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Lorraine Heath
Sinopse
Casando-se com Maddie, uma mulher que trabalha em um bordel, a fim de
sobreviver, o viúvo Charles Lawson espera fornecer a seus três filhos uma mãe
amorosa até a sua doença terminal o obrigar a organizar um compromisso entre
Maddie e seu irmão.
Texas, 1881
Ela tirou várias xícaras do armário e as colocou, uma por uma, na mesa de
madeira cheia de marcas. Com o canto do olho ela viu quando ele levantou a tampa
da panela de ferro pesado e agitou o conteúdo dentro.
— Então você e Charles são irmãos — disse ela, tentando preencher o
silêncio vazio. Sua mão parou quando olhou para ela e ela desejou ter ficado em
silêncio.
— Você não sabia que ele tinha um irmão?
Ela moveu a cabeça lentamente de um lado para o outro, mais uma vez
nadando nas profundezas negras de seus olhos, olhos que ela, estava certa,
examinavam todos os aspectos do seu ser, olhos que, ela temia que pudessem olhar
muito abaixo da superfície de uma pessoa, para descobrir as verdades escondidas.
Ajustou o posicionamento da última xícara como se fizesse uma diferença onde ela
era colocada em cima da mesa. — O pequeno garoto...
— Aaron?
Ela forçou um pequeno sorriso. — Sim, Aaron. Ele disse que Texas Rangers
não trapaceiam. Ele estava dizendo que você é um Texas Ranger?
— Era. Eu não sou mais. Deixei de ser há pouco mais de um ano.
Não é de admirar que ele a examinou tão detalhadamente. Resolutamente,
ela se convenceu de que, o que ele era antes, tinha pouca influência sobre o que ele
era agora. Nenhum crachá decorava seu peito; nenhuma arma estava amarrada a
sua coxa; nenhum rifle descansava na curva de seu braço. — O que você faz agora?
— Trabalho aqui.
— E onde você mora?
— Eu tenho um quarto no andar de cima.
De repente, ela sentiu como se a casa não fosse grande o suficiente. — Estão
todos os quartos no andar de cima?
— Sim, há oito. Aqueles no lado leste são para a família, os do oeste para os
hóspedes.
— Entendo. — De braços cruzados, olhando o homem que olhando para ela,
ela se perguntava o que estava segurando Charles. Sempre que seu pai voltava para
casa e entregava um presente de seu alforje, mal dava tempo para dizer obrigado
antes que ela fugisse para se divertir. Ela esperava ouvir as crianças correndo para
baixo das escadas muito antes de agora. — Onde eu encontro algumas colheres?
Silenciosamente, com movimentos elegantes que ela nunca teria esperado de
um homem do seu tamanho, ele atravessou a sala para um armário de madeira e
abriu uma gaveta. — As colheres estão aqui.
Ele não pegou qualquer uma. Ele não se afastou. Ela não sabia se era um
desafio ou um teste mas ela sabia que tinha que estabelecer o seu lugar na família.
Ela atravessou a sala e mergulhou a mão na gaveta. — Obrigada.
— Você conhece Charles há muito tempo? — ele perguntou.
Ela colocou os dedos em torno de algumas colheres. — Não muito.
— Você era uma amiga de Alice?
Ele ficou tão perto que ela podia ver seu rosto refletido em seus olhos negros.
— Alice?
— A esposa de Charles.
— Não, não. Eu não a conheci.
— Você é de Fort Worth?
— Não.
O silêncio teceu em torno deles até que ela sentiu como se estivesse sendo
envolta em uma mortalha.
— De onde você é? — Ele finalmente perguntou.
— Nenhum lugar em particular. Nós nos movíamos sem destino certo.
— Como os ciganos?
— Eu pensei que você tivesse dito que não era mais um Texas Ranger.
— Eu fiz um juramento para proteger o bem estar deste estado quando
entrei para os Rangers em setenta e quatro. Eu não dei as costas ao juramento com
a minha demissão.
— E você acha que eu sou uma ameaça para o estado do Texas?
— Não para o estado mas talvez a esta família. Eu conheço um monte de
mulheres que se aproveitariam da situação de Charles para se dar bem.
— Isso não diz muito das companhias que você mantêm.
Ele estreitou os olhos e ela notou um aperto sutil dos músculos de sua
mandíbula, e lamentou sua língua ferina. Geralmente, ela a guardada, a menos que
estivesse extremamente nervosa ou se sentisse ameaçada. Neste momento, ela
sentiu ambos.
— Como é que você disse que você e Charles se conheceram? — ele
perguntou.
— Eu não disse.
Um som na porta fez Maddie se virar. Com orgulho refletido em seus olhos,
Charles estava no limiar segurando a mão de cada filha. Ambas as meninas usavam
vestidos, meias brancas e sapatos pretos. Charles tinha escovado seus cabelos
loiros até brilharem e colocado fitas violetas. Ele esfregou a sujeira e manchas do
rosto delas para revelar uma dispersão de sardas sobre a ponte do nariz de Hannah
e na parte superior do rosto de Taylor.
Um Aaron desconcertado ficou ao lado de Hannah. Sua camisa branca
engomada estava abotoada por todo o caminho até sua garganta e uma gravata
preta rodeava o pescoço debaixo do colarinho. Ele usava calças que não
mostravam indicação de que tinham sido usadas para brincar. Seu cabelo castanho
estava penteado para baixo, algumas mechas errantes apontando para cima na parte
de trás. Ele não olhou para Maddie mas para Jesse.
— Tio Jesse não teve que se vestir — Aaron anunciou.
— O tio Jesse não precisa impressionar uma senhora — Charles disse
quando trouxe as crianças para a cozinha.
Sorrindo para Charles, Maddie sentiu as lágrimas picarem seus olhos.
— Eu não quero impressionar alguém também — Aaron resmungou.
Maddie saltou quando Jesse propositadamente pigarreou atrás dela.
Aaron gargalhou. — Tio Jesse diz que apenas pessoas culpadas saltam
quando ele faz isso.
Hannah soltou a mão de seu pai, andou até Maddie e envolveu sua mão
pequena em torno dos dedos de Maddie. — Não se preocupe. Eu pulo também e
sou quase sempre boa. — Seus olhos castanhos se tornaram maiores e mais
redondos quando ela olhou para seu tio para confirmação. Sorrindo calorosamente,
ele lhe deu um aceno de cabeça.
Maddie rezou para que o homem nunca sorrisse para ela assim. Ela poderia
facilmente esquecer que ele tinha sido uma vez um homem que cumpria a lei e isso
poderia ser desastroso.
— Por que não vamos todos trabalhar juntos para obter esta refeição servida
e quando nós terminarmos de comer vamos ver o que os presentes são? — Charles
sugeriu.
— Você não deu a eles os presentes? — perguntou Maddie.
— Claro que não. Você me ajudou a escolher. Deve compartilhar a alegria
de os dar.
A alegria. E ela sentiu a alegria, sorrindo para ele, vendo o entendimento
refletido em seus olhos castanhos. Pela primeira vez, desde que ela concordou em
se casar, ela estendeu a mão e apertou a dele. Ela se perguntou se já se sentira mais
feliz do que se sentia neste momento.
Uísque. Seus olhos lembravam a Jesse de um copo de bom uísque, do tipo
que descia suavemente e aquecia o interior de um homem. O tipo de uísque com o
qual um homem se embebedaria. E ali de pé, a retirando da diligência, ele se viu
ficando bêbado.
Suas mãos tinham se estendido por sua cintura fina e doeram pelo privilégio
de abranger o resto dela. Ela era tão leve quanto uma nuvem flutuando no céu. Ele
poderia a ter segurado no ar durante todo o dia, até tarde da noite, antes que
sentisse a tensão. Ele queria arrancar seu chapéu da cabeça e dar liberdade para o
cabelo cor de mel que protegia, deixar as madeixas sedosas despejarem sobre as
mãos, do jeito que ele derramava mel sobre biscoitos.
Desde que ele estava trabalhando na pousada de seu irmão, tinha ajudado
uma centena de mulheres a descer da diligência. Muitas tinham sido mais bonitas
do que a mulher que tinha visto hoje. Então porque ele não queria tirar as mãos
dela?
Até que descobriu que ela estava casada com seu irmão não tinha sido capaz
de a libertar rápido o suficiente. Mas durante toda a tarde seus olhos tinham
tomado liberdades que foram negadas a suas mãos, a acariciando, a tocando em
todas as oportunidades. Ele só teve um vislumbre de seu sorriso mas foi o
suficiente para o fazer entender por que Charles tinha casado com ela. O que ele
não conseguia entender era por que ela se casou com um homem que só podia
prometer dor?
As perguntas que ele tinha feito na cozinha tinham sido uma tentativa de
recolher alguma luz sobre seus motivos. Ela estava cautelosa, inquieta, e ele
pensou que estava fazendo progresso até que ela atirou a sua opinião sobre as
companhias que ele mantinha.
Ele bufou. As companhias que ele mantinha. Ele estava falando em
generalizações, não especificações. Então por que se sentia como se ela tivesse
conseguido a melhor sobre ele?
Eram seus malditos olhos de uísque. Eles o tinham distraído até que estava
procurando por fatos, como um novo recruta procurava por bandidos: com
absolutamente nenhum sucesso.
Sentado em um fardo de feno, ele esfregou óleo nos arreios que tinha
reunido, estudou a maneira como suas mãos se moviam sobre o couro e as
imaginou acariciando uma mulher de forma delicada. Suas mãos deslizariam
lentamente ao longo de suas costelas até que gentilmente espalmassem seus seios
pequenos.
— O que você acha de Maddie?
Jesse levantou a cabeça e limpou o suor da testa com a manga de sua camisa.
Ele estava extremamente grato que seu irmão não fosse um leitor da mente. — Eu
não tornei um hábito julgar as pessoas antes de as conhecer.
— Isso coloca você em minoria, não é?
Dando de ombros, ele voltou a trabalhar nos arreios. — Eu nunca coloquei
muita fé no que a maioria pensa. Quando é que o gado chegará aqui?
— O gado?
Jesse parou as mãos e lentamente ergueu o olhar para seu irmão. Ele não
estava nada satisfeito com o tom em que a em que a pergunta tinha sido feita, como
se Charles não soubesse nem o que era uma vaca.
— Sim, o gado. O gado que eu te dei dinheiro para comprar.
Limpando a garganta, Charles esticou o pescoço como se alguém tivesse
acabado de jogar um laço de couro cru em torno dele. O medo de Jesse aumentou.
Ele passou anos economizando esse dinheiro, arriscando sua vida mais de uma vez
por aquele sonho. — Você comprou o gado, não é? Essa foi uma das coisas que
você deveria fazer quando estava em Fort Worth para ver o médico.
— Bem, eu vi o médico.
— E o homem que eu disse a você para ver sobre o gado?
Charles enfiou as mãos nos bolsos. — Inferno. — Ele encontrou o olhar
firme de seu irmão. — Eu precisava do dinheiro para outra coisa.
— Para algo mais? Com as ferrovias cruzando este estado, as linhas de
diligência estão começando a desaparecer. Que diabo é que vamos fazer então? O
gado eram algo que poderíamos praticar quando as linhas acabassem.
Em retrospecto, Charles percebeu que ele, provavelmente, poderia ter
começado com um lance menor, mas tudo o que ele tinha pensado na época, era na
expressão no rosto de Maddie, como se a cada momento, ela estivesse morrendo
um pouco por dentro. Ele queria garantir o que ninguém mais poderia oferecer. Ele
a queria fora daquela mesa sem os dedos trêmulos deslizarem por baixo da outra
tira daquele vestido. — Eu precisava do dinheiro para Maddie.
— Você gastou os meus seis mil dólares em sua mulher? — Jesse gritou,
jogando os arreios para o chão e se levantando.
— Ela não era minha esposa na época.
— Eu estou ouvindo — Jesse moeu fora.
— Você já foi à Bev, quando ela encontra uma virgem para começar a
trabalhar para ela?
— Uma puta? Você gastou meu dinheiro em uma prostituta?
— Não, eu gastei o nosso dinheiro em Maddie. Eu paguei mil dólares para a
tirar daquela mesa maldita. Eu a levei de volta para o meu quarto de hotel e lhe
pedi para casar comigo.
— Ela deve ter sido um inferno na cama.
Jesse estava totalmente despreparado para o punho fechado que bateu em
seu queixo e lhe enviou alastrando sobre o fardo de feno. Anos de luta para ganhar
o seu lugar no mundo lhe tinham feito desenvolver reflexos rápidos. Rapidamente,
ele se recuperou e saltou sobre os pés, os próprios punhos fechados ao seu lado.
Ele ficou lá com o peito arfando. Qualquer outro homem já teria sentido seu punho
se chocando contra seu rosto mas Jesse sabia que ele não poderia bater em Charles.
Ele se defenderia se seu irmão jogasse outro soco, mas não o queria acertar de
volta.
— Ela é minha esposa, Jesse. Você vai lhe dar o respeito que ela merece
como minha esposa ou, por Deus, você vai ficar fora da minha casa.
Jesse observou um Charles tempestuoso sair do celeiro. Esfregando o local
ferido, ele, cautelosamente, moveu sua boca. Bem, ele se perguntou que tipo de
mulher iria se casar com um homem com a aflição de Charles. Agora ele sabia.
Ele caiu no fardo de feno e escondeu o rosto entre as mãos. A pecuária tinha
sido o sonho de seu pai, um sonho que os fez viajar do Tennessee sem saber o que
estava por vir. Ele tinha envolvido as duas mãos infantis ao redor do sonho de seu
pai, se sentindo como um homem quando seu pai discutia o rancho que eles
construiriam, a terra que eles olhariam, sobre o gado que eles criariam. Após a sua
morte, seu pai tinha entregue seu sonho para Jesse.
Quando Jesse tinha compartilhado seu sonho de criação de gado com
Charles, pensou que Charles tinha abraçado o sonho também. Ele gemeu em
frustração. Charles tinha trocado seu dinheiro suado por uma prostituta.
Suas opções eram limitadas. Ele poderia voltar a trabalhar para os Texas
Rangers, arriscando sua vida ocasionalmente. Ele poderia voltar para noites
intermináveis ante uma fogueira, a camaradagem dos homens, a ausência de
mulheres decentes e crianças.
Ou ele poderia virar um caçador de recompensas. O pensamento coalhou seu
estômago. Como um Ranger, ele caçava homens por causa das coisas que tinham
feito, não por causa da recompensa oferecida por eles. Por mais que ele tentasse se
convencer de que um caçador de recompensas não era diferente, ele não podia. Era
diferente.
Ou ele poderia economizar e se apertar e esperar que as linhas tivessem mais
alguns bons anos.
Ele levantou a cabeça e olhou para a porta do celeiro aberta para a escuridão
da noite.
Ele sabia que Charles não tinha a intenção de trair o seu sonho. Era a mulher
que era responsável. Ela não teve a menor dúvida de balançar seus quadris, piscar
os olhos, e sorrir para ele. Ela o convenceu a se casar com ela e, como um ladrão
silencioso, tinha roubado o sonho de Jesse.
Bem, ele tinha muita experiência em lidar com ladrões. Nas regiões mais
distantes do oeste do Texas, um Ranger servia como juiz, júri e carrasco, quando a
situação justificava isso, e esta situação justificava o seu serviço como todos os três.
Antes dele terminar, ela se arrependeria de tomar seu irmão por um tolo e
roubar de Jesse seu sonho.
~
Não querendo se intrometer, Maddie ficou apenas no interior da porta e viu
como Charles se apoiava nos joelhos, com camisolas drapeadas sobre sua coxa,
preparando suas filhas para a cama.
Pacientemente, ele tirou seus sapatos, meias e vestidos. Então ele olhou por
cima do ombro — Você se importaria de ajudar Hannah? Ela não é tão manobrável
como Taylor.
Maddie sentiu um formigamento de gratidão, e o sentimento de pertencer
tocou seu coração quando ela atravessou a sala e se ajoelhou ao lado de Charles.
Ele lhe entregou uma camisola.
— Toquem as estrelas — disse ele. Ambas as meninas levantaram os braços
e esticaram os dedos em direção ao teto. Ele colocou uma camisola de musselina
sobre a cabeça de Taylor.
Sorrindo, Maddie imitou suas ações e deslizou a camisola sobre a cabeça de
Hannah, trabalhando seus braços nas mangas, puxando a camisola sobre seu corpo.
Ela tinha terminado antes de Taylor rir e desabar no colo de seu pai. Charles a
levou para uma pequena cama. Cada lado tinha um corrimão de madeira que se
estendia um pé acima do colchão com ripas de madeira dispostas em intervalos de
uma polegada.
— Será que esses corrimões a manterão? — perguntou Maddie.
— Não, eles estão apenas projetados para a impedir de cair.
— Tio Jesse os fez. — Hannah anunciou orgulhosamente, quando ela se
arrastou em sua própria cama. — Só que eu não preciso deles porque eu sou uma
menina grande.
Charles foi até o armário, pegou duas escovas, e entregou uma a Maddie. —
É melhor trançar seu cabelo. Caso contrário, nós vamos gastar a metade da manhã
o desembaraçando amanhã.
— Tio Jesse não trança o cabelo — disse Hannah.
— Tio Jesse não banha você também, não é?
Hannah e Taylor balançaram suas cabeças vigorosamente enquanto sorrisos
enchiam seus rostos.
— Sim, eu acho que ele esqueceu que estava com senhoras.
Maddie sentou na cama e escovou as mechas finas de seda de Hannah.
Assistindo Charles trançar o cabelo de Taylor, estava surpresa que ele tinha as
habilidades e se perguntou se ele tinha trançado o cabelo de sua esposa. Quando a
tarefa estava completa, ele beijou Taylor na bochecha.
— Dê a sua mãe um pouco de doçura, também.
Maddie beijou Hannah, então se inclinou sobre Taylor. Os braços gordinhos
de Taylor se envolveram em torno de seu pescoço, abraçando seu coração. E ela se
afastou quando Charles trouxe as colchas sobre os ombros de cada menina, antes
de colocar um beijo em suas bochechas. Engolidas pela roupa de cama, elas
pareciam extremamente pequenas e vulneráveis.
Charles esmaeceu a lamparina descansando na mesinha de noite, que ficava
entre as camas. — Nós a deixamos queimar um pouco para manter os pesadelos
longe. Boa noite, meninas.
Hannah se sentou. — Nós não dissemos 'boa noite' para o tio Jesse.
Charles voltou para o lado dela, a deitou na cama, a cobriu até em cima. —
Tio Jesse tinha algumas tarefas que ele precisava cuidar. Ele estará aqui mais tarde.
— Mas eu o quero beijar.
— Direi o que fazer. Por que você não coloca um beijo em sua mão e o
mantêm sob seu travesseiro? Você pode dar o beijo a ele de manhã.
Hannah parecia duvidosa, mas ela beijou a palma da mão, fechou o punho, e
o enfiou debaixo do travesseiro. Taylor imitou as ações de sua irmã. Charles deu a
cada garota um último beijo antes de acompanhar Maddie para fora do quarto.
Uma vez no corredor, ele colocou a mão na parte inferior de suas costas. —
Vamos dizer boa noite para Aaron, mas não fique desapontada se ele não lhe der
um beijo. Quando ele tinha quatro anos, ele disse a Alice que tinha usado todos os
seus beijos.
— Tinha usado todos os seus beijos?
Sorrindo, ele acenou com a cabeça. — Sim, mas eu acho que em cerca de
cinco anos, ele vai descobrir alguns acumulados que ainda não foram usados.
Charles bateu na porta do quarto de Aaron. Quando Aaron respondeu, ele
pegou a mão de Maddie e entrou no quarto. Aaron estava na cama com as colchas
colocadas sobre ele.
— Pensei em passar para dizermos boa noite.
— Boa noite.
Charles se sentou na beira da cama. — Eu senti sua falta quando eu estava
em Fort Worth. Pensei que você poderia me dar um abraço.
Aaron lançou um olhar furtivo para Maddie. — Não a vou abraçar.
— Será que eu pedi isso a você?
Balançando a cabeça, Aaron se sentou e atirou os braços em volta do
pescoço de seu pai. Charles o abraçou com força. — Eu amo a sua mãe, Aaron.
Meu casamento com Maddie não muda isso. — Sentindo os braços de Aaron
apertar em torno dele, sabia que tinha aplacado alguns dos medos do menino.
— Eu sinto falta de Mamãe — Aaron sussurrou com voz rouca contra o
pescoço de Charles.
— Eu sinto falta dela, também. Eu penso nela todas as noites antes de eu ir
dormir, mas um homem precisa de mais do que memórias para se apegar à noite,
ele precisa de mais do que as memórias de sua vida. Um dia você vai entender que
um homem gosta de ter uma mulher que ele pode segurar.
Aaron se desvencilhou de seu pai. — Tio Jesse não tem uma mulher para
segurar.
— Ele tem seus sonhos e eu imagino que enterrado em algum lugar dentro
desses sonhos está uma mulher. Ele simplesmente não tem tido tempo para a
encontrar.
— Como é que o tio Jesse não veio para casa hoje à noite?
— Ele tinha algumas coisas para fazer.
Aaron franziu o rosto em desgosto. — Será que ele vai trazer uma mulher
para casa amanhã?
Charles sorriu. — Eu não penso assim.
Aaron se enterrou dentro do colchão quando Charles reorganizou as colchas
deslocadas. — Não vi você dizendo boa noite à Senhorita Maddie.
Aaron olhou através de seu pai para a mulher silenciosa que estava dentro de
seu quarto. — Boa noite.
— Boa noite, Aaron.
Ele acenou com a cabeça antes de virar. Balançando a cabeça, Charles se
levantou.
Eles saíram para o corredor. — Dê tempo a ele. — disse Charles
calmamente.
— Ele parece pensar que o mundo é seu irmão.
Charles assentiu. — Jesse veio morar aqui logo após Alice morrer. Eu tinha
um bebê e uma criança de três anos de idade, que eu estava tentando cuidar. O
pouco tempo que eu tinha para Aaron não era o suficiente. E o tempo que eu
encontrava para ele... — Ele balançou a cabeça. — Nós estávamos no celeiro, e eu
estava gritando com ele sobre algo que ele tinha feito de errado. Eu nem me
lembro o que era agora. De repente, Jesse pigarreou, e eu pulei fora da minha pele.
Maddie sorriu, e ele tocou a ponta curvada de sua boca. — Veja, você não é
a única que ele faz saltar. Enfim, lá estava ele, procurando um lugar para chamar
de lar. Ele deu um a Aaron, o tempo e a atenção que eu não podia. O que é bom.
Estou feliz por eles serem próximos.
Eles caminharam pelo corredor até que pararam diante do primeiro quarto.
— Por que você não vai para a cama? — Charles sugeriu. — Eu vou dar uma
olhada lá embaixo. Eu estarei de volta em breve.
— Por que Jesse não voltou para a casa?
Charles desviou o olhar. — Ele tinha algumas tarefas...
Ela enfiou a mão na sua e roçou o polegar levemente em torno dos nós dos
dedos esbranquiçados. — Você disse a ele, não é? — ela perguntou em voz baixa.
— Disse como você me encontrou?
— Isso não importa, Maddie. Jesse simplesmente não entende. Ele vê tudo
como se fosse pintado em preto e branco. Eu vejo as coisas como se elas fossem
pintadas em vários tons de cinza. Quando a luz brilha sobre elas, você vê algo
diferente.
— Eu não quero ficar entre vocês dois. A família é muito importante,
Charles.
— Você é da família agora, Maddie. Como Aaron, ele vai vir a perceber isso
com o tempo. Agora, se prepare para a cama, e eu vou estar de volta em poucos
minutos.
Ela assistiu seu marido descer as escadas antes de abrir a porta de seu novo
quarto. Ela o tinha visto pela primeira vez naquela tarde, quando eles tinham
trazido as crianças para cima, para receber seus presentes. O quarto falava,
eloquentemente, sobre o relacionamento de Charles com sua primeira esposa.
Móveis de nogueira sólida eram uma expressão de sua masculinidade, mas
as cortinas de babados que adornavam as janelas e a colcha feita à mão, cobrindo a
cama, eram evidência de sua feminilidade. Nada no quarto ofuscava qualquer outra
coisa, mas cada item tinha sido especificamente escolhido para complementar o
outro. O lavatório, onde ele iria fazer a barba pela manhã, sua delicada cômoda
espelhada, onde ela iria se preparar para a cama à noite. Olhando ao redor do
quarto, ela sabia que seu marido tinha de fato compartilhado algo especial com sua
esposa. Ela sentiu alívio ao pensar que não estava competindo com a mulher por
um lugar no coração de Charles.
Ela vestiu a camisola e o roupão antes de se sentar na cadeira coberta de
veludo na frente da cômoda espelhada. Enquanto ela trabalhava a escova
vigorosamente através de seu cabelo, ouviu a porta de seu quarto se abrir. Ela
fechou os olhos, temendo o que poderia ver quando ela os abrisse, com medo de
que a viagem de Charles ao andar de baixo para verificar as coisas tivesse incluído
o uísque. Ela sentiu suas mãos vindo para descansar em seus ombros e abriu os
olhos.
No reflexo do espelho, ele sorriu suavemente. Alívio a percorreu e ela sorriu
de volta. Alcançando em torno dela, ele tomou a escova de sua mão e a trouxe
suavemente para baixo através de suas mechas de mel. Desde que sua mãe tinha
morrido ninguém tinha escovado seus cabelos. Ela tinha esquecido o quão boa era
a sensação de ser mimada. A escova acalmou e Charles pegou seu olhar no espelho.
— Eu gostaria de te abraçar esta noite — disse ele calmamente.
Nervosa, ela concordou com a cabeça ao seu pedido. Ele entregou a escova
de volta para ela. — Vou deixar a trança para você.
Ela pegou a escova e separou seu cabelo enquanto ele se afastava. Ela se
perguntou como iria fazer a trança no cabelo com os dedos tremendo tanto.
Charles olhou ao redor tentando decidir a melhor maneira de se preparar
para a cama. Este quarto não tinha tela atrás da qual ele poderia discretamente
mudar de roupa. E mesmo que o fizesse, ele não tinha nada que pudesse vestir. Ele
sempre dormia sem uma peça de roupa e não possuía camisolões. Ele pensou em
olhar através dos pertences de Jesse, mas sabia que não encontraria nada adequado
lá. Ele tirou a camisa para fora da calça e lentamente desfez os botões.
De pé, Maddie estudou a porta. — Eu acho que vou verificar as crianças —
disse ela, com a voz trêmula.
— Essa é uma boa ideia.
Ela correu para fora do quarto fechando a porta. Charles lançou uma
respiração profunda antes de rapidamente retirar suas ceroulas e se enterrar
debaixo das cobertas da cama.
Tranquilamente andando pelo corredor, Maddie abriu a primeira porta e
espreitou o quarto das meninas. Ambas estavam deitadas dormindo, as mãos ainda
segurando beijos sob seus travesseiros.
Ela fechou a porta e caminhou até o quarto de Aaron. Ela não teve a
coragem de abrir a porta, tendo a chance de o incomodar e fazer com que ele não
gostasse dela mais do que já não gostava. Ela caminhou até o final do corredor e
olhou para fora da janela para a noite negra.
Pensou em todas as noites que ela e sua mãe tinham deixado uma lamparina
queimando na janela da frente, assim seu pai e seu irmão poderiam encontrar o seu
caminho de volta para elas. Ela e sua mãe tinham sonhado com a vida que eles
teriam quando as coisas funcionassem para seu pai, quando ele teria um trabalho
que valeria a pena. Ela tocou a ponta dos dedos na janela. Sua mãe tinha morrido
sem tocar seus sonhos. Agora Maddie morava em uma casa maior do que qualquer
uma que ela já tinha visto, casada com um homem mais gentil do que qualquer
outro que ela já tinha conhecido. Ela fez um voto silencioso de que Charles nunca
se arrependesse de a tirar de Bev.
Ela voltou para seu quarto, abriu a porta e espreitou timidamente. Charles
estava deitado na cama com um braço sob sua cabeça.
Lentamente, ela atravessou o quarto. Ela esmaeceu a chama ardente na
lamparina antes de remover seu roupão. Este quarto não continha qualquer sofá, e
seu marido tinha mantido sua promessa. Ele não tinha desmaiado esta noite. Ela
sorriu timidamente enquanto ele levantava as cobertas, a convidando para sua
cama.
Ela foi para debaixo dos lençóis e se deitou de costas com rigidez, os braços
apertados contra seus lados. Ela não tinha certeza de como um homem abraçava
uma mulher.
— Você já dormiu com um homem segurando você? — perguntou Charles.
— Não — Maddie sussurrou para o teto.
— Será que o pensamento assusta você?
— Não.
— Isso faz você ficar nervosa?
Ela desviou o olhar para ele. Ele estava nas sombras mas ela pensou que
poderia ver o mais descarado dos sorrisos no seu rosto. — Sim.
— Eu quero que você role para o seu lado.
Maddie fez como instruído. Charles colocou seu braço ao redor dela e
gentilmente a guiou em seu abraço. Ela descansou a cabeça na curva de seu ombro
enquanto sua mão preguiçosamente esfregava o braço dela. Ela soltou uma risada
nervosa. — Eu posso ouvir seu coração batendo.
— E eu posso ouvir o seu.
Ela endureceu. Era uma coisa ouvir seu coração, outra pensar que ele podia
ouvir o dela. De alguma forma, isso a fez consciente de que ela estava, pela
primeira vez em sua vida, deitada na cama com um homem. — Você pode?
— Não, realmente não. Eu só pensei que se eu provocasse você um pouco,
poderia começar a se sentir mais confortável. Você não tem nada a temer na minha
cama, Maddie.
Em seguida, ela relaxou um pouco e colocou seu braço sobre a colcha, os
dedos passando através dos pêlos em seu peito. Uma imagem de cabelos pretos
grossos que espreitavam através da gola aberta de uma camisa de cambraia lhe
veio à mente. Ela tinha, é claro, visto outros homens sem suas camisas. No entanto,
ela nunca tinha tido desejo de alcançar e tocar os cabelos do peito de um homem
como ela teve esta tarde quando desceu da diligência.
— Eu vejo semelhanças entre você e Jesse... E ainda, você parece tão
diferente.
— Provavelmente porque fomos criados de forma diferente. Nós viemos do
Tennessee, em um vagão de trem, quando nossos pais pegaram a febre e morreram.
Fomos entregues a famílias diferentes. Quando nós chegamos no Texas, a família
que tomou Jesse se continuou para o oeste. A família que me tomou se estabeleceu
em Carthage.
— Quantos anos você tinha?
— Eu tinha oito anos. Jesse tinha doze anos.
— Isso deve ter sido difícil para você.
Charles parou de esfregar o braço dela. — Foi muito duro. Quando eu tinha
dezenove anos, eu decidi o tentar encontrar. Só que eu não tinha idéia de para onde
eu iria, onde procuraria por ele. Sempre que podia, eu viajava de diligência. Um
dia, a diligência parou aqui. Saí do coche e inclinei meu chapéu para a filha do
proprietário. Ela sorriu. Na manhã seguinte quando a diligência seguiu em frente,
eu não parti. Três meses depois, nos casamos.
— Ela deve ter sido bonita.
— Ela era linda para mim.
Ela se lembrou dele dizendo que ele nunca esperava amar novamente e se
admirou do tipo de mulher que poderia cativar assim um homem. Ela sentiu mais
do que o ouviu rindo. — O que foi?
Ele limpou a garganta. — Eu só estava pensando. Eu pedi às minhas duas
esposas para se casar comigo uma hora depois que eu as conheci.
— Você fez realmente?
— Sim. Claro, levou a Alice um pouco mais de tempo para me apreciar e
dizer sim.
— Mas eventualmente ela disse — ela declarou em voz baixa.
— Sim, eventualmente.
Um silêncio confortável caiu em torno deles. — Charles, eu realmente sinto
muito se minha presença causou ressentimentos entre você e Jesse.
— Não se preocupe com isso. A têmpera de Jesse inflama e depois morre
rapidamente. Ele está apenas chateado porque ele acha que eu fiz as coisas sem
pensar. Ele, por outro lado, não faz nada sem pensar até a morte. É malditamente
irritante às vezes.
— Ele não parece pensar até a morte quando limpa a garganta.
Ele riu. — Eu acho que eu a deveria ter avisado sobre isso.
Avisado sobre isso? Ela só queria que ele a tivesse avisado que tinha um
irmão. Um irmão com olhos tão negros como pecado. Um irmão que já não usava
os ornamentos exteriores de um Texas Ranger mas que ainda carregava o
juramento dentro de seu coração.
Encostada na árvore de carvalho, Maddie observava as meninas recolher os
ovos das galinhas. Ela não tinha certeza de um outro jogo ter sido criado que
poderia cativar assim uma criança. As meninas destemidamente procuravam em
cada canto e recanto pelas maravilhas escondidas.
Mais cedo, Maddie tinha sugerido que Charles passasse algum tempo a sós
com Aaron. Ele se congratulou com a ideia. Desde que a escola não estava
funcionando, ele decidiu pescar com Aaron. Ela sorriu para a memória deles
vagando com as varas penduradas sobre seus ombros, pai e filho, tão parecidos na
aparência. Ela esperava que alguma atenção adicional de Charles pudesse diminuir
a animosidade de Aaron, mas independentemente disso, ela pensou que o menino
precisava da orientação de seu pai. Ela não estava de todo certa de que era sábio
Charles permitir que seu irmão tivesse tanta influência sobre seu filho.
— Nunca antes conheci uma mulher que valesse mais que mil dólares.
Maddie se empurrou de volta e bateu a cabeça contra a casca áspera da
árvore quando Jesse deu um passo em frente a ela, efetivamente bloqueando o sol
da manhã. As sombras que caiam em seu rosto não conseguiam cobrir a dureza de
suas feições ou o desprezo frio nadando nas profundezas escuras de seus olhos. Ela
sentiu um arrepio gelado correr por sua espinha. — Eu dificilmente valho mil
dólares.
Ele apoiou os braços de cada lado dela. — Aparentemente, o meu irmão
pensa diferente. Será que Charles mencionou que os seis mil dólares de dinheiro
que ele gastou em você era meu?
Ela balançou a cabeça, temendo quaisquer outras palavras que ele pudesse
falar.
Lentamente, ele roçou os dedos ao longo de sua bochecha. — Eu diria que
desse modo você pertence a mim também.
— Eu não pertenço a você — ela se forçou a sair, sua respiração ofegante. O
medo era algo com o qual ela tinha se acostumado a viver, mas o medo que ela
enfrentou no passado foi trivial comparado ao que ela enfrentava agora. — Eu
casei com Charles. Eu sou mulher dele.
Ele arrastou seu dedo em sua garganta. — Eu não sei por que você está
objetando. Você estava disposta em Fort Worth a levar qualquer homem para sua
cama e eu não sou ganancioso. Eu me contentaria com você vindo a mim todas as
noites mesmo que eu seja o único que teve de desistir de mais para te ter.
— Eu não vou me entregar a você de boa vontade.
— Você não tem que fingir comigo. — Ele abaixou a boca para sua garganta
e abriu um caminho em direção a sua orelha. — Eu não sou Charles que é
facilmente enganado. Eu sei o tipo de mulher que você é. Ele pode pensar que você
é doce e inocente, mas eu sei a verdade. — Erguendo a cabeça, seus olhos a
empalaram. — Você não é melhor do que a sujeira. Você prometeu abrir as pernas
para o maior lance. Bem, senhora, se você sabia disso na época ou não, eu era o
maior lance. Você se condenou a as espalhar para mim.
Cada palavra tinha sido dita com precisão mortal, e ela as sentiu bater em
seu coração. — Eu vou morrer primeiro.
— Você não estava disposta a morrer em Fort Worth. Seu corpo não era tão
precioso para você, então.
— Ele ainda não é — ela sussurrou. — Mas os votos que troquei com o seu
irmão são.
Ela não sabia se suas palavras ou sua veemência o levou a se afastar um
pouco, e ela não se importava. Ela aproveitou a sua confusão, bateu os punhos
contra seu peito e passou pela pequeno buraco abaixo dos braços que seu
movimento haviam criado. Levantando sua saia, ela correu para a casa.
Ela correu para a cozinha, fechou a porta, e pressionou suas costas contra ela.
Não que isso o manteria longe.
Ela achava que ele não tinha dormido na casa na noite passada. Ela sabia que
ele não tinha vindo para a mesa, para o café da manhã. Ela agora tinha uma
compreensão mais clara da discussão que poderia ter irrompido entre os irmãos.
Charles tinha gasto o dinheiro de Jesse com ela. O que o possuíra para fazer uma
coisa tão irresponsável? Suas ações constituíram um roubo, e Jesse estava
injustamente a culpando. — Mãe! Mãe!
Os sons turbulentos a lembraram de filhotes de pássaros em um ninho
esperando impacientemente para a sua mãe trazer comida. Suas mãos tremiam
incontrolavelmente, enquanto ela abria a porta. As meninas entraram na cozinha
carregando um balde cheio com ovos dentro dele. Ela pegou o balde ouvindo os
ovos delicados chacoalharem conforme os levou para o aparador. Ela colocou o
balde para baixo, respirou fundo e apertou as mãos contra o balcão de madeira. Ela
precisava de algo para ocupar sua mente e suas mãos.
Ao se virar, olhou os olhos castanhos a encarando com expectativa. Quão
facilmente as crianças aceitavam o que os adultos não podiam. Ela arriscou um
sorriso que esperava esconder seu medo. — Você gostariam de me ajudar a fazer
um bolo?
Seus olhos brilharam e ela se lembrou de brilhantes botões marrons. — De
que tipo vocês gostariam de fazer?
— Ponja — disse Taylor.
— Ponja?
— Ela quer dizer esponja — explicou Hannah. — É o favorito do tio Jesse.
Maddie queria gritar. O que tinha aquele homem que fez estas crianças o
adorarem? Se ela fizesse um bolo para ele, ela iria usar sal no lugar de açúcar, lotes
de sal. — Qual é o bolo favorito do seu pai?
