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Relações econômicas

internacionais

Emerson Guzzi Zuan Esteves


Andréia Moreira da Fonseca Boechat
Ademir Cavalheiro Leite
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
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Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Esteves, Emerson Guzzi Zuan


E79r Relações econômicas internacionais / Emerson Guzzi
Zuan Esteves, Andréia Moreira da Fonseca Boechat, Ademir
Cavalheiro Leite. – Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2017.
152 p.

ISBN 978-85-8482-980-4

1. Comércio internacional. 2. Relações econômicas


internacionais. I. Boechat, Andréia Moreira da Fonseca. II.
Leite, Ademir Cavalheiro. III. Título.
CDD 337

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Teorias do comércio internacional 7

Seção 1 - As vantagens comparativas 10


1.1 | Teorias das vantagens comparativas 11
1.2 | Teoria das vantagens comparativas ou relativas, segundo David
Ricardo (1820) 12

Seção 2 - O modelo de fatores específicos 18


2.1 | Hipóteses do modelo de fatores específicos 19
2.1.1 | O modelo estrutural de fatores específicos 21
2.1.2 | Teoria da indústria infante 25

Seção 3 - O modelo de Heckscher-Ohlin 26


3.1 | O modelo de produção simples de H-O 27

Seção 4 - O modelo geral do comércio 31


4.1 | Possibilidades de produção e oferta relativa 32
4.2 | Preços relativos e demanda 34
4.3 | Determinação do equilíbrio mundial 36
4.4 | Efeitos dos termos de troca sobre o bem-estar 36
4.4.1 | Crescimento econômico e deslocamento da RS 36
4.4.2 | Transferências internacionais de renda e deslocamento da RD 38

Unidade 2 | Economia política do comércio internacional 45

Seção 1 - Características básicas do comércio internacional 48


1.1 | Evolução histórica do comércio internacional 48
1.2 | Conceito das vantagens comparativas 50
1.3 | Custo de produção: fator determinante na política do valor de troca 50
1.4 | Diversificação da produção 51
1.5 | Características básicas do comércio internacional 51

Seção 2 - O livre-comércio 55
2.1 | Significado de livre-comércio 55
2.2 | Equilíbrio do comércio mundial 55
2.3 | Principais zonas de livre-comércio 57
2.4 | Protecionismo 59
2.5 | Desvantagens do protecionismo 59

Seção 3 - A Política cambial 61


3.1 | Conceito de câmbio 61
3.2 | Moedas conversíveis e moedas inconversíveis 62
3.3 | Conceito de crédito 64
3.4 | Política de câmbio livre 64
3.5 | Política de câmbio controlado 65
3.6 | Monopólio de câmbio 65
3.7 | Participantes do mercado cambial 65
3.8 | Câmbio fixo e câmbio flutuante 66

Seção 4 - Organizações internacionais 68


4.1 | Conceito de organismos internacionais 68
4.2 | O Fundo Monetário Internacional (FMI) 69
4.3 | O Banco Mundial 69
4.4 | Organização das Nações Unidas (ONU) 70
4.5 | Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 71
4.6 | Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) 71
4.7 | Organização Mundial da Saúde (OMS) 72
4.8 | Organização Internacional do Trabalho (OIT) 72
4.9 | Organização dos Estados Americanos (OEA) 72
4.10 | World Trade Organization ou Organização Mundial do Comércio 72

Unidade 3 | O sistema monetário internacional 79

Seção 1 - Restauração da conversibilidade: dólar; moeda japonesa;


euromercado 82
1.1 | O padrão-ouro clássico 82
1.2 | Arranjos no entre guerras 87
1.3 | Sistema de Bretton Woods 89
1.4 | Arranjos pós-Bretton Woods 94
1.5 | Câmaras de conversão 98
1.6 | Fundo Monetário Internacional (FMI) 98
1.7 | Banco Mundial 99
1.8 | Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) − Organização Mundial
do Comércio (OMC) 100

Seção 2 - Globalização financeira e seus impactos sobre as políticas


monetárias nacionais 102
2.1 | A internacionalização da economia: globalização produtiva e financeira 102
2.2 | As Multinacionais e o Investimento Estrangeiro Direto (IDE) 105
2.2.1 | Transnacionais 106
2.3 | A globalização do capital 107
2.4 | As procedências políticas estruturais da globalização do capital 108

Unidade 4 | Organismos e grupamentos internacionais 117

Seção 1 - ONU e organismos relevantes OIT, FMI, BIRD, OMC 120


1.1 | Organização das Nações Unidas (ONU) 120
1.2 | Organização Internacional do Trabalho (OIT) 124
1.3 | Fundo Monetário Internacional (FMI) 125
1.4 | Banco Mundial 127
1.5 | Organização Mundial do Comércio (OMC) 128

Seção 2 - OTAN e OEA 131


2.1 | Organização do Tratado do Atlântico Norte 131
2.2 |Organização dos Estados Americanos (OEA) 132

Seção 3 - Grupos econômicos: G-7; G-20; OPEP; BRICS 136


3.1 | Grupo dos Sete (G-7) e Grupo dos Vinte (G-20) 136
3.2 | Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) 138
3.3 | BRICS 139
Apresentação
Com o mundo globalizado, o comércio internacional está ganhando
cada vez mais importância, pois é uma forma de transformar economias
pequenas e em desenvolvimento, em potências econômicas. No caso do
Brasil, o comércio exterior contribuiu e muito para que nossa economia
crescesse por meio da maior competitividade, ou seja, o comércio permitiu
que as indústrias produzissem mais do que a capacidade do mercado
interno, por exemplo, o setor primário da economia brasileira (como você
sabe somos um dos maiores exportadores de produtos primários, grãos).
Apesar de toda a importância, as exportações brasileiras em termos
de valores monetários ainda são pequenas, se comparadas a países
do mesmo porte do nosso. Esse fato demonstra a necessidade de
estudarmos os problemas relacionados com a economia internacional
e com o comércio exterior, ou seja, é preciso compreender as relações
entre os países.
Para isto, temas como teoria do comércio internacional;
desenvolvimento econômico teórico recente, economias e
deseconomias externas, concorrência imperfeita, comércio intraindústria,
transferência de tecnologia; políticas e comércio internacional com ênfase
ao livre-comércio, protecionismo e neoprotecionismo e organismos
internacionais; e o sistema financeiro e monetário internacional serão
tratados nesta disciplina.
Assim, a disciplina Relações Econômicas Internacionais irá lhe
proporcionar conhecimentos sobre a economia internacional, já que
você, como futuro economista, precisa compreender as relações entre
os países para poder avaliar as decisões tomadas pelo governo e também
pelas empresas, principalmente as multinacionais.

Bons estudos,
Os autores.
Unidade 1

Teorias do comércio
internacional
Emerson Guzzi Zuan Esteves

Objetivos de aprendizagem
O intuito central da unidade é possibilitar uma noção
elementar sobre as principais teorias do comércio exterior,
de forma objetiva e clara. A proposta é fazer um resumo
geral para apresentar ao estudante como começaram, quais
foram as teorias, o que elas recomendavam e por quais
motivos se completaram. Logo, pretende-se contextualizar
o desenvolvimento e as principais teorias do comércio
internacional, para um melhor entendimento das relações
comerciais entre países.

Nesse contexto, para dar conta desse conteúdo, a unidade está


composta por quatro seções, conforme apresentado a seguir.

Seção 1 | As vantagens comparativas


Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características dessa
teoria, que busca explicar os mecanismos que decidiam a escolha dos produtos
a serem produzidos e comercializados internacionalmente.

Seção 2 | O modelo de fatores específicos


Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características deste
modelo, no qual busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio
internacional em relação à distribuição de renda interna dos países envolvidos.

Seção 3 | O modelo de Heckscher-Ohlin


Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características deste
modelo, que é um “clássico” do comércio internacional, agregando à explicação
do comércio internacional, entre outras circunstâncias, a importância das
diferenças nas dotações de fatores entre os países.

U1 - Teorias do comércio internacional 7


Seção 4 | O modelo geral do comércio
Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características do
Modelo Geral de Comércio, que é construído com base em quatro relações.

8 U1 - Teorias do comércio internacional


Introdução à unidade
Nesta obra, você terá oportunidade de conhecer a teoria do
comércio internacional, que surgiu da necessidade de explicação
das trocas internacionais. Ao estudar essa teoria, você fortalecerá os
conhecimentos necessários para compreender que esta remonta
aos autores clássicos (com destaque para as contribuições de Adam
Smith e David Ricardo), além de conseguir desenvolver uma análise
plausível de generalização a qualquer país, assim se contrapondo às
concepções protecionistas dos mercantilistas. Dessa forma, você
poderá fazer uma leitura mais qualitativa sobre como são geradas as
trocas internacionais.
Portanto, o objetivo geral desta unidade é apresentar os conceitos
da teoria do comércio internacional, que é o estudo das trocas
internacionais dos agentes econômicos, isto é, da forma como estes
procedem dado um conjunto de diferentes opções, comparando os
benefícios e inconvenientes para a satisfação dos seus interesses.

U1 - Teorias do comércio internacional 9


Seção 1

As vantagens comparativas
Introdução à seção

Uma das diversas hipóteses desenvolvidas por David Ricardo,


focada no desenvolvimento recíproco e no comércio internacional,
foi o Princípio dos Custos Comparativos, também conhecido como
Teoria das Vantagens Comparativas (GILPIN, 2002).
O cerne dessa teoria está na busca pela explicação dos mecanismos
que decidiriam a escolha dos produtos a serem produzidos e
comercializados internacionalmente. Isso ocorre preservando-se a
vocação individual e a busca da produtividade sistemática.
De tal modo, observando países mais pobres, que não apresentam
condições de produzir com custos menores para competir perante
o mercado internacional, David Ricardo buscou analisar alternativas
que garantissem a manutenção do comércio abarcando tais países,
sem acarretar um desequilíbrio de suas riquezas (FOSCHETE, 2003).
Caso uma circunstância extremamente contraditória entre as
condições dos países fosse analisada pela teoria das vantagens
absolutas de Adam Smith, essa demonstraria a inviabilidade de
existência do comércio internacional entre eles, pois uma das
escolhas apontadas por Ricardo seria o comércio entre todos os
países sem a determinação de vantagens absolutas na produção de
qualquer produto (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Para saber mais


David Ricardo (Londres, 18 de abril de 1772 – Gatcombe Park, 11 de
setembro de 1823). Considerado como um dos fundadores da escola
clássica inglesa da economia política, juntamente com Adam Smith e
Thomas Malthus. David Ricardo exerceu uma grande influência tanto
sobre os economistas neoclássicos, como sobre os economistas

10 U1 - Teorias do comércio internacional


Para saber mais
marxistas, o que revela sua importância
para o desenvolvimento da ciência
econômica. Os temas presentes em
suas obras incluem a teoria do valor-
trabalho, a teoria da distribuição (as
relações entre o lucro e os salários),
o comércio internacional, temas
monetários (WIKIPEDIA, 2017a).

1.1 Teorias das vantagens comparativas


A fim de obter respostas para questões como: por que duas
nações distintas comercializam? É melhor para ambas o comércio
mútuo? Quais produtos devem ser comercializados? - os economistas
clássicos elaboraram a Teoria das Vantagens Comparativas.
Primeiramente, a teoria afirma que duas nações têm relações
comerciais quando apresentam custos de produção distintos. Em
segundo lugar, deduz que uma nação exportará sempre aquele
produto que gerar custos relativamente menores do que o de outro.
E, por fim, a partir destes resultados, argumenta que o comércio entre
dois países (nações) é benéfico para ambos. Com ela, pretende-se
definir os princípios que regem a divisão internacional do trabalho e,
ao mesmo tempo, assegurar a mais ampla liberdade de comércio
entre países (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Fundamentados nesse tipo de raciocínio, os clássicos concluíram
que seria muito melhor para todos os países especializarem-se
na produção daqueles bens em que tivessem melhor vantagem
comparativa. Entretanto, para o funcionamento da previsão dos
clássicos, era necessário que a teoria das vantagens comparativas
fosse uma teoria realista. Nenhum país contemporâneo adota uma
política de livre-comércio sem restrições à importação, abandonando
sua economia e deixando-a completamente exposta à concorrência
internacional (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

U1 - Teorias do comércio internacional 11


Questão para reflexão
Você consegue entender como a Teoria das vantagens comparativas
pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e
países com rendas diferentes? Por quê?

1.2 Teoria das vantagens comparativas ou


relativas, segundo David Ricardo (1820)
1.2.1 A formulação original do modelo
O modelo das vantagens comparativas ou relativas, de David
Ricardo, mostra que um país continua no comércio internacional
produzindo um bem no qual seja eficiente, mesmo não sendo eficiente
na produção dos demais bens (GILPIN, 2002).
Para um melhor entendimento da teoria das vantagens comparativas,
observa-se o exemplo do Quadro 1.1, proposto por David Ricardo, com
dois países, dois produtos, conforme segue a exemplificação:

Quadro 1.1 | Relação Custo x Produtividade

Bens: Tecido e Vinho


Custo (horas de traba- Produtividade (produção
lho necessárias para por hora de trabalho)
produzir 1)
Países Tecido Vinho X Y
Inglaterra 100 120 1/100 1/120
Portugal 90 80 1/90 1/80
Fonte: adaptado de Salvatore (2007).

Os custos unitários ou as produtividades são determinados pelas


tecnologias dos países, tanto na ótica de Adam Smith, como na de
David Ricardo. Na exemplificação do Quadro 1.1, o país menos
desenvolvido, Portugal, apesar de sua condição, é absolutamente
mais eficiente na produção de ambos os bens - logo, trata-se de um
paradoxo. Para David Ricardo, no contexto das vantagens absolutas,
não haveria comércio entre os dois países. Entretanto, para determinar
o padrão de especialização e troca, é necessário utilizar o conceito de
vantagens comparativas (SALVATORE, 2007).

12 U1 - Teorias do comércio internacional


Convencionalmente, considerando que em economia fechada
verifica-se uma troca de semelhantes, para tal, uma equivalência nos
valores totais da produção nos dois bens pode estimar as Razões de
Troca Autônomas (RTA) em cada um dos países. Observe a Figura 1.1,
em que Q representa Quantidades, C representa Custos Unitários e,
por exemplo, RTAPortugal T/1V representa a RTA de Tecido por um de
Vinho em Portugal:
Figura 1.1 | Equivalência nos valores globais da produção, custos relativos a Razões
de Troca Autônomas (RTA)

Fonte: adaptado de Salvatore (2007).

Quadro 1.2 | Custos relativos, representado matricialmente

Custos relativos
Países Tecido Vinho
Inglaterra 0,83(3) 1,2
Portugal 1,125 0,88(8)
Fonte: adaptado de Salvatore (2007).

O Quadro 1.2 demonstra o custo relativo de 0,88, que é RTAPortugal


T/1V
ou seja, o custo do Vinho comparativamente ao Tecido em
Portugal. De onde, avaliando o custo relativo de cada bem em
comparação ao outro, entende-se que Portugal tem uma vantagem
relativa na produção de Vinho e a Inglaterra tem uma vantagem relativa
na produção de Tecido. Para tal, o custo comparativo do Vinho é
menor em Portugal, 0,88(8) < 1,2, e o custo comparativo do Tecido é
menor na Inglaterra, 0,83(3) < 1,125 (SALVATORE, 2007). Em palavras,
a Inglaterra é comparativamente menos eficiente na produção de
Vinho e Portugal é menos eficiente na produção de Tecido, devido

U1 - Teorias do comércio internacional 13


aos diferentes custos relativos os países possuem estímulos à troca.
Logo, a Inglaterra deve especializar-se totalmente na produção de
Tecido e Portugal na produção de Vinho (SALVATORE, 2007).
Resumindo, a especialização ocorre por causa das vantagens
comparativas. No exemplo apresentado, cada país acaba por
especializar-se na produção dos bens na qual possui o menor custo
relativo (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Após conhecido o padrão de especialização, só será concretizada
a troca caso existam estímulos para tal, havendo uma Razão de Troca
Internacional (RTI) que favoreça a especialização nos dois países.
Dessa forma, a especialização inglesa em tecido somente ocorrerá se
alcançar no mercado internacional mais do que 0,83(3) unidades de
Vinho (litros), por cada unidade de Tecido (metros), ou seja, mais Vinho
do que se alcançaria internamente por metros de Tecido. Da mesma
forma, os portugueses deveriam se especializar na produção de Vinho
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Em síntese, caso o interesse na troca entre os países se concretize,
a RTI deverá estar compreendida entre os valores das RTAs. Assim, para
David Ricardo, caso a RTI totalize 21 unidades, por exemplo, haveria
comércio se a RTA fosse de 20 ou menos unidades (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).
David Ricardo não se atentou ao sentido objetivo da repartição dos
benefícios por países, no entanto, existe a possibilidade de se provar,
no que diz respeito aos benefícios da troca, que o país mais favorecido
é aquele que tiver a RTI mais distante da RTA. No exemplo, vejamos
como efetivamente os dois países lucram. Suponha-se que a RTIT/1V=1
e que cada país precisa de uma unidade de cada um dos produtos para
contentar seus anseios internos. Diante do exposto, pode-se verificar
que a Inglaterra é a mais beneficiada com a troca de 1,2-1 > 1-0,88(8)
(SALVATORE, 2007).
É importante terminar a análise do modelo (original) de Ricardo
considerando as seguintes proposições:
1. Apesar do modelo não ser realista (principalmente em relação
à estrutura de custos observados), a especialização que origina
não é absolutamente “inocente”. Ela prega uma especialização
industrial para a Inglaterra que, no longo prazo, levaria a
altos benefícios e teria maiores ganhos do que os adquiridos
por aqueles que viessem a se especializar em agricultura

14 U1 - Teorias do comércio internacional


(problemática tácita da comparação entre as vantagens de
curto prazo em relação às de longo prazo) (GILPIN, 2002).
2. Tanto para Adam Smith quanto para David Ricardo, a
especialização internacional é associada aos fenômenos do
crescimento econômico, da distribuição do rendimento e da
acumulação de capital. Embora observa-se, no nível dessa
função, uma pequena disparidade para ambos os autores,
que se localiza intimamente associada à diferente conjuntura
histórica-econômica em que viveram (GILPIN, 2002).
Desse modo, havia a necessidade da importação de produtos
agrícolas, visto que era possível reduzir as áreas agrícolas necessárias e
ampliar a área disponibilizada à industrial, bem como suprir alimentos
a preços menores, libertando-se fatores necessários à indústria e
reduzindo o peso da agricultura. No nível da função esperada do
comércio externo, enquanto Adam Smith priorizava as exportações,
David Ricardo destacava as importações (GILPIN, 2002).
3. Diversas vezes entende-se que um país maior, devido ao
seu tamanho e poder econômico, pode conseguir todos os
benefícios do comércio, tendo vantagem relativamente a um
país de menor tamanho e sem poder. No entanto, para a teoria
clássica este pensamento é incorreto. De fato, quando dois países
de tamanho muito diferentes trocam entre si, todos os ganhos
podem passar para o país menor, e o país grande não ganha nada
(SALVATORE, 2007).
Suponhamos, pelo Quadro 1.3, que o mundo consiste em dois
países, sendo o país A de grande dimensão e o país B de pequena
dimensão, e que produzem dois bens, X e Y, conforme segue a matriz
de produtividades:

Quadro 1.3 | Quadro de produtividades de dois bens e dois países

Unidades de bem por unidade de fator


(output por unidade de trabalho)
Países X Y
A 4 8
B 1 6
Fonte: adaptado de Salvatore (2007).

U1 - Teorias do comércio internacional 15


Assim, A é definitivamente mais eficiente a produzir ambos os
bens, pois, de acordo com a teoria das vantagens absolutas, não
haveria troca, logo, a partir da teoria das vantagens comparativas de
David Ricardo, no Quadro 1.4, segue a matriz de custos relativos:
Quadro 1.4 | Matriz de custos relativos

Custos relativos
Países X Y
A 1/4 = 2
______ 1/8 = 0,5
______
1/8 1/4
B 1/1 = 6
______ 1/6 = 0,16(6)
______
1/6 1/1
Fonte: adaptado de Salvatore (2007).

Analisando, observa-se que o país A teria vantagem relativa em


X e o país B tem vantagem relativa em Y, uma vez que, devido à
grande diferença de tamanho, é impossível a B suprir a totalidade
do mercado de A para o bem Y. Logo, o país A também produz Y,
pelo que os preços mundiais refletirão os custos do país A, ou seja,
os termos de troca serão equiparados com os preços comparativos
do país A. Nessas circunstâncias, A não ganha nada e todos os
benefícios do comércio irão para o país B (SALVATORE, 2007).
4. O livre-comércio é mutuamente benéfico se e só se existir
vantagem comparativa (GILPIN, 2002).
Suponha-se, por exemplo, o seguinte caso, apresentado no
Quadro 1.5:
Quadro 1.5 | Matriz de trocas relativas

Unidades de bem por unidade de fator


(output por unidade de trabalho)
Países X Y
A 4 8
B 1 2
Fonte: adaptado de Gilpin (2002).

Logo, de acordo com a teoria das vantagens absolutas não


haveria troca (A é absolutamente mais eficiente a produzir ambos os
bens). No Quadro 1.6, observamos em termos de custos relativos:

16 U1 - Teorias do comércio internacional


Quadro 1.6 | Matriz de custos relativos

Custos relativos
Países X Y
A 1/4 = 2
______ 1/8 = 0,5
______
1/8 1/4
B 1/1 = 2
______ 1/2 = 0,5
______
1/2 1/1
Fonte: adaptado de Gilpin (2002).

Por conseguinte, nesse caso não há bases para o comércio


reciprocamente benéfico, pois a relativa superioridade de A é idêntica
em X e Y. Trata-se de um caso especial de mesma vantagem, no
qual nenhum país tem vantagem comparativa em nenhum dos bens
(GILPIN, 2002).

Atividades de aprendizagem
1. Qual a diferença entre o modelo ricardiano de vantagens comparativas e
o modelo de vantagens absolutas de Adam Smith? Mostre essas diferenças
por meio de um exemplo.

2. Qual a importância dos salários no modelo ricardiano?

U1 - Teorias do comércio internacional 17


Seção 2

O modelo de fatores específicos


Introdução à seção

A renda é a remuneração aos proprietários dos fatores de produção


por sua utilização. No modelo Ricardiano, em que há só um tipo de
fator de produção escasso (a mão de obra homogênea) e inexistem
custos ou barreiras para a movimentação do fator trabalho entre
os diferentes setores produtivos, a questão da distribuição da renda
interna não pode ser avaliada de forma adequada (GILPIN, 2002).
As limitações do modelo ricardiano não acabam com sua utilidade,
pois seus resultados básicos sobre a relação entre a produtividade
e a remuneração aos fatores e referente à existência de potenciais
ganhos com o comércio sempre que os custos de oportunidade
relativos sejam diferentes entre os países são inatacáveis e válidos.
Para tratar de questões mais apuradas, entretanto, uma especificação
mais precisa e detalhada da estrutura das economias passa a ser
necessária (GILPIN, 2002).
Com o modelo de fatores específicos (Paul Samuelson e Ronald
Jones), busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio
internacional em relação à distribuição de renda interna dos países
envolvidos. Este não é o único modelo adequado para tratar do tema
da distribuição de renda, mas é um modelo que se destaca nessa
modalidade de análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Para tratar do assunto da distribuição de renda interna, o novo
modelo exige alterações em diversas hipóteses simplificadoras do
modelo ricardiano. No modelo de fatores específicos mais simples, há
dois países, dois bens e três fatores de produção (Capital, Terra e Mão
de Obra). As tecnologias de produção estão sujeitas a rendimentos
marginais decrescentes, sendo Capital e Terra específicas dos
respectivos setores de produção, ressalta-se observar que estes recursos
não podem ser deslocados da produção de um bem para a de outro. O
trabalho, como no modelo ricardiano, permanece homogêneo e com
mobilidade entre os setores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

18 U1 - Teorias do comércio internacional


Para saber mais

Paul Anthony Samuelson (Gary,


15 de maio de 1915 – Middlesex,
Massachutes, 13 de dezembro de 2009)
foi um economista americano da escola
neokeynesianista. É considerado um
economista “generalista”, no sentido de
que suas contribuições para a ciência
econômica são aplicadas em vários
campos (WIKIPEDIA, 2017d).

2.1 Hipóteses do modelo de fatores específicos


O comércio internacional, em decorrência da distribuição de
renda, mostra que recursos não podem mudar de um setor para
outro de forma imediata e sem custo, e que as indústrias possuem
diferenças quanto aos fatores de produção demandados. O modelo
de fatores específicos é composto por dois bens: manufaturas e
alimentos; e três fatores: terra, capital e trabalho. O trabalho é um
fator variável, logo, pode se mover de um setor para o outro; já os
fatores capital e terra são específicos e só são utilizados na fabricação
de um bem, ou seja, a terra somente será utilizada na produção de
alimentos e o capital para a fabricação de manufaturas. Este modelo
possui mercados em perfeita concorrência (FOSCHETE, 2003).
O estado de pleno emprego exige que o abastecimento de toda a
economia seja uma somatória do trabalho empregado na produção
de alimentos e o trabalho empregado na fabricação de manufaturas.
A curva de possibilidade de produção retrata como a formação dessa
produção move-se à medida que o trabalho é deslocado de um
setor para o outro. O formato da função de produção retrata a lei dos
rendimentos decrescentes, que mostra que a cada incremento de
trabalhadores na produção sem que haja elevação de trabalhadores
na fabricação do capital empregado, cada trabalhador terá menos
capital para trabalhar, ou seja, cada elevação sucessiva na produção
de trabalho adicionará menos que o anterior na produção (AMADO,
2003).

