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alainet.org/pt/articulo/200714
Sem dúvida, para os povos amazônicos, é boa notícia que o papa Francisco tenha
convocado um sínodo dos bispos católico-romanos de todo o mundo para refletir sobre
os apelos que a Amazônia faz à Igreja Universal (compreendida como o conjunto de
Igrejas cristãs do mundo inteiro). Como afirmou Dom Roque Paloschi, presidente do
Conselho Indigenista Missionário no Brasil (CIMI), “O Sínodo sobre a Amazônia
praticamente começou em janeiro de 2018, em Puerto Maldonado (Peru), no encontro do
papa com os povos amazônidas”.
De fato, o Sínodo dos Bispos é uma instituição que retoma antigo costume das Igrejas e
sinaliza a vocação que a Igreja tem de ser sinal e instrumento de unidade para a toda a
humanidade. (O termo sínodo vem do grego e significa “caminhar juntos”).
Na Igreja Católica, foi depois do Concílio Vaticano II que o papa Paulo VI, em 1967,
recriou a instituição do Sínodo, encontro que reúne bispos de todo o mundo para, de
tempos em tempos, refletir com o papa sobre assuntos que dizem respeito à Igreja
universal ou a problemas humanos e pastorais de determinada região (cânon 342 do
Código de Direito Canônico). É o caso desse Sínodo especial para a Amazônia, convocado
pelo papa para outubro de 2019, conforme o cânon 345 do mesmo código. Esse sínodo
tem como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
No dia 17 de junho deste ano, se tornou público o documento que servirá de base para o
diálogo e os trabalhos do Sínodo (Instrumentum laboris). Elaborado na metodologia
latino-americana, o documento tem três partes, correspondentes ao Ver, Discernir
(julgar) e Agir. Na primeira, o documento retrata a realidade do território e dos seus
povos a partir dos relatos e testemunhos das comunidades. Por isso, a proposta é
escutar a voz da Amazônia à luz da fé. Na segunda, busca-se responder ao clamor da terra
e dos povos por uma Ecologia Integral. Finalmente, na terceira parte, Igreja profética na
Amazônia, desafios e esperanças, tentam-se discernir caminhos novos para a missão
profética das Igrejas na Amazônia.
É consolador saber que esse documento e os assuntos que serão tratados no Sínodo
foram formulados a partir de consulta que envolveu as comunidades amazônicas,
grupos (católicos ou não) e acolheu posicionamentos de estudiosos/as e pessoas que
acompanham a realidade amazônica nos diversos países que cobrem a região.
Infelizmente, ainda há - e não são poucos - os bispos, padres e grupos católicos que não
reconhecem a Ecologia Integral, a situação social dos povos e a Política como assuntos
que dizem diretamente respeito à missão da Igreja. Parecem esquecer ou ignorar que
Jesus definiu a sua missão como sendo a de curar os doentes, libertar os prisioneiros e
anunciar aos empobrecidos a boa notícia da libertação. Para isso, ele foi enviado pelo
Espírito Divino que recebeu (Lucas 4, 16- 21). À luz dessa compreensão do evangelho do
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reino, convido vocês a aprofundarmos a novidade que esse Sínodo pode representar
para a Igreja e para o mundo e como podemos dele escutar uma palavra que nos renove
e nos anime na missão.
Há mais de 50 anos, o papa João XXIII e o Concílio Vaticano II nos ensinaram a assumir
“os sinais dos tempos” como elemento a partir do qual, aprendemos a discernir a palavra
de Deus e o que ele pede de nós. Na América Latina, olhar a realidade social e política
para discernir nela os desafios para a missão foi o próprio tema geral da 2ª conferência
geral do episcopado católico em Medellín (1968). A partir daí, se tornou a proposta
teológica e espiritual das comunidades cristãs, inseridas no meio dos pobres. Nas
últimas décadas, a Teologia da Libertação tem tomado formas diversas e novas,
assumindo os caminhos próprios das teologias afro, indígenas, feministas, gays e outras
reflexões autônomas que se situam na mesma linha libertadora. No entanto, para o
magistério romano e os bispos reunidos em um sínodo em Roma, é a primeira vez que,
depois do Concílio Vaticano II (1962- 1965) e, para a América Latina, depois de Medellín
(1968), a realidade social e política é assumida realmente como “categoria teológica”.
