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Documentos Técnico-Científicos

A Teoria do Crescimento Endógeno e o


Desenvolvimento Endógeno Regional:
Investigação das Convergências em um
Cenário Pós-Cepalino
Guerino Edécio da Silva Filho Resumo
Doutor em Economia pela Universidade Federal
de Pernambuco, Professor Titular e
Coordenador do Mestrado em Negócios Tem como objetivo aproximar criticamente
Internacionais da Universidade de Fortaleza e os achados da nova teoria do crescimento eco-
Técnico do Banco do Nordeste/ETENE. nômico com as estratégias contidas nas aborda-
gens de economias de aglomeração, com o pro-
Eveline Barbosa Silva Carvalho pósito de analisar as convergências existentes
Ph.D. em Desenvolvimento Econômico, Política
e Comércio Internacional pela University of entre as recomendações emanadas do corpo de
Illinois, Professora da Universidade Federal do literatura da “nova teoria do crescimento econô-
Ceará e Técnica do Banco do Nordeste/ mico (NTCE)” e as diretrizes desenvolvimentis-
ambiente de Políticas de Desenvolvimento. tas concebidas a partir da abordagem de desen-
volvimento econômico regional baseadas nas
economias de aglomeração. Com respaldo na
teoria, com enfoques macro e microeconômico,
mostra-se que as estratégias de políticas econô-
micas calcadas na nova teoria do crescimento
econômico poderiam se beneficiar da abordagem
de economias de aglomeração e que esta última
ganharia em consistência e amplitude incorpo-
rando os achados da nova teoria do crescimento
econômico.

Palavras-chave:
Crescimento endógeno, externalidades,
desenvolvimento regional, economias de
aglomeração

467 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001
1 - INTRODUÇÃO A partir daí foi formulada a famosa teoria
da dependência através da qual o mundo ha-
As recentes mudanças nas economias mun- via se desenvolvido para um relacionamento
dial e nacional se assentam no modelo neolibe- centro-periferia, onde o terceiro mundo se tor-
ral iniciado na chamada terceira revolução in- nara um mero produtor de matéria bruta para
dustrial que teve como inspiração o toyotismo e os fabricantes do primeiro mundo e desse modo
os marcos deixados por Margareth Tacher e o condenados a um papel de dependência na eco-
presidente americano Ronald Regan no que diz nomia mundial.
respeito à menor participação do governo em ati-
vidades por ele antes dominadas. Esse novo ce- O grupo da Comissão Econômica para a
nário tem exigido um redirecionamento do pa- América Latina-CEPAL, formado por Raul Pre-
pel do Estado e um posicionamento estratégico bish, o brasileiro Celso Furtado e outros, con-
de política de desenvolvimento. cluiu que seria necessário algum grau de prote-
cionismo no comércio, pelo bem dos países me-
De fato, as teorias de que tratam do desen- nos desenvolvidos dando celebridade à chama-
volvimento econômico têm passado ao longo dos da política de substituição das importações que
anos por várias mudanças de enfoque, por exem- teve notável influência em vários países do ter-
plo: os primeiros keynesianos chamaram aten- ceiro mundo, e no Brasil em particular.
ção para a questão da distribuição de renda como
determinante da poupança e do crescimento. A Com o passar do tempo a análise econômica
noção de tornar o ciclo vicioso de poupança bai- passou a ter enfoque completamente oposto com
xa e crescimento baixo em um ciclo virtuoso com o chamado movimento neoclássico. Segundo
a atuação do governo foi reiterada por Gunnar essa nova corrente de pensamento as burocraci-
Myrdal em sua teoria da “causação circular” e a as e as regulações estatais sufocam o investimen-
partir de então, o envolvimento do governo pas- to privado e distorcem preços tornando as eco-
sou a ser considerado uma ferramenta crítica do nomias em desenvolvimento ineficientes. As-
desenvolvimento econômico. sim, a teoria de desenvolvimento vem sofrendo
grandes mudanças de visão e sugere a importân-
Com o surgimento das primeiras discussões cia de se propor com base em respaldo teórico
sobre a formação da Comunidade Européia - estratégias que permitam a redução das dispari-
uma espécie de marco aos acordos de livre co- dades de regionais e de renda indispensáveis para
mércio de hoje - alguns economistas se volta- se atingir o desenvolvimento.
ram para o comércio internacional como um
grande catalisador do crescimento como, por Em nível de Nordeste, as inspirações mais
exemplo, Jacob Viner dando assim expansão ao promissoras na feitura de estratégias de cresci-
pensamento pioneiro de Adam Smith de que o mento regional, cujas variáveis estão, de certa
comércio e a especialização poderiam aumen- forma, mais vinculadas ao controle dos agentes
tar o mercado disponível. econômicos e lideranças internas à região (ou
local) estão relacionadas ao conceito de econo-
Mas coube aos chamados estruturalistas, mias de aglomeração ou “clusters” e as recomen-
os “cepalinos”, levantar os problemas dife- dações emanadas da chamada nova teoria do cres-
renciados dos países do terceiro mundo. Se- cimento econômico e que muitas vezes tem sido
gundo eles os países subdesenvolvidos não consideradas de forma isolada.
eram simplesmente versões primitivas dos
países desenvolvidos, como enxergava a te- A presente pesquisa tem como objetivo apro-
oria clássica, pelo contrário, eles tinham ca- ximar criticamente os achados da nova teoria do
racterísticas próprias distintas. crescimento econômico com as estratégias con-

