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Presentes de Despedida

Lorraine Heath
Sinopse
Casando-se com Maddie, uma mulher que trabalha em um bordel, a fim de
sobreviver, o viúvo Charles Lawson espera fornecer a seus três filhos uma mãe
amorosa até a sua doença terminal o obrigar a organizar um compromisso entre
Maddie e seu irmão.
Texas, 1881

Maddie Sherwood ouviu quando as gargalhadas ecoaram na noite. Ela sabia


que tipo de casa era aquela onde estava à espreita, o tipo de mulheres que viviam
dentro de suas paredes, como elas ganhavam seu sustento. Suas bochechas estavam
rosadas, seus peitos cheios, e ela teve a energia para rir.
Quando foi a última vez que ela riu?
Ela sentiu seu estômago guinar quando o aroma de cenouras, batatas e carne
nadando em um caldo grosso flutuaram pelo beco. Sua boca encheu de água e as
lágrimas brotaram espontaneamente em seus olhos. Ela agarrou a chita desgastada
de seu vestido, como se isso, por si só, pudesse bloquear a fome crescendo em seu
abdômen vazio.
Um vento frio varreu o beco deserto. Ela virou as costas para ele, seu cabelo
emaranhado era uma barreira frágil contra os elementos agressivos à sua volta.
Apenas dois dias antes, uma primavera persistente tinha começado a aliviar o
caminho para o verão, e brisas quentes tinham acariciado a terra. Ela tinha aceitado
a promessa de um clima mais quente da Mãe Natureza e trocado seu casaco por
uma batata quente. Na semana anterior, ela tinha trocado os sapatos por um pão
envelhecido e queijo mofado.
Agora ela não tinha mais nada para negociar, além de seus sonhos.
A porta traseira abriu guinchando, derramando a luz pálida da lamparina no
beco, os dedos da luz estendendo a mão para a tocar. Uma mulher robusta apoiou o
braço contra o limiar da porta, sua postura acomodando o quadril de modo que ela
tivesse um lugar para plantar a outra mão. — Não gosto de pessoas aqui atrás do
meu lugar — disse ela.
A voz rouca da mulher revelou sua identidade. O irmão de Maddie, Andrew,
havia falado muitas vezes de Bev, a senhora que possuía este estabelecimento
notório em Fort Worth, o “Hell's Half Acre”. Ela entretinha igualmente a bandidos
e juízes e tinha a reputação de comandar uma casa honesta. Nada saía do bolso de
um homem lá que não o tivesse tirado ele mesmo.
Maddie desejou poder se afastar mas era mais do que a fraqueza nas pernas
que a mantinha presa ao chão. Era a suja verdade. — Eu não tenho nenhum outro
lugar para ir.
Bev saiu da porta, seu vestido de tafetá escarlate sussurrando pelo chão
enquanto passeava em direção à criança abandonada, inclinada contra o muro em
ruínas. Ela colocou um dedo debaixo do queixo da jovem e levantou o rosto para a
lua. — Você com certeza é uma coisinha magricela. Com fome também, eu aposto.
Ela deu um leve aceno de cabeça.
— Nada nesta vida vem de graça, querida. Eu tenho um pouco de comida
quente, um banho quente e uma cama macia que eu poderia lhe dar, mas você tem
que me dar algo em troca.
— Eu posso limpar a sua casa.
A risada gutural de Bev ecoou pelo corredor. — Querida, eu não ganho
dinheiro com uma casa limpa. Se você está disposta a compartilhar uma cama
macia com alguns cavalheiros a cada noite, então eu estaria disposta a deixar você
dormir na mesma.
Maddie fechou os olhos. Ela sentiu a sombra do calor radiante a sua volta
enquanto Bev posicionava seu corpo para que ele servisse como um amortecedor
contra o vento.
— Querida, você não vai morrer do que estou lhe oferecendo. Na maior
parte, não é tudo tão desagradável. Ah, inferno, você pode tratar com um homem
que é um pouco áspero, um homem que nunca ouviu falar de sabão, mas na maior
parte, os homens são apenas solitários. Por alguns minutos, você os faz esquecer o
quão malditamente solitários eles são.
Maddie abriu os olhos, um tremor desagradável de ansiedade percorrendo o
comprimento de seu corpo. — Eu nunca... Nunca estive com um homem.
Soltando o braço em volta dos ombros da menina, Bev a puxou contra seu
peito amplo. — Bem, isso é ainda melhor, querida. A primeira vez deve ser
especial. Vou me assegurar que assim seja. Agora vamos levar um pouco de
comida a essa barriga e lavar você também..
Ela recusou quando Bev a começou a levar para a porta aberta.
— Vamos lá, querida — Bev pediu, sua voz cheia de conhecimento. — Se
houvesse qualquer outra opção, você a estaria realizando agora.
Enxugando as lágrimas silenciosas que umedeciam sua face, Maddie seguiu
Bev para dentro, por um corredor estreito até um quarto que estava envolto em
sombras como se segredos se escondessem nos cantos.
Maddie só comeu ensopado o suficiente para impedir seu estômago de
roncar, aceitando a promessa de uma refeição adequada, uma vez que ela
terminasse de atender seu primeiro cliente. Com o nó apertando o estômago, ela
achou que não poderia ter comido mais do que tinha sido oferecido.
A água do banho estava morna, e ela não estava completamente certa de que
tivesse sido a primeira a usar. Se esfregou rapidamente, e também assim se secou.
Ela penteou os emaranhados fios de seu cabelo e vestiu um vestido de seda
vermelho, posicionando as tiras finas sobre os ombros nus para que o corpete
cobrisse os seios pequenos.
Cavando profundamente dentro de si mesma, ela desenterrou o pouco de
dignidade que restava, entrou no meio da sala de estar dourada e subiu em uma
mesa. Afastando os pensamentos perturbadores de tudo o que iria acontecer antes
desta noite terminar, ela fixou o olhar em uma fenda fina rachada de uma parede
distante.
Lambendo os lábios, ela mais uma vez provou o uísque que Bev tinha dado a
ela para beber. O cheiro acre de fumaça de charuto agrediu suas narinas conforme
os homens se aglomeravam ao redor dela. Apesar de terem sido proibidos de a
tocar até que tivessem pago, ela sentiu como se dedos gelados deslizassem ao
longo de sua pele.
As ofertas, que incluíam gritos, risos e comentários lascivos, começaram.
Ela manteve os olhos voltados para a rachadura na parede, desejando que pudesse
voar através do quarto e sair por ali.
— Vamos lá, querida, lhes dê um gostinho do que eles vão receber — Bev
pediu, batendo as unhas pintadas com impaciência sobre a mesa.
Maddie sabia que ela ia fazer mais hoje à noite do que uma virgem como ela
faria em qualquer outra noite de sua vida. Bev lhe dera instruções explícitas sobre
como obter o lance mais alto, mas seguir essas instruções era tarefa mais difícil do
que ela imaginava. Ela lembrou a si mesma como estava com fome, frio e sozinha.
Lentamente, ela moveu os dedos trêmulos para uma das alças. À medida que as
vaias aumentavam, ela deslizou a alça do ombro e trouxe o corpete do vestido para
baixo para revelar um peito, seus olhos nunca deixando a rachadura na parede.
— Mil dólares.
Quando um silêncio desceu sobre a sala, Maddie fechou os olhos, não certa
de querer olhar para o homem que ofereceu uma quantia tão exorbitante.
— Oh, inferno, você poderia ter esperado até que tivéssemos visto mais —
gritou um homem, desgosto e decepção evidentes em sua voz.
Uma cadeira raspou no chão quando uma voz masculina agradável ressoou
por toda a sala. — Você quer ver mais, então pague pelo privilégio.
Maddie abriu os olhos e viu um homem alto de cabelo marrom atravessar a
sala. A multidão se abriu, lhe permitindo o acesso ao seu prêmio. Ele concentrou
sua atenção em Bev, seu sorriso ligeiro.
— Você imagina eventuais lances?
Bev sorriu. — Eu não, querido. Imagino que você passou por cima deles de
qualquer maneira, não é?
Ele acenou com a cabeça ligeiramente e estendeu a mão para Maddie. Ela
enfiou a mão na sua, saboreando a força e o calor que ele fornecia quando a ajudou
a descer a uma cadeira e, em seguida para o chão. Discretamente, ele deslizou a
alça de seu vestido em seu ombro e ajustou seu corpete antes de colocar seu casaco
sobre os ombros dela.
— Eu vou te mostrar o quarto — disse Bev enquanto ela se levantava da
cadeira.
— Por mil dólares, minha senhora, eu espero ficar com ela por toda a noite.
— Ele arqueou uma sobrancelha. — No meu quarto de hotel.
Bev riu. — Você me mostre esse milhar de dólares e vamos ver o que
podemos fazer. — Com um gingado, ela se virou e andou em direção ao fundo da
sala.
O homem colocou seu braço ao redor de Maddie, a puxando
possessivamente contra seu corpo, a conduzindo através da multidão de homens
como se fosse seu dono..
Conforme o feijão embebido em manteiga derretia em sua boca, Maddie se
perguntava se alguma outra coisa poderia ser tão deliciosa.
— Quando foi a última vez que você teve algo para comer?
Com pesar, ela engoliu em seco, incapaz de saborear o gosto, por mais que
quisesse. — Eu tive algo para comer no início da noite. — Evitando os olhos do
homem, ela espetou um pedaço de carne e a trouxe aos lábios, inalando o aroma
picante, pouco antes de a colocar em sua boca. As ações do homem não foram
nada do que ela esperava.
Uma vez que eles chegaram no seu quarto de hotel, ele preparou um banho
quente, tirou o casaco de seus ombros e colocado um cobertor da cama em volta
dela. Ele pediu comida e lhe deu a escolha de tomar banho ou comer primeiro. Ela
escolheu comer, ainda que olhasse para a imagem de boas-vindas da nebulosa água
dentro da tina de madeira, de vez em quando.
— Maddie. Você se importa se eu te chamar de Maddie?
Ela moveu a cabeça lentamente de um lado para o outro e brincou com as
batatas. Conforme eles tinham embarcado na carruagem para o hotel, ele perguntou
o nome dela. Foi a única coisa que ele tinha pedido dela desde que ele a escoltou
para fora daquele salão. Ele disse a ela que seu nome era Charles Lawson.
— Maddie, olhe para mim.
Ela levantou o olhar para ele. Seus olhos eram de um profundo marrom
escuro, a lembrando do doce que sua mãe fazia no Natal. E eles estavam cheios de
compaixão e compreensão.
— Maddie, você quer trabalhar no salão daquela casa? Era realmente o seu
desejo se tornar uma das meninas de Bev?
Lágrimas correram de seus olhos. Alcançando o outro lado da mesa, ele as
limpou com o polegar conforme elas desciam por sua face. Ele lhe deu um sorriso
suave. — Como você sobreviveu antes de hoje à noite? Quem cuidou de você?
Fungando, ela correu um dedo debaixo de seu nariz. — Meu pai. Meu irmão.
— O que aconteceu com eles?
— Eles foram mortos durante um assalto de diligência.
— Quando isso aconteceu?
— Duas semanas atrás.
Ele sentou-se e a estudou. Ela se mexeu na cadeira, imaginando o que ele
estava pensando, esperando que ele fosse pedir mais respostas dela.
— Certamente, seu pai deixou algo para você.
Ela balançou a cabeça. — Nós nunca tivemos muito. O negócio do meu pai
o levava a se movimentar muito. — Ela forçou um sorriso trêmulo. — Ele
prometeu que nós nos estabeleceríamos aqui. Disse que iria comprar uma casa...
uma pequena casa com uma cerca branca que iria rodear toda ela. — Ela ergueu
um ombro ligeiramente. — Mas não deu certo.
— Então, você não tem nenhum lugar para ir, ninguém para a ajudar?
Seus olhos correram ao redor da sala muito bem decorada. Ela nunca em sua
vida viu nada tão grandioso. — Eu não tenho nenhuma habilidade, qualquer uma.
— Ela trouxe seu olhar para descansar em seus olhos castanhos. — O que eu acho
que não será mais verdade depois desta noite.
Ela assistiu um escarlate profundo lavar seu rosto. Ela nunca tinha visto um
homem antes ruborizar, não sabia que os homens podiam ruborizar. Certamente,
seu pai, seu irmão, e seus companheiros de viagem não coravam.
Arrastando a cadeira no piso de madeira, Charles se levantou e caminhou até
a janela. Puxando a cortina, ele olhou para a noite tranquila. Algumas carruagens
passavam ao longo da rua. As pessoas caminhavam pelas calçadas, parando, de vez
em quando, para olhar na vitrine de uma loja. Ele tinha uma longa lista de coisas
que precisava fazer enquanto estava em Fort Worth. A jovem comendo em seu
quarto de hotel não era um dos itens em sua lista.
Ele tinha ido até a Bev à procura de companhia, de alguém para tirar de sua
mente seus problemas por algumas horas. Ele estava sentado no canto, tomando
um uísque, solitário, tentando decidir qual mulher iria ganhar suas moedas. Então
esta jovem tinha escalado em cima da mesa, e Bev tinha anunciado na sua voz
profunda, gutural, que a virgindade da moça iria para quem desse o maior lance. E
assim, seus problemas se tornaram insignificantes.
Ela parecia tão pequena na sala cheia de homens. Seu cabelo dourado em
cascata sobre seus ombros não havia ocultado o fato de que o vestido berrante que
ela usava tinha sido feito para uma mulher mais rechonchuda. Era evidente que
tempos difíceis tinham a haviam alcançado. No entanto, ela possuía uma beleza e
uma dignidade que a fome não podia disfarçar; uma inocência que os jovens
mostravam com tenacidade; uma inocência que seria dilacerada tão facilmente
quanto sua virgindade; uma inocência que, uma vez roubada, nunca poderia ser
devolvida.
Os homens naquela sala estiveram fazendo ofertas pelo privilégio de roubar
aquela inocência, para ser quem a saquearia, para ser o último homem a olhar
aqueles olhos confiantes e o primeiro homem a olhar nos olhos arrasados pelo
conhecimento de que nada na vida desta jovem mulher jamais seria bonito
novamente.
Ele se perguntou se algum homem em pé naquela sala saberia que o que se
estava oferecendo, tão fervorosamente, era inestimável para ela.
Tantas coisas na vida eram inestimáveis: a primeira experiência de uma
mulher com o amor, o toque de uma mãe, os risos. No momento, Charles
encontrava pouca coisa em sua vida que o faria rir. Ele olhou por cima do ombro
para a mulher sentada à mesa.
Ele tinha dezenove anos quando tomou Alice como sua esposa. Ele visitou
um bordel ou dois em sua juventude. Os olhos das mulheres sempre pareciam
mortos, sem vida. Ele tinha temido tomar o brilho dos olhos de Alice. Ele lhe havia
dado tanta gentileza e amor quanto podia, na esperança de aliviar as coisas para ela.
Depois, seus olhos refletiam um amor por ele mais profundo do que antes.
Ele sorriu para a memória bem-vinda. Ele a tinha sempre deixado vir em
primeiro lugar, apenas ela. A maravilha que ela era sempre brilhava em seus olhos.
Pensou nas crianças que o amor deles tinha produzido. Eles sabiam pouco do
amor de uma mãe, a diferença que a presença de uma mulher poderia fazer.
Virando abruptamente, ele atravessou a sala e se deixou cair na cadeira. —
Eu gostaria de lhe fazer uma proposta.
— Você não tem que me propor nada. Você já pagou mil.
— Eu paguei mil dólares para você sair daquele inferno. E isso é tudo.
Ela usou os dedos para pentear os cabelos sedosos para trás de seu rosto. —
Eu pensei que você queria... Eu quero dizer, a oferta... Você comprou o direito...
Ele sorriu com tristeza. — Eu sou impotente.
Maddie sabia que era rude, mas ela não conseguia deixar de arregalar os
olhos ou evitar a boca de pairar aberta. Quando se recompôs, ela sussurrou —
Impotente? Isso significa que você não pode...
— Não, eu não posso. Eu fiquei preso em uma celeiro com um garanhão
com raiva, um pouco mais de um ano atrás. — Ele soltou uma risada auto-
degradante. — É um milagre que eu ainda possa mijar.
Ela baixou os olhos quando o calor chegou às pressas ao rosto.
— Eu sinto muito. Isso não foi uma coisa muito cavalheiresca de se dizer,
não é?
Ela balançou a cabeça antes de levantar o olhar para ele. Seus olhos tinham
mais tristeza dentro de suas profundezas do que qualquer homem que ela já tivesse
visto, mais do que seus próprios olhos detinham, ela estava certa. Ela inclinou a
cabeça. — Então por que você estava lá?
Mais uma vez, ela assistiu a coloração carmim vir sob suas bochechas
bronzeadas. Ele sorriu levemente. — Um homem ainda gosta de olhar e de vez em
quando tocar.
— Penso que isso faz a sua condição muito mais difícil de conviver.
— Muito na vida é difícil de se conviver, Maddie. Tudo que podemos fazer
é o melhor para a situação, pegar com a mão o que estamos tratando, e tentar blefar
o nosso caminho. Não é isso que você estava fazendo esta noite?
E o que ela provavelmente estaria fazendo amanhã à noite e a noite depois
dela. Um tremor de repulsa percorreu seu corpo. Ela ainda estaria virgem amanhã.
Ela ficaria novamente em cima daquela desequilibrada mesa, cheirando a fumaça,
estudando a rachadura na parede. Só que amanhã, Charles Lawson não estaria ali
para a levar embora.
Ele envolveu uma de suas mãos entre as dele; a dele era quente, a dela fria; a
dele firme, a dela tremia; a dele grande, a dela pequena.
— Dois anos atrás, minha esposa morreu durante o parto. Eu a amava,
Maddie. — Ele sorriu pela memória de um tempo mais feliz. — Eu a continuo
amando e sinto falta dela ferozmente. Eu não espero amar de novo, mas eu tenho
três filhos. Eu quero que eles cresçam conhecendo o toque de uma mãe.
Ele fechou as mãos com mais firmeza sobre a dela. Ela sentiu o leve tremor
em suas mãos quando ele limpou a garganta.
— Eu gostaria que você se casasse comigo.
Maddie sentiu o coração guinar dentro de seu peito, sua respiração deixar
seu corpo. Ela não conhecia este homem, mas, então, ela teria conhecido algum
dos homens que a ajudariam a sair daquela mesa? — Casar com você?
— Eu sei que estou pedindo muito a você, porque há muito que eu não posso
lhe dar: meu coração, filhos próprios. Mas eu posso lhe dar respeitabilidade,
comida na mesa, um teto sobre sua cabeça. — Uma luz minúscula brilhava dentro
de seus olhos. — Eu possuo uma pequena estalagem para diligências, ao norte de
Austin. Ela me dá uma renda modesta, e precisa de um toque feminino, assim
como os meus filhos. Você iria trabalhar desde o amanhecer até o crepúsculo.
— Mas por que casar comigo? Você poderia me contratar para cuidar de
seus filhos.
— É importante para mim que os meus filhos cheguem a pensar em você
como sua mãe. E como já me referi anteriormente, eu ainda desfruto de um toque
ocasional. Eu quero que você durma na minha cama, para a poder segurar durante
a noite. Isso, tão inocente como seria, ainda seria inadequado se não fôssemos
casados.
— Você deve conhecer outras mulheres...
— Aquelas mulheres... A maioria das mulheres... Quer um homem que pode
fazer mais do que as segurar à noite. Eu estaria lhes pedindo para desistir das
mesmas coisas que eu estou pedindo para você desistir, mas eu daria a elas nada de
igual valor em troca de seu sacrifício. Pelo menos para você, eu estou oferecendo
uma vida melhor do que a que você vai ter se voltar para Bev.
— Mas você não me conhece o tipo de pessoa que eu sou.
— Não conheço? — ele perguntou suavemente. — O que é que existia de
tão extremamente interessante sobre aquela rachadura na parede? Eu acho que
você iria gastar a sua vida à procura de rachaduras e tentando evitar suas lágrimas
de caírem.
Momentaneamente surpresa com a aguçada percepção de seus sentimentos,
ela retirou a mão da dele e a apertou dentro de seu colo. Ele se afastou para longe
da mesa. — Durma agora. Você pode me informar de manhã a sua decisão.
— Eu não preciso dormir Sr. Lawson. — Ela encontrou seu olhar de frente.
Dentro de seus olhos, ela reconheceu o desespero que o trouxe a este momento, de
pedir a uma mulher disposta a se vender a vários homens que se contente com
apenas um, um que nunca poderia realmente ser um marido para ela. — Eu estaria
honrada, senhor, de me tornar sua esposa e uma mãe para seus filhos.
Ela observou quando o alívio tomou conta de suas feições. Ela pensou ter
detectado um ligeiro brilho em seus olhos antes dele se virar e estudar o fogo na
lareira. Quando finalmente falou, sua voz estava rouca.
— Bom. Meus filhos apreciam os presentes. Eu espero Maddie, que você
seja o melhor presente que eu dê a eles.
Conforme a diligência retumbava através da estrada áspera, Maddie
observava o cenário do lado de fora com desinteresse. Ela tinha sido uma tola por
se casar com um homem que ela não conhecia, se casar com um homem com base
em sentimentos que ela pensava ter detectado em seus olhos. Ela cerrou os
maxilares, os punhos, e seu coração. Ela sabia, finalmente, porque ele precisava de
uma mãe para seus filhos. Ele era um beberrão embriagado.
Na noite, quando ele fez sua proposta, ele dormiu no sofá do quarto do hotel
enquanto ela dormia confortavelmente na cama macia. No dia seguinte, ele a levou
para fazer compras.
Em seguida, eles foram para uma pequena igreja Metodista, onde um
ministro austero realizou uma inquestionável cerimônia. Eles trocaram seus votos
rapidamente, com pouca emoção. Depois, eles vaguearam na cidade intimidante
para comprar brinquedos para dar às crianças em sua chegada, na casa.
Naquela noite, depois do jantar na sala de jantar do hotel, Maddie se
desculpou enquanto Charles ficava para trás para terminar o seu uísque. Ela subiu
as escadas para se preparar, e não da forma que uma mulher geralmente se
preparava para a noite de núpcias, mas de uma maneira que ela esperava deixar
uma memória especial da primeira noite que ela partilharia a cama com um homem.
Ela escorregou em uma camisola com pequenas flores bordadas no corpete.
Quando ela começou a soltar o cabelo dela, Charles tropeçou para dentro, andando
através do quarto até que ele caiu na cama e desmaiou.
Naquela noite, Maddie dormiu no sofá. Na manhã seguinte, ele acordou
como se nada tivesse acontecido.
Ela tinha visto outros homens enfrentando suas ressacas, mas Charles
parecia ter nenhum dos sintomas deles depois de uma noite de bebedeira.
— Você se esqueceu de me informar que bebia — disse ela secamente.
Suas bochechas se inflamaram de vermelho, e ele olhou ao redor da sala
como se só agora percebesse onde estava. Ele levou vários momentos antes de
reunir coragem para a olhar. — Eu sinto muito. Eu não sei o que deu em mim.
O que quer que tinha dado nele na noite de núpcias, aparentemente, deu nele
ontem à noite também. Pouco tempo depois que eles chegaram em Waco, ela foi
para um passeio por uma cidade que ela tinha ouvido falar muito, mas nunca antes
tinha visitado. Ela voltou para o quarto e descobriu Charles esparramado na cama,
morto para o mundo.
Ela se recusou a falar com ele esta manhã, tinha sido tentada, tão tentada a
voltar a Fort Worth ou apenas ficar em Waco. Mas ela supôs que ter o mesmo
bêbado todas as noites era melhor do que um bêbado diferente a cada hora.
Se inclinando para frente, Charles cravou os cotovelos em seus joelhos e lhe
tomou as mãos. — Maddie, eu preciso resolver as coisas entre nós antes de
chegarmos.
O ignorando, ela de repente se interessou pelas colinas cobertas de árvores.
— Eu lhe devo um pedido de desculpas por ontem à noite.
Transparecendo a mágoa e decepção claramente visíveis em seus olhos, ele
correu os polegares levemente por cima de seus dedos. — Eu mereço isso, eu sei.
Eu luto com esses encantamentos, eu realmente luto. Eles não vêm geralmente tão
frequentemente seguidos. — Ele apertou suas mãos. — Eu vou lutar mais forte
contra eles.
Tanto do seu passado era doloroso, cheio de momentos que era melhor
esquecer, mas ela queria, precisava que ele compreendesse sua aversão ao seu
hábito desagradável. — Os amigos... do meu pai... ficavam feios quando tinham
muito uísque para beber.
Ele levou os dedos aos lábios. — Será que eu fiquei feio?
— Não, você nem mesmo cheirou a azedo, como muitas vezes eles
cheiraram. Se você não tivesse andado tão torto e desmaiado, ou se esparramado
sobre a cama como você fez, eu não poderia ter sabido que você tinha bebido.
— Vou tomar mais cuidado no futuro para não andar tão torto e não
desmaiar. E eu prometo não me esparramar na cama.
Seus olhos tinham tanta sinceridade que ela se perguntou se poderia ficar
zangada com este homem por muito tempo. Além do mais, ela sabia que lhe tinha
uma dívida de gratidão. Ele a salvou de um destino pior do que lidar com um
marido bêbado.
— Você estava pensando em sua esposa?
— Não. — Ele soltou as mãos e olhou para fora da janela. — Na verdade,
eu estava pensando em você, esperando que eu não tenha cometido um erro. Tanta
coisa da vida é injusta, Maddie. Eu espero que você não vá se arrepender da
escolha que fez.
Oscilando com o movimento das rodas, ele se moveu desajeitadamente em
todo o espaço estreito que separava os assentos, sentando-se ao lado dela, e
apontou para a janela. — Ai está a casa.
Quando a diligência desacelerou, Maddie vislumbrou uma estrutura de dois
andares rodeada por majestosos carvalhos com ramos de musgo balançando na
brisa leve.
— É tão grande — disse ela.
— Ela parece ser enorme quando o piso precisa ser limpo ou as janelas
lavadas, mas quando temos convidados, parece muito pequena.
— Ela sempre vai parecer grande para mim.
Ela sentiu a excitação e apreensão golpearem seu estômago enquanto a
diligência freava até parar, balançando um pouco antes de se estabelecer em
silêncio. Ela afagou o cabelo, se certificando de que ainda estava bem protegido
em um coque digno sob seu chapéu. Ela alisou a saia de seu vestido de sarja de
viagem e respirou fundo.
— Você está maravilhosa — disse Charles, tocando o vinco em sua testa.
— Eu deveria ter confessado... eu não estive em volta de muitas crianças.
— Você vai se sair bem.
Ela assentiu, recolhendo de seu sorriso a coragem que ela precisaria para
enfrentar as crianças que hoje a chamariam de mãe.
Um clique retumbante ecoou em torno dela conforme a porta se abriu. Ela se
levantou do assento, dobrando a cintura enquanto se preparava para deixar a
diligência.
Ela viu as mãos grandes em primeiro lugar, vindas para a ajudar, apertando
sua cintura, a estabilizando. Instintivamente, ela colocou as mãos sobre o pano de
cambraia que cobria os ombros largos. Então ela ergueu o olhar.
E lá ela permaneceu, suspensa no tempo, caindo nas profundezas de
obsidiana dos olhos mais negros que já tinha visto.
O homem a ergueu para fora da diligência, uma brisa errante fundia seu
cabelo preto na testa. Lentamente, muito lentamente, ele colocou seus pés no chão,
não mais do que a respiração de um sussurro separando seus corpos. Ela estava
agora a olhar para o seu rosto áspero. Onde o sol tinha batido antes sobre ele, as
sombras agora desempenhavam seu papel, disfarçando suas feições, suavizando as
bordas afiadas.
Charles saiu da diligência. — Jesse.
O olhar do homem permaneceu fixo em Maddie, e ela se perguntou a quem
Charles estava falando.
— Eu gostaria que você conhecesse Maddie... Minha esposa.
Empurrando as mãos longe de sua cintura como se tivessem de repente
pegado fogo, o homem deu um passo atrás. — Sua esposa?
Charles passou o braço em torno de Maddie e a puxou a seu lado. — Sim,
nós nos casamos em Fort Worth.
As grossas sobrancelhas negras do homem se franziram profundamente, e
ela não tinha certeza se era o termo esposa ou casamento que era estranho para ele.
— O médico deve ter tido algumas boas notícias para você, então — disse
ele.
Ela ficou surpresa ao ver o marido pálido com as palavras do homem.
— Não, nada mudou, mas eu não quero discutir isso aqui — ele retrucou,
impaciente. — Onde estão as crianças?
— No celeiro.
— No celeiro? — Charles pegou a mão de Maddie e a começou a puxar
pelo terreno. — Eu não gosto deles brincando no celeiro.
Maddie tropeçou em uma pedra, recuperou o equilíbrio e de alguma forma
conseguiu manter o ritmo com os passos frenéticos de Charles. Considerando o que
tinha acontecido com ele, ela compreendeu plenamente o seu pânico ao pensar em
suas crianças brincando em volta de animais. Ele precipitadamente voou para o
celeiro. Eles colidiram quando ele parou abruptamente.
— Última sala.
Ela pulou quando a voz profunda ecoou por toda a enorme estrutura
cavernosa. Ela lançou um olhar aguçado sobre o ombro, o que ela esperava que
serviria como um aviso para ele não tornar um hábito se deslocar atrás dela. Em
seguida, ela foi puxada para a frente quando Charles a levou mais uma vez.
Obediente, ela seguiu.
A visão da última sala trouxe consigo o forte cheiro de feno, o perfume
desvanecendo de gado e esterco. Um menino com cabelo do mesmo tom que o de
Charles estava agachado diante de uma pilha de feno. Ele pegou uma moeda após a
outra e colocou lado a lado, seus lábios se movendo como se ele estivesse contando.
Atrás dele, a parte inferior de um par de macacões era visível. Os macacões saíram
do feno e uma menina pequena se endireitou, sacudindo seu cabelo dourado dos
olhos castanhos.
— Não pude encontrar — ela anunciou e correu em direção ao garoto.
— Olhe de novo. Tem que estar lá. O tio Jesse disse que tinha dez ai e só
encontramos nove.
Maddie olhou para o homem mais alto de pé ao lado dela. Até este momento,
até que o menino tivesse se referido a ele como seu tio, ela não tinha visto a
semelhança entre os dois homens. Linhas duras e vincos foram gravados dentro do
rosto de Jesse, características esculpidas por um certo grau de elementos da
natureza. Sua boca era tão cheia e ampla quanto a de Charles, mas onde os lábios
deste se inclinavam como se estivessem sempre prontos a sorrir, os de Jesse
permaneciam uma linha perfeita, como se esperassem para a situação dizer como
os moldar. Os contornos de seus narizes eram idênticos, em linha reta e atrevido.
Seus olhos tinham o mesmo formato mas de cores diferentes, os de Charles eram
marrom escuro e os de Jesse preto profundo. Vincos provocados por sorrisos
delineavam os olhos de Charles. Ela pensou que os vincos de Jesse era mais
provável terem sido causados por estreitar os olhos contra o sol ou vento.
Um grito ressoou e Maddie voltou sua atenção para a pilha de feno. Uma
pequena menina, anteriormente oculta, saiu para fora do feno. Com uma boneca de
pano esfarrapada caída sobre o braço, ela se agachou ao lado do garoto.
— Você achou? — ele perguntou.
Ela balançou a cabeça vigorosamente, enviando seus cachos desenfreados,
dourados como os de sua irmã, em mais desordem.
— O que vocês estão procurando? — perguntou Charles.
A cabeças das crianças apareceu e sorrisos encheram seus rostos. Charles
entrou na sala e se ajoelhou saboreando a sensação de pequenos braços indo ao
redor de seu pescoço, beijos molhados plantados em sua bochecha, exclamações de
alegria enchendo seus ouvidos.
O menino foi o primeiro a dar um passo atrás. — Tio Jesse disse que havia
dez peças de cinco centavos nesta pilha de feno. Disse que tínhamos que ficar aqui
até que encontrássemos tudo mas só pudemos encontrar nove. — Ele lançou um
olhar acusador para seu tio. — Eu estou pensando que ele mentiu.
Jesse entrou na sala. — Eu estou pensando que vocês não procuraram o
suficiente. O que é aquilo ali?
Quando o menino passou a investigar o canto indicado, Jesse deslizou a mão
do bolso e deixou cair uma moeda ao lado do pé da criança menor. A menina a
agarrou e a colocou em sua mão gordinha.
— Eu achei!
O menino se virou, seus olhos se estreitando em suspeita. — Supostamente
Texas Rangers não fazem trapaça.
— Eu não fiz trapaça. Eu disse que havia dez moedas e agora você tem dez
moedas.
— Supostamente eles não enganam as pessoas também.
O rapaz caminhou mais e começou a recolher as moedas.
— Eu não tive a intenção de o enganar.
O menino olhou para seu tio. — Então por que você manteve uma moeda?
Jesse olhou para Charles que levantou uma sobrancelha, sua expressão
dizendo claramente: "Meu menino não é estúpido. Você se meteu nesta confusão,
você saia dela."