Taylor colocou o dedo em sua boca. Hannah enrugou as sobrancelhas juntas
em pensamento, então encolheu os ombros minúsculos. Maddie suspirou em
derrota. — Então eu acho que nós vamos fazer bolo esponja.
Ela começou a reunir os ingredientes da despensa, se movendo quando
sentiu um puxão em sua saia. Com um sorriso secreto, Hannah disse: — Você vai
ficar feliz.
— Oh, eu tenho certeza que eu vou. Não há nada que eu queira mais do que
fazer seu tio Jesse feliz.
O sorriso de Hannah cresceu. — Ele não pode fazer o seu som de aviso
quando ele está comendo bolo esponja.
Maddie caiu de joelhos e abraçou a criança. — Então talvez nós façamos
dois.
Saindo do quarto adjacente, Jesse parou abruptamente e viu Hannah
caminhar pelo celeiro. Ela estava segurando algo em suas palmas, dando pequenos
passos e com muito cuidado para não deixar cair o que quer que fosse. Na
velocidade em que estava andando, ela o alcançaria no final da semana. Com
passos largos, ele atravessou o espaço que os separava.
Um grande sorriso enfeitou seu rosto quando ela ergueu os olhos e as mãos
até ele. — Para você.
Abaixando-se para o chão, Jesse pegou a oferta, retornando seu sorriso. Ele
deu uma mordida no bolo, fechou os olhos, e deu a sua aprovação com um
ronronar suave em sua garganta. Ele abriu os olhos e tocou um dedo na farinha
descansando em sua bochecha. — Você fez isso?
— Eu e Taylor e Mamãe.
Ele olhou para o bolo. Ainda estava quente. Ele se perguntou por que ele
tinha pensado que o irmão tinha feito isso quando Charles retornara há pouco
tempo, se perguntou por que Maddie tinha enviado Hannah para fora com o bolo, e
quando seu irmão viria para o celeiro e bateria o inferno fora dele. Ele estava
fazendo tanto trabalho manual quanto ele poderia encontrar para que quando
Charles aparecesse ele estivesse cansado demais para lutar.
— Coma mais um pouco — Hannah cutucou. — Mamãe fez isso para que
você ficasse feliz. Ela disse que sim.
Ele levantou seu corpo, o bolo de repente como um peso de chumbo
descansando em sua mão. — Eu vou acabar com isso enquanto eu estou
trabalhando aqui. — Ele se dirigiu para o quarto adjacente, parou e se virou. —
Diga a todos que fizeram o bolo que eu apreciei.
Deleite correu através das características da criança antes que ela corresse
para fora do celeiro. Jesse entrou no quarto adjacente e colocou o bolo em uma
borda contra a parede.
~
Maddie saiu para a varanda de trás e olhou ao redor do pátio. Ela passou o
dia evitando Jesse, e se tornou óbvio quando ele não se juntou a eles para a
refeição do meio dia que ele a estava evitando também. Ela se perguntou
brevemente onde e o que ele estaria comendo. Parecia injusto que ele devesse
morrer de fome porque Charles tinha gasto o seu dinheiro. Se ela pudesse, ela iria
encontrar uma maneira de lhe retribuir mas não da maneira que ele tinha sugerido
esta manhã.
Ela deu um passo para fora da varanda e caminhou em direção a uma
pequena área cercada onde Aaron estava ajoelhado diante de uma lápide de granito.
As meninas tinham a aceitado tão facilmente como um novo dia aceita os
primeiros raios do sol. Ela não esperava que Aaron a chamasse de Mãe, mas ela
queria que ele pelo menos olhasse para ela sem a desconfiança aparente em suas
feições. Respirando fundo, ela parou ao lado da cerca.
— Este é o lugar de descanso de minha mãe. Você não é bem-vinda aqui.
Maddie estudou o conjunto desafiador de sua boca e se perguntou o que ela
poderia fazer para garantir que essa criança não se tornasse um homem duro, cheio
de amargura.
— Eu notei todas as flores que crescem na frente da casa. Será que sua mãe
gostava de flores?
— Ela adora flores.
— Talvez você quisesse colher um pouco e trazer aqui.
— Você as colhe, elas morrem. Então, elas não são boas — disse ele, como
se ela não fosse muito mais esperta do que uma mula.
Determinada a não perder a paciência, Maddie suspirou. — Há tantas flores.
E se nós plantarmos algumas delas aqui ao lado da cerca?
— O que você quer dizer?
Excitação cresceu dentro de Maddie enquanto ela ouvia a voz de Aaron, pela
primeira vez sem raiva nela. — Bem, nós poderíamos, você pode decidir que flores
eram as favoritas de sua mãe, e nós poderíamos as desenterrar e plantar aqui. Claro,
tudo depende do fato de você saber ou não como desenterrar uma planta com
cuidado, para que não danifique as raízes.
— Naturalmente eu sei como! Eu fui o único que ajudou mamãe a plantar
todas as suas flores. — Ele torceu a boca. — Provavelmente devo verificar com
papai.
— Ele está tirando uma soneca com Hannah e Taylor.
— Ele dá um monte de cochilos. Posso pedir a tio Jesse.
Ela queria gritar. A permissão dela era tudo o que ele precisava. Ela era sua
mãe agora, embora imaginasse que perderia tudo o que tinha ganhado se ela lhe
dissesse o que pensava. — Se você acha que precisa da permissão de alguém, vá
perguntar a seu tio, embora as pessoas raramente precisem de permissão para fazer
algo bom.
Ele ponderou suas palavras com grande seriedade. — Eu acho que nós não
precisamos pedir a tio Jesse. — Ele veio do lado de fora da cerca. — Temos
algumas pequenas pás. Nós poderíamos usar a carroça que papai puxa com Hannah
e Taylor dentro quando vamos para piqueniques. Elas são apenas bebês então elas
se cansam facilmente.
— Por que você não obtêm tudo, e eu o encontro na frente da casa?
Ele correu em direção ao celeiro e Maddie caminhou em direção à frente da
casa.
Ela estava oferecendo uma rendição honrosa, e ele se perguntou por que sua
derrota se sentia como uma vitória. — Parece que não.
Ela sorriu totalmente então, um sorriso mais intoxicante do que a sombra de
seus olhos cor de âmbar. Os dedos dos pés descalços, olhando para fora abaixo de
seu roupão, mexeram para cima e para baixo, dedos do pé minúsculos unidos a pés
descalços minúsculos. Pés descalços anexados a tornozelos nus. Ele não podia ver
os tornozelos nus, mas se perguntou até que ponto seria antes que ela estivesse nua.
Como se seguindo o curso dos seus pensamentos, ela puxou o cinto de seu roupão.
O gesto, se foi destinado a afastar os seus pensamentos, falhou; só enfatizou a
estreiteza de sua cintura. Jesse flexionou os dedos quando ele se lembrou da
sensação de sua cintura fina quando a segurou em suas mãos.
— Essa foi uma grande tempestade que tivemos na noite passada — disse
ela, sua voz incerta conforme mudou seu peso de um pé para o outro.
— Sim, foi. Pode ter feito algum dano.
— O trovão e relâmpago assustaram Taylor. É por isso que ela se arrastou
para a cama com a gente.
— Trovões sempre assustavam Cassie, também.
— Cassie?
— Nossa irmã. Ela rastejava na cama com a gente, sempre que havia uma
tempestade.
Uma dica de perda ecoou dentro de sua voz. Ela decidiu não perseguir o
assunto não querendo perder tudo o que tinha ganhado esta manhã, incerta de
como o conseguira. — Você vai se juntar a nós no café da manhã?
— Depende.
— De quê?
Jesse baixou o olhar para suas botas. Agora era a hora de pedir desculpas
formalmente, dizer todas essas palavras que tinham rondado por sua cabeça toda a
noite sobre os ventos da tempestade. Ele levantou os olhos para ela e lembrou
como a viu pela primeira vez quando a tinha levantado para descer da diligência,
uma jovem inocente e doce. O pedido de desculpas obstruiu sua garganta. — Sobre
se eu sou ou não bem-vindo...
— Você é.
Ele sabia que deveria mostrar algum sinal de apreço por seu perdão. Ele
queria dizer a ela que o seu bolo esponja foi o mais delicioso que ele já tivera o
prazer de degustar. O pouco que ele tinha. As formigas haviam devorado o resto
quando o colocou ele em cima da prateleira. Em vez disso, ele fez uma pergunta
que havia estado rondando por sua mente. — Por que você não disse a Charles
como eu te tratei ontem?
— Ele não o pode forçar a me aceitar, embora a julgar pela contusão em
suas juntas e queixo, eu diria que ele tentou.
Conscientemente, ele roçou o dedo ao longo de sua carne tenra. — É melhor
eu ir ver o que está mantendo Aaron e o leite.
Ele saiu pela porta. Maddie caminhou até a pia e olhou para fora da janela.
Ele tinha parado de andar e estava olhando para ela. Ele fez um movimento como
se quisesse voltar para casa mas aparentemente mudou de ideia e caminhou a
passos largos em direção ao celeiro.
Com os dedos trêmulos ela pegou um copo, derramou café preto nele, e
voltou para seu quarto, onde seu marido esperava por ela.
~
Um dia muito agradável. Era um dia extremamente agradável. O tempo frio
que tinha chicoteado no início da semana havia se dissipado e os últimos
remanescentes da primavera foram abrindo caminho para a plenitude do verão.
A companhia, no entanto, era desagradável. Maddie sentou segurando o lado
do banco, rígida e reta, os olhos no dossel das folhas que passavam. Jesse estava
debruçado para a frente, os cotovelos cravados em seus joelhos, com os olhos
treinados, ela estava certa, num dos traseiros dos cavalos. Em contraste com os
estados de espírito, a carroça balançava suavemente de um lado para o outro.
— Será que a cidade tem um nome? — ela perguntou brilhantemente.
— Raeburn — ele respondeu bruscamente.
— Isso é um nome de família? — ela perguntou menos brilhantemente.
— Provavelmente — ele respondeu mais bruscamente.
Ela assentiu com a cabeça como se ele fosse se importar se ela percebia ou
não sua resposta inadequada e seu desejo de não prosseguir a conversa. Ela
observou os cavalos agitarem suas caudas. Ela ajustou o posicionou o pequeno
chapéu que combinava com seu vestido de viagem de sarja, sentiu o suor trilhar
entre os seios e se estabelecer em torno de sua cintura. Nada do que ela poderia,
deveria, ou teria necessidade valeria a pena a viagem com esse homem. Os cavalos
se arrastavam, e ela começou a se perguntar se nunca chegariam à cidade.
— Eu tenho uma ideia — disse ela, finalmente.
Quando ele resmungou, ela estava tentada a enterrar seus dedos em seu
braço. — Você pode parar a carroça e me deixar aqui.
Ele sacudiu a cabeça, seus olhos se escurecendo ainda mais abaixo da aba do
chapéu marrom escuro.
— Você pode me deixar aqui, ir para a cidade e em seguida, me encontrar no
caminho de volta para que você não tenha que suportar a minha companhia pelo
dia.
— Você vai se sentar aqui durante cinco horas?
Ela encolheu os ombros levemente, como se sua preocupação fosse de pouca
importância. — Há muita sombra. Eu tomei um café da manhã saudável. Eu devo
ficar bem.
Seus olhos se estreitaram. — Eu sei a verdade. É a minha companhia que
você não quer ter que aturar.
— Eu decidi que não há café suficiente em todo o mundo que melhore sua
disposição.
— Eu não gosto de ser manipulado e Charles fez exatamente isso esta manhã.
— Então você está descontando em mim?
— Eu não estou descontando em você.
— Então do que você chama quando prefere olhar para o traseiro de um
cavalo a falar comigo? Ele olhou para a frente e sua expressão escureceu. —
Inferno.
Ela não tinha certeza se suas palavras ou algo que ele tinha visto na parte
traseira dos cavalos o tinha agravado tanto. Ela olhou para a estrada, percebendo
que não era ela tampouco. Três quartos de uma árvore carbonizada, onde um raio a
tinha decepado desde o tronco, bloqueava a estrada. Os cavalos pararam. Jesse
saltou ao lado da carroça e caminhou em direção à árvore, empurrou o chapéu da
cabeça, e enxugou a testa com a manga de sua camisa.
— Eu suponho que nós poderíamos apenas virar e ir para casa — ela
ofereceu.
— Claro que não! Precisamos de suprimentos! Você precisa de algo da
cidade!
Lutando para sair da carroça, ela caminhou até onde ele estava. — Eu não
preciso de nada da cidade.
Ele jogou seu chapéu de volta na cabeça e caminhou ao redor da árvore, a
estudando de todos os ângulos. — Vai ter que ser movida eventualmente. Eu
poderia muito bem fazê-lo agora. Você vai ficar embaixo daquela árvore.
— Você está esperando que um ramo se solte em algum lugar e que caia na
minha cabeça?
Ele se agachou. — Não vai acontecer. Não com a sorte que eu tenho tido.
Com força, ela chutou a árvore, farfalhando os ramos. Empurrando o corpo
para trás, ele caiu sobre seu traseiro. Ela sorriu triunfante quando ele fez uma
careta para ela.
— Não é tão engraçado ser feito de tolo por si mesmo, não é? — ela
comentou.
— Entre na sombra antes do sol queimar seu nariz. — Ele se levantou e
caminhou em direção à carroça.
Ela correu e bloqueou seu caminho. — Você não respondeu minha pergunta.
Se elevando sobre ela, ele olhou com raiva. Ela inclinou a cabeça para trás
se recusando a ser intimidada. Ele puxou a camisa para fora da calça e desabotoou
os botões. — Vá para a sombra.
— E se eu não for?
Balançando a cabeça ele se afastou, tirou a camisa e a jogou sobre o assento
da carroça. Ele enfiou a mão na parte de trás da carroça, levantou uma corda, e a
colocou sobre seus ombros.
Relutantemente, Maddie foi para a sombra e o assistiu trabalhar. Na luz do
sol, ela podia ver o que tinha sido incapaz de ver na escuridão da cozinha. As
costas de Jesse, que ela tinha então admirado naquela manhã mantinha uma cicatriz
diagonal fina que começava na ponta de um ombro e corria em direção ao quadril,
desaparecendo em algum lugar abaixo da cintura de suas calças. Era uma cicatriz
antiga misturada com a coloração de seu corpo.
— Como você veio a ter essa cicatriz em suas costas? — ela perguntou.
— Guerra.
Ela se moveu para fora da sombra. — A guerra entre os Estados?
Ele amarrou a corda ao arreio. — Essa é a única.
— Você é muito mais velho do que eu pensava.
Ele parou de trabalhar e olhou para ela. — Quantos anos você pensou que eu
tinha?
— Trinta e três, trinta e quatro.
Ele balançou a cabeça. — Trinta e quatro.
— Você era um menino durante a guerra.
Ele conduziu os cavalos para o outro lado da árvore. — Velho o bastante
para bater um tambor para a União quando começou e com idade suficiente para
carregar um rifle quando terminou.
— Mas o Texas ficou com a Confederação.
Ele estudou-a por um momento. — Você não parece velha o suficiente para
saber o que a escravidão parecia. Eu não a podia defender. — Ele ancorou a corda
ao tronco carbonizado e guiou os cavalos em direção ao lado da estrada, a árvore
caída sendo facilmente arrastada para trás. Ele afrouxou a corda, a puxou para fora
e a envolveu em torno de seu braço, a trazendo por cima do ombro.
— A guerra não é um lugar para uma criança — disse ela, observando a
maneira pela qual ele trabalhava, concisa, não desperdiçando um movimento
solitário.
— A guerra não é lugar para qualquer um. Traz à tona o pior nos homens. —
Agarrando o cinto, ele levou os cavalos de volta para a carroça. — Traz o melhor
também — ele jogou a corda por cima do ombro enquanto a jogava na parte de trás
da carroça, antes de engatar os cavalos de volta no lugar.
Ele agarrou sua camisa e a vestiu, abotoando conforme rodeava a carroça e
veio para diante dela.
— E o que ela trouxe para você? — ela perguntou.
— O melhor, é claro.
Ele deu um sorriso, o mesmo sorriso caloroso que tinha dado a Hannah
naquele primeiro dia. Maddie desejou que ele não o tivesse feito. Charles sorria o
tempo todo, mas nenhum de seus sorrisos a fez questionar qual seria a sensação de
pressionar os lábios contra aquele sorriso. Ela sabia que não deveria ter esses
pensamentos agora.
Ele colocou as mãos na cintura dela e ela rezou para que ele não pudesse
sentir o rápido batimento de seu coração que a proximidade dele causava. O sorriso
abrandou de seu rosto quando ele olhou fixo em seus olhos, com o pomo de Adão
lentamente deslizando para cima e para baixo, e ela sentiu os dedos se fecharem
num aperto. Em seguida ele fez uma careta e a levantou para a carroça, a deixando
com a sensação desagradável de que ele tinha estado a par de seus pensamentos.
Ele subiu na carroça, tomou as rédeas e fez os cavalos andarem com um
movimento do pulso.
Em silêncio, Maddie prestou atenção no cenário. Charles estava errado. A
tempestade não tinha passado.
O sino de bronze por cima da porta soou quando Jesse a abriu. Maddie o
precedeu na loja, endurecendo um pouco quando ele tomou seu cotovelo e a levou
para o balcão.
— McGuire, esta é a Senhora Lawson. Tudo o que ela quiser você coloque
na nossa conta.
As espessas sobrancelhas brancas de Angus McGuire dispararam em linha
reta para cima. — Sra. Lawson, é? Há quanto tempo, moça?
Corando, Maddie desejou que Jesse não tivesse chamado a atenção para ela.
— Alguns dias.
— Ah, ela é bonita, Jesse.
Jesse fez uma careta para ela. Ela ergueu o queixo. Ele bufou e colocou uma
lista de suprimentos necessários no balcão. — É só pegar meus suprimentos. Você
vai, McGuire?
— A felicidade conjugal não durou muito tempo — McGuire murmurou sob
sua respiração enquanto se dirigia para a sala de trás.
Jesse caminhou até o fundo da loja onde um enorme barril estava cheio de
pregos. Ele pegou uma caixa vazia e deixou cair os pregos nela. Então ele voltou
para a frente e colocou a caixa sobre o balcão. Maddie ainda estava de pé onde ele
a deixou.
— Eu não quero passar o dia todo aqui. Obtenha tudo o que você precisa
para que possamos seguir em frente.
— Eu lhe disse que eu não preciso de nada.
— Você deve ter dito algo a Charles para fazê-lo pensar que você precisava
de alguma coisa.
Ela desenhou suas sobrancelhas juntas. — Não, eu penso que não.
Ele expulsou o fôlego. — Tudo bem. Então não há nada que você precisa.
Deve haver alguma coisa que você quer.
— Eu quero fazer Charles feliz. — Ela olhou ao redor da loja
excessivamente abastecida. — Mas eu não acho que há alguma coisa aqui que eu
poderia comprar para isso.
Surpreendido e confuso ao mesmo tempo, Jesse a estudou. Em alguns
momentos ela parecia ser uma mulher do mundo e em outros parecia ser tão jovem
como Hannah. Ele queria acreditar que suas palavras foram declaradas para o
pegar desprevenido, e elas o fizeram porque na sua voz, ele tinha ouvido a verdade
absoluta. — Venha aqui.
Hesitante, Maddie o seguiu conforme ele abria caminho em direção a um
canto distante. Ele parou e acenou com a mão sobre uma prateleira cheia de
garrafas. Sua mão parecia muito maior e mais masculina ao lado do vidro pequeno
de forma delicada.
— Pegue alguns sais de banho de cheiro doce que você pode usar.
Maddie deu um passo atrás, jogando as mãos para seus quadris. — Você está
dizendo que eu fedo?
Ele olhou para o teto e lançou uma rápida explosão de ar. — Não, eu não
estou dizendo isso. Você mais do que ninguém deveria saber o que eu quero dizer.
— Não desta vez. Me diga como sais de banho vão fazer Charles feliz.
— Um homem gosta de sua mulher tendo cheiro doce. — Ele pegou uma
garrafa e a levou até a janela. — Quando ele se enrola ao lado dela na cama, é bom
se ela não cheira a madeira que ele cortou todo o dia ou aos suados cavalos de que
esteve cuidando. — Ele colocou a garrafa no chão. — Inferno, faça o que quiser.
— Ele começou a andar.
— Espere. — Ele parou, e Maddie cautelosamente se aproximou da
prateleira. — Há tantos. Qual deles Charles gosta?
— Inferno, eu não sei. Compre tudo o que você costuma comprar.
— Eu nunca tive sais de banho.
— Nunca? — Jesse perguntou quando ele se moveu atrás dela.
— Nunca. Se estivesse com sorte, tínhamos sabão de soda cáustica.
— Soda Cáustica? Tira a sujeira, mas ninguém quer estar ao lado de uma
mulher que cheira a isso. Tire as tampas das garrafas e encontre uma que cheire
como você deve cheirar.
Conscientemente, Maddie pegou uma garrafa, tirou a tampa e cheirou. — Eu
não sei como eu deveria cheirar. Como isso? — Ela segurou a garrafa para Jesse.
— Não, rosa é muito comum. Você precisa de algo diferente. — Ele estudou
as garrafas enquanto Maddie continuava a remover as tampas e cheirar.
— Eu nunca soube que havia tantos cheiros diferentes.
— Aromas. Eles são chamados de aromas — informou ele.
— Então, como que eu deveria cheirar?
Jesse parou sua mão no meio do caminho para o seu destino e olhou por
cima do ombro. Ela tinha aquele brilho desafiador nos olhos, o mesmo que tinha
usado naquela manhã, quando ela o questionou sobre sua evasão do café da manhã
desde a sua chegada. Como ela deveria cheirar, esta mulher que quanto mais ele a
conhecia, mais se distanciava do que ele esperava? — Incomum, algo incomum. —
Ele pegou uma pequena garrafa. — Aqui, tente isso.
Ela tirou a tampa e uma fragrância suave e delicada flutuou da garrafa.
— “Forget-Me-Not”— disse Jesse — você deve cheirar como “Forget-Me-
Not.”
— Você acha que Charles vai gostar?
— Ele vai gostar.
— Eu gostaria que houvesse alguma maneira de o surpreender.
— Eu poderia colocar a banheira no quarto de princesa.
— Quarto de princesa?
— Sim, aquele com a cama de bronze e todas as extravagâncias. O que
parece como se uma princesa de contos de fadas deveria estar dormindo nele. Você
poderia tomar banho lá antes de dormir e ele não saberia até que você fosse para a
cama.
— Você faria isso por mim?
Ele desviou o olhar. — Eu quero que Charles seja feliz também.
Ela agarrou a garrafa pequena contra seu peito. — Eu acho que preciso de
algo depois de tudo.
Eles caminharam de volta para a frente da loja e ela colocou a garrafa sobre
o balcão ao lado da caixa de pregos. Então ela estudou os potes de doces
arranjados em cima do balcão.
— Você quer um pouco? — Jesse perguntou.
— Eu estava pensando nas crianças. Podemos levar algumas balas de canela?
— Eu não vejo por que não. — Ele a observou pegar um pequeno saco e
colocar cuidadosamente seis balas de canela dentro. De repente, ele desejou que
ela quisesse alguma coisa. — Você tem certeza de que não há nada que você
queira?
— Tenho certeza. — Ela colocou o saco sobre o balcão quando McGuire
saiu da parte de trás.
— Eu vou ter meu menino abastecendo sua carroça — disse McGuire.
— Tudo bem — disse Jesse. — Adicione esses itens, e eu poderia muito
bem pegar a correspondência, enquanto estou aqui. Nós vamos ter um estrado
vindo em um ou dois dias, me salva de outra viagem.
Ele seguiu McGuire a uma pequena área com barras de ferro na janela.
McGuire começou a juntar as peças do correio e as despejar em um saco.
Com nada mais a fazer, Maddie se arrastou atrás de Jesse. Ela olhou para a
parede e seus joelhos vacilaram, seus pulmões se recusaram a extrair o ar, e ela
temia que a qualquer momento ouviria o ricochetear das balas ecoando a sua volta.
— Você está bem?
Ela pulou para trás com a mão em sua garganta, seu olhar caindo sobre Jesse.
— Eu estou bem. — Mas sua voz estridente soou nervosa demais até mesmo para
seus próprios ouvidos.
Jesse voltou seu olhar para os cartazes de recompensa que cobriam a parede,
e um olhar de puro desgosto cruzou seu rosto. — Você não deve se preocupar com
animais como esses. — Ele a estudou por um momento, depois acrescentou: —
Você está um pouco pálida. Por que não conseguimos algo para comer antes de ir
para casa?
Balançando a cabeça, Maddie lutou contra as lágrimas e o pânico. Ela não
tinha esperado ver outra vez aqueles rostos.
Bem consciente de Jesse a examinando, Maddie olhou para fora da janela do
pequeno restaurante. Ela pensou que se ela vivesse até os cem anos, nunca
esqueceria o olhar em seu rosto quando ele confrontou as imagens na parede. Preto
e branco Charles tinha dito. Tudo para Jesse era preto e branco. Como ele poderia
entender como tudo no mundo de Maddie era cinza? E se ele conhecesse a verdade,
o que ele faria então? E se ele dissesse a Charles, as sombras cinzas de Charles de
repente se tornariam um austero preto e branco?
— Você precisa comer para que possamos ir.
— Por que você está sempre com tanta pressa? — ela perguntou,
direcionando sua atenção para o homem sentado em frente.
— Se eu estivesse com pressa nós não estaríamos aqui agora.
Ela espetou um feijão, pressionou contra o lado do prato e o liberou, um
pensamento vagando em sua mente. — Por que você deixou os Texas Rangers?
Jesse empurrou o prato vazio para o lado e plantou os cotovelos sobre a
mesa. — Minha razão para querer ser um Ranger já não existia. Eu encontrei o que
estava procurando.
— E o que foi?
— Família. Ser um Ranger me deu um salário mensal e a liberdade para
procurar Charles e Cassie enquanto eu perseguia os bandidos e arruaceiros.
Quando encontrei Charles, eu me senti como se tivesse voltado para casa.
— Alguma vez você encontrou Cassie? — ela perguntou em voz baixa.
Ele olhou para a rua. — A família que a tomou partiu sem deixar rastro
quando uma epidemia de varíola atingiu sua comunidade. Tenho minhas dúvidas
de que ela está ainda viva. Cada pista que eu tinha me levava a lugar nenhum.
— Sinto muito.
Ele olhou para ela, seus olhos um reflexo de sua tristeza. Apenas um
punhado de pessoas tinham entendido sua necessidade de encontrar o irmão e a
irmã que tinham sido arrancados de sua vida em tão tenra idade. Ele se perguntou
por que não o surpreendeu que ela entendesse. Ele deu de ombros. — Pelo menos
eu achei Charles.
— Eu imagino que a sua vida como um Ranger foi emocionante.
— Teve seus momentos. Vi um monte de estados, trabalhei ao lado de
alguns bons homens.
— Você sente falta disso?
Ele balançou a cabeça. — Eu continuei a trabalhar como Ranger por um
tempo depois que encontrei Charles, mas comecei a me sentir como uma erva
daninha dando cambalhotas no vento. Um Ranger sempre procura um fora da lei,
um renegado, alguém. Sua vida não pode valer mais do que as vidas das pessoas
que ele deve proteger. Quando eu encontrei Charles e conheci sua família, fiquei
cansado das oportunidades que estava tendo. Depois que Alice morreu, ele
precisava de alguma ajuda com o lugar e por isso pedi demissão.
— Charles ama muito Alice.
— Eles pareciam compartilhar algo especial, mas agora ele tem você.
Forçando um pequeno sorriso, Maddie balançou a cabeça. — Ele me disse
que ainda a ama, que ele nunca vai amar mais ninguém.
— Ele tem que ter alguns sentimentos por você, ou ele não teria se casado.
— Quaisquer que sejam seus sentimentos, o amor não é um deles.
Ela viu a luz do sol se derramar através da janela, acariciando seu perfil
enquanto ele a observava em silêncio. Quando ele finalmente falou, sua voz era
suave como o mugido de um boi solitário na calada da noite. — Um casamento
sem amor parece ser um inferno de um sacrifício para uma mulher fazer.
— Tomei a decisão de aceitar uma vida sem amor quando eu entrei pela
porta de Bev. Eu não sou uma tola. Os homens não se apaixonam por pombas sujas.
Jesse se inclinou para frente. — Não, você não é um tola. Você me parece
ser uma mulher extremamente inteligente e bem educada... não de todo o tipo de
mulher que um homem esperaria encontrar no salão de Bev. Por que diabos você
não poderia sobreviver de outra maneira?
Ela elevou o queixo. — E como você sugere que eu ganharia meu sustento?
Eu cresci sob as estrelas, uma fogueira queimando brilhantemente na noite era a
única casa que eu já conheci, a única coisa que eu podia contar que sempre estaria
lá. Meu pai era um homem educado. Ele e meu irmão me ensinaram a apreciar a
escrita. Eu conheço Shakespeare e Dickens e descobri a maravilha de Mark Twain.
Gosto de ler poesia. Sou capaz de escrever e ler. — Ela se inclinou para frente. —
Eu sei. Eu poderia ser uma professora.
Ele estreitou os olhos.
— O quê? Você acha que uma comunidade iria me contratar para ensinar a
seus filhos?
— Talvez. Se você tivesse tentado.
— Você não acha que eu tentei? Minha educação é excelente, mas informal.
Eu nunca me sentei em uma escola. Eu não sei o que se passa em uma sala de aula.
E não tenho referências. Nenhuma escola pode atestar a minha capacidade. Eu
posso contar o número de pessoas que me conheciam pelos dedos de uma mão e
dois deles estão mortos agora. Os outros dois não podem escrever seus nomes e
geralmente podem ser encontrado em bares.
Jesse inclinou-se ainda mais do outro lado da mesa. — Droga, Maddie, você
poderia ter encontrado algo se tivesse tentado mais. Você não tinha que recorrer a
vender o seu corpo como algo barato.
Ela bateu as mãos sobre a mesa. — Maldito! — ela assobiou entre dentes. —
Maldito seja você e seu julgamento hipócrita. Um dia eu estou rindo com meu
irmão, Andrew, e no dia seguinte eu o estou segurando nos braços enquanto ele
morre. Tudo o que eu já tive que eu poderia chamar de meu era o meu pai e meu
irmão. E então eles estavam mortos. E todas as coisas que haviam prometido, todos
os grandes planos que tinham feito para mim morreu com eles. Eu estava sozinha e
com medo e fome. Eu negociei tudo o que tinha para negociar. Eu não tinha mais
nada além de meu corpo. Pode não ter sido uma boa ocupação, mas pelo menos era
uma honesta. Eu teria dado algo em troca do que eu tenho. E se esse pensamento
enoja você, Senhor Lawson, me permita contar um pequeno segredo, ele me enoja
também.
De repente, ela se levantou. — Vá para o inferno. Vá para o sangrento
inferno.
Jesse a observou sair como uma tempestade para fora do prédio antes que
escondesse o rosto entre as mãos. Suspirando pesadamente, ele esfregou os dedos
rugosos para cima e para baixo de seu rosto.
— Você e a Sra. Lawson tiveram uma pequena briga?
Ele espiou por entre os dedos Jean Lambourne, a mulher idosa que era dona
do restaurante. Lentamente, ele levou as mãos para baixo. As pessoas estavam
olhando, mas ele achou que nenhuma delas tinha estado sentada perto o suficiente
para ouvir qualquer parte da conversa.
— Nada que eu não possa desfazer. Quanto eu lhe devo?
Sorrindo, ela deu um tapinha no seu ombro. — Isso é por conta da casa. A
vida de casado não é sempre apenas o que algumas mulheres acham que devia ser.
De pé, Jesse colocou o chapéu na cabeça e trouxe a borda para baixo. — Eu
aprecio isso. Foi uma boa refeição.
Uma vez fora, ele procurou nos calçadões por uma mulher pequena com um
temperamento explosivo e um pequeno sotaque inglês que surgia quando ela estava
com raiva. Ele respirou fundo quando finalmente a viu na periferia da cidade
marchando para casa.
Maddie ouviu o barulho das rodas da carroça, o som dos cascos dos cavalos,
mas ela manteve o olhar focado na frente, seu passo determinado. Então ela sentiu
o cheiro do suor dos cavalos quando se aproximaram e alguém cutucou seu ombro.
— Entre na carroça, Maddie.
— Vá para o inferno!
— Pensei que estava indo para o sangrento inferno.
— Sangrento inferno, então. Vá para o sangrento inferno. — Ela andou para
longe do cavalo e apressou o passo.
— O seu pai era inglês por acaso?
Maddie se virou. — O quê?
Jesse levou os cavalos a um impasse. — Quando você fica com raiva fala
com um leve sotaque. Pensei que talvez você o tenha pego de seu pai.
Ela sentiu o sangue drenar de seu rosto. Como podia ter sido tão descuidada
em sua raiva para esquecer que este homem tinha passado a vida à procura de
bandidos e facilmente detectaria as pequenas pistas que identificavam um homem
ou uma mulher?
— Minha família não é da sua maldita conta. — Virando, ela caminhou
rapidamente para longe.
Jesse acionou o freio na carroça e envolveu as rédeas em torno da alavanca
de freio antes de saltar da carroça e caminhar rapidamente para a alcançar. Ele
colocou uma mão em seu ombro. Ela encolheu os ombros.
— Vamos, Maddie.
— Me deixe sozinha.
— Eu não posso fazer isso. Eu sei quem você é agora.
Ela congelou, tudo dentro dela gritando com outra das injustiças da vida. Ela
morava em uma casa por fim e tinha uma família com crianças. Seu conhecimento
a iria tirar de ambos.
Gentilmente, ele a virou, segurou seu queixo e levantou seu rosto, encarando
as lágrimas inundando seus olhos. — Você é a mulher do meu irmão, uma pobre
mulher que tem estado sobrecarregada com um cunhado burro.
Um brilho malicioso que ela nunca antes viu aparecia nas profundezas
negras de seus olhos. Alívio tomou conta dela, e ela não conseguiu conter o riso
histérico que irrompeu de sua garganta. Em seguida, o riso morreu e chegaram as
lágrimas, fluindo livremente por suas bochechas.
Jesse passou os braços em volta dela, a puxando contra seu peito. — Maddie
— ele sussurrou contra seu cabelo.
Soluços arruinavam seu corpo. — Eu não queria ser uma prostituta. Eu não
queria. Eu queria um trabalho honesto. Eu me ofereci para esfregar o chão, limpar
estábulos. Ninguém me contratou — Um arrepio a percorreu e ele a puxou para
mais perto em seu abraço. — Eu estava com frio, com fome e sozinha. Eu não
queria entrar na Bev. Eu não queria.
Ele inclinou seu rosto, seus polegares acariciando seu rosto umedecido, seus
olhos segurando os dela. — Eu sei.
— Eu vou ser uma boa esposa para Charles. Eu vou fazer o que for preciso.
Você vai ver. Eu o farei feliz.
Levemente, ele tocou o polegar em seu tremente lábio inferior. — Eu sei que
você vai. Agora, vamos lá. Nós vamos ter sorte se chegarmos em casa antes do
anoitecer.
Ele a ergueu para a carroça. Enxugando a última de suas lágrimas, ela viu
como ele se moveu para o outro lado da carroça e saltou para cima, desenrolou as
rédeas e movimentou seus pulsos para colocar os cavalos em movimento.
— Você precisa tirar seu chapéu — disse ele. — Algo está errado com ele.
Estendendo a mão, Maddie tirou o alfinete do chapéu e o colocou no colo,
estudando de todos os ângulos. — O que há de errado com ele?
Jesse largou o chapéu dele em cima de sua cabeça. — É que não protege seu
rosto. Você vai ter mais sardas do que Hannah antes de chegarmos em casa.
Ela sorriu. O suor da testa dele tinha encharcado a aba do seu chapéu e a
resfriou quando uma brisa quente soprou em toda a terra. De alguma forma parecia
extremamente familiar e íntimo estar usando seu chapéu. Ela descobriu que queria
saber tudo sobre ele, sobre a sua infância, a vida que ele tinha levado como um
homem jovem. Agarrando o chapéu, ela sabia que não devia ser sobre a vida dele
que devia estar curiosa. — Conte como Charles era quando menino.
Ele se inclinou para trás e sorriu relembrando. — Ele era muito parecido
com Aaron.
— Ele era realmente?
Ele balançou a cabeça. — Tudo para ele era engraçado. Ele sorria o tempo
todo, ria de tudo. Ele era condenadamente irritante às vezes.
Sua risada tomou Jesse de surpresa. Era macia como uma flor
desabrochando suas pétalas. Por um momento, ele não se importou que ela
estivesse rindo dele. Mas só por um momento. Então ele olhou para ela, seus olhos
pouco mais do que fendas a desafiando a admitir a verdade. — O que é tão
engraçado?
— Charles disse a mesma coisa sobre você.
Ele ficou surpreso com sua resposta, a confusão claramente gravada em suas
feições. — Ele disse que eu ria o tempo todo?
Sua risada aumentou, revelando a flor em plena floração, e ele se perguntou
como poderia ter alguma vez pensado nesta mulher como uma prostituta.
Ela levantou a cabeça para olhar para ele sob a vasta aba do chapéu. — Não,
ele disse que você pensava até a morte antes de fazer qualquer coisa. Ele disse que
era irritante.
— Um homem comete erro se ele não pensar sobre as coisas.
— Então você acha que Charles cometeu um erro quando se casou comigo?
Ele olhou de esguelha para ela e estudou a estrada à frente. — Eu não sei
mais o que pensar — ele admitiu com relutância.
Ela se afogou com a alegria crescendo dentro dela. Uma vez antes, ela
calculou mal seu humor e foi jogada para o meio da tempestade. Desta vez, ela
decidiu pisar com mais cuidado.
