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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.045.857 - SP (2008/0073494-6)


RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : CIFRA S/A CRÉDITO FINACIAMENTO E INVESTIMENTO
ADVOGADOS : PAULO EDUARDO DIAS DE CARVALHO E OUTRO(S)
ELIZETE APARECIDA DE OLIVEIRA SCATIGNA
HUDSON JOSE RIBEIRO
PEDRO ALEIXO BARBOSA DE ALMEIDA LINS JUNIOR
RECORRIDO : ANDREIA DOMINGUES
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

EMENTA

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO.


CONVERSÃO EM DEPÓSITO. LIBERAÇÃO DO VEÍCULO.
DESPESAS COM REMOÇÃO E ESTADIA EM PÁTIO
PARTICULAR. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. ÔNUS DO
CREDOR FIDUCIÁRIO.
1. As despesas decorrentes do depósito do bem alienado em pátio
privado constituem obrigações propter rem, de maneira que
independem da manifestação expressa ou tácita da vontade do
devedor.
2. O credor fiduciário é o responsável final pelo pagamento das
despesas com a estadia do automóvel junto a pátio privado, pois
permanece na propriedade do bem alienado, ao passo que o devedor
fiduciante detém apenas sua posse direta.
3. Recurso especial a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros


da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos
votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, negar
provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)
Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso
Sanseverino e Vasco Della Giustina votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 12 de abril de 2011(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

Documento: 1052793 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: Página 1 de 8


25/04/2011
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.045.857 - SP (2008/0073494-6)

RECORRENTE : CIFRA S/A CRÉDITO FINACIAMENTO E INVESTIMENTO


ADVOGADOS : PAULO EDUARDO DIAS DE CARVALHO E OUTRO(S)
ELIZETE APARECIDA DE OLIVEIRA SCATIGNA
HUDSON JOSE RIBEIRO
RECORRIDO : ANDREIA DOMINGUES
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

Cuida-se de recurso especial interposto por CIFRA S.A. CRÉDITO,


FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, com fundamento no art. 105, III, “c”, da
CF/88, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo –
TJ/SP.

Ação: busca e apreensão proposta pelo recorrente em face de ANDREIA


DOMINGUES, com o objetivo de retomar a posse do veículo marca Volkswagen,
Modelo Gol. O automóvel fora entregue à recorrida em virtude de “contrato de
financiamento com garantia de alienação fiduciária” celebrado entre as partes (e-STJ fls.
14/16). A liminar foi deferida em 17/5/2007 (e-STJ fl. 52) e não pôde ser cumprida pelo
Oficial de Justiça designado para a diligência, tendo em vista que o veículo não se
encontrava mais na posse da recorrida (e-STJ fl. 89).
Petição: o recorrente requereu a conversão da busca e apreensão em
depósito, pois o automóvel objeto da busca e apreensão foi localizado no “Pátio da União
Resgate”. Solicitou, ainda, a liberação do bem “independentemente do pagamento de
estadias e despesas com remoção, já que não (...) deu causa às mesmas” (e-STJ fl. 57).
Decisão interlocutória: o Juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de Limeira /
SP determinou a conversão da busca e apreensão em depósito, ressalvando que “o
pagamento das despesas de estadia e reboque perante o depositário particular deverão ser
suportados pelo requerente, uma vez que não está obrigado a exercer gratuitamente um
'munus' de interesse particular do autor, recobrando-se posteriormente do réu, em fase de
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execução de sentença” (e-STJ fls. 64/65). O recorrente interpôs agravo de instrumento
em face dessa decisão (e-STJ fls. 3/10).
Acórdão: o TJ/SP negou provimento ao agravo de instrumento interposto
pelo recorrente, nos termos da seguinte ementa (e-STJ fls. 98/106):

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AUENAÇÃO FIDUCIÁR1A -


BUSCA E APREENSÃO - BEM APREENDIDO - DESPESAS
ADMINISTRATIVAS COM A PERMANÊNCIA EM PÁTIO DE
ESTACIONAMENTO E GUINCHO - PAGAMENTO DE ESTADIAS -
RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO FIDUCIÁRIO.
Descabida a pretensão do credor fiduciário que amparado em mera
alegação de que a responsabilidade pelo pagamento do débito é sempre do
devedor fiduciante, busca isentar-se do pagamento das despesas com a estadia
do bem apreendido em pátio de estacionamento, bem como com o guincho,
imputando àquele a responsabilidade pelo pagamento de referida obrigação.
Todavia, a responsabilidade pelo pagamento das despesas
administrativas derivadas da apreensão do veículo, nestas inchadas as diárias
no pátio de estacionamento, deve ser atribuída ao proprietário do bem alienado
fiduciariamente, nos termos do disposto no art. 257 do Código de Trânsito
Brasileiro.
RECURSO NÃO PROVIDO.