Jesse se agachou ao lado do garoto. — Eu sinto muito, Aaron. Eu tinha


tarefas para fazer. Pedi para observar suas irmãs para que eu pudesse ficar
esperando a diligência chegar. Você não queria, então eu lhe dei um jogo para
jogar que não poderia ser terminado até que eu decidisse que era hora de ser
terminado.
— Não foi justo — Aaron resmungou.
— Nem é não ajudar quando há trabalho a ser feito — disse Charles.
Se levantando Aaron estudou suas botas gastas. — Eu não gosto de olhar
minhas irmãs.
— Às vezes temos que fazer coisas que não queremos. — Charles inclinou a
cabeça de seu filho com um dedo sob o queixo encontrando seu olhar de frente. —
Da próxima vez que tio Jesse lhe pedir para ajudar, eu apreciaria se você fizesse
isso de bom grado.
Quando o silêncio foi a resposta do menino, Charles levantou mais o queixo
do garoto.
— Sim, senhor — Aaron murmurou.
— E eu vou falar com o tio Jesse sobre não mais trapacear.
Balançando a cabeça ligeiramente, Aaron olhou para seu tio sabendo que ele
tinha perdido um pouco e ganhado um pouco. Jesse também acenou com a cabeça,
reconhecendo a derrota parcial antes de ficar de pé e se mover para fora da sala,
abandonando os sobrinhos de volta aos cuidados de seu irmão.
Charles bateu palmas. — Agora então. Eu trouxe a todos um presente muito
especial neste momento.
Voltando, ele estendeu a mão para Maddie. Ela colocou a mão na sua,
surpresa ao descobrir seu tremor. Ele a puxou para a frente. Ela se ajoelhou na
palha e olhou para os rostos sujos.
— Trouxe a vocês uma mãe — disse Charles calmamente quando ele
apertou a mão dela.
Ela sorriu, sem saber que tipo de boas-vindas esperava, mas três crianças
olhando para ela com bocas abertas não era o que tinha imaginado. Charles
colocou sua mão sobre a cabeça loira da criança menor. — Esta é Taylor.
Taylor prendeu um dedo sujo em sua boca. Ele gentilmente retirou o dedo e
puxou a criança para seu joelho. — Taylor nunca conheceu a mãe. Você pode dizer
Mãe?
Balançando a cabeça, ela escondeu o rosto manchado de terra contra o peito
de Charles.
— Você pode dizer a ela quantos anos tem?
Ela olhou para Maddie com um olho aberto, o outro ainda pressionado
contra o peito de seu pai. Dentro de seu colo ela começou a apontar os dedos,
dobrando alguns com a ajuda de sua outra mão.
Maddie sorriu. — Dois anos de idade. Não é de se admirar?
Balançando a cabeça Taylor moveu o rosto no peito de Charles.
— Você não gostaria de dar a sua nova mãe um abraço? — perguntou
Charles.
Taylor deslizou fora de seu joelho, caminhou para Maddie e passou os
braços gordinhos em volta do pescoço de dela. Maddie colocou os braços ao redor
da criança a abraçando. Ela nunca foi abraçada por uma criança, não tinha
percebido que esse abraço poderia reivindicar seu coração. Ela queria dizer alguma
coisa gentil e amável para a criança mas sua garganta estava entupida com novas
emoções. Taylor acabou o abraço, saiu no colo de Maddie e voltou a seu lugar.
Charles puxou a outra menina em seu colo. — Esta é a Hannah. Ela fará
cinco anos em poucas semanas.
— Que maravilhoso — Maddie conseguiu dizer.
— Você vai me fazer um bolo? — perguntou Hannah.
Maddie assentiu. — Eu gostaria muito de fazer isso.
Hannah sorriu e colocou os braços em torno de Maddie. — Eu amo você.
Maddie mais uma vez sentiu o nó na garganta, seu coração se expandindo.
Ela olhou para Charles e ele estava sorrindo.
— Eu vou te amar, também — Maddie prometeu, sabendo que não
demoraria muito para que ela amasse todas estas crianças.
— Eu tenho oito anos de idade, e eu não preciso de uma mãe — uma
pequena voz masculina anunciou desafiadoramente.
O clarear duro da garganta de Jesse fez o menino olhar para cima culpado. O
som brusco assustou Maddie. Ela perdeu o equilíbrio e caiu sentada. O menino riu
até que outro clarear da garganta de Jesse o levou a parar.
— Esse é o som de aviso do tio Jesse — Hannah sussurrou perto da orelha
de Maddie, suas pequenas mãos interpretando as palavras. — Quando ele faz isso,
é melhor arrumar as coisas.
— Ou então o quê? — Maddie perguntou, a voz baixa, embora ela soubesse
que todos no celeiro estavam a par das palavras que estavam sendo ditas.
Hannah ergueu um pequeno ombro. — Não sei. Nós sempre arrumamos as
coisas.
Maddie sorriu. — É um som assustador, não é? — Ela olhou para cima, seu
sorriso desaparecendo. Jesse estava observando atentamente, muito atentamente.
— Eu não a vou chamar de 'Mãe' — disse Aaron.
— Você não tem que fazer isso — disse Charles. — Ela e eu conversamos
sobre isso. Se preferir, você a pode chamar de Senhorita Maddie, mas
independentemente disso, eu espero que você lhe dê uma chance e a trate de forma
justa.
— Eu não a vou abraçar.
— Você poderia simplesmente apertar a mão dela para que soubesse que é
bem-vinda — Charles sugeriu.
Aaron estudou seu pai. Em seguida seu olhar se elevou. — O tio Jesse
apertou sua mão?
— Não, ele não fez. — Charles girou o corpo ligeiramente e sorriu para seu
irmão. — Mas ele ficou bastante próximo de a abraçar.
Maddie sentiu o calor em seu rosto. Jesse desviou o olhar e estudou a pilha
de feno, um vermelho profundo cobrindo seu rosto, rastejando para baixo na
abertura de sua camisa. Ela se perguntou se o rubor era um traço de família.
— Bem, então eu acho que poderia apertar sua mão — disse Aaron a
contragosto.
Ele estendeu a mão. Maddie colocou a mão na sua. Seus dedos se fecharam
rapidamente em torno dos dela. Em seguida, ele a soltou e enfiou a mão por trás do
babador de seu macacão, como se a escondendo o salvasse da desgraça.
Charles se levantou. Se Inclinando ele trouxe Maddie a seus pés. Ela bateu a
poeira da saia e tirou o feno, qualquer coisa para evitar olhar o homem de pé ao
lado do marido.
— Jesse, o pequeno baú em cima da diligência é de Maddie. Você poderia
levar para o meu quarto e em seguida cuidar dos cavalos? O cocheiro disse que
eles querem sair dentro de uma hora.
— Vou fazer isso.
Charles tocou a cabeça de cada criança. — Há outros presentes no baú de
Maddie. Por que não vamos ver o que são?
As crianças gritaram de alegria e saíram em disparada. Maddie observou
como Jesse caminhava atrás deles. Ele era um pouco mais alto que Charles e era
mais amplo sobre o peito e ombros, como se tivesse passado a vida trabalhando ao
ar livre.
Enquanto esteve em Fort Worth ela vira o mascote da cidade, uma pantera
negra, andando na frente do tribunal onde tinha sido acorrentada. Os movimentos
deste homem a lembraram da pantera. Elegante, poderoso, predador. Ela achou
desconcertante que ele não estivesse acorrentado.
Charles colocou a mão na cintura dela. — Você gostaria de ver sua nova
casa? Não tem uma cerca branca em torno dela mas eu acho que você vai ficar
satisfeita.
Com seu braço ao redor dela, eles caminharam em direção ao local que
servia como um ponto de descanso para os viajantes e uma casa para a família que
vivia dentro.
A casa foi construída de madeira de cedro sólido. Telhas de cipreste
enfeitavam o telhado. Contentamento subiu dentro de Maddie, enquanto ela pisava
na ampla varanda que circundava a casa. Acima dela, uma outra varanda circulava
todo o segundo andar, acessível através de portas a partir do interior e as escadas
do lado de fora.
Sorrindo, Charles abriu a porta. Maddie passou por ele ao hall. Escadas
ascendiam à sua esquerda, portas duplas guardavam a sala à sua direita. Charles
abriu as portas duplas. — Este é o lugar onde os nossos hóspedes geralmente ficam
durante a noite.
Incrédula, ela entrou na sala. Ela foi projetada para o conforto e relaxamento
dos viajantes cansados. Um sofá descansava ante a lareira. De um lado, uma meia
dúzia de cadeiras circulavam uma mesa de centro de mogno. Contra uma parede,
um relógio de pêndulo fazia um som firme conforme o seu pêndulo balançava
preguiçosamente de lado a lado. Uma escarradeira estava sentada em um canto e
no outro estava um armário com licor.
— Do outro lado da casa tem uma sala menor que a família usa à noite. Não
é tão extravagante mas eu acho que é mais aconchegante. Eu vou mostrar para
você mais tarde.
Ele a acompanhou de volta ao hall e atravessou a entrada para uma grande
sala de jantar. — Aqui é onde servimos aos nossos convidados o seu jantar.
Ela ouviu o rápido bater de pés pequenos. Em seguida, as crianças dobraram
a esquina.
— Tio Jesse não vai nos deixar abrir o baú até que vocês cheguem lá em
cima — explicou Aaron, sem fôlego de sua corrida descendo as escadas.
— Então eu acho que é melhor eu ir lá em cima — disse Charles. Ele
apertou a mão de Maddie. — Eu odeio impor algo tão cedo mas nós precisamos
obter uma refeição pronta para o cocheiro e seus guardas. Você se importaria de
ver isso? Tenho certeza que Jesse já tem algo cozinhando. Você provavelmente vai
precisar fazer pouco mais do que arrumar a mesa.
Maddie sentiu o jorro da decepção passar por ela porque ele não a havia
convidado para o andar de cima. Ela o ajudou a selecionar os presentes, queria
estar presente quando as crianças os vissem. Ela se obrigou a lembrar que estava
aqui para ajudar Charles. Ele não tinha verdadeiros sentimentos por ela, nem ela
por ele. Ela estava aqui para ser sua companheira, não o amor de sua vida.
Empurrando seu desapontamento de lado, ela respondeu da única maneira que uma
mulher em sua circunstância poderia. — Eu ficarei feliz em fazer isso.
— Maravilhoso. Não vamos demorar muito.
Ela viu quando ele levou as meninas pela mão e saiu da sala. Aaron seguiu
pedindo sugestões. Aos poucos, sua voz exultante desapareceu.
Solidão rastejou através dela conforme olhou ao redor da sala de jantar. Uma
longa mesa de carvalho com várias cadeiras em torno dela dominava o ambiente.
Se mais de uma diligência chegasse, amplos assentos estariam disponíveis para
todos os convidados. Ela caminhou em direção ao armário de madeira onde pratos
de porcelana eram visíveis através do vidro moldando as portas.
Abrindo a porta, ela estudou as pequenas flores azuis que decoravam os
pratos delicados. Ela tocou a porcelana e sorriu para a suave textura fresca. Ela
levantou uma xícara delicada da prateleira.
— Nós não usamos os bons pratos.
A voz profunda e inesperada fez com que ela pulasse, a xícara escorregando
de sua mão. Ela estendeu a mão, capturando a xícara a polegadas do chão. Mas não
foi o conhecimento de que ela salvou a taça que fez seu coração saltar uma batida.
Foi o fato de que uma mão grande e quente estava embalando a dela enquanto ela
embalava a xícara.
Tão lentamente como ele a ajudou a descer da diligência, Jesse desdobrou
seu corpo, endireitou sua postura, com não mais do que um movimento de sua mão
por baixo da dela. Seus olhos nos dela, ela se viu nadando em um oceano preto, um
oceano acenando para ela, a puxando para mais longe da costa, em águas mais
profundas, águas que ela nunca tinha nadado antes.
— Nós usamos somente os bons pratos quando temos convidados — disse
ele, retirando a mão por debaixo da dela.
Suas palavras fizeram o oceano recuar, a deixando em pé sem firmeza em
cima da costa. — Eu pensei que nós tínhamos convidados. O cocheiro da
diligência...
— O cocheiro e seus guardas. Eles não são considerados convidados. Eles
vão comer na cozinha com a gente, com apenas pratos regulares.
Ele pegou a xícara de sua mão, a colocou de volta no armário e fechou a
porta. — Eu vou lhe mostrar a cozinha.
Ela o seguiu pela sala para a ala leste da casa. A cozinha tinha um teto alto
com vigas. Panelas de cobre e panelas de ferro se penduravam de uma parede. Um
aroma picante brincou com suas narinas.
— Cheira bem — ela ofereceu.
— É só um filho de uma... — Ele olhou para ela. — Um tipo de ensopado.
Vamos usar as xícaras daquele armário lá.
Ela reprimiu o sorriso. Ela frequentemente fez o mesmo ensopado mas os
homens que tinham estado em sua companhia não se referiam a ele dessa forma.
Não achava que este homem normalmente o chamava assim, tampouco. O
ensopado não era sofisticado mas segurava as costelas de um homem. As tiras de
carne tenra eram cercadas por tomates, cebolas, batatas, e qualquer outra coisa de
fácil acesso. Era cozido até que os aromas se misturassem e se tornassem
indistinguíveis uns dos outros. Seu pai havia ensinado a ela que se ela pudesse
detectar o cheiro de um ingrediente, o ensopado não estava apto para ser comido.

