Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Abstract. Aside its origin localized on contratualism and Ilustration, is pacificly recognized by
doctrine the fact that personality rights and their legal protection have embryos, less or more
underdeveloped, in classical antiquity. This paper aims to outline, not without defining what are
personality rights, the mechanisms and legal institutes that, in Greece and Rome, served as protection
for the rights in discussion — the hybris and corresponding judicial action for citizens of Hellas, and
iniuria and actio iniuriarum for the roman people. It is the point to bring an pontual historical
understanding, pari passu between past and present, about the rights of personality and their legal
protection.
Keywords: Personality rights. History of law. Private law. Greek law. Roman law.
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharelando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás.
Estado, a que subjuga-se por meio do contrato social, bem como a formulação da dignidade
da pessoa humana2 conectam-se umbilicalmente à teorização dos direitos da personalidade
(MORATO, 2012, p. 128-130). Celso Lafer assinala que “embora utilizados com acepções
variadas, [esses conceitos] permitiram a elaboração de uma doutrina do Direito e do Estado a
partir da concepção individualista de sociedade e da história, que marca o aparecimento do
mundo moderno” (apud MORATO, 2012, p. 129).
À parte essa origem de fato, bastante bem delineada e alocada na história, e sem olvidar
de outros fatores importantes — como a filosofia cristã em seu legado estoico3 — no
estabelecimento do instituto jurídico em questão, é de pacífico reconhecimento doutrinário o
fato de que a tutela dos direitos da personalidade encontra embriões, menos ou mais
subdesenvolvidos, na antiguidade clássica.4 Dessa forma, a este artigo interessa recortar os
mecanismos e dispositivos pelos quais se dava, em Grécia e Roma, esses esboços de proteção
à personalidade, que séculos depois quedariam modernamente caracterizados como direitos da
personalidade.
Convém definir, então, o que sejam direitos da personalidade, antes de falarmos de seus
antepassados clássicos, à guisa de pertinente delineamento do tema; existem, porque de
complexa construção o assunto, diversos bons conceitos, aqui, contudo, busca-se a essência
de todos.
Elocubra Rubens Limongi França (apud MORATO, 2012, p. 124) que a categoria dos
direitos da personalidade envolve “as faculdades jurídicas cujo objeto são os diversos
aspectos da própria pessoa do sujeito, bem como seus prolongamentos e projeções”; e há, em
Silvio Rodrigues (2003, p. 61), a demarcação de que constituem-na os direitos “que são
inerentes à pessoa humana e, portanto, a ela ligados de maneira perpétua e permanente, não se
2
A noção moderna de dignidade da pessoa humana, um sustentáculo da teorização dos direitos da personalidade,
foi aperfeiçoada por Immanuel Kant nos idos de 1785, e a partir de então obteve diferentes reflexos na filosofia
do direito, como evidenciam Nascimento (2017, p. 269) e Szaniawski (2017).
3
Não é incorreto dizer que os traços estoicos do pensamento cristão e seu desenvolvimento desembocam em um
embrião do conceito de dignidade da pessoa humana (NASCIMENTO, 2017, p. 269).
4
“O ponto de partida para o estudo da tutela do direito geral de personalidade [...] exige a análise da proteção
dos direitos de personalidade da pessoa natural pelo decurso da história, desde a antiguidade grega e romana até
a modernidade, períodos em que não se conhecia a noção de dignidade da pessoa humana. A História do Direito
mostra que a tutela da personalidade humana surgiu e se desenvolveu independentemente da noção de dignidade
da pessoa humana [...]” (SZANIAWSKI, 2017).
podendo mesmo conceber um indivíduo que não tenha direito à vida, à liberdade física, ou
intelectual, ao seu nome, ao seu corpo, à sua imagem e àquilo que ele crê ser sua honra”.
Consoante o explanado, a doutrina destaca o fato de que o instituto jurídico dos direitos da
personalidade é moderno; no entanto, registra-se que a proteção, isto é, a tutela embrionária a
eles referente remonta à antiguidade clássica. Dava-se, no mundo antigo, por intermédio de
manifestações isoladas, não se conhecendo um sistema jurídico de tutela da personalidade,
bem explicita Elimar Szaniawski (2017).
Este prólogo feito, importante porque necessário para melhor compreensão do trabalho,
permite seu prosseguimento, o qual aponta para a Grécia antiga e seus resultados jurídicos e
filosóficos ou, tanto melhor, culturais.
