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Documentos e fontes de estudo sobre os Celtas

Fonte: http://www.witchcraft.com.br/povos/index.asp?id=32&nome=Celtas

Os Celtas nunca armazenaram informação de forma escrita em toda sua história. A


escrita céltica (detalhada em outro tópico) nunca foi usada com o propósito de perpetuar
informações como, por exemplo, o latim. Então como podemos saber sobre um povo que ocupa
um lugar tão remoto na história indo-européia?
As fontes de informações são pistas guardadas pelo tempo, debaixo de centímetros até metros
de terra ou por textos de povos que os sobrepujaram, mas que descreviam em suas cartas ou
livros, informações que hoje usamos para tentar preencher lacunas existentes nos achados
arqueológicos, inscrições e topônimos.
Podemos citar autores fundamentais para o estudo sobre os Celtas, são eles, César, Tito Lívio,
Tácito, Estrabão, Diodoro de Sicília e Ptolomeu, todos escritos em grego ou latim.
Um dos melhores textos, mesmo sendo evidente que não tenha como disfarçar a ausência de
textos célticos indígenas, é o "De Bello Gallico" ou "Gerra das Gálias", de César. Neste livro
existem dois tipos de informações extremamente fundamentais, a primeira é a ação militar,
onde César narra as investidas contra os bárbaros (povos que não falam o grego) e as
dificuldades encontradas. A segunda é as informações etnográficas, sociologias e religiosas que
César não tinha nenhuma vantagem ou motivo para falsear.
Algumas informações são fontes diretas que interessam mais aos epigrafistas e aos lingüistas.
Na França temos inscrições que causam até hoje muita discussão, que são as de Chamalières e
de Larzac que infelizmente está mutilada. Quanto ao calendário de Coligny, são duas mil linhas
e mais de duzentas palavras que só proporcionaram até hoje, alguns fragmentos de frases
coerentes e explicáveis.
Já as inscrições da Espanha ainda são mais difíceis de explorar, porque continua por saber o
que pertence ao céltico e ao ibérico, já que o Celta se implantou ali numa região periférica,
submetida a influências estrangeiras, sendo a escrita ibérica uma prova disso.
Quanto às inscrições ogâmicas da Grã-Betanha e da Irlanda, remontam ao século VI da atual
era cristã, ou seja, já não pertencendo à antiguidade, fornecendo informações imperfeitas sobre
o Celta comum. Freqüentemente, como nas inscrições gaulesas (cronologicamente muito
anteriores), podemos ler uma ou duas palavras, antropônimos que indicam a filiação, mas não
se encontra nenhum verbo, nenhuma frase construída.
Porém quando esgotamos os recursos continentais e quando queremos compreender o que eles
no oferecem, devemos interessar-nos pelo mundo céltico insular. A romanização da Bretanha
insular (entre os séculos I e V) foi sempre superficial. Os Irlandeses não sofreram as grandes
invasões do final do Império Romano e só muito mais tarde conheceram as invasões, com a
chegada dos Escandinavos no fim do século VIII. Os monges ali instalados tiveram tempo
suficiente para contribuir com o renascimento carolíngio e para criar uma literatura de língua
gaélica.
Os textos irlandeses são mais antigos que as narrativas do ramo Mabinogi intimamente ligados
à Bretanha, eles descrevem um estado de civilização bastante mais arcaico que o dá época em
que foram registrados por escrito.
Segundo a classificação atual, a literatura irlandesa medieval compreende seis ciclos. A
classificação a seguir, não corresponde à dos Irlandeses medievais que agrupavam as suas
narrativas por gêneros (razias, casas, amores, cortejos, raptos, assassinatos, migrações,
perseguições, exílios, etc.):
O ciclo mitológico. Um texto fundamental é o Cath Maighe Tuireadh ou Batalha de Mag Tured,
de que são conhecidas três verções. Nele é contada as origens míticas e o combate dos deuses
ou Túatha Dé Dánnan contra os Fomoire. Outro texto fundamental é o Tochmarc Etain e ou
Cortejo de Étain, contando as aventuras de Étain. A série dos Immrama ou avegações
constituem um prolongamento do ciclo mitológico que relatam viagens maravilhosas através do
oceano para ilhas onde o tempo não existe, onde as mulheres são belas e insinuantes e se é
eternamente jovem.
O ciclo heróico de Ulster ou ciclo do Ramo Vermelho. Aqui temos um dos ciclos mais vivo e
diversificado com um grande número de aventuras. Cúchulainn, Conchobar, Connall Cernach,
Fergus, Medb, Ailill são os principais protagonistas destas aventuras. A narrativa mais extensa e
a também a mais notável é a Táin Bó Cúalnge ou Razia das Vacas de Cooley, a sociedade
céltica é mostrada no estado mais antigo que se lhe pode atribuir.
O ciclo de Finn ou Ciclo Ossiânico. Este é o mais remodelado e recente ciclo, ao contrário do
ciclo de Ulster que está centrado em Cúchulainn, relata as inúmeras aventuras de um bando de
guerreiros, os Fianna, o chefe Finn e do seu filho Oisin.
O ciclo histórico ou ciclo dos Reis. O principal é uma composição intitulada Lebor Gabála Erenn
ou Livro das Conquistas da Irlanda, que conta as aventuras de cinco raças míticas que
ocuparam o país depois de um dilúvio, os Partholo, Nemed, Fir Bolg, Túatha Dé Dánann e a dos
filhos de mile ou Gaëls.Dentre as narrativas destes citados, existe mais mitologia do que
história.
Os Quatro Ramos. O manuscrito mais conhecido é o Llyfr Coch Hergest ou Livro Vermelho de
Hergest. São datados do século XIII estes quatro ramos: Pwyll, príncipe de Dyfed, Branwen,
filha de Llyr, Manawyddan, filho de Liyr e Math, filho de Mathonwy.
O ciclo Arturiano. Aproximadamente é o homólogo do ciclo irlandês de Ulster. Onde o rei
Conchobar é substituído pelo rei Artur e Cúchulainn é o Gwalchmar.
MITOS CELTAS

(Não foi possível identificar a fonte)

A mitologia celta que conhecemos hoje é apenas uma pequena parte que sobreviveu,
por vezes misturada com paganismo clássico e cristianismo. Mas ainda sim podemos ter uma
noção e imaginar no que essas pessoas acreditavam. Para os primitivos celtas, o mito
suplantava a própria história. Em nenhuma outra sociedade se dava tão perfeita simbiose entre
a realidade e a irrealidade, a narração e a fábula, o esotérico e o esotérico.
Estrabão, que nasceu pouco antes de começar a nossa era, menciona os celtas na sua
volumosa obra geográfica, baseando-se em escritos de anteriores historiadores clássicos, e faz
menção à semelhança de ritos e costumes entre povos que, graças às contínuas migrações
daqueles tempos, geminavam as suas raças até chegar a uma posterior simbiose. Também cita
algumas das suas peculiaridades, as quais fazem este povo primitivo mais atrativo do que
outros muitos daquela época.
Felizmente, os ciclos mitológicos da Irlanda são extensos e estão pletóricos de incidentes. A
propósito, somente foi publicada metade das 400 narrações que hoje em dia se sabe que
existem. Os estudiosos modernos dividiram estes relatos em quatro ciclos principais.
O primeiro ciclo compreende o povo da deusa Danann, os "tuatha de Danann". A grande
deidade deste ciclo é Dagda, filho da deusa sobrecitada. Dagda possui um caldeirão mágico
que tinha o poder de reviver os mortos. Alguns mitólogos dizem que esse objeto é o protótipo
do Santo Graal. "Dizia-se que o Graal era o cálice do qual Jesus e os seus discípulos beberam
durante a última ceia; também recolheu sangue que brotou da ferida de lança sofrida por Jesus
na Crucificação".
O segundo ciclo retrata principalmente Cuchulainn, um dos vários heróis do Ulster. Era uma
espécie de semideus guerreiro protetor da Irlanda. O terceiro ciclo fala das histórias dos reis
lendários, que lutavam freqüentemente entre si, dando a oportunidade a Morrigam - deusa
da guerra - de semear a morte nos campos de batalha. Morrigam era vista como uma ave e
estava presente em tudo o que fosse verdadeiramente selvagem e maléfico nas forças
sobrenaturais. Os duelos entre os heróis celtas são contados no quarto e último ciclo. São
conhecidas as aventuras de Finn mac Cumhaill, lider dos Fianna, grupo de guerreiros
fortíssimos.
O panteão celta vai influenciar diretamente a cavalaria cristã. "A Igreja medieval sempre se
preocupou pelo Graal que, conforme se supõe, José de Arimatéia levou à Grã-Bretanha. No
entanto, os clérigos pouco podiam fazer para esfriar o entusiasmo diante das narrações
legendárias dos Cavaleiros da Távola Redonda. Inclusive tiveram de aceitar o relato de acordo
com o qual somente foi concedida a visão do Graal a sir Galahad em virtude de sua pureza". O
interesse por Artur e seus cavaleiros ainda existe até hoje. O próprio cristianismo medieval
estava banhado por lendas como as presentes no Juízo Final, ou nas histórias sobre o Anti-
Cristo e ao culto da Virgem Maria. "Parecia que somente o bendito grupo de santos mantinha à
distância a multidão de magos. Embora os clérigos apelaram ao exorcismo como arma contra
as persistentes artimanhas de Satã, a angústia pessoal pelo inferno explica a popularidade do
apócrifo Evangélico de Nicodemo (Acta Pilati), que narra o triunfal descenso de Jesus aos
infernos e a libertação de muitas almas cativas".
A MAGIA ENTRE OS CELTAS
(extraído da obra de T.G.E. Powell: “Os Celtas” Editorial Verbo - Portugal - Edição de novembro de 1965/respeitada a grafia original).

Vamos dedicar um pouco mais de tempo aos estudos aos oficiantes da magia e do ritual, entre
os Celtas, os druídas. Torna-se talvez desnecessário dizer que, apesar das invenções românticas
dos últimos séculos e de organizações druídicas fingidas que ainda dão que falar de vez em
quando, não há continuidade nem relação absolutamente nenhuma entre elas e os druídas da
Antiguidade. Nem há a menor necessidade de evocar o maravilhoso ou o mistério ao considerar
os antigos druídas, que, à luz de estudos modernos de religião comparada, se verifica
ocuparem um lugar natural numa categoria socio-religiosa bem definida, em determinada
época, comum a vários, se não a todos os povos detentores de línguas e instituições indo-
europeias. Destes, o exemplo mais notável é o dos brâmanes, cuja existência se mantém na
sociedade hindu desde as invasões arianas do Norte da Índia, em meados ou fins do segundo
milénio a.C.
Os brâmanes (é claro), há muito vêm constituindo uma casta hereditária, mas isto parece ter
sido um desenvolvimento subsequente do isolamento da Índia, ao passo que entre os Celtas os
druídas preservaram a organização mais arcaica ao formar uma classe recrutada entre as
crianças da aristocracia guerreira. Anteriormente aos flamines e pontifices de Roma, há certo
número de provas de uma categoria de pessoas sagradas entre os povos itálicos, mas o
desenvolvinento de Roma, sob influência mediterrânica, num grande estado urbano
transformou as primitivas instituições.
A palavra «druida», tal como é usada nas línguas europeias modernas, deriva do céltico
continental através dos textos gregos e latinos. César, por exemplo, refere-se a druides e
Cícero a druidae. Ambas são, é claro, forma latinizada do plural.
Nas línguas célticas insulares que ainda sobrevivem, drui (sing.) druad (plur.) são formas da
mesma palavra tirada de textos em irlandês antigo. O equivalente galês no singular é dryw.
Como palavra considera-se que druída derive de raízes que significam “sabedoria do carvalho”
ou possivelmente «sabedoria grande» ou «sabedoria profunda».
Plínio comparava esta palavra com a grega que significa carvalho, e parece querer implicar que
a sua ligação com carvalho fosse intencional. De fato, a ligação entre os druidas e o carvalho
acha-se explícita no relato de Plínio do apanhar do visco pelos druídas num carvalho, e do
sacrifício de touros que o acompanhava. Ignora-se, infelizmente, se este rito tinha ligação com
algum festejo tribal e por que razão se verificava. Também é possível que Plínio tivesse em
mente os bosquezinhos de carvalhos de Olímpia, que parecem muito certamente ser um
elemento indo-europeu sobrevivente no culto grego, comparável aos bosques sagrados dos
Celtas, mais particularmente ao santuário de carvalhos (Drunerneton) dos Gálatas. Se de entre
as árvores era o carvalho, principal, mas não exclusivamente, o símbolo da divindade,
«sabedoria do carvalho» seria apropriada para aqueles que eram os intermediários entre o
homem e o sobrenatural.
A essência do conhecimento druídico sobrenatural e um pouco esclarecida pela consideração
dos títulos de outros sábios magos celtas, embora seja impossível traçar qualquer distinção real
entre as suas funções.
Além dos druídas e bardos, menciona Estrabão os vates, palavra aparentada com a irlandesa
fáthi (singular fáith). Estas palavras emanam de uma raiz que significa «inspirado» ou
«extasiado», donde profeta e poeta. Outro vocábulo irlandês, e que havia de ganhar o maior
relevo nos tempos cristãos primitivos era Fili (plural Filid) este significava a principio «vidente»,
mas tornou-se a palavra mais vulgar para poeta no sentido de erudito encomiasta da corte e
cronista.
Era na capacidade para ver o invisível, para saber de antemão, que se considerava residir acima
de tudo o poder do mago. O conhecimento era uma questão de ver, como mostra a filologia
das palavras irlandesas, e também isto se conseguia através de transes, arrebatamentos ou
crises de inspiração estimulada de qualquer especie.
Um dos exemplos mais interessantes de transe lê-se num relato da escolha de um novo rei para
Tara, em que se sacrificou um touro, e um druida tragou da sua carne. O druida entrou então
em transe enquanto sobre ele recitavam fórmulas de encantamento, e, quando se refez pôde
vaticinar todos os pormenores que rodeariam a chegada a Tara do justo pretendente. Este rito
era conhecido por “Tarbfeis”, o sonho do touro.
Arrebatamentos, transes e poder de metamorfose, todos indicam a mesma ligação genérica
entre o mago celta, seja qual for o seu nome, e o shaman da região nórdica euro-asiática. Não
é nada improvávél que este aspecto recue até ao período mais antigo dos contactos através das
estepes do Ponto.
Embora vários autores clássicos atribuam aos druídas a qualidade de filósofos, difícil será
encontrar uma única prova de que eles se dedicassem, como corporação, ao menor
pensamento especulativo, ou ensinassem um código de ética que ultrapassasse no quer que
fosse tudo aquilo que saia do comportamento ritual correto. Dificilmente se pode tomar
Divicíaco, o druida amigo de César e de Cícero, como mais que uma simples excepção, e não é
para admirar que druidas tão excepcionais como os que já estavam em contato com a vida
mediterrânica e o pensamento grego tivesse criado intelectos muito diferentes dos seus colegas
do interior.
Que os druidas tivessem ideias sobre a natureza de uma vida pós-terrena nada tem de notável
perante o grande peso das provas arqueológicas, de sepulturas celtas, que mostram a
solicitude em fornecer armas, ornamentos e comida para a jornada no Além, se não para a
própria festa da recepção na existência futura.
A proeminência dos druidas na sociedade celta não fica em dúvida perante aquilo que César e
outros dizem sobre as suas tarefas como árbitros, não menos do que como mágicos, e nenhum
fato ilustra melhor a sua posição na Irlanda do que o de um rei não poder falar antes de o seu
druida se ter pronunciado. O testemunho irlandês mostra os druidas como usando armas e
como chefes de família.
A MUSICA CELTA
Fonte: a Casa Celta

Os celtas sempre estiveram muito ligados à religião, e assim como quase toda as expressões de
sua cultura, a música também estava intimamente relacionada a temas de cunho religioso.
Tanto que os músicos eram - em sua maioria - ligada à classe sacerdotal dos Druidas.
A música ou, mais precisamente, o tocar dos instrumentos era considerado uma manifestação
do mundo dos espíritos. Sendo assim, o músico era um ser privilegiado, pois suas faculdades
lhe permitiam captar pequenas manifestações do Outro Mundo, e desta forma, ele traduzia
aquilo que absorveu para a música.
Exatamente por este motivo, é comum a temática musical celta estar ligada àquilo que eles
mais respeitavam: a Natureza. Um bosque, a brisa, a alvorada, o outono - ou qualquer outra
estação - enfim, cada pequeno movimento da Natureza carrega um som, e era função do
músico senti-lo e traduzi-lo em sons.

Instrumentos musicais
Os instrumentos celtas são todos bem característicos, isso porque a música folclórica irlandesa
conservou fortes traços da música celta. E através desta herança rica e ímpar, a Irlanda lega ao
mundo esplendorosas sonoridades, todas com um estilo único e incomparável. As
características da musicalidade celta foram absorvidas pela cultura mundial, portanto, a grande
maioria das pessoas tem, ainda que vaga, uma idéia sobre o que foi - ou melhor - o que é a
música e os instrumentos que estavam presentes no folclore ancestral. Além da flauta, harpa e
gaita de foles, ainda resta um importante instrumento - de percussão - chamado Bodhran. Feita
as devidas apresentações, vamos conhecer um pouco mais sobre estes instrumentos.

