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TEXTO BASE
Secretaria Municipal de Educação
Emanuel Pinheiro
Prefeito de Cuiabá
Niuan Ribeiro Roberto Zileide Lucinda dos Santos Carmen Cinira Siqueira Leite
Vice Prefeito Diretoria de Ensino Coordenadoria de Formação
Alex Vieira Passos Rosa Tonon de Rossi Jane Regina da Silva Costa
Secretário de Educação Diretoria de Planejamento e Orçamento Coordenadoria de Programas e Projetos
Edilene de Souza Machado Eliane de Oliveira Mendes Quinhone Ana Paula Gomes de Moraes
Secretária Adjunta de Educação Coordenadoria de Organização Curricular Coordenadoria de Avaliação Institucional
Mabel Strobel Moreira da Silva Ângelo Valentim Lena Maria Auxiliadora de Almeida
Diretoria Geral de Gestão Educacional Coordenadoria de Gestão e Legislação Coordenadoria de Informática e Estatística
Elaboração
Diretoria Geral de Gestão Educacional/Diretoria de Ensino
Coordenação
Mabel Strobel Moreira da Silva
Participação
Equipe da Secretaria Municipal de Educação
Abelardo Augusto Ribeiro Junior Eliane Menacho Maria Alice Silva S. Oliveira
Adilene de Assunção Eliene Alves Ferreira Maria Helena Santiago Soares
Adriana Mariano de S. Cruz Ellen Ferrari Silveira Marilene de Souza Carvalho
Adriana Vicenti Eub Rezende Murtinho Maria Aparecida R. Pinto
Alanir de Oliveira Evanildes de Arruda Bordalho Maria Auxiliadora de Almeida
Albene Cezar de Arruda Ezenir Vital Oliveira Maria Helena B. Ormond
Aldemir Santana da Silva Fábio de Oliveira Maria José C. Santos
Alexandre Carneiro Leão Feliciana Cunha Figueiredo Marlene Alves Melo
Ana Dias de Amorim Geraldo Grossi Junior Marilu Marqueto Rodrigues
Ana Paula Gomes de Moraes Gilberto Fraga Marilucy de Souza Farias Brandão
Ana Domingas C. Silva Haydel Taina Schuster Marly Oliveira da C. Z. Luz
Andréa dos Santos Herlon da Silva Rezende Michel de Almeida
Andréa Negrisoli Silveira Inês Walker Ehrenbrielk Mirian Januário de Oliveira Krummennauer
Andreia Mesquita Forato Isabella Maria C. Bezerra Santiago Silva Mônica Beurmann Ferreira Magalhães
Ângelo Valentim Lena Ivana Elisa de A. Schafer Mônica Rosa da Silva
Angely Aparecida de Arruda Izis Saraiva F. dos Santos Nádia Patrícia Silva Borges
Ayrton Agostinho J. Filho Izolda Strentzke Nadir Simplício Dias
Bernadeth Luiza da Silva E Lima Janaina Gonçalves da Silva Marques Ocimar Gomes da Costa
Bianca Cameschi Braz Jane Regina da Silva Costa Patrícia Rodrigues Maciel
Benedita Soares de Amorim Joneide Maria de Souza Paulino Alves de Oliveira
Camile de Araújo Aguiar José Carlosde Oliveira Paulo Ricardo Souza Dias
Cilene Gracinha da Cunha Josemeire do Nascimento Ferreira Priscila Rodrigues Maciel
Célia Alves Pereira Joyce Gonçalves da Silva Marques Rita de Cássia Menegão
Carlos Klaus Keityane Soares S. Sabino Campos Ronaldo Fernandes de Figueiredo
Carmen Cinira Siqueira Leite Laura Gabriela Ribeiro de Paula Rosa Tonon de Rossi
Cecília Batista Duarte Campos Leide Aparecida S. e Silva Rosana Cristina Mazetto
Cirlene Ribeiro de Figueiredo Leilane dos Santos Rohleder Rosangela Carneiro Goes
Cleonice Cassemira de Arruda Leodenil Alves Duarte Rosimar Nunes Rondon
Conye Maria da S. Bruno Letícia Dias Branquinho Sandra Regina de Queiroz
Dalva do Carmo Ferreira Lídia Antonia de Siqueira San Martin de Souza Santiago Silva
Daniela Macambira Loedilza Milícia da Silva Silene Ticianel
Daniele Laura Moraes Camargo da Silva Lorandi Ferreira de Morais Silma Gonçalves Ponce Correa Costa
Deise Marques de A. Pinho Louridina Antonia M. da Cruz Silva Rosa de Oliveira
Denyse Batista Angeline Luciene Oliveira da Silva Duarte Simone Emília Cavasin
Edilaine Aparecida Pereira Mattos Lucilene de Souza Santos Solange Maria M. R. A. Silva
Edilaine Maria Mendes Ferreira Lucilene Ferreira Lescano Suellen Cristina A. Xavier
Edilbeth Graciela Ortt Arruda Lucirene Aparecida Borges Porto Suely Norberto Gomes
Edilene de Souza Machado Luzeni Ferreira da Silva Talita Fonseca Mazetto
Edilete Silva Pereira Luzinete Almeida Campos de Silveira Terezinha de Jesus Meira
Edvair Pereira Alves Luzinete Carvalho de Miranda Ugolina Cesária da Cruz
Elaine Aparecida Pereira Mattos Mabel Strobel Moreira da Silva Vânia Joceli Araújo
Eliane de Castilho Lírio Magna Maria Barros William Ortega Ferreira
Eliana Gonçalves da Silva Marcela Rezende Guimarães Martins Yvone Inez Ricci Boaventura
Eliane Eduarda de Anunciação Márcia Cristina Albieri Zileide Lucinda dos Santos
Eliane Soares de Souza Marcos Roberto Godói
Eliane de Oliveira Mendes Quinhone Margareth Guerrise
Fotografia Correspondência
Jorge de Souza Pinho Rua Diogo Domingos Ferreira, 292
Celso Miguel de Oliveira Bairro Bandeirantes, Cuiabá-MT/ Brasil-BR
Gentilmente Cedidas Pelas Equipes Gestoras das Unidades CEP: 78010-090
Educacionais; Museu da Educação de Cuiabá e E-mail: dgge.sme@cuiaba.mt.gov.br
Museu da Imagem e do Som (Misc/Cuiabá) Fones: 65 3645-6505/3645-6580/36456582
SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DE CUIABÁ
E74
Escola Cuiabana: cultura, tempos de vida, direitos de
aprendizagem e inclusão./ Edilene de Souza Machado
e Mabel Strobel Moreira da Silva (organizadoras).
1ª edição. Cuiabá-MT: Print Gráfica e Editora, 2019.
256 p.
ISBN 978-85-86422-80-5
CDU 37(817.2)
Realização
Prefeitura de Cuiabá /Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá
Organização
Edilene de Souza Machado
Mabel Strobel Moreira da Silva
Editores
Elaine Caniato
Ramon Carlini
Rommel Kunze
Projeto gráfico
Elaine Caniato e Marcelo Cabral
Revisão
Doralice Jacomazi
CAPÍTULO 1:
CONTEXTUALIZAÇÃO DA SOCIEDADE E DA EDUCAÇÃO............................................................................. 13
CAPÍTULO 2:
ANÁLISE DE TAXAS DO ANALFABETISMO E RESULTADOS
DA PRODUTIVIDADE EM ARTICULAÇÃO COM PROJETOS DE MELHORIA
NOS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM..................................................................................................................................... 34
CAPÍTULO 3:
CONCEPÇÕES E CONCEITOS QUE EMBASAM A ESCOLA CUIABANA........................................................ 41
CAPÍTULO 4:
PROPOSTA PEDAGÓGICA DA ESCOLA CUIABANA CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA................. 76
CAPÍTULO 5:
EDUCAÇÃO INFANTIL NA ESCOLA CUIABANA.......................................................................................................... 94
CAPÍTULO 6:
ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA CUIABANA................................................................................................. 119
CAPÍTULO 7:
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA ESCOLA CUIABANA,
DA TRANSVERSALIDADE À ESPECIFICIDADE...................................................................................................... 155
CAPÍTULO 8:
EDUCAÇÃO DO CAMPO NA ESCOLA CUIABANA................................................................................................. 177
CAPÍTULO 9:
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA ESCOLA CUIABANA...................................................................... 197
CAPÍTULO 10:
ESCOLA CUIABANA: PROGRAMAS, PROJETOS
E AÇOES ESTRATÉGICAS E ESTRUTURANTES..................................................................................................... 225
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................................ 248
Introdução
A Escola Cuiabana nasce no âmago da sociedade contemporânea e coloca no centro das suas discussões
a formação do ser humano constituído e integrado nesta sociedade, assinalada pelo contexto social global
e, ao mesmo tempo, pelo local no espaço do território cuiabano. É uma Política Educacional profundamen-
te marcada pelo movimento teórico prático instaurado na história social, na cultura, na reflexão e no diálo-
go, assim como, no enfrentamento às adversidades que ainda persistem no campo da Educação Básica da
capital mato-grossense no limiar dos seus trezentos anos, evidenciadas nas avaliações internas e externas
e nos indicadores apresentados no Plano Municipal de Educação (CUIABÁ/PME, 2015-2024).
A concepção de uma educação que considere a cultura cuiabana vem sendo construída ao longo dos
anos na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, desde 1998, com o Projeto Saranzal, aprofunda as discussões
em 1999, com a primeira versão da Escola Sarã e ganha destaque em 2000, com a segunda versão dessa
proposta.
Recentemente, em 2017, com a aproximação do aniversário de trezentos anos de Cuiabá, os assessores,
na Secretaria Municipal de Educação, e os educadores, nas unidades educacionais, sentiram a necessidade
de partir dos saberes construídos e revisitados para elaborarem uma proposta educacional enraizada na
realidade local, que pudesse considerar: a diversidade étnica, com a presença dos povos originários, colo-
nizadores, migrantes e imigrantes, os biomas da região, como o Cerrado, Pantanal e Amazônia, e outros
elementos históricos, culturais e ambientais. Esta proposta, embora valorize a realidade local, não exclui o
conhecimento de outras realidades e culturas.
Assim, sugere um projeto pedagógico ancorado na história e cultura cuiabanas sem perder o nexo com
as transformações ocorridas na sociedade global pelo desenvolvimento das Tecnologias Digitais da Infor-
mação e Comunicação. Destaca, neste projeto, a concepção de que o homem se apropria da cultura, ao
mesmo tempo que a produz e modifica, por isso, visa formar o homem consciente dos problemas de seu
tempo, de seu mundo, um sujeito capaz de contribuir para a produção de uma sociedade mais justa e igua-
litária.
A visão omnilateral, como aborda Frigotto (1996), e não unilateral e passiva de ser humano articula-se
com a ideia de que as crianças não estão culturalmente homogêneas para poder aprender e também que os
novos campos do conhecimento forçam para uma pluralidade, diversidade, multiplicidade de orientações
que abrem possibilidades para a renovação dos fins, dos meios e das relações entre eles. A informação, que
antes era tão disputada e valorizada, hoje está disponível. “Há mais informação publicada na internet em
uma semana do que todo conteúdo gerado no século 19” (OLIVEIRA, 2010, p. 26).
Dessa maneira, o leque formativo que estava centrado na família e na escola, portanto, semifechado,
abriu-se e as crianças e jovens de hoje têm demonstrado dificuldades para assimilar a prática pedagógica
unidirecionada com um currículo departamentalizado.
Esta visão de ser humano e de conhecimento constitui-se em um dos eixos de uma formação humana
que se coloca a serviço da libertação e humanização dos homens. Para Frigotto (1996), formar hoje para
1 - A Semana Pedagógica é aquela que antecede o início do calendário escolar dedicada aos momentos formativos organizados e oferecidos pela
Secretaria Municipal de Educação para todos os profissionais da Rede e, também, momentos formativos organizados pelas unidades educacionais sob
a coordenação dos Gestores Escolares em que ocorrem estudos, avaliações e planejamentos dos aspectos pedagógicos e administrativos. Esta Semana
Pedagógica antecede a aula inaugural.
2 - Aula inaugural é a denominação do ato público que conduz o início das aulas na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, pela autoridade máxima do
Poder Executivo, ao declarar aberto o ano letivo. Além do Prefeito Municipal, Secretário de Educação, Secretário Adjunto e todo o staf da Secretaria de
Educação, outras autoridades municipais e estaduais são convidadas. Todos os profissionais da Rede são recepcionados e no conteúdo do evento, além
das mensagens das autoridades, do ato de abertura do ano letivo, recebem uma palestra formativa e participam de apresentações culturais. Trata-se de
uma tradição na Rede Municipal de Cuiabá.
Ceará), que discutiu “Educação Inclusiva”, e Maria Margarida Machado (Universidade Federal de Goiás),
com o tema “Educação de Jovens e Adultos e o universo do trabalho: tempo/espaço de humanização”.
Em reunião na data de 17/10/18, a secretária adjunta, professora Edilene de Souza Machado, colocou a
conclusão da política educacional da Rede como ponto inquestionável. Assim, foram realizados o levanta-
mento do material até então produzido, discussão do roteiro para a estrutura do material a ser publicado,
metodologia de orientação e produção dos textos. Logo em seguida, avaliou-se com os professores e ges-
tores da Educação Infantil e 1º ciclo do Ensino Fundamental a possibilidade de parametrizar os registros
no sistema Sigeduca/SME. 3
Entre novembro e dezembro de 2018, o trabalho da produção da política se intensificou calcado no
objetivo de abrir para a participação e contribuição mais efetiva de representantes das unidades educacio-
nais. Definiram-se o título preliminar, o estilo de redação e uma nova metodologia para que os profissionais
das unidades pudessem conhecer e sugerir o conteúdo da política educacional em construção.
Assim, ocorreram três fóruns de discussão com um grupo de dezesseis coordenadoras pedagógicas com
práticas diferenciadas e exitosas4 , ao mesmo tempo em que foram efetuadas sete reuniões de apresen-
tação e coleta de sugestões com as demais coordenações pedagógicas da Rede organizadas em Creches,
Centros Municipais de Educação Infantil, Escolas de Ensino Fundamental urbanas, do Campo e de Educa-
ção de Jovens e Adultos. O texto da Educação Especial foi apresentado em todas as reuniões na perspec-
tiva da sua transversalidade.
Do ponto de vista do trabalho interno da SME, observou-se que havia necessidade de mais uma etapa
antes da finalização do texto base: o estabelecimento de interfaces entre os seus programas e projetos, a
definição de outros programas necessários para que a nova proposta educacional pudesse ser projetada
e executada com êxito, questionando: Que caminhos a SME já caminhou em seus programas e projetos?
Qual a convergência das políticas e programas? Foram diagnosticados os pontos de interfaces e de con-
vergências para a discussão com e entre as equipes e a reorganização do trabalho na SME, bem como o
conteúdo dos capítulos do documento.
No período de 27 a 30/11/2018, ocorreu o 2º Seminário Integrador da Rede Municipal de Ensino de
Cuiabá, com o tema: “Educação Básica como direito” e as contribuições vieram dos relatos de experiên-
cias das unidades educacionais e dos estudiosos e pesquisadores: Profª. Drª. Elvira Souza Lima (Univer-
sidade de Salamanca), que abordou o tema “Contribuições da neurociência para o desenvolvimento e as
aprendizagens”; Profª. Drª. Viviane Mosé (Universidade Estadual de Campinas – Unicamp), que discutiu
os “Desafios dos educadores na escola contemporânea”; Prof. Dr. Leonir Boff (Universidade do Estado de
Mato Grosso - Unemat), que trouxe referenciais sobre o “Currículo e saberes do campo”; Profª. Drª. Jussara
Hoffman (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), com o tema “O que é mesmo avaliar?”, e a Profª.
Dra. Jaqueline Moll (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRS), que discutiu “Currículo, cultura e
conhecimento escolar”.
Na etapa final ocorreu um olhar mais crítico dos profissionais da Diretoria Geral de Gestão Educacional,
Diretoria de Ensino, Diretoria de Planejamento e Orçamento e de vários setores da SME com a colabo-
3 - Sistema SigEduca/SME é o Sistema Integrado de Gestão Educacional, uma ferramenta desenvolvida em ambiente web, que visa atender às demandas
de gestão dos processos efetivados pelas escolas, junto à Secretaria de Educação de Cuiabá, utilizado também pela Secretaria de Educação do Estado
de Mato Grosso.
4 - São coordenadoras pedagógicas de unidades educacionais que apresentam melhorias nas avaliações internas e externas e uma organização curricular
diferenciada, como Sala Ambiência; Narrativa como guia e fio condutor do currículo; e Hora Estendida. Ou que apresentam projetos tais como: Mídias
na escola; Colcha literária; Stúdio Stop Motion; Mala viajante; Soletrando e matematizando com materiais lúdicos; Registros acadêmicos, portfólios e
gráficos à vista; dentre outros.
ração da professora Daniela Macambira (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP), que
realizaram os ajustes finais da proposta.
Com o texto base concluído, houveram apresentações para aproximadamente seis mil profissionais de
todos os segmentos da Rede Municipal de Ensino, durante a Semana Pedagógica, de 23/01 a 07/02/2019,
culminando com o lançamento oficial do texto base da Política Educacional em abril de 2019, durante as
comemorações de aniversário dos trezentos anos de Cuiabá. Outras discussões com a participação dos
profissionais da Rede estão previstas até agosto de 2019, para sugerirem e validarem o novo modelo edu-
cacional, como, também, colaborarem na elaboração do referencial curricular da Escola Cuiabana e do refe-
rencial de avaliação do desempenho acadêmico. Após esses encaminhamentos o lançamento definitivo da
Política educacional - Escola Cuiabana está previsto para outubro de 2019, por ocasião do Dia do Professor.
A primeira parte deste documento é formada pelos primeiro e segundo capítulos, que apresentam uma
contextualização da sociedade global e incluem os aspectos da história, cultura e educação da sociedade
local, almejando compreender a relação sociedade e educação, imbricados no processo de formação hu-
mana para situar qual é o projeto pedagógico necessário para a contemporaneidade e a cidadania que se
espera exercitar neste tempo e neste espaço. No segundo capítulo apresentam-se tópicos da educação na
Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, com análises de taxas e resultados do analfabetismo e outros aspec-
tos relacionados à produtividade e frequência dos estudantes e a articulação com projetos de melhoria nos
níveis de aprendizagem.
A segunda parte compreende do terceiro ao nono capítulos que discorrem sobreas concepções e os
conceitos que embasam a proposta pedagógica na Escola Cuiabana e também, discutem a organização cur-
ricular, ou seja, especificam as propostas da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação Especial,
Educação de Jovens e Adultos e Educação do Campo.
A terceira parte, constituída pelo décimo capítulo, consta a discussão sobre a Escola Cuiabana como o
programa macroestrutural da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá. Os eixos de articulação e os outros
programas estruturantes para o seu desenvolvimento, com os respectivos projetos ou ações estratégicas.
Aluno Pedro Henrique da Luz Rodrigues - (EMEB Ana Tereza Arcos Krause - 1˚ Ciclo - 3˚ Ano)
Capítulo 01
Em 8 de abril de 1719, Pascoal Moreira Cabral assinou a Ata da Fundação de Cuiabá no local conhecido
como Forquilha, às margens do Coxipó. O adjetivo pátrio da pessoa que nasce em Cuiabá é cuiabano ou
cuiabana. A cidade recebeu o mesmo nome do rio que a banha e apresenta várias vertentes que indicam
essa origem.
Muitos pesquisadores ao longo do tempo levantaram várias hipóteses sobre o seu nome, que perpassa
pelos saberes dos povos indígenas Guarani e Bororo, alcançando os significados de pesca com flecha e
arpão, árvores que produziam cuias, vale dos índios das águas, rio da lontra brilhante, como explica o breve
histórico a seguir.5
a) Os Anais do Senado da Câmara6 , em sua parte inicial,destaca que: o termo rio Cuiabá tem origem
por acharem em margens cabaças produzidas pelos indígenas (gentio) que as transformavam em
cuias para uso doméstico. No Álbum Graphico do Estado de Mato Grosso (1914), encontra-se a afir-
mação de que o nome Cuiabá originou-se do fato de que nas margens desse rio, havia árvores que
produziam frutos, dos quais faziam um objeto denominado de cuia (Álbum, 1914, p.52).
b) Outra origem vem do nome de uma tribo, que não deixou vestígio, mas foi relatada pelos bandei-
rantes paulistas e pelos portugueses.
c) A obra de Silva e Ferreira (1998) que discorre sobre a origem e significado dos nomes das cida-
des de Mato Grosso, traz outra designação citando pesquisa de Brasilides Brites Farina, professor de
gramática e semântica guarani, da Universidade Nacional de Assunção, que afirma que Cuiabá, vem
da corrupção dos nomes Kyyaverá, Cuyavá, Cuyabá e finalmente Cuiabá. Na língua guarani significa
Lontra Brilhante. João Carlos Ferreira e o Padre José de Moura e Silva colaboram com a ideia de que
os índios Paiaguás em suas perambulações por todo pantanal, observando a quantidade de lontras e
ariranhas que tinham no Rio Cuiabá, o seu hábitat, chamaram-no kyyaverá ou Rio da Lontra Brilhante.
d) Jucá (2002) defende a tese da origem guarani do nome, sendo o topônimo para nominar a região
do Pantanal Mato-grossense: o Vale dos Índios das Águas.
O trabalho bibliográfico, organizado por Machado (2008), procura a origem do nome do rio Cuiabá, da
cidade e adjacências, dentro da linguística da etnia Bororo, seguem alguns exemplos:
5 - Fonte: Portal Mato Grosso Brasil, desenvolvido por Wagner Augusto. Disponível em: http://www.matogrossobrasil.com.br/historia cuiaba.asp.
Acesso em: 10 jan. 2019. E Plano Municipal de Educação de Cuiabá, 2015-2024.
6 - Além dos Anais do Senado Federal Brasileiro/Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado Federal (https://
www.senado.leg.br/publicacoes/anais/pdf/Anais_Imperio/1823/1823%20), pode-se pesquisar em: Annaes do Sennado da Camara do Cuyabá: 1719-
1830. Transcrição e organização de Yumiko Takamoto Suzuki. Cuiabá, MT: Entrelinhas, Arquivo Público de Mato Grosso, 2007.
Por fim, ainda consta o imaginário popular da origem a partir do episódio do índio, que estava lavando
sua cuia às margens do rio e ao perdê-la disse: “Cuia que vá”, daí surgiu Cuiabá.
Póvoas (1995, p. 80) enfatiza nas suas afirmações: “Uma coisa, entretanto, é certa: o rio já se chamava
Cuiabá antes de ter sido navegado por Antônio Pires de Campos em 1718. [...] O nome da cidade proveio
do rio que a “banha” [...] Agora, de onde provém o nome do rio, eis a questão”.
A história de Cuiabá7 se instaura no século XVII, e os primeiros indícios de bandeirantes paulistas na
região onde hoje fica a cidade se situam entre 1673 e 1682, quando da passagem de Manoel de Campos
Bicudo pelo local. Ele fundou o primeiro povoado da região, onde o rio Coxipó deságua no Cuiabá, batiza-
do de São Gonçalo. Em 1718, chegou ao local, já abandonado, a bandeira do sorocabano Pascoal Moreira
Cabral. Em busca de indígenas, Moreira Cabral subiu pelo Coxipó, onde travou uma batalha, com os índios
Coxiponés. Com o ocorrido, voltaram e, no caminho, encontraram ouro, deixando, então, a captura de ín-
dios para se dedicarem ao garimpo.
Em 8 de abril de 1719, Pascoal assinou a ata da fundação de Cuiabá no local conhecido como Forquilha,
às margens do Coxipó, de forma a garantir os direitos pela descoberta à Capitania de São Paulo. A notícia
da descoberta se espalhou e a imigração para a região tornou-se intensa. Esta data marca a comemoração
de aniversário de Cuiabá, perfazendo-se, então, 300 anos em 8 de abril de 2019.
Em outubro de 1722, Miguel Sutil, também bandeirante, descobriu às margens do córrego da Prainha
grande quantidade de ouro, maior que a encontrada anteriormente na Forquilha. O afluxo de pessoas tor-
nou-se grande e até a população da Forquilha se mudou para perto desse novo achado. Em 1727 Cuiabá
foi elevada à categoria de vila - Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. A Capitania de Mato Grosso foi
criada em 1748, por carta régia, pelo governo português, desmembrando-a da Capitania de São Paulo e,
em 1818, Cuiabá foi elevada à condição de cidade.
Somente após a Guerra do Paraguai (1865) e o retorno da navegação pelas bacias dos rios Paraguai,
Cuiabá e Paraná é que o município se desenvolveu economicamente. A economia esteve, nesse período,
baseada na produção da cana-de-açúcar e no extrativismo. As ruas centrais da cidade eram cobertas de
grandes pedras-canga. Para trafegar, apenas cavalos e charretes, pois ainda não existia outro meio de
transporte. A iluminação, que no início do século era por meio de candeeiros ou lampiões movidos a azeite
de peixe, passou a ser a querosene e, depois, a gás.
7 - Fontes: Plano Municipal de Educação de Cuiabá, 2015-2024 e Portal Mato Grosso Brasil, desenvolvido por Wagner Augusto. Disponível em: http://
www.matogrossobrasil.com.br/historiacuiaba.asp. Acesso em: 10 jan. 2019.
Cuiabá, segundo Lópes (2012), é uma cidade multicultural, multiétnica, assim como os demais estados
do Brasil. Vangelista (1996) relata que os primeiros habitantes deste lugar eram indígenas e, na medida
em que crescia o processo de exploração e expansão do território brasileiro, ocorreram na localidade as
miscigenações mais diversas.
Partindo de tais informações, pode-se considerar que a população cuiabana, por formação como ci-
dade, manteve traços das culturas europeia, africana e principalmente da indígena, do povo Bororo, que
habitava estas regiões, do sul de Mato Grosso até o Vale do Rio Cuiabá.
Quando os bandeirantes chegaram ao território cuiabano, encontraram como habitantes os indígenas.
Grando (2004, p. 148), em sua pesquisa, relata que a organização do povo acontecia da seguinte maneira:
Conforme ressalta Rondon (2015), a cultura cuiabana herdou vários elementos da cultura do povo Bo-
roro, como a constituição familiar, tendo como referência a casa da mãe-cultura matriarcal, com irmanda-
des ampliadas, que torna a família numerosa considerando todos os parentes consanguíneos e agregados.
Segundo o autor, a linguagem de matriz portuguesa também tem grande influência Bororo, principalmente
no sotaque peculiar do cuiabano.
No Brasil, alguns problemas para a conquista da educação pelas camadas populares se instalaram por
décadas, afetando a democratização da educação brasileira. A não preocupação com a educação pública
da população, agravada pela inexistência, em alguns períodos históricos e fragilidade em outros, de in-
vestimentos e de orientação pedagógica, são questões que, sem desmerecer outras iniciativas, tiveram
alterações mais significativas na década de 1980 no processo de redemocratização vivido pela sociedade
brasileira, que obteve sua maior expressão a partir da Constituição Federal de 1988.
Importante mencionar que a história do atendimento escolar, da organização pedagógica e da gestão
democrática implantada na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, não está descolada da história da educa-
ção brasileira e mato-grossense, e que o reducionismo pode dificultar a visão mais aprofundada e crítica da
história. Assim outras leituras serão necessárias, pois aqui, devido à amplitude do tema, apresenta-se, nos
próximos parágrafos, apenas uma síntese da história da educação tendo como marco a década de 1950-
1960, quando ocorre a criação das Secretarias Estadual e Municipal de Educação.
Em 1953, a educação em Mato Grosso tornou-se autônoma em sua administração, com a criação da
Secretaria de Educação, Cultura e Saúde (03/08/1953) e, na esfera municipal, a Lei nº 673/63 cria pela pri-
meira vez a estrutura da Secretaria Municipal de Educação e Saúde, no governo do prefeito Vicente Emílio
Vuolo. De início o trabalho é focado nas escolas rurais e as escolas urbanas, oficialmente municipais, sur-
gem em 1969, quando o prefeito de Cuiabá Frederico Soares de Campos (1967 a 1969), além de autorizar
a Escola de 1º Grau Rotary Patrono Padre Agostinho Colli, que já estava em funcionamento com apoio do
Rotary Club, aprovou também a criação da Escola Municipal Ezequiel Pompeu Ribeiro de Siqueira.
A Lei nº 1.440/75 modificou a estrutura da Secretaria Municipal de Educação (SME), desvinculando-a da
pasta de Saúde e justapondo-a ao segmento da cultura. E nesse mesmo ano, a Prefeitura de Cuiabá assumiu
integralmente a manutenção da Escola Padre Agostinho Colli, na administração do então prefeito Manoel
Antônio Rodrigues Palma. Por meio do Decreto nº 418/1975, alterou a redação do art. 1º dos Decretos nº 9;
10; 11/1969 e nº 10 e 11/1971 e ratificou todos os atos emitidos no período de prevalência da antiga redação.
No Decreto nº 418/1975, a Escola de 1º Grau Rotary Patrono Padre Agostinho Colli e a Escola Ezequiel
Pompeu Ribeiro de Siqueira (nomenclaturas da época), autorizadas em 1969, passaram a ter a denomina-
ção de Escolas Públicas Municipais de Cuiabá. Nesse mesmo dispositivo legal foram criadas as seguintes
escolas: Escola Municipal Maria Dimpina Lobo Duarte, Escola Municipal Filogônio Correa, Escola Munici-
pal Professora Tereza Lobo, Escola Municipal Alzira Valladares e Escola Municipal Hélio de Souza Vieira.
A Escola Municipal de Educação Básica Padre Agostinho Colli encerrou suas atividades de escolariza-
ção e foi desativada em 2012, atendendo sua última turma de alunos em 2013, na esteira dos seus 44 anos
de funcionamento, e passou a funcionar como arquivo da educação e, hoje, a SME tem como proposta a
criação do primeiro Museu da Educação de Cuiabá no espaço da escola desativada.
9 - Nomenclatura utilizada antes da Lei nº 3330, de 14 de julho 1994 - Lei Orgânica do Magistério Público Municipal de Cuiabá-MT.
Essas dificuldades citadas mostraram que a escola seriada apresentava problemas do ponto de
vista da exclusão do estudante e da escola que fragmenta o percurso da aprendizagem. O projeto Saranzal
foi debatido com a Rede, fundamentado e transformado na política educacional denominada Escola Sarã:
Cuiabá nos Ciclos de Formação, publicado em 2000.
Como apresentado acima, a proposta da Escola Sarã inovou os processos de elaboração curricular e
apontou para uma nova forma de organização da escola e sua gestão, considerando os tempos e espaços
para aprender, trazendo como princípios democráticos a garantia de um ensino de qualidade e uma apren-
dizagem significativa para todos.
Entretanto, as ações de um Projeto Político-Pedagógico de rompimento com a concepção da divisão do
ensino de caráter classificatório e excludente precisam ser atualizadas a partir de um constante repensar
da prática pedagógica: currículo, avaliação, relação entre professores e alunos, entre outros aspectos, am-
parados pela qualidade no ensino em um processo inclusivo, interativo e de promoção dos sujeitos na so-
ciedade contemporânea. Este projeto se faz e refaz em um processo contínuo, responsável e democrático
em conexão com os processos empreendidos pela dinâmica da sociedade.
Nesse sentido, a Escola Cuiabana reconhece os avanços trazidos pela Escola Sarã e outras propostas
para a Rede Municipal de Educação. Porém, como mostram os dados apresentados neste documento, o
processo avaliativo ainda não alcançou progressos suficientes no ensino, as oportunidades educacionais
de inserção social de todos os alunos ainda não estão equalizadas e, transcorridos aproximadamente vinte
A tomada de decisão em propor ações de política educacional requer a ampliação da visão de gestão
escolar e de gestão educacional para interagir e também agir, no sentido micro, da realidade escolar local
onde ela está inserida com sua história e cultura, e ainda, no sentido macro, do sistema educacional com
suas orientações e normatizações. Esta visão pressupõe adentrar na dimensão ampla da gestão da educa-
ção, baseada na organização dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal e das suas incumbências
para impulsionar as melhorias e as inovações necessárias no âmbito da gestão escolar, em um movimento
processual de reflexão e ação, aberto a alterações com base nos resultados que se apresentam na prática
pedagógica.
Embora seja necessário avançar para uma colaboração bem mais efetiva entre os sistemas de ensino
federal, estadual e municipal, um importante instrumento articulador da gestão educacional é o Plano Na-
cional de Educação (PNE)10 instituído pela Lei nº 13.005, de 25/06/2014, em consonância com a Constitui-
ção da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988). Este Plano traz vinte metas e diversas estratégias
para a maior organicidade da educação nacional, visando ao compromisso com o esforço contínuo de eli-
minação de desigualdades históricas no país, construindo formas de colaboração cada vez mais orgânicas
entre os sistemas de ensino (BRASIL, 2014).
Destaca-se, neste contexto, a meta 7 do PNE (2014), que aborda o aprendizado na idade certa (já atua-
lizado pela BNCC/2017), a qualidade do ensino em todas as etapas e modalidades da Educação Básica e o
alcance das médias nacionais para o Ensino Fundamental:
A Meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 diz respeito à melhoria da qua-
lidade da Educação Básica, enfocando, particularmente, a melhoria do fluxo escolar e da
aprendizagem dos estudantes de modo a atingir, até 2021, as seguintes médias nacionais
para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb): 6,0 para os anos iniciais do
Ensino Fundamental (EF); 5,5 para os anos finais do Ensino Fundamental. (BRASIL, PNE
2014, p. 113).
Assim, os entes federados compartilham responsabilidades sem negar suas atribuições próprias, pre-
vistas na Lei 9394/96. Neste caso, trata-se do Sistema Municipal de Ensino de Cuiabá11 , que atende as de-
mandas por meio da integração com as políticas e planos educacionais do Estado e da União, planejadas no
seu Plano Municipal de Educação, que é voltado, prioritariamente, para as primeiras etapas da Educação
Básica, suas modalidades e as suas formas de articulação, entre as instâncias que determinam as normas,
executam e deliberam no setor educacional.
10 - Além do PNE, o Plano de Ações Articuladas (PAR) pode ser outro exemplo de elo entre as esferas governamentais. O PAR foi criado com a
finalidade de diminuir as desigualdades educacionais existentes no Brasil e com a concepção de um sistema de articulação entres os entes federados,
feito mediante adesão de cada município e visa à implementação de 28 diretrizes para a educação com foco no comportamento progressivo do Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), utilizado nacionalmente pela primeira vez em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC).
11 - Amparado pela Lei nº 5.289/2009, que cria o Sistema Municipal de Educação de Cuiabá.
Ressalta-se que uma política pública assumida por todos explicita a vontade dos cidadãos, é transcendente
de um governo para outro e tem o papel de zelar pelo direito à educação do munícipe, não apenas referente
à sua responsabilidade constitucional de oferta. E, na essência desta compreensão, pretende-se superar um
grande entrave da história da educação brasileira: a descontinuidade dos planos e das políticas educacionais.
Em sintonia com os desafios da sociedade contemporânea e com características sistêmicas e de conti-
nuum que emerge este documento da Política Educacional de Cuiabá originando a proposta da Escola Cuia-
bana, amparado nos marcos legais: da Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (9394/1996), Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), Parâmetros Curricu-
lares Nacionais (1997), Lei nº 13.005, de 25/06/2014 (Plano Nacional de Educação/2014), Lei 10.111/2014
(Plano Estadual de Educação de Mato Grosso/2014), Lei 5.949/2015 (Plano Municipal de Educação de
Cuiabá/2015), Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), Lei n° 11.114/2005, (tornar obrigatório
o início do Ensino Fundamental aos 06 (seis) anos de idade), Lei 11.274/2006 (Diretrizes e Bases da edu-
cação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fundamental).Assim como no
Projeto Saranzal (CUIABÁ, 1997), Escola Sarã (CUIABÁ, 1999/2000), Diretrizes da Secretaria Municipal
de Educação e a coletânea que a compõe (CUIABÁ, 2008), Legislações do Conselho Municipal de Educa-
ção de Cuiabá (CME/CUIABÁ), e os Compromissos Internacionais, entre outros marcos legais. E apresenta
as estratégias político-pedagógicas para a Educação Básica no contexto do Sistema de Ensino Municipal.
A Rede Municipal de Ensino de Cuiabá disponibilizou 162 unidades educacionais para atender as etapas
e modalidades de ensino ofertadas no ano letivo de 2018, sendo 50% formadas por Escola Municipal de
Educação Básica (EMEB); 31,47% por Creches; 12,35% por Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI);
4,94% por Escola Municipal de Educação Básica do Campo (EMEBC); e 1,24% por Centro Emergencial de
Educação Infantil (CEEI), conforme atabela abaixo:
CRECHES 51
Total 162
Fonte: SME /DGGE/CGL/SIGEDUCA (2018).
No período de 2014 à 2018 a Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, apresentou aumento de 1.620
(24,10% nas matrículas das Creches); 1.111 (10,71% nas matrículas da Pré-Escola) e 1.189 (5,14% nas
matrículas dos anos iniciais). Nesse mesmo período houve redução de 1.573 (23,99% nas matrículas
dos anos finais) e 407(26,07% nas matrículas da Educação de Jovens e Adultos), de acordo com a tabela
abaixo:
Ensino Fundamental
Educação Infantil Total de alunos matriculados
Regular
Período Ensino
Educação
Creche Pré-Escola Anos Iniciais Anos Finais Fundamental EJA Geral
Infantil
Regular
A Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, conforme a tabela abaixo, abarca um total de 50.265 alunos
matriculados até 31 de maio de 2018, base referente do Censo (2018). Na Educação Infantil, foram matri-
culadas aproximadamente 19.828 crianças, representando 39,44% das matrículas oferecidas nas 51 Cre-
ches 5.501 (10,94% das matrículas); nos 20 Centros de Educação Infantil 4.168 (8,29% das matrículas);
nos 2 Centros Emergenciais de Educação 684 (1,36% das matrículas); e nas 70 escolas 9.475 (18,85% das
matrículas).
Quantidades
Etapas e modalidades Atendimento
Especificidades educacionais
da Educação Básica fase/ano escolar
Alunos %
Berçário 278
Maternal 602 Foram matriculadas 5.501 crianças no período integral na
Creche 10,94
Jardim I 2.190 faixa etária de 0 a 3 anos e 11 meses em 51 unidades.
Jardim II 2.431
Berçário 406
Maternal 497
EDUCAÇÃO INFANTIL
Quantidades
Etapas e modalidades Atendimento
Especificidades educacionais
da Educação Básica fase/ano escolar
Alunos %
1ºAno 5.733
Escolas Foram matriculadas 16.777 crianças nos períodos
do 1º Ciclo 2ºAno 5.267 33,38 matutino e vespertino, oferecidas em 70 escolas urbanas e
8 escolas do campo.
3ºAno 5.777
4ºAno 3.907
Foram matriculadas 11.021 crianças nos períodos
Escolas
5ºAno 3.614 21,93 matutino e vespertino, oferecidas em 45 escolas urbanas e
do 2º Ciclo
ENSINO FUNDAMENTAL
7 escolas do campo.
6ºAno 3.500
7ºAno 661
Foram matriculadas 1.485 crianças nos períodos matutino
Escolas
8ºAno 537 2,95 e vespertino, oferecidas em 6 escolas urbanas e 5 escolas
do 3º Ciclo
do campo.
9ºAno 287
Escolas da EJA 1ª Fase 170 Foram matriculados 383 jovens e adultos, oferecidas em 8
0,76
- 1º Segmento 2ª Fase 213 escolas urbanas e 5 escolas do campo disponibilizadas.
Escolas da EJA 3ª Fase 231 Foram matriculados 631 jovens e adultos, oferecidas em 8
1,25
- 2º Segmento 4ª Fase 400 escolas urbanas e 5 escolas do campo.
Maternal 5
Jardim I 10
CMEIs 68 5,77
Jardim II 18
Pré-escola I 20
Pré-escola II 13
Jardim I -
Jardim II -
CEEIs 2 0,17
Pré-escola I 1
Pré-escola II 1
Escolas Pré-escola I 56
137 11,62
Pré-escola II 81
Continua...
6ºAno 115
7ºAno 16
Escolas do 3º Ciclo 8ºAno 21 57 4,83
9ºAno 20
Escolas da EJA - 1º 1ª Fase 4
12 1,02
Segmento 2ª Fase 8
Escolas da EJA - 2º 3ª Fase 6
20 1,69
Segmento 4ª Fase 14
1ª Fase 2
CCIs 5 0,40
2ª Fase 3
Pesquisas recentes realizadas pelo IBGE (2018) e outras instituições (CMDCA - Conselho Muni-
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos Tutelares) estimam que 180 mil crianças
e adolescentes vivem em Cuiabá, entre elas, 35%, ou seja, 63 mil crianças e adolescentes, estão em
situação de vulnerabilidade, tendo seus direitos constitucionais violados, de alguma forma, a saber:
direito à vida, à saúde, à alimentação, à Educação Infantil, ao brinquedo, à informação, à cultura e à
diversidade cultural, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Dados do disque 100/Cuiabá apontam que 60% dos casos de denúncia nesse canal versam sobre abuso
sexual de crianças e adolescentes. E observa que a violência física é a mais praticada, quando comparada à
negligência, violência psicológica e sexual.
Além disso, apesar da diminuição nos índices de mortalidade infantil no Brasil, doenças como sarampo,
pólio, difteria e rubéola voltam a ameaçar após erradicação. Doenças que estavam controladas graças à
vacinação em massa, hoje ameaçam provocar estragos na saúde pública brasileira.
Boletins recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017) advertem que está em curso um sur-
to do sarampo, doença altamente contagiosa e que pode levar à morte de crianças pequenas ou causar
sequelas graves. Em 2017, com o surto da doença nos países vizinhos, o Ministério da Saúde alertou a
população para a importância de tomar a tríplice viral, vacina que protege contra o sarampo, a caxumba e
a rubéola.
Segundo o site do Ministério da Saúde, e nas notícias dos meios de comunicação, há risco de retorno da
poliomielite em pelo menos 312 cidades brasileiras. A doença era considerada erradicada no continente
desde 1994, após décadas provocando milhares de casos de paralisia infantil, as vacinas contra poliomie-
lite não alcançam a meta de vacinação no Brasil desde 2011. Das vacinas que crianças de dois meses e
quatro meses de idade devem tomar, a poliomielite tem sido a única que não consegue ultrapassar 85% de
vacinados, seja na primeira ou na segunda dose.
Em relação às frentes de prevenção à vulnerabilidade da criança e adolescente, as ações da SME são
pautadas por meio dos programas:
b) Mais Educação: são atividades que qualificam os tempos, os espaços e as oportunidades educati-
vas, buscando garantir proteção e desenvolvimento integral às crianças e adolescentes nas unidades
educacionais e prioriza os alunos beneficiários do Programa de Transferência de Renda Bolsa Família,
que estão em situação de vulnerabilidade social.
c) Saúde na Escola: tem por objetivo sensibilizar a população quanto à melhoria da qualidade de vida
a partir do enfrentamento dos diferentes fatores que afetam a saúde,no sentido de conscientizar
toda a comunidade escolar quanto aos problemas de saúde e da necessidade de procurar soluções e
assumir maior responsabilidade em relação à saúde dos filho, identificar os recursos de saúde exis-
tentes na comunidade, para utilizá-los, quando necessário, identificar as necessidades de saúde dos
escolares e encaminhar a solução dos problemas encontrados.