U1 - Teorias do comércio internacional 19


A partir do ponto em que os preços dos dois bens alteram na
mesma proporção, não ocorrem mudanças reais. Logo, a taxa de
salário eleva-se na mesma proporção que os preços, de modo que
os salários reais não são alterados. As rendas reais de detentores
de capital e proprietários de terra também se mantêm. O salário
eleva-se menos que proporcionalmente ao incremento nos preços
relativos. Supondo uma elevação no preço da manufatura, o efeito
econômico dessa elevação sobre a renda dos trabalhadores não
poderia ser inferido se estivesse em melhor ou pior situação, por
existir uma dependência da importância relativa que as manufaturas e
os alimentos têm na economia em questão. Quanto aos detentores
de capital, com certeza ficariam melhores e os proprietários de terra
certamente piores (AMADO, 2003).
O comércio internacional no modelo de fatores específicos
mostra que a oferta relativa dos países pode divergir devido às
diferenças de tecnologia e fatores de produção. Um país que tenha
mais capital do que terra tende a produzir uma proporção maior entre
manufaturas e alimentos a quaisquer preços dados. Em um país que
não faz comércio, a produção de um bem deve ser a mesma que
seu consumo. O comércio internacional viabiliza que a composição
de manufaturas e alimentos utilizada seja distinta da composição
produzida, pois o padrão de comércio também retrata que um país
não pode gastar mais do que recebe (FOSCHETE, 2003).
O comércio internacional tem grande influência na distribuição de
renda dentro dos países, logo, gera tanto perdedores quanto ganhadores.
Os efeitos da distribuição de renda são dados por dois motivos: os
fatores de produção não podem se mover, instantaneamente e sem
custo, de uma indústria para outra, e as alterações na composição do
produto de uma economia têm efeitos distintos sobre a demanda e os
fatores de produção (FOSCHETE, 2003).
O modelo de fatores específico é útil para os efeitos da distribuição
de renda do comércio internacional, pois, neste modelo, as diferenças
nos recursos podem fazer com que os países tenham curvas de
ofertas relativas distintas, o que estimula o comércio internacional. Os
fatores específicos dos setores de exportação em cada país mostram
ganhos do comércio, enquanto os fatores específicos dos setores
que competem com as importações perdem. Logo, os fatores
móveis podem ser utilizados nos dois setores, podendo então ganhar

20 U1 - Teorias do comércio internacional


ou perder. Em suma, o comércio produz ganhos gerais no sentido
limitado de que os que ganham podem, a priori, compensar os que
perdem, continuando ainda em melhor situação do que estavam
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Para saber mais


Ronald Winthrop Jones (nascido em
1931) é um influente economista do
comércio internacional e professor
Xerox de Economia na Universidade
de Rochester. Seu recente e altamente
aclamado livro Globalization and
Theory of Input Trade (2000) resume
muito de seu trabalho anterior e
também discute a tendência recente do
mercado em direção à fragmentação e
terceirização do processo de produção
(WIKIPEDIA, 2007e).

2.1.1 O modelo estrutural de fatores específicos


O modelo de fatores específicos segundo Krugman e Obstfeld
(2010), é formalizado a partir da seguinte composição:
1) Estrutura:
a) 2 bens:
i) Manufaturas (M)
ii) Alimentos (A)

b) 2 países:
i) local (doméstico/interno)
ii) estrangeiro (“*”)

c) 3 fatores escassos:
i) 2 específicos aos setores (indústrias)

U1 - Teorias do comércio internacional 21


(1) Capital, K, usado apenas na produção de manufaturas
(2) Terra, T, usado apenas na produção de alimentos
ii) 1 fator não específico:
(1) Mão de obra, L, usada tanto na produção de manufaturas,
LM, quanto na produção de alimentos, LA.

d) Tecnologia − Funções de Produção:


i) Produção de manufaturas
QM = QM (K,LM)
∂QM = PMg > 0 (Produtividade Marginal do Trabalho Positiva)
____ 1.M
∂L (Rendimentos Marginais Decrescentes)

∂PMgLM
_______ <0 (Produtividade Marginal do Capital Positiva)
∂L
∂QM = PMg > 0
____ KM
∂K

ii) Produção de Alimentos



QA = QA(T,LA) (Produtividade Marginal do Trabalho Positiva)

∂QA = PMg > 0
____ 1.A
∂L
∂PMgLA
_______ <0 (Rendimentos Marginais Decrescentes)
∂L
∂QA = PMg > 0
____ TA (Produtividade Marginal da Terra Positiva)
∂T

e) Graficamente (F = Food = Alimentos):

Questão para reflexão


Você consegue entender como o modelo de fatores específicos pode
impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países
com rendas diferentes? Por quê?

22 U1 - Teorias do comércio internacional


Figura 1.2 | Produtividade marginal do trabalho positiva e formato da função de produção
Output QM

QM = QM(K.LM)

Labor
input, LM
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Figura 1.3 | Acréscimo no estoque do capital a PMgL aumenta para cada nível de
utilização de trabalho (QM)
Marginal product
of labor, MPLM

MPLM

Labor
input, LM
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Figura 1.4 | Acréscimo no estoque do capital a PMgL aumenta para cada nível de
utilização de trabalho: QM = QM(K1,LM)

Input, Q M Q M = Q M (K r , L M )

Q M = Q M (K, L M )

Labor
input, L M

Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

U1 - Teorias do comércio internacional 23


iii) Pleno Emprego: o estado de pleno emprego dos fatores agora
é tríplice:

(1) K = K, tal que, todo o estoque de capital é utilizado.


(2) T = T, tal que, todo o estoque de terra é utilizado.
(3) L = LM + LA

iv) se as condições (a), (b) e (c) forem atendidas, a economia


estará empregando plenamente seus recursos, dada as condições
observadas sobre a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP).
Supõe-se, na análise da Figura 1.5, que a economia esteja operando
em pleno emprego, ou seja, que as três condições acima sejam
satisfeitas.

Figura 1.5 | Solução gráfica do modelo


Função de produção Fronteira de possibilidades de
de alimentos produção da economia (PP)

QA = Q A (S,L A) 1’
2’
Q2A 3’

L2A PP
L Q2M

1 L2M
2
3
Alocação de trabalho L Função de produção
na economia (AA) AA de manufaturas

Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

O gráfico mostra nos quadrantes superiores esquerdos e inferiores


direito as funções de produção de alimentos e manufaturas,
respectivamente. Na elaboração destas curvas, supõe-se que os
estoques de insumos específicos, T e K, sejam iguais aos totais
disponíveis na economia, o que garante o pleno emprego destes dois
fatores na análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Para assegurar o pleno emprego da mão de obra, o quadrante
inferior esquerdo exibe a restrição de plena utilização deste fator, que
pode ser deslocado, sem custos, entre os dois setores (produção de
alimentos e de manufaturas). Sobre a restrição L = LA + LM, a mão de
obra está plenamente utilizada (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

24 U1 - Teorias do comércio internacional


A explicação da Figura 1.5 é bastante simples, pois para produzir
cada vez mais alimentos é necessário arcar com os custos crescentes
em fazê-lo: tanto a produtividade marginal do trabalho diminui na
produção de alimentos (mais horas de trabalho são necessárias à
produção de cada unidade de alimentos incrementais), quanto o custo
da redução na produção de manufaturas aumenta (mais unidades
de manufaturas são desprezadas de produzir a cada unidade de
mão de obra deslocada para a produção de alimentos) (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).

2.1.2 Teoria da indústria infante


A Teoria da Indústria Infante foi formulada por autores alemães e
americanos, ainda no século XIX, em rebate à Teoria das Vantagens
Comparativas. Ela nasce da constatação de que o país que se
industrializar primeiro assume tais vantagens comparativas na
produção industrial, em detrimento dos demais países. Foi o que
aconteceu com a Alemanha e os Estados Unidos no século passado
(SILVA; CARVALHO, 2007).
A indústria alemã não tinha capacidade de concorrer em condições
de igualdade, no mercado nacional, com a britânica. Logo, para
viabilizar sua industrialização, os Estados Unidos e a Alemanha passaram
a proteger seus mercados internos, cobrando altas tarifas aduaneiras
sobre produtos importados que competissem com os de suas próprias
indústrias. A Teoria da Indústria Infante surgiu, de certa forma, para
justificar essa prática protecionista (SILVA; CARVALHO, 2007).
No Brasil, durante o auge do ciclo cafeeiro (1840-1930), o
argumento da “indústria infante” foi largamente utilizado para defender
políticas aduaneiras favoráveis aos ramos que procuravam substituir
as importações nesse período (GONÇALVES, 2000).

Atividades de aprendizagem
1. Quais as contribuições adicionais do modelo de comércio com fator
específico em relação ao modelo de vantagens comparativas? Em quais
conclusões há convergência e em quais há divergência?

2. Sob quais pressupostos ocorrerá o comércio internacional?

U1 - Teorias do comércio internacional 25


Seção 3

O modelo de Heckscher-Ohlin
Introdução à seção

O modelo Hecksher-Ohlin (H-O) é um “clássico” do comércio


internacional, agregando à explicação do comércio internacional, entre
outras circunstâncias, a importância das diferenças nas dotações de
fatores entre os países. Eli Hecksher e Bertil Ohlin são suecos, sendo que
esse último recebeu o Nobel em 1977 (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
O comércio internacional é influenciado pelas dotações relativas
de fatores e cabe ressaltar que o país que tem mais terra (em
comparação aos outros países), geralmente tem uma vantagem na
produção de bens que utilizem esse insumo de forma intensiva. O
tratamento explícito da importância das proporções de fatores fez
com que este modelo também fosse conhecido como o “modelo de
proporções de fatores” (SILVA; CARVALHO, 2007).
Em sua versão mais clássica, aqui analisada, o modelo H-O supõe
2 economias, cada qual produzindo 2 bens e usando 2 fatores, que é
o de modelo 2 x 2 x 2.
Diversos teoremas importantes decorrem do modelo H-O, sendo:
i) Um país exporta os bens cuja produção é intensiva na utilização
dos fatores de produção que lhe são relativamente fartos (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).
ii) Se as tecnologias e produtos nos dois países forem iguais e todos
os produtos forem produzidos em todos os países (especialização
incompleta), os preços dos fatores serão iguais nos dois países, o
que é chamado de teorema da equalização dos preços dos fatores
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
iii) Qualquer efeito do comércio que aumente o preço local do
produto importado beneficia os donos do fator produtivo usado
intensivamente na produção do bem concorrente do importado,
o que é chamado de Teorema de Stolper Samuelson (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).

26 U1 - Teorias do comércio internacional


Para saber mais
Eli Filip Heckscher (24 de
novembro de 1879 - 23 de
dezembro de 1952) foi um
economista político sueco e
historiador econômico. De
acordo com uma bibliografia
publicada em 1950, tinha, a partir
do ano anterior, publicado 1.148
livros e artigos, entre os quais se
pode mencionar o seu estudo
do Mercantilismo, que tinha sido
traduzido para várias línguas,
e uma monumental história
econômica da Suécia em vários
volumes. É mais conhecido por um modelo explicando padrões no
comércio internacional, pelo modelo Hecksher-Ohlin (H-O) que
desenvolveu com Bertil Ohlin na Escola de Economia de Estocolmo
(WIKIPEDIA, 2007b).

3.1 O modelo de produção simples de H-O


David Ricardo não se preocupou em explicar o porquê de as
produtividades divergirem entre os países, pois no seu ponto de
análise, o que explica as vantagens comparativas é o simples fato de
os países se beneficiarem de diferentes tecnologias, logo, de diferentes
produtividades do fator trabalho. Por sua vez, na abordagem neoclássica,
pela ótica da demanda, são as diferenças em relação à procura é que
determinam diferentes preços, e, contudo, fornecem os incentivos à
relação de trocas no comércio entre países (SILVA; CARVALHO, 2007).
Segundo Krugman e Obstfeld (2010), para melhor entendimento
da nova abordagem neoclássica, apresenta-se o modelo de H-O, com
uma série de hipóteses e pressupostos.

Hipóteses:
• Fabricam-se duas mercadorias, 1 e 2, com o auxílio de dois
fatores primários e homogêneos: capital (K) e trabalho (L).
• As funções de produção são do tipo Qi = F (Ki, Li), com i = 1,2,

U1 - Teorias do comércio internacional 27


sendo funções homogêneas de grau um, com rendimentos
constantes à escala, e infinitamente diferenciáveis e contínuas.
• A categorização dos dois bens de acordo com a sua intensidade
fatorial é inequívoca para todos os preços relativos dos fatores,
ou seja, não existe reversibilidade das intensidades fatorais.
• Há mobilidade dos fatores entre os setores do país, porém
imobilidade entre os países. Os preços dos fatores são
maleáveis, o que garante o pleno emprego.
• A oferta dos fatores é restringida, ou seja, autônoma dos
seus preços.
• Os países têm dotações relativas de fatores distintos.
• Os conhecimentos tecnológicos estão da mesma forma
disponíveis para todos os países e sem custo. Assim, a função
de produção é idêntica nos dois países para o mesmo produto.
• Os bens movimentam-se internacionalmente de uma forma
independente, sem custos de transporte, barreiras alfandegárias
ou outros empecilhos ao comércio livre.
• Existe concorrência perfeita tanto no mercado dos bens como
no mercado de fatores produção.
• Cada consumidor tenta maximizar uma função de utilidade
análoga e homotética, ou seja, a elasticidade rendimento
da procura é unitária para cada bem nos dois países.

Apresentadas as diversas hipóteses do modelo de Heckscher-Ohlin


(H-O), pode-se concluir que cada país goza de vantagens comparativas
nos bens que usam mais intensivamente o seu fator mais abundante,
ou seja, relativamente mais barato (SILVA; CARVALHO, 2007).

Questão para reflexão


Você consegue entender como o Modelo de Heckscher-Ohlin (H-O)
pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e
países com rendas diferentes? Por quê?

O modelo H-O admite que, em longo prazo, os fatores produtivos


são substituíveis entre si. Isso significa que se, por hipótese, o preço
do trabalho (w) aumenta em relação ao preço do capital (r), em longo
prazo as empresas trocarão trabalho por capital: utilizarão mais trabalho

28 U1 - Teorias do comércio internacional


e menos capital para produzir cada unidade de produto (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).
Por exemplo, em um determinado período as empresas de uma
indústria utilizam duas unidades de trabalho e duas unidades de capital
para produção de uma unidade de produto final, logo, um acréscimo
do preço relativo do trabalho levará essas empresas a produzirem
uma unidade de produto final com base em três unidades de capital
e somente uma unidade de trabalho (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Em esquema:

Antes Depois
2K + 2L > 1Y ------- ↑ w/r -------> 3K + 1L > 1y
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Onde, y é o produto final de uma indústria.


Logo, o modelo H-O admite que os diferentes bens são produzidos
usando-se os vários fatores produtivos com diversas intensidades.
Entretanto, importa procedermos a uma comparação entre o
teorema H-O e o teorema de Ricardo, pois de acordo com ambos
os teoremas, o comércio existe porque em relações de trocas alguns
bens são produzidos a preços menores em alguns países quando
comparados com outros. Não obstante, segundo o teorema de
Ricardo tal situação ocorre porque os países têm tecnologias de
produção distintas, enquanto que de acordo com o teorema H-O isso
acontece porque as dotações relativas de fatores são diferentes entre
países (SILVA; CARVALHO, 2007).
Em suma, os dois teoremas enfatizam a mesma causa próxima do
comércio, ou seja, a diferença entre os preços relativos dos bens em
trocas de país para país, além de diferenças como: tecnologias distintas,
no caso do teorema de Ricardo, e diferentes dotações de fatores,
no caso do teorema de H-O. Nota-se ainda que, sendo distintas,
estas causas não são incompatíveis: mais do que pôr em questão a
explicação ricardiana para o comércio internacional, o teorema H-O
propõe uma explicação complementar para esse comércio. A teoria
de Heckscher e Ohlin difere do modelo ricardiano por distinguir o
comércio internacional do comércio inter-regional e na identificação
dos fatores que determinam a existência de vantagens comparativas
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

U1 - Teorias do comércio internacional 29


Para saber mais
Bertil Gotthard Ohlin (23 de abril
de 1899 − 3 de agosto de 1979) foi
um economista e político sueco.
Ele foi professor de economia na
Escola de Economia de Estocolmo
de 1929 a 1965. Também foi líder
do Partido Popular, um partido
social-liberal que na época era
o maior partido em oposição ao
Partido Social Democrata, de 1944
a 1967. Trabalhou brevemente
como Ministro do Comércio
de 1944 a 1945 no governo de
coalizão sueco durante a Segunda
Guerra Mundial. Foi Presidente do Conselho Nórdico em 1959 e
1964 (WIKIPEDIA, 2017b).

Atividades de aprendizagem
1. Explique a teoria da Hecksher-Ohlin, enfatizando os resultados sobre
padrão e ganhos de comércio, esclarecendo o que a diferencia da teoria
ricardiana e descrevendo o funcionamento do modelo H-O.

2. Qual a condição de especialização para o modelo H-O? Quais as


implicações decorrentes da abertura ao comércio em relação à distribuição
de renda?

30 U1 - Teorias do comércio internacional


Seção 4

O modelo geral do comércio


Introdução à seção

Segundo Amado (2003), o Modelo Geral de Comércio é construído


com base em quatro relações:
i) Fronteira de Possibilidade de Produção e Curva de Oferta Relativa
(FPP).
ii) Preços Relativos e Demanda.
iii) Determinação do Equilíbrio Mundial (RS e RD).
iv) Efeito dos termos de troca (preço relativo internacional) sobre o
bem-estar de uma nação.
A integração entre fronteira de possibilidade de produção e a curva
de oferta relativa segue as premissas de que cada país produza dois
bens, supondo-se alimentos e tecidos. A FPP é uma curva amena e
o ponto em que a economia produz efetivamente sobre a fronteira
de possibilidade de produção está sujeita ao preço dos tecidos em
relação aos de alimentos. As linhas de isovalor são linhas ao longo das
quais o valor do produto é constante. A economia maximiza o valor da
produção aos preços dados, logo, a economia produzirá na linha de
isovalor mais alta no limite da FPP. As preferências dos consumidores
são representadas pelas curvas de indiferenças, que são combinações
de bens que tornam os consumidores igualmente satisfeitos. A alteração
no bem ocorre quando o preço de um bem altera em relação ao preço
do outro bem, o que é chamado de efeito renda, pois trata-se de uma
alteração na renda que gera bem-estar. A substituição de um bem por
outro ocorre quando o preço do bem muda em relação ao outro, que
é considerado efeito substituição (AMADO, 2003).
O crescimento econômico intitulado de crescimento viesado é
quando a fronteira de possibilidade de produção se move para fora,
mais em uma direção do que na outra, ou seja, um setor cresce mais
do que o outro, sendo assim, a oferta relativa sofre alteração. Já o
crescimento empobrecedor é uma situação na qual o crescimento

U1 - Teorias do comércio internacional 31


viesado para exportações nas nações mais pobres piora tanto seus
termos de troca que elas continuariam em pior situação, caso não
houvesse aumentado (COSTA; GRISI, 1999).
O crescimento viesado para exportação é o que expande a fronteira
de possibilidade de produção do país desproporcionalmente na
produção de exportação do país. O seu efeito minimiza o termo de
comércio, geralmente diminuindo o seu bem-estar e aumentando o
bem-estar do país externo. Já o crescimento viesado para importações
é quando a fronteira de possibilidade de produção aumenta
desproporcionalmente na produção que o país importa e seu efeito
aumenta os termos de troca do país, em regra aumentando o seu bem-
estar e diminuindo o bem-estar do país externo (COSTA; GRISI, 1999).
O remanejamento de renda desloca apenas a curva de demanda
relativa, enquanto que a curva de oferta relativa é afetada pela mudança
na dotação dos fatores de produção. Em suma, uma transferência
de renda agravará os termos de troca do país que transferiu a renda,
caso este apresente uma propensão marginal a consumir em seu
bem de exportação maior do que o país que está recebendo de renda
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Questão para reflexão


Você consegue entender como o Modelo Geral de Comércio pode
impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países
com rendas diferentes? Por quê?

4.1 Possibilidades de produção e oferta relativa


Segundo Krugman e Obstfeld (2010), os pressupostos do
modelo são:
• Que cada país produza dois bens: alimento (A) e tecidos (T).
• Que a fronteira de possibilidades de produção de cada país seja
uma curva suave (TT).
O alvo em que a economia efetivamente produz sobre a fronteira
de possibilidades de produção depende do preço dos tecidos em
relação ao dos alimentos, PT/PA.
Linhas de isovalor: PT.QT + PA.QA = V, linhas ao longo das quais o
valor do produto é constante, conforme segue a representação gráfica
na Figura 1.6:

32 U1 - Teorias do comércio internacional


Figura 1.6 | Preços relativos determinam o produto da economia
Produção de alimentos, Q A

Linhas de isovalor
Q

TT
Produção de tecidos, Q T
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

A economia maximiza o valor da produção aos preços dados,


contudo a economia produzirá em Q (ver Figura 1.6) que está na linha
de isovalor mais alta possível.
Uma alta do preço relativo PT/PA deixa as linhas de isovalor mais
inclinadas. Como resultado desta inclinação (ver Figura 1.7 e 1.7a), a
economia produz mais tecidos e menos alimentos e o produto de
equilíbrio na FPP desloca-se de posição.

Figura 1.7 | Como um aumento no preço relativo de tecidos afeta a oferta relativa
Produção de alimentos, Q A

Q1

VV 1(PT /PA) 1
Q2

TT VV 2(PT /PA)2
Produção de tecidos, Q T
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Figura 1.7a | Como um aumento no preço relativo de tecidos afeta a oferta relativa
QA Pt/Pa

RS
Dom
Q2
Q1

Q1
Q2

QT Qt/Qa
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

U1 - Teorias do comércio internacional 33


4.2 Preços relativos e demanda
De acordo com Krugman e Obstfeld (2010), o valor do consumo de
uma economia é igual ao valor de sua produção:

PTQT + PAQA = PTDT + PADA = V, ou


PT.(QT-CT) + PA.(QA-CA) = V

A preferência pela economia de um ponto sobre a linha de isovalor


depende dos gostos dos consumidores, que podem ser representados
graficamente pela Figura 1.8, dada uma série de curvas de indiferença.

Figura 1.8 | Produção, consumo e comércio no modelo-padrão

Produção de alimentos, Q A

Curvas de indiferença

Importação D
de alimentos
Q

Linha de isovalor
TT
Produção de tecidos, Q T
Exportação de tecidos

Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Caso aconteça um aumento do preço relativo do tecido, PT/PA, a


opção de preferência de consumo da economia se moverá de D1 para
D2. O deslocamento de D1 para D2 reproduz dois efeitos, o efeito-
renda e o efeito-substituição. Em teoria, é possível que o efeito-renda
seja forte a ponto de, quando PT/PA aumentar, o consumo de ambos
os bens efetivamente aumenta, mas a razão entre o consumo de T e
de A tenderá à redução (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Seguem graficamente os efeitos elencados por Krugman e Obstfeld
(2010), conforme observa-se nas Figuras 1.9 e 1.10.

34 U1 - Teorias do comércio internacional


Figura 1.9 | Efeitos de um aumento no preço relativo de tecidos
Produção de alimentos, Q A

D2
1
D

Q1

Q2
VV 1 (P T /PA )1
TT VV 2(P T /PA )2
Produção de tecidos, Q T
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Figura 1.10 | Efeitos de um aumento no preço relativo de tecidos altera a demanda


QA Pt/Pa
C2
C2
Curvas de
indiferença
C1

Q1 C1

RD
Dom
Q2

QT Qt/Qa
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

Para saber mais


Paul Robin Krugman (Nova
Iorque, 28 de fevereiro de 1953) é
um economista norte-americano,
vencedor do Nobel de Economia
de 2008. Foi crítico da Nova
Economia, termo cunhado no
final da década de 1990, para
descrever a passagem de uma
economia de base principalmente
industrial para uma economia
baseada no conhecimento e nos
serviços, resultante do progresso
tecnológico e da globalização
econômica (WIKIPEDIA, 2017c).

U1 - Teorias do comércio internacional 35


4.3 Determinação do equilíbrio mundial
Segundo Foschete (2003), cada país, com suas demandas e ofertas
relativas, possui um preço relativo de equilíbrio em trocas. A abertura
comercial permite a interação entre os mercados, de tal sorte que
haverá oferta e demanda relativas internacionais, que determinarão os
termos de troca do comércio internacional, conforme observado na
Figura 1.11:

Figura 1.11 | Equilíbrio de mercado com comércio internacional


Pt/Pa RS
Int

RD
Int

Qt+Qt * /Qa+Qa*
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

4.4 Efeitos dos termos de troca sobre o bem-estar


Em função do padrão de comércio, um determinado país será
exportador de alimentos ou de tecidos. A depender do padrão, a direção
da variação dos termos de troca pode favorecer ou desfavorecer o
bem-estar da nação. Por exemplo, caso o país seja inicialmente um
exportador de alimentos, a redução de PT/PA traria um ganho de
bem-estar, ou seja, o poder de compra do alimento exportado, em
termos de tecido, tenderia a aumentar. Todavia, para a mesma variação
nos termos de troca, se o país exportar tecidos, haveria um declínio
de bem-estar, ou seja, o poder de compra do tecido, em termos de
alimento, seria menor (SILVA; CARVALHO, 2007).

4.4.1 Crescimento econômico e deslocamento da RS


As implicações do crescimento econômico sobre o comércio
internacional procedem do fato de tal crescimento ter um viés. O
crescimento enviesado ocorre quando a FPP desloca-se para fora,
mais em uma direção do que em outra, conforme Figura 1.12. Um
crescimento que ultrapassa as possibilidades de produção de um país

36 U1 - Teorias do comércio internacional


desproporcionalmente na direção do bem que ele exporta, logo, é um
crescimento voltado para as exportações (SILVA; CARVALHO, 2007).
Figura 1.12 | Equilíbrio de mercado com comércio internacional
Qa
Q2

Q1

FPP 2
FPP 1

Qt
Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007).

Na Figura 1.13, observa-se, de modo similar, um crescimento


enviesado na direção do bem que o país importa: é um crescimento
voltado para as importações.
Figura 1.13 | Crescimento enviesado da FPP, para tecidos
Qa
FPP 2

FPP 1

Q2
Q1

Qt
Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007).

