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Tendo como ponto de partida essa ideia de que a escrita de si constitui o corpo do
próprio sujeito, como coloca Foucault, assumo um olhar pós-estruturalista, de vertente
desconstrucionista, para, parafraseando o filósofo francês supracitado, tratar do meu
processo de “escritura do eu” no experimento “Me Ame Menos, mas Me Ame Por Mais
Tempo”. Opto pelo termo escritura, por este carregar consigo o sentido de movimento de
deixar rastros, marcas, imprimindo um traço outro ao pensamento, ao espaço, ao sujeito.
ESCRITURAS DO EU
O termo escritura utilizado pelo filósofo franco-argelino Jacques Derrida (1999),
está associado à operação desconstrucionista pela qual a ideia de texto deixa de se
relacionar unicamente a noção de extrato textual para ser entendido enquanto complexo
comunicativo que funciona como um sistema composto por elementos diversos como
sons, imagens, palavras, corpos, gráficos, objetos, sujeitos. Elementos que, estando
sempre em relação uns aos outros, funcionam pela lógica do rastro, ou seja, como
significantes integrados que prescindem de um significado único e estável.
Nesse sentido, a escritura do eu a que me refiro trata da constituição da minha
presença cênica, entendida enquanto corporeidade, ou como coloca Foucault, a passagem
J95m OLIVEIRA, Joevan. Me ame menos, mas me ame por mais tempo: autoperformação como
procedimento de subjetivação do ator. Monografia (Graduação) - UFPB/CCTA. Orientação: Marcia
CHIAMULERA. - João Pessoa, 2019. 87 f.
“da coisa vista ou ouvida em forças e sangue” e que constitui uma das partes no processo
do que estou chamando de autoperformação. Procedimento que, entendido enquanto
escritura do eu, ao invés de constituir uma identidade única e estável, marcada por um
sentido de origem que garanta um significado fixo de “eu”, seja em relação ao sujeito
Joevan, por exemplo, ou qualquer outro personagem que estivesse sendo construído,
assume a lógica do rastro sendo apenas um efeito de sentido, uma identificação. Isso
acontece porque, como coloca Derrida (1999), a identidade, assim como a escritura, é
temporária, contingente, vai assumindo significados quando em relação aos “outros”
porque é significante de significante e, portanto, sempre diferente.
Ao assumir o caráter de indeterminação do pensamento, o filósofo franco-argelino
propõe substituir o conceito tradicional de signo e sua inerente repartição entre
significado e significante pelo “quase-conceito” de rastro. Com esse objetivo, Derrida
(1999) retira o objeto (referencial externo) da relação de significação (significado e
significante) do signo.
REFERÊNCIAS