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tidas nas abordagens de “clusters” com o pro- para correlações, estatisticamente relevantes,
pósito de analisar as convergências existentes entre um conjunto de variáveis e as taxas de cres-
entre as recomendações emanadas do corpo de cimento econômico de diversas economias, e daí
literatura da “nova teoria do crescimento econô- elaborado um conjunto de recomendações de
mico (NTCE)” e as diretrizes desenvolvimentis- políticas. Tais recomendações, no entanto, apre-
tas concebidas a partir da abordagem de desen- sentam possibilidades de implementações distin-
volvimento econômico regional baseado nas eco- tas para o país e para os estados-membros de uma
nomias de aglomeração. Procurar-se-á mostrar Federação. Se do ponto de vista de um país a
que as estratégias de políticas econômicas cal- maioria dessas recomendações relacionam-se
cadas na nova teoria do crescimento econômico com variáveis sujeitas, de uma forma ou de ou-
poderiam se beneficiar da abordagem de cluster tra, ao controle doméstico, do ponto de vista re-
e que esta última ganharia em consistência e gional, ou seja, dos diversos subespaços regio-
amplitude incorporando os achados da nova teo- nais tais controles são parciais.
ria do crescimento econômico.
O trabalho está assim estruturado: na seção 2
As chamadas economias de aglomeração ou resume-se os principais avanços e recomendações
clusters possuem algumas características que as da nova teoria do crescimento econômico. Na se-
diferenciam dos modelos tradicionais de desen- ção 3 comentam-se as características da aborda-
volvimento regional sendo que a principal delas gem de economias de aglomeração e são apresen-
é a de estímulo a atividades vocacionadas e a tados alguns resultados de sua aplicação. Na se-
cooperação entre empresas de uma mesma ativi- ção 4, apresentam-se algumas notas conclusivas.
dade e empresas pertencentes a uma mesma ca-
deia produtiva gerando a troca de informações e 2 - A NOVA TEORIA DO
uma maior possibilidade de fixação de empre- CRESCIMENTO ECONÔMICO
endimentos no local. (NTCE)
Desde de meados da década de 1980 a teo- Desde a Segunda Guerra Mundial, os cam-
ria do crescimento econômico vem experimen- pos da teoria do crescimento econômico e teo-
tando um espetacular “revival”, refletido por um ria do desenvolvimento econômico vinham se
explosivo número de artigos nos principais peri- dissociando. A primeira era mais amplamente
ódicos de economia em todo o mundo. Os moti- utilizada nas chamadas economias de mercado
vos para tal renascimento são muitos. Entre os desenvolvidas e a segunda nas economias me-
principais motivos destacam-se dois: i) as ob- nos desenvolvidas.
servações empíricas que mostram um processo
de convergência de rendas per capita entre paí- A teoria do desenvolvimento econômico
ses e regiões que contrariam os principais resul- tem centrado suas análises mais fortemente so-
tados das concepções originais do modelo neo- bre fatores não-econômicos e sobre falhas de
clássico de crescimento econômico; e ii) a flexi- mercado, a partir da presença de externalidades,
bilização de alguns dos pressupostos do modelo no processo de crescimento e desenvolvimento
neoclássico de crescimento, proposto em traba- dos países menos desenvolvidos. Assim, vai além
lho pioneiro de Paul Romer (1986). de uma teoria unificada, buscando explicações
para a diversidade de experiências de crescimento
Tais observações abrem o campo para a in- dos diversos países a partir de suposições ad hoc
trodução de políticas econômicas que possam relacionadas com diferenças intrínsecas nacio-
“apressar” o crescimento econômico de regiões nais nos parâmetros tecnológicos, preferências
deprimidas. A esse respeito, a nova teoria do intertemporais dos consumidores e outras moti-
crescimento econômico tem chamado à atenção vações básicas dos agentes econômicos.

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Por outro lado, a teoria do crescimento eco-
, onde:
nômico focaliza sua atenção basicamente sobre
os fatores econômicos tradicionais considerados
determinantes no processo de crescimento: ca- e
pital físico e trabalho. Essas as diferenças essen-
ciais das duas abordagens. Abaixo discute-se al-
guns aspectos da teoria neoclássica do crescimen- A equação acima determina a dinâmica de
to econômico, que foi estabelecida a partir do K para uma dada tecnologia e força de trabalho.
modelo de Solow-Swan. Isto servirá para ressal- A força de trabalho varia de acordo com a dinâ-
tar os principais avanços na teoria que podem mica populacional. Contudo, o modelo assume
ser úteis nas formulações de estratégias futuras que esta cresce a uma taxa exógena e fixa, dada
de desenvolvimento regional.
por e que todos trabalham com a mes-
Os modelos de crescimento econômico de ma intensidade. Normaliza-se, para simplifica-
tradição neoclássica possuem, entre outras, as se- ção, o número de pessoas no tempo zero para
guintes características básicas: i) a economia é um e considera-se a intensidade do trabalho por
fechada e os mercados são concorrenciais; ii) a pessoa também igual a um. Têm-se que a popu-
tecnologia de produção exibe retornos decrescen- lação é tomada como proxy da força de trabalho
tes para os fatores tomados separadamente e re- no tempo t corresponde a
tornos constantes quando tomados conjuntamen-
te; iii) o crescimento da população e do fator tra-
balho é dado exogenamente; iv) a mudança tec- L(t) =
nológica também é dada exogenamente; v) não
há um papel produtivo distinto para o capital Dado L (t) pela equação acima, sendo o pro-
humano e para a política governamental. gresso tecnológico ausente, pode-se determinar a
trajetória temporal do capital K, e do produto Y.1
A Estrutura Básica do Modelo Solow-Swan
pode ser explicitada a partir da função de produ- As principais conclusões de tais modelos são:
ção do modelo neoclássico padrão que toma a i) a tecnologia, apesar de exogenamente dada, é
seguinte configuração: a única força que de fato conta para o crescimen-
to da renda per capita; ii) os determinantes da
Eq. (1) Y(t) = F[ (K(t), L(t), t)], propensão a poupar não aparecem sobre a taxa
de crescimento de equilíbrio; iii) A propensão a
Y(t) é o fluxo de bens produzidos no tem- poupar afeta apenas o nível de renda e consumo;
po t. Há um único setor produtivo, que produz iv) O mesmo é concluído implicitamente com
um produto homogêneo que se destina ao con- relação às políticas governamentais que afetam
sumo, C(t), ou ao investimento, I(t), criando a propensão a poupar. Como comenta Lucas
novas unidades de capital físico, K(t). A eco- (1988): “A teoria neoclássica assegura um papel
nomia é fechada. Logo, o produto é igual à ren- preponderante para a tecnologia que é determi-
da e a poupança é igual ao investimento. A fra- nada exogenamente como um engenho do cres-
ção do produto que é poupada é dada por s; cimento e um papel comparativamente pequeno
logo (1 – s) é a fração consumida. Contudo, a para qualquer outro fator”.
taxa de poupança é definida exogenamente e é
constante. Por outro lado, o capital se depre-
cia a uma taxa exógena e constante δ > 0, em 1
Para uma análise do modelo Solow-Swan no estado es-
cada período de tempo. O incremento do capi- tacionário (“Steady State”) e na sua dinâmica (“transitio-
tal físico é dado, então, por: nal dynamics”), consulte Silva Filho (1999).

