curado
e, portanto, é durável. No entanto, o concreto celular tem alta porosidade, permitindo
a penetração de líquidos e gases. Isso pode levar ao dano da matriz. As reações de
congelamento-descongelamento são relatadas como significativas na medida em que
concreto celular autoclavado está preocupado em graus de saturação de 20 ± 40%. Em
graus superiores de saturação, a amostra torna-se quebradiça e fissura completamente.

Precauções de proteção usando materiais à base de betume são necessários quando o


ataque de sulfato é antecipado. A carbonação pode levar a uma maior densidade, mas
não é muito grave, a menos que a exposição ao CO2 seja muito grave.

65
Capítulo 3
Aplicações

Introdução
Quando o concreto celular passou a ser produzido no final dos anos 1920, ele era fabricado
e utilizado na indústria da construção como blocos. Embora se conheça a resistência do
concreto, ele tem sido utilizado devido às suas outras propriedades atraentes. Essas
propriedades, como já vimos, incluem o baixo peso próprio do concreto e um baixo
coeficiente de condutividade térmica.

Como a autoclavagem só pode ser feita nas fábricas, concreto celular na indústria de
construção de concreto tem sido restrito a unidades pré-moldadas. Essas unidades pré-
fabricadas são normalmente retangulares em forma e são cortadas com alta precisão
para atender às especificações de tamanho. No caso de pisos, lajes de parede e lajes de
telhado, reforço também pode ser fornecido. As ranhuras estão normalmente presentes
nas placas para facilitar o alinhamento durante a construção.

Figura 20. Casas em concreto celular.

Fonte: CELCRET, 2017.

66
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Figura 21. Esquema para construção de asfalto em concreto convencional e celular.

Fonte: ECOPORE, 2017.

Devido ao seu peso ser muito menor para o mesmo volume quando comparado ao
concreto usual, o concreto celular autoclavado é utilizado em forma de blocos para
parede e painéis de telhados, padieiras e pisos. Todos esses exemplos permitem serem
fabricados em tamanhos distintos, que dependerá de como serão utilizados. Eles
permitem, dessa forma, máxima eficiência e flexibilidade na construção. O concreto
celular autoclavado pode ser utilizado para os diversos tipos de estruturas.

Blocos
Segundo a norma NBR 13438 – Blocos de concreto celular autoclavado, blocos de CCA
são: “Componentes de edificações, maciços, com função estrutural ou não, utilizados
principalmente para a construção de paredes internas e externas e preenchimentos de
lajes.”.

O bloco é utilizado para preenchimento de lajes nervuradas, mistas e pré-fabricadas.


Os blocos de CCA devem apresentar a forma de um paralelepípedo retangular. Eles não
devem apresentar defeitos sistemáticos, como trincas, quebras e superfícies irregulares.

Os blocos leves podem chegar a ser 75% mais leves do que o sistema tradicional de
alvenaria.

67
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

Figura 22. Blocos em concreto celular.

Fonte: Ricardo Junior, 2015.

Características

»» elevada estabilidade dimensional;

»» a retração por secagem desde o estado natural até o estado seco é de 0,103
mm/m;

»» coeficiente de dilatação térmica é de 3,8x10–6 /ºC;

»» os blocos podem ser serrados, furados, escarificados e pregados;

Figura 23. Possibilidade de serragem e furos em um bloco de concreto celular.

Fonte: Damasceno, 2017.

»» grande regularidade de formas e dimensões possibilitando a modulação


da obra já a partir do projeto, evitando-se improvisos e desperdícios.

68
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

É importante observar as dimensões estabelecidas em norma, bem como seus limites


de tolerância.

Quadro 5. Requisitos para construção de blocos.

Requisitos Bloco de concreto celular autoclavado


Espessura da parede do bloco (mm) 70,0 (mínima)
Tolerâncias dimensionais (mm) ~3,0
75 x 300 x 600
100 x 300 x 600
125 x 300 x 600
Dimensões (espessura x altura x comprimento (mm))
150 x 300 x 600
175 x 300 x 600
250 x 300 x 600
Fonte: UFRGS, 2017.

Quadro 6. Requisitos para construção de blocos.

Requisitos Bloco de concreto celular autoclavado


C 12 fm > 1,2 MPa fi > 1,0 MPa
C 15 fm > 1,5 MPa fi > 1,2 MPa
Resistência à compressão
C 25 fm > 2,5 MPa fi > 2,0 MPa
C 45 fm > 4,5 MPa fi > 3,6 MPa
C 12 < 450
C 15 < 500
Densidade aparente média (kg/m³)
C 25 < 550
C 45 < 650
Fonte: UFRGS, 2017.

