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As percepções das crianças e adolescentes

ARTIGO ORIGINAL
com câncer sobre a reinserção escolar

As percepções das crianças e adolescentes


com câncer sobre a reinserção escolar
Nájila Bianca Campos Freitas; Jérssia Laís Fonsêca dos Santos; Andrezza Mangueira Estanislau;
Rosicleia Moreira Palitot; Patrícia Nunes da Fonsêca

RESUMO – O objetivo do presente estudo é analisar as percepções que


os pacientes oncológicos apresentam acerca da reinserção escolar. Para isso,
adotou-se a Teoria da percepção social, porquanto orienta o comportamento
e, consequentemente, é influenciado em razão dos comportamentos das
outras pessoas. Participaram do estudo quatro pacientes oncológicos, com
idades variando entre nove e treze anos, residentes em cidades do Estado
da Paraíba. Os participantes responderam a uma entrevista com roteiro
semiestruturado, foi empregado também na avaliação o desenho-estória
com tema e o questionário sociodemográfico. Os dados foram analisados a
partir da Análise de Conteúdo de Bardin. Os resultados indicaram que os
participantes percebem a reinserção escolar como um espaço que promove
o bem-estar e a motivação, como também, um contexto que reforça o
sentimento de angústia. A partir disso, compreende-se que há necessidade
de desenvolver um trabalho interdisciplinar que possibilite desenvolver
estratégias que potencializem as habilidades do sujeito e a sua readaptação
ao contexto escolar.

UNITERMOS: Neoplasias. Criança. Educação Infantil. Percepção.

Nájila Bianca Campos Freitas – Psicopedagoga, Dis­ Correspondência:


cente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Nájila Bianca Campos Freitas
Social, nível Mestrado, da Universidade Federal da Rua João Galiza de Andrade, 492, apto 303 – Ed. Uba­­
Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil. tuba – Jardim São Paulo – João Pessoa, PB, Brasil –
Jérssia Laís Fonsêca dos Santos – Psicopedagoga, Dis­ CEP: 58051-180
cente do Programa de Pós-graduação em Psicologia E-mail: najila.bianca@hotmail.com.
Social, nível Mestrado, da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
Andrezza Mangueira Estanislau – Psicopedagoga,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
Rosicleia Moreira Palitot – Psicopedagoga, Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
Patrícia Nunes da Fonsêca – Doutora em Psicologia
pe­­la Universidade Federal da Paraíba, Professora do
Departamento de Psicopedagogia e da Pós-graduação
de Psicologia Social da Universidade Federal da Pa­­
raíba João Pessoa, PB, Brasil.

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INTRODUÇÃO o que pode fazer com que se sintam incapazes