Por isso, podemos afirmar que essa escuta da realidade e o reconhecimento do lugar
teológico das diversas tradições espirituais dos povos originários é como revelação
divina que chegou atrasada. Embora elas já sejam tão antigas, só agora a hierarquia
católica está verdadeiramente reconhecendo que ali há uma revelação divina e está
disposta a acolher.
Todos sabemos das reações contrárias que o papa Francisco enfrenta no Vaticano.
Sabemos que até mesmo o fato de dedicar uma sessão do Sínodo à Amazônia está
sendo contestado por alguns, inclusive cardeais. Além disso, o Sínodo é órgão consultivo,
sem nenhum poder deliberativo e é coordenado por cardeais e bispos, dos quais a
maioria nem conhece bem a região. Por isso, para muitos irmãos e irmãs missionários e
inseridos nas bases, esse processo sinodal de escuta que o Sínodo já suscitou e agora foi
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oficializado no documento de trabalho garante que o Sínodo vá além de seus próprios
limites e se torne como alguns chamaram, uma amazonização da Igreja ao se inserir na
realidade do território e dos povos e uma aliança da humanidade pela Vida.
Nesse sentido, através do diálogo, esse processo sinodal já conseguiu formar na parte da
Igreja que deseja a inserção um consenso básico que consiste no apoio às comunidades
indígenas, ribeirinhas e diversos segmentos amazônicos. Denuncia claramente a ação
nefasta das madeireiras, mineradoras e grandes empresas pesqueiras. E instaura uma
missão eclesial baseada na escuta, no diálogo e no respeito às culturas e espiritualidades
dos diversos povos e comunidades. O documento de trabalho do Sínodo chega a
reconhecer a Amazônia como “repleta de vida e sabedoria” (n. 5).
Todos sabemos que parte dos bispos e do clero mesmo na região amazônica rejeita e se
mantém distante de todo esse processo como se o ignorasse. Mas, assim mesmo, em
cidades e arquidioceses nas quais o arcebispo e parte do clero não participam de nada
que diga respeito a esse Sínodo e à consulta, o processo está ocorrendo nas bases e tem
sido fecundo.
Certamente uma vitória desse documento e do processo que ele expressa é uma leitura
mais sistêmica da realidade e a denúncia de um sistema que ameaça a vida na
Amazônia. Também é uma conquista ver em um documento emanado do Vaticano o
reconhecimento claro de que até hoje a Amazônia enfrenta a invasão de “novas potências
colonizadoras” (n. 7), a confissão de que “a Igreja foi (ou tem sido) cúmplice dos
colonizadores, sufocando a voz profética do Evangelho” (n. 38). Antes, papas como João
Paulo II pediam perdão pelos erros de “alguns filhos da Igreja”, mas nunca reconheciam
que a Igreja, em si mesma e como Igreja tinha pecado...
Por trás desse documento há uma Missiologia diferente da que, embora reconheça a
missão da Igreja em relação à justiça e a paz, continua vendo o evangelho como
“doutrina cristã”, identifica Igreja e reino e sublinha a missão como pregação do
evangelho aos descrentes. Nesse documento de trabalho, embora nem sempre a
linguagem consiga ser totalmente clara, consegue-se expressar claramente que a missão
só pode ser vivida em diálogo com as sabedorias ancestrais dos povos amazônicos (n. 29) e
deve ser um diálogo a serviço da vida e do futuro do planeta (n. 35). Portanto de modo
algum é diálogo como mera estratégia pedagógica para assim fundamentar melhor a
doutrinação ou a conversão religiosa de fieis.
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É outra concepção de missão. Mesmo quando a linguagem parece visar a Igreja é
sempre supondo uma Igreja em saída e cuja missão se vê como sendo a Ecologia integral
e a defesa da vida no planeta.