De acordo com Silva e Carvalho (2007), aceita-se o seguinte princípio:


• O crescimento com foco em exportações propende a piorar
os termos de troca de um país em crescimento, em benefício
do resto do mundo.
• O crescimento com foco em importações propende a
melhorar os termos de troca de um país às custas do resto
do mundo.
A partir da Figura 1.14, é possível observar o deslocamento da oferta
relativa, em relação ao crescimento enviesado para Alimentos e para
Tecidos, conforme foi exemplificado pelas Figuras 1.12 e 1.13.

U1 - Teorias do comércio internacional 37


Figura 1.14 | Crescimento enviesado da oferta relativa, respectivamente para
tecidos e alimentos
RS
RS int 2
Pt/Pa int RS Pt/Pa
RS
int 2
int

RD RD
int int

Qt+Qt */Qa+Qa* Qt+Qt */Qa+Qa*

Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007).

Na ótica de Krugman e Obstfeld (2010), os impactos do crescimento


ampliarão ou reduzirão os benefícios de acordo com os seus vieses.
No caso do crescimento empobrecedor, existiriam efeitos indesejáveis
dadas condições bem específicas, como:
• O crescimento intensamente voltado para exportações deve
ser ajustado com curvas RS e RD muito inclinadas, ou seja,
bastante inelásticas;.
• Desse modo, caso a alteração nas relações de troca, após
deslocamento da RS, seja elevada o suficiente para compensar
os efeitos favoráveis iniciais de um aumento na capacidade
produtiva do país, o acréscimo da quantidade transacionada
não consegue compensar a perda dos termos de troca da
relação inicial.

4.4.2 Transferências internacionais de renda e


deslocamento da RD
Entre os motivos pelos quais a RD se desloca destacam-se as
mudanças de preferências, as novas tecnologias e novos produtos,
além das transferências de renda. As transferências de renda do país
local para o estrangeiro ocorrem quando a renda e gastos do país
local se reduzem, logo, no país estrangeiro ocorre inverso, portanto,
aumentam (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Essa transferência pode afetar a divisão dos gastos mundiais, em
função das diferentes preferências. Logo, a RD pode se deslocar e,
portanto, alterar os termos de troca, porém, se a proporção dos gastos
não se alterar, a RD não se desloca e, por consequência, os termos de
troca não são afetados (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

38 U1 - Teorias do comércio internacional


Caso ocorra o deslocamento da RD, este será o único efeito da
transferência de renda, pois a RS não se deslocará.
Contudo, se os dois países (Local e Estrangeiro) não alocarem suas
alterações de renda em forma de gastos de mesma proporção, a RD
se deslocará e o termo de troca sofrerá alteração, ou seja, diferentes
padrões de gastos (como maior propensão marginal a consumir tecidos
no país Local) fazem a RD se deslocar quando ocorrer a transferência
de renda para o Estrangeiro. Na Figura 1.15, é possível observar que uma
transferência de renda piora os termos de troca do doador se este tem
uma maior propensão marginal a gastar em seu bem de exportação do
que o receptor (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Figura 1.15 | Redução da demanda relativa interna


Pt/Pa RS
int

RD
RD int
int 2
Qt+Qt */Qa+Qa*
Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010).

De acordo com o exemplo na Figura 1.15, que caso o doador


apresentar uma menor propensão marginal a gastar em seu bem de
exportação, seus termos de troca realmente melhorarão, e a demanda
relativa apresentaria deslocamento para direita, e não para esquerda
como exemplificado.

Atividades de aprendizagem
1. Quais as características comuns dos modelos estudados até agora?

2. Usando o modelo ricardiano com dois países, no qual o país doméstico


tem vantagem comparativa em alimentos e que no equilíbrio inicial há
especialização de produção, qual seria o efeito nos preços relativos e no
bem-estar de:

U1 - Teorias do comércio internacional 39


a) Aumento na força de trabalho estrangeira.
b) Uma queda, de mesmo valor percentual, na utilização de trabalho na
produção de uma unidade de alimento e de tecido no país doméstico.
c) Uma queda, de mesmo valor percentual, na utilização de trabalho na
produção de uma unidade de tecido nos dois países.

Fique ligado
Nesta unidade, foi abordada a teoria do comércio internacional,
que surgiu da necessidade de explicação das trocas internacionais,
com seus principais conceitos e características. Também foi
explanado sobre a Teoria das vantagens comparativas, na qual
foram expostos os principais conceitos e características dessa
teoria, que está no fato de que ela busca explicar os mecanismos
que decidiriam a escolha dos produtos a serem produzidos e
comercializados internacionalmente.
Foi abordado sobre o Modelo de fatores específicos, mostrando
os principais conceitos e características desse modelo, no qual
busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio
internacional em relação à distribuição de renda interna dos
países envolvidos.
Depois foi visto o modelo de Heckscher-Ohlin, com os principais
conceitos e características deste modelo que é um “clássico” do
comércio internacional, agregando à explicação do comércio
internacional, entre outras circunstâncias, a importância das diferenças
nas dotações de fatores entre os países.
Por fim, foi estudado o modelo geral do comércio, que é construído
com base em quatro relações e sobre o qual foram apresentados os
principais conceitos e características.

Para concluir o estudo da unidade


Em termos de aprofundamento dos conceitos de teoria do
comércio internacional, recomenda-se a leitura da obra dos autores
David Ricardo, Adam Smith, Paul Anthony Samuelson, Paul Krugman
entre outros.

40 U1 - Teorias do comércio internacional


Atividades de aprendizagem da unidade
1. (MPOG 2009) Os produtos X e Y são produzidos em determinado país
empregando-se apenas a mão de obra local. Em um dia, cada trabalhador
é capaz de produzir 3 unidades do bem X ou, alternativamente, 5 unidades
do bem Y. Nesse caso, pode-se afirmar que:

a) o custo de oportunidade de se produzir uma unidade do bem X é de 3/5


de unidade do bem Y.
b) o custo de oportunidade de se produzir uma unidade do bem Y é de 3/5
de unidade do bem X.
c) o custo de oportunidade de se produzir três unidades do bem Y é de 5
unidades do bem X.
d) o custo de oportunidade de se produzir três unidades do bem X é de 3
unidades do bem Y.
e) não é possível calcular o custo de oportunidade da produção do bem X
ou do bem Y, pois o enunciado não informa a oportunidade perdida com
essa produção.

2. (Enade 2006, nº 31) Suponha que a tabela abaixo representa a produção


diária de vinho e de tecidos de um trabalhador, na Inglaterra e em Portugal,
no século XVIII.
Inglaterra Portugal
Vinho 2 barris 1 barril
Tecidos 4 peças 1 peça

Com base na tabela, é possível afirmar que:

a) a Inglaterra tem vantagem comparativa em ambos os bens.


b) em condições de livre-comércio entre os dois países, a competição de
produtos ingleses inviabilizará a produção em Portugal.
c) seria imperativo que Portugal procurasse proteger sua produção de
tecidos, que é a mais ameaçada pelos ingleses.
d) uma vez estabelecido o livre-comércio, a Inglaterra irá especializar-se
na produção de tecidos, e Portugal, na de vinhos.
e) desde que cada país se especialize na produção de um bem, qualquer
escolha é igualmente vantajosa para ambos.

3. (PROVÃO, 2002, nº 25) Em 1817, David Ricardo publicou seu livro


Princípios de Economia Política e Tributação, no qual apresenta a teoria

U1 - Teorias do comércio internacional 41


das vantagens comparativas. De acordo com ela, o comércio internacional
pode ser benéfico para dois países, mesmo quando um deles é mais
eficiente na produção de todos os bens. Para isso, basta que cada país se
especialize e exporte os bens para os quais possua vantagem comparativa.
Suponha, de acordo com a teoria clássica do comércio internacional, dois
países (A e B) que produzem dois produtos (X e Y), usando apenas um fator
de produção (trabalho). As produtividades médias do trabalho (constantes
na produção de ambos os bens e em ambos os países) são apresentadas
na tabela abaixo:

Países
Produtos
A B
X 2 1
Y 3 2

Nesse contexto, é correto afirmar que o país A deverá:


a) exportar o bem X e importar o bem Y.
b) exportar o bem Y e importar o bem X.
c) exportar tanto o bem X quanto o bem Y.
d) importar tanto o bem X quanto o bem Y.
e) não comerciar com o país B.

4. (Aptada de: CESGRANRIO, BNDES, 2013) Com base no modelo de


comércio de dotação de fatores, em um equilíbrio com livre-comércio:

a) a taxa de juros é maior no país com menos capital.


b) o salário é maior no país abundante em trabalho.
c) os países se especializam no bem que possui vantagem tecnológica
absoluta.
d) os países importam o bem que possui dotação relativa abundante.
e) os países exportam o bem intensivo no fator de produção relativamente
abundante.

5. O modelo básico de Heckscher-Ohlin, de comércio internacional,


supõe que, entre os países envolvidos, a(o):
a) vantagem comparativa seja anulada.
b) dotação dos fatores de produção seja a mesma.
c) economia de escala na produção determine o comércio internacional.
d) tecnologia disponível seja a mesma.
e) comércio internacional de fatores de produção possa ocorrer.

42 U1 - Teorias do comércio internacional


Referências
AMADO, Adriana M. Noções de macroeconomia: razões teóricas para divergências
entre os economistas. Barueri, SP: Manole, 2003.
BRIGAGÃO, Clóvis. (org.). Estratégias de negociações internacionais. Rio de Janeiro:
Aeroplano/Faperj, 2001.
COSTA, Ligia Maura; GRISI, Celso Cláudio de Hildebrand e. Negociações internacionais
e a globalização. São Paulo: LTR, 1999.
FOSCHETE, Mozart T. Relações econômicas internacionais. São Paulo: Aduaneiras,
2003.
GILPIN, Robert. A economia política das relações internacionais. Brasília: Editora da
UNB, 2002.
GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o comércio internacional: transformações e
perspectivas. São Paulo: Contexto: 2000.
KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia internacional. São Paulo: Pearson,
2010.
SALVATORE, Dominick. Introdução à economia internacional. Rio de Janeiro: LTC,
2007.
SILVA, Cesar Roberto Leite da; CARVALHO, Maria Auxiliadora de. Economia internacional.
4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
WIKIPEDIA. David Ricardo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/David_
Ricardo>. Acesso em: 30 abr. 2017a.
______. Heckscher-Ohlin model. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/
Heckscher%E2%80%93Ohlin_model>. Acesso em: 30 abr. 2017b.
______. Paul Robin Krugman. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_
Krugman>. Acesso em: 30 abr. 2017c.
______. Paul Samuelson. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_
Samuelson>. Acesso em: 30 abr. 2017d.
______. Ronald W. Jones. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Ronald_W._
Jones>. Acesso em: 30 abr. 2017e.

U2 - Economia política do comércio internacional 43


44 U2 - Economia política do comércio internacional
Unidade 2

Economia política do
comércio internacional
Ademir Cavalheiro Leite

Objetivos de aprendizagem
Nesta unidade, iremos abordar: a economia política do
comércio internacional; as interferências governamentais nas
operações de comércio; as características do livre-comércio;
a política cambial; o protecionismo moderno e a presença das
organizações internacionais. Nossa abordagem está dividida em
quatro seções, que serão apresentadas a seguir.

Seção 1 | Características básicas do comércio internacional


Nessa seção serão abordados: os conceitos básicos da evolução do
comércio internacional; as características do comércio entre as nações; o
princípio da vantagem comparativa; a relação do comércio exterior com a
balança comercial.
Seção 2 | O livre-comércio
O significado das zonas de livre-comércio; as modalidades das zonas de
livre-comércio; o protecionismo moderno; os atrasos tecnológicos oriundos do
protecionismo, são temas a serem abordados nessa seção.

Seção 3 | A política cambial


Na Seção 3, os temas a serem abordados são: o conceito de política cambial;
os fatores que levam os países a praticarem a política cambial; a relação do
câmbio com comércio internacional; as diferenças existentes entre política de
câmbio fixo, câmbio controlado, câmbio flutuante e monopólio cambial.
Seção 4 | Organizações internacionais
Por fim, na Seção 4, será discorrido sobre: a importância das organizações para a
equalização do comércio internacional; a função do FMI no contexto de comércio
entre os países; a substituição do GATT pela OMC; a missão do Banco Mundial e a
atuação da ONU como mediadora do sistema do comércio entre as nações.

U2 - Economia política do comércio internacional 45


46 U2 - Economia política do comércio internacional
Introdução à unidade
Nesta unidade de ensino, será observada a maneira como é
conduzida a dinâmica do comércio internacional, a forma como os
governos interagem dentro do contexto no qual existem relações
comerciais entre as nações, além da importância e da presença das
organizações industriais.

U2 - Economia política do comércio internacional 47


Seção 1

Características básicas do comércio internacional


Introdução à seção

Questão para reflexão


• Você acredita que o resultado da Balança Comercial é importante
para a definição de políticas macroeconômicas voltadas para o
comércio internacional?
• Seria correto afirmar que no período mercantilista o Estado
intervinha de forma direta na economia?

Nesta seção veremos a evolução do comércio internacional;


estudaremos a importância da navegação marítima do século XVI
para a intensificação do comércio entre as nações; observaremos
a maneira como era conduzida a realização do comércio durante
o mercantilismo; analisaremos os fatores que desencadearam
o conceito das vantagens comparativas; veremos que o custo
de produção é fator determinante da política do valor de troca;
discutiremos a importância de uma política voltada para o processo
de diversificação da produção, com o objetivo de avaliar se esta é
positiva ou não; teremos a oportunidade de observar a importância
do superávit da balança comercial para a elaboração de políticas
direcionadas ao mercado internacional; e finalizaremos a seção
analisando as características básicas do comércio internacional.

1.1 Evolução histórica do comércio internacional


O comércio em sua fase embrionária era caracterizado pela
presença de trocas e permutas. Ao longo do tempo, essas ações
ficaram conhecidas pelo nome de escambo, que eram transações
diretas entre seres humanos pertencentes às sociedades primitivas.
Conforme pode ser observado na Figura 2.1, “na idade média, as
trocas comerciais tiveram continuidade com a presença de feiras
mercantis realizadas pela burguesia da época, que já utilizavam moeda
como base de troca.” (GASTALDI, 2005, p. 287).

48 U2 - Economia política do comércio internacional


Figura 2.1 | Feiras medievais

Fonte: <https://pvmarques.files.wordpress.com/2012/09/feira_medieval.jpg>. Acesso em: 8 mar. 2017.

No início do século XVI, com o surgimento da bússola e dos


navios de grande porte, o comércio internacional passou por grandes
transformações, levando os governantes dos principais países
europeus a adotarem políticas mercantilistas das mais diversas.
Espanha e Portugal competiam pelo controle das rotas do
comércio marítimo internacional e chegar até as índias através do
oceano Atlântico era o objetivo dos dois Estados-Nação.
Nesse contexto, Cristóvão Colombo acabou descobrindo a
América em outubro de 1492, atendendo aos interesses da Espanha,
e Vasco da Gama descobriu a rota para as Índias, em maio de 1498,
atendendo aos interesses de Portugal.
As navegações do período estavam tão intensas que Pedro Álvares
Cabral descobriu o Brasil em abril de 1500.
Figura 2.2 | Caravela portuguesa século XVI

Fonte: <https://historiaestvitae.wordpress.com/2014/06/24/a-vida-no-mar-no-sec-xv-xvi-parte-iv-os-instrumentos-
de-navegacao/>. Acesso em: 7 mar. 2017.

U2 - Economia política do comércio internacional 49


O Mercantilismo foi a prática econômica adotada durante os
séculos XVI, XVII e XVIII e em termos políticos ficou marcado pela
intervenção do Estado na economia.

1. 2 Conceito das vantagens comparativas


O conceito das vantagens comparativas de David Ricardo estava
apoiado no fato de as nações, em termos de recursos naturais, não
serem homogêneas. O que era fácil de ser produzido por um país,
poderia ser difícil para outro.
Nesse contexto, Ricardo, que aparece na Figura 2.3, sugeria que
cada nação produzisse produtos que tivessem para ela custos mais
baixos, para que, no futuro, utilizando as vantagens do comércio
internacional, pudessem se beneficiar do sistema de trocas.

Figura 2.3 | David Ricardo (1772 -1823)

Fonte: <http://moneyweek.com/wp-content/uploads/2016/10/817-Ricardo-1200.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2017.

1.3 Custo de produção: fator determinante na política


do valor de troca
Do ponto de vista político, David Ricardo estava correto na análise
dos custos de produção. Para ele, um país, por ter facilidade na
produção de trigo, poderia se especializar na produção de macarrão
e exportar o excedente do que houvesse produzido para outro, que
tivesse custos baixos na produção de uva.
De forma natural, o país com facilidade na produção de uva poderia
produzir vinho e trocar o excedente com o país produtor de macarrão.

50 U2 - Economia política do comércio internacional


Se analisarmos o pensamento de Ricardo com relação ao comércio
internacional, o Brasil está correto em importar petróleo do Iraque e
exportar aves congeladas para esse país.

1.4 Diversificação da produção


Na visão de Ricardo, cada país teria obrigação de explorar
suas vantagens comparativas, se possível diversificando a pauta
de exportações.
Essa realidade pode ser vista no Brasil, que tem sua pauta de
exportação apoiada em cinco produtos básicos: soja in natura e triturada;
minérios de ferro e seus concentrados; óleos brutos de petróleo; açúcar
oriundo da cana-de-açúcar; e carne de frango congelada.

1.5 Características básicas do comércio internacional


Por definição, o comércio internacional pode ser classificado como
o intercâmbio de bens e serviços entre as nações.
Da mesma forma que o comércio internacional auxilia os países
a importarem os produtos que necessitam, também os ajuda nas
exportações dos excedentes de produção oriundos da existência das
economias de escala.
É importante destacar que a possibilidade pura e simples da venda
de excedentes precisa ser analisada com muito cuidado. No caso das
exportações de bens duráveis, existe a necessidade da adaptação do
produto que será exportado às condições do país que irá recebê-lo.
Apenas exportar o excedente não é recomendável.
Imagine um veículo automotor (carro), produzido para andar na
cidade do Rio de Janeiro, que apresenta temperatura média de 40°
C durante o ano, sendo exportado para a Groelândia, país onde a
temperatura predominante quase sempre está abaixo de zero.
Com certeza um veículo produzido no Brasil precisará de adaptações
para conseguir ser operacional em países onde a temperatura for
demasiadamente baixa.
Portanto, a exportação de excedentes exige muito critério, tanto
por parte de quem exporta, como por parte de quem vier a importar.
A Figura 2.4 mostra um Fusca com volante no lado direito, produto
típico de consumo local.

U2 - Economia política do comércio internacional 51


Figura 2.4 | Fusca projetado para a Inglaterra

Fonte: <https://goo.gl/eRNeCX>. Acesso em: 7 mar. 2017.

Em suma, podemos afirmar que a importância do comércio não é


apenas econômica, mas também social e política.

Analisando o contexto comercial, como instrumento


básico de trocas, podemos dizer que ele serve de ligação entre
o homens, os povos e as nações, pelo fato de representar
um fator de intercâmbio social de amplitude internacional.
(GASTALDI, 2005, p. 287)

1.6 A relação do comércio exterior com a balança


comercial
A partir do momento em que um país começa a manter relações
comerciais com o resto do mundo, surge a necessidade de se
estabelecer um controle sobre o fluxo de pagamentos e recebimentos
realizados nas relações comerciais internacionais. Nesse contexto, o
país precisa se comportar como uma empresa, que vende bens e
serviços, não devendo em hipótese alguma ter prejuízo.
Para que esse controle possa ser realizado é necessária a
existência do Balanço de Pagamentos do Brasil, que é o registro
contábil de todas as transações do país com os outros Estados-
Nações do planeta.
Em uma interpretação mais simples: “O Balanço de Pagamentos
é o registro contábil entre os residentes e não residentes de um
país mensurado em um determinado período de tempo" (LEITE,
2007, p. 26).
Os residentes são pessoas com residência fixa no país,
inclusive estrangeiros, por exemplo, funcionários de embaixadas.

52 U2 - Economia política do comércio internacional


Também estão incluídos entre os residentes, as filiais das
empresas estrangeiras no país. No Balanço de Pagamentos
estão registradas as importações e exportações de mercadorias
realizadas pelo país. É importante destacar que o resultado do
registro das exportações e importações recebe no Balanço de
Pagamentos o nome de Balança Comercial.
Diante desse cenário, todos os países com superávit na
Balança Comercial procuram desenvolver políticas comerciais
voltadas para a manutenção do sistema superavitário. Por outro
lado, os países com déficits necessitam do desenvolvimento de
políticas comerciais que possibilitem a inversão dos processos
causadores desses déficits.
Portanto, podemos afirmar que o resultado da Balança
Comercial interfere de maneira direta na condução das políticas
macroeconômicas, voltadas para o mercado internacional.

Para saber mais


Você sabia que a globalização modificou significativamente o
tratamento jurídico direcionado ao comércio internacional?

Atividades de aprendizagem
1. Leia as afirmativas a seguir:
I - O comércio, em sua fase embrionária, era caracterizado pela presença
de trocas e permutas. Ao longo do tempo, essas ações ficaram conhecidas
pelo nome de escambo, que eram transações diretas entre seres humanos
pertencentes às sociedades primitivas.
II - No início do século XVI, com o surgimento da bússola e dos
navios de grande porte, o comércio internacional passou por grandes
transformações, levando os governantes dos principais países europeus a
adotarem políticas mercantilistas das mais diversas.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) As afirmativas I e II estão incorretas.

U2 - Economia política do comércio internacional 53


d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

2. Leia as afirmativas a seguir:


I - O conceito das vantagens comparativas de David Ricardo estava
apoiado no fato de as nações, em termos de recursos naturais, não serem
homogêneas. O que era fácil de ser produzido por um país, poderia ser
difícil para outro.
II - Por definição, o comércio internacional pode ser classificado como o
intercâmbio de bens e serviços entre as nações.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) As afirmativas I e II estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

54 U2 - Economia política do comércio internacional


Seção 2
O livre-comércio
Introdução à seção

Questão para reflexão


• Você acredita que existe protecionismo no comércio
internacional?
• Que tipo de impacto as políticas protecionistas dos países ricos
podem causar nos países pobres?

Nesta seção veremos o que significa livre-comércio; o que são


zonas de livre-comércio; observaremos as particularidades das zonas
de livre-comércio; abordaremos o conceito de protecionismo;
discutiremos os efeitos positivos do protecionismo; destacaremos os
efeitos negativos do protecionismo; finalizaremos a seção abordando
a relação do protecionismo com o desenvolvimento econômico.

2.1 Significado de livre-comércio


Livre-comércio é um modelo de mercado no qual as trocas fluem
de forma natural, sem a interferência de restrições impostas pelo Estado.
São consideradas zonas de livre-comércio as associações entre
países, nas quais as mercadorias podem circular com taxas alfandegárias
reduzidas em decorrência de acordos mútuos entre os parceiros
comerciais.

2.2 Equilíbrio do comércio mundial


O equilíbrio do comércio mundial tem relação direta com o
comportamento geopolítico das principais potências do planeta.
A hegemonia da Inglaterra no século XIX levou os historiadores a
classificarem esse período de multipolar, pelo fato de a influência inglesa
definir os rumos da política e do comércio internacional da época.
Após a Segunda Guerra Mundial, surge uma nova ordem mundial,
apoiada na ascensão dos Estados Unidos e na consolidação da União

U2 - Economia política do comércio internacional 55


Soviética como potência militar. A nova realidade deixou o mundo
dentro de um contexto bipolar (dois polos de domínio).
Nesse contexto, a segunda metade do século XX ficou conhecida
como “o período da Guerra Fria” e nesse cenário as políticas que
normatizavam as relações do comércio no mundo ocidental eram
determinadas pelos norte-americanos, da mesma forma que as políticas
que normatizavam as relações no mundo oriental eram determinadas
pelos soviéticos.
O muro construído após a Segunda Guerra na cidade de Berlim era
o retrato frio da bipolaridade, época em que a Europa esteve dividida
em duas partes:
a) Europa Ocidental: lado esquerdo do muro de Berlim, onde
ficavam os países considerados capitalistas.
b) Europa Oriental: lado direito do muro de Berlim, onde ficavam os
países considerados socialistas.
O mundo bipolar transformou de maneira ímpar as relações entre
as nações dentro de um cenário, no qual as relações comerciais dos
países ocidentais eram feitas apenas com países do ocidente e as
relações comerciais dos países orientais, com algumas exceções, feitas
apenas entre os países do oriente.
Com a extinção da União Soviética em 1991 e o consequente
avanço da economia japonesa, o mundo passa a ser considerado na
geopolítica como multipolar, com vários polos de domínio: Estados
Unidos; Rússia; Japão; Europa e alguns países asiáticos.
Nesse contexto passaram a ser articulados alguns acordos
comerciais dentro de uma realidade socioeconômica distorcida.
A partir de 1992, os países da Europa começaram a idealizar uma
zona de livre-comércio com moeda única (euro), dentro de um cenário
dicotômico.
Não podemos esquecer que metade dos países europeus,
até 1991, possuíam a mentalidade socialista e a outra metade a
mentalidade capitalista.
Quem mais sofreu com essa nova realidade foi a população da
Alemanha, que com a derrubada do muro de Berlim em 1989, teve de
conviver no mesmo país com idealismos diferentes.
Para muitos estudiosos, o fato de a doutrina capitalista ter se
tornado predominante após a queda do muro de Berlim iria facilitar

56 U2 - Economia política do comércio internacional


o processo de integração continental da Europa, mas equalizar
ideais socialistas com ideais capitalistas não é uma tarefa tão simples
e o comércio internacional teve de seguir seu caminho diante de
uma nova realidade.
E qual seria essa nova realidade?
O mundo multipolar, conforme pode ser observado na Figura 2.5,
simplesmente criou uma divisão entre países ricos no norte e pobres
no sul do planeta.

Figura 2.5 | Mundo multipolar

Países do Norte Países do Sul


Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABJCsAJ/ciencias-humanas-br?part=8>. Acesso em: 7 mar. 2017.

