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SOBRE MOVIMENTOS E ENCONTROS

CINEMA COMO HABITAT DO DESLOCAMENTO

Gabriel Ramos
Professor Assistente de Arquitetura e Urbanismo -
Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais
Aplicadas / Universidade Federal de Goiás /
Doutorando em Arquitetura e Urbanismo - IAU-USP
Diego Brasil
Professor Assistente de Arquitetura e Urbanismo -
Centro de Ensino Faculdade Nossa Cidade /
Faculdade Estácio Carapicuíba-SP / Coordenador do
Curso de Arquitetura da Estácio Santo Amaro (São
Paulo)
DOS ENCONTROS EM DESLOCAMENTO
Entre Nós
(Caetano Salerno, 2018, 7’34’’)
Na narrativa apresentada, embora fixos
às telas, os olhos de Gael emergem
distantes daquele território que habita.
Seu corpo, aparentemente ricocheteado
pela velocidade dos deslocamentos,
parece sobrevoar ausente os espaços,
sobretudo, quando é interpelado por
outros personagens que aparecem ao
longo do filme. Quando isso ocorre, Gael,
com os olhos fixos no que não se
enxerga, profere palavras
incompreensíveis.

Figura 1. Frame de "Entre Sós" (2018), a partir da caminhada urbana do protagonista. Fonte: acervo próprio.
Esta cena é uma convocação ao
espectador a penetrar, ainda mais
claramente, no universo de Gael. A
solidão do olhar de quem se deslocou e
chegou numa grande cidade,
geralmente, por conta de alguma
oportunidade de estudo ou trabalho, fica
estampada no semblante de Gael. Ele
passa os olhos pelas telas como quem vê,
mas não enxerga.

Figura 2. Frame de "Entre Sós" (2018), com detalhe para o olhar de Gael, fixo em um horizonte outro. Fonte:
acervo próprio.
A segunda interpelação que recebe é
dentro de um supermercado, ao escolher
um produto de limpeza e uma senhora
lhe sugerir que pegue outro que não
deixe manchas embaixo dos braços. Ao
insistir no diálogo, de novo, o filme
afirma sua argumentação e coloca Gael
em tensão.

Figura 3. Frame de "Entre Sós" (2018), com detalhe para o olhar de Gael, fixo na prateleira. Fonte: acervo
próprio.
O ESTRANGEIRO E A (DES)TERRITORIALIZAÇÃO
desterritorialização...
“(...) construímos um conceito de que gosto muito,
o de desterritorialização. (...) precisamos às vezes
inventar uma palavra bárbara para dar conta de
uma noção com pretensão nova. A noção com
pretensão nova é que não há território sem um
vetor de saída do território, e não há saída do
território, ou seja, desterritorialização, sem, ao
mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar
em outra parte” (DELEUZE, 1996, s/p).
estrangeiro...
A figura do "estrangeiro" foi trabalhada na obra de
George Simmel (1858/1983d), no contexto das
transformações grandes e velozes advindas nas
cidades modernas, e sua construção como uma
figura anônima multitudinária. Embora longínqua, a
pista deixada por Simmel nos auxilia com a
característica fundamental deste sujeito: a
mobilidade. "Se a mobilidade se introduz num
grupo fechado, ela arrasta com ela essa síntese da
proximidade e da distância que constitui a posição
formal do estrangeiro" (SIMMEL, 1983d, p.55).
entre o “não” e o “preferiria não”...
Gael é quase Baterbly, o escrivão, personagem de
Herman Melville (2005) que, quando interpelado a
fazer alguma tarefa de trabalho responde:
"preferiria não" (I would prefer not to). Baterbly não
pode dizer não ao trabalho, mas pode dizer que
preferiria não fazê-lo. Demarca seu posicionamento
dentro da própria estrutura de trabalho. Gael
prefere dizer, mas para fazê-lo, será da forma como
ele deseja. Gael é um estrangeiro que quer falar o
ininteligível. E, ao final, ao encontrar quem se
manifesta como ele, ativa seu pertencimento
àquela linguagem. Há, sobretudo, uma dimensão do
campo da identificação a partir da cena final: trata-
se da linguagem que conecta os "entre sós".
MOVIMENTO E DESTERRITORIALIZAÇÃO:
UMA IDEIA EM CINEMA
uma ideia em cinema...
“A pergunta então é essa: esses pequenos
fragmentos de espaço visual cuja conexão não é
dada previamente são conectados por meio de
quê? Pela mão. Não se trata de teoria nem de
filosofia. Não é um processo dedutivo. O que quero
dizer é que o espaço de Bresson é a valorização
cinematográfica da mão no seio da imagem. A
junção de pequenos trechos de espaço bressoniano
pelo fato mesmo de serem trechos, pedaços
desconexos do espaço, pode ser exclusivamente
uma junção manual. Daí a exaustão da mão em
todo o seu cinema” (DELEUZE, 1999, p.4).
Se pensarmos na operação cinematográfica sobre
os movimentos das vidas dos personagens,
resgatamos uma outra narrativa fílmica que
mostra como a interrupção no curso de vida de
um personagem estrangeiro também causa
processos de des/reterritorialização. Trata-se do
famoso Viktor Navorski, protagonizado por Tom
Hanks, em "O Terminal" (Steven Spielberg, 2004).
Natural da fictícia “Krakozhia”, Navorski viaja de
avião de seu país para Nova Iorque em busca de
um autógrafo de um famoso músico de jazz.

