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A PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA:

A HYBRIS GREGA E A INIURIA ROMANA

Paulo Manoel Ramos Pereira1

Resumo. À parte origem alocada no contratualismo e na Ilustração, é de pacífico reconhecimento


doutrinário o fato de possuírem, os direitos da personalidade e sua tutela, embriões menos ou mais
subdesenvolvidos na antiguidade clássica. A este artigo interessa, não sem antes conceituar o que
sejam direitos da personalidade, esboçar recorte acerca dos mecanismos e institutos jurídicos que, em
Grécia e Roma, faziam as vezes de proteção aos direitos em questão — a hybris e ação judicial
correspondente para os cidadãos da Hélade, e a iniuria e a actio iniuriarum para os romanos. Convém
restar, do périplo a que se propõe o estudo, pontual entendimento histórico pari passu,
presente-passado, acerca dos direitos da personalidade e sua tutela.

Palavras-chave: Direitos da personalidade. História do direito. Direito Privado. Direito grego.


Direito romano.

Abstract. Aside its origin localized on contratualism and Ilustration, is pacificly recognized by
doctrine the fact that personality rights and their legal protection have embryos, less or more
underdeveloped, in classical antiquity. This paper aims to outline, not without defining what are
personality rights, the mechanisms and legal institutes that, in Greece and Rome, served as protection
for the rights in discussion — the hybris and corresponding judicial action for citizens of Hellas, and
iniuria and actio iniuriarum for the roman people. It is the point to bring an pontual historical
understanding, pari passu between past and present, about the rights of personality and their legal
protection.

Keywords: Personality rights. History of law. Private law. Greek law. Roman law.

1 INTRODUÇÃO

A consagração dos direitos da personalidade assinala a ruptura, no âmbito do direito


privado, de um paradigma caracterizado por relações estritamente negociais, em que havia o
predomínio de um ponto de vista mecanicista dos seres humanos; à maneira de Antonio
Carlos Morato — “[a importância dos direitos da personalidade está na primazia] que confere
à pessoa humana, antes esquecida pela hipertrofia do estudo da empresa e do Estado,
possibilitando que a solidariedade e a dignidade humana estejam no centro de todo o
ordenamento jurídico” (MORATO, 2012, p. 122 e 128).

Muito agradece, a consagração a que referimo-nos, ao pensamento que principiou com as


correntes filosóficas contratualistas e atingiu seu apogeu na época da Ilustração, isto é, esteve
efervescente durante os séculos XVII e XVIII. Vindas à luz pungentemente nesse momento
histórico, as ideias de que o ser humano é portador de direitos inatos e opresso em relação ao

1
Bacharelando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás.
Estado, a que subjuga-se por meio do contrato social, bem como a formulação da dignidade
da pessoa humana2 conectam-se umbilicalmente à teorização dos direitos da personalidade
(MORATO, 2012, p. 128-130). Celso Lafer assinala que “embora utilizados com acepções
variadas, [esses conceitos] permitiram a elaboração de uma doutrina do Direito e do Estado a
partir da concepção individualista de sociedade e da história, que marca o aparecimento do
mundo moderno” (apud MORATO, 2012, p. 129).

À parte essa origem de fato, bastante bem delineada e alocada na história, e sem olvidar
de outros fatores importantes — como a filosofia cristã em seu legado estoico3 — no
estabelecimento do instituto jurídico em questão, é de pacífico reconhecimento doutrinário o
fato de que a tutela dos direitos da personalidade encontra embriões, menos ou mais
subdesenvolvidos, na antiguidade clássica.4 Dessa forma, a este artigo interessa recortar os
mecanismos e dispositivos pelos quais se dava, em Grécia e Roma, esses esboços de proteção
à personalidade, que séculos depois quedariam modernamente caracterizados como direitos da
personalidade.

2 UM CONCEITO PARA DIREITOS DA PERSONALIDADE

Convém definir, então, o que sejam direitos da personalidade, antes de falarmos de seus
antepassados clássicos, à guisa de pertinente delineamento do tema; existem, porque de
complexa construção o assunto, diversos bons conceitos, aqui, contudo, busca-se a essência
de todos.