A Escola Cuiabana enfatiza ações preventivas e de formação para precaver e até interromper ações
desumanas que ainda persistem em qualquer lugar onde a violência tenha iniciado o seu ciclo. Para isso
é necessário que a temática das pessoas em situação de violência ou vulnerabilidade seja debatida,
além dos programas existentes, buscar a interface setorial, Secretaria de Saúde e de Ação Social, por
exemplo.
O procedimento da matrícula do estudante, seja pelos pais ou seus responsáveis, à primeira vista, pode
parecer uma ação meramente técnica e burocrática. Porém esta ação, na perspectiva da humanização
e da inclusão, pode trazer muitas e importantes reflexões e tomadas de decisão para os profissionais da
educação, no sentido da acolhida, condições de ensino e aprendizagem, fatores que podem interferir na
aprendizagem e no desenvolvimento, acessibilidade pedagógica, acessibilidade arquitetônica, inserção ao
processo de escolarização, respeito às diferenças, direitos de aprendizagem e outros enfoques.
b) A matrícula humanizada
Diante da realidade apresentada no parágrafo anterior e em cumprimento às metas do seu Plano de
Educação, a SME desenvolveu a partir de 2017 uma nova metodologia de atendimento ao processo de ma-
trículas por meio de cadastro e solicitação via Web, transformando online a solicitação de matrícula para as
vagas nas Creches e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI). E, ainda, garantiu o atendimento pró-
ximo à residência da criança. As solicitações que excedem o número de vagas disponibilizadas compõem o
banco de dados para atendimento futuro.
A SME cumpriu, assim, o objetivo de dinamizar e humanizar o processo de matrículas por meio de cadas-
tro e solicitação via Web, com suporte do georreferenciamento e dos programas SigCuiabá, Google Earth e
Google Maps.
c) Matrícula e multiculturalismo
O Brasil é um país com uma enorme miscigenação étnica, oriunda de sua formação e dos processos mi-
gratórios, constituindo-se de uma diversidade étnico-racial, que inclui os indígenas, europeus, africanos e
afrodescendentes, entre outros povos, que contribuíram para a formação do povo brasileiro. Um contexto
social que deve ser analisado a partir das diferentes culturas que estabeleceram convivências, aprendiza-
gens e trocas, ressignificando suas histórias de vida.
A matrícula de indígenas
Em relação aos indígenas, o número de matrículas na Educação Básica (Educação Infantil, Anos Iniciais,
Anos Finais e EJA), por sexo e cor/raça Indígena, segundo os indicadores dos dados Sinopse/2019 no mu-
nicípio de Cuiabá, apresentou oscilações.
O período de 2014 a 2018 apresentou aumento significativo de 36,13% nas matrículas dos que se autode-
clararam indígenas, prevalecendo uma queda de 29,82% no atendimento feminino e aumento de 96,77% no
atendimento masculino, concentrando-se a maior demanda na modalidade do Ensino Fundamental regular.
No âmbito da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, no período de 2014 a 2018, verifica-se, por meio do
acesso ao Sigeduca (fev.2019), que houve nesse período um aumento de 78,94% nas matrículas para os
grupos de alunos que se registraram como indígena. Houve um aumento de 38 matrículas no ano letivo
de 2014, para 68 em 2018. Importante mencionar que os dados sobre esse grupo foram registrados no
sistema da SME somente a partir de 2014.
A matrícula de estrangeiros
Como ponto relevante, destaca-se o aumento de 64,70% nas matrículas, em relação ao ano de 2014,
para os grupos de alunos que se registraram como estrangeiros atendidos nas unidades educacionais da
Rede Municipal de Ensino de Cuiabá em 2018. O grupo de imigrantes que tem crescido significativamente,
desde 2014, conforme o Sigeduca/SME, é o de nacionalidade haitiana, com aumento de 53,70% nas matrí-
culas no ano letivo de 2017 para 2018.
Ainda conforme o Sigeduca/SME (2019), o segundo grupo de estrangeiros que procura a Rede Munici-
pal é o venezuelano, seguido pelos espanhóis, bolivianos, portugueses e japoneses, entre outros, de acor-
do coma tabela abaixo:
Considerando os indicadores de acesso, permanência e progresso dos alunos, a SME orienta os coor-
denadores pedagógicos e os assessores das equipes internas da Secretaria para acompanharem, de forma
intensa, o processo de produtividade e a frequência. E, assim, fornecerem subsídios à equipe gestora da
unidade educacional para as possíveis intervenções com a intenção de reduzir o número de alunos evadi-
dos e retidos, encaminhando e acompanhando os casos que necessitarem de atenção especial.
O Projeto Caracol, já citado, tem se revelado como importante instrumento para tornar a verificação
da frequência diária do aluno um ato de inclusão, incentivo à assiduidade, envolvendo a família, a escola, o
Conselho Tutelar, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e o Ministério Público. Além deste,
acrescenta-se:
Capítulo 02
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou nos últimos dez anos, em todo o país,
uma redução no número de pessoas que não sabiam ler ou escrever. A taxa de analfabetismo entre bra-
sileiros com 15 anos ou mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), teve
uma queda de 7,2% em 2016 para 7,0% (11,5 milhões de analfabetos) em 2017, apresentando uma redu-
ção equivalente a menos de 300 mil pessoas. O Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei nº
13.005, de 25 de junho de 2014, determinou na Meta 9 a redução da taxa de analfabetismo para 6,5% em
2015, e a erradicação do analfabetismo ao final da vigência do plano, em 2024.
No Brasil, foram matriculados 2.105.535 alunos na modalidade da Educação de Jovens e Adultos no
Ensino Fundamental, sendo 36.624 (1,74% das matrículas) no estado de Mato Grosso, na região Centro-
-Oeste, que teve a taxa de analfabetismo reduzida de 5,7% para 5,2% em 2017.
A redução na taxa de analfabetismo foi verificada entre os sexos, com queda de 0,3 ponto percentual
para ambos os sexos, apresentando 7,1% para os homens e 6,8% para as mulheres. O maior percentual de
analfabetos no Brasil foi observado na faixa dos 60 anos ou mais, com 1,1 ponto percentual, passando de
20,4% para 19,3% em 2017.
Cuiabá apresenta uma população de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever de
18.056 habitantes (valor absoluto), segundo os indicadores sociais municipais do IBGE (2010), que foram
distribuídos em 1.001 pessoas na faixa etária dos 15-24 anos (5,54% do total de habitantes), 2.314 pessoas
500
466
433 438
400
300
200
100
100
Alunos por
situação
0
Aprovados Retidos Evadidos Transferidos
O gráfico mostra que 30,10% dos alunos foram aprovados; 32,42% retidos; 30,49% evadidos; 6,99%
transferidos. Considera-se que, durante a movimentação desse ano letivo, 3,55% foram reclassificados.
Essa realidade demonstra desafios a serem vencidos.
Em razão desses dados, em 2017, a SME implantou o projeto intitulado Cuiabá Alfabetizada em seus 300
Anos e tem trabalhado para atingir a Meta 9 do Plano Municipal de Educação, elevando a escolaridade
média, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudos e reduzir de 5,4% para 0,5% o analfabetismo da
população de 40 a 59 anos ou mais, até 2023.
O Ensino Fundamental (1º ao 3º Ciclo - 6 a 14 anos de idade) da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá
no ano letivo de 2016 obteve 28.642 matrículas, apresentando, segundo o Censo/2016, um Rendi-
mento Escolar nos anos iniciais com 23.306 aprovações (98% das matrículas), 458 reprovações/re-
tenções (1,9% das matrículas), 9 abandonos (0,1% das matrículas). Para os anos finais foram 4.479
aprovações (91,9% das matrículas), 370 reprovações/retenções (7,6% das matrículas) e 20 abandonos
(0,4% das matrículas).
A proporção de alunos com dois anos ou mais de atraso escolar, durante a trajetória de escolarização,
faz com que esses alunos deem continuidade aos estudos, mas com defasagem em relação à idade consi-
derada adequada. Conforme os dados publicados no QEDU/2019, nas etapas finais dos ciclos, apresentam
distorção conforme os dados da tabela abaixo:
No período de 2010 a 2016 apresentou-se uma redução gradativa no índice dos alunos matriculados nas
etapas finais dos ciclos de formação do Ensino Fundamental, que estavam com distorção idade/ciclo/período
escolar em 51,87% no período do 3º ano e 46,66% no período do 6º ano. Em relação ao período do 9º ano,
houve uma oscilação, tendo a maior distorção idade/ciclo/período, de 26%, entre 2011 e 2012, e a menor dis-
torção idade/ciclo/período, de 18%, em 2016. Esses dados indicam a necessidade de a SME definir estraté-
gias para conter o avanço da evasão, o insucesso ou abandono escolar, que acarreta distorções e defasagens.
Um levantamento realizado pela Equipe do Ensino Fundamental em 2016 e 2017 trouxe um quantitati-
vo de 1.614 estudantes do primeiro e segundo ciclos com processo de construção do conhecimento ainda
não consolidado e, ainda, com histórico de retenção. Esses fatos direcionaram para a necessidade de inter-
venção pedagógica efetiva, na prática do professor, tendo em vista a garantia do direito à aprendizagem.
O Plano Nacional de Educação (PNE/2014), em sua Meta 2, garante, por meio da Lei nº 11.114, de 16 de
maio de 2005, o ingresso dos alunos no Ensino Fundamental a partir dos seis anos de idade e a duração mí-
nima de nove anos, estabelecida pela Lei nº 11.272, de 6 de fevereiro de 2006. Considera-se que pelo menos
95% dos alunos desta etapa na idade recomendada concluam as etapas do Ensino Fundamental, asseguran-
do um tempo maior de convívio escolar e maiores oportunidades de aprender. Na sua Meta 7, encontram-se
estratégias que focalizam a melhoria da aprendizagem dos alunos, tais como estabelecer e implantar diretri-
zes pedagógicas e a Base Nacional Comum dos Currículos, visando a que todos os estudantes do Ensino Fun-
damental tenham alcançado nível suficiente de aprendizado e 80%, pelo menos, o nível desejável até 2021.
A partir das análises dos dados levantados acerca do atendimento da Sala de Apoio à Aprendizagem (2015-
2016), observa-se, pelos resultados do fluxo dos estudantes atendidos, que muitas crianças ainda permane-
ceram com dificuldades de aprendizagem, uma vez que não foram dispensadas das aulas da Sala de Apoio.
A tabela abaixo apresenta os dados levantados em setembro de 2017 sobre a situação dos estudantes
com pouca evolução na aprendizagem:
A tabela demonstra que grande parte dos estudantes, ou seja, 60% deles, estão na fase final do 1º ciclo, com
seus oito anos de idade, e ainda consta uma porcentagem significativa de retenção. Além disso, os dados de
aprendizagem na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá demonstram que o processo de alfabetização precisa ser
aperfeiçoado, uma vez que os índices de alfabetização não são satisfatórios, demonstrados na Prova Cuiabá12 .
Um indicador importante de desempenho da educação brasileira é o Ideb, divulgado a cada dois anos, tem a
meta de atingir a nota 6,0 para o Brasil até o ano de 2021, calculado a partir dos dados sobre aprovação esco-
lar, obtidos no Censo Escolar, nas médias de desempenho, nas avaliações do Inep, do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil para os municípios. É ava-
liada a proficiência em matemática e língua portuguesa. Para o município de Cuiabá as metas projetadas são
de 5,6 e 5,9 para os anos iniciais e 4,9 e 5,2 para os anos finais até os anos de 2019 e 2021, respectivamente. A
tabela abaixo apresenta o Ideb alcançado na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá no período de 2007 a 2017:
12 - A Prova Cuiabá foi aplicada no ano letivo de 2018 por amostragem para 646 alunos do 1º ano e para 666 alunos do 2º ano, que representam 12,2%
do universo dos 5.462 alunos da rede.
Os números obtidos por Cuiabá nos anos observados são positivos e demonstram que o município está
avançando, numa curva crescente, melhorando seu desempenho nos anos iniciais, alcançados em 2017
com o resultado de 5,7; a meta era de 5,3.
Mesmo que Cuiabá tenha crescido e superado a meta do Ideb, a proficiência, de 199,70 para português
e 209,32 para matemática, ainda se encontra no nível básico13 .
Ainda que as mudanças demandem tempo pedagógico, o fato é que quando se olha para a proficiência da
Rede Municipal no histórico da Prova Brasil, identifica-se uma variação para mais nos indicadores de profi-
ciência, tanto nos anos iniciais como nos anos finais, embora não satisfatória, como pode ser visto a seguir:
Gráfico 2 – Variação da proficiência em matemática e português, 2005 a 2017, anos iniciais Cuiabá
Gráfico 3 – Variação da proficiência em matemática e português, 2005 a 2017, anos finais Cuiabá
13 - Conforme a Escala de Aprendizagem do QEdu, os alunos que se encontram no Nível Básico precisam melhorar, uma vez que a aprendizagem
adequada se refere aos níveis proficiente e avançado.
Em relação aos dados e resultados apresentados nos itens anteriores, a Escola Cuiabana toma como
necessidade imperativa o aperfeiçoamento do trabalho na alfabetização dos estudantes, como condição
imprescindível para o avanço da educação municipal, uma vez que os índices de alfabetização não são sa-
tisfatórios. Sugere ações estratégicas fundamentais, tais como: formação respaldada em teorias e metodo-
Capítulo 03
Historicamente a concepção de educação sempre esteve baseada em uma filosofia de vida, uma con-
cepção de homem e de sociedade de um determinado contexto (FREITAG, 1980). Nessa perspectiva, a
Escola Cuiabana tem seus fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos e psicológicos pautados
em um entendimento de garantia de direitos imbricados na proposta de um currículo decorrente da peda-
gogia crítica e da abordagem sociocultural de educação. Os aportes dessa abordagem estão introduzidos
no conteúdo desta política, desde o primeiro capítulo, demonstrando o esforço de clarificar a fundamenta-
ção teórica e metodológica adotada.
A preocupação com a natureza da criança e seu desenvolvimento é antiga e teve a efervescência in-
telectual por volta dos anos finais de 1700 e 1800, quando uma perspectiva nova e científica começava a
substituir a visão mítica acerca das questões sobre a natureza dos seres humanos. Questões estas que se
tornariam centrais para o estudo do desenvolvimento humano.
Johann H. Pestalozzi, em 1770, escreveu sob a forma de diário as observações que ia fazendo do de-
senvolvimento de seu filho. Da mesma forma, Darwin, em 1777, o criador da Teoria da Evolução, publicou
notas sobre o desenvolvimento sensorial, cognitivo e emocional de seu filho e enfatizou a natureza de-
senvolvimental do comportamento infantil, como um processo ordenado de mudança, dando à biografia
de bebês uma respeitabilidade científica. Cerca de trinta outras biografias foram publicadas durante as
décadas seguintes (DENNIS, 1936 apud PAPALIA et al., 2010, p. 8).
Mais adiante, o filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778), no seu célebre livro Emílio, publicado em
1762, aborda a infância e o desenvolvimento de uma criança imaginária descrevendo os estágios pelos
quais vai passando, do nascimento até a puberdade e, no prefácio da obra, cogita pela primeira vez a neces-
sidade de estudar a criança antes de querer educá-la.
Ainda sobre registros que preparam o caminho para o estudo científico do desenvolvimento, verifica-se
em 1787 a publicação de Dietrich Tiedmann na Alemanha sobre a evolução mental da criança, do nasci-
mento até os três anos de idade e o estudo de Itard, em 1800, sobre um menino encontrado aos arredores
Teoria Psicossexual
Freud (1856-1939) - o comportamento controlado por impulsos inconscientes e apresenta cinco es-
tágios da evolução psicossexual (oral, anal, fálica, latente e genital). Teoria psicossocial Erik Erikson
(1902 – 1994) - a personalidade influenciada pela sociedade, conhecido como as 8 Idades do Homem,
que representam os momentos de crise na vida, situações desafiadoras que podem permitir a supe-
ração e a aprendizagem (confiança x desconfiança, autonomia x vergonha/dúvida, iniciativa x culpa,
domínio x inferioridade, identidade x confusão de papéis, intimidade x isolamento, generatividade x
estagnação, integridade do ego x desesperança).
Ivan Pavlov (1896-1980), Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), John B. Watson (1878-1958) - o am-
biente controla o comportamento, tudo o que se aprende é explicado por meio do modo em que os
estímulos (ambientais e internos) produzem as respostas.
Piaget (1896-1980) - o papel ativo das crianças no seu desenvolvimento, investigou o processo de
construção de conhecimento e a estrutura lógica que estão na base da aprendizagem. Nos últimos
anos de sua vida centrou seus estudos no pensamento lógico matemático.
Teoria Sociocultural
Atkinson e Shiffrin (1968); Craik e Lockhart (1994), concentra-se no processo envolvido na percep-
ção, aprendizagem, memória e resolução de problemas. Procura descobrir o que as pessoas fazem
com as informações desde o momento que a encontram até usá-las.
Teoria bioecológica
Teoria do Apego
John Bowlby (1907-1990) - considerou o apego como um mecanismo básico dos seres humanos.
Para este autor, estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida o aprendizado e o desenvolvi-
mento da criança e uma das ideias base de Vygotsky (1988) se refere à linguagem assumindo papel cen-
tral, pois, para ele, o ser humano constitui-se enquanto tal em relação com os demais e a cultura compõe
a natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento, molda o funcionamento
psicológico humano: o homem é um ser histórico e social e que, pelo processo de aprendizagem desenvol-
vimento, participa da coletividade.
Outra ideia base do autor é que o aprendizado é capaz de gerar zonas de desenvolvimento proximal,
porque ao interagir com as pessoas em seu ambiente ou quando atuam em cooperação com seus pares,
os processos internos de desenvolvimento são capazes de operar, uma vez que foram deflagrados pela
aprendizagem (PALANGANA, 1994 apud FILHO, 2008).
A capacidade de desenvolvimento potencial das crianças está fortemente ligada às diferenças qualita-
tivas no ambiente social das quais fazem parte. Aqui a relação entre aprendizagem e desenvolvimento é
concebida sob uma ótica diferente: não é o desenvolvimento que precede e torna possível a aprendizagem,
mas é a aprendizagem que antecede, possibilita e impulsiona o desenvolvimento (FILHO, 2008).
A criança, para desenvolver-se humanamente, necessita do contato com o outro: adultos, outras crian-
ças, o brinquedo, etc., com que e quem possa lhe fornecer experiências. Isso pressupõe que em situações
nas quais não houver aprendizagem, não poderá ocorrer desenvolvimento. Para Vygotsky (1984), o cami-
nho do desenvolvimento humano é tanto definido pelos processos de maturação do organismo individual,
quanto pela aprendizagem que desperta os processos internos do desenvolvimento. Aprendizagem não
poderia ocorrer sem a interação com os demais, bem como sem o contato com o ambiente cultural.
Nesse aspecto, as potencialidades inatas, apesar de serem condições importantes para o desenvolvi-
mento do indivíduo, não seriam suficientes, uma vez que estas não teriam força em relação ao desenvol-
vimento. Nesse sentido, as características que são próprias dos seres humanos, constituintes do aparato
biológico, não são capazes, por si só, de gerar as funções psicológicas superiores, dependem fundamental-
mente dos processos de aprendizagem (FILHO, 2008).
Parafraseando o autor citado, pode-se estabelecer que:
Piaget - defende que o desenvolvimento cognitivo se dá por meio do amadurecimento das estrutu-
ras lógicas (esquemas mentais), decorrente de processos de equilibração que precedem e limitam
a aprendizagem. As intervenções sociais atuariam como facilitadores do desenvolvimento, mas não
determinantes de primeira ordem, lugar que estaria reservado para maturação dos esquemas
Outras abordagens nas últimas décadas também fizeram avançar o conhecimento sobre o desenvolvi-
mento e a aprendizagem, dentre estas, citam-se:
a) Abordagem da Neurociência: examina o sistema nervoso central e tenta identificar quais as estrutu-
ras envolvidas em aspectos específicos da cognição. Os pesquisadores do Núcleo Ciência pela Infância
(NCPI), da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV)14 , no projeto sobre desenvolvimento infantil
de zero a 3 anos, argumentam que os conhecimentos proporcionados pela Neurociência vieram refor-
çar o valor dos cuidados nos primeiros anos de vida, provocando a revisão das práticas mais antigas.
A abordagem da Neurociência traz outra descoberta importante para melhor compreender o desen-
volvimento e a aprendizagem, ressaltada pelos pesquisadores da NCPI/FMCSV (2014). É a Plastici-
dade cerebral, isto é, a capacidade de constante remodelação do cérebro, não só da função, mas de
sua estrutura, influenciada pela experiência e que se estende ao longo da vida. Sendo esta uma ca-
14 - A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, por meio do seu Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), realiza pesquisas em parceria com órgãos nacionais e
internacionais, como a Universidade de Harvard e a Universidade de São Paulo (USP), dentre outras. A Fundação produz também, artigos, livros e filmes-
documentário sobre as questões da infância pelo mundo.
c) Abordagem de Baltes: identifica seis princípios básicos e estes servem como estrutura conceitual
que colabora nas discussões das outras abordagens citadas. Esses princípios sugeridos por Baltes et
al. (1998) são: 1) o desenvolvimento é vitalício; 2) o desenvolvimento envolve ganho e perda, é mul-
tidimensional e multidirecional; 3) o processo de desenvolvimento é influenciado tanto pela biologia
quanto pela cultura; 4) o desenvolvimento envolve mudança na alocação de recursos; 5) o desenvol-
vimento revela plasticidade; 6) o desenvolvimento é influenciado pelo contexto histórico e cultural.
Esses estudos contribuem para a compreensão dos processos do conhecimento humano, revelando a
importância do fator tempo (AGUIAR, 2009) e do contexto social e histórico na aprendizagem dos alunos
(PAPALIA et al., 2010, p. 8), dentre outros fatores.
Ser humano - sujeito cognitivo, ético, ativo, para intervenção na sociedade, para intervenção na na-
tureza que, quanto mais reflete, mais se torna consciente, comprometido e transformador da realidade.
Portanto, um ser social e histórico e, nesse pressuposto, há uma ênfase ao aspecto cultural do desenvol-
vimento humano. Para que haja o processo de hominização, isto é, da constituição do sujeito em humano,
necessariamente a cultura permeou esse processo, esteve presente. Fica evidente que o tempo e o espaço,
assim como os códigos linguísticos e os instrumentos manipulados pela sociedade, na qual se insere o su-
jeito, colaboram para que este se constitua como tal (VYGOTSKI, 1930, p. 2). Com a abordagem interacio-
nista, homem e mundo não se dissociam. A interação homem-mundo, sujeito-objeto, é essencial para que
o homem se torne sujeito de sua práxis (PAULO FREIRE, 1985).
A concepção de sujeito situado histórico e culturalmente de acordo com a perspectiva vygotskyana e
freireana: o sujeito se constrói como sujeito pelas e nas relações sociais. Essa visão, por sua vez, está em
consonância com a perspectiva omnilateral que deve considerar as transformações ocorridas na socie-
dade, os contextos globais e locais, assim como todos os lados ou dimensões das especificidades do ser
humano: condições objetivas e subjetivas reais para o seu pleno desenvolvimento histórico.
Infância e Criança - Para Phillipe Ariès (1914-1984) a ideia de infância só apareceu com a sociedade ca-
pitalista, industrial, os estudos deste autor levam a entender que o sentimento de infância, de preocupação
com a educação moral e pedagógica, o comportamento no meio social, são ideias que surgiram somente na
modernidade. Assim, houve um longo processo histórico até a sociedade vir a valorizar a infância. Aponta
Criança - a conotação desse campo é de ordem psicológica. Com efeito, nas disciplinas originadas
da psicologia o discurso que trata das fases de desenvolvimento da criança, adquiriu uma forte legi-
timidade. Nesta linha, há um ideal de criança, e as teorias de desenvolvimento foram fundamentais,
desde o início do século XX, para o estabelecimento de parâmetros de normalidade que pautaram e
orientaram pais e educadores (NCPI/FMCSV, 2016).
Crianças - trata-se de um campo antropológico. Os indivíduos reagrupados sob esse nome consti-
tuem “territórios”, no sentido literal, com características específicas conforme tempos e espaços, com
suas estruturas e seus modelos de comportamento particulares, seus gêneros de vida, seus sistemas
de ação construídos pelos próprios atores. Segundo esse paradigma, as crianças devem ser conside-
radas uma população ou um conjunto de populações com pleno direito, com seus traços culturais,
seus ritos, suas linguagens, suas “imagens-ações” etc. (NCPI/FMCSV, 2016).
Como o ser humano aprende? – o ser humano aprende como um “eu” concretamente no mundo, que
articula esse mundo significativamente, portanto, uma significação que implica sempre o mundo e os ou-
tros, em uma relação que se faz via linguagem. O aprender ocorre nas relações sociais para que possa
desenvolver-se, nas atividades, interações, trocas, diálogos, movimentos, linguagens, afetos. Esta concep-
ção de como o ser humano aprende altera o estatuto epistemológico do ser professor que se abre para a
necessidade de romper com a formação educativa unilateral e avançar para uma visão integral do ser hu-
mano e de uma racionalidade comunicativa. E ainda, considerando a sociedade contemporânea, aprender
a trabalhar com os novos territórios de conhecimento parece algo imprescindível, pois “aonde chegam os
meios de comunicação de massa, não ficam intactas as crenças, os saberes e as lealdades. Todos os níveis
Mediação do professor - o sujeito não se apropria do significado apenas por estar inserido em ambien-
tes propícios, a mediação do professor é extremamente necessária. Para definir o conhecimento real,
Vygotsky (1984) sugere que se avalie o que o sujeito é capaz de fazer sozinho, e o potencial aquilo que ele
consegue fazer com ajuda de outro sujeito, pois o desenvolvimento do pensamento depende de instrumen-
tos mediadores. As atividades escolares relacionadas ao processo de mediação docente necessitam ser
permeadas pelo diálogo, situações variadas de trabalho, pelo confronto de ideias, trocas de informações,
estabelecimento de relações, ambientes de descobertas onde estejam presentes aspectos que levem em
conta, ainda, questionamentos e resolução de problemas e o envolvimento do professor com sua prática.
Papel do professor - sua intervenção é imprescindível, deve ajudar a criança a avançar e atua na zona
de desenvolvimento proximal. O professor é um agente social, enquanto agente e representante da insti-
tuição sociedade, em especial a escola, é também um tradutor do social para o individual e, nesse sentido,
Desenvolvimento humano - um processo holístico que ocorre ao longo de toda a vida. Desde a concep-
ção no útero materno até o momento em que morre, o ser humano vive num processo caracterizado por
constantes mudanças, acarreta mudanças progressivas, contínuas e cumulativas. Este processo de mudan-
ça, que resulta da interação entre as características biológicas de cada indivíduo e os fatores contextuais
onde o indivíduo se encontra inserido (sociedade e cultura), é denominado por desenvolvimento humano
(NÚÑEZ, 2005; PAPALIA et al., 2010). Embora organizados em ciclos ou períodos, como em Papalia et al.
(2010), que utilizam o ciclo de vida dividido em oito períodos: (período pré-natal, primeira infância, segun-
da infância, terceira infância, adolescência, início da vida adulta, vida adulta intermediária e vida adulta
tardia), é preciso considerar que:
A pessoa é mais que um conjunto de idades ou faixas etárias e o seu desenvolvimento se faz e refaz em
ciclo vitalício complexo e dinâmico, por conseguinte, qualquer divisão do ciclo de vida em períodos é
sempre uma construção social e no sentido da escolarização, para organização didática e pedagógica.
É vitalício - porque cada período de vida é influenciado pelos acontecimentos anteriores e, ao mes-
motempo, produz influências sobre períodos futuros.
É histórico - pois cada pessoa desenvolve-se em um contexto histórico e social do qual recebe influ-
ências e no qual também interfere.
É multidimensional - porque envolve um equilíbrio entre crescimento e declínio. Com a idade, algu-
mas capacidades aumentam enquanto outras diminuem.
É plástico - uma vez que sempre existe a possibilidade dos indivíduos transformarem e ampliarem
suas capacidades (PAPALIA et al., 2010).
Nesta parte do documento, desenvolve-se a concepção de Educação Básica como direito ao desenvolvi-
mento e à realização humana. Busca-se discutir os elementos integrantes do desenvolvimento humano no
ciclo de vida como alicerces da proposta da Escola Cuiabana e traz para a reflexão o papel da acessibilidade,
os aportes da educação inclusiva e da inserção da pessoa na cultura, no conhecimento, na riqueza cultural,
social e ética que foi produzida pela e para a humanidade, aproximando da Teoria sócio-histórico-cultural.
A organização do ciclo de vida e seus períodos seguem conforme o estudo do desenvolvimento humano
na obra de Papalia et al. (2010), associado aos estudos das áreas da Psicologia do desenvolvimento, em
A Psicologia do Desenvolvimento considera Infância como o período que vai da concepção à puberda-
de, ou seja, do zero aos 12 anos de idade aproximadamente. Em abordagem similar, o Estatuto da Criança
e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, considera como criança a pessoa com até doze anos
incompletos.
Embora seja essencial considerar a faixa etária, é preciso colocar a infância no horizonte do ciclo da vida
como um todo, pois as perspectivas histórico-culturais afirmam que não se trata de apenas um momento
no desenvolvimento dos sujeitos ou de uma faixa etária específica, algo a ser superado ou, ainda, que ter-
mina com a adolescência. Assim, a Infância é aqui entendida como uma energia e um potencial criativo que
fazem a dinâmica do ser e estar no mundo, um pano de fundo que registra histórias a serem carregadas ao
longo de toda a vida.
Kohan (2018) afirma que Freire dedicou grande importância ao lugar da infância na sua vida e no seu
pensamento, tanto que em vários livros, entrevistas e cartas, apresentou uma “concepção de infância/me-
ninice que desborda a ideia da infância como etapa cronológica para instaurar uma meninice como força da
vida, não apenas para a vida individual de um ser humano em qualquer idade, mas, inclusive, ou, sobretudo,
para a vida coletiva” (KOHAN, 2018, p. 2).
Para o autor, Freire oferece uma narrativa cheia de imagens e sensações infantis, ele cria um verbo para
dizer a ação de alguém que não sendo menino se torna um menino para brincar: “fui para as ruas com
meus filhos meninizar-me”, forma pronominal de um verbo da palavra mais infantil para dizer a infância.
[...] Assim, Paulo Freire meniniza-se duplamente e, com ele, meninizamo-nos os seus leitores e leitoras de
todas as idades (KOHAN, 2018, p. 14). O infantil em Freire também é abordado por Linhares (2017) como
potência, desejo e possibilidades inéditas.
Nesse entendimento, a infância é uma ideia que vai muito além da cronologia e é construída por ele-
mentos fundamentais para o desenvolvimento e a aprendizagem, como a fantasia, o faz de conta, as brin-
cadeiras, os jogos, a música, a dança, pois é por meio destes que ocorrem as apropriações da cultura, da
linguagem, a formação da mente e dos laços afetivos e, portanto, precisam ser considerados ao se definir
um projeto pedagógico.
Vida intrauterina
O Ciclo da infância em sua primeira fase perpassa pela vida intrauterina, que ocorre desde a concep-
ção por fertilização normal ou por outros meios. Desde o começo, a dotação genética interage com as
influências ambientais e os estudos têm mostrado que o pequenino distingue e responde à voz da mãe e
desenvolve uma preferência por ela. Formam-se as estruturas e os órgãos corporais básicos, inicia-se o
surto de crescimento do cérebro, em que o crescimento físico é o mais acelerado do ciclo de vida e é grande
a vulnerabilidade às influências ambientais, como a alimentação e outros fatores externos relacionados à
mãe podem afetar diretamente a vida do ser em formação.
Por ocasião do nascimento, o cérebro, bem como o bebê, está de certo modo pronto para iniciar o seu
funcionamento e estabelecer relações com o que e quem está à sua volta. É a partir dessas inter-relações
precoces que se estabelecerá o processo de interação entre o recém-nascido e seus familiares, e que vai
proporcionar a formação do vínculo. Iniciando um longo ciclo de vida no qual um bebê é inteiramente de-
pendente daqueles que estão à sua volta, que deverão lhe prover proteção e afeto.
Este reconhecimento está assegurado no Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016). Entre
os temas abordados na legislação estão um rol de direitos das gestantes, o aumento da licença-paternida-
de e o direito da criança ao brincar e à estimulação.
Na Primeira Infância, de zero aos 3 anos de idade aproximadamente, conforme Papalia et al. (2010), a
criança tem pouco controle sobre o seu corpo e os seus movimentos são descoordenados. Ocorrem impor-
tantes e aceleradas modificações, tais como gatinhar, sentar, andar e falar.
O desenvolvimento físico e a autonomia - nos dois primeiros meses de vida aprende a segurar o pesco-
ço e, aos quatro meses, senta-se necessitando da ajuda e o rastejar e gatinhar surgem como as primeiras
tentativas de movimentação intencional por volta dos quatro a seis meses. Senta-se sozinha sem suporte
com cerca de sete meses, e a posição de ficar em pé surge por volta dos oito a nove meses, apoiando-se,
porém, em alguma coisa. Aos onze meses consegue andar com alguma ajuda.
A aquisição da autonomia acontecerá aos poucos e terá características diferentes para as diversas ida-
des. Por exemplo, o bebê, em suas primeiras semanas, reage de modo intenso à necessidade de alimentar-
-se, pois precisa sobreviver, mas, à medida que o tempo vai passando e percebe que suas necessidades são
atendidas, passa a ter reações de solicitação mais atenuadas; aprende, nos meses seguintes, a esperar.
O desenvolvimento motor continuará se refinando em sua complexidade, já tendo superado os eventos
maiores e clássicos das idades anteriores. Agora, com mais desembaraço, a criança corre, pula e é capaz de
subir escadas colocando um pé em cada degrau e até dispensando o apoio do corrimão. Ela passa a apreciar
brincadeiras com mais ação e mostra um gosto especial por escalar o escorregador e descer rapidamente
por sua rampa, sendo capaz de repetir isso seguidamente.
Com o passar do tempo, será capaz de vestir-se sozinho, esperar sua vez nas brincadeiras, saber ganhar
e perder. E assim por diante, por meio da interação com o ambiente que o cerca e com a participação ativa
das outras pessoas, irá adquirindo a autonomia que lhe permitirá uma convivência social adequada, alfa-
betização, outros aprendizados mais complexos e uma habilidade para lidar com as adversidades naturais
da vida humana (NCPI/FMCSV/2016).
O desenvolvimento cognitivo e a construção do pensamento - de acordo com Jean Piaget (1987), em
relação ao desenvolvimento cognitivo, a criança encontra-se no estádio sensório-motor. 0-1 mês: ocorre
a construção dos primeiros esquemas; os reflexos inatos são construídos pela criança na interação com
o objeto (seio) como esquemas de sugar e olhar. 1-4 meses: a criança apresenta as reações circulares
primárias, que consistem na repetição dos esquemas recém-construídos: pratica, incansavelmente, os
esquemas de olhar um objeto, sugar chupeta, a língua, um objeto que encosta em sua boca, movimentar
braços e pernas em ritmo constante. 4-8 meses: a criança apresenta as reações circulares secundárias,
em que um espetáculo interessante obtido ao acaso leva a criança à repetição de um esquema para rever
a situação que lhe causar prazer: puxar um cordão para ver o movimento de um brinquedo em seu berço.
Segunda Infância
A Segunda Infância é o período que vai dos 3 aos 6 anos de idade, aproximadamente (PAPALIA et al.,
2010). As literaturas internacional e nacional são unânimes em mostrar que neste período de vida a fre-
quência à pré-escola de qualidade tem impactos positivos e significativos sob diferentes dimensões de de-
senvolvimento e formação de capital humano, com benefícios que superam os custos iniciais. Os impactos
positivos duradouros da Educação Infantil, entretanto, estão condicionados à qualidade da intervenção.
Dentre os benefícios incluem-se ganhos no desenvolvimento cognitivo no curto prazo, melhora nos
níveis de aprendizado no médio prazo, e melhora na escolaridade e renda no longo prazo. Isso contribui
para a formação de adultos mais saudáveis, com maior escolaridade, empregabilidade, qualidade de vida
e, portanto, com melhores condições de exercer sua cidadania e contribuir para avanços sociais (NCPI/
FMCSV, 2014).
O desenvolvimento físico e as aprendizagens formais - surge a preferência pelo uso de uma das mãos,
aprimoram-se as habilidades motoras finas e gerais e aumenta a força física. São desenvolvidas as habili-
dades de: subir escadas, andar com equilíbrio, correr, saltar, pular, andar de bicicleta, usar lápis, tesoura,
realizar colagens com coordenação, subir e descer de móveis, chutar, pegar e arremessar bolas, pular cor-
da, movimento de pinça. O ingresso na escola auxilia o desenvolvimento dessas habilidades, uma vez que
faz parte das atividades pedagógicas o exercício das funções físicas e motoras da criança. Desenvolve o
processo de aquisição das aprendizagens formais do ler e escrever, a construção do pensamento lógico
matemático.
O desenvolvimento cognitivo, a ludicidade e o pensamento representativo - de acordo com Jean Pia-
get (1987), neste período a criança encontra-se no estádio pré-operatório e é caracterizado pela cons-
trução da inteligência simbólica ou representativa. No período pré-operatório ocorre a transição entre
a inteligência propriamente sensório-motora, e a inteligência representativa. E esta transição ocorre de
transformações lentas e sucessivas, iniciando aos dois anos de idade, indo até os 12 anos, abrangendo o
que Piaget denominou dos estádios pré-operatório e operatório concreto.
Entretanto, os estudos que embasam a Escola Cuiabana não apresentam a pré-adolescência enquanto
ciclo ou período de vida e sugerem discutir a meninice e a puberdade neste período do desenvolvimen-
to humano que ainda é infância.
Nesse contexto, a proposta da Escola Cuiabana não trata de um Ciclo da Pré-adolescência e sim Ciclo da
Infância, especificamente, no período da Terceira Infância e nele insere a discussão sobre a concepção de
meninice e pubescência. Logrando a infância como desenvolvimento humano, que vai da vida intrauteri-
na até o início da adolescência com sua meninice, pubescência. Segue, neste aspecto, os fundamentos da
Psicologia do Desenvolvimento em Barros (2001), que utiliza o termo meninice como sinônimo do Ciclo da
Infância, e da Filosofia da Educação em Kohan (2018), de base Freireana, a qual traz o termo meninice para
os anos finais da infância.
A Terceira Infância é um período de vida crítico e o prefixo (pré) pode ter sido utilizado para indicar algo
a ser concebido ou uma transição. Isso faz com que pais e educadores fiquem confusos, muitas vezes ao li-
dar com este período que parece indefinido: criança ou jovem adolescente? E tomem algumas inabilidades
como repercussões negativas.
A meninice
Os estudos de Kohan (2018) têm demonstrado que a perspectiva Freireana de educação coloca no cen-
tro do ato educativo a curiosidade epistemológica das crianças e chama atenção para não antecipar o me-
nino em um homem ou um “racionalista de calças curtas”. Neste sentido, a “curiosidade de menino” ou a
“curiosidade de menina” não deve ser distorcida por estar no mundo da alfabetização, mas se instaurar no
respeito ao direito de perguntar, como afirma o autor:
A “curiosidade de menino” não fosse distorcida por estar entrando no mundo das letras:
a decifração da palavra acompanhava “naturalmente” a leitura do seu próprio mundo. Até
os materiais e o cenário ajudavam para isso: não havia ruptura entre o mundo da vida e o
mundo da alfabetização, em que a sala de aula era a sombra das mangueiras, o chão era o
quadro negro e o giz eram os gravetos das árvores. KOHAN, 2018, p. 7).
É preciso sensibilidade, alteridade e diálogo por parte do adulto educador, para não querer apagar a curiosi-
dade, a inquietação, o gosto de perguntar, o querer sonhar, o desejo de crescer, criar, transformar, próprios da
infância e que também, como afirma o autor citado, “constitui a infância sem idade para Paulo Freire - um de-
sejo, um gosto, uma sensibilidade para as forças da vida, como a curiosidade, o sonho, a transformação. A ima-
gem da infância, ou da meninice, não poderia ser mais afirmativa e potente em Freire” (KOHAN, 2018, p.18).
A puberdade
A puberdade (do latim pubertate - sinal de pelos, barba, penugem) caracteriza-se pelas modificações
biológicas dessa faixa etária, e a adolescência (do latim adolescere – crescer), pelas transformações psicos-
sociais que a acompanham (OSÓRIO, 1992). A puberdade é o componente biológico que antecede a ado-
lescência, caracterizando um período da vida no qual surgem a maturação fisiológica e o funcionamento
dos órgãos da reprodução acompanhados do crescimento estatural, o que dura cerca de dois anos. Duran-
te esse período, ocorre um fenômeno marcante: a menarca15 na menina e a semenarca16 no menino. É um
período fortemente influenciado pelas mudanças do corpo e, especialmente, por mudanças hormonais.
Atualmente, a puberdade está chegando mais cedo, segundo a ciência.
E, se antes as mudanças no corpo e no comportamento típicas dessa fase ocorriam por volta dos 13
anos, hoje as transformações começam em torno dos 9 e até 8 anos e meio para as meninas, e dos 10
para os meninos.
Pesquisas sobre o assunto não faltam, como da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgada
na Revista Veja em 19/02/19, que mostra que as meninas são mais propensas agora a desenvolver seios e
a menstruar entre os 7 e 8 anos de idade.
A pesquisa está entre os inúmeros relatórios que elevaram o acalorado debate sobre o ritmo acelerado
de desenvolvimento infantil. A matéria chama atenção para as razões desse fenômeno e cita que são várias,
entre elas: a alimentação, mais rica em gordura, maior exposição à radiação solar e o estresse da vida ur-
bana, que afetam diretamente as crianças. Os estímulos aos quais são expostas influenciam o amadureci-
mento precoce. A erotização, por sua vez, também é alimentada por filmes, telenovelas e pela publicidade.
Para Ângelo Monesi, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, a aceleração da puberdade é um ca-
minho sem volta na vida de nossas crianças. “Sem dúvida, a infância está mais curta, a adolescência, ante-
cipada”, diz Moneni. “As crianças são exigidas para a vida adulta cada vez mais cedo.”
As consequências, é claro, cobraram seu preço. Além das implicações médicas que o turbilhão de hor-
mônios pode trazer, a vida pode ser mais complicada para os garotos que têm a mente de uma criança, mas
o corpo e comportamento de um adolescente. Eles podem não estar prontos para lidar com os avanços
sexuais ou controlar suas próprias emoções e impulsos enriquecidos pelos hormônios e estímulos (GOU-
LART, 1 out. 2010, VEJA.COM).