Ela tirou várias xícaras do armário e as colocou, uma por uma, na mesa de
madeira cheia de marcas. Com o canto do olho ela viu quando ele levantou a tampa
da panela de ferro pesado e agitou o conteúdo dentro.
— Então você e Charles são irmãos — disse ela, tentando preencher o
silêncio vazio. Sua mão parou quando olhou para ela e ela desejou ter ficado em
silêncio.
— Você não sabia que ele tinha um irmão?
Ela moveu a cabeça lentamente de um lado para o outro, mais uma vez
nadando nas profundezas negras de seus olhos, olhos que ela, estava certa,
examinavam todos os aspectos do seu ser, olhos que, ela temia que pudessem olhar
muito abaixo da superfície de uma pessoa, para descobrir as verdades escondidas.
Ajustou o posicionamento da última xícara como se fizesse uma diferença onde ela
era colocada em cima da mesa. — O pequeno garoto...
— Aaron?
Ela forçou um pequeno sorriso. — Sim, Aaron. Ele disse que Texas Rangers
não trapaceiam. Ele estava dizendo que você é um Texas Ranger?
— Era. Eu não sou mais. Deixei de ser há pouco mais de um ano.
Não é de admirar que ele a examinou tão detalhadamente. Resolutamente,
ela se convenceu de que, o que ele era antes, tinha pouca influência sobre o que ele
era agora. Nenhum crachá decorava seu peito; nenhuma arma estava amarrada a
sua coxa; nenhum rifle descansava na curva de seu braço. — O que você faz agora?
— Trabalho aqui.
— E onde você mora?
— Eu tenho um quarto no andar de cima.
De repente, ela sentiu como se a casa não fosse grande o suficiente. — Estão
todos os quartos no andar de cima?
— Sim, há oito. Aqueles no lado leste são para a família, os do oeste para os
hóspedes.
— Entendo. — De braços cruzados, olhando o homem que olhando para ela,
ela se perguntava o que estava segurando Charles. Sempre que seu pai voltava para
casa e entregava um presente de seu alforje, mal dava tempo para dizer obrigado
antes que ela fugisse para se divertir. Ela esperava ouvir as crianças correndo para
baixo das escadas muito antes de agora. — Onde eu encontro algumas colheres?
Silenciosamente, com movimentos elegantes que ela nunca teria esperado de
um homem do seu tamanho, ele atravessou a sala para um armário de madeira e
abriu uma gaveta. — As colheres estão aqui.
Ele não pegou qualquer uma. Ele não se afastou. Ela não sabia se era um
desafio ou um teste mas ela sabia que tinha que estabelecer o seu lugar na família.
Ela atravessou a sala e mergulhou a mão na gaveta. — Obrigada.
— Você conhece Charles há muito tempo? — ele perguntou.
Ela colocou os dedos em torno de algumas colheres. — Não muito.
— Você era uma amiga de Alice?
Ele ficou tão perto que ela podia ver seu rosto refletido em seus olhos negros.
— Alice?
— A esposa de Charles.
— Não, não. Eu não a conheci.
— Você é de Fort Worth?
— Não.
O silêncio teceu em torno deles até que ela sentiu como se estivesse sendo
envolta em uma mortalha.
— De onde você é? — Ele finalmente perguntou.
— Nenhum lugar em particular. Nós nos movíamos sem destino certo.
— Como os ciganos?
— Eu pensei que você tivesse dito que não era mais um Texas Ranger.
— Eu fiz um juramento para proteger o bem estar deste estado quando
entrei para os Rangers em setenta e quatro. Eu não dei as costas ao juramento com
a minha demissão.
— E você acha que eu sou uma ameaça para o estado do Texas?
— Não para o estado mas talvez a esta família. Eu conheço um monte de
mulheres que se aproveitariam da situação de Charles para se dar bem.
— Isso não diz muito das companhias que você mantêm.
Ele estreitou os olhos e ela notou um aperto sutil dos músculos de sua
mandíbula, e lamentou sua língua ferina. Geralmente, ela a guardada, a menos que
estivesse extremamente nervosa ou se sentisse ameaçada. Neste momento, ela
sentiu ambos.
— Como é que você disse que você e Charles se conheceram? — ele
perguntou.
— Eu não disse.
Um som na porta fez Maddie se virar. Com orgulho refletido em seus olhos,
Charles estava no limiar segurando a mão de cada filha. Ambas as meninas usavam
vestidos, meias brancas e sapatos pretos. Charles tinha escovado seus cabelos
loiros até brilharem e colocado fitas violetas. Ele esfregou a sujeira e manchas do
rosto delas para revelar uma dispersão de sardas sobre a ponte do nariz de Hannah
e na parte superior do rosto de Taylor.
Um Aaron desconcertado ficou ao lado de Hannah. Sua camisa branca
engomada estava abotoada por todo o caminho até sua garganta e uma gravata
preta rodeava o pescoço debaixo do colarinho. Ele usava calças que não
mostravam indicação de que tinham sido usadas para brincar. Seu cabelo castanho
estava penteado para baixo, algumas mechas errantes apontando para cima na parte
de trás. Ele não olhou para Maddie mas para Jesse.
— Tio Jesse não teve que se vestir — Aaron anunciou.
— O tio Jesse não precisa impressionar uma senhora — Charles disse
quando trouxe as crianças para a cozinha.
Sorrindo para Charles, Maddie sentiu as lágrimas picarem seus olhos.
— Eu não quero impressionar alguém também — Aaron resmungou.
Maddie saltou quando Jesse propositadamente pigarreou atrás dela.
Aaron gargalhou. — Tio Jesse diz que apenas pessoas culpadas saltam
quando ele faz isso.
Hannah soltou a mão de seu pai, andou até Maddie e envolveu sua mão
pequena em torno dos dedos de Maddie. — Não se preocupe. Eu pulo também e
sou quase sempre boa. — Seus olhos castanhos se tornaram maiores e mais
redondos quando ela olhou para seu tio para confirmação. Sorrindo calorosamente,
ele lhe deu um aceno de cabeça.
Maddie rezou para que o homem nunca sorrisse para ela assim. Ela poderia
facilmente esquecer que ele tinha sido uma vez um homem que cumpria a lei e isso
poderia ser desastroso.
— Por que não vamos todos trabalhar juntos para obter esta refeição servida
e quando nós terminarmos de comer vamos ver o que os presentes são? — Charles
sugeriu.
— Você não deu a eles os presentes? — perguntou Maddie.
— Claro que não. Você me ajudou a escolher. Deve compartilhar a alegria
de os dar.
A alegria. E ela sentiu a alegria, sorrindo para ele, vendo o entendimento
refletido em seus olhos castanhos. Pela primeira vez, desde que ela concordou em
se casar, ela estendeu a mão e apertou a dele. Ela se perguntou se já se sentira mais
feliz do que se sentia neste momento.
Uísque. Seus olhos lembravam a Jesse de um copo de bom uísque, do tipo
que descia suavemente e aquecia o interior de um homem. O tipo de uísque com o
qual um homem se embebedaria. E ali de pé, a retirando da diligência, ele se viu
ficando bêbado.
Suas mãos tinham se estendido por sua cintura fina e doeram pelo privilégio
de abranger o resto dela. Ela era tão leve quanto uma nuvem flutuando no céu. Ele
poderia a ter segurado no ar durante todo o dia, até tarde da noite, antes que
sentisse a tensão. Ele queria arrancar seu chapéu da cabeça e dar liberdade para o
cabelo cor de mel que protegia, deixar as madeixas sedosas despejarem sobre as
mãos, do jeito que ele derramava mel sobre biscoitos.
Desde que ele estava trabalhando na pousada de seu irmão, tinha ajudado
uma centena de mulheres a descer da diligência. Muitas tinham sido mais bonitas
do que a mulher que tinha visto hoje. Então porque ele não queria tirar as mãos
dela?
Até que descobriu que ela estava casada com seu irmão não tinha sido capaz
de a libertar rápido o suficiente. Mas durante toda a tarde seus olhos tinham
tomado liberdades que foram negadas a suas mãos, a acariciando, a tocando em
todas as oportunidades. Ele só teve um vislumbre de seu sorriso mas foi o
suficiente para o fazer entender por que Charles tinha casado com ela. O que ele
não conseguia entender era por que ela se casou com um homem que só podia
prometer dor?
As perguntas que ele tinha feito na cozinha tinham sido uma tentativa de
recolher alguma luz sobre seus motivos. Ela estava cautelosa, inquieta, e ele
pensou que estava fazendo progresso até que ela atirou a sua opinião sobre as
companhias que ele mantinha.
Ele bufou. As companhias que ele mantinha. Ele estava falando em
generalizações, não especificações. Então por que se sentia como se ela tivesse
conseguido a melhor sobre ele?
Eram seus malditos olhos de uísque. Eles o tinham distraído até que estava
procurando por fatos, como um novo recruta procurava por bandidos: com
absolutamente nenhum sucesso.
Sentado em um fardo de feno, ele esfregou óleo nos arreios que tinha
reunido, estudou a maneira como suas mãos se moviam sobre o couro e as
imaginou acariciando uma mulher de forma delicada. Suas mãos deslizariam
lentamente ao longo de suas costelas até que gentilmente espalmassem seus seios
pequenos.
— O que você acha de Maddie?
Jesse levantou a cabeça e limpou o suor da testa com a manga de sua camisa.
Ele estava extremamente grato que seu irmão não fosse um leitor da mente. — Eu
não tornei um hábito julgar as pessoas antes de as conhecer.
— Isso coloca você em minoria, não é?
Dando de ombros, ele voltou a trabalhar nos arreios. — Eu nunca coloquei
muita fé no que a maioria pensa. Quando é que o gado chegará aqui?
— O gado?
Jesse parou as mãos e lentamente ergueu o olhar para seu irmão. Ele não
estava nada satisfeito com o tom em que a em que a pergunta tinha sido feita, como
se Charles não soubesse nem o que era uma vaca.
— Sim, o gado. O gado que eu te dei dinheiro para comprar.
Limpando a garganta, Charles esticou o pescoço como se alguém tivesse
acabado de jogar um laço de couro cru em torno dele. O medo de Jesse aumentou.
Ele passou anos economizando esse dinheiro, arriscando sua vida mais de uma vez
por aquele sonho. — Você comprou o gado, não é? Essa foi uma das coisas que
você deveria fazer quando estava em Fort Worth para ver o médico.
— Bem, eu vi o médico.
— E o homem que eu disse a você para ver sobre o gado?
Charles enfiou as mãos nos bolsos. — Inferno. — Ele encontrou o olhar
firme de seu irmão. — Eu precisava do dinheiro para outra coisa.
— Para algo mais? Com as ferrovias cruzando este estado, as linhas de
diligência estão começando a desaparecer. Que diabo é que vamos fazer então? O
gado eram algo que poderíamos praticar quando as linhas acabassem.
Em retrospecto, Charles percebeu que ele, provavelmente, poderia ter
começado com um lance menor, mas tudo o que ele tinha pensado na época, era na
expressão no rosto de Maddie, como se a cada momento, ela estivesse morrendo
um pouco por dentro. Ele queria garantir o que ninguém mais poderia oferecer. Ele
a queria fora daquela mesa sem os dedos trêmulos deslizarem por baixo da outra
tira daquele vestido. — Eu precisava do dinheiro para Maddie.
— Você gastou os meus seis mil dólares em sua mulher? — Jesse gritou,
jogando os arreios para o chão e se levantando.
— Ela não era minha esposa na época.
— Eu estou ouvindo — Jesse moeu fora.
— Você já foi à Bev, quando ela encontra uma virgem para começar a
trabalhar para ela?
— Uma puta? Você gastou meu dinheiro em uma prostituta?
— Não, eu gastei o nosso dinheiro em Maddie. Eu paguei mil dólares para a
tirar daquela mesa maldita. Eu a levei de volta para o meu quarto de hotel e lhe
pedi para casar comigo.
— Ela deve ter sido um inferno na cama.
Jesse estava totalmente despreparado para o punho fechado que bateu em
seu queixo e lhe enviou alastrando sobre o fardo de feno. Anos de luta para ganhar
o seu lugar no mundo lhe tinham feito desenvolver reflexos rápidos. Rapidamente,
ele se recuperou e saltou sobre os pés, os próprios punhos fechados ao seu lado.
Ele ficou lá com o peito arfando. Qualquer outro homem já teria sentido seu punho
se chocando contra seu rosto mas Jesse sabia que ele não poderia bater em Charles.
Ele se defenderia se seu irmão jogasse outro soco, mas não o queria acertar de
volta.
— Ela é minha esposa, Jesse. Você vai lhe dar o respeito que ela merece
como minha esposa ou, por Deus, você vai ficar fora da minha casa.
Jesse observou um Charles tempestuoso sair do celeiro. Esfregando o local
ferido, ele, cautelosamente, moveu sua boca. Bem, ele se perguntou que tipo de
mulher iria se casar com um homem com a aflição de Charles. Agora ele sabia.
Ele caiu no fardo de feno e escondeu o rosto entre as mãos. A pecuária tinha
sido o sonho de seu pai, um sonho que os fez viajar do Tennessee sem saber o que
estava por vir. Ele tinha envolvido as duas mãos infantis ao redor do sonho de seu
pai, se sentindo como um homem quando seu pai discutia o rancho que eles
construiriam, a terra que eles olhariam, sobre o gado que eles criariam. Após a sua
morte, seu pai tinha entregue seu sonho para Jesse.
Quando Jesse tinha compartilhado seu sonho de criação de gado com
Charles, pensou que Charles tinha abraçado o sonho também. Ele gemeu em
frustração. Charles tinha trocado seu dinheiro suado por uma prostituta.
Suas opções eram limitadas. Ele poderia voltar a trabalhar para os Texas
Rangers, arriscando sua vida ocasionalmente. Ele poderia voltar para noites
intermináveis ante uma fogueira, a camaradagem dos homens, a ausência de
mulheres decentes e crianças.
Ou ele poderia virar um caçador de recompensas. O pensamento coalhou seu
estômago. Como um Ranger, ele caçava homens por causa das coisas que tinham
feito, não por causa da recompensa oferecida por eles. Por mais que ele tentasse se
convencer de que um caçador de recompensas não era diferente, ele não podia. Era
diferente.
Ou ele poderia economizar e se apertar e esperar que as linhas tivessem mais
alguns bons anos.
Ele levantou a cabeça e olhou para a porta do celeiro aberta para a escuridão
da noite.
Ele sabia que Charles não tinha a intenção de trair o seu sonho. Era a mulher
que era responsável. Ela não teve a menor dúvida de balançar seus quadris, piscar
os olhos, e sorrir para ele. Ela o convenceu a se casar com ela e, como um ladrão
silencioso, tinha roubado o sonho de Jesse.
Bem, ele tinha muita experiência em lidar com ladrões. Nas regiões mais
distantes do oeste do Texas, um Ranger servia como juiz, júri e carrasco, quando a
situação justificava isso, e esta situação justificava o seu serviço como todos os três.
Antes dele terminar, ela se arrependeria de tomar seu irmão por um tolo e
roubar de Jesse seu sonho.
~
Não querendo se intrometer, Maddie ficou apenas no interior da porta e viu
como Charles se apoiava nos joelhos, com camisolas drapeadas sobre sua coxa,
preparando suas filhas para a cama.
Pacientemente, ele tirou seus sapatos, meias e vestidos. Então ele olhou por
cima do ombro — Você se importaria de ajudar Hannah? Ela não é tão manobrável
como Taylor.
Maddie sentiu um formigamento de gratidão, e o sentimento de pertencer
tocou seu coração quando ela atravessou a sala e se ajoelhou ao lado de Charles.
Ele lhe entregou uma camisola.
— Toquem as estrelas — disse ele. Ambas as meninas levantaram os braços
e esticaram os dedos em direção ao teto. Ele colocou uma camisola de musselina
sobre a cabeça de Taylor.
Sorrindo, Maddie imitou suas ações e deslizou a camisola sobre a cabeça de
Hannah, trabalhando seus braços nas mangas, puxando a camisola sobre seu corpo.
Ela tinha terminado antes de Taylor rir e desabar no colo de seu pai. Charles a
levou para uma pequena cama. Cada lado tinha um corrimão de madeira que se
estendia um pé acima do colchão com ripas de madeira dispostas em intervalos de
uma polegada.
— Será que esses corrimões a manterão? — perguntou Maddie.
— Não, eles estão apenas projetados para a impedir de cair.
— Tio Jesse os fez. — Hannah anunciou orgulhosamente, quando ela se
arrastou em sua própria cama. — Só que eu não preciso deles porque eu sou uma
menina grande.
Charles foi até o armário, pegou duas escovas, e entregou uma a Maddie. —
É melhor trançar seu cabelo. Caso contrário, nós vamos gastar a metade da manhã
o desembaraçando amanhã.
— Tio Jesse não trança o cabelo — disse Hannah.
— Tio Jesse não banha você também, não é?
Hannah e Taylor balançaram suas cabeças vigorosamente enquanto sorrisos
enchiam seus rostos.
— Sim, eu acho que ele esqueceu que estava com senhoras.
Maddie sentou na cama e escovou as mechas finas de seda de Hannah.
Assistindo Charles trançar o cabelo de Taylor, estava surpresa que ele tinha as
habilidades e se perguntou se ele tinha trançado o cabelo de sua esposa. Quando a
tarefa estava completa, ele beijou Taylor na bochecha.
— Dê a sua mãe um pouco de doçura, também.
Maddie beijou Hannah, então se inclinou sobre Taylor. Os braços gordinhos
de Taylor se envolveram em torno de seu pescoço, abraçando seu coração. E ela se
afastou quando Charles trouxe as colchas sobre os ombros de cada menina, antes
de colocar um beijo em suas bochechas. Engolidas pela roupa de cama, elas
pareciam extremamente pequenas e vulneráveis.
Charles esmaeceu a lamparina descansando na mesinha de noite, que ficava
entre as camas. — Nós a deixamos queimar um pouco para manter os pesadelos
longe. Boa noite, meninas.
Hannah se sentou. — Nós não dissemos 'boa noite' para o tio Jesse.
Charles voltou para o lado dela, a deitou na cama, a cobriu até em cima. —
Tio Jesse tinha algumas tarefas que ele precisava cuidar. Ele estará aqui mais tarde.
— Mas eu o quero beijar.
— Direi o que fazer. Por que você não coloca um beijo em sua mão e o
mantêm sob seu travesseiro? Você pode dar o beijo a ele de manhã.
Hannah parecia duvidosa, mas ela beijou a palma da mão, fechou o punho, e
o enfiou debaixo do travesseiro. Taylor imitou as ações de sua irmã. Charles deu a
cada garota um último beijo antes de acompanhar Maddie para fora do quarto.
Uma vez no corredor, ele colocou a mão na parte inferior de suas costas. —
Vamos dizer boa noite para Aaron, mas não fique desapontada se ele não lhe der
um beijo. Quando ele tinha quatro anos, ele disse a Alice que tinha usado todos os
seus beijos.
— Tinha usado todos os seus beijos?
Sorrindo, ele acenou com a cabeça. — Sim, mas eu acho que em cerca de
cinco anos, ele vai descobrir alguns acumulados que ainda não foram usados.
Charles bateu na porta do quarto de Aaron. Quando Aaron respondeu, ele
pegou a mão de Maddie e entrou no quarto. Aaron estava na cama com as colchas
colocadas sobre ele.
— Pensei em passar para dizermos boa noite.
— Boa noite.
Charles se sentou na beira da cama. — Eu senti sua falta quando eu estava
em Fort Worth. Pensei que você poderia me dar um abraço.
Aaron lançou um olhar furtivo para Maddie. — Não a vou abraçar.
— Será que eu pedi isso a você?
Balançando a cabeça, Aaron se sentou e atirou os braços em volta do
pescoço de seu pai. Charles o abraçou com força. — Eu amo a sua mãe, Aaron.
Meu casamento com Maddie não muda isso. — Sentindo os braços de Aaron
apertar em torno dele, sabia que tinha aplacado alguns dos medos do menino.
— Eu sinto falta de Mamãe — Aaron sussurrou com voz rouca contra o
pescoço de Charles.
— Eu sinto falta dela, também. Eu penso nela todas as noites antes de eu ir
dormir, mas um homem precisa de mais do que memórias para se apegar à noite,
ele precisa de mais do que as memórias de sua vida. Um dia você vai entender que
um homem gosta de ter uma mulher que ele pode segurar.
Aaron se desvencilhou de seu pai. — Tio Jesse não tem uma mulher para
segurar.
— Ele tem seus sonhos e eu imagino que enterrado em algum lugar dentro
desses sonhos está uma mulher. Ele simplesmente não tem tido tempo para a
encontrar.
— Como é que o tio Jesse não veio para casa hoje à noite?
— Ele tinha algumas coisas para fazer.
Aaron franziu o rosto em desgosto. — Será que ele vai trazer uma mulher
para casa amanhã?
Charles sorriu. — Eu não penso assim.
Aaron se enterrou dentro do colchão quando Charles reorganizou as colchas
deslocadas. — Não vi você dizendo boa noite à Senhorita Maddie.
Aaron olhou através de seu pai para a mulher silenciosa que estava dentro de
seu quarto. — Boa noite.
— Boa noite, Aaron.
Ele acenou com a cabeça antes de virar. Balançando a cabeça, Charles se
levantou.
Eles saíram para o corredor. — Dê tempo a ele. — disse Charles
calmamente.
— Ele parece pensar que o mundo é seu irmão.
Charles assentiu. — Jesse veio morar aqui logo após Alice morrer. Eu tinha
um bebê e uma criança de três anos de idade, que eu estava tentando cuidar. O
pouco tempo que eu tinha para Aaron não era o suficiente. E o tempo que eu
encontrava para ele... — Ele balançou a cabeça. — Nós estávamos no celeiro, e eu
estava gritando com ele sobre algo que ele tinha feito de errado. Eu nem me
lembro o que era agora. De repente, Jesse pigarreou, e eu pulei fora da minha pele.