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Logo, seria previsível um processo de conver- 2.1 - Modelo de Crescimento Endógeno
gência das taxas de crescimento dos diversos paí-
ses para um determinado nível de steady-state2 da Nos modelos da nova teoria do crescimento
renda per capita, sendo as divergências explicadas econômico, o crescimento é visto como um pro-
principalmente em função de dinâmicas de transi- duto das forças econômicas endógenas aos sis-
ção distintas na trajetória de acumulação de capital temas de mercado descentralizados. São essas
relativa ao caminho de crescimento econômico de forças que comandam o processo mais do que
equilíbrio. Em outras palavras, o modelo neoclás- quaisquer inovações tecnológicas exógenas so-
sico desconsiderava a importância das políticas bre as quais o mercado não tenha nenhum con-
públicas específicas para reduzir as desigualdades trole. Sendo assim, a economia pode atingir um
entre países e regiões. As próprias forças de merca- equilíbrio de crescimento perpétuo através de
do conduziriam para um processo natural de con- suas forças internas.
vergência de renda per capita.
Para que haja tal tipo de crescimento é ne-
Contudo, apesar dessa expectativa de con- cessário apenas que a tendência decrescente dos
vergência entre as nações, o que se tem observa- retornos do capital seja eliminada. Neste senti-
do em diversos trabalhos empíricos é que há pou- do, fatores como inovação tecnológica endóge-
ca evidência sobre a hipótese da convergência na (que surgem como resultado dos esforços dos
de PIBs per capita, quando se toma um grande agentes produtivos para maximizarem seus lu-
número de países no mundo. Mesmo quando a cros), capital humano (ou seja, o estoque de
convergência é observada ela ocorre dentro de conhecimento dos agentes econômicos) e os ar-
grupos específicos de economias as taxas de con- ranjos institucionais (incluindo aí a política
vergências são baixas, ou seja, este processo de governamental e a organização da sociedade ci-
convergência é relativamente lento. vil) passam a assumir um papel crucial no cres-
cimento contínuo da renda per capita em qual-
Tomando a Região Nordeste como ilustra- quer sistema econômico.
ção de política e desconsiderando-se repercus-
sões sobre o formato da tecnologia da economia, É neste ponto em que se insere o papel fun-
dada pela curva de investimento agregada, o damental exercido pelos atores sociais que co-
incremento das inversões a partir da estratégia mandam as políticas de desenvolvimento de eco-
cepalina3 no nordeste do Brasil, correspondeu a nomias subdesenvolvidas, sejam blocos econô-
um deslocamento dessa curva de s. f (k)/k para micos de países, economias nacionais ou regi-
um nível mais elevado. Este deslocamento re- ões dentro de um país.
presenta uma economia com maiores níveis de
renda per capita, porém, com as taxas de cres- O modelo “AK” é considerado o mais sim-
cimento deste agregado tendendo para zero, ples de crescimento endógeno. As suposições des-
pois, a mencionada curva continua cruzando a se modelo são a de que a poupança é constante e
curva de depreciação efetiva, n+g. exógena e o nível de tecnologia é fixo. O objetivo
é mostrar como a eliminação dos retornos decres-
centes do capital podem conduzir ao crescimento
econômico no longo prazo. Esta é a característica
2
Trata-se de um estágio onde todas as variáveis incluídas chave dos modelos de crescimento endógeno.
no modelo econômico crescem à mesma taxa.
3
O forte incremento da poupança regional foi possível atra- No modelo AK a função de produção agre-
vés dos incentivos fiscais, crédito oficial favorecido, in- gada da economia é definida por
vestimento público em infra-estrutura e investimento das
chamadas empresas estatais, que caracterizaram a estraté-
gia cepalina para o desenvolvimento do Nordeste. Y = AK