Flauta - A flauta é um instrumento que ao longo da história conheceu inúmeras variações,


inclusive uma das variações é conhecida como flauta celta ou Feadan. Este tipo de flauta,
pertence à classe das flautas de bico (em oposição às flautas transversais). Em composições
musicais provenientes ou inspiradas no folclore celta é fácil perceber a importância da flauta,
sendo um instrumento que proporciona identidade à música por meio de um ritmo encontrado
somente neste estilo de composição musical.
Harpa - A presença da harpa na cultura celta é inegável, tanto que a Irlanda fez deste
instrumento um de seus símbolos nacionais. Este instrumento de cordas é bastante antigo,
surgiu na África por volta do ano 2000 a.C., no entanto, o modelo mais conhecido - chamado
modelo triangular - surgiu no século IX na Europa. Com o passar dos anos surgiram duas
variações deste mesmo modelo, e uma delas ficou conhecida como harpa irlandesa ou celta.
Este tipo particular de harpa, cujo nome em gaélico é Clasrsach, difere-se pela sua coluna curva
e seus sete ditals ou alavancas que são pressionadas com os dedos para mudar a afinação das
cordas. Na sociedade celta, os harpistas eram considerados pessoas privilegiadas por ter o dom
de tocar este instrumento, tido como sagrado.
Gaita de Foles - A origem deste instrumento é discutível. Crê-se que se surgiu na Ásia e os
romanos a levaram para a Escócia, onde criou raízes e tornou-se um símbolo nacional. Neste
instrumento de sopro, o ar é retido em uma bolsa - chamada odre - e, posteriormente, ele é
dirigido aos tubos de saída providos de palhetas.
Bodhran - O bodhran é um instrumento bastante peculiar na música celta. É uma espécie de
tambor, onde o couro de algum animal é esticado sobre um arco de madeira. Tradicionalmente,
a matéria-prima do arco é o tronco de freixo (árvore de madeira amarelada e dura, comum na
Europa) e o revestimento é feito com pele curtida de cabra, cervo ou bezerro. Este instrumento,
conhecido também como tambor irlandês, pode ser tocado com as mãos ou baquetas.
Músicos
Os músicos, para os celtas antigos, eram vistos quase como figuras religiosas, graças ao
significado religioso que povoava o âmago da música. Hoje em dia, os músicos que conservam
a expressão celta não guardam, todavia, esta rigidez contemplativa quanto à produção musical,
ainda que, muito dos temas venham impregnados de referências à Natureza e ao respeito com
Ela.
A ESCRITA OGHAN
(Não foi possível identificar a fonte)

No forte de Valitadagh, na Península Dingle, Irlanda, encontram-se as únicas nove pedras


Oghan existentes no mundo. Elas são assim chamadas por suas aparentemente misteriosas
esculturas gravadas em suas superfícies. As marcas são do alfabeto Oghan, a mais antiga
forma de escrita irlandesa. Acredita-se que os Celtas iniciaram a forma de escrita Oghan para
marcar os túmulos. O nome Oghan é derivado de Oghna, o Deus celta da elocução ou
conversação.
O uso da escrita Oghan na Irlanda começou por volta do terceiro século antes de Cristo. O
alfabeto Oghan consiste de grupos de uma a cinco linhas padronizadas sobre uma vertical,
conhecidas como flesc. Cada grupo representa uma letra ou número diferente.
O uso mais freqüente para o alfabeto era para inscrições comemorativas. As pedras
originalmente eram colocadas de pé, e tanto a escrita quanto a leitura eram verticais,
percorrendo-se toda a borda da pedra. As informações lidas são nomes de homens, cujas
indicações apontam para seus ancestrais e para o Deus de culto da tribo.
Quando os cristãos chegaram à Península Dingle, séculos após os Celtas, viram as pedras
Oghan e os símbolos pagãos que alí havia e então trataram de deixar suas próprias marcas,
cravando sobre as pedras, as cruzes de seu "cristianismo".
A ARTE CELTA
(Não foi possível identificar a fonte)

Através dos séculos, a arte celta evocou um mundo denso e mutável no qual nada é o que
parece à primeira vista: um mundo poético e artístico da consciência. A matéria pode fundir-se
e assumir formas. Deste modo, uma planta se tranforma num rabo se ondula e desenvolve uma
cabeça, patas e unhas, dando lugar a animais extraordinariamente flexíveis que se devoram
mutuamente.
A arte celta e sua expressão figurativa têm uma evolução original, embora nutrida por
empréstimos da arte dos povos mediterrâneos, romanos, gregos e etruscos. Os temas típicos
são, muito mais do que figuras humanas, os seres sobrenaturais zoomorfos (com forma de
animais) e os elementos vegetais, desenhados com linhas curvas e flexíveis. Com sua
predileção pelas formas curvilíneas, os celtas usavam muito o compasso, decompondo e
recompondo as figuras a ponto de torná-las quase abstratas.
Mesmo os elementos inspirados na arte clássica de Grécia e Roma sofriam mutações,
integrando-se no rico universo imaginário dos celtas, povoado pelos mistérios da floresta e
cheio de reverência diante da natureza. O melhor período do casamento da arte celta com a
dos demais povos data do século III a.C., coincidindo com a época de sua maior expansão
geográfica.
Quatrocentos anos depois, a arte especificamente celta desaparecerá do continente europeu
sem deixar rastros. Sobreviverá, porém, nas Ilhas Britânicas para ressurgir, resplandecente, na
arte cristã da Irlanda medieval. Elementos da velha arte celta reaparecerão também na arte
gótica, com sua obsessão pelas linhas curvas na representação das formas vegetais quase
sempre frequentadas por seres fantásticos ou monstruosos.Há quem veja nessas tramas com
motivos animais ou vegetais, assim como no gosto predominante entre os celtas pelas linhas
sinuosas, um parentesco com as artes decorativas européias do fim do século passado. A
proximidade entre a arte celta e tais correntes artísticas "anticlássicas" surgidas mais de dois
milênios depois é interpretada como indício de que os celtas foram os primeiros europeus a
promover uma rebelião artística contra o classicismo oficial de Grécia e Roma. Vítimas do
conquistador romano, os celtas teriam praticado uma arte de protesto contra a opressão das
normas acadêmicas.
MITOS CELTAS E DA GÁLIA
(Enciclopédia da Mitologia Universal)

Para os primitivos celtas, o mito suplantava a própria história. Em nenhuma outra sociedade se
dava tão perfeita simbiose entre a realidade e a irrealidade, a narração e a fábula, o exotérico e
o esotérico. Já o grego Estrabão, que nasceu pouco antes de começar a nossa era, menciona
os celtas na sua volumosa obra geográfica, baseando-se em escritos de anteriores historiadores
clássicos, e faz menção à semelhança de ritos e costumes entre povos que, graças às contínuas
migrações daqueles tempos, geminavam as suas raças até chegar a uma posterior simbiose.
Também cita algumas das suas peculiaridades, as quais fazem este povo primitivo mais atrativo
do que outros muitos daquela época.
Sabe-se, por exemplo, que os celtas adoravam as águas dos diferentes mananciais e
consideravam sagradas todas as fontes. Em torno delas teceram variedade de lendas, algumas
das quais sobreviveram até aos nossos dias. Havia um deus das águas termais chamado:
Bormo, Borvo ou Bormanus - conceitos que têm o significado de "quente", daqui derivará
Bourbon, ou "luminoso" e "resplandecente" -, com que era reconhecido também, em ocasiões,
como o deus da luz. E o seu ancestral culto daria lugar à comemoração das célebres festas
irlandesas -as "Baltené" -, que se celebram no primeiro de Maio.
Muito freqüentemente, os heróis celtas consideravam-se filhos do rio Reno – pois da margem
direita deste rio provinha essa etnia celta que invadiu a Gália, as Ilhas Britânicas, Espanha,
parte da Alemanha e a Itália e o vale do Danúbio -, dado que sentiam a necessidade de ser
purificado pelo poder catártico da água.
Não obstante, a deidade mais peculiar das águas era Epona - assimilada do mundo grego -,
que sempre ia montada a cavalo, animal que o deus do mar, Possêidon, tinha feito surgir
com o seu tridente, tal como ficava registrado na mitologia clássica, pelo qual também era
considerada entre os celtas como uma deusa eqüestre. Havia também uma espécie de
padroeira de mananciais e fontes à qual os galos denominavam Sirona.

Montanhas
É o galo, portanto, um povo de costumes ancestrais que introduz na história, talvez sem
querer, o valor mágico da arte, dado que há mais de quinze mil anos representava nas paredes
de ocultas covas uma série de estilizadas figuras que, na opinião de modernos investigadores
da pré-história, estavam carregadas de simbolismo, e pelo menos - especialmente ao
representar o corpo de alguns animais, que lhes serviam de alimento, atravessados com flechas
ou lanças como uma premonição mágica da sua posterior captura -, pretendiam aproximar a
realidade da sua imagem até identificar ambas. Trata-se, portanto, de um povo que se
caracteriza por introduzir nas suas legendárias epopéias, transmitidas habitualmente de forma
oral, elementos mágicos e simbólicos que conformarão o mito do seu ancestral e da sua
idiossincrasia, como raça e como etnia única.
E, assim, os galos tinham uma concepção animista da natureza e da matéria – as coisas estão
cheias de deuses e de demônios e têm vida - e, pelo mesmo motivo, consideravam sagradas
as montanhas e, de forma especial, as suas cumeeiras e picos, onde se levavam a cabo rituais
similares aos que se realizavam no Reno ao submergir nas suas águas os recém-nascidos; se o
menino sobrevivia passava a ser filho legítimo dado que tinha um protetor, o rio Reno, comum
a ele e ao seu progenitor. Algumas cumeeiras de montanhas eram consideradas como morada
das deidades celtas e, nas suas cimeiras, se erigiam templos em honra aos deuses que
melhor protegeriam estes lugares de silêncio e recolhimento. Eram consideradas como
deidades a Montanha Negra e algumas cumeeiras dos Pirineus. De resto, a semelhança com
os lugares sagrados da mitologia clássica, tais como o Olimpo e o Parnaso, era evidente.
Bosques
Uma etnia, como a celta, que enchia as regiões em que habitava com infinidade de seres
fantásticos, tais como fadas, gnomos, silfos, duendes e anões, tinha que conseguir
lugares idôneos para o acomodo de semelhante figuras. E é assim como surge a preocupação e
o respeito pela vegetação, pelas ervas, pelas árvores; o bosque erige-se em santuário celta, e
as suas árvores - com as raízes procurando as profundidades da terra, e os ramos abrindo-se
para o horizonte amplo do espaço exterior -, simbolizam a relação constante entre o que está
abaixo e o que está acima, entre o imanente e o transcendente.
Seguindo o seu critério animista, os galos consideravam os seus bosques cheios de vida e,
muito especialmente certas árvores, da família dos Quercus, que neles cresciam. Entre estas,
talvez o ritual mais oculto e eficaz fosse aquele das azinheiras, às quais se tinha um respeito
religioso e transcendental, carregado de veneração. Era uma árvore bendita e, quando ardia,
tinha a virtude de curar doenças. Talvez a tradição, que ainda dura, das fogueiras de São João
tenha a sua origem em certos ritos celtas relacionados com a chama catártica da azinheira ao
arder.

Simbolismo vegetal
Aqueles que passassem pelo tronco oco das árvores do bosque seriam preservados de todas as
doenças e todos os males. E, no caso do carvalho, tornava-se tão patente o seu caráter
totêmico que era consagrado ao deus celta Dagda, que era uma deidade criadora que
encarnava o princípio masculino, ao passo que o princípio feminino era do Ágárico. Só os
druídas - poderosos sacerdotes galos -, com as suas podadeiras de ouro e revestidos com
túnicas brancas, numa cerimônia plena de pompa, podiam cortar e colher o agárico que crescia
pegado aos carvalhos. A cerimônia ia presidida por um ritual consistente em sacrificar touros
brancos aos deuses; também o tecido onde se depositava o agárico podado devia ser branco.
Havia também outras plantas que se utilizavam para curar as doenças contraídas por alguns
animais e, para colhê-las, era necessário seguir um ritual consistente em utilizar somente a mão
esquerda, jejuar e não olhar para a planta no momento de arrancá-la. Caso contrário, não
surtiria o efeito desejado.
O carvalho, então, aparecia entre os celtas carregado de simbolismo e, pelo mesmo motivo,
representava a boa acolhida, a tutela e o apoio.

Simbolismo animal
Também os animais eram objeto de culto e veneração entre os galos. Alguns grupos tribais
utilizavam o nome próprio de um determinado animal para, assim, mostrar-lhe a veneração e o
culto devidos.
Por exemplo, a tribo dos "Tauriscí" recebia esse nome porque os seus componentes estavam
considerados como "os homens e mulheres do Touro". Os "Deiotarus" pertenciam ao grupo do
Touro deífico. Os "Lugdunum" eram chamados assim porque habitavam na colina do corvo. Os
"Ruidiobus" apareciam associados com o javali e o cervo. A tribo dos "Artogenos" era um povo
ligado à existência de animais como o urso. E até havia uma deusa que recebia o nome de
"Artío", e aparecia representada com a figura de uma ursa.
A verdade é que existem numerosas representações artísticas que mostram a importância que,
entre os celtas, adquiriria o totemismo animal. Existia também, uma abundante espécie de
legislação não escrita, que é uma conseqüência direta desta consideração sagrada dos animais,
pela qual os povoadores celtas se mostrarão escrupulosos à hora de conseguir os seus
alimentos. Por exemplo, entre os celtas não se consumia carne de cavalo, dado que este era
um dos animais considerados sagrado e exclusivamente destinados a trabalhos bélicos.
Certos animais, como a lebre, eram utilizados pelos povoadores galos com fins relacionados
com a predição profética e a visão futura. Também o frango, o galo e a galinha eram animais
venerados pelos galos e a sua carne não podia comer-se.

Deidades sangüinárias
O curioso é que, ao lado de tanto respeito pelos animais, os galos praticavam sacrifícios
cruentos de seres humanos que ofereciam a umas deidades consideradas desapiadadas. Entre
estes deuses cabe destacar Esus, Teutatés e Tarann; o primeiro deles era um deus
lenhador, considerado como dono e senhor de campos e vidas. Era muito similar a um deus
secundário do panteão clássico, especialmente do romano, que tinha os mesmos atributos
que a deidade gala e que levava por nome Herus.
O segundo deles estava considerado como um deus relacionado com a população, com o povo,
pois "Teutatés" guarda relação com uma palavra celta que significa povo. Não parece, de
resto, que tenha muito que ver com a existência de uma deidade sangüinária que exige
vidas humanas.
O último dos três enumerados, Tarann - também chamado Taranis -, deriva o seu nome da
palavra gala tarah, que significa "relâmpago", e estava considerado como o deus do fogo e
das tempestades. Também aparecia, às vezes, como uma deidade relacionada com outros
elementos essenciais diferentes do fogo, tais como a água, o ar e a terra, sobre os quais
incidiria como uma espécie de princípio ativo.
Também foi relacionado com o conhecimento e a intuição, pelo qual não parece que seja um
deus merecedor de semelhante barbaridade como era o sacrifício de vidas humanas.

O caldeirão da abundância
E dado que a mitologia gala contém mais de cem deidades, a variedade está assegurada. Isto
é, que ao lado dos anteriores, considerados pelos narradores de mitos como sangüinários,
existem outros de características radicalmente opostas. Por exemplo, neste sentido, cabe citar o
benéfico e altruísta, se se me permite a expressão, deus celta Dagda. Este era conhecido
pelo atributo do caldeirão da abundância - entre os celtas, o caldeirão era um dos objetos
carregados de simbolismo mágico e mítico, pois no seu fundo se guardavam as essências do
saber, da inspiração e da extraordinária taumaturgia -, com o qual alimentava todas as
criaturas. E não só ficavam satisfeitos de forma material, mas também, os que acudiam ao
caldeirão generoso de Dagda, sentiam saciadas as suas apetências de conhecimento e
sabedoria.
Outra qualidade do deus Dagda era a sua relação direta com a música e com o seu poder
evocador. Um dos seus atributos era precisamente a harpa, instrumento que manejava com
habilidade e arte e que lhe servia para convocar as estações do ano. Arrancava também tão
suaves melodias deste instrumento que muitos mortais passavam deste mundo para o outro
como num sonho, e sem sentir dor alguma, sem sequer repararem nisso.
O deus Dagda foi uma espécie de Orfeu céltico e, entre os seus descendentes, cabe citar
Angus que cumpria entre os irlandeses as mesmas funções que o Cupido clássico. Angus era
a deidade protetora do afeto e do amor e, em vez de lançar dardos ou flechas, atirava
beijos que não se perdiam no ar, senão que se convertiam, depois de terem cumprido, por
assim dizer, a sua missão, em dóceis e delicadas aves que alegravam com o seu melodioso
trinar a vida dos felizes apaixonados.
Dagda também teve uma filha chamada Brigt que foi considerada pelos celtas como a
protetora das artes declamatórias e líricas. Encomendou-se-lhe o patrocínio da cidade e,
entre os galos, era a que guardava o caldeirão do conhecimento, a sabedoria e a ciência.

Gigantes e heróis
Houve outros deuses celtas que quase eram réplicas perfeitas das deidades clássicas. Tal é
o caso do deus Mider, cujas características são muito similares ao Plutão dos clássicos, pois
estava considerado como o deus que governava os abismos subterrâneos e infernais.
Sempre era representado com um arco, que sabe utilizar com extrema habilidade, e que lhe
serve para selecionar as suas possíveis vítimas, que escolhe tanto entre os heróis como entre
os mortais. Em certas ocasiões foi comparado com uma espécie de Guilherme Tell galo.
Cabe também citar outras criaturas que povoavam a região dos celtas e que guardam também
certo paralelismo com outras similares no mundo grego e romano.
Trata-se de seres de tamanho descomunal e desproporcionado; de gigantes que, como o
irlandês de nome Balor, quase não podia mover as suas pálpebras - diz-se que tinham que
lhas segurar com uma forquilha para que se mantivessem levantadas - e, no entanto, era capaz
de infringir as suas infelizes vítimas um mal irreparável, para o qual não havia remédio. Trata-
se do incurável mau-olhar. Na mitologia clássica existem personagens parecidos entre a raça
dos ciclopes, que tinham um único olho, de grandes proporções, no meio da sua fronte.
Outros heróis celtas legendários, cuja personalidade difere radicalmente da do gigante Balor,
são o rei Fionn e o herói Bran. Do primeiro diz-se que tinha tanto poder que, quando se
enfurecia, era capaz de cobrir de neve toda a Irlanda durante um longo espaço de tempo.
Do segundo se conhece uma das suas mais célebres empresas, que é a contida naquela
legendária narração em que se descreve como o herói mítico Bran, para travar batalha com
os seus inimigos, foi capaz de atravessar a pé o mar da Irlanda.
Também cabe mencionar a lenda do mais conhecido dos reis legendários celtas, cujas
aventuras foram colhidas em escritos galos e irlandeses e que era apresentado ora como um
deus, ora como um herói imortal e, em ocasiões, como um simples mortal que luta contra o
invasor anglo-saxão. O ciclo medieval do Rei Artur narra as façanhas deste personagem
mítico, de resto ajudado na sua luta por deidades possuidoras de poderes maléficos e
benéficos ao mesmo tempo. A importância que se atribui ao episódio da procura do Santo
Graal, baseado numa crença medieval cristianizada, e a série de personagens - como os
Cavaleiros da Távora Redonda, Percifal e Lancelote, etc - e circunstâncias que se sucedem para
descobri-lo, tem já um precedente na mais ancestral tradição celta. Isto é, naquela que
relaciona o herói Artur com o achado do caldeirão mágico, do qual se apoderou, mas quando
o subia para o navio, encontrou-se que a sua tripulação tinha crescido demasiada e não cabiam
na nave. O certo é que na Irlanda existem inumeráveis narrações míticas, cheias de encanto e
mistério, que serviram de inspiração, em numerosas ocasiões, a qualificados artistas e
escritores de todos os tempos.

