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Gustavo Tonelli
SUMÁRIO
Introdução
1. Princípios Clássicos
2. Princípios modernos
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Conclusão
Bibliografia
INTRODUÇÃO
Alguns destes princípios já eram adotados desde o Império Romano; outros, contudo,
tiveram seus contornos e finalidades delimitados somente nos últimos anos. Exemplo
do primeiro pode ser o princípio da autonomia da vontade. Do segundo, a função social
do contrato.
Em outras palavras, pode-se dizer que os princípios sempre estiveram presentes nos
contratos, de forma a regular de forma justa a relação daqueles que se vinculam e
assumem obrigações para com outros.
É importante destacar, desde logo, que, apesar de todos terem que seguir estes
princípios, muitos são relativos, isto é, admitem exceções, de forma que, caso haja
algum obstáculo ao seu cumprimento, a parte pode deixar de cumpri-lo. Ocorre que não
fica ao livre arbítrio dos contraentes escolher qual princípio quer deixar de respeitar,
muito menos quando. Assim, a doutrina e a própria jurisprudência já tem definidos
quais podem vir a ser desobedecidos, desde que algo impeça uma das partes de cumpri-
lo.
Segundo Orlando Gomes (2008, p.25) são seis os principais princípios contratuais: o da
autonomia da vontade, o do consensualismo, o da força obrigatória, o da boa-fé, o do
equilíbrio econômico do contrato e, por fim, o da função social. Os três primeiros
seriam clássicos, ao passo que os três últimos seriam os modernos.
O escopo do presente trabalho será falar a respeito dos seis acima expostos, bem
como de outros, também extremamente importantes ao direito civil.
1. PRINCÍPIOS CLÁSSICOS
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A liberdade contratual está prevista no art. 421 do Código Civil de 2002, que assim
dispõe: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social
do contrato.”
É este o princípio, aduz a doutrina, que possibilita a celebração dos contratos atípicos,
isto é, daqueles que não estão regulamentados pelo ordenamento jurídico, mas que são
gerados pelas necessidades e interesses das partes. Conforme Silvio de Salvo Venosa
(2011, pag. 383): “A liberdade contratual permite que as partes se valham dos modelos
contratuais constantes do ordenamento jurídico (contratos típicos), ou criem uma
modalidade de contrato de acordo com suas necessidades (contratos atípicos).”
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À essa limitação acrescenta-se mais duas: a primeira é o caso fortuito e a força maior,
exceções clássicas, que liberam uma das partes de cumprir o contrato em virtude de um
acontecimento natural ou humano que escapa de seu controle, como, por exemplo,
terremotos, enchentes, guerras, etc.
“Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar
de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que
a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou em domicílio.”
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Por meio deste princípio, as partes podem revisar, alterar, modificar um contrato
estabelecido, a fim de evitar injustiças. Consequentemente, opõe-se à força obrigatória
dos contratos.
Foi explicado que, em regra, quando um contrato é firmado entre as partes, deve ser
cumprido, isto é, o contrato faz lei entre as partes. Entretanto, podem ocorrer fatos que
alteram a situação de um dos contraentes, de modo que a este sobrevém uma excessiva
onerosidade para cumprir as obrigações que assumira. A situação de fato em que se
encontrava foi alterada, impossibilitando que cumpra suas obrigações. Para evitar este
tipo de injustiça, criou-se a possibilidade de revisar os contratos.
Deste modo, deve ser observada a teoria segundo a qual há uma presunção da
existência de uma cláusula implícita no contrato, que determina a permanência
da situação de fato para que as partes cumpram seus deveres. À esta teoria
convencionou-se chamar de “rebus sic stantibus”.
Esta teoria foi adotada no Brasil com o nome de teoria da imprevisão. Possui as
mesmas características da “rebus sic stantibus”, mas à ela foi acrescentada um
requisito: a imprevisibilidade. Assim, além de ocorrer uma alteração de fato que
torne excessiva a prestação de uma das partes, impõe-se que essa alteração seja
imprevisível.
O código Civil de 2002 trata deste tema em três artigos: 478, 479 e 480.
Este princípio, portanto, não desfaz os contratos, mas apenas fornece um meio judicial
de alterar modificações supervenientes que os atingem. Busca-se a justiça contratual.
Estipula que, como regra, os contratos possuem efeitos apenas entre as partes. “Seus
efeitos não podem, em princípio, nem prejudicar, nem aproveitar a terceiros.”
(VENOSA, 2011, p. 385).
Mas há exceções a este princípio. Isto é, admite-se que determinados efeitos atinjam
aqueles que não participaram da formação do contrato. Este não é mais firmado tendo
em vista apenas os interesses das partes; lhe é reconhecido uma função social.
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É importante ressaltar que este princípio não se aplica apenas às partes, aos sujeitos,
mas também ao objeto. Deste modo, a regra é que o bem deve ser dos sujeitos que
participam do contrato. O contrato sobre bem que não pertence aos sujeitos não atinge
terceiros. Mas essa regra também comporta exceções.
Portanto, com regra, os efeitos do contrato atingem apenas as partes, e seu objeto é
também aquele pertencente aos contraentes. Mas tanto os sujeitos, como o objeto
comportam exceções.
A validade do contrato não depende do beneficiário, mas sua eficácia sim. Em outras
palavras, o beneficiário não está obrigado a aceitar a estipulação feita em seu nome,
mas o contrato é feito mesmo sem este consentimento.