Maddie sorriu, e ele tocou a ponta curvada de sua boca. — Veja, você não é
a única que ele faz saltar. Enfim, lá estava ele, procurando um lugar para chamar
de lar. Ele deu um a Aaron, o tempo e a atenção que eu não podia. O que é bom.
Estou feliz por eles serem próximos.
Eles caminharam pelo corredor até que pararam diante do primeiro quarto.
— Por que você não vai para a cama? — Charles sugeriu. — Eu vou dar uma
olhada lá embaixo. Eu estarei de volta em breve.
— Por que Jesse não voltou para a casa?
Charles desviou o olhar. — Ele tinha algumas tarefas...
Ela enfiou a mão na sua e roçou o polegar levemente em torno dos nós dos
dedos esbranquiçados. — Você disse a ele, não é? — ela perguntou em voz baixa.
— Disse como você me encontrou?
— Isso não importa, Maddie. Jesse simplesmente não entende. Ele vê tudo
como se fosse pintado em preto e branco. Eu vejo as coisas como se elas fossem
pintadas em vários tons de cinza. Quando a luz brilha sobre elas, você vê algo
diferente.
— Eu não quero ficar entre vocês dois. A família é muito importante,
Charles.
— Você é da família agora, Maddie. Como Aaron, ele vai vir a perceber isso
com o tempo. Agora, se prepare para a cama, e eu vou estar de volta em poucos
minutos.
Ela assistiu seu marido descer as escadas antes de abrir a porta de seu novo
quarto. Ela o tinha visto pela primeira vez naquela tarde, quando eles tinham
trazido as crianças para cima, para receber seus presentes. O quarto falava,
eloquentemente, sobre o relacionamento de Charles com sua primeira esposa.
Móveis de nogueira sólida eram uma expressão de sua masculinidade, mas
as cortinas de babados que adornavam as janelas e a colcha feita à mão, cobrindo a
cama, eram evidência de sua feminilidade. Nada no quarto ofuscava qualquer outra
coisa, mas cada item tinha sido especificamente escolhido para complementar o
outro. O lavatório, onde ele iria fazer a barba pela manhã, sua delicada cômoda
espelhada, onde ela iria se preparar para a cama à noite. Olhando ao redor do
quarto, ela sabia que seu marido tinha de fato compartilhado algo especial com sua
esposa. Ela sentiu alívio ao pensar que não estava competindo com a mulher por
um lugar no coração de Charles.
Ela vestiu a camisola e o roupão antes de se sentar na cadeira coberta de
veludo na frente da cômoda espelhada. Enquanto ela trabalhava a escova
vigorosamente através de seu cabelo, ouviu a porta de seu quarto se abrir. Ela
fechou os olhos, temendo o que poderia ver quando ela os abrisse, com medo de
que a viagem de Charles ao andar de baixo para verificar as coisas tivesse incluído
o uísque. Ela sentiu suas mãos vindo para descansar em seus ombros e abriu os
olhos.
No reflexo do espelho, ele sorriu suavemente. Alívio a percorreu e ela sorriu
de volta. Alcançando em torno dela, ele tomou a escova de sua mão e a trouxe
suavemente para baixo através de suas mechas de mel. Desde que sua mãe tinha
morrido ninguém tinha escovado seus cabelos. Ela tinha esquecido o quão boa era
a sensação de ser mimada. A escova acalmou e Charles pegou seu olhar no espelho.
— Eu gostaria de te abraçar esta noite — disse ele calmamente.
Nervosa, ela concordou com a cabeça ao seu pedido. Ele entregou a escova
de volta para ela. — Vou deixar a trança para você.
Ela pegou a escova e separou seu cabelo enquanto ele se afastava. Ela se
perguntou como iria fazer a trança no cabelo com os dedos tremendo tanto.
Charles olhou ao redor tentando decidir a melhor maneira de se preparar
para a cama. Este quarto não tinha tela atrás da qual ele poderia discretamente
mudar de roupa. E mesmo que o fizesse, ele não tinha nada que pudesse vestir. Ele
sempre dormia sem uma peça de roupa e não possuía camisolões. Ele pensou em
olhar através dos pertences de Jesse, mas sabia que não encontraria nada adequado
lá. Ele tirou a camisa para fora da calça e lentamente desfez os botões.
De pé, Maddie estudou a porta. — Eu acho que vou verificar as crianças —
disse ela, com a voz trêmula.
— Essa é uma boa ideia.
Ela correu para fora do quarto fechando a porta. Charles lançou uma
respiração profunda antes de rapidamente retirar suas ceroulas e se enterrar
debaixo das cobertas da cama.
Tranquilamente andando pelo corredor, Maddie abriu a primeira porta e
espreitou o quarto das meninas. Ambas estavam deitadas dormindo, as mãos ainda
segurando beijos sob seus travesseiros.
Ela fechou a porta e caminhou até o quarto de Aaron. Ela não teve a
coragem de abrir a porta, tendo a chance de o incomodar e fazer com que ele não
gostasse dela mais do que já não gostava. Ela caminhou até o final do corredor e
olhou para fora da janela para a noite negra.
Pensou em todas as noites que ela e sua mãe tinham deixado uma lamparina
queimando na janela da frente, assim seu pai e seu irmão poderiam encontrar o seu
caminho de volta para elas. Ela e sua mãe tinham sonhado com a vida que eles
teriam quando as coisas funcionassem para seu pai, quando ele teria um trabalho
que valeria a pena. Ela tocou a ponta dos dedos na janela. Sua mãe tinha morrido
sem tocar seus sonhos. Agora Maddie morava em uma casa maior do que qualquer
uma que ela já tinha visto, casada com um homem mais gentil do que qualquer
outro que ela já tinha conhecido. Ela fez um voto silencioso de que Charles nunca
se arrependesse de a tirar de Bev.
Ela voltou para seu quarto, abriu a porta e espreitou timidamente. Charles
estava deitado na cama com um braço sob sua cabeça.
Lentamente, ela atravessou o quarto. Ela esmaeceu a chama ardente na
lamparina antes de remover seu roupão. Este quarto não continha qualquer sofá, e
seu marido tinha mantido sua promessa. Ele não tinha desmaiado esta noite. Ela
sorriu timidamente enquanto ele levantava as cobertas, a convidando para sua
cama.
Ela foi para debaixo dos lençóis e se deitou de costas com rigidez, os braços
apertados contra seus lados. Ela não tinha certeza de como um homem abraçava
uma mulher.
— Você já dormiu com um homem segurando você? — perguntou Charles.
— Não — Maddie sussurrou para o teto.
— Será que o pensamento assusta você?
— Não.
— Isso faz você ficar nervosa?
Ela desviou o olhar para ele. Ele estava nas sombras mas ela pensou que
poderia ver o mais descarado dos sorrisos no seu rosto. — Sim.
— Eu quero que você role para o seu lado.
Maddie fez como instruído. Charles colocou seu braço ao redor dela e
gentilmente a guiou em seu abraço. Ela descansou a cabeça na curva de seu ombro
enquanto sua mão preguiçosamente esfregava o braço dela. Ela soltou uma risada
nervosa. — Eu posso ouvir seu coração batendo.
— E eu posso ouvir o seu.
Ela endureceu. Era uma coisa ouvir seu coração, outra pensar que ele podia
ouvir o dela. De alguma forma, isso a fez consciente de que ela estava, pela
primeira vez em sua vida, deitada na cama com um homem. — Você pode?
— Não, realmente não. Eu só pensei que se eu provocasse você um pouco,
poderia começar a se sentir mais confortável. Você não tem nada a temer na minha
cama, Maddie.
Em seguida, ela relaxou um pouco e colocou seu braço sobre a colcha, os
dedos passando através dos pêlos em seu peito. Uma imagem de cabelos pretos
grossos que espreitavam através da gola aberta de uma camisa de cambraia lhe
veio à mente. Ela tinha, é claro, visto outros homens sem suas camisas. No entanto,
ela nunca tinha tido desejo de alcançar e tocar os cabelos do peito de um homem
como ela teve esta tarde quando desceu da diligência.
— Eu vejo semelhanças entre você e Jesse... E ainda, você parece tão
diferente.
— Provavelmente porque fomos criados de forma diferente. Nós viemos do
Tennessee, em um vagão de trem, quando nossos pais pegaram a febre e morreram.
Fomos entregues a famílias diferentes. Quando nós chegamos no Texas, a família
que tomou Jesse se continuou para o oeste. A família que me tomou se estabeleceu
em Carthage.
— Quantos anos você tinha?
— Eu tinha oito anos. Jesse tinha doze anos.
— Isso deve ter sido difícil para você.
Charles parou de esfregar o braço dela. — Foi muito duro. Quando eu tinha
dezenove anos, eu decidi o tentar encontrar. Só que eu não tinha idéia de para onde
eu iria, onde procuraria por ele. Sempre que podia, eu viajava de diligência. Um
dia, a diligência parou aqui. Saí do coche e inclinei meu chapéu para a filha do
proprietário. Ela sorriu. Na manhã seguinte quando a diligência seguiu em frente,
eu não parti. Três meses depois, nos casamos.
— Ela deve ter sido bonita.
— Ela era linda para mim.
Ela se lembrou dele dizendo que ele nunca esperava amar novamente e se
admirou do tipo de mulher que poderia cativar assim um homem. Ela sentiu mais
do que o ouviu rindo. — O que foi?
Ele limpou a garganta. — Eu só estava pensando. Eu pedi às minhas duas
esposas para se casar comigo uma hora depois que eu as conheci.
— Você fez realmente?
— Sim. Claro, levou a Alice um pouco mais de tempo para me apreciar e
dizer sim.
— Mas eventualmente ela disse — ela declarou em voz baixa.
— Sim, eventualmente.
Um silêncio confortável caiu em torno deles. — Charles, eu realmente sinto
muito se minha presença causou ressentimentos entre você e Jesse.
— Não se preocupe com isso. A têmpera de Jesse inflama e depois morre
rapidamente. Ele está apenas chateado porque ele acha que eu fiz as coisas sem
pensar. Ele, por outro lado, não faz nada sem pensar até a morte. É malditamente
irritante às vezes.
— Ele não parece pensar até a morte quando limpa a garganta.
Ele riu. — Eu acho que eu a deveria ter avisado sobre isso.
Avisado sobre isso? Ela só queria que ele a tivesse avisado que tinha um
irmão. Um irmão com olhos tão negros como pecado. Um irmão que já não usava
os ornamentos exteriores de um Texas Ranger mas que ainda carregava o
juramento dentro de seu coração.
Encostada na árvore de carvalho, Maddie observava as meninas recolher os
ovos das galinhas. Ela não tinha certeza de um outro jogo ter sido criado que
poderia cativar assim uma criança. As meninas destemidamente procuravam em
cada canto e recanto pelas maravilhas escondidas.
Mais cedo, Maddie tinha sugerido que Charles passasse algum tempo a sós
com Aaron. Ele se congratulou com a ideia. Desde que a escola não estava
funcionando, ele decidiu pescar com Aaron. Ela sorriu para a memória deles
vagando com as varas penduradas sobre seus ombros, pai e filho, tão parecidos na
aparência. Ela esperava que alguma atenção adicional de Charles pudesse diminuir
a animosidade de Aaron, mas independentemente disso, ela pensou que o menino
precisava da orientação de seu pai. Ela não estava de todo certa de que era sábio
Charles permitir que seu irmão tivesse tanta influência sobre seu filho.
— Nunca antes conheci uma mulher que valesse mais que mil dólares.
Maddie se empurrou de volta e bateu a cabeça contra a casca áspera da
árvore quando Jesse deu um passo em frente a ela, efetivamente bloqueando o sol
da manhã. As sombras que caiam em seu rosto não conseguiam cobrir a dureza de
suas feições ou o desprezo frio nadando nas profundezas escuras de seus olhos. Ela
sentiu um arrepio gelado correr por sua espinha. — Eu dificilmente valho mil
dólares.
Ele apoiou os braços de cada lado dela. — Aparentemente, o meu irmão
pensa diferente. Será que Charles mencionou que os seis mil dólares de dinheiro
que ele gastou em você era meu?
Ela balançou a cabeça, temendo quaisquer outras palavras que ele pudesse
falar.
Lentamente, ele roçou os dedos ao longo de sua bochecha. — Eu diria que
desse modo você pertence a mim também.
— Eu não pertenço a você — ela se forçou a sair, sua respiração ofegante. O
medo era algo com o qual ela tinha se acostumado a viver, mas o medo que ela
enfrentou no passado foi trivial comparado ao que ela enfrentava agora. — Eu
casei com Charles. Eu sou mulher dele.
Ele arrastou seu dedo em sua garganta. — Eu não sei por que você está
objetando. Você estava disposta em Fort Worth a levar qualquer homem para sua
cama e eu não sou ganancioso. Eu me contentaria com você vindo a mim todas as
noites mesmo que eu seja o único que teve de desistir de mais para te ter.
— Eu não vou me entregar a você de boa vontade.
— Você não tem que fingir comigo. — Ele abaixou a boca para sua garganta
e abriu um caminho em direção a sua orelha. — Eu não sou Charles que é
facilmente enganado. Eu sei o tipo de mulher que você é. Ele pode pensar que você
é doce e inocente, mas eu sei a verdade. — Erguendo a cabeça, seus olhos a
empalaram. — Você não é melhor do que a sujeira. Você prometeu abrir as pernas
para o maior lance. Bem, senhora, se você sabia disso na época ou não, eu era o
maior lance. Você se condenou a as espalhar para mim.
Cada palavra tinha sido dita com precisão mortal, e ela as sentiu bater em
seu coração. — Eu vou morrer primeiro.
— Você não estava disposta a morrer em Fort Worth. Seu corpo não era tão
precioso para você, então.
— Ele ainda não é — ela sussurrou. — Mas os votos que troquei com o seu
irmão são.
Ela não sabia se suas palavras ou sua veemência o levou a se afastar um
pouco, e ela não se importava. Ela aproveitou a sua confusão, bateu os punhos
contra seu peito e passou pela pequeno buraco abaixo dos braços que seu
movimento haviam criado. Levantando sua saia, ela correu para a casa.
Ela correu para a cozinha, fechou a porta, e pressionou suas costas contra ela.
Não que isso o manteria longe.
Ela achava que ele não tinha dormido na casa na noite passada. Ela sabia que
ele não tinha vindo para a mesa, para o café da manhã. Ela agora tinha uma
compreensão mais clara da discussão que poderia ter irrompido entre os irmãos.
Charles tinha gasto o dinheiro de Jesse com ela. O que o possuíra para fazer uma
coisa tão irresponsável? Suas ações constituíram um roubo, e Jesse estava
injustamente a culpando. — Mãe! Mãe!
Os sons turbulentos a lembraram de filhotes de pássaros em um ninho
esperando impacientemente para a sua mãe trazer comida. Suas mãos tremiam
incontrolavelmente, enquanto ela abria a porta. As meninas entraram na cozinha
carregando um balde cheio com ovos dentro dele. Ela pegou o balde ouvindo os
ovos delicados chacoalharem conforme os levou para o aparador. Ela colocou o
balde para baixo, respirou fundo e apertou as mãos contra o balcão de madeira. Ela
precisava de algo para ocupar sua mente e suas mãos.
Ao se virar, olhou os olhos castanhos a encarando com expectativa. Quão
facilmente as crianças aceitavam o que os adultos não podiam. Ela arriscou um
sorriso que esperava esconder seu medo. — Você gostariam de me ajudar a fazer
um bolo?
Seus olhos brilharam e ela se lembrou de brilhantes botões marrons. — De
que tipo vocês gostariam de fazer?
— Ponja — disse Taylor.
— Ponja?
— Ela quer dizer esponja — explicou Hannah. — É o favorito do tio Jesse.
Maddie queria gritar. O que tinha aquele homem que fez estas crianças o
adorarem? Se ela fizesse um bolo para ele, ela iria usar sal no lugar de açúcar, lotes
de sal. — Qual é o bolo favorito do seu pai?
Taylor colocou o dedo em sua boca. Hannah enrugou as sobrancelhas juntas
em pensamento, então encolheu os ombros minúsculos. Maddie suspirou em
derrota. — Então eu acho que nós vamos fazer bolo esponja.
Ela começou a reunir os ingredientes da despensa, se movendo quando
sentiu um puxão em sua saia. Com um sorriso secreto, Hannah disse: — Você vai
ficar feliz.
— Oh, eu tenho certeza que eu vou. Não há nada que eu queira mais do que
fazer seu tio Jesse feliz.
O sorriso de Hannah cresceu. — Ele não pode fazer o seu som de aviso
quando ele está comendo bolo esponja.
Maddie caiu de joelhos e abraçou a criança. — Então talvez nós façamos
dois.
Saindo do quarto adjacente, Jesse parou abruptamente e viu Hannah
caminhar pelo celeiro. Ela estava segurando algo em suas palmas, dando pequenos
passos e com muito cuidado para não deixar cair o que quer que fosse. Na
velocidade em que estava andando, ela o alcançaria no final da semana. Com
passos largos, ele atravessou o espaço que os separava.
Um grande sorriso enfeitou seu rosto quando ela ergueu os olhos e as mãos
até ele. — Para você.
Abaixando-se para o chão, Jesse pegou a oferta, retornando seu sorriso. Ele
deu uma mordida no bolo, fechou os olhos, e deu a sua aprovação com um
ronronar suave em sua garganta. Ele abriu os olhos e tocou um dedo na farinha
descansando em sua bochecha. — Você fez isso?
— Eu e Taylor e Mamãe.
Ele olhou para o bolo. Ainda estava quente. Ele se perguntou por que ele
tinha pensado que o irmão tinha feito isso quando Charles retornara há pouco
tempo, se perguntou por que Maddie tinha enviado Hannah para fora com o bolo, e
quando seu irmão viria para o celeiro e bateria o inferno fora dele. Ele estava
fazendo tanto trabalho manual quanto ele poderia encontrar para que quando
Charles aparecesse ele estivesse cansado demais para lutar.
— Coma mais um pouco — Hannah cutucou. — Mamãe fez isso para que
você ficasse feliz. Ela disse que sim.
Ele levantou seu corpo, o bolo de repente como um peso de chumbo
descansando em sua mão. — Eu vou acabar com isso enquanto eu estou
trabalhando aqui. — Ele se dirigiu para o quarto adjacente, parou e se virou. —
Diga a todos que fizeram o bolo que eu apreciei.
Deleite correu através das características da criança antes que ela corresse
para fora do celeiro. Jesse entrou no quarto adjacente e colocou o bolo em uma
borda contra a parede.
~
Maddie saiu para a varanda de trás e olhou ao redor do pátio. Ela passou o
dia evitando Jesse, e se tornou óbvio quando ele não se juntou a eles para a
refeição do meio dia que ele a estava evitando também. Ela se perguntou
brevemente onde e o que ele estaria comendo. Parecia injusto que ele devesse
morrer de fome porque Charles tinha gasto o seu dinheiro. Se ela pudesse, ela iria
encontrar uma maneira de lhe retribuir mas não da maneira que ele tinha sugerido
esta manhã.
Ela deu um passo para fora da varanda e caminhou em direção a uma
pequena área cercada onde Aaron estava ajoelhado diante de uma lápide de granito.
As meninas tinham a aceitado tão facilmente como um novo dia aceita os
primeiros raios do sol. Ela não esperava que Aaron a chamasse de Mãe, mas ela
queria que ele pelo menos olhasse para ela sem a desconfiança aparente em suas
feições. Respirando fundo, ela parou ao lado da cerca.
— Este é o lugar de descanso de minha mãe. Você não é bem-vinda aqui.
Maddie estudou o conjunto desafiador de sua boca e se perguntou o que ela
poderia fazer para garantir que essa criança não se tornasse um homem duro, cheio
de amargura.
— Eu notei todas as flores que crescem na frente da casa. Será que sua mãe
gostava de flores?
— Ela adora flores.
— Talvez você quisesse colher um pouco e trazer aqui.
— Você as colhe, elas morrem. Então, elas não são boas — disse ele, como
se ela não fosse muito mais esperta do que uma mula.
Determinada a não perder a paciência, Maddie suspirou. — Há tantas flores.
E se nós plantarmos algumas delas aqui ao lado da cerca?
— O que você quer dizer?
Excitação cresceu dentro de Maddie enquanto ela ouvia a voz de Aaron, pela
primeira vez sem raiva nela. — Bem, nós poderíamos, você pode decidir que flores
eram as favoritas de sua mãe, e nós poderíamos as desenterrar e plantar aqui. Claro,
tudo depende do fato de você saber ou não como desenterrar uma planta com
cuidado, para que não danifique as raízes.
— Naturalmente eu sei como! Eu fui o único que ajudou mamãe a plantar
todas as suas flores. — Ele torceu a boca. — Provavelmente devo verificar com
papai.
— Ele está tirando uma soneca com Hannah e Taylor.
— Ele dá um monte de cochilos. Posso pedir a tio Jesse.
Ela queria gritar. A permissão dela era tudo o que ele precisava. Ela era sua
mãe agora, embora imaginasse que perderia tudo o que tinha ganhado se ela lhe
dissesse o que pensava. — Se você acha que precisa da permissão de alguém, vá
perguntar a seu tio, embora as pessoas raramente precisem de permissão para fazer
algo bom.
Ele ponderou suas palavras com grande seriedade. — Eu acho que nós não
precisamos pedir a tio Jesse. — Ele veio do lado de fora da cerca. — Temos
algumas pequenas pás. Nós poderíamos usar a carroça que papai puxa com Hannah
e Taylor dentro quando vamos para piqueniques. Elas são apenas bebês então elas
se cansam facilmente.
— Por que você não obtêm tudo, e eu o encontro na frente da casa?
Ele correu em direção ao celeiro e Maddie caminhou em direção à frente da
casa.