O câncer infanto-juvenil representa, no Brasil, e diferentes das demais pessoas que compõem
a segunda causa de mortalidade entre crianças e seu grupo social. Nesse universo de não perten-
adolescentes de um a dezenove anos, perdendo cimento, o tratamento interrompe a vida social e
apenas para causas externas, como acidentes escolar do indivíduo, trazendo prejuízos para o
e violência1. Diante dessa realidade, o câncer processo de socialização e aprendizagem8.
tem sido considerado um problema de saúde O período de adoecimento provoca um de­
pública, haja visto o crescimento do número de sa­juste emocional no interior da família e o
ocorrências2. De acordo com Instituto Nacional afas­­­tamento do paciente dos espaços sociais,
do Câncer (INCA), as estimativas para o Brasil que pode acarretar consequências educacionais
nos anos de 2014/2015 são de aproximadamente à vida do paciente, tais como baixo desempenho
576.000 novos casos de câncer3. acadêmico e abandono escolar8,9.
Segundo o INCA, o câncer infanto-juvenil A escola é uma forte aliada no processo de
corresponde a 3% dos casos no Brasil, atin- reintegração social, especialmente por ter como
gindo cerca de 11 mil crianças e adolescentes função formar sujeitos cidadãos, autônomos,
anual­mente4. Nesse cenário, parte da população aptos para conviver em um contexto multicultu-
tem acesso a serviços qualificados, no entanto, ral e eclético, superando desafios e sendo autor
muitos ainda continuam a mercê desse acesso, de sua realidade10. Além disso, aperfeiçoa a
contribuindo assim para o atraso no diagnóstico criatividade, autonomia e suas expectativas em
e, consequentemente, agravamento do estado de relação ao futuro.
saúde do paciente, podendo até levá-lo a óbito5. Portanto, a reinserção escolar precisa aconte-
É relevante enfocar que a assistência a crian- cer de forma harmoniosa e prazerosa para todas
ças e adolescentes com câncer não se limita as pessoas inseridas no espaço escolar. Entre-
apenas aos aspectos relacionados à cura, mas tanto, nem sempre isso ocorre, pois a reinserção
também aos problemas físicos, psicológicos, escolar pode levar as crianças e os adolescentes
cognitivos e sociais que frequentemente surgem a apresentarem reações emocionais ambíguas,
após o adoecimento. Assim, além dos cuidados de ou seja, ora demonstram prazer em retornar a
saúde e do apoio familiar, necessita-se da assis- vida acadêmica, dedicando-se ao máximo para
tência dos espaços sociais, a exemplo da escola6. recuperar o tempo que passaram afastadas, ora
O adoecer é um momento de grande tensão, apresentam uma postura negativa, como timidez
demarcado por sentimentos de tristeza, ansie­ e insegurança7.
dade, medo, abandono e dúvidas acerca do Logo, a forma como a pessoa percebe o seu
fu­­turo. No caso de crianças e adolescentes com mundo tem uma forte influência na construção
cân­­­cer, as reações emocionais perpassam por das suas relações sociais, desta forma, as expe-
suas vidas desde o surgimento dos primeiros riências passadas e o estado atual de motivação
sintomas, sendo reforçadas pela estigmatização do indivíduo colaboram na formação de suas
da doença pela sociedade7. percepções11. Com base nessas ideias, optou-se
O extenso período de tratamento e inter­na­ pela teoria da percepção social para fundamen-
ções, as mudanças físicas, as restrições ali­men­ tar a presente pesquisa.
tares, o afastamento das pessoas e das ati­vidades A teoria da percepção social surgiu na área
diárias são mudanças repentinas e desconfortá- de Psicologia Social a partir da introdução dos
veis que podem desencadear na vida dos infan­ princípios da Escola da Gestalt, durante o ano de
to-juvenis sentimentos de tristeza, medo, culpa, 1950. Conforme essa teoria, a pessoa ao perce-
ansiedade e de rejeição. ber o mundo social busca explicar não somente
Os efeitos colaterais do tratamento deixam os os comportamentos do outro, mais também, os
pacientes fragilizados, deprimidos e inseguros, fatores que o influencia em suas ações.