As dimensões uniformes dos blocos, permitem que seja necessária uma menor espessura
das argamassas de assentamento e revestimento. Suas dimensões regulares são de 400
a 600 mm de comprimento, 200, 300 ou 400 mm de altura e espessuras de 75, 100,
125, 150 e 200 mm modulando-se de 25 mm até 600 mm.

Normas

Existem inúmeros tipos de blocos estruturais que podem ser utilizados no Brasil, mas
o bloco celular autoclavado não é um dos mais usados. Mesmo com a menor utilização,
existem normas que apresentam as características e especificações mínimas para os
blocos de concreto celular.

»» NBR 13438:1995 - Bloco de Concreto Celular Autoclavado –


Especificação.

»» NBR 13439:1995 - Bloco de Concreto Celular Autoclavado – Resistência


à compressão.

69
UNIDADE III │ CONCRETO CELULAR

»» NBR 13440:1995 - Bloco de Concreto Celular Autoclavado – Verificação


da densidade de massa aparente seca.

»» NBR 14956-1:2003 - Bloco de Concreto Celular Autoclavado –


Execução de alvenaria sem função estrutural – Parte 1: Procedimento
com argamassa colante industrializada.

»» NBR 14956-2:2003 - Bloco de Concreto Celular Autoclavado –


Execução de alvenaria sem função estrutural – Parte 2: Procedimento
com argamassa convencional.

Processo de fabricação

É possível que o processo de fabricação seja completamente automatizado. As etapas


são:

»» Preparação da pasta. As porcentagens variam ligeiramente em função da


massa volúmica desejada.

»» Descanso da mistura em grandes tanques a uma determinada temperatura


para criar uma estrutura com microporosidades.

»» Moldagem e corte da pasta sólida e estável em pedaços com grande


precisão.

»» Os blocos vão para os reservatórios onde permanecem a alta pressão.


Esse processo confere aos blocos suas características finais de resistência
e de estabilidade dimensional. Após essa etapa os blocos se tornam uma
pedra artificial muito leve e fácil de trabalhar.

»» Controle de qualidade na saída do autoclave para garantir conformidade.

»» Embalagem, estocagem e paletização.

70
CONCRETO CELULAR│ UNIDADE III

Figura 24. Construção com bloco celular autoclavado.

Fonte: UFRGS, 2017.

Figura 25. Construção com bloco celular autoclavado.

Fonte: UFRGS, 2017.

71
CONCRETOS Unidade iV
MISTURADOS

Capítulo 1
Concreto com fibras

Introdução
O concreto convencional é um material que, apesar da sua excelente resistência,
apresenta um comportamento frágil e baixa capacidade de deformação à tração antes
da ruptura. Sua resistência à tração é muito pequena quando comparada à compressão,
cerca de 8 a 15%. Por esse motivo, uma alternativa para tentar melhorar essa resistência
e diminuir as limitações foi a adição de fibras. Elas visam ao aumento da resistência à
tração e à ductilidade.

Figura 26. Diagrama tensão/deformação de uma argamassa e/ou concreto com e sem fibras.

Fonte: Bastos, 2017.

72
CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

A utilização de fibras no concreto vem sendo cada vez mais comum na construção civil.
Devido ao seu crescimento, percebe-se que seu uso, no futuro, se tornará quase que
obrigatório. Atualmente, é muito comum, e quase que usual, a incorporação de aditivos
líquidos na dosagem do concreto por diversas questões, vantagens e o melhoramento
de propriedades, e percebe-se que isso ocorrerá com a utilização de fibras.

A definição mais básica de um concreto reforçado com fibras (CRF) é de que é o material
gerado da mistura de cimento Portland, agregados, possuindo fibras descontínuas
misturadas. É um material excelente quando se deseja reforçar e/ou melhorar
propriedades e/ou característica do concreto. Tudo depende da dosagem escolhida.
Juntamente com as adições e aditivos, as fibras poderão formar um conjunto que trará
muitas vantagens e bons resultados para o concreto.

A utilização de CRF começa por volta dos anos 1960. A adição de fibras surgiu como uma
“salvadora”, com o objetivo de redimir todas as dificuldades e problemas encontrados
nas construções em concreto. Só que, as fibras não possuem todo esse poder, veremos
que elas iram melhorar muitas propriedades do concreto, mas que não podem ser
consideradas ainda a solução de todos os problemas que podem aparecer nele.