Começo por uma experiência que vivi na África. Logo depois do Fórum Mundial de
Teologia e Libertação, em Nairóbi (janeiro de 2007), visitei uma comunidade africana
tradicional. Ali conheci uma senhora, sacerdotisa de Tamobi, a deusa da água. Para
provocá-la, perguntei:
- Como tendo aqui uma sacerdotisa da deusa da água, essa região é tão seca? A senhora não
consegue que Tamobi faça chover?
Para mim, aquilo tinha sabor de lição a ser aprendida. Aquela senhora me ensinava a
diferença entre espiritualidade e simples magia. Ela era sacerdotisa de Tamobi, não
controladora ou proprietária do mistério divino (tendência do clericalismo).
Tinha sabido que ali perto, uma empresa tirava areia para levar à cidade e destruía todo
o leito do rio. Provoquei de novo:
- Como a sua espiritualidade poderia defender o rio que está ameaçado de secar?
Ela me respondeu:
- De fato, a empresa está com dificuldade de continuar o seu trabalho porque, através de
mim, Tamobi avisou aos homens daqui que trabalhavam no transporte de areia do rio:
- Vocês estão destruindo a cama em que me deito com a natureza. Se vocês destroem o meu
leito conjugal, eu vou tirar a potência sexual de qualquer um de vocês que continuar esse
trabalho de transporte de areia.
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Todos os empregados se demitiram. A empresa diminuiu muito e teve de buscar operários na
cidade.
É claro que a realidade amazônica é muito diferente da África. No entanto, uma grande
energia de resistência para as comunidades poderia ser fruto de um diálogo de inserção
nas espiritualidades indígenas. Além da colaboração com a justiça e a Política que índios
e índias de diversas etnias têm vivido nos diversos campos do Direito, da Justiça na Terra
e na atividade política, a valorização das próprias espiritualidades indígenas é a intuição
fundamental de filmes documentários sobre a realidade dos índios Guarani Kaiowá do
Mato Grosso do Sul e é a contribuição do extraordinário livro do Xamã Yanomami Davi
Copenawa (A queda do céu) e do trabalho que, por todo o Brasil, índios como Kaká Veras
realiza para resgatar o sentido próprio das espiritualidades indígenas na construção de
uma nova sociedade.
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Ao falar em resistência e reconstrução da dignidade coletiva de povos, podemos voltar
ao livro "A queda do céu", do Xamã Yanomami Davi Kopenawa, escrito junto com o
antropólogo inglês Bruce Albert. Nesse livro, vemos justamente três momentos na vida
do narrador indígena: a visão cultural de criança na cosmologia antiga. Depois, na
juventude, certo afastamento dessa tradição e entrada na cultura ocidental. Uma
terceira etapa mais madura foi quando depois de ter conhecido bem a sociedade
dominante e ter mesmo tido ocasião de ir a Europa e Estados Unidos, ele decidiu voltar a
viver na aldeia e retomar a tradição espiritual antiga agora a partir de um novo olhar e
fazendo uma síntese nova.
Alguém contou que um pai de santo do Candomblé quis participar dos encontros e
reuniões da REPAM (Rede eclesial Pan-amazônica). E um bispo que coordenava a
reunião onde se discutiu o desejo do pai de santo decidiu: Quem quiser entrar na nossa,
venha.... Essa abertura já é boa e espiritual. No entanto é ainda ambígua porque pode
ser compreendida como inclusiva no sentido de que assume o outro se ele entrar na
nossa... , isso é, no nosso modo de ser, de pensar e agir. Essa postura precisa ainda ser
alargada espiritualmente. A espiritualidade da REPAM e desse novo modelo de missão
que o Sínodo pode suscitar deve ser buscar o que Deus nos revela através do pai de
santo. Não para deixarmos de ser cristãos, mas para sermos melhores cristãos como
Jesus quis, ele que, como diz o evangelho desses domingos, mandou e forçou os
discípulos a "passarem para o outro lado do lago", isso é, o lado dos pagãos, dos
estrangeiros, dos que tinham outra religião e outra cultura. Essa é a proposta do papa
Francisco quando fala em uma "Igreja em saída". A REPAM deve pertencer a essa Igreja
em saída e não compreender sua missão em uma perspectiva aberta e solidária, mas
sempre em uma visão de Igreja neocristandade, triunfante, autossuficiente e
autocentrada. Somente a partir do outro é que podemos ouvir e obedecer ao que "o
Espírito diz, hoje, às Igrejas" (Ap 2, 5).