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Nossas percepções são estruturadas e orga- mente em função do sexo, sendo duas meninas e
nizadas, sendo assim, constituídas a partir das dois meninos, com idades entre nove e treze anos.
nossas experiências prévias e das informações Os sujeitos apresentavam os seguintes tipos de
sociais fornecidas pelo ambiente (família, es- diagnósticos: leucemia, tumor de Wilms e linfo-
cola, etc.). Assim, coletamos e processamos as ma. Com relação à escolaridade, cursavam entre
informações e, a partir disso, construímos os o 3º e 7º ano de Ensino Fundamental.
julgamentos, estereótipos, crenças e mitos12. Adotou-se como critério de inclusão, crianças
A partir das primeiras impressões que se e adolescentes que retornaram à escola ainda
adquire acerca de uma pessoa, se produz uma durante o tratamento e de exclusão aquelas (es)
“teoria acerca de sua personalidade”, as pessoas que apresentavam idade inferior a 7 anos ou
tendem a aceitar com facilidade tudo aquilo que superior a 18 anos e retornaram à escola após o
confirme o que anteriormente se internalizou, tratamento antineoplásico.
e a rejeitar radicalmente qualquer informação As coletas de dados foram realizadas a partir
que contradiz11. de visitas à casa de apoio em diferentes dias e
É o que acontece com o indivíduo que é aco- horários, no período de setembro a novembro
metido por um câncer, os familiares, colegas de de 2013. As entrevistas semiestruturadas eram
classe e professores com base nas informações formadas por questões como: Como foi seu
previamente apreendidas pelo meio social em primeiro dia de aula após iniciar o tratamento?
conjunto com o que eles veem do estado de saúde Já a técnica do Desenho-Estória com Tema,
atual do sujeito criam uma teoria generalizada os participantes faziam um desenho e depois
e repleta de estereótipos acerca da doença. Por desenvolviam um texto a partir do tema: o dia
conta disso, rotulam o sujeito, limitam suas ca- que retornei à escola. Utilizou-se, ainda, um
pacidades e associam o câncer à morte9. questionário com dados sociodemográficos
Conforme a Psicologia Social, as pessoas para caracterização dos sujeitos do estudo. Os
tendem a agir de acordo com as representações participantes demandaram um tempo médio
contidas na sociedade, com isto, agem em função de 15 minutos para responderem a todos os
dessas, reforçando-as, ao invés de refutar. Sendo instrumentos.
assim, formam estereótipos e ideias preconcei- As entrevistas foram gravadas e, posterior-
tuosas e os tornam em verdades absolutas. O mente, transcritas na íntegra, conforme o pro-
presente estudo busca contribuir com a família, cedimento da Análise de Conteúdo Temático13.
a escola e a sociedade, para que saibam acolher Assim, realizou-se leituras minuciosas de cada
e proporcionar qualidade de vida e bem-estar depoimento e das histórias, a fim de dividir e
aos sujeitos portadores de câncer, evitando que agrupar os temas semelhantes e inserir em uni-
desencadeiem problemas de aprendizagem, bai- dades temáticas, formando as subcategorias e,
xa autoestima, depressão, entre outros. Portanto, a partir disso, obter o significado da mensagem.
o objetivo deste artigo é analisar as percepções A amostra foi de conveniência (não-proba-
das crianças e adolescentes com câncer frente bilística, intencional) e como se trata de uma
à reinserção escolar. pes­­quisa que envolve seres humanos, o projeto
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
MÉTODO e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da
O presente estudo pauta-se em um delinea­ Universidade Federal da Paraíba (CCS/UFPB),
mento transversal, onde se realizou uma pesquisa mediante o parecer nº 445.733, respeitando assim
de campo com metodologia qualitativa. Para sua os aspectos éticos descritos pela Resolução nº
realização, contou com a participação de quatro 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
pacientes oncológicos da Casa da Criança com Em razão de a amostra ser crianças e adoles-
Câncer em João Pessoa (PB), distribuídos igual- centes, sua participação na pesquisa era auto-

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rizada após a assinatura dos pais/responsáveis “Foi muito bom, por causa que eu reen­
por meio do Termo de Consentimento Livre e contrei meus amigos e fiz novas amiza­
Esclarecido (TCLE). Os participantes eram asse- des (S.2 – 11 anos).”
gurados ao sigilo e anonimato das informações, “[...] eu fui no outro dia do meu aniver­
assim, seus nomes foram substituídos pela letra sário, aí eles começaram a cantar para­
S seguido da idade (ex: S.1 – 9 anos). béns pra mim, aí todo mundo começou
a chorar (S.3 – 12 anos).”
RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Foi muito legal [...] revi meus colegas
As análises das entrevistas resultaram em de novo, revi minha professora (S.4 –
duas subcategorias de sentido, que compreen- 13 anos).”
dem os núcleos figurativos e simbólicos: reinser-
Entretanto, esse grupo ao retornar ao contex-
ção escolar e prática pedagógica do professor.
to escolar também apresenta diversos questiona-
mentos, ansiedade e medo de não conseguirem
Reinserção escolar acompanhar o desempenho de sua turma e não
A escola exerce um papel indispensável para serem aceito pelos seus colegas7. Essas situa-
o desenvolvimento cognitivo e social do sujeito. ções advêm de diversas causas, a exemplo das
O processo de escolarização é percebido pelo modificações físicas:
indivíduo não somente como um espaço de pro­­ “[...] eu tinha vergonha por causa do
dução de conhecimento acadêmico, mas, tam­­ lenço, eu tinha que usar máscara (S.3 –
bém, um lugar significativo da infância14: 12 anos).”
“Eu acho bom estudar e aprender a ler As crianças e adolescentes com câncer sen-
(S.1 – 9 anos).” tem vergonha, tristeza e desconforto por causa
“[...] tava com saudades dos meus amigos das limitações impostas pelo tratamento15. Ade-
e da minha professora (S.2 – 11 anos).” mais, as crianças não ficam contentes quando as
pessoas fazem comentários acerca do seu estado
“[...] [na escola] ia rever tudo que fiz an­
de saúde e sobre sua aparência física, pois ao
tigamente, antes, e ia fazer tudo de novo
invés disso, preferem ser recebidos e percebidos
(S.4 – 13).”
como os demais colegas e não como alguém que
Observa-se que a reinserção escolar está as- possui uma doença.
sociada ao retorno ao cotidiano, antes da doença. Diante desse momento de tensão, o apren-
Assim, ao voltarem a sua rotina diária, a exemplo dente pode demonstrar aversão ao ambiente
de ir à escola, os infanto-juvenis oncológicos escolar e à sala de aula, pois se percebe inferior
con­­seguem elevar a autoestima, estigmatizada aos seus pares, tanto a nível cognitivo como físi-
pela enfermidade. A lém disso, resgatam as ami- co. Consequentemente, o processo de reinserção
zades, além de elaborarem planos para o futuro escolar ao invés de ser percebido como algo
pessoal e profissional9. prazeroso pode vir a ser associado à hostilidade
A reinserção escolar também foi percebida e à desmotivação.
como um lugar de acolhimento, na qual as ami­
zades fragilizadas pelo afastamento são resti- Prática Pedagógica do Professor
tuídas, concedendo ao indivíduo com câncer O professor é uma figura importante no pro-
a oportunidade de interagir com seus pares a cesso educativo, pois exerce um papel funda-
partir das atividades escolares e lúdicas, como mental na formação do sujeito, assim, pode-se
também, por meio das trocas de experiências: verificar que as crianças e adolescentes onco-
“[...] eu conheci novos amigos e minha lógicos percebem o professor como uma figura
professora (S.1 – 9 anos).” que transmite apoio e confiança:

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“Conversou, ela falou sobre minha doen­ física, é bom o dia de aula de informática,
ça, que tivesse cuidado comigo, me aju­ gosto muito da minha professora, adoro
dasse. [...] ele sempre me ajuda nas coisas meus coleguinhas para brincar, gosto do
(S.2 – 11 anos).” meu diretor e do meu professor de com­­
“Conversou, explicou que eu tinha que putação (S.1 – 9 anos)”.
usar máscara. [...] eles são legais, eles A partir deste relato, percebe-se que a criança
me entendem, se eu falto aula, eles me expressa um desejo enorme em voltar a fre-
dão atividade (S.3 – 12 anos).” quentar a escola e a conviver com seus colegas,
“Conversou pra ninguém tá com precon­ professores e demais pessoas. Conforme essa
ceito, que isso podia acontecer com todo história, pode-se identificar duas subcategorias:
mundo (S.4 – 13 anos).” ambiente de aprender e motivação.
As percepções são estruturadas e organiza­­ Na primeira subcategoria “Ambiente de
das a partir das experiências prévias e do estado aprender”, o sujeito percebe a escola como um
motivacional atual. Assim, esses sujeitos pos- ambiente mediador da aprendizagem, assim,
sivelmente já percebiam os professores antes seus desejos são intensificados, especificamen-
da doença de forma positiva e ao se depararem te na aquisição da leitura e escrita. A vontade
novamente, após o período de afastamento, e expressa pelo sujeito pode ser intensificada em
diante das atitudes desses profissionais suas razão das dificuldades escolares comprometidas
percepções foram confirmadas. pelas constantes faltas à escola16.
Na segunda subcategoria “Motivação”, veri-
Resultados referentes aos desenhos-estórias ficou-se que os sujeitos percebem a escola como
com tema um ambiente que oportuniza a motivação, na
As análises dos desenhos-estórias com tema medida em que, proporciona a participação das
serão apresentadas e discutidas individualmen- atividades escolares, interação com os colegas e,
te, e conseguintemente as subcategorias, que simultaneamente, a aquisição do conhecimento.
compreendem os núcleos figurativos e simbó- É importante destacar que os comportamen-
licos (Figura 1). tos e atitudes em relação a outras pessoas ou
objetos são influenciados por diversos fatores, e
A minha escola um dos principais é o tipo de impressão que se
“Estudar é muito bom, a pessoa aprende forma e das disposições que lhes são atribuídas11.
a ler e escrever, é bom o dia de educação Desse modo, quando a escola se constitui um
ambiente acolhedor, estimulante e facilitador
de novas relações e de aprendizagem, a criança
tem a percepção de se ter apoio e um sentimento
de pertença, aspectos que influenciarão no seu
desenvolvimento pessoal e social e o seu bem-
-estar (Figura 2).

