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HONNETH, A.

Sofrimento de Indeterminação: uma reatualização da Filosofia do


Direito de Hegel. São Paulo: Editora Singular/Esfera Pública, 2007.

Embora o pensamento hegeliano tenha ressurgido no contexto do debate


filosófico, a mesma ênfase não recaiu sobre o tema da filosofia do direito, seja por
questões políticas ou ontológicas (HONNETH, 2001/2007). De qualquer forma, é através
deste tema que o conceito da eticidade é mais profundamente abordado por Hegel, ainda
que quase duas décadas depois da discussão introduzidas pelos escritos de Jena, na
“Filosofia do direito” (1820). A obra de Hegel pode nos apresentar pressupostos
importantes para compreensão da sociedade moderna, como um quadro institucional
consistente para os princípios abstratos de direito e moral, pois ratifica a crítica a uma
concepção atomista de direito, bem como a defesa de padrões intersubjetivos de
autorrealização individual e liberdade comunicativa na constituição dos padrões de
hábitos e costumes de uma comunidade. A eticidade aparece, então, como uma “cultura
de liberdade comunicativa” (p. 54). Seguindo uma crítica indireta, fundamentada em uma
teoria da ação, Honneth desenvolve uma reconstituição do propósito e da estrutura básica
da “Filosofia do direito” (1820) pela desconsideração do conceito substancialista de
Estado e das instruções operativas da “Lógica”, remontando, portanto, à “Eticidade”
(1803/4) em sua relação com a teoria do reconhecimento:

o objetivo deste modo de proceder ‘indireto’ deve ser demonstrar a atualidade


da ‘Filosofia do Direito’ hegeliana ao indicar que esta, como projeto de uma
teoria normativa, tem de ser concebida em relação àquelas esferas de
reconhecimento recíproco cuja manutenção é constitutiva para a identidade
moral de sociedades modernas (p. 51).

Nesta reatualização, o conceito de eticidade é destacado, porque “na realidade


social, encontram-se dispostas esferas de ação nas quais inclinações e normas morais,
interesses e valores já se misturaram anteriormente em formas de interações
institucionalizadas” (p. 52). Os costumes e hábitos se relacionam com a concepção de
instituição ampliada. Assim como o direito surge como um conceito ampliado de ideia da
“vontade livre universal”, construído em consonância com o pensamento iluminista, no
qual as determinações morais ou jurídicas devem exprimir a autodeterminação dos
homens. De modo geral,

Hegel quis entender por ‘direito’ algo incomparavelmente mais abrangente do


que seus contemporâneos filosóficos: em oposição à Kant ou Fichte, que sob
o conceito de ‘direito’ entenderam a ordem estatal de uma vida comum
regulada pelo direito e destacaram com isso o movimento da coercibilidade do
estado, Hegel compreendeu sob o mesmo conceito todos aqueles pressupostos
sociais que se mostraram necessários para a realização da ‘vontade livre’ de
cada sujeito universal (p. 64).

A existência, ou Dasein, desta vontade livre, encontra-se concretamente nas condições


sociais que a propiciem, ou seja, em uma ordem social justa que possibilite a liberdade
comunicativa como um bem básico de todos os cidadãos. Para tanto, a sociedade deve
possibilitar aos indivíduos a experiência comunicativa de ser si mesmo no outro, ou seja,
o reconhecimento, por meio da participação em relações de comunicação não-
desfiguradas. A impossibilidade da existência de uma vontade livre se manifesta em um
sofrimento de indeterminação, caracterizado pelos sentimentos de solidão, vacuidade,
abatimento.

Parte deste sofrimento de indeterminação pode ser explicado por uma concepção
incompleta de liberdade que é aplicada na realidade concreta, proporcionando uma
compreensão falsa ou unilateral. Dois conceitos de liberdade se destacam na tradição
filosófica: o positivo e o negativo. O conceito positivo de liberdade diz respeito a uma
autodeterminação incondicional do indivíduo, com reconhecimento dos impulsos. O
negativo, por outro lado, à negação dos impulsos e reconhecimento da razão EXPLICAR
MELHOR. A estes dois conceitos incompletos correspondem o direito abstrato e a
moral. Para Hegel, ambos recaem em uma perspectiva atomista, sendo necessária uma
terceira concepção de liberdade, complexa, que venha a considerar elementos de ambos
os modelos concebidos anteriormente:

as concepções de liberdade do ‘direito abstrato’ e da ‘moralidade’ não são


falsas ou equivocadas enquanto tais, mas apenas se tornam problemáticas e,
por conseguinte, podem causar sofrimento social se forem simultaneamente
consideradas por si mesmas e eleitas como únicas representantes de uma práxis
autônoma: enquanto os atores sociais orientam suas próprias ações
unilateralmente somente segundo uma das duas ideias de liberdade, não estão
apenas negando as condições de uma realização efetiva de sua autonomia, mas,
além disso, devem permanecer de um modo ou de outro, num estado torturante
de esvaziamento, de indeterminação (p. 102).

O mesmo ocorre com diversas outras perspectivas filosóficas limitadas


inconscientemente institucionalizadas na vida prática, representando uma ‘imagem que
nos mantinha presos’, como declara Hegel inspirado por Wittgenstein:

partindo-se da verificação de um ‘sofrimento’ determinado no mundo da vida


social, segue-se primeiramente que este ‘sofrimento’ é o resultado de uma
perspectiva equivocada derivada de uma confusão filosófica que visava
apresentar então a proposta terapêutica de uma mudança de perspectiva que
consistisse na recuperação de uma familiaridade com o conteúdo racional de
nossa práxis da vida (p. 100).
A superação deste sofrimento ocorreria por meio da superação das perspectivas do direito
abstrato e da moralidade, alcançando a autorrealização característica da eticidade que
possibilita a compreensão da justiça por meio da intersubjetividade:

com a superação dos comportamentos patológicos, a passagem para a


‘eticidade’ também deve proporcionar ao mesmo tempo o acesso às condições
comunicativas que formam os pressupostos sociais segundo os quais todos os
sujeitos podem chegar igualmente à realização de sua própria autonomia; pois
logo no momento em que os próprios concernidos perceberem que se deixaram
influenciar por concepções insuficientes (porque unilaterais) de liberdade, eles
mesmos são capazes de reconhecer no seu próprio mundo da vida as formas de
interação nas quais a participação constitui uma condição necessária de sua
liberdade individual (p. 103).

Com o propósito de reconstruir gradualmente as condições comunicativas de


autorrealização e liberdade, Hegel concebe as três esferas institucionais da família, da
sociedade privada e do Estado como esferas de reconhecimento, correspondentes às três
formas do amor, da comunidade de valores e do direito. É por meio destas instâncias que
a constituição de valores e costumes partilhados comunitariamente se dá, por isso,

se sob o conceito de ‘eticidade’ deve ser reunida no fim a soma das


esferas comunicativas que são caracterizadas por meio de formas
específicas da ação intersubjetiva, então desde o início se implementa a
análise dos conceitos no termo da teoria da ação (p. 85).

Para alcançar este conceito é necessário reunir um conceito primitivo de ação aos modelos
de liberdade mais complexos para uma descrição da complexidade das realidades sociais
que propiciam, ou não, a autorrealização na cotidianidade, para além das restrições
impostas pelo direito formal, pois “[…] aquele que articula todas as carências e intenções
nas categorias do direito formal tornar-se-ia incapaz de participar na vida social e por isso
sofreria de ‘indeterminação’” (p. 89). As pré-condições para a autorrealização individual
são: espaço interior para compreensão de si mesmo como portador de direito; ordem
moral para compreensão de uma consciência individual, como sujeitos morais. Ambas,
decorrentes da ordem social justa, já que a contemplação da própria liberdade da vontade
na realidade exterior necessita de acesso às coisas desejadas. Neste cenário, o sujeito é
capaz de ver a si mesmo e ao outro como pessoas de direito, efetivando as pretensões
jurídicas informais no direito positivo. Ou seja, conduzindo a reflexão individual ao
assentimento racional da coletividade.

A eticidade enquanto uma teoria da ação se encontra na graduação das diferentes


formas de reconhecimento, pois as relações éticas só se realizam em um padrão de
práticas intersubjetivas que possibilite os sujeitos se realizarem mutuamente, expressando
reconhecimento pela consideração moral e correspondendo a uma segunda natureza.
Nessa concepção de ação, deveres, inclinações, carências e mandamentos encontram-se
fundidos em uma prática moral plena de conteúdo e se manifestam nas instituições. A
família, a sociedade civil e o Estado são concebidos como âmbitos de ação da
autorrealização, do reconhecimento e da formação.

