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15/04/2019 Horizonte da elite não é sociedade justa, é economia pujante - 14/04/2019 - Angela Alonso - Folha

Angela Alonso (/colunas/angela-alonso/)

Horizonte da elite não é sociedade justa, é


economia pujante
Para as classes altas, tudo é aceitável, se a locomotiva seguir acelerada

14.abr.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/04/14/)

A elite social brasileira (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1920559-escravidao-e-nao-


corrupcao-define-sociedade-brasileira-diz-jesse-souza.shtml)é branca, educada e cosmopolita. E

assim é desde que o país começou. É também violenta, embora se veja como
generosa para com subalternos, todos negros, mas “como se fossem da
família.” Não são. 

Nem na vida ganham acesso às relações abridoras de portas nem na morte


herdam patrimônio. A próxima geração segue onde estava a antecedente,
numa estrutura social secular, com os mesmos sobrenomes usufruindo a
vista da cobertura, enquanto os sem nome limpam cozinhas e latrinas.

Ao contrário do que pregam a adversários, é raro que membros da elite


façam autocrítica de erros políticos, como a eleição de Fernando Collor.
Muito menos reconhecem seu papel ativo na reprodução intergeracional da
desigualdade. Alguns dos seus, os “bem intencionados”, atuam nas franjas,

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com iniciativas para premiar o “talento” de alguns humildes, como Carlinhos


Brown, que foi da favela ao estrelato. 

Esta fresta para o alto não altera os mecanismos de distribuição de recursos


e acessos. Mas é o suficiente para os cidadãos de bem, reconfortados pelo
argumento liberal de que oportunidades individuais bastam para corrigir
problemas estruturais.

É que o horizonte desta elite não é uma sociedade justa, é uma economia
pujante. Para obter a segunda, abre mão da primeira. Nunca titubeou em
pagar o preço, fosse a escravidão, regimes de trabalho avizinhados ou
ditaduras, como a que o presidente comemorou. Tudo aceitável, se a
locomotiva seguir acelerada. 

Essa gente de bem pensa em si como o vagão que puxa o trem, que carrega o
fardo do país e pena o alto custo trabalhista de mão de obra sem
qualificação. São empreendedores incansáveis, prejudicados pelo povo caro e
ignorante —que reclama de barriga cheia, pois muitos pesam, disse o
presidente, várias arrobas.

O raciocínio do “custo Brasil” (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/08/1502977-produzir-no-


brasil-e-23-mais-caro-do-que-nos-eua-de-acordo-com-estudo.shtml)omite
que as mazelas nacionais
sucessivas resultaram de decisões políticas tomadas pelos que estão no alto,
enquanto o sacrifício é sempre exigido dos de baixo. Assim foi na reforma
trabalhista, assim se anuncia na previdenciária e a tributária não avançará
imposto sobre grandes fortunas e transmissão intergeracional de riquezas.

E, convenhamos, não se exige de quem adentra essa elite o refinamento da


antiga aristocracia. Veja-se o novo ministro da Educação: é branco, tem
diploma superior e renda que garantem moradia em andar alto da pirâmide
nacional. E, no entanto, emite juízos explicáveis apenas pela ignorância. 

Já havia o precedente do “nazismo de esquerda”


(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/04/hitler-usou-socialismo-para-atrair-massas-ao-nazismo-mas-meta-era-

destruir-marxismo.shtml), mas rotular banqueiros de comunistas


(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/04/novo-ministro-da-educacao-weintraub-defende-expurgo-do-marxismo-

cultural.shtml) compete à altura. Nenhuma destas pérolas ministeriais espanta,

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considerando a língua presidencial. Mas choca que parcela tão gorda do topo
social siga firme no apoio à obscurantista, autoritária e até aqui ineficiente
“nova política”.

Apoio registrado no último Datafolha (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/apos-3-meses-


bolsonaro-tem-a-pior-avaliacao-entre-presidentes-de-1o-mandato.shtml): capaz de os banqueiros que o

ministro menciona estarem entre os 36% de homens com diploma superior e


os 41% com renda acima de dez salários mínimos que acham “ótima” a
administração mitológica. 

A aprovação (ótimo/bom) é ampla entre os que vivem bem: 47% dos


profissionais liberais, 57% dos empresários e 71% dos rentistas, como se dizia
antigamente. Os bem postos na vida estão satisfeitos com o governo.

Mesmo com critério exigente, a alegria não se desmancha: 46% do


empresariado e 44% dos que vivem de renda dão nota 8 ou mais para a
administração bolsonarista. Parte dos eleitores do mito é impenitente e está
infenso a três meses de barbaridades. Mas nem todo votante de
conveniência, o antipetista, repudia: 54% dos que se declaram PSDBistas
seguem achando tudo ótimo. É que se a reforma da Previdência passar, os
tuítes ensandecidos do Palácio do Planalto serão perdoados, porque o país —
ou parte dele— usufruirá das bênçãos do mercado. 

A maioria destes cidadãos de bem apoia também embalada por outra


promessa, a da reforma penal. 
É preciso mais que comprar armas para se defender de meliantes. Precisa
encarcerá-los antes que atinjam a idade adulta. Claro, alguns escaparão de
celas de extermínio precoce, e poucos talentosos serão escolhidos, como
Brown, para cantar no Lollapalooza. 

Aos remanescentes, resta a prontidão das forças da ordem, a postos para


abater suspeitos. Suspeitos naturalmente negros, como muitos dos
executores, como negros eram tantos capitães do mato. 
Estão a serviço, mas tampouco serão admitidos às fortificações medievais
onde a gente de bem dorme tranquila. Não se pode acordá-la com choro de
órfãos, mães e viúvas, nem com o ruído de 80 tiros

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(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/04/militares-do-exercito-matam-musico-em-abordagem-na-zona-oeste-do-

rio.shtml).

Angela Alonso
Professora de sociologia da USP, preside o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. É
autora de “Flores, Votos e Balas”.

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