Maddie estudou seu perfil afiado, começando a entender a vida que ele tinha
levado. Seus traços faciais tinham sido esculpidos ao longo dos anos; determinação
e sobrevivência tinham sido ferramentas do destino, transformando o rosto suave
de um menino no rosto de um homem robusto. Um menino separado daqueles que
amava, um garoto indo para a guerra, um menino que tentava ser um homem. Um
homem cujo objetivo na vida não tinha sido a busca por riqueza ou fama, mas
simplesmente a busca por aqueles que ele amava.
— O que Charles deveria ter comprado com os seus seis mil dólares?
— Nada de importante.
— Supõe-se que um Texas Ranger não deve mentir.
Ele olhou para ela, um sorriso aparecendo em seu rosto. — Trapaça. Não
devemos fazer trapaça.
— Mentir é uma forma de trapacear.
Seu sorriso aumentou. — Você tem passado muito tempo com Aaron. —
Seu pomo de Adão balançou. — Foi muito legal o que você fez ontem, o ajudando
a plantar as flores no túmulo de sua mãe.
Envergonhada, ela fez pouco mais do que dar de ombros por seu louvor. —
Eu gostaria de saber o que você tinha planejado para o seu dinheiro.
Ele voltou sua atenção para os cavalos. — Gado. Eu queria algum gado.
Ela olhou em volta para as árvores que cresciam em abundância ao redor
dela. — Aqui? Você pensou que poderia criar gado aqui?
— Era o sonho do meu pai... criar gado. É o que nos trouxe para o Texas.
Ele passou seu sonho para mim tão facilmente como passou seu cabelo preto e
olhos.
— Eu sinto muito, então — disse ela calmamente. — Peço desculpas por
Charles não comprar o seu gado.
— Isso não importa mais. Contanto que você faça Charles feliz, eu vou
considerar o dinheiro bem gasto.
Um dia antes ela teria se ofendido com sua declaração, mas agora ela estava
começando a entender seu comportamento rude. Parte dela desejava que não
entendesse. Por mais estranho que parecesse, era muito mais fácil estar em sua
presença quando ela não gostava dele.
~
Dentro da pequena sala de estar, Maddie estava sentada em uma poltrona ao
lado da lareira, lendo em voz alta. Charles sentava em frente a ela, seu olhar
ocasionalmente mudando dela para as crianças reunidas no chão a seus pés.
Jesse estava sentado no sofá do lado oposto da sala, seu nariz enterrado em
“Farm e Fireside”, uma revista quinzenal. Ele ouviu a cadência melódica da voz
de Maddie. Ele tinha estado perdido há algum tempo nos humores variados que ela
criou conforme trazia a história à vida para as crianças e pensou que se um de seus
antigos professores se atrevesse a revelar as emoções da história com as mudanças
sutis nas inflexões de voz que Maddie usava, ele poderia ter sido um ávido leitor
de livros. Em vez disso ele tinha sido ensinado a ler cartazes, memorizar as
características dos bandidos e malfeitores. Ele tinha aprendido a reconhecer o que
estava escrito no rosto de um homem com os olhos, as histórias que abrigava
dentro de sua alma que o haviam levado a cometer os atos covardes para os quais
uma corda esperava para dar fim a sua vida. No entanto, mesmo habilidoso como
era na leitura de uma pessoa, ele tinha falhado completamente no que concernia a
Maddie.
Jesse levantou os olhos da página e estudou a cena tranquila diante dele,
lamentando por um momento que o fogo não fosse necessário na lareira. Quão
aconchegante seria no inverno ouvir o estalo dos troncos nas chamas, sentir o
cheiro da fumaça saindo pela chaminé, sentir o calor que permearia o ambiente.
Ele se perguntou se Charles estaria aqui então, para desfrutar da família que havia
criado.
Bocejando, Taylor se esforçou para levantar e caminhou para Charles. Ele a
levantou para o seu colo e apertou sua cabeça na dobra do seu braço. Hannah
deslizou pelo chão, se colocando contra a saia de Maddie. Maddie parou de ler no
meio de uma frase, colocou o livro sobre a mesa ao lado da cadeira e pegou a
criança. Hannah tomou ansiosamente seu lugar no colo de Maddie e se enrolou
contra seu quadril. Maddie ergueu o livro e mais uma vez trouxe as aventuras de
Tom Sawyer à vida.
Aaron estava estendido de bruços, com o queixo cavado nas palmas das
mãos, os cotovelos pressionados contra o chão de madeira. Ele olhou por cima do
ombro para Jesse. Sorrindo, Jesse jogou a cabeça para trás e soltou a revista no
chão. Aaron subiu e sentou no sofá ao lado dele. Jesse resistiu ao impulso de puxar
o menino e o segurar tão apertado como Charles e Maddie seguravam as meninas.
Aaron tinha ideias definidas sobre como um menino de sua idade devia ser tratado
e suas ideias não incluíam afagos ou abraços afetuosos de seu tio. Jesse esticou o
braço sobre as costas do sofá.
Aaron mordeu o lábio inferior enquanto seu olhar ía de Maddie a Jesse.
Quando o olhar voltou para ele, Jesse levantou uma sobrancelha. Aaron se
contorceu antes de revelar em um sussurro — Eu estou pensando que eu gosto dela,
tio Jesse. Só um pouco. Você acha que está tudo bem? Você acha que mamãe iria
entender?
Jesse olhou através da sala para o contentamento no rosto de Charles, a filha
que tinha adormecido em seus braços, a mulher que de vez em quando erguia o
olhar das páginas do livro e sorria para Charles. Então ele olhou para Aaron. —
Sim, eu acho que ela entenderia. Acontece que eu gosto dela também.
— Mesmo?
Jesse assentiu.
Aaron mordeu seu lábio mais uma vez. — Um pouco ou muito?
— Muito.
Aaron balançou a cabeça uma vez antes de se estabelecer contra o lado de
Jesse e voltar sua atenção para Maddie e a história. — Sim. Eu estou pensando que
eu poderia vir a gostar muito dela também.
O relógio de pêndulo na sala tocou o primeiro dos oito badalos. Maddie leu
as palavras finais do capítulo e silenciosamente fechou o livro. Ela olhou para o
alegre pacote dormindo aninhado em seus braços.
— Eu acho que é hora de ir para a cama — Charles disse enquanto se
levantava, cuidando para não acordar Taylor.
Maddie colocou o livro sobre a mesa, em seguida moveu seu corpo para a
borda da cadeira.
— Eu vou pegar Hannah — disse Jesse quando ele e Aaron se levantaram.
Ele atravessou a sala com passos longos e se agachou para tirar a criança dormindo
dos braços de Maddie. Ele foi lento ao pegar, esperando até que Charles saiu do
quarto. — Eu vou ter o seu banho pronto — ele finalmente disse calmamente
quando levantou Hannah em seus braços e saiu da sala.
Maddie tinha acabado de trançar seu cabelo quando Charles retornou depois
de se certificar que tudo estava bem. Ela havia colocado sua camisola e puxado o
roupão confortavelmente em torno dela. Ela estava certa de que ele não suspeitaria
de nada, quando fizesse seu ritual noturno de olhar as crianças uma última vez. Ela
também pensou que Charles provavelmente apreciava esses poucos minutos a sós
quando se preparava para dormir.
Ele sentou na cama e deu um suspiro enquanto tirava suas botas. — Senhor,
eu me sinto como se uma manada de cavalos tivesse me pisoteado hoje.
Girando ligeiramente em sua cadeira, ela o estudou. Ele parecia desgastado,
como se seus problemas tivessem aumentado. Ela de repente se sentia muito feliz
porque tinha uma surpresa para lhe dar. Ansiosa para compartilhar aquilo com ele,
se levantou e caminhou até a porta. — Eu estou indo verificar as crianças mais
uma vez.
Charles sorriu para ela quando ela saiu pela porta.
Maddie foi na ponta dos pés em frente ao hall e silenciosamente abriu a
porta do quarto em frente ao que ela compartilhava com Charles. Ela olhou para
dentro. Um baixo fogo queimava na lareira, não o suficiente para aquecer o quarto,
mas o suficiente para a livrar de tremer quando terminasse seu banho. Uma
banheira de madeira estava diante do fogo, a água enevoada emanando uma
fragrância florida. Olhando rapidamente ao redor do quarto, ela notou que ele de
fato tinha sido decorado para uma princesa de conto de fadas. Ela entrou, fechou a
porta atrás dela, caminhou até a banheira e mergulhou os dedos na água morna.
— Está quente o suficiente?
Ela girou ao redor, só agora vendo a silhueta de Jesse nas sombras. — Você
tinha que fazer isso?
Ele saiu para a luz. — Fazer o que?
— Se esgueirar atrás de mim.
— Eu sou visível em todo quarto.
Ela olhou para ele com desconfiança. — Eu acho que você só gosta de me
ver saltar.
Seu sorriso era tão quente como a água quando ele ignorou sua legítima
conclusão e se aproximou dela. — Está quente o suficiente?
— Sim, está agradável. Obrigada.
Estendendo a mão, ele pegou a que ela balançava na água e trouxe para perto
de seus lábios. Ela sentiu sua respiração abanar a ponta de seus dedos.
— Você deve sempre cheirar assim — disse ele em voz baixa antes de soltar
a mão dela. — Aproveite o seu banho.
Ele atravessou o quarto, abriu a porta um pouco e parou. — Você deve usar
seu cabelo solto.
Maddie o observou deslizar para fora do quarto e ouviu seus passos
desaparecendo enquanto ele descia as escadas. Ela atravessou o quarto e abriu a
porta silenciosamente. O corredor estava vazio. Ela ouviu uma porta distante no
térreo abrir e fechar. Ela correu pelo corredor, entrou no quarto das meninas e foi
para a janela. Ela deslizou os dedos entre as cortinas e olhou através da pequena
abertura que tinha criado para o pátio que cercava a parte de trás da casa. Maddie
observou Jesse caminhar lentamente pelo pátio, a cabeça inclinada, com as mãos
enfiadas nos bolsos das calças. Ele parou, olhou de volta para a casa, em seguida,
desapareceu no espesso arvoredo.
Maddie ficou em pé por longos momentos pensando nele, na maneira como
tinha parecido ao partilhar uma confidência com Aaron no sofá quando pensou que
ninguém estava olhando; o calor, a alegria que ela sentiu quando ela percebeu que
ele estava esperando por ela no quarto de princesa, a perda que sentiu quando ele
saiu do quarto. O vazio aumentava agora que ela sabia que ele tinha saído de casa
também.
Ela voltou para o quarto de princesa, tirou as roupas e baixou seu corpo na
água morna, só então percebendo quanto tempo devia ter demorado do outro lado
do corredor. Ela relaxou na água até lhe lamber o queixo e o aroma delicado que a
cercava a lembrou de sua missão de fazer o marido feliz, uma busca compartilhada
por alguém igualmente ansioso para fazer Charles feliz.
Quando a água esfriou, ela se levantou, saiu da banheira, e se secou com a
toalha quente que havia sido colocada em uma cadeira diante do fogo. Ela colocou
sua camisola e, carregando o roupão, caminhou de volta pelo corredor até seu
quarto.
Decepção a abateu quando ela viu que Charles tinha adormecido. Ela deitou
na cama, tentando não perturbar o marido. Sua surpresa de repente parecia
insignificante. Lembrou de Jesse dizendo para usar seu cabelo solto e deslizou para
fora da cama. Ela soltou a trança e escovou os cabelos até que ele fluía sem
problemas pelas costas. Talvez a surpresa fosse agradável para Charles quando ele
acordasse de manhã.
Ela voltou para a cama, deitada de costas, os dedos entrelaçados através de
seu estômago, seus olhos focados no teto. Ela não queria se deitar na cama com o
marido e pensar em seu irmão, mas sua mente parecia querer viajar sua própria
jornada.
Lembrou de como o viu quando ficou observando o jogo de seus músculos
conforme ele movia a árvore de seu caminho, a largura dos ombros, a forma como
as costas afilavam para baixo para atender seus quadris estreitos. Lembrou da força
do seu abraço, temperado com gentileza, quando ele a abraçou, a ternura do seu
sorriso quando ele relembrou Charles.
No quarto de hotel, Maddie tinha apenas vagamente compreendido quando
Charles tinha explicado sobre dar a outras mulheres nada de igual valor em troca
de seu sacrifício. Mas esta tarde, quando ela assistiu o poderoso corpo de Jesse
domado, quando ela sentiu seu abraço reconfortante, ela vislumbrou a magnitude
de seu sacrifício.
Respirando fundo, Maddie saiu da varanda dos fundos. O café derramou da
xícara que segurava. Ela parou firmando a mão, firmando seus nervos e ouviu o
baque retumbante e contínuo conforme Jesse picava a madeira. Recuperando a
compostura, ela caminhou ao lado do celeiro e parou quando o viu.
Ele estava de costas para ela, sua camisa pendurada frouxamente sobre um
arbusto próximo, o chapéu descansando em cima dela. O bronzeado de suas costas
brilhava com o suor de seu trabalho conforme ele balançou o machado em um
pedaço de madeira, a trouxe para o coto, libertou o machado e com um deliberado
movimento dividiu a tora em duas partes. Se curvando ele expôs uma faixa estreita
de carne branca conforme suas calças se esticavam com o seu movimento, pegou
os pedaços e os jogou numa grande pilha de toras divididas, antes de balançar o
braço mais uma vez e reivindicar mais madeira.
Suas ações eram diretas, propositais. Maddie sempre tinha pensado que a
poesia era restrita a palavras escritas em cima de uma página, fluindo sem
problemas, mas assistindo o trabalho de Jesse ela percebeu que a poesia existia em
muitas formas. O ritmo do corpo de um homem, a ondulação de seus músculos
com seus movimentos conforme ele trabalhava poderia ser tão poético, tão
agradável como um poema bem escrito poderia evocar emoções que tocavam o
coração.
— Eu trouxe... — Ela deu um passo para trás quando ele se virou, seu peito
arfando com seus esforços, com o braço pendurado frouxamente ao seu lado, o
machado mantido com o aperto da mão forte. Com a mão livre, ele penteou o
cabelo úmido da testa, sua expressão ilegível. Ela estendeu a xícara de estanho. —
Eu trouxe um pouco de café. — Ela deu um pequeno passo para a frente. — Desde
que o café não foi feito esta manhã até que eu fui para a cozinha, achei que você
não tinha tido qualquer um. — Ela avançou mais um passo. — Eu não queria que
você...
— Passasse o dia de mau humor? — ele perguntou, levantando uma
sobrancelha e um canto de sua boca.
Ela assentiu com a cabeça, grata pelo leve tom de brincadeira em sua voz.
Jesse pegou o café, seus dedos roçando nos dela, tomando nota da xícara
tremendo, não certo se isso foi causado por ele ou ela. Ele engoliu um pouco do
café e se lamentou, quando a bebida escura queimou sua língua e sua garganta.
Mas o breve momento de dor serviu para tirar sua mente de coisas que ele não
queria estar pensando: o motivo para as meias luas azuis pálidas que descansavam
abaixo dos olhos dela, a razão pela qual ela parecia não ter dormido muito durante
a noite.
Ele não queria reconhecer a inveja enrolando em torno de suas entranhas
como uma cascavel preparando para atacar, sempre que ele pensava sobre seu
irmão deitado na cama com essa mulher. Ele passou a maior parte da noite em pé
perto do riacho, observando as águas barrentas, sozinho com seus pensamentos.
Ele não queria estar deitado em sua cama, onde os sons de paixão poderiam
escapar de outro quarto, sussurrar ao longo do corredor e entrar sem ser bem-vindo
em seus sonhos.
Ele levantou a xícara. — Eu aprecio isso.
O olhar de Maddie se desviou para os cabelos úmidos em seu peito, o suor
visível debaixo. Como ela poderia encontrar algo parecido com suor tão atraente
neste homem? Ela ergueu o olhar de volta para o dele. — Eu queria lhe agradecer
por preparar o banho.
Uma brisa leve soprou e trouxe o cheiro de “Forget-Me-Not” oscilando em
torno de Jesse. Ele se perguntou como ela podia cheirar tão fresca depois de uma
noite do que ele estava certo ter sido de uma paixão desenfreada. Se ela tivesse
chegado a ele cheirando tão docemente, seu cabelo em cascata ao redor dela...
Ele bebeu o restante do café, desejando que levasse seus pensamentos para
longe tão facilmente como queimou sua língua. Segurando a xícara para ela, ele
viu a mão pequena, delicada, a tomar da sua, maior, grosseira.
— Sim, bem... — Ele se voltou para a pilha de madeira que tinha decidido
encarar naquela manhã, na esperança de aliviar a frustração que assombrara sua
noite. — Toda vez que você quiser um banho, me deixe saber e eu vou puxar a
água para você.
— A surpresa acabou. Tenho certeza de que, no futuro, Charles não se
importaria de fazer isso.
Ele bateu o machado em um pedaço de madeira. — Charles não precisa
transportar as coisas.
— Mas Charles é meu marido. Ele deveria.
— Ele é o proprietário — disse Jesse, girando para ela. — Eu faço o trabalho
por aqui. Ele cuida dos livros. Se você precisar de algo levantado ou algum
trabalho feito me diga. — Ele colocou a madeira no coto, balançou o machado e o
trouxe para baixo.
Maddie observou a maneira como ele trabalhava, como se ele estivesse
tentando conduzir algo a se afastar. Provavelmente ela. — Eu não quero pedir
coisas a você. Eu não quero que você se ressinta da minha presença.
— Eu não me ressinto da sua presença — disse ele quando enterrou o
machado em outra tora.
— Será que você ficava longe durante a noite antes de eu chegar?
Ele olhou por cima do ombro, seu controle sobre o aperto no machado.
— Eu ouvi o relógio do andar de baixo gritar quatro vezes antes de você vir
para a cama.
Doce Senhor. Teve Charles mantido ela acordada toda a noite fazendo amor
com ela? Ele passou a mão pelo cabelo sabendo que teria feito a mesma coisa. Se
um homem pudesse obter facilmente bebida apenas olhando nos olhos dela, o que ,
em nome de Deus, iria sentir enterrado dentro dela? — Eu tinha algo em minha
mente e não conseguia dormir. Desci pelo riacho. Queria um tempo para mim. Não
tinha nada a ver com você.
Ela baixou o olhar e em seguida olhou para ele através de seus grossos cílios
dourados. — Supostamente Texas Rangers não mentem.
E este Ranger não poderia dizer a verdade: que ele queria ficar naquele
maldito quarto e a ver tomar banho; queria passar a esponja com a água perfumada
sobre o corpo dela, a levantar, com o cheiro de “Forget-Me-Not” emanando da
água, a levar para a cama e saborear as brilhantes gotas de seu corpo.
Ele lhe deu o que esperava que fosse um sorriso provocante. — Eu não estou
dizendo uma mentira.
Seus olhos se arregalaram. — Oh! Meus biscoitos!
Jesse a observou correr, gritando algo sobre uma refeição e sua necessidade
de se apressar e terminar sua tarefa. Ele enterrou o machado na madeira. Ela era a
esposa de seu irmão, tinha trocado votos com Charles e os tinha a intenção de
honrar. Seria melhor que ele fizesse disso uma ladainha, para que ficasse claro para
ele.
~
— Maddie sugeriu que tirássemos o dia de folga e fizéssemos um
piquenique — Charles anunciou a todos sentados à mesa.
As crianças cantaram e bateram palmas.
Depois de engolir os biscoitos, Jesse havia se concentrado no trabalho de
colocar as panquecas banhadas pela geléia em sua boca para que pudesse encher o
estômago e evitar que seus olhos o traíssem e se desviassem para encarar Maddie.
Quando ele levantou lentamente seu olhar, seus olhos brilharam sobre ela e
marcaram em sua memória a imagem dela sentada com as mãos no colo e o olhar
travado em seu prato. Ele desviou o olhar para Charles.
— Esperávamos que você se juntasse a nós — disse Charles.
Jesse olhou para o rosto sorridente de seu irmão, as crianças esperando
ansiosamente sua resposta. Ele não queria decepcionar as crianças, mas era melhor
os desapontar do que fazer algo de que poderia se arrepender mais tarde. — Eu
acho que um piquenique é uma boa ideia, mas eu vou ter que passar hoje. Eu tenho
um monte de trabalho que precisa ser feito.
— Certamente o trabalho pode esperar. Afinal, é sábado — disse Charles.
Jesse olhou para o irmão. — Eu fiz nada ontem porque você me enviou para
a cidade. Eu vou tomar o meu dia de descanso amanhã como todo mundo. — O
garfo bateu ruidosamente quando caiu no prato e ele se levantou. — Agora, se
vocês me dão licença, eu tenho coisas que precisam ser feitas. — Ele andou pela
sala, pegou o chapéu pendurado na parede e o enterrou sobre a testa antes de
empurrar a porta aberta.
Ele caminhou até o galpão, pegou o martelo e o balde de pregos e se afastou
da casa. Sempre que o tempo permitia, ele continuava a construção de uma cerca
de madeira que iria separar a terra de Charles da terra que Jesse tinha planejado
pastorear seu gado. Ele queria um lugar seguro para as crianças brincarem, para
não ter que se preocupar com elas sendo machucadas por um touro bravo.
Ele chegou à cerca inacabada e olhou por seu comprimento. Ele não tinha
feito muito progresso sobre ela e, provavelmente, não tinha nenhuma razão para a
completar, agora que já não tinha os meios para comprar o gado. Ainda assim, ele
deixou cair o balde entre as ervas daninhas, tirou a camisa e a pendurou em um
galho. Ele apertou alguns pregos entre os dentes, pegou o martelo e ergueu uma
das tábuas que ele levou pra lá meses atrás.
E ele começou a martelar. Martelando duro e rápido, enquanto o sol batia
nele.
À medida que o dia passava, a mãe natureza se tornou uma amante cruel. Ela
o fez suar e, em seguida, brincou com ele com o mais gentil dos ventos que levou o
riso das crianças.
Não parecia importar o quão duro ele batia os pregos na madeira, o vento e a
risada flutuavam em torno dele, o chamando, o tentando.
Ontem, ele ouviu a risada de Maddie, teve sua companhia, seu sorriso, mas
ela não era sua para desfrutar. Seus olhos não eram dele para o embebedar, a
cintura não era dele para colocar as mãos em volta, seu cabelo não era dele para
correr os dedos por ele. Seus segredos não eram dele para compartilhar.
Ele não tinha o direito de saber o porque dos pôsteres envelhecidos na
parede terem drenado a cor de seu rosto, saber o que tinha acontecido em seu
passado para colocar o medo em seus olhos nos momentos mais estranhos. Ela não
era dele para proteger, sua para acalentar. Ela pertencia única e exclusivamente a
seu irmão. Quando estava com ela se sentia como se estivesse invadindo a terra
sagrada querendo coisas que não tinha o direito de desejar.
A Mãe Natureza foi implacável, trazendo um vento mais forte que carregou
o riso das crianças antes que ele tivesse tempo de desaparecer. Jesse ouviu o riso
profundo de Charles se misturar com o de seus filhos. Ele se inclinou sobre a
madeira que tinha acabado de martelar no lugar. Quanto tempo fazia desde que
tinha ouvido Charles rir?
Ele deixou cair o martelo dentro do balde com os pregos, puxou sua camisa
do galho, e começou a andar. Ele não tinha ideia de onde eles tinham ido para o
piquenique, mas suas risadas levadas com o vento eram um mapa tão preciso
quanto qualquer outro que tinha sido traçado pelo homem.
Ele os encontrou perto de uma curva do riacho onde as árvores se alinhavam
às margens e a água capturava a luz solar.
— Jesse! — Charles acenou de onde estava sentado debaixo de uma árvore
de carvalho altaneiro.
Maddie se virou, perdeu o equilíbrio e escorregou de costas pela margem do
riacho lamacento, acertando a água fria na beira do riacho.
Dobrando na cintura, Aaron lançou uma risada estridente. — Tio Jesse nem
sequer limpou a garganta, Senhorita Maddie! — Imitando uma lontra, ele pulou
para a margem íngreme do riacho, deslizando sobre o estômago de cabeça na água.
Ele veio cuspindo e chacoalhando a cabeça, seu cabelo espesso enviando gotículas
de água.
Maddie estava lutando para subir a margem lamacenta quando Aaron
segurou suas mãos e a empurrou.
— Aaron Lawson! — Ela deslizou de volta na água, avançou sobre Aaron e
também o empurrou até que ele gritou por misericórdia.
Jesse caiu ao lado de Charles. Charles riu. — Eles vêm fazendo isso a maior
parte do dia, desde que cavaram as pedras para fora daquela área para que
pudessem deslizar sem se machucar ou cortar.
Jesse observou Aaron e Maddie irem para baixo no leito do riacho, o riso
cedendo à medida que recuperavam o fôlego. Ela usava um par de calças de
Charles, as pernas enroladas até os joelhos, um cinto mantendo as calças em torno
de sua cintura. Uma camisa velha estava grudada ao corpo dela. Os dedos dos pés
descalços fora da água e os tornozelos cobertos pela água marrom escura.
Quando a margem secou gradualmente para o rio, as meninas brincaram na
lama com pratos de estanho, copos e colheres manchadas. Taylor ficou de pé
segurando um prato e gingou até Charles. — Coma torta, Pai.
Se inclinando para trás, Charles empurrou seu estômago para frente e o
arranhou. — Eu tive quatro já, Taylor. Pensei que você gostaria de compartilhar
este com seu tio Jesse.
Jesse concedeu a seu irmão um olhar ameaçador quando Taylor ofereceu sua
criação para ele. Cautelosamente, ele a tomou, a segurou debaixo de seu nariz, e
cheirou. — Cheira bem. Por que você não corre e me faz outro enquanto eu como
este?
Os olhos castanhos de Taylor brilharam com prazer quando ela correu para a
margem enlameada. Jesse pegou a lama e jogou de lado. Então ele olhou para a
bagunça preta revestindo seus dedos.
Charles se inclinou para frente. — Hannah! Não vá na água!
Jesse rapidamente limpou a mão na parte de trás da camisa de Charles e
sorriu triunfante quando o irmão expressou suas objeções de ser usado como uma
toalha.
Dobrando um joelho, Jesse descansou seu antebraço sobre ele enquanto seus
dedos brincavam com uma alta erva daninha. — Sabe aqueles cartazes de
recompensa que McGuire continua pregando na parede do canto que ele usa para o
despacho do correio?
— Sim.
— A visão daqueles pôsteres pareceu chatear Maddie ontem.
— Eu não estou surpreso.
Jesse acalmou seus dedos, seus olhos escuros examinando seu irmão. —
Você não está?
— Não. Seu pai e irmão foram mortos durante um assalto de diligência.
Talvez ela tenha reconhecido os homens que fizeram isso.
Jesse ergueu a erva daninha e a jogou de lado. — Ela mencionou que seu
irmão morreu em seus braços. Sabe quando isso aconteceu?
— Um par de semanas antes de eu a conhecer. Suas mortes aparentemente a
deixaram sem meios para subsistir.
Jesse estremeceu sob o olhar que Charles lhe voltou com seu olho direito,
um olhar que fornecia a redenção para a presença de Maddie em um bordel, um
olhar que declarava claramente que Jesse teria sabido disso se tivesse se dado o
trabalho de perguntar por que ela tinha se rebaixado para buscar refúgio em Bev.
— Você acha que eles eram passageiros da diligência?
Descrença lavou o rosto de Charles. — Bem, inferno sim. O que mais eles
poderiam ter sido?
Evasivamente, Jesse deu de ombros. — Ela apenas parecia estranhamente
assustada, isso é tudo.
— Eu imagino. Você não estaria se você visse um homem parecido ao que
matou seu pai e irmão? Talvez ela tenha medo de que ele venha atrás dela. —
Charles deu um salto. — Você acha que ele viria?
Jesse balançou a cabeça. — Se ele tinha preocupações sobre ela causar
problemas, teria tomado conta dela quando matou seu irmão e pai. Por outro lado,
se ele estiver sendo procurado por assassinato, ela poderia servir como testemunha.
Charles caiu de volta contra a árvore. — Esse é o Ranger em você falando
agora.
Sorrindo, Jesse se estendeu a seu lado e apoiou-se em um cotovelo. —
Talvez.
— Tio Jesse! — Aaron gritou. — Venha escorregar com a gente!
Com ênfase exagerada, ele girou a cabeça de um lado para o outro.
— Vamos! É seguro!
Charles deu um soco em seu ombro. — Vá em frente. Passe esta tarde sendo
um menino de novo.
Jesse estudou seu irmão. Ele odiava o ligeiro sulco entre as sobrancelhas de
Charles, que tinha recentemente tomado permanência, um lembrete constante de
seu desconforto. — Você vai ficar bem?
Charles assentiu levemente. — Contanto que eu não faça muita coisa eu
devo ficar bem. Parece como uma chuva de verão atrasada. É quando isso começa
a se transformar em uma tempestade que tenho que me preocupar. Vou apenas
sentar aqui e ver as meninas, mas você deve ir brincar.
— Não é decente. — Jesse puxou para cima as ervas daninhas mais curtas ao
seu redor e as jogou de lado.
Charles riu. — Decente?
— Não é conveniente para mim estar em torno de sua esposa quando ela está
vestida assim.
— O que há de errado com a maneira como ela está vestida? Eu achei muito
bonito.
Jesse fez uma careta. Era bonitinho. Isso é o que estava errado.
— Ah, Jesse, você passou tanto tempo sendo um grande irmão, mesmo
quando eu não estava por perto, que você nunca aprendeu a aproveitar a vida. O
pai não tinha o direito de colocar esse peso sobre suas costas, fazer você prometer
tomar contar de mim e Cassie.
— Você tinha 12 anos de idade. Uma criança. Ele lhe pediu para se tornar
um homem. — Charles colocou a mão no ombro de seu irmão. — Então, volte a
ser um menino pelo dia. Vá brincar com eles. Quem vai ver? Nós somos uma
família. Nós devemos nos sentir livres para desfrutar da companhia do outro.
Jesse contemplou sua decisão, então cedeu aos seus desejos. Ele se sentou.
Puxando as botas, ele olhou por cima do ombro para Charles. — Basta lembrar que
foi ideia sua.
Ele levantou a cabeça e olhou para ela. — Senhor, eu amo seu sotaque
quando você está com raiva.
Ela não poderia ter ficado mais surpresa se ele dissesse a ela que a amava.
Sua boca generosa tinha formado um largo sorriso. Seus olhos ônix prenderam os
dela, a mantendo cativa. Mesmo com lama na ponta de seu nariz, ele estava
devastadoramente bonito.
— Não, eu não estou bem. O que no mundo você achou que estava fazendo?
Ele se moveu atrás dela tão rapidamente quanto a lama grossa permitiu e
deslizou as mãos sob seus braços. Virando, ela o empurrou. Ele perdeu o equilíbrio
e caiu na água. Ela lutou contra o seu sorriso. — Não é muito divertido ser atirado
na água, não é?
Ele jogou o cabelo molhado da testa. — Oh, eu não sei nada sobre isso.
Ele se levantou e estendeu a mão para ela que colocou as próprias em torno
da dele. Ele a puxou para cima. Quando eles nadaram em direção à costa, a risada
de Aaron ecoou em torno deles. Jesse inclinou a cabeça para trás para olhar o
diabrete no topo do barranco, batendo os joelhos. — Aaron, o que você estava
pensando, me empurrando assim? Você deveria estar do meu lado!
— Você vai desejar ter quando eu terminar com você! — Jesse começou a
subir o barranco. Aaron se levantou, jogou uma provocação apressada para o
homem que o seguia e correu na direção das árvores tão rápido quanto suas pernas
podiam conseguir..
Quando Jesse finalmente apanhou Aaron e o puxou para fora da árvore, fez
da pesca a punição pela brincadeira do menino. Enquanto pescavam, Maddie,
Charles, e as meninas sentaram debaixo de uma árvore próxima, rindo e comendo
as amoras que eles recolheram. Conforme as sombras do fim da tarde cobriram a
margem do riacho, eles começaram a caminhada para casa.
Ela escorregou uma saia sobre as calças, deixando seus pés cobertos de lama
visíveis. Seu cabelo pendia em uma trança por cima do ombro, mas alguns fios
ganharam sua liberdade e se penduravam em desordem ao redor do rosto. Se ele
tivesse o direito, daria a todo o seu cabelo a liberdade por um breve momento antes
de o capturar e o aprisionar na palma da sua mão.
Charles olhou da cabeça de Maddie para Jesse. — Não temos uma diligência
agendada para parar hoje.
Todo mundo aumentou seu ritmo o que deixou Maddie com falta de ar, uma
vez que fizeram o seu caminho para o quintal e a casa ficou à vista. Pelo menos
duas dúzias de adultos e uma série de crianças estavam reunidas no pátio. Jesse
soltou a carroça quando Hannah e Taylor pularam para fora.
Jesse pegou a surpresa e confusão no rosto de Charles, mas era o medo nos
olhos de Maddie quando o povo a afastou que lhe fez empurrar as pessoas para o
lado para chegar até ela. Ele envolveu sua mão ao redor de seu braço. — Está tudo
bem, Maddie. Eles estão aqui apenas para fazer você se sentir bem-vinda.
Jesse olhou para McGuire como se o homem tivesse perdido o juízo. Eles
pensavam que Maddie era sua esposa? Ele tentou se lembrar do que ele disse na
cidade para lhes dar essa impressão e não conseguia se lembrar de uma única coisa
que ele disse a nenhum deles. Ele a apresentou...
Ele emitiu uma maldição silenciosa. Ele a apresentou como Sra. Lawson,
mas não se preocupou em explicar que era a Senhora Charles Lawson. Olhando
através do mar de rostos, ele se perguntou por que Charles não tinha trabalhado o
seu caminho para a varanda para reivindicar sua esposa.
Rindo! Charles estava rindo porque essas pessoas pensavam que Maddie era
casada com ele! Atordoado, Jesse podia fazer pouco mais do que sentir a irritação
inchar dentro dele. Ele estreitou os olhos. Então Charles estava curtindo esse mal-
entendido constrangedor, não era? Bem, Jesse poderia apreciar isso também. E se
Charles queria algo para rir, então por Deus, ele daria ao homem algo para rir.
Foi um erro.
Ele soube no momento em que seus lábios foram iluminados pelos dela, e
ele sentiu sua resposta: uma ligeira vibração como uma borboleta tocando em sua
primeira pétala.
Talvez tenha sido a surpresa de suas ações que fizeram sua boca se abrir um
pouco. Ele não se importava. Ele estabeleceu sua boca mais solidamente contra a
dela, aproveitando a oportunidade para enfiar a língua dentro e saborear
totalmente. Ela tinha gosto de amoras e carregava o cheiro do córrego, misturado
com a sombra de “Forget-Me-Not”.
Em seguida, o erro se intensificou por ela não responder da maneira que ele
esperava, mas da forma como ele tinha sonhado, acasalando a língua com a sua,
imitando um antigo ritual com um inocente abandono. Era tudo o que ele podia
fazer para não gemer em voz alta.
Ele queria dizer a ela para colocar os braços em volta de seu pescoço para
que ele pudesse sentir seus seios pressionados contra o peito, em vez de seus
punhos fechados agarrando sua camisa. Ele queria dizer a ela para respirar para que
ele pudesse sentir sua respiração quente abanando seu rosto. Ele queria dizer a ela
que ela tinha gosto melhor do que bolo esponja, mas sabia que uma vez que ele
levantasse os lábios dos dela, ele nunca mais teria permissão para os tocar.
Ele segurou a parte de trás de sua cabeça com uma mão forte e a inclinou
dramaticamente esperando que quando o beijo terminasse, quando Charles a
levasse, risos iriam cumprimentar sua audácia. Mas até esse momento, ele
saboreou o beijo, o puxando para fora, saqueando o que não tinha direito.
Ele lançou um olhar severo para Jesse antes de liderar Maddie para dentro.
~
Espiando discretamente pela janela do quarto, Maddie observou as sombras
se alongarem enquanto o crepúsculo se aproximava. Charles tinha levado as
crianças pelo corredor para os tornar apresentáveis, a deixando sozinha. Ela sabia
que deveria estar lavando a lama de seus pés, escovando os cabelos, decidindo
qual vestido usar, mas se sentia como se sua capacidade de pensar tivesse sido
roubada pelo beijo de Jesse.
Maddie apertou seus dedos em seus lábios. Eles eram um substituto pobre de
sua boca. Sua boca estava tão quente como um dia de verão. No entanto, naqueles
poucos momentos preciosos, a embalando em seus braços, sentiu como se ela fosse
um orvalho beijado por uma rosa despertada na madrugada fria, pouco mais do que
um pequeno broto desenrolando lentamente. Nunca passou pela mente dela o
afastar ou impedir.
Somente quando seus lábios deixaram os dela a verdade a insultou. Ela não
pertencia aos braços de Jesse. Ele não era dela para beijar ou para segurar. Ele não
era o único a quem ela deveria levar xícaras de café pela manhã. Ele não era o
único cujos movimentos a deviam lembrar de poesia.
Ela se repreendeu com uma litania de votos caindo em sua mente. Isso nunca
deveria acontecer novamente. Ela nunca deveria esquecer que estava casada com
Charles. Ela era sua esposa.
Ela ouviu uma batida suave na porta e atravessou o quarto. Abrindo a porta
ligeiramente, olhou para fora e seu coração bateu descontroladamente dentro de
seu peito quando Jesse apareceu diante dela.
— Eu lhe trouxe um banho. Está no quarto de princesa. — Sua voz era baixa,
seus modos moderados.
— Você não deveria ter me beijado assim... lá fora... na frente de todos. Sou
casada com Charles.
— Eu sei disso. Eu pensei que o iria provocar. Não funcionou do jeito que
eu esperava.
— Aquelas pessoas...
— Acharam que foi uma brincadeira.
Jesse permitiu que seu olhar vagasse para seus lábios, ainda inchados de seu
beijo. Ele enfiou as mãos nos bolsos para se impedir de a puxar de volta em seus
braços. — Não, não foi. Mas só você e eu sabemos disso. E não vai acontecer
novamente.