2.3 Principais zonas de livre-comércio


Apesar da desigualdade existente entre norte e sul, foram criadas no
final do século XX, três zonas de livre-comércio:
a) North American Free Trade Agreement (NAFTA): bloco que tem a
participação dos Estados Unidos, Canadá e México.

Figura 2.6 Bandeiras dos países do NAFTA

Fonte: <http://escolaeducacao.com.br/nafta-bloco-economico-da-america-do-norte/>. Acesso em: 7 mar. 2017.

U2 - Economia política do comércio internacional 57


b) União Europeia: o maior bloco econômico do mundo, conhecido
pela livre circulação de bens, pessoas e mercadorias e pela adoção
de uma moeda única. É composto pelos os países da Europa sem a
participação dos representantes do Reino Unido.
Figura 2.7 | Mapa com países da União Europeia

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia>. Acesso em: 7 mar. 2017

c) MERCOSUL: bloco econômico ainda em formação, composto


atualmente por quatro países considerados plenos: Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai e um país suspenso, a Venezuela.
Figura 2.8 | Países do MERCOSUL

Fonte: <https://goo.gl/BHGpYf>. Acesso em: 7 mar. 2017

Para saber mais


Você sabia que o MERCOSUL, constituído no Tratado de Assunção, em
1991, por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (Venezuela ingressou em 2012
e no momento está suspensa) poderá contar no futuro com Bolívia, Chile,
Colômbia, Equador, Peru, Guiana e Suriname, México e Nova Zelândia?

58 U2 - Economia política do comércio internacional


2.4 Protecionismo
“O protecionismo pode ser definido como série de medidas,
voltadas para a proteção das empresas do mercado interno.”
(GASTALDI, 2005, p. 299).
O conjunto de medidas que faz parte do protecionismo é contrário
aos ideais propostos pela política de livre-comércio e quase que de
forma generalizada, em maior ou menor grau, é a política adotada pela
maior parte dos países no capitalismo moderno.
Os defensores do protecionismo acreditam que as suas medidas
propostas, além de protegerem as empresas protegem os trabalhadores
no mercado interno.
Os protecionistas afirmam que a importação de produtos existentes
no mercado interno provoca, na maioria das vezes, o desemprego
industrial dentro do país e fomenta o emprego industrial fora dele.

Algumas das medidas protecionistas são:


a) a criação de barreiras alfandegárias com relação aos produtos
estrangeiros.
b) a implantação de exigências voltadas para a qualidade, com o
objetivo de tornar os produtos importados mais caros.
c) a concessão de subsídios para as indústrias do país, para ajudá-las
no combate à concorrência internacional.
d) a fixação de quotas de importação voltadas para a limitação da
entrada de produtos oriundos do exterior.

2.5 Desvantagens do protecionismo


Apesar de proteger a indústria interna, a política de protecionismo
apresenta algumas desvantagens:
a) Retarda a evolução tecnológica do segmento da economia
(geralmente industrial) que está sob proteção.
b) Pode deixar o segmento que está sendo protegido estagnado,
sem a preocupação de evoluir para enfrentar a competição externa.
c) Quase sempre essa política, típica dos países considerados
pobres, dificulta o desenvolvimento econômico.

U2 - Economia política do comércio internacional 59


Atividades de aprendizagem
1. Leia as afirmativas a seguir:

I - O livre-comércio é um modelo de mercado, no qual as trocas fluem de


forma natural, sem a interferência de restrições impostas pelo Estado.
II - São consideradas zonas de livre-comércio as associações entre países,
por meio das quais as mercadorias podem circular com taxas alfandegárias
reduzidas em decorrência de acordos mútuos entre os parceiros comerciais.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

2. Leia as afirmativas a seguir:


I - O protecionismo pode ser definido como uma série de medidas,
voltadas para a proteção das empresas do mercado interno.
II - A importação de produtos existentes no mercado interno provoca,
na maioria das vezes, o emprego industrial dentro do país e fomenta o
emprego industrial fora dele.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

60 U2 - Economia política do comércio internacional


Seção 3
A Política cambial
Introdução à seção

Questão para reflexão


• Você acredita que a maioria das moedas existentes no planeta
não são aceitas no Comércio Internacional?
• Quais são os motivos que levam os jornalistas, no Brasil, a
divulgarem diariamente o valor do dólar comercial e o valor do
dólar turismo, se a moeda norte americana é a mesma?

Nesta seção veremos o conceito de câmbio; abordaremos o


fato de a maioria das moedas que existem no mundo não serem
aceitas no comércio internacional; veremos o conceito de crédito;
destacaremos a importância da política cambial; discutiremos a
possibilidade dos fatores que levam os países a praticarem a política
cambial; observaremos as características da política de câmbio livre;
teremos a oportunidade de observar as características da política
de câmbio controlado; abordaremos o conceito de monopólio de
câmbio; veremos as diferenças existentes entre os conceitos de
câmbio fixo e câmbio flutuante; observaremos a diferença dos valores
de compra e venda que existem entre o dólar comercial e dólar
turismo; estudaremos o mercado de divisas; observaremos quem
são os participantes do mercado cambial; finalizaremos abordando a
relação da política cambial com o comércio internacional.

3.1 Conceito de câmbio


Pelo fato do valor das moedas internacionais não serem
iguais, dificilmente irá ocorrer a troca pura e simples de uma
moeda por outra, e sim operações de compra e venda. Nesse
contexto, o câmbio pode ser definido como o preço da
moeda estrangeira em moeda nacional. (LEITE, 2007, p. 15)

U2 - Economia política do comércio internacional 61


3.2 Moedas conversíveis e moedas inconversíveis
Atualmente o instrumento utilizado pela economia para avaliar o
lastro, ou a força do poder de compra de uma moeda nos mercados
internacionais, está na riqueza que o país que emitiu a moeda possui.
No contexto moderno, quase todos os países do planeta, por
um motivo ou outro, apresentam problemas em suas economias e,
automaticamente, fragilidade em suas moedas.
Essa fragilidade faz-se presente no momento da escolha das
moedas que farão parte do comércio internacional.
O cenário atual restringe os pagamentos e recebimentos das
transações internacionais a um grupo seleto de moedas e se concentra
nas quatro relacionadas abaixo:
• Dólar americano.
• Euro.
• Libra.
• Iene.
Um fato que parece não ser tão relevante tem a capacidade
de desencadear um processo que tem relação direta com o
comércio internacional.
Quase todos os países que precisam importar possuem moedas
que apenas têm valor dentro de suas fronteiras e no momento da
realização de uma importação elas simplesmente não valem nada.
Por esse motivo, a disputa por superávits comerciais entre as nações
torna-se mais acirrada. Os países que obtêm lucro em suas balanças
comerciais conseguem armazenar moedas fortes, consideradas
conversíveis, por serem aceitas internacionalmente e os países que
não conseguem os superávits na balança de comércio acabam tendo
de recorrer ao acesso das moedas fortes, por meio de empréstimos,
expostos a juros no sistema financeiro internacional.
Em suma, as moedas fortes são consideradas conversíveis no
sistema de comércio exterior e as moedas fracas são consideradas
inconversíveis no contexto do COMEX.

62 U2 - Economia política do comércio internacional


Figura 2.9 | Moeda aceita no mercado internacional

Fonte: <http://www.fashionspill.com/dolar-cobrado-no-exterior-entenda-a-conversao/>. Acesso em: 7 mar. 2017.

Figura 2.10 | Moeda não aceita no mercado internacional

Fonte: <https://goo.gl/7dhIQI>. Acesso em: 7 março. 2017.

Esse fato pode ser constatado com facilidade quando nós


brasileiros fazemos viagens internacionais para a Europa ou para
os Estados Unidos. Após conseguir o passaporte, será necessária a
obtenção de moedas aceitas no local de destino.
Se o problema cambial fosse restrito apenas às viagens internacionais,
o fato de as moedas serem ou não aceitas internacionalmente teria
pouca relevância. Porém, a realidade que atormenta a maior parte dos
países do planeta está na necessidade de todos, obrigatoriamente,
terem de possuir reservas em moeda estrangeira para conseguirem
manter relações comerciais com o resto do mundo.
Os Estados Unidos, que possuem moeda forte, podem realizar
transações comerciais dentro ou fora de suas fronteiras de maneira natural.

U2 - Economia política do comércio internacional 63


O Brasil, que não possui moeda forte, necessita obrigatoriamente
de reservas cambiais (dólar em seu caixa) e isso só pode ser obtido de
duas maneiras:
a) Com superávit no comércio internacional, que traz moeda forte
para dentro do país.
b) Contraindo empréstimos nas instituições internacionais.
A primeira hipótese obriga o país a apresentar volume de
exportações todos os anos, superior ao volume de importações.
Somente dessa maneira o superávit comercial será obtido.
Na segunda hipótese, que é contrair empréstimos em moeda
estrangeira, não podemos esquecer que os juros pagos por estes
também deverão ser pagos em moeda estrangeira.

3.3 Conceito de crédito


Para que possamos entender a dinâmica do comércio internacional,
é necessário que se faça uma referência ao crédito, que pode ser
definido como: “A troca de um bem disponível no momento pela
promessa de pagamento futuro” (LEITE, 2007, p. 11).
É importante destacar que as operações de crédito envolvem dois
elementos:
a) Os credores que possuem direito de receber.
b) Os devedores que possuem a obrigação de efetuar os
pagamentos.
Se observarmos que no comércio internacional predominam
as compras e vendas a prazo, chegaremos à conclusão de que a
quantidade de reservas cambiais será de extrema relevância para a
adoção de uma política voltada às transações com o exterior.

3.4 Política de câmbio livre


“A política de câmbio livre normalmente é utilizada quando as
reservas cambiais do país estão dentro de um patamar considerado
elevado.” (LEITE, 2007, p. 16).
Características de um mercado de câmbio livre:
a) É possível comprar e vender moeda estrangeira, sem restrições.
b) O governo, dentro de suas necessidades, também participa do
processo comprando e vendendo moeda estrangeira quando necessário.

64 U2 - Economia política do comércio internacional


c) O valor da moeda é determinado pelo mercado.
d) Os participantes do mercado cambial podem manter contas
em moeda estrangeira dentro ou fora do país, desde que declaradas à
Receita Federal.

3.5 Política de câmbio controlado


“A política de câmbio controlado normalmente é utilizada quando
as reservas cambiais do país estão baixas.” (LEITE, 2007, p. 17).
Características de um mercado de câmbio controlado:
a) Presença do governo restringindo o mercado de câmbio.
b) Compra e venda de moeda estrangeira determinadas pelas
normas governamentais.
c) Imposição de limite por parte do governo, na quantidade de
moeda estrangeira aos turistas que viajam ao exterior.
d) Proibição aos cidadãos e empresas de manterem conta em
moeda estrangeira no exterior.
e) Valores de compra e venda de moeda estrangeira definidos pelo
governo e não pelo mercado.

3.6 Monopólio de câmbio


A política de monopólio de câmbio normalmente é utilizada quando
as reservas cambiais estão zeradas.
Durante o monopólio do câmbio ocorre atuação mais intensa por
parte do governo, que centraliza o sistema cambial no Banco Central.
Nesse contexto, podemos observar que existe uma relação estreita
entre a política de comércio internacional com as reservas cambiais de
cada nação.

3.7 Participantes do mercado cambial


O mercado cambial é composto por pessoas físicas e jurídicas
responsáveis pela compra e venda de moedas internacionais.

São considerados vendedores de moeda estrangeira:


a) Exportadores.
b) Tomadores de empréstimos externos.

U2 - Economia política do comércio internacional 65


c) Turistas procedentes do exterior.
d) Comerciantes que prestam serviços ao exterior.
e) Investidores estrangeiros em bolsas nacionais.

São considerados compradores de moeda estrangeira:


a) Importadores.
b) Comerciantes que contratam serviços do exterior.
c) Investidores estrangeiros em bolsas nacionais, quando solicitam
seu dinheiro de volta.
d) Devedores de empréstimos externos.
e) Turistas quando viajam ao exterior.

3.8 Câmbio fixo e câmbio flutuante


Existem dois tipos de regime cambial:
a) Câmbio flutuante: a taxa de câmbio varia de acordo com a oferta
e demanda de divisas (moeda estrangeira).
b) Câmbio fixo: ocorre quando o Banco Central fixa antecipadamente
a taxa de câmbio e se compromete a comprá-las de acordo com a
taxa fixada. Nesse cenário, existe a presença do governo como agente
interventor.

Para saber mais


Você sabia que dólar comercial é o dólar usado nas transações
comerciais entre o Brasil e o resto do mundo, e dólar turismo é
aquele que em situações de câmbio livre pode ser comprado nas
casas de câmbio?

Atividades de aprendizagem
1. Leia as afirmativas a seguir:
I - Crédito pode ser definido como a troca de um bem disponível no
momento pela promessa de pagamento futuro.
II - Câmbio pode ser definido como o preço da moeda estrangeira em
moeda nacional.

66 U2 - Economia política do comércio internacional


Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

2. Leia as afirmativas a seguir:


I - O mercado cambial é composto por pessoas físicas e jurídicas,
responsáveis pela compra e venda de moedas internacionais.
II - A política de câmbio controlado é normalmente utilizada quando as
reservas cambiais do país estão baixas.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

U2 - Economia política do comércio internacional 67


Seção 4
Organizações internacionais
Introdução à seção

Questão para reflexão


• É correto considerar que BIRD é a sigla do Banco Mundial ?
• O Fundo Monetário Internacional foi criado com o objetivo de
favorecer a política monetária dos Estados Unidos?

Nesta seção abordaremos o conceito de organismos internacionais;


saberemos que os organismos internacionais, para muitos, são vistos
como instrumentos estratégicos de poder; observaremos a existência
da importância da política do FMI; estudaremos a importância do
Banco Mundial para o desenvolvimento dos países no contexto
internacional do comércio; veremos que a Organização das Nações
Unidas (ONU) é vista como o principal organismo internacional de
atualidade; analisaremos a importância da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN); observaremos a maneira como funciona
a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE); faremos uma avaliação sobre o trabalho da Organização
Mundial da Saúde (OMS); analisaremos a Organização dos Estados
Americanos (OEA); abordaremos a Organização Internacional do
Trabalho (OIT); finalizaremos a seção observando a atuação da
Organização Mundial do Comércio (OMC).

4.1 Conceito de organismos internacionais


Organismos internacionais são instituições que agregam vários
países com o objetivo do bem comum.
Pelo fato de representarem grande quantidade de nações, acabam
interferindo de forma direta ou indireta no contexto em que está situado
o comércio internacional.

68 U2 - Economia política do comércio internacional


4.2 O Fundo Monetário Internacional (FMI)
A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi idealizada na
reunião de 1944 em Bretton Woods e foi oficializada com a assinatura
da ata oficial em 27 de dezembro de 1945.
Após sua fundação, o FMI ficou responsável pela estabilidade do
câmbio e manutenção dos acordos monetários do pós-guerra.
Mais tarde, suas funções seriam estendidas para o combate à
pobreza, nos países que faziam parte de um cenário conhecido na
época como Terceiro Mundo.

Figura 2.11 | Sede do Fundo Monetário Internacional

Fonte: <http://alunosonline.uol.com.br/geografia/fundo-monetario-internacional-fmi.html>. Acesso em: 7 mar. 2017.

O FMI teve seu processo operacional iniciado no ano de 1946 e sua


implantação coincidiu com a morte de John Maynard Keynes em 21 de
abril do mesmo ano. Fica o alento de Keynes ter visto antes de falecer
a inauguração da instituição que ajudou a idealizar.

4.3 O Banco Mundial


No mesmo ano da criação do FMI, foi criado o Banco Mundial, que
assumiu a responsabilidade de financiar os países em desenvolvimento.
É importante destacar que o Banco Mundial é composto por duas
instituições:
a) Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD): a criação do BIRD tinha como objetivo principal a recuperação

U2 - Economia política do comércio internacional 69


da Europa, devastada pela Segunda Guerra Mundial. Após a recuperação
do continente europeu nos anos 1950, o BIRD, assumiu outras funções
e uma delas é oferecer financiamento e assistência técnica aos países
que apresentam baixo crescimento econômico. Nesse contexto, esse
organismo internacional é fundamental para o comércio internacional.
b) Associação Internacional de Desenvolvimento (AID): essa
organização tem sua atuação totalmente voltada para os países
considerados mais pobres e possui a missão de emprestar dinheiro
sem a cobrança de juros, com o objetivo de diminuir a pobreza
nas localidades identificadas como regiões carentes. Os recursos
financeiros administrados pela AID são oriundos da contribuição de
países membros da instituição.
É importante destacar que um país só poderá se tornar membro do
Banco Mundial se for filiado ao FMI.

Figura 2.12 | Sede do Banco Mundial

Fonte: <http://www.esquerda.net/artigo/supremacia-dos-estados-unidos-no-banco-mundial/33959>. Acesso


em: 7 mar. 2017.

4.4 Organização das Nações Unidas (ONU)


A ONU é uma organização intergovernamental criada em 24
de outubro de 1945 com o objetivo de promover a cooperação
internacional, zelar pelos direitos e auxiliar os países filiados a obterem
desenvolvimento econômico e progressos sociais.
Sua atuação voltada para a cooperação auxilia a dinâmica de
políticas voltadas ao comércio internacional.

70 U2 - Economia política do comércio internacional


Figura 2.13 | Sede da ONU em Nova Iorque

Fonte: <https://www.taringa.net/posts/noticias/19745353/Nuevo-asentamiento-israelita-ya-no-tenemos-las-
manos-atadas.html>. Acesso em: 8 mar. 2017.

4.5 Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)


A OTAN é uma entidade intergovernamental constituída e
formalizada em 4 de abril de 1949. Essa organização é um sistema
de defesa coletiva, voltada para a proteção dos países membros. Não
tem realização direta com o comércio internacional, mas é grande
consumidora de armamentos e, de forma indireta, está inserida no
contexto internacional do comércio.
Figura 2.14 | Sede da OTAN em Bruxelas (Bélgica)

Fonte: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/03/saiba-o-que-e-otan.html>. Acesso em: 8 mar. 2017.

4.6 Organização para a Cooperação e o


Desenvolvimento Econômico (OCDE)
A OCDE é uma organização que articula políticas internacionais
e intergovernamentais. Seus representantes, que são os países mais
industrializados do mundo e alguns considerados emergentes
(México e Chile), efetuam intercâmbio de informações com objetivos
de equalizar políticas de comércio voltadas para potencializar o
crescimento econômico de seus filiados.

U2 - Economia política do comércio internacional 71


4.7 Organização Mundial da Saúde (OMS)
A OMS, foi fundada em abril de 1948, é uma organização subordinada
à ONU e tem como objetivo principal a adoção de uma política para
todos os povos do planeta. Tem relevância no contexto do comércio
internacional, pelo fato de estar atenta aos aspectos fitossanitários dos
produtos comercializados entre as nações.

4.8 Organização Internacional do Trabalho (OIT)


A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência das
Nações Unidas que tem como missão promover oportunidades de
trabalho consideradas decentes e produtivas. A OIT tem preocupação
com quatro pontos básicos do mercado de trabalho:
a) Liberdade sindical: que prioriza a autonomia dos sindicatos e suas
negociações coletivas.
b) Eliminação de todo e qualquer tipo de trabalho forçado: que
infelizmente ainda existe em alguns países do mundo.
c) Abolição do trabalho infantil: que necessita de fiscalização.
d) Eliminação de todas as formas de discriminação: fiscaliza a
existência da discriminação em matéria de emprego e ocupação.

4.9 Organização dos Estados Americanos (OEA)


A Organização dos Estados Americanos foi constituída em 30 de
abril de 1948. É uma instituição regional vinculada às Nações Unidas
com o objetivo de defender os interesses do continente americano.
As prioridades estão apoiadas no desenvolvimento econômico e na
cooperação de seus filiados.

4.10 World Trade Organization ou Organização


Mundial do Comércio
Figura 2.15 - Símbolo da WTO

Fonte: <https://www.resumoescolar.com.br/geografia/omc-organizacao-mundial-do-comercio/>. Acesso em: 9


mar. 2017.

72 U2 - Economia política do comércio internacional


A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada em janeiro
de 1995, com o objetivo de supervisionar ou deixar mais liberal o
comércio entre as nações. Foi constituída com a missão de substituir o
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT).
No processo de supervisão, a OMC atua no comércio internacional
observando as transações comerciais de importação e exportação
entre os países e também entre os blocos econômicos.
É encarregada de fiscalizar de forma oficiosa (não pode intervir de
maneira oficial) as atitudes consideradas ilegais, que por um motivo ou
outro possam ocorrer no comércio entre as nações.
Normalmente a OMC é obrigada a intermediar situações em que
o protecionismo e tarifas alfandegárias sejam consideradas abusivas.
No contexto do comércio internacional, é a organização com
maior poder de participação e normalmente é solicitada para promover
acordos e reduzir conflitos comerciais.

Para saber mais


Você sabia que a Organização Mundial do Comércio tem sua sede em
Genebra, Suíça?

Atividades de aprendizagem
1. Leia as afirmativas a seguir:
I - A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi idealizada na
reunião de 1944, em Bretton Woods, e foi oficializada com a assinatura da
ata oficial em 27 de dezembro de 1945.
II - Após sua fundação, o FMI ficou responsável pela estabilidade do câmbio
e manutenção dos acordos monetários do pós-guerra.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

U2 - Economia política do comércio internacional 73


2. Leia as afirmativas a seguir:
I - No mesmo ano da criação do FMI, foi criado o Banco Mundial, que
assumiu a responsabilidade de financiar os países em desenvolvimento.
II - A Organização Mundial do Comércio tem sua sede em Paris, França.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

Fique ligado
Na segunda metade do século XX, surgiram instituições com o
objetivo de normatizar a economia, o comércio e a preservação da
paz mundial. Com base nessa afirmação, faça uma reflexão sobre a
necessidade de, no século XXI, instituições como Fundo Monetário
Internacional, Organização Mundial do Comércio e Organização das
Nações Unidas sofrerem modificações no modus operandi (maneira de
atuar) com o objetivo de estarem alinhadas com a nova ordem mundial.

Para concluir o estudo da unidade


Espero que você tenha conseguido observar, nesta unidade,
as características básicas do comércio internacional. Acredito
que tenha internalizado os conceitos e particularidades das zonas
de livre comércio.
Tenho certeza de que adquiriu argumentos para debater com
propriedade a relação existente entre protecionismo e desenvolvimento
econômico, além de conhecimentos para interpretar os movimentos e
a importância da política cambial.
Concluiremos esta unidade questionando o modus operandi
de instituições internacionais, como FMI, ONU, OTAN e OMC, que
foram relevantes no século XX, mas que precisam ser repaginadas,
para estarem alinhadas com a realidade do novo milênio.

74 U2 - Economia política do comércio internacional


Atividades de aprendizagem da unidade
1. Leia as afirmativas a seguir:

I - O Balanço de Pagamentos é o registro contábil entre os residentes e


não residentes de um país, mensurado em um determinado período de
tempo.
II - A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada em janeiro de
1995, com o objetivo de supervisionar ou deixar mais liberal o comércio
entre as nações.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico

2. Leia as afirmativas a seguir:


I - O livre-comércio é um modelo de mercado no qual as trocas fluem de
forma natural, sem a interferência de restrições impostas pelo Estado.

II - São consideradas zonas de livre-comércio as associações entre países,


por meio das quais as mercadorias podem circular com taxas alfandegárias
reduzidas em decorrência de acordos mútuos entre os parceiros comerciais.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico.

3. Leia as afirmativas a seguir:


I - North American Free Trade Agreement (NAFTA): bloco que tem a
participação dos Estados Unidos, Canadá e Guatemala.
II - Câmbio pode ser definido como o preço da moeda estrangeira em
moeda nacional.

U2 - Economia política do comércio internacional 75


Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico

4. Leia as afirmativas a seguir:

I - A política de câmbio controlado normalmente é utilizada quando as


reservas cambiais do país estão baixas.
II - A política de câmbio livre normalmente é utilizada quando as reservas
cambiais do país estão dentro de um patamar considerado elevado.

Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico

5. Leia as afirmativas a seguir:

I - A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi idealizada na


reunião de 1944, em Bretton Woods, e foi oficializada com a assinatura da
ata oficial em 27 de dezembro de 1975.
II - A OTAN é uma entidade intergovernamental constituída e formalizada
em 4 de abril de 1969. Essa organização é um sistema de defesa coletiva,
voltada para a proteção dos países membros.
Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Nenhuma das afirmativas está correta.
d) Ambas as afirmativas estão corretas.
e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento
Econômico

76 U2 - Economia política do comércio internacional


Referências
GASTALDI, J. Petrelli. Elementos de economia política. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
LEITE, A. C. Educação sem fronteiras. Campo Grande, MS: Editora Uniderp, 2007.

U2 - Economia política do comércio internacional 77


Unidade 3

O sistema monetário
internacional
Emerson Guzzi Zuan Esteves

Objetivos de aprendizagem
Nesta unidade espera-se que o aluno compreenda o
funcionamento do sistema financeiro internacional, bem como
os conceitos e a evolução histórica do sistema financeiro
internacional, desde o padrão-ouro a Bretton Woods, visto
que a globalização e as transações comerciais entre países
possibilitaram o aparecimento dos estabelecimentos financeiros
internacionais com intuito de garantir as relações de troca entre as
moedas e empréstimos das nações. Os órgãos internacionais são
responsáveis pela manutenção da operacionalidade do sistema
financeiro internacional e, além disso, têm a função de intermediar
as relações entre poupadores e pegadores de empréstimos em
nível internacional.

Assim, esta unidade pretende, a partir das duas seções elencadas


a seguir, apresentar informações e conteúdos necessários para
o completo entendimento do complexo sistema monetário
internacional. Veja a descrição sobre os conteúdos abordados em
cada seção:

Seção 1 | Restauração da conversibilidade: dólar; moeda japonesa;


euromercado
Nessa seção, você conhecerá a evolução histórica do sistema financeiro
internacional: padrão-ouro e Bretton Woods, bem como as principais variáveis
que influenciaram a restauração da conversibilidade monetária dos países.