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Onde A > 0 e reflete o nível tecnológico. O Neste caso, o incremento do estoque de ca-
produto per capita é dado por y = Ak. Os produ- pital melhora o nível tecnológico de cada produ-
tos médio e marginal do capital são constantes tor, podendo provocar retornos constantes ou
ao nível de A, sendo A > 0, como definido aci- crescentes para o capital agregado. Conseqüen-
ma, ou seja: f(k)/k = A. temente, o produto médio, f(k)/k, se mantém
constante, ou cresce, de acordo com k, respecti-
A principal suposição que está por trás do vamente. Numa situação de retornos crescentes,
modelo AK é a ausência da tendência de queda cada produto médio, f(k)/k, de cada produtor,
da produtividade marginal do capital per capita. tende a crescer com o incremento de k. Em ter-
Apresentam-se abaixo as hipóteses que são fre- mos geométricos, a curva s.f(k)/k tende a ser
qüentemente utilizadas na literatura, buscando- crescente, no mínimo para alguma área, e a taxa
se tornar a hipótese da ausência de retornos de- de crescimento, ϒk, cresce com k nesta área.5
crescentes para o capital per capita mais plausí-
vel. Vale observar, desde já, que tais hipóteses iii) C&T e P&D – Outra idéia majoritária
representam os fatores essenciais que devem na literatura de crescimento endógeno, segundo
marcar as novas estratégias de desenvolvimento Barro & Martin (op.cit.), é que o nível tecnoló-
para o Nordeste nos próximos anos. gico pode avançar não apenas por obra do acaso,
mas antes ser função das despesas com “Pesqui-
i) Incorporação do Capital Humano - sa & Desenvolvimento”, ou seja, através de uma
Como mencionado, uma maneira de se pensar forma deliberada de se incrementar o nível tec-
sobre a ausência de retornos decrescentes do ca- nológico. O progresso tecnológico possibilita-
pital na função de produção AK é considerar um do por esse tipo de atividade pode gerar cresci-
conceito de capital amplo que incorpore com- mento endógeno a partir da eliminação dos re-
ponentes físicos e humanos. tornos decrescentes ao nível agregado, especial-
mente se as melhorias nas técnicas podem estar
ii) Learning-by-doing – Pode-se eliminar a repartidas de uma maneira não-rival6 por todos
tendência dos retornos decrescentes no modelo os produtores. Esta não-rivalidade é plausível de
neoclássico adotando-se a hipótese chamada na ocorrer com relação aos avanços no conhecimen-
literatura de “learning-by-doing” (aprender-fa- to, isto é, no aparecimento de novas idéias úteis.7
zendo). Este idéia foi introduzida na teoria do
crescimento econômico por Arrow (1962) e usa- Como já visto, o modelo AK possibilita o
da por Romer (1986)4 . Nesses modelos, a expe- crescimento endógeno por evitar retornos decres-
riência com a produção ou investimento contri- centes para o capital no longo prazo. Contudo, os
bui para o incremento da produtividade. Tam- produtos médios e marginais serão sempre cons-
bém é suposto de forma complementar que o
aprendizado realizado por um produtor incremen-
ta a produtividade de outros através de um pro-
5
cesso de transbordamento do conhecimento Estes tipos de modelos prevêem, no mínimo para algum
(spillovers of knowledge). intervalo para renda per capita, uma tendência para um
processo de divergência. Do ponto de vista empírico, con-
tudo, segundo Barro & Sala-I-Martin, estes resultados não
são tão claros.
6
4 Característica sempre presente nos bens essencialmente pú-
Vale a pena ressaltar que foi justamente este artigo de
blicos e se refere ao fato de que o consumo (ou utilização)
Romer que revitalizou a teoria do crescimento econômi-
por um agente não impede outro desse mesmo consumo.
co. Desde então, a literatura da chamada “Nova Teoria do
7
Crescimento Econômico (NTCE)” ou “Teoria do Cresci- Segundo os autores citados, modelos desse tipo foram
mento Endógeno”, tem gerado um denso corpo de traba- pioneiramente desenvolvidos por Romer (1990) e Aghion
lhos teóricos e empíricos. & Howitt (1992).

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tantes e, portanto, as taxas de crescimento não ção AK e da função de produção Cobb-Douglas.
apresentam a propriedade de convergência. Ela exibe retornos constantes à escala e retornos
positivos e decrescentes para o trabalho e o capi-
Todavia, é possível manter o aspecto de re- tal, na parte que caracteriza o modelo neoclássico
tornos constantes para o capital no longo prazo, padrão. Contudo, uma das condições de Inada é
e recuperar a propriedade de convergência, violada, porque Fk=A e A>0, que corres-
conforme as hipóteses formuladas nos trabalhos ponde à característica básica do modelo AK.
de Jones & Manuelli (1990) e Kurtz (1968), que
combinam o modelo neoclássico ao modelo AK. Em termos per capita, têm-se que y = f(k)
Consideremos, outra vez, a equação para a taxa = Ak + Bk . Logo, o produto médio do capital é
de crescimento de k, dado pela equação abaixo. dado por f(k)/k = A + Bk - ( 1 - ). A segunda
parcela do lado direito tende para zero, quando
ϒK = [s.f(k)] / k – (n + δ) k tende para o infinito, o que implica que o pro-
duto médio da economia aproxima-se assintoti-
Se o steady-state existe, então, a taxa de cres- camente de A neste caso. A representação geo-
cimento ϒK*, é constante por definição. Ora, um métrica é dada pelo GRÁFICO 1.
valor positivo para ϒK* significa que k cresce
sem limites. A equação acima implica que é ne- No GRÁFICO 1, verifica-se que sA é igual
cessário e suficiente, para que ϒK* > 0, que o ao limite inferior para a produtividade margi-
produto médio do capital, f(k)/k, permaneça aci- nal de k, que se estabelece quando k tende para
ma de (n + δ)/s, quando k se aproxima do infini- o infinito. A função [ s.f(k)]/k ] converge as-
to. Em outras palavras, basta que [f(k)/k] > sintoticamente para sA, que está acima de (n +
(n + δ) como condição necessária e suficiente δ). Este é o elemento-chave dos modelos de
para se ter um crescimento endógeno de steady- crescimento que combinam o modelo AK com
state. Isto é assegurado pela parte do modelo que a função de produção Cobb-Douglas. Isto sig-
corresponde ao modelo AK. Ou seja: nifica que, para determinados níveis de k, pre-
valecem as características do modelo Solow-
[f(k)/k] = f´(k) > ( n + δ)/s > 0 Swan e, para valores mais altos de k, passa a
prevalecer o modelo AK.
Esta inequação viola a condição de Inada que
diz que f´(k) = 0. A interpretação econô- A dinâmica de transição com crescimento
endógeno também é mostrada no GRÁFICO 1.
mica decorrente deste fato é que a função de pro-
Se a tecnologia é dada por F (K,L) = AK + BK
dução pode exibir retornos decrescentes ou cres-
L1 - , e se sA > n + δ, então a taxa de crescimen-
centes de k, quando k é baixo, mas a produtivi-
to de k aproxima-se assintoticamente de uma
dade marginal é restringida por um limite inferi-
constante positiva dada por sA - n – g. Portanto,
or, quando k é relativamente elevado. Este limi-
o crescimento endógeno coexiste com uma di-
te inferior é a reta sA, no GRÁFICO 1.
nâmica de transição na qual a taxa de crescimento
cai quando a economia se desenvolve.
Um exemplo de função de produção que
converge assintoticamente para a forma AK,
Um resultado importante retirado da aná-
pode ser dado por:
lise acima é que o presente modelo estabele-
Y = F (K,L) = AK + BK L1 - , ce a possibilidade de um crescimento de ste-
ady-state endógeno e, também, de um proces-
onde A > 0, B > 0 e 0 < <1. Esta função de so de convergência condicional, como no
produção é uma combinação da função de produ- modelo neoclássico.