Recurso Especial: o recorrente alega que a decisão proferida pelo TJ/SP


discrepa da solução encontrada pelo TJ/SC na análise de hipótese fática idêntica à dos
autos. Dessa forma, intenta que prevaleça a tese defendida pelo acórdão paradigma,
segundo a qual “inexiste base jurídica para condicionar o cumprimento da liminar de
busca e apreensão ao pagamento, pelo credor, das despesas administrativas (...)
incidentes sobre o bem alvo da apreensão” (e-STJ fls. 109/113).
Exame de Admissibilidade: o i. Des. Presidente da Seção de Direito
Privado do TJ/SP admitiu o recurso especial, determinando a remessa dos autos ao STJ
(e-STJ fls. 126/127).
É o relatório.

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ADVOGADOS : PAULO EDUARDO DIAS DE CARVALHO E OUTRO(S)
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VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

Cinge-se a lide a verificar se o credor fiduciário pode ser


responsabilizado pelo pagamento das despesas decorrentes da guarda e conservação de
veículo em pátio de propriedade privada, tendo em vista a retomada da posse direta do
bem em virtude da efetivação de liminar deferida em sede de busca e apreensão do
automóvel.

I. Admissibilidade do recurso especial. Divergência jurisprudencial

O dissídio jurisprudencial está bem demonstrado, pois o recurso


especial preocupou-se em aproximar as hipóteses fáticas, fazendo o cotejo entre referidas
decisões. Assim, de acordo com a decisão proferida pelo TJ/SP, “se o veículo objeto da
busca e apreensão ficou determinado período em pátio particular, (...), a respectiva
estadia deve ser paga por inteiro pelo credor fiduciário” (e-STJ fl. 105).
Contudo, a posição adotada pelo TJ/SC (órgão prolator do acórdão
paradigma) em hipótese muito semelhante à dos autos aponta que “a responsabilidade
pelo pagamento desses encargos é, com exclusividade, do (...) possuidor direto do bem”
(e-STJ fl. 109).
Como se percebe, a orientação adotada pelo TJ/SP encontra-se em clara
divergência com o posicionamento eleito pelo TJ/SC, no sentido de que não é possível
atribuir ao credor fiduciário o ônus de custear as despesas decorrentes da conservação,
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remoção e estadia do bem objeto da alienação fiduciária junto ao depositário. Nesse
ponto, portanto, o recurso especial reúne os requisitos de admissibilidade.