3.3.1.2 Adolescência
A adolescência se caracteriza entre a faixa etária de 12 a 15 anos ou bem mais, visto que a cultura in-
fluencia no significado dos diferentes meios sociais em que vive, adotando diferentes concepções. Assim, a
adolescência é uma construção social e somente no século XX ela foi considerada como uma etapa de vida
no mundo ocidental. Durante a Idade Média, por exemplo, este ciclo de vida não era considerado como
tal, a criança “migrava” diretamente para o mundo adulto sem considerar a possibilidade de uma transição
(ARIÈS, 1986).
Isso também ocorre posteriormente “[...] tal conceito não existia nas sociedades pré-industriais; as crian-
ças eram consideradas adultas quando amadureciam fisicamente ou iniciavam um aprendizado profissio-
nal” (PAPALIA et al., 2013, p. 39), por isso a importância de compreender o sujeito social e historicamente,
com o fim de estimular e promover seu aprendizado de forma adequada e saudável.
Para grande parcela da população brasileira que constitui as classes menos favorecidas, esta fase termi-
na por volta de 16 anos, com a possibilidade legal de ingresso no mercado de trabalho, normalmente com
ocupações não especializadas, resultando em ganhos baixos e pouca probabilidade de superar o ciclo da
pobreza e, muitas vezes, com uma gravidez não planejada. Para a classe média, o final da adolescência sig-
nifica ter competência para ganhar seu próprio sustento e independência, o que pode acontecer por volta
de 22 anos de idade ou com o ensino superior completo.
Assim, como afirmam Rodrigues e Melchiori (2010), a adolescência é concebida como um fenômeno
social e cultural que é visto de diferentes modos, dependendo do contexto social, não tem um final de-
Os adolescentes experimentam e testam os limites de suas opiniões: “eu quero”, “eu gosto”, “eu vou”.
Às vezes, a intenção nem é agredir ou enfrentar o adulto, mas testar a si mesmo (“eu sou”) e a possibi-
lidade de expressar sua identidade que ainda está em desenvolvimento (PEREIRA, 2005).
No núcleo social que é a família, nem sempre as dificuldades dos adolescentes são trazidas à tona,
para que possam ser compreendidas e como consequência vão buscar fora de casa as respostas para
muitas dúvidas.
Trata-se de uma etapa de transição no desenvolvimento que provoca mudanças físicas, cognitivas, emo-
cionais e sociais, adquirindo configurações diversas conforme conjunturas sociais, culturais e econômicas.
Juntas, essas mudanças resultam em uma fase de transição entre a infância e a idade adulta. Cabe aos pais
e educadores orientá-los e esclarecê-los. Se as mudanças transcorrerem em clima repressivo, essa fase
será permeada de ansiedade e sentimento de culpa.
Ressalta-se que o desenvolvimento humano é um contínuo, no qual os diferentes ciclos estão fortemen-
te entrelaçados e deve ser invariavelmente lido a partir do contexto social e cultural em que o sujeito se
encontra. A adolescência se processa no pilar de uma construção biopsicossocial, concretizada na infância,
e ao mesmo tempo, constrói novas aprendizagens para a vida adulta e a vida do idoso.
3.3.1.3 Juventude
O ciclo da juventude se caracteriza entre a faixa etária de 15 a 29 anos tomando por base o Estatuto
da Juventude (BRASIL, 2013). É importante destacar neste documento que o fator idade é apenas uma
entre as variáveis a se levar em conta ao definir juventude e adolescência. Pois, segundo Checchia (2006,
p. 58), “a definição etária pode ser importante na demarcação de leis e políticas públicas, mas não é sufi-
ciente para contemplar a totalidade desses fenômenos”, pois é uma etapa em que os jovens não são mais
adolescentes, porém não se firmaram nos papéis adultos (PAPALIA, 2013; ARNETT, 2000, 2004, 2006;
FURSTENBERG, 2005).
O Estado possui como parâmetro, para organização da sociedade, as idades, na regulação das leis tra-
balhistas, da seguridade social; da participação política, do fluxo de entrada e saída na escola, do acesso ao
lazer, entre outros, conforme Santos (2011 apud GARCIA, 2002). Na opinião desta autora, o critério etário
não pode ser descartado, embora deva ser relativizado, visto que juventude não se limita a uma determi-
nada geração por ser, sobretudo, uma representação ou criação simbólica associada a comportamentos e
atitudes (GARCIA, 2002, p. 3).
A juventude é também chamada de segunda adolescência, adolescência superior ou período de amadu-
recimento adolescente. É uma etapa de transição até o indivíduo chegar à autonomia e à responsabilidade
plena. As principais características do jovem nessa etapa são: as estruturas intelectuais, morais e físicas atin-
gem o auge; diminuem as mudanças fisiológicas; ingresso na vida social plena; início do trabalho e dos estudos
superiores; início na vida matrimonial; há a busca pelo autossustento social, psicológico e econômico.
Entretanto, outros elementos se colocam na definição de juventude, como Dayrell (2003, p. 42) que
discute o conceito a partir do princípio da diversidade, ao afirmar que:
Além das questões apontadas por Dayrell (2003) a concepção de juventude na perspectiva do direito
é um elemento importante na construção do sujeito detentor de direitos, deveres e de autonomia para
participação na vida pública e política.
A contribuição de Erik Erikson, com sua teoria do desenvolvimento psicossocial, auxilia uma visão deste
período de vida perpassando pelo conflito intimidade versus isolamento (de 20 a 40 anos), cuja principal
tarefa é a formação de fortes laços de amizades e uma relação íntima central - o isolamento decorreria da
inabilidade em atingir esses objetivos a contento, gerando solidão.
3.3.1.4 Adulto
A compreensão e o estudo sobre a adultez por muito tempo estiveram qualificados como uma fase es-
tável e com ausência de mudanças importantes. Contudo, verifica-se que essa caracterização não é verda-
deira, pois nas novas abordagens do desenvolvimento humano, é neste período que, tipicamente, os seres
humanos constituem família, educam filhos, constroem carreiras, adquirem bens de valor, se relacionam
afetiva-sexualmente, de forma que todos esses processos constituem fortes potenciais de transformação
e, portanto, de desenvolvimento. Concluir que todas essas vivências pessoais não influenciam no desen-
volvimento e na constituição de um ciclo de vida não é mais adequado.
O ciclo de vida adulto, como os demais ciclos, implica a descrição de um grupo, com características glo-
bais, que se localiza social, histórica e culturalmente. O questionamento do que é adulto perpassa compre-
ender as mudanças sociais pelas quais o Ocidente e, mais especificamente, o Brasil, passam nas últimas
décadas. Conforme se observa nas pesquisas de Vieira (2008), o momento de transição de virar adulto
varia de contexto e grupo, enquanto cor, gênero, condição social e econômica.
Contudo, uma vez que o adulto constitui ciclo de desenvolvimento humano e está inserido, de maneiras
diferentes, em processos educacionais, é importante considerar que ele:
Traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências,
conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre
as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculia-
ridades da etapa de vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo
diferentes habilidades e dificuldades (em comparação à criança) e, provavelmente, maior
capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendi-
zagem (OLIVEIRA, 2001, p. 18).
Embora as estruturas escolares e curriculares ainda se apresentem bastante rígidas nos sistemas edu-
cacionais, o foco no atendimento a essa especificidade deve ser o eixo orientador das mudanças a serem
realizadas, num esforço coletivo de melhor atender esse grupo. Por isso, dar continuidade e ampliar a op-
ção pela organização escolar por Ciclos de Formação Humana se constitui numa possibilidade de realizar
as mudanças necessárias que requer uma proposta educativa voltada para o adulto.
A vida adulta média (30 a 50 anos) é também chamada de amadurecimento, idade madura, idade adulta
propriamente dita ou idade da plenitude. O indivíduo pode avaliar o curso definitivo de sua vida, não está
no início de um caminho, a direção já está dada ou pode concluir que ainda não encontrou um norte. De
qualquer forma, é um momento de avaliação.
A passagem da vida adulta jovem para a vida adulta média implica mais um certo estado de ânimo e não
mudanças corporais; nos aspectos físicos, destacam-se o aumento do corpo; o ímpeto juvenil é substituído
3.3.1.5 Idoso
No Brasil, de acordo com o Estatuto do Idoso, em seu art.10, consideram-se idosas as pessoas que pos-
suem idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Assim como nos demais ciclos da vida aqui tratados, o
do idoso também se constitui num ciclo do desenvolvimento humano, com características bastante espe-
cíficas, em que o fator idade não é o único elemento definidor desse processo, à medida que os aspectos
sociais, culturais e biológicos também influenciam e determinam.
O envelhecimento é fator natural e esperado, do ponto de vista orgânico, mas esse fato traz consigo
um olhar social de perdas, sejam elas afetivas, cognitivas ou biológicas. Sob o ponto de vista capitalista, o
idoso representa uma perda de papel e de lugar, uma vez que a capacidade de produção e geração de lucro
é retirada. Contudo, a sociedade brasileira passa por um momento de forte envelhecimento populacional,
que, para além do viés econômico, levanta a necessidade de questionar: O que é uma pessoa idosa, quais
suas capacidades e possibilidades, e, portanto, qual seu lugar enquanto desenvolvimento humano e ciclo
de vida?
Segundo os estudiosos desta etapa da vida, o envelhecimento é um processo natural e como processo
acontece ao longo do tempo, e se inicia desde o momento da concepção, ficando mais evidenciado após a
etapa adulta. Caracteriza-se ainda como um processo dinâmico e progressivo que provoca alterações psi-
cológicas, biológicas e sociais. Segundo Vieira (2004, p. 21), a velhice é “um fenômeno do processo de vida
que, assim como a infância, a adolescência e a maturidade, são marcadas por mudanças biopsicossociais
específicas, associadas à passagem do tempo”.
A forma com a qual o idoso é visto na atualidade se constituiu ao longo dos séculos e, de acordo com Cachio-
ni (1999 apud JUNIOR, 2005), com a ideia de uma terceira idade, que surgiu durante a década de 70 na França,
onde foi criado o primeiro modelo de faculdade da terceira idade, por Pierre Vellas, em Toullose, no ano de
1974. Surgiu como uma alternativa para os aposentados, criando assim essa denominação de terceira idade.
O termo terceira idade é considerado uma libertação da visão negativa que a sociedade tem sobre o en-
velhecimento, pois é pensada a partir de uma nova etapa da vida, uma nova forma de vivê-la. Contudo, ainda
Considerando o pressuposto, observa-se que os sujeitos idosos são plenamente capazes de aprender
e apreender. Além das atividades supracitadas, a ação produtiva pode contribuir para a saúde mental na
velhice.
O envelhecimento representa a última etapa do ciclo vital e acontece lentamente. Nessa etapa da vida,
o grande desafio é aprender a viver com as limitações impostas pelo desenvolvimento da velhice e com a
forma preconceituosa com a qual a sociedade enxerga e lida com a pessoa idosa, ao colocá-la ainda como
incapaz e ao reproduzir seu isolamento, seja arquitetônico, comportamental, emocional.
Segundo Zimerman (2000), os exercícios físicos como caminhada, natação, dança e passeio, exercícios
de memória, boa alimentação, bons hábitos, participação em grupos e outros cuidados [...] são bastante
importantes para uma velhice saudável e feliz.
O atendimento educacional a esse período da vida - ainda se constitui num desafio para as redes de
ensino, à medida que os aspectos aqui levantados devem ser considerados no processo de escolarização e
de aprendizagem. Portanto ao se pensar numa proposta curricular para o idoso faz-se necessário respeitar
a constituição desse período e do indivíduo, mas principalmente os estudos atuais sobre essa temática.
Entende-se que para isso o currículo deve ter como uma de suas principais características a flexibilidade e a
originalidade necessárias para atender essa etapa da vida, compreender o contexto social e cultural do sujeito,
além de sua história de vida e explorar as formas das quais ele dispõe cognitivamente de construir conhecimen-
to, que não se trata de uma pura absorção de conteúdo, mas uma construção dialética, mútua e participativa.
As características aqui apresentadas tiveram a intencionalidade de evidenciar que os ciclos apresentam
períodos e aspectos específicos, evidenciados pelos teóricos estudados, porém não há um padrão prede-
terminado, fixo, com tempo certo para início, transição e fim de cada ciclo/período, pois eles se entrelaçam
no processo espiralado e não linear.
O objetivo foi ressaltar a sua importância na condução do processo educativo, pois o ciclo de vida como
eixo orientador da política educacional vem no sentido de reafirmar o compromisso com uma educação
humanizadora para a população cuiabana.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem inspirado inúmeras outras leis e tratados em todo o
mundo que, de várias formas, são hoje parte das leis constitucionais das nações democráticas e um docu-
Relacionar-se como um igual com uma criança é como se relacionar com uma parte de si mesmo: o
mundo e os seres humanos precisam da infância (KOHAN, 2018, p. 27).
Nesse sentido a educação se revela como elemento essencial para a formação do cidadão, pois a infân-
cia está na escola, há muita infância no mundo esperando ser ativada e revivida, por meninas, meninos,
jovens e adultos para fazer o mundo mais mundo e a vida mais vida.
O artigo 205 da Constituição Federal (1988) expressa que “A educação, direito de todos e dever do
estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno de-
senvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Nesse sentido, a Educação Básica torna-se direito e parte integrante da possibilidade de reconstrução de
identidades por meio do desenvolvimento de saberes articulando-os com práticas sociais de contextos
diversos, a igualdade cruza com a equidade e formaliza legalmente o atendimento a determinados grupos
sociais, como os idosos, emigrantes, as pessoas portadoras de necessidades especiais e os afrodescenden-
tes, ainda envoltos em estereótipos, preconceitos e discriminação.
Em 2003, foi elaborado e publicado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH)
em resposta à exigência da ONU. Esse plano refere-se à formação de uma consciência cidadã capaz de
se fazer presente nos níveis cognitivo, social, ético e político, desenvolvimento dos processos meto-
dológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contex-
tualizados, fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor
da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações
(BRASIL, 2013, p. 35).
Com base nas discussões sobre a inclusão, a Escola Cuiabana compreende a educação como um funda-
mento necessário para a justiça social na perspectiva de educação humanizada, pautada na:
• Promoção do acesso e permanência com sucesso das crianças e estudantes nos espaços educativos.
• Possibilitar que o aluno entenda as relações próprias do mundo do trabalho e faça escolhas alinha-
das ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica
e responsabilidade.
• Fomento e defesa de ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direi-
tos humanos, a consciência socioambiental e as reflexões sobre o consumismo.
• Exercício da responsabilidade em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em re-
lação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta e valorização da diversidade de saberes e
vivências culturais
3.3.3 Cultura
Sem perder de vista o caráter polissêmico da palavra cultura, Buey (1996) a coloca como substantivo ao
se referir a povos ou grupos étnicos e, como ponto de partida, toma como referência a acepção feita pelo
antropólogo Edward Burnett Tylor, em sua principal obra, Primitive Culture (1871), para o qual a cultura é
aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os
outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade (STROBEL; BOTTOS-
SO, 2013, p. 105).
Fernández Buey, defensor dos direitos, da paz e da vida com dignidade humana, chama atenção para a
necessidade de aprofundarmos as análises do contexto sociopolítico e cultural. Tal postura, segundo ele,
possibilita o discernimento das mazelas ainda existentes como as injustiças, explorações, escravidão, prá-
ticas xenofóbicas e racistas, em grande parte, vinculadas à economia global.
Nesse sentido, o autor enfoca a importância de estudar os fluxos migratórios em curso, pois nos depa-
ramos com uma porcentagem importante de migrantes que muitas vezes são pessoas que estavam abaixo
da linha da pobreza ou não encontrando saída em seus países de origem, mas, acima de tudo, são homens e
mulheres dispostos a enfrentarem o esforço e a tensão que representa a mudança.
Independentemente dos motivos e da maneira como os povos se movimentam no mundo, a história
tem revelado tendências perigosas e conflituosas decorrentes do racismo, da xenofobia, dos abusos,
massacres e privações dos direitos à vida e dignidade dos grupos discriminados pela sua aparência,
suas origens e cultura. Transpondo isso para a população negra no Brasil, a historiografia não tem se
furtado a analisar os problemas das políticas de ações afirmativas para os afrodescendentes, que têm
buscado remediar os efeitos da escravidão, da exploração, da discriminação física e cultural cometidas
no passado.
A Constituição Brasileira de 1988 reconhece o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Contu-
do, segundo Gugel (2000), a imagem da “democracia racial” foi mais um mito que uma realidade camuflan-
do as contradições e injustiças para com os negros que, até 1954, estavam em segundo plano, uma vez que
essa legislação brasileira estipulava a preferência por imigrantes europeus.
Cultura e arte
Desde os primórdios a arte está presente em praticamente todas as manifestações culturais, os conhe-
cimentos e descobertas apreendidos vão sendo passados de geração a geração, independentemente de se
fazer parte de um ensino formal ou informal. Para Souza Lima (2011, p.8) “as artes fazem parte do currículo
em várias civilizações e em momentos históricos distintos. Na verdade, a música sempre foi um componen-
te curricular importante, acompanhado pela literatura”.
Através do corpo se expressa a cultura. A expressão corporal tem como base fazer com que a pessoa
descubra formas de mover-se e expressar-se. Mais do que precisão é necessário expressão e senti-
mento em cada pequeno movimento corporal.
• Considera o aluno com necessidades educacionais especiais como detentor de uma cultura no es-
paço escolar.
• Sugere que a organização pedagógica do ensino contemple as diferenças e um olhar mais sistemá-
tico sobre as culturas.
• Compreende a expressão cultural como a capacidade que permite expressar ideias, pensamentos,
emoções e estados afetivos com o corpo.
3.3.4 Inclusão
Segundo Sassaki (2009), a inclusão, vista como um paradigma para a sociedade, é o processo no qual os
sistemas sociais são adequados para todos, respeitando a diversidade humana, que é composta pela etnia,
raça, língua, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência e outros atributos, e considerando a par-
ticipação de todos na organização e execução dessas adequações.
Assim, a inclusão perpassa pelo respeito às diferenças culturais, raciais, sociais e individuais, que podem
configurar as necessidades educacionais especiais. Nesse sentido, a diversidade é a principal consideração
da educação inclusiva e enriquecimento da aprendizagem. A Educação para todos, com todos e para cada
um, se articula com a educação inclusiva que promove o desenvolvimento de valores de justiça, sociedade
e igualdade calcada nos objetivos de aprender a conviver e o aprender a ser.
E qual o impacto disto na educação? Todos têm direito à educação, não podendo excluir nenhuma pes-
soa em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou qualquer outro tipo de condicionamento
que a coloque em condição de vulnerabilidade social (que coloca a pessoa em condição de exclusão social).
E entre os condicionantes desencadeadores do processo de exclusão estão: a pobreza, e todas as iniqui-
dades associadas a ela, questões relacionadas à raça, gênero, deficiência, entre outras, que fazem com que
o indivíduo fique impossibilitado de partilhar os bens e recursos oferecidos pela sociedade, entre eles, a
educação.
A inclusão na educação é um meio para garantir uma maior equidade e o desenvolvimento de socieda-
des mais inclusivas:
Na Escola Cuiabana busca-se a eliminação de barreiras que afetam o direito de aprender e a transver-
salidade da Educação Especial, além disso, coloca a acessibilidade atitudinal correspondente a uma
visão de alteridade que não aceita a incomunicabilidade, inatingibilidade e intolerância e a desuma-
nização.
Capítulo 04
PROPOSTA PEDAGÓGICA
DA ESCOLA CUIABANA
CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA
O art. 1º da LDB, Lei 9394/96, apresenta a educação como processo de formação humana, que se
dá em uma pluralidade de espaços, de tempos, de agências, de instituições, de processos, entre os
quais está a escola, e deixa claro uma concepção de educação instaurada no conjunto dos processos
formativos.
E os Art. 22 e 23, enfocando a educação instaurada no conjunto dos processos formativos; Organiza-
ção flexível ao interesse do processo de aprendizagem: a Educação Básica poderá organizar-se em séries
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com
base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o
interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
Estes artigos vão ao encontro das ideias de Arroyo (2001), ao clarificar que a concepção da LDB vê a
escola como uma das instituições que, no conjunto de instituições sociais, forma o ser humano.
Dessa maneira, para o autor, a LDB recupera o conceito de educação humanista, e sugere para esta fina-
lidade acrescentar os conceitos da corrente da sociologia crítica, dos estudos sobre o currículo, do pensa-
mento progressista dos pioneiros da educação, como Anísio Teixeira e também Paulo Freire. E Freire é um
estudioso reconhecido mundialmente como a figura mais importante da teoria pedagógica nos últimos cin-
quenta anos porque recuperou uma dimensão pedagógica: educação como humanização, deixando claro
que situou a educação para atender as grandes questões do ser humano em seu processo de humanização,
na tentativa de criar uma escola que dê conta da totalidade dos educandos.
Totalidade não só como mentes que aprendem a ler e a escrever, mas como seres humanos que estão
inseridos nos contextos sociais, culturais e concretos, como requer a perspectiva Vygotskyana, e resgatar
a ideia de que o ser humano é mais do que alguém para o mercado.
Uma visão de formação e de desenvolvimento humano pleno que “tem raízes profundas na tradição
pedagógica universal e nas ciências humanas como um todo”. [...] “A palavra universal não significa apenas
para todos, mas significa dar conta da universalidade de dimensões que fazem parte da formação humana.
Isso é fundamental. Ignorar seria uma temeridade” (ARROYO, 2001, p. 8).
Origem da proposta da Escola Cuiabana – a política educacional da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá,
denominada Escola Cuiabana, nasce no âmago da sociedade contemporânea e coloca no centro das suas
discussões a formação do ser humano constituído e integrado nessa sociedade, assinalada pelo contexto
social global e, ao mesmo tempo, pelo local no espaço do território cuiabano.
Originária nos tempos da pós-modernidade, alta modernidade, hipermodernidade ou da sociedade co-
nectada, considera que: a) as transformações ocorridas na sociedade pelo desenvolvimento das Tecnolo-
gias Digitais da Informação e Comunicação são muitas e profundas, fazendo com que os pais e educadores
reflitam como as mídias podem interferir de forma positiva, na formação da infância, apropriando-se pe-
dagogicamente das tecnologias; b) as experiências adquiridas por aquilo que é transmitido pelas mídias in-
fluenciam fortemente na interação do aluno com o conhecimento, por serem capazes de mostrar, além das
fronteiras locais, culturais, reflexões e modos de vida diferentes; c) as informações coletadas modificam a
maneira como o indivíduo compreende sua realidade e amplia o número de escolhas a serem realizadas.
Ponto de partida da Escola Cuiabana - os saberes construídos e revisitados para elaborar uma proposta
educacional que considere a formação e o desenvolvimento humano pleno, enraizada na realidade local,
que envolva a diversidade étnica, com a presença dos povos originários, colonizadores, migrantes e imi-
grantes, os biomas da região, como o Cerrado, Pantanal e Amazônia, e outros elementos históricos, cultu-
rais e ambientais. Esta proposta, embora valorize a realidade local, não exclui o conhecimento de outras
realidades e culturas.
Visão de futuro - ser referência pela qualidade da educação ofertada garantindo direito à aprendiza-
gem e ao desenvolvimento dos estudantes por meio do compromisso com a ciência, a filosofia, as artes, as
culturas, a humanização, a inclusão e a formação humana cidadã.
• Melhorar a qualidade da educação a partir de metas claras para aprendizagem, da avaliação dos
Projetos Político Pedagógicos, da autoavaliação dos docentes e gestão escolar e da avaliação insti-
tucional para a organização das rotinas escolares e auxílio nos resultados das aulas distribuídas nos
200 dias letivos.
• Alfabetizar todas as crianças até o início da 3ª Infância (7 anos) durante o 2º tempo-espaço do En-
sino Fundamental e impulsionar melhorias e inovações para alcançar patamares de referência em
todos os componentes curriculares.
17 - Os pontos apresentados neste item e em todo este capítulo estão presentes de forma aprofundada nos outros capítulos. Constam aqui apenas as
sínteses.
•Possibilitar a conclusão do Ensino Fundamental na idade certa e com qualidade em todos os perío-
dos do Ciclo de Vida, superando os problema na aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes e
assim, elevar a escolaridade da população na juventude e adultez.
Objetivos
a) Desenvolver uma proposta de educação para a Rede Municipal de Ensino de Cuiabá capaz de superar
a fragmentação e as rupturas na construção do conhecimento considerando toda a evolução obtida pelas
unidades educacionais desde a implantação da Escola Sarã em 1999, no respeito ao ritmo de aprendiza-
gem, ao processo de construção de conhecimento e aos direitos de aprendizagem de todos os estudantes.
b) Ampliar a proposta pedagógica estruturada no Ciclo de Formação Humana para todo o atendi-
mento na Rede Municipal englobando desde os bebês e as crianças bem pequenas na Educação In-
fantil até os idosos na Educação de Jovens e Adultos com suas narrativas e especificidades.
c) Adentrar a dimensão ampla da gestão da educação, baseada na organização dos sistemas de ensino
federal, estadual e municipal e das suas incumbências para impulsionar as melhorias e as inovações
necessárias no âmbito da gestão escolar, em um movimento processual de reflexão e ação, com base
nos resultados que se apresentam na prática pedagógica.
f) Implantar uma política de alfabetização com a meta de alfabetizar os estudantes até os 7 anos de
idade.
h) Desenvolver proposta curricular que valorize a história, geografia, cultura e literatura Cuiabana,
especialmente na parte diversificada do currículo escolar.
Marco situacional – a visão da realidade da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, a partir de um breve
diagnóstico apresentado no capítulo 2, com as taxas do analfabetismo e resultados da produtividade, mos-
tra algumas adversidades que ainda persistem no campo da Educação Básica da capital mato-grossense no
limiar dos seus trezentos anos. Dentre os desafios, apresentados, vale pautar as seguintes situações:
Uma porcentagem significativa de estudantes ainda encontra-se retida ao final dos ciclos.
A defasagem, distorção idade/ciclo/período escolar em relação à idade considerada adequada, nas eta-
pas finais dos ciclos, ainda é um problema a ser combatido no âmbito da definição de estratégias para con-
ter o avanço da evasão, o insucesso ou abandono escolar que acarretam distorções e defasagens.
Em Matemática Anos iniciais - na Prova Brasil, 35,9% dos 6.131 alunos demonstraram o aprendizado
adequado, portanto sugere ações que possibilitem elevar os níveis de aprendizagem na competência de re-
soluções de problemas matemáticos, por meio de atividades de aprofundamentos, reforço e recuperação
dos conteúdos de matemática.
Em Matemática Anos finais - na Prova Brasil, 10,4% dos 6.033 alunos demonstraram o aprendizado
adequado, assim necessita de ações que possibilitem elevar os níveis de aprendizagem na competência de
resoluções de problemas matemáticos, por meio de atividades de aprofundamentos, reforço e recupera-
ção dos conteúdos de matemática.
Em Português Anos iniciais - na Prova Brasil, 52,7% dos 6.131 alunos demonstraram o aprendizado
adequado, contudo terão que ser repensadas ações que possibilitem elevar os níveis de aprendizagem na
competência de leitura e interpretação de textos, por meio de atividades de aprofundamentos, reforço e
recuperação dos conteúdos de português.
Em Português Anos finais - na Prova Brasil, 27,6% dos 6.033 alunos demonstraram o aprendizado ade-
quado, assim sendo, terão que ser repensadas ações que possibilitem elevar os níveis de aprendizagem na
Na Leitura e escrita no 1º ano - a Prova Cuiabá aplicada no ano letivo de 2018 por amostragem para 646
alunos do 1º ano, que representam 11,1% do universo dos 5.804 alunos da rede, somente 47% demons-
traram o aprendizado desejável na leitura e 8% desejável na escrita, sendo urgente repensar ações que
consolidem o sistema de escrita alfabético por meio de atividades de consciência fonológico e produção de
textos de gênero variados, bem como explorar e desenvolver habilidades de leitura.
Na Leitura e escrita no 2º ano - a Prova Cuiabá aplicada para 666 alunos do 2º ano, que representam
12,2% do universo dos 5.462 alunos da rede, somente 47% demonstraram o aprendizado desejável na
leitura e 14% desejável na escrita. Deve-se, então, serem repensadas ações que consolidem as habilidades
de leitura e escrita a partir do trabalho com textos de diversos gêneros textuais, formando alunos leitores
e produtores de texto.
Ações estratégicas
Ações estruturantes
Estes Programas ou Projetos discutidos neste e no último capítulo deste documento, se materializam
para o alcance de melhoria nos níveis de aprendizagem, do acesso, permanência do estudante e da forma-
ção dos professores, planejamento, avaliação e financiamento da educação.
Marco legal - Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/1996),
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), Parâmetros Curriculares Nacionais (1997),
Lei nº 13.005, de 25/06/2014 (Plano Nacional de Educação/2014), Lei 10.111/2014 (Plano Estadual de
Educação de Mato Grosso/2014), Lei 5.949/2015 (Plano Municipal de Educação de Cuiabá/2015), Base
Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), Lei n° 11.114/2005, Lei 11.274/2006. Assim como o Projeto
Saranzal (CUIABÁ, 1997), Escola Sarã (CUIABÁ, 1999), Diretrizes da Secretaria Municipal de Educação e
a coletânea que a compõe (CUIABÁ, 2008), Legislações do Conselho Municipal de Educação de Cuiabá
(CME/CUIABÁ), e os Compromissos Internacionais, entre outros marcos legais.
Marco conceitual – o marco conceitual da Escola Cuiabana se consolida na concepção de educação que
considere a cultura cuiabana que vem sendo construída ao longo dos anos na Rede Municipal de Ensino
de Cuiabá desde 1998, com o Projeto Saranzal e, em seguida, com a Escola Sarã (2000), assim como, em
todos os conceitos discutidos ao longo deste documento. Toma como base os fundamentos sociológicos,
filosóficos, antropológicos e psicológicos de um currículo decorrente da pedagogia crítica e da abordagem
sociocultural de educação, ancorados na teoria sócio-histórico-cultural.
A opção da educação como processo de formação humana implica uma nova proposta de escola, que dei-
xa de ser excludente e promove igualdade de oportunidades. A escola deve exercer a função histórico-social
O Projeto Político Pedagógico (PPP), no contexto da Escola Cuiabana, trabalha com os conhecimentos
formais, ao mesmo tempo, em que inclui os conhecimentos sobre o significado social da cultura afro-bra-
sileira e indígena em Cuiabá e a própria transmissão e transição do patrimônio cultural. A produção de co-
nhecimentos é marcada pela história do lugar, quando as práticas culturais são produzidas nos percursos
locais em conexão ou divergência com o contexto global. Dessa maneira, o fazer pedagógico está intrinse-
camente relacionado à realidade histórica, regional, política, sociocultural e econômica, uma construção
pautada na realização de um inventário da realidade da comunidade e de seu entorno.
Primeiramente, contextualizar a sociedade que temos hoje e compreender a sua relação com o proces-
so de formação humana. Entender quais são as características gerais dos seres humanos inseridos nessa
sociedade, qual é o projeto pedagógico necessário para a contemporaneidade e qual a cidadania que se
espera exercitar neste tempo. Assim, pressupõe um PPP ancorado na história e cultura cuiabanas sem per-
der o nexo com as transformações ocorridas na sociedade global pelo desenvolvimento das Tecnologias
Digitais da Informação e Comunicação.
Ressaltar o significado dos ciclos de vida, entrelaçando-os com o jeito de ser e estar dos sujeitos no seu
mundo social e nas conjunturas histórico-culturais específicas de seu desenvolvimento e aprendizagem
significa compreender que os estudantes estão inseridos em diferentes períodos e que passam por proces-
sos de transformações em cada um desses períodos, e isto vai acontecendo ao mesmo tempo em que estão
inseridos nas etapas e modalidades da educação escolar.
Nesse sentido a SME reafirma a organização curricular sustentada pelos Ciclos de Formação Humana,
a partir da qual busca desenvolver a aprendizagem dos sujeitos na peculiaridade do desenvolvimento em
seus tempos-ciclos de vida, da infância ao idoso. Este movimento integrado e cíclico entre os períodos de
vida se constitui como base estruturante desta política educacional.
Em relação à estrutura curricular, a proposta educacional em vigor até 2018 na SME, denominada de Es-
cola Sarã (CUIABÁ, 2000), não incluía a Educação Infantil na organização curricular por Ciclos de Forma-
ção Humana, somente o Ensino Fundamental, da seguinte forma: 1º Ciclo: Infância (6 aos 8 anos); 2º Ciclo:
Pré-adolescência (9 a 11 anos) e 3º Ciclo: Adolescência (12 a 14 anos). A Terceira Infância na proposta Sarã
estava diluída entre infância e a pré-adolescência.
A nova estrutura organizacional do processo de desenvolvimento e da aprendizagem na Rede Municipal
de Ensino de Cuiabá pretende redirecionar as ações pedagógicas e administrativas para ampliar a propos-
ta pedagógica estruturada no Ciclo de Formação Humana para todo o atendimento na Rede Municipal
englobando desde os bebês e as crianças bem pequenas na Educação Infantil até os idosos na Educação de
Jovens e Adultos com suas narrativas e especificidades.
Na proposta da Escola Cuiabana, o ciclo de vida está sendo tratado de forma global, por meio do qual a
formação do ser humano é um processo em construção, que passa por temporalidades diferentes. Para
Esta lógica de organização pedagógica tem o propósito de repensar os percursos escolares para que
sua individualização não se limite a algumas variações sustentadas por uma formação padrão, rígida e
classificatória estruturada em um tempo centrípeto, definida a partir de uma progressão de série em sé-
rie ou ano a ano, produzindo fracassos e dificuldades. “É bem mais difícil para nós imaginarmos uma es-
cola organizada de tal modo que cada aluno seja tão frequentemente quanto possível colocado em uma
situação de aprendizagem fecunda para ele. No entanto esse é o verdadeiro desafio” (PERRENOUD,
2000, p. 51).
Os Ciclos de Formação Humana são aqui entendidos como inseparáveis do avanço ao direito à Educa-
ção Básica e do direito ao pleno desenvolvimento humano. Esta proposição possibilita a reorganização do
trabalho docente, considerando os tempos e espaços, os saberes, as experiências de socialização da ma-
neira mais respeitosa para com as temporalidades do desenvolvimento humano (ARROYO, 1999).
Vida Intrauterina
1ª Infância
Tempo-espaço: Berçário -
(0 a 3 anos) Bebês e crianças Educação Infantil/Creche
Maternal - Jardim -Ed.Inf.
bem pequenas
2ª Infância
Tempo-espaço:
(4 a 5/6 anos) Crianças Educação Infantil/Pré-escola
Pré Escola - Ed. Inf.
pequenas
INFÂNCIA
3ª Infância (6 a 7 anos) Tempo-espaço: Anos Iniciais/EF/
Crianças pequenas 1º Ano - 2º Ano - EF Alfabetização
Meninice Tempo-espaço:
Anos Iniciais/EF
(8 a 9 anos) 3º Ano - 4º Ano - EF
Puberdade Tempo-espaço:
Anos Iniciais/Anos Finais EF.
(10 a 11/12 anos) 5º Ano - 6º Ano - EF
Adolescência Tempo-espaço:
ADOLESCÊNCIA Anos Finais EF
(12 a 14/15 anos) 7º Ano - 8º Ano - 9º Ano - EF
Idoso Tempo-espaço:
Idoso
(A partir de 60 anos) EJA /Centro de Convivência do Idoso
A infância é um Ciclo de vida composto pelos períodos dos bebês, das crianças bem pequenas, das crian-
ças pequenas e das crianças, conforme protagoniza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990).
Estas terminologias constam na BNCC (2017), que, embora não adentre nas questões de como as Redes
de Educação devem organizar sua estrutura curricular ou a metodologia de atendimento, reconhece as
especificidades dos diferentes grupos etários que constituem a etapa da Educação Infantil, como os bebês
e as crianças bem pequenas.
Considerando a infância até os 11/12 anos de idade, aproximadamente, conforme já discutido, a SME optou
por acrescentar o período da meninice e puberdade, não como uma fase intermediária, uma preparação para
a adolescência, mas sim, no sentido da importância de diferenciar este rico e desafiador processo de transfor-
mação no Ciclo de vida, como descrito no item referente à Terceira Infância: a meninice e a puberdade.
Sobre a adolescência, há aqueles que consideram os jovens de 15 anos fazendo parte do ciclo da
adolescência e não da juventude, diferentemente da descrição apresentada para a Escola Cuiabana.
Esta estrutura foi pensada levando em consideração os ciclos de forma mais global e o atendimento
de escolarização que a SME oferece à população cuiabana. Ressalta-se ainda que o fator idade é um
dos elementos que compõem o desenvolvimento humano e marco referencial importante para a or-
ganização escolar e da sociedade, se constitui numa referência válida, embora não possa ser tomada
de forma isolada.
c) Enturmação do estudante
A enturmação dos estudantes na organização curricular da Rede Municipal de Cuiabá, a partir da pro-
posta da política educacional Escola Cuiabana, compreende:
Ciclo da Infância
• Período da 1ª infância - composto pelos bebês de 0 a 1 ano e 6 meses e pelas crianças bem
pequenas de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses.
• Período da 2ª infância - composto pelas crianças pequenas de 4 anos a 5 anos e 11 meses.
• Período da 3ª infância - composto pelas crianças pequenas de 6 a 7 anos.
• Período da meninice - composto pelas crianças de 8 a 9 anos.
• Período da puberdade ou pubescência - composto pelas crianças de 10 a 11 anos.
Ciclo da Adultez
• Período dos Adultos jovens, de 15 a 29 anos.
• Período dos Adultos de meia-idade, 31 a 59 anos.
• Período dos Adultos Idosos, a partir de 60 anos.
A enturmação dos estudantes considera o seu desenvolvimento formativo e observando alguns critérios:
Contribuir para que as unidades educacionais possam construir aprendizagens indispensáveis para o
desenvolvimento humano e cultural dos estudantes e profissionais e, assim, alcancem melhorias nos
seus índices.
Promover meios para o alcance da qualidade no processo educativoin loco no sentido da humaniza-
ção, dialogicidade, interculturalidade, conhecimento e inclusão.
Potencializar as discussões com a equipe docente sobre a educação como processo de formação hu-
mana e da educação ao longo da vida.
Constituir núcleos de gestores das escolas com identidade de oferta, para busca de alternativas a
problemas comuns de forma colaborativa, rompendo com o isolamento das unidades.
Nos capítulos seguintes, aborda-se com mais detalhamento a proposta da Escola Cuiabana para Educação
Infantil, Ensino Fundamental, Educação Especial, Educação do Campo e Educação de Jovens e Adultos e
sua forma de contemplar os diferentes ritmos e tempos do desenvolvimento humano e das aprendizagens.
Considerando o contexto atual e a importância de documentos que possam orientar práticas educati-
vas com vistas a uma Educação Infantil de qualidade, a Rede Municipal de Ensino de Cuiabá apresenta a
reorganização de sua política educacional de atendimento da Educação Infantil. Neste documento, a SME
apresenta referenciais de sustentação teórica e metodológica da política, a nova estrutura curricular e a
definição de um conjunto de aprendizagens essenciais, às quais todos os estudantes brasileiros inseridos
na Educação Infantil têm direito.
A proposta aqui delineada em consonância com a BNCC (2017) de Educação Infantil, está pautada em
teóricos como Arroyo (1999), Vygotsky (1984); Piaget (1987); Wallon (1975); Hoffmann (1996); Kishimoto
(2007); Oliveira (1996); Moro (2016); Souza (2016); Rezende (2009); Fonseca (2012); Garanhani (2010);
Coelho (2000); Abramovich (1991); Lerner (2002); Souza Lima (2015), entre outros, por apresentarem
discussões de ponta, profundas e atuais que sustentam o trabalho com a Educação Infantil. Enfatiza as in-
terações e brincadeiras como eixos centrais para a consolidação das aprendizagens e propõe organização
do trabalho pedagógico a partir dos cinco Campos de Experiências, a saber:
Campos de Experiência
A LDBN articula-se com as políticas educacionais, em que o Estado, Distrito Federal e Municípios de-
vem se organizar para atender a demanda da população, e também com os objetivos e metas previstas no
Plano Nacional de Educação, contribuindo ainda mais para a efetivação do direito a uma Educação Infantil
com qualidade e equidade no acesso.
Ao longo do tempo, o Ministério da Educação (MEC) disponibilizou os seguintes documentos orientado-
res: Critérios para um atendimento em creche que respeite os direitos das crianças (BRASIL, 2009); Políti-
ca Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação (BRASIL, 2005);
Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil (BRASIL, 2006); Indicadores da Qualidade na Educação
Infantil (BRASIL, 2009); Contribuições para a Política Nacional: a avaliação em Educação Infantil a partir
da avaliação de contexto (BRASIL, 2015). No bojo de todo esse movimento, consolida-se o direito educa-
cional das crianças.
18 - A partir de 2017, o atendimento de 4 e 5 anos atingiu a meta de 100%; já a faixa etária de zero a 3 anos, no último monitoramento, em setembro/2018,
alcançou 35,42%, mantendo assim o desafio de 14,58% para alcançar a meta até 2020.
19 - Art. 38 Fica estabelecida uma função gratificada de dedicação exclusiva de coordenador pedagógico por unidade de creche acima de 100 (cem)
crianças.
Outro aspecto a ser destacado como um avanço no atendimento à Educação Infantil na Rede Municipal
de Cuiabá é o Programa Hora Estendida. Este teve início em 2017, no Centro Municipal de Educação Infan-
til (CMEI) Engenheiro Oscar Amélito, como projeto piloto, sendo acompanhado por uma Comissão Interna
da SME durante 90 dias, do qual resultou uma avaliação, o relatório circunstanciado com indicação de uma
avaliação externa.
O programa tem como objetivo garantir a igualdade de acesso e condições de permanência da criança
considerando a incompatibilidade de horário do término de trabalho apresentado, por algumas famílias,
com o horário do término do atendimento da unidade. E para a sua execução fez-se importante a reorga-
nização do horário de profissionais do CMEI, para realizar o atendimento das crianças que participaram
do programa. A reorganização do tempo-espaço exigiu um planejamento pedagógico com priorização das
interações entre as crianças, seu desenvolvimento, suas preferências e o respeito pela finalização de cada
atividade proposta para as horas estendidas.
Em 2018, foram consolidadas as orientações do funcionamento do Programa Hora Estendida na primei-
ra etapa da Educação Básica nas creches e CMEIS do Sistema Municipal de Educação de Cuiabá.
A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais
se caracterizam como espaços institucionais não domésticos, que constituem estabelecimentos educacio-
nais públicos ou privados, nos quais crianças de zero a 5 anos de idade se inserem nas práticas do cuidar e
educar, no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados pelo órgão compe-
tente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNEI, 2010, p. 12).
Criança: sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia,
constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimen-
ta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (DCNEI, 2010,
p. 12).
Currículo: conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de
modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de zero a 5 anos de idade (DCNEI, 2010, p. 12).
(...) atuar sobre as mentes, nas quais se decidem as vontades ou as ações; e sobre os espíri-
tos, nos quais se expandem as emoções, paixões, desejos, sentimentos de toda ordem […].