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GRÁFICO 1
CRESCIMENTO ENDÓGENO COM DINÂMICA DE TRANSIÇÃO

FONTE: Elaboração dos autores.

Em outras palavras, se duas economias di- pensar das estratégias e instrumentos de po-
ferem somente em termos de seus valores inici- lítica de desenvolvimento.
ais, k(0), então, aquela com estoque de capital
menor por pessoa, crescerá mais rapidamente Para que a estratégia de crescimento regio-
em termos per capita. nal possibilite taxas de crescimento per capita
positivas no longo prazo, situação apresentada
2.2 - Implicações das Mudanças Recentes pelas economias desenvolvidas de hoje, é neces-
sobre as Estratégias de sário que a curva de investimento bruto, em sua
Desenvolvimento Regional
porção inferior, tenda assintoticamente para um
nível superior à curva de depreciação efetiva.
O acirramento da concorrência com a
abertura econômica e os potenciais vazamen- Vale destacar dois aspectos ligados a este
tos de renda por conta do efeito-integração 8 ponto. Primeiro, apenas dessa forma se conse-
e pelo efeito-demonstração 9 , aliada a um guirá maximizar os impactos positivos da políti-
guerra fiscal predatória entre os estados bra- ca de desenvolvimento da Região no longo pra-
sileiros, e a extinção recente da Superinten- zo. Ou seja, este é um condicionante da eficiên-
dência do Desenvolvimento do Nordeste (SU- cia das estratégias de desenvolvimento, quais-
DENE) através da medida provisória 2145, quer outras estratégias que não intentem, ao me-
de 02.05.2001, certamente, merecem um re- nos, amortecer a tendência de queda da produti-
vidade marginal do estoque de capital per capita
no tempo será uma estratégia ineficiente, pois,
8
Possibilidade de cada agente econômico poder comprar implicará em desperdícios de recursos públicos.
produtos internacionais melhores e por melhores preços,
antes indisponíveis no mercado interno. Em segundo lugar, as estratégias de desen-
9
Conceito marshalliano que se refere à cópia do padrão de volvimento regional que não forem eficientes na
consumo dos países de economias mais avançadas. eliminação ou atenuação da tendência de queda

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da produtividade marginal do capital per capita bagagem de fatores locacionais reais10 , no caso
no longo prazo não lograrão, sequer atingir os de uma priorização tão-somente do capital hu-
resultados alcançados no passado. A estratégia mano ou trazendo migrantes qualificados de
cepalina implementada no Nordeste era compa- outras localidades no caso da priorização tão
tível com a estratégia de crescimento aplicada somente das inovações tecnológicas.
ao país como um todo. Hoje, a estratégia de cres-
cimento nacional está caracterizada a partir de 3.1 - Falhas de Mercado com base em
um conjunto de fatores - maior abertura econô- Externalidades
mica e acirramento da concorrência, menor pre-
sença do Estado na economia, severas limitações Conforme mencionado no item 2, dedicado
dos recursos públicos, etc. - que em muito difere à Nova Teoria do Crescimento Econômico, a
daqueles do passado. Isto significa que tentar teoria do desenvolvimento econômico tem cen-
replicar as estratégias de crescimento do passa- trado suas análises mais fortemente sobre fato-
do se constituirá em grave erro que se refletirá res não-econômicos e sobre falhas de mercado,
injustificável desperdício do dinheiro público. a partir da presença de externalidades, no pro-
cesso de crescimento e desenvolvimento dos
Logo, o incremento do capital humano, a eli- países menos desenvolvidos.
minação de barreiras à introdução de inovações
tecnológicas já disponíveis no mundo, investi- As principais falhas de mercado são co-
mentos maciços em ciência e tecnologia (C&T) nhecidas como externalidades e bens públicos.
e em pesquisa e desenvolvimento (P&D), como A externalidade está presente sempre que o
forma de eliminação, ou de atenuação, da ten- bem-estar do consumidor ou as possibilidades
dência de queda da produtividade marginal do de produção de uma firma são diretamente
capital per capita, como enfatizado anteriormen- afetadas pelas ações de outro agente na eco-
te, são condicionantes de eficiência para as es- nomia. Para exemplificar consideremos uma
tratégias desenvolvimentistas a serem adotadas situação de externalidade bilateral envolven-
no Nordeste. do duas firmas. Consideremos que a firma 1
se envolva em uma atividade que gere exter-
nalidade que afete a produção da firma 2. O
3 - ECONOMIAS DE nível de externalidade é indicado por h e o
AGLOMERAÇÃO: ALGUNS lucro condicional da firma j na produção do
FUNDAMENTOS nível de externalidade h são Πj(h) para j=1,2.
MICROECONÔMICOS, Considerando externalidades positivas como
POSSIBILIDADES E fonte de aumento de retornos, suponha que a
CONTROVÉRSIAS firma 2 produza um produto cujo preço é 1, e
utiliza um insumo cujo preço, por simplicida-
Como comentado anteriormente, uma polí- de, também toma-se como igual a 1. Dado um
tica de desenvolvimento deve priorizar o capi- nível h de externalidade, os lucros da firma 2
tal humano e o estímulo às inovações tecnoló- podem ser calculados como:
gicas que são condições necessárias ao desen-
volvimento. Essas condições contudo não são Π2(h) = γh ß/(1-£) , onde £, ß pertence ao in-
suficientes em áreas com maior disparidade de tervalo [0,1] e ß >1-£, γ >0 é uma constante.
renda já que há a necessidade paralela da utili-
zação de estratégias que estimulem empreendi-
mentos locais porque caso contrário poder-se- 10
Dizem respeito não a fatores artificiais como os incenti-
ia estar tão-somente preparando mão-de-obra vos fiscais e sim a fatores reais existentes em uma locali-
para migrar para outras localidades com maior dade tais como infra-estrutura, atividade referencial, etc.