U3 - O sistema monetário internacional 79


Seção 2 | Globalização financeira e seus impactos sobre as políticas
monetárias nacionais
Nessa seção, você conhecerá os principais fatores ou variáveis que afetam as
políticas econômicas do governo a partir da abertura comercial, globalização, bem
como os conceitos e características do comércio internacional, considerando os
objetivos de política econômica e do estabelecimento de previsões acerca do
comportamento do comércio exterior.

80 U3 - O sistema monetário internacional


Introdução à unidade
Nesta unidade você terá oportunidade de conhecer, a partir
do Sistema Monetário Internacional, as relações de troca ou
comércio entre moedas, atividades, fluxos financeiros e monetários,
empréstimos, pagamentos entre firmas, instituições bancárias, bancos
centrais, governos ou órgãos internacionais.
Dessa forma, você poderá fazer uma leitura mais qualificada sobre
as situações estruturais da economia que envolvem questões de
comércio internacional e globalização. Portanto, o objetivo central
desta unidade é apresentar os conceitos de economia internacional,
ou seja, comércio externo e globalização.

U3 - O sistema monetário internacional 81


Seção 1
Restauração da conversibilidade: dólar; moeda
japonesa; euromercado
Introdução à seção
Esta seção procura apresentar como as grandes guerras mundiais,
a recessão dos anos 1930 e o desenvolvimento da economia
internacional geraram distúrbios nas economias dos países e, por
conseguinte, nas relações econômicas internacionais. Tais situações
exigiram a intervenção de várias instituições para o estabelecimento
de regras e convenções que regulassem as relações comerciais e
financeiras dos países.
Até 1914, no sistema monetário internacional, que era chamado
de padrão-ouro clássico, as nações deliberavam suas moedas em
termos de certa quantidade fixa de ouro, que levaria a um regime
de taxas fixas de câmbio, com alicerce na cotação em ouro de cada
uma das moedas nacionais. O padrão-ouro também apontava a
existência de moedas conversíveis, ou seja, a moeda interna tinha
condição de ser, a qualquer tempo e em qualquer quantia, convertida
em ouro e, portanto, nas outras moedas nacionais, pelas taxas fixadas
(EICHENGREEN, 1995).
Esse sistema agregaria, segundo alguns autores, um mecanismo
automático de correção de desequilíbrios do balanço de pagamentos.
Assim, quando houvesse um déficit no balanço de pagamentos, isso
apontaria uma grande procura por divisas, levando o governo a vender
suas reservas cambiais em ouro. Logo, vendendo suas reservas, o
governo estaria aceitando uma política monetária contracionista,
o que acarretaria uma recessão e uma deflação que corrigiriam o
déficit no balanço de pagamentos, pois aconteceria o estímulo às
exportações e o desestímulo às importações.

1.1 O padrão-ouro clássico


O padrão-ouro é, geralmente, considerado o símbolo de um
sistema monetário internacional estável, pois entre os anos de 1880
e 1913, as nações industriais chefes mantiveram fixo o preço de suas

82 U3 - O sistema monetário internacional


moedas em certa quantidade de ouro. Por meio de arbitragens no
mercado do ouro, essas políticas estabilizavam as taxas de câmbio
(EICHENGREEN, 1995).
Enquanto se sustentasse a conversibilidade externa e não fossem
colocadas restrições às remessas de ouro, as taxas de câmbio
alterariam no interior dos gold points, que são faixas em torno da
conexão entre preço nacional e internacional do ouro, determinadas
pelos custos de remessa e de seguro (EICHENGREEN, 1995).
De modo superficial, o padrão-ouro do pré-guerra não satisfez
nenhum dos pré-requisitos acima identificados para o funcionamento
estável de um sistema monetário internacional. As taxas de câmbio
ficaram estáveis por longos períodos e sem um dispositivo de
controle de capital ou de ajudas externas. Os salários não eram
totalmente flexíveis, pois os mercados de trabalho estruturados
reduziam a flexibilidade dos salários em longo prazo e, mesmo antes
que o sindicalismo houvesse se consolidado, houve o crescimento
de grandes empresas com departamento de pessoal.
Analogias nos períodos pré e entreguerras, em relação à
variabilidade dos salários, na Inglaterra, não advêm de evidências de
um declínio da flexibilidade do mercado de trabalho. Ainda nos EUA,
onde os estudos introdutórios indicavam uma parada no crescimento
dos salários nominais, novas pesquisas indicam que a partir de dados
micro e macroeconômicos, a tal inércia crescente dos salários têm
sido muito questionada (EICHENGREEN, 1995).
Diversas pesquisas procuram responder como o padrão-ouro
funcionou tão bem no pré-guerra. Uma linha de pensamento ressalta
a existência e o papel das cláusulas de escape durante o padrão-ouro.
Na ocorrência de distúrbios excepcionais, os países poderiam parar a
conversibilidade temporariamente sem afetar sua credibilidade. Uma
situação típica de distúrbio excepcional é a guerra, pois a Inglaterra
parou a conversibilidade durante as guerras francesas, sem interferir
na credulidade do seu comprometimento em manter o padrão-ouro.
No mesmo sentido, os EUA o fizeram, durante e após a guerra. A
cláusula de escape poderia, também, ser usada em situações de
problemas eminentemente financeiros, como o fez o Banco da
Inglaterra, em 1847 e 1857 (EICHENGREEN, 1995).
A situação temporária da parada era crítica em relação à operação
desse mecanismo, visto que as autoridades sempre se comprometeram

U3 - O sistema monetário internacional 83


com a volta da paridade após a crise. Esta temporariedade minimizava
a saída de capitais, que poderia ser incitada por esperanças de
depreciações constantes. A natureza excepcional das crises e
temporária da suspensão foi assinalada pela “renúncia emergencial"
contida no Ato Bancário de 1844 (EICHENGREEN, 1995).
Opostamente à Europa, os países latino-americanos paravam
a conversibilidade e liberavam a redução de suas taxas de câmbio
sempre que cessava a oferta de capitais estrangeiros ou a demanda
por suas exportações. Todavia, distinto do que acontecia nas nações
europeias, a confiabilidade não se mantinha ilesa. A discrepância é
explicada pela base do regime monetário e pela competência em
controlar pressões de mercado. Na Europa, o padrão-ouro estava
embasado na prioridade atribuída à manutenção da conversibilidade,
logo, nos países centrais do sistema (Inglaterra, França e Alemanha)
não havia dúvidas, exceto em circunstâncias excepcionais quanto
ao acordo das autoridades com a proteção das reservas de ouro
dos bancos centrais e com a sustentabilidade da conversibilidade
da moeda. Isto constituía a síntese de regras monetárias fortes
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
A confiabilidade era, por ora, robustecida pelo baixo entendimento
das relações entre política monetária e a economia. Enquanto não
surgisse uma teoria bem estruturada sobre a relação entre a política
dos bancos centrais e a economia, os observadores dificilmente
encontrariam um acordo sobre os diversos resultados em relação às
altas taxas de juros sobre o nível de emprego. Um comprometimento
dos governos com a conversibilidade deixava ainda mais aceitável o
fato de os desempregados não poderem manifestar suas objeções,
pois o direito ao voto era limitado aos proprietários. Os partidos
trabalhistas ainda estavam em processo de formação e representavam
a parte masculina da classe trabalhadora, visto que as mulheres não
exerceriam o direito a voto, pois era proibido na época.(KRUGMAN;
OBSTFELD, 2010).
Quando o banco central aumentava as taxas de juros, os
trabalhadores desempregados tinham baixas possibilidades de se
oporem e, menos ainda, de mudar os gestores governamentais
e os diretores do banco central de seus cargos. Os financiadores
externos contemplavam na aceitação ao padrão-ouro um indicativo
de probidade financeira, inferindo a questão da probidade ao acesso

84 U3 - O sistema monetário internacional


dos países em desenvolvimento aos mercados internacionais de
capitais. Desse modo, uma circunstância que afetasse negativamente
o balanço de pagamentos não flexibilizaria a taxa de câmbio a ponto
de ocorrer aumentos excessivos da taxa de juros. Entretanto, a
debilidade da taxa de câmbio era compensada pela entrada de capitais
causada pelas expectativas de que as autoridades fariam as medidas
necessárias à sua estabilidade (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Para saber mais


Figura 3.1 | David Hume

Fonte: <https://www.arlloufill.com/pages/padrao-ouro>. Acesso em: 25 fev. 2017.

O padrão-ouro era um sistema monetário vigorante entre o século 19


até a Primeira Guerra Mundial. Tal sistema origina da teoria quantitativa
da moeda, criada por David Hume em 1752 (modelo de fluxo de
moedas metálicas), que delineava a proporção entre moeda e níveis
de preço (inflação e deflação) (NEW GREENFIL, 2017).

Os poderes econômicos e as políticas que atuavam para a


credibilidade do compromisso de conversibilidade eram mais fortes
na base europeia do sistema. Nos Estados Unidos, contrariamente, os
débitos agrícolas e os interesses da mineração da prata criavam uma
forte coalizão de oposicionistas à deflação e favoráveis a mudanças
no padrão monetário que possibilitassem a cunhagem da prata. Esses
aglomerados existiam na Europa, mas nos EUA detinham grande
força de barganha em razão da existência do sufrágio universal
masculino. Na América Latina, como nos EUA, a depreciação foi aceita
pelos proprietários de terra com débitos hipotecários fixos e pelos

U3 - O sistema monetário internacional 85


exportadores desejosos de melhorar sua posição de competitividade.
Como nos EUA, os dois grupos eram, basicamente, um único e os
mesmos, suas posições eram compactuadas pelos mineradores
favoráveis à cunhagem da prata (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Pelas circunstâncias, as regras monetárias fortes não obtiveram o
apoio político em maioria e a confiabilidade do comprometimento
das autoridades com a taxa de câmbio corrente era questionável.
Os países latino-americanos foram muitas vezes obrigados a abdicar
do padrão-ouro nas últimas décadas do século 19. Portanto, do
mesmo modo que regras monetárias fortes e cláusulas de saídas bem
delineadas ajudaram a operacionalidade do padrão-ouro clássico no
centro europeu, a falta delas provocou a bancarrota do regime na
periferia (EICHENGREEN, 1995).
O padrão-ouro também necessitava de saídas para minimizar
as pressões de mercado, pois elas poderiam ser agudas, visto
que, antes de 1914, a quantia de fluxos internacionais de capital
de longo e de curto prazo atingiu patamares altíssimos. As nações
não melhoraram os controles de capital para que os retirassem das
pressões especulativas. Entretanto, utilizavam-se os chamados gold
devices para aumentar a faixa de alternâncias de suas taxas de câmbio
bilaterais. A banda flutuante sob o padrão-ouro era definida pelos
gold points (invenção criada para arbitragens no mercado de ouro,
correlata aos custos de transporte e de seguro).
Normas com o objetivo de ampliar a banda reduziam as pressões
sobre as autoridades, no caminho de aumentar as taxas de juros
em condições em que os fluxos de capital enfraquecessem a taxa
de câmbio. Os bancos centrais deveriam aumentar os preços de
aquisição e de vendagem das barras de ouro ou trocar por notas as
moedas metálicas em uso. Eles poderiam prejudicar a exportação de
ouro, caso fosse restringida a conversão apenas à matriz do banco
central. Como o Banco da França, outros poucos poderiam resgatar
legalmente suas moedas-papel por meio de moedas de ouro e
de prata, dado que os valores de face eram superiores ao valor de
mercado. Essa era uma prática semelhante à desvalorização cambial
(EICHENGREEN, 1995).
Uma diferente forma de minimizar as pressões de mercado era
a colaboração externa entre bancos centrais e governos dos países.
A cooperação era rara, mas acontecia no mesmo ato do ataque

86 U3 - O sistema monetário internacional


das fundamentais taxas de câmbio do sistema. Os bancos centrais
abatiam títulos a favor da nação afetada ou emprestavam ouro para
suas autoridades monetárias. A situação mais abordada foi à crise, em
1890, do Baring, quando o Banco da Inglaterra defrontou-se com a
insolvência do mais forte banco britânico Baring Brothers, em razão
de não honrar com os compromissos de empréstimo adquiridos pelo
governo da Argentina. O Banco da Inglaterra emprestou 3 milhões de
libras em ouro do Banco da França e teve a garantia do governo russo
de 1,5 milhões de libras em moedas de ouro (EICHENGREEN, 1995).
Para manter os EUA no padrão-ouro, em meados de 1895, um
consórcio de bancos europeus, em conjunto com o governo de seus
países, emprestou ao governo americano um montante necessário
para que se mantivesse o padrão-ouro naquele país. Em 1898, o
Reichsbank e bancos comerciais da Alemanha foram ajudados pelos
Bancos da Inglaterra e da França. Em 1906 e 1907, o Banco Inglês
necessitou novamente da ajuda do Banco da França em conjunto
com o Reichsbank. O Banco Estatal Russo enviava ouro para Berlim
para reestabelecer as reservas do Reichsbank (EICHENGREEN, 1995).
Entre os anos de 1909 e 1910, o Banco da França novamente descontou
títulos ingleses para garantir as reservas de ouro em Londres. Ressalta-se que
os pequenos países da Europa, como Bélgica, Noruega e Suécia, pegavam
empréstimos das reservas dos bancos centrais e de governos estrangeiros.
Desse modo, a manutenção do padrão-ouro clássico visto no
centro da Europa deve-se à existência dos pré-requisitos necessários
para um sistema monetário internacional viável. A falta dos pré-
requisitos e a consequente instabilidade do padrão-ouro na periferia
denotam um contraexemplo.

1.2 Arranjos no entreguerras


Os arranjos monetários internacionais do período entreguerras
são denotados pelo fraco desempenho. A vivência de taxas
flutuantes, nos anos 1920, gerou uma negação à flutuação cambial
que delongou essa experiência por meio século. O resultado ruim
é explicado pela falta de regras monetárias fortes. As forças que
aceitaram sua existência, até 1914, foram enfraquecidas com a
Primeira Grande Guerra. Os bancos centrais, alienados ao ministro
das Finanças e Orçamento, tiveram sua independência controlada
(SILVA; CARVALHO, 2007).

U3 - O sistema monetário internacional 87


As adesões universais masculinas, o aumento dos partidos
trabalhistas e a importância dada às relações entre política monetária
e desemprego politizaram as escolhas dos banqueiros centrais. Os
anos pós-guerra foram amplamente dominados por controvérsias
entre políticas econômicas, que por acaso eram consistentes com
as políticas monetárias. Enquanto os bancos centrais estavam a
serviço dos governos, as influências políticas em escolhas no tocante
de quais taxas deveriam ser aumentadas ou quais programas de
gastos deveriam ser retirados, acabavam refletindo nas autoridades
monetárias, que eram coagidas a gerar moeda e crédito para ajustar
as demandas inconciliáveis, em relação aos efeitos sobre o câmbio
(SILVA; CARVALHO, 2007).
Circunstancialmente, tais experiências ruins criavam suas próprias
soluções. As desordens financeiras acabavam com as resistências ao
empenho fiscal e a inflação alta abatia a oposição à independência
do banco central. Na segunda metade dos anos 1920, retorna-se
ao padrão-ouro. Por razões previsíveis, entretanto, foi mais fraco
do que no pré-guerra. As políticas monetárias eram influenciadas
politicamente, especialmente enquanto a taxa de desemprego ficasse
no patamar de dois dígitos. Os bancos centrais que aumentassem taxas
de juros em defesa de suas taxas de câmbio eram pressionados pelas
consequências negativas sobre o emprego. Assim, por circunstâncias
políticas, não era possível a adoção de regras monetárias fortes,
inibindo o recurso às cláusulas de escape, ocasionando um sistema
de câmbio fixo rígido e frágil (SILVA; CARVALHO, 2007).
A ajuda internacional às taxas de câmbio fracas mostrou os
problemas de se conciliar restrições às políticas domésticas,
controvérsias políticas internacionais e estruturas conceituais
conflitantes. A cautela dos grupos de interesse, contra ajustamentos
cooperativos das políticas econômicas que pudessem prejudicá-los
em relação às disputas internacionais quanto às dívidas de guerra e
reparações, e a adoção de estruturas conceituais concorrentes em
diferentes países evitaram que os formuladores de política econômica
encontrassem um entendimento comum em relação aos problemas
econômicos e uma solução conjunta (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
A flutuação controlada dos anos 1930 não satisfazia a quaisquer
pré-requisitos necessários para que o sistema monetário internacional
operasse de forma estável. Os governos alteravam sistematicamente

88 U3 - O sistema monetário internacional


as regras de política econômica, causando dúvidas sobre o grau de
comprometimento com as taxas de câmbio correntes. O capital
especulativo movimentava-se de forma desestabilizadora e a cooperação
para minimizar as pressões de mercado não era significativa. O Acordo
Tripartite de 1936 foi a primeira tentativa de viabilizar um sistema monetário
internacional, mas tal viabilidade só veio ocorrer após a Segunda Guerra
Mundial (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

Questão para reflexão


História é como chamamos os erros de nossos antecessores; reforma
é como chamamos os nossos. Você consegue entender como a
história do sistema monetário internacional pode ter influenciado
o seu cotidiano? Qual o significado de um sistema monetário
internacional satisfatório, bem-sucedido ou viável? Fonte: Adaptado
de EICHENGREEN, (1995).

Entretanto, devido à redução do comércio internacional e dos fluxos


internacionais de capitais, já ao final de Segunda Guerra mostrava-se
necessária a existência de um novo sistema monetário internacional,
para potencializar o desenvolvimento do mundo capitalista.
Dentro desse contexto, segundo Eichengreen (1995), foram criadas
as quatro principais instituições econômicas do pós-guerra:

a) O sistema de taxas de câmbio de Bretton Woods.


b) Fundo Monetário Internacional (FMI).
c) Banco Mundial.
d) Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt).

1.3 Sistema de Bretton Woods


O sistema de Bretton Woods, criado em 1944, consagrou um
controle de taxas de câmbio intitulado padrão dólar-ouro, o qual
buscava a flexibilização do padrão-ouro, que era a base do sistema
monetário internacional anterior à Primeira Guerra Mundial.
O sistema aprovado em Bretton Woods considerou o dólar como
moeda-padrão internacional, sendo a única moeda que continuaria
a ter sua conversibilidade em relação ao ouro. As moedas de outras

U3 - O sistema monetário internacional 89


nações eram conversíveis livremente em dólar e a uma taxa de
câmbio fixa (não possuindo limites à mobilidade de capital); desse
modo, o dólar tinha uma paridade com o ouro e todas as outras
moedas com o dólar (FOSCHETE, 2003).
Nas três décadas posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial,
a economia e o comércio internacional melhoraram com base
no dólar e neste sistema. Havia, porém, uma contradição básica
entre as prosperidades do comércio internacional e a manutenção
do acordo de Bretton Woods centrado na paridade dólar-ouro:
para que a expansão ocorresse, era necessário o crescimento das
poupanças mundiais em dólares (com intuito de não haver crises
de liquidez internacional). Tal injeção de liquidez era efetuado com
base em resultados negativos externos dos EUA; caso tais déficits
fossem contínuos e, caso os ativos em ouro norte-americanos
fossem constantes (na verdade eram cadentes), a confiança na
conversibilidade do dólar e, por consequência, a base dos acordos
de Bretton Woods, ruiria. Entretanto, se não ocorresse melhora na
liquidez, o crescimento também não ocorreria (GILPIN, 2002).
A conferência de Bretton Woods foi uma situação construída
para restabelecer as concordâncias de viabilidade de um sistema
monetário internacional. O pacto estabeleceu uma cláusula de
escape para assegurar ajustamentos dos preços relativos. Posto que,
se determinasse dos signatários a declaração do valor da paridade
de suas moedas, eram permitidos apenas ajustamentos de paridade
caso houvesse existência de um “desequilíbrio fundamental”.
A não anuência entre negociadores americanos e ingleses
foram um impeditivo à maior precisão dos critérios de recurso à
cláusula de escape pelos países em desequilíbrio. No caso de
desvalorização de suas moedas, os países necessitariam obter,
primeiramente, a concordância do FMI. Em caso de discordância,
poderiam ter acesso negado aos recursos do Fundo. Tentava-se,
nessa situação, ter a garantia de que os problemas que levavam a
variações cambiais fossem de origem externa e não causados pelas
próprias autoridades. Na prática, entretanto, nem sempre os países
conseguiam a autorização do FMI antes da desvalorização de suas
moedas. A única alteração da taxa de câmbio não autorizada pelo
FMI foi em 1984, na França (GILPIN, 2002).

90 U3 - O sistema monetário internacional


A falha desses procedimentos, que resguardavam os mercados
das variações de paridade, apenas surgiria em resposta a choques
externos excepcionais e autônomos, não ocasionados por escolha
de política econômica doméstica. Os países ficaram sem segurança
em relação ao uso da cláusula de escape. O receio era de que seu uso
atrapalhasse a credibilidade de suas políticas monetárias. Contudo,
foram poucas as variações nas taxas de câmbio concretizadas pelos
países industrializados, durante os anos do Bretton Woods.
A aversão pela busca das variações da taxa de câmbio não
possibilitou que os fluxos de capital apresentassem sempre um
caráter estabilizador, o que limitava a robustez das regras políticas
correntes. No entanto, essa é uma afirmação relativa, pois a base
das regras monetárias prevalecentes era baixa quando comparada
à era do padrão-ouro, quando o acordo dos bancos centrais com
a estabilidade da taxa de câmbio passava qualquer outro objetivo e
isolava-o das pressões políticas (GILPIN, 2002).
Todavia, após a Segunda Guerra, os elaboradores da política
monetária ficaram divididos entre a vontade de estabilizar a taxa de
câmbio e os preços, em um grupo, e a de baixar o desemprego e
limitar os ciclos dos negócios via ativismo da política econômica, em
outro grupo. Entretanto, do mesmo modo, a estabilidade da política
monetária e a força das regras monetárias vigentes era maior, quando
comparada ao período imediatamente anterior (anos 1920 e 1930)
e quanto aos anos subsequentes ao colapso do sistema Bretton
Woods. Trabalhos e estudos sobre a era de Bretton Woods sugerem
que eram pouco usuais mudanças errôneas na política monetária,
notadamente após o restabelecimento da conversibilidade da conta
corrente, no final de 1958. Portanto, o êxito do sistema de Bretton
Woods deve-se, em parte, à restringida, mas importante solidez das
políticas monetárias internas (GILPIN, 2002).
Por que as regras monetárias eram relativamente fortes no auge
de Bretton Woods? Retirando os EUA e o Reino Unido, a revolução
keynesiana exercia baixa influência sobre os países. Foram poucas
as experiências de utilização da política monetária para alterar a
produção e o emprego. Os governos não notavam a necessidade
de utilizar políticas fiscais e monetárias discricionárias enquanto
suas economias cresciam em ritmo acelerado. Nesses moldes, os
cidadãos não se atentavam aos custos dos desajustes monetários
(BRIGAGÃO, 2001).

U3 - O sistema monetário internacional 91


Solitários em apoios políticos, os governos procuravam
melhorar sua credibilidade empenhando-se na sustentabilidade
dos seus acordos com taxas fixas. Além disso, resistiam em alterar
a política monetária e desequilibrar as taxas de câmbio diante das
recordações das desvantagens oriundas da volatilidade cambial, na
primeira metade dos anos 1920, e das desvalorizações competitivas
(de “desenriquecimento do vizinho”) dos anos 1930.
As circunstâncias escolhidas para minimizar as pressões de
mercado podem ser consideradas as alterações mais significativas
introduzidas pelo Acordo de Bretton Woods. O FMI foi instituído
para proteger as moedas em situações de fraqueza. Em situações
de dificuldade com o balanço de pagamentos, os países poderiam
solicitar, sem restrições, a tranche inicial de suas quotas no FMI e
solicitar empréstimos adicionais restritos com algumas condições.
Na década de 1950, foram introduzidos os Stand-By, que
procuravam dar assistência financeira aos países antes da ocorrência
de dificuldades. Esses acordos não davam o apoio necessário para
a segurança de uma moeda indefinidamente, mas era a fonte de
fornecimento adicional para países que passavam por ataques
especulativos (BRIGAGÃO, 2001).
Os países industrializados ajudavam-se mutuamente. Logo em
1961, os bancos centrais acertaram o Acordo de Basileia, pelo qual
cada país se comprometia a proteger as demais moedas e a participar
de empréstimos mútuos. O pool do ouro, em Londres, possuía
como objetivo a prevenção ao esgotamento da poupança (de ouro)
dos EUA. Em meados de 1962, os países industrializados fizeram
swaps para liberação de linhas de crédito adicionais. Continua-se,
ainda, o Acordo Geral para Empréstimos, os Direitos Especiais de
Saque e outras formas de alargamento dos recursos disponíveis
para bancos centrais com circunstâncias adversas. Cabe ressaltar
que esse não era um apoio irrestrito, tampouco a somatória desses
recursos era suficiente para minimizar as pressões especulativas
dos mercados financeiros em situações pormenorizadas, porém
poderiam ser meios importantes em situações pontuais.
Contudo, o aumento da ajuda internacional, em termos de
apoio à taxa de câmbio, diferenciou Bretton Woods dos arranjos
monetários internacionais antecessores, dado que a grande maioria
da sustentação das principais paridades do sistema foi efetuada fora

92 U3 - O sistema monetário internacional


das bases do FMI. Outro ponto importante para a minimização das
pressões de mercado está relacionado com a manutenção dos
controles de capital.

Para saber mais


Figura 3.2 | Bretton Woods

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Image-Mount_Washington_Hotel.jpg>. Acesso em: 18 abr. 2017.

As conferências de Bretton Woods definiram o sistema BW de controle


da economia internacional, em 1944, que veio a normatizar as
relações de comércio e finanças entre as nações potencialmente mais
industrializadas. O sistema BW foi o exemplo inicial, na história dos países,
em que houve uma resolução monetária amplamente negociada, com
o intuito de administrar as relações monetárias entre Nações-Estado
independentes (WIKIPEDIA, 2017a).