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apontados pelo papa João XXIII para a renovação que o Concílio Vaticano II, em sua
época, deveria realizar: a volta às fontes e o que o papa chamou “aggiornamento” (trazer o
mistério celebrado e vivido para os dias de hoje).
É correto falar de ressurreição e vida onde o que impera é morte e destruição? Essa
questão teologal (de fé) e teológica (de expressão da fé) muitas vezes, foi colocada a
partir do holocausto judeu. Ao celebrar em meio à opressão dos filhos e filhas de Deus,
estamos louvando-o, ou o nosso louvor acaba sendo uma ofensa a Deus? Estamos
falando bem dele ou estamos ridicularizando sua Palavra e sua promessa de salvação?
4. 2 – O rito e o estilo
Rito não se improvisa e, realmente, não há como pensar agora em criar um rito próprio
amazonense. Nem seria o caso já que a própria realidade amazonense é múltipla e
teríamos de ter um rito para comunidades indígenas, outro para ribeirinhos, outro para
cidades, etc. Provavelmente, o que parece mais concreto e urgente é encontrarmos uma
forma amazonense – um estilo próprio – para celebrar o rito latino (romano), mas
precisamos ter, isso sim, liberdade para buscar, para pesquisar e como o próprio papa
tem insistido: coragem para criar.
Pelo momento, imaginamos uma Liturgia comum a todos, a partir da matriz latina, mas
com a flexibilidade de incorporar no rito elementos simbólicos e expressões próprias de
cada realidade regional ou local. Isso supõe uma cultura teológica suficientemente
aberta para compreender que o Espírito de Deus atua nas diversas culturas e nos fala
através delas.
Aqui ouso continuar essa reflexão, agora tomando como tema a sugestão e a proposta
de um rito litúrgico com elementos amazônicos.
2 – Celebrações com uma assembleia mais identificada com a tradição católica comum
mas desejosa de celebrar a fé de forma mais ligada à vida e às culturas concretas nas
quais a assembleia litúrgica está inserida (Pensemos por exemplo, em celebrações para
comunidades religiosas, grupos católicos e missionários na região amazônica).
Como na Amazônia valorizar como sacramento da unção dos doentes os tantos rituais
de cura e de energização que nos vêm das diversas tradições de tipo xamânico? Do
mesmo modo, é preciso ver se é possível valorizar os homens e mulheres de sabedoria e
que nas aldeias e malocas já exercem uma função de conselheiros e sábios. Na linha da
descentralização dos ministérios, seria possível lhes confiar o ministério da reconciliação
e da confirmação do perdão divino.
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4. 1 – acolhida afetuosa.
As realidades são muito diversas. O lecionário atual, em geral, bem pensado e bem
organizado, supõe frequência da missa dominical (no caso do Lecionário dominical) ou
diário (no caso do lecionário semanal).
Para a nossa realidade valeria a pena um lecionário mais simplificado que atendesse a
realidade das comunidades do interior que não conseguem se reunir todo domingo ou
que celebram uma vez única na semana (por exemplo, na quarta-feira à noite). Nesses
casos, seria mais proveitoso que a comunidade escolhesse entre os domingos do mês a
leitura que mais está ligada com a vida da comunidade e a mesma coisa para quem
celebra uma vez durante a semana. Ter a liberdade de escolher.
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Outra questão é se já houve uma escuta da Palavra na vida, há comunidades que
preferem mesmo no domingo ficar só com duas leituras e não três e aí escolher com
liberdade entre a primeira e a segunda, a que melhor se presta a aquela comunidade.