475 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001
A função derivada de lucro da firma 2 não tivamente do crescimento local através do for-
é côncava em h, ela é de fato convexa e isso necimento especializado em matérias-primas e
reflete o fato de que se a externalidade h funci- componentes requeridos, serviços e mão-de-
ona como um insumo no processo de produção obra treinada passível de desenvolver-se na re-
da firma 2, então a função de produção da fir- gião, agregando habilidades particularmente
ma 2 exibe retornos crescentes à escala porque úteis ao setor. Um processo compartilhado de
£ + ß > 1(ver gráfico). Podemos pensar em h informações e a geração de novas tecnologias
como um índice correlacionado com o produ- tendem também a desenvolver-se naquele es-
to, de conhecimento acumulado na indústria, paço geográfico, onde cada empresa se benefi-
por exemplo, ou qualquer outra externalidade cia ao conhecer, ainda que informalmente, o que
positiva comuns nas economias de aglomera- está acontecendo com seus competidores e quais
ção.11 Ver GRÁFICO 2 abaixo. as tendências do setor tornando-se desse modo
mais dinâmico e competitivo.
3.2 - Conflitos x Cooperação na
Abordagem de Economias de
Aglomeração Contudo a decisão de implantação de uma
empresa em determinado local se caracteriza
Um grande setor composto de muitas em- como uma situação de conflito. Uma forma de
presas em uma região ligadas horizontal e ver- se estudar matérias referentes a conflito versus
ticalmente pode beneficiar-se do crescimento cooperação entre indivíduos, entre empresas, es-
local e ao mesmo tempo beneficiar cada em- tados e mesmo entre nações é através de análise
presa e o local onde se insere. Essa é em última baseada na simulação de um jogo. A teoria dos
análise a bandeira das economias de aglomera- Jogos é ramo da microeconomia que nos per-
ção, ou seja, uma atividade vocacionada de uma mite analisar o comportamento em situações
determinada área pode beneficiar-se significa- onde se detém algum controle como é o caso da

GRÁFICO 2
FUNCÃO DE LUCRO DE FIRMA RECIPIENTE DE EXTERNALIDADE POSITIVA

FONTE: Elaboração dos autores

11
Romer, P. (1986) em Increasing Returns and long-run
growth. Journal of Political Economy n. 94, p. 1002-36,
citado em Mas-Collel, A. e Whinston., M., 1995.