Foram sustentados, pela maioria dos países, diversos tipos de


gerenciamento do direcionamento do capital financeiro, durante
a vigência do Bretton Woods. Como o custo da burla era alto, os
governantes tinham tempo hábil para acertar suas políticas em uma
direção estabilizadora, antes que a taxa de câmbio viesse a colapso,
ou para acomodá-la ordenadamente (BRIGAGÃO, 2001).
Os estudos sobre a questão do declínio e a falência de Bretton
Woods ressaltam as falhas estruturais do sistema, enquanto outras
observações atribuem a falência aos conceitos desenvolvidos na
Seção 1. No fim dos anos 1960, quando a estabilidade política e a
defesa do preço de US$ 35 para a onça de ouro foram relacionadas
às intenções da Guerra do Vietnã, viu-se então um declínio na força
das regras monetárias nos EUA (BRIGAGÃO, 2001).

U3 - O sistema monetário internacional 93


Tal circunstância também foi notória na Europa, dado o crescente
modismo do keynesianismo. A sensibilidade britânica às políticas de
stop-go levou à crise da libra em 1967, retratando a hesitação que
permeou os formuladores de política macroeconômica em dar mais
importância aos objetivos econômicos nacionais ou internacionais,
em contrapeso a uma faixa política robusta no longo prazo.
Concomitantemente à redução de forças das regras domésticas de
política monetária, ocorreu uma alta (previsível) da rigidez do sistema
de taxas de câmbio. Sem forças para propor regras contingenciais,
os governantes tentavam dar confiabilidade a seus acordos com a
taxa de câmbio vigente, segurando todas as pressões para mudá-las
(EICHENGREEN, 1995).
A redução da cláusula de escape deixou os controles de preços
relativos mais complexos. A ajuda internacional foi atrapalhada pelas
críticas do presidente da França, Charles de Gaulle, ao privilégio
enorme dos EUA, e por seus medos em relação à estabilidade
do dólar. Do mesmo modo, as defesas unilaterais que os países
poderiam construir para segurar as pressões de mercado diminuem
dada a crescente permeabilidade dos controles de capital. Por ora,
era previsível o colapso do sistema de Bretton Woods de taxas de
câmbio fixas, porém adaptáveis (BRIGAGÃO, 2001).

1.4 Arranjos pós-Bretton Woods


O controle monetário internacional, após a crise de Bretton
Woods, balançou entre empenhos unilaterais de equilíbrio da taxa
cambial e buscas de colaboração ad hoc, com os Acordos do
Louvre e do Plaza. Somente na Europa ocorreram esforços mais
sistemáticos para conter tais pressões oriundas do pós-Bretton
Woods (COSTA; GRISI, 1999).
A questão acirrou-se com as guerras da Coréia e do Vietnã, com
a política keynesiana (política de gastos públicos) da década de 1960,
e os consequentes aumentos nos déficits americanos (público e
comercial). A partir disso, o sistema montado em Bretton Woods foi
sendo destruído e teve seu fim decretado por Nixon em 1971, com a
quebra da conversibilidade do dólar em ouro. Logo, observaram-se
momentos de grande instabilidade, relacionada, após 1973, às taxas
alternantes de câmbio. Ocorreu alta desvalorização do dólar, pois,
mesmo ainda sendo a principal reserva internacional, deteriorou

94 U3 - O sistema monetário internacional


sua importância, sobretudo em relação ao iene e ao marco alemão
(EICHENGREEN, 1995).
Foram três as ações pós-Bretton Woods consideradas importantes
para o entendimento dos pré-requisitos básicos à manutenção da
estabilidade monetária internacional. A primeira retrata a experiência
malsucedida de equilíbrio da taxa de câmbio dos países da Europa,
nos últimos anos de vigência do sistema de Bretton Woods. Em 1972,
os membros da Comunidade Econômica Europeia organizaram
a chamada “serpente no túnel”, que deixava as taxas de câmbio
dentro de margens (de flutuação) mais curtas em relação às que
foram solicitadas pelo Acordo Smithsoniano. Estabeleceu-se, então,
o acesso ao Financiamento de Curtíssimo Prazo (VSTF) para auxiliar
os países membros a suportar déficits temporários de balanço de
pagamentos (COSTA; GRISI, 1999).
Depois da falência do “túnel smithsoniano”, em 1973, continua-se
a serpente, porém sem o êxito esperado. Diversos países a deixaram
por um tempo, outros de forma permanente. Apenas a Alemanha e
seus pequenos vizinhos do norte europeu aceitaram e continuaram
no sistema. Existem duas razões para explicar o fracasso dessa
iniciativa, que estão nas políticas fiscais e monetárias extremamente
expansionistas. A quadruplicação do preço do petróleo no último
trimestre de 1973, e as recessões que se sucederam, levaram os
governos a fazer políticas anticíclicas com viés inflacionário. No
começo de 1976, a inflação na Itália e no Reino Unido passou dos
20% e os expulsou da serpente.
Em grande parte dos países da serpente, as taxas de inflação
eram menores, ou seja, entre 10% a 14%, e ainda mais baixa no país
âncora, a Alemanha. Em 1975, a França utilizou políticas fiscais mais
flexíveis contra a profunda depressão, e levou o franco, pela segunda
vez, para fora da serpente. O insucesso à coordenação inapropriada
de políticas entre países ocorreu em razão do medo dos governos
de se comprometerem com os objetivos econômicos internos ou
de incumbir autoridade correta ao Comitê dos Diretores de Bancos
Centrais ou ao Fundo Europeu de Cooperação Monetária (COSTA;
GRISI, 1999).
Alternativas notáveis pós-Bretton Woods foram os Acordos do
Plaza e do Louvre, acordados pelos ministros das finanças do Grupo
dos Cinco, em meados dos anos 1980. As igualdades das moedas

U3 - O sistema monetário internacional 95


dos três principais países industrializados como o dólar, o marco e
o iene, flutuaram abertamente na primeira metade dos anos 1980.
Entre 1980 a 1985, a taxa de câmbio comercial do dólar em relação
a outras divisas valorizou-se quase 90%, e a mesma tendência
sinalizou, também, para a taxa de câmbio real americana. Tal
comportamento ocasionou pressões protecionistas do Congresso
dos EUA. Em setembro de 1985, no Hotel Plaza, em Nova Iorque, os
países do G5 concordaram em acomodar suas políticas monetária e
fiscal para reduzir o valor do dólar (COSTA; GRISI, 1999).
Em fevereiro de 1987, em consenso, negociaram, no Louvre,
um acordo de estabilização cambial delineando a manutenção das
moedas dentro de faixas de baixa flutuação.
As compras oficiais de dólares, nos meses posteriores ao Acordo
do Louvre, foram superiores a todas aquelas realizadas desde a
falência do sistema de Bretton Woods. Estagnou, temporariamente, a
depreciação do dólar, com a manutenção no centro de sua margem
de 2,5%. Entretanto, o acordo não levou em conta um compromisso
dominante com metas para taxas de câmbio, nem se possibilitou a
ajuda necessária para um acordo de estabilização cambial por muito
tempo. Os Estados Unidos não efetuaram nenhuma providência
para conter sua lacuna crescente em contas correntes, que estava
reduzindo o grau de confiança no dólar (EICHENGREEN, 1995).
Em outubro de 1987, o Bundesbank aumentou sua taxa de juros
básica, mostrando uma leve indicação de inflação interna e alçando
dúvidas em relação ao comprometimento com a estabilização
do dólar. O governo Reagan criticou o banco central alemão. O
mercado americano de ações entrou em colapso na segunda-feira
seguinte, obrigando o Federal Reserve (FED) a baixar suas taxas de
juros e a proporcionar disponibilidade de crédito para o mercado,
devido às implicações para a taxa de câmbio. A Alemanha e o Japão
não aceitaram a continuar apoiando o dólar, decretando que os EUA
adotassem providências para minimizar seus déficits orçamentários.
Contudo, o fim do Acordo do Louvre se deu em razão de uma
cooperação internacional inadequada e da hesitação em adotar
regras monetárias sólidas que priorizassem a estabilidade da taxa de
câmbio (COSTA; GRISI, 1999).
No entanto, não se pode garantir que os governantes
apelassem a realinhamentos apenas devido aos choques exógenos.

96 U3 - O sistema monetário internacional


Diversos países dificilmente aceitavam regras monetárias sólidas.
Característicos eram os realinhamentos induzidos por inflações
contínuas, e não por choques externos. Logo, a requisição aplicada
pelo Sistema Monetário Europeu (SME), de aceitação dos parceiros
para alterações na paridade cambial de um país, evitou abusos
(SILVA; CARVALHO, 2007).
A conservação de diversas formas de controle de capitais
que partem desde impostos sobre a posse de ativos em moedas
externas, quando da limitação da capacidade de empréstimos
bancários ao exterior, foi outra característica distinta do SME.
Concomitantemente com o ajustamento e a acessibilidade a
financiamentos de pequeno prazo, eles formam a quadratura do
círculo. A certeza de que, ao final do processo, os países com moeda
de pequeno poder poderiam realinhar suas igualdades, garantiu aos
parceiros de moeda robusta que a obrigatoriedade de influências
seria restringida. Os controles de capital, ainda que com porosidade,
provinham do necessário isolamento para gestar os realinhamentos
e assegurar a sustentabilidade do sistema (SILVA; CARVALHO, 2007).
A alteração do equilíbrio de tais elementos no período precedente
à crise do SME, em setembro de 1992, coloca a operacionalidade
do sistema como cheque. A introdução às regras monetárias fortes
era maior do que o habitual, embora ainda fora do ideal, quando
a tensão era maior. O recurso à cláusula de escape era baixo.
Entre fevereiro de 1987 até a crise de setembro de 1992, não foi
efetuado nenhum realinhamento. Essa alteração na estratégia foi
um encadeamento dedutivo da remoção dos controles de capital,
pelo Ato Europeu Único, que buscava criar um Mercado Europeu
Único (EICHENGREEN, 1995).
Essa retirada atrapalhou ajustes ordenados. Com a alta rigidez do
sistema de taxas de câmbio, os países com moedas fortes, como a
Alemanha, estavam receosos de que o ajustamento dos países de
moedas frágeis não restringisse as intervenções necessárias a um
grau consideravelmente necessário. Além disso, elas atrapalhariam
a estabilidade dos preços internos, pois isso não era aceitável. Ao
mesmo tempo em que cresciam as pressões sobre o balanço de
pagamentos, os meios tradicionais para seu controle eram minados
ou removidos. Em tal contexto, os acontecimentos de 1992 levaram
a uma crise que expurgou duas moedas do SME e devorou a
confiança no sistema.

U3 - O sistema monetário internacional 97


1.5 Câmaras de conversão
Uma câmara de conversão é formada para reduzir os riscos e
incertezas em relação ao compromisso das autoridades de assegurar
a igualdade fixada para a moeda. Os estatutos da câmara impedem
que as autoridades emitam moeda, exceto quando adquirem reservas
em divisas suficientes para possibilitar a conversão a uma taxa fixa.
Para cada moeda interna adicional emitida, a câmara deve adquirir
um dólar adicional de reserva (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
A consequência é que o estatuto da câmara de compensação
não dá poderes totais ao sistema em relação ao isolamento contra
ataques especulativos. Em caso de um casual ataque, a abdicação
das taxas fixas de câmbio exigiriam um ato parlamentar para
mudança da paridade. Nesta situação, as pressões políticas contra
taxas de juros maiores se concentrariam no Parlamento.
Exceto os altos custos políticos embutidos na alteração
estatutária para permissão das variações na taxa de câmbio, nada
mais manteria o Parlamento fora de pressões por mudanças. A
ciência de que poderia haver o momento em que o estatuto da
câmara fosse alterado poderia incentivar tentativas de ataques
especulativos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).

1.6 Fundo Monetário Internacional (FMI)


O Fundo Monetário Internacional, fundado em 1944, tem como
objetivo promover a mútua ajuda monetária entre os países e assistir
na resolução de problemas conjunturais de balanço de pagamentos.
O FMI incita a ampliação e o desenvolvimento do comércio
internacional, promove a estabilidade cambial e estabelece um
sistema multilateral de pagamento, além de permitir a seus membros
a utilização de recursos do Fundo para corrigir desequilíbrios
temporários em seus balanços de pagamento (FOSCHETE, 2003).
O capital do Fundo é constituído por quotas de todos os países
a ele filiados. Tais quotas são especificadas em Direitos Especiais de
Saque (DES) e são determinadas pela renda nacional, magnitude e
flutuação do balanço de pagamento, reservas em divisas fortes etc.,
sendo constituídas por moedas nacionais dos países-membros e
ouro (FOSCHETE, 2003).

98 U3 - O sistema monetário internacional


Os DES são unidades puramente contábeis, cujo valor flutuante é
calculado diariamente pelo Fundo, com base no valor das moedas de
cinco países filiados, escolhidos por serem os de maior participação
nas exportações mundiais (FOSCHETE, 2003).
O FMI é administrado por um conselho de governadores, diretores
executivos, um diretor-gerente e um corpo de auxiliares. O corpo
técnico de economistas do FMI é considerado um dos melhores
do mundo. Quando uma nação que faz parte do FMI passa por um
desajuste em seu balanço de pagamentos, pode recorrer ao Fundo
para obter crédito em DES ou moeda estrangeira de que necessite,
o que é feito sempre mediante um acordo. Embora criticados por
algumas correntes de economistas, os acordos com o FMI têm uma
importância ímpar para os países, porque sinalizam à comunidade
financeira internacional uma avaliação técnica do estado das contas
de um país (FOSCHETE, 2003).

1.7 Banco Mundial


O Banco Mundial, ou Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird), criado em 1944, juntamente com o FMI,
é um órgão que fornece e capta crédito para investimentos na
produção de países subdesenvolvidos e de seus aliados, sem objetivar
lucratividade. Os juros e comissões por ele cobrados destinam-se a
cobrir suas despesas e constituir um fundo de reserva (GILPIN, 2002).
O Banco Mundial tem uma estrutura administrativa semelhante à
do FMI. Para filiar-se ao Banco Mundial, é necessário ser membro do
FMI e subscrever partes de suas ações, em número ajustado de acordo
com seus recursos econômicos, que vão constituir, juntamente com
os resultados líquidos de suas operações, o capital do Banco, que é
expresso em Direitos Especiais de Saque (DES) (GILPIN, 2002).
Para buscar recursos, o interessado deve apresentar o projeto
explicitado do empreendimento (sua natureza, tempo de execução,
prazo para saldar a dívida e seus devidos juros etc.) e, caso não seja o
próprio governo, o requerente deverá obter antes a garantia do Banco
Central ou outra instituição de seu país aceita pelo Bird. O projeto passa
pelo Conselho Consultivo, que o encaminha aos especialistas da área,
para julgarem sua urgência, importância e viabilidade.
No caso de o pedido ser aprovado, a Comissão Consultiva do
Banco indica de onde sairão os recursos, se do próprio Banco ou se

U3 - O sistema monetário internacional 99


será necessário recorrer a capitais particulares, e, nesse caso, o Banco
emite títulos e decide em que praça será lançado, além de indicar
quais as taxas de juros e como deve ser efetuado o pagamento. Sobre
os empréstimos concedidos, o Banco cobra 0,25% de despesas
administrativas e 1% de comissão anual (GILPIN, 2002).
A execução do projeto financiado será fiscalizada pelo Bird, que
vai liberando os recursos de acordo com seu andamento, e pode,
sempre que julgar necessário, pedir informações sobre a aplicação
desses recursos ou sobre a própria execução do projeto.

1.8 Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) −


Organização Mundial do Comércio (OMC)
Anos após a Conferência de Bretton Woods, criou-se um Acordo
Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade
− GATT), trocado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) a
partir de 1995, cujo objetivo elementar é a diminuição das limitações
ao comércio internacional e a liberalização do comércio multilateral
(COSTA; GRISI, 1999).
A OMC é responsável pela montagem de uma gama de normas
e instituições que devem regular o comércio internacional e
encaminhar a resolução de conflitos entre os países. Nesse sentido, a
OMC herdou do GATT os seguintes princípios básicos: a diminuição
do protecionismo comercial, a não discriminação comercial entre
as nações, a contrapartida às nações lesadas por acréscimos nas
tarifas alfandegárias e a arbitragem dos conflitos comerciais (COSTA;
GRISI, 1999).
Foram promovidas, ainda no tempo do GATT, sucessivas tentativas
de negociabilidade entre as nações participantes do comércio
internacional, conseguindo-se, no pós-guerra, reduzir as barreiras
impostas a esse comércio por meio de impostos alfandegários e
quotas de importação (COSTA; GRISI, 1999).

100 U3 - O sistema monetário internacional


Atividades de aprendizagem
1) Na ocorrência de distúrbios excepcionais, os países poderiam suspender
a conversão temporária sem ônus a credibilidade? Cite exemplos.

2) Por que as regras monetárias eram relativamente fortes no auge do


padrão Bretton Woods?

U3 - O sistema monetário internacional 101


Seção 2
Globalização financeira e seus impactos sobre as
políticas monetárias nacionais
Introdução à seção
Esta seção preocupa-se em explicar os objetivos de política
econômica e do estabelecimento de previsões acerca do
comportamento do comércio exterior dos países, considerando a
importância de conhecermos os fatores ou variáveis que afetam a
sua balança comercial.

2.1 A internacionalização da economia:


globalização produtiva e financeira
Um atributo pontual das derradeiras décadas é o aumento da
integração econômica mundial em diversos aspectos: comercial,
produtivo, financeiro. Esse assunto recebeu grande destaque no
período atual e foi intitulado globalização. Deve-se notar que esse
processo é antigo, tendo sofrido alguns interregnos.
No final do século 20, por exemplo, já se discutia a questão do
imperialismo; após a Segunda Guerra ganha destaque a questão
das multinacionais; nos anos 1960 e 1970 assiste-se à emergência
e ao crescimento do euromercado; nos anos 1980, o crescimento
dos Tigres Asiáticos. Enfim, é uma sucessão de fatos que mostram a
crescente internacionalização da economia, culminando na chamada
globalização. Trata-se de um fenômeno complexo com diversos
delineamentos possíveis, sendo impossível tratar de todos os seus
aspectos no espaço aqui proposto (EICHENGREEN, 1995).
Entende-se por globalização produtiva a produção e a distribuição
de valores inclusos em redes de proporções mundiais, com o aumento
da competitividade entre fortes grupos multinacionais. O crescimento
notável das tecnologias de informação (telecomunicações e
microeletrônica) e a difusão de novas tecnologias criaram novos
produtos e novas oportunidades comerciais, além de ter criado alta
eficiência na produção e melhores condições de competitividade
para aqueles que têm acesso a tais inovações (COSTA; GRISI, 1999).
A globalização vem certamente contribuindo para uma melhoria

102 U3 - O sistema monetário internacional


no padrão de vida em escala mundial. Desde os anos 1980, quando
esse processo se acelerou, a taxa de crescimento mundial tem girado
em torno de 4% ao ano.
Particularmente os chamados “tigres asiáticos” beneficiaram-
se largamente desse processo, passando de países essencialmente
agrícolas para exportadores de bens manufaturados de alta tecnologia
(automóveis, computadores, eletrônicos em geral).

Questão para reflexão


Você consegue entender como a Globalização Financeira e seus
impactos sobre as políticas monetárias nacionais podem influenciar
o seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas com rendas
diferentes? Por quê?

No entanto, a internacionalização ou globalização pode


apresentar circunstâncias adversas, como o acréscimo do
desemprego estrutural em diversas nações (dado que o moderno
protótipo tecnológico necessita de mão de obra mais aprimorada,
deixando à margem uma grande massa de trabalhadores), a
tendência de desnacionalização do setor produtivo, principalmente
nos países emergentes, além da concentração da produção e
mesmo do comércio em grandes empresas, em sua maioria
multinacional, o que tem levado à tendência de desnacionalização
do setor produtivo, principalmente nos países menos desenvolvidos
(COSTA; GRISI, 1999).
Esse processo trouxe a necessidade de uma atuação do Estado
na regulamentação e fiscalização do mercado, principalmente
dos grandes grupos, no sentido de proteger os interesses dos
consumidores e das empresas de menor porte. A partir de 1980,
concomitantemente à internacionalização produtiva, teve início
uma ação contínua de crescimento dos fluxos financeiros externos,
relacionado mais ao mercado de capitais que ao sistema de crédito.
Essa ação contínua, intitulada de globalização das finanças, abarca
novas características financeiras, tais como a securitização de títulos,
segurança contra riscos (hedge) e a propagação dos derivativos
(mercados futuros, opções e swaps) (BRIGAGÃO, 2001).

U3 - O sistema monetário internacional 103


Para saber mais
Figura 3.3 | Paul Krugman Paul R. Krugman, nascido
em Nova Iorque em 1953, é
um economista americano,
ganhador do prêmio Nobel
em Economia de 2008. Era
crítico da Nova Economia,
estabelecida no fim da década
de 1990, para explicitar a
mudança de uma economia
baseada essencialmente na
indústria para uma economia
fundamentada na informação e
na prestação de serviços, oriunda
do desenvolvimento tecnológico
e da internacionalização das
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Krugman>. economias (WIKIPEDIA 2017c).
Acesso em: 18 abr. 2017.

Tais fluxos financeiros são influenciados por expectativas e políticas


cambiais e monetárias das diferentes economias. Quando a taxa de
juros interna for superior às taxas de juros externas, pode-se aguardar
um fluxo de recursos positivos.
Associados à atual modernização da informática, tais capitais
são alocados de um dia para o outro para países que apresentem
condições financeiras mais atrativas. Assim, a volatilidade em uma
determinada economia repercute ligeiramente em outras, o que hoje
em dia é denominado “efeito contágio”. São capitais especulativos
de pequeno prazo, aplicados em Bolsas de Valores e no mercado
financeiro local (BRIGAGÃO, 2001).
Apesar do relativo excesso de capitais financeiros externos
significar, principalmente para os países emergentes, um recurso
notável para completar sua poupança nacional e levar ao crescimento
econômico, a grande liberdade desses capitais deixam essas nações
em alto grau de dependência em relação às mudanças das diretrizes
de políticas econômicas dos países desenvolvidos, sobretudo dos
Estados Unidos, das oscilações das taxas de juros no mercado
internacional e das crises políticas (Oriente Médio). Na verdade, o ideal
é que o crescimento econômico seja financiado, preferencialmente,

104 U3 - O sistema monetário internacional


com capitais de mais longo prazo, associados a investimentos diretos
no país, que geram empregos e contribuem para a expansão das
possibilidades de crescimento econômico (BRIGAGÃO, 2001).

2.2 As multinacionais e o Investimento


Estrangeiro Direto (IDE)
O comércio exterior é a relação de compra e vendas de produtos
e serviços a partir de fronteiras externas ou territoriais. Em grande
parte das nações, o comércio internacional abarca grande montante
do PIB. O comércio internacional esteve presente no decorrer
de grande parte da história da sociedade, mas a sua significância
econômica, social e política elevou-se nos últimos séculos. O
avanço industrial, dos transportes, a globalização, o aparecimento
das grandes empresas multinacionais e o outsourcing (terceirização)
foram responsáveis pelo alto impacto na introdução desse comércio.
A ampliação do comércio externo é arrolada com a globalização
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
As multinacionais surgiram em sua maioria no final do século
19 e início do 20 e consistiam em firmas que inovaram em seus
respectivos setores econômicos e atualmente são responsáveis por
fatias expressivas do comércio mundial (SILVA; CARVALHO, 2007).
As empresas multinacionais, ou EMNs, ou ainda, MNCs
(Multinational Corporations), sustentam seus centros de decisão
financeira em paraísos fiscais, para se livrarem de impostos nos seus
países de origem, além de alterarem seus balanços patrimoniais nos
países onde têm matrizes. As MNCs necessitariam ser verdadeiramente
globais e não serem gerenciadas por uma central, que geralmente
está localizada em um país desenvolvido, no qual eles conduzem
grande parcela de sua pesquisa e onde normalmente seus lucros são
repatriados (BRIGAGÃO, 2001).
O arcabouço grandemente centralizado possibilita uma alta
mobilidade às multinacionais. Embora criem empregos, aumentem
investimentos, tecnologia e seus lucros, uma multinacional não possui
fidelidade aos cidadãos das nações onde estão instaladas. Em tempos
econômicos ruins, elas preferem fechar as subsidiárias a encerrar as
atividades das matrizes em seu país de origem (BRIGAGÃO, 2001).

U3 - O sistema monetário internacional 105


Os governos das nações onde as multinacionais se abrigam podem
ter algum poder de negociação, porém em nações em desenvolvimento,
onde as economias são frequentemente fracas, o governo do país de
destino fica vulnerável, pois ficam fragilizados na balança de negociação
e geralmente oferecem benefícios fiscais para as abrigarem.
As multinacionais são uma importante forma de movimentação
de investimento direto externo. É assim que uma empresa sediada
em um determinado país cria ou aumenta suas filiais em outros
países, por meio das movimentações internacionais de capital. Isso
não ocorre apenas na transferência de recursos, entretanto acontece
com a obtenção de gerenciamento de firmas em outras nações. Isto
é, a filial não tem apenas compromissos financeiros com a matriz,
detém uma ligação mais robusta (BRIGAGÃO, 2001).

2.2.1 Transnacionais
A expressão multinacional está caindo em desuso, pois induz a
um falso entendimento que uma firma teria diversas nacionalidades.
Tais firmas ganharam nova nomenclatura, sendo firma transnacional,
pois de fato possuem suas matrizes em um determinado país e atuam
com suas filiais em diversas nações.
Firmas transnacionais são grupos que não possuem seus capitais
oriundos especificamente de uma ou outra nação e não controlam,
essencialmente, o processo produtivo em seus diversos segmentos,
ou seja, o total da cadeia produtiva de um bem. Um dado bem pode,
dentro desse sistema, ter parte dos componentes da produção sendo
produzidas em diferentes partes do mundo e finalizadas em um lugar
único. Tal circunstância ocorre fundamentalmente em economia
globalizada, dado que as firmas estão buscando a minimização das
suas despesas com mão de obra, impostos, acesso a financiamentos,
com o claro intuito de serem mais competitivas e de terem poder
amplo no mercado ao qual são destinados seus bens e/ou serviços
(COSTA; GRISI, 1999).
As firmas transnacionais equivalem a entidades autônomas que
implantam suas estratégias e preparam sua produção em bases
externas, ou seja, sem conexão direta com as fronteiras internas,
sendo apontadas, por esse motivo, por não possuírem ligações com
qualquer nação, nem mesmo com aquelas nas quais se originou.

