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), 2016 99
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
a) b)
c) d)
Figura 1: Revestimentos constituídos por rebocos pintados em Lisboa em várias épocas; (a)
Rua Augusta (séc. XVIII) (b) Av. De Roma (década de 50 do séc. XX) (c) Expo (final do séc.
XX (d) Expo 1ª década do século XXI
a) b)
Figura 2: Revestimentos de argamassa; (a) reboco monocamada (b) revestimento ETICS
3. ANOMALIAS E CAUSAS
Os revestimentos de fachada têm grande impacto na imagem dos edifícios e das cidades em
que estes se inserem. Têm também funções importantes na proteção das alvenarias e dos
próprios espaços interiores, influenciando decisivamente a durabilidade dos edifícios e o
conforto dos utentes. Assim, as anomalias nestes elementos devem ser reparadas de modo a
repor a sua funcionalidade e aspeto. Para tal é preciso conhecê-las e identificar as suas causas.
a) b)
c) d)
Figura 3: Anomalias em fachadas rebocadas a) destacamento; b) fissuração; c) humidade; d)
manchas (sujidade e colonização biológica
A urgência da reparação depende das consequências, por isso esse tipo de classificação é
essencial para o planeamento da intervenção.
Considera-se, assim, a classificação seguinte, segundo as consequências, num sentido
decrescente de urgência de reparação:
a) b)
Figura 4: Anomalias em fachadas rebocadas com causas DPE a) fissuração na ligação entre dois
materiais de suporte diferentes; b) manchas devidas a escorrimentos de água
Fachadas rebocadas: Anomalias e estratégias de resolução 104
4. ESTRATÉGIAS DE RESOLUÇÃO
A resolução das anomalias em fachadas rebocadas deve ser integrada num Plano de
Manutenção, que deve prever:
Inspeções periódicas normais (previstas) e intervenções programadas em função do
M.R. Veiga 105
Para além das questões técnicas e tecnológicas diretas, têm que ser ponderados outros aspetos
na definição das estratégias de resolução das anomalias a adotar, como os impactos na saúde e
bem-estar dos utentes dos edifícios e na imagem e identidade das cidades. Com efeito, as
fachadas são elementos com grande impacto no funcionamento físico do edifício e fortemente
definidores da imagem dos locais onde se encontram, portanto com grande influência nos
aspetos referidos.
As estratégias a usar podem ser de vários tipos:
a) Reparação das anomalias usando soluções idênticas renovadas e melhorando as
características que originaram a anomalia (por ex: reparação de fendas; reaplicação de
zonas destacadas; limpeza e aplicação de biocidas) [3];
b) Reparação das anomalias usando outras soluções, funcionalmente semelhantes ou
superiores às existentes, mas de diferente natureza, considerada mais adequada (por
ex. argamassa com diferente composição, com menor rigidez ou menor absorção de
água);
c) Utilização de soluções capazes de repor a funcionalidade sem reparação
individualizada das anomalias (Ex. ETICS; argamassas térmicas);
d) Ocultação das anomalias com reposição (e, se possível, incremento) da funcionalidade
(Ex.: bardages, vêtures)
Pela sua natureza as estratégias dos tipos c) e d) são tendencialmente mais alteradoras, quer do
funcionamento físico, quer das características de imagem e de identidade das fachadas. Por
isso, não podem ser usadas nos edifícios mais sensíveis desses pontos de vista. Ou seja, os
edifícios mais antigos, que têm características de funcionamento físico (e químico) mais
diferenciadas em relação aos materiais atuais e cuja imagem e identidade têm maior valor
cultural, histórico ou simbólico, devem ser tratados preferencialmente usando uma estratégia
do tipo a), devendo sempre evitar-se as estratégias do tipo c) ou d).
Por outro lado, nos edifícios recentes sem particular sensibilidade a variações significativas de
materiais e soluções, se o diagnóstico mostrar que as anomalias estão ligadas a diversos tipos
de causas – má seleção de materiais, deficiente aplicação, disposições construtivas inexistentes
– pode ser preferível adotar uma solução do tipo c) ou d), aproveitando para melhorar o
desempenho global do edifício e tendo sempre o cuidado de evitar alterações significativas de
aspeto (a não ser que tal seja assumido do ponto de vista do projeto de arquitetura).
a) b)
Figura 5: Fachada do LNEC a) antes da intervenção (2006); b) três anos após a intervenção
(2009)
O edifício tem estrutura de betão armado mas o revestimento exterior é uma marmorite de cal
aérea e agregado de calcário e mármore.
Principais anomalias detetadas (figura 6):
Fissuração e fendilhação;
Perda de aderência (descolamento, abaulamento, destacamento);
Perda de coesão e erosão;
Sujidade e “crosta negra”;
Colonização biológica.
a) b)
c) d)
Figura 6: Anomalias na fachada do LNEC antes da intervenção de 2006: a) fissuração, sujidade e crosta negra;
b) crosta negra e colonização biológica; c) fissuração; d) destacamento
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A perda de aderência e as fissuras mais expressivas tiveram como principal causa alguma
corrosão das armaduras do betão armado da estrutura. As restantes anomalias deveram-se ao
envelhecimento natural potenciado por concentração de escorrimentos de água e poluição.