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001 476
reestruturação espacial de empresas. Utiliza-se Como pode ser observado pelo exposto aci-
como ilustração o dilema do prisioneiro12 . ma a não cooperação pode ser interpretada como
uma situação onde as empresas se fixam em lo-
O dilema do prisioneiro pode ser expres- calizações isoladas e a cooperação uma situa-
so em termos de ganhos de utilidade no in- ção onde as empresas se localizam em espaços
vestimento de implantação de uma nova uni- geoeconômicos de modo a permitir o adensa-
dade industrial em uma determinada área e mento de atividades já vocacionadas em deter-
em muitas outras situações. Na simulação de minado local. O comportamento esperado é que
um jogo que poderíamos chamar de dilema as empresas não cooperem, o que tem em mui-
de uma política pública de estimular ou não a tas situações acontecido na prática. Numa vi-
implantação de empresas em áreas específi- são de longo-prazo, contudo, o ótimo aponta
cas ou o dilema de estimular ou não aglome- para que cada empresa coopere, uma vez que
ração de empresas, suponhamos que coope- todos ganhariam com uma concorrência salutar
rar seja implantar indústrias em locais onde de mercado por mão-de-obra, o que levaria es-
já existe ambiência para o desenvolvimento tímulos ao treinamento com a conseqüente me-
de clusters e não cooperar seja dispersar, ou lhoria do capital humano local.
seja, se situar em localizações diversas e in-
dependentes. 13 Suponha ainda que a empre- 3.3 - Ganhos de Escala Provenientes das
sas ou grupos de empresas sejam oferecidas Economias de Aglomerações
as seguintes oportunidades:
Economias de escala são comuns no mun-
a) Se cada empresa ou grupo de empresas não do real tanto em indústrias como em algumas
cooperarem no sentido de que cada uma vai áreas do setor serviços e de agronegócios. Quan-
tentar se localizar de forma dispersa no espa- to maior o tamanho da produção da empresa,
ço geoeconômico de um estado ou nação, cada menores os seus custos médios, em resposta à
empresa terá mais chances individualmente maior especialização e eficiência produtiva,
de dispor da mão-de-obra local a um custo considerando-se no conceito uma análise pura-
mais baixo dado que a população não dispõe mente individual da empresa. Contudo, ocor-
de alternativas de emprego. rem também as chamadas economias externas
de escala, que se aplicam a um grupo de em-
b) Se ambas as empresas ou grupos de empresas presas, componentes de um setor produtivo em
cooperam poderiam atingir uma situação me- expansão. Tais economias se revestem de parti-
lhor no sentido de obter uma recompensa mai- cular relevância se um setor está concentrado
or para a economia local. em uma área geoeconômica específica para onde
convergem empresas vocacionadas à produção
c) Se uma empresa não coopera e a outra coope- eficiente de um determinado produto. Econo-
ra, a que não coopera irá provavelmente ob- mias externas de escala são obtidas através do
ter uma maior “fatia” em termos de dispor mo- inter-relacionamento com outras empresas e
nopolisticamente de fatores de produção. instituições que fornecem componentes, insu-
mos e serviços estruturadores que complemen-
tam o processo em uma área específica redu-
zindo assim os custos e o tempo de atendimen-
12
The Prisoner’s Dilemma é um dos jogos mais antigos da to, criando eficiência. São exemplos nos Esta-
teoria dos jogos (1950).
dos Unidos a produção de computadores no Vale
13
Situação que via de regra torna municípios verdadeiros do Silício, Estado da Califórnia, tapetes nos ar-
reféns de empresas e que permite excesso de liberdade a
redores de Dalton na Georgia, automóveis em
empresários que isoladamente e sem a forca de sindicatos
ficam livres para fixar salários. Detroit e aviação em Wichita, no Kansas.

477 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001
Tais economias externas de escala podem à tradição do setor no Nordeste, especializado
explicar a freqüente concentração de certos se- em fios de algodão. Existem também aglome-
tores em uma determinada região com caracte- rados de empresas do setor de móveis com pers-
rísticas do que a literatura recente convencio- pectiva de formação de cluster e o aumento da
nou chamar de cluster. Tendo o mundo como competitividade das empresas pela diversifica-
horizonte de mercado os clusters podem per- ção da oferta, maior qualidade dos produtos e
mitir economias de escala com redução nos cus- preços competitivos. Em fruticultura, as regiões
tos e o reconhecimento de referência a setores do Baixo Jaguaribe (CE), Assu e Mossoró (RN),
em localidades específicas. Quando um setor Alto Piranhas(PB), Juazeiro (BA), Petrolina(PE),
pode exportar e crescer em uma área geoeco- Sul de Sergipe e Norte de Minas apresentam van-
nômica, torna difícil a entrada no mercado de tagem comparativa para a produção de frutas de
empresas do ramo em áreas isoladas devido ao padrão internacional o ano inteiro, a partir da
distanciamento dos fornecedores, o que pode irrigação. Com a oferta local de serviços de apoio
inviabilizar o alcance de escala suficiente para e a utilização crescente de tecnologias adequa-
redução dos custos a níveis competitivos. Ain- das se transformam, aos poucos, em áreas de re-
da que tal argumento pareça paradoxal em um ferência. Além dos insumos e partes, vários são
mundo conectado a redes virtuais onde se pode os serviços que permeiam a atuação eficiente de
adquirir produtos nas mais diversas localidades, setores. Para fruticultura por exemplo, serviços
no mundo real a proximidade é fator relevante como os de armazenagem frigorífica, aclimata-
principalmente pelas externalidades positivas ao ção de mudas, certificação de qualidade, vigi-
local que permite. lância sanitária e muitos outros são demandados.
Muitas outras possibilidades como o gesso em
3.4 - Possibilidades para o Nordeste e Ariripina (PE), saúde em Teresina (PI) e Recife
Casos Controversos (PE) e Turismo em todos os estados do Nordeste
indicam evidentes possibilidades de crescimen-
No nordeste do Brasil a competitividade das to de economias de aglomeração.
empresas tem como base de apoio os incentivos
fiscais e patrimoniais ofertados por governos, a A despeito dos muitos casos de sucesso no
mão-de-obra abundante, o crédito e as taxas sa- mundo e das muitas possibilidades para o País
tisfatórias de produtividade do trabalhador nor- e para o nordeste brasileiro em particular não
destino, decorrente de novas tecnologias. Além se pode considerar as economias de aglomera-
disso vários setores apontam para a formação de ção como uma forma infalível de sucesso. Pelo
clusters como estratégia de longo prazo possibi- menos dois casos relativos ao setor têxtil, um
litando ganhos de escala. No setor de calçados, na Itália localizado ao nordeste da região de Pi-
por exemplo, existem indicações de formação de emonte e outro em Tiruppur no sul da Índia fun-
clusters nas localidades de Crato/Juazeiro, So- cionam como bons exemplos de que não se pode
bral e região metropolitana de Fortaleza no Cea- indiscriminadamente apostar no incentivo aos
rá; Campina Grande e João Pessoa na Paraíba; clusters como uma política positiva indepen-
Vale do Paraguaçu, Feira de Santana, Salvador e dente da ambiência.14
Sudoeste da Bahia e as cidades de Timbaúba,
Carpina, Nazaré da Mata, Vitória de Santo An- Em geral o que se pode aferir em termos
tão, Bezerros e Petrolina em Pernambuco que se de ambiência que explique resultados adver-
encontram em fase inicial de industrialização. sos num mesmo cenário de clusters é em geral
Outras possibilidades visíveis de ganhos de es-
cala a partir da formação de clusters existem no
setor têxtil, principalmente nas regiões metropo- 14
Para maior aprofundamento nesses e outros exemplos
litanas de vários estados da região, o que agrega de clusters ver Galvão, 1999.

Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001 478
a utilização de forma intensiva de mão-de-obra pais méritos da abordagem de cluster. As di-
terceirizada, o que leva à argumentação de que versas estratégias de se organizar os agentes pro-
não há o comprometimento por parte da em- dutivos de uma dada localidade para se deman-
presa ou de trabalhadores para a capacitação e dar e conseguir incrementar os ganhos de aglo-
melhoria de processos. Além disso, nas raras meração é, em si, um ponto vigoroso da abor-
experiências de insucesso os estabelecimentos dagem de cluster e que complementa, como
são em sua maioria de grande porte o que leva mencionado, as recomendações da nova teoria
ao questionamento acerca da coexistência de do crescimento econômico, possibilitando for-
pequenas, médias e grandes empresas em uma mas adequadas de implementação de suas re-
área geoeconômica específica voltadas à pro- comendações de política.
dução de um mesmo produto.
A conclusão clara é que a nova teoria do cres-
4 - ALGUMAS NOTAS cimento endógeno contribui para a legitimação da
CONCLUSIVAS endogeneização no âmbito da teoria do desenvol-
vimento endógeno regional, que pode ser imple-
O presente trabalho procurou mostrar que mentada a partir da estratégia de cluster que pos-
há certa complementariedade entre as aborda- sibilita uma ambiência mais favorável aos inves-
gens aqui examinadas. A abordagem de clus- timentos privados num cenário pós-cepalino.
ter, como estratégia de implementação, pode
atingir maior nível de consistência se incorpo- Ao levantar possibilidades que “quebram”
rar os achados da nova teoria do crescimento a monotonicidade da queda da produtividade
econômico. Esta última pode encontrar nas es- marginal do capital per capita no longo prazo,
tratégias de cluster uma forma adequada de pela introdução de fatores de crescimento en-
implementação de políticas. Os diversos “ca- dógeno como capital humano, ciência e tecno-
ses” de sucesso, geralmente explorados na abor- logia (C&T) ou pesquisa e desenvolvimento
dagem de clusters, simplesmente revelam gan- (P&D), incremento de infra-estrutura pública,
hos já previstos pela teoria econômica, como explicitação das imperfeições do mercado de
os ganhos de escala e ganhos de escopo, geral- capitais, etc., a nova teoria do crescimento eco-
mente negligenciados nas análises dos própri- nômico está, de fato, possibilitando a abertura
os autores que trabalham com a abordagem de de novas diretrizes de fomento que deveriam
clusters15 . Ou seja, se as políticas públicas de- ser objeto de estratégias específicas a partir das
rem os incentivos corretos aos agentes econô- abordagens de cluster.
micos, regionalmente localizados, ganhos de
aglomeração brotarão e, eventualmente, tais Para ilustrar, observe-se que os ganhos pro-
incentivos poderão ser fundamentais em deter- venientes das “redes” de empresas que formam
minados processos de crescimento econômico. um determinado cluster representam, na verda-
de, o incremento do estoque de conhecimento
Contudo, não é na explicitação dos ganhos produtivo coletivo, ou seja, incremento do esto-
de escala e de escopo16 que repousa os princi- que de capital humano de uma dada localidade,
fator de crescimento endógeno crucial.

15
O trabalho de Carvalho (2000) e Galvão (1999)
Por outro lado, os estudiosos da nova teoria
são exceções. do crescimento econômico ressentem-se da falta
16
de instrumentos que permitam a implementação
Esses ganhos proporcionarão redução de custos priva-
dos, provenientes de economias de escala e economias de de políticas econômicas que contemplem as suas
escopo, que naturalmente são conceitos já há muito reco- próprias recomendações. Por exemplo, tornou-
nhecidos pela teoria microeconômica clássica. se lugar comum, entre estudiosos e police makers,

479 Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n. Especial p. 467-482, novembro 2001
se propor como panacéia para todos os males a nomic tools and shows that the strategies of eco-
universalização da educação em todos os níveis, nomic policies concerning the new theory of the
desconhecendo-se os mecanismos necessários economic growth could benefit of the cluster
para o seu financiamento dentro da economia de approach and that this last one would win in con-
um estado pobre. sistency and width incorporating the discoveries
of the new theory of the economic growth.
A importância da educação já vem sendo mo-
tivo de recomendações de vários importantes eco- Key-words:
nomistas17 . Porém, como o capital humano não
se restringe a educação formal – apesar de ser Endogenous growth, externalities, Regional
sua principal fonte – não são tão óbvias as de- Development, Clusters
mais formas de incrementá-lo, respeitando-se as
especificidades de cada localidade. Neste ponto
5 - BIBLIOGRAFIA
a abordagem de cluster pode funcionar como
instrumento de implementação adequado, indi- AMARAL FILHO, J. do. “A Endogeneização no
cando que tipo de habilidades são mais requeri- desenvolvimento econômico Regional”,
das por um conjunto de empresas que atuem em ENCONTRO NACIONAL DE ECONO-
determinadas regiões. MIA 27, ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS
CENTROS DE PÓS- GRADUAÇÃO EM
Logo, considerando-se a ilustração acima, ECONOMIA (ANPEC), Belém-PA, 1998.
sendo o incremento do capital humano um ca-
minho seguro para mais crescimento e desenvol- AGHION, Phillippe & HOWITT, Peter. “A Mo-
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poderia funcionar como instrumento de imple- on”. Econometrica, New York, v. 60, P.
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Recebido para publicação em 15.AGO.2001

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