O herói Cuchulainn
Um dos ciclos míticos celtas mais cheio de interesse, e no qual os seus protagonistas se
transformam em heróis imortais, no sentido de que sobreviverão na tradição popular para
sempre, tem lugar nos tempos de um legendário soberano que se supõe que desenvolveu as
suas atividades pouco antes do início da nossa era. O seu nome era Conchubar, e tinha-se
erigido em rei do Ulster depois de ter tirado o trono a Fergus, anterior soberano do citado
reino. Dado que aquele se tinha servido de diversas estratagemas e enganos para conseguir os
seus propósitos, os partidários deste último não demoraram em reagir e, para derrocar
Conchubar, destruíram a capital do Ulster. No entanto, a descrição desta epopéia leva-nos a
considerar a chegada à história das legendárias sagas de um dos heróis mais célebres da
mitologia celta: trata-se de Cuchulainn. Este travou cruentas batalhas com as suas armas
invencíveis e jurou sempre fidelidade ao rei do Ulster.
Cuchulainn tem muito em comum com os heróis clássicos, com o próprio Aquiles - destacado
protagonista da Ilíada -, por exemplo. O herói em questão nasceu da união entre um deus e
uma mulher mortal e, assim, o seu pai foi a poderosa deidade Lugh, que podia chegar com os
seus enormes braços -o termo Lugh significa "o dos compridos braços" - aos lugares mais
afastados e recônditos. A mãe de Cuchulainn foi uma irmã do rei Conchubar, pelo qual este
era o tio dele.
O nome que impuseram ao herói ao nascer foi Setanta, mas quando ainda não tinha feito os
sete anos, já deu provas duma força sobre-humana, pois matou um cão sangüinário e de
poderosas mandíbulas, que até a essa altura ninguém tinha conseguido vencer. O amo do
terrível animal era um ferreiro que se gabava da ferocidade do seu cão até que, numa ocasião
que convidou o rei Conchubar para um banquete, este levou consigo o seu jovem sobrinho,
que matou ao até a essa altura invencível cão. O ferreiro chamava-se Culann e, pelo mesmo
motivo, a partir de então, passaram a denominar o rapaz Setanta Cuchulainn, conceito que
significa "o cão de Culann".
Uma série de circunstância, façanhas, acontecimentos, ocorrerão, a partir de agora, ao jovem e
recente herói Cuchulainn. E, no decurso da célebre epopéia, outros personagens - o valente
lutador Crunn, a sua esposa Macha, os cavalheiros da Rama Vermelha... - virão completar a
série de aventuras sucedidas num tempo mítico, embora a narração se situe nos inícios da
nossa era e num determinado lugar do condado do Ulster.
O relato explica que Cuchulainn nunca era vencido pelos seus inimigos porque, no fragor da
batalha, quando a ira o dominava, tinha a propriedade de transformar a sua imagem física,
devido ao fato de o seu corpo desprender grande valor coragem, o qual fazia parecer o herói
como um ser terrível e temível.
Também noutra ocasião, o nosso herói matará três gigantes que, à sua força física, uniam a
capacidade maléfica de utilizar certos poderes mágicos com os que venciam todos os seus
oponentes. Os gigantes tinham desafiado os cavalheiros da Rama Vermelha e estes decidiram
pedir ajuda a Cuchulainn, que, sem pensar duas vezes, se pôs da parte deles e venceu os
gigantes.
Era tanto o valor e a coragem de Cuchulainn, perante os seus inimigos, e aumentava tanto a
sua fama de invencível de dia em dia que até os próprios deuses solicitaram a sua ajuda em
várias ocasiões, para conseguir vencer outros deuses. Como saiu vitorioso o bando em que
Cuchulainn lutava, este foi convidado a permanecer entre os vencedores; deram-lhe todas as
classes de presentes e até se lhe permitiu corresponder ao amor solícito da deusa Fand.
Mas, dado que Cuchulainn já estava casado com uma mulher mortal, decidiu abandonar a
morada da bela deidade e regressar com os seus. A deusa Fand, não obstante, entregou ao
herói armas poderosas que sempre lhe outorgariam a vitória perante os seus adversários,
fossem estes deuses ou criaturas mortais.
A mulher de Cuchulainn era filha de um célebre e poderoso mago que, em princípio, se tinha
negado ao casamento desta com aquele. Mas a rapariga, de nome Emer, era tão bela que o
herói decidiu raptá-la; para isso derrubou o castelo mágico onde o seu pai a tinha encerrado, e
matou-o a ele e todos os que a guardavam. Embora se tratasse de lutar contra um mago e o
castelo estivesse protegido com sortilégios e feitiço, nem por isso se arredou o aguerrido herói
Cuchulainn dado que, anteriormente, ele tinha sido iniciado no mundo da taumaturgia por
uma prestigiosa maga que tinha a sua morada na região de Alba (Escócia). Antes de separar-se
da sua habilidade, e uma vez que já o herói Cuchulainn conhecia já perfeitamente a arte do
encantamento, derrotou uma acérrima inimiga daquela: a belicosa guerreira amazona Aiffé. A
lenda explica que ambos os adversários mantiveram relações íntimas e que até, quando o
herói abandonou aqueles territórios, deixou a amazona grávida.
No entanto, Cuchulainn alcançou a verdadeira dimensão de herói na refrega mais célebre de
toda esta epopéia, isto é, na "Batalha de Cooley". A intervenção do jovem herói foi definitiva
para que o mítico "Touro de Cooly" fosse devolvido ao reino do Ulster; além disso, aqui
consolidou definitivamente a sua hegemonia e ganhou para si o título de "campeão dos Ulates".
Tudo sucedeu porque a cobiçosa Maeve - que era uma fada malévola, que reinava sobre as
outras fadas, que tinha atemorizado todas as suas companheiras e que conhecia todos os
sortilégios e conjuros - desposou o soberano duma região limítrofe do Ulster. Como prenda de
casamento recebeu do seu esposo um belo touro branco. Nenhum outro exemplar o igualava,
salvo o touro negro que tinha o rei do Ulster. Maeve, que era muito rica, ofereceu ao soberano
deste condado, isto é, a Conchubar, todos os bens pecuniários que lhe pedisse, em troca
daquele animal tão belo e único. Mas todas as suas propostas foram rejeitadas e, então, a
malvada Maeve decidiu roubar o touro do Ulster. E para lá se dirigiu com o seu exército, não
sem antes evocar uma espécie de conjuro que paralisaria todos os guerreiros do seu oponente.
No entanto, tais artes não fizeram efeito em Cuchulainn, dado que tinha por ascendente um
deus e, quando o exército de Maeve se aproximava confiado aos confins do reinado de
Conchubar, saiu-lhes ao caminho o mais temível e poderoso de todos os legendários heróis
que havia no mundo da fábula. Com as suas armas poderosas, com os seus poderes mágicos e
com a sua coragem e força, Cuchulainn enfrentou todo o exército daquela fada má - já
resulta curioso descobrir que nem todas as fadas eram boas - e, depois de cruentos combates,
acabou com todos os seus inimigos, que não puderam equilibrar os terríveis efeitos das armas
que a deusa Fand lhe tinha dado. O touro roubado será restituído por Maeve ao reino do
Ulster.
Mas algumas das cenas que sucedem na batalha fazem Cuchulainn chorar de dor e de pena.
É o caso que, com o exército adversário, viajava outro grande herói chamado Ferdia, célebre
pelo seu arrojo e valentia e que ninguém tinha vencido. Cuchulainn e Ferdia eram amigos
desde a infância e tinham-se prometido, em inumeráveis ocasiões, ajuda mútua. Nenhum
queria lutar contra o outro, mas a malvada Maeve conseguiu embebedar Ferdia e enganá-lo
com fingidas promessas de amor, até que conseguiu ver enfrentados ambos os heróis.
Inicia-se uma dura e sangrenta luta corpo a corpo, na qual um dos dois corajosos jovens tem
que morrer. Os dois são valentes e fortes, mas Cuchulainn tem mais experiência na luta e
melhores armas e, embora ao princípio ambos os adversários tomassem aquilo como uma
brincadeira e não se fizessem mal algum, no entanto, em breve mudou o ar do seu confronto e
um tremendo golpe da espada mágica de Cuchulainn acabou com a vida do seu amigo da
infância. A morte de Ferdia foi considerada por Cuchulainn como uma perda irreparável para
ele e, diz a lenda, que caiu de joelhos lá mesmo, e dos seus olhos brotaram lágrimas de
arrependimento que regaram o corpo inerte do seu antigo camarada.
No entanto, e embora o herói Cuchulainn tivesse um deus por ascendente, ele próprio não
era imortal e a epopéia do seu combate contra as hostes da malévola Maeve prossegue até
que chega a um trágico final. O caso é que ainda o herói do Ulster tem que lutar contra outros
guerreiros poderosos, aos quais Maeve transferiu a sua magia e as suas más artes. Entre estes
destacará quem, com a sua ingente prole - segundo a lenda tinha vinte e sete filhos -, enfrenta
Cuchulainn e lhe arrebata a sua lança mágica. Depois lhe provoca graves feridas por onde
brota muito sangue e o herói, que vê chegado o último momento para ele decide atar-se com o
seu cinto de couro a uma coluna para morrer em pé.
Conta o relato que o seu cavalo se afastou, depois de o roçar com o seu focinho, daquele lugar,
a todo o galope. Quanto a Emer, esposa do malogrado herói, morrerá desfeita em lágrimas
sobre o cadáver de Cuchulainn. Já à beira da morte, ainda conseguiu partir com a sua
poderosa espada o aço do inimigo que se aproximava para lhe cortar a cabeça, pois existia esse
bárbaro costume naquela altura, conseguindo assim não morrer decapitado.
Houve outras sagas de aguerridos heróis entre os celtas, além de Cuchulainn, Por exemplo, a
do guerreiro Finn que, segundo a narração legendária, foi achado num espesso bosque, ao pé
de uma gigantesca árvore, pelo séquito de um mítico soberano - a sua mãe tinha-o
abandonado quando era um recém-nascido - e era tal a sua beleza que lhe puseram o nome de
Finn, palavra que significa "belo, belo".
Os druidas
O povo celta tinha chegado a tão remotos e afastados lugares que, conseqüentemente,
desenvolveria uma cultura própria e enraizada nas suas particulares crenças. Daqui a
importância que adquirem os diversos mitos celtas, assim como a força de atração que emana
dos seus legendários heróis, alguns dos quais guardam certa relação com os protagonistas da
fábula clássica, especialmente com os gregos.
Mas também há que destacar a importância que alcança o sagrado e transcendente, o esotérico
e o mítico, por esses contornos plenos de mistério. A importância que adquirem por então os
monumentos megalíticos e, por conseguinte, tudo o relacionado com a morte, dará lugar à
formação de sociedades garantes do culto e o rito, tais como os druidas que, segundo as
investigações mais dignas de crédito, já na época neolítica tinham adquirido grande importância
e tradição entre os irlandeses. Depois passariam, das Ilhas Britânicas, para o território galo,
onde, junto com os cavaleiros, se converteriam numa das classes sociais mais influentes e
poderosas daqueles tempos. Também houve outras associações que se ocupavam da
interpretação taumatúrgica daqueles fatos para os quais não se encontrava explicação racional;
por exemplo, os bardos. Inclusive existiram sacerdotisas e magas que praticavam a arte da
feiticeira e desenvolviam uns poderes poucos comuns.
No entanto, a instituição mais importante será a dos druidas. Estes realizavam os sacrifícios às
diversas deidades, pelo que se poderia pensar que eram uma casta de sacerdotes e mais
nada. No entanto, também eles resolviam as diversas controvérsias entre cidadãos, entre
grupos sociais e entre populações diversas; todos estavam obrigados a cumprir o castigo
imposto pelos druidas e todos deviam acatar a sentença por eles ditada, caso contrário era
excomungado e separado dos seus.
Os druidas tinham também um poder mágico que lhes permitia exercer, segundo o povo, como
curandeiros e curadores de doenças da mente e do corpo. Conheciam as propriedades de
diversas plantas e utilizavam, além disso, para os seus salmos e sortilégios, couraças de ouriços
fossilizados, coisa similar ao que, entre a população oriental, sucedia com as marcas das
couraças das tartarugas quebradas pelo fogo, que depois eram objeto de interpretação mágica.
Os druidas eram também considerados magos e adivinhos, e até existia a crença cosmológica
de que eles tinham criado o espaço imenso e os mares e oceanos, que fariam possível o
nascimento dos próprios deuses. O nosso mundo pereceria, na opinião dos druidas, pela água
e pelo fogo; isto mesmo defenderia, na época clássica, a escola grega dos estóicos.
Os druidas também ensinavam a doutrina da metempsicose, ou transmigração das almas, pois
acreditavam que havia outra vida, para além desta, na qual se pagavam todas as dívidas aqui
contraídas. Só os druidas sabiam interpretar as inscrições lapidárias dos "oghams", espécie de
mensagens gravadas em pedras dos recintos funerários que talvez aludam à vida no outro
mundo.
Precisamente a palavra druida significa "o perito adivinho", por cujo motivo tinham a exclusiva,
por assim dizer, da interpretação onírica, do conhecimento mágico do poder das plantas
-especialmente louvavam as virtudes do agárico que só os druidas podiam tocar -, e da curação
e a clarividência.
Jovens seletos eram recrutados para formar a sociedade druídica. Permaneciam durante vinte
anos aprendendo todas as técnicas necessárias para depois serem capazes de interpretar e
memorizar textos sagrados, pois toda a tradição herdada dos antepassados era de viva voz.
Tinham que chegar a dominar a astrologia, a adivinhação, a história e a teologia; o seu
conhecimento dos fenômenos naturais, e da natureza em si, devia ser exaustivo.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O LEGADO DAS LÍNGUAS CÉLTICAS
João Bittencourt de Oliveira (UERJ)

1. INTRODUÇÃO

As línguas célticas formam um ramo da família indo-européia, possuindo certos traços em


comum, principalmente no âmbito da fonologia e do léxico. Tanto no terreno geográfico quanto
no cronológico, essas línguas comportam duas divisões, geralmente conhecidas como o celta
continental e o celta insular. DAUZAT (1940: 46) rotula, com bastante propriedade, as línguas
dessa família como “línguas residuais”.
Celta continental é o nome genérico para as línguas faladas pelo povo conhecido dos escritores
clássicos como Keltoi e Galatae. Durante um período de 1.000 anos (aproximadamente de 500
a.C. a 500 a.D.), os celtas ocuparam uma área que se estendia da Gália à Iberia, ao sul e à
Galácia, ao leste. A maior evidência do celta continental consiste em antropônimos, nomes de
tribos e topônimos registrados por escritores gregos e latinos. Somente na Gália e no norte da
Itália encontram-se algumas inscrições, cujas interpretações são ainda duvidosas. Os celtas que
atingiram a atual Península Ibérica ficaram conhecidos como celtiberos. Foram submetidos por
Cartago e, depois, pelos romanos (século II a.C.). Além de topônimos, o parco conhecimento
que se tem dessas línguas está confinado a alguns traços fonológicos e uma pequena parte do
vocabulário.
O celta insular refere-se às línguas das Ilhas Britânicas, juntamente com o bretão (falado na
Bretanha, França). Embora exista alguma evidência escassa das fontes clássicas -
principalmente topônimos - e algumas inscrições nos alfabetos latino e ogham 2 do final do
século IV ao VIII a.D., a principal fonte de informação sobre os primeiros estágios dessas
línguas são os manuscritos realizados a partir do século VII, em irlandês, e um pouco mais
tarde em outras línguas britânicas.
As línguas insulares dividem-se em dois grupos - o irlandês e o britônico (ou bretão). O irlandês
3 foi a única língua falada na Irlanda no século V, época em que se iniciou o conhecimento

histórico daquela ilha. Os dois outros membros desse grupo, o escoto-gaélico e o manx
surgiram das colonizações irlandesas que começaram naquela mesma época. Houve também
colônias de falantes do irlandês no País de Gales, porém nenhum vestígio desse idioma restou a
não ser algumas inscrições.
O britônico, que parece ter coberto quase toda a Grã-Bretanha e a Ilha de Man, recebeu
marcada influência romana no período da ocupação (43-410) e, a partir do século V, sofreu
forte e desvantajosa concorrência do germânico. Inscrições e antropônimos remanescentes da
Escócia mostram, de modo claro, que ali já se falou uma língua não indo-européia, geralmente
conhecida como Pictish4 “picto”, e que foi mais tarde suplantada pelo britônico. Havia, sem
dúvida, diferenças dialetais dentro da própria ilha, porém os dialetos existentes surgiram da
fragmentação do britônico resultante da invasão da Ilha de Man e da região da atual Escócia
pelos irlandeses e pelas invasões dos anglo-saxões que começaram pelo sul da atual Inglaterra
e que finalmente alcançaram a Escócia. Como se sabe, a Escócia foi desde então dividida em
dois compartimentos lingüísticos - o inglês (também conhecido como Scots) e o gaélico,
atestado já no século V a.D., é ainda empregado no interior da Irlanda, no interior da Escócia e,
muito precariamente, por alguns idosos na Ilha de Man. Um dialeto britônico, hoje conhecido
como cúmbrio perdurou nas fronteiras ocidentais entre a Inglaterra e a Escócia até por volta do
século X, mas nada se conhece a seu respeito. No atual País de Gales, o britônico sobreviveu
como língua dominante até meados do século XIX; atualmente é conhecido como galês, ainda
falado por pouco mais de um milhão de pessoas. Um outro foco do discurso britônico, o
córnico, sobreviveu em Cornwall “Cornualha”, desaparecendo no final do século XIX. Foi dessa
região que, nos séculos V e VI a.D., os emigrantes haviam trazido o Céltico mais uma vez para
o continente europeu estabelecendo uma colônia ao noroeste da França, ainda conhecida como
Bretanha.

2. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
2.1 O celta comum

As tentativas de reconstrução do celta comum (ou protocelta) - a língua mãe que resultou nas
diversas línguas do celta continental e do celta insular - têm sido pouco frutíferas. Embora o
celta continental ofereça indícios em profusão da existência de um sistema fonológico bem
desenvolvido, o mesmo não ocorre no que diz respeito à morfologia e à sintaxe. Nesse domínio,
o velho irlandês, a mais arcaica das línguas insulares, é a que melhor apresenta subsídios para
investigação. Os registros existentes apresentam um quadro de uma língua que guarda certas
semelhanças com o latim e com o germânico comum; isto é, que ainda preserva uma parte
considerável da estrutura da língua ancestral indo-européia e não perdeu as sílabas finais ou
mediais. Seu sistema vocálico apresenta pouca diferença do sistema indo-europeu reconstruído
por Meillet. As diferenças mais significativas são a substituição do *e Indo-europeu por *i
(exemplo, gaulês rix e irlandês ri “rei”; cf. latim rex) e do *o por * a.
O sistema consonantal é também conservador, embora existam alguns traços marcantes,
dentre os quais merece destaque a queda do *p (exemplo, indo-europeu *petër, irlandês athair
“pai”; cf. latim pater5). Essa queda deve ter ocorrido num estágio bem antigo do celta comum;
somente o topônimo Hercynia, preservado no grego, mostra que, em posição inicial, passou a h
antes de desaparecer. Na maioria das línguas célticas conhecidas, um novo p surgiu por
influência do *k endo-europeu. Daí gaulês pempe, galês pimpe “cinco” (cf. latim quinque). Esse
fenômeno levou os lingüistas comparativistas a formularem a hipótese da existência de
*kwenkwe no celta comum.
A morfologia dos substantivos e dos adjetivos não revela mudanças notáveis do indo-europeu.
O verbo irlandês, entretanto, apresenta um arcaísmo surpreendente não encontrado em
nenhuma outra língua indo-européia. Os pesquisadores demonstraram recentemente que as
terminações conhecidas como primárias e secundárias do verbo indo-europeu, como na 3a
pessoa do singular *-(e)t -(e)ti, ambas ocorriam no mesmo tempo verbal. As formas com -i
eram usadas quando o verbo ocupava posição inicial absoluta; as outras formas eram usadas
quando o verbo ocupava posição normal no final da frase. É o que se pode observar nas formas
do velho irlandês beirith 6 (de *bereti) “ele carrega” e ni beir (de *beret) “ele não carrega”.
O problema da relação do celta comum com outras línguas indo-européias continua sem
resposta. Durante algum tempo sustentava-se a existência de uma unidade ítalo-céltica. A
presença de particularidades comuns às línguas célticas e itálicas, como por exemplo, a
correspondência q-p, os genitivos em -i dos temas em -o e a passiva em -r (cf. latim laud-or
“sou louvado”), era o argumento dos que defendiam essa tese. Outro traço comum entre o
céltico e o itálico que também não tem sido convincente é a formação do superlativo dos
adjetivos (cf. latim -issimus; céltico -*samos, *-isamos).
O berço original dos celtas, conforme opinam a maioria dos lingüistas, foi o sudoeste da atual
Alemanha, de onde se viram impelidos para a Gália, para a Espanha, para as ilhas britânicas,
para o vale do Pó, até que, por fim, foram submetidos pelos romanos (século II a. C. - século I
d. C.). Foi na Bretanha, no País de Gales e na Inglaterra que alguns aspectos da língua dos
celtas melhor se conservaram. Pode-se inferir que os celtas haviam conseguido um padrão de
organização social superior ao dos povos germânicos. Basta atentarmos para existência de
palavras como Gótico reiki e andbahts (alemão moderno Reich e Amt) tomadas de empréstimo
aos celtas *rïgion “reino, império” e *ambactos “oficial”. Para os gregos e para os romanos, por
outro lado, os celtas eram de uma cultura inferior. As pouquíssimas palavras célticas
encontradas no grego são as que se referem a instituições, como bardoi 7 “poetas”. Do mesmo
modo, os empréstimos do celta ao latim, os quais derivam principalmente do período anterior à
expansão do poder romano, são também escassos, limitando-se a termos referentes à guerra,
transporte e produtos agrícolas (ver 4.1).

2.2 Registros antigos do celta

O celta desapareceu muito rapidamente na Europa Oriental. A mais antiga evidência do celta
insular, bem como do celta continental, consiste principalmente em nomes documentados por
autores gregos e latinos. No caso da Irlanda, muitos dos topônimos registrados por Ptolomeu
no século II d.C. ainda não foram identificados. A partir do século IV, as inscrições no alfabeto
ogham encontradas na Irlanda se referem apenas a antropônimos. A partir do século V, nomes
britônicos em inscrições latinas são registrados no País de Gales bem como nomes irlandeses
são registrados em latim e em ogham nas áreas de assentamento irlandês. Esses registros,
embora escassos, contribuem de certa forma para a identificação de estruturas similares entre
o britônico, o irlandês e o gaulês. Daí, na Bretanha encontra-se o genitivo Catotigirni, que no
antigo galês dá Cattegirn, e na Irlanda o genitivo Dovatuci, que no velho irlandês dá Dubthaich.
Essas mudanças - a perda das sílabas finais e das vogais de ligação, o enfraquecimento das
consoantes entre vogais, etc. - são muito semelhantes ao que estava acontecendo ao latim na
França na mesma época (cf. avicellus > oiseau, acqua > eau). As explicações sobre as razões
dessas profundas mudanças bem como a época em que elas ocorreram ainda são
insatisfatórias.

3. CARACTERÍSTICAS LINGÜÍSTICAS DAS LÍNGUAS CÉLTICAS INSULARES

As línguas célticas insulares, as únicas cujas formas são mais bem conhecidas, apresentam um
considerável número de traços sem paralelo em outras línguas indo-européias. Alguns lingüistas
têm argumentado que esses traços podem ter resultado da presença de um grande substrato
não-céltico nas Ilhas Britânicas. Embora seja pouco provável que as invasões célticas daquelas
ilhas tenham iniciado muito antes de 500 a.C. ou que os invasores tenham exterminado os
habitantes lá existentes, essa possibilidade não pode ser rejeitada. Por outro lado, algumas
particularidades outrora consideradas exóticas, como o verbo na posição inicial da frase, tem
sido demonstrado de modo bem convincente tratar-se de um desenvolvimento orgânico do
indo-europeu. Outras características, como a contagem em múltiplos de vinte, constituem puras
inovações, porém este sistema é compartilhado pelo inglês (three score and ten) e pelo francês
(quatre-vints).

3.1 Características fonológicas

O traço fonológico mais marcante do celta insular é uma dupla série de consoantes em que
consoantes fortemente articuladas se distinguem de suas correspondentes fracas. As duas
séries eram originalmente apenas variantes fonéticas, com as variantes fortes ocorrendo em
posição inicial absoluta e em certos grupos consonantais e as variantes fracas em outras
posições. Mais tarde, entretanto, as duas séries se tornaram independentes. Mudanças
consideráveis têm ocorrido nas formas fonéticas dessas duas séries a partir do momento em
que as línguas iniciaram a fase da escrita. No irlandês e no galês, no córnico e no bretão o
contraste forte - fraco nas oclusivas sonoras foi substituído pelas oclusivas - fricativas (b-v). O
irlandês possui o mesmo sistema para as oclusivas surdas (t - th); porém o galês, o córnico e o
bretão possuem as sonoras (exemplo: surda t - sonora d). Essas mudanças, por si mesmas, não
são muito diferentes do enfraquecimento de consoantes entre vogais que ocorre em outras
línguas européias ocidentais (compare o galês pader “prece, oração”, do latim pater “pai”, com
o português padre, do latim patre-); porém, no celta insular, elas ocorreram não apenas no
interior da palavra, mas também no interior do sintagma, daí o enfraquecimento da consoante
inicial de uma palavra quando precedida de uma outra palavra terminada por vogal. Quando as
sílabas finais desapareciam na evolução para as línguas modernas, essas variações
permaneceram, estabelecendo-se um sistema de mudanças iniciais. Se, por exemplo, a forma
nominativa do gaélico *sindos kattos koilos “o gato magro” for reconstruída, teremos in catt
coel no velho irlandês após a queda das sílabas finais; porém o genitivo *sindi katti koili “do
gato magro” dará in chaitt choil, com a mudança das consoantes iniciais. O mesmo tipo de
mudança ocorreu num dos dialetos italianos: no toscano, as formas latinas porta, illa porta, tres
portae dão, respectivamente, porta “porta”, la porta “a porta” e tre pporte “três portas”. Em
ambos os casos, o enfraquecimento de consoantes evoluiu da palavra para o sintagma. Esse
desenvolvimento comum, entretanto, não é garantia de que ele seja distintivamente céltico.

3.2 Características gramaticais

Outro traço do celta insular é a ausência de morfema marcador do infinitivo do verbo


encontrado na maioria das línguas indo-européias, como por exemplo, inglês “to study”, “to
write”; português “estudar”, “escrever”. Emprega-se, em seu lugar, um substantivo verbal, cuja
raiz nem sempre é a mesma do verbo. Por ser um substantivo, pode ter como complemento um
substantivo no caso genitivo, que, pelo menos nas línguas mais antigas da família, funciona ora
como sujeito ora como objeto, dependendo do tipo do verbo. Desse modo, do velho irlandês
téit in Ben "a mulher vai" pode-se formar a frase nominal techt inna mná "a ida da mulher"; já
da frase marbaid inna mnaí "ele mata a mulher" pode-se formar marbaid inna mná (lais) "a
morte da mulher (por ele)”. Dentre muitas outras funções do substantivo verbal está seu
emprego, quando precedido da preposição apropriada, com o verbo substantivado para denotar
uma noção aspectual progressiva. Desse modo, para a frase téit in Ben existe uma paralela a
-tá in Ben oc techt "a mulher está a ir" (= a mulher está indo), e a marbaid in mnaí
corresponde a - tá oc marbad inna mná "ele está matando a mulher”. Eis mais um exemplo
curioso: creud adhbhar na moicheirghe sin ort? No português esta frase corresponde a: "por
que você se levantou tão cedo?" Literalmente significa "qual foi a causa desse levantar cedo por
você?"

4. A INFLUÊNCIA CÉLTICA NAS LÍNGUAS EUROPÉIAS MODERNAS


No decorrer dos séculos, a influência céltica nas línguas européias modernas tem sido
cumulativa e pode ser distribuída em três áreas.

4.1 Vocabulário geral: empréstimos


Lancea "arma de guerra". Cf. inglês e francês lance, alemão Lanze, provençal lansa, espanhol
Lanza, italiano lancia, português lança.
Carrus < *karron (*karros) "veículo de quatro rodas". Cf. inglês car, francês car (da antiga
forma normanda char), alemão Karren "carroça" (diferente de Wagen), italiano, espanhol e
português carro.
Carpentum < *carpentos "carro, veículo de carga; veículo de exército, entre os gauleses".
Desse termo somente o derivado carpentariu-s "fabricante de carros" parece ter vingado em
outras línguas. Cf. inglês carpenter, francês charpentier, provençal Carpentier (donde o
espanhol carpintero, o português carpinteiro e o italiano carpentiere).
Cervesia "cerveja". Cf. francês cervoise, espanhol cerveza, português cerveja. O alemão Bier,
o inglês beer e o italiano birra derivam do velho alto alemão bior "bebida fermentada". Somente
o inglês mantém os termos beer e ale para designar o mesmo produto; as línguas escandinavas
somente ale, e as demais línguas germânicas somente beer.
Druid <*dru|wids “aquele que sabe com certeza”. Nome dos primitivos sacerdotes gauleses e
bretões. Cf. francês druide, latim plural druidae, druides, grego druidai < gaulês druides (=
irlandês draoi, genitivo plural druadh, gaélico draoi, draoidh, druidh) < velho celta *derwijes
(donde galês dewydd-on) de *derwos (donde galês obsoleto derw “verdadeiro”, irlandês derb
“certo”), donde o sentido etimológico “adivinho, vaticinador”. Há uma outra hipótese baseada
em *dru “carvalho” (associada aos rituais druídicos com esta árvore). O velho inglês tinha dry
“mágico” < velho irlandês drui. - Os druidas, que formavam uma classe sacerdotal, possuíam
uma doutrina religiosa e filosófica: acreditavam na imortalidade da alma e em reencarnação.
Atribuíam virtudes misteriosas a certas plantas. As suas atribuições judiciárias lhes permitam ter
influência política, social e religiosa sobre as nações celtas (Gália, Bretanha e Irlanda).

São provavelmente de origem céltica as palavras dun “de cor escura” e ass “asno”
(através do latim asinus), todas tomadas de empréstimo no período pré-anglo-saxão.
Quando os romanos finalmente conquistaram a Gália e impuseram sua língua, um certo número
de palavras célticas relacionadas à vida rural penetraram no latim, algumas ainda se conservam
em dialetos franceses como mouton “carneiro”, ruche “colmeia” e arpent “medida de terra”.
Do celta insular provieram, ao longo dos séculos, algumas dezenas de termos ligados
principalmente a acidentes geográficos, muitos dos quais predominam somente no inglês.
Dentre esses termos contam-se:

Do bretão
Dolmen < *taolvean, *tolven "dólmen", monumento druídico, pré-histórico, formado por uma
grande pedra achatada, colocada sobre outras em posição vertical. Os mais famosos dólmens
encontram-se em Cornwall.
Menhir < men hir (de mean "pedra" + hir "longa") "menir", monumento formado por um bloco
de pedra cortado verticalmente.

Do gaélico
Banshee < bean sidhe "espírito feminino" (folclore).
Bog <*bhugh "terra úmida e esponjosa".
Brogue < brog "tipo de borzeguim rústico, de couro cru (usado especialmente na Irlanda e
Escócia)”.
Cairn <carn "pilha de pedras".
Clan < clann "clã", "tribo".
Colleen < cailin, diminutivo de caile, "menina".
Corrie < coire "sorvedouro, remoinho de água".
Crag <*krako "rochedo íngreme".
Crannog < crannog "antiga habitação lacustre".
Gallore < gu leóir "em abundância".
Glen < gleann "vale estreito, ravina".
Loch < loch 8 "lago".
Plaid < plaide "manta ou capa de lã escocesa em xadrez".
Slogan < sluaghghairm "slogan", "lema”.
Strath < strath "vale largo".
Tor < tòrr "pico rochoso e pontudo".
Tory < *tóraighe "perseguidor"; a partir de 1689, nome de um grande partido político
conservador da Grã-Bretanha.
Trousers < triubhas "calças".
Whiskey <uisgebeatha "uísque" (literalmente "água da vida", decalque do latim aqua vitae).
Do galês
Coracle < curach "barquinho dos antigos bretões, feito de vime ou madeira recoberta de couro
ou oleado".
Cromlech < cromlech (de crom "curvado" + lech "pedra") "elevação pré-histórica de grandes
pedras brutas"
Cwn < cwm "vale escarpado".
Flannel < gwlanen "flanela".
Flummery < llymru "tipo de papa ou mingau de aveia".

4.2. Temas, estilos e nomes literários.

Após a conquista da Grã-Bretanha pelos normandos no século XI, os bretões e os galeses


usuários do latim, do francês e do inglês começaram a difundir temas históricos célticos nas
cortes e nos mosteiros da Europa Ocidental. Um elemento chave dessa disseminação foi the
Matter of Britain, cuja forma original francesa, Matière de Bretagne, indica a ligação com a
Bretanha (região e ex-província da França que se estende entre o Canal da Mancha e a Baía de
Biscaia) com a atual Grã-Bretanha. O mais importante desse material são as lendas do Rei Artur
e seus cavaleiros cujos personagens possuem nomes célticos ora afrancesados ora anglicizados,
como Arthur, Gareth, Gawain, Guinevere, Lancelot, Merlin e Morgan. Nesse ciclo literário
podemos observar a fusão de estilos e temas cristãos, clássicos e germânicos presentes nas
pseudo-histórias da Grã-Bretanha, nos romances de cavalaria e nas narrativas do Santo Graal.
A literatura de inspiração céltica em língua inglesa tem continuado desde então. Evidências
dessa continuidade encontram-se, por exemplo, no poema épico Ossian de MacPherson (1736-
96), nos poemas e romances de Walter Scott (1771-1832), nos romances de James Joyce
(1882-1941) e nos poemas de Dylan Thomas (1914-53).
Vale aqui ressaltar que, nas últimas décadas, a música de temática céltica tem marcado sua
presença, através de nomes já de repercussão internacional, como Bill Douglas, Bill Whelan,
Clannad, Enya, dentre muitos outros.

4.3 Topônimos e antropônimos

É, sem dúvida, na toponímia que a contribuição céltica mais se faz presente. O reino de Kent,
por exemplo, deve seu nome à palavra céltica Canti ou Cantion, "borda", "aba"; já os dois
antigos reinos de Deira e Bernica, na Northumbria, derivam suas designações de nomes tribais
célticos. Outros distritos, especialmente os do oeste e do sudoeste, mantêm nos dias atuais os
traços de suas antigas designações célticas: Devonshire contêm no primeiro elemento o nome
tribal Dumnonii, Cornwall significa “galês da Cornualha”, e seu ex-condado Cumberland
(atualmente parte de Cumbria) é a “terra dos Cymry ou Britônicos”. Ademais, num grande
número de centros importantes no período Romano podem ser identificados elementos célticos
corporificados em seus nomes. O próprio topônimo London9 “Londres”, capital da Inglaterra e
do Reino Unido, embora a origem da palavra seja um tanto incerta, muito provavelmente
remonta a uma designação céltica. Se observarmos num mapa da Inglaterra ou mesmo dos
Estados Unidos nomes em que aparecem os elementos win-: Winchester, salis-: Salisbury,
glou-: Gloucester, wor-: Worcester e lich - ou litch -: Lichfield podemos assegurar tratar-se de
origem céltica.
É, porém, nos nomes de rios, montes e lugares próximos a ambientes naturais que sobrevivem
o maior número de topônimos de origem céltica. São nomes de rios de origem céltica: Thames
“Tâmisa”, Avon, Exe, Esk, Usk, Don, Severn, e Wye. Palavras célticas que significam “morro ou
colina” são encontrados em topônimos como bar “topo, cume”: Barr; bre “colina”: Bredon, Bryn
Mawr (literalmente “grande colina”); pen “cume”: Pendleton, dentre outras. Alguns outros
elementos célticos ocorrem também com certa freqüência, tais como cumb “vale profundo”:
Duncombe, Holcombe, Ilfracombe, Wichcombe; tor “rocha alta”: Torr, Torcross, Torhill; pill
“enseada de maré”: Pylle, Huntspill; broc “texugo”: Brockholes, Brockhall; dun “lugar
protegido”: Dundee, Dunbar, bem como o antigo nome de Edinburgh, Dunedin; Kill “igreja”:
Kildare, Kilkenny e -llan “sagrado”: Llangollen, Llandudno. Outros nomes de lugares de provável
origem céltica incluem: Dover “água”, Dublin, Glasgow, York, Ecles “igreja”, Bray “monte”.
Palavras latinizadas como caester (e as variantes caster e cester), Fontana, fossa, portus, vicus
e o elemento -col como em Lincoln10 (< colonia “colônia”) foram empregadas para dar nomes
a lugares durante a ocupação romana da ilha e transmitidas aos anglo-saxões pelos celtas. A
primeira delas castra (< castra “campo” ou "cidade murada"), tornou-se um elemento bem
familiar na formação de topônimos ingleses, sendo os mais importantes: Chester, Colchester,
Doncaster (de Danum, nome de um rio), Dorchester (de Durnovaria "briga de socos", talvez em
referência a competições de pugilismo locais), Manchester (de Manucium "nome de uma colina
em formato de seio"), Winchester (de Venta "lugar especial"), Lancaster, Gloucester (de
Glevum "luminoso"), e Worcester, Rochester (de Durobrivae "ponte fortificada", em que apenas
a sílaba ro pode ser identificada), Caeleon, Cardiff, Carlisle.
No Continente, são de origem céltica os nomes dos rios Danúbio [alemão Donau, de danu-
"rio", através do latim Danuvius]; Reno [alemão Rhein, de Renos "correr, fluir", através do latim
Rhenus]; Sena e Tejo [através do latim Tagu].
Há fortes evidências de influência céltica também na toponímia, tais como: Verdun, Novion,
Metz [através do latim Mettis] e Bourges (na França); Nertobriga, Lacobriga, Turobriga,
Mirobriga, Arcobriga, todos com a terminação -briga, que significa "altura", "montanha"
(Portugal). A estes nomes de lugar podem ser acrescentados: Coimbra [através do latim
Coniumbriga], Bragança, Alcóbira e Ségovia (também em Portugal) e Madrid (na Espanha).
Nomes de pessoas de origem céltica incluem: prenomes tais como Alan, Donald, Duncan,
Eileen, Fiona, Gavin, Ronald, Sheila; patronímicos e sobrenomes em mac ou mc (MacDonald,
McDonald) e O (O’DONALD, O'Neil), e outros como Cameron, Campbell, Colquhoun, Douglas,
Evans, Griffiths, Jones, Morgan, Urquhart.