As primeiras fibras utilizadas em misturas com o cimento foram as de asbestos.


Depois disso uma gama de outros tipos de fibras também passou a ser utilizada como:
polipropileno, carbono, vidro, nylon, celulose, acrílico, polietileno, madeira, sisal etc.
Sendo as fibras de aço e as fibras de polipropileno as mais utilizadas hoje.

Quadro 7. Valores de resistência mecânica e módulo de elasticidade para diversos tipos de fibras e matrizes.

Diâmetro Densidade (g/ Módulo de Resistência à Deformação


Material
(μm) cm³) Elasticidade (GPa) tração (GPa) na ruptura (%)
Aço 5-500 7,84 190-210 0,5-2,0 0,5-3,5
Vidro 9-15 2,6 70-80 2-4 2-3,5
Amianto 0,02-0,4 2,6 160-200 3-3,5 2-3
Polipropileno 20-200 0,9 1-7,7 0,5-0,75 8,0
Kevlar 10 1,45 65-133 3,6 2,1-4,0
Carbono 9 1,9 230 2,6 1,0
Nylon - 1,1 4,0 0,9 13-15
Celulose - 1,2 10 0,3-0,5 -
Acrílico 18 1,18 14-19,5 0,4-1,0 3
Polietileno - 0,95 0,3 0,7x10 ³ -
10
Fibra de madeira - 1,5 71 0,9 -
Sisal 10-50 1-50 - 0,8 3,0
Matriz de cimento (para - 2,5 10-45 3,7 0,02
comparação)

Fonte: Bastos, 2017.

73
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Existem muitas aplicações para a utilização de fibras como:

»» lajes de concreto sobre o terreno (60%) ;

»» em concretos projetados (25%);

»» em pré-moldados (5%);

»» outras aplicações diversificadas.

Fibras
As fibras são definidas como elementos descontínuos que apresentam um comprimento
com o valor mais alto do que as dimensões da seção transversal. Logo, o concreto com
fibras é considerado um compósito, apresenta no mínimo duas fases diferentes, sendo
o concreto a matriz e a outra fase é a de fibras.

A utilização de fibras como reforço do concreto é possível devido a duas propriedades


fundamentais, o módulo de elasticidade e a resistência mecânica. Na fibra, o material
que a constitui é o que irá estabelecer a grandeza do módulo de elasticidade e da
resistência. Fibras de polipropileno e náilon são bons exemplos de fibras que possuem
um módulo de elasticidade abaixo ao do concreto. Já o aço e o carbono, apresentam
módulos maiores que o do concreto.

O uso de fibras de baixo modulo de elasticidade é interessante para concretos que


possuam essa grandeza também baixa. É utilizado quando se deseja o melhoramento
do concreto no estado fresco e no processo de endurecimento, para o controle de
fissuração plástica em pavimentos.

Já as de alto módulo e alta resistência, servem para reforçar o concreto endurecido,


muitas vezes pode ser utilizada para substituir a armadura convencional.

Tipos de fibra

As fibras são produzidas a partir de diferentes materiais em várias formas e tamanhos.


Os materiais típicos de fibra são:

»» Fibras de aço: retas, franzidas, torcidas, enganchadas, aninhadas e


remadas. O diâmetro varia de 0,25 a 0,76 mm.

»» Fibras de vidro: em linha reta. O diâmetro varia de 0,005 a 0,015 mm


(pode ser unido para formar elementos com diâmetros de 0,13 a 1,3 mm).

74
CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

»» Fibras orgânicas e minerais naturais: madeira, amianto, algodão,


bambu e lã de rocha. Eles vêm em ampla gama de tamanhos.

»» Fibras de polipropileno: liso, torcido, fibrilado e com extremidades


abotoadas.

»» Outras fibras sintéticas: kevlar, nylon e poliéster. O diâmetro varia


de 0,02 a 0,38 mm. Um parâmetro conveniente descrevendo uma fibra
é a sua relação de aspecto (LID), definida como o comprimento da fibra
dividido por um diâmetro de fibra equivalente. A relação de aspecto típica
varia de cerca de 30 a 150 para um comprimento de 6 a 75

Como já vimos, os dois tipos de fibras mais utilizados no concreto hoje são o aço e o
polipropileno. Por esse motivo, daremos aqui um maior enfoque a esses dois tipos de
material.