No encontro com a literatura (ou com a arte em geral) os homens têm a oportunidade de
ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, em um grau de intensi-
dade não igualada por nenhuma outra atividade. (COELHO, 2000, p. 29).
Portanto, enquanto estratégia para ressignificar o mundo e a realidade, a literatura infantil é impres-
cindível para a formação de cidadãos críticos, que a partir da compreensão de sua própria realidade social
possam atuar sobre ela de modo a transformá-la.
Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e com a BNCC, o
trabalho pedagógico com os textos literários, principalmente na Educação Infantil, não deve servir como
20 - Chapeuzinho Vermelho, a Bela Adormecida, o Gato de Botas, Cinderela, e o Pequeno Polegar são alguns dos seus contos mais conhecidos.
Na Educação Infantil, o texto literário tem uma função transformadora, pela possibilidade
de as crianças viverem a alteridade, experimentarem sentimentos, caminharem em mun-
dos distintos no tempo e no espaço em que vivem, imaginarem, interagirem com uma lin-
guagem que muitas vezes sai do lugar-comum, que lhes permite conhecer novos arranjos e
ordenações. (CORSINO, 2010, p. 184).
Inicialmente, as histórias são contadas pelos adultos e as crianças começam a relacionar o que “ouviram”
com as imagens; depois, elas passam a recontar as histórias ouvidas, com base nas ilustrações e tentando
imitar como o adulto fez a “contação”; na sequência, à medida em que se desenvolvem, espontaneamente,
as crianças se apropriarão da linguagem escrita.
Nesse contexto, a inserção da literatura infantil na prática pedagógica deve ocorrer de forma prazerosa
e significativa, em um ambiente voltado para a formação de leitores, por meio de atividades planejadas de
acordo com as fases do desenvolvimento infantil, de modo a estimular a imaginação, bem como a expres-
são de emoções e sentimentos. Afinal, ler histórias para crianças é:
Contudo, embora a criança de zero a 2 anos não se prenda ao enredo da história a ela contada, o
movimento, o tom da voz e o colorido das páginas chamam atenção e despertam o interesse para este
momento de interação. Logo, é de fundamental importância que a contação de história ou leitura delei-
te seja considerada como atividade permanente na rotina da unidade educacional, desde a citada faixa
etária.
Em face dessas reflexões, destaca-se o “livro de imagem”, que sem o apoio de textos escritos conta
histórias por meio de uma sequência de imagens. Este tipo de material é relevante para essa faixa etária,
assim como os livros de pano, borracha, com texturas distintas, gravuras coloridas e sem excesso de
detalhes.
Segundo Lerner (2002), há, ainda, comportamentos leitores21 que devem ser objeto do processo de
ensino e aprendizagem e dos quais seguem alguns exemplos, a saber: a) comentar sobre os motivos que
21 - Referem-se àqueles aspectos que dizem respeito à relação do sujeito com outros leitores e aos valores construídos em relação à leitura e ao ato de ler.
Leitura deleite é aquela em que há ou se demonstra excesso de satisfação; em que sente contenta-
mento ou deleitação. Desse modo, deve ser utilizada para provocar esse tipo de sentimento, sem pre-
ocupação didática ou de discutir algum tema específico. É um momento de prazer estético e literário,
sem julgamento de valor ou necessidade de usar o texto/livro para propor atividades. Contudo, ao se
tornar atividade permanente na rotina das unidades educacionais, devemos evitar a banalização desse
momento: os livros ou textos devem ser escolhidos com cuidado e não apenas para cumprir uma ação
mecânica.
Já dizia o poeta que ler é brincar com as palavras e é justamente isso que as crianças devem sentir ao vi-
venciar uma atividade de leitura deleite. Nesse sentido, a escolha do material a ser utilizado é de primordial
importância. Vejamos:
Até 2 anos
As histórias devem ser rápidas e curtas, uma gravura em cada página, mostrando coisas simples
e atrativas visualmente; os livros devem ser de plástico, recomenda-se o uso de fantoches ou
dedoches.
De 2 a 3 anos
As histórias devem ser rápidas, com pouco texto de um enredo simples e vivo, poucos personagens,
aprximando-se, ao máximo das vivências da criança, com gravuras grandes e poucos detalhes. Os
fantoches continuam sendo o material mais adequado e como a música também exerce um grande
fascínio sobre a criança, é recomendavél incluí-la na contação de história.
De 3 a 5 anos
Os livros adequados a essa fase devem propor vivências radicadas no cotidiano familiar da criança,
com prioridade para os livros de imagem ou com textos breves; livros com dobraduras simples
ou pop-up também são interessantes. Outro recurso é a transformação do contador de história
com roupas e objetos característicos. A criança acredita, realmente, que o contador de história se
transformou no personagem ao colocar uma máscara.
Vale ressaltar que, no cantinho de leitura e/ou bibliotecas das unidades de Educação Infantil, podem ter
livros, gibis, revistas, etc.; brinquedos, cenários e bonecos/fantoches/dedoches de personagens de histó-
rias, pedaços de pano para se transformarem em roupas, chapéus, coroas; sapatos, colares, entre outros.
Diante do exposto, mais especificamente no que concerne aos benefícios que a literatura infantil traz para
o desenvolvimento da linguagem infantil e tendo como base o que foi proposto no Caderno 5: Crianças como
Leitoras e Autoras/PNAIC22 (BRASIL, 2016), é importante destacar outros tipos de livros, tais como:
Os tipos de livros
Livros de Histórias
Exploram o gosto infantil pela ficção. Entrar em determinados espaços habitados por personagens
com certas características e que empreendem diferentes aventuras conduz as crianças ao
conhecimento da organizção temporal e casual dos eventos e a continuar a desenvolver um dos
instrumentos mais potentes para compreender e comunicar sua experiência vital: a narração.
22 - O Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa foi instituído pelo Ministério da Educação em 2013, em 2017-2018, ampliou seu atendimento
e teve como foco, também, a formação de professores da Educação Infantil (4 e 5 anos).
Há prazer de folhear um livro, colorido ou branco e preto [...] livros feitos para crianças
pequenas, mas que podem encantar aos de qualquer idade, são, sobretudo, experiências
de olhar, de um olhar múltiplo, pois se vê com o olhar do autor e do olhar/leitor, ambos
enxergando o mundo e os personagens de modo diferente, conforme percebem o mundo.
Saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro,
tão denotador de tudo, a visão.
Recomenda-se, ainda, que, sejam inseridas, como forma de valorizar a cultura local e ampliar o reper-
tório de leitura das crianças, histórias representativas das literaturas mato-grossense, africana e indígena,
considerando, é claro, a adequação à faixa etária com a qual o professor/educador estiver trabalhando.
Como apresentado no capítulo 3, a psicologia abarca uma área de conhecimento que estuda o desenvol-
vimento humano, no qual as proposições nucleares concentram-se no esforço de compreender o homem
em todos os seus aspectos, desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade. Esse esforço
tem levado à elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias
e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as
visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade.
A partir da concepção da criança no ventre da mãe e ao longo da Primeira Infância, os ambientes em que
ela vive e aprende, a qualidade de seus relacionamentos com adultos, professores ou TDIs terão impacto
significativo em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
Os cuidados com a criança no início da vida devem ter total atenção do adulto, pois exercem forte influ-
ência no desenvolvimento inicial, produzindo efeitos importantes sobre a aprendizagem na escola e sobre
a saúde física e mental por todo o ciclo da vida.
Segundo Souza Lima (2015, p. 324):
(...) a Educação Infantil tem uma grande relevância, pois é neste período de desenvolvimen-
to humano que acontece a formação e ampliação dos acervos de memória que fornecem as
bases para as aprendizagens escolares do Ensino Fundamental e Ensino Médio. As estrutu-
ras cerebrais formadas neste período impactam por décadas na apropriação e utilização de
sistemas simbólicos e os processos de pensamento.
A autora ressalta também que contribuições da neurociência se estendem dos processos de desenvolvi-
mento da espécie aos processos necessários para se apropriar dos conhecimentos formais, da vida intrau-
terina à velhice, do ser humano individual à vida em grupo (SOUZA LIMA, 2015, p. 322).
Vida intrauterina
Considerando que é nas creches e pré-escolas que muitas crianças passam a maior parte do dia, é de
fundamental importância que sejam atendidas por profissionais que tenham habilidades para lidar com
todas as nuances da Educação Infantil, que saibam o que e como estimular uma criança em determinada
idade. Nesse sentido, as unidades educacionais devem, sobretudo, chamar os pais à escola, convidá-los a
participar do processo, para que eduquem seus filhos com maior segurança e sintam sua responsabilidade
em acompanhar o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Os seres humanos têm características diferentes de acordo com a idade e em cada momento da vida
existem as suas especificidades. Nesse sentido, na Primeira e na Segunda Infância, períodos em que a
criança é inserida no contexto de creche e pré-escola, ela começa o desenvolvimento dos repertórios cog-
nitivo, emocional e social. A discussão sobre estes aspectos encontra-se no capítulo 3 deste documento.
Na infância ainda ocorrem aquisições importantes que dizem respeito à descoberta da sexualidade e
construção da identidade de gênero. Em relação à sexualidade, Chagas (2002, p. 157) assinala que nes-
sa fase a criança descobre que “[...] é divertido e prazeroso tocar partes do corpo, inclusive as genitais.
As recomendações contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2010) suge-
rem que, na transição para o Ensino Fundamental, a proposta pedagógica deve prever formas para garantir
a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitando as especificida-
des etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental.
Reconhecer a criança como sujeito de direitos e como protagonista do seu processo de desenvolvimen-
to e aprendizagem requer um olhar atento para as transições, pensar nesses momentos da vida da crian-
ça, seja na creche, na pré-escola e nos anos iniciais. Espera-se que as crianças construam aprendizagens
significativas, sem perder de vista que estão em processo de desenvolvimento, são crianças ativas que se
relacionam com tudo e todos, desde o seu nascimento.
A comunicação é fundamental na passagem de uma etapa para outra, devendo ao longo do ano esse
alinhamento ocorrer, facilitando o ato educativo entre as etapas, integração dos serviços das creches, pré-
-escolas e Ensino Fundamental, em seus anos iniciais. Desse modo, na transição devem-se considerar as
mudanças de caráter biológico e psicossocial (emocional, cognitivo e social). O cenário da Educação Infantil
para Ensino Fundamental começa desde:
1ª transição: de casa para a creche - zero a 3 anos - A criança chega com uma história pessoal, com vín-
culos afetivos externos à instituição. A separação causa impactos para a criança e a família, o que muitas
vezes não é mensurado como devia ser, quando a criança sai de um ambiente familiar para um institucional.
Nesse contexto, torna-se necessário pensar em estratégias para a construção de novos vínculos, para além
da organização de um espaço acolhedor. Recomenda-se também especial atenção para a transição no inte-
rior da instituição (entre turmas berçário/maternal/jardim).
2ª transição: da Creche para a Pré-Escola - 4 e 5 anos – com a obrigatoriedade da realização da matrí-
cula, a inserção deve ocorrer de forma acolhedora, estabelecendo vínculos afetivos e de confiança com o
novo espaço, novas pessoas, mudança de rotina e de ações desenvolvidas.
3ª transição: da Pré-Escola para o Ensino Fundamental - esse processo tende a ser bastante traumático,
o que não pode existir. Portanto, o trabalho entre a etapa da Educação Infantil e a do Fundamental deve ser
mais coeso e unificado. As unidades educacionais precisam organizar situações que fortaleçam a relação
e a convivência entre os pares.
É essencial que o professor organize seu trabalho pedagógico para que dê continuidade e não cause
rupturas nesse processo, considerando a singularidade da criança, seu protagonismo, respeitando a infân-
cia, cultura, articulando ações para garantir o respeito e diálogo entre a equipe gestora, possibilitando o
trabalho em conjunto.
Processo de mudança que gera certo desequilíbrio na criança, em seus familiares e mesmo na própria
educadora. Deve-se considerar que uma boa inserção pode, com certos cuidados, incentivar a progressiva
conquista de autonomia da criança para além do contexto familiar.
É importante enfatizar que o diálogo entre as famílias e unidades educacionais deve ser pautado nos va-
lores morais, éticos e de respeito às singularidades de cada grupo, pois quanto melhor for a parceria entre
família e escola, mais significativos serão os resultados na formação do sujeito.
A busca por uma relação de respeito entre ambas, família e instituição, deve estar presente em todo e
qualquer trabalho educativo, que tem como centro a criança. Portanto, a convivência afetiva entre família
e escola deve ser compreendida pelos pais como indicativo de um bom trabalho. Para isso é importante
que as famílias conheçam qual é o papel da escola e o seu próprio neste contexto.
De acordo com Kishimoto e Formosinho (2007), o planejamento se dará a partir da observação da dinâ-
mica do desenvolvimento infantil em um determinado contexto educativo, a fim de levantar a demanda da
Fonte:DGGE/COC/EI/SME (2018)
a) A organização curricular
O Currículo da Educação Infantil se constitui em um conjunto de práticas, que articulam os saberes das
crianças com os conhecimentos formais, conforme já foi citado, respeitando os direitos de aprendizagem
e desenvolvimento, a saber:
• Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes lin-
guagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças
entre as pessoas.
• Brincar de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças
e adultos) de forma a ampliar e diversificar suas possibilidades de acesso a produções culturais.
A participação e as transformações introduzidas pelas crianças nas brincadeiras devem ser valo-
rizadas, tendo em vista o estímulo ao desenvolvimento de seus conhecimentos, sua imaginação,
criatividade, experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e rela-
cionais.
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações,
relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus sa-
beres sobre a cultura em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dú-
vidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva
de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brinca-
deiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.
b) Metodologia
Como já afirmado, o presente documento fundamenta-se na concepção de educação como direito do
cidadão desde o nascimento, conforme postulado pela Constituição Federal de 1988, que estabelece a
inserção de creches e pré-escolas, como primeira etapa da Educação Básica, a qual tem como pressuposto
que as crianças são agentes sociais, plenos, sujeitos históricos, ativos e criativos, que nas interações esta-
belecidas no mundo social não se limitam apenas a receber e a se formar, mas transformam seu entorno,
produzem e reproduzem cultura.
Nesse contexto, na busca por fazer um resgate das experiências acumuladas pela Rede Municipal de En-
sino de Cuiabá nas décadas anteriores e analisando o percurso histórico do atendimento, os pressupostos
teóricos que sustentam a Proposta Pedagógica para Educação Infantil em Cuiabá situam-se nas matrizes
interacionistas e sociointeracionistas.
Segundo Piaget (1987), Vygotsky (1984) e Wallon (1975), a capacidade de conhecer e aprender se constrói
a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. A abordagem sociointeracionista concebe, portanto,
o desenvolvimento infantil como um processo dinâmico, pois as crianças não são passivas ou meras receptoras
das informações que estão à sua volta. Por meio do contato com seu próprio corpo, com as coisas do seu ambien-
te, bem como, por meio da interação com as outras crianças e adultos, vão desenvolvendo a capacidade afetiva,
a sensibilidade e a autoestima, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. Assim, os diferentes níveis de desen-
volvimento (motor, afetivo e cognitivo) não se darão de forma isolada, mas sim de forma simultânea e integrada.
Ao encontro dessas concepções:
• Busca-se a interação entre a criança e o meio - esta é considerada uma relação dialética, já que o indi-
víduo não só internaliza as formas culturais como também intervém e as transforma (RESENDE, 2009).
• A narrativa, nas suas diferentes expressões, é constituinte do sujeito; que nas interações com o ou-
tro, crianças e adultos, conhecem o mundo e a si mesmos; que não existe uma realidade de linguagem
fora de um contexto enunciativo.
Nesta concepção é relevante utilizar-se de uma metodologia que garanta o desenvolvimento integral da
criança, pois na Escola Cuiabana pretende-se uma Educação Infantil como espaço narrativo, crianças em
busca de sentido para as suas experiências de vida e de organização da experiência social na construção
de sua identidade.
23 - Escutar as crianças significa ouvir as suas narrativas, pois essas “envolvem memória, dimensão temporal, capacidade de compreender e explicar
acontecimentos e capacidade para organizá-los em uma cadeia lógica. Elas podem ser vistas como veículo e material de construção sociocognitivo da
realidade e de significados, veículo que provoca campos de experiências intersubjetivas que promovem compreensão das formas simbólicas, ao mesmo
tempo em que é um instrumento de organização da experiência social e de transformação desta em discurso” (CUIABÁ, 2009, p. 45).
• Ser elaboradas pela coordenação pedagógica com o coletivo de educadores da unidade e partir do
contexto próprio dela.
• Ter o objetivo de possibilitar que as crianças tenham acesso a todas as experiências que precisam
ser garantidas a elas, conforme apontam as DCNEI- 2013.
• Partir de planejamentos pedagógicos que não engessem a criatividade infantil, ao contrário, exercite.
Projetos didáticos
Os projetos didáticos são conjuntos de atividades que giram em torno de uma situação de resolução de
problema e/ou um produto final, gerados pelo interesse espontâneo dos grupos de crianças, mediante suas
narrativas e necessidades, ou pela iniciativa dos educadores, segundo uma intencionalidade pedagógica
bem definida por meio de observações.
Edi Fonseca (2012) aponta que o planejamento desenvolvido por meio de projetos pedagógicos tem por
fundamento uma aprendizagem significativa, de experimentação e exploração, autonomia, relações coo-
perativas e interativas com a articulação entre conhecimento científico e realidade espontânea da criança,
promovendo a cooperação e a interdisciplinaridade.
Essa visão de organização do trabalho pedagógico considera as crianças como coautoras do seu pro-
cesso de aprendizagem, tirando-as do lugar de passividade para um papel ativo e participativo, sujeito
de direitos e protagonistas, mobilizam-se todas as crianças, não apenas no aspecto cognitivo, mas tam-
bém a sua emoção, seu sentimento e o prazer, são as suas intuições que se materializam na realização
do projeto.
Apresentam-se os projetos didáticos como opção metodológica contextualizada, atual e útil, que preci-
sam ser efetivados a partir de circunstâncias favoráveis e exitosas, permitindo assim que as crianças con-
quistem sua independência e vão gradualmente exercendo sua autonomia e seu pensamento por meio dos
recursos disponíveis no ambiente, diferentes objetos motivadores, como brinquedos e outros materiais
que ofereçam diversas experiências.
Segundo Beatriz Ferraz (apud JOTTACLUB, 2018), a Educação Infantil deve criar contextos lúdicos,
significativos e propícios para o letramento, por meio de atividades com sentido, nas quais os pequenos
aprendem ouvindo e recontando histórias, conhecendo livros e narrativas.
Sequência didática
A sequência didática é um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas e orientadas por objetivos
conceituais (relativos à construção de conhecimentos e saberes específicos, conceitos, fatos e princípios-
Compreendem-se as instituições de Educação Infantil como ambiente onde ocorre o processo educa-
tivo, e principalmente como um local que pode colaborar com o desenvolvimento e aprendizagens das
crianças, por meio das relações que estabelecem entre si e com os adultos. Logo, é imperativo que todos os
profissionais que trabalham nessas instituições desempenhem a função educativa.
Cabe aos diferentes profissionais (diretores, coordenadores pedagógicos, professores e técnicos) que
atuam nas Instituições de Educação Infantil valorizar a experiência da criança, permitindo o acesso e a
apropriação de conhecimentos que não são constituídos espontaneamente no ser humano. Nesta pers-
pectiva, sublinha-se a importância de enfatizar, os que atuam em instituições educativas executam fun-
ções indissociáveis de educar e cuidar.
De acordo com Felipe (1998, p. 8):
As pessoas, que têm a responsabilidade de cuidar/ educar crianças nesta faixa etária, de-
sempenham um papel fundamental no processo de desenvolvimento infantil, pois servem
de intérpretes entre elas e o mundo que as cerca. Ao nomearem objetos, organizarem situa-
ções, expressarem sentimentos, os adultos estão cooperando para que as crianças compre-
endam o meio em que vivem e as normas da cultura na qual estão inseridas.
Afirma o autor que os diferentes profissionais envolvidos na Educação Infantil são, portanto, mediado-
res entre a criança e o meio e eles têm uma importante tarefa a cumprir, a de contribuir para um desenvol-
vimento agradável e sadio desse ser humano no ciclo da infância.
Pesquisas sobre profissionais atuantes nas salas de Educação Infantil, como a de Garanhani (2010, p.
188), revelam que no Brasil a maioria não possui qualificação profissional, ou seja, não é professor. É rea-
lizada por outros profissionais: estagiários, babás, técnico educacional, etc. Apesar de estes profissionais
exercerem a função de docência, a ausência de formação específica pode comprometer e desqualificar o
processo de ensino e aprendizado oferecido pelas instituições de Educação Infantil.
Diferentemente do resto do Brasil, no município de Cuiabá, praticamente todos os profissionais que
atuam na Educação Infantil possuem graduação em Pedagogia e na sua maioria possuem especialização.
Pois esta rede entende que, para qualificar o trabalho realizado em sala de aula, este deve ser efetivado
por um professor pedagogo.
Outro fator importante na qualificação do trabalho docente é a formação continuada em serviço, que
atenda a suas expectativas, necessidades e, principalmente, leve o educador a refletir sobre sua prática pe-
• Professor profissional da relação - compreende que toda criança é única, ou seja, tem uma história
pessoal, que seu desenvolvimento ocorre numa influência cultural, onde ele e a criança estão inseri-
dos. Sendo assim, o professor precisa estar atento e considerar as individualidades e características
de cada criança nas interações.
• Professor artesão - é aquele que cria, elaboram práticas adequadas as características dessa faixa
etária.
• Professor construtor de sentidos - organiza suas práxis levando em consideração aquilo que a
criança manifesta, por meio de diferentes linguagens, sobre práticas e situações que vivenciam.
Importante destacar que professores e TDIs da Educação Infantil precisam compreender que a fragili-
dade e dependência infantil, singular desta fase de desenvolvimento, requerem dele, dos demais profissio-
nais e dos responsáveis pela criança, ações de cuidado no educar e educar no cuidado.
Cuidar também implica o auxílio das necessidades infantis de segurança, proteção, bem-estar e saúde,
considerando seus afetos, emoções e sentimentos. Além disso, implica o reconhecimento da importância
das relações com os outros, bem como o planejamento de um espaço que desperta a imaginação das crian-
ças, proporcionando descobertas e o instigar da curiosidade.
O trabalho do professor e do TDI requer intencionalidade, estudo e atenção às orientações das DCNs,
aos pressupostos e indicativos da proposta pedagógica da SME e do Projeto Político Pedagógico da unida-
de educacional e às teorias da educação.
É fundamental enfatizar que as práticas pedagógicas precisam acontecer de modo a não fragmentar as
possibilidades da criança de viver experiências, no seu entendimento de mundo feito pela sua totalidade
de seus sentidos, no conhecimento que estabelece na relação entre a razão e a emoção, expressão corpo-
ral e verbal, experimentação prática e elaboração conceitual.
Diante disso entende-se que são práticas pertencentes à função do professor e TDIs da Educação In-
fantil:
• Propiciar e compreender a necessidade de um período de inserção das crianças nos diversos espa-
ços onde vive e convive.
• Proporcionar situações nas quais a criança possa explorar e observar o ambiente com atitude de
curiosidade, percebendo-se como integrante ao mesmo tempo dependente de seus pares, e agente
de transformação do seu meio.
• Estimular que a criança utilize as linguagens, sejam corporal, musical, plástica, oral ou escrita.
Os desafios da Educação Infantil ainda são imensos, mas o claro entendimento do papel de professor e
de TDI como agentes da formação humana no ciclo de vida da infância em ação permanente de reflexão e
cuidado com educar por meio do brincar, respeitando suas características, é uma conjunção de fatores que
gera a possibilidade da superação de fragilidades que ainda persistem no campo dos recursos materiais e
financeiros da educação.
Nas instituições educativas de Educação Infantil, por meio das diversas brincadeiras e das interações,
com as pessoas, com objetos e com o mundo, a criança terá a oportunidade de compartilhar e vivenciar
experiências, que a farão desenvolver cognitiva, motora e afetivamente. Por tais razões, a avaliação na
Educação Infantil precisa partir da concepção do desenvolvimento infantil e de um olhar teórico-reflexivo
sobre as manifestações das crianças, respeitando o seu processo único de desenvolvimento.
A avaliação educacional é um importante instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica, na busca
de melhores caminhos para orientar as aprendizagens infantis. As DCNEI (2010, p. 29) apontam que as ins-
tituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhar o trabalho pedagógico e a ava-
liação do desenvolvimento das crianças, sem objetivos de seleção, promoção ou classificação, garantindo:
I – a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no coti-
diano;
II – utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, dese-
nhos, álbuns etc.);
III – a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas
aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação
Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/En-
sino Fundamental);
A Base Nacional Comum Curricular (2017) propõe para a educação brasileira uma nova organização
curricular, que reforça a importância em escutar as crianças, colocando-as como protagonistas do proces-
so educativo e dos processos de decisão. Dessa forma, a avaliação deve contemplar a evolução individual
das crianças, para, por exemplo, verificar se os direitos de aprendizagem e desenvolvimento estão sendo
garantidos, bem como para promover oportunidades dignas de aprendizagem às crianças.
Nesse sentido, para avaliar as crianças, os professores/TDIs, pautados no Projeto Político Pedagógico
da unidade educacional em que trabalham, devem atuar como observadores do cotidiano, conhecendo
cada criança em sua singularidade, posteriormente, planejando intervenções pedagógicas, que levem em
conta as necessidades das crianças. Além da observação, individual e coletiva, da criança, é essencial que
os professores/TDIs registrem suas observações.
• A observação crítica periódica das interações, das brincadeiras e demais ações pedagógicas viven-
ciadas pelas crianças no dia a dia na instituição educacional.
• A utilização de diversos registros das crianças e dos professores/TDIs, que demonstrem as ações
realizadas, como escuta das crianças, desenhos, relatórios, fotografias, vídeos, “caderno de bordo”,
portfólio, etc.
As observações, análises e os registros devem ser feitos periodicamente ao longo do ano, na busca por
garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Dessa forma, seguem três elementos norteado-
res que podem auxiliar os educadores no processo avaliativo, a saber:
a) Observação
No dia a dia com as crianças os professores precisam ter capacidade de observá-las para decidir sobre
a melhor maneira de intervir. Ou seja, precisam acompanhar o cotidiano das crianças na instituição para
identificar as dificuldades e as potencialidades da turma. Essa observação, também, envolve a organização
do espaço, o favorecimento de materiais e a proposição de brincadeiras, que possibilitem e promovam a
interação das crianças com o ambiente, com os objetos e com os seus pares.
Os professores precisam definir diariamente quais crianças observar, de forma que, ao longo da semana,
tenha observado todo o grupo de crianças. E, podem, dentre outros aspectos, observar:
b) Registros
É preciso planejar como e quando colher os dados e sistematizar os registros, quais sejam, fotografias,
desenhos e outras produções das crianças, verificar quais são os brinquedos e brincadeiras preferidos e
suas razões para elaborar relatórios significativos que descrevam o desenvolvimento cognitivo, motor e
emocional de cada criança. Os registros dos professores/TDIs e das crianças são documentos pedagógicos
importantes para garantir a reflexão sobre a prática e a qualidade do ensino. Deverão resguardar a singula-
ridade de cada criança e do acompanhamento da sua história, construída a partir de suas vivências dentro
e fora da instituição.
c) Relatórios de avaliação
Os professores/TDIs, ao fazer os seus registros, devem desconsiderar listas de comportamentos pa-
dronizados e “fichas de avaliação” em que se separam aspectos afetivos dos aspectos sociais; por vezes as
áreas afetivas são privilegiadas e não há conexão com a construção do conhecimento pela criança.
As fichas geralmente têm, apenas, itens referentes às atitudes e comportamentos das crianças durante
as atividades propostas e as rotinas na instituição, correndo o risco de fazer comparações e, assim, desres-
peitando as características únicas de cada criança.
Para Jussara Hoffman (1996), acompanhar o processo de construção de conhecimento implica favo-
recer o desenvolvimento da criança, orientá-la nas tarefas, oferecer-lhe novas leituras ou explicações,
sugerir-lhe investigações, proporcionar-lhe vivências enriquecedoras e favorecedoras à sua ampliação do
saber. Não significa acompanhar todas as suas ações e tarefas para dizer que está ou não apto. Significa,
sim, responsabilizar-se pelo seu aprimoramento. De forma alguma é uma relação puramente afetiva ou
emotiva, significa uma reflexão teórica sobre as possibilidades ofertadas às crianças, para a elaboração de
esquemas de argumentação e o enfrentamento de novas experiências.
A avaliação na Educação Infantil, portanto, deve estar aliada ao planejamento, visando verificar e anali-
sar se os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento foram alcançados. Dessa forma, os pro-
fessores devem aguçar o seu olhar sensível, afetuoso e observador para o grupo de criança que atende.
Uma avaliação padronizada limita as reflexões dos professores/TDIs sobre a sua prática educativa e sobre
as experiências de aprendizagem oportunizadas às crianças. Neste sentido, Moro e Souza (2016, p. 94)
chamam atenção para que a avaliação das crianças na Educação Infantil não venha a ser exclusivamente
atrelada ao controle burocrático e oficial dos sistemas de ensino.
A tarefa dos professores/TDIs é realizar a mediação como a intervenção pedagógica desafiadora do
potencial de cada criança, bem como, articular conceitos construídos pela criança e as suas formas mais
elaboradas de compreensão da realidade. Isso implica ir além do registro de resultados alcançados pelas
crianças a partir de ações dirigidas a elas, e sim acompanhar as suas ações, confiando em seu potencial e
mediando o processo de aprendizagem.
Mediar, de acordo com Hoffmann (1996), significa um estado permanente dos professores/TDIs, que
acompanham e estudam a história da criança em seu processo de desenvolvimento. Ainda segundo a auto-
24 - Grupo composto por coordenadores pedagógicos das seguintes unidades: CMEI Dante Martins de Oliveira, CMEI Prof. Ady Figueiredo Mattos,
CEEI Jean Carlos Pinheiro Santos, EMEBEC Nossa Senhora da Penha França, EMEB Rafael Rueda, EMEB Agostinho Simplício de Figueiredo, EMEB
8 de Abril, EMEB Ana Tereza A. Krause, EMEB Floriano Bocheneki, EMEB Eugênia Pereira de Mello.
Na Rede Municipal de Cuiabá, o Ensino Fundamental está estruturado em nove anos desde 1999, com
a adesão à política educacional por Ciclos de Formação Humana – Escola Sarã, opção esta que, historica-
mente, antecedeu a proposta nacional implementada nas escolas brasileiras com a Lei 11.274/2006, por
meio da qual todos os municípios e estados tiveram até 2010 para se organizar e incluir as crianças de 6
anos na referida etapa da Educação Básica, que se estende até os 14 anos de idade.
LDB nº 9394/96 , evidencia que a formação não se dá apenas na perspectiva cognitiva, ela também
acontece na dimensão social e afetiva, por meio da construção de valores, de fortalecimento das relações
sociais e pelo respeito à diversidade, objetivando a construção da humanidade de cada estudante. E anun-
cia a possibilidade de múltiplas formas de organização para esta etapa de ensino.
A Escola Cuiabana, em consonância com os pressupostos citados e, tendo em vista a Base Nacional Co-
mum Curricular (2017), organiza o currículo do Ensino Fundamental em cinco Áreas do Conhecimento,
no sentido de favorecer a comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes componentes
curriculares, como será apresentado neste documento. Estas áreas de conhecimento têm seu papel na
formação integral dos estudantes, considerando as características específicas de cada um e as demandas
pedagógicas de cada fase do processo de escolarização.
Assim, a organização pedagógica na Escola Cuiabana na etapa do Ensino Fundamental está organizada
com foco na complexidade curricular efetivado na alfabetização e letramento nos Anos Iniciais e as Áreas
do Conhecimento sem perder de vista a possibilidade interdisciplinar e a contribuição para a formação
integral dos estudantes. Contempla o acompanhamento dos estudantes e a qualidade de sua aprendiza-
gem desde a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental e também, dos Anos Iniciais para
os Anos Finais e o processo de ensino e aprendizagem nos Anos Finais com sua inserção no Ensino Médio.
Fundamental, como adjetivo, designa o que serve como fundamento, de alicerce e, em sen-
tido figurado, trata -se daquilo que tem caráter essencial, determinante, básico, indispen-
sável. Correlatamente, a raiz de fundamental encontra se no verbo fundar, de origem latina
que significa construir, fundar com fortaleza, assentar solidamente.
Diante do exposto, o conceito de currículo na Rede Municipal de Cuiabá busca a conotação, tanto na
compreensão etimológica, quanto no desenvolvimento da prática pedagógica, como enfoca Sacristán
(2013), em que o currículo representa a expressão e a proposta de organização dos segmentos e fragmen-
tos dos conteúdos que o compõem. Outro referencial se fundamenta em Silva (2013), no que tange ao
currículo como lugar, espaço, percurso, discurso e documento de identidade.
Para construção e definição de uma proposta curricular pautada na dimensão multicultural, a comu-
nidade escolar deve conceber as diversas manifestações culturais como elementos articulados à prática
pedagógica, reconhecendo a pluralidade e a diversidade como princípios que dialogam com as novas de-
mandas educacionais. Candau (2007, p. 30) alerta para essa ampliação de visão no sentido de:
Nesse sentido, a visão monocultural revela uma intencionalidade curricular não condizente com a escola
comprometida com a inclusão, pois os diversos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
não são representados. Isto tem um peso negativo na formação acadêmica dos estudantes, pela distorção
do conceito de cultura e identidade que pode levar à exclusão e ao preconceito.
A escola se constitui como espaço importante de discussões, apropriado para tratar de questões que,
quando não bem compreendidas, geram preconceitos e bullying. Nesse contexto, os conteúdos de cunho
socioeconômico, político e cultural merecem destaque, sendo sua finalidade situar os sujeitos no contexto
no qual se inserem. A escola que percebe a heterogeneidade como fator potencial no currículo afeta seus
aprendizes, pelo fato de estes perceberem sentido no ensino, tornando-o significativo, além de exercer a
sua função social, de se comprometer com uma sociedade mais justa e igualitária.
Nesse mesmo viés de escola inclusiva e democrática, a organização político-pedagógica do sistema pú-
blico de ensino do município de Cuiabá, em contexto social, político e cultural construído historicamente,
considera os desafios da contemporaneidade quanto à formação integral dos sujeitos. Portanto, a Escola
Cuiabana se fundamenta nos preceitos de humanização, para balizar sua proposta para a etapa do Ensino
Fundamental. Sobre isso, as indagações de Souza Lima (2007, p. 18) são pertinentes, a saber:
A ação pedagógica, então, se constitui a partir desses elementos para, de fato, ofertar um ensino inte-
gral e de qualidade e a articulação da prática pedagógica. E, em consonância com a BNCC (2017), nos eixos
e no conteúdo como objeto do conhecimento, reitera os pressupostos de aprendizagem, que mesmo sendo
processos diferentes, se complementam.
No que se refere ao diálogo entre o ensino e a aprendizagem Weisz (2002, p. 65) destaca:
O professor é que precisa compreender o caminho de aprendizagem que o aluno está per-
correndo e, em função disso identificar as informações e as atividades que permitam a ele
avançar do patamar de conhecimento que já conquistou para outro mais evoluído. Ou seja,
não é o processo de aprendizagem que deve se adaptar ao ensino, mas o processo de en-
sino é que tem que se adaptar ao de aprendizagem. Ou melhor, o processo de ensino deve
dialogar com o de aprendizagem.
A aprendizagem parte do princípio da garantia do espaço e do tempo para a construção dos direitos de
aprendizagem e/ou habilidades e competências em cada etapa do desenvolvimento humano.
Nesse sentido, o processo educativo implica uma complexa organização e requer dos profissionais va-
riados conhecimentos ao articular a proposta de ensino, cujo sujeito, o aprendiz, se constitui como centro
das intenções pedagógicas, considerando as peculiaridades de cada fase do desenvolvimento humano, de
forma a atendê-lo integralmente.
Parafraseando Souza Lima (2007), o desenvolvimento humano ocorre pela própria evolução biológica
e também pelas vivências culturais. Desse modo, para Vygotsky (1984), a aprendizagem promove o de-
senvolvimento e, assim, a intencionalidade educativa baseada nas vivências culturais é fundamental ao
desenvolvimento humano, tendo em vista a interação social mediada pela linguagem.
Do ponto de vista da neurociência, o ser humano tem capacidade de aprender por toda a vida, isso em
decorrência da plasticidade cerebral, conforme definição de Souza Lima (2007, p. 25):
Dessa forma, a capacidade de aprender se desenvolve em meio a estímulos motores e cognitivos, pelas
interações sociais e culturais, considerando a plasticidade cerebral e a potencialidade humana de ressigni-
ficar e sistematizar o conhecimento, processando-o em diversos níveis de complexidade.
A concepção que fundamenta a prática educativa na Rede Municipal de Ensino é dialógica, fortemente
embasada pelo sociointeracionismo de Vygotsky (1984) e Wallon (1975), os quais acreditam que as intera-
ções sociais, o contato no/com ambiente educativo e no contexto cultural e a linguagem, como o eixo, são
viabilizadores da aprendizagem e do desenvolvimento.
A formação integral é proposta tanto se referindo à qualidade, como à questão de tempo, enquanto
pressupostos de concretização do ensinar e do aprender. Logo, pensar na qualidade é propor uma prática
pedagógica condizente com a atual demanda educacional e, quando se refere à temporalização ressaltada
por Coll (1996), no sentido de uma melhor organização dos componentes curriculares, é parte integrante
de uma proposta para dinamizar a efetivação do projeto educativo da Educação Cuiabana, por meio dos
diversos projetos realizados no contraturno ou como ampliação do tempo curricular, para complementar e
tornar a formação humana integral.
É importante destacar o parâmetro inclusivo como parte relevante de uma concepção de ensino que
objetiva garantir o direito de todos à educação, com igualdade, uma vez que todos podem aprender, mes-
mo que em diferentes ritmos e fases. O que se propõe é a oportunidade e a valorização das diferenças hu-
manas, sob o olhar da diversidade, como estratégia para a transformação da política educacional vigente e
[...] são interativos: mais que isso, colaborativo; eles fraturam e transgridem as relações de
poder estabelecidas em especial as relações de propriedade (das máquinas, das ferramen-
tas, das ideias, dos textos [verbais ou não]); eles são híbridos, fronteiriços, mestiços (de lin-
guagem, modos, mídias e culturas).
Nesse sentido, a produção cultural se altera pela introdução de novos gêneros do discurso, da cultura di-
gital, com novas tecnologias e variedade de linguagens. Esse universo de interatividade requer discussões
sobre ética, análise crítica, de comportamentos e atitudes.
O currículo, com foco no ciclo da vida humana e suas respectivas temporalidades, propicia situações de
aprendizagem coerentes com o contexto histórico e social de cada estudante, para que ele possa se cons-
tituir enquanto sujeito, produto e produtor deste espaço/lugar.
Nessa perspectiva, os conteúdos escolares se entrelaçam com os conteúdos da vida e vice-versa, em um
processo de ressignificação de saberes. Desse modo, pensar em uma formação humana é problematizar as
condições de existência na busca de uma emancipação individual e social, na qual o sujeito toma consciên-
cia de si, do outro e do nós.
A proposta pedagógica para o Ensino Fundamental, na Escola Cuiabana, embora enraizada na infância e na
adolescência, não exclui o adulto e, assim, se faz holística, com o olhar acerca da Educação Básica como um todo,
em que todas as etapas vivenciadas pelo estudante tenham um caráter de continuidade e progressão. Assim, o
Ensino Fundamental, continuidade da Educação Infantil, deve garantir aprendizagens para que o Ensino Médio
aconteça de forma exitosa em um processo marcado por inserções e transições bem-sucedidas e conectadas.
Portanto, cada período tem sua responsabilidade e também suas peculiaridades, uma vez que atendem
os estudantes em diferentes fases de seu desenvolvimento, de acordo com o seu ciclo de vida e período
que, consequentemente, lhes possibilita diferentes formas de interação e aprendizagem.
Pensar sobre a passagem de uma etapa de ensino para outra tem um sentido que envolve não somente
o ciclo de vida cronológico, mas, principalmente, o processo de aprendizagem ou, como ressalta Kramer
(2003, p. 15), “precisamos compreender a delicada complexidade da infância e a dimensão criadora das
ações infantis”.
E, nesse sentido, o desafio emergente é superar o impacto causado pela transição do estudante, princi-
palmente da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, e isso requer assegurar diversas ações cotidia-
nas que objetivam evidenciar ao estudante a sequenciação lógica e sem rupturas para o seu processo de
aprendizagem e desenvolvimento.
O Parecer CNE/CEB nº 11/2010 trata da ampliação dos vínculos sociais e dos laços afetivos, das possi-
bilidades intelectuais e da capacidade de raciocínios mais abstratos em toda a infância, compreendendo-a
enquanto momento único e com potencial para construção de conhecimentos e valores.
Para que o estudante supere com tranquilidade a transição da Educação Infantil para o Ensino Funda-
mental, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC, 2017) aponta alguns aspectos, como: o equilíbrio entre
as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o acolhimento afetivo, e, assim, o processo
de inserção do estudante na nova etapa deve considerar o conhecimento já construído e a estrutura ne-
cessária para os novos saberes, evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico.
Nessa direção, considerando os direitos e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento propos-
tos para a Educação Infantil, apresentam-se as sínteses das aprendizagens esperadas em cada campo
de experiência. Essa síntese deve ser compreendida como elemento delineador de objetivos a serem
explorados em todo o segmento da Educação Infantil, e que serão ampliados e aprofundados no Ensino
Segundo Papalia et al. (2013, p. 351), a Terceira Infância (que inclui na proposta da Escola Sarã a pré-
-adolescência, aqui está sendo compreendida como o período da meninice e puberdade) e a adolescência
são períodos entre 6/7 até 11 anos de idade e 11/12 aos 14/15 anos de idade25 , sabendo-se que esta tem-
poralidade pode variar dependendo do contexto social.
Na Terceira Infância, as crianças são menos egocêntricas do que antes e mais competentes para tarefas
que requerem raciocínio lógico, como causalidade, categorização, raciocínios indutivo e dedutivo, relações
espaciais, e conservação.
O período inicial, dos 6 a 7 anos de idade, tem como uma de suas características o avanço na compreen-
são do mundo a sua volta, pois já vivenciou momentos significativos do desenvolvimento do pensamento
e da linguagem:
Para tanto, a aprendizagem escolar precisa lançar mão da imaginação, para que os desenhos, pinturas,
esculturas, falas, escritas, leituras, cálculos, entre outros, tenham significado para a criança, que a partir da
brincadeira vai das impressões mais imediatas para agir sobre a realidade26 .
Por isso, a educação escolar, paralelamente à formação científica, deve promover a formação ética e
estética às crianças, assumindo o brincar como atividade essencial para o seu desenvolvimento e a apren-
dizagem (MATO GROSSO, 2001 p. 45).