5. CONCLUSÃO

Muito antes da invasão dos anglo-saxões (século V), as línguas faladas pelos habitantes da
Ilhas Britânicas pertenciam à família céltica, introduzidas por um povo que lá chegara por volta
do ano 500 a.C. Muitos desses povoadores foram, por sua vez, subseqüentemente, subjugados
pelos romanos, que ali chegaram em 43 a. C. Porém em 410 os exércitos romanos haviam se
retirado para ajudar a defender seu Império na Europa. Após um milênio de ocupação por
falantes do celta e de meio milênio de ocupação por falantes do latim, não foram tão grandes
os efeitos sobre a língua dos novos conquistadores: os anglo-saxões.
Ao que parece, muitas dessas palavras célticas não lograram um lugar muito permanente na
língua inglesa. Algumas logo desapareceram, enquanto outras conseguiram somente aceitação
local. O relacionamento entre os dois povos não foi do tipo que causasse qualquer influência
considerável no estilo de vida ou no discurso inglês. Os celtas sobreviventes transformaram-se
num povo submerso. O anglo-saxão teve pouca oportunidade de adotar os modos de expressão
célticos, e a influência céltica permanece como uma das menos relevantes dentre as primeiras
influências que afetaram as línguas do continente europeu em geral e a língua inglesa em
particular.

6. BIBLIOGRAFIA

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Quem são os celtas
(Não foi possível indentificar a fonte)

Não formavam uma tribo única, e sim grupos bastante diferenciados. Os bretões ou kimrys
ocuparam a Bretanha francesa e o País de Gales; os gálatas Asia Menor; os gauleses, grande
parte do que hoje é a França. Os germânicos lhes fizeram uma guerra de extermínio: os boios,
uma de sus tribos, que ocupavam o que é atualmente a Boêmia, lhe deram seu nome, foram
suprimidos pelos germânicos de maneira tão radical que os autores clássicos famaram do
"desertum boiorum", o território osem população. Assim, não se pode falar de uma "raça celta"
e sim diversos povos de diferentes origens que compartilhavam certas características. Alguns
traços comuns de língua, instituições sociais e religiosas e, em geral, formas de vida, permitem
considerar a idéia de um "povo celta".
Até o término do século 5 a.C., os celtas da Europa oriental ou cultura de "Halistatt", extraiam
ferro para fabricação de armas e ferramentas, no tempo que se estendiam por todo o
continente, chegando à França e passando à Peninsula Ibérica, como afirmam os primeiros
historiadores gregos. Para muitos "La Tene" representa a primeira cultura que se pode chamar
propriamente de celta. Os gregos distinguiam entre estes celtas orientais, aos quais chamaram
Galatoi e os do oeste da Europa, denominados "Keltoi". Os romanos especificavam mais, e
chamam "Galli" (gauleses) aos celtas de França; aos das Ilhas Britânicas, chamaram de duas
formas: "Britanni" (britânicos) e "Belgue" (originários de Bélgica).
Compartilhavam uma cultura e costumes religiosos e sociais, tinham uma língua e tradições
artísticas comuns. Estavam divididos em tribos aristocráticas governadas por chefes militares
empenhados em continuas lutas internas. As enormes distâncias que separavam umas tribos
das outras debilitaram a comunicação e favoreciam a desintegração. Ao final do século 3 a.C., a
influência dos celtas na Europa estava em declive. Não transcorreu muito tempo antes que
fossem ameaçados em várias frentes pelos germanos, dácios e romanos. Um século mais tarde,
apenas uma parte do vasto território seguia sob seu controle. Somente a Galia e as Ilhas
Britânicas conservavam sua independência e identidade.
No século 1 a.C., Galia foi invadida pelo imperador Júlio César e incorporada ao Império
Romano. A Grã Bretanha foi rebatizada com o nome de Britania. Os celtas formavam uma
sociedade militar governada por valentes reis e rainhas guerreiros. Além de magníficos
guerreiros, os celtas foram excelentes camponeses. Basearam sua economia num amplo
comércio a aprenderam de gregos e romanos como cunhar moedas.
Todo este tempo, a Irlanda celta, livre de qualquer intento invasor, tinha desfrutado de uma
paz e independência quase absolutas. Como resultado deste clima de tranqüilidade, sua cultura,
tradições e língua (que os lingüistas chamam "goidelic") e que em sua forma moderna se
conhece como "gaélico", puderam sobreviver muito mais tempo que em qualquer outro lugar
do mundo celta. Na verdade, a ordem social da Irlanda permaneceu virtualmente intacta até
muito depois de a ilha se ter convertido oficialmente ao cristianismo. Por esta razão, a mitologia
irlandesa tem conservado sua cultura melhor que qualquer outra mitologia celta.

As crenças primitivas

Como a maioria dos outros povos, os celtas primitivos eram animistas, dedicavam sua adoração
aos espíritos da natureza, do mar, dos rios, montanhas, etc. A adoração desses espíritos
prevaleceu ainda muito tempo depois de haver se desenvolvido culto de divindades pessoais e,
de uma forma ou de outra, continuou em cena, mesmo depois do advento do cristianismo.
Na Irlanda, certas árvores, como carvalho e o fresno, eram considerados com reverência, em
especial alguns que cresciam junto aos poços sagrados e cujo corte era proibido. Uma certa
árvore é descrita como um «deus firme e forte», e a destruição por uma tribo hostil era vista
com terror.
As árvores encarnavam o espírito da vegetação e acabaram sendo honradas como deidades. Se
uma árvore crescia sobre uma tumba, acreditava-se representar o espírito do morto. Toda
árvore que crescia junto a um poço sagrado, era sagrada também. As águas - rios, lagos e
poços — eram sagrados e tinham caráter divino ou serviam de morada a uma divindade. Muitos
rios eram consideravam sagrados por constituir a morada de um espírito ou deusa e, ainda que
não tão freqüentemente, de um deus. Nem todos os espíritos das águas eram benéficos. A
natureza, às vezes era favorável, outras, hostil.
Na Irlanda se prestava juramento em nome de diversos entes da natureza, entre eles a lua, e
tais fenômenos naturais sofriam se tal juramento não fosse cumprido. As atividades agrícolas
começavam com a lua minguante para estimular o crescimento das colheitas. Em algumas
regiões foram encontradas provas de que se celebravam festejos durante a lua nova.
A adoração aos animais, que mais tarde originou divindades com formas e atributos animais, é
universal e também é vista entre os celtas. O javali aparece em muitas insígnias e sua imagem
é vista em moedas. O urso era também uma besta sagrada, e seu nome de arlos surge com
freqüência em denominações de lugares como Arto-dunum ou Artobranos. Também se adorou
o cavalo, que aparece como símbolo em muitas moedas. Adorava-se também a serpente, como
em muitas outras partes do mundo. A serpente estava relacionada com o mundo inferior e, às
vezes, era representada junto a um deus chifrudo, que poderia ser Cernunnos, a divindade do
mundo inferior. O carneiro estava relacionado com a adoração dos mortos, e com freqüência se
encontram estatuetas suas nas tumbas da Galia.

Os Druidas
Os Druidas eram os sacerdotes e magos, mestres e juízes. Desde o início da história celta foram
uma classe educada e respeitada por sua sabedoria e conhecedores de seus próprios poderes
como intermediários entre as tribos e os deuses.
Estes homens eram conhecidos como druidas (palavra que originalmente deriva de um termo
para "o conhecimento do cedro" ou "profundos conhecimentos").
Os druidas formavam uma classe privilegiada, isentos de impostos e serviço militar, isso atraía
grande número de jovens, que buscavam iniciação na ordem, Houve três categorias desses
sábios: os bardos, que imortalizavam a história e as tradições da tribo; os auguristas, que
faziam os sacrifícios e adivinhavam o futuro; e os druidas propriamente ditos, que conheciam as
leis e a filosofia, conservavam a antiga sabedoria celta.
Os bardos adquiriam seu conhecimento pela tradição oral e reconstruindo as genealogias de
seu povo, compunham versos para seus chefes e outros aristocratas. As escolas bárdicas, onde
se ensinavam essas artes, floresceram na Irlanda ao final do século 7.
As atividades jurídicas dos druidas eram de vital importância na sociedade celta. Todos com
jurisdição própria intermediavam disputas individuais, homicídios e pleitos sobre limites
territoriais e heranças. Suas decisões eram indiscutíveis.
Os druidas eram filósofos da sociedade. Eles estudavam os movimentos dos grandes corpos, a
astronomia, o tamanho do universo e da terra, os poderes e as habilidades dos deuses. Outro
aspecto importante era seu estudo sobre a vida depois da morte. Eles pensavam que a alma
não perecia, porém depois da morte, passava de um corpo a outro. Isto influiu em sua grande
valentia na hora do combate.
Em todos os lugares do mundo celta, a sabedoria. a literatura e a religião estavam em mãos de
um sistema altamente organizado que descansava em três principais classes: os druidas, os
bardos e, entre estas duas, uma terceira ordem de adivinhos, conhecidos como "vates" na Galia
e "filidhs" na tradição irlandesa. O posto mais alto era ocupado pelos druidas, considerados
semidivinos. Eles dirigiam o sistema educacional, faziam cumprir as decisões legais e oficiavam
as cerimônias religiosas.
Os celtas foram um povo profundamente religioso, e adoravam uma numerosa coorte de
deuses e deusas. Seus rituais religiosos tinham papel primordial na consolidação do poder dos
druidas e na manutenção da hierarquia social entre os diferentes chefes e tribos. Os "vates"
desempenhavam muitas das funções dos druidas e, em alguns aspectos, constituíam uma
subordem dentro do primeiro escalão hierárquico. A literatura era competência dos bardos, ao
que parece, tão respeitados quanto os próprios druidas.
A maior parte das historias dos bardos se perdeu pela simples razão que não de preocupavam
em escrevê-las. Confiavam na memória da tradição oral.

Lugares de culto
Os primeiros livros medievais que dão normas de conduta revelam que muitas das crenças e
costumes pagãos eram vivos no povo. Uma delas fixa a multa que deverá pagar todo aquele
que faça oferendas votivas a fontes, árvores ou bosques sagrados (lucos). Outro, o Indiculus
superstitionum, da o nome celta destes bosques sagrados, nimidos. Este nome vale por
nemeta, plural de nemeton, que significa lugar ou bosque sagrado.
Há poucas dúvidas de que, entre os celtas, os primeiros lugares de culto foram os bosques,
alguns dos quais continuaram sendo sagrados ainda depois de se terem construído templos
neles. Nos templos devia haver um símbolo, ou imagem do deus que ali se adorava e um altar.
César fala de "um lugar consagrado", onde os druidas se reuniam anualmente, e de «lugares
consagrados» nos quais se amontoavam os despojos da vitória, provavelmente porque os
ofereciam aos deuses.
Apesar de poucas alusões a templos gauleses pré-romanos, há provas de sua existência;
porém, mais que edifícios de pedra, foram de madeira e muito simples. A arquitetura era
parecida com a de templos romanos, e continham também imagens das divindades a que
estavam consagrados.

Deuses e mitologia
Os celtas adoravam uma ampla coorte de deuses e deusas. Apesar de conhecermos o nome
de várias deidades celtas, sua origem é imprecisa. A principal fonte de informação sobre os
deuses celtas insulares são os ciclos do Ulster e o Mabinoglon.
Também encontramos valiosa informação sobre a mitologia destes povos na obra pseudo-
histórica "Livro das Invasões", versão escrita no século 12 onde há uma explicação mitológica
das origens do povo irlandês.