Eles trabalharam juntos em silêncio. Aaron favoreceu as begônias que


floresciam em vários tons de vermelho e rosa. Ele cuidadosamente as escavou e
entregou cuidadosamente para Maddie colocar na carroça. Quando ele teve uma
dúzia de flores reunidas, puxou a carroça até a cerca que rodeava o pequeno lugar
de descanso da família.
Maddie se ajoelhou ao lado de Aaron e trabalhou a terra, preparando o solo
para receber as begônias, limpando a sujeira, descartando a grama e ervas daninhas.
— Quando minha mãe morreu — ela disse calmamente: — Eu estava sozinha.
Meu pai e irmão estavam fora em um trabalho.
Aaron trabalhou de forma mais vigorosa.
— Eu amarrei duas varas juntas para que elas formassem uma cruz e usei
isso para marcar o seu lugar.
Ele parou de trabalhar. — Quando ela morreu?
— Muito tempo atrás.
— Quantos anos você tinha?
— Dez. Eu ainda sinto falta dela.
Ele não disse mais nada, mas trabalhou diligentemente para criar um novo
jardim. Não foi até que todas as flores foram devolvidas para a terra que ele falou
novamente. — Creio que se você quiser, pode pisar dentro da cerca. — Ele se
levantou e colocou as pequenas pás dentro da carroça. — Vendo como você ajudou,
eu não acho que mamãe se importaria.
Ela deu um passo dentro da cerca, sussurrou algumas palavras, em seguida,
saiu calmamente. — O que você disse?
Ela pegou a alça da carroça. — Eu a agradeci por ter trazido crianças
maravilhosas para o mundo.
Ele surgiu ao lado dela e enfiou a mão em torno do seu punho. Metade de
sua mão cobriu a dela. — Eu vou puxar.
— Por que não podemos puxar a carroça juntos até a casa? Então você a
pode colocar sozinho no celeiro.
Ela deu um suspiro de alívio quando ele não se opôs a sua sugestão.
Sentindo uma abundância de culpa, Charles entrou no celeiro. A noite já
tinha caído, o jantar foi servido e a ausência de Jesse tinha sido muito sentida por
todos. Ele não esperava que seu irmão segurasse sua raiva por tanto tempo. —
Maddie deixou um pouco de comida lá fora na varanda de trás para você.
Jesse olhou por cima do ombro antes de voltar para a tarefa de cuidar de seu
garanhão. Meia-noite tinha servido a ele bem ao longo dos anos, e ele nunca perdia
uma oportunidade de mostrar o seu apreço. — Eu vi.
— Então por que você não pegou? Ela é um inferno de uma cozinheira.
— É essa a razão pela qual você se casou com ela?
— Eu casei com ela porque eu quero que meus filhos cresçam conhecendo
o amor de uma mãe.
— Eu não sei por que diabos ninguém acha que eu posso cuidar de crianças.
— Jesse girou e bateu um punho apertado contra o peito. — Eu prometi que iria
cuidar deles. Eu cuidarei para que eles permaneçam uma família.
Charles ouviu vinte anos de dor irromper na voz de seu irmão. — É disso
que se trata? — ele perguntou em voz baixa. — Você acha que eu não confio em
você para cuidar de meus filhos?
— Por que mais diabos você teria uma mulher em tão pouco tempo?
Charles suspirou profundamente. — Você sabe o que eu me lembro mais
sobre a nossa mãe? Eu me lembro do jeito que ela cheirava, como madressilva
misturada com farinha. Eu me lembro da sensação de seus dedos enquanto ela
movia o cabelo de nossa testa, a cadência de sua voz quando ela cantava para nós
dormirmos. Meus filhos não têm tais memórias, Jesse. Eles têm nada dessa
suavidade em suas vidas.
— Mas por que se casar com uma mulher que você tinha que comprar? Do
tipo de mulher que você acha trabalhando em um bordel?
— Uma desesperada.
— E você quer uma mulher como aquela, uma mulher que iria vender o seu
corpo, para criar seus filhos? Ela vai ter suas filhas vestidas em vestidos vermelhos
e a virgindade de seu filho antes que ele tenha doze.
Charles riu, uma risada amarga cheia de tristeza. — Querido Deus, Jesse,
como deve ser maravilhoso nunca ter estado desesperado em sua vida. Ter sempre
o controle de seu destino, para que nunca uma vez percorra um caminho que não é
da sua escolha.
— Uma pessoa sempre tem uma escolha.
— Quando mamãe e papai morreram e famílias diferentes nos levaram,
tivemos escolha então? Será que você queria que — Fechando os olhos com força,
ele pressionou um punho apertado para sua testa. — Você queria viajar naquela
estrada, Jesse? É por isso que eles tiveram que o amarrar para o manter naquela
carroça? — Abrindo os olhos, ele olhou para Jesse. — Duas noites atrás, você me
disse que não julgava uma pessoa antes de a conhecer e aqui está você, julgando e
pendurando Maddie — Gemendo, ele trouxe outro punho para cima e pressionou
ambos contra a testa.
Jesse deu alguns passos em direção a ele. — São as dores de novo?
— Elas raramente desaparecem. — Ele cambaleou antes de cair de joelhos.
Jesse correu através do espaço que os separava, caiu ao lado de Charles e
cavou seus dedos em suas coxas duras. — O que o médico em Fort Worth disse?
— A mesma coisa que o velho Doutor Murdoch. Só que ele se ofereceu para
abrir minha cabeça e certificar-se. Eu não estava interessado. — Um pequeno grito
escapou de seus lábios quando ele entrou em colapso em um montão lamentável.
Jesse passou os braços por baixo dele e o levantou, colocou a cabeça de
Charles em seu colo e correu os dedos rugosos para frente e para trás através da
testa franzida de seu irmão.
— E o que diabos sua esposa pensa sobre tudo isso? — ele perguntou.
— Ela não sabe — Charles moeu para fora através da dor. Ele soltou uma
risada curta. — Ela acha que eu sou um bêbado.
— Você não disse a ela?
Ele rolou a cabeça ligeiramente de lado a lado. Estava se tornando muito
difícil se concentrar nas palavras. — Quis esperar... Esperar até que ela amasse as
crianças.
— Jesus, Charles, você não tinha o direito.
Charles tentou driblar a dor para explicar mas todos os seus pensamentos
permaneceram presos dentro de sua cabeça. Ele queria que Jesse entendesse a
visão completa do desespero que tinha marcado as feições de Maddie naquela noite
no bordel, entender o que sentiu ao ser testemunha da visão de uma alma, uma vez
que a sua estava morrendo lentamente.
A dor continuou a lavar por ele como as ondas do mar agitado por um
furacão, duro, implacável, abafando seus pensamentos, seus sentimentos, até que
finalmente eles afogaram sua vida. Ele ouviu o aumento do rugido, sentiu a dor na
crista da onda que o deixou.
O rosto torturado de Charles relaxou, e Jesse sabia que ele não tinha ouvido
uma única palavra que ele pronunciou sobre a injustiça de suas ações. Ele parou de
aplicar pressão nas têmporas de Charles e levantou-o em seus braços, o embalando
da mesma forma que tinha feito quando Charles era um menino pequeno e eles
viajaram por todo o país em uma carroça coberta que o tinha assustado.
— Você não tinha o direito, Charles, o direito de se casar com ela e não
dizer que ela poderia ser uma viúva antes do fim do ano.
De pé na porta do celeiro, com o braço apoiado contra a viga, Jesse assistiu a
exibição graciosa de um relâmpago iluminando o céu noturno enegrecido e
delineando as nuvens. Uma gota espessa de água saltou em seu nariz. O trovão
desafiou o relâmpago. O chão reverberou. Em seguida, o céu ficou escuro e mais
gotas de chuva caíram.
Ele andou de volta para o celeiro, mas seu olhar permaneceu cravado no céu.
Metade dele brilhou em prata e o raio se dissipou na escuridão.
Tinha levado uma hora para despertar Charles de seu estupor, algo que
estava se tornando cada vez mais difícil de fazer. Assim que Charles estava
plenamente lúcido outra vez, Jesse tinha começado seu discurso sobre Charles
tomar uma esposa sob suas circunstâncias.
Charles tinha olhado para ele como se fosse um idiota. — Ela é uma puta
pelo amor de Deus, Jesse. Certamente, você achou que eu a iria tratar como se ela
tivesse sentimentos?
Sentimentos? A mulher definitivamente tinha sentimentos e Jesse tinha
pisado em cima deles naquela manhã. Dor, raiva, convicção e determinação tinham
nadado na piscina âmbar de seus olhos, mas a dor tinha sido, de longe, o que de
maior ela sentiu. Ele se perguntou por que ele não tinha tomado uma faca e
esfaqueado seu coração, ou melhor ainda, esfaqueado o dele. Ele nunca tinha
estado tão enojado de si mesmo em toda a sua vida. Ele tinha tratado assassinos e
bandidos conhecidos com mais respeito do que ele a tratou, lhes tendo mais
misericórdia do que tinha mostrado a ela.
No entanto, ela se manteve em silêncio. O fato de que ele estava ali com
apenas o machucado no queixo que ele tinha recebido na noite anterior era prova
disso.
Ele bateu com o punho na viga, desejando que pudesse bater no rosto de seu
irmão. Droga! Ele pensou que a mulher sabia! Ele estava certo de que ela se casou
com Charles por qualquer herança que poderia receber após a sua morte. Ele
fechou os olhos, tentando apagar a memória da felicidade refletida em seu rosto
ontem à tarde, quando Charles tinha trazido as crianças para a cozinha.
Ele amaldiçoou os céus, então amaldiçoou seu irmão. A mulher não sabia
que a felicidade era passageira e não estava em seu lugar dizer a ela.
Depois de seu confronto com ela naquela manhã, ele ficou fora de sua vista
pelo resto do dia, mas ainda assim ele a conseguiu ver de longe. Nas horas frescas
da manhã, ela sentou-se sobre os degraus de trás e bateu uma manteiga, enquanto
as meninas brincavam em seus pés.
No final da manhã, ela arrastou água quente para a banheira de madeira lá
fora, esfregou as roupas, e as pendurou no varal para secar. Fazia mais de duas
semanas desde que ele tinha sido capaz de encontrar tempo para lavar roupas. A
camisa agarrada ao seu corpo poderia ter ficado em uma sela sem assistência. Ele
sabia que ela tinha que ter notado suas roupas maiores misturadas com as outras
que ela estava lavando. No entanto, ela as esfregou bastante e as pendurou no varal.
Ele não achava que o bolo esponja tinha sido uma oferta de paz. Ele não
conseguia se lembrar de ter visto tanto orgulho refletido no rosto angelical de
Hannah. Ele nunca pensou em deixar as meninas ajudar na cozinhar. Cozinhar era
uma tarefa árdua e quanto mais cedo fosse feito, mais cedo eles poderiam comer.
Ele não conseguia entender a quantidade de paciência que seria necessário para
deixar essas duas meninas ajudarem a fazer um bolo. Ele só podia imaginar a
bagunça que elas teriam criado. Isso tinha que ter levado o dobro do tempo. No
entanto, Hannah tinha se divertido com o que quer que ela tenha feito, a alegria
refletindo claramente em seus olhos.
A chuva aumentou e caiu em torrentes. Jesse observou as poças rapidamente
tomar forma. A chuva era boa. Isso ajudaria as flores que Aaron tinha
transplantado a enraizarem em sua nova casa. Aaron havia entrado no celeiro
puxando a carroça, o contentamento evidente em seu rosto. Por que ele ou Charles
não tinham percebido o que significaria para Aaron plantar flores na sepultura de
sua mãe?
Os relâmpagos iluminavam a casa. Mesmo na escuridão ela era convidativa.
Charles tinha estabelecido as condições em que Jesse seria novamente acolhido em
sua casa. Ele não esperava estabelecer de boa vontade uma trégua tão cedo, mas
não havia nada a ganhar com a sua ira e ele estava começando a perceber que havia
muito a ser perdido.
Ele levantou a gola de sua camisa e correu pela chuva em direção à casa. Ele
saltou para cima dos degraus, pegou o prato que estava sendo protegido pelo beiral
da varanda, e correu para a cozinha. Ela cheirava a canela. Uma lamparina ardia
fracamente sobre a mesa como se alguém estivesse esperando para o receber
calmamente em casa.
Gotas de umidade escorreram pelo seu rosto quando ele se sentou e levantou
as camadas quentes do pano para longe do prato. O aroma picante de frango e
bolinhos subiu o tentando. Ele estudou a comida por algum tempo, sabendo que
não devia comer a sua oferta até que pedisse desculpas, mas a casa ainda estava
silenciosa. Ele sabia que todos tinham ido para a cama. Ele pegou um garfo e
perfurou um pedaço de frango. Ele quase derreteu na boca. Charles estava certo; a
mulher era um inferno de uma cozinheira. Ele devia comer corvo em vez de algo
delicioso.
Na parte da manhã, a primeira coisa que ele faria seria as pazes.
Maddie não achou que foi o trovão que a acordou. Ela sempre teve a
capacidade de dormir durante tempestades. Ela olhou através de suas pestanas. Um
pequeno duende estava ao lado da cama, com as mãos cruzadas diante do peito, os
olhos arregalados, os lábios definidos em uma carranca. Abrindo os olhos
totalmente, Maddie sorriu para Taylor.
O trovão se manifestou contra a noite. Taylor virou a cabeça em direção à
janela, em seguida, jogou seu corpo minúsculo contra a cama. Maddie puxou as
cobertas de lado antes de colocar a mão suavemente sobre os ombros da criança
tremendo. — Vamos lá. Venha para a cama com a gente. — Com o braço de
Charles caído sobre seu estômago, ela ajudou Taylor tanto quanto ela poderia. A
menina se aconchegou na cama e Maddie a puxou mais para perto.
Quando o trovão ressoou novamente, Maddie sussurrou: — Soa como o som
de aviso do seu tio Jesse, não é?

Taylor riu e esfregou o nariz contra o ombro de Maddie. Maddie sentiu os


tremores da criança diminuírem. Ela tocou uma mecha de seu cabelo macio. As
crianças eram tão diferentes dos adultos. Sua pele carregava o cheiro da inocência,
uma suavidade ainda não cansada pela realidade do mundo. Elas confiavam e
amavam completamente.
Ela colocou os cobertores mais apertados em torno de Taylor. Relâmpagos
encheram o quarto com um brilho momentâneo. Sua respiração presa e seu coração
bateram furiosamente contra seu peito com a visão de Jesse em pé dentro da porta
aberta.
Jesse não sabia quanto tempo ele tinha estado olhando para a cena íntima
antes do relâmpago revelar sua presença. Ele esperava que a raiva incendiasse os
olhos da mulher, mas não havia nenhuma raiva, nenhum aborrecimento, apenas
uma necessidade de compreender, de entender algo que não conseguia explicar.
Ele chegou no quarto, agarrou a maçaneta de vidro e puxou a porta até que ela se
fechou. Ele pressionou a testa contra a porta de carvalho e ouviu a tranquilidade
silenciosa de dentro. Estampada dentro de sua mente estava a visão de Taylor se
aconchegando contra Maddie conforme seu braço protetor abraçava a criança e
Charles, dormindo pacificamente enquanto segurava sua esposa.
Ele sentiu uma dor inexplicável no peito por coisas que ele nunca tinha
experimentado. As mulheres que ele tinha levado para a cama durante a sua vida
não eram do tipo que um homem segurava em seus braços depois, não eram do
tipo que um homem levava com ele em seus sonhos ou no seu futuro. E elas
certamente não eram o tipo de mulheres que permitiriam que uma criança
engatinhasse em sua cama.
Ele caminhou para seu próprio quarto, fechou a porta, atravessou a sala e
apoiou as duas mãos na janela. Olhando para fora, ele assistiu a tempestade descer
como torrentes de chuva. Conforme o relâmpago piscou no céu tempestuoso, de
repente lhe ocorreu que, quando Charles falara sobre a escolha de caminhos a
seguir, falava sobre o próprio caminho, um caminho que Charles não tinha
escolhido, um curto caminho cujo destino final era a morte certa.
Jesse tirou suas roupas e caiu na cama. Ele enfiou um braço sob sua cabeça e
olhou para o teto com vigas, o jogo de sombras quando o trovão perseguiu o
relâmpago no céu.
Charles não tinha escolhido o seu caminho, mas ele o estava atravessando
com mais coragem do que Jesse sabia que ele próprio iria. Ele tinha pouca dúvida
de que durante o dia não havia atividade suficiente para manter a mente de Charles
fora do futuro, mas à noite, quando já estava escuro e silencioso e o desejo por
coisas que nunca poderiam ser penetrava na mente de um homem, o que um
homem fazia? Ele passava os braços em torno de uma mulher e se perdia em seu
cheiro, sua suavidade.
Talvez Charles houvesse se casado com Maddie tanto por sua causa como
pelo seus filhos. Nenhum homem queria trilhar o caminho em direção à morte
sozinho, e Jesse sabia que ele era um pobre substituto para a compaixão e a
compreensão que uma mulher poderia proporcionar.
Ele rolou para o lado e bateu com o punho em seu travesseiro. Ele nunca
percebeu o quão solitária uma cama poderia ser quando apenas uma pessoa deitava
nela no escuro da noite.
~
O sol da manhã filtrou através da janela, criando uma luz nebulosa dentro da
cozinha. Jesse deslizou o olhar de seu reflexo no pequeno espelho sobre a pia para
a mulher de pé na soleira da porta atrás de si. Seu olhar segurou o dela no espelho,
ele pegou uma toalha e lentamente, limpou os últimos remanescentes da barba de
seu rosto.
— Eu sinto muito. Eu não sabia que você estava aqui — disse Maddie.
Ele se endireitou, se virou, jogou a toalha em cima do balcão e pegou sua
camisa. — Está tudo bem.
Ela deu um passo para trás. — Eu o vou deixar.
— Terminei. — Ele deu de ombros. Ela permaneceu em pé na porta como se
tivesse medo de que se ela entrasse, ele a atacaria. Ele sabia que deveria pedir
desculpas, mas depois de a espiar enrolada na cama na noite passada, pensou que
qualquer pedido de desculpas que ele poderia ter proferido pareceria insignificante.
Ela olhou ao redor da sala como se buscando permissão para entrar. — Eu
pensei em levar uma xícara de café para Charles. Ele é um tanto irritável antes de
ter seu café da manhã.
— É uma característica da família.
Levantando uma sobrancelha, ela curvou a boca de forma quase
imperceptível. — Então você não teve qualquer café desde que eu estive aqui?