106 U3 - O sistema monetário internacional


2.3 A globalização do capital
Percebe-se que, a partir da década de 1980, as raízes do fluxo
externo de capitais surgem em uma nova etapa de desenvolvimento do
capitalismo em todos os países, caracterizada como “mundialização
do capital” (um codinome preciso para o fato da “globalização”). Na
realidade, estamos passando por uma nova forma de acumulação do
capital, um maior grau em relação ao processo de internacionalização
do capital, com atributos próprios e peculiares quando comparada
com as fases anteriores do desenvolvimento capitalismo.
Esse moderno tempo do capitalismo cresce no interior de uma grave
crise de superprodução, sendo rotulada com a marca da “produção
destrutiva”, ou ainda, pela “acumulação flexível” (CHESNAIS, 1997).
Partindo das análises teóricas de Chesnais, autor do livro
Mundialização do Capital (1996), e, mais recentemente, do livro
Mundialização Financeira (1998), após surgir uma nova diretriz no
desenvolvimento do capitalismo mundial, entenderemos seus
choques no mercado de trabalho.

Para saber mais


Figura 3.4 | François Chesnais

Fonte: <https://goo.gl/kRPRCh>. Acesso em: 18 abr. 2017.

François Chesnais, francês, professor de economia internacional


na Universidade de Paris XIII, é um crítico severo do neoliberalismo,
escreveu e publicou no Brasil em 1996 o livro sobre A mundialização
do capital, sua publicação de maior impacto. Em 2005, publicou mais
um importante livro sobre A financeirização da economia: a finança
mundializada. Suas obras são muito citadas, principalmente por
economistas e sociólogos (WIKIPEDIA, 2017b).

U3 - O sistema monetário internacional 107


Uma gama de índices macroeconômicos da década de 1990
aponta que a economia mundial ainda se mantém numa longa
depressão permeada por épocas de redução, recessão e crescimento
sem sustentabilidade das economias capitalistas. Estamos diante
de um novo regime mundial de acúmulo do capital, que mudou,
especificamente, o funcionamento do capitalismo (CHESNAIS, 1997).
Segundo Chesnais (1997), a década de 1990 foi o período
caracterizado pelo novo regime de acumulação estritamente
financeira, controlado pela globalização do capital, que tem:
a) Taxas de crescimento do PIB reduzidas, com
inclusão de países que desempenharam tradicionalmente
o papel de "locomotiva" ao lado de todas as economias
mundiais (exemplo: Japão).
b) Deflação rastejante.
c) Circunstância da posição global amplamente
instável, notada por contínuos alvoroços monetários
e financeiros.
d) Alto nível de desemprego estrutural.
e) Marginalização de localidades completas em
relação ao sistema de trocas.
f) Competitividade externa sempre mais forte,
provedora de grandes desavenças comerciais entre
fortes potências da “tríade” (Estados Unidos, Europa
Ocidental e Japão).
Segundo Chesnais (1997), a economia capitalista mundial mantém-
se dentro de um período recessivo de longo prazo e só poderá sair
mediante choques “externos”.
Um atributo forte do novo regime global de acumulação
capitalista é ser “rentista e parasitário": o domínio e a força deste
capital-dinheiro é gerido pelas instituições financeiras externas, tais
como FMI e Banco Mundial, e pelos países mais ricos e fortes do
mundo, a qualquer custo.

2.4 As procedências políticas estruturais da


globalização do capital
A “mundialização do capital” é, antes de tudo, decorrente de
determinações políticas. É importante separarmos no mesmo instante,

108 U3 - O sistema monetário internacional


o lado político do lado econômico, pois a partir dessa divisão teremos
condições de compreender a verdadeira essência da mundialização
do capital. Na realidade, uma acumulação praticamente rentista
demonstra alterações qualitativas nas relações de força política entre
o capital e o trabalho, do mesmo modo entre o capital e o Estado, em
sua configuração de Estado de Bem-Estar.
O marco histórico da “mundialização do capital” é a crise de 1974-
1975, o início de uma “longa crise rastejante”. Após a crise, o capital
tentou todas as possibilidades de acabarem com as castas das relações
sociais, leis e regulamentações, caso fosse possível detê-lo com a
expectativa de poder “civilizá-lo”. O capital teve êxito, apesar de ser de
modo bastante desigual, conforme cada país (ALVES, 1999).
O que contribuiu para a ofensiva do capital a partir dos anos
1970, de acordo com Alves (1999), foi:
a) A força intrínseca do capital adquirida graças à
longa fase de acumulação dos “trinta anos gloriosos”
(após a Segunda Guerra Mundial).
b) As novas tecnologias que as corporações
transnacionais, lutando com a concorrência das
empresas japonesas, aprenderam a utilizar para seus
próprios fins, fundamentalmente com o intuito de
alterar suas relações com os trabalhadores assalariados
e sindicatos.
c) Um apoio elementar das próprias nações
capitalistas, sob a forma das políticas de liberalização,
desregulamentação e privatização (as políticas neoliberais).
Portanto, segundo Eichengreen (1995 p. 68), o que se conclui é que:

• Os “trinta anos gloriosos” – A Era do fordismo – estão


propensos a colaborar, no campo da subjetividade política,
para a ilusão social democrata de que era possível “controlar”
o capital na esfera dos modos de regulação interna. A nova
ofensiva do capital na produção e na política, a partir da crise
capitalista nos anos 1970, irá contribuir para derrubar a ilusão
social democrata clássica.
• Logo, no plano da objetividade do desenvolvimento da
acumulação capitalista, os “trinta anos gloriosos” contribuíram

U3 - O sistema monetário internacional 109


para ficar mais forte o capital industrial e financeiro oriundo
do longo período de crescimento capitalista, dentro do qual
prosperaram as novas tecnologias ligadas à Terceira Revolução
Tecnológica e, principalmente, ao mercado financeiro.

É só através da “revolução conservadora”, das políticas neoliberais,


de liberalização, desregulamentação e de privatização, com o triunfo
do “mercado", que o êxito do capital seria completo. Foi a vitória de
Margaret Thatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos EUA, que
deram uma dimensão histórica concreta à ilusão social democrata e à
posição plena de robustez do capital industrial e financeiro, adquirida
na “idade de ouro” do capitalismo mundial.
Ocorrem, a partir daí, mudanças qualitativas nas relações de
força política entre o capital e o trabalho, assim como entre o capital
e o Estado, em sua forma de “Estado de Bem-Estar”. Dá-se uma
nova – e precisa − orientação ao processo de internacionalização
capitalista, com o capital voltando a ter liberdade para se desenvolver
e, principalmente, para se movimentar em âmbito internacional de
um país ou continente para outro – liberdade que não desfrutava
desde 1914:

“[...] o capital não teria podido alcançar seus objetivos


sem o sucesso da ‘revolução conservadora’ do final da
década de 1970" (CHESNAIS, 1997, p. 31).

A partir daí, a ideologia da “globalização” – subjacente às políticas


neoliberais − é posta como a nova orientação capitalista, considerada
como saída para a crise de 1974-1975. Ao mesmo tempo, desenvolve-
se a ideologia do “progresso técnico”, que cultua as novas tecnologias
que serão utilizadas pelas corporações transnacionais, por meio do
novo complexo de reestruturação produtiva, para modificar suas
relações com os trabalhadores e as organizações sindicais.
Portanto, o complexo de reestruturação produtiva e, principalmente,
as políticas neoliberais, que se desenvolvem a partir dos anos 1980,
possuíam como objetivo claro destruir as organizações sindicais,
ou melhor, todas as instituições e relações sociais que colocavam
obstáculos à lógica da valorização do capital, instauradas a partir do
primeiro mandato de F. Roosevelt nos Estados Unidos e da vitória
sobre o nazismo, na Europa Ocidental.

110 U3 - O sistema monetário internacional


É na virada da década de 1970 para 1980, no bojo da ofensiva
do capital na produção (a reestruturação produtiva) e da ofensiva do
capital na política (o neoliberalismo) que se dá o “ponto de partida”
para a mundialização do capital.
Na verdade, coube aos neoconservadores explorarem, em
benefício próprio, o refluxo dos movimentos sociais na virada
da década de 1970 para 1980. Mais uma vez, é imprescindível
perceber, na análise de Chesnais (1997), a articulação complexa
entre o “econômico” e o “político” para, a partir daí, apreendermos a
constituição do novo regime mundial de acumulação denominado
“mundialização do capital”.
A vitória de momento do “mercado” não seria viabilizada sem as
intervenções políticas contínuas nas esferas políticas dos Estados
capitalistas mais fortes (em primeira escala, o grupo dos G7). Por
meio de uma articulação pequena entre o político e o econômico
é que as circunstâncias para a emergência dos mecanismos e das
configurações controladoras desse regime foram instituídas.

Atividades de aprendizagem
1. O processo mais geral e mais importante, que contou com apoio da
Inglaterra e dos Estados Unidos para a globalização financeira, foi a criação
do euromercado? Justifique sua resposta.

2. A globalização financeira é o espaço adequado para o desenvolvimento


do capital, sem limites, fronteiras, controles ou obstáculos, a não ser
aqueles colocados por suas próprias contradições internas. Dentre
tais contradições, a principal é que ele é incapaz de autorregular-se.
Uma lição da história é que o capitalismo se desenvolve melhor, é mais
próspero quando é regulado social e politicamente. Mas, as formas de
regulação social e política, utilizadas e eficazes no passado, perderam
eficácia no quadro atual da globalização financeira. Logo, se por um lado
a globalização não significa o reinado das regras do mercado e o fim da
política, por outro ela coloca a questão de como configurar politicamente
a globalização. Explique essa afirmação.

U3 - O sistema monetário internacional 111


Fique ligado
Esta seção buscou caracterizar as configurações de um capitalismo
que transita entre os séculos 20 e 21, destacando a mundialização como
uma nova e mais recente fase no curso histórico de desenvolvimento
do capitalismo, sublinhando igualmente as formas e configurações que
esse processo assumiu nas esferas produtiva, comercial e financeira
e destacando a centralidade do capital financeiro para o movimento
geral da acumulação e valorização do capital.

Para concluir o estudo da unidade


Em termos de aprofundamento dos conceitos de economia
internacional bem como Globalização Financeira e seus impactos sobre
as políticas monetárias nacionais, recomenda-se a leitura da obra dos
autores Maria Auxiliadora Carvalho e César Roberto Leite Silva, Economia
internacional (2007); Ligia Maura Costa e Celso Cláudio de Hildebrand
Grisi, Negociações internacionais e a globalização (1999); Mozart T.
Foschete, Relações econômicas internacionais (2003) e Reinaldo
Gonçalves, Globalização e desnacionalização (1999), entre outros.

Atividades de aprendizagem da unidade


1) Uma política econômica de valorização da moeda nacional em relação
à moeda internacional, visa:

a) aumentar as exportações e reduzir as importações.


b) reduzir as exportações e aumentar as importações.
c) manter exportações e importações inalteradas.
d) facilitar a entrada de capitais oficiais compensatórios no país.
e) facilitar a entrada de capital estrangeiro de risco no país.

2) Assinale a alternativa correta.

a) Define-se a taxa de câmbio como o preço, em moeda estrangeira, de


uma unidade de moeda nacional.
b) A redução da taxa interna de juros é instrumento de combate ao déficit
do Balanço de Pagamentos.
c) Em qualquer regime de taxa de câmbio, o Banco Central é forçado a
manter um volume adequado de reservas cambiais para atender aos

112 U3 - O sistema monetário internacional


excessos de procura sobre oferta de moeda estrangeira.
d) Um país, no curto prazo, conseguirá sustentar a paridade cambial,
em regime de taxas de câmbio fixas, reduzindo os juros internos ou
centralizando o câmbio.
e) Restrições tarifárias ou quantitativas às importações e subsídios às
exportações são alternativas tecnicamente inferiores às desvalorizações
cambiais para melhorar o Balanço de Pagamentos, porque podem
distorcer a alocação de recursos e ensejar medidas retaliatórias de outros
países, que as neutralizem.

3) O Brasil participa, ao lado de diversos outros países, de vários organismos


internacionais cujos objetivos, em síntese, são o financiamento em
longo prazo, a realização de empréstimos, a regulamentação do fluxo
de comércio exterior entre os diversos países etc. Qual dentre esses
organismos internacionais foi criado com a finalidade de socorrer seus
associados nos desajustes de seus balanços de pagamentos e evitar a
instabilidade cambial?

a) banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) (Banco


Mundial).
b) fundo Monetário Internacional (FMI).
c) corporação Financeira Internacional (CFI).
d) acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) (General Agreement on
Tariffs and Trade).
e) organização Mundial do Comércio (OMC).

4) O processo de globalização tem, na atualidade, provocado grandes


mudanças, tanto nas esferas econômica, financeira e política quanto na vida
social e cultural dos povos e das nações, em escala mundial. A esse respeito,
é possível afirmar (F) falso ou (V) verdadeiro para cada proposição abaixo:

( ) A maioria das instituições financeiras globais tem sua sede localizada nos
países subdesenvolvidos.
( ) O avanço das telecomunicações e da informática e o uso da internet são
fundamentais para os fluxos financeiros mundiais.
( ) O Estado intervém na economia por meio de investimentos no setor
industrial, fortalecendo, assim, as empresas estatais.
( ) As transformações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas dão-se da
mesma forma nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
( ) Os blocos econômicos regionais são constituídos com o objetivo único de
formação de alianças para defender a autonomia política dos países membros.

U3 - O sistema monetário internacional 113


5) Sobre a economia globalizada, dadas as proposições abaixo, indique (F)
falso ou (V) verdadeiro:

( ) homogeneizou as culturas e reduziu as discrepâncias econômicas


entre os países.
( ) integrou economias e possibilitou a difusão de hábitos dos lugares
pelo mundo.
( ) deu visibilidade às minorias, a povos e culturas de recantos isolados
do mundo.
( ) quase anulou a xenofobia e os conflitos étnicos e religiosos em todo
o planeta.
( ) a difusão dos comércios localizados em oposição às corporações
internacionais não possui relação direta com o processo de globalização.

114 U3 - O sistema monetário internacional


Referências
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na era da globalização. 2. ed. Londrina, PR: Práxis, 1999.
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U3 - O sistema monetário internacional 115


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Krugman>. Acesso em: 18 abr. 2017c.
Unidade 4

Organismos e grupamentos
internacionais
Andréia Moreira da Fonseca Boechat

Objetivos de aprendizagem
Essa unidade tem como objetivo apresentar os grupamentos e
organismos internacionais, assim como explanar seus respectivos
papéis no âmbito da economia internacional.

Seção 1 | ONU e organismos relevantes OIT, FMI, BIRD, OMC


A Seção 1 se ocupará de apresentar os organismos intervenientes nos
negócios internacionais. Nessa seção serão estudadas a Organização das Nações
Unidas (ONU), assim como os organismos relevantes, tais como: Organização
Internacional do Trabalho (OIT), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e Organização
Mundial do Comércio (OMC).

Seção 2 | OTAN e OEA


A Seção 2 tem como objetivo explanar a respeito das organizações
internacionais, tais como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
e a Organização dos Estados Americanos (OEA), falando sobre suas respectivas
funções e objetivos.

Seção 3 | Grupos econômicos: G-7, G-20, OPEP, BRICS


A Seção 3 apresentará os grupos econômicos: Grupo dos Sete (G-7); Grupo
dos Vinte (G-20); Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP); e
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS).
Introdução à unidade
Seja bem-vindo(a) à quarta e última unidade do livro Relações
Econômicas Internacionais.
Os organismos internacionais são instituições supranacionais,
ou seja, transcende o nacional, em outras palavras, estão acima
do poder de governo de cada país, não tendo relação direta com
as políticas públicas de cada nação individualmente. Por causa
dessa supranacionalidade, os organismos internacionais podem ser
considerados um espaço para discussão geopolítica e estratégica,
agregando em si as ações dos países que têm o mesmo objetivo,
atuando a partir de causas específicas ou abrangentes, tanto no
campo econômico quanto no campo social.
Nosso objetivo, portanto, é apresentar os grupamentos e
organismos internacionais assim como explanar seus respectivos
papéis no âmbito da economia internacional. Para atingir o objetivo, a
unidade está dividida em três seções. Na primeira seção, discutiremos
a Organização das Nações Unidas (ONU), que pode ser considerada
como o principal organismo internacional atualmente. Ainda na
primeira parte, discutiremos outros quatro organismos, alguns
inclusive estão diretamente ligados à ONU, que são a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o Fundo Monetário Internacional
(FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
Na segunda seção, falaremos sobre duas organizações que
podem ser consideradas regionais, que são a Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) e a Organização dos Estados Americanos
(OEA). Para finalizar a unidade, compreenderemos os principais grupos
econômicos da atualidade, que são o Grupo dos Sete, composto
pelas sete economias mais industrializadas; o Grupo dos Vinte, no
qual as vinte maiores economias, tanto industrializadas quanto
emergentes, fazem parte; a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP), que domina a produção e exportação do petróleo,
agindo praticamente como um cartel do produto; e o BRICS, que
é um grupo econômico mais novo, composto pelas economias
emergentes, como a do Brasil.
Seção 1
ONU e organismos relevantes OIT, FMI, BIRD, OMC
Introdução à seção

Para iniciarmos nossas discussões acerca dos organismos que


regem a economia e o comércio internacional, é fundamental
compreendermos o papel de uma das principais instituições
internacionais do mundo: a Organização das Nações Unidas (ONU),
que tem como objetivos principais assegurar a paz mundial e o
desenvolvimento dos países membros.
Além da ONU, outros organismos que regem as relações
internacionais e que estão diretamente ligadas à ONU, são a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que como o próprio
nome diz, é uma instituição voltada para as leis mundiais do trabalho; o
famoso e polêmico Fundo Monetário Internacional (FMI), que, dentre
outras funções, estabelece a cooperação econômica; e, seguindo a
mesma linha do FMI, temos o Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento (BIRD), também chamado de Banco Mundial.
Para finalizar a Seção 1, iremos compreender a Organização Mundial
do Comércio (OMC), que procura supervisionar e liberar o comércio
internacional.

1.1 Organização das Nações Unidas (ONU)


A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização
internacional formada por nações/países voluntários que trabalham
em prol da paz e do desenvolvimento mundial. Ela foi criada em 24
de outubro de 1945 na Conferência de São Francisco, após a Segunda
Guerra Mundial, para que a paz mundial fosse mantida.
Foram necessários muitos anos de planejamento até o surgimento
da ONU. Por exemplo, o nome Nações Unidas foi criado pelo
presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, sendo utilizado
pela primeira vez três anos antes da criação da ONU, em 1942, durante
a Declaração das Nações Unidas, no qual foram reunidos 26 países
que assumiram o compromisso de continuar a luta contra os países
que formavam o eixo (Alemanha, Itália e Japão) na Segunda Guerra.

120 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Em junho de 1945, foi criada a chamada Carta das Nações Unidas.
Essa carta foi elaborada por 50 países durante a Conferência sobre
Organização Internacional, que ocorreu entre 25 de abril de 1945 e 26
de junho do mesmo ano. Apesar disso, somente em outubro de 1945 é
que foi originada oficialmente a ONU, após a ratificação da Carta pelos
Estados Unidos, China, França, Reino Unido e a antiga União Soviética.

Figura 4.1 | Logotipo da ONU

Fonte: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2014/11/onu_logo2-5462da5e_site_icon.png>. Acesso


em: 14 mar. 2017.

Inicialmente, a ONU era composta por 51 Estados-Membros (países)


e tinha como objetivo principal garantir a paz mundial. Atualmente
são 193 nações que fazem parte da organização e os objetivos são
diversos, tais como criar e implementar mecanismos que possibilitem
o desenvolvimento econômico, a segurança nacional, definição de
leis internacionais, assegurar os direitos humanos e o progresso social
dos países.

Para saber mais


O direito de tornar-se um país-membro das Nações Unidas cabe a
todas as nações que aceitarem os compromissos da Carta e que, a
critério da Organização, estiverem aptas e dispostas a cumprir tais
obrigações. Os Membros-Fundadores das Nações Unidas são os
países que assinaram a Declaração das Nações Unidas de 1º de janeiro
de 1942 ou que tomaram parte da Conferência de São Francisco,
tendo assinado e ratificado a Carta.
Fonte: Nações Unidas do Brasil – ONUBR (2017b).

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 121


Para saber mais
Para saber quem são os países membros das organizações das Nações
Unidas e as datas de admissão acesse o link: <http://www.unric.org/html/
portuguese/pdf/ESTADOS_MEMBROS.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2017.

Para atingir seus objetivos, as Nações Unidas são regidas por


propósitos e princípios básicos aceitos por todos os Países-Membros
da Organização (ONUBR, 2017b). Os propósitos das Nações Unidas
podem ser vistos na Figura 4.2.
Figura 4.2 | Propósitos das Nações Unidas

Fonte: ONUBR (2017c).

Na Figura 4.3 estão apresentados, resumidamente, os princípios


que regem as Nações Unidas.
Figura 4.3 | Princípios resumidos da ONU

Fonte: ONUBR (2017c).

122 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


É importante observar que para seguir esses propósitos e
princípios da forma mais imparcial possível, todos os membros da
ONU reúnem-se em Assembleia Geral, uma espécie de parlamento/
senado mundial, e cada país, independentemente do tamanho ou
da riqueza que possui, tem direito a apenas um voto. As decisões
tomadas em Assembleia, apesar de não serem obrigatórias, exercem
pressão pela comunidade internacional.
A sede atual da ONU fica na cidade de Nova Iorque, nos Estados
Unidos, porém, o terreno e o prédio em que está instalada não são
considerados norte-americanos, mas sim um território internacional.
Além dessa, a ONU tem outra sede na Europa que fica na cidade de
Genebra, na Suiça; um escritório em Viena; e Comissões Regionais
no Líbano, na Tailândia, no Chile e na Etiópia.
A independência da Organização é tanta que eles possuem uma
própria bandeira, correios e selos postais. Além disso, desde sua
criação em 1945, são seis as línguas oficiais (Árabe, Chinês, Espanhol,
Russo, Francês e Inglês), sendo que as mais utilizadas são o francês
e o inglês.
A respeito da estrutura organizacional da ONU, apresentamos os
seus principais órgãos na Figura 4.4.

Figura 4.4 | Principais órgãos da ONU

Assembleia geral 193 Estados-Membros.

15 membros, sendo 5 permanentes.


Conselho de Segurança Mandato de 2 anos para membros não
permanentes.

54 membros eleitos pela Assembleia Geral


Conselho Econômico e Social Mandato de 3 anos

5 membros permanentes do Conselho de


Segurança.
Conselho de Tutela
Deixou de existir em 1994 com a Independência
de Palau

15 membros eleitos pela Assembleia Geral e


Tribunal Internacional de pelo Conselho de Segurança.
Justiça
Mandato de 9 anos.

Fonte: adaptada de ONUBR (2017a).

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 123


Para saber mais
Para conhecer mais profundamente o sistema das Nações Unidas
e os órgãos que estão diretamente ligados a cada órgão principal,
acesse o organograma disponível no link: <https://nacoesunidas.org/
organismos/organograma/>. Acesso em: 14 mar. 2017.

1.2 Organização Internacional do Trabalho (OIT)


A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência
especializada que está diretamente ligada ao Conselho Econômico e
Social da Organização das Nações Unidas. O principal objetivo da OIT
é promover o acesso das pessoas, tanto homens quanto mulheres, ao
trabalho produtivo e decente em condições de liberdade, equidade,
segurança e dignidade, independentemente da sua nacionalidade.
Figura 4.5 | Logotipo da OIT

Fonte: <http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/08/OIT.jpg>. Acesso em: 15 mar. 2017.

O que chama muito a atenção quando falamos na Organização


Internacional do Trabalho é o conceito "trabalho decente", que
merece ser discutido. Esse conceito foi formalizado em 1999 e resume
a missão histórica da OIT, que é a de promover oportunidades para
homens e mulheres terem um trabalho de qualidade, em condições
dignas, sendo esse trabalho decente - uma condição essencial
para superar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais, garantir a
governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. O
trabalho decente é interligado aos objetivos da OIT, que são:

[...] o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles


definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos

124 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu
seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e
reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva;
(ii)eliminação de todas as formas de trabalho forçado; (iii)
abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de
todas as formas de discriminação em matéria de emprego
e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de
qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento
do diálogo social (OIT, 2017).

1.3 Fundo Monetário Internacional (FMI)


O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização
internacional criada em 1944, durante a Conferência de Bretton
Woods, nos Estados Unidos, que tinha como objetivo controlar
as finanças internacionais via cooperação, para evitar problemas
econômicos como a Grande Depressão de 1929.
Figura 4.6 | Logotipo do FMI

Fonte: <https://goo.gl/tgiRn6>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Para saber mais


Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Conferência de Bretton
Woods, leia o artigo “História – Bretton Woods", de Pedro. H. Barreto (2009).
Disponível em: <http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_conte
nt&view=article&id=2247:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Atualmente o FMI possui 188 países-membros, incluindo o Brasil,


que depositam parte das reservas internacionais criando um fundo.
Esses recursos são utilizados para empréstimos a países que estão com
algum desequilíbrio no balanço de pagamentos. O empréstimo pode
ser feito mediante cumprimentos de alguns requisitos/normas que são
estabelecidas durante a negociação que o país faz com o FMI.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 125


O FMI, além de emprestar dinheiro aos países que precisam,
acompanha a política econômica de todos os membros e faz
algumas recomendações, sempre de acordo com as pesquisas,
levantamentos estatísticos e previsões mundiais, regionais e nacionais,
que são elaboradas pelo secretário e sua equipe.
Assim, os objetivos declarados do FMI podem ser resumidos da
seguinte forma: promover a cooperação econômica internacional, o
comércio internacional, o emprego e a estabilidade cambial, inclusive
mediante a disponibilização de recursos financeiros para os países
membros para ajudar no equilíbrio de suas balanças de pagamentos
(ITAMARATY, 2017a).