II. A solução da controvérsia

Conforme a descrição efetuada pelo acórdão recorrido, o recorrente


utilizou a prerrogativa que lhe é conferida pelo art. 3º do DL 911/69 e ajuizou ação de
busca e apreensão para reaver o veículo objeto do contrato celebrado entre as partes.
Diante da comprovação da mora da devedora fiduciante, recorrida, foi deferida a
respectiva liminar (e-STJ fl. 52).
Essa determinação judicial, contudo, não foi cumprida, pois o bem
alienado fiduciariamente não foi encontrado na posse da recorrida, e o pedido de busca e
apreensão foi transmutado em ação de depósito (e-STJ fls. 64/65). No mesmo ato de
conversão, foi fixada a responsabilidade da recorrente pelo pagamento das despesas
decorrentes da guarda e conservação do bem perante o depositário particular, um pátio
privado.
O recorrente insurge-se contra essa resolução, aduzindo que “o
financiador (...) tem apenas a posse indireta e o domínio resolúvel do bem, não sendo,
pois, responsável por qualquer ato, fato, despesas e mesmo responsabilidade civil que
venha a ocorrer enquanto o veículo se encontrar na posse direta do financiado” (e-STJ fl.
111).
De fato, a alienação fiduciária em garantia transfere ao credor apenas o
domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada (art. 1.361 do CC/02).
Assim, “ocorre o fenômeno do desdobramento da posse, tornando-se o devedor o
possuidor direito da coisa, e o credor - titular da propriedade fiduciária resolúvel -,
possuidor indireto. Somente após o pagamento da dívida, a propriedade fiduciária do
credor se extingue em favor do devedor, bem como sua posse indireta, tornando-se o
devedor proprietário e possuidor pleno” (REsp 881.270/RS, 4ª Turma, rel. Min. Luis
Felipe Salomão, DJe de 19/3/2010). Verifica-se, portanto, que durante a execução do
contrato o recorrente/credor fiduciário permanece na propriedade do bem alienado, ao
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passo que a recorrida/devedora detém sua posse direta.
Ocorre que as despesas decorrentes do depósito do veículo alienado em
pátio privado referem-se ao próprio bem, ou seja, constituem obrigações propter rem.
Essa espécie de obrigação provém “da existência de um direito real, impondo-se a seu
titular” (GOMES, Orlando. Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 17ª Ed., p. 29),
de maneira que independe da manifestação expressa ou tácita da vontade do devedor. Sua
característica mais marcante é o fato de que o devedor é sempre o titular do direito real:
na espécie dos autos, isso equivale a dizer que as despesas com a remoção e a guarda do
veículo alienado estão vinculadas ao bem e a seu proprietário, o recorrente / titular da
propriedade fiduciária resolúvel.
Assim, não há dúvida de que o credor fiduciário é o responsável final
pelo pagamento das despesas com a estadia do automóvel junto ao pátio privado. Essa
circunstância não impede, contudo, a possibilidade de reaver esses valores por meio de
ação regressiva a ser ajuizada em face da recorrida, que supostamente deu causa à
retenção do bem. De igual forma, ao efetuar a venda do automóvel – conforme a previsão
dos arts. 2º do DL 911/69, 66-B, § 3º, da Lei 4.728/65 e 1.364 do CC/02 – deverá
“aplicar o preço da venda no pagamento do seu crédito e das despesas de cobrança”, ou
seja, esses gastos serão indireta e integralmente ressarcidos pela recorrida, a devedora
fiduciante.
Perquirir acerca dos motivos que levaram à apreensão do veículo,
ademais, não alteraria essa conclusão. Mesmo que a retenção do automóvel possa ser
imputada à recorrida, é certo que as despesas decorrentes da permanência do bem em
pátio particular devem ser suportadas pelo recorrente. Isso porque não é possível
confundir as obrigações propter rem, inerentes à coisa e decorrentes da propriedade, com
as obrigações advindas de infração cometida pelo condutor. As multas por transgressão
das regras de trânsito têm caráter punitivo e pessoal, de modo que o infrator é o único
responsável por seu adimplemento.
É importante ter em vista, ainda, que os gastos com a guarda e a
remoção do veículo alienado foram presumivelmente destinados à devida conservação do
automóvel. Sem o abrigo e a diligência do pátio particular, a garantia provavelmente
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pereceria, de modo que a empresa responsável pela manutenção do bem tampouco está
obrigada a devolver o veículo sem qualquer contraprestação pelo serviço prestado.
Dispensar o recorrente do pagamento dessas despesas implica em amparar judicialmente
o locupletamento indevido do credor fiduciário, legítimo proprietário do bem depositado.
Essa conclusão é reforçada pela verificação de que o depósito derivado da obrigação
legal imposta pelo art. 262 do CTB, por exemplo, é sempre necessário (art. 647, I, do
CC/02) e, portanto, não se presume gratuito (art. 651 do CC/02). Assim, o depositário
poderá reter a coisa até o recebimento da retribuição devida (art. 644 do CC/02).
Logo, as despesas decorrentes da permanência e posterior remoção de
veículo alienado fiduciariamente devem ser pagas pelo proprietário do bem, vale dizer,
pelo recorrente/credor fiduciário, sem prejuízo de seu direito de regresso em face da
recorrida.

Face ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2008/0073494-6 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.045.857 / SP

Número Origem: 113164609


PAUTA: 12/04/2011 JULGADO: 12/04/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIFRA S/A CRÉDITO FINACIAMENTO E INVESTIMENTO
ADVOGADOS : PAULO EDUARDO DIAS DE CARVALHO E OUTRO(S)
ELIZETE APARECIDA DE OLIVEIRA SCATIGNA
HUDSON JOSE RIBEIRO
PEDRO ALEIXO BARBOSA DE ALMEIDA LINS JUNIOR
RECORRIDO : ANDREIA DOMINGUES
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Alienação Fiduciária

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de
Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) votaram com a
Sra. Ministra Relatora.

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