As três esferas institucionais devem ser consideradas em uma relação hierárquica


que se inicia com a família até chegar ao Estado. Na primeira instância, a eticidade se
manifesta ao natural por meio dos sentimentos que correspondem à inclusão do indivíduo.
Embora Hegel faça referência a uma perspectiva pequeno-burguesa de família, esta se
destaca como imprescindível na constituição valorativa dos sujeitos, pois “[…] sem o
reconhecimento intersubjetivo ao qual chegam às pulsões no espaço interior da família, a
formação de uma ‘segunda natureza’, de um fundo socialmente partilhado em costumes
e comportamentos, não seria possível” (p. 118). É na família que o amor característico
entre os membros, que aparecem como insubstituíveis, apresenta-se como uma forma de
comunicação, na qual a cumplicidade, a assistência e o auxílio surgem como
estabelecimento de direitos e deveres. A carência característica da família conduz o
sujeito ao interesse típico da relação na sociedade civil, que é a segunda instituição
necessária. O membro dependente de uma comunidade não-escolhida se torna uma pessoa
de direito individualizada, galgando passos em seu processo de individualização que
decorre da participação ativa na reprodução da coletividade. A passagem para o Estado
não necessariamente representa um grau superior de individualidade – o sujeito,
inclusive, aparece apenas como membro dependente. Neste, a forma de relação do sujeito
com a coletividade se dá por meio da honra. A evolução do sujeito nestas esferas
comunicativas permite o aprendizado de esquemas cognitivos e argumentos que são
construídos num campo racional de fins e razão. Ao passo que o descentramento
progressivo do sujeito permite a constituição de uma coletividade concreta.

Os modelos sociais característicos da modernidade apresentados por Hegel


manifestam sua ‘superinstitucionalização’ quando, por exemplo, as características de uma
socialização primária podem ser encontradas na amizade, que é preterida em nome de
uma instituição formal e positivada como a família burguesa. Apesar deste cenário de
institucionalização juridicamente positivada, a compreensão de instituição apresentada
por Hegel é ampliada no sentido de conceber a eticidade enquanto um conjunto de
costumes:
se Hegel tivesse se deixado guiar por um tal conceito de ‘instituição’, o qual
confiava inteiramente ao conceito de ‘costume’, então lhe teria sido possível
compreender como a ‘substância’ da família não um contrato nem sensações
meramente subjetivas, mas sim hábitos de ação rotineiros; e um tal
procedimento natural também permitiria incluir na primeira esfera da
‘eticidade’ o padrão de interação da ‘amizade’, que não representa uma
‘instituição’ da ação social sancionada pelo ‘Estado’ adquirida culturalmente
(p. 133).

Por isso, o caráter plástico das relações de comunicação modernas é destacado quando se
afirma a impossibilidade de regulação total da formação de hábitos e costumes. A
eticidade se define, então, como “[…] incorporação social de hábitos de ação
desenvolvidos historicamente e caracterizados racionalmente” (p. 134).

O conceito de eticidade permite a Hegel a formalização de uma crítica à


autonomização da moral característica de Kant e do direito abstrato, tal qual realizado por
Horkheimer e estudado em nossas duas investigações anteriores (BARROS, MACÊDO,
2015; 2016). Por meio dela, uma reflexão individual emancipada, é necessário ir além do
ponto de vista moral e superar o imperativo categórico, pois

enquanto abstrairmos o fato de que sempre nos movemos em um ambiente


social no qual aspectos e pontos de vista moral já se encontram
institucionalizados, a aplicação do imperativo categórico permanecerá ineficaz
e vazia, mas se ao contrário aceitarmos a circunstância de que o ambiente social
já sempre nos apresenta traços de deliberação moral, então o imperativo
categórico perde sua função de fundamentação (p. 93).

A concretude da ação necessita de um esclarecimento acerca de sua orientação. A


transição da moralidade para a eticidade vem a ser uma libertação da perspectiva de
autonomização do sujeito.

CONCLUSÃO reconstrução normativa como tarefa = “[…] reconstruir as esferas


sociais de valor da modernidade que se caracterizam pela ideia de uma combinação
determinada de reconhecimento recíproco e autorrealização individual” (p. 136);

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