Deuses
Amaethon - Na mitologia celta, filho de Don e deus da agricultura.
Araste - Na mitologia britânica uma deusa guerreira. Ela era invocada pela rainha Boudicca
quando esta se revoltou contra os invasores romanos.
Angus Og - Na mitologia irlandesa, deus do amor e beleza.
Annwn - Na mitologia britânica é o Outro Mundo.
Arduina - Na mitologia celta, deusa das florestas, vida selvagem, caça e lua.
Argetlam - ver Nuada
Arianrhod - Na mitologia galesa celta, Arianrhod ou Arianrod (Roda-Prateada ou Círculo de
Prata) era a virgem branca, deusa do nascimento, iniciação, morte e renascimento. Faz
o circulo do paraíso. Irmã e esposa de Gwydion.
Arianrod - Ver "Arianrhod”.
Aywell - Na mitologia celta protetor dos povos independentes do norte inglês. Marido de
Mm.
Badb - Na mitologia irlandesa, Badb era uma das formas gigantes de Morrigan. Ela era
sufficientemente alta para colocar um pé em cada lado de um rio.
Balor - Na mitologia celta era um rei demônio, deus da morte. Ele governava os Fomori,
demônios que viviam na impenetrável escuridão das profundezas do mar e em lagos e poços
negros. Foi morto por seu filho Lug, com um tiro de estilingue.
Banelae - No folclore gaélico é um espírito feminino cujos lamentos no lado de fora de uma
casa prenunciam a morte de um de seus habitantes.
Bebhionn - Na mitologia celta, Bebhionm era uma giganta que vivia na costa oeste,
conhecida por sua beleza e sedução.
Bel - Bel (Belenos) era o deus celta da luz.
Beltane - Beltane é o festival celta do deus da luz. É comemorado em 1º de maio, sendo o
equivalente na primavera do halloween. É comemorado com danças e fogueiras.
Bladud - Na mitologia inglesa, pai do rei Lear e considera-se ter encontrado Bath, sendo
curado por suas águas.
Blodeuwedd - Na mitologia celta, esposa de Lleu. Foi criada por Gwydion e Math dos ramos
floridos de carvalhos e grama doce, sendo presenteada a Lleu como noiva.
Bran - Na mitologia celta Bran era a gigante que tinha prazer em batalhas e carnificinas. Era
filho de Lir (ou Llyr) e uma mulher mortal. Levou os gigantes de Gales para invadir a Irlanda,
sendo morto por uma flecha envenenada.
Branwen - Na mitologia celta é a deusa do amor. Filha de Llyr.
Brighid - Na mitologia gaélica, Brighid (Brigit) era a deusa da metalurgia, dos ferreiros,
inspiração poética e terapia.
Brigit - ver "Brighid”.
Brownie - Um espírito do folclore popular irlandês. Eram duendes marrons que viviam nas
casas e, se bem tratados, auxiliavam seus ocupantes com as tarefas domésticas enquanto estes
dormiam.
Camulus - Na mitologia celta inglesa era deus de guerra, identificado pelos romanos como
Marte. Deu seu nome à cidade de Camulodunum, agora chamado Colchester.
Cernunnos - Na mitologia celta, deus do submundo e dos animais. Era representado como
um homem portando chifres de cervo.
Cerridwen - Na mitologia galesa, deusa da escuridão e dos poderes proféticos. Ela é a
guardiã do caldeirão do submundo, no qual a inspiração e o conhecimento divino são
fermentados.
Cian - Na mitologia celta, Cian é o deus da medicina. Com He mated with Ethlin who gave
birth to Lug.
Conal Caernach - Mítico herói do reino irlandês de Uladh. Es filho do poeta Amhairghin e da
filha do druida Cathbad, o que lhe dá uma situação privilegiada na sociedade do reino. Era
irmão e tutor do herói Cú Chulainn, herói de Ulster, a quem acompanha sempre em suas
aventuras. Quando pequenos, juraram que se um dos dois fosse assassinado, o outro se
vingaria. Quando a rainha Medb invadiu Ulster, Cú Chulainn enfrentou seu exército sozinho,
porém estava condenado à derrota por ter ofendido Morrigan, deusa da guerra. Após matá-
lo e cortar-lhe a cabeça e a mão direita, os guerreiros do Ulster se alarmaram ao saber o desejo
de vingança de Conal: muitos abandonaram a rainha Medb enquanto ele exterminava os
autores da morte de seu irmão. Conal assolou a Irlanda castigando um por um os aliados da
rainha Medb. Por esta razão obteve seu título, Caernach ("o Vitorioso").
Conchobar Mac Nessa - Rei do poderoso reino de Uladh (Ulster), ao norte da ilha de Irlanda.
Figura representativa do caráter sagrado da realeza irlandesa e personificação do reino. Como
protetor, pacificador, árbitro e juiz supremo, garante a prosperidade do reino. Ainda estava
casado quando se enamorou perdidamente por Deirdre, filha de um chefe de Ulster. No
momento de seu nascimento, um druida predisse que seria a mulher mais bela da Irlanda, mas
também seria a causa da morte e destruição que assolaria o país. Quando Deirdre cresceu,
Conchobar já era velho, assim que o rechaçou e teve um caso com um jovem guerreiro
chamado Naoise, o rei não deixou de amá-la e fez com que assassinassem Naoise, casando-se
mais tarde com Deidre. Ela, desesperada, suicidou-se, jogando-se de um carro em marcha.
Fergus Mac Roth, aborrecido com o comportamiento de Conchobar, passou-se para o lado dos
inimidos de Ulster e começou uma guerra. Conchobar morreu por magia, um projétil feito com
Conal com o cérebro de um rei de Leinster assassinado, que se alojou em seu crânio. Os
médicos aconselharam ao rei repouso e tranquilidade, porém anos mais tarde sofreu um acesso
de fúria e, em conseqüência, o projétil mágico o matou.
Cordelia - Na mitologia galesa-celta, filha de Llyr. Ela tem dois amantes, Gwynn e Gwythr,
que lutam por ela no dia 1º de maio de cada ano e continuarão lutando até o dia do juízo,
quando um deles será vitorioso e casará com ela.
Creidhne - Na mitologia celta, deus dos trabalhos em metal.
Creurdilad - Na mitologia celta, filha de Lludd e amante de Gwyn ap Nudd e Gwyrthur ap
Greidawl. Sua mitologia é a mesma de Cordélia, com mudança no nome dos amantes.
Cuchulain - Herói celta, figura central de um ciclo de lendas irlandesas. Ele é associado com
seu tio Conchobar, rei de Ulster; seus feitos heróicos famosos são descritos no Livro da Vaca
Parda.
Cuchulinn - Na mitologia celta, Cuchulinn é um rei herói de Ulster e filho de Lugh.
Cuculain - Na mitologia celta, apelido de Setanta, o guerreiro filho de Dechtire e Lug. Ele
ganhou este nome quando matou o cão de guarda do ferreiro Culain e concordou em guardar
os campos de Culain por um ano enquanto um substituto era treinado para o trabalho.
Cú Roi - Herói mitológico irlandês do Ciclo do Uladh. Habitante do mundo de além túmulo,
onde possui uma fortaleza acessível só no Samhain e cuja entrada é capaz de ocultar ao resto
dos mortais. É capaz de transformar sua aparência em forma de sombra, monstro ou peixe. É
um juiz de grande prestígio entre os heróis do Uladh. No relato conhecido como o Festim de
Bricriu, quando vários guerreiros buscam seu destaque sobre os demais, Cú Chulainn viaja ao
mundo do além túmulo, em busca do reconhecimento de Cú Roi. Este, por meio de sucessivas
transformações, faz testes, mas é sempre derrotado pelo campeão do Ulster, não tem mais
remédio que reconhecer a sua primazia entre os heróis. É também um personagem relacionado
com o mundo da morte; em sua sinistra fortaleza, os muros são rematados com filas de
cabeças cortadas. Em alguns relatos é conhecido como "O homem do manto cinza" e é descrito
portando um caldeirão, símbolo da ressurreição. Cú Roi morre traido pela própria mulher, nas
mãos de Cú Chulainn, a quem havia humilhado. Como personagem com características
divinas, só podia morrer por sua própria espada; Cú Chulainn a utiliza para matar um salmão
onde, segundo a tradição, se achava a alma de Cú Roi. Segundo outra versão, simplesmente
morreu afogado.
Dagda - "O Deus Bom". Deus da fertilidade, abundância, terra. Senhor da vida e da
morte.
Deirdre - Na mitologia celta, era a bela noiva prometida de Conchobar. Ela fugiu com Noísi,
e morreu de tristeza quando Conchobar matou-o e a seus irmãos.
Diancecht - Na mitologia irlandesa, deus da cura.
Dis - Na mitologia gaulesa era o deus da morte do qual todos os gauleses descendiam.
Druantia - Na mitologia britânica, Druantia era a deusa druida do nascimento,
sabedoria, morte e metempsicose. É a mãe do alfabeto irlandês das árvores.
Dylan - Na mitologia celta, deus da escuridão, um dos filhos gêmeos de Gwydion e
Arianrhod. Ele era um deus do mar.
Elaine - Na mitologia celta, Elaine (Lily-Maid) era a deusa virgem da beleza e da lua.
Epona - Divindade dos cavalos e das mulas na mitologia gala, que passou a religião celto-
irlandesa con o nome de Edain, cujo culto era um dos mais estendidos em todo o território
europeu, desde Roma até o Danubio, cuja importância variava segundo as regiões. Era comum
representá-la sentada no lombo de um cavalo, ou de pé em meio a uma manada de cavalos e,
com freqüência, é mostrada alimentando os potros. Aparece envolta em largas roupagens – um
tipo de túnica enrolada na cintura, e com um diadema na cabeça. Seus atributos são frutos e a
cornucópia. É provável que, a princípio, Epona fosse vista pelos celtas como uma égua, ou
possivelmente como um grande cavalo branco. Seu equivalente na mitologia galesa é
Rhiannon, esposa de Pwyl, obrigada a carregar as visitas de seu marido até o interior do
palacio. Converteu-se na deidade preferida da cavalaria romana, como provado nas moedas
nas quais há uma deusa com cabeça de cavalo, assim como as múltiplas imagens suas que
adornavam cavalariças e estábulos.
Eriu - Na mitologia irlandesa, deusa do destino.
Etain - Na mitologia celta, Etain (A Brilhante) era a tripla deusa do sol, água, cavalos,
fragâncias, beleza, música e transmigração das almas.
Ethlin - Na mitologia celta era filha de Balor. Balor, aterrorizado pela profecia de que seria
morto pelo neto, trancou Ethlin numa torre de vidro e colocou guardas para vigiá-la. Contudo,
Cian disfarçado como mulher, entrou na torre e uniu-se a ela.
Fata-Morgana - Na mitologia irlandesa celta, Fata-Morgana é a deusa do mar, das
ilusões visuais, encantamentos, destino e morte. É a rainha das ilhas Fortunato.
Finn MacCool - Na mitologia celta, profeta irlandês; guerreiro e curandeiro. Ele aprendeu
essas habilidades tocando a carne de Fintan ou, em outras versões, por ter bebericado o vinho
divino.
Fintan - Na mitologia celta, o salmão da sabedoria, era um metamorfo. Foi o unico irlandês a
sobreviver ao dilúvio mudando sua forma para um falcão para sobrevoar as águas e depois em
salmão para nelas sobreviver. Tendo comido nozes mágicas recebeu todo o conhecimento, mas
ficou preso numa rede e foi comido por Finn MacCool que acabou adquirindo seu
conhecimento e seus poderes.
Fomori - Na mitologia celta são demônios que vivem na escuridão impenetrável do mar,
lagos e poços escuros.
Gawain - Na mitologia celta era filho do rei Lot de Orkney ou do deus-sol Lug. Gawain foi
um dos mais leais e nobres seguidores de Artur.
Gedeon - Na mitologia britânica era uma deusa do oceano.
Goibhniu - Na mitologia celta era deus dos ferreiros.
Govannan - Na mitologia celta, Govannan era a filho de Don e deus da metalurgia.
Gronw Pebyr - Na mitologia celta, Gronw Pebyr é deus da escuridão.
Gwydion - Na mitologia celta, era a filho de Don, um mestre da fantasia e ilusão, que ensinou
aos humanos tudo que é útil e bom.
Gwyn ap Nudd - Na mitologia celta, Gwyn ap Nudd (Gwyn) é o senhor do submundo e
mestre dos caçadores. Ele vive em Glastonbury Tor.
Gwyrthur ap Greidawl - Na mitologia celta, Gwyrthur ap Greidawl (Gwyrthur) é o rival
de Gwyn ap Nudd na afeição de Creurdilad. Ele é um deus solar, representando o dia.
Herne The Hunter - No folclore inglês, Herne o Caçador é o espírito de um caçador que
protege os viajantes através de Windsor. É personagem frequente dos contos de Robin Hood.
Isolda - Na mitologia celta e na lenda medieval, Isolda era a esposa do rei Marcos, da
Cornualha, tendo sido trazida da Irlanda pelo sobrinho do rei, Tristão. Ela e Tristão
acidentalmente bebem uma poção do amor dada por sua mãe para ser consumida no seu
casamento, o que os torna inseparáveis amantes e, finalmente, vítimas fatais deste amor.
Lir - Na mitologia celta Lir (ou Lleyr ou Llyr) era o Velho Homem do Mar.
Lleu - Na mitologia celta, Lleu era deus da luz, irmão gêmeo de Gwydion e Arianrhod.
Lludd - Ver Nudd
Llyr - Na mitologia galesa, deus do mar e relacionado ao irlandês Lir.
Luchtaine - Na mitologia celta era o deus das rodas.
Lug - Na mitologia celta era o sol, deus e mestre de todas as habilidades e ofícios. Ele
era filho do rei demônio Balor.
Lugh - Na mitologia irlandesa era deus da luz.
Mabon - Na mitologia celta, Mabon era o filho da luz, comparado ao Apolo romano. Era o
deus da liberdade, harmonia, música e unidade.
Macha - Na mitologia irlandesa, deusa de jogos atléticos, festivais e fertilidade.
Manannan mac Lir - Na mitologia celta, era o deus do oceano.
Mark - Na lenda celta era rei da Cornualha, tio de Tristão e esposo de Isolda.
Mm - Na mitologia celta, Mm era a deusa do pensamento dos povos independentes do
Norte.
Morrigan - Morrigan era a deusa celta da guerra e da morte.
Naoise - Na mitologia irlandesa, Naoise era o amante de Deirdre. Foi morto por seu tio
Conchobar.
Nemetona - Na mitologia celta, Nemetona era a deusa da guerra.
Nimue - Na mitologia celta era uma metamorfa que amou Merlin. Após uma disputa mágica,
ela capturou-o numa gota de âmbar e engoliu-o.
Nuada - Na mitologia celta era deus da guerra dos escoceses equivalente ao Zeus grego,
já que também era um deus supremo.
Nudd - Na mitologia celta, Nudd ou Lludd é a filho de Beli. He era um deus do céu.
Oberon - No folclore inglês é o rei dos elfos.
Oenghus - Na mitologia irlandesa, filho de Daghdha e Boann. É o deus do amor fatal.
Ogmios - Na mitologia celta, deus da força, da poesia, feitiço e encantamentos.
Ovate - Era um tipo de druida. Seu propósito era observar e inventar. Seu trajo era verde,
simbolizando o surgir da vida.
Penardum - Na mitologia celta, Penardum era a deusa do mar casada com Llyr.
Rosmerta - Na mitologia celta gaulesa, deusa do fogo, calor, prosperidade e abundância.
Salmão da Sabedoria - Ver "Fintan”
Sulis - Na mitologia celta, deusa de profecia, inspiração, sabedoria e morte.
Taranis - Na mitologia druida, deus da roda, associado a forças de mudança.

Tuatha De Danann
O "povo da deusa Dana". Segundo a mitologia irlandesa, foi a última geração de deuses que
governaram Irlanda antes da invasão dos filhos de Milesius, antepassados dos atuais irlandeses.
Os Tuatha De Danann venceram os Fomori, violentos e monstruosos deuses marinhos, na
segunda batalha de Magh Tuireadh, em grande parte graças a seus poderes mágicos. Dizia-se
que tinham aprendido estas artes em quatro cidades mágicas do norte: Falias, Gorias, Finias e
Murias. De cada uma delas, os De Danann levaram consigo para a Irlanda um talismã: a Pedra
de Fal, que lançava um uivo forte quando o verdadeiro rei de Irlanda a pisava; a espada
mágica de Nuada, o grande líder guerreiro, arma cujos golpes sempre eram mortais; a lança
ou a atiradeira do deus solar Lugh que, ao matar a Balor, foi quem conseguiu a vitoria sobre
os Fomori; e o caldeirão mágico de Dagda, pai de todos os deuses, que era uma vasilha de
conteúdo interminável capaz de satisfazer qualquer apetite.
É óbvio que os deuses conhecidos na Irlanda como Tuatha De Danann eram compartilhados
por todos os povos celtas. Seus nomes aparecem nas lendas galesas e em inscrições
encontradas no continente. A chegada do cristianismo não fez seu desaparecipamento na
Irlanda. Fez com que os Tuatha De Danann se retirassem finalmente para mundos
subterrâneos na condição e qualidade de fadas.
Nas antigas festas celtas de Samhain, que se celebrava o último dia de outubro para marcar a
chegada do novo ano, se dizia que os De Danann permitiam aos mortais adentrar em seu reino.
HISTÓRIA DOS POVOS CELTAS
Fonte: MAUROIS, André. História de Inglaterra Aster, Lisboa, s/d.

Entre o quarto e o sexto séculos antes de Cristo, chegaram à Inglaterra e à Irlanda vagas
sucessivas de tribos pastoris que pouco a pouco escorraçaram os iberos. Pertenciam a um povo
celta, cujos territórios imensos se extendiam no Vale do Danúbio, ao norte dos Alpes e na Gália.
Por que se deslocaram?
Provavelmente porque os povos pastores estão condenados a seguir os rebanhos, impelidos
pela fome para novas pastagens. Sem dúvida, também intervieram neste fato causas humanas:
um chefe aventureiro, a ânsia de conquista, a pressão de um povo mais forte. Estas migrações
foram lentas e contínuas. O clã transpunha a Mancha, instalava-se perto do mar; depois
chegava um novo clã e expulsava o que tinha desembarcado primeiro. Este, por sua vez,
obrigava os indígenas a abandonar os terrenos ocupados. As tribos celtas gostavam da guerra,
mesmo entre si. Homens robustos e altos alimentavam-se de carne de porco e papas de aveia,
bebiam cerveja e eram hábeis condutores de carros.
Os escritores latinos e gregos pintavam os celtas como um povo de alta estatura, linfático, pele
branca e cabelos loiros. Na realidade, havia muitos celtas morenos; e os triunfadores
ROMANOS, antes de os incluir no cortejo de escravos, em Roma, segundo a tradição popular,
selecionavam-os e tingiam-lhes os cabelos. Os celtas imaginaram para a sua raça um tipo ideal
do qual tentavam aproximar-se. Descoloravam o cabelo e pintavam o corpo; por isso, mais
tarde, os Romanos chamavam aos Celtas da Escócia de “Picti”, isto é, homens pintados.
Durante a longa e lenta invasão céltica, os historiadores distinguem duas vagas principais:
A primeira, formada por Goidélicos ou Gaélica, que transmitiram a sua língua, o gaélico, à
Irlanda e as Highlands da Escócia;
A segunda, formada por Bretões ou Pritões, cuja linguagem veio a ser a dos galeses e a dos
bretões da França.
O documento que melhor elucida a maneira de viver dos celtas é o Testemunho de Júlio
César. Cada burgo e, pode-se dizer, cada família, estava dividida em duas facções. Os grandes
de cada partido protegiam os seus sequazes. Estes povos não possuíam o conceito de Estado, e
por isso não deixaram idéias políticas. Na Inglaterra e na França o Estado é simultaneamente
criação latina e germânica.
Os celtas que, unidos, seriam invencíveis, desbaratavam a própria valentia e inteligência com
querelas permanentes. O clã celta não era totêmico, mas familiar, o que, embora estreitando
mais solidamente os seus membros, obstou ao desenvolvimento de sociedades extensas. Eis
porque, nos países de origem céltica, a família ainda é a unidade da vida social. Entre
irlandeses, e mesmo entre os que migraram para os Estados Unidos, a política é ainda hoje
considerada problema do clã.
Já na época de César, estes clãs familiares gostavam de cores, emblemas e brasões. Os tecidos
de lã em quadrados dos clãs escoceses deve ter origem céltica. Conforme diz César, a vida em
comunidade rural, campos e pastagens coletivas, que tanta influência há de exercer na história
da Inglaterra, era próprio dos povos germânicos. Entre os celtas, não teria sido compatível com
o sistema de facçôes descrito por ele. Para estes nômades, ainda não fixados, a agricultura era,
aliás, menos importante do que a caça, a pesca e a criação de gado. No país de Gales, a
população deslocava as aldeias a fim de encontrar novos terrenos de caça, pastagens e cultura.
A classe mais respeitada era a dos sacerdotes ou druídas. Nada se assemelhava tanto a estes
druídas como os brâmanes da Índia ou os magos do Irã. Muitas das crenças célticas lembram o
Oriente. A greve de fome, prática irlandesa na qual o druída jejua à porta do adversário até
obter a satisfação desejada é o dharma dos hindús, na Bretanha. No tempo de César, os
druídas mais célebres encontravam-se todos anualmente, numa região central, talvez em
Stonehenge; mas o seu Santo dos Santos era a ilha de Mona (Anglesey). Os gauleses ou belgas
que pretendiam adquirir profundo conhecimento da doutrina iam à Bretanha instruir-se. Aí
aprendiam grande número de versos que resumiam os preceitos sagrados. Os druídas
ensinavam "que a morte não passa de uma transição e que a vida continua em suas formas e
bens no mundo dos mortos que constitui uma reserva de almas disponíveis...". Parece que,
para eles, este capital de almas não se limitava à espécie humana; e que acreditavam na
mentepsicose - o que é mais um traço em comum com o Oriente.
A religião não podia ser obstáculo à romanização da Bretanha. Tolerantes, os romanos
prestaram culto aos deuses desconhecidos com a maior naturalidade. Perseguiam-se o
druidismo e o aniquilaram quase totalmente, foi porque viam nele uma ameaça política. Em
Teutates, o Deus celta da guerra, identificaram Marte.
Nas grandes cidades erigiram templos aos imperadores, a Júpiter e à Minerva. Muitas
inscrições e mosaicos descobertos na Inglaterra evocam as mães, deae matres, deusas, cujo
culto viera sem dúvida do Continente com os soldados estrangeiros. Outros legionários
adoravam Mithra, e até se descobriu em Londres um templo dedicado à Deusa Ísis.
Na Bretanha, como na Gália, os celtas, inteligentes e dóceis após a derrota, copiaram de bom
grado a civilização romana. "Aos professores gauleses da escola dos druídas deve a Gália a
cultura clássica. Na Idade Média os monges irlandeses hão de levar a Europa a prestar culto às
letras gregas e latinas". Os celtas, porém, não foram unicamente bons agentes de transmissão
da cultura estrangeira. Possuíam o gosto das artes; os ornatos em espiral das suas armas, jóias
e cerâmicas atestam uma imaginação superior à dos romanos. À literatura moderna legaram o
sentido oriental do mistério e a concepção dramática da fatalidade, que na realidade lhes era
inata. Foi talvez através dos romances de Tristão e Isolda e do rei Arthur que o gênio céltico
imprimiu a sua marca à Europa. Na formação da Inglaterra moderna os elementos célticos
existentes nas regiões ocidentais das ilhas desempenharam um papel de grande relevo; e no
século vinte, encontramos na presidência de ministérios e a chefiar os exércitos ingleses, celtas
da Escócia, de Gales ou da Irlanda.
Terra, Mar e Céu: Cosmologia na Mitologia Céltica.
Robert Kaucher

Nos últimos anos aqui no Brasil o interesse na mitologia e nas tradições Célticas cresceu
substancialmente, mas, com a exceção de uma pequena coleção de livros e sites na Internet,
na verdade há poucas fontes de informação para as pessoas que desejam aprender mais sobre
a mitologia Céltica. Esta realidade criou uma situação peculiar onde para preencher este
buraco, o mito tomou o lugar da verdade. Um mito é que os Celtas acreditavam em um sistema
cosmológico baseado nos quatro elementos da Terra, o Ar, a Água e o Fogo e que estes quatro
elementos foram associados aos pontos cardeais exatamente do modo que eles estão na Wicca
hoje. Quando nós olhamos para a mitologia Céltica, principalmente o galho irlandês, vemos que
isto não é a verdade e que o sistema cosmológico Céltico é muito mais complexo. A primeira
coisa que temos que discutir é a divisão básica do multiverso em três partes: o reino celestial
dos Deuses Altos, o reino mediano dos mortais e o submundo dos antepassados e deuses
da fertilidade. Na tradição Céltica isto é expresso normalmente na tríade de Terra, Mar e Céu
(talamh agus muir agus neamh em irlandês).
Essa tradição anciã explica muita dos contos folclóricos da Irlanda, nos quais as pessoas alegam
ver o fundo de barcos passando pelo céu azul, como se fosse um grande oceano. Também
explica por que o deus do mar Manannán cantou este poema a Bran [1]:

'Bran julga uma beleza maravilhosa


Na sua curach [2] no mar claro:
Enquanto para mim em minha carruagem ao longe
É uma planície florida na qual ele cavalga.

'O que é um mar claro


Para o barco de proa no qual Bran está,
É uma planície feliz com profusão de flores
Para mim da carruagem de duas rodas.

'Bran vê
O número de ondas que batem pelo mar claro:
Eu me vejo em Mag Mon [3]
Flores vermelhas sem falta.