Minha vida na escola


“Na escola foi muito legal. Eu encontrei
vários amigos e fiz novas amizades. Na
escola eu brinquei de várias coisas, me­
nos de correr no sol, eu só podia brincar
Figura 1 – Desenho-Estória sobre o primeiro dia de aula na sombra por causa do meu tratamento.
(S.1 – 9 anos). Meu maior sonho é de ser jogador de fu­

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tebol mas eu não posso ser um jogador de ainda mais importantes18. Isso ocorre em decor-
futebol. Eu também queria ser desenhista rência, dos tratamentos intensivos, invasivos que
mas também desisti. Lá na rua meus ami­ necessitam de longas internações e afastamentos
gos sempre me chamaram para brincar do convívio escolar e muitas vezes da própria
mas eu não podia, eu só podia se fosse família (Figura 3).
dentro de casa. Então eu chamava meu
melhor amigo Crynstian para brincar lá Meu primeiro dia de aula
em casa. Era o amigo que me apoiava e “No meu primeiro dia de aula foi muito
me protegia. (S.2 – 11 anos).” emocionante, pois eu fui um dia depois
A partir desse relato, foram identificadas duas do meu aniversário, aí meus amigos can­­
subcategorias: modificações e relacionamentos taram parabéns para mim e nós todos
afetivos. Na primeira subcategoria “modifica­ se emocionamos e foi muito bom meu
ções”, percebe-se que o aprendente enfatiza o primeiro dia de aula. (S.3 – 12 anos).”
quanto o câncer alterou sua rotina e projetos de
O retorno à escola é compreendido como um
vida. À propósito, a criança entende que, mes-
momento especial, repleto de emoções. Assim,
mo frequentando a escola, não poderá realizar
a partir desse relato foi possível identificar duas
algumas atividades que os colegas realizam, a
subcategorias que descrevem a percepção do
exemplo de ser jogador de futebol.
indivíduo acerca do momento da reinserção
Sabe-se que as atividades escolares têm o
escolar: sentimentos e apoio social.
objetivo de desenvolver a aprendizagem e os
Na primeira subcategoria “sentimentos”, foi
re­­lacionamentos sociais. Portanto, apesar de
possível identificar que o sujeito expressa senti-
não poder realizar atividades como a prática
mentos de ansiedade e alegria em poder voltar
de esportes, a escola tem o papel importante de
ao ambiente que julga ser importante para o
oferecer outros recursos. Propiciar atividades
aperfeiçoamento de suas habilidades e atenuar
didáticas e as brincadeiras, incentiva a ter pen-
ou solucionar suas dificuldades.
samentos positivos e a interagir com os seus pa-
res, são algumas estratégias que podem resultar Na segunda subcategoria “apoio social”, foi
progresso, bem-estar e motivação17. possível identificar que após se afastarem da sua
Na segunda subcategoria “relacionamentos rotina diária, os sujeitos que tiveram câncer, ao
afetivos”, identificou-se que as relações sociais ser reinseridos na escola, percebem esse espa-
são imprescindíveis, e quando se refere aqueles ço como um lugar que encontram apoio social,
que tiverem uma doença crônica, elas se tornam contribuindo assim, para o seu bem-estar e de­
senvolvimento de fatores positivos (Figura 4).

Figura 2 – Desenho-Estória sobre o primeiro dia de aula Figura 3 – Desenho-Estória sobre o primeiro dia de aula
(S.2 – 11 anos). (S.3 – 12 anos).

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Na terceira subcategoria “desejo em partici­