— Mas Charles...
— Eu vou ter certeza de que ele entenda que foi tudo culpa minha. Agora é
melhor você ficar em frente ao hall. Temos pessoas à espera.
Girando, Charles avançou sobre seu irmão. — O que diabos você achou que
estava fazendo lá fora?
— Por que diabos você não se apressou e a reclamou uma vez que você
entendeu o que todos eles pensavam?
Seus olhos entraram em confronto, preto contra o marrom, desafiadores,
questionadores, facilitando lentamente o perdão. Balançando a cabeça, Charles
sorriu com vontade. — A expressão de horror em seu rosto quando você percebeu
o que eles pensavam — Ele riu. — Oh, Jesse, se você pudesse ter visto a si mesmo.
Eu nunca vou esquecer o olhar em seu rosto, enquanto eu viver.
Andando para fora do quarto, ele desejou a Deus que tivesse pensado sobre
isso antes que a beijasse.
Abrindo as portas duplas da sala de visitas, Jesse convidou a todos para
dentro. A maioria das pessoas conhecia Charles há anos e se sentiam confortáveis
se fazendo em casa. Alguém puxou uma grande mesa e as mulheres espalharam
uma variedade de bolos e tortas ao longo de seu comprimento.
Descendo as escadas aos pulos, Aaron sorriu quando seu melhor amigo,
Billy Turner, que conseguiu se libertar do meio da multidão e correu em direção a
ele. O menino de cabelos claros agarrou o braço de Aaron e sussurrou em seu
ouvido. O rosto de Aaron se iluminou como uma fogueira no outono. Em uníssono,
os meninos correram para a porta. Jesse pigarreou com força, e um pesado silêncio
desceu sobre a sala. Aaron e Billy congelaram.
— Você precisa esperar até que seu Pai e a Senhorita Maddie desçam antes
de sair — disse Jesse.
— Ah, tio Jesse, Billy disse que ele tem filhotes de cachorro em sua carroça.
Será que devemos mesmo esperar?
Jesse sorriu enquanto as meninas trabalhavam seu caminho para o fundo das
escadas onde as mulheres envolveram a atenção delas. Em seguida, ele levantou o
olhar para o alto da escada e sentiu como se alguém tivesse entregado um bom
sólido golpe no centro de seu peito.
Era difícil acreditar que a mulher graciosa descendo as escadas com o braço
ligado através do de Charles era a mesma que tinha estado chafurdando na lama
durante toda a tarde. Ela prendeu o cabelo e deixou alguns fios soltos para
enquadrar o rosto. O vestido elegante abraçava sua cintura fina e quadris estreitos.
A seda verde esmeralda reforçou a cor de seus olhos âmbar, acentuou suas
bochechas beijadas pelo sol, e trouxe destaque a seu cabelo cor de mel.
Andando ao lado dele na sala de estar, ela foi cercada por rostos que haviam
resistido aos aspectos mais ásperos da vida, as pessoas que conheciam as alegrias
encontradas na mais simples das coisas, porque muitas vezes era tudo o que tinham.
Seus rostos não eram do tipo a que ela estava acostumada a olhar. A sua
rugosidade era limitada à superfície exterior e não se estendia para dentro, para o
coração. Ela não sabia como reagir a essas pessoas que estavam tão ansiosas para a
receber em seu meio.
Sabendo que iria se lembrar de poucos nomes, ela sorriu hesitante quando as
introduções foram feitas. Enquanto passeava pela sala, ela estava muito consciente
do olhar de Jesse seguindo ela, quase como uma carícia.
Seu sorriso se tornou genuíno quando ela reconheceu a mulher que os tinha
servido no restaurante. Jean Lambourne os conduziu para a mesa cheia de comida.
Ela olhou para ele. — Você deve abrir. Eles são seus amigos.
— Mas eles querem ser seus. Além disso, eu acho que é habitual a noiva
abrir o presente de casamento.
Ela lhe deu um sorriso trêmulo. A única vez que ela esteve em uma sala com
tanta gente tinha sido na noite em que entrou no salão de Bev.
Com os dedos trêmulos, ela puxou a corda que prendia o papel em volta da
caixa. O papel caiu. Ela levantou a tampa da caixa e tocou uma colcha de retalhos
de algodão em vários tons de azul colocados juntos em quadrados delimitados.
— Nós damos a todas as novas noivas uma colcha quando se casam — disse
Jean. — Essa seria de Maria, mas ela não vai se casar por mais dois meses por isso,
decidimos dar a você. Nós vamos fazer para ela outra. Claro, todos nós pensamos
que esta estava indo para você e Jesse, e é por isso que os homens não devem
assumir o trabalho das mulheres de fofocar. — Ela deu a Angus McGuire um olhar
duro. — Mas verdade seja dita, nós estamos bem felizes por Charles. Fico feliz em
o ver tomar uma esposa.
Ela podia ouvir os murmúrios e desejou que ela estivesse em qualquer lugar,
menos onde ela estava. — Eu não mereço o presente deles, Charles. Por favor,
conte a eles-
Do outro lado da sala, ele segurou seu olhar, e ela sentiu como se ele
estivesse bem ao lado dela. Ele lhe deu um sorriso caloroso e levantou o copo. —
Eu gostaria de fazer um brinde. Para meu irmão, Charles, e a mulher que o pode
fazer feliz.
Jesse olhou para os rostos expectantes. — Sim, mas não tenha qualquer
noção de que você pode manter um desses cães. — Ele viu os meninos saírem
antes de voltar sua atenção para o casal recém-casado.
— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, seu tom de voz cortado,
sua respiração ofegante.
Ele balançou a cabeça. — Por muito tempo, a única companhia que eu tive
foi uma fogueira queimando brilhantemente na noite. — Ele deu de ombros. — Ou
algo assim.
A lua era menos que um pedaço reluzente no céu e no entanto, lançava luz
suficiente para que dentro das sombras de seu rosto, ela pudesse ver o mais
descarado dos sorrisos. Lembrando sua conversa no restaurante quando ela
descreveu sua vida em termos semelhantes, ela o olhou com cautela. — Você está
tirando sarro de mim?
Ela olhou ansiosamente para os degraus. Ela queria prolongar seu tempo
aqui fora, mas não tinha certeza de que queria prolongar seu tempo ao lado dele.
Os grilos gorjeavam com uma cadência constante. Um sapo-boi resmungava ao
longe e ela se lembrou do som de aviso de Jesse. — Por que você limpa a garganta
quando as crianças se comportam mal?
— Porque eu tendo a parecer muito mais cruel do que sou quando eu grito.
Eu limpar minha garganta vai fazer você se sentar?
Ela forçou de volta seu sorriso. — Eu não estou certa de que é uma boa ideia
eu me sentar aqui com você.
Ele acenou com a mão sobre a varanda. — Muito espaço. Nós não vamos
mesmo estar nos tocando.
Ela ouviu o calor de um riso e olhou por cima do ombro. — Eu posso ouvir
Charles rindo.
— Sim, ele está rindo muito mais desde que a trouxe para casa.
— Sim.
— Que se sua mãe tivesse sido uma convidada aqui, ela teria querido dormir
no quarto de princesa?
Ela riu, e Jesse desejou saber o segredo que lhe causou gargalhadas.
— Porque ele não tinha título e ela estava destinada a ser uma duquesa.
Ela trouxe os pés no degrau mais alto e colocou os braços em volta dos
joelhos. — Ela o amava muito. Eles fugiram, se casaram e deixaram a Inglaterra.
Em seguida, ele a trouxe para o Texas. Ela acreditou em suas promessas, aceitou
seus sonhos. — Olhando ao longe ela apoiou o queixo nos joelhos e suspirou
melancolicamente. — Apesar de tudo, ela nunca deixou de o amar.
— O que foi tudo? — ele perguntou, sua voz se misturando com os sons da
noite.
— E você fez.
Envolvendo a mão ao redor de seus dedos, ele a levou para o colo dela e a
mão dele voltou para o seu lado. — Ele não é. É por isso que seu punho foi capaz
de chegar tão perto de minha mandíbula como fez. Eu não estava esperando por
isso.
Ela se virou ligeiramente para que o pudesse ver mais de perto. — Você me
parece o tipo de homem que iria bater em alguém.
— Eu sou.
Ela o estudou. Eles eram irmãos, apenas quatro anos os separando e ainda
assim o destino tinha escolhido lhes dar diferentes vidas, os moldar homens
diferentes. — Você lutou com muitos homens?
— Eu sei. — Nojo marcou sua voz. — Eu tentei explicar a ele... — Sua voz
se afastou.
— O que você já tentou explicar?
— Que eu não sou um herói. Eu tinha um trabalho a fazer e o fiz. Isso é tudo.
Ela inclinou a cabeça. — Talvez isso seja tudo o que qualquer herói é,
alguém que não desiste até que o trabalho esteja feito.
Virando o rosto ela abraçou os joelhos. — Eu não mereço Charles, você sabe.
— É mesmo?
— Billy trouxe alguns filhotes para mostrar a Aaron. Esse deve ter fugido.
Ele espalmou uma das patas do filhote. — Porque ele tem pés grandes.
Ela riu quando o cachorro lambeu seu queixo. — Você vai perguntar?
Charles abriu a porta de trás e saiu para a varanda. — O que vocês dois estão
fazendo aqui?
— Oh, Charles, olha! — Maddie segurou o cachorro para ele ver conforme
se aproximava. — Jesse disse que eu o poderia manter.
— Está tudo bem para mim. — Ele olhou para Jesse, que tinha de repente se
tornado absorto a puxar punhados de grama. — As pessoas estão se preparando
para sair. Temos de lhes agradecer por virem. — Deslizando a mão sob o cotovelo
de Maddie, ele a ajudou a se levantar. Jesse ficou. Charles se inclinou para ele e
sussurrou com riso atado através de sua voz — Não achei que você gostava de
cachorros.
Rapidamente, ele se afastou de Jesse e colocou seu braço ao redor de
Maddie, rindo enquanto caminhavam em direção à frente da casa, onde os vizinhos
haviam deixado suas carroças e cavalos.
— Ah, inferno!
Aaron olhou para ela. — Você não o deveria encontrar até que todos fossem
embora.
— Eu disse que ele não iria ficar naquela pequena caixa — disse Billy.
Aaron levantou as mãos para Maddie. — Você o dá para mim, por favor?
— Não senhor.
— É de meu entendimento que ele está procurando por Billy para que ele
possa lhe perguntar se está tudo bem se mantivermos esse cão.
Aaron pegou o cachorro dos braços de Billy. — Veja, eu disse que meu tio
era a melhor pessoa que já existiu. — Ele correu para longe. Billy o acompanhou
de perto, em seus calcanhares.
Charles puxou Maddie mais para seu lado. — Acho que eu deveria ter
mencionado a ele que o cachorro era para você.
— Bom?
Ela abriu os olhos e pegou o olhar de seu marido no espelho. Ela sorriu. —
Muito bom.
— Não, Jesse não fez nada. Nós só conversamos. — Ela desejou que
pudesse culpar sua inquietação pela emoção da noite mas sabia que a causa era
muito mais profunda, mergulhada em algo que tinha acontecido quando saiu da
casa, algo que ela não tinha nenhum desejo que o marido soubesse. — Depois de
tudo o que fizemos hoje, eu esperava cair no sono assim que minha cabeça batesse
no travesseiro. Eu não sei por que isso não aconteceu.
— Toda noite. Ela o queria escovado uma centena de vezes. — Ele sorriu.
— Mas eu não me lembro de escovar por tanto tempo.
— Ah, Maddie, eu gostaria de poder explicar o que eu sentia por ela. Foi
além do amor. Eu sentia como se ela fosse parte de mim. Talvez eu não tenha
lamentado corretamente, mas mesmo após sua morte, nunca senti que ela
realmente me deixou. Eu ainda sinto como se ela estivesse aqui comigo me
guiando, caminhando ao meu lado. Às vezes eu ouço sua voz no vento, sinto seu
carinho ao sol. Eu acredito que o que nós compartilhamos é raro. Talvez seja essa a
causa de que eu segure isso com tanta tenacidade ou talvez por isso eu não dê
espaço no meu coração para outra. — Ele passou o dedo ao longo de sua bochecha.
— Mesmo que eu goste de você imensamente e encontre a alegria estando ao seu
redor. Você se arrepende de se ter casado comigo?
Ela sustentou seu olhar no espelho. — Não, eu estou mais feliz aqui do que
eu já estive em toda a minha vida.
Interiormente, ela sorriu. Ela não esperava que Jesse confessasse seu
comportamento rude durante a refeição.
Se ele não estivesse olhando para ela com preocupação sincera talvez ela
pudesse ter mentido. Em vez disso, ela falou uma verdade sussurrada. — Sim.
— Você viu alguém parecido com quem os matou ontem?
— Não.
Ele passou os dedos pelos cabelos. — Você tem medo que eles vão venham
atrás de você? — O medo a manteve em silêncio.
— Maddie, se você tem medo desses homens fale com Jesse. Como um
Ranger, ele rastreou os piores homens que ousaram cometer um crime; ele
justamente os puniu. Você quer que ele encontre os homens que mataram seu pai e
irmão?
Ele fechou os braços ao redor dela. — Você não tem que ter medo.
Mas ela tinha. O pensamento de Jesse em busca dos homens que mataram
seu pai e Andrew a aterrorizava.
~
O grito de terror quebrou o sonho de Jesse. Ele se empurrou acordado, seu
corpo banhado em suor. Em seguida, o grito veio novamente, e ele percebeu que
não tinha sido parte de seu sonho.
Ele saiu correndo da cama, lutando em suas calças enquanto corria para o
corredor. Abotoou botões suficientes para manter suas calças ancoradas a seus
quadris antes de estourar no quarto de seu irmão.
Emaranhada nos lençóis, Maddie se contorcia e agitava os braços sobre seu
rosto como se afastasse demônios. Charles estava longe de ser visto. Atravessando
o quarto, Jesse sentou na cama e pegou Maddie contra ele. Envolvendo seus braços
ao redor do corpo trêmulo, ele a abraçou conforme seus soluços diminuíam e se
transformavam em gemidos que rasgaram seu coração. — Shh, Maddie. É apenas
um sonho.
Mais uma vez, ela balançou a cabeça. Inclinando a cabeça dela ele
pressionou um beijo em sua têmpora. — Eu nunca vou deixar que algo te
machuque.
Maddie sentiu a barba de fim de noite passar por seu rosto e pensou em
como muitas vezes algo áspero protegia algo macio. Seus dedos ásperos de
trabalharem pegaram a musselina de sua camisola enquanto suas mãos deslizavam
suavemente ao longo de sua espinha. Ela podia ouvir o bater forte e constante do
coração, sentir o calor de sua carne, a suavidade do cabelo cobrindo o peito contra
sua bochecha. Ela ouviu o profundo timbre de sua voz enquanto ele sussurrava
confiança e promessas de proteção. Quão desesperadamente ela queria aceitar
essas promessas, confiar nele, confessar tudo, parar de viver com medo.
Jesse sentiu cada curva que a mulher possuía pressionadas contra seu corpo.
Seu cabelo era suave contra sua bochecha. Seus tremores se foram. Suas lágrimas
arrefeceram em cima de seu peito. Nenhuma lágrima nova veio à tona. Era como
se seu corpo confiasse nele e sabia que ele não iria tirar proveito deste momento.
Ele desejava que seu coração confiasse nele assim tão facilmente.
Ele não sabia quanto tempo a segurou, quanto tempo ele a confortou. Nem
sabia quanto tempo Charles esteve de pé ao seu lado, observando. Ele afrouxou o
abraço. — Ela teve um sonho ruim.
Jesse achou que ele não poderia ter estado segurando Maddie se Charles
tivesse ouvido os gritos e vindo correndo. Ele olhou para os pés descalços do irmão
e entendeu por que não o tinha ouvido entrar no quarto.
Se voltando da cena íntima, ele fez uma pequena pausa. Aaron estava na
porta com os olhos arregalados como duas luas cheias. Jesse virou o menino,
colocou a mão em seu ombro e o levou para fora, fechando a porta silenciosamente
atrás deles.
— Está tudo bem agora. Sua mãe só teve um sonho ruim. Alguém quer
cacau? — Ele não esperou por uma resposta, mas desdobrou o corpo, levantou as
duas meninas nos braços e as levou para as escadas. Aaron pegou a lamparina que
seu pai havia deixado sobre uma mesa no corredor e correu à frente de seu tio para
que pudesse iluminar o caminho.
— Com o que você acha que ela estava sonhando, tio Jesse?
Saindo de seu longo devaneio, Jesse olhou para o sobrinho. Suas mãos
estavam envolvidas em torno do copo, sua expressão preocupada se esforçando
para parecer com uma de adulto. Balançando a cabeça, Jesse olhou para suas
próprias mãos em volta do copo. O cacau tinha esfriado há muito tempo. Ele nunca
trouxe o copo aos lábios. — Eu não sei. Houve uma série de mudanças em sua vida.
Seu pai e irmão morreram. Ela se casou. Se encontrou com três crianças...
Ele olhou para a mesa. Taylor fechou os olhos. Sua cabeça balançou, em
seguida, seus olhos se abriram. Hannah esperou ansiosamente por sua resposta com
sua língua saindo para pegar quaisquer vestígios remanescentes de cacau em seus
lábios. Ele sorriu.
— Talvez ela tenha sonhando com aquele beijo que você deu nela. Billy
disse que você estava furando a sua língua em sua garganta. Talvez ela estivesse
sonhando que você estava a tentando sufocar.
Jesse reprimiu uma réplica na descrição de Billy do beijo. — Eu não quis
enfiar minha língua em sua garganta. E os meus beijos não são conhecidos por dar
às mulheres pesadelos. — Ele empurrou o copo para longe.
Aaron, levantou os ombros ossudos, até que quase tocaram seus ouvidos.
— Bem?
Levantando a tampa na caixa ela olhou para dentro, mas estava muito escuro
para ver qualquer coisa. Ela virou mais a tampa para trás. Sua boca formou um
círculo perfeito conforme ela soltou um suspiro satisfeito. Com cuidado, ela pegou
um pequeno prato.
— Tio Jesse queria que eu visse se eu poderia apontar o homem com quem
você estava falando atrás do celeiro.
Jesse caiu para trás em sua cadeira. Por que diabos não tinha explicado a
Aaron que era um segredo?
— Não, mas eu concordo com Maddie. Você não tinha o direito de fazer
toda essa investigação nas suas costas, e não apreciei nem um pouco que você
tenha usado meu filho para fazer isso.
— Alguém precisa fazer, porque você com certeza não fez antes de se casar
com ela. O que você sabe sobre ela?
Charles estava prestes a explicar que a confiança era pressuposto ser entre
uma mulher e seu marido, não uma mulher e seu cunhado, quando Jesse se
inclinou sobre a mesa e trancou seu olhar sobre o dela.
— Tudo bem. Eu vou parar de fazer perguntas. Eu vou parar de ser curioso
se você responder a uma pergunta.
— Existe alguma chance de que o homem que falou com você prejudique
essas crianças?
Charles ficou de pé. — Jesse, eu não vou tolerar que você ameace a minha
mulher dessa maneira.
Charles deu a seu irmão um olhar gelado. — Não é possível que você nunca
esqueça, por um momento, que você foi um homem da lei?
Jesse o observou sair da sala e em seguida olhou ao redor da mesa. Ele havia
sido deixado com duas meninas chorando, suas grandes lágrimas caindo em seu
bolo.
— Tio Jesse?
~
Charles pegou Maddie na periferia do celeiro antes que ela desaparecesse
nas árvores. Ele colocou a mão em seu ombro, a girou e lhe abraçou. Seus soluços
caíram sobre seu peito. — Ah, Maddie.
— Às vezes? Parece-me que ele sempre se deixa levar. Eu não sei como ele
faz isso, mas traz à tona o pior em mim. Ele pode me fazer ficar tão zangada...
Ela emitiu um bufo muito pouco feminino. — Ele não tem um pingo de
charme em todo o seu corpo.
— Oh, ele tem algum. Você apenas tem que olhar profundamente para ver.
— Ele enxugou as lágrimas do seu rosto. — Agora vamos. Vamos ver se podemos
desfazer o dano. Eu pensei ter ouvido as meninas chorando quando eu saí.
Mantendo o braço em torno do seu ombro, Charles levou Maddie para casa.
Ela relaxou mais contra seu lado. Ela encontrou sua defesa reconfortante, mas
entremeados no conforto estavam tópicos de inquietação, porque sua confiança era
imerecida. Ela se forçou a ignorar os pensamentos mais escuros. — Eu deveria ter
deixado meu temperamento sob controle — disse ela em voz baixa. — Não foi
justo arruinar o aniversário de Hannah.
Eles caminharam para a sala de jantar e Maddie sentiu sua raiva por Jesse se
esvaindo. Ela conseguiu pegar a raiva e trazer de volta à superfície. Ela não o iria
perdoar facilmente dessa vez, mas achou difícil permanecer com de um homem
que estava sentado no chão segurando desajeitadamente o delicado aro de uma
pequena xícara de chá.
Ela inclinou o bule sobre a sua xícara e observou o chá imaginário derramar.
Charles se afastou de Maddie. — Bem, eu odeio pôr fim à festa tão cedo mas
Maddie e eu precisamos colocar as crianças na cama agora. — Ele levantou Taylor
e a entregou a Maddie. Então ele estendeu a mão para Hannah, a trazendo em seus
braços. — Jesse, por que você não vê se pode limpar essa bagunça que fez... a
parte dela que possa ser limpa.
Maddie sentou-se nos degraus. — Eu sei, Aaron. Não estou chateada com
você.
— Tio Jesse não gostaria de a ver tendo pesadelos. Ele estava só querendo
pegar o homem e o fazer deixar de a perturbar. Foi você quem disse que uma
pessoa não precisa pedir licença se o que está fazendo é algo bom.
Maddie suspirou. — Isto é diferente, Aaron.
— Por quê?
— É difícil de explicar. Você, Hannah, Taylor, seu pai, e seu tio Jesse são
uma família. Eu estava começando a me sentir como se eu fosse parte de sua
família. Esta noite me senti como se eu não fosse.
— Por quê?
— Se o seu tio Jesse visse você brincando com um menino que não conhece,
você acha que ele iria pela cidade perguntar às pessoas quem o garoto era ou você
acha que ele viria e lhe perguntaria?
— Por quê?
Ele quando o pai colocou a mão sob o cotovelo de Maddie e a ajudou a ficar
de pé.
— Depressa — Charles mandou.
Aaron assentiu. Abraçando Ranger apertado, correu pela sala de jantar para a
cozinha. Ele colocou o cachorro na caixa ao lado do fogão de ferro fundido. —
Acho que seria melhor você não se esgueirar para o meu quarto esta noite. Já é
ruim o suficiente ficar em apuros quando não é culpa minha e não quero piorar
quando é. — Ele puxou os restos de um cobertor usado sobre a cabeça do cão.
Então ele voltou para a sala de jantar. Jesse estava empilhando os pratos sobre a
mesa.
Pegando uma lamparina, ele caminhou pelo corredor para o estúdio. Com
suas prateleiras cobertas de livros, o lugar cheirava a obrigações e conhecimento.
Ele desejou ter reunido algum conhecimento hoje à noite.
— Não.
— Você pensa...
— Eu sei — Jesse insistiu com voz dura, não deixando qualquer margem
para dúvidas. — Esse problema do homem, Charles. Ela estava nervosa naquela
noite quando nós nos sentamos na varanda mas eu pensei que era por causa de
todas as pessoas que estavam aqui. Ela tem medo que ele volte e se dane. Se eu não
sei quem ele é como vou saber quando aparecer?
Ela foi até a cozinha, pegou duas toalhas dobradas e as envolveu em torno
das alças de uma panela grande. Jesse veio por trás dela.
Ela lhe deu uma cotovelada nas costelas, pegou a panela, passou por ele e
voltou para a sala de jantar.
Maddie voltou. — Charles, você não acha que o mercenário deveria estar
vendo os cavalos?
Jesse foi para o outro lado da sala, puxou o chapéu fora do prego na parede e
bateu a porta atrás de si. Com o contentamento escrito em seu rosto, Maddie entrou
na cozinha. — Você pode dizer a nossos clientes que a refeição está pronta.
— Maddie, já faz três dias. Você não acha que o poderia perdoar um pouco?
— Ele não feriu meus sentimentos. A comida que eu coloquei para os nossos
clientes está ficando fria.
Maddie olhou para o cocheiro. Ele parecia ser um homem que tinha muita
comida na maior parte do tempo. Seu cabelo vermelho era liso, mas espetava para
fora nos lados, dando a impressão de ainda usar seu chapéu. Ele brincou com
algumas migalhas da barba desgrenhada. Ela forçou um sorriso. — Obrigada.
— Então você está viajando com dois guardas agora, Nate? — Jesse
perguntou.
— Sim. Temos tido muitos roubos ultimamente. Você pensaria que as
pessoas esqueceram o que é um trabalho honesto. Os Rangers estão criando
emboscadas em áreas onde eles acham que um assalto é provável que ocorra, mas
se errarem eu tenho esses dois aqui para cobrir minha bunda.
— Duas vezes este mês. — Nate Webster olhou para Jesse. — Você está
pensando em voltar a ser um Texas Ranger?
— Mesmo com a senhora brava com você? — Nate deu uma gargalhada,
então cutucou o cotovelo de Jesse. — Quer me dizer o que você fez para ela se
irritar?
Desde que seu tio estava apenas olhando para o homem, Aaron falou. — Ela
está brava com ele porque...
Jesse pigarreou com tanta força que um dos guardas se inclinou para trás e
quase tombou em sua cadeira. Aaron teria rido, mas com o olhar intenso de seu tio
concentrado nele, ele nem sequer ousou respirar.
Nate esticou o braço por cima da mesa e tocou a mão de Aaron. — Vamos
rapaz, você pode me dizer.
Engolindo em seco, Aaron moveu seu olhar para o cocheiro. — Não, senhor.
Eu acho melhor não.
— Ah, vamos lá, rapaz. Eu e seu tio somos velhos amigos. Nós não
mantemos segredos um do outro.
Nate passou as costas da mão na boca. — Claro que ele fez, garoto. Claro
que foi antes dele ser um Ranger. Ele ainda estava no exército e não era muito
maior do que você quando fez isso. Índios nos cercaram e este rapaz magro veio
cavalgando sobre a colina de armas a postos! — Nate ergueu as mãos no ar, o
indicador e o polegar estendidos, o polegar dobrando para trás e para frente,
rapidamente. — Bang Bang Bang!!! Ele atirou neles até que se foram!
— Atrás de você, certo. Inferno, eles estavam tão longe que você era o único
que sabia que estavam lá.
Jesse fez uma careta. — Não encha a cabeça do menino com mentiras.
Nate se inclinou sobre a mesa, seus olhos escuros afiados dentro dos de
Aaron. — Então eu vou te dizer a verdade honesta de Deus, rapaz. Seu tio é o
melhor homem da lei que já viveu. Nenhuma pessoa que o conhece vai lhe dizer
diferente.
Maddie estava tão presa na conversa sobre o evento que esqueceu por um
momento que estava zangada com o herói do conto de Nate. Em vez disso, ela se
viu olhando para ele, o imaginando como um homem jovem, suas crenças, então,
na diferença entre o certo e o errado tão fortes como estavam agora.
Seus olhos capturaram os dela por um breve momento antes dele empurrar
sua cadeira para trás e sair da casa.
— Por que o tio Jesse saiu se ele não acabou de comer? — Aaron perguntou.
— Porque garoto, ele não gosta que o bajulem. — Nate explicou enquanto
raspava o feijão do prato e empurrava pela boca.
~
Alerta para quaisquer sons vindos do corredor, o intruso foi na ponta dos pés
pela sala. A diligência tinha partido momentos antes e ele sabia que todo mundo
estaria voltando para casa em breve.
O diário. O diário em que seu tio registrou suas façanhas como um Texas
Ranger. As palavras que enfeitavam as páginas eram um mistério, pois ele ainda
tinha que aprender a ler a escrita com as curvas elegantes e cachos que os adultos
usavam, mas ele planejava aprender algum dia. Quando ele aprendesse leria o
diário e conheceria todas as coisas sobre ser um Texas Ranger que seu tio
mantinha em segredo.
Aaron afastou o cobertor que tinha sido dado a seu tio por um chefe índio,
empurrou de lado as medalhas de louvor, o cinto de arma em que um bandido tinha
esculpido entalhes, empurrou as esporas e cavou mais fundo até que sentiu o
mensageiro da morte. Lentamente, ele o puxou para inspecionar como tinha feito
em numerosas ocasiões, quando ninguém estava por perto.
Ele correu um dedo sobre o cabo de marfim polido. O sol derramando pela
janela refletia o metal de prata do cabo. Ele nunca tinha visto nada tão bonito em
toda sua vida. Ele cruzou as mãos adoradoras em torno do revólver Colt.
Seus olhos se arregalaram. — Você não deveria brincar com a arma do tio
Jesse. Vou dizer ao pai.
Ele andou através do quarto e agarrou o braço de sua irmã. — Ah, vamos lá,
Hannah. O tio Jesse sempre lhe mostra onde guarda a chave do baú?
— Bem, ele me disse para que eu pudesse usar sua arma sempre que eu
precisasse.
Cuidadosamente, ela mordeu o lábio inferior. — Você não quer deixar tio
Jesse em apuros, não é?
— Por que estamos nos esgueirando se o tio Jesse quer que você tenha a
arma?
— Shh! — Aaron repreendeu. — Se você é uma Ranger tem que ser muito
silenciosa. Estou testando agora para ver se eu posso deixar você me acompanhar
ou não. — Ele abriu a porta e saiu para a varanda. Ainda não havia ninguém à vista.
Com Hannah em seus calcanhares, Aaron desceu as escadas hesitando, mantendo
olhos e os ouvidos alerta. Quando seus pés tocaram a terra, ele correu em direção à
floresta e não parou até estar escondido pelas árvores. Então ele esperou, escutando
os pequenos pés de Hannah. Ofegante e com os olhos arregalados, ela finalmente o
alcançou.
— Eu acho que você vai ser uma boa Ranger. Você pode me ajudar a
procurar Sam Bass.
— Mas o tio Jesse atirou nele.
— Não, ele não o fez. Outro Ranger atirou mas o tio Jesse ajudou a o
localizar. Disso é o que nós estamos brincando. Estamos em Round Rock, e
sabemos que Bass vai estar aqui a qualquer momento porque um de seus homens
nos enviou um telegrama. — Se inclinando, ele pegou um pedaço de pau. — Aqui.
Você pode ser o tio Jesse, e eu vou ser o Ranger que disparou em Bass.
— Você saberá.
— Como?
Os olhos da menina ficaram ainda mais amplos e Aaron não poderia ajudar
a si mesmo. Ele gritou — Boo!
Hannah gritou, e Aaron riu. — Vamos, Hannah. Se você o vir apenas grite e
eu vou te salvar. — E ele se dirigiu para a floresta.
Eles chegaram a uma clareira. Ela não tinha nenhum desejo de estar em
campo aberto. Ela queria ficar escondida. Ela parou na borda mas Aaron marchou
em frente. — Aaron — ela chiou.
Ela sabia que o deveria seguir mas estava ouvindo muitos ruídos. Aaron
desapareceu na moita do outro lado da clareira. Os ruídos atrás dela aumentaram.
Não se atrevendo a respirar, Hannah olhou para trás quando uma grande figura
sombria emergiu detrás das árvores. Ela gritou no topo de seus pulmões.
Aaron chegou correndo de volta por entre as árvores. Sua bota se prendeu na
raiz de uma árvore retorcida. Ele caiu para frente. Seus braços bateram no chão
rangendo os cotovelos enquanto seus dedos apertavam o gatilho. O coice da arma
momentaneamente o levantou e empurrou para trás.
— Hannah, traga o seu pai — ele forçou a fala através de respirações difíceis.
Ele rolou a cabeça de um lado para o outro, piscando o suor dos olhos,
lutando contra a bile subindo em sua garganta. — Não, só traga o seu pai.
Uísque. Ele precisava de uísque. E então ela estava lá, ajoelhada ao lado dele.
Ele bebeu o uísque dos olhos dela, fortalecendo sua determinação de não morrer de
um ferimento feito por um menino de oito anos de idade.
— Não importa agora — disse Maddie enquanto ela rapidamente lhe subia a
camisa.
Charles sentiu seu estômago guinar quando a carne rasgada no lado de Jesse,
logo abaixo de suas costelas, veio à tona. Respirando profundamente, ele abaixou a
cabeça. — Meu Deus.
Esperança acendeu dentro dos olhos de Charles. — Ele é muito pesado para
eu carregar. Você vai ficar aqui com ele enquanto eu pego a carroça?
Olhando para baixo sobre ele, ela piscou para conter as lágrimas. Sua voz
soava como se viesse de muito longe, como se estivesse fluindo para longe dele tão
facilmente quanto o seu sangue, e ele parecia muito mais velho com a dor gravada
dentro dos vincos de seu rosto. — Você não vai morrer. Eu só preciso parar o
sangramento e o livrar de infecção..
— Não.
Ele ouviu sua camisa sangrenta tombar no chão. Charles tinha retirado o
restante da roupa de Jesse e colocado um lençol sobre sua parte inferior, quando
Maddie entrou no quarto carregando uma bandeja. Jesse estendeu a mão e
envolveu suas grandes mãos em torno das espirais de bronze frágeis. Charles saiu
correndo do quarto. Jesse olhou para Maddie. Ela estava derramando uísque sobre
suas mãos. O brilho do aço afiado da faca que descansava na mesa de cabeceira
chamou sua atenção. — Você vai me cortar? — ele perguntou.
Ela manteve o olhar desviado quando respondeu: — Você vai curar mais
rápido e mais facilmente se eu limpar a ferida e remover a carne que morrerá de
qualquer jeito. — Ela lhe lançou um olhar furtivo, o pedido de desculpas
subentendido em suas palavras. — Não vai ser agradável. Eu vou fazer isso o mais
rápido que puder.
— Faça o que tiver que fazer. Eu não vou gritar ou lutar com você.
Charles se moveu para a posição. — Tem certeza que você sabe o que você
está fazendo?
Fechando os olhos, Jesse ficou com uma imagem de suas feições delicadas
com ele, se preparando para o inferno que ela estava prestes a lhe mostrar. Seu
corpo convulsionou enquanto ela limpava a ferida, desperdiçando bom uísque no
processo. Ele desejou que pudesse ficar quieto. Ele estava certo de que ouvir seus
grunhidos e gemidos não estaria fazendo o trabalho mais fácil. Então ele sentiu os
dedos deixarem seu lado e ouviu o raspar da faca sobre a mesa. Ele tinha se iludido.
Ele pensou ter lançado um grito estrangulado pouco antes de mergulhar no abismo
negro do inferno e perder a consciência.
Ela inclinou o rosto. Sua testa franzida, os cantos de sua boca não ansiosos
para formar um sorriso. Seus olhos mergulharam nos dela procurando a verdade.
— Não, nós fomos afortunados. A bala atravessou sem acertar nada além de carne
e músculo. Ele perdeu muito sangue. — Ela forçou um sorriso confiante. — Ele
não vai ser capaz de cortar qualquer madeira por um tempo, mas considerando a
quantidade de madeira que ele cortou ultimamente, nós provavelmente não vamos
precisar de uma por um par de anos, de qualquer maneira.
Ele segurou seu rosto. — Não sei o que teríamos feito se você não estivesse
aqui.
Ele balançou a cabeça. — Eu não sei como você ficou tão calma. Como
você se lembrou de tudo o que fazer para tratar uma ferida?
Nervosa, seu olhar se agitou em torno do rosto dele. — Eu tenho uma boa
memória.
Um soluço lhes fez virar suas cabeças. Com o rosto coberto de lágrimas,
lábios trementes, mãos fechadas em punhos, Aaron estava na porta.
Charles atravessou o quarto, pegou o braço de Aaron, o girou e aplicou umas
palmadas com a mão livre no traseiro de Aaron. Então ele o virou de volta. — O
que diabos você achou que estava fazendo?
Aaron moveu um pouco a cabeça de lado a lado, com a voz presa em algum
lugar no fundo de sua alma apavorada.
Charles o sacudiu. — Vá para o seu quarto, e não se atreva a sair até que eu
diga.
— Sim, senhor — ele forçou para fora sua pequena voz vacilante enquanto
dava um último olhar para a figura imóvel deitada na cama antes de sair correndo
do quarto.
Charles passou os dedos trêmulos pelo cabelo e jogou a cabeça para trás. —
Cristo! — Ele bateu um punho contra a parede. — Cristo todo poderoso! — Ele
encostou a testa contra a parede.
Maddie atravessou o quarto e colocou a palma da sua mão contra suas costas.
— Charles?
— Eu nunca bati nele antes mas, querido Senhor, quando eu penso no que
poderia ter acontecido...
— Eu quero observar Jesse hoje à noite, estar perto, caso ele precise de
alguma coisa.
Ele acenou com a compreensão, pensando que passaria pelo menos uma
semana antes dele ser capaz de manter qualquer alimento. — Eu vou te trazer um
pouco de água quente para a banheira no quarto.
— Eu posso usar a água que já está na banheira — disse Maddie. — Por que
você não vai ver Aaron?
Charles passou a mão pelo cabelo. — Eu acho que é melhor eu ir.
Maddie foi até a porta de seu quarto e olhou por cima do ombro. O marido
dela estava estudando seriamente o chão. — Charles?
Ele ergueu o olhar. O peso do tapa que ele tinha dado em Aaron era
claramente visível em seus olhos.
Aaron ouviu a porta de seu quarto ser aberta. Ele fechou os olhos e cerrou os
punhos em torno dos ouvidos. Ele ouviu a porta se fechar e sentiu a luz de uma
lamparina tocar suas pálpebras. Ele ouviu um pequeno som e abriu os olhos. Seu
pai estava agachado ao lado de sua cama, segurando uma lamparina em uma das
mãos e Ranger na outra.