[...] Some modern writers have assumed that hybris in the law and in forensic speeches means
something quite different from hybris in tragedy, but that is a great mistake. Not only is there no
evidence [...] but there is no intrinsic likelihood of such a division, and to expect one shows a serious
misunderstanding of the character of Athenian law. Athenian law was not drafted by professional
lawyers using terminology wich only they understood; it was made by the citizens of Athens in their
own language for their own use, and an Athenian finding the verb hybrizein in law would take it to
mean just what it normally meant [...] (1976, p. 24).6
5
Ao modo de verbete no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, projeto da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e do Centre For English, Translation And
Anglo-portuguese Studies (CETAPS), disponível em: http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/hybris e acessado em
janeiro de 2019.
6
“Alguns autores modernos assumiram que a hybris no direito e nos discursos forenses significa algo um tanto
diferente da hybris na tragédia, mas é um grande engano. Não apenas não há evidência [...] como não há
probabilidade intrínseca dessa divisão, e ao expectador demonstra um sério desconhecimento do direito de
Atenas. O direito de Atenas não era feito por juristas profissionais usando termos que apenas eles entendiam; era
feito pelos cidadãos de Atenas em sua própria língua para seu próprio uso, e um ateniense que encontrasse o
verbo hybrizein na lei o compreenderia com seu significado usual [...]”, tradução nossa.
Importa alocar o momento histórico de que falamos no período clássico do Estado grego,
ou seja, entre os séculos VI ao IV a. C. e daí adiante, onde a preocupação deslocou-se da
figura do indivíduo frente ao grupo social para a figura da pessoa em si, como mostra Cibele
Stefani Borghetti. Dessa maneira, torna-se “o respeito à figura universal [da pessoa] um fundo
comum aos diferentes ordenamentos vigentes em cada cidade-Estado grega, os quais passam a
imputar àquela, em nível abstrato, personalidade e capacidade jurídicas”; e também convém
dizer que, na Hélade, o reconhecimento da personalidade era restrito aos cidadãos — isto é,
homens livres e chefes de família que possuíam acesso às assembleias das poleis, situação em
que excluem-se mulheres, estrangeiros, menores de idade e escravos (BORGHETTI, 2006, p.
21).
Para os cidadãos atenienses, a hybris (bem como sua respectiva ação judicial) era uma
categoria jurídica específica para coibir atos de injúria; representava uma cláusula geral de
proteção à personalidade e, dessa maneira, consistia num direito único dela, concebido à luz
de pré-conceito tripartite: assegurava a defesa contra injustiças, atos excessivos de uma pessoa
contra outra e atos de insolência em face da pessoa humana (SZANIAWSKI apud
BORGHETTI, 2006, p. 21 e 22).
A ação judicial correspondente à hybris, a princípio, era de caráter penal, e tinha como
objeto “a punição de ultrajes ou sevícias sobre a pessoa de um cidadão, mas com o decurso do
tempo, se vai complementando com o sancionamento de outros tipos legais ilícitos de ofensa
à personalidade”, a exemplo de ações públicas ou privadas por difamações, lesões corporais,
estupro ou uso proibido da força sobre coisa alheia (apud BORGHETTI, 2006, p. 22).
[...] Essa inovadora visão do homem como infivíduo e ser social “[...] consolidou a proteção jurídica da
personalidade humana, reconhecendo a existência de um único e geral direito de personalidade em
cada ser humano, firmando-se, desta maneira, a noção de uma cláusula geral protetora da
personalidade em cada indivíduo, representada pela hybris (υβσιζ).” [...] No pensamento grego clássico
e pós-clássico o homem passou a ser tido como a origem e a finalidade da lei e do direito, quer
estadual, quer universal, concebendo-se o ser humano como “o destinatário primeiro e final da ordem
jurídica” (BORGHETTI, 2006, p. 22-23).
Afinal, McDowell (1976, p. 30) faz boas observações, a título de elucidação, sobre a
hybris (além daquela já exposta, relativa à correspondência de significados entre literatura,
cotidiano e direito — à parte o importante fato de que, em termos jurídicos, a hybris
pressupõe uma vítima humana), dentre as quais aponta: “hybris has various causes and
various manifestations, but fundamentally it is having energy or power and misusing it
self-indulgently.”7
Comenta Szaniawski (2017), ainda, que as aixias (διχη αιχιαζ) também representavam
categoria jurídica de proteção contra sevícias e injúria na Grécia antiga, à maneira da hybris.
Donde não restam dúvidas acerca do legado jurídico e filosófico grego para o pensamento
hodierno no que se refere aos direitos da personalidade e sua proteção; a seguir, elocubra-se
sobre a carga construtiva, por sua vez, de Roma clássica, e observa-se que mais coeso se
mostrou o direito romano nessa seara.