par das atividades”, verificou-se que o sujeito
percebe o espaço escolar como um lugar que pro­­
move a participação nas atividades didáticas e
recreativas. Essa flexibilidade dos diversos tipos
de atividades, permite aos aprendentes que ti-
veram câncer adquirir conhecimentos, a partir
da prática dinâmica e interativa com seus pares,
buscando assim, o que haviam perdido devido o
episódio do tratamento19.
Figura 4 – Desenho-Estória sobre o primeiro dia de aula
(S.4 – 13 anos).
CONCLUSÃO
A percepção que o indivíduo tem do seu mun-
O dia que retornei para a escola do é fundamental para a formação das suas inte-
“O dia que retornei para a escola foi um rações sociais. As pessoas buscam com­preender
dia muito especial para mim porque eu o comportamento dos outros em seu mundo rela-
também revi minhas professoras e voltei cional para poderem explicar os acontecimentos
a tocar na banda marcial da escola, e de sua vida, a exemplo do câncer e da reinserção
também fiz muitas coisas, atividades escolar. Assim, a maneira como se percebe os fatos
legais, joguei bola no ginásio do colégio. sociais, as pessoas e as atitudes orientam a forma
Então, o dia que eu retornei pra escola do indivíduo agir12.
foi assim que aconteceu, aliás, foi tudo Este estudo permitiu conhecer e analisar
de bom! (S.4 – 13 anos).” quais as percepções que um grupo social onco-
A partir desse relato identificaram-se as se­ lógico apresenta acerca da reinserção escolar. O
guintes subcategorias: momento especial, rees­ momento da reinserção escolar é percebido como
tabelecimento dos vínculos sociais e desejo em um lugar que promove o aprendizado, bem-
participar das atividades. Na primeira subcate- -estar, motivação, relacionamentos sociais e alto
goria “momento especial”, o sujeito percebe a estima, uma vez que, possibilitam as crianças e
reinserção escolar como uma ocasião especial adolescentes realizarem novamente as ativida-
e almejada, incorporada de felicidade, prazer e des escolares e resgatarem os relacionamentos
entusiasmo, que adicionada à sua vida propicia sociais. Além disso, associam a um lugar que
novas possibilidades de crescer pessoalmente e valoriza suas potencialidades, na medida em
profissionalmente e de impulsionar a elaboração que impulsiona a independência, desassocia o
de outros sonhos e expectativas para o futuro. sujeito da sua doença.
Na segunda subcategoria “reestabelecimento O presente estudo colaborou para conscien-
dos vínculos sociais”, percebe-se que o sujeito tizar e reforçar a família sobre a importância de
não apenas compreende a reinserção escolar seu filho (a) voltar a frequentar a escola, inde-
como um lugar que promove a superação das pendente, do período de afastamento. Também
dificuldades, mas também, como um espaço pôde orientar a sociedade a interagir com os
que promove o reestabelecimento dos vínculos infanto-juvenis e mostrar a importância das ati-
sociais. Compreende-se que a reinserção não é vidades escolares e recreativas na evolução do seu
percebida como um momento de sacrifício ou quadro clínico. Desmistificando os estereótipos
sofrimento, mas sim, de entusiasmo, alegria e que a sociedade constrói acerca desta doença,
motivação em retornar a suas atividades diárias no qual associam as crianças e adolescentes
e reencontrar as pessoas com quem comparti- como pessoas incapazes de realizar tarefas e de
lhavam horas do seu dia. frequentar espaços sociais20.

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Em virtude da insuficiência de estudos que confiáveis e que minimizem a “desejabilidade”


discutam o tema da reinserção escolar e sua social.
re­­lação com a percepção, sugere-se o desenvol- Desse modo, seria relevante, aperfeiçoar
vimento e aprofundamento de novos estudos. os conhecimentos, com base na utilização de
Diante do número limitado de estudos nacio- outros instrumentos e de um número maior de
nais que correlacionem às variáveis infanto- participantes, assim como, a associação com
-juve­nis com câncer e educação, sugere-se o outras variáveis, a exemplo de atitudes posi-
desenvolvimento de novas pesquisas que per- tivas frente à escola e traços de personalidade
mitam apo­derar-se de dados mais consistentes, (resiliência).

SUMMARY
Perceptions of children and adolescents
with cancer on school reintegration

The aim of this study is to analyze the perceptions that cancer patients
have about school reintegration. For this, we adopted the theory of social
perception, because it guides behavior and, consequently, is influenced due
to the behavior of others. In this study, four cancer patients participated,
between nine and thirteen years of age, residents of cities in the state of
Paraiba. The participants answered an interview with semi-structured,
cartoon-themed story and the socio-demographic questionnaire. The data
was analyzed using Bardin Content Analysis. The results indicated that
the participants perceive the school reintegration as a space that promotes
well-being and motivation, but also a context that enhances the feeling
of distress. From this, it is understandable that there is need to develop
an interdisciplinary work that makes it possible to develop strategies that
enhance the skills of the subject and its adaptation to the school context.

KEY WORDS: Neoplasms. Child. Child Rearing. Perception.

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