Aaron fungou. — Eu ouvi Hannah gritar. Eu pensei que era o homem que eu
vi atrás do celeiro. Acho que ela pensou,também, mas era o tio Jesse. Eu estava
correndo para a ajudar e eu tropecei. A arma disparou. Eu não fiz de propósito. Ele
vai morrer?
Charles o segurou mais apertado. — Oh, Deus, não. Eu amo você, filho.
Sempre vou amar, não importa o que você faça. O que aconteceu hoje assustou o
inferno fora de mim. As armas não são algo para brincar. É por isso que mantemos
os rifles trancados no armário no andar de baixo.
Charles apertou seu ombro. — Nós as vamos fazer juntos até que ele fique
bem.
Sua pele estava cor de rosa e tremente quando ela finalmente se secou. Ela
escorregou em sua camisola e roupão antes de caminhar pelo corredor até o quarto
de princesa.
— Ele não acordou ainda. Provavelmente não vai por um tempo. Seu corpo
precisa de descanso. Como estão as crianças?
Maddie pegou sua mão e deu um aperto suave. — Bem, você não será
separado de Jesse novamente por um bom tempo. Por que você não vai para a
cama? Eu o vou acordar se alguma coisa mudar.
Ela o viu sair e voltou sua atenção para Jesse. Mergulhou o pano na água fria
da bacia e o torceu com cuidado antes de se sentar na cama. Gentilmente, ela
enxugou o rosto de Jesse. O pano pegou na barba incipiente cobrindo seu queixo.
Ela rasparia seu rosto quando ele se sentisse mais forte. O pensamento de que
atenderia suas necessidades viris causou calor através dela. Ele era mais forte do
que Charles. Mesmo quando ele estava assim, seus músculos eram firmes.
— Ele morreu?
Maddie se virou. Aaron estava ao pé da cama, com os olhos brilhando com
lágrimas. — Papai lavou mamãe desse jeito quando ela morreu.
Ela se levantou da cama e se ajoelhou diante dele. — Não, não. Ele não está
morto. — Com os dedos, ela levemente penteou seu cabelo para trás de sua testa
franzida. — Ele tem uma pequena febre que eu estou tentando baixar. Isso é
normal com uma ferida como a dele. Seu corpo está lutando para curar. Gostaria de
me ajudar?
A necessidade de ajudar seu tio estava claramente escrita nos olhos de Aaron.
— Eu não deveria estar fora do meu quarto mas eu estava com medo. Eu não quero
que ele morra, Mãe.
— Seu tio é bastante forte. Ele não vai quebrar se você o tocar com um
pouco mais de força.
Balançando a cabeça, Aaron moveu o pano para baixo do pescoço de Jesse.
Maddie molhou seu próprio pano antes de limpar o peito úmido. — O seu pai falou
com você?
Aaron olhou para ela. — Ele não está mais tão louco.
As palavras foram ditas tão baixinho que ela quase não as ouviu. Ela sorriu
suavemente conforme eles continuaram a trabalhar juntos em silêncio.
~
Jesse abriu os olhos. Uma lamparina queimava sobre a mesa ao lado da
cama. Maddie estava sentada na cadeira de balanço com a cabeça inclinada em um
ângulo estranho e os olhos fechados. Aaron, com suas longas pernas balançando,
estava aninhado no ombro dela dormindo. Apesar da dor no seu lado e o calor do
corpo, ele sentiu um anseio estranho. Ele era a única pessoa na família que não
tinha dormido em seus braços reconfortantes.
Seu cabelo trançado estava envolto por cima do ombro e do outro lado a
mão de Aaron. Acima de dos olhos fechados, suas sobrancelhas finamente
arqueadas estavam relaxadas. Ela parecia mais jovem, mais inocente no sono. Ele
tinha um forte desejo de a proteger.
Ele quase riu com esse pensamento. Proteger? Ele não foi capaz de proteger
a si mesmo. O que o havia confundido deitado ali, o sangue de sua vida fluindo
para o chão, foi a certeza absoluta em sua voz quando ela falou. Ela tinha lidado
com ferimentos de bala antes, estava familiarizada com os perigos. Seus dedos
tinham sido constantes, sua determinação exata. Ela tinha as habilidades de um
médico, mas ela não era um médico. Um médico não teria sido forçado a subir em
uma mesa no salão de Bev.
— Duas vezes.
— Tio Jesse?
Ele forçou seus olhos a abrirem.
— Eu te amo, tio Jesse — ele sussurrou antes de liberar seu aperto e correr
silenciosamente para fora do quarto.
Olhando para a criança adormecida, ela sentiu seu coração inchar. Precisou
que chegasse perto de uma tragédia, mas Aaron tinha finalmente a chamado de
mãe. Ela não esperava que essa única palavra a tocasse tão profundamente. Ela
levantou o lençol sobre suas costas. Houve um movimento ao lado de Aaron e um
nariz preto molhado cutucou por baixo do lençol. Maddie sorriu quando percebeu
por que Charles tinha descido as escadas antes de falar com Aaron.
Charles não tinha exagerado quando disse que Jesse era hábil em caçar
homens. Jesse tinha meticulosamente registrado os detalhes de suas atribuições.
Ela pensou que, se os homens da lei frequentassem escolas onde aprendessem as
ferramentas de seu ofício, o diário de Jesse poderia servir como livro didático.
Seus pensamentos se foram para o dia em que ele a levou para à cidade e ela
olhou com inocência a parede. A última coisa que ela esperava ver era um cartaz
do pai e Andrew. Os três membros restantes da pequena gangue de seu pai estavam
lá também, mas eles tinha tomado mais cuidado em manter seus rostos escondidos
e tinham nada mais do que descrições escassas que poderiam se aplicar a qualquer
um. Mas Jesse seria capaz de encontrar todos, se ele dispusesse sua mente nisso.
Silas e Walsh eram os que ela temia. Ela pensou ter despistado Silas até que
ele apareceu por trás do celeiro. Ironicamente, ele tinha estado em Waco
observando a diligência que ele e Walsh iriam roubar, quando tinha visto Maddie
entrar nela. Ele tinha alterado os seus planos e a seguiu. Ele pensou que ela
soubesse onde seu pai tinha enterrado um cofre cheio de dinheiro. Ela disse onde
procurar mas sabia que ele só iria encontrar sujeira. Ela rezou para que ele não
voltasse. Ele ameaçava seus sonhos mais do que Jesse.
Maddie colocou a mão sobre seu punho cerrado. — Você está com muita
dor?
Ela passou a mão livre ao longo dos músculos firmes de seu braço. — Sim,
nós estamos.
— Nós? — Ele abriu os olhos. — Você não está com raiva de mim?
Sua voz carregava a cadência de uma criança esperançosa e efetivamente
derreteu qualquer raiva persistente dentro de seu peito. Ela apertou sua mão em sua
bochecha. — Eu deveria estar, mas não, eu não estou.
— Eu sinto muito. Eu deveria ter lhe dado algo para beber antes. Espere
aqui.
Ele queria dizer a ela que não havia um inferno de algo que ele pudesse fazer
senão esperar, mas não valia a pena o esforço. Agarrando a lamparina, ela correu
para fora do quarto, o deixando na escuridão. Poucos minutos depois, ela voltou
com uma bandeja.
Ele deu um pequeno aceno. Maddie colocou outro travesseiro sob a cabeça
de Jesse. Ela sentou na cama, pegou a tigela, levou a colher aos próprios lábios
para testar o calor da sopa e voltou o olhar para Jesse. Ele a olhava com uma fome
que ela temia ter pouco a ver com o estômago. — A sopa estava muito quente
quando a coloquei na tigela. Eu quero ter certeza de que esfriou o suficiente.
Ela assentiu com a cabeça e levou cuidadosamente a colher à sua boca. Ela
observou seus lábios sobre a prata e ele tomou a sopa da colher. Ela o alimentou
em silêncio. Ele havia tomado metade da tigela antes de fechar os olhos.
Maddie puxou o cobertor até seu peito e balançou a cabeça. Ela pensou que
ele estivesse adormecido e se perguntou há quanto tempo ele estava olhando para
ela.
— O homem que Aaron viu falando com você... Ele vai te machucar?
Distraída, ela passou o pano sobre seu peito. — Não é medo... — Ela fechou
os olhos e suspirou como se alguém tivesse acabado de colocar uma carga mais
pesada ainda sobre seus ombros. — Eu não sei — admitiu ela asperamente. —
Talvez seja medo. — Ela abriu os olhos. — Eu não mereço tudo isto, Charles, sua
casa, seus filhos. Eu não fiz nada para os merecer. Eu sinto como se a qualquer
momento alguém os fosse levar para longe. É difícil de explicar, provavelmente
impossível para você entender. As pessoas trabalham duro para alcançar seus
sonhos e tudo o que fiz foi ficar sobre uma mesa e puxar o corpete do meu vestido...
— Não! — ele murmurou. Jesse não a queria ver sobre a mesa, não queria
saber tudo o que ela sofreu antes de Charles ter feito sua oferta. Por que diabos não
tinha Charles dado o lance mais cedo? A dor violenta em seu lado não era nada
comparado ao que as calmas palavras faladas fizeram a seu coração. Ele baixou a
mão sobre a dela que descansava em seu peito. — Ninguém vai levar isso para
longe de você. — E apertou a mão dela, tanto quanto sua força diminuída permitia.
— Você tem a minha palavra.
Maddie apertou os olhos para reter as lágrimas. Ela estava tão cansada. O
calvário emocional do dia estava querendo cobrar seu preço e ela não imaginava
como reagir à promessa de Jesse, sabendo que poderia chegar o dia em que ele
teria que a quebrar, tendo idéia de que ele iria se ressentir profundamente dessa
promessa. Se Silas ousasse voltar...
Estudando o rosto desfigurado pela dor, ela se lembrou que estava ali para o
confortar e não para que ele a consolasse. Mergulhando o pano na bacia, ela o
torceu e limpou o suor de sua testa. — Eu era pequena e muito magra. Passei
muito tempo fingindo.
— Cassie sempre fingia que ela era uma princesa. Foi isso que você fez?
Ela deixou o pano na bacia e passou os dedos por seu cabelo delicadamente,
o levantando da testa. — Você ainda sente falta dela, não é?
Ela viu os músculos de sua garganta trabalharem mas as palavras não saíram.
Ele fechou os olhos e quando os abriu novamente, eles estavam cheios de uma dor
crua, uma angústia maior do que qualquer outra que ela tinha visto em seus olhos
naquela noite.
— Ela era tão pequena — disse ele com voz rouca. — E se eles não
cuidaram bem dela?
E ele retribuiu colocando a mão áspera em seu rosto. — Então por que não a
posso encontrar?
Ela se surpreendeu com a força com que ele levou o rosto dela contra o peito.
Ela sentiu mais do que ouviu seu suspiro irregular.
O quarto dele. Depois de quase uma semana, foi uma visão bem-vinda,
mesmo que ele estivesse respirando com dificuldade e seu corpo coberto por um
suor frio pelos esforços. Ele caminhou com dificuldade até a cama e se sentou.
Seu diário estava no centro da cama. Ele tinha sido um tolo por o
compartilhar com Aaron, um idiota ainda maior por o deixar ver a chave. Bem, ele
certamente pagava por sua tolice. Ele pegou e acariciou o desbotado livro da
mesma maneira que um homem acaricia uma mulher com quem passou a vida:
com amor, conhecendo cada vinco, cada ruga, compreendendo e aceitando as
forças que os tinha mantido até o momento juntos.
E daí ele ouviu a voz de Maddie, seguida do riso de Aaron, filtrado através
de sua janela. Segurando seu lado, ele saiu do quarto e foi descendo as escadas.
— Não, senhora!
Ela avançou e ele saiu correndo. Então ele parou abruptamente e seus olhos
se arregalaram. — Tio Jesse!
— Aaron, feche a porta — Maddie ordenou. — E você, o que pensa que está
fazendo? Você não deveria estar fora da cama.
— Mamãe quer que eu sente naquela cadeira lá fora, para que ela possa
cortar o meu cabelo, mas eu não acho que ele precisa ser cortado. E você?
Jesse não tinha ouvido uma só palavra que Aaron tinha pronunciado depois
da primeira: Mamãe. Quando o menino havia aceito Maddie tão completamente
em sua vida? Ele sentiu como se tivesse vivido em uma caverna por algum lugar.
Aaron o encarou. — O quê? — ele rosnou.
— Por que você não deixa mamãe o cortar? Ela cortou o cabelo do papai
antes que ele levasse as meninas para procurar amoras.
— Vamos, tio Jesse. Se você a deixar cortar seu cabelo eu a deixo cortar o
meu.
— Venha se sentar no quintal. Você poderia tomar um pouco de sol — ela
insistiu.
— Incline a cabeça para trás um pouco — ela pediu enquanto erguia uma
concha cheia de água.
Ele sentiu o jorro da água sobre sua cabeça uma e outra vez, até que seu
cabelo estava todo molhado. Ela trabalhou o sabão através de seu cabelo e em seu
couro cabeludo. Ele quase gemeu no puro prazer daquilo. Em seguida, ela usou a
concha cheia de água para lavar o sabão. Ele tinha quase caído no sono no
momento em que ele sentiu o pente passar através de seu cabelo e ouviu o primeiro
recorte da tesoura.
Jesse olhou para seu irmão que carregava um balde de amoras. — Pelo
menos eu não andei por aí com um anel azul em volta da minha boca.
Rapidamente, Charles cobriu a boca com a mão e olhou para suas filhas
risonhas, suas bocas pintadas com tons iguais também. — Acho que não deveria
ter comido tantas, hein?
Uma explosão de buzina e o crack de um tiro ecoou na distância e levou os
risos e sorrisos a se esconderem.
— Vou ajudar.
— O inferno que vai. — Ela agarrou seu braço. — Você não está forte o
suficiente ainda.
— Nós não temos escolha. Leve as crianças para o seu quarto e feche a porta.
— A diligência está aqui. Não ouvi mais disparos. — Ele lançou um olhar
furtivo em direção a Maddie enquanto ela se sentava na cama, segurando as duas
meninas perto. — Isso é um bom sinal.
— Isto é?
Ele balançou a cabeça com uma sabedoria que desmentia sua juventude. —
Significa que os ladrões provavelmente se afastaram uma vez que viram que a
diligência estava se aproximando da estalagem. — Ele pressionou seu ouvido
contra a porta.
— Eu aprecio isso.
Ela se sentou no degrau mais alto. Sua perna esbarrou na dele. — Como
você está se sentindo? — ela perguntou.
— Cansado.
— Não.
— Porque quando um homem possui nenhuma alma, você nunca pode ter
certeza. Só porque eu não acho que eles sejam estúpidos o suficiente para atacar
não significa que eles não vão.
Ela puxou as pernas contra o peito e apoiou o queixo nos joelhos virados
para cima. — Você realmente fugiu a primeira vez que você atirou em um homem,
ou você estava apenas tentando fazer Aaron se sentir melhor?
Ele tomou um gole de café, olhando para as sombras que se moviam com a
brisa e as nuvens. — Eu vou te dizer se você responder uma pergunta minha.
Suspirando, ela olhou para ele na noite.
Ela sabia que era tolice colocar tanto poder em suas mãos, e ela não
conseguia entender por que ele queria, mas ela concordou. — Sim.
Ela o ouviu pousar o copo e sentiu seu dedo vindo para descansar sob seu
queixo, virando seu rosto até que ela estava olhando em seus olhos. — Você usa
seu cabelo solto depois de ter tomado um banho?
Ela estava grata pela escuridão cobrindo o profundo rubor colorindo suas
bochechas. — Sim.
Ela observou-o, uma silhueta delineada pela noite, olhando para fora, talvez
olhando para dentro, e ela esperou.
— E você o encontrou.
Ele acenou com a cabeça sabiamente. — Não foi difícil. Atirei no primeiro
homem que eu estive perto o suficiente para atirar. Ele parecia tão surpreso pouco
antes de morrer. Eu não esperava que ele soubesse que eu o tinha matado. Deixei
cair o rifle e corri, mas um oficial da cavalaria Rebelde com um sabre me parou.
— Algum dia.
— Eu amo todos eles, mas sim, Aaron é especial. Ele é tão parecido com
Charles que estar com ele é como recuperar o atraso em todos esses anos em que
Charles e eu estivemos separados.
— Eu fiz um monte de coisas das quais estou orgulhoso, teve momentos que
eu não trocaria por nada. Mas quando você não tem alguém para os compartilhar,
os bons momentos de alguma forma parecem vazios. Foi por isso que era
importante para mim encontrar Charles e Cassie.
Por um longo tempo , ela ouviu o murmúrio suave do vento e pensou sobre
suas palavras. Ele precisava de mais do que Cassie e Charles para compartilhar
seus momentos. Ele precisava de seus próprios filhos, sua própria família. Ela
imaginou um menino de olhos negros de cabelo escuro, mantendo o ritmo com as
longas passadas de Jesse, aprendendo a diferença entre certo e errado ao seu lado.
E também imaginou uma menina com cabelo preto e olhos tão escuros quanto o
chão, derramando chá imaginário em uma pequena xícara de chá para seu pai. Ela
se perguntou sobre a mulher que ele iria escolher para compartilhar sua vida, seus
filhos. Ela sabia que, ao contrário de si mesma, a mulher seria imaculada.
— Eu manterei.
Ela caminhou ao redor da varanda superior para a parte de trás da casa. Seus
olhos se adaptaram à noite, e ela viu Charles escondido no canto. O rifle parecia
fora do lugar descansando em seu colo.
Ela entrelaçou os dedos nos dele. — Me sentindo como uma mãe, eu acho.
Estou preocupada com as crianças. Charles, se as coisas se resumem a isso, eu sei
como disparar um rifle. Não exatamente mas eu posso fazer muito barulho.
Ele a puxou então para a curva de seu ombro e colocou seu braço ao redor
dela. — Eles não vão vir. Jesse e eu já conversamos sobre isso. Se esses bandidos
aparecerem empurraremos o cofre para a varanda. Eles podem ficar com ele.
— Todo o dinheiro no mundo não vale a vida dos meus filhos. — Ele tocou
os dedos em sua bochecha. — Ou a da minha esposa.
— Não, Jesse pode precisar dele para ficar acordado, ele está acostumado a
esse tipo de coisa e eu estou amarrado tão apertado como uma cerca de arame
farpado. Mesmo se você empurrasse a nossa cama aqui para fora e se enrolasse
nela comigo, eu não seria capaz de dormir. Mas você deve ir para a cama.
— Eu prefiro ficar aqui. Eu não estou certa de que sei mais como dormir
sozinha. — Ela se aconchegou contra ele. — Eu não me imagino ser capaz de
dormir, de qualquer maneira.
— Eu estou indo montar com a espingarda para Carter até que atinjam
Austin.
— Isso é uma longa caminhada. Tem certeza que está bem para ir?
~
Mal respirando, Maddie aguçou os ouvidos para qualquer som e tudo o que
podia ouvir era a respiração rítmica de seu marido. Ela argumentou
veementemente contra Jesse ir com a diligência. O homem não tinha nada que
estar fora da cama, muito menos perambulando em todo o país no topo de uma
diligência aos empurrões.
— Por que você não vai ver se ele está com fome?
Maldita Maddie por estar certa. Ele só tinha montado meio caminho para
Austin antes de dizer a Carter que ia que voltar. Carter lhe tinha dito para embarcar
no interior da diligência até que chegassem a Austin mas Jesse começou a acreditar
que ia morrer lá em cima e que se ele ia morrer, queria estar em casa.
Ela bateu uma panela sobre o fogão, seu retumbante estrépito metálico
ecoou por toda a sala. — Eu não gosto de perder o meu tempo e energia.
Ele fez uma careta quando ela bateu outra panela.
— Você monta para fora daqui, sem sequer se importar que todo meu
trabalho duro possa ir para o lixo. — Ela se virou e colocou as mãos nos quadris.
— Da próxima vez, você pode apenas sangrar até morrer.
Quando ela andou até ele, ele agarrou seu braço oscilante e gemeu quando
seus movimentos o congelaram. Ela parou e se ajoelhou ao lado dele.
Ele balançou a cabeça. — Não penso assim. Só não fique brava comigo hoje
à noite.
Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela levantou o olhar para ele. —
Você não tem que ser o grande irmão de todos. Porque não pode se contentar
apenas em ser o irmão de Charles?
— Você poderia tentar — disse ela, com a voz abafada contra sua perna.
— Eu não posso olhar para o outro lado quando um erro está sendo feito.
Ela ergueu o olhar. — Mas isso não estava sendo feito para você.
Seus olhos eram um poço de tristeza e ,de alguma forma, ele sabia que sua
pergunta era de importância monumental, e que os momentos em que ele estivesse
em sua companhia não seriam os mesmos se ele respondesse errado. — Eu nunca
olhei para o outro lado quando um erro foi feito por alguém.
Ele quase desejou que tivesse sido capaz de responder a sua pergunta de
forma diferente.
O ar sensual da noite se agarrou em Jesse enquanto se afastava do riacho.
Sua força estava retornando e seu lado tinha perdido a maior parte de sua
sensibilidade. Ele tinha sido capaz de transportar a banheira até a cozinha mais
cedo e preparar um banho para Maddie. Retardando os passos, ele só esperava que
tivesse ficado longe por tempo suficiente.
Ela girou e seu vestido de chita azul se levantou para revelar suas
panturrilhas nuas. Ela desceu e seu cabelo trançado caiu sobre o ombro. Em
seguida, ela ficou de joelhos e pegou Ranger do chão e o colocou no colo, nariz
para cima, cauda para baixo e esfregou o rosto contra seu pescoço. — Oh Ranger,
você acha que ele vai saber que eu nunca dancei antes?
A porta rangeu quando Jesse a abriu e entrou no celeiro. Maddie virou
abraçada a Ranger até que o filhote gritou. Ela o largou e ele correu de volta ao seu
lugar.
Jesse se agachou à sua frente. Ela estava banhada pela luz de uma lanterna
amarela solitária pendurada no prego em uma viga. Gavinhas úmidas de seu cabelo
beijavam suas bochechas. A fragrância de “Forget-Me-Not” flutuava ao seu redor..
Ela olhou para as mãos cruzadas sobre o colo. — Eu não sei. Às vezes fico
cansada de me sentir tão diferente. — Ela levantou o olhar para ele. — Todas essas
pessoas tiveram essas vidas normais, o tipo de vida que eu sempre quis.
— De que forma?
Seu coração disparou. Ela pensou que dançar com Jesse se pareceria tão
íntimo como um beijo e era uma intimidade que ela não se atrevia a sentir. — Oh,
isso não é necessário.
— Eu quero.
— Bem, não há nada que ele goste mais do que de dançar e eu imagino que
amanhã à noite, ele vai querer dançar com a esposa.
— Você vai sentir os movimentos. Basta os seguir e vai ter que levantar os
olhos porque não posso começar enquanto você está observando os pés.
Ela ergueu o olhar para o centro de seu peito. Ele deu um passo para trás. —
Venha.
Meio sem jeito, ela deu um passo para a frente, para em seguida sair do
abraço, cruzando os braços sob os seios. — Eu não posso fazer isso.
— Tudo bem então, vamos tentar de outra forma. Feche os olhos e finja que
eu sou Charles.
— Porque?
— Porque você fica confortável com ele. Feche os olhos e finja que eu sou
ele ou o vou acordar e lhe dizer para vir aqui e ensinar sua mulher a dançar.
Ele colocou uma das mãos dela em seu ombro, segurou sua outra mão na
dele e a rodeou na cintura com o braço livre. — Agora, finja que eu sou Charles.
— Finja que não são. Imagine que eu pareço amável e compassivo, em vez
de alguém que parece estar cavalgando para fugir do inferno.
Os olhos dela se abriram, capturando a solenidade do rosto a sua frente. —
Isso é o que você pensa, não é? — ele lhe perguntou. — Eu tive mais de um
desesperado me descrevendo dessa forma.
— Não, eu não estou. Agora, feche os olhos e finja que sou seu marido.
Ela fechou os olhos. Imaginar que ele era seu marido era um pouco diferente
de imaginar que ele era Charles. Ela não tinha que fingir que suas mãos não eram
ásperas ou que teve que se esticar um pouco para colocar a mão em seu ombro. A
única coisa que ela tinha que fingir era que ele sabia a verdade e, mesmo assim,
ainda gostava de ser seu marido. Ela ouviu um relincho de cavalo em algum lugar
distante, ouviu uma coruja no celeiro piar das vigas e ouviu um cantarolar suave.
— O que é isso? — ela perguntou em voz baixa.
— É adorável.
Ele voltou a cantarolar. Com a mente com nada além do timbre ressonante
da música que ele criou, ela o sentiu dar um suave passo para trás. Para sua
surpresa, ela o seguiu como se seu pé o tivesse feito a vida toda.
Muito lentamente, ela abriu os olhos e levantou o olhar para ele, querendo
nadar nas profundezas negras de seus olhos.
Um sorriso aliviou seu rosto. — É isso aí. Um homem gosta de olhar nos
olhos da mulher com quem ele está dançando. Isto é uma valsa.
— Eu gosto disso.
Ela estava hipnotizada pela profunda ressonância de sua voz, quase podendo
ouvir os acordes suaves de um violino. Parecia que eles estavam apenas
balançando na brisa como as pétalas de um dente de leão sopradas pela respiração
de uma criança.
— Como você pode pensar em todas as coisas que tem que fazer de uma só
vez: mover seus pés, ouvir a música, respirar?
— Cristo todo poderoso! — Jesse rugiu quando ele pulou para longe dela.
Maddie cambaleou para trás antes de pegar o equilíbrio. E ela estava
respirando agora, respirando com dificuldade.
Jesse passou as mãos pelos cabelos. — Você assustou o inferno fora de mim!
— Você é sortudo por eu não ter uma arma amarrada a minha coxa. Jesus!
Você devia dar a um homem algum aviso.
— Mas isso foi muito mais divertido. Vocês valsam muitas vezes no celeiro
após a meia-noite?
— Nada de “oh” para mim. Você continua dizendo que sabe muito sobre ela.
Assim sendo você deveria saber que ela não sabe dançar, e deveria ter tido tempo
para ensinar para que ela não se sentisse fora de lugar amanhã à noite. Antes de eu
chegar aqui, ela estava tendo aulas com o maldito cachorro!
— Sim, talvez seja melhor. — Sem olhar para para Maddie, Jesse saiu do
celeiro.
Charles a olhou. — Eu acho que foi rude de minha parte interromper.
— Eu sei.
Ele a tomou nos braços e a guiou através dos passos. Suas mãos não eram
ásperas e seus olhos não eram negros. As notas melódicas de um violino não
derivavam em sua mente. Ela não se sentia como se estivesse flutuando no vento.
Mas ele era seu marido. Ela levantou o olhar para ele devolveu o sorriso e
seguiu seus movimentos como ela planejava fazer pelo resto de sua vida.
~
O sol afundou lentamente além do horizonte, criando uma névoa suave de
cores do verão atrasadas através de um céu azul, levando consigo um pouco do
calor que se fazia sentir ao longo do dia.
A carroça rangeu quando rolou pela estrada de terra. Uma roda mergulhou
em um barranco raso. As crianças na parte de trás da carroça gritaram, Charles riu,
e Maddie caiu encostada em Jesse estar sentada ao lado dele no banco. Ele a
firmou com uma das mãos e a ajudou a recuperar um pouco de sua dignidade. Uma
vez firmada, ela alisou a saia e olhou por cima do ombro para a família na parte de
trás da carroça. A família dela.
Ela queria ter ido na traseira com eles mas Charles tinha insistido em que
fosse no banco da frente para que não sujasse o vestido. Ela usava o mesmo
vestido verde esmeralda que vestiu na noite em que conhecera seus amigos e
vizinhos. Não entendia por que Jesse estava guiando os cavalos, por que ela foi
forçada a se sentar ao seu lado. Cada vez que o movimento da carroça a levava a se
encostar nele, ela desejava fervorosamente ter sentado com as crianças.
— Será que Charles lhe ensinou a quadrilha? — Jesse perguntou, seus olhos
focados na frente.
Ele assentiu. — Imagino que ele a vai manter ocupada a maior parte da noite.
Maddie sentiu seu coração despencar. Ela sabia que não tinha nenhuma
razão, nenhum direito de se importar com o que ele havia dito mas se importava, e
a profundidade de seu desapontamento com isso a assustava. Ela tinha um marido.
Não havia nenhuma razão para que Jesse não devesse ter uma esposa.
Aaron uivou. — Mas ela parece um sapo-boi! Soa como um, também!
— Mas é verdade! — Ele chegou mais perto, colocou a palma da mão contra
o rosto de Jesse e virou sua cabeça até que seus olhares puderam se encontrar. —
Você não vai se casar com ela, vai?
— Uma mulher só pode ter um marido e Maddie já está casada com o seu
pai.
— Bem, isso não parece justo. E se uma mulher gosta de mais de um homem?
Jesse quase caiu fora do banco, girou o corpo, e olhou para Charles. — Ele é
seu filho. Por que diabos você não está explicando tudo isso a ele?
Aaron caiu sobre o banco e se contorceu até que ficou confortável. — Por
que isso?
Isso não fazia sentido para Aaron. Se ele quisesse adivinhar não teria feito a
pergunta, para começar.
Jesse estudou o uísque no copo. A cor era perfeita. Ele quase podia ver os
olhos dela. Ele bebeu o líquido âmbar. Ele nunca tinha desfrutado de uma dança ou
de socializar tão pouco em toda a sua vida.
Ele tinha planejado dançar com Maddie pelo menos uma vez mas as
perguntas de Aaron no caminho até lá pôs fim a essas intenções. A última coisa
que queria era chamar a atenção para seus sentimentos por Maddie. Por mais que
ele odiasse, sua melhor tática era a ignorar.
— E isso significa?
Charles tomou um pequeno gole. — Significa que você deve dançar com ela.
Ele se dirigiu para longe do celeiro, para onde Maddie estava. Ele não queria
que Charles soubesse que a qualquer momento poderia ter dito, exatamente, sobre
qual pedaço de palha sua esposa estava. Ele planejava deixar duas ou três danças
passarem e então, casualmente, a buscar como se a idéia de dançar com ela tivesse
acabado de lhe ocorrer. Era um bom plano e que teria funcionado se ele não tivesse
visto Thelma Jones agarrando o braço de Maddie, a puxando para o lado, e só
então ele mudou de direção.
~
— Você não acreditaria como fiquei chocada ao ouvir que Charles tinha se
casado.
— Alice era um anjo, tão doce e gentil. Nunca faria mal a ninguém. Sempre
cuidava das pessoas. Charles a amava muito.
— Porque as opiniões delas não são importantes. Você deve fazer as coisas
por causa de como a fazem se sentir e não pelo que as outras pessoas vão sentir ou
pensar.
Ela inclinou a cabeça. — É por isso que você dançou com a viúva Parker?
Pela forma como isso faz você se sentir?
Seguro? Dançar com ela era tudo, menos seguro. Se ela percebesse como a
segurava mais perto do que o adequado, mais perto do que ele segurava qualquer
outra mulher...
Balançando a cabeça ligeiramente, ela desviou o olhar mas não antes dele
ver o brilho de dor refletido em seus olhos. — Será que ele lhe disse o quanto você
está linda hoje à noite?
Ele olhou para ela. Ela tinha aquele sorriso travesso familiar em seu rosto, o
que sempre o fez consciente de que ele realmente tinha um coração batendo dentro
do peito. — Não, ele não disse.
Jesse riu, apertou seu abraço nela e a deslizou por toda a pista de dança.
Era errado desfrutar de dançar com Jesse tanto quanto Maddie desfrutava.
Ela gostava da sensação de sua mão dentro da dele, a maneira como seu corpo se
movia e da forma como seu corpo respondia como se tivessem estado se movendo
juntos desde o início dos tempos.
De repente, ele a puxou para si e parou, a colocou de lado e passou por entre
a multidão de casais dançando. Maddie gritou quando viu Charles cair em uma
mesa distante, a mão batendo em uma lamparina. Ele caiu no chão. O fogo dentro
escapou para inflamar a palha.
— Nunca soube que Charles não fosse capaz de manter seu licor.
Jesse olhou para Ray Turner, o pai de Billy. Foi seu que quase tinha pego
fogo.
— Estarei aqui amanhã para cuidar dos danos.
Ray balançou a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nenhum grande dano
foi feito.
— Não — disse ele enquanto lutava para ficar em pé, embalando seu irmão
nos braços. Ele trabalhou seu caminho através da multidão de curiosos.
Jesse tocou seus cachos. — Ele vai ficar bem. — E rezou para que ele
ficasse. Se virando para Maddie, ele reconheceu o fogo da raiva em seus olhos,
igual ao que ela havia dirigido a ele muitas vezes para não saber o que significava.
— Você quer ir atrás com ele?
Sem dizer uma palavra, ela levantou as saias e foi para a frente da carroça.
Jesse correu a seguiu e a ajudou a subir no assento. Ele tinha a sensação de que ia
ser uma viagem muita longa para casa.
Ele olhou por cima do ombro para Hannah banhada pelo luar. — O que, meu
anjo?
— Maddie, isto está assustado as crianças. Será que você pode segurar
Taylor?
Ele estava agradecido de que ela, sem hesitar, se virou e arrancou Taylor da
parte traseira da carroça.
Maddie abraçou a criança em seu colo, lembrando da primeira noite que ela
sentiu uma decepção tão aguçada por seu pai, um homem que ela nunca tinha
realmente conhecido mas que tinha admirado e amado mesmo assim. Quão difícil
deveria ser para estas crianças, cujo pai estava sempre com elas, saber que era
falível.
— Eu acho que o seu pai só bebeu uísque demais — Maddie falou como
forma de explicação.
Então ela começou a cantarolar uma melodia suave, logo dando voz às
palavras gentis e enchendo a noite com uma doce canção de ninar.
Ele carregou Hannah para dentro e a deitou na cama dela. Maddie já estava
despindo Taylor. — Você vai despir Hannah?
— Maddie?
Rapidamente, ela levantou a mão, seus dedos abertos como se ela não
quisesse nada se intrometendo em sua raiva. — É melhor você ver Aaron.
Não foi até que ele saiu do quarto que Maddie relaxou sua postura
endurecida e enterrou o rosto entre as mãos. Ela queria fazer a Charles o que ele
havia feito para Aaron quando atirou em Jesse. Ela o queria sacudir, colocar sua
mão contra suas costas e perguntar o que diabos ele estava pensando. Ela
estremeceu quando uma visão do que poderia ter acontecido correu através de sua
mente.
Preparar as garotas para a cama levou uma enorme quantidade de tempo por
seus dedos se recusarem a cooperar. Botões foram arrancados do vestido de
Hannah e rolaram pelo chão. Ela ficou surpresa porque não acordou as meninas
com suas tentativas desajeitadas para tirar suas roupas.
Ela entrou no quarto de Aaron. Ele estava deitado sobre a cama, com os
olhos fechados no sono, suas roupas ainda nele, uma bota no chão, a outra ainda
em seu pé. Ela retirou a segunda bota, cautelosamente colocou um cobertor sobre
ele e saiu do quarto.
Ela caminhou até seu quarto parando na porta e viu Jesse tirar a camisa de
Charles como se ele fosse uma criança exausta por passar o dia no circo. Ele
lançou a camisa sem olhar para trás e se moveu para o pé da cama.
Observando ela ir, Jesse passou os dedos pelo cabelo. Ele ouviu uma porta
bater no térreo. Ele certamente entenderia se a mulher nunca mais voltasse. Ele
terminou de despir seu irmão e arrumou a colcha a volta dele. Ficou com ele
alguns minutos observando, escutando sua respiração e achou que preferia
enfrentar uma gangue de bandidos do que Maddie neste momento, mas ele também
sabia que não a poderia deixar passar por isso e sofrer sozinha.
O luar peneirado pelas folhas nas árvores guiou seu caminho. O orvalho já
tinha se estabelecido pela noite e conduziu os passos dela, deixando uma trilha que
ele poderia facilmente seguir. Ele a encontrou no riacho, a lua criando um halo de
prata a sua volta. Ele sentou ao lado dela na rocha coberta de musgo.
Maddie não desviou sua atenção do fluxo do riacho, mas sentiu a presença
de Jesse como se ele a tivesse abraçado. Ela limpou as lágrimas dos olhos e
aconchegou mais o xale..
— Ele não é mais uma criança — disse ela suavemente quando ela olhou
para ele.
Ela balançou a cabeça. — Eu não o posso perdoar por isso. Ele ficou bêbado
depois que nos casamos, e ele me prometeu que não faria isso novamente. Ele
colocou a vida de todos em perigo esta noite. — Ela olhou para ele procurando por
entendimento. — Eu estava tão envergonhada por ter ele ficado bêbado e fazer
papel de bobo. Eu não sei como você o levou para fora de lá com tanta dignidade.
Com o polegar, ele removeu uma lágrima brilhando de sua bochecha. — Ele
não é um bêbado, Maddie.
Jesse passou as mãos pelos cabelos. — Ele não é um bêbado. Droga. Droga
— ele sussurrou, como se qualquer luta que fosse lutado já estivesse perdida. —
Eu disse a ele para lhe dizer. Ele não tinha nenhum direito...
Ela sentiu seu coração guinar, sua garganta dar um nó. Ela balançou a
cabeça e apertou sua mão como se pudesse afastar as palavras que ele tinha falado.
— Ele não pode estar morrendo. Ele parece bem. Ele está completamente bem. E
isso não aconteceu desde que nos casamos...
— Já aconteceu... Várias vezes. Ele recebe essas dores em sua cabeça.
Quando elas ficam muito ruins, ele desmaia. Você não percebeu o quão fraco é o
seu lado esquerdo? Quando ele está segurando você, não percebe que ele não tem
força?
— Eu apenas pensei que era porque ele não trabalhava tão duro como você e
porque não era tão forte.