Fibras em aço

As fibras de aço estão entre as mais utilizas em elementos estruturais de concreto, pelo
seu alto módulo de elasticidade e por melhorar a tenacidade, ajudar no controle de
fissuras, resistência à flexão, impacto e fadiga.

São em geral de aço carbono e são o tipo de fibras que possui maior diversidade. Em
termos de dimensão, ao se elevar a esbeltez, maior será a capacidade resistente depois
que ocorre a fissuração.

As tensões que podem resistir variam de 400 a 1220Mpa, com deformações que variam
de 3 a 4%. A norma brasileira que classifica as fibras é a NBR 15530.

Quadro 8. Classificação e geometria das fibras de aço para reforço de concreto.

Tipo Classe da fibra Geometria

I
A
II

C II

III

75
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

I
R
II

Fonte: ABNT NBR 15530:2007.

Os números romanos I, II e III indicam as classes de fibras que são em função,


respectivamente, de serem feitas de arame trefilado a frio, de chapa laminada cortada
a frio ou de arame trefilado e escarificado. Em relação à geometria, são classificados
como: A (com ancoragens nas extremidades), C (corrugada) e R (reta).

Quadro 9. Requisitos especificados pela norma ABNT NBR 15530 (2007) para fibras de aço.

Fibra Limite de resistência à tração do aço MPa (*) fu


AI 1000
AII 500
CI 800
CII 500
CIII 800
RI 1000
RII 500

(*) Esta determinação deve ser feita no aço, no diâmetro equivalente ao da fibra, imediatamente antes do corte

Fonte: Bastos, 2017.

Figura 27. Fibras de aço.

Fonte: Bastos, 2017.

76
CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Fibras em polipropileno

As fibras de polipropileno não promoveram reforços estruturais no concreto. Como já


vimos, elas apresentam baixo módulo de elasticidade e serve para o melhoramento do
concreto no estado fresco e no controle de fissuras, por exemplo. Existem, basicamente,
dois tipos de fibras: as microfibras e macrofibras.

Figura 28. Fibras de polipropileno.

Fonte: Bastos, 2017.

Figura 29. Fibra de polipropileno no concreto.

Fonte: Bastos, 2017.

As microfibras são: monofilamentos ou fibriladas. As fibriladas são uma malha de


filamentos finos de seção retangular, que ocasionam a elevação da adesão entre a fibra
e a matriz, devido ao efeito de intertravamento. Já as macrofibras poliméricas foram
concebidas para proporcionar reforço estrutural ao concreto.

Há, ainda, a mescla de macrofibras e microfibras de polipropileno para propiciar ao


concreto de pavimentos o controle da fissuração nas primeiras idades e o reforço no
estado endurecido.

77
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

O compósito e a interação fibra/matriz

Considerações gerais

Sabemos que o concreto possui uma baixa resistência à tração, e que ela é ocasionada
pela sua inabilidade de interromper a propagação das fissuras. Para o concreto simples
uma fissura representa uma barreira à propagação de tensões, o que causa uma
concentração de tensões na extremidade da fissura.

Figura 30. Comportamento do concreto com e sem fibras.

Fonte: Bastos, 2017.

Passado algum tempo, há um instante que a concentração de tensões causa a ruptura


da matriz, isso ocasionará ao aumento da fissura. Trata-se de um mecanismo constante
que ocorre até a ruptura total do concreto, assim se explica o comportamento frágil do
material. É possível perceber que se o material está fissurado, não é possível garantir
sua capacidade resistente.

A fibra serve como uma ponte de transferência de tensão entre as superfícies nas
fissuras, este fato justifica o desempenho dos concretos reforçados com fibras. Ocorre
um mecanismo de elevação de energia relacionada à ruptura do material e à limitação
à propagação de fissuras.

78
CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

É necessário que se adicione fibras de resistência e módulo adequados ao concreto em


um teor apropriado para que ele perca sua fragilidade. A adição de fibras proporciona
uma diminuição na concentração de tensão nas extremidades das fissuras, o que tem
como principal consequência a redução da velocidade de propagação das fissuras. O
concreto perde o comportamento frágil ou possui um comportamento pseudo-dúctil,
passando a apresentar capacidade resistente após a fissuração.

O que as fibras fazem é produzir o surgimento de um número maior de fissuras,


com aberturas menores. Elas ficam distribuídas de forma arbitrária no concreto,
essa distribuição é responsável pelo reforço de toda a peça, em diferentes posições.
Suas principais aplicações são reforço de estruturas contínuas, como pavimentos,
revestimentos de túneis.