Puberdade - (10 a 11/12 anos) crianças Tempo-espaço: 5º Ano - 6º Ano - EF Anos Iniciais/Anos Finais EF
Adolescência - (12 a 14/15 anos)
Tempo-espaço: 7º Ano - 8º Ano - 9º Ano - EF Anos Finais EF
adolescentes
Fonte: DGGE/SME (2018)
Na fase final da infância, que compreende aproximadamente a meninice e a puberdade, a criança come-
ça a perceber que outras pessoas têm sentimentos e percepções diferentes da sua, deixando aos poucos a
fase do egocentrismo.
Segundo Wallon (apud GALVÃO, 1993), é nessa fase que a criança se torna mais comunicativa, au-
menta seu raciocínio crítico e demonstra resistência às opiniões dos adultos. Outra característica desse
momento do desenvolvimento humano é a importância que se dá aos jogos com regras explícitas. É per-
ceptível o interesse crescente por jogos em que as regras são definidoras da própria atividade lúdica e
a situação imaginária passa para segundo plano, como aponta a Escola Ciclada de Mato Grosso (2001).
Nessa conjuntura, o Ciclo de Formação Humana aponta para a necessidade de um trabalho que não
perca de vista as características próprias dos estudantes, promovendo ações pedagógicas de interesse
específico a esse ciclo da vida.
Atualmente, há uma tendência na rede municipal de que as turmas do 5º e 6º anos sejam atendidas por
profissionais das Áreas do Conhecimento ou por disciplinas. De acordo com a BNCC (2017, p. 10):
Ao receber as crianças dos Anos Iniciais para a etapa dos anos finais, alguns desafios se
colocam para as unidades escolares: a atenção para as alterações legais, à organização co-
tidiana, à mudança da unidocência para a pluridocência, entre outros.
Nesse sentido, o Currículo de Referência para o Território Mato-Grossense/BNCC para o Ensino Fun-
damental (MATO GROSSO, 2017, p. 131) direciona para a necessidade de as equipes gestoras considera-
rem em seus Projetos Políticos Pedagógicos ações voltadas para esse período de inserção, assegurando a
utilização de metodologias adequadas para a faixa etária.
O estudante que está no período da Adolescência passa por profundas mudanças de ordem hormonais
(físicas e emocionais) que influenciam no processo de ensino e aprendizagem.
Na adolescência, que também caracteriza os Anos Finais do Ensino Fundamental, há a necessidade de
ampliar as experiências educacionais de forma lúdica, dando significado ao aprendizado de forma con-
textualizada e interdisciplinar, reforçando as identidades, com noções de pertencimento e alteridade que
propiciam a resolução de problemas, com variedade metodológica, valorizando a diversidade de conheci-
mento por meio de práticas de investigação que estimulam o protagonismo juvenil28 .
Nesse prisma, é importante salientar a legislação e orientações legais, sobre a educação de qualidade,
inclusiva e humanista, nas quais o estudante é um sujeito ativo, participativo, dinâmico, a fim de que este
tenha visão crítica da realidade e da cultura digital, conectando-se eticamente às tecnologias ativas de
aprendizagem.
Logo, o processo de ensino e aprendizagem deve efetivar, ainda, a alfabetização, os multiletramen-
tos e o letramento científico, entre outros propostos pela BNCC (2017). Os temas contemporâneos
devem permear o cotidiano escolar. Desse modo, ressalta-se a necessidade de se oportunizarem situ-
ações de aprendizagem que priorizem experiências significativas do currículo regional, garantindo a
formação de competências e habilidades que fortaleçam a formação para o exercício da cidadania e a
cuiabanidade.
Nesse contexto, este ciclo tem como desafio vivências e experiências de forma dialógica, interagin-
do saberes, atitudes proativas, autonomia e criatividade, tornando os estudantes sujeitos-reflexivos e
protagonistas do aprendizado dentro e fora da sala de aula. Esse aprendizado deve permitir aos estu-
dantes a compreensão das relações entre a sociedade e a natureza, no desenvolvimento da cidadania
e dos direitos humanos.
A Matriz é compreendida como um documento formalizado que demonstra e assegura o direito do es-
tudante do Ensino Fundamental à carga horária mínima de 800 horas, exigida pela LDB 9.394/96, em seu
artigo 24 e inciso I. Além disso, também assegura a efetivação do currículo em sua integralidade com as
Áreas do Conhecimento e suas respectivas cargas horárias.
A Resolução do CNE/CEB nº 07, de dezembro de 2010, também reforça a obrigatoriedade do cumpri-
mento da carga horária, afirmando em seu artigo 8º, § 3º, que “a carga horária mínima anual do Ensino
Fundamental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos)
dias de efetivo trabalho escolar”. A proposta é construir coletivamente a matriz de referência da Escola
Cuiabana, ao longo de 2019.
Utilizar diferentes linguagens - verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corpo-
ral, visual, sonora e digital-, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática
e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo;
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma
crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as) para se co-
municar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Ainda segundo Moran (2015, p. 1-4), as metodologias ativas articulam, de forma equilibrada, a “apren-
dizagem colaborativa e individualizada”, rompendo com a ideia de padronização dos processos de ensino e
aprendizagem e proporcionando o desenvolvimento de “competências cognitivas, pessoais e sociais”.
Para tanto, o ensino deve estar organizado de forma a garantir o “envolvimento do aluno”, conside-
rando-se ações interdisciplinares desenvolvidas por meio de projetos ou sequências didáticas que le-
vem o aluno a aprender de forma competente e contextualizada. Isso pode ser possibilitado, de acordo
com o citado autor (2015, p. 3), por meio da “combinação de atividades, desafios e informação contex-
tualizada”.
As metodologias ativas têm como consequência a formação de sujeitos que, para além do desenvolvi-
mento cognitivo, constroem competências de convivência oportunizadas por situações de ensino colabo-
rativas, que favoreçam diretamente a educação socioemocional, também prevista na BNCC (2017, p. 9)
nas dez competências gerais:
a) Tema Gerador
O Tema Gerador parte de uma epistemologia ligada às reflexões de Paulo Freire (1988), que enfoca os
pilares do currículo, conhecimento e cultura e no cotidiano da sala de aula, tem alguns aspectos a serem
priorizados, tais como as questões ligadas à natureza, à qualidade de vida, ao trabalho, à cultura e às diver-
sas situações de aprendizagem.
Durante esse processo, as convicções iniciais vão sendo superadas e outras mais complexas
c) Sistematização e expressão -
vão sendo construídas. As aprendizagens podem ser explicitadas por meio de produção
atividades da prática: Síntese
diversas dos estudantes.
c) Sequência Didática
No decorrer de todo o Ensino Fundamental, a organização de atividades tem como princípio a Sequência
Didática que abrange todos os componentes curriculares e todos os procedimentos metodológicos, enquan-
to um diferencial na prática pedagógica. Além de desencadear e articular as atividades propostas, a sequen-
ciação de atividades também estimula a intervenção pela possibilidade de logicidade e dimensão da articula-
ção, tanto de forma interdisciplinar, como nas especificidades de cada área do conhecimento. Zabala (1998, p.
20) faz considerações sobre a sequência didática como relevante para atingir os objetivos propostos:
Outrossim, a Sequência Didática nas salas de aula de Ensino Fundamental, efetivamente, deve ser con-
siderada como um aspecto indispensável nas diversas situações de aprendizagens, desenvolvida de forma
sistematizada e que possa contemplar a superação da fragmentação dos conteúdos, além de enfocar a
integração entre os diversos saberes, por meio de pesquisas e descobertas, constituindo uma unidade di-
dática para os diversos momentos e etapas do Ensino Fundamental.
Ao longo dos anos, várias Diretrizes Legais buscaram assegurar o direito à Educação: a Constituição
Federal de 1988, a LDB 9.394, de 1996, o Plano Nacional de Educação (PNE), o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a Lei 11.274,
de 2006, que dispõe sobre o Ensino Fundamental de 9 anos e, atualmente, a Base Nacional Comum Curri-
cular, todos com intuito de garantir a universalização que está fundada num tripé de “acesso”, “permanên-
cia” e “sucesso”.
Com relação ao acesso e permanência, muitas políticas conseguiram avançar nesse direito, todavia o
sucesso que está ligado diretamente com a qualidade da Educação ainda precisa de investimentos e de
políticas que possam efetivá-la.
O termo “Direitos de Aprendizagem” foi trazido pelo Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certo
(PNAIC) no ano de 2013, enquanto programa de formação direcionado aos professores alfabetizadores do
1º Ciclo, cujo intuito era fortalecer a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de alfabetizar as crianças
até 8 anos de idade.
Nesse sentido, a utilização do termo está ligada à busca da efetivação da aprendizagem enquanto um di-
reito constitucional. Assim, embora tenha sido utilizado por uma política de governo direcionada à alfabe-
tização, isso não impede que este seja utilizado nos demais anos do Ensino Fundamental, em consonância
com o que aponta a Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017:
Parágrafo Único: Para os efeitos desta Resolução, com fundamento no caput do art.35-A
e no §1º do art. 36 da LDB, a expressão “competências e habilidades” deve ser considerada
como equivalente à expressão “direitos e objetivos de aprendizagem” presente na Lei do
Plano Nacional de Educação (PNE).
Vale ressaltar que os objetivos de aprendizagem como “Direitos de Aprendizagem” buscam assegurar
a aprendizagem dos estudantes, fortalecendo o direito à Educação, que é uma garantia legal e subjetiva
apontada na CF/1988. Assim, para além de um direito institucionalizado, a aprendizagem é um compro-
misso de cada sujeito envolvido no processo educativo, desde os profissionais da escola que lidam direta-
mente com os estudantes, até os profissionais da Secretaria Municipal de Educação que têm como função
atender às necessidades das unidades educacionais.
Os Direitos de Aprendizagem e/ou Habilidades estão presentes em todo o Ensino Fundamental, desde o
1º ano ao 9º ano, tendo um caráter de objetivo educacional, ou seja, o que se espera do processo educativo
para cada componente curricular e sua respectiva área do conhecimento, de modo a refletir, na construção
de cada estudante, uma formação humana e integral.
Nesse contexto, a BNCC (2017) do Ensino Fundamental caracteriza-se como um documento normativo
instituído e orientado pela Resolução CNE/CP nº 02, de 22 de dezembro de 2017, prevista na Constituição
Federal de 1988 e pela LDB de 1996. Ela traz enquanto conteúdo um:
[...] conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos de-
vem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que
As “aprendizagens essenciais” previstas na BNCC (2017) são trazidas como competências e habilidades
a serem construídas pelos estudantes. Ela apresenta um conjunto de dez competências gerais e depois traz
competências por área do conhecimento e também específicas para cada componente curricular.
Todas as competências são traduzidas em habilidades com seus respectivos objetos do conhecimento
e organizadas por práticas de linguagem ou unidades temáticas. Isto posto, competências e habilidades
estabelecem uma relação de consequência, uma vez que:
Portanto, o currículo para o Ensino Fundamental na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá traz em sua
essência uma relação de direitos de aprendizagens e/ou habilidades que serão trabalhadas ao longo dos
9 anos, de maneira progressiva e sistemática. Desse modo, utilizam-se os dois termos, considerando que
o “desenvolvimento de dez competências gerais, consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento” (BRASIL/BNCC, 2017, p. 8).
Desse modo, articulam-se as contribuições que o Programa Nacional Pela Idade Certa (PNAIC) trou-
xe ao currículo da Rede Municipal de Cuiabá, as contribuição e normatização representadas pela BNCC
e as manifestações culturais e socioambientais da cidade de Cuiabá, construindo assim um Currículo
Cuiabano.
Além disso, as habilidades propostas pela Base, alinhadas aos direitos de aprendizagem, possibilitam
a ampliação e maior efetividade das práticas de acompanhamento e monitoramento da aprendizagem,
considerando os processos avaliativos em contexto nacional, servem de balizadores para elaboração de
políticas públicas, estarão pautados na BNCC.
6.7 A alfabetização
O Ensino Fundamental inicia-se com o Ciclo da Infância no período da Terceira Infância em que criança já
vivenciou vários momentos significativos do desenvolvimento do pensamento e da linguagem, adquiridos
em sua vivência com o meio, recebendo e realizando alterações dos sentidos que não podem ser ignorados.
Vale ressaltar que, nessa faixa etária, a criança é muito curiosa e, segundo Wallon, ela passa para o es-
tágio categorial, que é de suma importância para o desenvolvimento da razão e da comunicação humana,
servindo de base para importantes processos mentais, tais como a percepção, a representação, a lingua-
gem, a lógica e a aprendizagem.
Na Terceira Infância, o foco passa a ser a alfabetização, segundo o que diz a BNCC (2017, p. 57):
Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfa-
betização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema
de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura
e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos. [...] Ampliam-se
a autonomia intelectual, a compreensão de normas e os interesses pela vida social, o que lhes
possibilita lidar com sistemas mais amplos, que dizem respeito às relações dos sujeitos entre
si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente.
Diante do exposto, para ter êxito no trabalho com a alfabetização dos estudantes dessa faixa etária,
faz-se necessário considerar a importância do corpo, do lúdico, dos jogos e das brincadeiras, permeando
todos os componentes curriculares, para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa, organi-
zando também os ambientes educacionais em espaços investigativo-dialógicos.
Compreendendo que alfabetização e letramento são indissociáveis, mas com definições diferentes, a
prática pedagógica deve permitir aos estudantes a capacidade de ler, escrever com o desenvolvimento de
habilidades linguísticas, leitora e de produção de texto em diversas situações de uso real e social da escrita.
Desse modo, a alfabetização é definida por Soares (2011) como Multifacetada e complexa.
Nessa direção, a ação alfabetizadora consiste em instrumentalizar o aprendiz para a atual sociedade le-
trada e tecnológica, cuja função social das habilidades leitora e escritora direciona para o uso no cotidiano,
como reforça Soares (2015), sobre a importância dos termos “alfabetização e letramento” não se dissocia-
rem e sim se complementarem na apropriação da leitura e da escrita.
Outra concepção no que se refere à alfabetização parte dos paradigmas cognitivistas que, a partir dos
anos 80, definem novas teorias de aprendizagem que apontam o alfabetizar para além da apropriação de
um código, mas como ação que envolve toda a complexidade linguística; partindo dos estudos da episte-
mologia genética, da Psicogênese da Língua Escrita.
Na mesma direção, Moraes (2014) se refere ao processo da escrita alfabética como sistema notacional
que se dá pela consciência que o alfabetizando vai adquirindo dos sons e grafias na representação da escrita.
É de suma importância que o alfabetizador enfatize a consciência sobre os aspectos do som e da gra-
fia nas diversas atividades que demarcam a aprendizagem significativa da leitura e da escrita, conforme
Propostas de Alfabetização
Por ora, não resta dúvida de que o mundo digital está afetando os espaços socioculturais e,
portanto, educativos, que foram construídos nos últimos dois séculos. Além disso, o mundo
digital proporcionou a criação de outros novos mundos, até agora desconhecidos. Não se
trata aqui da contraposição entre o mundo virtual e o mundo real. É algo mais diverso e,
sem dúvida, mais complexo.
O uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICS) e toda densidade de recursos tec-
nológicos disponíveis devem ser incorporados nas propostas de alfabetização considerando-se a perspec-
tiva do multiletramento, sendo devidamente planejados para o cotidiano escolar, no sentido de fazer parte
da proposta curricular tanto como exigência do atual contexto educacional, como também na dinâmica da
prática pedagógica que considera as formas de interação social dos seus sujeitos que fazem parte de uma
geração altamente conectada.
a) O Ambiente alfabetizador
A sociedade letrada propõe uma diversidade de materiais que inclui símbolos, formas e cores. A escola
também deve ter essa preocupação de disponibilizar situações de aprendizagem para a prática de leitura
e da escrita de forma plena.
A importância do ambiente alfabetizador é ressaltada por Teberosky (2003), que faz referências à cul-
tura letrada em relação ao cotidiano da criança. Portanto, uma das características principais do ambiente
que facilita a alfabetização é espaço desafiador no qual há a proposição de situações voltadas para a apren-
dizagem, condizentes com o uso real da leitura e da escrita que as crianças fazem no dia a dia.
Ao propor aos alunos tal ambiente, alguns itens são indispensáveis e servem como instrumentos de
aprendizagem, são eles: cartazes com textos produzidos pelas crianças respeitando-se as condições de
produção e circulação; cartazes com textos trabalhados; alfabetos, silabários, calendário, identificação do
tempo/clima, numerário; cantinho da leitura, produções diversas das crianças; mapas, jogos diversos de
alfabetização, etc.
b) O perfil do alfabetizador
A reflexão em torno da prática de Alfabetização e Letramento leva à postura do alfabetizador que, na
sua prática cotidiana, deve ser dinâmico e também motivado, aspectos que contribuem para que possa
enfrentar os desafios que a docência exige.
Além disso, o envolvimento com o processo de alfabetização requer o foco no que se refere à evolução
de conceitos/concepção de ensino atuais, da educação como a diversidade e a complexidade curricular,
sem mitos e/ou modismos.
O princípio teórico epistemológico para a prática alfabetizadora deve interligar competências que le-
vam a considerar a escola como um espaço de permanente construção, mas também de desconstrução
e reconstrução, alicerçada em um perfil profissional condizente com o alfabetizar e letrar na interface da
pós-modernidade.
No que se refere ao fortalecimento da formação continuada, é importante que os professores partici-
pem ativamente das propostas de formação e tenham autonomia para planejar o seu processo formativo
no seu próprio crescimento profissional.
Nesse sentido, Perrenoud (2000) enfoca que uma das competências para ensinar é a de o educador ad-
ministrar a sua formação, o que significa aprender e mudar, a partir de diversos procedimentos pessoais e,
em outros momentos coletivos de autoformação, desenvolver com eficácia as diversas atividades inerentes
à prática educativa, articulando teoria e prática para o melhor desempenho na condição de alfabetizador.
O Programa de Alfabetização Cuiabana, denominado ProAC, aglutinará todas as ações para o desenvolvi-
mento da Alfabetização já citadas. O ProAc tem como objetivo garantir a cada estudante/criança cuiabana o
direito de aprender, fortalecendo, assim, o processo de alfabetização na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá.
Está fundamentado na abordagem sócio-histórico-cultural, discutida pelos seguintes teóricos: Vygotsky, Leon-
tiev, Bakhtin, Engestrom, Liberali, Magalhães, entre outros e, portanto, é parte integrante da Escola Cuiabana.
O Programa busca contribuir para que os estudantes do 1º e 2º anos do Ensino Fundamental construam
novos conhecimentos a partir da apropriação da linguagem escrita e da leitura compreensiva, tornando-
-se usuários proficientes da língua e proporcionando continuidade de aprendizagem nas demais etapas da
Educação Básica.
Inicialmente, em 2017/2018, por meio da ação de assessoria pedagógica/SME foi possível ter um diag-
nóstico dos estudantes que estavam no 3º ano do 1º Ciclo, assim como no 2º e 3º Ciclos, sem seu processo
de alfabetização consolidado. Este diagnóstico indicou a necessidade de um conhecimento mais apurado
acerca dos processos que envolvem a alfabetização na Rede e a partir de um roteiro semiestruturado,
fazendo a escuta dos coordenadores pedagógicos e diretores das unidades considerando as questões na
perspectiva das aprendizagens e a escuta dos professores alfabetizadores.
Os resultados destes diagnósticos, aliados aos resultados das avaliações externas na Rede que apontam
para os baixos índices de proficiência em língua portuguesa e matemática, foram indicadores importantes
O material do ProAC
Composição do Material estruturado - ProAC
Para Professores
Livro do aluno Vol. 1 e Vol 2, Tarefas de Casa Vol. único, Guia de Orientações Didáticas do Professor,
Cartazes espositores, Telas de Arte, Alfabeto e Algarismos.
Observação
A composição do Kit é a mesma para o 1º e 2º ano tanto para professor como para alunos, com
exceção que, no 2º ano o professor também vai receber um caderno “Brincando com as palacras”
para auxiliar nas atividades lúdicas.
Formação do ProAC
Assim a SME estabelece uma importante meta no sentido de humanizar o processo de alfabetização,
garantindo este direito básico do ler e escrever, para a efetivação da cidadania dos estudantes, que é o
fortalecimento do Processo de Alfabetização na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 9.394/96, estabelece em seu art. 12 que: [...] “os esta-
belecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência
de: promover meios para a recuperação de estudantes de menor rendimento”.
Dessa forma, cabe à instituição de ensino propor meios para a superação do estudante com dificulda-
de de aprendizagem. Assim, o Parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CEB, de 17 de agosto de
2001, p. 20, esclarece que:
Tais elementos estabelecidos pelo CNE encontram-se também presentes no espaço escolar da Rede
Municipal de Ensino, impulsionando-a a buscar alternativas para que o estudante supere as dificuldades
de aprendizagem.
Em 1999, com a implantação dos Ciclos de Formação (Escola Sarã/SME), foi instituída a Sala de Apoio à
Aprendizagem, com o objetivo de oportunizar aos estudantes com dificuldade de aprendizagem condições
educativas variadas de aquisição da língua escrita, construção das capacidades de leitura e de conheci-
mentos matemáticos, consolidando o processo de alfabetização linguística e matemática, na perspectiva
do letramento, tendo como demanda a ser atendida estudantes com dificuldades de aprendizagem, matri-
culados em turmas do 2º ao 6º ano do Ensino Fundamental.
A Escola Sarã (2000, p. 72) propõe que o trabalho na Sala de Apoio à Aprendizagem se organize a partir da:
A presente citação reafirma a necessidade do comprometimento docente em relação à atenção aos es-
tudantes com dificuldades de aprendizagem, buscando o desenvolvimento de estratégias que viabilizem o
conhecimento de forma integral, pautado no Projeto Político Pedagógico da escola.
Na escola organizada por ciclos, a Sala de Apoio à Aprendizagem aparece como um dos dispositivos de or-
ganização para possibilitar o atendimento específico para os estudantes com dificuldades de aprendizagem na
construção do conhecimento. Logo, a viabilização da Sala de Apoio à Aprendizagem torna-se, então, uma es-
tratégia política e pedagógica importante para a garantia da melhoria do processo de ensino e aprendizagem.
O trabalho desenvolvido na Sala de Apoio à Aprendizagem deve considerar a perspectiva do letramen-
to, pautado em recursos didáticos diferenciados, nos quais se explorem a ludicidade e a imaginação, pro-
porcionando, ainda, o acesso a computadores, jogos didáticos e livros de literatura, como meio para am-
pliar as possibilidades de aprendizagem por parte dos estudantes.
De acordo com a Escola Sarã/SME (2000), a Sala de Superação é uma estratégia de intervenção peda-
gógica para garantir a melhoria no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes que se encontram em
defasagem idade/ano/ciclo, buscando, dessa forma, assegurar a enturmação, sua permanência com seus
pares de idade e o sucesso no processo de aprendizagem e desenvolvimento.
O aluno a ser atendido na Sala de Superação deverá apresentar defasagem em idade/ano, uma vez que
cada ciclo tem uma previsão de idade ou fase do desenvolvimento adequada.
A sua enturmação poderá acontecer no decorrer do ano letivo, após avaliação diagnóstica, mapeando
as dificuldades apresentadas para que estas sejam o foco da ação pedagógica. A enturmação no decorrer
do Ensino Fundamental se dará de acordo com o que estabelece a Resolução 017, em seu artigo 19:
Art. 19 – O aluno sem experiência escolar e/ou em defasagem idade/série, deverá entur-
mar-se após avaliação feita pela equipe Pedagógica da Instituição de Ensino, juntamente
com equipe Pedagógica da SMEDEL, obedecendo a legislação e os critérios pré-estabeleci-
dos no Projeto Pedagógico Escolar. (CME/CBA–MT, p. 4).
A Base Nacional Comum Curricular retoma ao art. 26 da LDB, que determina que:
Assim, o Currículo Cuiabano é ancorado em valores da diversidade de suas comunidades compostas por
várias etnias, crenças, tradições, que se somam às demandas do processo migratório de várias regiões do
Brasil e diversas partes do mundo. A prática pedagógica, dessa forma, é democrática e comprometida com
os direitos à educação e aprendizagem.
Diante da realidade educacional, a escola, por meio dos professores, realiza, muitas vezes, métodos e
técnicas com a concepção tradicional, provocando nos estudantes, em algumas ocasiões, indiferença pe-
[...] é preciso que a Escola e seus educadores atentem que não têm como função ensinar
aquilo que o aluno pode aprender por si mesmo e sim, potencializar o processo de aprendi-
zagem do estudante. A função da Escola é fazer com que os conceitos espontâneos, infor-
mais, que as crianças adquirem na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos
científicos, sistemáticos e formais, adquiridos pelo ensino. Eis aí o papel mediador do do-
cente.
Nessa perspectiva Gomes (2011) enfatiza que o ensino de Ciências deve acompanhar os processos evo-
lutivos do ensino e aprendizagem, os quais buscam uma participação mais significativa e motivadora dos
estudantes, tornando a aprendizagem duradoura.
Para tanto, consideramos a experimentação como um dos elementos que despertam um forte interesse
entre alunos de diversos níveis de escolarização, sendo consensual entre os docentes que tal prática po-
tencializa o aprendizado, pois funciona como meio de envolver o estudante nos temas em pauta. Na disci-
plina de Ciências, em particular, os educandos também costumam atribuir à experimentação um caráter
motivador, lúdico, essencialmente vinculado aos sentidos.
Fazendo referência aos pressupostos trazidos pela Escola Sarã em 2000, já se preconizava a visão da
ciência centrada na construção humana para a cidadania, na qual o estudante deva ter o papel ativo no
processo de apropriação do conhecimento e este se dá de forma coletiva e mediadora, baseada em perma-
nente construção e reconstrução, permitindo a compreensão da realidade social, do momento histórico
em que vive para que se estabeleça uma relação com o universo social e dele se aproprie.
De acordo com Chassot (2008), as Ciências da Natureza têm como objeto de estudo o conhecimento
científico que resulta da investigação da natureza. Do ponto de vista científico, entende-se por natureza o
conjunto de elementos integradores que constitui o universo em toda sua complexidade. Ao ser humano
cabe interpretar racionalmente os fenômenos observados na natureza, resultantes das relações entre ele-
mentos fundamentais, como tempo, espaços, matéria, movimento, força, campo, energia e vida.
Aos professores, nestes novos tempos, incidem exigências no sentido de deixar de serem informadores
para se tornarem formadores, na presente preocupação com um ensino que se enraíze na construção de
uma alfabetização científica, pois, segundo Chassot (2014), é no Ensino Fundamental o locus para a sua
realização.
O ensino de ciências estimula, ainda, a curiosidade natural das crianças pela natureza, a inquietação pe-
las explicações, valoriza a construção social do conhecimento e a necessidade da criação de soluções para
a sobrevivência humana no planeta, ante os impasses colocados pela realidade do nosso tempo. Promove
A área das Ciências Humanas possui papel significativo considerando o trabalho pedagógico realizado
de forma contextualizada, interdisciplinar, inclusiva e humanizada apropriando das vivências e valiosas ex-
periências oportunizadas aos estudantes no ambiente escolar.
Nessa perspectiva, o ensino e aprendizagem das Ciências Humanas na Rede Municipal de Cuiabá-MT
contribuem para a formação dos saberes éticos, políticos, sociais, culturais e econômicos, promovendo
atitudes, procedimentos e elaborações conceituais que priorizam o crescimento dos estudantes e de suas
identidades e fortalecendo os grupos sociais, e a contribuição para o estudo da diversidade cultural com
ênfase aos Direitos Humanos.
De acordo com a BNCC (2017, p. 306):
[...] as Ciências Humanas devem, assim, estimular uma formação ética, elemento funda-
mental para a formação das novas gerações, auxiliando os alunos a construir um sentido
de responsabilidade para valorizar: os direitos humanos; o respeito ao meio ambiente e à
própria coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como a solidariedade, a par-
ticipação e o protagonismo voltados para o bem comum; e, sobretudo, a preocupação com
as desigualdades sociais. Cabe, ainda, às Ciências Humanas cultivar a formação dos alunos
intelectualmente autônomos, com capacidade de articular categorias de pensamento his-
tórico e geográfico em face de seu próprio tempo, percebendo as experiências humanas e
refletindo sobre elas, com base na diversidade de pontos de vista. [...].
Nesse sentido, o presente documento tem como objetivo oferecer subsídios aos educadores da Rede
Municipal de Cuiabá-MT, tendo em vista as abordagens da Geografia e História, como parte do componen-
te curricular das áreas de Ciências Humanas, e estão contempladas na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), fazendo referências ao ensino da Geografia e da História local com vistas ao protagonismo dos
estudantes e ao desenvolvimento das competências ao longo da Educação Básica.
Conforme a BNCC (2017), cabe, ainda, às Ciências Humanas cultivar a formação de alunos intelectual-
mente autônomos, com capacidade de articular categorias de pensamento histórico e geográfico em face
de seu próprio tempo, percebendo as experiências humanas e refletindo sobre elas, com base na diversi-
dade de pontos de vista (BRASIL, 2017, p. 352).
b) História
A História, enquanto componente curricular, tem por característica a formação integral dos sujeitos, em
suas dimensões afetivas, intelectuais, culturais e sociais, contribuindo para o desenvolvimento da leitura
crítica e reflexiva de mundo, em uma perspectiva da alfabetização científica, sensível aos sentidos da exis-
tência humana, possibilitando compreensão ampliada do indivíduo e de suas diferentes formas de inserção
e atuação no tempo e no espaço.
Os registros e vestígios das mais diversas naturezas (mobiliário, instrumentos de trabalho, música,
etc.) deixados pelos indivíduos carregam em si mesmos a experiência humana, as formas específicas de
produção, consumo e circulação, tanto de objetos quanto de saberes. Nessa dimensão, o objeto histórico
transforma-se em exercício, em laboratório da memória voltado para a produção de um saber próprio da
história.
A utilização de objetos materiais pode auxiliar o professor e os alunos a colocarem em questão o signi-
ficado das coisas do mundo, estimulando a produção do conhecimento histórico em âmbito escolar. Por
meio dessa prática, docentes e discentes poderão desempenhar o papel de agentes do processo de ensino
e aprendizagem, assumindo, ambos, uma “atitude historiadora” diante dos conteúdos propostos, no âmbi-
to de um processo adequado ao Ensino Fundamental.
Nos Anos Iniciais, espera-se que os estudos possibilitem aos alunos o conhecimento de si mesmos, do
outro, ampliando esses conhecimentos em diferentes tempos e espaços.
Já nos Anos Finais, os estudantes deverão desenvolver habilidades específicas de cada objeto de conhe-
cimento da disciplina. No caso da História, é fundamental a utilização de diferentes fontes e tipos de docu-
mentos (escritos, iconográficos, materiais, imateriais, etc.) capazes de facilitar a compreensão da relação
tempo e espaço e das relações sociais que a geraram.
As habilidades e competências capacitam as pessoas a tomar decisões, estabelecer objetivos, sendo
protagonistas de sua vida e cidadãos ativos no desenvolvimento de suas comunidades e nações. Nessa
perspectiva a construção do conhecimento histórico é um processo, no qual destacam-se: identificar, com-
parar, contextualizar, interpretar e analisar. Vale enfatizar, ainda, a importância de tratarmos em sala de
aula sobre os aspectos que compõem a História e os espaços locais e regionais, para fomentar a cultura
rica e diversificada de cada região.
Nesse sentido, os objetos de aprendizagens devem abarcar conteúdos sobre Cuiabá e Mato Grosso, a
fim de oportunizar aos estudantes a ampliação dos conhecimentos, saberes, interesses, entre outros, valo-
rizando o respeito e a cultura local em que estão inseridos.
Isto posto, a relação interdisciplinar entre as áreas do conhecimento é polissêmica, sendo múltiplas as
As bases legais que amparam o Ensino Religioso na etapa do Ensino Fundamental encontram-se na
Constituição Federal de 1988, art. 210, na Lei de Diretrizes e Base – LDB, nº 9394/96, no artigo 33, e na
Lei nº 9.475/1997, com contribuições significativas na formação básica do cidadão.
A Lei de Diretrizes e Base no Art. 33 determina que “O ensino religioso, de matrícula facul-
tativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurando o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos con-
teúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos
professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denomina-
ções religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. (MATO GROSSO, 2018,
p. 281).
É pertinente destacar, conforme a Base Nacional Comum Curricular (2017, p. 434), que o Ensino Religio-
so tem os seguintes objetivos:
A BNCC, como documento normativo, trata o Ensino Religioso com abordagens voltadas para os prin-
cípios éticos e científicos, baseada nos conhecimentos das diversas culturas e tradições religiosas. Nessa
perspectiva, o processo de ensino e aprendizagem com o componente curricular Ensino Religioso na Rede
Municipal de Ensino de Cuiabá apoia a pesquisa e o diálogo, ressignificação dos saberes e o desenvolvi-
mento das competências específicas para problematizar as atitudes preconceituosas, como forma de evi-
tar a intolerância, discriminação e exclusão social.
As atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral
ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. Por meio
dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos so-
ciais. Nessas interações, estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos.
Em consonância com a BNCC, a área de Linguagens é composta pelos seguintes componentes curricu-
lares: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e, no Ensino Fundamental – Anos Finais, Língua Inglesa. A
finalidade é possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam
ampliar suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, como também
seus conhecimentos sobre essas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil.
As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhecimento escolar. O
importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a
visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que compreendam que as lingua-
gens são dinâmicas, e que todos participam desse processo em constante transformação.
Nos Anos Iniciais, os componentes curriculares tematizam diversas práticas, considerando especial-
mente aquelas relativas às culturas infantis tradicionais e contemporâneas. Lembrando, ainda, que nos
dois primeiros anos dessa etapa o processo de alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica.
Por sua vez, nos Anos Finais, as aprendizagens, nos componentes curriculares dessa área, ampliam as
práticas de linguagem conquistadas no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, incluindo a aprendizagem de
Língua Inglesa. Nesse segmento, a diversificação dos contextos permite o aprofundamento de práticas de
linguagem artísticas, corporais e linguísticas que se constituem e constituem a vida social.
É importante considerar, também, o aprofundamento da reflexão crítica sobre os conhecimentos dos
componentes da área, dada a maior capacidade de abstração dos estudantes. Essa dimensão analítica é
proposta não como fim, mas como meio para a compreensão dos modos de se expressar e de participar no
mundo, constituindo práticas mais sistematizadas de formulação de questionamentos, seleção, organiza-
ção, análise e apresentação de descobertas e conclusões.
a) Língua Portuguesa
Em consonância com a BNCC, em Língua Portuguesa, a organização será feita por eixos (Leitura, Pro-
dução de Textos, Oralidade, Análise Linguística/Semiótica) e os campos de atuação, como estratégia para
marcar a necessidade de desenvolvermos uma proposta de trabalho que não dissocie o processo de ensino
e aprendizagem da Língua Portuguesa do contexto das práticas sociais, uma vez que nos constituímos na
linguagem e pela linguagem, na relação com o outro.
Anos iniciais
Campo da vida cotidiana;
Campo artístico-literário;
Campo das práticas e estudo e pesquisa;
Campo da vida pública.
Anos finais
Campo artístico-literário;
Campo das práticas de estudo e pesquisa;
Campo jornalístico-midiático;
Campo de atuação na vida pública.
Fonte:DGGE/COC/EF/SME (2018)
De modo geral, os campos de atuação indicam quais os gêneros e práticas de linguagem estão a eles
relacionados, mas os limites entre os campos não estão fechados, como: dependendo das atividades pro-
postas, o gênero lenda pode transitar do campo artístico-literário para o de estudo e pesquisa, quando tra-
balharmos a habilidade de expor trabalhos ou pesquisas escolares, em sala de aula, com apoio de recursos
multissemióticos (imagens, diagrama, tabelas, etc.), orientando-se por roteiro escrito, planejando o tempo
de fala e adequando a linguagem à situação comunicativa.
Além disso, a organização em campos dá maior visibilidade ao fato de que os gêneros textuais/discursi-
vos não são estáticos, se concretizam nas práticas sociais de campos diferentes, em situações concretas de
interação e com distintas intencionalidades, dada a sua característica dialógica. Portanto, a prática peda-
gógica deve considerar a função social dos gêneros selecionados para as atividades de leitura, produção de
texto ou análise linguística em interface com os campos de atuação.
Conforme já foi mencionado e embora ainda não seja acessível para toda a população brasileira, a cultu-
ra digital é forte na sociedade contemporânea e, de acordo com os recursos didáticos disponíveis, deve ser
b) Língua Estrangeira
Língua Inglesa e Língua Espanhola
Aprender uma língua estrangeira propicia a criação de novas formas de engajamento e participação dos
alunos em um mundo social cada vez mais globalizado e plural, em que as fronteiras entre países e inte-
resses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão cada vez mais difusas e contraditórias.
Assim, o estudo da língua inglesa ou da espanhola pode possibilitar a todos o acesso aos saberes linguís-
ticos necessários para engajamento e participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estu-
dantes e para o exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e mobilidade,
abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade nos estudos.
É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem de língua estrangeira em uma perspectiva de
educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinseca-
mente ligadas.
Ensinar inglês ou espanhol com essa finalidade tem, para o currículo, três implicações importantes. A pri-
meira é que esse caráter formativo obriga a rever as relações entre língua, território e cultura, na medida em
que os falantes de inglês ou espanhol já não se encontram apenas nos países em que essa é a língua oficial.
Além do ensino da Língua Inglesa, estabelecido pela BNCC, em Mato Grosso, dada a sua localização
geográfica e processos de imigração, o ensino de Língua Espanhola deve ser considerado enquanto opção
pelas unidades educacionais.
c) Arte
No Ensino Fundamental, o componente curricular de Arte está centrado nas seguintes linguagens: as
Artes visuais, a Dança, a Música e o Teatro. Essas linguagens articulam saberes referentes a produtos e
fenômenos artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre
formas artísticas. A sensibilidade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades se manifestam
como formas de expressão no processo de aprendizagem em Arte.
O componente curricular contribui, ainda, para a interação crítica dos alunos com a complexidade do
mundo, além de favorecer o respeito às diferenças e o diálogo intercultural, pluriétnico e plurilíngue, im-
portantes para o exercício da cidadania. A Arte propicia a troca entre culturas e favorece o reconhecimen-
to de semelhanças e diferenças entre elas.
Nesse sentido, as manifestações artísticas não podem ser reduzidas às produções legitimadas pelas ins-
tituições culturais e veiculadas pela mídia, tampouco a prática artística pode ser vista como mera aquisição
de códigos e técnicas. A aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como
prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores.
A prática artística possibilita o compartilhamento de saberes e de produções entre os alunos por meio
de exposições, saraus, espetáculos, performances, concertos, recitais, intervenções e outras apresenta-
ções e eventos artísticos e culturais, na escola ou em outros locais. Os processos de criação precisam ser
compreendidos como tão relevantes quanto os eventuais produtos.
d) Educação Física
A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas for-
mas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas
dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimen-
to humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal
de um segmento corporal ou de um corpo todo.
Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado,
pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção
de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos
e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da
cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma
confiante e autoral na sociedade.
É fundamental frisar que a Educação Física oferece uma série de possibilidades para enriquecer a expe-
riência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural.
Cada prática corporal propicia ao sujeito o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências
aos quais ele não teria de outro modo. A vivência da prática é uma forma de gerar um tipo de conhecimento
muito particular e insubstituível e, para que ela seja significativa, é preciso problematizar, desnaturalizar e
evidenciar a multiplicidade de sentidos e significados que os grupos sociais conferem às diferentes mani-
festações da cultura corporal de movimento.
Logo, as práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção. Esse modo de entender
a Educação Física permite articulá-la à área de Linguagens, resguardadas as singularidades de cada um dos
seus componentes, conforme reafirmado nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamen-
tal de Nove Anos (RESOLUÇÃO CNE/CEB nº 7/2010).
O conhecimento matemático é necessário para todos os alunos da Educação Básica, seja por sua grande
aplicação na sociedade contemporânea, seja pelas suas potencialidades na formação de cidadãos críticos,
cientes de suas responsabilidades sociais.
A Matemática não se restringe apenas à quantificação de fenômenos determinísticos – contagem, me-
dição de objetos, grandezas – e das técnicas de cálculo com os números e com as grandezas, pois também
Tal afirmação é um alerta para todos os envolvidos no processo educativo e escolar, no sentido de con-
trapor a uma tendência de naturalizar as atitudes e comportamentos monoculturais. Nesse sentido, Can-
dau (2012, p. 247) afirma que não se trata de momentos pontuais, mas da capacidade de desenvolver pro-
jetos que suponham uma dinâmica sistemática de diálogo e construção conjunta entre diferentes pessoas
e/ou grupos de diversas procedências sociais, étnicas, religiosas, culturais, etc.
Assim, uma organização curricular que preze o direito à aprendizagem a todos os estudantes precisa
reconhecer na diversidade um dos elementos balizadores das propostas pedagógicas.
A avaliação é um processo intrínseco ao ser humano, visto que todas as ações desenvolvidas pelas pessoas
passam por uma apreciação, mesmo que de forma não intencional. A todo momento estamos repensando
nossas ações, nos autoavaliando buscando nos tornar pessoas melhores e não repetir os mesmos erros.
Na ação educativa, esse processo não é diferente, pelo contrário, ele deve ser constante, reflexivo e
sistemático, com objetivo de retroalimentar as práticas docentes e os processos de aprendizagens. Assim,
todos os sujeitos e procedimentos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem devem ser avaliados.
Avalia-se para conhecer o que os alunos já sabem e o que precisam saber, para reorganizar a ação do-
cente em prol de atender às necessidades dos alunos e para refletir sobre as melhores possibilidades curri-
culares e metodológicas. Para Hoffmann (2012, p. 13), “avaliar não é julgar, mas acompanhar um percurso
de vida da criança, durante o qual ocorrem mudanças em múltiplas dimensões com a intenção de favorecer
o máximo possível seu desenvolvimento”.
Nesse sentido, a concepção de avaliação que fundamenta as práticas da Rede Municipal de Educação ao
longo do Ensino Fundamental é a avaliação mediadora, amparada nas teorias construtivistas e sociointe-
racionistas, cujos princípios são o acompanhamento reflexivo e o diálogo, como aponta Hoffmann (2000,
p. 56):
a) Diagnóstica: utilizada como ponto de partida, para caracterizar a comunidade na qual a escola está
inserida, perfil dos estudantes ou mapeamento das aprendizagens já construídas e/ou dificuldades
de aprendizagem.
c) Somativa: tem como foco os resultados de aprendizagem dos estudantes, em uma situação educa-
tiva ou ao final de um ciclo, ano, período letivo, etc.
De certo modo, podemos perceber que essas funções não são antagônicas entre si e trazem reflexões re-
levantes quando compreendemos que a avaliação é uma atividade humana que inclui vários sujeitos, ou seja,
ocorre de modo multidirecional: todos avaliam e são avaliados, ou, nas palavras de Luckesi (2011, p. 64), “o ato
de avaliar dedica-se a desvendar impasses e buscar soluções” e, desse modo, deve ser intencional, sendo o pon-
to inicial e contínuo para a tomada de decisão, pois o consideramos como um processo, não um meio e um fim.