Sua negação de suas palavras foi abafada por seus soluços. Ele a tomou nos
braços e a consolou, não usando palavras, apenas sons suaves de conforto.
— Ele não pode morrer. Eu não quero que ele morra — ela forçou para fora
através de sua dor.
Ele embalou seu rosto em suas mãos. — Ah Maddie, você o ama então? —
ele perguntou com voz rouca enquanto seus lábios se arrastavam sobre seus olhos,
suas bochechas, provando o sal de suas lágrimas.
De seu cabelo, ele tirou os grampos, um por um, permitindo que as tranças
de mel caíssem sobre seus ombros, para derramar em suas mãos grandes quando
ele a deitou na margem coberta de musgo e esticou o corpo ao longo do dela.
Ele ergueu a boca da dela e olhou para o seu amado rosto, banhado pela luz
da lua cheia.
Seus olhos eram negros como o riacho, e Maddie pensou que preferia nadar
na lagoa de seus olhos do que em quaisquer águas. — Há tempos — ela disse
suavemente — que eu gostaria que tivesse sido você quem desse o lance sobre
mim em Fort Worth.
Ele roçou os lábios ao longo de suas bochechas, seu queixo, a ponta de seu
nariz, os olhos fechados. Em seguida, ele lançou um suspiro trêmulo e aninhou o
rosto na curva de seu pescoço. Ele beijou o ponto sensível atrás da sua orelha,
sentindo os arrepios viajarem através de seu corpo. Lentamente, ele desabotoou a
gola alta de seu vestido, arrastando beijos ao longo de seu pescoço até que ele
pudesse mergulhar a língua na cavidade na base de sua garganta.
— Isso é errado — ela sussurrou. — Charles é meu marido.
Sua boca desceu para cobrir a dela, comunicando silenciosamente o que ele
não tinha direito de expressar em voz alta. Ele roçou os lábios nos dela, sua língua
mergulhando profundamente.
Ela ficou de pé e correu. Ela o ouviu chamar o nome dela, o imaginou atado
à dor que igualmente perfurava seu próprio coração. E ela correu muito mais
rápido.
Charles lutou para não acordar. Além de seu desconforto habitual, uma dor
surda tinha se estabelecido na altura de sua testa. Ele tocou o galo endurecido e
estremeceu com a sensibilidade. Tentou se lembrar, incapaz de recordar muito da
noite no baile.
Ela assentiu com a cabeça ligeiramente. Ele estudou sua expressão, seus
olhos se enchendo de conhecimento. Ele cerrou os dentes. — Jesse disse a você,
não foi?
— Sim.
— Maldito! Droga ele não tinha o direito! — Ele lutou para ficar em pé,
jogou as cobertas de cima dele para para o lado, para em seguida as jogar de volta
sobre os quadris. — Quem diabos me despiu?
— Jesse.
— Você poderia por favor me dar algumas roupas? Eu não posso estar
indignado quando estou totalmente nu.
Ela caminhou até a cômoda. Ela supôs que sua modéstia fosse o resultado de
seu acidente. Mesmo que ele a segurasse à noite, ela só estava familiarizada com
seu ombro e braços. A parte inferior de seu corpo nunca entrou em contato com a
dela, o que a fez perceber que era sem dúvida uma fonte de embaraço para ele ter
um corpo que nunca mais reagiria da maneira como o de Jesse reagiu ontem à noite.
Ela pegou algumas roupas, as levou para a cama, e se sentou as segurando
firmemente em seu colo. — Por que você não me disse?
— Porque?
— Maddie...
— Eu amo as crianças.
— Eu sei que você ama. — Embalando seu rosto com as mãos, ele a levou
para longe de seu ombro, seus olhos segurando os dela. — Você não tem que ficar.
O nosso casamento não foi consumado. Uma anulação seria bastante fácil de se
obter. Você poderia ir para outro lugar, começar de novo. Eu cuidaria para que
você tivesse os meios para isso.
— Você tem alguma ideia do quanto muito mais fácil você já tornou isso?
Você ama meus filhos como se fossem seus próprios. Esse é o presente que eu
queria deixar para eles, Maddie.
Ele lhe deu um sorriso suave. — Eu não tenho medo da morte, mas eu tenho
medo de Alice não estar lá esperando por mim, que eu não a vá ver, que ela não
esteja comigo. Eternidade sem a minha Alice certamente seria o inferno.
Suavemente, Maddie acariciou sua bochecha. Ele pegou a mão dela, virou a
palma para ele, e deu um beijo em seu centro. — Algum dia, Maddie, eu espero
que você encontre o tipo de amor que eu compartilhei com Alice. Não há maior
presente do que receber o amor em igual medida.
~
Jesse levou Meia-noite para a cocheira e colocou aveia na calha antes de
remover a sela do cavalo. — Jesse?
Ele não precisava ouvir a voz de Maddie para saber que ela estava atrás dele.
Ele depositou a sela sobre a grade da baia e se virou lentamente. Suas mãos
estavam à sua frente, os olhos cheios de tristeza.
— Houve muito dano feito ontem à noite no celeiro dos Turners? — ela
perguntou.
— Não, e eu cuidei do pouco que houve.
Ela assentiu com a cabeça, e ele percebeu que os nós dos dedos em suas
mãos estavam ficando brancos.
~
Charles passeava pela grama alta. Ele tinha deixado as crianças e Maddie no
riacho. Ela sugerira o passeio durante o café da manhã, o que tornou perfeitamente
claro que Jesse não era bem-vindo para se juntar a eles. A atitude dela o havia
confundido.
E Jesse não tinha esclarecido isso também. Quando ele argumentou a favor
de Jesse ir com eles, este tinha sido veementemente contra.
— E?
— E o que?
— Eu poderia.
— Quando?
— Como diabos eu vou saber? Eu não sou como você. Eu não tomarei uma
mulher apenas porque o vento mudou de direção.
— Eu poderia.
— Não você não vai. — Ele bateu com a mão no corrimão. — É exatamente
por isso que eu me casei com Maddie.
— Porque eu conheço você, e eu sei que você vai pensar sobre isso até que
seja um homem velho e meus filhos iriam crescer sem saber o que é ter uma
mulher ao redor.
— Sim, bem, você já parou para pensar que talvez você pode estar errado, e
eu poderia ter uma esposa? Então eu teria que viver com as duas mulheres sob o
mesmo teto.
Jesse bateu seu sétimo prego na mesma peça de madeira. Um tornado não
seria capaz de quebrar um pedaço de madeira desse poste. — Isso não seria justo.
Ela ama os seus filhos. Eles a adoram, também.
— Como você se sente sobre ela?
— Maddie?
Charles lutou contra o seu sorriso. — Não, a viúva Parker. Sim, Maddie.
Jesse deu de ombros. — Não tenho sentimentos sobre ela de uma maneira..
ou de outra. Ela é sua esposa...
Jesse saltou por cima da cerca e correu na direção das árvores. Charles
achou que era uma coisa boa Jesse não ter nenhum sentimento por Maddie,
levando em conta o quão rápido o homem correu e que ele não foi capaz de manter
o ritmo dos passos frenéticos de Jesse.
~
— Que diabos você está fazendo? — Jesse rugiu.
— Deveria ter visto ela trepando nessa árvore, tio Jesse. Ela estava muito
bem até que olhou para baixo.
Sem fôlego, Charles correu para a clareira. Jesse virou e apontou um dedo
acusador em direção ao topo da árvore de carvalho gigante. — Você vê a sua
esposa?
Charles apertou os olhos contra o sol filtrado através das folhas abundantes.
— O que ela está fazendo lá em cima?
— Você é mais forte do que eu. Por que você não vai lá e a entrega para
mim?
Jesse lhe deu um olhar gelado. — Eu sei como subir em uma árvore.
— Eu não sabia. Papai disse que você nasceu totalmente crescido, que você
nunca foi um menino. Eu não sabia que os homens totalmente crescidos subiam em
árvores.
— Eu irei!
— Eu!
Ele olhou para os dois rostos expectantes e toda a sua irritação se dissipou.
Ele pegou cada menina sob o queixo. — Assim que eu trouxer a mãe de vocês para
baixo.
Ele balançou para o menor ramo da árvore e então ele pegou o que estava
acima dele e se levantou. Ele não podia imaginar como Maddie tinha subido até lá
em cima da árvore. Ele sentiu a casca grossa raspar sob seus braços, mãos e pés.
Talvez em gratidão, ela colocaria pomada em seus cortes. Ele balançou o
pensamento para longe. Ela deixou a sua posição perfeitamente clara naquela
manhã. Agora era a sua vez de ser indiferente.
Mas uma vez que ele chegou ao galho e o montou, pressionando as costas
contra a casca da árvore e observou a figura de bruços, ele sabia que não poderia
ser indiferente a ela mais do que ele poderia fazer as águas do riacho pararem de
fluir.
— Eu não posso.
— Basta se mover como se você fosse uma lagarta que rasteja para trás! —
Aaron gritou para as copas das árvores.
Ele suspirou. — Se o medo traz o seu sotaque à tona também, como é que eu
nunca sei se você está com raiva ou medo de mim?
Ela deu um suspiro profundo. — Para você, tudo, todo mundo é bom ou
ruim. Você não entende que às vezes boas pessoas fazem coisas más, pessoas más
fazem coisas boas. — Forçando um olho aberto, ela olhou para ele. — Você já fez
algo ruim, algo que teve vergonha de fazer, algo que se você pudesse fazer de novo
faria diferente?
— Eu ia cair.
— Você não ia cair. Eu não vou deixar você cair. Agora nós vamos balançar
sua perna para a esquerda. — Ele enfiou a mão debaixo de sua coxa, guiando sua
perna por cima do ramo, movendo os quadris até o lado dela estar pressionado
contra seu peito. — Agora embrulhe as mãos em volta da minha mão.
— Você vai ficar no meu pé e então eu a vou abaixar para Charles. Você
pode ter uma pequena queda, mas isso deve amenizar a maior parte do impacto.
Deslizando o outro braço debaixo de seus braços, ele a tirou do ramo até que
seu pé descalço tocou o dele.
Maddie sentiu o calcanhar de seu pé esfregar toda a parte superior do seu pé,
criando uma sensação mais íntima do que quando a pressionou contra o peito. Uma
imagem deste homem na cama, seu pé buscando o seu, lhe veio à mente. Ela
fechou os olhos. Ela nunca procurou os pés descalços de Charles no meio da noite.
Seu pé se afastou do dele enquanto ele tirou a mão de debaixo de seus braços
e a baixou mais. Ela balançou no ar.
Ela respirou fundo, seu corpo ficou tenso, e gritou quando os dedos de Jesse
deslizaram para longe dos dela. Ela sentiu os braços de Charles irem ao redor dela
antes de que ambos caíssem ao chão.
Charles riu quando ela rolou de cima dele. — Você pode abrir os olhos
agora.
— O que levou você a subir em uma árvore, se você estava com medo do
alto? — perguntou Charles.
— Eu não fazia idéia que ficaria com medo. — Ela ficou de pé e olhou para
a árvore. — Certifique-se de que a corda esteja amarrada bem apertada!
— Sim, senhora!
Aaron foi até o galho mais baixo que se espalhava sobre a água, agarrou a
corda, e com uma pequena agitação, se balançou sobre as águas do riacho. Ele
soltou a corda, gritou, e caiu na água com um poderoso respingo. Jesse sorriu
enquanto Charles subia no ramo.
Taylor deixou o grupo e veio para ficar diante dele. — Faço bolo Ponja?
Ele abaixou seu corpo. — Talvez mais tarde. Agora, por que você não vai
aproveitar o riacho?
Um sorriso de alegria iluminou seu rosto antes que ela corresse de volta para
a margem. Pegando suas botas, Jesse desdobrou o corpo e começou a caminhar de
volta ao trabalhos Ele ouviu o grito de Maddie de prazer, seguido de um “splash”
distante. Apressando o passo, ele se obrigou a manter o olhar focado no horizonte
distante, manter seus pés se movendo em direção a uma cerca que não seria
concluída até que o peso dos anos dobrasse suas costas.
O suor escorria por sua têmpora. O pensamento das águas frescas do riacho
o tentou. O riacho era longo e sinuoso com outros lugares projetados pela natureza
para a natação. Talvez ele trabalhasse na cerca um pouco mais e daí fosse procurar
um novo lugar para nadar.
Ele ouviu o sussurro do vento e sorriu. Quase soou como Maddie chamando
seu nome. Então ele ouviu o seu nome de forma mais clara, não deixando nenhuma
dúvida de que era a voz dela atrás dele.
Ele se virou para a ver se aproximando, sem fôlego e molhada até os ossos
pelas águas do riacho.
Ele não tinha certeza se foi o jeito que ela estava olhando para ele ou ele
estar em pé à sua frente com pés descalços que o fez se sentir tão vulnerável
naquele momento. Ele desejou que tivesse gasto um tempo para colocar as botas
para que ele soubesse. Ele deu outro passo para trás. — Eu realmente preciso
trabalhar um pouco na minha cerca.
Ela deu dois passos para a frente. — Por favor, fique. Charles e as crianças
querem você aqui.
— Eu não quero passar o dia subindo em árvores apenas para ter a sua
companhia por um tempo.
— Eu quero que você seja feliz, e eu poderia dizer que você não estava sem
que ele estivesse aqui.
— Você sempre vai compartilhar as crianças com ele, não vai? Ele estaria
perdido sem elas.
Ela viu a luz pálida escapando para o corredor por debaixo da porta do
estúdio. Levantando a luz, ela o percorreu tranquilamente e pressionou o ouvido
contra a porta. Ela não podia ouvir qualquer som. Preparada para travar uma guerra
se ela descobrisse que Silas havia retornado, virou a maçaneta, abriu a porta e
olhou para dentro.
Jesse estava debruçado sobre papéis e livros espalhados pela mesa. Ele fez
anotações, pegou uma folha de papel, a estudou, deixou cair e escreveu indicações.
Seu cabelo estava desgrenhado e ela podia ver os sulcos que seus dedos frustrados
tinham feito nos fios grossos. Era muito mais de meia-noite e lhe ocorreu que ele
nunca ia dormir quando eles o faziam, ocupado com algum trabalho e que, ao
amanhecer, já estava acordado executando tarefas, muito antes de qualquer outra
pessoa.
Fechando os olhos, ele abaixou a cabeça, suspirou profundamente e esfregou
a parte de trás do seu pescoço. Ele rolou a cabeça de um lado para o outro e para
trás.
Jogando o lápis para baixo, ele forçou um sorriso cansado. — Eu acho que é
hora de você aprender a verdade. Texas Rangers mentem.
— Você faz tudo isso. — Ela afirmou, fato que ele não negou.
— Parece mais importante para Charles passar o tempo que lhe resta com as
crianças. — Seus olhos nos dela. — E sua esposa.
Ela sentiu o calor lavar seu rosto. Aquela verdade estava sempre entre eles.
Ela era casada com seu irmão.
— Você não parece muito satisfeito com os números que estava escrevendo.
Caminhando para a janela, ela olhou para a noite. — Talvez você possa me
levar de volta para Fort Worth. Talvez eles dêem de volta o seu dinheiro.
Ela piscou as lágrimas. Ela esperava que ele depreciasse seu valor, e não que
o melhorasse.
Ele a estudou, seu olhar negro penetrante. — Você sabe quem matou seu pai
e seu irmão?
— Caçador de recompensas?
Ele se encolheu quando o nojo marcou seu rosto. — Eu não vejo um monte
de escolhas. Texas Rangers não fazem um inferno de muito dinheiro. Levei anos
para economizar dinheiro suficiente para poder começar um rebanho. Eu não tenho
anos. Acho que se eu visar dois ou três alvos com boas recompensas neles...
— Você matou!
— E há uma diferença?
— Sim, senhora, há. E eu acho que você sabe muito bem qual é.
— Eu não vou ficar em uma casa que é mantida com o dinheiro de sangue.
— E o que diabos você estará fazendo, Maddie? Você vai ter três filhos
pendurados em suas saias onde quer que vá. Você aprendeu alguma habilidade
desde que deixou Fort Worth?
Ela andou até o outro lado da sala, colocou as palmas das mãos sobre a mesa
e se inclinou em direção a ele. — Sim, de fato, eu aprendi. Eu vou correr para uma
estalagem em outro lugar.
— Você não está me ouvindo. Estalagens estão fechando por todo o estado.
Estalagens em cidades maiores estão se convertendo em hotéis, se há algo na
cidade para atrair as pessoas. Caso contrário, eles estão fechando, também.
— Se você acha que talvez vá encontrar algum outro homem morrendo tão
desesperado como Charles...
— Vá para o inferno.
— Maddie, por favor. — Sua voz ecoou com um desespero que ela nunca
tinha ouvido nele antes.
Jesse partiu antes que ela pudesse emitir quaisquer novos protestos. Ela
fechou a porta e olhou para o marido dormindo e se perguntou como ele se sentiria
se soubesse que sua esposa estava se esgueirando com seu irmão nas primeiras
horas da manhã.
— Então vamos. — Ele pousou o copo, abriu a porta e esperou que ela
passasse. Relutantemente ela fez isso. Fechando a porta atrás deles, Jesse andou
pela varanda de trás e pulou para o chão. — Vamos. Temos que nos apressar. —
Com certeiros passos largos, ele se dirigiu para a floresta.
Maddie correu atrás dele. Quando o alcançou, ele estendeu o braço para trás,
envolveu sua mão ao redor da dela e a guiou através da floresta escura.
Seus passos eram propositais, intencionais. Era óbvio que ele estava
familiarizado com o caminho na escuridão.
Jesse parou e Maddie se viu numa clareira. O que quer que estivesse diante
dela era invisível, ainda envolto nas sombras da noite. Se agachando, ele a puxou
para baixo ao lado dele, deslizou o braço por trás dela, apertando a mão na cintura
dela, se inclinando contra seu quadril, a estabilizando. E por um longo tempo eles
esperaram em silêncio, com os olhos treinados no horizonte distante.
Ela estudou o perfil do homem que ela veio a amar e, pela primeira vez, não
sentiu culpa pelos sentimentos que nutria por Jesse. Seu amor por ele era tão bonito
como o nascer do sol. E o seu sonho. Ela queria que ele tivesse seu sonho.
— Quando você irá embora? — ela perguntou em voz baixa, sua voz
transmitindo a compreensão e aceitação da sua decisão, seu coração se expandindo
para além dos seus limites, porque era importante para ele que lhe desse tanto. Ela
viu sua garganta trabalhar quando ele engoliu em seco.
— No fim de semana.
Ela não podia fazer mais do que assentir e rezar para que a realização do
sonho dele não significasse a morte dela.
— Esperemos que não por muito tempo. Vou atrás daqueles com as maiores
recompensas.
Daqueles. Ele não se referia a eles como homens, e ela percebeu que ele não
queria pensar neles como homens, que o pensamento dele estar pensando assim era
tão desagradável para ele como era para ela. E no entanto, sonhos exigiam
sacrifícios. Mesmo o mais magnífico dos sonhos, a pessoa tinha que estar disposta
a se dar, a fim de o possuir.
— Eu vou ter cuidado. E eu vou voltar. Meus sonhos estão aqui, Maddie.
Tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu já procurei... Eu encontrei aqui mesmo.
Ela pensou que ele a iria beijar, de tão intenso que era seu olhar, tanta
saudade estava espelhada em seus olhos, mas ele não o fez. Em vez disso a puxou
com mais segurança a seu lado e olhou para a terra novamente.
~
A diligência parou no crepúsculo. Jesse se esticou acima do apoio para os
pés e ajudou o cocheiro a pegar as bagagens que iriam abaixo. Maddie se
aproximou dos passageiros descendo ao lado da diligência. Uma mulher roliça
acariciou seus seios generosos com um lenço de renda.
Um homem que estava a seu lado riu. — Você está sempre quente, Lilly.
Ela apertou seu braço com força suficiente para o mandar cambaleando para
trás. — Pelo que você deve sempre ser grato, Thomas. — Sorrindo brilhantemente,
ela se virou para seu público. — Ele está, é claro, se referindo ao fato de eu ter
estado exposta ao sol na diligência. — E seus olhos se arregalaram. Com um
floreio, ela correu para o carro e prendeu suas garras pintadas em volta da coxa de
Jesse. — Senhor, senhor, eu lhe imploro. Essa é a minha bagagem. Por favor, tome
cuidado com ela.
— Não, minha senhora, mas eu acho que seus olhos poderiam lhe ter dito
isso tão facilmente quanto sua mão.
Timidamente, ela olhou para ele através de seus cílios grossos. — Mas não
teria sido tão divertido, não é?
Maddie com força limpou a garganta. Lilly gritou e pulou para trás, com a
mão na garganta. Maddie produziu seu mais doce sorriso. — Por favor, me permita
a familiarizar com a nossa casa e mostrar onde você pode se refrescar depois de
tanto tempo nesta viagem quente.
Lilly lançou um olhar por cima do ombro para o homem que agora estava
rindo. — Deveria me ter dito que era casado. Eu não mexo com homens casados.
— Ela cuspiu fora as palavras e se juntou aos outros passageiros, enquanto Maddie
os conduzia para dentro da casa.
~
Aaron jogou a vara que estava a uma curta distância dele. Ranger avançou,
rosnou para o objeto ofensivo, estudou, latiu, o pegou na boca e correu de volta
para o lado do menino.
— Bom cachorro. — Ele bateu na cabeça do filhote e jogou a vara para que
ele pegasse um pouco mais longe do que tinha feito antes. Ranger efetuou a mesma
rotina antes de trazer a vara de volta para Aaron.
Aaron virou sobre os pés traseiros e olhou para o homem bem vestido. Ele
era quase tão alto quanto o tio Jesse. — Sim senhor.
— Ranger.
— Eu lhe dei esse nome pelo meu tio Jesse. Ele era um Texas Ranger.
O homem pegou a vara de Aaron e a jogou. — Então ele seria o homem alto
com o cabelo preto.
— Aaron.
— Sim, senhora. — Ele olhou para Paul Somner. — Tenho que fazer o que
mamãe diz. Papai realmente falou sobre isso. — Ele ficou de pé e começou a
correr. — Vamos, Ranger!
Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Se você me desculpar por parecer tão
indiscreto reparei que dificilmente seja velha o suficiente para ter um menino
dessa idade.
Maddie sentiu o calor aquecer seu rosto. — Meu marido foi casado antes.
— Obrigada.
— Não.
Ele sorriu. — Gosto de ouvir o barulho da onda na costa. Acho que deixaria
memórias agradáveis.
— Parece adorável.
— Talvez mas ela passou algum tempo no Oceano Atlântico. Eu suponho
que o Golfo do México não é muito diferente. E sobre Fort Worth ou Dallas? Há
alguma coisa de interessante lá?
Ela balançou a cabeça. — Não, minha vida tem sido sempre bastante
simples e clara.
— Mas antes de você se casar, nunca fez algo mais do que isso?
— Tenha cuidado quando você estiver servindo a Senhorita Lilly para não
derramar nada desse guisado n ela — Jesse brincou.
Lilly estava mais uma vez enxugando o peito, chamando a atenção de cada
um para seus generosos dotes. Maddie ficou repugnada por ver a platéia extasiada
com a mulher incluindo seu marido e seu cunhado. Jesse e Charles trocaram
sorrisos adolescentes, e ela estava tentada a deixar a tarefa de cuidar dos hóspedes
em suas mãos.
Sentado em frente a ela, Paul Somner sorriu. — Paul. Por favor, me chame
de Paul. Viajar de diligência cria uma intimidade entre os passageiros que a
viagem de trem não faz.
Ela lhe lançou um sorriso. — E você me parece ser um homem que prefere a
intimidade.
— Não, senhora.
O som de uma tigela caindo no chão e quebrando em mil pedaços ecoou por
toda a sala. Charles deixou a água espirrar sobre a mesa enquanto o copo que
estava segurando caía, antes que corresse para se juntar a Jesse e Maddie.
Ela estava de joelhos, lutando contra as lágrimas, seus dedos trêmulos
pegando os restos quebrados. — Oh, eu sinto muito.
— Oh, mas importa. Era tão bonito. Eu fui descuidada. Era tão bonito.
Importado da Inglaterra. — Seu olhar permaneceu paralisado no chão, no ensopado
salpicado, e nos pedaços quebrados da porcelana.
Ela ergueu a cabeça. Jesse estava totalmente despreparado para o puro terror
refletido em seus olhos. Gentilmente, ele lhe apertou o ombro. — Eu sei que você
nunca esteve apaixonada pelo meu guisado e que você estava tentando poupar
essas pessoas de o comer, mas eu temo ter feito o suficiente para durar até dez
acidentes.
Ela cobriu a boca com a mão trêmula quando o terror recuou e o profundo
alívio tomou conta dela. As lágrimas correram em seu rosto enquanto tentava rir
mas os sons que saíram se assemelhavam mais a soluços. Jesse se inclinou para
trás. Charles colocou os braços em volta dela e a ajudo a a se levantar. — Vamos,
Maddie. Temos outras tigelas. Eu jamais gostei dessa, de qualquer maneira.
~
Fechando a porta atrás dela, Maddie pisou na varanda dos fundos. Limpar a
sala de jantar e cozinha depois do jantar pareceu demorar uma eternidade. Ela tinha
sido incapaz de fazer suas mãos funcionarem. Sua mente estava absorvida com
pensamentos do homem da Agência Pinkerton, tentando lembrar exatamente do
que ele lhe perguntou mais cedo, que resposta ela tinha dado. O homem
provavelmente nem sequer estava noivo, simplesmente havia usado o artifício para
determinar com que partes do estado estava familiarizada.
Ela sabia que várias empresas de diligência levavam os roubos contra seus
cocheiros como uma afronta pessoal. Ela caminhou até o parapeito, apertou suas
mãos nele e respirou fundo. Uma pessoa sempre pagava quando injuriava outros.
De uma forma ou de outra, elas sempre pagavam.
— Eu estava indo pedir desculpas por antes, quando minha revelação sobre
ser um detetive da Pinkerton a pareceu incomodar.
— Ah, sim, a Senhorita Lilly. Ela é suficiente para distrair alguém. — Ele
limpou a garganta. — As acomodações e comida aqui são excepcionais.
Certamente vale os dois dólares que vou pagar antes de sair amanhã de manhã.
— Bem como ele deveria. — Ele se moveu até ficar de pé ao lado dela,
perto o suficiente para que percebesse o cheiro de limão. Arejado e limpo. Ela o
podia perceber a estudando, podia sentir seus olhos tomando cada detalhe de seu
rosto.
— Você tem olhos incomuns, Senhora Lawson. O tom deles é tal que um
homem provavelmente não se esquece, uma vez que olha para eles.
Jesse saiu das sombras. — E eu não gosto muito de ver Maddie chateada.
Jesse se moveu até que ele estava ao lado de Somner. O homem era de
pequena estatura, e ainda assim não havia nada pequeno em sua forma. — Passei
um monte de anos trabalhando como um Texas Ranger. Eu conheço o olhar de um
homem que está à procura de alguém. Eu conheço o olhar de um homem quando
ele encontra a pessoa que está procurando. Você encontrou quem estava
procurando.
Somner olhou para a noite. Ele tomou uma longa tragada em seu charuto e,
em seguida, lançou três círculos perfeitos de fumaça no ar. — Por enquanto... nada.
Eu tenho uma reputação de oferecer surpresas. Mais de uma pessoa está envolvida
neste caso. Tenho poucas dúvidas de que, eventualmente, todos eles virão juntos.
Quando o fizerem, eu mostrarei minha pequena surpresa.
Jesse se inclinou até que seu rosto esteve perto o suficiente do de Somner
que ele poderia ter dito ao homem de qual plantação veio o tabaco que ele fumava.
— Bem, enquanto você está esperando para mostrar a sua pequena surpresa,
contemple isso. Você faz qualquer coisa para causar àquela pequena mulher
qualquer sentimento de dor ou tristeza e pouco antes de morrer, você vai se
arrepender do dia em que nasceu.
Jesse saiu da varanda e desapareceu para além das árvores. Somner escutou
o vento, fumando seu charuto, e pensou sobre o futuro. Era bom entregar surpresas,
mas esta, ele tinha pouca dúvida, seria a mais gratificante de sua carreira.
~
Em pé diante do riacho, observando o fluxo de águas barrentas, Maddie
ouviu os passos suaves de Jesse. Ela queria virar e se atirar nos braços dele, sentir a
proteção que ele tinha oferecido a tantos durante a sua vida. Mas ele só tinha
oferecido sua proteção àqueles que mereciam, e ela sabia que era uma dos indignos.
Ela riu. — Você não é invencível, Jesse. Aaron provou isso facilmente.
Ele baixou a cabeça para trás, correndo os dedos pelos cabelos, frustrado. —
Você disse que um casamento deve ser construído sobre confiança...
Ela se virou. — Eu nunca me desviei dos votos que troquei com Charles.
— Não, você não fez, mas eu não estou falando de você e Charles. Eu estou
falando sobre você e eu.
— Não existe você e eu. — Ela olhou para seu amado rosto, desejando que a
verdade não fosse tão dolorosa. — E nunca haverá, Jesse.
— Então, pelo amor de Deus, me diga agora. Confie em mim hoje à noite,
antes de eu ir.
Ela passou a ponta dos dedos ao longo de sua bochecha. — Não é uma
questão de confiança, seu sangrento idiota — ela disse suavemente.
Se afastando, ela procurou as águas. Quando ele voltasse e olhasse para ela,
ela seria mais uma vez como era antes e teria que deixar para trás tudo o que ela
amava.
— Você vai mesmo então? — perguntou Charles.
— Eu sinto muito, Jesse. Eu não tinha o direito de não comprar o gado que
você queria.
Ele levou Meia-noite do celeiro para o sol. Olhando para a varanda dos
fundos, sentiu a decepção revolver dentro de seu peito. Ele não esperava que
Maddie estivesse lá, mas droga, ele esperava que ela o fosse ver partir.
Jesse olhou para ele. — Eu irei. — Ele ouviu uma porta abrir e voltou sua
atenção para a casa.
— Eu irei. — Ele tinha mil coisas que queria dizer a ela, uma vida inteira. —
Maddie...
Ela observou Aaron e Ranger correrem atrás dele. Jesse parou e bagunçou o
cabelo de Aaron. Então ele partiu. Ela estava certa de que seus sonhos estavam
sendo levados dentro de seus alforjes.
Charles caminhou até a varanda. — Eu imagino que ele não vai ficar fora
muito tempo.
— Não, eu imagino que ele não vai. — Ela sorriu para o marido. — Você
parece cansado. Por que não vai pescar com Aaron?
— Peixe para o jantar parece bom para mim. Por que não vamos todos?
Pisando fora da varanda, ela pegou a mão de Taylor. — Vamos lá, vamos
ver se podemos encontrar um peixe-gato.
~
Ela era uma covarde.
Lamentando muito, ela fechou os olhos. Ela deveria ter sido honesta com
Charles. Ela nunca deveria ter permitido que ele e seus filhos se importassem com
ela. Ela deveria ter rejeitado sua proposta e voltado para Bev de onde pequenas
crianças de olhos castanhos não iriam olhar para ela com amor. Agora ela iria
destruir a fé deles com a verdade.
Charles era seu marido. Ela lhe diria esta noite o que Jesse, sem dúvida,
descobriria na parte da manhã. Ela se ofereceria para ficar com ele enquanto ele
precisasse dela. Então ela calmamente se entregaria às autoridades. Se ele não
pudesse mais suportar a visão dela, ela iria se entregar amanhã.
Ela se afastou da janela e dobrou a colcha sobre a cama. Ela iria sentir falta
das crianças desesperadamente. Ela sentiria falta de Charles. Enxugando as
lágrimas de suas bochechas, ela sabia que sentiria falta de Jesse acima de tudo. Ela
queria dizer a ele antes que se fosse mas ela não podia... Não depois de todas as
vezes que ele tinha prometido que não iria deixar ninguém ou qualquer coisa mal
ficar impune. A verdade sobre seu passado lhe daria nenhuma escolha além de
quebrar suas promessas, e ela não queria ver aquele conhecimento refletido em
seus olhos.
Se ela não o amasse tanto, pudesse ter dito a ele. Talvez fosse por isso que
podia dizer a Charles agora. Por mais que ela se importasse com ele, Charles não
era o dono de seu coração. Ele pertencia exclusivamente a seu irmão.
Ela ouviu uma tábua ranger e cair em silêncio. Ela olhou para fora da janela,
mas não conseguia ver nada entre as sombras. Ela atravessou o quarto, abriu a
porta um pouco, e olhou para o corredor. Charles deveria ter retornado depois de
verificar lá embaixo. Ela se perguntou se ele tinha tido um de seus ataques e se isso
o que tinha causado o latido de Ranger. Talvez o cão agora estivesse lambendo seu
rosto inconsciente. Ela correu pelo quarto, pegou a lamparina, e se dirigiu para o
corredor. Descendo as escadas, ela olhou ao redor pelos vários cômodos.. Ela
entrou na sala de jantar e viu uma luz pálida vindo da cozinha.
— Você mentiu para mim, menina Maddie — o homem gigante disse, seu
rosto cheio de cicatrizes um testemunho da vida que viveu.
Maddie olhou para Charles sentado em uma cadeira, com as mãos amarradas
atrás das costas, um pano enfiado em sua boca. Desculpas não ditas encheram os
olhos dele, a compreensão encheu os seus. Um movimento chamou sua atenção, e
ela viu o brutamontes gordo conhecido como Walsh. Ele se sentava no chão
passando a mão enorme sobre Ranger.
Semelhante a um búfalo, Silas balançou a cabeça grande como se estivesse
cheio de uma grande tristeza. — O dinheiro não estava enterrado onde você disse,
menina Maddie.
Ele deixou um jorro de suco de tabaco voar e pousar perto de seus pés
descalços. — Talvez. Nós deveríamos ter voltado mais cedo, mas tivemos um
pelotão maldito em nosso rabo perto de um mês e tivemos que ir para o México
por um tempo. Você não teria tirado ele sem nós, não é, menina?
Ele olhou ao redor da cozinha. — Você está vivendo bem, Maddie. Você
deve ter negociado algo por isso. Talvez você tenha desenterrado o dinheiro
sozinha. Talvez esteja aqui em algum lugar. — Ele sacou a arma do coldre. — Em
qual das pernas dele devo atirar primeiro?
— Mas eu gosto dele, Maddie. — Ele esfregou o cão contra sua bochecha.
— Eu quero ficar com ele.
Ela colocou as mãos nos quadris. — Eu sou a única que sobrou que sabe
onde meu pai enterrou aquele cofre. É melhor me manter um pouco feliz.
~
Charles lutou contra a corda que irritava seus pulsos. Ele puxou tenso e
pensou em derrubar a cadeira, mas não ganharia nada além da língua de Ranger em
seu rosto. Ele deixou cair o queixo contra o peito. Pensamentos retumbaram em
sua mente como uma tempestade invadindo a luz do sol. Como ele podia ter estado
tão errado? O que ele iria dizer às crianças?
Ele não queria sobrecarregar o seu filho, mas, no momento, ele não viu outra
escolha. Ele não tinha nenhum desejo de confiar este assunto ao xerife local ou ter
vizinhos intrometidos perguntando. Ele acordaria Aaron e explicaria apenas o
suficiente para que o menino ficasse alerta, mas não com medo. Ele o deixaria
observando as meninas, enquanto ele ia até Austin. Ele e Jesse poderiam estar de
volta antes do anoitecer. Ele ia ter Jesse em um dia atrás dos homens que tinham
levado Maddie, mas conhecendo o irmão, Charles sabia que um dia não faria
diferença.
~
Jesse estava sentado na cadeira com a mão cobrindo o queixo. Adormeceu
um par de vezes durante a tarde, mas as imagens dos homens procurados por
homicídio continuaram se intrometendo em sua paz. Ele tinha montado a maior
parte da noite voltando para a estalagem, sabendo que deveria estar em movimento
agora, mas estaria condenado se saísse antes de Charles acordar.
— Por volta do meio-dia. Encontrei você no fundo das escadas coberto com
uma manta.
— As crianças?
— Eles estão bem. Eles comeram bolo esponja no café da manhã, em
seguida, mantiveram vigília ao seu lado. Aaron estava com medo de procurar ajuda,
com medo de deixar as meninas.
Alarmado com a renúncia que ouviu na voz de Jesse, Charles abriu os olhos.
Jesse tocou na ferida aberta em seu pulso. — Quer me dizer o que aconteceu aqui?
Jesse saiu da cadeira para o outro lado do quarto, passando as duas mãos
sobre a janela e olhou para fora sem nada ver.
— Eu não diria exatamente que ela estava disposta. Eles disseram que ela
sabia onde estava enterrado algum dinheiro e ameaçaram atirar em mim se ela não
lhes dissesse onde ele estava.— Quando Jesse não respondeu, Charles se forçou a
fazer a pergunta que não estava certo de que queria respondida, com medo de que
já soubesse a resposta. — O que você descobriu em Austin?
— Silas e Walsh?
Jesse jogou a cabeça para trás e passou seus dedos pelo cabelo. — Eu não
sonharia com isso.
— Gostaria de saber por que Maddie nunca mencionou que tinha um outro
irmão.
— Porque ela não tinha outro irmão. — Jesse jogou o papel em cima da
cama.
Charles segurou o olhar firme de seu irmão. — Eu acho que se uma mulher
tivesse uma escolha entre entrar no salão de Bev ou rastejar em suas mãos e
joelhos para um cofre cheio de dinheiro, ela rastejaria.
~
Com a leveza de uma sombra, Jesse se aproximou da cabana escondida
dentro do matagal. Ele estava atrás deles há três dias. O crepúsculo o rodeava. Ele
sabia que seria vantajoso esperar até o raiar do dia, para pegar inconscientes na
primeira luz. Essa é a maneira que ele tinha sido ensinado a fazer as coisas.
Balançando a cabeça, ela lutou para se sentar. — Eu não sei onde está o
dinheiro, Silas.