Ela estava oferecendo uma rendição honrosa, e ele se perguntou por que sua
derrota se sentia como uma vitória. — Parece que não.
Ela sorriu totalmente então, um sorriso mais intoxicante do que a sombra de
seus olhos cor de âmbar. Os dedos dos pés descalços, olhando para fora abaixo de
seu roupão, mexeram para cima e para baixo, dedos do pé minúsculos unidos a pés
descalços minúsculos. Pés descalços anexados a tornozelos nus. Ele não podia ver
os tornozelos nus, mas se perguntou até que ponto seria antes que ela estivesse nua.
Como se seguindo o curso dos seus pensamentos, ela puxou o cinto de seu roupão.
O gesto, se foi destinado a afastar os seus pensamentos, falhou; só enfatizou a
estreiteza de sua cintura. Jesse flexionou os dedos quando ele se lembrou da
sensação de sua cintura fina quando a segurou em suas mãos.
— Essa foi uma grande tempestade que tivemos na noite passada — disse
ela, sua voz incerta conforme mudou seu peso de um pé para o outro.
— Sim, foi. Pode ter feito algum dano.
— O trovão e relâmpago assustaram Taylor. É por isso que ela se arrastou
para a cama com a gente.
— Trovões sempre assustavam Cassie, também.
— Cassie?
— Nossa irmã. Ela rastejava na cama com a gente, sempre que havia uma
tempestade.
Uma dica de perda ecoou dentro de sua voz. Ela decidiu não perseguir o
assunto não querendo perder tudo o que tinha ganhado esta manhã, incerta de
como o conseguira. — Você vai se juntar a nós no café da manhã?
— Depende.
— De quê?
Jesse baixou o olhar para suas botas. Agora era a hora de pedir desculpas
formalmente, dizer todas essas palavras que tinham rondado por sua cabeça toda a
noite sobre os ventos da tempestade. Ele levantou os olhos para ela e lembrou
como a viu pela primeira vez quando a tinha levantado para descer da diligência,
uma jovem inocente e doce. O pedido de desculpas obstruiu sua garganta. — Sobre
se eu sou ou não bem-vindo...
— Você é.
Ele sabia que deveria mostrar algum sinal de apreço por seu perdão. Ele
queria dizer a ela que o seu bolo esponja foi o mais delicioso que ele já tivera o
prazer de degustar. O pouco que ele tinha. As formigas haviam devorado o resto
quando o colocou ele em cima da prateleira. Em vez disso, ele fez uma pergunta
que havia estado rondando por sua mente. — Por que você não disse a Charles
como eu te tratei ontem?
— Ele não o pode forçar a me aceitar, embora a julgar pela contusão em
suas juntas e queixo, eu diria que ele tentou.
Conscientemente, ele roçou o dedo ao longo de sua carne tenra. — É melhor
eu ir ver o que está mantendo Aaron e o leite.
Ele saiu pela porta. Maddie caminhou até a pia e olhou para fora da janela.
Ele tinha parado de andar e estava olhando para ela. Ele fez um movimento como
se quisesse voltar para casa mas aparentemente mudou de ideia e caminhou a
passos largos em direção ao celeiro.
Com os dedos trêmulos ela pegou um copo, derramou café preto nele, e
voltou para seu quarto, onde seu marido esperava por ela.

Charles mergulhou o garfo em um dos ovos fritos que Maddie tinha


colocado ante ele. Eles não eram tão duros quanto os que Jesse geralmente cozia.
Ela colocou um pouco de pão com manteiga em cima da mesa, sentou-se e sorriu
para ele. Ele devolveu o sorriso. Enquanto enchia seu prato, ele observou a
maneira como ela ignorou Jesse, a maneira como Jesse a observava.
— A tempestade parece ter passado — disse ele.
Jesse estalou os olhos para seu irmão e ele soube que Charles não estava
falando sobre as tempestades da Mãe Natureza. — Parece que sim.
— Bom. Então você não deve se importar de levar Maddie para a cidade
hoje.
— O quê? — Jesse perguntou duramente, suas sobrancelhas juntas.
Charles tinha a impressão de que Jesse estava tentado a dar o som de seu
pigarro de garganta. Maddie prestou atenção, seus olhos já não estudavam a
comida em seu prato, mas nervosamente olhava para ele. — Tenho certeza de que,
agora que Maddie está aqui há um par de dias, ela percebeu que há coisas de que
precisa.
— Você a leva — Jesse latiu.
— Eu estive fora por semanas. Eu gostaria de gastar o dia de hoje com as
crianças.
— Leve-os com você.
— São duas horas para a cidade, duas horas para voltar. É cansativo para
eles. Eu quero um dia descontraído. Além disso, há outros materiais que
precisamos. Você está mais familiarizado com o que nós usamos desde que eu fui
embora.
— Charles, eu realmente não preciso de nada — disse Maddie.
— Uma mulher sempre precisa de alguma coisa — Jesse grunhiu enquanto
raspava sua cadeira pelo chão e se levantava. — Esteja pronta em 20 minutos.
Imitando com bastante precisão a tempestade que havia caído durante a noite
anterior, ele saiu da cozinha.
Maddie foi para frente e olhou para Charles. — Porque você fez isso?
Ele colocou a mão sobre a dela e apertou suavemente. — Porque eu quero
que ele cuide de você tanto quanto eu, e isso não vai acontecer se você o ignorar.
— Eu não o estava ignorando. De fato, eu falei com ele esta manhã, quando
fui buscar seu café.
— Bem, então se vocês já são amigos deverá ser um dia muito agradável.