Optou-se por uma estratégia de conservação, em que se procurou manter o revestimento
existente com um mínimo de remoção e de alteração, de modo a preservar os valores culturais
do edifício.
a) b)
c) d)
Figura 7: Reparação e tratamento da fachada do edifício principal do LNEC
Edifício com estrutura de betão armado, paredes de enchimento de alvenaria de tijolo em pano
duplo e revestimentos exteriores de reboco pintado.
a) b)
c) d)
Figura 8: Anomalias num edifício recente com interesse arquitetónico: a) fissuração
mapeada generalizada e escorrimentos de carbonato de cálcio; b) fissuração de origem
estrutural; c) manchas esbranquiçadas; d) anomalias na pintura
Pode ser aplicado um sistema do tipo ETICS (External Thermal Insulation Composite System)
nas fachadas, permitindo assim recuperar a funcionalidade das fachadas sem reparar
individualmente todas as anomalias. Dadas as temperaturas elevadas nas fachadas, deve ser
usado um sistema com isolante de lã mineral (MW) ou outro com boa resistência a
temperaturas elevadas. Em relação ao acabamento final, deve ser escolhido um revestimento
por pintura com boa resistência a temperaturas elevadas e, em particular, com pigmentos
estáveis a essas temperaturas. Embora respeitando as condicionantes arquitetónicas, seria
desejável que a cor da tinta fosse mais clara que a atual cor negra de modo a reduzir o
coeficiente de absorção térmica e, consequentemente, o aumento de temperatura nos materiais.
Faz-se notar que a substituição da cor negra por uma cor cinza média já conduz a uma redução
significativa do coeficiente de absorção.
Antes da aplicação do sistema ETICS os paramentos devem ser limpos, deve ser retirado todo
o material solto ou pulverulento e devem ser corrigidas deficiências de planeza significativas e
reparadas as fissuras com desnivelamento dos bordos ou com largura superior a cerca de 1 mm
(no caso dos sistemas colados) ou a cerca de 2 mm (no caso dos sistemas fixados
mecanicamente).
Pode ser aplicado um revestimento afastado do suporte constituído por placas de pedra, natural
ou artificial, que cumpra os requisitos arquitetónicos, técnicos e de estabilidade, fixadas ao
suporte através de uma estrutura intermédia, definindo uma caixa-de-ar. As placas usadas
devem ser resistentes a temperaturas elevadas e ter estabilidade de cor. Na medida do possível,
e respeitando as opções arquitetónicas, devem ser usados elementos com cor mais clara que a
atual, por exemplo um tom de cinza, de modo a reduzir a absorção de radiação e
consequentemente reduzir o aumento de temperatura nos paramentos das paredes. No entanto,
a utilização de elementos descontínuos, com juntas abertas, e a existência de uma caixa-de-ar
ventilada, reduz já os riscos da absorção térmica.
6. CONCLUSÕES
As fachadas são elementos do edifício com grande influência no seu comportamento físico e no
seu impacto visual. Em Portugal o revestimento mais comum das fachadas é o reboco, em geral
pintado. Este acabamento funciona em ligação com a fachada e as anomalias que nele ocorrem
reflectem-se na capacidade funcional das fachadas e do edifício como um todo, portanto devem
ser reparadas atempada e eficazmente.
As anomalias dos rebocos de fachadas podem ser classificadas de várias formas. No sentido de
contribuir para a definição de uma estratégia de resolução é importante classificá-las de acordo
com as consequências – esta classificação deverá comandar o planeamento da intervenção –, de
acordo com as causas – porque identificar e eliminar ou controlar as causas é essencial para a
eficácia da solução – e de acordo com a facilidade de reparação – já que o grau de
“reparabilidade” é importante para a definição prática da estratégia de resolução.
As estratégias de resolução podem ser de vários tipos e devem ser definidas, não só com base
em critérios tecnológicos, mas também tendo em conta o comportamento físico –
nomeadamente as eventuais alterações no comportamento termo-higrométrico – e, no caso de
edifícios com valor cultural (histórico, arquitetónico, simbólico...) a alteração dos elementos
identitários e dos elementos caracterizadores.
Assim, no caso dos edifícios mais sensíveis a alterações, deve proceder-se à reparação das
anomalias usando uma estratégia conservativa, de tratamento e adoção de soluções idênticas
com características melhoradas. Por outro lado, no caso de edifícios que permitam maior
latitude de alteração física e de imagem, podem considerar-se outras alternativas,
nomeadamente a adoção de soluções capazes de repor ou incrementar a funcionalidade sem
reparação individualizada das anomalias.
Em qualquer caso, deve sempre existir um programa de manutenção, com inspeções periódicas
e não periódicas e medidas bem definidas para as situações anómalas previsíveis.
7. AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto P2I 2013-2020 do LNEC “REuSE –
Revestimentos para Reabilitação: Segurança e Sustentabilidade”, 2015-2018.
8. REFERÊNCIAS