A Rede Municipal de Ensino de Cuiabá trabalha, ainda, com a avaliação de sistema, por meio da qual bus-
ca subsídios para orientar políticas públicas com foco na qualidade do processo de ensino-aprendizagem,
aprimorar as estratégias para acompanhamento e monitoramento das unidades educacionais, implemen-
tar programas de formação continuada para os profissionais da educação, etc.
Nesse contexto, pensar a avaliação em uma proposta por ciclos de formação humana é compreendê-la
enquanto formativa e processual, considerando tanto os dados obtidos por meio de diferentes instrumen-
tos avaliativos, como as vozes dos sujeitos envolvidos no processo avaliativo e suas singularidades.
A política Educacional da Secretaria Municipal de Cuiabá - A Escola Cuiabana, tem um grande desafio
que se configura na garantia de uma Escola Inclusiva para professores, estudantes e comunidade escolar.
Nessa escola, a participação ativa no processo de ensino e aprendizagem é Direito de Todos, entendendo,
ainda, que os estudantes são diferentes entre si e vão se transformando, crescendo, se desenvolvendo e
se diferenciando ao longo da vida.
Nessa perspectiva, são necessárias ações que contemplem atenção à diferença e às diversidades so-
ciais, cognitivas e culturais existentes na sala de aula, firmando um compromisso público de desenvolver,
ao máximo, as potencialidades e assegurar a vivência plena do currículo por parte dos estudantes.
Isto posto, o objetivo desta proposta é nortear o trabalho da Secretaria Municipal de Educação que, em
diálogo com a Educação Especial, reafirma a necessidade de um continuum de novos olhares, não como um
eixo separado, ou um subsistema, mas assumindo a sua transversalidade na Educação Infantil, Ensino Fun-
damental, Educação de Jovens e Adultos e Educação do Campo, aspecto este que também deve ocorrer
no Ensino Superior.
A concepção de uma Escola para Todos fundamenta-se na Declaração Universal dos Diretos Humanos,
promulgada a partir da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, a qual dispõe
que todo ser humano tem direito à instrução, e que esta será orientada para o pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos.
Consoante com esse período, as reivindicações se ampliaram igualmente com o crescimento dos mo-
vimentos sociais, na década de 60, buscando uma sociedade democrática, igualitária, que respeite as
singularidades e as diferenças dos indivíduos - uma sociedade inclusiva - impondo, assim, críticas fér-
teis ao modelo homogeneizador de educação escolar e às práticas de segregação e categorização dos
estudantes.
Em 1994, aconteceu a Conferência Mundial de Educação Especial, que discutiu sobre as necessidades
educativas especiais, culminando na Declaração de Salamanca. Esse documento versa sobre os princípios, a
política e as práticas pedagógicas na área das Necessidades Educativas Especiais, e destaca que o princípio
fundamental das escolas inclusivas consiste em que todos os estudantes aprendam juntos, sempre que pos-
sível, independentemente das dificuldades e das diferenças físicas, intelectuais ou sociais que apresentem.
Marco norteador da Educação Especial, as Linhas de Ação propostas na Declaração de Salamanca res-
saltam que a escola comum representa o caminho mais eficaz para combater atitudes discriminatórias.
Considera, assim, a concepção de educação democrática que leva em conta a diversidade e propicia apren-
dizagem para todos, atendendo às necessidades especiais de cada um, a fim de desenvolver novas habilida-
des e potencialidades, respeitando os interesses de todos.
Nesse contexto, surgiu a necessidade de repensar as práticas educacionais e de rever a concepção de
estudante, de professor e de currículo, tendo como referência a Educação Inclusiva proposta pela Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (MEC-2008). Emergiram, assim, mudanças signi-
ficativas no ambiente escolar, almejando uma escola de qualidade para todos. São aspectos norteadores
propostos no documento (MEC-2008, p. 18).
Enfatizando tais pressupostos, entrou em vigor a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), tam-
bém chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, que reafirma a autonomia e a capacidade desses
Na perspectiva da Educação Inclusiva, a concepção de currículo a ser adotada é aquela que relacionará
princípios e operacionalização, teoria e prática, planejamento e ação, envolvendo fundamentos filosóficos
e sociopolíticos da Educação, contemplando os marcos teóricos e os referenciais técnicos e tecnológicos
no contexto da sala de aula. Assim, o projeto pedagógico da escola e a concepção curricular estão relacio-
nados à Educação para Todos que se deseja conquistar, uma vez que essa abordagem requer dinamicidade
curricular com foco na flexibilização das ações pedagógicas às necessidades dos estudantes (MEC, 2006).
De acordo com essa abordagem, o currículo não deve se fixar apenas na necessidade especial de um dos
estudantes, mas na possibilidade de flexibilizar a prática educacional para atender a todos de um grupo,
propiciando, por meio do atendimento às diferenças individuais, o acesso de todos os estudantes ao cur-
rículo. Portanto, o foco não será na deficiência ou dificuldade de um estudante em particular, mas sim nas
Uma vez que a escola é concebida como instituição que dissemina o conhecimento, todos os estudantes
que a frequentam necessitam desenvolver, de forma adequada, suas potencialidades, independentemente
de possuírem ou não uma necessidade específica na aprendizagem, e terem reconhecidos seu potencial,
ritmos, expectativas, estilos de aprendizagem, motivações e valores sociais e culturais. Para tanto, na Pers-
pectiva de Escola Inclusiva, o estudante é o foco para toda ação educacional.
A equipe escolar deverá conhecer cada estudante, respeitar as suas potencialidades e necessidades,
e respondê-las com excelência por meio de um currículo dinâmico que contemple a todos e que permita
ajustar o fazer pedagógico a favor do estudante, sendo um recurso indispensável para a promoção do de-
senvolvimento e aprendizagem dos estudantes.
A Declaração de Salamanca (1994) sinaliza de forma clara que o princípio fundamental das
escolas inclusivas consiste em todos os estudantes aprenderem juntos, sempre que possí-
vel, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas
devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus estudantes, adaptando-
-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de edu-
cação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de es-
tratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas
comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o
conjunto de necessidades especiais dentro da escola. (UNESCO, 1994, p.11-12).
Considerando que a Escola Inclusiva pressupõe uma renovação no ambiente escolar que atenda a todos
os estudantes, respeitando as suas especificidades e ofertando uma educação de qualidade, entende-se
que para alcançar essa educação de qualidade é necessário que se tenha atenção a um elemento indisso-
ciável da aprendizagem: a avaliação. Na concepção de Mantoan (2007, p. 50) é urgente substituir o caráter
classificatório da avaliação escolar, por meio de notas e provas, por um processo que deverá ser contínuo
e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de
todos os estudantes.
Nesse modelo de escola, é necessário substituir as notas por uma avaliação escolar que destaque o de-
senvolvimento de competência dos estudantes diante de situações-problemas, em detrimento da memori-
zação de informações e da reprodução de conhecimentos sem compreensão.
Diante do exposto, a construção de determinada competência varia de estudante para estudante e sua
evolução é percebida por meio da mobilização e da aplicação do que o estudante aprendeu ou já sabia para
chegar às soluções pretendidas, em consonância com a leitura socioconstrutivista do desenvolvimento
humano que embasa este documento.
A política de inclusão vai além da permanência física dos estudantes apoiados pela Educação Especial:
possui o propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses es-
tudantes, exigindo, assim, que a escola crie espaços inclusivos que sejam promotores para esse estudante
ser quem é e aprender de sua forma. Nessa perspectiva, incluir não significa que o estudante se molde
ou se adapte à escola, mas a escola, consciente de sua função, deve colocar-se à disposição do estudante
conforme a necessidade deste.
Quando trabalhamos com um currículo no qual o educador será um mediador entre o aluno e o conhe-
cimento, conforme já descrito, temos que atuar também com a concepção de avaliação mediadora, por
meio da qual a intervenção pedagógica assume um papel fundamental na progressão do aluno, conforme
Hoffmann afirma (p. 15, 2012):
Modificar uma estrutura vigente é um verdadeiro desafio a ser enfrentado, uma vez que avaliar significa
refletir continuamente sobre o que se faz, onde se faz, como se faz e por que se faz. Portanto, a principal
finalidade da avaliação é observar, refletir para intervir pedagogicamente. Objetiva, ainda, identificar não
apenas as necessidades educacionais dos estudantes, mas também suas potencialidades, pois é a partir
delas que se promove o desenvolvimento, em consonância com o embasamento teórico utilizado na atual
política. Assim, o processo avaliativo servirá para a tomada de decisões acerca do que é preciso fazer para
atender às necessidades de aprendizagens identificadas.
O processo de avaliação do estudante alcança três ambientes principais no qual ele está inserido: na sala de
ensino regular, na sala de recursos multifuncional e na família. Para que este processo aconteça de forma har-
mônica e construtiva é necessário definir os instrumentos de avaliação que auxiliarão neste processo, sendo
estes: relatórios, portfólios e registros ou anotações. Vale ressaltar que os instrumentos são registros dentro
do processo e não a avaliação em si. Portanto, nas unidades educacionais são realizadas avaliações específicas:
a) Avaliação Pedagógica da Aprendizagem: o professor de sala de aula regular avalia como o estudante
se relaciona com o conhecimento, observa manifestações de dependência ou autonomia, relaciona as suas
necessidades específicas e os recursos de acessibilidade disponíveis ao conhecimento. Também reflete so-
bre sua prática e pondera sobre as atividades propostas em sala de aula nos quesitos ritmos e estilos de
aprendizagem dos estudantes e as estratégias de aprendizagem por eles utilizadas.
b) Avaliação Diagnóstica Diferencial: realizada pelo professor de Sala de Recursos Multifuncionais, ava-
lia os aspectos motores, do desenvolvimento da expressão oral e escrita, do raciocínio lógico-matemático,
do funcionamento cognitivo, da afetividade e da relação que o estudante estabelece com o saber. Além
disso, realiza a escuta e registro do professor regente, da família, da equipe gestora e a observação do estu-
dante dentro da sala de aula e nas dependências da Unidade Educacional. Com essas informações, colhidas
na avaliação, inicia-se o Estudo de Caso.
No contexto educacional, é necessário serem considerados dois momentos: o da aula e o do ambiente
escolar, a saber: no contexto da aula, são aspectos relevantes para o processo de avaliação: a metodologia,
organização, procedimentos didáticos, atuação do educador, relacionamentos e flexibilização curricular;
no contexto escolar, respalda-se no projeto político pedagógico da unidade educacional, currículo, na equi-
pe gestora e na equipe docente.
Instrumentos de Avaliação
A Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, uma vez tendo como princípio básico orientador e de-
mocrático de que a escola é para todos, por meio da Secretaria Municipal de Educação, oferta serviços e
profissionais de apoio, apontados como alternativas favoráveis à efetivação desse princípio.
Desta maneira a equipe é composta por diversos profissionais de diversas áreas, a fim de atender às ne-
cessidades apresentadas pela demanda, com o objetivo de garantir o acesso, permanência e aprendizagem
dos estudantes apoiados pela Educação Especial nas unidades da rede onde eles se encontram.
A equipe de Educação Especial da SME, tendo como base a efetividade do processo de inclusão, de
aprendizagem e da transversalidade, é composta por uma equipe de atendimento interno e externo com
diferentes funções e o mesmo objetivo: que todos aprendam. São eles:
Psicopedagogos
Envolvem-se em conjunto com a unidade, demais profissionais e a comunidade, no planejamento
estratégico de condições para que o estudante seja capaz (dentro de suas limitações e
potencialidades) de elaborar, decidir, criar e, assim, participar do processo de ensino-aprendizagem,
bem como no meio social.
Psicólogos
Contribuem na criação e avaliação de planos de ensino, no planejamento estratégico do ambiente,
bem como na postura dos profissionais e familiares envolvidos, de modo que o mesmo favoreça a
aprendizagem em consequência do processo de inclusão.
Fonoaudiólogos
Empenham-se para que o processo educativo ocorra através de ações relacionadas à aquisição e
desenvolvimento da leitura e escrita, linguagem oral, voz e audição com base nos eixos a seguir:
acolhimento da demanda; análise da situação institucional; proposição de estratégias; implantação
das propostas; monitoramento das ações.
A SME trabalha em conformidade com a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva In-
clusiva (MEC/2008) e também em consonância com as Diretrizes Propostas para a Educação Especial
(SME/2010), entre outras portarias e notas técnicas específicas da referida modalidade. Dessa forma, os
estudantes com deficiência, que estão matriculados na Rede Municipal de Ensino, encontram-se inseri-
dos no processo inclusivo por meio de programas e projetos predeterminados na própria modalidade da
Educação Especial pelo MEC, bem como por meio de projetos complementares estabelecidos pela SME,
com a finalidade de viabilizar a garantia do acesso, permanência e desenvolvimento das aprendizagens e
potencialidades desses estudantes, além de estabelecer a estimulação no que tange à autonomia. Na con-
tinuidade, serão destacados alguns desses projetos.
A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo em uma abordagem interdis-
ciplinar nas áreas de Saúde, Educação e Equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pesso-
as com deficiência. A equoterapia é trabalhada por intermédio de um planejamento organizado de acordo
com as necessidades e potencialidades específicas do praticante/estudante.
O cavalo produz um movimento tridimensional gerando benefícios ao praticante. Assim, no contexto
educacional, a equoterapia auxilia no processo de inclusão do praticante/estudante, trabalhando de manei-
ra interdisciplinar a organização do esquema corporal, espaço-temporal, estimulando o raciocínio lógico e
matemático, o sentido da realidade, bem como tem impactos significativos na melhoria da aprendizagem da
leitura e escrita. Além disso, a equoterapia é capaz de minimizar os distúrbios comportamentais, tornando o
estudante mais sociável e proporcionando a melhora da autoestima, da autoimagem e da autonomia.
O atendimento aos estudantes com deficiência pelo Projeto de Equoterapia na Rede Municipal de Edu-
cação ocorre desde 2015, sendo ofertadas 60 vagas até o primeiro semestre de 2018. Assim, o projeto
atendeu, até o final desse ano letivo, 162 estudantes apoiados pela Educação Especial. São critérios para
inclusão dos estudantes no projeto: ter indicação médica com diagnóstico e encaminhamento; possuir de-
ficiência física e/ou intelectual; ter mais de dois anos de idade; pesar no máximo 100 kg.
A Política de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (MEC/2008) prevê como fundamental ofe-
recer o Atendimento Educacional Especializado para estudantes apoiados pela Educação Especial. Esse
atendimento pode se dar tanto na Sala de Recursos Multifuncionais, para crianças a partir de quatro anos,
quanto por meio do Projeto de Estimulação Precoce, que se destina às crianças pequenas ou muito peque-
nas que se encontram inseridas nas creches ou CMEIs.
De 2008 a 2015, foi realizado o Projeto “Estimulação” nas unidades de creche, que visava garantir o di-
reito à educação das crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e/ou deficiências e trans-
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
A dinâmica do projeto se desenvolveu de forma itinerante, assim, o professor especializado se deslocava
até a creche, orientava os profissionais e a família, atendia a criança individual e coletivamente e, quando
necessário, era realizado encaminhamento para outros serviços.
A intervenção precoce tem sido definida como um conjunto de medidas postas a serviço da criança que
apresenta transtornos ou desarmonia em seu desenvolvimento nas áreas motoras, sensoriais ou mentais
e de suas famílias, tendo por objetivo garantir ao máximo o desenvolvimento das capacidades físicas, sen-
soriais e sociais desde os primeiros momentos de vida.
Desta maneira, devido ao número expressivo de crianças de zero a três anos e 11 meses inseridas tanto
em creches quanto em CMEIs, que são apoiadas pela Educação Especial, a Diretoria de Ensino, por meio da
Equipe de Educação Especial, para início em 2019, propõe o retorno do Projeto de Estimulação Precoce,
que passará a integrar a presente política.
Em cumprimento às Diretrizes gerais do MEC para Educação Especial, se destaca que a Educação Infantil é
oferecida para, em complementação à ação da família, proporcionar condições adequadas de desenvolvimen-
to físico, emocional, cognitivo e social da criança e promover a ampliação de suas experiências e conhecimen-
tos, estimulando seu interesse pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em sociedade.
Os fundamentos legais (Política Nacional/2008, Diretrizes da Educação Infantil) que embasam a Educação
Especial garantem tanto os direitos das crianças pequenas com deficiência à Educação, quanto preconizam
como imperioso o atendimento educacional especializado, cabendo à Equipe de Educação Especial despen-
der esforços, a fim de que o processo inclusivo aconteça desde a inserção da criança no ambiente educacional.
Nos atuais discursos sobre a Educação da Pessoa Surda há um predomínio na compreensão de que,
dentro de suas especificidades linguísticas, os estudantes surdos requerem uma abordagem bilíngue para
o seu ensino, na qual a primeira língua (L1) é a língua de sinais e a segunda língua (L2), a língua oficial do país,
no caso do Brasil, a L1 é a Libras-Língua Brasileira de Sinais e a L2, a Língua Portuguesa.
Esta abordagem possibilita ao estudante adquirir uma língua de forma natural, a Libras, uma língua es-
paço visual, criada e utilizada pelas comunidades surdas. A esse respeito, a Lei nº 10.436, de 24 de abril de
2002, profere no art. 1º: “É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira
de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados”.
Em parágrafo único complementa:
O acesso dos surdos tanto ao aprendizado da Libras quanto a qualquer outro conhecimento não acon-
tece de forma natural dentro das unidades educacionais, diferentemente dos estudantes ouvintes, que
desde a tenra idade são incluídos nos saberes, por meio da língua oral, conseguindo avançar nas apren-
dizagens. Nesse contexto, as crianças surdas são inseridas tardiamente nas unidades educacionais e em
ambientes em que não é possibilitada a elas a apropriação de sua língua.
Tendo em vista o exposto, a SME, reconhecendo as especificidades identitárias e culturais da pessoa
surda, implanta como forma de abordagem educacional a Educação Bilíngue na rede municipal, dando iní-
cio na Educação Infantil, especificamente nas creches.
Uma escola que busca desenvolver o projeto político pedagógico inclusivo, que considera as necessida-
des específicas de cada estudante ou grupo de estudantes, além de trabalhar com a diversidade no con-
Segundo Renzulli (1986), os três anéis não precisam estar presentes ao mesmo tempo e nem na mesma
intensidade, mas é fundamental que interajam em algum grau para que o resultado seja um alto nível de
produtividade.
Howard Gardner, neuropsicólogo da Universidade de Harvard, realizou suas pesquisas sobre o desen-
volvimento cognitivo e neuropsicológico, com a intenção de questionar a visão homogênea e psicomotri-
cista de inteligência que dominou os estudos sobre o tema desde a metade do século XX.
Na teoria histórico-cultural o ambiente tem um caráter determinante, uma vez que a criatividade passa
a ser vista como resultado das interações do sujeito com elementos internos e externos. Assim, o fenôme-
no de criar será ampliado, deixando de ser atributo de poucos.
Neste contexto, a concepção atual sobre os processos de identificação de estudantes com altas habili-
dades ou superdotação rompe com o paradigma tradicional, que enfatizava somente a hereditariedade da
inteligência e considerava o desenvolvimento de habilidades e comportamentos a partir de uma visão es-
tanque e linear. Ela investe em estratégias que envolvem a observação, o contexto e as experiências desses
estudantes na escola e fora dela para o reconhecimento de potencialidades (MEC, 2010).
Assim, quando pensamos na identificação de criança com altas habilidades ou superdotação nos reme-
temos à observação do professor em sala de aula, este pode identificar algumas características que são
peculiares aos referidos estudantes, sendo evidenciadas ou não ao mesmo tempo, tais como:
• Habilidades específicas com alto desempenho em uma ou várias áreas, como artes plásticas, musicais,
cênicas e psicomotoras, originalidade em resolver e lidar com problemas ou na formulação de respostas.
• Curiosidade intelectual e atitude inquisitiva, com investigação de como e o porquê das coisas, facili-
dade na aprendizagem, caracterizada por apropriação rápida de conceitos e conteúdo.
• Senso de humor perspicaz, impaciência com atividades rotineiras e repetitivas, negligência ao que
considera superficial.
• Uso de persuasão ao expor suas ideias e pontos de vista, perfeccionismo nas atividades por ele
selecionadas.
É válido ressaltar que, para o desenvolvimento e efetivação qualitativa da proposta de Educação Inclusi-
va, são necessários profissionais com formação para as atividades docentes, conforme preconiza a Decla-
ração de Salamanca (1994, p. 10): “[a] Preparação apropriada de todos os educadores constitui-se um fator
chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas”.
Entretanto, é sabido que a formação por si não fornece os meios necessários para a aplicação da proposta.
É preciso que todos passem a promover e participar de formações continuadas, se empenhando para qua-
lificação enquanto profissionais que objetivem o desenvolvimento de uma proposta comprometida com a
transformação social. Dessa maneira, haverá contribuição na transformação das escolas, da Educação e na
formação de todos, trabalhando em conjunto para a implementação de uma verdadeira sociedade inclusiva.
O professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) que atua na Sala de Recursos Multifun-
cionais (SRM) é um profissional, preferencialmente, efetivo na rede municipal, que tem como formação a
licenciatura plena com especialização na área de Educação Especial e/ou Atendimento Educacional Espe-
cializado. Ele atua sobre as particularidades dos estudantes, provendo recursos de acessibilidade, meios,
linguagens e serviços que propiciem acesso ao currículo.
São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado/Sala de Recursos Multifuncio-
nais:
b) Planejar as estratégias e objetivos a serem trabalhados com o estudante sem perder o foco peda-
gógico, respeitando as especificidades individuais.
f) Garantir a manutenção do vínculo com as escolas por meio de um currículo flexibilizado e/ou adap-
tado, favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar correspon-
dente.
Os Estudantes Surdos matriculados no ensino regular necessitam ser acompanhados por um profissio-
nal tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa. Segundo Quadros (2004, p. 27),
é aquele profissional que “domina a Língua de Sinais e a língua falada no país. No Brasil, o intérprete deve
dominar a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa”.
O intérprete exerce um papel de destaque na vida do surdo, pois este precisa ser compreendido e com-
preender o que se fala à sua volta, pelas pessoas que não dominam a Libras. Compete a ele, então, fazer
interlocuções entre surdos e ouvintes, para que se estabeleça um ambiente profícuo de comunicação, im-
pedindo a barreira da Acessibilidade Comunicacional dentro do ambiente educacional.
b) Ser o canal comunicativo entre o estudante surdo, o professor regente da sala, colegas, equipe
gestora, profissionais da escola e família (quando não souberem a Libras, mas tão somente dentro do
ambiente escolar).
a) Capacitar a Comunidade Escolar por meio de Cursos de Libras, tendo por objetivo a promoção da
inclusão do estudante surdo na escola.
b) Realizar Curso de Libras para os estudantes surdos no contraturno, reiterando que não coincida de
forma alguma com as aulas no ensino comum e nem com o Atendimento Educacional Especializado.
a) Realizar avaliações das necessidades específicas e potencialidades dos estudantes surdos, em con-
junto com o Profissional Surdo da SME, Professor de Sala de Recursos Multifuncional e o Coordena-
dor Pedagógico da Unidade Escolar, buscando saber o nível linguístico de cada um, fazer os devidos
registros e encaminhar à Equipe Gestora com as intervenções necessárias.
b) Trabalhar com os estudantes por meio da Língua de Sinais como a Língua de Instrução-L1 e a Lín-
gua Portuguesa, na modalidade escrita-L2 no AEE.
c) Elaborar e executar um planejamento individualizado, reavaliando por meio de uma avaliação pro-
cessual para intervir pedagogicamente.
O profissional Cuidador de Aluno com Deficiência, na rede municipal, é parte integrante do processo de
inclusão e tem a função de auxiliar o estudante com deficiência em condições de dificuldade extrema, re-
lacionada à autonomia na locomoção, higiene e alimentação. Inclui-se aqui o estudante com Transtorno do
Espectro Autista – seguindo os mesmos parâmetros de avaliação dos demais estudantes para a liberação
deste profissional.
Caso seja comprovada a necessidade, quanto ao aspecto de funcionalidade, não de diagnóstico clínico,
a unidade educacional poderá requerer à Equipe de Educação Especial/SME a Avaliação Multidisciplinar,
para que possa ser disponibilizado o profissional CAD, que poderá ter sob sua responsabilidade até dois
estudantes, por turno/turma.
c) Acompanhar e auxiliar o estudante a ser cuidado, fazendo por ele somente as atividades que ele
não consegue fazer sozinho, com exceção das atividades pedagógicas.
d) Conversar com os pais ou responsáveis sempre junto com o professor regente da sala de aula.
e) Acompanhar o(s) estudantes(s) desde o momento de sua entrada até a sua saída da unidade edu-
cacional.
h) Elaborar o “Caderno de Registro”, com as informações diárias mais importantes, desde o momento
da acolhida até o momento da saída dele da unidade, fazendo anotações das ocorrências físicas e
emocionais. Reiteramos que o registro pedagógico compete ao professor regente da turma.
i) Comunicar imediatamente à Equipe Gestora toda e qualquer situação atípica ocorrida com o estu-
dante, para que se tomem as devidas providências com a família.
j) Se o estudante faltar à aula, o cuidador não poderá se ausentar da unidade educacional e fará os
devidos registros em livro próprio, devendo informar imediatamente à Equipe Gestora, que entrará
em contato com os familiares sobre os motivos que levaram à ausência do estudante.
Seguindo critérios de funcionalidade, não será disponibilizado profissional Cuidador de Aluno com De-
ficiência (CAD) nas seguintes situações:
a) Estudantes com ou sem deficiência que apresentem crises convulsivas, diabetes, intolerância a ali-
mentos, alterações comportamentais.
d) Estudantes com deficiência física ou intelectual que têm autonomia de locomoção, alimentação e
cuidados pessoais.
Este documento consiste em um orientador, fruto de diálogos construídos coletivamente entre profis-
sionais da Educação que atuam nas unidades educacionais do campo, assessores pedagógicos da equipe de
Educação de Jovens e Adultos/Educação do Campo (EJA/CAMPO) e a Secretaria Municipal de Educação
de Cuiabá (SME).
Este coletivo contou com a contribuição de professores dos Institutos de Ensino Superior (IES), da Uni-
versidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), também
com os do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso (Cefa-
pro), que proferiram palestras em momentos formativos e colaboraram na organização deste documento.
Vale destacar que as diretrizes aqui apresentadas têm como principal objetivo possibilitar à população
do campo do município de Cuiabá uma política educacional pautada na premissa de que a Educação é um
direito humano social e não apenas uma mercadoria, um serviço. Ao estabelecer o olhar tanto no aspecto
individual, quanto coletivo, do sujeito enquanto pessoa humana em seu tempo de vida, se faz necessário
reorganizar a política de Educação do Campo da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, para alcançar os
princípios da transformação e da emancipação.
A partir da Resolução nº 4, do CNE/CEB, de 13 de julho de 2010, que estabelece as Diretrizes Curri-
culares Nacionais Gerais para a Educação Básica, a Educação do Campo passa a ser considerada como
modalidade de ensino.
Portanto, ao refletir sobre a modalidade de Educação do Campo, enquanto direito de sujeitos, chega-se ao
aspecto da pluralidade que, como bem nos aponta Arroyo (2004), trata-se do respeito ao diferente, necessitan-
do de políticas próprias e específicas. O autor (Arroyo, 2004, p. 26) também afirma que a Educação do Campo
não será tratada com “[...] conotação pejorativa de inferioridade. Ao contrário: tem de garantir os direitos uni-
versais e respeitar a diversidade do campo”. Colaborando com esse pensamento, busca-se a premissa de que
na Escola Cuiabana a Educação do Campo “busca interpretar a realidade para a construção de conhecimentos
emancipatórios que realmente garantam a melhoria da qualidade de vida dos povos que vivem no e do campo,
assim como permanência com dignidade dos jovens nos espaços do campo” (DE LIMA et al., 2017, p. 1131).
O campo da região denominada Vale do Rio Cuiabá apresenta uma diversidade de grupos sociais deno-
minados ou que se autodenominam de “populações tradicionais”, os quais estudos atuais identificam como
povos e comunidades tradicionais.
O processo histórico de nosso país revela que a luta por uma Educação do Campo se confunde com a
luta pela terra, que acontece em nossa nação desde o processo de ocupação e colonização pelos portugue-
ses. Inicialmente, os alvos do processo de luta pela terra eram os povos nativos que tinham (muitos ainda
têm) sua própria maneira de educar as crianças e os jovens. Assim, os estudos historiográficos mostram
vários movimentos importantes de luta pela terra, entre eles, Quilombos, Canudos, Contestados, entre
outros, contribuíram para refletir e imaginar outras formas de organização da sociedade.
Outro fato histórico importante é a luta pela Reforma Agrária, que ganhou força no final da década de
60, sendo apontada como uma das causas do Golpe Militar de 1964, já que ameaçava o status quo vigen-
te. Nessa época, também ocorreu um grande movimento de alfabetização de adultos, liderado por Paulo
Freire, um dos maiores educadores do nosso país. O referido movimento, apesar de ceifado no Brasil pelo
Golpe, ganhou força em outros países, correu mundo e que ainda hoje influencia a educação brasileira e a
de outros países.
O processo de abertura política foi fruto das lutas organizadas pelos Movimentos Sociais, entre eles, o
dos movimentos do campo, com destaque para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Nesse contexto, o MST elabora e desenvolve a proposta da Pedagogia do Movimento, a qual foi fundamen-
tal na construção da Política da Educação Escolar do Campo.
Vale destacar que a população do campo vivia e ainda vive sob o estereótipo do “caipira” e atrasado.
Logo, em decorrência desta concepção distorcida da importância do homem do campo, houve impactos
em nossa sociedade, predominando a ideia de que o homem e as mulheres do campo não necessitavam
estudar. Com o passar do tempo, as populações do campo perceberam a necessidade de estudar, mas a
educação oferecida era a reprodução da oferta urbana, em estruturas físicas geralmente precárias.
Nas últimas décadas, os Movimentos Sociais do Campo demonstram que os trabalhadores rurais têm
assimilado a ideia de que a aquisição do saber escolar é condição sine qua non para que seus filhos sejam
preparados para a vida, e possam optar por continuar a viver no campo ou não (SME, 2010, p. 15).
Historicamente, não existia para a educação do/no campo uma política pública voltada para as
questões específicas da realidade do campo, neste sentido, com o objetivo de atender às necessidades
existentes, a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá elaborou, em 1994, um projeto denominado
No intervalo de 2013 a 2016, não foi possível desenvolver uma proposta específica para as diferentes
modalidades e a identidade das unidades educacionais do campo não se adensou. Contudo, um importan-
te momento para as escolas do campo aconteceu em 2016, por meio da Portaria nº 236/2017/GS/SME,
publicada no DOC/TCMT, no que se refere à alteração da nomenclatura de Escola Municipal Rural de
Educação Básica (EMREB) para Escola Municipal de Educação Básica do Campo (EMEBC).
A partir de 2017, iniciou-se na SME a constituição de Grupos de Trabalho, com assessores e gestores
das Unidades Educacionais do Campo, objetivando deliberar com/sobre/para a reestruturação de polí-
ticas públicas de Educação do Campo, neste município. Tal sujeito coletivo foi composto por diferentes
atores do poder público, municipal e por movimentos sociais camponeses e entidades formadoras, com
notoriedade na práxis da Educação do Campo.
Atualmente, a Rede Municipal de Ensino de Cuiabá atende estudantes do campo em uma creche e em
oito escolas nucleadas, em diferentes comunidades campesinas. Também atende uma comunidade com
uma sala anexa, em classe multiciclada29.
O atendimento e funcionamento da Creche e das Escolas Municipais de Educação Básica do Campo
(EMEBC) têm como amparo legal a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) nº 9394/96, a Lei nº 11.274/06, a Emenda Constitucional nº 59/09 e os demais documentos ofi-
ciais que regulamentam e normatizam a oferta da Educação Básica e especificidades no Sistema Municipal
de Ensino de Cuiabá, conforme mostra o quadro 7.
Creche Elzira
01 Ed. Infantil (Berçário, Maternal, Jardim I e II) Comunidade Sucuri
Cavalcante da Silva
EMEBC Herbert de
03 Ed. Infantil (4 e 5 anos) Ens. Fundamental (1º e 2º Ciclos) Comunidade Cinturão Verde
Souza
EMEBC Nossa Senhora Ed. Infantil (3, 4 e 5 anos) Ens. Fundamental (1º, 2º e 3º
04 Comunidade Coxipó do Ouro
da Penha de França Ciclos) EJA (1º e 2º Segmentos) Ensino Médio (SEDUC)
EMEBC Profa. Udeney Ed. Infantil (4 e 5 anos) Ens. Fundamental (1º, 2º e 3º Ciclos)
07 Distrito de Aguaçu
Gonçalves de Amorim EJA (1º e 2º Segmentos) Ensino Médio (SEDUC)
EMEBC Profa.
08 Ed. Infantil (4 e 5 anos) Ens. Fundamental (1º Ciclo) Distrito Nossa Senhora da Guia
Benedita Xavier
A compreensão de que a Educação é um direito ganha força com a Constituição Federal de 1988. E é
reafirmada para a Educação Rural por meio da LDB, Lei nº 9.349/96, tendo os seguintes princípios:
Art. 28. Na oferta da Educação Básica para a população rural, os sistemas de ensino promo-
verão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural de cada
região, especificamente:
I. Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses
dos alunos na zona rural;
II. Organização Escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases agríco-
las climáticas;
III. Adequação à natureza do trabalho na zona rural.
O art. 26, da referida lei, estabelece que os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma
base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por
uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da econo-
mia e da clientela. Neste ponto é importante definir, como orienta o MEC (2012, p. 26), deixar claro o que
se pretende incluir, respeitando a diversidade e acolhendo as diferenças, sem transformá-las em desigual-
• O exercício da cultura.
A resolução supracitada conceitua a escola do campo em seu art. 2º, § único (DOU de 9/04/2002, Seção
1, p. 32): “A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua rea-
lidade”, para isso ancora-se [...] “na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva
que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais”.
Define que o projeto institucional das escolas do campo, expressão do trabalho compartilhado de todos os
setores comprometidos com a universalização da educação escolar com qualidade social, constituir-se-á
num espaço público de investigação e articulação de experiências e estudos direcionados para o mundo do
trabalho, bem como para o desenvolvimento social, economicamente justo e ecologicamente sustentável.
E regulamenta as estratégias específicas do atendimento escolar do campo e a flexibilização da organiza-
ção do calendário escolar, desde que salvaguarde os princípios da política da igualdade.
Já o parecer CNE/CEB nº1, de 2 de fevereiro de 2006, regulamenta a oferta da Pedagogia da Alternância,
a fim de que os Centros e Escolas Família Agrícola possam realizar a certificação de seus estudantes. E con-
ceitua os diferentes tipos de oferta de Alternância. Segundo Queiroz (2004), o documento apresenta três
possibilidades: Alternância justapositiva, Alternância associativa, Alternância integrativa real ou copulativa.
Este parecer orienta também toda a organização pedagógica da alternância, os planos de estudo, de
formação, bem como os instrumentos utilizados no processo de construção do conhecimento: caderno de
síntese da realidade, fichas didáticas, visitas de estudo, intervenções externas, experiências, visitas à famí-
lia do aluno, Caderno de Acompanhamento da Alternância, avaliação contínua e permanente, etc.
Nessa linha de orientações e diretrizes pedagógicas, a Resolução nº 2 do MEC CNE/CEB, de 28 de abril
de 2008, conceitua o que é a Educação do Campo e quais são os povos do campo: agricultores familiares,
extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrária, quilombo-
No município de Cuiabá as normas para a oferta da Educação Básica do Campo no Sistema Municipal de
Ensino foram fixadas a partir da Resolução Normativa nº 05/2012 - CME/ Cuiabá.
Como já abordado no capítulo 1 deste documento, na década de 90, ocorreu no município de Cuiabá um
grande movimento de discussão sobre a reorganização da oferta educacional da rede municipal de ensino.
Vale ressaltar ainda que a organização da educação por Ciclos de vida não significa apenas agrupar os
estudantes por uma determinada idade predefinida, é fundamental compreender a organização cultural
de cada comunidade e o desenvolvimento de cada pessoa. Para um determinado grupo étnico, a primeira
infância tem uma temporalidade, para outro grupo tem outra temporalidade, organização e significado.
Ao pensar a educação formal para a população do campo do município de Cuiabá, ancorada na realida-
de das comunidades atendidas, apontamos nesta proposta alguns elementos presentes nas experiências
teóricas das Pedagogias Populares, Pedagogia da Alternância, Pedagogia da Luta Social, Pedagogia da Or-
ganização Coletiva, da Pedagogia da Terra, Pedagogia da Cultura e da Pedagogia da Cultura.
Avançando um pouco mais, observa-se que, a partir da Ecopedagogia (GADOTTI, 2009), da Economia
Solidária e outras práticas educativas contextualizadas, tem-se outra concepção, a da Pedagogia da Terra.
Várias são as referências e com Boff e Conte (2016, p. 379) visualiza-se o cuidado ontológico (HEIDEG-
GER, 2009) e o cuidado ecológico (BOFF, 2000), que deve-se ter ao definir os fundamentos da nova orien-
tação educacional.
As concepções citadas precisam estar articuladas a uma epistemologia construída em bases paradig-
máticas agroecológica (ALTIERI, 2004), complexa (MORIN, 2008) e sustentável (CAPRA, 2002). Logo,
orienta-se na Escola Cuiabana para a reorganização e ressignificação da Educação do Campo em cada uni-
dade educacional com o princípio educativo a TERRA:
Terra é vida e sustento, moradia, espaço, teto, possibilidades de vida digna. A luta por esses
valores é um exercício de aprendizado dos valores mais humanos: o valor da vida, do cui-
dado da prole. Com esses valores das lutas e da cultura popular chegam aos movimentos,
reaprendem nos movimentos e levam às escolas. Como não os reconhecer e como supe-
rar visões tão negativas das famílias populares e de seus (suas) filhos (as)? Como não os
reconhecer sujeitos dos valores, mas essenciais, mais humanos que aprendem nas lutas
pela vida, por um digno justo viver? Superar essas visões inferiorizantes da moral popular
é precondição para inventar Outras Pedagogias que já estão sendo praticadas pelos movi-
mentos sociais e por tantos docentes/educadores (as) nas escolas públicas populares, nas
escolas indígenas, quilombolas, do campo. (ARROYO, 2014, p. 99, grifo nosso).
Na Pedagogia da Terra, a práxis educativa não se encontra vinculada à mera comunicação dos conhe-
cimentos, exigindo somente compreensão e memorização, mas, sobretudo, proporciona a operacionaliza-
ção de pesquisas, experimentações práticas, intervenções e resoluções de problemas. Também, considera
que as experiências das vivências do sujeito sejam a matéria-prima para uma aprendizagem dinâmica e
Os sujeitos da Educação do Campo são camponeses, os quais, segundo Costa (2000), são aquelas famí-
lias que, tendo acesso à terra e aos recursos naturais que ela suporta, resolvem seus problemas reprodu-
tivos, suas necessidades imediatas de consumo e o encaminhamento de projetos que permitam cumprir,
adequadamente, um ciclo de vida da família – mediante a produção rural, desenvolvida de tal maneira que
não se diferencia o universo dos que decidem sobre a alocação do trabalho dos que se apropriam do resul-
tado dessa alocação (COSTA, 2000, p. 116-130).
Arroyo et al. (2008, p.152) apontam que os sujeitos do campo são os povos da floresta, agricultores,
quilombolas, povos indígenas, pescadores, camponeses, assentados, ribeirinhos, lavradores, extrativistas,
roceiros, agregados, boias-frias, sem-terra, povos de luta e resistência.
São sujeitos que, independentemente de sua localização geográfica, têm em comum o vínculo com a
terra e suas relações de trabalho com ela, são de diversas etnias, gêneros, raças, culturas. São eles: ido-
sos, adultos, jovens e crianças que vivem no campo, ou viveram e foram desarraigados pelo modelo ca-
pitalista de produção de sua vivência com a terra e que de alguma forma lutam para retornar ao campo,
às suas raízes, ao seu mundo de trabalho e de vida. Assim, entende-se que os estudantes das unidades
educacionais do campo de Cuiabá constituem esses diferentes sujeitos e, consequentemente, precisam
ser vistos como tal.
Cada uma das comunidades em que se encontram as unidades educacionais é única, com relação às
pessoas que lá habitam, à organização social, econômica e ao modo de produção e reprodução da vida,
entretanto, têm algumas características comuns. Segundo Görgen (2009, p. 5):
Comunidade rural camponesa, sendo um elemento central no modo devida camponês, lhes
dá suporte econômico, político e ideológico para as resistências sociais que permeiam os
seus cotidianos, numa afirmação conflituosa de suas especificidades: Na comunidade há o
espaço da festa, do jogo, da religiosidade, do esporte, da organização, da solução dos con-
flitos, das expressões culturais, das datas significativas, do aprendizado comum, da troca de
experiências, da expressão da diversidade, da política e da gestão do poder, da celebração
da vida (aniversários) e da convivência com a morte (ritualidade dos funerais). Tudo adquire
significado e todos têm importância na comunidade camponesa. Nas comunidades campo-
nesas as individualidades têm espaço. As que contrastam com o senso comum encontram
meios de influir. Os discretos são notados.
Ainda conforme o autor, não há anonimato na comunidade camponesa. Todos se conhecem. As relações
de parentesco e vizinhança adquirem um papel determinante nas relações sociais do mundo camponês. E
conclui que estas comunidades se distinguem profundamente das culturas urbanas e suas mais variadas
formas de expressão.
A Educação do Campo, enquanto método e metodologia educativa, pauta-se nos princípios das peda-
gogias populares ou libertadoras, exigindo, assim, mudanças de valores e condutas sociais, projetando
transformações a serviço da classe trabalhadora camponesa e estabelecendo uma relação dialética entre
campo e cidade.
O movimento de Educação do Campo encontra-se imbuído de uma filosofia educativa de caráter liber-
tador, que estruturou no processo histórico uma educação ideologicamente comprometida com os cam-
poneses, tendo como ponto de partida a realidade da vida no campo, a fim de estabelecer um processo
reflexivo sobre e a partir da realidade.
Esta abordagem perpassa todo o processo de aprendizagem, permitindo que o educando desenvolva os
hábitos de investigar, elaborar hipóteses, realizar síntese e propor alterações à realidade existente, reali-
zando, assim, uma educação contextualizada, ancorada na realidade da vida no campo. Portanto, entende-
-se que o campo não existe desconectado da área urbana e que o conhecimento produzido se articula com
a totalidade das relações econômicas, sociais e políticas em que os sujeitos do campo estão inseridos.
Nessa perspectiva, a práxis do educador comprometido contribui para que as infâncias, a adolescência,
a juventude, a idade adulta e os idosos do campo alcancem um novo olhar sobre a vida e a história. Pois
esses sujeitos são em sua essência produtores de história. Tanto o/a estudante quanto o/a educador/a pro-
duzem conhecimentos que irão lhes instrumentalizar para compreender e transformar a realidade que
sempre os alienou, e dessa forma, vão se conscientizando ao longo do processo.