Silas a bateu no chão e Jesse se sentiu ferver. Ele tocou no revólver e freou
sua raiva. Agora não era o momento de perder o controle de suas emoções. —
Walsh, me consiga uma corda.
Jesse observou o outro homem sair da cabana. O homem maior se ajoelhou
sobre Maddie, agarrou seu cabelo e o puxou para cima. — Eu sei maneiras de fazer
você falar. E lhe dou a minha palavra que antes desta noite acabar, você vai me
dizer onde o dinheiro está enterrado, e você estará malditamente contente de o
desenterrar para mim.
Jesse afastou-se da janela e ouviu algo estalar sob sua bota. Ele olhou para
os dois pequenos galhos mantidos em conjunto com um pedaço de corda para que
eles formassem uma cruz. Voltando sua atenção para a tarefa em mãos, ele
continuou andando e começou a fazer seu trabalho.
Maddie sentiu como se ela fosse uma boneca de pano, quando Silas a
colocou sobre a cama no canto do quarto individual. Ela a arrastou e pressionou as
costas contra a parede.
— Walsh certamente está levando muito tempo — disse Silas quando soltou
o cinto da arma e o deixou cair sobre a mesa. — Provavelmente esqueceu o que
diabos eu mandei ele fazer. — Sua boca formou um sorriso distorcido conforme
ele passou os olhos sobre ela.
— O quê? Você não vai me dizer onde está o dinheiro? — Ele agarrou seu
tornozelo e a puxou para a cama. Ele caiu em cima dela, capturou seus pulsos com
uma mão carnuda, e os segurou acima de sua cabeça. A outra mão percorreu
insolentemente seu corpo.
Sua respiração era quente e rançosa, enquanto ele deslizava a boca através
de sua garganta. Profundamente, Maddie gritou, mas ela sabia que expressar seu
horror só iria inflamar sua luxúria e violência. Ele levantou sua camisola e com um
pequeno gemido conseguiu libertar suas algemas. Ele riu e enfiou os dedos em
suas nádegas. Ela ouviu um baque de corda no chão, grata por Walsh ter voltado a
tempo.
— Você pode ficar e assistir, Walsh — Silas rosnou sem levantar a cabeça
de onde estava enterrado ao lado de sua garganta — ou você pode sair, mas se você
me impedir de a tomar neste momento, eu vou te matar.
Se esforçando para levantar, Silas agitou seus braços atarracados. Jesse deu
um golpe sólido no intestino do homem e depois outro no centro de sua face. Silas
caiu no chão com um baque retumbante. Jesse pegou os grilhões e rolou Silas de
costas. Ele apertou suas mãos e pés nas algemas antes de o arrastar pelo chão de
terra. Ele deixou em um canto e caminhou de volta para a cama.
Enrolada em uma bola, Maddie olhou para ele. Carne inchada e contusões
pretas marcavam um lado de seu rosto. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto
ele gentilmente tocava sua carne abusada. — Eles não vão te machucar mais,
Maddie. — Ele estendeu a arma na direção dela. Ela levantou os olhos do cano da
arma para seu rosto endurecido. — Segure a arma. Se ele se mover uma polegada,
mate. Eu tenho o outro algemado do lado de fora. Eu quero ele aqui onde eu o
possa ver.
Com a confusão marcando seu rosto, Walsh tropeçou na frente de Jesse. Ele
andou e caiu ao lado de Silas. Jesse pegou uma corda.
— Atire nele, menina Maddie — Silas insistiu. — Atire nele ou você vai
cair junto com a gente. Você estava lá, menina, quando matamos o primeiro. Isso
faz de você tão culpada quanto nós.
De costas para ela, Jesse envolveu a corda em volta dos homens como se
Silas não estivesse falando. Ela sentiu como se alguém tivesse cortado seu coração.
Ele confiava nela, e por algum motivo que ela não conseguia explicar, doía que ele
confiasse.
— Por que você não faz um café? Eu vou precisar dele para me manter
acordado esta noite. Eu vou até meu cavalo e eu volto já.
Ela o observou desaparecer. Desejando que ele a tratasse como a sujeira que
era, se ajoelhou diante do pequeno fogo na lareira. Ela se sentiu somo se fosse
uma menina que sabia que fez algo errado e espera pela uma surra, surra que nunca
veio e era aí que residia a punição.
— Será que ele prometeu livrar você, menina? — Silas falou pelo quarto. —
Ele não tem poder sobre a lei. Ele não a pode salvar. Só o velho Silas pode fazer
isso. Minha arma ainda está sobre a mesa. A pegue e apenas o machuque. Eu vou
acabar com ele. Sabe o que eles fazem para as mulheres na prisão? Eles vão fazer
para você todas as coisas que eu queria fazer, mas ninguém os vai parar.
— Eu roubei os sonhos dele uma vez, Silas. Eu não vou fazer isso de novo.
— Um som na porta ganhou a atenção dela, e olhou para cima. Segurando seu rifle,
Jesse entrou na estrutura em ruínas.
— Você pode dormir na cama hoje à noite — disse ele enquanto colocava
seu rifle sobre a mesa.
Girando, ela tomou o pano úmido que ele ofereceu e o apertou contra seu
rosto. Ela desejou que aquilo aliviasse a dor em seu coração tão facilmente como
fez com a dor em seu rosto. Ela não se mexeu quando Jesse colocou o pé dela em
sua coxa. Ouviu-o rasgar um cobertor. Então ela sentiu ele enrolar a tira de lã em
torno de seu pé.
Ela não respondeu, não achou que ele esperava uma resposta. Ternamente,
ele envolveu seu outro pé em silêncio. Quando sentiu ele sair da cama, ela se
abaixou e pegou um cobertor. O quarto de repente parecia tão frio como uma
tempestade de inverno. Ela o ouviu arrastar uma cadeira pelo chão e colocar contra
a parede ao lado da cama. Ela gemeu em protesto quando ele deixou cair seu corpo
no assento.
— Sim.
— E as crianças?
— Não.
Encontrando algum conforto em sua resposta, ela se perguntou como ele iria
explicar sua ausência às crianças, quando ele voltasse para casa. Ela o sentiu puxar
o cobertor por cima de seu ombro. Tão simples como a ação foi, causou uma dor
muito maior dentro de seu coração do que qualquer uma das palavras duras que ele
já tinha falado para ela.
— Tente dormir um pouco. Nós começaremos uma dura viagem de dois dias
amanhã.
Ele tinha que manter uma rédea apertada em seu coração, tinha nada a dizer
sobre este assunto, mas que com certeza queria falar o que sentia. Se ele permitisse
que seu coração falasse, teria vindo para esta cabana com suas armas em punho e
matado os dois homens pelo atrevimento de a terem levado. Se ele permitisse que
seu coração falasse, ele a levaria para o México e construiria um rancho lá. Ele iria
levar as crianças, mas que tipo de vida ele poderia lhes dar? Certamente não uma
que eles pudessem se orgulhar. Não, seu coração tinha que ficar em silêncio sobre
este assunto.
Ele olhou ao redor da cabana. Ele não achava que tinha mudado muito ao
longo dos anos. Todo o mobiliário era caseiro, e pareceu que ninguém tinha levado
muito tempo para fazê-la. Imaginou Maddie como uma menina, jogando no chão
de terra. Ela teria tido ali pequenas xícaras de chá. Ele se perguntou se ela tinha
tido uma boneca de pano. Ele baixou a cabeça para trás e ouviu o vento uivando
através das rachaduras nas paredes.
Jesse se obrigou ficar acordado. O interior da cabana era sombrio. Além dela,
através das frestas na janela e as rachaduras na porta, ele podia ver o amanhecer
emergindo. No canto, os dois homens roncavam como ursos hibernando. Ele olhou
para a cama a seu lado. Ela estava vazia.
Ele saiu correndo da cadeira, e caiu no chão. Correu para fora e estacou.
Todos os cavalos estavam pastando nas proximidades.
Balançando a cabeça, ela endireitou a cruz que seu pé grande quase tinha
destruído no dia anterior. — Eu costumava pensar que se eu alguma vez tivesse
dinheiro, iria marcar seu lugar com uma cruz adequada.
— Eu acho que prefiro a forca a ir para a prisão. Prisão para uma mulher não
pode ser agradável.
Ele estudou seu rosto. — Por que você não voltou e pegou o dinheiro?
Ela soltou uma risada estrangulada. — Eu sei que é difícil de entender, mas
ele era um bom pai e Andrew era um bom irmão. Eu os amava, mesmo depois de
saber o que faziam. Mas eles não eram bons homens. Eles faziam coisas que não
eram certas. Foi tão difícil... amá-los, odiando as coisas que faziam.
— Sua pequena tola. Você sabe como facilmente poderia ter morrido?
— Eu não me importava. Minha vida não valia nada até que Charles me
pediu para ser uma mãe para seus filhos. Era uma chance para eu dar sem tomar.
— Novas lágrimas encheram seus olhos e caíram sobre suas bochechas. — Será
que Charles me odeia?
Ele trouxe seu rosto tão perto do dele que ela sentiu sua respiração
sussurrando em seus lábios.
Naquele exato momento, ele desejava que fosse qualquer um, menos quem
era. Ele levantou. — Eu vou desenterrar o dinheiro e nós vamos levá-lo de volta
com a gente.
— Tenho sorte, Bob. Eu estou trazendo estes dois bandidos junto com este
dinheiro que roubaram de uma diligência em Wells Fargo. — Ele baixou o alforje
sobre a mesa.
Bob estava sentado atrás de sua mesa e tirou alguns papéis. — Estes são
deles, não é?
Bob assentiu. — E sobre este último membro do bando? Este jovem. — Ele
estudou Maddie. — Já se teve especulações de que talvez fosse uma menina.
— Ela é a filha do líder.
Maddie voltou o olhar para o chão. Ela esperava que as próximas palavras
de Jesse soassem como uma sentença de morte, mas essas palavras não vieram,
apenas o silêncio, pairando à volta dela. Infelizmente, ela percebeu que ele estava
esperando que ela admitisse abertamente a verdade.
Maddie girou a cabeça para ele. Com o rosto de pedra, Jesse estava olhando
diretamente nos olhos do homem sentado em frente à mesa. Bob pigarreou. — Eu
vejo. Tem certeza disso, não é?
— Você sabe tão bem quanto eu, Bob, que não pode dar credibilidade a
qualquer coisa que um prisioneiro irritado diz.
Bob riu. — Eu acho que talvez eu esteja atrás desta mesa por tempo demais.
Naturalmente eu não estaria aqui, se você não me tivesse salvo a vida em setenta e
oito.
— Eu sei que a maioria não, mas eu sim. — Ele examinou Maddie mais um
momento e limpou a garganta. — Sem um corpo, eu não posso lhe dar uma
recompensa pelo último membro da gangue.
Jesse assinou os papéis. Então ele colocou a mão sob o cotovelo de Maddie.
— Eu verei você por aí, Bob.
Bob se inclinou para frente. — Eu vou passar a história desta jovem senhora.
Não há sentido que caçadores de recompensa desperdicem seu tempo procurando
por ela.
— Jesse?
— Você acabou de fazer uma maldição, apenas esteja certo de que ela não
voltará para nos assombrar.
Jesse deu um aceno brusco e escoltou Maddie para fora. Ela colocou os
braços em torno de um pilar áspero. Não havia esperado caminhar na luz do sol
novamente ou respirar o ar não contaminado. Suas pernas vacilaram. Passaram
vários momentos de respirar profundamente antes de ela ousar olhar Jesse.
Andando pela calçada, ele deu a ela um olhar superficial antes de voltar sua
atenção para a atividade dos pedestres. — Eu não posso te levar para casa desse
jeito. Há uma casa de banhos na saída de Congress Avenue. Vamos nos refrescar,
ter uma refeição rápida, e então vamos montar para casa. — Ele agarrou as rédeas
de seus cavalos e começou a caminhar.
Ele deu um breve aceno de cabeça. — Rosa vai atender as suas necessidades.
Basta ir com ela.
Obediente, ela seguiu a mulher até uma pequena sala no fim do corredor.
Decente não era uma palavra que ela teria associado a si mesma. — Eu ainda
estou vestida.
Rosa entrou na sala. — Seu marido me disse para lhe dar essas coisas. —
Ela entregou a Maddie um grande pacote embrulhado em papel pardo.
— Oh, senhora, você tem tanta sorte de ter um marido tão carinhoso, que
ama tanto você. — Rosa revirou os olhos para o teto. — E um tão bonito, também.
— Ela ergueu um pequeno frasco. — Ele me disse para deitar isso em sua água. —
Quando os sais de banho atingiram a água, o cheiro de “Forget-Me-Not” flutuou
no quarto.
Ela apertou o rosto contra seu peito e chorou por todas as coisas que ela
tinha sido, tudo o que ela era, tudo o que ela sempre quis ser.
— Shh, Maddie, isso já é demais.
Ela balançou a cabeça vigorosamente contra seu peito. — Ele sabe que você
não estava dizendo a verdade.
— Provavelmente.
— Eu não acho que Somner vai se incomodar com você. — Ele suspirou
profundamente. — Ele me disse que mais de uma pessoa estava envolvida. Eu
estou supondo que ele quis dizer Silas e Walsh. Eu acho que uma vez que ele
partiu na diligência, ele voltou e esperou por eles. Uma vez que ele não os impediu
de a levar, eu só posso supor que ele não era tão inteligente o quanto pensava. Eu
acho que eles correram até ele e o mataram.
Ela balançou a cabeça. — Você não pode fazer disso algo pessoal...
— Eu não fiz. Por que diabos você acha que eu tenho sido um bastardo frio
desde que eu entrei naquela cabana? Porque eu não queria que meu coração falasse
ao invés da minha cabeça.
— Droga, Maddie, por que você está lutando comigo sobre isso? Passei anos
caçando bandidos e malfeitores. Eu conheço uma pessoa má quando vejo uma. —
Ele segurou seu rosto, seus olhos segurando os dela. — Não há uma centelha de
maldade em você. — Quando ela abriu a boca para protestar, ele acrescentou. —
Tudo bem. Você andou com alguns homens maus. Você segurou os cavalos e você
apontou uma arma descarregada em algumas pessoas, mas há muito mais
honestidade e bondade em você do que há na metade das pessoas andando naquela
rua lá fora. — Ele esfregou os dedos sobre seu rosto. — Confie em mim.
— Mas Charles e as crianças-
— Não, eu diria a eles o quão bem você cuidou do meu irmão e os seus
filhos. Eu iria dizer-lhes como você preferiu vender o seu corpo do que a sua alma.
Eu diria a eles sobre um cofre enterrado em uma lareira que podia ter-lhe dado uma
vida que a maioria das pessoas apenas sonham.
Envolvendo seus braços ao redor dela, ele a puxou contra seu peito. Ele
sentiu as lágrimas quentes escorrerem por seu peito. — Eu não conheço quem é
mais merecedor de um novo começo, Maddie.
Eles montaram muito tempo depois de o sol se pôr. Maddie pensou que
Jesse queria que eles viajassem durante a noite, mas sem aviso, ele parou e
desmontou. Baixou da égua e passou a fazer um acampamento sem uma palavra.
Ele tirou a sela dos cavalos e os amarrou e fez uma fogueira.
Maddie sentou-se nos cobertores que ela espalhou diante da fogueira e viu
como Jesse andava silenciosamente ao redor do perímetro. Ciente de que tudo
estava seguro, ele voltou para o fogo e acrescentou um pouco mais de madeira seca.
Seu olhar estava focado sobre as chamas se contorcendo. Ela se perguntou se seus
pensamentos queimavam de forma constante como o fogo, se ele estava
começando a lamentar a mentira que ele tinha dito com tanta facilidade a um
companheiro Ranger. Ela não iria abrigar maus sentimentos por ele, ela entenderia
completamente se ele a levasse de volta para Austin de manhã.
Ele atiçou o fogo, e quando ele falou, sua voz se misturou com o rugido do
fogo da fogueira. — Eu quero esta noite, Maddie. — Ele girou o corpo para longe
do fogo até a sua atenção estar voltada inteiramente para ela. — Diga que não me
ama, e eu vou dormir no outro lado do fogo. Caso contrário, tenho a intenção de ter
esta noite.
— Eu não estou pedindo para você desonrar seus votos. Eu só estou pedindo
que você me dê algo para eu levar comigo quando sairmos daqui amanhã. — Ele
se inclinou até que ela sentiu sua respiração afagar sua bochecha. — Diga que você
não me ama.
Um soluço escapou de sua garganta obstruída. Ele inclinou seu rosto, seus
polegares limpando suavemente as lágrimas de suas bochechas. — Eu amo você,
Uísque.
Deitando o rosto contra seu peito, ela ouviu o ritmo constante de seu coração.
Ela inalou o cheiro persistente de seu banho, misturado com o suor da viagem. —
Você não pode esperar o que nunca poderá ter.
Ela sentia tudo isso e muito mais, mas ela não poderia lhe dar esperança
onde não havia nenhuma. Quando ele timidamente tocou os lábios nos dela, ela
forçou sua boca a permanecer imóvel, a ignorar o calor, a atração de seu toque.
Quando ele novamente baixou a boca para a dela, ela congratulou-se com o
seu beijo com a certeza de que o amor verdadeiro o conduzia. Gemendo com a
resposta dela, ele passou a língua dentro de sua boca, roubando os tesouros que ela
oferecia. Seus dedos agarraram sua camisa, e ele apertou-a mais perto, saboreando
a sensação dela em seus braços.
Hoje à noite. Eles teriam hoje à noite, e ele tinha a intenção de se certificar
de que fosse o suficiente para levar com ele através de todas as noites que estavam
à frente quando ele não a teria em seus braços. Ele ergueu a boca da dela e olhou
em seus olhos. Ele viu a dúvida piscar brevemente nas profundezas apaixonadas.
— Eu juro, Maddie, quando eu a levar para casa, para Charles amanhã, nós
dois vamos ser capazes de olhar nos olhos dele e não sentir culpa. Confie em mim.
Ela lhe deu um sorriso travesso. — Não é em você com quem eu estou
preocupada em confiar, seu sangrento idiota.
A lua cheia refletia-se nas águas escuras conforme eles serpenteavam pela
margem. Em algum lugar um peixe espirrou, um sapo gritou com voz rouca, e
grilos cantaram.
Ele emergiu das sombras em toda a sua glória nua, elegante e poderoso com
o luar dançando em torno dele.
Ela pensou que ela nunca tinha visto algo tão bonito. Ela tocou os dedos
trêmulos em seu peito. — Você não está na água — ela sussurrou.
— Eu sempre me perguntei como o seu cabelo pareceria se eu desse a ele a
sua liberdade. Naquela noite, perto do riacho, fiquei desapontado que eu não tinha
dado boa olhada dele. — Ele pegou sua trança e lentamente desvendou os fios. Um
sorriso de apreciação enfeitou seu rosto quando ele derramou seu cabelo sobre suas
mãos. Ele começou a desatar as fitas em sua camisola.
— Maddie, você pode ser uma velha antes de eu fazer amor com você. Pelo
menos deixe-me ter a memória do seu corpo quando você era jovem.
Ela esfregou as mãos sobre as costas das mãos dele, ao longo de seus pulsos,
e até seus antebraços antes de deixar cair as mãos ao lado do corpo. Suas mãos
trabalharam para soltar as fitas e libertar os botões. Ele passou o dedo ao longo do
laço na parte superior de sua camisola até que sua mão se curvou sobre seu ombro.
Ele deslizou a roupa por seu braço.
Ela sentiu o sussurro fresco do ar da noite ao longo de sua carne, mas foi o
seu toque quente conforme ele espalmou seu seio que enviou um arrepio de prazer
correndo através de seu corpo.
Ele baixou sua boca, saboreando sua carne. Gemendo baixinho, Maddie
enfiou os dedos entre os fios grossos de seu cabelo. Sua língua rodou sobre seu
mamilo, e ela sentiu os joelhos enfraquecerem. Ele segurou as mãos grandes e
fortes contra a parte baixa de suas costas a para apoiar. Seu rosto cutucou
suavemente de lado a roupa que cobria o outro seio de modo a boca poder lhe dar
as mesmas atenções. Ele arrastou a boca para o vale entre seus seios, e seguiu
lentamente a inclinação de sua garganta, marcando sua trilha com pequenas
mordidas de amor. Ele fundiu sua boca sobre a dela e, tomou um gole do néctar em
seu interior. Ele não tinha necessidade de pressa; ela era sua pela noite, mas ele
sabia que não seria suficiente. Uma vida inteira com ela não seria suficiente. Ele
tirou o resto de sua roupa antes de a levantar em seus braços. — Eu não estou com
vontade de nadar.
Ela colocou os dedos contra sua mandíbula tensa. — Agora acabou, lembra?
— ela perguntou em voz baixa.
Seu olhar viajou até seu rosto pálido, e ele tocou as costas de sua mão em
seu rosto. — Eu gostaria que minhas mãos não fossem tão ásperas. Você teve mãos
ásperas suficientes tocando em você.
Maddie observou as chamas douradas do fogo lançarem sua luz contra sua
forma esculpida. Seguindo o seu exemplo, ela passou a mão sobre as linhas duras e
planas que compunham este homem. — Eu vou estar enrugada e igual a viúva
Parker e você se arrependerá de ter perdido sua juventude, me esperando.
— Meus olhos vão ver você como você realmente é. — Ele pegou sua mão e
apertou a palma da mão contra o seu coração batendo. — Mas aqui, eu sempre vou
ver você como você é hoje à noite.
Seus braços foram ao redor dela, puxando seu corpo para perto. Ela se
encaixou perfeitamente, suave onde ele era duro, curva onde ele era reto, estreita,
onde ele era amplo, suave onde ele estava áspero. Antes do amanhecer aparecer ao
longo do horizonte, ele se esforçaria a memorizar tudo sobre ela. Ele passou os
dedos pelos longos fios de cabelo mel, sedosos. Ele respirou fundo a fragrância de
“Forget-Me-Not”.
Eles deitaram por mais tempo, sem fazer nenhum som, com alguns
movimentos, apenas memorizando a sensação um do outro.
Ele colocou o dedo embaixo de seu queixo, trazendo sua face para cima até
que seus olhos se fixaram nos seus. — Há tantas coisas que eu quero dizer a você,
coisas que eu quero ouvir você dizer para mim, tantas maneiras que eu quero tocar
em você. Maldito eu por amar meu irmão tanto. — Ele carinhosamente roçou os
lábios nos dela. Então sua língua brincou com as bordas exteriores de sua boca.
Com o tempo, ele ergueu a boca da dela, olhando para o uísque de seus
olhos, bebendo deles para se preencher. — Eu sempre me perguntei como seria a
sensação de segurar você, enquanto você dorme.
Ela assentiu com a cabeça, incapaz de falar com as lágrimas entupindo sua
garganta. Ela sentiu sua retirada começar profundamente dentro de seu peito, muito
antes de seus braços a soltarem.
— É melhor você se vestir agora para que eu possa levar você para casa.
Ela o observou apagar o fogo, o cobrir com a sujeira, e embalar seus poucos
pertences. Não foi até que ele deixou pronto os cavalos que ela começou a se vestir.
Ele a soltou e estudou a sela, como se ele nunca tivesse visto uma antes. Ela
deslizou para longe dele e ele envolveu sua mão ao redor da sela para se impedir
de a puxar de volta. Deixar que andasse para os braços de outro homem foi a coisa
mais difícil que ele já tinha feito em sua vida.
Andando rápido, o coração dela lutou querendo voltar para mais um
momento, para o lugar de consolo dentro do abraço de Jesse e ela forçou um
sorriso que rapidamente mudou para uma genuína expressão de seus sentimentos
quando viu as meninas correrem em sua direção.
— Mamãe! Mamãe!
— Tio Jesse, você deu a eles o quê? — ele perguntou, sua postura
advertindo seu tio que era melhor ele ter ido em defesa de sua mãe.
Jesse tomou as rédeas dos dois cavalos. — Eu dei a eles um par de olhos
negros e um nariz quebrado.
Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela se virou para o marido. Ele
lhe deu um leve sorriso antes dele a abraçar.
Ela sentiu os pequenos puxões em sua saia e olhou para os rostos radiantes.
— Cuidei disso.
Charles sorriu — Eu só sabia. Acho que você vai nos deixar novamente em
breve.
Jesse queria dizer a ela que era o dia deles. Então, seu olhar encontrou o dele
ele percebeu que não precisava dizer nada. Ela sabia.
Do canto do olho, Maddie observava Jesse. Para o restante de sua vida, ele
nunca iria ter um dia como este. Ela queria estar em seus braços, compartilhando
este momento com ele, ela sabia que se ele tivesse pedido, ela teria vindo aqui com
ele sozinha. Mas ele não tinha pedido. Tão grande era o seu amor por seu irmão
que ele negaria seu próprio coração e as coisas que ele queria, compartilhando seus
sonhos com os filhos de outro homem em vez dos dele.
Charles tirou a mão da cintura de Maddie. — Taylor, este é o dia do seu tio
Jesse. Por que você não se senta com ele? — ele levantou a criança de seu joelho, e
ela passou por cima de Maddie para chegar a Jesse. Ele a puxou para o seu colo.
Jesse desdobrou seu corpo e olhou para a terra, o gado, a família que o
rodeava. — Ele teria ficado muito orgulhoso.
Jesse olhou para Charles. — Eu não estou com vontade de trabalhar hoje. O
que diz de cuidarmos dos cavalos deles, enfiarmos um pouco de comida em suas
mãos, e os enviar de volta à estrada?
— Bom Deus, homem, você parece que viu um fantasma — disse Somner
— mas, então, considerando o telegrama que enviou aos meus superiores, eu acho
que você pensa que está olhando para um fantasma.
Ela inclinou a cabeça. — Não. — Ela cheirou. — Nem cheira como uma
cidade. Tem cheiro... de campo.
— Muito bom.
— Agora, você vai me dizer por que me deixou com os olhos vendados?
Inclinando-se perto, ele falou em voz baixa. — Porque, meu amor, seu
presente de casamento está aqui, mas você o deve encontrar. — Com um floreio,
ele removeu sua venda.
Ela olhou rapidamente para as pessoas que estavam à sua frente. Em seguida,
seus olhos caíram sobre a casa, e ela engasgou. — Oh, Paul. Você saiu do seu
trabalho com a Agência. Você me comprou uma casa, e nós estamos indo nos
estabelecer aqui.
Ela projetou seu queixo, jogou as mãos para os quadris e bateu o pé pequeno.
— Então me dê uma dica, uma boa dica, ou eu vou pedir quartos separados — ela
ameaçou com um brilho provocante nos olhos dela.
Jesse olhou para a mulher pequena desmoronando diante dele. Seus olhos
castanhos e cabelo castanho eram tão parecidos com os de sua mãe. Seus olhos
correram para Paul Somner.
Ele não podia fazer mais do que assentir. Então seus braços estavam em
volta de seu pescoço, os braços dele estavam em torno de sua cintura. Ele a
levantou do chão e a abraçou com força contra ele. — Cassie? — ele perguntou
com voz rouca. Ela balançou a cabeça vigorosamente, e ele apertou sua irmã mais
perto.
Quando ela estudou Charles, ela cobriu a boca novamente. — Oh, Paul!
Você encontrou os dois! — Ela voou para os braços de Charles e quase o derrubou.
Ele a abraçou com força.
— Sim, ele parece. Este é Aaron. — Ele caiu ao lado do garoto. — Esta é a
sua tia Cassie.
Jesse assentiu.
Elas precisaram de nenhum aviso para abraçar sua tia. As mantendo perto,
Cassie saboreou a sensação das meninas. Quando ela as soltou, Paul a ajudou a
ficar de pé.
Maddie sorriu hesitante para Paul, em seguida, para Cassie. Cassie sentiu
nenhuma incerteza. Ela abraçou Maddie como se a tivesse conhecido durante toda
sua vida.
— Nós estávamos nos preparando para tomar o café da manhã — disse
Maddie. — Vocês gostariam de se juntar a nós?
— Então, no ano passado, quando ela morreu, eu descobri que ela tinha
deixado tudo para mim. No início, eu não sabia o que fazer com todo o dinheiro.
Eu pensei em tentar os encontrar eu mesma, mas parecia uma tarefa impossível. Eu
fui para a Agência Pinkerton, em Washington. E eles atribuíram Paul para o meu
caso. — Ela sorriu calorosamente para seu marido.
Jesse se inclinou para frente. — E Somner apenas decidiu se casar com você
sem obter a permissão de seus irmãos em primeiro lugar?
— Bem, nós não poderíamos ter viajado juntos por todo o país se não
estivéssemos casados.
— Ele poderia ter pedido permissão, quando ele esteve aqui antes.
Paul se inclinou para frente até que seu olhar estava no mesmo nível com o
de Jesse. — Eu a amo.
Na varanda de trás, ele fumou seu charuto. Cassie não gostava muito que ele
fumasse, e ele supôs que ele precisava considerar desistir dos charutos. Por outro
lado, qual mulher quereria se casar com um homem que era perfeito? — Ainda me
espionando, Jesse?
Jesse deu um passo para a varanda. — Não me lembro de ter lhe dado
permissão para me chamar de outra coisa senão Sr. Lawson.
— Bem, eu não posso imaginar por que ela se casaria com você.
Paul olhou para ele de lado. — Você não pode? Em algum lugar abaixo da
sua aparência rude eu acredito que bate o coração de um homem que sabe o que é
olhar através da sala para uma mulher e saber que ele nunca deixaria nada nem
ninguém a prejudicar. Cassie está segura comigo, assim como Maddie está segura
com você.
Jesse deu um suspiro. — Quanto tempo eu vou ter que sofrer com a sua
presença irritante?
— Nesse caso, por que você não me diz o que eu posso fazer para ajudar a
tirar parte da carga de seus ombros?
Conforme Jesse erguia a tábua, ele admitiu para si mesmo o que ele iria
admitir a ninguém. Ele sentia um certo grau de admiração por Somner. Na semana
passada, o homem tinha empreendido com tenacidade cada tarefa que Jesse tinha
sugerido. Foi um pouco desconcertante perceber que eles tinham mais coisas em
comum do que não tinham.
Paul bateu o prego na tábua. Ele sentiu uma certa medida de orgulho por
suas realizações nesta semana. Ele conseguiu manter o ritmo com Jesse, um feito
que ele pensava que poucos homens eram capazes de fazer. Ele endireitou as
costas, tirou o chapéu, e permitiu que a brisa despenteasse o cabelo dele. Ele olhou
por cima do ombro. — Que som é esse?
Jesse olhou para o homem deitado na água. — Surpresa! — Então ele jogou
a cabeça para trás e riu, um estrondo profundo que enviou os pássaros a voarem
das árvores. Paul retornou sua risada.
Jesse voltou sua atenção para seu irmão. Charles estava estendido no chão, a
cabeça apoiada no colo de Maddie enquanto ela corria continuamente os dedos
pelo seu cabelo. Ele atravessou a clareira e se agachou diante deles. — Ele está
dormindo?
— Por isso que eu decidi passar o dia de hoje no riacho — disse Maddie. —
Cassie nunca nadou em um riacho antes.
— Ele poderia pelo menos ter tido a decência de explicar a situação para
mim quando eu o confrontei.
Jesse começou a puxar para cima as ervas daninhas. — Quando ele esteve
aqui antes.
— Eu acho que é o que significa ser uma família — disse Cassie suavemente
— saber que anos e milhas nunca podem realmente separar você. Vocês sabem
onde mamãe e papai estão enterrados?
— Da minha, não. Ela era uma ninharia comparada à herança de Paul que
seus pais deixaram quando morreram. Nós não precisávamos dela, então ao invés
de a ver se perdendo entre sua riqueza, ele sugeriu que eu a colocasse em um fundo
de confiança e usasse para obras de caridade.
— Eu não vejo por que não. Eu gostaria de soltar uma pipa, também.
— Eu aposto que eles vão! — Aaron gritou quando saiu da varanda e correu
pela porta.
Charles deu uma última olhada no pôr do sol antes de seguir seu filho para
dentro.
Aaron desceu as escadas, dois degraus de cada vez, e derrapou na sala. Jesse
e Paul olharam para cima do tabuleiro de damas. Maddie parou de bordar o olho da
boneca de Taylor. Cassie, Hannah, e Taylor abaixaram suas xícaras de chá.
Jesse olhou para seu irmão quando Charles sentou ao lado de Maddie no
sofá e pegou sua mão. — Você soltará uma pipa amanhã? — Jesse perguntou.
— Se tivermos uma brisa como a que tivemos hoje. Aaron não quer esperar
até a primavera. Nem eu.
— Bem, então, me deixe afirmar a minha vitória aqui, e nós vamos fazer
uma.
— Por que fazer apenas uma? — perguntou Paul. — Nós temos três crianças
aqui. Parece que devemos fazer três.
Paul sorriu. — Eu posso fazer uma pipa que faria Benjamin Franklin ter
inveja.
— Realmente.
— O que há com vocês dois? — perguntou Cassie. — Por que vocês tem
que competir em tudo?
Paul olhou ao redor da sala. — Quem quer me ajudar a fazer a melhor pipa
que já enfeitou o céu?
— Tudo bem — Jesse disse, olhando para o seu adversário. — Por que você
não cede, e nós vamos trabalhar nas pipas?
Jesse bateu com a mão na mesa. — Estou me sentindo esta noite magnânimo.
Eu vou lhe conceder isso.
— Não, eu tenho outra coisa em mente para a minha contribuição desta noite.
Você e Aaron começam e eu os vou surpreender.
— Não quando ele tem algo tão importante como uma pipa para fazer.
Maddie puxou uma cadeira. — Você se senta aqui, e eu vou pegar a minha
surpresa. — Conforme Charles se sentou, ela olhou através da mesa para Jesse,
com os olhos mais exigentes como sempre, estudando Charles. Ele levantou o
olhar para ela. — Eu tenho alguns pedaços de chita que vocês podem usar para as
caudas de suas pipas — disse ela.
Virando, ela foi direto para o abraço forte de Jesse. Ele fez nada mais do que
abraçar, mas foi o suficiente. Respirando fundo, ela deu um passo para trás e sorriu.
— Os retalhos estão em minha cesta de costura na sala de estar.
Ele tocou os nós dos dedos em sua bochecha, soletrando as palavras "Eu te
amo", e calmamente saiu da sala, deixando seu amor e força para trás. Ela colocou
seu coração em volta dos presentes dele, tirou um pote da parede, empurrou a
panela no fogão, e começou a trabalhar.
Algum tempo depois, ela voltou para a sala de jantar e colocou um prato ao
lado de Charles.
— Papai, você tem que amarrar a corda mais apertada ou os paus não vão
ficar juntos — disse Aaron.
Segurando sua mão esquerda e a movendo para o seu colo, Charles olhou
para Maddie. — Meus dedos parecem não querer trabalhar.
Ela forçou um sorriso corajoso para ele e para as crianças que estavam
olhando. — Eu mesma tenho dificuldade em lidar com isso, mas eu vou ajudar
Aaron se você saborear o Fudge e deixar saber se vale a pena compartilhar. Abra a
boca. — Ela bateu um pedaço de doce em sua boca.
— Não.
Ela sorriu. — Porque a primeira vez que eu olhei em seus olhos, eu pensei
no Fudge que minha mãe costumava fazer no Natal.
— Café! — Hannah gritou, com a mão cobrindo seu sorriso largo. — Porque
o tio Jesse bebe muito café, ele enche sua barriga e vai para os olhos.
Hannah inclinou-se sobre a mesa até que a ponta de seu nariz estava quase
tocando o nariz de Jesse, e seus olhos estavam grandes e redondos.
— Bolo de chocolate — disse Jesse quando ele a agarrou e fez cócegas em
sua barriga. — É porque você come muito bolo de chocolate que enche sua barriga
e vai para os olhos!
— Tire suas mãos de minha parceira — disse Paul enquanto Jesse fazia
cócegas em Hannah. Ela gritou quando seus dois tios continuaram seu ataque.
Ela gritou quando ele a pegou e a colocou sobre a mesa. — Não, eu acho
que eles não iriam, mas os do seu pai sim!
Charles não soube como aconteceu, mas de repente se viu sob ataque. Ele
tentou escapar dos dedos contorcidos de Jesse e em vez disso deslizou para o chão,
sua risada ecoando a sua volta. — Bom Senhor! Jesse, pare!
Charles riu e rolou de lado a lado até que ele estava sem ar. Observando de
perto, Jesse levantou Aaron e Hannah para longe. — Isso é o suficiente. — Taylor
apoiou a cabeça no peito de Charles.
— Mas o que dizer do Fudge? — Aaron perguntou.
Maddie saiu da cama e foi até a janela. Olhando para fora, ela viu Charles
sentado em uma cadeira de balanço na varanda. Ela pegou seu roupão, enfiou os
braços e se juntou a ele. — O que você está fazendo aqui? — ela sussurrou,
puxando o roupão com mais força sobre ela para se agasalhar do frio da madrugada.
— Vai ser quente ao meio-dia, mas você sente a brisa? É uma boa brisa para
soltar uma pipa.
Sob a colcha, Maddie tomou suas mãos nas dela e esfregou vivamente,
tentando restaurar um pouco de calor em seus dedos. — Eu pensei em fazer um
piquenique e passarmos um dia inteiro ao ar livre.
Com lágrimas transbordando nos olhos, ela olhou para seu amado rosto,
querendo negar a implicação de suas palavras, mas sabendo que aquilo não seria
bom. Em vez disso, ela expressou as palavras que sabia que iriam dar a ele mais
paz. — Eu vou cuidar bem de seus filhos e os amar como se fossem meus.
— Eu sei que você vai. E você continue fazendo o café de Jesse forte e
escuro como breu. Parece melhorar seu humor.
Então, porque ela nunca tinha feito isso antes, ela apertou os lábios nos dele,
o beijando docemente. Emoldurando seu rosto, ele o inclinou para o dele, olhou em
seus olhos, um sorriso enfeitando seu rosto. — Talvez devêssemos ter feito isso
antes, também.