Elocubra Rubens Limongi França (apud MORATO, 2012, p. 124) que a categoria dos
direitos da personalidade envolve “as faculdades jurídicas cujo objeto são os diversos
aspectos da própria pessoa do sujeito, bem como seus prolongamentos e projeções”; e há, em
Silvio Rodrigues (2003, p. 61), a demarcação de que constituem-na os direitos “que são
inerentes à pessoa humana e, portanto, a ela ligados de maneira perpétua e permanente, não se

2
A noção moderna de dignidade da pessoa humana, um sustentáculo da teorização dos direitos da personalidade,
foi aperfeiçoada por Immanuel Kant nos idos de 1785, e a partir de então obteve diferentes reflexos na filosofia
do direito, como evidenciam Nascimento (2017, p. 269) e Szaniawski (2017).
3
Não é incorreto dizer que os traços estoicos do pensamento cristão e seu desenvolvimento desembocam em um
embrião do conceito de dignidade da pessoa humana (NASCIMENTO, 2017, p. 269).
4
“O ponto de partida para o estudo da tutela do direito geral de personalidade [...] exige a análise da proteção
dos direitos de personalidade da pessoa natural pelo decurso da história, desde a antiguidade grega e romana até
a modernidade, períodos em que não se conhecia a noção de dignidade da pessoa humana. A História do Direito
mostra que a tutela da personalidade humana surgiu e se desenvolveu independentemente da noção de dignidade
da pessoa humana [...]” (SZANIAWSKI, 2017).
podendo mesmo conceber um indivíduo que não tenha direito à vida, à liberdade física, ou
intelectual, ao seu nome, ao seu corpo, à sua imagem e àquilo que ele crê ser sua honra”.

Assinala outras importantes características dos direitos da personalidade Luiz Roldão de


Freitas Gomes:

Consideram-se absolutos, extrapatrimoniais, intransmissíveis, imprescritíveis, impenhoráveis,


vitalícios e necessários, subdividindo-se em direitos à integridade física e à moral. Compreendem os
primeiros o direito à vida, sobre o próprio corpo e ao cadáver. De acordo com Perreau, um dos
primeiros juristas que os estudaram (“Des Droits de la Personnalité”, Revue Trimestrielle de Droit
Civil, 1909, p. 514), “les deux caractères principaux des droits de la personnalité sont d’être
opposables erga omnes et innestimables en argent”. Desta última característica decorre não poderem
ser cedidos, sua imprescritibilidade, a impossibilidade de serem transmitidos por sucessão e a
não-aplicação dos meios comuns de representação de terceiros. Reconhece, porém, que “des besoins
sociaux ont conduit les juges à limiter dans une plus ou moins large mesure toutes les conséquences”,
o que, de certo modo, se tem verificado mesmo no tocante ao caráter de serem extrapatrimoniais [...]
(2002, p. 14).

Destarte, carregando em mente as linhas gerais de um conceito de direitos da


personalidade, adentramos o estudo de suas modalidades e tutela ancestrais presentes na
antiguidade clássica, onde notam-se evidentes seus reflexos correspondentes no direito hoje
desenvolto.

3 A PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NA ANTIGUIDADE


CLÁSSICA

Consoante o explanado, a doutrina destaca o fato de que o instituto jurídico dos direitos da
personalidade é moderno; no entanto, registra-se que a proteção, isto é, a tutela embrionária a
eles referente remonta à antiguidade clássica. Dava-se, no mundo antigo, por intermédio de
manifestações isoladas, não se conhecendo um sistema jurídico de tutela da personalidade,
bem explicita Elimar Szaniawski (2017).

Assevera-se o fato de que, ainda que inegavelmente caminhassem na esteira desses


institutos jurídicos, o que ocorria em Grécia e Roma era diverso do que observa-se hoje no
estudo do direito. Como destaca Valéria Ribas do Nascimento (2017, p. 269), a pessoa não era
protegida numa perspectiva integrada, nem havia uma categoria que pudesse ser relacionada à
atual noção de personalidade; a ideia de tutela era feita num quadro por demais diverso.
No entanto, reconhece-se a importância deste estudo em seus motivos históricos e
atinentes à evolução, ressignificação, comparação e compasso referentes à situação do direito
durante os séculos, onde crê-se habitar a capacidade seja de melhorar o que está posto, seja de
compreender o que de novidade é possível engendrar.

