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“No período entre 1950 e 1980, ocorre o mais intenso processo de modernização pelo
qual o país passou, alterando em profundidade a fisionomia social, econômica e política do
Brasil. (...) a industrialização, a concentração de renda e a integração no conjunto econômico
capitalista mundial.” (p. 351)
“Sem dúvida, o elemento básico causal do crescimento das cidades encontra-se no forte
êxodo rural, a ponto de esvaziar o interior de alguns estados (...)” (p. 352)
“Ao mesmo tempo, dá-se uma rápida generalização das relações de produção de tipo
capitalista, com um fantástico aumento da população operária (...)” (p. 352)
“O Partido Social Democrata (PSD), que tinha sua principal base política no campo,
junto às pequenas cidades, sustentada no localismo e no coronelismo, um sistema de controle
do voto através da coerção econômica e do controle eleitoral – o curral de votos (...) temia, em
particular, o avanço do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no meio rural (...) Também a União
Democrática Nacional (UDN) passava pela mesma crise (...) A alteração da relação
campo/cidade ao invés de beneficiá-la vinha engordando o contingente eleitoral do seu principal
inimigo, o PTB.” (p. 354)
“A crise política avançava, também, sobre as Forças Armadas, onde a maioria dos
oficiais superiores, malgrado suas tendências ideológicas, mantinham uma política de
legalidade e controlava, bem ou mal, os mais incertos putschistas. (...) que desde 1954
conspiravam abertamente contra Vargas e o Trabalhismo.” (p. 355)
“As Forças Armadas (...) surgindo como um núcleo de eficácia e probidade frente a um
governo (...)” (p. 356)
“Pela primeira vez, desde a redemocratização de 1945, a UDN iria ao poder com Jânio
Quadros, uma figura controversa, histriônica, ocupado em destruir as estruturas partidárias e
procurando governar acima do Congresso.” (p. 356)
limpo” o país, principalmente através da superação de sua herança colonial.” (p. 357)
“A estrutura da posse e uso da terra no Brasil, no período entre 1945 e 1964, era marcada
por forte concentração fundiária (...)” (p. 359)
“(...) com 3.350.000 proprietários, divididas em três grandes tipos básicos: 1) pequenas
propriedades (menos de 100 hectares) (...) 2) as médias propriedades (as fazendas comerciais):
eram propriedades de 100 a 1.000 hectares (...) 3) o latifúndio: com mais de 1.000 hectares de
área (...)” (p. 359, 360)
“Entretanto, desde 1955, no Nordeste (...) assumia a importância de luta política (...)
denominadas “Ligas Camponesas” (...) centro da mobilização popular no campo, ponto de
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apoio para reformadores como Goulart e Miguel Arraes, e fulcro da histeria anticomunista.” (p.
361)
“Assim, a tragédia do governo Goulart evidenciava-se na luta pela reforma agrária, onde
o prosseguimento de uma política de desenvolvimento, com o alargar, simultâneo, do mercado
interno e da cidadania política, esbarrava em óbices institucionais, cuja superação dependia de
uma forca que não possuía.” (p. 362)
“O fato de ter minoria no Congresso colocava Goulart em situação difícil perante seus
aliados, muitos dos quais exigiam “Reforma Agrária já. Reforma Agrária na lei ou na marra”,
ou seja, apesar e contra a resistência do Congresso Nacional.” (p. 362)
“Tancredo Neves renuncia logo em seguida, paralisado face ao crescendo da crise social
e política.” (p. 362)
“A economia brasileira entrará em um longo ciclo depressivo, desde 1962, agravado por
uma inflação crescente, que paralisava as obras consideradas básicas pelo governo, visando a
uma melhor distribuição de renda, e causava forte pressão sobre os salários, originando um
clima de enfrentamento entre patrões e empregados, que vinha se somar à crise política mais
geral.” (p. 363)
“No contexto geral da crise, dá-se, também, ampla paralisação dos investimentos
privados, seja por temor da conjuntura econômica e política seja por mecanismos de lock-out,
visando a acelerar a deterioração econômica do governo Goulart. Ao mesmo tempo, os rumos
tomados pela política externa brasileira, a denominada “Política Externa Independente”,
formulada desde os tempos de Jânio Quadros e conduzida por San Thiago Dantas, objetivando
identificar o país com o movimento não-alinhado, faz com que comece a ser paralisada a
chegada de capitais estrangeiros, em particular norte-americanos.” (p. 364)
governo brasileiro – um tema batido pela direita, e que, após o golpe de 1964, daria origem à
maior caça às bruxas da história do país – e pela situação do capital estrangeiro, em particular
da ITT e da Bond & Share, nacionalizadas no Rio Grande do Sul durante o governo Brizola.”
(p. 365)
“Aos poucos, a ESG voltou-se bem mais para a questão da “segurança interna”,
reforçando a doutrina da segurança nacional (...)” (p. 366)
“Nessas condições resta a Goulart, com apoio das organizações sindicais, dos
nacionalistas e dos partidos de esquerda, passar, então, para a ofensiva e, buscando nas ruas,
através de manifestações de massa e de comícios, a base que lhe faltava no Congresso. Esse
ver-se-ia na contingência de recusar a realização da sua vontade, particularmente no tocante às
Reformas de Base.” (p. 366)
civis (...) já articulavam com os comandos militares (...) o desfecho do golpe para o mesmo mês
de março.” (p. 367)
“(...) cessão de um porto à frota norte-americana que, através da operação Brother Sam,
estava sendo enviada para intervir a favor dos amotinados (...)” (p. 367)
“A consequência imediata do golpe foi a formação de uma nova maioria, bastante sólida,
constituída pelos partidos de direita, que exerceu um forte fascínio sobre centristas e liberais.