Figura 4. Frame de "O Terminal" (2004), com detalhe para o olhar de choro de Navorski com a
descoberta que seu país está em guerra. Fonte: TV Globo/Google Imagens.
É a partir de uma leitura da predominância da
velocidade que podemos tornar à mostra a
fragilização dos encontros urbanos tão claramente
expostos em "Entre Sós" (2018), já que o
“estreitamento das distâncias se transformou
numa realidade estratégica com consequências
econômicas e políticas incalculáveis” (VIRILIO,
1996, p.123). Em boa medida, vivemos em uma
época de valorização do presente, simultâneo,
ubíquo, “tempo real”, atualizada em cliques,
curtidas, compartilhamentos; em técnicas de
Figura 5. Frame de "O Terminal" (2004), com detalhe para o olhar perdido de Navorski em meio à vigilância, controle, transparência; em
velocidade dos sujeitos. Fonte: TV Globo/Google Imagens.
movimentos ininterruptos e retroalimentados.
Agradecemos!
REFERÊNCIAS
AUGÉ, M. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP:
Papirus, 1994.
DELEUZE, G. A Imagem-Movimento (Cinema 1). São Paulo: Brasiliense, 1985.
______. O ato de criação. Palestra proferida em Paris em 1987, transcrita e publicada em Folha
de São Paulo, 27 jun 1999, Caderno Mais!, p. 4-5.
______. Abecedário. Disponível em:
<stoa.usp.br/prodsubjeduc/files/262/1015/Abecedario+G.+Deleuze.pdf>. Acesso em: 15
janeiro 2007.
______. A Imagem-Tempo (Cinema 2). São Paulo: Brasiliense, 1984.
______. Diferença e repetição. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. Roberto Machado. 2. ed. São
Paulo: Graal, 2006. 437 p.
HARVEY, D. The limits to capital. Nova York: Verso. 2006[1982].
KOOLHAAS, R. A cidade genérica. In: Três textos sobre a cidade. São Paulo: Editora G. Gili,
2014.
MELVILLE, H. Bartleby, o escrivão. Uma história de Wall Street. São Paulo: Cosac & Naif,
2005.
SANTOS, M. O tempo nas cidades. São Paulo: Ciência e cultura, 56, 2, abril-maio 2004, p.21-22.
SIMMEL, G., 1983d. O estrangeiro. In: MORAES FILHO, E. (org.). Georg Simmel. pp. 182-188.
São Paulo: Ática.
VIRILIO, P. Espaço crítico. São Paulo: Editora 34, 1999.
______. Velocidade e Política. São Paulo, Estação da Liberdade, 1996.

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