Aspectos tecnológicos fundamentais

A capacidade de reforço ocasionado por fibras está relacionada de forma direta com o
seu próprio teor.

Se a relação é direta, podemos concluir que se há um aumento do teor, também


haverá a elevação da quantidade de fibras. Como já vimos, essas fibras servirão como
transferidoras de tensão nas fissuras, e em consequência, a elevação da capacidade de
reforço pós-fissuração do concreto.

Figura 31. Curvas médias de carga por deflexão obtidas no ensaio de tração de concretos de fck-20MPa e com
diferentes consumos de fibras de aço.

Fonte: Bastos, 2017.

79
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Figura 32. Curvas médias de carga por flexão obtidas no ensaio de tração na flexão de concretos de

Fck=30Mpa reforçados com fibras de 36mm e 45mm de comprimento que possuem a mesma seção

transversal.

Fonte: Bastos, 2017.

Outro fator muito importante quando se trata do desempenho das fibras no concreto
após a fissuração é a sua geometria.

O fator de forma (l) é definido como o comprimento da fibra dividido pelo seu diâmetro
equivalente (diâmetro do círculo com área igual à área da seção transversal da fibra).
Valores típicos do fator de forma variam de 30 a 150 para fibras com comprimentos de
6,4 a 76 mm. O fator forma e a capacidade resistente após a fissuração do concreto são
diretamente proporcionais.

Caso o comprimento da fibra seja muito grande, ela poderá romper e não apresentar
ganho de resistência após a fissuração. Esse fato acontece quando se extrapola o
comprimento crítico da fibra (Lc).

O comprimento crítico da fibra (Lc) é definido com base no modelo que prevê a tensão
entre a matriz e a fibra, aumentando linearmente dos extremos para o centro da fibra.
A tensão é máxima quando a tensão na fibra se iguala à tensão de cisalhamento entre a
fibra e a matriz.

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Figura 33. Distribuições possíveis de tensão ao longo de uma fibra em função do comprimento crítico.

Fonte: Bastos, 2017.

No comprimento crítico (Lc), a fibra atinge uma tensão de cisalhamento no centro igual
à sua tensão de ruptura quando a fissura atinge perpendicularmente essa posição da
fibra.

Figura 34. Comprimento crítico.

Fonte: Bastos, 2017.

Para fibras com menor comprimento que o crítico, a carga de arrancamento


proporcionada pelo comprimento embutido na matriz não é suficiente para produzir a
ruptura da fibra.

81
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Figura 35. Comprimento crítico.

Fonte: Bastos, 2017.

Sendo L < Lc, a elevação da deformação, a fibra será arrancada do lado da fissura que
tiver o menor comprimento embutido.

Sendo o Lc dependete da resistência da fibra, o comportamento do concreto será


modificado de forma direta e, consequentemente, sua capacidade resistente pós-
fissuração. Quanto maior a resistência da fibra, maior a capacidade resistente residual
que ela pode proporcionar.

Figura 36. Correlações obtidas entre o teor de fibra e o fator de tenacidade medidos em concreto projetado via

seca de mesmo nível de resistência de matriz e fibras de diferentes resistências.

Fonte: Bastos, 2017.

É usual, e de recomendação prática, a utilização de fibras com comprimento igual ou


superior ao dobro da dimensão máxima do agregado graúdo. Dessa maneira a fibra
reforçará tanto o concreto, quanto a argamassa.

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Figura 37. Concreto reforçado com fibras em que há compatibilidade dimensional entre elas e o agregado

graúdo (A) e onde não há (B).

Fonte: Bastos, 2017.

Figura 38. Diferença de comportamento entre fibras dúcteis e frágeis à superfície de ruptura.

Fonte: Bastos, 2017.

Geralmente, para pavimentos, podem ser utilizadas fibras de 60 mm de


comprimento com agregados de maiores dimensões, como 19 e 25 mm.

Em concreto projetado aplica-se o agregado graúdo de dimensão 9,5 mm, e a


fibra não ultrapassa 35 mm de comprimento

Composições de mistura e colocação


A mistura de concreto reforçado com fibras pode ser realizada por muitos métodos.
A mistura deve ter uma dispersão uniforme das fibras para evitar a segregação ou a
rotação das fibras durante a mistura. A maioria dos ciclos ocorre durante o processo de
adição de fibras. Aumento da proporção de aspecto, porcentagem de volume de fibra
e tamanho e quantidade de agregado grosseiro irá intensificar as tendências da bola e
diminuir a capacidade de trabalho.