Vemos neste poema que o reino oceânico está conectado com a fertilidade e com a abundância
e que para Manannán as ondas do oceano não são água, mas os topos das árvores que
balançam ao vento. O oceano também era associado com os mortos: o primeiro mortal que
morreu na Irlanda era Eber Donn, que se afogou antes de chegar à orla e foi enterrado em
Teach Duinn (a Casa de Donn), normalmente associada a uma pequena ilha rochosa perto da
Ilha Dursey, à oeste da península de Bearre, no Sudoeste de Munster na Irlanda. O "Outro
Mundo" Céltico normalmente é representado como sendo Ilhas [4]. É importante lembrar que o
Outro Mundo insular, ou Submundo, normalmente não é um lugar como o Hades grego, mas é
um lugar de repouso, um paraíso para nossa família morta. Alguns dos nomes mais comuns
para estas ilhas são listados abaixo.

Nome em irlandês: Tír na mBán. Nome em português: A Terra de Mulheres.


Interpretação: Uma ilha espiritual para guerreiros terem amantes perpétuas.

Nome em irlandês: Tír na mBeo. Nome em português: Terra dos Viventes.


Interpretação: Uma ilha onde não há a morte, só se festeja a alegria.

Nome em irlandês: Tír na nÓc. Nome em português: A Terra da Juventude.


Interpretação: Uma ilha paraíso onde as pessoas ficam perpetuamente jovens e saudáveis.

Nome em irlandês: Tír Taingíri. Nome em português: A Terra de Promessa.


Interpretação: A ilha de Manannán onde os deuses festejam e bebem a Cerveja da
Imortalidade feita por Goibniu.

Embora o Submundo pudesse ser encarado como uma ilha, isto não deveria ser considerado
um conceito rígido, pois o mito é fluido e uma metáfora não deveria ser fixada em sua mente.
O reino celestial foi concebido como um grande retângulo e no mito irlandês aprendemos que
havia quatro cidades onde as Tuatha Dé [5] aprenderam a magia e o druidismo e de onde
trouxeram os quatro tesouros mostrados no quadro abaixo.

Objeto mágico: Lía Fáil [6] (a Rocha do Destino) Cidade: Falias


Significando: A pedra de coroação dos reis antigos da Irlanda, a Deusa da Soberania.

Objeto mágico: Sleg Logo (a lança de Lugh) Cidade: Gorias


Significando: O druida como mago e o rei como juiz. Representa a função do "sacerdote".

Objeto mágico: Claideb Núadot (a Espada de Nuada) Cidade: Findias


Significando: A função do guerreiro.

Objeto mágico: Coire an Dagdai (o Caldeirão do Dagda) Cidade: Muirias


Significando: A função agrária dos fazendeiros e dos outros produtores.

Os povos antigos sempre procuram na sua mitologia um precedente que demonstra que sua
sociedade está no lugar correto, onde o mundo é o que é não porque as pessoas fizeram assim,
mas porque os deuses ordenaram. Neste sistema quádruplo, - o qual veremos depois que é de
fato quíntuplo; - encontramos um lugar para todos os membros da tribo Céltica primitiva sendo
que os deuses da ordem e da justiça como o Lug e a Brigit são achados no reino celestial.
A terra é o reino dos mortais e parece freqüentemente ser concebida como o corpo de uma
deusa associada à terra e à agricultura como a Tailtiu. A terra "flutua acima das águas do
oceano mítico e por meio desta conexão extrai a fertilidade necessária para dar a vida”. Mas
também há uma idéia mítica mais antiga, entretanto apenas rastros sobreviveram na mitologia
Céltica que demonstra que a terra pode ser feita do corpo de um gigante primordial que foi
morto por um dos Altos Deuses. Neste mito ancião a carne dele é usada para fazer a terra,
seus ossos se tornam as pedras e as rochas, seu sangue, são a água dos rios e do oceano, sua
mente vira as nuvens, sua respiração é o vento e seu olho é o sol [7]. No total existem sete
"elementos" na tradição Céltica, não quatro, e eles demonstram o princípio mágico antigo de
"assim acima, assim embaixo," o que temos dentro de nós também existe fora de nós. Eu incluí
um oitavo elemento correspondendo à alma.

Elemento do Mundo Externo: Talam (terra)


Muir (mar)
Cloch (pedra)
Nél (nuvem)
Gaeth (vento)
Grian (sol)
Nem (cúpula do céu)
Dée (deuses)

Elemento do Mundo Interno: Colaind (carne)


Fuil (sangue)
Cnáim (osso)
Menmae (mente)
Anál (respiração)
Súil (olho) ou dréch, (face)
Cenn (cabeça)
Anam (alma)

Exatamente como há quatro cidades no reino celestial dos Deuses há quatro pontos cardeais
no compasso e quatro províncias (correspondendo aos pontos cardeais), mas a palavra
irlandesa para província é cúige que significa "quinto", não "quarto". Na tradição irlandesa há
cinco pontos e não quatro: Leste, Sul, Oeste, Norte, e o centro. Como em todas culturas pré-
modernas estas direções têm significados especiais que são discutidos na mitologia irlandesa
primitiva. Na história Suidigud Tellaig Temra (Povoando o Palácio de Tara) aprendemos que há
associações semelhantes àquelas dos quatro tesouros das Tuatha Dé [8].

Direção: Leste
Associação: Bláth (flor)
Tesouro [9]: Coire an Dagdai
Província: Lagain (Linster)
Significando: Prosperidade.

Direção: Sul
Associação: Séis (música/melodia)
Tesouro [9]: Lía Fáil
Província: Mumu (Munster)
Significando: Intuição.

Direção: Oeste
Associação: Fios (Conhecimento)
Tesouro [9]: Sleg Logo
Província: Connacht
Significando: Aprendizado, sabedoria.

Direção: Norte
Associação: Cath (Batalha)
Tesouro [9]: Claideb Núadot
Província: Ulad (Ulster)
Significando: Guerra, conflito.

Direção: Centro
Associação: Fláitheas (Soberania)
Tesouro [9]: (o rei?)
Província: Míd (Meath)
Significando: Domínio, dignidade.
O conhecimento dos três reinos - terra, céu e mar - seriam de pequeno uso a nós mortais se
não houvesse algo para uni-los. Normalmente, na tradição indo-européia [10] a Árvore do
Mundo tem suas raízes nas águas do Submundo e seus galhos estendendo-se e apoiando o
reino celestial. Normalmente esta árvore é representada por um freixo e, na Irlanda, a maioria
das bilí eram freixos. As bilí (bile [11] singular) mais famosas são o Freixo de Tortu, o Carvalho
de Mugna, o Teixo de Ross, o Freixo de Dathí e Freixo de Uisneach. Uma convicção indo-
européia comum era que os deuses fizeram os mortais do freixo. Na mitologia escandinava o
deus Odin fez o primeiro casal humano dos galhos de uma árvore e o primeiro homem tinha o
nome Asc (freixo), e, nos mitos gregos às vezes os homens são chamados "sementes do freixo
[12]". Nos mitos irlandeses os primeiros mortais, freqüentemente chamados os "Millesianos"
são os descendentes de Gollam [13], filho de Bile (a árvore sagrada).
Eu espero que esta discussão breve e superficial dos aspectos fundamentais da mitologia
Céltica possa dar aos leitores uma habilidade melhor para entender a mitologia Céltica, uma vez
que cada vez mais fontes da tradição antiga dos Celtas estão sendo disponibilizadas na língua
portuguesa. Sem uma compreensão dos conceitos básicos, a mitologia Céltica pode parecer
sem sentido e confusa, mas para o Druida aspirante ou a Bruxa Céltica, este conhecimento é
como a bile que dá acesso aos três mundos de terra, mar e céu e o conhecimento do Outro
Mundo.

Bibliografia
Textos em Irlandês Antigo e Irlandês Médio:
- Thurneysen, Rudolf (ed.) Imram Brain maic Febail
- CELT online texts (ed.) Cath Maige Tured
- Suidigud Tellaig Temra
Outras Fontes:
- Littleton, C.S. The New Comparative Mythology. Cambridge: Cambridge, University Press, 1982.
- Mallory, J.P. Insearch of the Indo-Europeans. London: Thames and Hudson, 1989.
- Raferty, Barry. Pagan Celtic Ireland: The Enigma of the Irish Iron Age. London: Thames and Hudson.
- Rees, Alwyn e Brinley: Celtic Heritage: Ancient Tradition in Ireland and Wales. London: Thames and Hudson,
1991.

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[1] Da história irlandesa antiga Imram Brain (a Viagem de Bran).
[2] Um barco tradicional associado aos Celtas insulares.
[3] Mag Mon: um nome para o Outro Mundo.
[4] O outro mundo ctonico de Manannán e os antepassados não deveriam ser confundidos com o “síd", ou
domicílio espiritual dos Deuses Altos embora a palavra síd como um lugar espiritual parece ser confundido com o
conceito insular em muito da tradição literária mais recente.
[5] O Tuatha Dé (Danann), Tribos dos Deuses, é o nome mais antigo para os deuses nos mito irlandeses. À
parte "Danann", normalmente interpretada como "da deusa Danu" não aparece nos textos mais antigos.
[6] Fáil significa "destino" mas também é um nome poético para a Irlanda.
[7] A palavra súil, "olho", em irlandês é etimologicalmente "sol" e vem da mesma raiz da palavra portuguesa.
[8] Para uma discussão mais profunda destas associações na mitologia irlandesa e em outras tradições indo-
européias veja o livro Celtic Heritage por Alwyn e Brinly Rees.
[9] Veja tabela um para as traduções.
[10] Os indo-europeus são o povo de quem os celtas e muitos outros povos da Europa e da Índia descendem.

[11] Cada tribo tinha uma bile em seu território que ficou onde o rei tribal era coroado. Estas árvores
representavam a árvore mundial mítica.
[12] Hesychius de Alexandria escreveu no seu léxico: Melías karpós: tò anthrópon génos "Sementes do freixo: a
raça dos homens" Este léxico famoso é uma coleção de expressões de vários idiomas. Hesychius viveu no quinto
século.
[13] Gollam é o nome original de Míl Espáine, o pai dos "Milesianos" O nome Míl Espáine é obviamente uma
adição literária Cristã à história e deriva do latim miles Hispaniae, o Soldado da Espanha.
Dicionário das Tuatha Dé Dannan
Robert Kaucher

(O simbolo [@] tem o som da letra "a" em filha).

Aedh [i:] (Irlandês Moderno Aodh): Significa "fogo". É um dos nomes do Dagda. Aedh Abrat,
"Testa de Fogo". Pode ser relacionado um mito perdido similar ao mito Nórdico onde Thor
tinha um pedaço de "pedra de amolar" enfiada na sua testa. Ver Dagda.
Aengus Mac ind Óg [ing@s macin o:g] Filho do Dagda e de Boand. Deus de amores
perdidos e da juventude. Aon + gus, "primeira escolha" ou Aon + gus, "Grande Vigor (?)".
Banbha [ba@v@] Uma das deusas que deu seu nome para a Irlanda. Banbh, "porquinha" ou
"porca". O porco é um símbolo poderoso do Outro Mundo na mitologia celta. Ver Éiriu e Fótla.
Boand [bo:@n] Mãe do Aengus Mac ind Óg. Morreu no rio do mesmo nome e virou Deusa
do rio. Seu nome significa "Vaca Branca", Bo (vaca) + find (branca). Aparece no "Geographia"
do Ptolomeu como Buvinda. Ela é uma Deusa da fertilidade.
Brighit [B´r´i:hid´] (Irlandês Moderno, Bríd) Filha de Dagda e Deusa da lei, poesia,
inspiração, sol e animais domésticos (especialmente vacas e ovelhas). Brighid < PIE
*bherg - "alto". Seu nome significa "Alteza". Galês, Braint; Gaulish, Brigindu, Britonico,
Brigantia.
Dagda [Dayda] Significa "Bom Deus". Dag "bom" + Dia "Deus". Ver Eochu Ollathair
Danu [Da:nu] Muito rios na Europa tem seu nome. Ela é a Deusa maternal das "Tuatha Dé
Dannan" (Tribos da Deusa Danu). Danu < *Dannuia "água corrente".
Diancecht [d´i@nke:xt] Medico das Tuatha Dé. Matou seu filho Miach porque Miach era um
melhor medico. Possivelmente é uma degradação de um mito muito comum no mundo onde
um médico bota em perigo a balança de vida e morte com seu talento para curar qualquer
doença. Se ninguém morre a vida não tem a oportunidade de se renovar.
Eochu Ollathair [e:xi o:lahar´] Deus padrão do Druidismo. Com Ogma e Lugh ele é um dos
"Três Deuses Das Tuatha Dé". Ele é Deus de trovão similar ao "Thor" da mitologia nórdica.
Ele tem muitos nomes: Rua Rofeasa (Ruivo de Grande Conhecimento), Aedh Abrat e outros.
Eochu < eoch "cavalo". Ollathair < ol (grande ou demais) athair (pai) = Cavalo o Grande Pai.
O cavalo é um símbolo da soberania e de reis na mitologia celta.
Ériu [e:ri@] Quando os filhos de Míl chegaram na Irlanda, Ériu e suas irmãs encontraram-os e
pediram que seus nomes (Ériu, Banbha, e Fótla) fossem os nomes da ilha. Amairgen, o poeta
e a druida dos Milisianos, prometeu que seus nomes seriam os nomes da ilha para sempre e
que o nome de Ériu seria o nome principal. Os nomes Banbha e Fótla são nomes poeticos
para Irlanda até hoje e o nome Éire [e:r@] é o nome mesmo da Irlanda em Gaélico. Seu nome
vem de *Iuerni uma tribo que morava no sul da Irlanda desde os tempos arcaicos. No
"Geographia" de Ptolomeu a tribo aparece como Iverio. Ériu < *Iuerni < *Iweriju < *piwerjo
significando "terra fértil". Provavelmente o nome da Deusa tribal.
Fótla [fo:tl@] Irmã de Ériu. Seu nome é uma combinação de fo "embaixo" e tla "terra". Uma
Deusa da terceira função: fertilidade e agricultura.
Goibhniu [go:vn´@] O ferreiro das Tuatha Dé. Foi ele que fez a festa "Fled Ghobhnenn" onde
os Deuses beberam a cerveja da imortalidade. Seu nome vem de gabha (ferreiro) e tem um
"primo" em mitologia galesa como Gofanon [go: vanon], Galês gof, ferreiro.
Lugh [lu:] O primeiro Deus dos Celtas. Conhecido na mitologia galesa como Lleu Llaw
Gyffes (literalmente O Brilhante da Mão Aprendada / Talentosa) e em Gália como Lugus. Ele
ajudou as Tuatha Dé na batalha de Magh Tuiradh e matou Balor, o mais perigoso Fomhoire e
seu avô. Sua festa é Lughnassadh (Irlandês Moderno Lúnasa [lu:nas@] (31 de julho/1 de
augusto). Lugh < leuk "luz". Provavelmente não significa a luz do sol mas relâmpago. Esta
conclusão é baseada em sua função na mitologia (sua lança e associação com o carvalho) e
uma comparação com deuses similares em outras mitologias indo-européias como Odin e
Mercúrio. Outros nomes para Lugh: Samaldánach "Muito Apredado". Ildánach "Todo
Aprendado".
Mannanán [man@na:n] Filho de Lér (oceano) ele aparece na mitologia como um marinheiro
divino. Ele é o verdedeiro pai de Fionn Mac Cumhail e um druida de grande poder.
Basicamente ele é um Deus da terceira função e governa o Outro Mundo de Tír na Nóg (a
Terra de Juventude). Ele também foi o padrinho de Lugh. Seu nome vem da mesma raiz indo-
européia da palavra "man" em Inglês e a parte "mem" em homem. Deu seu nome para a ilha
de Mann.
Mórríghan [mo: riy@n] Seu nome significa "Grande Rainha" ou "Rainha Fantasma". Ela é uma
Deusa de todas as três funções (magia/religião, guerra, e fertilidade). Ela é realmente três:
Badb Catha (Corvo de Guerra), Macha (campo para cavalos?) e Nemhain (frenesi). Como a
Badb Catha ela é um psicopomp, que acompanha os guerreiro mortos para o Outro Mundo.
Ela tentou ser a amante de Cú Chulainn, mas ele rejeitou-a e ela virou sua inimiga.
Nuada Airgetlam [nu@d@ a: rg´etla:v] Um rei das Tuatha Dé. Seu braço foi amputado na
Batalha de Magh Tuireadh e ele ficou inadequado de ser rei. O medico divino, Diancecht, fez
um braço de prata para ele que funcionou como um braço real. Nuadha é cognato com Nudd
e Lludd na mitologia galesa. Nuada <*neudh - significando "gozar".
Os Nomes de Deus no Indo-Europeu e no Semítico
Rubens C. Romanelli.
(Separata Nº 18 da Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, dezembro 1968/1969, 11p.
(141-151)).