Questão para reflexão


A existência e principalmente as ações do Fundo Monetário Internacional
são polêmicas, já que a instituição exige que os países que precisam
de ajuda financeira tomem medidas de cunho extremamente liberal.
Diante desse contexto, para você, qual é a importância ou não do FMI
para os países, principalmente para o Brasil?

É importante observar também que os países que mais contribuem


financeiramente podem contrair maiores empréstimos e seus votos
têm maior peso nas decisões internas da instituição. Essa é uma
diferença do FMI com relação às demais instituições internacionais,
ou seja, o FMI segue o chamado modelo corporativo de tomada de
decisão, no qual o voto de cada país é de acordo com a quota. Para
você ter uma ideia, em 2017 os Estados Unidos possuíam 25% dos
votos, já que tinham a maior cota. A distribuição de quotas é feita de
tempos em tempos, o que constitui uma oportunidade para que cada
país aumente sua participação nas decisões da organização.
A estrutura organizacional do FMI é composta pela Assembleia
de Governadores que é a responsável pela tomada de decisão e por
eleger o Conselho de Diretores, que é composto por 24 diretores que
representam um país ou um grupo de países - nesse último caso, são
os chamados constituency.
As políticas da instituição são definidas em reuniões do Conselho
de Assuntos Financeiros e Monetários que acontecem duas vezes ao
ano, em geral nos meses de abril e outubro.

126 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


1.4 Banco Mundial
O Banco Mundial surgiu em 1944 durante a Conferência de
Bretton Woods, com o nome Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento (BIRD). Na época da sua criação, o objetivo era
atender às necessidades de financiamento de reconstrução dos
países que foram devastados durante a Segunda Guerra Mundial, de
forma a desenvolver tais países.
Em 1956 a estrutura organizacional tornou-se complexa e
outras instituições surgiram para suprir as demandas que não eram
atendidas pelo BIRD, formando o que chamamos atualmente de
grupo Banco Mundial. O grupo é formado, dentre outras instituições,
pela Corporação Financeira Internacional (IFC) para expandir o
investimento privado nos países em desenvolvimento; pela Associação
Internacional de Desenvolvimento (AID), que concede empréstimos
aos países menos desenvolvidos que não conseguem atender às
condições do BIRD. Para aumentar o investimento estrangeiro,
foram criados o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas
sobre Investimentos (CIADI) e a Agência Multilateral de Garantia de
Investimentos (AMGI).

Figura 4.7 | Logotipo do Banco Mundial

Fonte: <https://goo.gl/fJIfHF>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Assim, o Banco Mundial tornou-se uma importante referência


internacional para o processo de desenvolvimento e pode ser
definido como uma agência especializada do sistema das Nações
Unidas, sendo a maior fonte mundial de assistência voltada para o
desenvolvimento, composto por 188 países-membros.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 127


Em termos de estrutura organizacional, a do Banco Mundial
é parecida com a do FMI, na qual existe uma Assembleia de
Governadores com poder de voto, que depende do capital do Banco;
e um Conselho composto por 25 diretores eleitos pelos 188 países. As
reuniões acontecem duas vezes ao ano (abril e outubro) e fazem parte
da reunião o Conselho de Diretores, composto por 25 membros.

1.5 Organização Mundial do Comércio (OMC)


Das organizações que discutimos nesta seção, a Organização
Mundial do Comércio (OMC) é a mais nova, criada em 1995, e
desde seu surgimento atua como a principal instância do sistema de
comércio internacional. A OMC tem como objetivo estabelecer um
marco institucional comum para regular as relações comerciais entre
os diversos membros que a compõem, estabelecer um mecanismo
de solução pacífica das controvérsias comerciais, tendo como base
os acordos comerciais atualmente em vigor, e criar um ambiente
que permita a negociação de novos acordos comerciais entre os
membros (ITAMARATY, 2017c). Em 2017 a OMC é composta por 160
membros e o nosso país é um dos seus fundadores. Sua sede fica em
Genebra, na Suíça, e são três as línguas oficiais na organização, que
são o espanhol, o francês e o inglês.

Figura 4.8 | Logotipo da OMC

Fonte: <http://www.topnews.in/files/WTO-Logo303.JPG>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Apesar de ser uma organização nova, a origem da OMC é de


1947 com o Acordo Geral sobre as Tarifas e Comércio (GATT), do
qual herdou o conjunto de princípios que são os fundamentos da
regulação do comércio. A Figura 4.9 sintetiza alguns desses princípios,
a partir de informações do Itamaraty (2017c).

128 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Figura 4.9 | Princípios da OMC

Nação mais
favorecida Os membros devem estender aos parceiros comerciais
todos os benfícios concedidos a outro membro.

Tratamento
nacional Um produto importado deve receber o mesmo tratamento
que o produto similar no território do membro importador.

Consolidação dos
compromissos Um membro deve conferir aos demais o mesmo
tratamento aos estabelecidos na lista de compromisso.

Transparência
Os membros devem dar publicidade às leis, regulamentos
e decisões de aplicação do comércio internacional.
Fonte: Itamaraty (2017c).

Os órgãos que compõem a OMC são a Conferência Ministerial,


instância máxima da organização, composta pelos Ministros das
Relações Exteriores ou de Comércio Exterior dos Membros; o
Conselho Geral, órgão composto pelos representantes permanentes
dos Membros em Genebra, que ora reúnem-se como Órgão de
Solução de Controvérsias (OSC) e ora como Órgão de Revisão de
Política Comercial; o Conselho para o Comércio de Bens; o Conselho
para o Comércio de Serviços; o Conselho para os Aspectos dos Direitos
de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio; os diversos
Comitês, dentre eles os Comitês de Acesso a Mercados, Agrícola e de
Subsídios; e o Secretariado, que tem por função apoiar as atividades
da organização e é composto por cerca de 700 funcionários, dirigidos
pelo Diretor Geral da OMC (ITAMARATY, 2017c).

Atividades de aprendizagem
1) A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional
composta por 193 países-membros que se reuniram voluntariamente para
trabalhar em prol da paz e do desenvolvimento econômico mundial. A
ONU é composta por duas câmaras principais, que são:

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 129


a) o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral.
b) a Secretaria das Nações Unidas e a Instância dos Países-Membros.
c) a Corte Internacional de Justiça e o Conselho de Segurança.
d) a Assembleia Geral e o Conselho Econômico e Social.
e) o Banco Mundial e o Conselho de Segurança.

2) O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial - antigo


Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) -
foram criados no mesmo ano e durante uma conferência. Assinale a
alternativa correta sobre a conferência durante à qual as duas instituições
foram criadas e o ano em que ela aconteceu:

a) Conferência de Yalta (Crimeia), ocorrida em 1945.


b) Conferência de Nova Iorque (EUA), ocorrida em 1944.
c) Conferência de Bretton Woods (EUA), ocorrida em 1944.
d) Conferência de Potsdam(Berlim), ocorrida em 1945.
e) Conferência de Estocolmo (Suécia), ocorrida em 1972.

130 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Seção 2
OTAN e OEA
Introdução à seção
Nesta seção iremos discutir duas organizações internacionais
que, apesar de o Brasil não fazer parte, são instituições de suma
importância para a economia mundial, já que são formadas por
grandes economias. Essas organizações são a Organização do
Tratado do Atlântico Norte e a Organização dos Estados Americanos.

2.1 Organização do Tratado do Atlântico Norte


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que teve
origem no Tratado do Atlântico Norte, assinado em 4 de abril de 1949
na capital norte-americana Washington, é uma instituição militar que foi
criada poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da
chamada Guerra Fria. A ideia da OTAN era a de defesa entre os países-
membros, ou seja, caso as nações que faziam parte do tratado fossem
atacadas, elas seriam defendidas pelos demais membros.

Para saber mais


A Guerra Fria, que teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial
(1945) e se estendeu até a extinção da União Soviética (1991), é a
designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e
conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, que
disputavam a hegemonia política, econômica e militar no mundo.
Fonte: Só História (2017).

Os primeiros países a assinar o acordo foram Bélgica, Canadá,


Dinamarca, Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo,
Noruega, Portugal e Reino Unido. Em 1952, Grécia e Turquia
entraram. A Alemanha Ocidental assinou o tratado em 1955, seguida
por Espanha em 1982. Os últimos países a ingressarem na OTAN
foram os do Leste Europeu: Polônia, Hungria e República Tcheca. Em
2002, a Rússia passou a fazer parte da organização de forma parcial,

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 131


uma vez que o país participa apenas de algumas ações,tais como o
combate ao terrorismo e o desenvolvimento de armas nucleares.
Porém, como o mundo estava passando pela Guerra Fria, os
países socialistas também criaram em 1955 uma organização com
o mesmo objetivo da OTAN, que ficou conhecida como Pacto de
Varsóvia. Entretanto, com a queda do Muro de Berlim e o final da
Guerra Fria, o Pacto deixou de existir.
No entanto, a OTAN continua existindo e consolidada, e dentre
as ações da organização podemos citar a Invasão do Afeganistão,
em 2001; a Guerra do Iraque, em 2003; e a intervenção na guerra
civil da Líbia, em 2011.

Questão para reflexão


A OTAN de fato desempenha seu papel na economia mundial?

2.2. Organização dos Estados Americanos (OEA)


A Organização dos Estados Americanos (OEA), apesar de ter sido
fundada em 1948, é um organismo regional mais antigo do mundo,
pois originou-se na Primeira Conferência Internacional Americana que
ocorreu nos Estados Unidos entre outubro de 1889 e abril de 1890.
Durante essa Conferência foi criada a União internacional das Repúblicas
Americanas e começou-se discutir a criação de uma rede de disposições
e instituições, que ficou conhecida como Sistema Interamericano.
Com o passar do tempo, em 1948 a OEA foi fundada na cidade de
Bogotá da Colômbia, com a assinatura da Carta da OEA que entrou
em vigor em dezembro de 1951. Em 1967 a Carta foi retificada pelo
Protocolo de Buenos Aires, entrando em vigor em fevereiro de 1970.
No ano de 1985 a carta foi reformulada pelo Protocolo de Cartagena
das Índias, em 1992 pelo Protocolo de Washington que só entrou em
vigor em setembro de 1997, e mais uma vez, em 1993 pelo Protocolo
de Manágua.

Para saber mais


Para conhecer a Carta da OEA na íntegra, acesse o link: <http://www.oas.
org/dil/port/tratados_A-41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_
dos_Estados_Americanos.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2017.

132 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Figura 4.10 | Logotipo da OEA

Fonte: <https://goo.gl/RwpdpP>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Agora que você conhece um pouco mais sobre a história da OEA,


vamos discutir a organização em si. A OEA surgiu para promover uma
ordem de paz e justifica, promovendo a solidariedade, colaboração e
defendendo a soberania dos países-membros.
Em 2017 a OEA é composta por 35 Estados, entre eles, o Brasil,
possui 69 países e a União Europeia como observadores. Assim, a
OEA é o principal fórum governamental político, jurídico e social do
hemisfério, tendo como propósitos essenciais (OEA, 2017a):

• Garantir a paz e a segurança internacional;


• Promover e consolidar a democracia;
• Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução
pacífica das controvérsias que surgirem entre seus membros;
• Organizar a ação solidária desses em caso de agressão;
• Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e
econômicos dos estados-membros;
• Promover o desenvolvimento econômico, social e cultural;
• Erradicar a pobreza crítica;
• Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais.

Para atingir os propósitos, a OEA tem quatro pilares principais, que


podem ser vistos na Figura 4.11.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 133


Figura 4.11 | Pilares da OEA

Democracia

Direitos Humanos

Segurança

Desenvolvimento

Fonte: OEA (2017a).

Em termos de estrutura organizacional, a OEA é composta por uma


instância suprema que é a Assembleia Geral (AGOEA), que se reúne
em sessões ordinárias anuais e em sessões extraordinárias sempre que
necessário. A Assembleia Geral é composta pelo Conselho Permanente
(Comissão Geral, Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos, Comissão
de Assuntos Administrativos, Comissão de Segurança, entre outros),
e pelo Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral. Além
desses conselhos, outra comissões fazem parte da Assembleia.

Atividades de aprendizagem
1. Após a criação da OTAN, os países socialistas criaram em 1955 o Pacto
de Varsóvia, que foi extinto em 1991. O Pacto de Varsóvia teve como
objetivo principal:

a) reunir os países socialistas contra a OTAN.


b) consolidar a influência soviética sobre os países da Europa Oriental.
c) conter a influência soviética sobre os países da Europa Oriental.
d) consolidar a influência socialista na Europa Ocidental.
e) consolidar a influência capitalista na Europa Oriental.

2. A OEA surgiu para promover uma ordem de paz e justifica, promovendo


a solidariedade, a colaboração e defendendo a soberania dos países-
membros. Quantos países-membros fazem parte da OEA? Marque a
alternativa correta:

134 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


a) 35.
b) 69.
c) 20.
d) 19.
e) 104.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 135


Seção 3

Grupos econômicos: G-7; G-20; OPEP; BRICS


Introdução à seção

Nesta terceira seção iremos discutir os principais grupos


econômicos internacionais, sendo que dois deles, o Grupo dos Sete
e o Grupo dos Vinte, são informais, ou seja, não possuem sede. Já os
outros dois grupos, Organização dos Países Exportadores de Petróleo
e os BRICS são grupos formais e com grande poder de tomada de
decisão econômica. O Brasil faz parte do G20 e do BRICS.

3.1 Grupo dos Sete (G-7) e Grupo dos Vinte (G-20)


Há dois grupos econômicos internacionais, informais, que englobam
países com certas características em comum, que são o Grupo dos Sete
(G-7) e o Grupo dos Vinte (G-20). O primeiro reúne as sete nações mais
industrializadas e desenvolvidas do planeta, que são: Estados Unidos,
Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Já o Grupo dos Vinte (G-20) é composto por países industrializados,
como os que fazem parte do G-7, a União Europeia e os países
emergentes, como o Brasil. Esse grupo é informal, mas juntos
procuram discutir a estabilidade econômica global e, as políticas
nacionais e internacionais relacionadas às instituições econômicas.
Para compreendermos a origem desses grupos (G-7 e G-20),
precisamos nos reportar à França de 1975, quando as seis maiores
economias da época reuniram-se com o objetivo de estabelecer
a cooperação entre si - esse grupo ficou conhecido como G-6 e,
em 1976, com a “entrada” do Canadá, tornou-se o chamado G-7 ou
Grupo dos Sete.
Diversas mudanças ocorreram no final do século XX, tais como a
unificação da Alemanha e o fim da União Soviética. Essas mudanças
alteraram a realidade internacional e, com isto, a Rússia tornou-se uma
economia capitalista, fazendo com que o país fosse reconhecido e
no final da década de 1990, o G-7 transforma-se em G-8.

136 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Com a nova realidade e com o crescimento de termos econômicos
e de importância das economias emergentes, surgiu a necessidade
de uma maior cooperação dos países industrializados com as
economias emergentes a partir de década de 1990. Essa importância
foi maior ainda durante a crise de 2008. Assim, em novembro de
2008, George Bush, então presidente dos Estados Unidos, convidou
os líderes das vinte economias mais importantes em termos mundiais
para uma reunião em Washington. Essa reunião tinha como objetivo
inicial dar uma resposta consistente para a crise financeira de 2008,
que teve início nos Estados Unidos. Nesse contexto surge o chamado
Grupo dos Vinte (G-20) e os países que nele se enquadram passaram
a se reunir duas vezes ao ano, sendo um deles um encontro entre os
Ministros da Fazenda e os presidentes do Banco Central de cada país
e o outro entre os chefes de Estados.
Em 2017 o G-20 conta com a participação de Chefes de Estado,
Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais de 19 países:
África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá,
China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão,
México, Reino Unido, Rússia e Turquia. A União Europeia também faz parte
do Grupo, representada pela presidência rotativa do Conselho da União
Europeia e pelo Banco Central Europeu (BANCO CENTRAL, 2015).
Diferentemente das organizações internacionais formais, como o
Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, o G-20 não tem
capital humano permanente, a presidência do grupo é alterada todos
os anos, assim como os secretários. Durante o ano de exercício, o
país que está na presidência do grupo estabelece um cronograma de
trabalho com os assuntos que já foram discutidos e pode adicionar
novas pautas. Você sabe em qual ano o Brasil presidiu o G-20? Em
2008 e desenvolveu os trabalhos voltados a temas como competição
no setor financeiro, biocombustíveis e espaço fiscal.

Para saber mais


Para conhecer um pouco mais sobre as políticas externas e o dualismo
brasileiro, leia o artigo intitulado “Com um pé na região e outro no
mundo: o dualismo crescente da política externa brasileira”, disponível
no link <http://200.229.32.55/index.php/estudosinternacionais/article/
view/6312/5791> Acesso em 17 abr de 2017

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 137


3.2 Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP)
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é uma
organização intergovernamental, criada em setembro de 1960 pelo Irã,
Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela durante a Conferência de
Bagdá, com o objetivo de centralizar as políticas econômicas voltadas para
a produção e exportação do petróleo. Assim, a OPEP procura desenvolver
estratégias na produção do produto, estabelecendo, por exemplo, cotas
de produção para cada país-membro de forma a reduzir a oferta e
aumentar o preço do barril do petróleo. Em outras palavras, a organização
age como se fosse um monopólio, ainda mais pelo fato de o petróleo ser
um dos produtos mais importantes e essenciais do mundo.

Figura 4.12 | Países membros da OPEP por ano da adesão

Estados membros da OPEP Líbia (1962)


por ano de adesão
Emirados Árabes Unidos (1967)
Países fundadores (1960)
Irão Argélia (1969)
Iraque
Koweit Nigéria (1971)
Arábia Saudita
Venezuela Equador (1973)
Qatar (1961) Gabão (1975 a 1995)
Indonésia (1962 a 2009) Angola (2007)

Fonte: <https://2.bp.blogspot.com/-1EASXW36Bt4/VyTjzd0mFxI/AAAAAAAAA_A/0IIahgeK-
W0UGKzlmB5iAJACFvm4VMgXwCLcB/s1600/OPEP.png>. Acesso em: 16 mar. 2017.

Com sede localizada em Viena, na Áustria, a OPEP é composta em


2017 por doze países-membros, que são Argélia, Angola, Equador, Irã,
Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes
Unidos e Venezuela. Esses países são responsáveis por aproximadamente
75% das reservas mundiais de petróleo e são responsáveis por quase 50%
das exportações mundiais do produto.

Questão para reflexão


Vamos imaginar que aconteça a terceira crise do petróleo em função,
por exemplo, do aumento de preço do barril de petróleo. Qual seria o
impacto dessa crise na economia brasileira?

138 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


3.3 BRICS
Você certamente já ouviu falar no BRICS, mas você sabe dizer o
motivo dele ser tão importante, principalmente para nosso país? BRICS é
um termo criado em 2001 que se refere a quatro países emergentes, que
são Brasil, Rússia, Índia e China e, a partir de abril de 2011, África do Sul.
Assim, você pode perceber que o termo BRICS é a junção da primeira
letra do nome em inglês de cada um dos países que fazem parte.
Os países que fazem parte do BRICS possuem características em
comum, entre elas: a taxa de crescimento econômico considerada
relativamente alta, e os índices de desenvolvimento econômico muito
parecidos. Para melhor entendermos algumas das características que
esses países têm em comum, vamos analisar a Figura 4.13.

Figura 4.13 | Características em comum dos países que fazem parte do BRICS

Fonte: elaborada pela autora.

Apesar das características apresentadas na Figura 4.13, o BRICS não


forma um bloco econômico, mas sim uma aliança que tem como
objetivo geral ganhar força no cenário político e econômico mundial e
assim defender os interesses em comum.
Assim, de acordo com o Itamaraty (2017b), o BRICS vem expandido
as suas atividades em duas linhas principais, que são: (i) a coordenação
em reuniões e organismos internacionais; e (ii) a construção de uma
agenda de cooperação multissetorial entre seus membros.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 139


Atividades de aprendizagem
1. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo é composta por 13
nações espalhadas em todos os continentes. Porém, em qual região está o
maior número de integrantes? Marque a alternativa correta:

a) América do Norte.
b) África.
c) Europa.
d) América do Sul.
e) Oriente Médio.

2. O BRICS é um grupo internacional relativamente novo, formado


pelas cinco economias emergentes. Em relação ao BRICS, marque a
alternativa correta:

a) Forma o maior bloco econômico da atualidade.


b) O BRICS é um acordo internacional dos países emergentes.
c) O “S” dos BRICS significa que são vários países.
d) O BRICS faz parte da União Europeia.
e) O Brasil foi o último a entrar para o BRICS.

Fique ligado
Nesta unidade você aprendeu sobre:
• Os principais organismos internacionais.
• Grupos econômicos.
• Banco Mundial.
• Organização Internacional do Trabalho.
• Fundo Monetário Internacional.
• OTAN.
• BRICS.
• Grupo dos Sete e dos Vinte.
• Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

140 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


Para concluir o estudo da unidade
Nesta unidade discutimos os organismos internacionais e os principais
grupos econômicos que regem a economia mundial. Esses organismos
são instituições intergovernamentais, portanto, internacionais, que são
criadas por certos países que têm objetivos em comum, e são regidas
por tratados que buscam atingir os objetivos propostos.
Os objetivos dos organismos internacionais variam, podem
estar relacionados a avanços econômicos, sociais e políticos dos
países membros, políticas de cooperação técnica, fiscalização de
regras estabelecidas e tantos outros objetivos.
Assim, na Unidade 4 estudamos alguns dos principais organismos
internacionais, dentre os quais o Brasil faz parte de alguns.
Conhecemos a Organização das Nações Unidas, que talvez seja a
principal instituição internacional dos últimos anos. Vimos também a
instituição intergovernamental ligada ao trabalho, que é a Organização
Internacional do Trabalho e a instituição que rege o comércio
internacional, a Organização Mundial do Comércio, entre outras.
Falamos também sobre grupamentos internacionais e grupos
econômicos. Para esse tema, conhecemos o Grupo dos Sete e o
Grupo dos Vinte, sendo que do último o nosso país faz parte, já que
o Brasil está entre as vinte maiores economias do mundo. Outro
grupo econômico importantíssimo para o país é o BRICS, um grupo
formado pelos principais países emergentes do mundo.
Agora que você já conhece um pouco mais sobre os organismos
e grupamentos internacionais sugiro, para finalizar esta Unidade 4,
a reflexão da importância desses grupos para o fortalecimento da
economia dos países-membros.

Atividades de aprendizagem da unidade


1) A Organização das Nações Unidas foi criada em outubro de 1945, sendo
formalizada via Carta da ONU. Um trecho da carta pode ser visto a seguir:

Nós os povos das Nações Unidas, resolvidos: a preservar


as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por
duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos
indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 141


fundamentais do homem, na dignidade e no valor do
ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das
mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a
estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às
obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes de
direito internacional possam ser mantidos, e a promover o
progresso social e melhores condições de vida dentro de
uma liberdade mais ampla.

A Organização das Nações Unidas foi criada por qual razão? Marque a
alternativa correta:

a) Para a reinvidicação dos países periféricos no início do século XXI.


b) Pela necessidade de uma diplomacia regional durante a Guerra Fria.
c) Pelo enfraquecimento da economia europeia durante a década de 1990.
d) Para a união das potências bélicas mundiais ao final da Primeira Guerra Mundial.
e) Por causa das guerras que causaram tantos impactos para a população mundial.

2) Quando estudamos a Organização Internacional do Trabalho (OIT)


um termo está muito presente, que é o “trabalho decente”, ou seja, é este
tipo de trabalho que a OIT procura promover. Marque a alternativa que
apresenta uma explicação para o termo trabalho decente utilizado pela
organização:

a) É uma condição essencial para superar a pobreza.


b) É uma condição básica para aumentar o comércio internacional.
c) É uma condição para aumentar a produtividade do trabalho.
d) É uma condição para gerar crescimento econômico.
e) É uma condição fundamental para aumentar a competitividade.

3) A Organização dos Estados Americanos é o principal fórum


governamental político, jurídico e social do hemisfério, tendo como
propósitos essenciais:

I. Garantir a paz e a segurança internacional.


II. Organizar a ação solidária dos seus países membros em caso de agressão.
III. Promover o desenvolvimento econômico, social e cultural.
IV. Erradicar a pobreza crítica.

Marque a alternativa que contemple todas as afirmativas corretas:

142 U4 - Organismos e grupamentos internacionais


a) I, II e III estão corretas.
b) II, III e IV estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) I, II e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.

4) Grupo dos _____ é composto por países industrializados e os países


emergentes, como o Brasil. Esse grupo é _______, mas juntos procuram
discutir a _________ econômica global, as políticas nacionais e
internacionais relacionadas às instituições econômicas.

Marque a alternativa que preenche as lacunas corretamente:

a) Vinte, informal, estabilidade.


b) Sete, formal, instabilidade.
c) Vinte, formal, instabilidade.
d) Sete, informal, estabilidade.
e) Vinte, informal, instabilidade.

5) O BRICS é um grupo internacional formado pelas maiores economias


emergentes, que são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Esses países
formaram um grupo, pois têm algumas características em comum, que são:

I. Mão de obra abundante e qualificando-se.


II. Reservas de recursos minerais.
III. Melhoria nos indicadores sociais.
IV. Redução lenta das desigualdades sociais.

Marque a alternativa que contemple todas as afirmativas corretas:

a) I, II e III estão corretas.


b) II, III e IV estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) I, II e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.

U4 - Organismos e grupamentos internacionais 143


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U4 - Organismos e grupamentos internacionais 145


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