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UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Para revestir a grande área superficial das fibras com pasta, a experiência indicou que é
necessária uma relação de água e cimento entre 0,4 e 0,6 e um teor mínimo de cimento
de 400 kg/m. Em comparação com o concreto convencional, as misturas de concreto
reforçado com fibras são geralmente caracterizadas por maior fator de cimento, maior
conteúdo agregado fino e agregado grosso de tamanho menor.

Uma mistura de fibras geralmente requer mais vibração para consolidar a mistura. A
vibração externa é preferível para evitar a segregação de fibras. Pedreiras de metal,
flutuadores de tubos e flutuadores de rotação podem ser usados ​​para terminar a
superfície.

O controle específico do concreto com fibras

Tenacidade

Tenacidade é definida como “a medida da área sob a curva carga x deslocamento do corpo
de prova”. Por meio dela que se determina o trabalho dissipado no material em meio
ao ensaio até um certo nível de deslocamento. Utiliza-se para avaliar os compósitos. O
ensaio mais utilizado no Brasil é o da norma japonesa JSCE-SF4 (1984).

Figura 39. Posicionamento do corpo-de-prova, LVDT e cutelos no ensaio de tração na flexão com o sistema

“yoke”.

Fonte: Bastos, 2017.

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Outros tipos de ensaio são apresentados pela ASTM C1399 (2010), EFNARC (1996) e
RILEM TC162-TDF (2002).

Uma forma de se medir a tenacidade é pelo fator de tenacidade (FT) ou resistência


equivalente, que é relacionada à área sob a curva, medida até um deslocamento vertical
(flecha) determinado (L/150).

FT: Fator de tenacidade na flexão (MPa)

Tb: Tenacidade na flexão (J);

B: Largura do corpo de prova (cm)

H: Altura do corpo-de -prova

L: Vão do corpo-de-prova durante o ensaio (cm)

Figura 40. Critério da JSCE SF-4 para determinação da tenacidade.

Fonte: Bastos, 2017.

O ensaio RILEM TC162-TDF (2002) é um dos mais promissores na atualidade, por


estar associado ao dimensionamento de estruturas com concreto reforçado com fibras
de aço.

Quando ultrapassa a resistência última, o concreto convencional passa por um


rompimento repentino. Quando se fala de um concreto com fibras contínuas, ele
suporta tensões e deformações muito maiores que o primeiro, logo depois de chegar à

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UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

tensão máxima. O concreto por fibras passará por falhas em caso de arrancamento ou
escorregamento das fibras. No ensaio, o corpo de prova não se rompe depois do início
da primeira fissura, aguentando tensões e deformações e concentrando mais energia
até romper.

Considerando um mesmo volume, fibras mais esbeltas e com maior ancoragem


apresentam maior tenacidade que as lisas e retas. Caso o tipo de fibra seja o mesmo,
quanto maior o teor, maior será a tenacidade.

Trabalhabilidade e mistura

É possível perceber que ao se adicionar fibras numa massa de concreto, haverá mudanças
tanto na sua consistência, quanto na sua trabalhabilidade. Isso se deve à geometria
da fibra, que necessita de uma maior quantidade de água, que ocasionará a perda da
mobilidade do concreto no estado fresco.

Figura 41. Concreto misturado as fibras.

Fonte: Bastos, 2017.

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Figura 42. Consistência do concreto quando misturado a fibras.

Fonte: Bastos, 2017.

Umas das formas de se mensurar a trabalhabilidade é o ensaio simples de abatimento.


Ele só não é muito eficaz quando se utiliza um concreto com uma quantidade muito
grande de fibras.

Figura 43. Slump test para aferição da trabalhabilidade.

Fonte: Bastos, 2017

Outro ensaio é com o cone em posição invertida, sendo o concreto com fibra adensado
com vibrador de agulha.

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UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Figura 44. Ensaio é com o cone em posição invertida.

Fonte: Bastos, 2017.

Outro ensaio para a medida de trabalhabilidade é o ensaio VeBe, que depende de


equipamento apropriado.

Figura 45. Equipamento para ensaio VeBe.

Fonte: Bastos, 2017.

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

Figura 46. Influência do fator de forma das fibras na compatibilidade do concreto reforçado com diferentes

teores de fibras.

Fonte: Bastos, 2017.