Este prólogo feito, importante porque necessário para melhor compreensão do trabalho,
permite seu prosseguimento, o qual aponta para a Grécia antiga e seus resultados jurídicos e
filosóficos ou, tanto melhor, culturais.

3.1 GRÉCIA: A HYBRIS

Na Grécia antiga, pois, e especificamente em Atenas, porque cada cidade-Estado da


Hélade desenvolveu-se, social e culturalmente (inclui-se, então, juridicamente) de uma
maneira particular, é correto dizer que a tutela aos direitos da personalidade era exercida
mediante a hybris — υβσιζ — (SZANIAWSKI, 2017); termo que, a propósito etimológico,
conduz a uma raiz indo-europeia (força exagerada, peso excessivo) e significa aquilo que
ultrapassa a medida humana, isto é, diz respeito ao descomedimento, à desmesura e à
violência.5 Estas linhas gerais são extraídas do conceito literário e cotidiano do termo, o qual
condiz com o sentido jurídico, como mostra Douglas M. McDowell, ao que delineia, também,
algumas importantes características do direito ateniense:

[...] Some modern writers have assumed that hybris in the law and in forensic speeches means
something quite different from hybris in tragedy, but that is a great mistake. Not only is there no
evidence [...] but there is no intrinsic likelihood of such a division, and to expect one shows a serious
misunderstanding of the character of Athenian law. Athenian law was not drafted by professional
lawyers using terminology wich only they understood; it was made by the citizens of Athens in their
own language for their own use, and an Athenian finding the verb hybrizein in law would take it to
mean just what it normally meant [...] (1976, p. 24).6

5
Ao modo de verbete no E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, projeto da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e do Centre For English, Translation And
Anglo-portuguese Studies (CETAPS), disponível em: http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/hybris e acessado em
janeiro de 2019.
6
“Alguns autores modernos assumiram que a hybris no direito e nos discursos forenses significa algo um tanto
diferente da hybris na tragédia, mas é um grande engano. Não apenas não há evidência [...] como não há
probabilidade intrínseca dessa divisão, e ao expectador demonstra um sério desconhecimento do direito de
Atenas. O direito de Atenas não era feito por juristas profissionais usando termos que apenas eles entendiam; era
feito pelos cidadãos de Atenas em sua própria língua para seu próprio uso, e um ateniense que encontrasse o
verbo hybrizein na lei o compreenderia com seu significado usual [...]”, tradução nossa.
Importa alocar o momento histórico de que falamos no período clássico do Estado grego,
ou seja, entre os séculos VI ao IV a. C. e daí adiante, onde a preocupação deslocou-se da
figura do indivíduo frente ao grupo social para a figura da pessoa em si, como mostra Cibele
Stefani Borghetti. Dessa maneira, torna-se “o respeito à figura universal [da pessoa] um fundo
comum aos diferentes ordenamentos vigentes em cada cidade-Estado grega, os quais passam a
imputar àquela, em nível abstrato, personalidade e capacidade jurídicas”; e também convém
dizer que, na Hélade, o reconhecimento da personalidade era restrito aos cidadãos — isto é,
homens livres e chefes de família que possuíam acesso às assembleias das poleis, situação em
que excluem-se mulheres, estrangeiros, menores de idade e escravos (BORGHETTI, 2006, p.
21).

Para os cidadãos atenienses, a hybris (bem como sua respectiva ação judicial) era uma
categoria jurídica específica para coibir atos de injúria; representava uma cláusula geral de
proteção à personalidade e, dessa maneira, consistia num direito único dela, concebido à luz
de pré-conceito tripartite: assegurava a defesa contra injustiças, atos excessivos de uma pessoa
contra outra e atos de insolência em face da pessoa humana (SZANIAWSKI apud
BORGHETTI, 2006, p. 21 e 22).