Não adianta o esforço de tornar mais verdadeira e mais inserida a celebração se este
esforço toca apenas no que se chama “a liturgia da Palavra”. É um escândalo contra a fé e
a espiritualidade o que ainda ocorre em algumas assembleias de romarias da terra e
celebrações da caminhada nas quais os bispos permitem criatividade e participação
comunitária na primeira parte da missa até chegar o momento de preparação das
oferendas. A partir dali, nada se pode mexer e o que se tem é o rito clerical e romano de
sempre e em um estilo fechado. A ceia de Jesus é o ato no qual ele se entregou a nós do
modo que o quarto evangelho expressa: “amou até o fim” (até onde o amor pode ir). É
triste ver a ceia do Senhor ser celebrada em meio à arrogância clerical de bispos e
padres que nesse momento excluem pastores e pastoras de outras Igrejas e recitam um
rito distante e em franca contradição com a festa que se viveu até que se comece o ato
propriamente eucarístico.
Esse resgate do costume das primeiras comunidades cristãs que celebravam a memória
de Jesus e de sua ceia em um ágape fraterno com mais estilo de confraternização e de
comunhão é bom. Mas, não substitui a responsabilidade da hierarquia da Igreja de
reaproximar a atual forma de celebrar a missa de um rito mais simples, mais fraterno e
mais ligado à sacramentalidade de uma refeição. Como dizem os primeiros textos do
Novo Testamento: a refeição do Senhor.
Já o Concílio Vaticano II pedia que se cuidasse mais da veracidade dos sinais litúrgicos:
que o pão seja pão e pão repartido e o vinho seja considerado elemento essencial da
eucaristia partilhado a todos e não somente para mostrar ao povo e o padre ou o clero
presente comungar.
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Essa veracidade dos sinais litúrgicos já faz uma grande diferença para a inserção da
liturgia na realidade da vida dos nossos povos.
Talvez alguém se pergunte porque dar tanto destaque à questão celebrativa. De fato,
todos sabem o quanto na realidade cultural de nossas comunidades, o culto e os ritos
são importantes. Precisamos acreditar que a espiritualidade original e suas expressões
podem ser instrumentos de reafirmação da identidade cultural das comunidades e
elementos de transformação social e mesmo política. Em um mundo no qual se
celebram fóruns sociais, caminhadas e manifestações de multidões nas praças, os ritos
de Igreja precisam voltar a ser expressivos e proféticos.
Na década de 90 em São Félix do Araguaia, um grupo de teatro fazia uma peça cujo título
era muito sugestivo: Segure o taxo que o fogo vem de baixo. É preciso ter claro isso: não
será um Sínodo em Roma que poderá transformar a realidade da Amazônia.
Isso que aqui está sendo proposto é um primeiro passo de um processo que se realizará
à medida que ocorrer o diálogo e a inserção com as culturas e a alma dos povos
amazônicos. Esse é um processo lento e dialético no qual, assim como Deus, assim como
cada um/uma de nós, também as nossas celebrações se revelam inseridas e mostram
com clareza de que lado estão. Aí sim se realizará de novo entre nós o que canta o
salmo: “Da boca dos pequeninos e mesmo dos recém-nascidos, tu procuras um louvor capaz
de reduzir ao silêncio os teus adversários e inimigos” (Salmo 8, 2).
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- Ver KOPENAWA, Davi e ALBERT, BRUCE, A queda do céu, , Palavras de um Xamã
Yanomami, São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 2015.
- Cf. KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce, A queda do céu, Palavras de um Xamã Yanomami,
São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 2015.
- Ver HERNANDEZ, Eleazar Lopez, Teologia india: antologia, Michigan, Ed. Verbo Divino,
2000. Ver também: IRRAZAVAL, Diego, Un Cristianismo Andino, Quito, Ed. Abya Yala,
1999. Também do mesmo autor: Reimplantação teológica da fé indígena, in TOMITA,
Luiza, VIGIL, José Maria e BARROS, Marcelo, (organizadores) Pelos muitos caminhos de
Deus, Goiás, Ed. Rede 2003, p. 87- 97.
Ver ainda no Brasil: RUFINO, Marcos Pereira. O código da cultura: o CIMI no debate da
́
inculturação. In: MONTERO, Paula (Org.). Deus na aldeia: missionários, indios e mediação
cultural. São Paulo: Globo, 2006. p. 235-75.
Cf. P.LEBAU, Etty Hillesum, un itinerario espiritual, Sal Terrae, Santander, 2000, p.
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