Quando há uma concentração muito alta de fibras, essas são adicionadas de forma
rápida, ou quando o fator forma é alto ocorre a formação de ouriços. Os ouriços são
bolas ou aglomeração de fibras.

Figura 47. Ouriço formado por fibras de aço mal misturados ao concreto.

Fonte: Bastos, 2017.

89
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

Propriedades mecânicas

Resistência à compressão

Um dos principais objetivos de se adicionar fibras ao concreto é a elevação da resistência


à compressão. Elas têm como principal consequência um aumento de tenacidade na
compressão. Concentrações mais altas e fatores relacionados à forma ocasionam uma
maior tenacidade e controle da fissuração.

A presença de fibras pode alterar o modo de falha dos cilindros, mas o efeito da fibra
será menor na melhoria dos valores de resistência à compressão (de 0 a 15%).

Fadiga e esforços dinâmicos

A ruptura por fadiga ocorre em um material por esforço cíclico. Esse tipo de falha é
muito comum quando o material trabalha sob o efeito de solicitações cíclicas em
grande quantidade. Devido aos esforços repetitivos, a ruptura pode ocorrer em tensões
inferiores às estudadas em ensaios de elasticidade.

No concreto a fadiga acontece devido a cada ciclo de carregamento, as fissuras tendem a


se propagar, diminuindo a área útil para a transferência de tensão. O número de ciclos
de ruptura depende muito da proximidade à tensão máxima da resistência do material.

No caso de fibras com altos módulos e resistências, elas ocasionam a diminuição da


propagação das fissuras, elevando o número de ciclos para que ocorra a ruptura. Mesmo
em pequenas quantidades as fibras aumentam a resistência à fadiga.

A adição de partículas aumenta a resistência à fadiga de cerca de 90% e 70% da resistência


estática a 2 x 106 ciclos para reversão não reversa e total de carga, respectivamente.
Essa é uma característica muito importante que as fibras acrescentam aos concretos.

Outras propriedades e características

A adição de fibras ao concreto influencia suas propriedades mecânicas que dependem


significativamente do tipo e da porcentagem de destruição. As fibras com ancoragem
final e alta relação de aspecto encontraram eficácia melhorada. Foi mostrado que, para
o mesmo comprimento e diâmetro, as fibras de extremidade engarrafada podem atingir
as mesmas propriedades que as fibras retas usando 40% menos fibras. Ao determinar as
propriedades mecânicas do concreto reforçado com fibras, também podem ser utilizados
os mesmos equipamentos e procedimentos utilizados no concreto convencional. Abaixo

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CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

são citadas algumas propriedades do concreto reforçado com fibras determinadas por
diferentes pesquisadores.

»» Módulos de elasticidade: o módulo de elasticidade do concreto


reforçado com fibras aumenta de forma adequada com um aumento no
teor de fibras. Verificou-se que, por cada aumento de 1% no teor de fibra
por volume, existe um aumento de 3% no módulo de elasticidade.

»» Flexão: a força de flexão foi aumentada em 2,5 vezes usando 4% de fibras.

»» Dureza: para concreto reforçado com fibras, a dureza é de cerca de 10 a


40 vezes a do concreto simples.

»» Tração: a presença de 3% de fibra por volume foi relatada para aumentar


a resistência à tração da argamassa cerca de 2,5 vezes a da não reforçada.

»» Resistência ao impacto: a resistência ao impacto do concreto fibroso


geralmente é de 5 a 10 vezes a do concreto liso, dependendo do volume
de fibra.

Comportamento estrutural do concreto


reforçado com fibras
As fibras combinadas com barras de reforço em membros estruturais serão amplamente
utilizadas no futuro. Os seguintes são alguns dos comportamentos estruturais:

»» Flexão: o uso de fibras em elementos de flexão de concreto armado


aumenta a ductilidade, resistência à tração, capacidade do momento
e rigidez. As fibras melhoram o controle de fissuras e preservam a
integridade estrutural de craqueamento dos membros.

»» Torsão: o uso de fibras elimina a falha súbita característica do concreto


simples feixes. Aumenta a rigidez, a força de torção, a ductilidade, a
capacidade de rotação e o número de rachaduras com menor largura de
fissura.

»» Corte: a adição de fibras aumenta a capacidade de cisalhamento de


vigas de concreto armado até 100%. A adição de fibras distribuídas
aleatoriamente aumenta a força de corte-fricção, a primeira força de
fissura e a força máxima.