A ação judicial correspondente à hybris, a princípio, era de caráter penal, e tinha como
objeto “a punição de ultrajes ou sevícias sobre a pessoa de um cidadão, mas com o decurso do
tempo, se vai complementando com o sancionamento de outros tipos legais ilícitos de ofensa
à personalidade”, a exemplo de ações públicas ou privadas por difamações, lesões corporais,
estupro ou uso proibido da força sobre coisa alheia (apud BORGHETTI, 2006, p. 22).

Esse aspecto do direito grego construiu-se pungentemente a partir da afirmativa da


capacidade reflexiva do homem sobre si, isto é, da atividade filosófica, onde outorga-se
igualdade entre as pessoas e se credita aos homens, e não aos deuses, a criação da lei
(BORGHETTI, 2006, p. 22); nesse contexto, observa-se que a hybris representa síntese
cultural, em termos e linhas bastante gerais, da Grécia de antanho.

[...] Essa inovadora visão do homem como infivíduo e ser social “[...] consolidou a proteção jurídica da
personalidade humana, reconhecendo a existência de um único e geral direito de personalidade em
cada ser humano, firmando-se, desta maneira, a noção de uma cláusula geral protetora da
personalidade em cada indivíduo, representada pela hybris (υβσιζ).” [...] No pensamento grego clássico
e pós-clássico o homem passou a ser tido como a origem e a finalidade da lei e do direito, quer
estadual, quer universal, concebendo-se o ser humano como “o destinatário primeiro e final da ordem
jurídica” (BORGHETTI, 2006, p. 22-23).

Afinal, McDowell (1976, p. 30) faz boas observações, a título de elucidação, sobre a
hybris (além daquela já exposta, relativa à correspondência de significados entre literatura,
cotidiano e direito — à parte o importante fato de que, em termos jurídicos, a hybris
pressupõe uma vítima humana), dentre as quais aponta: “hybris has various causes and
various manifestations, but fundamentally it is having energy or power and misusing it
self-indulgently.”7

Comenta Szaniawski (2017), ainda, que as aixias (διχη αιχιαζ) também representavam
categoria jurídica de proteção contra sevícias e injúria na Grécia antiga, à maneira da hybris.
Donde não restam dúvidas acerca do legado jurídico e filosófico grego para o pensamento
hodierno no que se refere aos direitos da personalidade e sua proteção; a seguir, elocubra-se
sobre a carga construtiva, por sua vez, de Roma clássica, e observa-se que mais coeso se
mostrou o direito romano nessa seara.

3.2 ROMA: A INIURIA E A ACTIO INIURIARUM

Em Roma, é possível averiguar profundidade ímpar no trato da proteção aos direitos da


personalidade, porque tão desenvolvido o direito romano. Não cabe olvidar, assim como no
estudo do direito grego, o fato de que, a princípio com maior pungência, na cultura jurídica
romana também atrelava-se o conceito de personalidade a características sociais bem
definidas do homem romano, quais sejam: status libertatis, status civitatis e status familiae.
Nas palavras de Francisco Amaral:

No direito romano a personalidade jurídica do homem dependia de requisitos físicos (nascimento com
vida, separação do ventre materno e forma humana) e da existência de três estados: de liberdade (status
libertatis), cidadania (status civitatis) e de família (status familiae). Significa isso dizer que o
reconhecimento da personalidade, com os direitos da plena capacidade jurídica, exigia que o indivíduo
fosse livre (não escravo), cidadão (não estrangeiro) e sui iuris ou chefe de família [...] (apud
BORGHETTI, 2006, p. 27).

7
“A hybris possui diversas causas e diversas manifertações, mas fundamentalmente consiste em ter energia e
poder e deles fazer uso indevido e auto-indulgente”, tradução nossa.
O dispositivo que nos importa, no direito de então, é o que consagra o crime de iniuria;
em acepção estrita, o termo latino caracteriza figura particular de delito, aquele que ocorre
quando há ofensa à vida ou à integridade física. A iniuria implicava na actio iniuriarum, ação
judicial correspondente, e ambas foram, durante o tempo, objeto de evolução, a ponto de
configurarem mesmo um direito geral de personalidade na Roma antiga. José Carlos Moreira
Alves, acerca do estágio primeiro da iniuria e sua função no ordenamento jurídico de Roma:

Já a Lei das XII Tábuas – segundo informação de Gaio e de Paulo – punia o delito de iniuria com as
seguintes penas: a) de composição legal (isto é, penas pecuniárias impostas pela lei ao autor da iniuria)
[...]; b) de talião (ou seja, a faculdade de a vítima produzir no ofensor a mesma lesão que este fez: olho
por olho, dente por dente), na hipótese de membrum ruptum; a pena de talião, porém, podia ser
afastada se a vítima concordasse (composição voluntária) em receber do ofensor uma indenização
(2018, p. 632).