O presente estudo aspira a ser uma breve história da idéia de Deus. Nada obstante, ele
constitui muito menos uma tese de História do que de Lingüística. Escrevêmo-lo é verdade, com
o escopo de traçar a história da idéia de Deus, mas, em vez de estudar essa idéia,
pesquisando-a na evolução do pensamento religioso dos povos, propusêmo-nos estudá-la,
pesquisando-a na evolução de sentido das palavras designativas da divindade, nas línguas que
integram as duas mais importantes famílias lingüísticas do mundo - a família indo-européia e a
semítica. É nestas, indiscutivelmente, que a idéia de Deus se revela mais evoluída ou, se o
preferirem, mais despojada de elementos antropomórficos.
Apesar de muitos povos indo-europeus e semíticos haverem alcançado um nível de civilização e
cultura superior ao de outros povos, releva notar que nem todos eles são ou foram
monoteistas. Alguns foram politeistas, outros, henoteistas, mas, nem por isso, deixaram de ter
um apelativo ou nome comum para todas as divindades constitutivas de seu panteão. É desse
nome genérico, e não dos nomes de cada divindade em particular, que nos ocuparemos aqui,
sempre que nos referirmos a povos politeistas ou henoteistas.
Procuramos agrupar os nomes, não segundo o critério das afinidades etimológicas, mas
segundo o critério das afinidades semânticas, sem deixar, contudo, de remontar, em cada caso,
à raiz, ou seja, àquele elemento último, a que se reduz, morfológica e semânticamente, o
vocábulo. Através de cada agrupamento, evidencia-se que, na grande maioria dos casos, o
nome de Deus é precisamente o nome designativo daquele, dentre os atributos divinos, que,
em cada povo, mais feriu a sensibilidade ou a imaginação dos crentes. Resulta daí que cada
povo contempla a divindade sob um prisma diferente. Para uns, Deus se distingue por sua
munificência, donde ser chamado "o dispensador, o distribuidor das graças". Para outros, Ele se
caracteriza por sua intocabilidade e pureza, donde ser designado "o sagrado, o santo".
Para estes, Deus impressiona por sua beneficência, donde ser nomeado "o benfeitor". Para
aqueles, Ele avulta por sua Eternidade, donde ser concebido como "o que existe sempre". Aqui,
Ele é respeitado por sua soberania, donde ser denominado "o Senhor". Ali, é cultuado por sua
bondade, donde ser designado "o bom, o excelente". Acolá, é venerado por sua espiritualidade,
donde ser chamado "o espírito por excelência".
Examinemos cada uma dessas diferentes maneiras de sentir ou de conceituar a divindade,
mediante o estudo dos diferentes nomes com que ela é designada em nada menos de quarenta
línguas, entre vivas e mortas:

1. DEUS COMO “O CELESTE”:


Dos nomes designativos da divindade, no domínio indo-europeu, os mais difundidos repousam
numa forma nominativa única, * deiwos, portadora da noção de "o celeste". Formado da raiz
indo-européia *dei - "brilhar, fulgir, cintilar", acrescida do sufixo adjetivo – wo -, tinha esse
tema, primitivamente, o sentido de "brilhante, luminoso".
Posteriormente, na qualidade de epíteto, serviu para designar o "céu", noção da qual se
desenvolveu, na linguagem religiosa, a de "céu como divindade" e, portanto, a de Deus.
Literalmente, pois, Deus era "o celeste", por oposição ao homem, concebido como "o
terrestre". Essa oposição homem/deus, resultante da oposição terrestre/celeste é, aliás, muito
antiga, como se patenteia em várias línguas, nas quais a palavra denominativa de "homem"
significa, etimologicamente, "o terrestre". Vejam-se, por exemplo, o latim homo, o gótico e o
anglo-saxônio guma, o lituânio zmogùs e o tocário B saumo.
Do tema indo-europeu *deiwos "o celeste" derivaram-se, através das mais variadas
transformações fonéticas, os nomes da divindade, nas seguintes línguas:
Sânscrito deváh, ao qual corresponde o avéstico daeva -. No avéstico, porém, o tema
especializou-se com o sentido oposto de "deus do mal, demônio", inversão semântica que
lembra o velho mito do anjo decaído, cuja história coincide com a expressão hebráica, bem-
xahar "filho da aurora", que S. Jerônimo traduziu por Lucifer, literalmente, "portador da luz".
Latim deus, donde o francês dieu, o italiano dio, o espanhol dios e o português deus. Da
evolução fonética normal de *deiwos tirou o latim o adjetivo divus, donde o feminino
substantivado diva "deusa", o adjetivo secundário divinus "divino" e, deste, o derivado verbal
divinare "advinhar".
Antigo irlandês dia, com o qual concordam, etimológica e semânticamente, o címbrico duw e o
bretão doué.
Antigo nórdico ou escandinávio, tivar, nome pluralício, já que o simples singular é desusado.
Lituânio dievas. De idêntica origem e sentido são o letônio dìevs e o antigo prussiano deiwas,
com o qual concorre a variante deiws.

2. DEUS COMO “O DISTRIBUIDOR, O DISPENSADOR”:


Nos ramos iraniano e eslávico, a idéia de Deus desenvolveu-se da de 'distribuir, repartir,
dividir'. Deus é, com efeito, 'o distribuidor, o dispensador das graças', aquele ao qual incumbe,
dentro das velhas concepções religiosas do homem, fazer a partilha dos dons da vida. Essa
idéia já estava implícita na primitiva acepção da raiz indo-européia * bhag -, que era 'destinar
como partilha, determinar a parte ou quinhão de'. Paralelamente ao sentido radical de Deus,
como 'o distribuidor, o repartidor', ocorre, no domínio indo-iraniano, o de 'Senhor, dono' (cfr. O
sânscrito bhágah e o avéstico baga -), considerando-se que, efetivamente, só o senhor, o dono
dispõe de meios para 'distribuir, repartir, agraciar'.
Avéstico baga - 'deus, senhor', nome a que correspondem, pela forma e pelo sentido, o médio
e o novo persa bag.
Antigo eslavo eclesiástico *bogu 'deus', com o qual se relacionam o búlgaro bog, o sérvio-
croata bog, o tcheco buh, o russo bog e o polonês bog, todos de igual sentido.

3. DEUS COMO “O INVOCADO”:


No domínio germânico, a idéia de Deus resultou da especialização de uma forma nominativa
neutra do particípio passado indo-europeu, * ghutos, derivado, do sufixo – to -, da raiz verbal
*ghau - 'clamar, chamar, invocar', sentido sobrevivente nos cognatos sânscrito hávate, avéstico
zavaiti, o antigo eslavo eclesiástico zivati. A forma germânica, na qual se converteu o particípio
*ghutos, é *guda e esta assumiu, no vocabulário religioso, o sentido de 'o invocado', isto é 'o
ser que se invoca, aquele para quem se apela', no ato da oração.
Essa especialização de sentido ocorreu nos três ramos do germânico, isto é, no oriental, no
setentrional e no ocidental:
Gótico gub 'deus'.
Antigo islandês gud 'deus', formas com as quais se relacionam, no escandinávio, o norueguês
gud, o dinamarquês gud e o sueco gud, todos de idêntica significação.
Antigo-alto-alemão got, que, através do médio-alto-alemão got, veio culminar no moderno
alemão Gott, todos com o sentido de 'deus'.
Alguns filólogos, induzidos pela semelhança da forma, relacionaram falsamente, sem
qualquer consideração para com a fonética histórica, as palavras germânicas que expressam a
idéia de 'deus' com as que traduzem a idéia de 'bom', como o gótico guds, o dinamarquês, o
sueco e o anglo-saxônico god, o inglês good, o holandês goed e o alemão gut, que se prendem
a outra raiz, *ghedh-, *ghodh - 'unir'.

4. DEUS COMO “O SAGRADO, O SANTO”:


A raiz indo-européia dhes -, já empregada, no próprio indo-europeu comum, com acepções
religiosas, forneceu em armênio um derivado com o sentido de 'deus'. Trata-se do nome
pluralício dik, saído de dheses, que se traduz por 'deuses'. O sentido radical de 'sagrado,
santo' sobrevive nos cognatos itálicos, como atestam o osco fiísnam (acusativo) 'templo' e o
latim fanum (< *fasnom) 'lugar sagrado, templo', feriae (< *fesiae) 'dias de descanso, dias de
repouso (em honra dos deuses)', festus, geralmente unido a dies, para designar,
originariamente, os dias de festas religiosas.

5. DEUS COMO “O BOM”:


Ao lado de deváh 'deus' (v. n° 1, letra a), designação comum a todas as divindades do
panteão indiano, possui o sânscrito outro apelativo, vásuh 'deus', não tão freqüente como
aquele, mas de uso também corrente, tanto na literatura védica, quanto na clássica. Trata-se
de uma substantivação do adjetivo vásuh 'bom', que se liga à raiz indo-européia * wesu -, de
igual significação. O sentido radical de 'bom' e de seus graus, 'melhor' e 'ótimo', mantém-se nos
cognatos iranianos, célticos, germânicos e eslávicos, qual se vê no avéstico vahya - 'ótimo',
médio persa veh 'melhor, ótimo', novo persa bih 'bom, melhor', antigo irlandês fo 'bom', gótico
insiza 'melhor' e antigo eslavo unje 'melhor'.

6. DEUS COMO “O ESPÍRITO BENFEITOR”:


Para nomear a divindade, o sânscrito empregava, além de deváh e vásuh, já vistas, a palavra
súrah, de curiosa história. Sobre a raiz indo-européia * an - 'respirar', construiu-se uma forma
de alargamento, *ansu -, com o sentido de 'respiro, sopro vital', da qual o sânscrito tirou o
substantivo ásu - 'hálito vital, respiro, alento', donde 'espírito' e, daqui, com o sufixo abstrato
–ra -, o derivado ásurah 'espírito malfeitor, demônio', forma com a qual concorda o avéstico
ahura - (v. n° 7, letra b) 'senhor, detentor do poder'. O a inicial de ásurah foi errôneamente
interpretado como o prefixo privativo a -. Efetivamente, pensou-se que a palavra fosse
composta de um nome, súrah, ao qual se tivesse preposto o privativo a -. A partir do momento
em que se praticou essa falsa análise etimológica, a palavra súrah que jamais existira, passou a
existir, com o sentido evidentemente oposto, ao de ásurah, isto é, 'espírito benfeitor, Deus'. E
foi realmente com essa significação que a palavra entrou em circulação na literatura sânscrita.

7. DEUS COMO “O SENHOR”:


Graças à influência eclesiástica, generalizou-se, nas línguas européias, o uso da palavra
'senhor', para designar a divindade. Não se pode, contudo, pretender que o nome de Deus,
como 'Senhor', seja uma noção puramente cristã, ou melhor, bíblica, decalcada no hebraico do
Antigo Testamento. Na verdade, os autores das versões grega e latina do Antigo Testamento
serviram-se da palavra grega 'Senhor' e da latina Dominus também 'Senhor', para traduzir o
hebraico Adonai (v. letra a abaixo) e, não raro, também o hebraico Yahweh (v. n° 10, letra a).
Cumpre, porém, não esquecer que a designação de 'Senhor', para a divindade, já aparece na
literatura religiosa do Avesta, com uma Antigüidade, portanto, superior a três mil anos. Aplicada
à divindade, a idéia de 'Senhor' traz a conotação de 'amo' e é por assim senti-lo e entendê-lo
que o crente se coloca diante dele na condição de 'vassalo', para melhor testemunhar-LHE sua
submissão e humildade.
Muitas são as línguas nas quais Deus é tratado como 'Senhor', mas em nenhuma delas essa
noção nada tem de comum, etimologicamente falando, com a de qualquer das demais. Cada
qual tira a noção de 'Senhor' de uma origem diferente, embora, em todas elas, à exclusão das
línguas indo-iranianas, o nome de Deus, como 'Senhor', seja, como se viu acima, um decalco
semântico do hebraico.
Hebraico Adonai 'Senhor', tratamento dado à divindade na linguagem dos profetas e
tradicionalmente empregado na liturgia das sinagogas, para substituir o nome inefável do Deus
de Israel (v. n° 10, letra a). Trata-se de um plural majestático do nome Adon 'Senhor', ao qual
se juntou um sufixo de 1ª pessoa do singular, donde, literalmente, 'meu Senhor'. Compare-se
com o fenício Adonai 'Senhor meu', de Adon 'Senhor', do qual tirou o grego o nome de sua
divindade mitológica, Adonis.
Avéstico Ahura 'Senhor, detentor do poder', donde 'Deus'. A palavra iraniana é afim do
sânscrito ásurah (v. n° 6). O nome Ormuzd ou Ormazd, com o qual se designa, no Ocidente, a
divindade do Mazdeismo ou Zoroastrismo, resultou de uma contração do avéstico Ahura
Masdah 'deus do bem' que, na concepção dualista de Zaratrusta ou Zoroastro, se opõe a
Ahriman 'deus do mal'.
Fenício e Cananeu Ba'al (Baal), literalmente 'Senhor, amo, patrão, dono', empregado com o
sentido de Deus, conforme se lê no Antigo Testamento (Juízes, 6:25). Em Babilônio, Bal, de
idêntica origem e valor semântico.
Grego eclesiástico Kyrios 'Senhor, Deus', literalmente, 'que tem autoridade, que tem poder,
soberano, dono', de 'autoridade soberana, poder de fazer ou não fazer', de uma forma
nominativa indo-européia *kuros 'inchado, robusto, forte, herói', alargamento, de sufixo – ro -,
da raiz indo-européia *keu - "inchar".
Latim eclesiástico Dominus 'Senhor, Deus', literalmente 'dono da casa', de * domo-no-s,
derivado de sufixo – no - da forma nominativa indo-européia *domos 'casa', grau flectido da
raiz *dem - 'construir'. De *domos sairam também, com o mesmo sentido, o sânscrito dámah e
o grego dómos. Ao lado das formas de tema em – o -, houve, no indo-europeu, formas de tema
em – u -, como comprovam o latim domus e o antigo eslavo eclesiástico domu, também 'casa'.
Inglês Lord 'Senhor, Deus', do anglo-saxônico hlaford, hlafweard, 'o guardião do pão', de hlaf
(donde o inglês loaf) 'pão' e weard (donde o inglês ward) 'guarda, vigia, guardião'.
Português Senhor, do latim seniore (m) 'mais velho', acusativo do comparativo de superioridade
do adjetivo senex, senis 'velho', da raiz indo-européia *sem (o) -, de igual sentido. A raiz está
bem representada em vários dos dialetos em que se fragmentou a primitiva unidade indo-
européia: sânscrito sánah, avéstico hana -, armênio hin, grego hénos, antigo irlandês sen,
lituânio senas, todos com o sentido radical de "velho".
Romeno domn 'Senhor, Deus', do latim dominu (m) (v. letra d acima). A palavra romena
própria para designar a divindade é dumnezeu, que é o resultado da contração dos termos de
uma expressão vocativa latina, domine deus 'ó senhor Deus'. O segundo elemento do
vocábulo contrato, zeu, saído do latim deus (v. n° 1, letra b), é usado apenas para denominar
o deus dos pagãos. Quanto ao primeiro elemento, dumne, é uma variante de domn, mas
ainda com a desinência do vocativo latino.

8. DEUS COMO “O ESPÍRITO POR EXCELÊNCIA”:


O nome genérico com que no panteão helênico se designava a divindade era theós, nome
oriundo de uma forma antiga, saída de *dhwesos da raiz indo-européia *dhwes -, dhewes -,
alargamento da raiz *dheu - 'espalhar, dispersar (o pó, o fumo), soprar, ventar'. Da idéia de
'vento, sopro' desenvolveu-se a de 'espírito', segundo se verifica em alguns cognatos, como o
lituânio dvasià e o médio-alto-alemão getwas 'espectro, fantasma', donde 'espírito' e, daqui,
'espírito por excelência, Deus'. A noção de 'espírito, alma' resultou, na maior parte das
línguas, de uma velha metáfora da humanidade, segundo a qual o espírito ou a alma é como
'um respiro, um vento, um sopro'.
Comparem-se o sânscrito átman - e pránah, o grego psukhê e pnéuma, o latim anima e
spiritus, o romeno suflet, o norueguês ondi, andi, o antigo eslavo eclesiástico dusa e duch, com
os quais se relacionam o búlgaro dusa e duch, o tcheco duse e duh, o sérvio-croata dusa e
duch, o russo dusa e duch e o polonês dusza e duch, todos com a significação primária de
'respiro, sopro'.
9. DEUS COMO “A DIVINDADE POR EXCELÊNCIA”:
Um simples monossílabo serviu, desde tempos imemoriais e de um a outro extremo do domínio
semítico, de radical portador da idéia de Deus. É o monossílado El, de vocalismo alternante, de
língua para língua, e de sentido irredutível. Vãs e infrutíferas têm sido as tentativas de explicar
o sentido abstrato da palavra, a partir de uma noção concreta. Sempre e por toda parte, ela
significou 'Deus', como a comprovar que essa idéia é realmente irredutível.
A forma El ocorre em cananeu, com o sentido de 'o Deus' e, em hebraico, com o sentido de 'o
ser divino'. É às vezes usada no Gênesis, em expressões como El Elyon 'Deus altíssimo' e El
Shaddai (El sad'i), literalmente, 'Deus das Montanhas', mas traduzido na Vulgata por 'Deus
onipotente'. Com freqüência, aparece também como elemento final de antropônimos bíblicos,
tais como Dani-el (Juiz de Deus), Gabri-el (homem de Deus), Gamali-el (recompensa de
Deus), Isma-el (Deus ouve), Isra-el (combatente de Deus), Jo-el (Jeová é Deus), Rafa-el
(Deus curou), Salati-el (supliquei a Deus), Samu-el (ouvido por Deus), Emanu-el (Deus
conosco).
Ao lado de El, ocorre, no hebraico do Antigo Testamento, o nome Elohim, plural majestático do
hebraico Eloah, assim como do cananeu El. A despeito de ser uma forma de plural, Elohim
designa, como ensinam os textos de Ras-Shamra, o "Deus Único".
Em acádio, o radical semítico apresenta-se com outro vocalismo, tomando a forma Ilu.
Em aramaico bíblico, o nome da divindade é Elah, com vocalismo radical, portanto, normal.
Em siríaco, o nome é Allaha e sua estrutura lembra a do árabe (v. letra f abaixo).
Finalmente, em árabe Allah, de All-Ilah 'o Deus por excelência', forma na qual al é
simplesmente o artigo definido árabe aglutinado ao nome. Na conhecida fórmula de profissão
de fé do islamismo, o nome da divindade aparece duas vezes, uma sem artigo e outra, com
ele: la ilah illa Allah, isto é, 'não há outro Deus, além de Alá'. O nome ocorre também na
interjeição portuguêsa Oxalá, do árabe 'in sa'a Allah, literalmente, 'se Deus quiser'.

10. DEUS COMO “O EXISTENTE”:


Ao lado do plural hebraico Elohim, ocorre, no Pentateuco, a forma Yahweh, vocalização do
tetragrama sagrado Yhwh, letra a letra, yod heth waw heth e cuja verdadeira interpretação é
ainda algo enigmática. A tendência dominante entre os mais eminentes hebraistas é a de
interpretar o nome hebreu da divindade, segundo sugere o próprio texto bíblico, como uma
forma de 3ª pessoa do singular do imperfeito do verbo hebraico hwh "ser", vocalizado hawah,
ou mais corretamente, hayah. O nome Yahweh pode, assim, ser traduzido, ora com o valor
verbal intransitivo de 'Ele é', 'Ele existe', ora com o valor verbal causativo de 'Ele faz ser', 'Ele
faz existir'. Em sentido intransitivo, é Yahweh mesmo quem, no Antigo Testamento, se define
como 'o auto-existente', 'o que existe sempre', 'o Eterno': ''Ehyeh o'aser 'ehyeh, isto é, Eu sou
quem sou (Êxodo 3:14). Em sentido causativo, Ele pode ser definido como o 'Criador do
Mundo'. A forma Jeová (Jehovah), sob a qual é mais conhecido o Deus de Israel, é híbrida,
por isso que resulta de uma combinação do puro consonantismo primitivo de Yhwh, com o
vocalismo de Adonai ou Adonay (v. n° 7, letra a). Foi criada para evitar que se pronunciasse em
vão o nome sagrado, conforme recomenda o Decálogo (Êxodo 21:7): Sem há meforas, isto é,
'o nome do Senhor é inefável'.
Ao hebraico Yahweh corresponde o babilônio Ahiah 'Eu sou', forma verbal também tomada, às
vêzes, como nome da divindade.

CONCLUSÕES
Das pesquisas que empreendemos no vocabulário indo-europeu e semítico, podem tirar-se as
seguintes conclusões:
Reduzem-se a dez, nas quarenta línguas pesquisadas, as idéias fundamentais em que se
baseiam os nomes designativos da divindade.
Na maior parte dos casos aqui tratados, esses nomes consubstanciam uma metáfora ou
translação de sentido.
Em alguns casos, os nomes resultaram de uma interdição vocabular e, como tal, classificam-se
entre velhos tabus lingüísticos.
Os diferentes atributos sob os quais os povos indo-europeus e semíticos conceberam a
divindade podem coexistir no mesmo SER e são perfeitamente compatíveis com a idéia do
DEUS ÚNICO da concepção cristã.

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