A vida moderna fez com que o legislador subordinasse alguns contratos ao formalismo,
que nada mais é do que exigências materiais para o aperfeiçoamento do contrato.
Assim, este só seria concretizado se estivessem presentes todas as condições legais.
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Mas, a estes que aperfeiçoam-se apenas com o acordo de vontades, opõem-se aqueles
que precisam da entrega efetiva da coisa (tradição). Isto é, o contrato só é efetivamente
firmado no momento em que há transferência da coisa do devedor para o credor. Estes
são os contratos reais.
2. PRINCÍPIOS MODERNOS
Este princípio constitui uma inovação do Código Civil de 2002, e vem previsto no art.
421, que dispõem da seguinte maneira: “A liberdade de contratar será exercida em
razão e nos limites da função social do contrato.” Trata o artigo em questão de uma
norma de ordem pública, segundo a qual “o contrato visa a tingir objetivos que, além de
individuais, são também sociais. O poder negocial é, assim, funcionalizado, submetido a
interesses coletivos ou sociais” (GOMES, 2008, p. 48).
Não apenas presente no CC/02, também é tido como preceito constitucional, intitulado
no art. 5, inciso XXII e XXIII, que resguarda o direito à propriedade. “Ora, a realização
da função social da propriedade somente se dará se igual princípio for estendido aos
contratos, cuja conclusão e exercício não interessa somente às partes contratantes, mas
a toda a coletividade” (REALE, Função social da propriedade. Disponível em:
http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm
(http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm) . Acesso em 06 de abril de 2013).
Caio Mário explica brilhantemente que “a função social do contrato serve para limitar a
autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social
e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa tingir a própria liberdade de não
contratar” (PEREIRA, 2006, p. 13).
A função social do contrato está muito relacionado às cláusulas gerais, que são “normas
orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao
mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir” (GONÇALVES, 2012, p. 27). O
magistrado, desta forma, passa a ter liberdade para decidir sobre a adequação social de
cada contrato, bem como de suas cláusulas.
O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta, não apenas
durante a execução do contrato, mas também durante as tratativas. Está previsto no art.
422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
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“Coloquialmente, podemos afirmar que este princípio de boa-fé se estampa pelo dever
das partes de agir de forma correta, eticamente aceita, antes, durante e depois do
contrato, isso porque, mesmo após o cumprimento de um contrato, podem sobrar-lhes
efeitos residuais” (VENOSA, 2011, p. 386).
O CC/02 trouxe como inovação a boa-fé objetiva, que se traduz em uma norma imposta
a todos, e que importa a obrigação das partes em comportar-se de boa-fé nas suas
relações. A boa-fé objetiva é, assim, uma norma cogente, obrigando as partes em um
dever de cooperação entre si.
A boa-fé objetiva tem três funções principais. A primeira é a função interpretativa. Por
meio dessa função, o legislador deverá extrair da norma o sentido mais adequado para a
aplicação ao caso concreto.
A segunda função é de limitar o direito subjetivo. Busca evitar o abuso de direito por
alguma das partes. Este abuso seria o exercício do direito de modo a contrariar o valor
que o mesmo procura tutelar.
Os deveres anexos são três: proteção (evitar que a outra parte sofra dano), informação
(dar as necessárias e básicas informações à outra parte) e lealdade (fazer a sua parte e
ajudar, ou, no mínimo, não atrapalhar, a outra parte a fazer a dela).
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Deste modo, não basta aos contraentes cumprirem as normas de comportamento (boa-
fé objetiva), nem tampouco acreditar que seguem o direito (boa-fé subjetiva); é
necessário obedecer a deveres secundários, ou anexos, que estão de acordo com os
padrões de justiça estabelecidos pelos princípios contratuais.
Este princípio encontra-se presente no Código Civil de 2002, e tem como fundamentos
“a lesão e a revisão ou resolução do contrato por excessiva onerosidade superveniente.
Em ambos os casos, desempenha papel de limite à rigidez do princípio da força
obrigatória do contrato” (GOMES, 2008, p. 48).
Caio Mário explica o que se entende por onerosidade excessiva. Segundo ele: “A
onerosidade excessiva é um estado contratual que ocorre quando acontecimentos
supervenientes, extraordinários e imprevisíveis, provoquem mudanças na situação
fática, refletindo diretamente sobre a prestação devida, tornando-a excessivamente
onerosa para o devedor, enquanto a outra parte obtém benefício exagerado” (PEREIRA,
2006, p. 45).
Por fim, insta salientar que difere essa teoria da imprevisão porque esta pauta-se na
imprevisibilidade, ao passo que aquela, na desproporção.
CONCLUSÃO
Ao passar dos tempos, o direito foi abrindo exceções à rigidez dos princípios, de forma
que as partes encontram-se limitadas ao estabelecer contratos. Ocorre que, ao contrário
do que possa parecer à primeira vista, essas exceções se dão com o intuito de preservar
os interesses da coletividade.
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BIBLIOGRAFIA
DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, Vol. 3 – Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais, 27ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2011
GOMES, Orlando, Contratos, 26ª Edição, Editora Forense e Gen, 2008, Rio de Janeiro
http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm
(http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm)
Autor
Gustavo Gustavo Tonelli
Tonelli
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