Entretanto, durante o Império e o período clássico, Roma foi culturalmente redefinida em


face de transformações socioeconômicas, políticas e culturais importantes, de modo que à
figura do cidadão sobrepõe-se a do indivíduo perante o Estado — o imperador Caracala (188 -
217 d. C.) chega mesmo a outorgar o status civitatis a todos os habitantes do império (à
exceção dos escravos e peregrinos deditícios). Em dado momento, inclusive ao escravo
passou-se a reconhecer efetivamente a condição de pessoa, ainda que dotada de direitos
extremamente limitados (BORGHETTI, 2006, p. 27 e 28).

Assim, no direito romano clássico, “qualquer ser humano era, para aquele povo, [...], considerado
persona e caput”; enquanto persona designava o ser humano em si, fosse livre ou escravo, caput era
designação que outorgava às pessoas níveis distintos na aptidão a titularizar direitos, numa diferença
pretensamente mais quantitativa que qualificativa. Essa evolução direcionada a um reconhecimento
jurídico da pessoa em nível pretensamente mais igualitário, portanto, estendido aos indivíduos
romanos em geral, permitiu ao direito romano clássico construir e reconstruir categorias e instrumentos
que, mais tarde, serviriam de base à estruturação, no Direito, da noção geral e abstrata de pessoa e da
própria noção de capacidade jurídica (BORGHETTI, 2006, p. 28).

Convém destacar, também — é neste ponto histórico em que o direito romano é


caracterizado pelo ius praetorium (“ius preatorium este quod praetores introduxerumt
adjuvande, vel supplendi, vel corrigendi iuris civilis gratia, propter utilitatem publicam”8,
como quis o jurista e magister libellorum9 romano Papiniano), marcado pelo

8
“O direito pretoriano é aquele que os pretores introduziram auxiliando, ora complementando, ora corrigindo, o
direito civil, a propósito de utilidade pública” (PAPINIANO apud COELHO, 2009, p. 145), tradução nossa.
9
À maneira do Encyclopedic Dictionary of Roman Law de Adolf Berger, p. 571, 1991, “o chefe do órgão de
chancelaria do Império, encarregado das petições”, tradução nossa.
desenvolvimento jurisprudencial, que se deu através dos éditos publicados pelos pretores,
magistrados romanos, os quais possuíam diretrizes gerais para a interpretação de certas leis
(BORGHETTI, 2006, p. 28).

Resulta desse conjunto de fatores a ampliação do instituto jurídico da iniuria e da actio


iniuriarum, de modo a abarcar ofensas à honra alheia, à liberdade e proteger melhor a vítima
da iniuria. Senão, vejamos:

No direito clássico, o pretor, com o auxílio da jurisprudência, atua, com relação ao delito de iniuria,
em dois sentidos: 1 – amplia o conceito desse delito, fazendo-o abranger não só as lesões corporais,
mas também as ofensas à honra alheia (inclusive o insulto, e a atuação de alguém para provocar que
outrem seja declarado infamis, ou para fazê-lo cometer atos contrários aos bons costumes); e 2 – cria a
actio iniuriarum, que visa a fazer condenar o autor da iniuria em quantia a ser avaliada pelo juiz
popular, conforme a maior ou menor gravidade do delito (trata-se, portanto, de actio iniuriarum
aestimatoria, que é pretoriana e in bonum et aequum concepta – vide nº 131, C); demais, é ação
infamante e intransmissível ativa e passivamente (ALVES, 2018, p. 633).