No direito romano a personalidade jurídica do homem dependia de requisitos físicos (nascimento com
vida, separação do ventre materno e forma humana) e da existência de três estados: de liberdade (status
libertatis), cidadania (status civitatis) e de família (status familiae). Significa isso dizer que o
reconhecimento da personalidade, com os direitos da plena capacidade jurídica, exigia que o indivíduo
fosse livre (não escravo), cidadão (não estrangeiro) e sui iuris ou chefe de família [...] (apud
BORGHETTI, 2006, p. 27).
7
“A hybris possui diversas causas e diversas manifertações, mas fundamentalmente consiste em ter energia e
poder e deles fazer uso indevido e auto-indulgente”, tradução nossa.
O dispositivo que nos importa, no direito de então, é o que consagra o crime de iniuria;
em acepção estrita, o termo latino caracteriza figura particular de delito, aquele que ocorre
quando há ofensa à vida ou à integridade física. A iniuria implicava na actio iniuriarum, ação
judicial correspondente, e ambas foram, durante o tempo, objeto de evolução, a ponto de
configurarem mesmo um direito geral de personalidade na Roma antiga. José Carlos Moreira
Alves, acerca do estágio primeiro da iniuria e sua função no ordenamento jurídico de Roma:
Já a Lei das XII Tábuas – segundo informação de Gaio e de Paulo – punia o delito de iniuria com as
seguintes penas: a) de composição legal (isto é, penas pecuniárias impostas pela lei ao autor da iniuria)
[...]; b) de talião (ou seja, a faculdade de a vítima produzir no ofensor a mesma lesão que este fez: olho
por olho, dente por dente), na hipótese de membrum ruptum; a pena de talião, porém, podia ser
afastada se a vítima concordasse (composição voluntária) em receber do ofensor uma indenização
(2018, p. 632).
Assim, no direito romano clássico, “qualquer ser humano era, para aquele povo, [...], considerado
persona e caput”; enquanto persona designava o ser humano em si, fosse livre ou escravo, caput era
designação que outorgava às pessoas níveis distintos na aptidão a titularizar direitos, numa diferença
pretensamente mais quantitativa que qualificativa. Essa evolução direcionada a um reconhecimento
jurídico da pessoa em nível pretensamente mais igualitário, portanto, estendido aos indivíduos
romanos em geral, permitiu ao direito romano clássico construir e reconstruir categorias e instrumentos
que, mais tarde, serviriam de base à estruturação, no Direito, da noção geral e abstrata de pessoa e da
própria noção de capacidade jurídica (BORGHETTI, 2006, p. 28).
8
“O direito pretoriano é aquele que os pretores introduziram auxiliando, ora complementando, ora corrigindo, o
direito civil, a propósito de utilidade pública” (PAPINIANO apud COELHO, 2009, p. 145), tradução nossa.
9
À maneira do Encyclopedic Dictionary of Roman Law de Adolf Berger, p. 571, 1991, “o chefe do órgão de
chancelaria do Império, encarregado das petições”, tradução nossa.
desenvolvimento jurisprudencial, que se deu através dos éditos publicados pelos pretores,
magistrados romanos, os quais possuíam diretrizes gerais para a interpretação de certas leis
(BORGHETTI, 2006, p. 28).
No direito clássico, o pretor, com o auxílio da jurisprudência, atua, com relação ao delito de iniuria,
em dois sentidos: 1 – amplia o conceito desse delito, fazendo-o abranger não só as lesões corporais,
mas também as ofensas à honra alheia (inclusive o insulto, e a atuação de alguém para provocar que
outrem seja declarado infamis, ou para fazê-lo cometer atos contrários aos bons costumes); e 2 – cria a
actio iniuriarum, que visa a fazer condenar o autor da iniuria em quantia a ser avaliada pelo juiz
popular, conforme a maior ou menor gravidade do delito (trata-se, portanto, de actio iniuriarum
aestimatoria, que é pretoriana e in bonum et aequum concepta – vide nº 131, C); demais, é ação
infamante e intransmissível ativa e passivamente (ALVES, 2018, p. 633).
Vê-se a formatação, pois, da iniuria enquanto uma cláusula geral, à época, de proteção aos
direitos da personalidade. Outras leis romanas, como a Lex Aquilia e a Lex Cornelia, também
insinuavam-se nesse meandro, esta normatizando a violação ao domicílio e aquela as lesões
aos escravos e injúrias praticadas por agressões físicas, isto é, por essa altura caminhando na
esteira de uma tutela da dos direitos da personalidade (SZANIAWSKI, 2017). Ao que
notamos, diante do exposto no périplo deste item, a que ponto foi a tutela da personalidade na
Roma antiga.
4 CONCLUSÃO
5 REFERÊNCIAS
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano: 18. ed. revista. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2018.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. Ed. Saraiva, São Paulo, 2003.