~
Um dia muito agradável. Era um dia extremamente agradável. O tempo frio
que tinha chicoteado no início da semana havia se dissipado e os últimos
remanescentes da primavera foram abrindo caminho para a plenitude do verão.
A companhia, no entanto, era desagradável. Maddie sentou segurando o lado
do banco, rígida e reta, os olhos no dossel das folhas que passavam. Jesse estava
debruçado para a frente, os cotovelos cravados em seus joelhos, com os olhos
treinados, ela estava certa, num dos traseiros dos cavalos. Em contraste com os
estados de espírito, a carroça balançava suavemente de um lado para o outro.
— Será que a cidade tem um nome? — ela perguntou brilhantemente.
— Raeburn — ele respondeu bruscamente.
— Isso é um nome de família? — ela perguntou menos brilhantemente.
— Provavelmente — ele respondeu mais bruscamente.
Ela assentiu com a cabeça como se ele fosse se importar se ela percebia ou
não sua resposta inadequada e seu desejo de não prosseguir a conversa. Ela
observou os cavalos agitarem suas caudas. Ela ajustou o posicionou o pequeno
chapéu que combinava com seu vestido de viagem de sarja, sentiu o suor trilhar
entre os seios e se estabelecer em torno de sua cintura. Nada do que ela poderia,
deveria, ou teria necessidade valeria a pena a viagem com esse homem. Os cavalos
se arrastavam, e ela começou a se perguntar se nunca chegariam à cidade.
— Eu tenho uma ideia — disse ela, finalmente.
Quando ele resmungou, ela estava tentada a enterrar seus dedos em seu
braço. — Você pode parar a carroça e me deixar aqui.
Ele sacudiu a cabeça, seus olhos se escurecendo ainda mais abaixo da aba do
chapéu marrom escuro.
— Você pode me deixar aqui, ir para a cidade e em seguida, me encontrar no
caminho de volta para que você não tenha que suportar a minha companhia pelo
dia.
— Você vai se sentar aqui durante cinco horas?
Ela encolheu os ombros levemente, como se sua preocupação fosse de pouca
importância. — Há muita sombra. Eu tomei um café da manhã saudável. Eu devo
ficar bem.
Seus olhos se estreitaram. — Eu sei a verdade. É a minha companhia que
você não quer ter que aturar.
— Eu decidi que não há café suficiente em todo o mundo que melhore sua
disposição.
— Eu não gosto de ser manipulado e Charles fez exatamente isso esta manhã.
— Então você está descontando em mim?
— Eu não estou descontando em você.
— Então do que você chama quando prefere olhar para o traseiro de um
cavalo a falar comigo? Ele olhou para a frente e sua expressão escureceu. —
Inferno.
Ela não tinha certeza se suas palavras ou algo que ele tinha visto na parte
traseira dos cavalos o tinha agravado tanto. Ela olhou para a estrada, percebendo
que não era ela tampouco. Três quartos de uma árvore carbonizada, onde um raio a
tinha decepado desde o tronco, bloqueava a estrada. Os cavalos pararam. Jesse
saltou ao lado da carroça e caminhou em direção à árvore, empurrou o chapéu da
cabeça, e enxugou a testa com a manga de sua camisa.
— Eu suponho que nós poderíamos apenas virar e ir para casa — ela
ofereceu.
— Claro que não! Precisamos de suprimentos! Você precisa de algo da
cidade!
Lutando para sair da carroça, ela caminhou até onde ele estava. — Eu não
preciso de nada da cidade.
Ele jogou seu chapéu de volta na cabeça e caminhou ao redor da árvore, a
estudando de todos os ângulos. — Vai ter que ser movida eventualmente. Eu
poderia muito bem fazê-lo agora. Você vai ficar embaixo daquela árvore.
— Você está esperando que um ramo se solte em algum lugar e que caia na
minha cabeça?
Ele se agachou. — Não vai acontecer. Não com a sorte que eu tenho tido.
Com força, ela chutou a árvore, farfalhando os ramos. Empurrando o corpo
para trás, ele caiu sobre seu traseiro. Ela sorriu triunfante quando ele fez uma
careta para ela.
— Não é tão engraçado ser feito de tolo por si mesmo, não é? — ela
comentou.
— Entre na sombra antes do sol queimar seu nariz. — Ele se levantou e
caminhou em direção à carroça.
Ela correu e bloqueou seu caminho. — Você não respondeu minha pergunta.
Se elevando sobre ela, ele olhou com raiva. Ela inclinou a cabeça para trás
se recusando a ser intimidada. Ele puxou a camisa para fora da calça e desabotoou
os botões. — Vá para a sombra.
— E se eu não for?
Balançando a cabeça ele se afastou, tirou a camisa e a jogou sobre o assento
da carroça. Ele enfiou a mão na parte de trás da carroça, levantou uma corda, e a
colocou sobre seus ombros.
Relutantemente, Maddie foi para a sombra e o assistiu trabalhar. Na luz do
sol, ela podia ver o que tinha sido incapaz de ver na escuridão da cozinha. As
costas de Jesse, que ela tinha então admirado naquela manhã mantinha uma cicatriz
diagonal fina que começava na ponta de um ombro e corria em direção ao quadril,
desaparecendo em algum lugar abaixo da cintura de suas calças. Era uma cicatriz
antiga misturada com a coloração de seu corpo.
— Como você veio a ter essa cicatriz em suas costas? — ela perguntou.
— Guerra.
Ela se moveu para fora da sombra. — A guerra entre os Estados?
Ele amarrou a corda ao arreio. — Essa é a única.
— Você é muito mais velho do que eu pensava.
Ele parou de trabalhar e olhou para ela. — Quantos anos você pensou que eu
tinha?
— Trinta e três, trinta e quatro.
Ele balançou a cabeça. — Trinta e quatro.
— Você era um menino durante a guerra.
Ele conduziu os cavalos para o outro lado da árvore. — Velho o bastante
para bater um tambor para a União quando começou e com idade suficiente para
carregar um rifle quando terminou.
— Mas o Texas ficou com a Confederação.
Ele estudou-a por um momento. — Você não parece velha o suficiente para
saber o que a escravidão parecia. Eu não a podia defender. — Ele ancorou a corda
ao tronco carbonizado e guiou os cavalos em direção ao lado da estrada, a árvore
caída sendo facilmente arrastada para trás. Ele afrouxou a corda, a puxou para fora
e a envolveu em torno de seu braço, a trazendo por cima do ombro.
— A guerra não é um lugar para uma criança — disse ela, observando a
maneira pela qual ele trabalhava, concisa, não desperdiçando um movimento
solitário.
— A guerra não é lugar para qualquer um. Traz à tona o pior nos homens. —
Agarrando o cinto, ele levou os cavalos de volta para a carroça. — Traz o melhor
também — ele jogou a corda por cima do ombro enquanto a jogava na parte de trás
da carroça, antes de engatar os cavalos de volta no lugar.
Ele agarrou sua camisa e a vestiu, abotoando conforme rodeava a carroça e
veio para diante dela.
— E o que ela trouxe para você? — ela perguntou.
— O melhor, é claro.
Ele deu um sorriso, o mesmo sorriso caloroso que tinha dado a Hannah
naquele primeiro dia. Maddie desejou que ele não o tivesse feito. Charles sorria o
tempo todo, mas nenhum de seus sorrisos a fez questionar qual seria a sensação de
pressionar os lábios contra aquele sorriso. Ela sabia que não deveria ter esses
pensamentos agora.
Ele colocou as mãos na cintura dela e ela rezou para que ele não pudesse
sentir o rápido batimento de seu coração que a proximidade dele causava. O sorriso
abrandou de seu rosto quando ele olhou fixo em seus olhos, com o pomo de Adão
lentamente deslizando para cima e para baixo, e ela sentiu os dedos se fecharem
num aperto. Em seguida ele fez uma careta e a levantou para a carroça, a deixando
com a sensação desagradável de que ele tinha estado a par de seus pensamentos.
Ele subiu na carroça, tomou as rédeas e fez os cavalos andarem com um
movimento do pulso.
Em silêncio, Maddie prestou atenção no cenário. Charles estava errado. A
tempestade não tinha passado.
O sino de bronze por cima da porta soou quando Jesse a abriu. Maddie o
precedeu na loja, endurecendo um pouco quando ele tomou seu cotovelo e a levou
para o balcão.
— McGuire, esta é a Senhora Lawson. Tudo o que ela quiser você coloque
na nossa conta.
As espessas sobrancelhas brancas de Angus McGuire dispararam em linha
reta para cima. — Sra. Lawson, é? Há quanto tempo, moça?
Corando, Maddie desejou que Jesse não tivesse chamado a atenção para ela.
— Alguns dias.
— Ah, ela é bonita, Jesse.
Jesse fez uma careta para ela. Ela ergueu o queixo. Ele bufou e colocou uma
lista de suprimentos necessários no balcão. — É só pegar meus suprimentos. Você
vai, McGuire?
— A felicidade conjugal não durou muito tempo — McGuire murmurou sob
sua respiração enquanto se dirigia para a sala de trás.
Jesse caminhou até o fundo da loja onde um enorme barril estava cheio de
pregos. Ele pegou uma caixa vazia e deixou cair os pregos nela. Então ele voltou
para a frente e colocou a caixa sobre o balcão. Maddie ainda estava de pé onde ele
a deixou.
— Eu não quero passar o dia todo aqui. Obtenha tudo o que você precisa
para que possamos seguir em frente.
— Eu lhe disse que eu não preciso de nada.
— Você deve ter dito algo a Charles para fazê-lo pensar que você precisava
de alguma coisa.
Ela desenhou suas sobrancelhas juntas. — Não, eu penso que não.
Ele expulsou o fôlego. — Tudo bem. Então não há nada que você precisa.
Deve haver alguma coisa que você quer.
— Eu quero fazer Charles feliz. — Ela olhou ao redor da loja
excessivamente abastecida. — Mas eu não acho que há alguma coisa aqui que eu
poderia comprar para isso.
Surpreendido e confuso ao mesmo tempo, Jesse a estudou. Em alguns
momentos ela parecia ser uma mulher do mundo e em outros parecia ser tão jovem
como Hannah. Ele queria acreditar que suas palavras foram declaradas para o
pegar desprevenido, e elas o fizeram porque na sua voz, ele tinha ouvido a verdade
absoluta. — Venha aqui.
Hesitante, Maddie o seguiu conforme ele abria caminho em direção a um
canto distante. Ele parou e acenou com a mão sobre uma prateleira cheia de
garrafas. Sua mão parecia muito maior e mais masculina ao lado do vidro pequeno
de forma delicada.
— Pegue alguns sais de banho de cheiro doce que você pode usar.
Maddie deu um passo atrás, jogando as mãos para seus quadris. — Você está
dizendo que eu fedo?
Ele olhou para o teto e lançou uma rápida explosão de ar. — Não, eu não
estou dizendo isso. Você mais do que ninguém deveria saber o que eu quero dizer.
— Não desta vez. Me diga como sais de banho vão fazer Charles feliz.
— Um homem gosta de sua mulher tendo cheiro doce. — Ele pegou uma
garrafa e a levou até a janela. — Quando ele se enrola ao lado dela na cama, é bom
se ela não cheira a madeira que ele cortou todo o dia ou aos suados cavalos de que
esteve cuidando. — Ele colocou a garrafa no chão. — Inferno, faça o que quiser.
— Ele começou a andar.
— Espere. — Ele parou, e Maddie cautelosamente se aproximou da
prateleira. — Há tantos. Qual deles Charles gosta?
— Inferno, eu não sei. Compre tudo o que você costuma comprar.
— Eu nunca tive sais de banho.
— Nunca? — Jesse perguntou quando ele se moveu atrás dela.
— Nunca. Se estivesse com sorte, tínhamos sabão de soda cáustica.
— Soda Cáustica? Tira a sujeira, mas ninguém quer estar ao lado de uma
mulher que cheira a isso. Tire as tampas das garrafas e encontre uma que cheire
como você deve cheirar.
Conscientemente, Maddie pegou uma garrafa, tirou a tampa e cheirou. — Eu
não sei como eu deveria cheirar. Como isso? — Ela segurou a garrafa para Jesse.
— Não, rosa é muito comum. Você precisa de algo diferente. — Ele estudou
as garrafas enquanto Maddie continuava a remover as tampas e cheirar.
— Eu nunca soube que havia tantos cheiros diferentes.
— Aromas. Eles são chamados de aromas — informou ele.
— Então, como que eu deveria cheirar?
Jesse parou sua mão no meio do caminho para o seu destino e olhou por
cima do ombro. Ela tinha aquele brilho desafiador nos olhos, o mesmo que tinha
usado naquela manhã, quando ela o questionou sobre sua evasão do café da manhã
desde a sua chegada. Como ela deveria cheirar, esta mulher que quanto mais ele a
conhecia, mais se distanciava do que ele esperava? — Incomum, algo incomum. —
Ele pegou uma pequena garrafa. — Aqui, tente isso.
Ela tirou a tampa e uma fragrância suave e delicada flutuou da garrafa.
— “Forget-Me-Not”— disse Jesse — você deve cheirar como “Forget-Me-
Not.”
— Você acha que Charles vai gostar?
— Ele vai gostar.
— Eu gostaria que houvesse alguma maneira de o surpreender.
— Eu poderia colocar a banheira no quarto de princesa.
— Quarto de princesa?
— Sim, aquele com a cama de bronze e todas as extravagâncias. O que
parece como se uma princesa de contos de fadas deveria estar dormindo nele. Você
poderia tomar banho lá antes de dormir e ele não saberia até que você fosse para a
cama.
— Você faria isso por mim?
Ele desviou o olhar. — Eu quero que Charles seja feliz também.
Ela agarrou a garrafa pequena contra seu peito. — Eu acho que preciso de
algo depois de tudo.
Eles caminharam de volta para a frente da loja e ela colocou a garrafa sobre
o balcão ao lado da caixa de pregos. Então ela estudou os potes de doces
arranjados em cima do balcão.
— Você quer um pouco? — Jesse perguntou.
— Eu estava pensando nas crianças. Podemos levar algumas balas de canela?
— Eu não vejo por que não. — Ele a observou pegar um pequeno saco e
colocar cuidadosamente seis balas de canela dentro. De repente, ele desejou que
ela quisesse alguma coisa. — Você tem certeza de que não há nada que você
queira?
— Tenho certeza. — Ela colocou o saco sobre o balcão quando McGuire
saiu da parte de trás.
— Eu vou ter meu menino abastecendo sua carroça — disse McGuire.
— Tudo bem — disse Jesse. — Adicione esses itens, e eu poderia muito
bem pegar a correspondência, enquanto estou aqui. Nós vamos ter um estrado
vindo em um ou dois dias, me salva de outra viagem.
Ele seguiu McGuire a uma pequena área com barras de ferro na janela.
McGuire começou a juntar as peças do correio e as despejar em um saco.
Com nada mais a fazer, Maddie se arrastou atrás de Jesse. Ela olhou para a
parede e seus joelhos vacilaram, seus pulmões se recusaram a extrair o ar, e ela
temia que a qualquer momento ouviria o ricochetear das balas ecoando a sua volta.
— Você está bem?
Ela pulou para trás com a mão em sua garganta, seu olhar caindo sobre Jesse.
— Eu estou bem. — Mas sua voz estridente soou nervosa demais até mesmo para
seus próprios ouvidos.
Jesse voltou seu olhar para os cartazes de recompensa que cobriam a parede,
e um olhar de puro desgosto cruzou seu rosto. — Você não deve se preocupar com
animais como esses. — Ele a estudou por um momento, depois acrescentou: —
Você está um pouco pálida. Por que não conseguimos algo para comer antes de ir
para casa?
Balançando a cabeça, Maddie lutou contra as lágrimas e o pânico. Ela não
tinha esperado ver outra vez aqueles rostos.
Bem consciente de Jesse a examinando, Maddie olhou para fora da janela do
pequeno restaurante. Ela pensou que se ela vivesse até os cem anos, nunca
esqueceria o olhar em seu rosto quando ele confrontou as imagens na parede. Preto
e branco Charles tinha dito. Tudo para Jesse era preto e branco. Como ele poderia
entender como tudo no mundo de Maddie era cinza? E se ele conhecesse a verdade,
o que ele faria então? E se ele dissesse a Charles, as sombras cinzas de Charles de
repente se tornariam um austero preto e branco?
— Você precisa comer para que possamos ir.
— Por que você está sempre com tanta pressa? — ela perguntou,
direcionando sua atenção para o homem sentado em frente.
— Se eu estivesse com pressa nós não estaríamos aqui agora.
Ela espetou um feijão, pressionou contra o lado do prato e o liberou, um
pensamento vagando em sua mente. — Por que você deixou os Texas Rangers?
Jesse empurrou o prato vazio para o lado e plantou os cotovelos sobre a
mesa. — Minha razão para querer ser um Ranger já não existia. Eu encontrei o que
estava procurando.
— E o que foi?
— Família. Ser um Ranger me deu um salário mensal e a liberdade para
procurar Charles e Cassie enquanto eu perseguia os bandidos e arruaceiros.
Quando encontrei Charles, eu me senti como se tivesse voltado para casa.
— Alguma vez você encontrou Cassie? — ela perguntou em voz baixa.
Ele olhou para a rua. — A família que a tomou partiu sem deixar rastro
quando uma epidemia de varíola atingiu sua comunidade. Tenho minhas dúvidas
de que ela está ainda viva. Cada pista que eu tinha me levava a lugar nenhum.
— Sinto muito.
Ele olhou para ela, seus olhos um reflexo de sua tristeza. Apenas um
punhado de pessoas tinham entendido sua necessidade de encontrar o irmão e a
irmã que tinham sido arrancados de sua vida em tão tenra idade. Ele se perguntou
por que não o surpreendeu que ela entendesse. Ele deu de ombros. — Pelo menos
eu achei Charles.
— Eu imagino que a sua vida como um Ranger foi emocionante.
— Teve seus momentos. Vi um monte de estados, trabalhei ao lado de
alguns bons homens.
— Você sente falta disso?
Ele balançou a cabeça. — Eu continuei a trabalhar como Ranger por um
tempo depois que encontrei Charles, mas comecei a me sentir como uma erva
daninha dando cambalhotas no vento. Um Ranger sempre procura um fora da lei,
um renegado, alguém. Sua vida não pode valer mais do que as vidas das pessoas
que ele deve proteger. Quando eu encontrei Charles e conheci sua família, fiquei
cansado das oportunidades que estava tendo. Depois que Alice morreu, ele
precisava de alguma ajuda com o lugar e por isso pedi demissão.
— Charles ama muito Alice.
— Eles pareciam compartilhar algo especial, mas agora ele tem você.
Forçando um pequeno sorriso, Maddie balançou a cabeça. — Ele me disse
que ainda a ama, que ele nunca vai amar mais ninguém.
— Ele tem que ter alguns sentimentos por você, ou ele não teria se casado.
— Quaisquer que sejam seus sentimentos, o amor não é um deles.
Ela viu a luz do sol se derramar através da janela, acariciando seu perfil
enquanto ele a observava em silêncio. Quando ele finalmente falou, sua voz era
suave como o mugido de um boi solitário na calada da noite. — Um casamento
sem amor parece ser um inferno de um sacrifício para uma mulher fazer.
— Tomei a decisão de aceitar uma vida sem amor quando eu entrei pela
porta de Bev. Eu não sou uma tola. Os homens não se apaixonam por pombas sujas.
Jesse se inclinou para frente. — Não, você não é um tola. Você me parece
ser uma mulher extremamente inteligente e bem educada... não de todo o tipo de
mulher que um homem esperaria encontrar no salão de Bev. Por que diabos você
não poderia sobreviver de outra maneira?
Ela elevou o queixo. — E como você sugere que eu ganharia meu sustento?
Eu cresci sob as estrelas, uma fogueira queimando brilhantemente na noite era a
única casa que eu já conheci, a única coisa que eu podia contar que sempre estaria
lá. Meu pai era um homem educado. Ele e meu irmão me ensinaram a apreciar a
escrita. Eu conheço Shakespeare e Dickens e descobri a maravilha de Mark Twain.
Gosto de ler poesia. Sou capaz de escrever e ler. — Ela se inclinou para frente. —
Eu sei. Eu poderia ser uma professora.
Ele estreitou os olhos.
— O quê? Você acha que uma comunidade iria me contratar para ensinar a
seus filhos?
— Talvez. Se você tivesse tentado.
— Você não acha que eu tentei? Minha educação é excelente, mas informal.
Eu nunca me sentei em uma escola. Eu não sei o que se passa em uma sala de aula.
E não tenho referências. Nenhuma escola pode atestar a minha capacidade. Eu
posso contar o número de pessoas que me conheciam pelos dedos de uma mão e
dois deles estão mortos agora. Os outros dois não podem escrever seus nomes e
geralmente podem ser encontrado em bares.
Jesse inclinou-se ainda mais do outro lado da mesa. — Droga, Maddie, você
poderia ter encontrado algo se tivesse tentado mais. Você não tinha que recorrer a
vender o seu corpo como algo barato.
Ela bateu as mãos sobre a mesa. — Maldito! — ela assobiou entre dentes. —
Maldito seja você e seu julgamento hipócrita. Um dia eu estou rindo com meu
irmão, Andrew, e no dia seguinte eu o estou segurando nos braços enquanto ele
morre. Tudo o que eu já tive que eu poderia chamar de meu era o meu pai e meu
irmão. E então eles estavam mortos. E todas as coisas que haviam prometido, todos
os grandes planos que tinham feito para mim morreu com eles. Eu estava sozinha e
com medo e fome. Eu negociei tudo o que tinha para negociar. Eu não tinha mais
nada além de meu corpo. Pode não ter sido uma boa ocupação, mas pelo menos era
uma honesta. Eu teria dado algo em troca do que eu tenho. E se esse pensamento
enoja você, Senhor Lawson, me permita contar um pequeno segredo, ele me enoja
também.
De repente, ela se levantou. — Vá para o inferno. Vá para o sangrento
inferno.
Jesse a observou sair como uma tempestade para fora do prédio antes que
escondesse o rosto entre as mãos. Suspirando pesadamente, ele esfregou os dedos
rugosos para cima e para baixo de seu rosto.
— Você e a Sra. Lawson tiveram uma pequena briga?
Ele espiou por entre os dedos Jean Lambourne, a mulher idosa que era dona
do restaurante. Lentamente, ele levou as mãos para baixo. As pessoas estavam
olhando, mas ele achou que nenhuma delas tinha estado sentada perto o suficiente
para ouvir qualquer parte da conversa.
— Nada que eu não possa desfazer. Quanto eu lhe devo?
Sorrindo, ela deu um tapinha no seu ombro. — Isso é por conta da casa. A
vida de casado não é sempre apenas o que algumas mulheres acham que devia ser.
De pé, Jesse colocou o chapéu na cabeça e trouxe a borda para baixo. — Eu
aprecio isso. Foi uma boa refeição.
Uma vez fora, ele procurou nos calçadões por uma mulher pequena com um
temperamento explosivo e um pequeno sotaque inglês que surgia quando ela estava
com raiva. Ele respirou fundo quando finalmente a viu na periferia da cidade
marchando para casa.
Maddie ouviu o barulho das rodas da carroça, o som dos cascos dos cavalos,
mas ela manteve o olhar focado na frente, seu passo determinado. Então ela sentiu
o cheiro do suor dos cavalos quando se aproximaram e alguém cutucou seu ombro.
— Entre na carroça, Maddie.
— Vá para o inferno!
— Pensei que estava indo para o sangrento inferno.
— Sangrento inferno, então. Vá para o sangrento inferno. — Ela andou para
longe do cavalo e apressou o passo.
— O seu pai era inglês por acaso?
Maddie se virou. — O quê?
Jesse levou os cavalos a um impasse. — Quando você fica com raiva fala
com um leve sotaque. Pensei que talvez você o tenha pego de seu pai.
Ela sentiu o sangue drenar de seu rosto. Como podia ter sido tão descuidada
em sua raiva para esquecer que este homem tinha passado a vida à procura de
bandidos e facilmente detectaria as pequenas pistas que identificavam um homem
ou uma mulher?
— Minha família não é da sua maldita conta. — Virando, ela caminhou
rapidamente para longe.
Jesse acionou o freio na carroça e envolveu as rédeas em torno da alavanca
de freio antes de saltar da carroça e caminhar rapidamente para a alcançar. Ele
colocou uma mão em seu ombro. Ela encolheu os ombros.
— Vamos, Maddie.
— Me deixe sozinha.
— Eu não posso fazer isso. Eu sei quem você é agora.
Ela congelou, tudo dentro dela gritando com outra das injustiças da vida. Ela
morava em uma casa por fim e tinha uma família com crianças. Seu conhecimento
a iria tirar de ambos.
Gentilmente, ele a virou, segurou seu queixo e levantou seu rosto, encarando
as lágrimas inundando seus olhos. — Você é a mulher do meu irmão, uma pobre
mulher que tem estado sobrecarregada com um cunhado burro.
Um brilho malicioso que ela nunca antes viu aparecia nas profundezas
negras de seus olhos. Alívio tomou conta dela, e ela não conseguiu conter o riso
histérico que irrompeu de sua garganta. Em seguida, o riso morreu e chegaram as
lágrimas, fluindo livremente por suas bochechas.
Jesse passou os braços em volta dela, a puxando contra seu peito. — Maddie
— ele sussurrou contra seu cabelo.
Soluços arruinavam seu corpo. — Eu não queria ser uma prostituta. Eu não
queria. Eu queria um trabalho honesto. Eu me ofereci para esfregar o chão, limpar
estábulos. Ninguém me contratou — Um arrepio a percorreu e ele a puxou para
mais perto em seu abraço. — Eu estava com frio, com fome e sozinha. Eu não
queria entrar na Bev. Eu não queria.
Ele inclinou seu rosto, seus polegares acariciando seu rosto umedecido, seus
olhos segurando os dela. — Eu sei.
— Eu vou ser uma boa esposa para Charles. Eu vou fazer o que for preciso.
Você vai ver. Eu o farei feliz.
Levemente, ele tocou o polegar em seu tremente lábio inferior. — Eu sei que
você vai. Agora, vamos lá. Nós vamos ter sorte se chegarmos em casa antes do
anoitecer.
Ele a ergueu para a carroça. Enxugando a última de suas lágrimas, ela viu
como ele se moveu para o outro lado da carroça e saltou para cima, desenrolou as
rédeas e movimentou seus pulsos para colocar os cavalos em movimento.
— Você precisa tirar seu chapéu — disse ele. — Algo está errado com ele.
Estendendo a mão, Maddie tirou o alfinete do chapéu e o colocou no colo,
estudando de todos os ângulos. — O que há de errado com ele?
Jesse largou o chapéu dele em cima de sua cabeça. — É que não protege seu
rosto. Você vai ter mais sardas do que Hannah antes de chegarmos em casa.
Ela sorriu. O suor da testa dele tinha encharcado a aba do seu chapéu e a
resfriou quando uma brisa quente soprou em toda a terra. De alguma forma parecia
extremamente familiar e íntimo estar usando seu chapéu. Ela descobriu que queria
saber tudo sobre ele, sobre a sua infância, a vida que ele tinha levado como um
homem jovem. Agarrando o chapéu, ela sabia que não devia ser sobre a vida dele
que devia estar curiosa. — Conte como Charles era quando menino.
Ele se inclinou para trás e sorriu relembrando. — Ele era muito parecido
com Aaron.
— Ele era realmente?
Ele balançou a cabeça. — Tudo para ele era engraçado. Ele sorria o tempo
todo, ria de tudo. Ele era condenadamente irritante às vezes.
Sua risada tomou Jesse de surpresa. Era macia como uma flor
desabrochando suas pétalas. Por um momento, ele não se importou que ela
estivesse rindo dele. Mas só por um momento. Então ele olhou para ela, seus olhos
pouco mais do que fendas a desafiando a admitir a verdade. — O que é tão
engraçado?
— Charles disse a mesma coisa sobre você.
Ele ficou surpreso com sua resposta, a confusão claramente gravada em suas
feições. — Ele disse que eu ria o tempo todo?
Sua risada aumentou, revelando a flor em plena floração, e ele se perguntou
como poderia ter alguma vez pensado nesta mulher como uma prostituta.
Ela levantou a cabeça para olhar para ele sob a vasta aba do chapéu. — Não,
ele disse que você pensava até a morte antes de fazer qualquer coisa. Ele disse que
era irritante.
— Um homem comete erro se ele não pensar sobre as coisas.
— Então você acha que Charles cometeu um erro quando se casou comigo?
Ele olhou de esguelha para ela e estudou a estrada à frente. — Eu não sei
mais o que pensar — ele admitiu com relutância.
Ela se afogou com a alegria crescendo dentro dela. Uma vez antes, ela
calculou mal seu humor e foi jogada para o meio da tempestade. Desta vez, ela
decidiu pisar com mais cuidado.
Maddie estudou seu perfil afiado, começando a entender a vida que ele tinha
levado. Seus traços faciais tinham sido esculpidos ao longo dos anos; determinação
e sobrevivência tinham sido ferramentas do destino, transformando o rosto suave
de um menino no rosto de um homem robusto. Um menino separado daqueles que
amava, um garoto indo para a guerra, um menino que tentava ser um homem. Um
homem cujo objetivo na vida não tinha sido a busca por riqueza ou fama, mas
simplesmente a busca por aqueles que ele amava.
— O que Charles deveria ter comprado com os seus seis mil dólares?
— Nada de importante.
— Supõe-se que um Texas Ranger não deve mentir.
Ele olhou para ela, um sorriso aparecendo em seu rosto. — Trapaça. Não
devemos fazer trapaça.
— Mentir é uma forma de trapacear.
Seu sorriso aumentou. — Você tem passado muito tempo com Aaron. —
Seu pomo de Adão balançou. — Foi muito legal o que você fez ontem, o ajudando
a plantar as flores no túmulo de sua mãe.
Envergonhada, ela fez pouco mais do que dar de ombros por seu louvor. —
Eu gostaria de saber o que você tinha planejado para o seu dinheiro.
Ele voltou sua atenção para os cavalos. — Gado. Eu queria algum gado.
Ela olhou em volta para as árvores que cresciam em abundância ao redor
dela. — Aqui? Você pensou que poderia criar gado aqui?
— Era o sonho do meu pai... criar gado. É o que nos trouxe para o Texas.
Ele passou seu sonho para mim tão facilmente como passou seu cabelo preto e
olhos.
— Eu sinto muito, então — disse ela calmamente. — Peço desculpas por
Charles não comprar o seu gado.
— Isso não importa mais. Contanto que você faça Charles feliz, eu vou
considerar o dinheiro bem gasto.
Um dia antes ela teria se ofendido com sua declaração, mas agora ela estava
começando a entender seu comportamento rude. Parte dela desejava que não
entendesse. Por mais estranho que parecesse, era muito mais fácil estar em sua
presença quando ela não gostava dele.