Considerando a necessidade das unidades educacionais do campo de construírem uma educação con-
textualizada, que tenha a identidade de cada comunidade, propõem-se algumas estratégias para esta
construção, de modo a atender a todas as unidades do campo e que, ao mesmo tempo, considere as singu-
laridades de cada uma.
Diagnóstico Socioeconômico
A aplicação de um diagnóstico socioeconômico dos estudantes de casa unidade contribui para a
caracterização do perfil de cada comunidade escolar e também da Rede Municipal, desde o ato da
matrícula.
Inventário da Realidade
Instrumento que materializa uma decisão fundamental para a elaboração da matriz formativa de
referência, pois os sujeitos precisam conhecer a realidade local e atual, do seu entorno e de seu
próprio funcionamento. (Caldart , 2015)
No ano de 2018 algumas professoras das escolas do campo realizaram um breve inventário de suas
comunidades, como um exercício prático para a elaboração de projeto interventivo por meio do
curso de extensão realizado pelo Programa Escola da Terra..
Mandalas de Saberes
Segundo Lima (2014, p. 187) “busca contribuir para a ampliação do diálogo entre escolas e seus
territórios, relacionando a cultura local aos desafios acadêmicos”.
Para a autora, entre escolas e comunidades circulam saberes a partir da produção acadêmica e
saberes em relação direta com a vida, assim ao articular estes saberes, contribui para a construção
de uma educação dialógica.
a) Mística
Com sentido sociopolítico e ideológico, aponta-se a Mística como uma ação pedagógica importante no
interior das unidades educacionais do campo, pois, por meio dela, é possível estimular a reflexão crítica, a
revitalização da memória, a construção de valores humanísticos, o cultivo de utopias e sonhos, bem como
o fortalecimento social dos estudantes. A importância simbólica e educativa da Mística, para Bogo (2002,
p. 10), é “[...] prática que se manifesta das mais diferentes maneiras e momentos, mas é também teoria,
conteúdo e ideologia”.
Na Educação do Campo, a Mística é compreendida e buscada enquanto práxis pedagógica importantís-
sima na produção e re/significação do conhecimento, sobretudo no reconhecimento da identidade coletiva,
alimentando o sentimento de pertença das comunidades camponesas. Compreendendo que os espaços/tem-
pos da escola são educativos e estes, ao dialogar com a cultura do povo do campo, também se tornam místicos.
Machado (2012, p. 145) aponta que os temas abordados, por meio da Mística, tratam de questões per-
tinentes ao contexto local ou consistem em uma problemática político-social de âmbito nacional, mistu-
c) Cogestão
Sugere-se uma adaptação da concepção de cogestão, apontada pela educação, no contexto da Economia
Solidária. A cogestão contribuirá na perspectiva democrática e protagônica dos estudantes, pois, a partir da or-
ganização de coletivos de trabalho, os responsáveis assumem papéis gestacionais, fortalecendo a construção
colaborativa e coletiva da gestão democrática na unidade. Assim, por meio de grupos de coletivos, os estudan-
tes se organizam em grupos que se responsabilizam pelas místicas, animações, coordenação de grupos de es-
tudo e trabalho, memórias, relatórios, avaliações, entre outras ações que cada unidade educacional propuser.
b) Projetos
Nogueira (2007, p. 81) aponta que, se bem trabalhado, o projeto pode auxiliar na formação do sujeito
integral, com possibilidades de desenvolvimento em diferentes áreas, formando-se amplamente, não se
limitando a uma ou outra competência privilegiada nos diferentes contextos. Dentre as inúmeras possibi-
lidades de projetos nas escolas do campo, consideramos quatro ações estratégicas:
Os projetos das hortas escolares tanto podem contribuir com a compreensão da importância de alimen-
tos saudáveis na alimentação, como na relação dos estudantes com a terra, na interação da escola com os
conhecimentos tradicionais da comunidade, etc.
Os projetos relacionados às práticas em economia solidária têm um leque de possibilidades, com temas
relativos à produção, comercialização, consumo, finanças, colaboração, etc. A Educação Ambiental e a or-
ganização das ComVida - Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas têm por objetivo a
construção da Agenda 21.
Esta é uma estratégia desenvolvida pelo Ministério do Meio Ambiente, que por meio de uma metodo-
logia de fácil compreensão organiza a escola de forma democrática e estabelece compromissos entre a
gestão escolar, os estudantes e a comunidade de forma mais ampla com a qualidade de vida dos diferentes
atores a partir de projetos coletivos, tendo como base o protagonismo dos estudantes. Trabalha também
de forma bastante interessante com instrumentos de Educomunicação.
O educador que atua nas unidades educacionais do campo deve ter um mínimo de afinidade com a re-
alidade camponesa ou pelo menos a disposição de conhecer esta realidade. Neste sentido, ressalta-se a
importância de o educador conhecer o estudante e a realidade de vida desta criança, jovem ou adulto.
Para tanto, a Escola Cuiabana propõe, entre outras, duas estratégias que já se mostraram profícuas para
as unidades do campo:
1 - No ato da matrícula, deve ser realizado um sociodiagnóstico que possibilite traçar um perfil dos estu-
dantes por turma, bem como, ter o perfil dos profissionais de cada unidade. Assim, será possível construir
uma proposta educativa que considere tanto a realidade do educando, quanto o desenvolvimento, com
os profissionais, de um processo de formação continuada que atenda às necessidades apresentadas.
2 - Conhecer com os profissionais de algumas unidades o itinerário dos estudantes de casa para a escola.
Nesse dia, os profissionais, educadores, auxiliares, administrativos, todos os profissionais de algumas uni-
dades devem ir às comunidades entrevistar os estudantes, seus familiares, lideranças comunitárias, etc.
Em 2018, essa experiência foi realizada e se mostrou enriquecedora, pois, mesmo educadores que já
atuavam na Educação do Campo há mais de uma década, se mostraram sensibilizados com o que conhe-
ceram, a saber: crianças que viajam duas, três horas até chegar à escola e qual o trajeto; que tem muitas
atividades quando chegam em casa; o significado da terra para essas crianças e suas famílias e também a
importância do trabalho dessas famílias para a alimentação dos que vivem na área urbana. Enfim, amplia-
ram conhecimentos sobre a importância e a especificidade da Educação do Campo.
A formação para profissionais que atuam na educação precisa ser elaborada como um continuum pro-
cesso de desenvolvimento humano, que começa com a formação inicial e acompanha toda a travessia pro-
fissional do sujeito. Nesse sentido, a SME entende que os planos de formação propostos precisam estar
associados à elaboração de intervenções pedagógicas para a prática escolar, pois, em tempos de mudanças
rápidas e contínuas, a formação precisa ser permanente.
Pautando-se na premissa de que o ser humano não está pronto e acabado, mas em constante processo
formativo, a SME destaca a importância em garantir a formação continuada e permanente aos profissio-
nais que atuam nas unidades educacionais do campo do município de Cuiabá-MT.
Nesse sentido, Paulo Freire (2014) mostra que a prática educativa crítica e reflexiva depende de saberes
fundantes e que a formação inicial precisa ter continuidade. Assim, visando à qualidade na Educação, Carva-
lho e Santos (2015, p.19) afirmam que os educadores necessitam de formação permanentemente, tendo em
vista os atuais desafios e as transformações da sociedade atual, refletidos no cotidiano da sala de aula.
Desse modo, com a perspectiva de implementar a Política de Formação Continuada da Rede Munici-
pal de Ensino de Cuiabá, inclui-se o Projeto de Formação Continuada “Círculos de Saberes do Campo”,
pautado na organização de processos formativos específicos à Educação do Campo, ancorado na Resolu-
ção CNE/CEB nº 01/2002, que instituiu as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do
Campo34 , a qual estabelece, em seu art.13, que os sistemas de ensino são responsáveis pela organização
de propostas formativas que contemplem as questões inerentes ao território camponês e que devem ob-
servar os seguintes componentes:
I- estudos a respeito da diversidade e o efetivo protagonismo das crianças, dos jovens e dos
adultos do campo na construção da qualidade social da vida individual e coletiva, da região,
do país e do mundo;
II- propostas pedagógicas que valorizem, na organização do ensino, a diversidade cultural
e os processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática, o acesso ao
avanço científico e tecnológico e respectivas contribuições para a melhoria das condições
de vida e a fidelidade aos princípios éticos que norteiam a convivência solidária e colabora-
tiva nas sociedades democráticas.
Outro marco importante para a formação dos educadores é o Decreto 7352/2010 que, em seu art. 2º,
inciso III, destaca a real necessidade do desenvolvimento de políticas de formação de profissionais da edu-
cação para o atendimento da especificidade das escolas do campo, considerando-se as condições concre-
tas da produção e reprodução social da vida no campo.
Diante do exposto, inclui-se o art. 5º, no seu parágrafo 2º, referente à formação do educador do cam-
po, sugerindo que a formação de professores poderá ser feita concomitantemente à atuação profissio-
nal, de acordo com metodologias adequadas, inclusive a Pedagogia da Alternância, e sem prejuízo de
outras que atendam às especificidades da Educação do Campo, e por meio de atividades de ensino, pes-
quisa e extensão.
A Resolução Normativa nº 05/2012-CME/Cuiabá, que fixa normas para a oferta da Educação Básica
do Campo no Sistema Municipal de Ensino de Cuiabá, traz no item IV, do art. 2º, cap. I, que é de compe-
tência da SME elaborar o desenvolvimento de políticas de formação continuada para os profissionais da
educação que atuam nas unidades educacionais do campo, considerando as especificidades, os objetivos
e princípios da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação e as condições
concretas da produção e reprodução social de vida no campo.
Nesse sentido, é fundamental que o professor que optar pela atuação nas unidades educacionais do
campo compreenda que, nesse espaço, estão os sujeitos que produzem diferentes condições culturais e
materiais, portanto se faz necessário construir projetos pedagógicos que valorizem os saberes comunitá-
Nosso fundamento principal há que ser a própria vida real, ou a materialidade das relações
que constituem o processo educativo desencadeado, integrada a um esforço permanente
de análise e tendências de seu desenvolvimento histórico (o que requer teoria). O ponto de
partida e o de chegada precisa ser, pois, a nossa própria realidade, transformada na direção
do projeto de sociedade e de ser humano que coletivamente assumimos como desafio de
construção.
Pesquisas realizadas pelo Inep, em 2006, demonstram que a elaboração de políticas públicas para for-
mação do educador do campo permanece um desafio para as universidades brasileiras. Desse modo, des-
taca-se que há uma ausência de políticas de formação inicial e continuada que, somada a outros fatores,
como a rotatividade de profissionais que atuam nas escolas do campo, o não sentimento de pertença à
realidade camponesa, a fragmentação e descontextualização do conhecimento, vem comprometendo o
processo educativo nas escolas do campo.
Em face dessas reflexões, a perspectiva constitui-se no fortalecimento das formações propostas pela
SME, considerando as diferentes realidades educativas e as práticas dos profissionais que atuam nas es-
colas do campo.
Isto posto, faz-se necessário que os processos formativos para o campo tratem de questões relativas
à cultura dos cidadãos do campo; a identidade individual e coletiva; os movimentos de luta pela terra e
pela agricultura familiar camponesa; as questões socioambientais; a luta pela terra; as tensões e conflitos
no campo entre o latifúndio, a monocultura, o agronegócio e a agricultura familiar; o trabalho associado;
as questões inerentes à reforma agrária popular; à expulsão da terra; aos territórios dos quilombolas, dos
povos indígenas e de populações tradicionais.
Na Escola Cuiabana, é preciso (re) construir de modo crítico, reflexivo, coletivo e colaborativo propos-
tas pedagógicas contextualizadas com os saberes do campo e que as reflexões e proposituras contribuam
para a identidade, enquanto creche e/ou escola do campo. Logo, essa perspectiva consiste, também, em
ressignificar as identidades das unidades educacionais enquanto campo e que, portanto, ao trazermos o
tema círculo de saberes do campo, queremos construir um processo formativo com mútuas aprendiza-
gens, no qual o coletivo ensina, aprende e elabora propostas junto.
Nesse contexto, o Projeto de Formação Continuada “Círculos de Saberes do Campo” parte da premissa
da construção de uma matriz formativa colaborativa, integrada, crítica, dialógica, reflexiva e prática, que
considera a realidade de cada unidade educacional do campo, partindo dos saberes locais para a comple-
xidade de conhecimentos globais.
É interessante que a escola, em parceria com outras instituições, possa oferecer às famílias atividades
formativas que aproximem os diferentes atores sociais e contribuam com o desenvolvimento do sentido
de «comunidade». Algumas unidades têm desenvolvido ações nesta perspectiva, em conjunto com univer-
sidades, Senar, ONGs, sindicatos, etc., cursos, feiras, atividades culturais e outras iniciativas, como o dia da
família na unidade com esta finalidade.
Esta é uma dimensão importante em todo processo formativo que seja desenvolvido, pois é um compro-
misso entre as partes, tanto de quem oferta como de quem faz a formação.
A visita às famílias, que pode ser feita desde o itinerário, como ao longo do ano letivo, é uma estraté-
gia importante para os educadores compreenderem o universo dos estudantes do campo, uma vez que
grande número desses educadores reside no perímetro urbano. A aproximação escola-família, estudante-
-estudante, etc., possibilita ao educador problematizar a realidade vivida pelos estudantes e trazer temas
dessa realidade para o contexto da sala de aula.
Os colegiados escolares contribuem para a democratização do espaço escolar, tanto no que se refere
à divisão de poderes como de responsabilidades, favorecendo a concretização de uma educação para o
exercício da autonomia e da cidadania.
Muito se tem falado da avaliação como processo, entretanto avançou-se pouco no sentido de construir
este processo. Uma dimensão importante que vem sendo proposta pela Rede é a avaliação diagnóstica. Ela
pode ser repetida bimestralmente, após a intervenção pedagógica para verificar se os resultados espera-
dos foram alcançados.
Outra dimensão importante do processo avaliativo é compreender o “erro” como elemento constitu-
tivo do processo de ensino e aprendizagem, entendendo as hipóteses que os estudantes elaboram e as
formas alternativas para solucionar problemas e construir estratégias de comunicação. Neste sentido
Ao propor uma concepção para a avaliação da aprendizagem na Educação do Campo de Cuiabá toma-se
como foco a importância da circulação e construção de conhecimentos e informações para além da apren-
dizagem de conceitos e teorias científicas desarticuladas das funções sociais e sim no desenvolvimento do
pensar para que os estudantes do campo interajam socialmente e estejam preparados para transformar e
construir identidades pessoais e sociais.
Esta avaliação considera todo o percurso formativo desenvolvido pelos estudantes, tanto nas ativida-
des individuais como coletivas, das ações desenvolvidas na escola, em casa ou na comunidade, consideran-
do os projetos escolares. No âmago desta avaliação está a reflexão sobre o modo como o ser humano se
apropria do conhecimento em cada espaço e em cada tempo do seu ciclo de vida de modo pleno.
LEAL et al. (2007, p. 107) apontam que para que não haja um descompasso entre o registrado e o vivido/
priorizado é preciso:
1 - Ter clareza sobre o que é necessário e o que constitui direito dos estudantes aprenderem em cada
Ciclo de Formação Humana. É preciso monitorar continuamente, os progressos e as lacunas demons-
tradas pelos estudantes, assim é possível ajustar a forma de ensinar sem esperar o fim do período.
2 - Ter clareza sobre o que ensinar e avaliar, sendo necessário “traduzir” em objetivos observáveis os
conteúdos formulados geralmente de modo muito “amplo” nos documentos curriculares ou planos
de curso. Somente assim, é possível fazer o registro avaliativo ao longo de semanas em que se dá o
ensino e aprendizagem, de modo que possa corrigir-realimentar o processo de ensino e verificar o
que os estudantes estão aprendendo.
Os estudantes do campo apresentam habilidades diferentes que devem ser consideradas, estimuladas
e avaliadas, contudo, é importante também desenvolver as habilidades de convivência, seja entre pares ou
com os diferentes, e isto também deve ser avaliado, não para aprovar ou reprovar, mas por ser esta uma
dimensão humana importante na educação.
Tendo como princípio a educação emancipadora, busca-se de forma coletiva construir uma proposta
para a Educação do Campo, que considere a importância das comunidades camponesas, sua autonomia
e o exercício crítico da cidadania e, dessa forma, uma formação interdisciplinar, contextualizada e integral
aos sujeitos do campo.
Além disso, considerando que as escolas do campo vêm, historicamente, sendo objeto de políticas go-
vernamentais de cunho assistencialistas, e pela ausência de discussões desta modalidade educativa - Edu-
cação do Campo - por parte do poder público, a elaboração deste documento foi tida como prioridade por
este grupo de sistematização, pois trata-se de uma proposta de educação pautada nos princípios políticos
e pedagógicos da Educação do Campo e na legislação de âmbitos nacional, estadual e municipal.
É resultado de análise e compreensão da realidade concreta das unidades educacionais da Rede Muni-
cipal de Ensino de Cuiabá. Tomando esta realidade como ponto de partida da aprendizagem, que se torna,
assim, significativa e produtora de pertencimento.
As experiências históricas das pedagogias populares motivaram e ofereceram as condições para a pro-
dução desta proposta, que tem por princípio o respeito aos sujeitos do campo, as suas diferentes formas de
produção e reprodução da vida e a diversidade cultural.
O campo é território de lutas e disputas, assim, a Educação do Campo que a Escola Cuiabana propõe, a
partir deste documento, romper com a alienação, para produzir aprendizagens significativas e, sobretudo,
emancipatórias. Aprendizagens que instrumentalizem o campesinato que, ao discutirem a relação entre o
local e o global, possibilitem a reflexão-ação sobre/com/para o território do povo do campo. A constituição
de um currículo que garanta a formação integral de sujeitos e o modo de produção e reprodução das comu-
nidades camponesas, integrando conhecimentos científicos historicamente acumulados e conhecimentos
populares.
A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição cidadã, garante o direito à Educação a
todas as pessoas que nasceram em território brasileiro e àqueles que escolheram este país para viver. Além
dos direitos constitucionais, a Educação como direito humano deve ser assegurada enquanto sua caracte-
rística permanente, continuada, igualitária e global. Essa educação visa construir valores para o desenvol-
vimento pleno do cidadão e não apenas como forma de repassar conteúdos.
A atual LDBEN 9394/96, nos artigos 37 e 38, que dizem respeito à Educação de Jovens e Adultos (EJA),
incorporou a mudança conceitual originada desde o final dos anos 80. Soares (2002, p. 12, grifos do autor)
afirma que a mudança do termo Ensino Supletivo para Educação de Jovens e Adultos não é uma mera atu-
alização vocabular. “Houve um alargamento do conceito ao mudar a expressão de ensino para educação,
pois enquanto o termo ‘ensino’ se restringe à mera instrução, o termo ‘educação’ é muito mais amplo, com-
preendendo os diversos processos de formação”.
A Educação de Jovens e Adultos no município e Cuiabá é fruto de um processo histórico de lutas e cons-
truções coletivas, está fundamentada em conceitos teórico-práticos, a saber: o trabalho como princípio
educativo; a educação ao longo da vida; ciclos de desenvolvimento humano e educar para a cuiabania.
Nesta proposta, a EJA está voltada para a perspectiva da Educação Popular de Aprendizagem ao Longo
da Vida, que dialoga com a concepção de Ciclo de Formação Humana. Assim, sobressai a convicção de que
todos podem aprender e que o processo de aprendizagem tem início no nascimento e continua ao longo da
vida, passando pela escola, mas também incluindo as múltiplas vivências dos sujeitos. Portanto, em cada
ciclo de vida, o desenvolvimento e a aprendizagem têm as suas características próprias.
Com relação ao trabalho como princípio educativo, este é compreendido como a ação humana por meio da
qual o homem age e modifica o mundo e assim modifica a si mesmo, se humanizando. No que concerne à EJA, o
trabalho é uma dimensão fundamental do ciclo de vida adulta e, portanto, torna-se um componente indispen-
sável nesta modalidade, seja como estratégia de humanização, de organização do currículo ou como conteúdo.
Os termos jovens e adultos indicam que, em todas as épocas da vida, é possível se formar, desenvolver-
-se e constituir conhecimentos, habilidades, competências e valores que transcendam os espaços formais
de escolaridade e conduzam à realização de si e ao reconhecimento do outro. Neste sentido, configura-se
o sujeito da EJA, a pessoa com a faixa etária superior aos 15 de idade.
Acerca da definição etária que permeia o atendimento da modalidade em questão, explicita-se que as
pesquisas em juventude se têm estruturado entre diferentes intervalos de idades. Nesse sentido, Jorge
(…) por especificidades, problemas e características próprias que devem ser objecto de
atenção, de estudo e de intervenção política e social. É supor que “ser adulto” não é um es-
tádio estanque, mas algo que experimenta a mudança de acordo com o contexto histórico
e social em que se enquadra. (SOUSA, 2006, p. 3).
Destaca-se que, ao se referir a jovens e adultos da EJA, se remete à compreensão de que esses sujei-
tos compartilham de um determinado lugar social, excluídos dos processos regulares de escolarização e
muitas vezes fazem parte de grupos sociais heterogêneos, migrantes e imigrantes, provenientes de áreas
rurais e urbanas empobrecidas; pais com baixo nível de escolaridade; mercado de trabalho precarizado e
trajetórias escolares inexistentes ou com interrupções.
Ainda considerando o público da EJA, é preciso discutir o atendimento à população idosa, tanto em sa-
las de aulas, como também nos Centros de Convivência de Idosos (CCI). Conceitua-se essa etapa da vida,
conforme a Organizações das Nações Unidas (ONU), e a Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do
Idoso), que estabelecem como idosos os indivíduos acima de 60 anos de idade.
Assim, o município de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Educação, tem trabalhado para atin-
gir a Meta 9 do Plano Municipal de Educação (PME, 2015-2024) o qual define a erradicação do analfabe-
tismo, até 2023, sendo:
Apesar da universalização da Educação Básica e de garantias legais, o Brasil ainda continua exibindo um
grande número de analfabetos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) existia,
em 2012, aproximadamente 8,7% da população nessas condições. O município de Cuiabá, conforme dados
do IBGE 2010, tem 18.052 habitantes analfabetos, cerca de 4,5% da população. Pessoas que necessitam
retornar aos estudos ou que por falta de oportunidade ainda não o fizeram.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo registrou, nos
35 - Esse aumento da população analfabeta em Cuiabá se justifica em função das obras ocorridas por ocasião da Copa do Mundo 2014, que atraiu um
contingente muito grande de migrantes e imigrantes (Nordeste do Brasil e Haiti), em grande parte analfabeta e/ou com dificuldades com o aprendizado
da língua. Mais recentemente, um grande grupo de venezuelanos que também imigrou para o Brasil e Mato Grosso/Cuiabá, em função da grande crise
humanitária e política na Venezuela.
No Brasil, o discurso em favor da Educação Popular é antigo, precedeu inclusive a Proclamação da Re-
pública. Já em 1882, Rui Barbosa, baseado em exaustivo diagnóstico da realidade brasileira da época, de-
nunciava a vergonhosa precariedade do ensino para o povo no Brasil e apresentava propostas de multipli-
cação de escolas e de melhoria qualitativa da educação.
No regime militar, surgiu uma campanha de alfabetização de jovens e adultos, na tentativa de erradi-
car o analfabetismo, chamado Mobral, programa que tinha como foco o ato de ler e escrever, utilizando o
método silábico, com codificações, cartazes com famílias silábicas, quadros, fichas, porém não utilizava o
diálogo e não se preocupava com a formação crítica dos estudantes.
O ensino supletivo foi implantado pela LDB 5692/71, que destinou um capítulo específico para a EJA.
Em 1974, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) propôs a implantação dos Centros de Estudos Supleti-
vos (CES), que tinham influências tecnicistas devido à situação política do país naquele momento.
Em 1988, a Constituição Federal declara em seu artigo 205 que “A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Um dos expoentes na alfabetização de jovens e adultos é Paulo Freire. Sua proposta tem como objetivo
uma educação democrática e libertadora, ele parte da realidade e da vivência dos estudantes, construindo
a partir de um processo de reflexão-ação-reflexão a leitura da palavra e do mundo.
A LDBEN36 (1996) transforma a Educação de Jovens e Adultos em uma modalidade da Educação Básica,
nas etapas de Ensino Fundamental e Médio. De acordo com o art. 22 da mesma lei, “a Educação Básica tem
por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.
A Secretaria Municipal de Educação vem trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos, contemplando
a Declaração de Hamburgo (1997), quanto à organização dentro dos princípios da Educação ao Longo da
Vida, garantindo, por meio da Resolução nº 003/02/CME/CUIABÁ-MT, a oferta educacional formal e não
formal, destinada às pessoas com idade iguais ou superior a 15 anos para o ingresso em nível fundamental.
No final da década de 1980, foram criadas as primeiras turmas de EJA no campo no município de Cuiabá.
Atualmente, existem cinco Escolas do Campo que atendem a EJA, são elas: Udeney Gonçalves do Amorim,
na comunidade do Aguaçu; Penha de França, na comunidade de Coxipó do Ouro; Dr. Estevão Alves Cor-
reia, na Comunidade Rio dos Peixes; Nova Esperança, na Comunidade Nova Esperança; Herbert de Souza,
na Comunidade Rio dos Couros.
36 - A Educação de Jovens e Adultos é uma Modalidade de Educação Básica, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9394/96,
Lei Complementar n° 49/98 – MT e está regulamentada pelo Parecer n° 11/2000 CNE/CEB.
Em 2005, por meio da Diretoria de Política Educacional (DIPE), a SME passou a desenvolver o projeto de
alfabetização e de escolarização com os idosos que participavam das atividades nos Centro de Convivência
(CCI), conforme estabelecido pelo Planejamento Estratégico. Atualmente, essa escolarização ocorre por meio
de salas anexas nos seguintes centros: CCI Aidê Pereira do Nascimento - bairro Novo Horizonte; CCI Maria Ig-
nês Auad - bairro CPA III; CCI Padre Firmo - bairro Dom Aquino; e CCI João Guerreiro - bairro Altos do Coxipó.
Na área urbana, contempla oito unidades de Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) a saber: EMEB
Antônia Tita Maciel de Campos – bairro Jd. Florianópolis; EMEB Guilhermina Monteiro de Figueiredo – salas
anexas no bairro Pedregal; EMEB Jesus Criança, bairro Nova Esperança; EMEB Marechal Cândido Mariano
da Silva Rondon – bairro Alvorada; EMEB Maximiano Arcanjo da Cruz – bairro Santa Laura; EMEB Nossa Se-
nhora Aparecida – bairro Jd. Colorado; EMEB Pedrosa de Moraes e Silva; e EMEB Ranulpho Paes de Barros.
A garantia da oferta de matrícula na modalidade EJA, assim como de ações que visam à permanência e
conclusão da escolaridade, constitui ações que objetivam a efetivação das políticas públicas de Educação.
Quadro 8: Demonstrativo das Unidades Educacionais que atendem Jovens e Adultos na Rede Municipal de Cuiabá/2018
Pedrosa de Moraes Ed. Infantil (I e II), Ensino Fundamental (1º Ciclo) e EJA. Bairro Novo Paraíso
Nova Esperança Ed. Infantil, Ens. Fundamental (1º, 2º e 3º Ciclos) e EJA. Nova Esperança
A proposta de formação continuada para gestores e educadores que atuam na modalidade da EJA cons-
titui uma ação decorrente da implementação do Projeto de Formação da Secretaria Municipal de Edu-
cação de Cuiabá-MT. Na década de 90, a rede municipal vivia o momento de organização curricular por
meio do movimento “A escola toma a palavra”. Nessa ocasião a EJA estava também focada nos estudos e
consolidação metodológica do Tema Gerador.
Nos anos 2000, realizaram-se estudos e formações acerca do currículo da EJA, Etnomatemática, Lin-
guagem na perspectiva do letramento, Questão geracional com recorte acerca da juventude, Ciências
Sociais na perspectiva dos movimentos sociais. Estimulou-se também a formação em nível de gradua-
ção e pós-graduação para professores. De 2005 a 2016, o município, em parceria com o governo federal,
atendeu o Programa Unificado de Juventude (Projovem), que era visava ampliar o atendimento ao jovem
excluído da escola e da formação profissional.
Em 2008, a EJA pela primeira vez realizou um grande diagnóstico em nível municipal, estadual e na-
cional para compor o documento nacional preparatório à VI Conferência Internacional da Educação de
Adultos (VI Confintea/2009), que pela primeira vez ocorria na América Latina.
A EJA viveu nessa década grande efervescência formativa com grandes implementações em seu currículo:
Criação da Universidade Popular Comunitária com uma concepção de vanguarda para a Educação ao longo
da Vida (Elovida), Resolução CME 003/02, abertura e elaboração de proposta para o atendimento da EJA nos
Centros de Convivência de Idosos, abertura e construção de proposta para o atendimento da EJA no Sistema
Prisional, parceria com o IFMT para qualificação aos estudantes da EJA, atendimento e elaboração de pro-
posta para em parceria com o Ministério da Educação ofertar o Programa Brasil Alfabetizado, realização da Iª
Mostra Cultural da EJA, elaboração das matrizes curriculares para a EJA, entre outras. Todo esse movimento
culminou em 2010 na elaboração da Política Educacional e Diretrizes da Educação de Jovens e Adultos.
Quanto à concepção de Educação ao Longo da Vida, expressa como Elovida, esta era entendida de
modo amplo, não concebendo a EJA como uma modalidade a ser ofertada apenas aos estudantes do Ensi-
no Fundamental. Mas atuou também na oferta de Ensino Médio e Superior, o Ensino Técnico Profissiona-
lizante aos técnicos da SME e, posteriormente, por meio de convênio com a UFMT e Unemat, a formação
continuada de pós-graduação aos professores da Rede, sendo, de fato, uma oferta de Educação ao Longo
da Vida.
A Educação Básica compreende o primeiro nível do ensino escolar no Brasil, que vai desde a Educação
Infantil até o Ensino Médio. O termo básico já deixa claro que o estudante tem de adquirir, nesse período
de vida escolar, todos os Direitos de Aprendizagens para formar-se um cidadão pleno e para que possa
progredir em estudos de nível superior e/ou técnicos.
A EJA está inserida na Educação Básica e precisa se posicionar como modalidade responsável por ofe-
recer educação de qualidade, com a perspectiva de crescimento aos jovens e adultos que não conseguiram
ter acesso a esse direito na idade estabelecida para o ensino regular assegurando gratuidade inclusive em
cursos e exames.
A SME defende a Educação de Jovens e Adultos como direito humano ao longo da vida, que articula a
educação como um todo, independentemente da idade e do espaço, formal ou não formal. A educação e
a aprendizagem se dão ao longo da vida, isso significa afirmar que educação e aprendizagem não ocorrem
apenas nos espaços formais de aprendizagem, ou seja, elas ocorrem em todas as dimensões e profundi-
dades, voltam-se à participação, à cidadania e ao desenvolvimento local, economia solidária, afirmação
das identidades dos diferentes sujeitos e seus coletivos, desenvolvimento da autonomia, respeito e defe-
sa dos direitos humanos, à cultura, aos movimentos sociais, à educação ambiental, à educação integral e
inclusiva.
Segundo Singer (2005), a Economia Solidária é considerada como uma forma de produção alternativa.
Ela foi concebida como modo de produção que prioriza o trabalho coletivo dos meios sociais de produção,
a união de cooperativas e associações.
O conectivismo é uma abordagem cuja reconstrução teórica está fundamentada nas contribuições do
construtivismo. Sua premissa é de que a aprendizagem é construída a partir das ações e relações, tendo
como ponto de partida o uso das tecnologias e seu uso em rede e se efetiva no fluxo contínuo de busca,
ação, relação e movimento, em que não existem certezas absolutas.
Na definição de Anjos apud Siemens (2018, p. 7), rede consiste nas “conexões entre entidades, redes
de computadores, redes elétricas e redes sociais que funcionam pelo princípio de que pessoas, grupos,
sistemas, nós, entidades podem ser conectados para criar um todo integrado” [...] é definida como caos,
continuidade, cocriação, complexidade, especialização conectada e a convicção de que qualquer certeza
está em suspenso, pois cada dia reserva a possibilidade de revisão de tudo o que já se aprendeu ou de tudo
que é compreendido como conhecimento (ANJOS, 2018, p. 127).
O currículo da EJA pode utilizar-se das contribuições desta abordagem, pois trata-se de uma estratégia
que possibilita a participação intensa e ativa dos estudantes. Para o autor citado, a ênfase das metodolo-
gias ativas se institui no aprendizado ativo, isto é, no aprender fazendo, na cultura maker, aprender a partir
de projetos reais, problemas significativos, histórias de vida e jogos. Ou seja, por meio da utilização dessas
e outras estratégias, pode-se ressignificar a concepção de Círculos de Cultura na EJA.
Vale destacar que Círculos de Cultura é uma metodologia desenvolvida por Paulo Freire na década de 60,
que organizava os estudantes em círculo, no qual o educador se incluía. Esta organização espacial possibilita
uma distribuição de poder equitativa, todos se veem. Outra dimensão dos círculos de cultura foi a de articular
os conteúdos curriculares, inicialmente os processos de aquisição de leitura e escrita, com questões centrais
do quotidiano, como trabalho, cidadania, alimentação, saúde, etc., temas que integram cultura e sociedade.
As propostas curriculares para EJA não devem ser fechadas e nem prontas, elas devem garantir uma
Base Comum Nacional e uma parte diversificada, assim como para o Ensino Fundamental Regular. Mas o
Nesse sentido, o currículo da EJA deve contemplar as diferentes dimensões da formação humana,
que envolvem as relações e valores afetivos e cognitivos existentes no conhecimento social, político e
cultural. Torna-se relevante enfatizar que o trabalho com a EJA deve estar orientado à perspectiva da di-
versidade de estudantes, de cultura, de linguagem, de saberes, devendo incluir, invariavelmente, a ideia
de que os conteúdos contemplem análise e discussão das diversidades e das diferenças entre os sujeitos
educativos.
Em face dessas reflexões, o currículo da EJA deve estar pautado numa concepção freireana, em que a
leitura de vida dos estudantes e da comunidade em que estão inseridos passa por um processo de reflexão-
-ação-reflexão, ou seja, em um processo de construção e reconstrução contínua, fundamentada no caráter
inconcluso do ser humano, ou seja, o homem não nasce homem, ele se forma homem pela educação, por
isso educação é transformação.
Portanto, o currículo da EJA deve primar-se pelo desenvolvimento integral do estudante, contribuindo
para que jovens, adultos e idosos possam: ler, compreendendo o que estão lendo; escrever, estruturando
a mensagem que se deseja passar; compreender a evolução do mundo, por meio dos conhecimentos histó-
ricos, geográficos e artísticos.
Nesse sentido, Boaventura de Souza Santos (2003, p. 9) explicita:
O multiculturalismo valoriza essa diversidade cultural que, no passado, foi praticamente ignorada e ví-
tima de preconceitos e condenações tácitas. O multiculturalismo não pode, assim, ser entendido simples-
mente como a aceitação de todas as características das diferentes culturas, mas como a necessidade do
estabelecimento de critérios de avaliação das exigências fundamentais da pessoa humana.
Um outro aspecto nesta proposta é pensar o currículo numa perspectiva de Ciclos, pois, segundo Ar-
royo (1999), pensar no currículo com base no Ciclo de Desenvolvimento Humano, em temporalidade da
formação humana, ou em tentar organizar a escola, os conteúdos, os tempos e espaços, os rituais de ava-
liação, é uma forma de respeitar cada ciclo de vida dos estudantes para que a aprendizagem flua de forma
mais efetiva.
Pensar no processo de ensino e aprendizagem na EJA é pensar em uma ação dialógica, em que o estu-
dante, com o professor, construa um currículo que melhor atenda à sua própria dinâmica e à da comunida-
de. Nessa perspectiva, os estudantes da EJA devem ser vistos como sujeitos de seu ato de aprender. Logo,
a Educação está a serviço do processo de libertação da consciência ingênua do ser humano, proporcionan-
do-lhe uma nova consciência crítica e criativa.
Nesse processo educativo libertador, é necessário valorizar os saberes prévios que os estudantes ad-
quiriram ao longo de suas histórias de vida: a Educação para Jovens e Adultos possui um significado de inte-
ração estudante/educador, por meio da afetividade, respeito e conhecimento. Os estudantes são sujeitos
que trazem consigo uma bagagem de informações culturais, experiências, saberes, forma de interpretar a
realidade, suas histórias de vida e de luta, sendo a identidade cultural requisito básico para a aprendizagem
autônoma, independente e crítica do espaço que ocupa.
A EJA na Escola Cuiabana está fundamentada em Paulo Freire acerca da educação problematizadora,
a qual se baseia na indissociabilidade dos contextos e das histórias de vida na formação de sujeitos, que
ocorre por meio do diálogo e da relação entre estudantes e professores, tem como desafio, a partir das
múltiplas identidades, construir o sentimento de pertença a esta cidade, integrando educadores e estu-
dantes a partir da Cuiabania.
9.10 Educando para a diversidade
O público da EJA é formado por jovens, adultos e idosos, que muitas vezes estudam todos em uma mes-
ma classe. Essa diversidade de estudantes e gerações requer uma metodologia que consiga fazer uma dia-
logicidade, respeitando as diferenças, pois, segundo Carvalho (2002, p. 70), “pensar em respostas educa-
tivas da escola é pensar em sua responsabilidade para garantir o processo de aprendizagem para todos os
alunos, respeitando-os em suas múltiplas diferenças”.
Neste contexto, cabe ao professor reconhecer seu papel de mediador de aprendizagens, para todos os
estudantes, devendo ser esta mediação desprovida de preconceito, estigma e exclusão. É preciso refletir
sobre quem são os sujeitos da diversidade. Corroborando com Carvalho, Araújo (1998, p. 44) diz: [...] “a
escola precisa abandonar um modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os
diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os
conteúdos escolares quanto no das relações interpessoais”.
Por muito tempo, vários grupos sociais foram impedidos de ter o acesso à escola, porém hoje a grande
maioria desses grupos conseguiram conquistar seu espaço, mas ainda sofrem com preconceitos e discrimi-
nação. Desse modo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/1996) diz ser obrigatório:
Para garantir a diversidade cultural e considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
e Direitos Humanos, a respeito das diferenças, esta Proposta Curricular faz referência a algumas relações
que estão em discussão: a educação para as relações de gênero; a educação para a diversidade sexual
(orientação sexual e identidade de gênero); a educação e prevenção; a educação das relações étnico-ra-
ciais por meio da Lei 10.639/2003 e o Estatuto da Igualdade Racial- Lei 12.288/2010; e as modalidades de
ensino: a Educação Especial; a Educação Escolar Indígena - por meio da Lei 11.645/2008; a Educação do
Campo e a Educação Escolar Quilombola e a Educação de Jovens e Adultos. É fundamental que a escola
discuta as pluralidades, em todos os seus desdobramentos, como produto da ação humana e da cultura.
A EJA em sua propositura é uma modalidade inclusiva. Vale ressaltar que na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (1996) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos
(2000), é marcante o discurso para a inclusão de adultos no processo de escolarização como forma de res-
gatar o direito à educação, de ampliar as oportunidades educacionais e de exercer plenamente a cidadania.
A Educação Inclusiva é entendida como uma concepção de educação que envolve um pensar e fazer di-
ferente no sistema educacional. Seu objetivo é ofertar os saberes sistematizados e acumulados ao longo da
história da humanidade a todas as camadas sociais, propiciando aos sujeitos a autonomia de pensamento.
Outro elemento constitutivo dessa proposta é a diversidade presente em Cuiabá, pois entendemos
que a EJA é plena em sujeitos que se distinguem um dos outros: mulheres, homens, adolescentes, jovens,
adultos, idosos, pessoas com necessidades especiais, indígenas, afrodescendentes, imigrantes, jovens em
cumprimento de medida socioeducativa, entre outros. Essa diversidade deve dialogar entre si, na busca do
respeito mútuo e na compreensão de sua igualdade enquanto sujeitos de direitos.
Na sociedade atual a “desmaterialização” do trabalho exige, além da técnica, a “aptidão para as rela-
ções interpessoais” (DELORS, 2003, p. 95). Na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada
em Jomtien, na Tailândia, em 1990, com a intenção de possibilitar respostas ao conjunto das missões, a
educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida,
serão os pilares do conhecimento, a saber:
a) Aprender a conhecer
O conhecimento não vem de fora, é um processo de construção e reconstrução interior. Não está nos
livros, nos computadores, mas nas mentes das pessoas. A verdadeira aprendizagem é a construção
ativa de conhecimentos, realizada pelo sujeito que aprende. Logo, não há aprendizagem sem que o
aprendiz seja o sujeito ativo do processo e a aprendizagem será tanto maior e melhor quanto mais
ativo ele for. Assim, articula-se, interdisciplinarmente, a cultura geral, para que se trabalhe em pro-
fundidade os conhecimentos, o que se traduz em aprender a aprender ao longo da vida.
b) Aprender a fazer
Embora o Aprender a Ser e Aprender a Fazer sejam indissociáveis, torna-se necessário destacar que
o Aprender a Fazer não está limitado apenas à qualificação profissional, mas de uma maneira geral,
à construção de competências que abarquem aptidões para resolver situações, trabalhar em equipe,
entre outras. Aprender a fazer nas situações sociais e no âmbito do trabalho.
Faz parte da educação aprender a lidar com pessoas diferentes, tratar de assuntos relevantes, não
falar mal dos outros, não usar a força para resolver conflitos, demonstrar gentileza e sinceridade no
tratamento com os colegas e professores. É justamente na escola que os educandos aprendem as
regras básicas de convivência em sociedade. O que cada professor precisa fazer é abrir espaço, a fim
de que eles aprendam a conviver, se conheçam e se respeitem; desenvolvam a compreensão do outro
e a percepção das relações de interdependências. É mister a realização de projetos comuns, a fim de
desenvolver o aprendizado na gestão de conflitos, o respeito ao pluralismo e à cultura da paz.
Se o educando não estiver preparado para compreender que a educação deve em princípio mudar a
sua vida, o seu caráter, para depois servir aos outros, então ela falhou. Ela será apenas um instrumen-
to do egoísmo para dominar os outros. Assim, a Educação deve contribuir para o desenvolvimento
total da pessoa, espírito e corpo, inteligência, da autonomia, sensibilidade, sentido estético, responsa-
bilidade pessoal, espiritualidade. Todos os seres humanos devem ser preparados pela educação que
recebem para agir nas diferentes circunstâncias da vida, com autonomia, criticidade e personalidade
própria. Portanto, a Educação deve preparar as crianças e os jovens para possíveis descobertas por
meio da experimentação. Nesse sentido, a Educação não se apoia, exclusivamente, em uma fase da
vida ou em um único lugar. Os tempos e as áreas da educação devem ser repensados, a fim de com-
pletarem-se e interpenetrarem-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda a sua vida, possa
tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante ampliação.
A Educação Básica, como um direito, não faz restrição etária, desse modo, apoiado nos estudos da atu-
alidade, parte-se do pressuposto de pensar em uma organização curricular e metodológica significativa e
produtora de sentido, que considera as práticas sociais existentes.