91
UNIDADE IV │CONCRETOS MISTURADOS

»» Coluna: o aumento do teor de fibras aumenta ligeiramente a ductilidade


do espécime carregado axialmente. O uso de fibras ajuda na redução da
falha do tipo explosivo para as colunas.

»» Concreto de alta resistência: as fibras aumentam a ductilidade do


concreto de alta resistência. O uso de concreto e aço de alta resistência
produz membros esbeltos. A adição de fibra ajudará no controle de
fissuras e deflexões.

»» Rachaduras e deflexão: os testes mostraram que o reforço de fibras


efetivamente controla a fissuração e deflexão, além da melhoria da força.
Em vigas de concreto convencionalmente reforçadas, a adição de fibra
aumenta a rigidez e reduz a deflexão.

Aplicações principais
Um fato muito interessante sobre as fibras é a sua versatilidade em relação ao seu
tamanho, diâmetros e ser fabricada por materiais distintos. É possível ser misturada a
quase todo tipo de concreto e aplicada em distintas finalidades. Sabemos que existem
muitos tipos de fibras de materiais orgânicos e inorgânicos.

No início, se utilizava fibras somente com o intuito de evitar a retração ou reforçar a


resistência mecânica. Hoje, já se pode observá-las em distintas e variadas aplicações.
Alguns exemplos de novas utilizações de fibras são: utilização de fibras de polipropileno
em concretos submetidos a altas temperaturas ou com grande risco de incêndio.

Com o tempo, foram sido desenvolvidas fibras com diâmetros e comprimentos


menores e alterações na flexibilidade. As fibras antigas, muitas vezes, ficavam visíveis
na superfície do concreto, trazendo prejuízo em termos de acabamento e na textura
da estrutura. Hoje, com o melhoramento das fibras, quase que não se percebe a sua
presença.

Mais recentes no mercado, dois outros tipos de fibras estão incorporando tecnologia ao
concreto: as fibras de vidro e as macrofibras sintéticas estruturais.

A dispersão uniforme de fibras em toda a mistura de concreto proporciona propriedades


isotrópicas não comuns ao concreto convencionalmente reforçado. As aplicações de
fibras em indústrias de concreto dependem do designer e construtor em aproveitar
as características estáticas e dinâmicas desse novo material. As principais áreas das
aplicações concreto reforçado com fibras são:

92
CONCRETOS MISTURADOS │ UNIDADE IV

»» Pista de aterragem, estacionamento de aeronaves e pavimentos:


para a mesma roda, as placas concreto reforçado com fibras podem ser
cerca de metade da espessura da laje de concreto simples. Comparado
com uma espessura de 375 mm de laje de concreto convencionalmente
reforçada, uma lajeira de concreto reforçado com fibras de extremidade
crimpada de 150 mm de espessura foi usada para sobrepor uma área
de estacionamento de aeronave asfáltica pavimentada existente. Os
pavimentos de concreto reforçado com fibras estão agora em serviço em
ambientes severos e suaves.

»» Forro do túnel e estabilização do declive: o betume reforçado


com fibra de aço (SFRS) está sendo usado para a linha de aberturas
subterrâneas e estabilização do declive da rocha. Elimina a necessidade
de reforço de malha e andaimes.

»» Estruturas resistentes a explosões: quando as placas de concreto


simples são reforçadas convencionalmente, os testes mostraram que não
há redução das velocidades dos fragmentos ou número de fragmentos
sob explosão e ondas de choque. De modo semelhante, as lajes reforçadas
de concreto fibroso apresentaram redução de 20 % em velocidades e mais
de 80% nas fragmentações.

»» Conchas finas, paredes, tubulações e poços de visita: o concreto


fibroso permite o uso de elementos estruturais curtos e planos mais finos.
O betume fibroso de aço é usado na construção de cúpulas hemisféricas
usando o processo de membrana inflada. Cimento ou concreto reforçado
com fibra de vidro (GFRC), fabricado pelo processo de pulverização,
foram utilizados para a construção de painéis de parede. A adição de
fibras de aço e vidro em tubos e poços de concreto melhora a força, reduz
a espessura e diminui os danos no manuseio.

»» Barragens e estruturas hidráulicas: o concreto reforçado com fibras


está sendo usado para a construção e reparação de barragens e outras
estruturas hidráulicas para proporcionar resistência à cavitação e erosão
severa causada pelo impacto de grandes detritos de Waterboro.

»» Outras aplicações: incluem armações de máquinas-ferramenta, postes


de iluminação, tanques de água e óleo e reparos de concreto.

93
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