Vê-se a formatação, pois, da iniuria enquanto uma cláusula geral, à época, de proteção aos
direitos da personalidade. Outras leis romanas, como a Lex Aquilia e a Lex Cornelia, também
insinuavam-se nesse meandro, esta normatizando a violação ao domicílio e aquela as lesões
aos escravos e injúrias praticadas por agressões físicas, isto é, por essa altura caminhando na
esteira de uma tutela da dos direitos da personalidade (SZANIAWSKI, 2017). Ao que
notamos, diante do exposto no périplo deste item, a que ponto foi a tutela da personalidade na
Roma antiga.

4 CONCLUSÃO

Encontra-se sobremaneira evidente (em seus termos gerais, frise-se), porquanto


realizamos a caminhada a que se propôs este estudo, a situação da tutela dos direitos da
personalidade na antiguidade clássica, ao que apontamos, à luz de breve síntese, os méritos e
pertinência destas linhas.

Para o entendimento histórico pari passu, ou seja, presente-passado, assinala-se o conceito


atual dos direitos em questão, em que surpreende-se sua essência: compõem-nos aqueles sine
qua non à compreensão hodierna de pessoa — dizem respeito à integridade moral e física, à
honra, ao nome, ao corpo, entre outros aspectos.
Resta delineado o alcance e a importância da hybris na Grécia antiga, onde fazia as vezes
de uma cláusula geral de proteção aos direitos da personalidade; por ela conduzimos o estudo
da questão na Hélade sobretudo ateniense, não sem olvidar os quesitos que conduziam à
noção de personalidade no espaço e no tempo destacados, além de demais detalhes e
especificidades do direito grego.

A braços com a explanação anterior, confere-se a situação romana, onde se estampa a


profundidade a que chegou a noção de personalidade e seus direitos, muito em função da ideia
de iniuria e da actio iniuriarum, fundamentos jurídicos de então bastante aperfeiçoados no
período clássico, em razão da reorganização política e cultural de Roma e da atuação dos
pretores, no que chamou-se de ius praetorium.

Como exposto, a importância deste estudo reside na compreensão histórica do périplo ou


cruzada a que conduzem (e cumpriram) os direitos da personalidade, mais especificamente no
recorte da antiguidade clássica, onde vê-se rastros do que está consagrado hoje no direito
hodierno. Daí a ressignificação e, por consequência, evolução da ciência jurídica a que nos
propomos a entender em seus detalhes, para bem notar a capacidade seja de melhorar o que
está posto, seja de compreender o que de novidade é possível engendrar.

5 REFERÊNCIAS

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano: 18. ed. revista. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2018.

BORGHETTI, Cibele Stefani. Pessoa e perrsonalidade humanas: uma reflexão


histórico-dogmática do seu reconhecimento e proteção jurídicos, na perspectiva da
teoria da relação jurídica e das teorias dos direitos da personalidade. Dissertação
(Mestrado em Direito) - Universidade Federal do Paraná, 2006.

COELHO, Saulo de Oliveira Pinto. Introdução ao Direito Romano: constituição,


categorização e concreção do Direito em Roma. Belo Horizonte: Editora Atualizar, 2009.

GOMES, Luiz Roldão de F. Os Direitos da Personalidade e o Novo Código Civil:


Questões Suscitadas. Revista da EMERJ, v. 5 n. 19, p. 13-22, 2002.

MACDOWELL, Douglas M. “Hybris” in Athens. Greece & Rome, v. 23, n. 1, p. 14–31.


Disponível em: www.jstor.org/stable/642912, 1976.
MORATO, A. C. Quadro geral dos direitos da personalidade. Revista Da Faculdade De
Direito, Universidade De São Paulo, 106 (106-107), 121-158. Recuperado de
http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67941, 2012.

NASCIMENTO, Valéria Ribas do. Direitos fundamentais da personalidade na era da


sociedade da informação: transversalidade da tutela à privacidade. Revista de
informação legislativa: RIL, v. 54, n. 213, p. 265-288. Disponível em:
http://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/54/213/ril_v54_n213_p265, 2017.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. Ed. Saraiva, São Paulo, 2003.

SZANIAWSKI, Elimar. Pessoa jurídica e direitos da personalidade (parte 1). ConJur.


Disponível em: www.conjur.com.br/2017-jul-10/pessoa-juridica-direitos-personalidade-parte,
2017.

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