Assim, o trabalho interdisciplinar é a busca de integração curricular, concretizada por meio da parceria
e do diálogo entre os docentes e entre estes e seus estudantes, buscando estabelecer as intenções e possi-
bilidades de interface entre as disciplinas. Em face dessas reflexões e em consonância com a Base Nacional
Comum Curricular/2018, propõe-se, ainda, o trabalho com competências e habilidades, tendo como prio-
ritárias as 10 competências gerais instituídas por meio da BNCC, a saber:
BNCC Competências
b) Habilidades: saber fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida. Assim, identificar
variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar,
julgar e correlacionar são exemplos de habilidades.
Com base na concepção de que todos podem aprender ao longo da vida, a Escola Cuiabana propõe uma
prática pedagógica que tenha como fundamento a relação da aprendizagem com os saberes do cotidiano
das pessoas de todas as idades, em todos os contextos da vida, por meio de ofertas educativas formais, não
formais e informais.
A Aprendizagem na EJA pode acontecer em diferentes espaços-tempos com maior ou menor complexi-
dade, dessa forma as estratégias político-didático-pedagógicas não prescindem em todos os momentos do
processo da presença do(a) educador(a) e dos estudantes, da interação, da troca e do diálogo, pela certeza
de que aprender exige uma ação coletiva, entre sujeitos com saberes variados, mediados pelas linguagens
e objetivando o conhecimento emancipador.
Nesse contexto, a proposta da EJA no município de Cuiabá está estruturada em dois ciclos, cada um com
duração de dois anos, a saber:
a) Ciclo de Alfabetização: corresponde aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Educação Básica.
b) Ciclo de Literacia: corresponde aos Anos Finais do Ensino Fundamental da Educação Básica.
Embora o período correspondente a cada ciclo seja de dois anos de duração, a proposta pedagógica
conta com o mecanismo legal da Classificação e da Reclassificação para posicionar ou reposicionar o estu-
dante em sua trajetória escolar, tendo como ponto de partida a avaliação dos conhecimentos adquiridos,
conforme a Resolução 01/2012/CME/Cuiabá.
Partindo dessas premissas, entende-se que a Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos é um proces-
so contínuo de aprendizagem, com diferentes níveis de proficiência, conforme apontado pela Unesco: a
aquisição e o desenvolvimento de habilidades de escrita e leitura ocorre antes, durante e após a educação
primária, dentro e fora da escola, e por meio de aprendizagem formal, não formal e informal, ao longo da
vida de uma pessoa (UNESCO, 2017, p.3).
Diante do exposto, torna-se relevante organizar a prática pedagógica considerando, também, a aborda-
gem da Literacia, aqui compreendida como: “a capacidade de colocar conhecimentos, habilidades, atitudes
e valores em ação, de forma efetiva, quando se lida com textos (escritos à mão, impressos ou digitais) em
um contexto de demandas em constante transformação” (UNESCO, 2017, p. 2).
Vale destacar, ainda, que o termo Literacia foi criado em Portugal, a partir do termo em inglês Literacy, que
em português brasileiro é denominado como Letramento. Desse modo, ambas as perspectivas teóricas estão
alinhadas e contextualizam a construção da aprendizagem em sua interface com as práticas sociais.
a) Ciclo de Alfabetização
A proposta aqui delineada tem como foco a adequação didático-pedagógica às características cogniti-
vas da população-alvo; respeito aos níveis do processo de alfabetização sem retrocesso na conquista da
leitura e da escrita; disponibilidade de um instrumento para caracterizar a competência de ler e escrever;
garantia de um núcleo comum de conhecimentos. Compreendendo que a alfabetização é uma outra ma-
neira de ler o mundo, envolve também outras áreas do conhecimento, como a alfabetização matemática,
alfabetização em mídias (redes sociais, informática, rádio, televisão, etc.), alfabetização musical, em ciên-
cias da natureza, em ciências humanas, etc.
Desta forma, as unidades devem propor atividades que contribuam para a construção do processo de
leitura e escrita se paralelamente ao acesso a outras áreas de conhecimento e ao mundo do trabalho e as
competências da vida adulta, ou seja, que favoreça a autonomia e o protagonismo dos estudantes da EJA,
sendo fundamental que esta perspectiva também esteja presente na formação dos educadores, tanto na
abordagem teórica quanto na construção de atividades práticas.
37 - Para ampliação de leituras sobre o tema: COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006; FERNANDES, Célia
Regina Delácio. Letramento literário no contexto escolar. In: GONÇALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra Santos (Orgs.). Nas trilhas do letramento:
entre teoria, prática e formação docente. Campinas, SP: Mercados de Letras; Dourados, MS: Editora da Universidade Federal da Grande Dourados,
2011. 321-348; PINHEIRO, Marta Passos. Letramento literário na escola: um estudo de práticas de leitura literária na formação da “comunidade de
leitores”. Tese (Doutorado), UFMG, 2006; SILVA, Antonieta Mirian de O.C.; SILVEIRA, Maria Inez Matozo. Leitura para fruição e letramento literário:
Desafios e possibilidades na formação de leitores In: VI EPAL. Anais... 2011.
38 - Para ampliação de leituras sobre o tema: D’AMBRÓSIO, Ubiratan. A relevância do projeto Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF
– como critério de avaliação da qualidade do ensino de Matemática. In: FONSECA, M. C. F. R. (Org.). Letramento no Brasil: habilidades Matemáticas.
São Paulo: Global, 2004. p. 31-46; DAVID, M. Manuela. M.S. Habilidades funcionais em Matemática e escolarização. In: FONSECA, M. C. F. R. (Org.).
Letramento no Brasil: habilidades Matemáticas. São Paulo: Global, 2004. p. 65-90; FONSECA, M. C. F. R. A educação Matemática e a ampliação das
demandas de leitura escrita da população brasileira. In: FONSECA, M. C. F. R. (Org.). Letramento no Brasil: habilidades Matemáticas. São Paulo: Global,
2004. p. 11-28; KNIJNIK, Gelsa. Algumas dimensões do alfabetismo matemático e suas implicações curriculares. In: FONSECA, M. C. F. R. (Org.).
Letramento no Brasil: habilidades Matemáticas. São Paulo: Global, 2004. p. 213-224.
39 - Para ampliação de leituras sobre o tema: CALLAI, H. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. In: Cad.
Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a06v2566.pdf; PIRES JÚNIOR, R.
Alfabetização Cartográfica: Algumas considerações sobre o uso do mapa nas séries iniciais do Primeiro Grau. In: Revista de Geografia, UERS, n.1, p.73-38
jan.1997; ROMANO, S. M. M. Alfabetização cartográfica: a construção do conceito de visão vertical e a formação de professores. In: CASTELLAR, S. (Org.).
Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2007; LASTÓRIA, A.C., MORAES, L. B. de; FERNANDES, S. A. S. de. Diálogos
sobre a Geografia Escolar e linguagem cartográfica. In: ASSOLINI, F. E. P.; LASTÓRIA, A. L. (Orgs.). Diferentes linguagens no contexto escolar: questões
conceituais e apontamentos metodológicos. Florianópolis-SC: Insular, 2013. p. 107-117; CASTELLAR, S. V. A cartografia e a construção do conhecimento
em contexto escolar. In: ALMEIDA, R. D. (Org.) Novos rumos da cartografia escolar: currículo, linguagem e tecnologia. São Paulo: Contexto, 2011.
[...] E o desafio é compreender o “eu” no mundo, considerando a sua complexidade atual. (...)
A referência teórica é buscada tanto na Geografia, – a qual considera que o espaço é social-
mente construído pelo trabalho e pelas formas de vida dos homens – como na Pedagogia – a
qual considera que a aprendizagem é social e acontece na interlocução dos sujeitos (estejam
eles presentes fisicamente, ocupando um espaço próximo, estejam eles distantes, mantendo
contatos virtuais, ou sob a hegemonia de determinada condução política, econômica).
O Ministério da Educação, por meio da Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9.394/96, propôs dispositivos
legais, que perpassam a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais e das Diretrizes Curriculares
40 - Para ampliação de leituras sobre o tema: SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social:
funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação, v. 12, 2007; Ministério da Ciência e Tecnologia. Livro Azul da 4ª Conferência Nacional de
Ciência e Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Brasília, 2010; ANELLI, Carol. Scientific
Literacy: What is it? Are we teaching it? And Does it matter? American Entomologist, 57, v. 4, 2011.
41 - Para ampliação de leituras sobre o tema: COSCARELLI, Carla; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas.
3. ed. Belo Horizonte: Ceale: Autêntica, 2011; BUZATO, M. E. K. Letramento digital: um lugar para pensar em internet, educação e oportunidades. In:
CONGRESSO IBERO-AMERICANO EDUCAREDE, 3, São Paulo, 2006. Anais... São Paulo: CENPEC, 2006. s/p; BUZATO, M. E. K. Cultura digital e
apropriação docente: apontamentos para uma educação 2.0. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 283-304, 2010.
O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio
dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou
constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a demo-
cratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus estudan-
tes o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.
Essa responsabilidade é tanto maior quanto menor for o grau de letramento das comunidades em que
vivem os estudantes. Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola promover
a sua ampliação de forma que, progressivamente, durante o Ensino Fundamental, cada estudante se torne
capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de
produzir textos eficazes nas mais variadas situações.
A escolarização das linguagens com base nesse pressuposto significa conscientizar os sujeitos do seu
“ser-pensar-fazer” e gerar um “fazer-saber”. O fazer baseado na reflexão é uma transformação que modi-
fica o sujeito, que passa do fazer imediato para um fazer informado, persuasivo e interpretativo. Ao reco-
nhecer as estruturas profundas das linguagens (as formas e os valores implícitos), ele poderá compreender
melhor as estruturas de superfície que se manifestam em textos, tornando-se capaz, se quiser, de manipu-
lá-las, aceitá-las, contestá-las e transformá-las.
A Língua Estrangeira na educação escolar insere-se como uma forma de linguagem diversificada de ex-
pressão e comunicação humana, para que ela seja bem entendida há que se considerar o desenvolvimento
das quatro habilidades: ouvir, ler, falar e escrever. A inserção da língua estrangeira no currículo da EJA tem
por finalidade levar o estudante a conhecer e usar as línguas estrangeiras modernas como instrumento de
O conhecimento matemático é necessário para todos os estudantes da EJA, seja por sua grande aplica-
ção no cotidiano, no desenvolvimento do raciocínio lógico, seja pelas suas potencialidades na formação de
cidadãos críticos. Visa à construção da cidadania e à constituição do aluno como sujeito da aprendizagem:
identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar o mundo à sua
volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimu-
la o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver
problemas. Prioriza-se o caráter prático – permite resolver problemas do cotidiano, ajudando a não serem
enganados e a exercerem sua cidadania. (MEC,2002).
Com as intensas transformações por que passa o mundo atual, além das fortes interferências das produções
científicas e tecnológicas, o ensino de Ciências da natureza tornou-se essencial para sistematizar informações e
disponibilizar parâmetros de conhecimentos científicos. A ciência e tecnologia vêm se desenvolvendo de forma
integrada com os modos de vida que as diversas sociedades humanas organizaram ao longo da história.
A essência do ideal humanista está pautada em uma sociedade mais solidária, com respeito às diversida-
des e a natureza, um compromisso com a sustentabilidade ambiental e cultural.
A abordagem das relações espaciais e o consequente desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal
no ensino de Ciências Humanas devem favorecer a compreensão, pelos estudantes, dos tempos sociais e
da natureza e de suas relações com os espaços. A exploração das noções de espaço e tempo deve se dar
por meio de diferentes linguagens, de forma a permitir que os educandos se tornem produtores e leitores
de mapas dos mais variados lugares vividos, concebidos e percebidos.
Embora o tempo, o espaço e o movimento sejam categorias básicas na área de Ciências Humanas, não
se pode deixar de valorizar também a crítica sistemática à ação humana, às relações sociais e de poder
e, especialmente, à produção de conhecimentos e saberes, frutos de diferentes circunstâncias históricas
e espaços geográficos. O ensino de Geografia e História, ao estimular os estudantes a desenvolver uma
melhor compreensão do mundo, não só favorece o desenvolvimento autônomo de cada indivíduo, como
também o torna apto a uma intervenção mais responsável no mundo em que vive.
Na perspectiva da Educação para a Cuiabania na área de Ciências Humanas, ela parte da realidade
local fortalecendo a identidade cultural do povo cuiabano, estabelecendo uma relação com a realidade
global.
A proposta pedagógica da EJA tem por base um currículo multicultural, em que o educando constrói
suas aprendizagens a partir da narrativa do seu ciclo de vida. Para construir a análise da narrativa, é pre-
ciso tecer algumas considerações capazes de legitimar a abordagem biográfica, a narrativa como método/
técnica de investigação/formação, como Souza (2007, p. 65-66) esclarece:
• Priorize os conteúdos que são do interesse dos estudantes, com temas da realidade, reti-
rados das preocupações com a vida;
• Escolha as atividades para investigar e pesquisar os assuntos relacionados e que respon-
dam ao tema;
• Organize os conteúdos a partir das situações vivenciadas pelos estudantes de modo a
desenvolver habilidades e competências;
• Trabalhe por meio do diálogo para possibilitar o desenvolvimento de reflexões sobre as
relações homem/mundo/sociedade;
• Garanta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Deste modo, cabe ao professor perceber os conteúdos das disciplinas não como fins em si mesmos, mas
como instrumentos culturais para que os educandos avancem em sua formação global.
Por se constituir uma etapa do planejamento de ensino, o trabalho com projetos costuma ser motivador
para os estudantes, pois eles sentem-se envolvidos com o processo de aprendizagem que extrapola o currículo
oficial, compreendem os problemas que investigam e participam do processo de planejamento da pesquisa que
de fato lhes façam sentido. O professor assume o papel de escuta e numa relação dialógica problematiza o pro-
cesso, a fim de ampliar a compreensão acerca do tema. O currículo está organizado tendo por base não apenas
as disciplinas, mas a partir da concepção de um currículo integrado que leve em conta os objetivos do processo.
b) Centro de Convivência de Idosos - CCI - Os CCI são espaços de atendimento a pessoas acima dos 60
anos, como rege o Estatuto do Idoso, mantidos pela Secretaria de Assistência Social e Desenvolvimento
Humano, que oferece a essas pessoas vários serviços de forma integrada com outros órgãos da adminis-
tração municipal, incluindo a Educação de Jovens e Adultos, ofertada pela SME.
c) Centros de EJA - Esta é uma possibilidade de ofertar a modalidade em um espaço específico para
adultos e, portanto, mais adequado, que poderá funcionar nos três turnos atendendo às diferentes deman-
das da modalidade. Integra educação e trabalho, podendo ofertar cursos profissionalizantes, exame de
certificação, atendimento aos migrantes, organização de grupos produtivos, informática, centro de mídias,
atividades culturais, entre outros.
Partindo do pressuposto de que a Educação de Jovens e Adultos tem como princípio o direito de apren-
der ao longo da vida e não apenas escolarizar, entendemos a avaliação da aprendizagem como um recurso
pedagógico imprescindível para auxiliar educador e educando na busca da construção de si mesmo e do
seu melhor modo de ser na vida.
Desta forma, entende-se que a avaliação da aprendizagem deva estar coerente com as concepções ado-
tadas nesta proposta. Assim, os estudantes da EJA trazem consigo vivências pessoais diversas e aprendem
de formas e tempos diferentes. Nesta perspectiva, o ato de avaliar implica acolhimento. Acolhimento em
EJA requer “tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou insatisfatória, agra-
dável ou desagradável, bonita ou feia (LUCKESI, 2018, p. 1). Acolhê-la como está é o ponto de partida para
se fazer qualquer coisa. Avaliar um educando, acolhê-lo, incluí-lo em sua inteireza, para a partir daí decidir
o que fazer, tendo como princípios a promoção e o desenvolvimento da aprendizagem.
Nesta perspectiva, a avaliação é concebida nas abordagens contínua e formativa. Por avaliação formati-
va, o educador está atento cotidianamente aos processos das aprendizagens. Segundo Santos (2011, p. 74),
“nesta concepção de avaliação, a progressão de todos os alunos passa a constituir-se num desafio perma-
nente, e assume caráter investigativo, diagnóstico, contínuo e processual, cuja maior preocupação é com a
aprendizagem dos alunos”. Enfim, envolve diagnóstico e orientação ao estudante, a fim de que ele realize
atividades que favoreçam suas aprendizagens.
Os profissionais que atuam no contexto da escolarização de jovens e adultos (EJA) precisam dialogar,
afinar concepções, construir identidade de grupo e vivenciar um processo de formação continuada, para
ressignificar sua forma de ver e atuar no contexto da EJA. Para isso é necessário que o profissional da Edu-
cação de Jovens e Adultos atenda aos seguintes requisitos (CUIABÁ, 2010, p. 31):
• Desenvolver prática docente voltada para uma ação didática pedagógica criativa e transformadora,
que contemple coletivamente a superação dos problemas vivenciados na modalidade;
• Sistematizar os conhecimentos, tomando como referencial o contexto da vida dos sujeitos na sua
relação com “seus mundos” e o mundo do trabalho;
Os profissionais que atuam nos CCIs, além das características acima descritas, devem apresentar alguns
requisitos específicos:
• Estudar e aprofundar as características desta fase do ciclo de vida adulta, de forma a desenvolver
uma ação pedagógica adequada a esta população.
Os estudantes dessa modalidade são jovens com faixa etária superior aos 15 anos de idade, adultos e
idosos que apresentam o seguinte perfil: foram excluídos dos processos regulares de escolarização marca-
dos por trajetórias escolares inexistentes ou com muitas interrupções; são pertencentes a grupos sociais
heterogêneos, migrantes e imigrantes, muitas vezes provenientes de áreas rurais e/ou urbanas empobre-
cidas; possuem histórico familiar de analfabetismo ou baixo nível de escolaridade; são trabalhadores que
atuam mercado de trabalho informal e/ou precarizado; acumularam ao longo da vida aprendizagens e ex-
periências que devem ser valorizadas; vivenciaram situações de discriminação, preconceito e outras vio-
lências que levaram esses estudantes a terem baixa estima.
Capítulo 10
42 - O termo manancial está sendo utilizado com o significado de nascente/fonte de abastecimento humano e de manutenção de suas atividades na
trajetória de vida. Com base na interpretação da Enciclopédia e Dicionário Koogan/Houaiss, 1998.
Inovação educacional
A Escola Cuiabana pretende instigar o desenvolvimento de uma proposta pedagógica que possa fazer
com que as unidades educacionais consigam visualizar o caminho da inovação e produzir conhecimento
a partir de sua própria experiência. Conforme Veiga (2003), introduzir inovação tem o sentido de pro-
vocar mudança no sistema educacional e, de certa forma, a palavra inovação vem associada à mudança,
reforma, novidade, porém o novo só adquire sentido a partir do momento em que entra em relação com
o já existente.
A inovação educacional na Escola Cuiabana, além de reconhecer e valorizar o trabalho desenvolvido pe-
las unidades educacionais, pretende contribuir para a disseminação das práticas exitosas no âmbito do
fazer pedagógico e da gestão escolar, geradoras de melhorias nos processos e resultados educacionais.
Enkantus
O Projeto Enkantus recebe este nome em alusão ao encantamento da cultura local, visa valorizar o brin-
car nas práticas curriculares, por meio do lúdico para as crianças da Educação Infantil. É direcionado para
a cultura cuiabana, articulando os conhecimentos históricos com a prática pedagógica, por meio de vi-
vências e narrativas. Oferece formação continuada para os profissionais da Educação Infantil, com foco
em estudo, discussão e vivências sobre a cultura cuiabana, tendo como temáticas: “Um olhar para a ciran-
da cuiabana; Um olhar para a cidade em que vivo; Um olhar para a história da Cuiabá rumo aos 300 anos”.
Em consonância com o Plano Municipal de Educação, com as metas 8 e 14: meta 14 - da universaliza-
ção do atendimento para crianças de 4 e 5 anos - ampliar o atendimento em tempo integral em 100% dos
Na Escola Cuiabana, a educação, a história e a cultura são consideradas áreas compartilhadas, campos
de interação e conexão. A memória se apresenta como aspecto relacionado a um dos pilares da educação,
O Museu da Educação de Cuiabá está em fase de instalação no prédio da 1ª Escola Pública Municipal,
denominada Escola Padre Agostinho Colli, inaugurada em 1969, desativada em 2013. Criado pelo De-
creto nº 6.682, de 17/08/2018, é o primeiro Museu da Educação do Estado de Mato Grosso e o quinto do
Brasil, voltado para a história e a memória da educação escolar. Demonstra o respeito à trajetória educa-
cional da população cuiabana na exaltação de valores e sentimentos como identidade e pertencimento.
Além disso, por meio de pesquisa documental, levantamentos e diagnósticos da história e cultura
cuiabanas, de recursos museográficos e de ações voltadas para incentivar as escolas a formarem co-
leções e montarem exposições com objetos da cultura local, o referido museu poderá colaborar na
consecução da Base Nacional Comum Curricular, no que se refere à parte diversificada do currículo.
O objetivo do projeto é ensinar história, de modo que o aluno se sinta parte dela e principalmente se
perceba como sujeito histórico e desenvolva mais facilmente habilidades como: analisar, compreen-
der, comparar, dentre outras extremamente importantes no estudo de história. Além de compreender
conceitos como cultura, ideologia, identidade, estruturas sociais e relações de poder da história local.
Apresenta diversas atividades envolvendo alunos e comunidade escolar, sensibilizando para o exer-
cício da cidadania. As principais ações do Projeto são realizadas por meio de modalidades em formato
de concursos: dança, desenho, vídeo culinário e city tour. Também, com a confraternização esportiva
Na Escola Cuiabana, destacam-se a educação e a sua gestão como responsáveis pela condução nas to-
madas de decisões sobre a formação humana de todos os cidadãos. Ressalta-se, ainda, a participação como
um dos elementos principais para a gestão democrática da educação. Para Demo (1996), participar é uma
forma de intervir na realidade, é um processo, não é dádiva, é conquista, é autopromoção, é um ato de fé
no outro. Assim, a condução democrática faz com que a educação se constitua como um dos instrumentos
de participação, como incubadora da cidadania, como processo formativo.
Escola de Gestores
O projeto visa realizar a formação continuada da equipe de gestores para que disponham, individual-
mente e como equipe de gestão, de referenciais conceituais e instrumentos para qualificar a gestão
democrática, sendo realizada na modalidade presencial e a distância. Possibilita acesso a sínteses te-
óricas sobre as implicações da gestão democrática das unidades escolares; propondo um referencial
de gestão democrática que organize a rotina escolar e relacione instrumentos de gestão para subsi-
diar a prática das equipes de gestão e criando condições, para que cada equipe gestora construa o
Programa de Gestão Democrática da unidade educacional.
A proposta teórica do projeto Escola de Gestores das Unidades Educacionais da Rede Municipal de
Ensino de Cuiabá toma como referencial Charlez Maguerez (Arco de Maguerez)43 aplicado a processos
formativos. Do ponto de vista metodológico, ao adotar o arco de Maguerez, pressupõem que cada gestor
compõe uma equipe de gestão que tem uma experiência concreta de gestão.
O Plano de Ações Articuladas (PAR) é uma ferramenta de planejamento estratégico da política edu-
cacional brasileira conduzida pelo Ministério de Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvol-
vimento da Educação assumido por esta Secretaria Municipal de Educação desde o ano de 2007,
por meio do termo assinado pela Prefeitura de Cuiabá denominado “compromisso todos pela educa-
ção”, que traz em linhas abrangentes 28 diretrizes para a melhoria do ensino nacional. O Decreto nº
6.094/2017, de 24 de abril de 2007:
Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso todos pela Educação pela
União Federal, em regime de colaboração com Município, Distrito Federal e Estado, e a par-
ticipação das famílias e da comunidade mediante programas e ações de assistência técnica
e financeira, visando à mobilização social pela melhora da qualidade da Educação Básica.
O PAR é, atualmente, requisito e parâmetro para a assistência técnica e financeira voluntária da União
às redes públicas de Educação Básica; quer dizer, a previsão é de que a assistência voluntária da União (em
contraposição à assistência legal e automática) seja direcionada às redes escolares públicas ou as escolas
com IDEB mais baixos e que se comprometeram com as metas do Plano de Metas.
Educação emocional
A Educação emocional tem sido um dos temas mais importantes do ano no debate educacional, prin-
cipalmente após entrar na lista de competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O projeto objetiva fomentar e divulgar as atividades científicas e culturais das unidades educacionais
da Rede Municipal de Ensino, incentivando estudantes e professores a elaborar e realizar projetos
que oportunizem a iniciação científica e o conhecimento artístico-cultural.
Como ação do projeto há formação com os coordenadores pedagógicos para subsidiá-los nos aportes
da alfabetização científica e suas características, pesquisas no contexto da cultura e tipos de traba-
lhos artísticos, alternativas para os trabalhos científicos e informações sobre o regulamento.
Culturas digitais
O projeto tem a finalidade de compartilhar metodologias para o processo de inovação nas salas de
aula que vão, por meio dos recursos tecnológicos, originando mais eficácia para os processos de
aprendizagem. Pensando na aplicabilidade dos recursos selecionados e na efetividade do conheci-
mento adquirido pelos profissionais, busca-se utilizar a metodologia de “Homologia de Processos”, ou
seja, se colocar no papel de aluno e experimentar modelos didáticos que proporcionem as mesmas
atitudes, capacidades e modos de aprendizagem esperados.
Consciência socioambiental
A diretoria de infraestrutura da SME possui duas frentes principais de trabalho representadas por cada
uma de suas coordenadorias: coordenadoria de manutenção, que trata dos problemas estruturais e de
manutenção predial nas unidades escolares da rede, em especial aqueles que necessitam de intervenções
imediatas; e coordenadoria de projetos, que trata da elaboração e implantação de novos projetos e do
acompanhamento das respectivas obras. Para os novos projetos que integrarão a Escola Cuiabana será de-
senvolvido o Plano de Ação para a Harmonização do Ambiente Escolar (Paramar), que envolve a adoção de
medidas destinadas a melhorar o ambiente escolar e dar suporte de apoio às prioridades escolares, auxi-
liando e apresentando propostas, com o objetivo de proporcionar revitalização ambiental para a qualidade
de vida e humanização do espaço físico escolar.
O programa define estratégias e linhas de orientação para o desenvolvimento de propostas e definições
efetivas de harmonização ambiental do espaço escolar.
A Prefeitura de Cuiabá, por intermédio da SME, lança o projeto Centro Educacional Infantil Cuiabano
(CEIC) que visa à ampliação da oferta de vagas para crianças de zero a 3 anos e 11 meses, para aten-
der à demanda reprimida do município nesta faixa etária.
Em sua primeira etapa será implantada em cinco unidades educacionais já existentes, instalando uma
sala rápida para acomodar 30 crianças, totalizando com esta ação a ampliação de 150 novas vagas,
que serão expandidas gradativamente com a criação de mais 1500 vagas até o ano de 2020. Havendo
alteração da nomenclatura para CEIC, seguindo-se do nome da unidade educacional contemplada
com este projeto arquitetônico específico e adequado para a execução da proposta pedagógica da
Climatizar é humanizar
Projeto promovido com o intuito de climatizar o máximo possível de salas de aula da rede. Entende-se
que as condições climáticas extremas que são sentidas em certas épocas do ano em Cuiabá podem
comprometer o aprendizado, fazendo com que a climatização das unidades seja de suma importância.
Escola 300
O projeto atende às unidades educacionais da rede municipal com serviços desde a limpeza de pátio
até a reconstrução de trechos de coberturas de blocos das unidades, a princípio, nas 96 comunidades
escolares contempladas com a iniciativa. São realizadas trocas de forro, reparos na acessibilidade,
renovação da pintura das salas e outros ajustes que já contribuem para uma pequena mudança no
ambiente estudantil, permitindo que o conhecimento seja propagado com maior segurança e confor-
to. Atua de maneira emergencial nas necessidades urgentes com vistas a oferecer condições dignas
de trabalho, com escolas que sejam bem equipadas, confortáveis e seguras.
Novas obras
No período entre 2017 e 2018 foram inauguradas várias unidades educacionais (CMEI Regina Pia,
CMEI Marília Ignês, CMEI Jonas Pinheiro), revitalizadas outras unidades (EMEB Francisval de Bri-
to), incluindo a instalação de painéis solares fotovoltaicos; realizadas reformas gerais (Creche Lelita
Lino, Creche Amália Curvo, EMEB José Torquato, EMEB Gracildes de Melo). Algumas obras estão em
andamento (EMEB Moacyr Gratidiano, EMEB Tereza Benguela, EMREB Herbert de Souza, EMEB
Octayde Jorge, Creche Mariana Fernandes, EMEB Irmã Maria Betty) e outras unidades estão sendo
construídas (CMEI Recanto do sol, CMEI CPA III, EMREB Herbert de Souza), reconstrução da EMEB
Elza Luiza e construção do novo prédio da EMREB Nossa Sra. da Penha de França. Em 2019, há pre-
visão para o início de outras obras.
Objetivo
Elaborar/construir conjuntamente um documento orientador/norteador para o aperfeiçoamento das
políticas de formação continuada de professores e demais profissionais da Rede Municipal de Cuiabá.
Justificativa
O extenso conjunto de evidências da literatura nacional e internacional voltadas para a formação continu-
ada de professores aponta que ações de formação continuada podem, desde que focadas na busca pela me-
lhoria da prática pedagógica, contribuir significativamente para a melhoria da aprendizagem dos estudantes.
Assim sendo, a elaboração da Política de Educação Municipal denominada Escola Cuiabana – cultura,
tempos de vida, direitos de aprendizagem e inclusão apresenta-se como uma oportunidade ímpar para a im-
plementação de uma política de formação que promova o aprimoramento da atuação dos professores em
sala de aula com vistas a impactar positivamente o processo educativo de crianças, adolescentes, jovens,
adultos e idosos cuiabanos.
Organização do trabalho
O trabalho de análise das formações realizadas ao longo dos últimos anos na Rede de Cuiabá resultou na
necessidade de organizar as ações em eixos. Diante disso, elencamos os eixos a serem apresentados para
a política de formação continuada.
Eixo 2 - Diagnóstico
Com vistas à criação de uma política de formação continuada de professores de modo a assegurar a
implementação do PME, a Política Educacional e a melhoria da prática pedagógica, a SME deve realizar um
consistente diagnóstico de contexto.
Eixo 3 – Metodologia
Uma política de formação continuada de professores deve ter como pilar estruturante o desenho metodo-
lógico das ações que compõem seu(s) programa(s) que, entre outros aspectos, indicam as estratégias para se
alcançar os objetivos definidos. Considerando o objetivo de aprimorar a prática pedagógica a partir da imple-
mentação da Política municipal, o desenho metodológico da política de formação da SME deve considerar:
Profuncionário
Promove a formação profissional técnica de nível médio, a distância, para profissionais da educação que
atuam em áreas de apoio às atividades pedagógicas e administrativas nas escolas públicas de Educação
Básica, dando-lhes condições para um entendimento da educação e da escola como espaços coletivos
de formação humana, de diversidade étnico-cultural, bem como do desenvolvimento de competências
para atuar numa habilitação específica, sem perder a noção da totalidade da função social da educação.
Cuiabá será uma das poucas capitais brasileiras onde o profissional terá o seu tempo disponível valori-
zado. A partir da aprovação do novo PCCS, passará a trabalhar 23 horas, sendo 16 delas em sala de aula
e sete dedicadas à formação. Em relação aos técnicos de nível médio com formação superior, passarão a
receber salários correspondentes aos de nível superior, além de outros benefícios, que vão garantir aos
profissionais ganhos reais com investimentos de mais de R$ 150 milhões nos próximos cinco anos.
Houve aumento de 34,09% nos contratos e 8,51% no quadro dos servidores efetivos, conforme mostra
a tabela abaixo:
Cargos
Local TMIE TMIE TMIE Total
TDI TNE TNS TAE TMD Professor
ASG Vigilante Motorista
Sede SME 3 32 78 33 22 45 16 23 23 275
EMEB 2 539 385 0 327 1 102 105 1565 3026
EMEBC 17 31 0 17 0 2 5 108 180
CEEI 144 75 106 0 91 0 11 3 75 505
Creche 658 195 196 0 144 0 0 0 5 1.198
Total 807 858 796 33 601 46 131 136 1.776 5.184
Fonte: SME /DGAF/DRH/CGP (2018).
O projeto oportuniza vivência artístico-cultural por meio da prática coral como atividade de intera-
ção e socialização no ambiente de trabalho; promove a difusão cultural no âmbito do trabalho; aquisi-
ção de saberes que permitem sentido apreciativo estético pela vivência na prática coletiva e fomenta
conceito de cultura vocal/respiratória, que privilegia a saúde vocal e um bom desempenho da voz.
O nome “Educanto” faz referência à educação por meio do canto, tendo como prioridade o atendimento
aos servidores que se encontram em tratamento médico, afastados de suas atividades profissionais e
aos que estão em readaptação de função e aberto para os servidores que estão atuando na sede da SME.
A rede de alimentação escolar da Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Educação
(SME), baseada no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), na Lei nº 12.982/2014, e na pro-
posta humanizada da administração, oferece cardápio diferenciado de qualidade e totalmente saudável
aos alunos com necessidades específicas de alimentação.
São realizadas orientações às equipes gestoras escolares para divulgar e conscientizar todos os envol-
vidos (pais ou responsáveis, alunos, comunidade e coordenadoria escolar) sobre o direito à alimentação
diferenciada.
Para se ter acesso ao atendimento especial na alimentação escolar, o primeiro passo é o preenchimento
de formulário específico no período de matrícula, contendo informações sobre a patologia do aluno, se
possui ou não necessidade de restrições alimentares, se possuir, terá que apresentar o laudo médico.
A unidade educacional encaminha o laudo à coordenadoria de Nutrição Escolar para a equipe de Nu-
trição e de Gastronomia elaborarem e desenvolverem cardápio especificamente voltado às necessidades
daquele aluno.
Cardápio diferenciado
São cerca de 160 mil refeições diárias servidas no sistema de Educação do município, sendo pouco mais
de 700 de cardápio diferenciado, todas com o apoio das equipes de Nutrição e de Gastronomia.
A equipe de Nutrição e de Gastronomia prepara, conforme suas respectivas áreas de atuação, os car-
dápios de acordo com os valores nutricionais necessários para cada criança, além de realizar capacitação
contínua, todos os anos letivos, para os Técnicos de Nutrição Escolar (TNEs). Os profissionais realizam fis-
calização nas unidades educacionais para verificar o controle de estoque e as condições gerais de preparo
dos alimentos.
Em 2001 a Secretaria Municipal de Educação criou um projeto idealizando uma biblioteca no centro de
Cuiabá, o qual deu vida à Biblioteca “Saber com Sabor” Clóvis Cardozo. Ao perceber a grande aceitação do
espaço pela comunidade, houve a necessidade da ampliação do projeto para sete unidades nos bairros de
Cuiabá e um itinerante (ônibus).
Bibliotecas Comunitárias
Biblioteca “Saber com Sabor” Clóvis Cardozo - inaugurada em dezembro de 2001. Acervo de aproxima-
damente 15.000 exemplares, entre livros, revistas, gibis, espaço infantil e acesso à internet. Atendimento
de segunda a sexta, das 8h às 18h, e finais de semana, das 8h às 19h. Telefone: (65) 3313-3045. Rua 24 de
Outubro, s/n – Centro. Cuiabá-MT.
Biblioteca “Saber com Sabor” Idalina Rosa da Silva - Santa Isabel - inaugurada em 30 de julho de 2003.
Acervo de aproximadamente 11.500 exemplares, entre livros, gibis, revistas, espaço infantil e acesso à
internet. Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 18h. Telefone: (65) 3313-3070. Rua Allan Kardec, 359.
Biblioteca “Saber com Sabor” Dona Canuta Pedregal - inaugurada em dezembro de 2004. Acervo de apro-
ximadamente 15.500 exemplares, entre livros, revistas, gibis, espaço infantil e acesso à internet. Atendimen-
to de segunda a sexta, das 8h às 19h. Telefone: (65) 3616-6850. Rua Maranguape, s/n Pedregal. Cuiabá-MT.
Biblioteca “Saber com Sabor” Pedra 90 - inaugurada em setembro de 2004 e reinaugurada em 26 de
fevereiro de 2005. Acervo de 7.300 exemplares, entre livros, revistas, espaço infantil e acesso à internet.
Atendimento de segunda a sexta, das 7h às 11h, das 13h às 17h. Telefone: (65) 3617-1954. Avenida Princi-
pal, s/n – Pedra 90. Cuiabá-MT.
Biblioteca “Saber com Sabor” Nilma Luiza da S. Branca - Osmar Cabral - inaugurada em 7 de abril de
2006. Com acervo de 10.600 exemplares, entre livros, revistas, gibis, acesso à internet e espaço infantil.
Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 18h. Telefone: (65) 3665-2785. Quadra 14, Lote 36, nº 08 –
Osmar Cabral. Cuiabá-MT.
Biblioteca “Saber com Sabor” Davidson da Costa - Cidade Verde - inaugurada em 1 de dezembro de
2006. Acervo de aproximadamente 8.200 exemplares, entre livros, revistas, gibis, espaço infantil e acesso
Pontos de leitura
Ponto de Leitura - Saguão da Prefeitura de Cuiabá - inaugurado em 2012. Atendimento à comunidade
cuiabana em geral.
Ponto de Leitura - Aguaçu Kiosque de Leitura, na Praça do Distrito, com número aproximado de habi-
tantes beneficiados: 3.800.
Ponto de Leitura: “Mais Saberes” Biblioteca Consciente/SME - no saguão/espaço longe, no máximo duas
prateleiras e dois jogos de mesas com quatro cadeiras para acesso dos funcionários e visitantes. Contare-
mos com aproximadamente dois mil exemplares de livros, gibis, revistas e outros materiais.
Biblioteca escolar: 32 unidades educacionais possuem bibliotecas, conforme determina a Lei
12.244/2010; 47 unidades possuem espaço físico para organização do acervo.
Em cumprimento à Lei 12.244/05/2010, em nível municipal, a SME tem trabalhado para garantir a or-
ganização e funcionamento das bibliotecas escolares, realizando o mapeamento das escolas, quanto à es-
trutura física, mobiliário e acervo.
A SME, desde 2017, vem desenvolvendo no Sistema Sigeduca o módulo gerenciador de Bibliotecas (em
rede) para agilizar os serviços biblioteconômicos nas bibliotecas escolares para integrar, coordenar e fo-
mentar o desenvolvimento dos serviços bibliotecários de modo que se amplie sua abrangência e se apri-
more o seu funcionamento, no que se refere a sua estrutura organizacional.
Ações e objetivo
A biblioteca serve para apoiar, incrementar e fortalecer o projeto pedagógico de escolas, valori-
zando a literatura em seu cotidiano, visando propiciar condições para que o educador faça o uso
coletivo do texto escrito, de modo que desenvolva e promova, entre seus alunos, o domínio crítico
da linguagem.
Tabela 3 – Brasil: Percentual do Investimento Total em Relação ao PIB por Nível de Ensino
Como se observa na tabela, de acordo com o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), os gastos totais em educação44 como percentual do PIB correspondem a 6,2% em todos os
níveis de ensino em 2015. Para alcançar os 10% do PIB investidos em educação, como aprovado no PNE
2014-2024, o esforço da federação, em conjunto com seus entes político-administrativos, foi pactuado no
alinhamento entre os Planos nacional, estaduais e municipais.
O Plano Nacional da Educação (PNE) estabelece 20 metas e 254 estratégias. A meta com o maior núme-
ro de estratégias é a meta 7, com 36 estratégias, e diz respeito à qualidade da Educação Básica represen-
tada pelo IDEB. Esse plano, diferentemente do anterior, prevê ampliação de recursos financeiros a serem
destinados à educação para os próximos 10 anos para alcançar as metas previstas no período de 2014-
2024.
44 - Os indicadores brasileiros de investimentos Públicos em Educação fornecem informações de cunho orçamentário e financeiro sobre a aplicação de
recursos públicos em todos os níveis de ensino. Os índices financeiros educacionais, como o percentual do investimento em Educação em relação ao Produto
Interno Bruto (PIB), o percentual do investimento em educação em relação ao Gasto Público Social (GPS), o percentual do investimento em educação
por aluno em relação ao PIB per capita e o investimento por aluno, são desagregados por níveis de ensino. Os indicadores de Investimentos Públicos em
Educação têm como fonte estudos e pesquisas elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria
com a Subsecretaria de Planejamento e Orçamento (SPO) do Ministério de Educação (MEC), com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) e com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Fonte: BRASIL/INEP/MEC (2019).
A apropriação de recursos pela Educação de Jovens e Adultos por meio do §1º observará o limite de até
15% dos recursos dos Fundos de cada Estado e do Distrito Federal.
Há uma variação no gasto por aluno-ano devido à capacidade fiscal de cada município, que aponta va-
riação no valor gasto por aluno-ano para garantir a manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE), visto
que, além dos 20% do Fundeb, o município é obrigado a investir 5% da sua receita própria de impostos
para cumprir o dispositivo legal de aplicar o percentual de aplicação das receitas de impostos e transferên-
cias vinculadas à educação mínimo de 25% para estados, DF e municípios. O município de Cuiabá aplicou
25,06% em 2017, sendo investidos R$ 5.406,06 por aluno da Educação Infantil-creche; R$ 5.570,66 por
aluno da Educação Infantil-pré-escola; R$ 7.245,75 por aluno do Ensino Fundamental; R$ 6.470,49 por
aluno da Educação de Jovens e Adultos; R$ 5.698,58 em despesa com professores por aluno na Educação
Básica; R$ 4.108,36 por aluno da Educação Especial, entre outras subfunções educacionais e despesas
liquidadas em um total da função educação de R$ 407.963.874,20 no período anual do demonstrativo ao
exercício de 2017 (SIOPE/FNDE).
O governo federal repassa, a estados, municípios e escolas federais, valores financeiros de caráter
suplementar efetuados em 10 parcelas mensais (de fevereiro a novembro) para a cobertura de 200 dias
letivos, por meio de programas específicos para atender alunos, conforme o número de matriculados
em cada rede de ensino, com base no Censo Escolar realizado no ano anterior ao do atendimento, que,
conforme a Resolução nº 6, de 27 de fevereiro de 2018, os repasses dos recursos dar-se-ão em duas
parcelas anuais, devendo o pagamento da primeira parcela ser efetivado até 30 de abril e o da segunda
parcela até 30 de setembro de cada exercício às unidades executoras próprias, entidades executoras e
entidades mantenedoras que cumprirem as exigências de atualização cadastral até a data de efetivação
dos pagamentos.
O programa engloba várias ações que possuem finalidades e públicos-alvo específicos, embora a trans-
ferência e gestão dos recursos sigam os mesmos moldes operacionais do PDDE. Os recursos devem ser
aplicados para melhoria da infraestrutura física e pedagógica, reforço da gestão escolar e elevação dos
índices de desempenho da Educação Básica. As ações agregadas estão agrupadas em três tipos de contas,
da seguinte forma:
Na SME, os repasses municipais às unidades educacionais são encaminhados após a regularização dos
documentos do Conselho Deliberativo, considerando os Programas do FNDE.
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