Acreditavam em uma intervenção militar rápida, visando particularmente a uma reforma
política, ao controle da inflação e ao fim da corrupção.” (p. 367)
“Grande parte da imprensa formou ao lado da nova maioria e do seu esquema militar,
apoiando o afastamento do presidente da Câmara (...) e a eleição, pelo próprio Congresso, mais
uma vez contra a própria Constituição – do general Humberto de Alencar Castelo Branco, para
o cargo de presidente da República.” (p. 367)
“Tanto os civis quanto os militares envolvidos no golpe pareciam ter um projeto bastante
bem delimitado de intervenção na vida política do país, sempre norteado pelo mito das Forças
Armadas como um “Poder Moderador”, ao lado dos demais poderes constituídos da República.”
(p. 367)
“(...) Negavam-se, assim, a ver as contradições existentes no interior das forças que se
auto-intitulavam “regeneradoras”.” (p. 368)
“(...) Nesse contexto, a erosão da nova maioria, alcançada através do golpe, começa a
acelerar-se, culminando no virtual rompimento da coligação civil-militar que fizera o golpe.”
(p. 369)
“O combate à corrupção, uma das bandeiras básicas dos militares, começava a fazer
vítimas nas fileiras revolucionarias, atingindo lideranças civis expressivas (...) Nas próprias
fileiras das Forças Armadas surgem cisões (...)” (p. 369, 370)
“Assim, os setores mais radicais das Forças Armadas, a chamada “linha dura” (...) limita
a representação partidária a duas grandes frentes (...)” (p. 370)
“No mesmo ritmo, a resistência civil torna-se mais ousada e forte, ocupando, a partir de
1968, as ruas das principais cidades, os palcos e as salas de aula.” (p. 370)
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“Consumava-se “o golpe dentro do golpe”, a fase mais radical do regime militar.” (p.
371)
“No seu afã de manter a ordem, a Censura torna-se responsável pela separação entre o
bem e o mal.” (p. 373)
“A continuidade da crise, com uma inflação de 200% ao ano e mais de quatro milhões
de desempregados, faz estalar a crise nos meios militares, com um grupo – a chamada
“comunidade de informação e segurança” – negando-se a aceitar a abertura política e apelando
para o terrorismo contra alvos civis.” (p. 375)
“Tancredo Neves fizera um acordo (...) Tancredo Neves é eleito presidente do país, com
o compromisso de instalar uma Assembléia Nacional Constituinte (...) José Sarney, ex-líder da
ARENA e ex-presidente do PDS, vice-presidente da coligação Aliança Democrática, união do
PMDB com dissidentes do PDS, é empossado primeiro presidente da Nova República.” (p. 376)
“(...) o regime tenta determinar o ritmo das mudanças, permitindo uma maior
participação porém de forma controlada na arena política.” (p. 377)
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“Com estes atos, o regime busca controlar um processo político que ameaça escapar-lhe
das mãos, principalmente a partir de 1977, quando começam a surgir na chamada sociedade
civil críticas bastante severas à ditadura.” (p. 377)
“(...) dividir a oposição, até então aglutinada no MDB, dificultando sua ascensão ao
poder.” (p. 378)
“As eleições diretas para governadores estaduais em 1982 colocam o regime militar
frente a um novo cenário.” (p. 378)
“(...) um lado tínhamos a corrente militar que defendia uma intervenção cirúrgica,
suficiente para afastar a ameaça comunista e reestabelecer a ordem no país. (...) outra corrente
militar defendia a permanência das Forças Armadas no poder por quanto tempo fosse
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necessário, até que a ameaça do comunismo estivesse completamente afastada. (...) linha dura
(...)” (p. 380)
“(...) observar a alternância em que eles se sucederam no poder ao longo dos vinte anos
de regime militar. (...) a linha dura, principalmente através dos grupos que formavam a
comunidade de informações (CIE, CENIMAR, CISA, DOI-CODI e SNI) se colocou como um
dos maiores obstáculos ao projeto de devolução do poder aos civis.” (p. 380)
“O sistema, como ficaram conhecidos estes órgãos, conseguiu acumular durante os anos
de regime militar um poder praticamente autônomo às cadeias de comando, tanto das Forças
Armadas quanto do governo. O fim do regime militar representava portanto o término deste
poder e abria também a possibilidade de punição destes militares (...)” (p. 380)
“(...) Desta maneira, a comunidade de informações deveria ser controlada, mas não
desmontada porque ela era útil ao controle da oposição e do próprio processo da transição.” (p.
381)
“O caso que mais ganhou destaque neste período foi a morte do jornalista Wladimir
Herzog, em 26 de outubro de 1975, nas dependências do Centro de Operações para a Defesa
Interna (...)” (p. 381)
“(...) ficou claro que nenhuma oposição, até mesmo eclesiástica, seria permitida.” (p.
382)
“O atentado mais audacioso destes grupos, adeptos do terrorismo de direita, foi o caso
Riocentro em 30 de abril de 1981. (...)” (p. 383)
“(...) A manutenção do SNI era fundamental para os militares pois desta forma eles
saíam do governo mas continuavam a atuar nele através de um órgão com o aparato que possuía
o SNI. Esta posição foi assegurada pelo vice José Sarney ao tomar posse após a morte de
Tancredo Neves.” (p. 383)
“Desta maneira o aparato repressor foi mantido intacto e atuante, principalmente nas
greves que estouraram no país e na identificação dos membros do movimento sindical. E as
denúncias da esquerda, sobre a presença no governo de oficiais envolvidos na repressão, foram
retribuídas com ameaças veladas de retorno ao Estado ditatorial.” (p. 383/4)