Ela virou a cabeça ligeiramente, mas o novo amanhecer era pouco mais que
uma névoa de cores vistas através de um arco-íris de suas lágrimas.
Aaron lançou a pipa, e ela pegou o vento, subindo para o céu azul. Hannah
lançou sua pipa e o vento a levou em direção às nuvens. Taylor se agarrava ao
pescoço de Jesse enquanto ele corria com ela. Então ela abriu os dedos, e a pipa
momentaneamente mergulhou para baixo antes que flutuasse para cima. As
crianças gritaram, os adultos aplaudiram, e sorrisos cheios enfeitava cada rosto no
prado. As crianças correram para trás e reivindicaram os galhos que ancoravam o
vôo das pipas.
— Sim.
— Eu soltarei uma pipa a cada outono, papai. Você vai olhar para ela?
Com lágrimas entupindo sua garganta, Charles puxou Aaron para perto. —
Sim, filho, eu vou olhar para ela.
Jesse se agachou ao lado dele. — Por que não vamos nos sentar sob a árvore
por um tempo?
Ele pegou a mão dela, desejando que tivesse força para lhe apertar a mão e a
tranquilizar. — Você fica com Taylor. Ela vai ficar chateada se ela perder sua pipa.
Ela não tinha nem a coragem, nem o desejo de sorrir, mas colocou um leve
beijo em sua bochecha antes de voltar sua atenção para Taylor.
Jesse olhou através da clareira para Maddie, ouvindo sua risada conforme
ela ajudava Taylor a guiar sua pipa. — Sim.
Com esforço, Charles moveu seu corpo, cavou algo do bolso e colocou na
mão de Jesse. — Você se lembra disso?
Jesse olhou para o círculo delicado de ouro. — O anel da mamãe. Como
você o chegou a ter?
Jesse fechou os dedos sobre o presente precioso. Sua mãe tinha muitas vezes
lhe dito que o anel a ligava ao que ela amava.
Jesse olhou para seu irmão, sua tez pálida. — Qualquer coisa.
— Eu quero que você me prometa que, quando o homem que ama Maddie se
casar com ela, ele vai colocar o anel em seu dedo.
Jesse virou o rosto, apertando o punho até que ele sentiu o anel cortar a
palma de sua mão. Ele tinha sido tão transparente nestes últimos meses?
— Prometa.
Jesse encontrou o olhar de seu irmão. — Ela nunca se afastou de seus votos,
Charles. Nada mais que palavras se passou entre nós. — Ele fez uma careta. —
Bem, talvez um beijo ou dois.
— Eu sei, e isso de alguma forma faz com que eu pareça muito mais egoísta,
mas você vê, eu sou um covarde. Eu estive sempre com medo de que morreria à
noite... E eu não quero estar sozinho. Isso é um inferno de uma coisa para pedir a
uma mulher.
— Não, Jesse, ela nunca foi a minha esposa. Ela tem sido uma boa mãe para
os meus filhos e uma amiga querida para mim, mas nunca minha esposa. — Ele
descansou a palma da mão sobre o peito. — Dentro do meu coração, eu tive apenas
uma esposa... E foi Alice. Você tem que entender o quanto eu amo Alice ou você
nunca vai entender o que eu vou dizer a você agora.
~
— Pipa, voa alto! — gritou Taylor, com as mãos fechadas em punhos
apertados ao redor do galho onde estava a corda da pipa. Maddie puxou Taylor
contra ela e ouviu o rufar do vento, um som bonito, quase como uma canção de
amor enfeitando os céus. Uma calma estava em volta dela, e ela conheceu uma paz
interior diferente de qualquer uma que já tinha conhecido.
— Eu vou observar Taylor — disse Paul, colocando a mão sobre seu ombro.
Maddie se virou para Paul. Ela viu em seu rosto a verdade dolorosa que seu
coração não queria aceitar. Cassie estava aninhada a seu lado. Ela observou os
pequenos ombros de Cassie se agitarem conforme o braço de Paul protetor
blindava sua dor das crianças. Ela apertou a mão de Cassie. — Você quer vir
comigo?
Maddie o puxou contra ela e sentiu o corpo se sacudir com a força de sua
tristeza.
— Mas ele estava. — Com lágrimas inundando seus olhos, ela embalou sua
bochecha com a palma da mão. — Ele perdeu Alice, e agora ele está com ela.
A porta rangeu quando Maddie a abriu e saiu para a varanda. Aaron estava
sentado nos degraus, os cotovelos em suas coxas, o queixo pousado em suas mãos.
Ranger jazia a seus pés como ele, também lamentando.
Naquela tarde, Charles tinha sido colocado para descansar ao lado de sua
amada Alice. Taylor era muito jovem para entender. Para Hannah, Charles tinha
ido apenas em uma viagem para estar com sua mãe. Apenas Aaron entendia a
realidade. Maddie se sentou ao lado dele.
O primeiro soluço foi em silêncio, não mais que um tremor passando pelo
corpo da criança. Ele foi seguido por um soluço que soou como se tivesse sido
arrancado de seu coração. — Eu sinto falta de papai — resmungou Aaron, atirando
os braços em volta de Maddie.
Maddie autorizou suas próprias lágrimas a lavarem seu rosto enquanto ela
encostava o rosto no topo da cabeça de Aaron. — Todos nós sentimos. Ele era
muito especial e é nisso que nós temos que pensar e lembrar, de todos os seus
sorrisos, o som de sua risada, o quanto nós o amamos, o quanto ele nos amou.
Jesse olhou para ela e assentiu. — Isso soa como uma boa ideia. Talvez você
pudesse levar Maddie com vocês também.
Cassie abriu a boca como se fosse falar, depois a fechou. Ela olhou para as
folhas douradas das árvores. A vida nunca parecia simples. Ela trouxe seu olhar de
volta para Jesse. — Na verdade Jesse, eu estava pensando que talvez você e
Maddie poderiam se casar antes de partirmos. Isso lhe daria a chance de ter algum
tempo sem as crianças ao redor.
Jesse passou os dedos pelo cabelo, com a voz entrecortada. — Charles sabia
o que nós sentíamos. Eu tomei o que era dele.
Cassie colocou a mão em seu braço. — Não, Jesse. Ele nunca teve a
intenção de que Maddie fosse dele. — Ela tirou um envelope do bolso. — Charles
deu isso a Paul no dia anterior de sua morte. Ele lhe disse para me dar quando
fosse a hora. Quero compartilhar uma parte dela com você. — Ela tirou um pedaço
de papel do envelope e começou a ler em voz baixa.
Você vê, querida irmã, ao contrário de você e de mim, Jesse nunca coloca
seu coração em primeiro lugar. E assim, eu tomei uma esposa, esperando que o
amor que ela e Jesse iriam compartilhar com meus filhos pudesse a alcançar eles
também.
Apesar de deixar todos vocês me trazer grande tristeza, agora estou com a
minha querida Alice e meu coração está mais uma vez completo. A minha
esperança é que Jesse e Maddie encontrem a mesma alegria um no outro.
Ele veio para a margem do riacho e a viu como ele sabia que ela estaria:
sentada, olhando para a água se movendo lentamente... sozinha. Ele conhecia o
sentimento, o havia sentido pela maior parte de sua vida. E ele sabia qual era a
sensação de olhar através de uma sala, encontrar e segurar o olhar dela e lhe dizer
mil coisas sem falar uma uma só palavra.
Ela não se mexeu quando ele sentou ao lado dela. Ele desejou ter reunido
mais folhas para triturar. Ele suspirou, sem saber a melhor maneira de abordar o
assunto. Ali estava ele, mais uma vez fazendo algo sem pensar a respeito. Ele com
certeza esperava que Charles estivesse feliz. — Cassie quer levar as crianças para
Galveston por um par de semanas.
Ela olhou para ele e sorriu. — Oh, eles iriam gostar disso.
Ele coçou o queixo. — Sim, acho que sim. — Ele moveu seu corpo e enfiou
a mão no bolso. — Sabe o que é isso?
Ele limpou a garganta tão gentilmente quanto podia. — Pensei em fazer isso
no sábado.
— Neste sábado?
— Eu sei que nós não lamentamos um ano, mas se eu aprendi uma coisa, é
que você nunca sabe o que vai acontecer amanhã. Maddie, eu estou na idade que
meu pai tinha quando ele morreu. E Charles... ele partiu mais jovem. Eu só percebi
que enquanto estamos jovens e saudáveis, devemos fazer isso. É o que Charles
teria desejado.
— Não, eu vou colocar esse anel no seu dedo porque isso é o que ele queria.
— Ele embalou seu rosto entre suas mãos fortes. — Eu vou me casar com você
porque eu te amo. — A dúvida surgiu dentro de seus olhos. — Ou seja, se você
quiser se casar comigo. Você quer?
Ela colocou as mãos sobre as dele e deu um sorriso que lhe disse tudo, antes
que ela falasse qual sua resposta seria. — Oh sim!
~
Jesse revirou os ombros, sentindo o peso da gravata no pescoço. Enfiando o
dedo entre o nó da gravata e sua garganta, ele a afrouxou até que ele pôde respirar
novamente. Com desgosto, ele olhou para o reflexo do homem sentado na cadeira
atrás dele e ficou um forte desejo de tirar o sorriso de seu rosto.
— Eu pareço um „dandy‟ vestido assim. Inferno, eu me pareço com você!
— Então, sua noiva deve ficar muito satisfeita — disse Paul.
— Eu não sei por que temos de ser tão formais sobre o casamento. Não é
como se ela não tivesse se casado antes.
Paul ficou de pé. — Eu acho que isso por si só seria motivo suficiente para
você se certificar de que hoje seja especial para Maddie.
Jesse mais uma vez ajustou suas roupas.
— Isso não parece certo — disse Jesse quando ele começou a reorganizar a
gravata.
— Parecia antes de você começar a brincar com ela. — Paul tirou as mãos
de Jesse para o lado e começou a endireitar a gravata.
Paul deu um suspiro cansado. — Ela esteve das outras três vezes que eu fiz
isso. Ela ficará bem se você mantiver suas mãos desajeitadas fora dela. — Ele deu
um passo para trás. — Não. Nem mesmo olhe no espelho. Apenas aceite minha
palavra. Está perfeita. Vamos chegar no térreo antes de você mexer nela de novo.
Ele saiu para o corredor. Cassie lançou um som de alegria, correu para ele, e
o abraçou apertado. — Como você está bonito!
— Porque este é o dia dela, e uma noiva deve ter uma entrada.
— Por que ela precisa de uma entrada? Somos apenas nós, as crianças, e
uma agradável cerimônia tranquila.
Sorrindo, Cassie levantou o rosto. — Ela teve uma agradável cerimônia
tranquila quando se casou com Charles. Eu queria que hoje fosse especial.
Jesse sacudiu a cabeça e olhou com raiva para o homem irritante. — Não,
eu não estou com medo.
— Então vamos.
— Então desprenda. Eu nunca vi seu cabelo solto na luz do dia. Se você quer
que ela faça uma entrada, eu tenho certeza de que ela vai fazer um inferno de uma
entrada com seu cabelo solto. — Ele revirou os ombros uma última vez e começou
a descer as escadas.
Jesse sentiu aquele olhar passando através dele como uma flecha certeira em
seu intestino. Ele continuou descendo as escadas com mais cautela até que ele pôde
espiar a sala. Tudo o que ele podia ver eram as costas das cabeças, as costas de um
monte de cabeças. Ele deu um passo para dentro do hall de entrada, girou, e
mandou um olhar acusador de volta para seu cunhado. Paul sorriu.
— Bem, nós vamos manter as coisas calmas se é isso que você quer, mas
nós trouxemos um tocador de violino. — Ele piscou. — Estou pensando em pedir à
viúva Parker para dançar. Você não gostaria de me negar o prazer, não é? Agora
que eu sei que você não está atrás dela.
— Atrás dela?
— Inferno sim, cara. Você dançou com ela tanto que eu pensei que você
estivesse doce para ela.
McGuire deu um tapa no seu ombro. — Então vamos lá, cara. Vamos levar
esse casamento adiante.
— Sim. E você?
Aaron assentiu.
Jesse colocou a mão no ombro do rapaz. — Você se sair muito bem. — Ele
sorriu para Hannah e Taylor, vestidas com elegância, estando do outro lado do
ministro.
Hannah segurou suas mãos ao redor de sua boca. — Você vai ser feliz, tio
Jesse.
Com o sorriso ficando mais aberto, ele acenou com a cabeça. Então ele se
virou e olhou para as portas da sala abertas para as escadas.
Maddie olhou mais uma vez para seu reflexo no espelho e sacudiu a cabeça.
— Cassie, eu não posso usar o vestido de casamento de Alice.
Maddie estudou suas mãos trêmulas. — Ele merece alguém melhor do que
eu.
— Então se case com ele e lhe dê um dia e uma noite como nenhuma que ele
já teve. — Ela abraçou Maddie. — Agora, vamos lá. Você tem um homem nervoso
esperando por você.
~
Ele olhou para trás em direção à escada e, de repente, ele não se importava
se todo o estado do Texas estava sentado na sala de estar. Maddie, com seu cabelo
cor de mel caindo em cascata sobre os ombros e as costas estava mais bonita do
que ele jamais imaginou e estava prestes a se tornar sua.
Seus olhos o procuraram e seguraram o olhar dele, e ele sentiu como se tudo
tivesse diminuído em volta para brilhar as duas únicas pessoas que importavam.
Ela caminhou pela sala, o braço apoiado ao de Paul. As pessoas levantaram quando
ela passou, e de repente Jesse esteve malditamente feliz porque estavam todos aqui,
malditamente feliz que ela tivesse tido esse momento, que ela sempre saberia que
seu casamento tinha sido abençoado pelos bons desejos dos amigos.
Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela ficou diante dele. O ministro
pigarreou. — E quem dá esta mulher a este homem?
— Charles — disse Paul. Ele apertou a mão de Maddie e deu um passo atrás,
para a deixar para o cuidado de Jesse.
Jesse não se importava se ela deveria lhe dar o braço e ficar ao seu lado. Não
era o suficiente, não era o suficiente para o que ele estava sentindo, não era o
suficiente para tudo o que ele viu refletido em seus olhos. Ele tomou sua mão,
gentilmente a puxou contra ele e colocou seu outro braço atrás de suas costas, a
segurando perto, da forma como ele a pretendia manter pelo resto de sua vida.
Em seguida, ele abaixou a boca para a dela, lhe concedendo um beijo doce e
cheio com a promessa de paixão.
Quando ele levantou os lábios dos dela, as crianças os cercaram, cada uma
querendo seus próprios abraços e então foi a vez de Cassie, com lágrimas nos olhos
e depois Paul.
Maddie não ouviu as pessoas afastarem as cadeiras para os lados mas ouviu
os acordes cadenciados do violino. Sorrindo, Jesse a tomou em seus braços e
dançou com ela pela sala. Eles dançaram sozinhos, cercados pela família e amigos,
até que a música desapareceu. Em seguida, outra música começou e outros casais
se juntaram a eles no chão.
— O seu marido disse que você está linda? — Jesse perguntou quando ele se
moveu no compasso da música.
A valsa continuou mas Maddie estava ciente de nada além dos olhos de seu
marido sobre ela, sua mão segurando a dela. — Um marido não deve ter segredos
de sua esposa. Sobre o que você pensa quando você está dançando?
Paul chegou até eles. — Eu acredito que é habitual a noiva dançar com o
padrinho, mas eu temo que Aaron não queira a parte de dançar, então eu
gentilmente me ofereci para o substituir. Você não se importa, se importa, Jesse?
— Não, isso vai me dar a chance de dançar com a minha irmã. — Ele
apertou a mão de Maddie. — Não esqueça. — Ele fez o seu caminho através da
multidão até que localizou Cassie, tomou sua mão, e a levou para o centro da sala.
— Mas há muito dele aqui, Jesse. Você não pode se virar sem ser lembrado
dele.
Eles valsaram até que a melodia lírica chegou ao fim. Jesse levou seus dedos
aos lábios e beijou a ponta deles. — Nunca dancei com a minha irmã antes.
Obrigado.
Ele esbarrou nela quando alguém esbarrou nele. Ele olhou para o rosto
radiante de Aaron conforme ele embalava um filhote de cachorro manchado de
preto e branco contra seu peito.
— Olhe, tio Jesse. Billy tem mais alguns filhotes. Ele nos quer dar este como
um presente de casamento! Você vai deixar?
Jesse estudou o rosto jovem, um rosto tão parecido com um que ele tinha
acalentado como uma criança, e perdido como um adolescente. Ele soltou um
suspiro de resignação que fez o sorriso de Aaron aumentar. — Eu suponho que sim.
Do que você vai chamá-lo? Rancher?
Ele apoiou as mãos fortes em ambos os lados de seu rosto delicado, enfiando
os dedos pelos seus magníficos cabelos, seus olhos sondando profundamente os
dela. — Que eu desejava que você fosse minha.
Ele a beijou então como nunca a tinha beijado antes: com o conhecimento
inequívoco de que ele poderia dar a ela tudo o que tinha para dar, pedir a ela tudo o
que ela queria compartilhar. Eles não eram mais ladrões roubando olhares,
implorando toques, nutrindo sentimentos proibidos.
Ela colocou os braços em volta de seu pescoço e ele baixou as mãos para
suas costas, pressionando seu corpo contra o comprimento dele, a beijando
profundamente, saboreando aquilo a que ele agora tinha direito absoluto.
À distância, ele ouviu uma buzina. — Isso deve ser a diligência — ele
sussurrou, seus lábios pairando acima dos dela.
Ele a soltou e deu um passo para fora da varanda. Assistindo suas longas
pernas o conduzindo para fora de sua vista, Maddie sentiu a alegria inchar dentro
dela. — Obrigada, Charles — ela sussurrou. — Obrigada por todos os presentes
que você me deu neste dia.
Maddie acenou até que ela já não podia ver os pequenos braços que se
agitavam para fora das janelas, até que a diligência desapareceu pela nuvem de
poeira e a poeira assentou no chão, deixando apenas o crepúsculo escurecendo para
trás.
Ela apertou as lágrimas quando Jesse puxou as lágrimas contra seu peito
robusto.
— Eles vão ficar bem — disse ele, e ela sentiu o estrondo profundo de seu
peito.
— Então eu acho que vou ter que fazer algo para manter sua mente ocupada.
— Porque ele queria que sua primeira vez fosse com um homem que você
amasse. Esse foi seu presente para você por todos os presentes que você deu a ele.
— Você sabe por quanto tempo eu esperei, o quanto eu quis ouvir você dizer
isso? — Se inclinando ele passou o braço sob seus joelhos e a carregou em seus
braços. — Eu pretendo fazer com que o presente que Charles deu a você seja o
presente mais precioso que você vai receber.
— Ele tem seus momentos. — Ele deu um passo para trás dela. Capturando
o cabelo dela, ele o colocou sobre um dos ombros. Ele desfez vários botões até que
a alta gola do vestido revelou seu pescoço delgado. Ele beijou sua nuca, então o
ponto sensível atrás da orelha. — Eu pensei em tomarmos um banho desde a
primeira noite que eu carreguei a água para você.
Ela enfiou os dedos úmidos através do espesso tapete que cobria o peito dele.
— Eu queria fazer isso no dia em que você me levantou para sair da diligência.
— Eu queria fazer isso toda vez que eu lhe trazia a água para um banho. —
Ele levantou a palma da mão e polvilhou a água sobre os ombros, observando o
rastro de água vagando para baixo, deixando gotas de umidade para trás.
— Quando Charles informou você sobre o seu presente para mim? —
Maddie perguntou baixinho.
Ela cobriu seu rosto, o puxando perto. — Você estava disposto a dar tanto a
ele.
Ele a afastou um pouco para que seu rosto não estivesse mais escondido.
Suas bochechas estavam brilhantes de embaraço, e ele a amou por isso. Ele
arqueou uma sobrancelha. — Nunca?
Lentamente, ela moveu a cabeça de um lado para o outro, os olhos fixos nos
dele. — Acho que eu deveria ter me sentido tímida. — Ela permitiu que seu olhar
seguisse os contornos do seu corpo. Um sorriso apreciativo aliviou seu rosto
enquanto seu olhar voltava para os olhos dele.. — Eu pensei que você era
magnífico, e parecia tão certo olhar você e tocar em você. — Ela passou a mão ao
longo de seu peito. — Sempre me senti confortável com você perto.
Ele passou a mão ao longo das curvas que ele tinha memorizado pela
fogueira. — Eu vou tocar toda você esta noite, Maddie. — Ele deslizou sua mão ao
longo de seu quadril. — Mas não na banheira.
Lhe dando um sorriso terno, ele se levantou e estendeu a mão para a toalha
na frente do fogo. Ela sorriu enquanto as sombras brincavam com a pele bronzeada.
Ele jogou a toalha na cama, deslizou seus braços para debaixo dela e a
levantou da água. Ele a deitou na cama e, usou a toalha para secar seus braços
lentamente. Depois ele começou a secar suas pernas. Ela traçou seu dedo ao longo
da cicatriz nas suas costas. Então ele jogou a toalha de lado.
— Eu sei — ele disse quando se deitou a seu lado. — Mas sempre que eu ia
a pé até o riacho, eu pensava nisto.
Maddie estava fria, onde a água brilhava sobre seu corpo. Ele mergulhou o
rosto entre seus seios, e ela sentiu o calor de sua boca enquanto ele sugava as
gotículas. Enterrando os dedos em seus cabelos, ela gemeu baixinho, ficando mais
quente conforme ele deslizou a boca sobre a sua pele, bebendo dela.
Ele levantou os olhos para ela. — Ah, Uísque, você é tão doce. — Ele a
beijou devagar, saboreando a sensação de sua boca acasalando com a dele,
saqueando o que ele agora tinha direito absoluto.
Maddie passou o pé até sua panturrilha, em seguida, para baixo, chegando
até os dedos dos pés tocando na ponta do seu pé. Ela deslizou as mãos pelas costas
dele, sobre seu corpo, recitando o poema que ela tinha memorizado tão bem
naquela noite em volta da fogueira. Hoje à noite, o poema terminaria de forma
diferente. Hoje à noite, ela iria explorar o que ela não se atreveu a explorar antes.
Ela deslizou as mãos entre seus corpos e colocou os dedos em torno dele.
Ele rosnou profundamente dentro de seu peito e aprofundou o beijo. Respondendo
como ela tinha tantas vezes feito em seus sonhos, ela pegou o que ele ofereceu e
exigiu mais. Ela acariciou-lhe, maravilhada com a suavidade aveludada. Ele
levantou a boca da dela e arrastou seus lábios ao longo de sua garganta.
Ele levantou o rosto do vale entre suas coxas e moveu-se para cima,
abaixando a boca para a dela. Ela o beijou profundamente com um anseio que
rivalizava com o seu. Ele se ergueu acima dela. Instintivamente, ela levantou os
quadris para o receber e ele mergulhou em suas doces profundidades.
Ela sorriu, o sorriso maroto que ele amava, e perguntou: — É a sua primeira
vez, também?
Passando seus dedos por seu cabelo, ela o apertou para baixo e trouxe seus
lábios nos dela. Suas línguas dançaram uma valsa lenta com uma melodia criada
por seus corações. Lentamente, seus corpos começaram a seguir o mesmo ritmo.
Ele saiu dela.
— Não.
Ela abriu os olhos e segurou os dele, enquanto ele a levava mais longe da
costa. Ela engasgou quando uma onda de sensações chegou, seguida rapidamente
por outra. E quando a última onda rolou, a levantou ainda mais alto. Ela gritou, se
agarrando a ele conforme seu corpo estremeceu repetidamente com suas estocadas
finais, seus gemidos criando o verso final perfeito.
Por longos momentos, repletos, eles fizeram pouco mais do que olhar para o
outro. Então ele sorriu para ela. Seu rosto estava relaxado e totalmente em paz. Sua
boca se curvou em um pequeno arremedo de um sorriso. — O que você está
pensando? — ele perguntou.
Ela suspirou baixinho. — Eu estava pensando sobre Charles.
— Isso é o que um homem quer ouvir depois que de fazer amor com uma
mulher. Que ela está pensando em outro homem.
Ele deixou cair um beijo rápido em seus lábios e fez um movimento para se
mover para fora dela. Ela emoldurou seu rosto, parando seus movimentos. — Não
se mova para longe. Eu só estava pensando em que presente incrivelmente belo
Charles me deu. — Carinhosamente, ela arrastou seus dedos sobre seu rosto. — Eu
não posso sequer começar a imaginar qual seria a sensação de ter o corpo de outro
homem dentro do meu sem o amor estar nos ligando. Se eu soubesse que
supostamente seria assim tão belo... eu nunca teria caminhado até Bev.
Com lágrimas nos olhos, ela sussurrou com voz rouca: — Eu quero fazer
você feliz.
— Você já faz — disse ele pouco antes dele abaixar a boca para a dela.
Charles dormia com o braço sobre o estômago de Maddie. Jesse dormia com
seu corpo envolto ao dela. Ela acordou com a certeza de que estava realmente
dormindo com um homem viril. Ela esticou os dedos do pé até que os pôde
esfregar no peito do pé dele. Ela sorriu. Era muito melhor quando ela estava
aconchegada embaixo dele na cama e não pendurada em um galho de árvore.
Ele moveu nem um músculo. Ela soprou uma brisa suave sob seu queixo.
Seu nariz se contraiu. Ela beijou o centro de seu peito e ouviu um ronronar suave
em sua garganta. Ela esperou, e ele começou a roncar suavemente. — Jesse?
Quando ele não respondeu, ela começou a sair de debaixo dele como se
fosse uma lagarta se movendo lateralmente. Ela pensou em Aaron e quis saber
como ele estava desfrutando de sua aventura. Tudo parecia tão tranquilo, sem as
crianças ao redor. Quando ela se sentou, o braço de Jesse serpenteou para fora e a
puxou para trás.
— Aonde você está indo? — ele perguntou, sua voz grossa de sono.
Ela se virou para que o pudesse enfrentar e enfiou os dedos pelos cabelos em
seu peito. — Pensei em pegar um pouco de café.
Um canto de sua boca inclinou para cima. — Você não acha que eu vou
estar de bom humor hoje?
— Oh, eu o pretendo manter de bom humor, mas eu achei que não faria mal
começar bem o dia.
Sua boca desceu para capturar a dela, e ela foi a única que ronronou.
Envolvendo seus braços ao redor dele, ela sentiu seus músculos ondularem quando
ele se aninhou entre suas coxas. Ele entrou nela se movendo lenta e
preguiçosamente contra ela. Ela apertou as coxas e ele gemeu, aprofundando as
estocadas.
Ele beijou a ponta de seu nariz, ela beijou seu queixo. Ele beijou o ponto
sensível abaixo de sua orelha, ela beijou sua garganta, seguindo seu pomo de Adão
conforme ele deslizou para cima e para baixo. Ele beijou seu ombro, ela beijou o
dele. Em seguida, ele se levantou, e os movimentos preguiçosos uniram em um
frenesi de impulsos. Maddie ansiosamente cumprimentou seus golpes até que ela
estremeceu debaixo dele, até que ele estremeceu acima dela.
Ele caiu sobre o cotovelo com a respiração difícil. Ela passou as mãos ao
longo de suas costas úmidas, sabendo agora por que ela encontrava o suor deste
homem tão atraente. Ele sorriu para ela. — Bom dia.
Ele rolou para o lado a trazendo a com ele. — Eu nunca beberei café
novamente.
Seu braço saiu dela. Ela deslizou para fora da cama, com os pés descalços
foi em direção a janela e puxou a cortina. Ele se levantou em num cotovelo e
apreciou a vista esplêndida de seu traseiro. Em seguida, ele gostou de a ver correr
de volta para a cama e deslizar debaixo das cobertas.
— O sol não surgiu ainda — ela disse quando se aconchegou procurando por
calor. — Eu quero olhar para o seu sonho quando o sol nascer.
— Meu sonho está aqui, Maddie, com você. Todos esses anos, eu apenas
pensei que era meu gado.
Ele deixou cair um breve beijo em seus lábios. — Tudo certo. — Ele saiu da
cama, vestiu suas calças e caminhou até a porta. Lá, ele esperou.
Ela foi com ele para seu quarto e o observou se vestir. Então foi a vez dele
com ela para o quarto dela e a observar se vestir.
— Qual é o quarto que você quer que seja o nosso quarto? — ele perguntou
quando ela escorregou para a saia que ele tinha comprado para ela em Austin.
— Seu quarto.
— Eu queria estar aqui com você desse jeito na manhã que eles chegaram —
disse ela calmamente.
Ele apertou seu abraço. — Você estava comigo, Maddie, no meu coração.
Pelo resto do dia eles fizeram pouco mais do que experimentar a alegria de
partilharem aqueles momentos juntos, o que se tinham negado no passado.
~
Maddie sentiu o deslizar impetuoso através de seu cabelo. Ela nunca teria
pensado que seu marido era do tipo de homem que escovava o cabelo de uma
mulher. Ele lhe tinha dado um outro banho. Então ela lhe dera um. Ele tinha
gostado até que saiu da água com o cheiro de flores, mas o seu estado de espírito
descontente não durou muito tempo.
Ela estava sentada diante do espelho com seu roupão. O marido dela estava
atrás dela nu como no dia em que nasceu. Ele se moveu para o lado, e ela teve um
vislumbre de seu esplendor no espelho. Ele veio para trás, e ela ficou com nada
mais do que a visão de seu peito.
Ele caiu de joelhos, a virou levemente e escondeu o rosto entre seus seios.
— Querido Deus, mas você é doce.
— Ambos.
Ele rodou sua língua ao redor de um mamilo. Ela se arqueou para ele que
continuava a amar o outro seio. Ela baixou a cabeça para a frente até que a
bochecha dela estava pressionada contra o topo de sua cabeça. — Eu estou
queimando agora, Jesse.
Ela fez o que ele pediu. Ele deslizou uma mão sob suas nádegas e envolveu
um braço ao redor de suas costas. Ele se levantou, e ela se agarrou a ele.
Ela se deixou despir, um braço de cada vez, permitindo que o roupão caísse
no chão. Ele cruzou o quarto e se sentou na cama. Ele segurou a parte de trás de
sua cabeça e inclinou seu rosto para que sua boca pudesse trancar a dela. A
beijando profundamente, ele a depositou na cama, cobrindo o corpo dela com o seu.
O fogo na lareira rugiu, lançando o seu calor na direção deles, coisa de que
tinham pouca necessidade já que criaram o seu próprio fogo um dentro do outro.
Jesse deslizou seus braços debaixo dela, a pressionando contra ele, quando e a
girou. Ela soltou um suspiro surpreso quando se viu montando os quadris dele. A
questão surgiu em seus olhos, e em seu olhar escurecido ela encontrou a resposta.
Ela levantou os quadris e trouxe abaixo para o embainhar. Ele passou os dedos
pelos cabelos dela, os espalhando até formar uma cortina em volta deles.
Sorrindo, ela colou os lábios nos dele. Sua boca se congratulou com a dela, a
seduzindo para explorar sem pressa. Ele segurou seus seios e delicadamente os
moldou para caber na palma da mão. Ela lentamente circulou seus quadris até que
sentiu a primeira faísca. Ela levantou os lábios dos dele e enterrou o rosto em seu
pescoço. Colocando as mãos nos quadris, ele pediu para ela continuar. Ela se
levantou e seguiu o ritmo que tinha definido. Ele mais uma vez segurou seus seios,
apertando suavemente. Ela sentiu as faíscas inflamarem e lançou um pequeno grito.
Ele levantou a cabeça do travesseiro e amamentou seu peito. E ela explodiu em mil
fogos.
— Sempre, Uísque.
Ela beijou seu ombro, pescoço, mandíbula. — Você vai me dar um outro
presente?
Enfiando os dedos por seus cabelos, ele inclinou seu rosto até que a pôde
olhar nos olhos. — Eu vou lhe dar todos os presentes que você quiser.
Os primeiros raios de sol da manhã se infiltravam pela janela quando
Maddie abriu os olhos lentamente.
— Quer se sentar?
Ela assentiu com a cabeça. Ele passou o braço sob suas costas, a levantou, e
empurrou travesseiros atrás dela. Ela se acomodou contra os travesseiros, sentindo
um contentamento maior do que qualquer um que ela já tinha conhecido.
Jesse olhou para sua filha, situada em paz dentro de seu pequeno berço ao
lado da cama. — Linda.
Maddie colocou a palma da mão contra sua bochecha eriçada. — Você
dormiu?
Ele cobriu a mão dela, virou a cabeça e deu um beijo no centro de sua palma.
— Eu nunca pensei sobre ter a minha própria família, uma família que fosse minha.
Desde que eu tinha doze anos, tudo o que eu queria era encontrar Charles e Cassie.
Então, quando eu encontrei Charles, eu fiquei contente de compartilhar seus filhos.
— Ele apertou a mão dela, limpou a garganta obstruída, e afagou sua bochecha. —
Mas o presente que você me deu nas primeiras horas antes do amanhecer desta
manhã... Ah, Maddie, eu não consegui dormir pela maravilha dela, pela maravilha
que é você.
Ele capturou uma lágrima conforme ela se arrastou lentamente pelo seu rosto.
— Eu amo você, Uísque.
Um grito suave tirou sua atenção dela. Ele olhou para a filha quando ela
começou a exercitar os pulmões com mais ferocidade. — O que é isso? É um
sotaque Inglês o que eu ouço?
Cheia de alegria, Maddie riu. — Acho que ela está provavelmente com fome
e ficando impaciente com você por não a trazer aqui.
Ela sorriu. — Por que você não os deixa prontos? Nós devemos concluir
aqui até você voltar.
Maddie passou os dedos pelo fino, cabelo ébano da filha. Ela contou seus
dedos das mãos e pés como fez pouco depois que sua filha nasceu. Ela estudou a
maneira como seus cílios grossos descansavam nas bochechas rosadas. —
Obrigada, Charles — ela sussurrou. — Obrigada por me levar tirar de Bev.
Obrigada por me dar uma família para amar.
A porta se abriu um pouco e três cabeças olharam para dentro de uma só vez.
— Tio Jesse disse que tínhamos que ficar quietas — Hannah sussurrou.
— Eu não acho que vocês tem que ficar quietas. Se apressem até aqui para
que eu possa ganhar alguns abraços.
As meninas correram para o outro lado do quarto, disputando seus lugares
ao lado da cama. Maddie estendeu a mão e deu a cada uma um abraço. Aaron
chegou, e ela estendeu a mão.
— Ah, mãe. — Ele se inclinou e a abraçou, cuidando para não se intrometer
no espaço agora ocupado pelo mais novo membro da família. Ele se endireitou e
estudou o bebê. — Ela se parece com o tio Jesse.
Jesse se sentou no outro lado da cama. Maddie sorriu. — Sim, ela parece.—
Ela inclinou o rosto do bebê para as crianças. — Vejam, os olhos são escuros.
— Qual o nome dela? — perguntou Hannah.
— Charlene.
— Parece com o nome de papai — disse Aaron.
— Está tudo bem para você? — Jesse perguntou.
Aaron olhou para seu tio. — Sim. Eu acho que ele gostaria disso.
— Lindo bebê — disse Taylor, suas mãos dobradas em cima da colcha
enquanto ela se inclinava para a cama.
— Sim, ela é um lindo bebê — disse Maddie. — Assim como você foi
quando você nasceu. E ela vai crescer para ser tão bonita como você é agora.
Com seu rosto radiante, Taylor olhou para Hannah.
— E tão bonita quanto eu — disse Hannah.
— E tão bonita quanto você — Maddie lhe assegurou.
— Eu estava pensando — Aaron começou — se você é minha mãe e ele é
meu tio, ela é minha irmã ou minha prima?
— O que você quer que ela seja? — perguntou Maddie.
— Minha irmã.
— Então, isso é o que ela é.
Aaron estufou o peito com o pensamento de ter uma outra irmã.
— Por que vocês não vão para a cozinha, e eu vou descer em um minuto
para ver o café da manhã? — Jesse perguntou.
As meninas correram para fora do quarto. Aaron andou mais devagar, parou
na porta e olhou de volta para o quarto. — Tio Jesse, eu estive pensando. Charlene
pode ficar confusa se eu sou seu irmão e Hannah e Taylor são suas irmãs e
chamarmos você de tio. Estou pensando que talvez nós devêssemos começar a
chamar você de papai. Só assim ela não crescerá confusa. Papai me disse que
estaria tudo bem quando eu estivesse pronto. Agora é um bom momento para estar
pronto, vendo como eu tenho uma irmã nova e tudo.
Maddie sentiu as lágrimas em seus olhos. Ela olhou para Jesse e assistiu seu
pomo de Adão trabalhar. Gentilmente, ele limpou a garganta obstruída. — Eu
gostaria disso — disse ele com a voz rouca.
Aaron sorriu. — Eu vou dizer a Hannah e Taylor. — Ele fechou a porta
silenciosamente atrás dele.
Deitando Charlene ao lado dela na cama, Maddie estendeu a mão e colocou
os braços em volta dos ombros de Jesse. Com cuidado, ele a puxou para perto,
enterrando o rosto em seu cabelo.
— Outro presente? — ela sussurrou.
Erguendo a cabeça, ele olhou em seus olhos. — Tenho a sensação de que
vamos passar o resto de nossas vidas descobrindo todos os presentes que Charles
nos deixou. — Ele embalou o amado rosto em suas mãos grandes. — Mas você
sempre será o presente pelo que eu vou ser mais grato.
Ele abaixou a boca para a dela, a beijando ternamente, inibindo seu desejo,
lhe dando nada além de seu amor.
Ela aceitou a sua marca em seu coração, sabendo que nos anos vindouros,
quando seus corpos estivessem velhos e cansados, eles só precisariam dar as mãos
para experimentar a alegria deste amor.
E ela sabia que seus corações para sempre se lembrariam, não só dos
presentes, mas do homem especial que os tinha envolvido em amor e o entregue a
eles com cuidado.