~
Dentro da pequena sala de estar, Maddie estava sentada em uma poltrona ao
lado da lareira, lendo em voz alta. Charles sentava em frente a ela, seu olhar
ocasionalmente mudando dela para as crianças reunidas no chão a seus pés.
Jesse estava sentado no sofá do lado oposto da sala, seu nariz enterrado em
“Farm e Fireside”, uma revista quinzenal. Ele ouviu a cadência melódica da voz
de Maddie. Ele tinha estado perdido há algum tempo nos humores variados que ela
criou conforme trazia a história à vida para as crianças e pensou que se um de seus
antigos professores se atrevesse a revelar as emoções da história com as mudanças
sutis nas inflexões de voz que Maddie usava, ele poderia ter sido um ávido leitor
de livros. Em vez disso ele tinha sido ensinado a ler cartazes, memorizar as
características dos bandidos e malfeitores. Ele tinha aprendido a reconhecer o que
estava escrito no rosto de um homem com os olhos, as histórias que abrigava
dentro de sua alma que o haviam levado a cometer os atos covardes para os quais
uma corda esperava para dar fim a sua vida. No entanto, mesmo habilidoso como
era na leitura de uma pessoa, ele tinha falhado completamente no que concernia a
Maddie.
Jesse levantou os olhos da página e estudou a cena tranquila diante dele,
lamentando por um momento que o fogo não fosse necessário na lareira. Quão
aconchegante seria no inverno ouvir o estalo dos troncos nas chamas, sentir o
cheiro da fumaça saindo pela chaminé, sentir o calor que permearia o ambiente.
Ele se perguntou se Charles estaria aqui então, para desfrutar da família que havia
criado.
Bocejando, Taylor se esforçou para levantar e caminhou para Charles. Ele a
levantou para o seu colo e apertou sua cabeça na dobra do seu braço. Hannah
deslizou pelo chão, se colocando contra a saia de Maddie. Maddie parou de ler no
meio de uma frase, colocou o livro sobre a mesa ao lado da cadeira e pegou a
criança. Hannah tomou ansiosamente seu lugar no colo de Maddie e se enrolou
contra seu quadril. Maddie ergueu o livro e mais uma vez trouxe as aventuras de
Tom Sawyer à vida.
Aaron estava estendido de bruços, com o queixo cavado nas palmas das
mãos, os cotovelos pressionados contra o chão de madeira. Ele olhou por cima do
ombro para Jesse. Sorrindo, Jesse jogou a cabeça para trás e soltou a revista no
chão. Aaron subiu e sentou no sofá ao lado dele. Jesse resistiu ao impulso de puxar
o menino e o segurar tão apertado como Charles e Maddie seguravam as meninas.
Aaron tinha ideias definidas sobre como um menino de sua idade devia ser tratado
e suas ideias não incluíam afagos ou abraços afetuosos de seu tio. Jesse esticou o
braço sobre as costas do sofá.
Aaron mordeu o lábio inferior enquanto seu olhar ía de Maddie a Jesse.
Quando o olhar voltou para ele, Jesse levantou uma sobrancelha. Aaron se
contorceu antes de revelar em um sussurro — Eu estou pensando que eu gosto dela,
tio Jesse. Só um pouco. Você acha que está tudo bem? Você acha que mamãe iria
entender?
Jesse olhou através da sala para o contentamento no rosto de Charles, a filha
que tinha adormecido em seus braços, a mulher que de vez em quando erguia o
olhar das páginas do livro e sorria para Charles. Então ele olhou para Aaron. —
Sim, eu acho que ela entenderia. Acontece que eu gosto dela também.
— Mesmo?
Jesse assentiu.
Aaron mordeu seu lábio mais uma vez. — Um pouco ou muito?
— Muito.
Aaron balançou a cabeça uma vez antes de se estabelecer contra o lado de
Jesse e voltar sua atenção para Maddie e a história. — Sim. Eu estou pensando que
eu poderia vir a gostar muito dela também.
O relógio de pêndulo na sala tocou o primeiro dos oito badalos. Maddie leu
as palavras finais do capítulo e silenciosamente fechou o livro. Ela olhou para o
alegre pacote dormindo aninhado em seus braços.
— Eu acho que é hora de ir para a cama — Charles disse enquanto se
levantava, cuidando para não acordar Taylor.
Maddie colocou o livro sobre a mesa, em seguida moveu seu corpo para a
borda da cadeira.
— Eu vou pegar Hannah — disse Jesse quando ele e Aaron se levantaram.
Ele atravessou a sala com passos longos e se agachou para tirar a criança dormindo
dos braços de Maddie. Ele foi lento ao pegar, esperando até que Charles saiu do
quarto. — Eu vou ter o seu banho pronto — ele finalmente disse calmamente
quando levantou Hannah em seus braços e saiu da sala.
Maddie tinha acabado de trançar seu cabelo quando Charles retornou depois
de se certificar que tudo estava bem. Ela havia colocado sua camisola e puxado o
roupão confortavelmente em torno dela. Ela estava certa de que ele não suspeitaria
de nada, quando fizesse seu ritual noturno de olhar as crianças uma última vez. Ela
também pensou que Charles provavelmente apreciava esses poucos minutos a sós
quando se preparava para dormir.
Ele sentou na cama e deu um suspiro enquanto tirava suas botas. — Senhor,
eu me sinto como se uma manada de cavalos tivesse me pisoteado hoje.
Girando ligeiramente em sua cadeira, ela o estudou. Ele parecia desgastado,
como se seus problemas tivessem aumentado. Ela de repente se sentia muito feliz
porque tinha uma surpresa para lhe dar. Ansiosa para compartilhar aquilo com ele,
se levantou e caminhou até a porta. — Eu estou indo verificar as crianças mais
uma vez.
Charles sorriu para ela quando ela saiu pela porta.
Maddie foi na ponta dos pés em frente ao hall e silenciosamente abriu a
porta do quarto em frente ao que ela compartilhava com Charles. Ela olhou para
dentro. Um baixo fogo queimava na lareira, não o suficiente para aquecer o quarto,
mas o suficiente para a livrar de tremer quando terminasse seu banho. Uma
banheira de madeira estava diante do fogo, a água enevoada emanando uma
fragrância florida. Olhando rapidamente ao redor do quarto, ela notou que ele de
fato tinha sido decorado para uma princesa de conto de fadas. Ela entrou, fechou a
porta atrás dela, caminhou até a banheira e mergulhou os dedos na água morna.
— Está quente o suficiente?
Ela girou ao redor, só agora vendo a silhueta de Jesse nas sombras. — Você
tinha que fazer isso?
Ele saiu para a luz. — Fazer o que?
— Se esgueirar atrás de mim.
— Eu sou visível em todo quarto.
Ela olhou para ele com desconfiança. — Eu acho que você só gosta de me
ver saltar.
Seu sorriso era tão quente como a água quando ele ignorou sua legítima
conclusão e se aproximou dela. — Está quente o suficiente?
— Sim, está agradável. Obrigada.
Estendendo a mão, ele pegou a que ela balançava na água e trouxe para perto
de seus lábios. Ela sentiu sua respiração abanar a ponta de seus dedos.
— Você deve sempre cheirar assim — disse ele em voz baixa antes de soltar
a mão dela. — Aproveite o seu banho.
Ele atravessou o quarto, abriu a porta um pouco e parou. — Você deve usar
seu cabelo solto.
Maddie o observou deslizar para fora do quarto e ouviu seus passos
desaparecendo enquanto ele descia as escadas. Ela atravessou o quarto e abriu a
porta silenciosamente. O corredor estava vazio. Ela ouviu uma porta distante no
térreo abrir e fechar. Ela correu pelo corredor, entrou no quarto das meninas e foi
para a janela. Ela deslizou os dedos entre as cortinas e olhou através da pequena
abertura que tinha criado para o pátio que cercava a parte de trás da casa. Maddie
observou Jesse caminhar lentamente pelo pátio, a cabeça inclinada, com as mãos
enfiadas nos bolsos das calças. Ele parou, olhou de volta para a casa, em seguida,
desapareceu no espesso arvoredo.
Maddie ficou em pé por longos momentos pensando nele, na maneira como
tinha parecido ao partilhar uma confidência com Aaron no sofá quando pensou que
ninguém estava olhando; o calor, a alegria que ela sentiu quando ela percebeu que
ele estava esperando por ela no quarto de princesa, a perda que sentiu quando ele
saiu do quarto. O vazio aumentava agora que ela sabia que ele tinha saído de casa
também.
Ela voltou para o quarto de princesa, tirou as roupas e baixou seu corpo na
água morna, só então percebendo quanto tempo devia ter demorado do outro lado
do corredor. Ela relaxou na água até lhe lamber o queixo e o aroma delicado que a
cercava a lembrou de sua missão de fazer o marido feliz, uma busca compartilhada
por alguém igualmente ansioso para fazer Charles feliz.
Quando a água esfriou, ela se levantou, saiu da banheira, e se secou com a
toalha quente que havia sido colocada em uma cadeira diante do fogo. Ela colocou
sua camisola e, carregando o roupão, caminhou de volta pelo corredor até seu
quarto.
Decepção a abateu quando ela viu que Charles tinha adormecido. Ela deitou
na cama, tentando não perturbar o marido. Sua surpresa de repente parecia
insignificante. Lembrou de Jesse dizendo para usar seu cabelo solto e deslizou para
fora da cama. Ela soltou a trança e escovou os cabelos até que ele fluía sem
problemas pelas costas. Talvez a surpresa fosse agradável para Charles quando ele
acordasse de manhã.
Ela voltou para a cama, deitada de costas, os dedos entrelaçados através de
seu estômago, seus olhos focados no teto. Ela não queria se deitar na cama com o
marido e pensar em seu irmão, mas sua mente parecia querer viajar sua própria
jornada.
Lembrou de como o viu quando ficou observando o jogo de seus músculos
conforme ele movia a árvore de seu caminho, a largura dos ombros, a forma como
as costas afilavam para baixo para atender seus quadris estreitos. Lembrou da força
do seu abraço, temperado com gentileza, quando ele a abraçou, a ternura do seu
sorriso quando ele relembrou Charles.
No quarto de hotel, Maddie tinha apenas vagamente compreendido quando
Charles tinha explicado sobre dar a outras mulheres nada de igual valor em troca
de seu sacrifício. Mas esta tarde, quando ela assistiu o poderoso corpo de Jesse
domado, quando ela sentiu seu abraço reconfortante, ela vislumbrou a magnitude
de seu sacrifício.
Respirando fundo, Maddie saiu da varanda dos fundos. O café derramou da
xícara que segurava. Ela parou firmando a mão, firmando seus nervos e ouviu o
baque retumbante e contínuo conforme Jesse picava a madeira. Recuperando a
compostura, ela caminhou ao lado do celeiro e parou quando o viu.
Ele estava de costas para ela, sua camisa pendurada frouxamente sobre um
arbusto próximo, o chapéu descansando em cima dela. O bronzeado de suas costas
brilhava com o suor de seu trabalho conforme ele balançou o machado em um
pedaço de madeira, a trouxe para o coto, libertou o machado e com um deliberado
movimento dividiu a tora em duas partes. Se curvando ele expôs uma faixa estreita
de carne branca conforme suas calças se esticavam com o seu movimento, pegou
os pedaços e os jogou numa grande pilha de toras divididas, antes de balançar o
braço mais uma vez e reivindicar mais madeira.
Suas ações eram diretas, propositais. Maddie sempre tinha pensado que a
poesia era restrita a palavras escritas em cima de uma página, fluindo sem
problemas, mas assistindo o trabalho de Jesse ela percebeu que a poesia existia em
muitas formas. O ritmo do corpo de um homem, a ondulação de seus músculos
com seus movimentos conforme ele trabalhava poderia ser tão poético, tão
agradável como um poema bem escrito poderia evocar emoções que tocavam o
coração.
— Eu trouxe... — Ela deu um passo para trás quando ele se virou, seu peito
arfando com seus esforços, com o braço pendurado frouxamente ao seu lado, o
machado mantido com o aperto da mão forte. Com a mão livre, ele penteou o
cabelo úmido da testa, sua expressão ilegível. Ela estendeu a xícara de estanho. —
Eu trouxe um pouco de café. — Ela deu um pequeno passo para a frente. — Desde
que o café não foi feito esta manhã até que eu fui para a cozinha, achei que você
não tinha tido qualquer um. — Ela avançou mais um passo. — Eu não queria que
você...
— Passasse o dia de mau humor? — ele perguntou, levantando uma
sobrancelha e um canto de sua boca.
Ela assentiu com a cabeça, grata pelo leve tom de brincadeira em sua voz.
Jesse pegou o café, seus dedos roçando nos dela, tomando nota da xícara
tremendo, não certo se isso foi causado por ele ou ela. Ele engoliu um pouco do
café e se lamentou, quando a bebida escura queimou sua língua e sua garganta.
Mas o breve momento de dor serviu para tirar sua mente de coisas que ele não
queria estar pensando: o motivo para as meias luas azuis pálidas que descansavam
abaixo dos olhos dela, a razão pela qual ela parecia não ter dormido muito durante
a noite.
Ele não queria reconhecer a inveja enrolando em torno de suas entranhas
como uma cascavel preparando para atacar, sempre que ele pensava sobre seu
irmão deitado na cama com essa mulher. Ele passou a maior parte da noite em pé
perto do riacho, observando as águas barrentas, sozinho com seus pensamentos.
Ele não queria estar deitado em sua cama, onde os sons de paixão poderiam
escapar de outro quarto, sussurrar ao longo do corredor e entrar sem ser bem-vindo
em seus sonhos.
Ele levantou a xícara. — Eu aprecio isso.
O olhar de Maddie se desviou para os cabelos úmidos em seu peito, o suor
visível debaixo. Como ela poderia encontrar algo parecido com suor tão atraente
neste homem? Ela ergueu o olhar de volta para o dele. — Eu queria lhe agradecer
por preparar o banho.
Uma brisa leve soprou e trouxe o cheiro de “Forget-Me-Not” oscilando em
torno de Jesse. Ele se perguntou como ela podia cheirar tão fresca depois de uma
noite do que ele estava certo ter sido de uma paixão desenfreada. Se ela tivesse
chegado a ele cheirando tão docemente, seu cabelo em cascata ao redor dela...
Ele bebeu o restante do café, desejando que levasse seus pensamentos para
longe tão facilmente como queimou sua língua. Segurando a xícara para ela, ele
viu a mão pequena, delicada, a tomar da sua, maior, grosseira.
— Sim, bem... — Ele se voltou para a pilha de madeira que tinha decidido
encarar naquela manhã, na esperança de aliviar a frustração que assombrara sua
noite. — Toda vez que você quiser um banho, me deixe saber e eu vou puxar a
água para você.
— A surpresa acabou. Tenho certeza de que, no futuro, Charles não se
importaria de fazer isso.
Ele bateu o machado em um pedaço de madeira. — Charles não precisa
transportar as coisas.
— Mas Charles é meu marido. Ele deveria.
— Ele é o proprietário — disse Jesse, girando para ela. — Eu faço o trabalho
por aqui. Ele cuida dos livros. Se você precisar de algo levantado ou algum
trabalho feito me diga. — Ele colocou a madeira no coto, balançou o machado e o
trouxe para baixo.
Maddie observou a maneira como ele trabalhava, como se ele estivesse
tentando conduzir algo a se afastar. Provavelmente ela. — Eu não quero pedir
coisas a você. Eu não quero que você se ressinta da minha presença.
— Eu não me ressinto da sua presença — disse ele quando enterrou o
machado em outra tora.
— Será que você ficava longe durante a noite antes de eu chegar?
Ele olhou por cima do ombro, seu controle sobre o aperto no machado.
— Eu ouvi o relógio do andar de baixo gritar quatro vezes antes de você vir
para a cama.
Doce Senhor. Teve Charles mantido ela acordada toda a noite fazendo amor
com ela? Ele passou a mão pelo cabelo sabendo que teria feito a mesma coisa. Se
um homem pudesse obter facilmente bebida apenas olhando nos olhos dela, o que ,
em nome de Deus, iria sentir enterrado dentro dela? — Eu tinha algo em minha
mente e não conseguia dormir. Desci pelo riacho. Queria um tempo para mim. Não
tinha nada a ver com você.
Ela baixou o olhar e em seguida olhou para ele através de seus grossos cílios
dourados. — Supostamente Texas Rangers não mentem.
E este Ranger não poderia dizer a verdade: que ele queria ficar naquele
maldito quarto e a ver tomar banho; queria passar a esponja com a água perfumada
sobre o corpo dela, a levantar, com o cheiro de “Forget-Me-Not” emanando da
água, a levar para a cama e saborear as brilhantes gotas de seu corpo.
Ele lhe deu o que esperava que fosse um sorriso provocante. — Eu não estou
dizendo uma mentira.
Seus olhos se arregalaram. — Oh! Meus biscoitos!
Jesse a observou correr, gritando algo sobre uma refeição e sua necessidade
de se apressar e terminar sua tarefa. Ele enterrou o machado na madeira. Ela era a
esposa de seu irmão, tinha trocado votos com Charles e os tinha a intenção de
honrar. Seria melhor que ele fizesse disso uma ladainha, para que ficasse claro para
ele.
~
— Maddie sugeriu que tirássemos o dia de folga e fizéssemos um
piquenique — Charles anunciou a todos sentados à mesa.
As crianças cantaram e bateram palmas.
Depois de engolir os biscoitos, Jesse havia se concentrado no trabalho de
colocar as panquecas banhadas pela geléia em sua boca para que pudesse encher o
estômago e evitar que seus olhos o traíssem e se desviassem para encarar Maddie.
Quando ele levantou lentamente seu olhar, seus olhos brilharam sobre ela e
marcaram em sua memória a imagem dela sentada com as mãos no colo e o olhar
travado em seu prato. Ele desviou o olhar para Charles.
— Esperávamos que você se juntasse a nós — disse Charles.
Jesse olhou para o rosto sorridente de seu irmão, as crianças esperando
ansiosamente sua resposta. Ele não queria decepcionar as crianças, mas era melhor
os desapontar do que fazer algo de que poderia se arrepender mais tarde. — Eu
acho que um piquenique é uma boa ideia, mas eu vou ter que passar hoje. Eu tenho
um monte de trabalho que precisa ser feito.
— Certamente o trabalho pode esperar. Afinal, é sábado — disse Charles.
Jesse olhou para o irmão. — Eu fiz nada ontem porque você me enviou para
a cidade. Eu vou tomar o meu dia de descanso amanhã como todo mundo. — O
garfo bateu ruidosamente quando caiu no prato e ele se levantou. — Agora, se
vocês me dão licença, eu tenho coisas que precisam ser feitas. — Ele andou pela
sala, pegou o chapéu pendurado na parede e o enterrou sobre a testa antes de
empurrar a porta aberta.
Ele caminhou até o galpão, pegou o martelo e o balde de pregos e se afastou
da casa. Sempre que o tempo permitia, ele continuava a construção de uma cerca
de madeira que iria separar a terra de Charles da terra que Jesse tinha planejado
pastorear seu gado. Ele queria um lugar seguro para as crianças brincarem, para
não ter que se preocupar com elas sendo machucadas por um touro bravo.
Ele chegou à cerca inacabada e olhou por seu comprimento. Ele não tinha
feito muito progresso sobre ela e, provavelmente, não tinha nenhuma razão para a
completar, agora que já não tinha os meios para comprar o gado. Ainda assim, ele
deixou cair o balde entre as ervas daninhas, tirou a camisa e a pendurou em um
galho. Ele apertou alguns pregos entre os dentes, pegou o martelo e ergueu uma
das tábuas que ele levou pra lá meses atrás.
E ele começou a martelar. Martelando duro e rápido, enquanto o sol batia
nele.
À medida que o dia passava, a mãe natureza se tornou uma amante cruel. Ela
o fez suar e, em seguida, brincou com ele com o mais gentil dos ventos que levou o
riso das crianças.
Não parecia importar o quão duro ele batia os pregos na madeira, o vento e a
risada flutuavam em torno dele, o chamando, o tentando.
Ontem, ele ouviu a risada de Maddie, teve sua companhia, seu sorriso, mas
ela não era sua para desfrutar. Seus olhos não eram dele para o embebedar, a
cintura não era dele para colocar as mãos em volta, seu cabelo não era dele para
correr os dedos por ele. Seus segredos não eram dele para compartilhar.
Ele não tinha o direito de saber o porque dos pôsteres envelhecidos na
parede terem drenado a cor de seu rosto, saber o que tinha acontecido em seu
passado para colocar o medo em seus olhos nos momentos mais estranhos. Ela não
era dele para proteger, sua para acalentar. Ela pertencia única e exclusivamente a
seu irmão. Quando estava com ela se sentia como se estivesse invadindo a terra
sagrada querendo coisas que não tinha o direito de desejar.
A Mãe Natureza foi implacável, trazendo um vento mais forte que carregou
o riso das crianças antes que ele tivesse tempo de desaparecer. Jesse ouviu o riso
profundo de Charles se misturar com o de seus filhos. Ele se inclinou sobre a
madeira que tinha acabado de martelar no lugar. Quanto tempo fazia desde que
tinha ouvido Charles rir?
Ele deixou cair o martelo dentro do balde com os pregos, puxou sua camisa
do galho, e começou a andar. Ele não tinha ideia de onde eles tinham ido para o
piquenique, mas suas risadas levadas com o vento eram um mapa tão preciso
quanto qualquer outro que tinha sido traçado pelo homem.
Ele os encontrou perto de uma curva do riacho onde as árvores se alinhavam
às margens e a água capturava a luz solar.
— Jesse! — Charles acenou de onde estava sentado debaixo de uma árvore
de carvalho altaneiro.
Maddie se virou, perdeu o equilíbrio e escorregou de costas pela margem do
riacho lamacento, acertando a água fria na beira do riacho.
Dobrando na cintura, Aaron lançou uma risada estridente. — Tio Jesse nem
sequer limpou a garganta, Senhorita Maddie! — Imitando uma lontra, ele pulou
para a margem íngreme do riacho, deslizando sobre o estômago de cabeça na água.
Ele veio cuspindo e chacoalhando a cabeça, seu cabelo espesso enviando gotículas
de água.
Maddie estava lutando para subir a margem lamacenta quando Aaron
segurou suas mãos e a empurrou.
— Aaron Lawson! — Ela deslizou de volta na água, avançou sobre Aaron e
também o empurrou até que ele gritou por misericórdia.
Jesse caiu ao lado de Charles. Charles riu. — Eles vêm fazendo isso a maior
parte do dia, desde que cavaram as pedras para fora daquela área para que
pudessem deslizar sem se machucar ou cortar.
Jesse observou Aaron e Maddie irem para baixo no leito do riacho, o riso
cedendo à medida que recuperavam o fôlego. Ela usava um par de calças de
Charles, as pernas enroladas até os joelhos, um cinto mantendo as calças em torno
de sua cintura. Uma camisa velha estava grudada ao corpo dela. Os dedos dos pés
descalços fora da água e os tornozelos cobertos pela água marrom escura.
Quando a margem secou gradualmente para o rio, as meninas brincaram na
lama com pratos de estanho, copos e colheres manchadas. Taylor ficou de pé
segurando um prato e gingou até Charles. — Coma torta, Pai.
Se inclinando para trás, Charles empurrou seu estômago para frente e o
arranhou. — Eu tive quatro já, Taylor. Pensei que você gostaria de compartilhar
este com seu tio Jesse.
Jesse concedeu a seu irmão um olhar ameaçador quando Taylor ofereceu sua
criação para ele. Cautelosamente, ele a tomou, a segurou debaixo de seu nariz, e
cheirou. — Cheira bem. Por que você não corre e me faz outro enquanto eu como
este?
Os olhos castanhos de Taylor brilharam com prazer quando ela correu para a
margem enlameada. Jesse pegou a lama e jogou de lado. Então ele olhou para a
bagunça preta revestindo seus dedos.
Charles se inclinou para frente. — Hannah! Não vá na água!
Jesse rapidamente limpou a mão na parte de trás da camisa de Charles e
sorriu triunfante quando o irmão expressou suas objeções de ser usado como uma
toalha.
Dobrando um joelho, Jesse descansou seu antebraço sobre ele enquanto seus
dedos brincavam com uma alta erva daninha. — Sabe aqueles cartazes de
recompensa que McGuire continua pregando na parede do canto que ele usa para o
despacho do correio?
— Sim.
— A visão daqueles pôsteres pareceu chatear Maddie ontem.
— Eu não estou surpreso.
Jesse acalmou seus dedos, seus olhos escuros examinando seu irmão. —
Você não está?
— Não. Seu pai e irmão foram mortos durante um assalto de diligência.
Talvez ela tenha reconhecido os homens que fizeram isso.
Jesse ergueu a erva daninha e a jogou de lado. — Ela mencionou que seu
irmão morreu em seus braços. Sabe quando isso aconteceu?
— Um par de semanas antes de eu a conhecer. Suas mortes aparentemente a
deixaram sem meios para subsistir.
Jesse estremeceu sob o olhar que Charles lhe voltou com seu olho direito,
um olhar que fornecia a redenção para a presença de Maddie em um bordel, um
olhar que declarava claramente que Jesse teria sabido disso se tivesse se dado o
trabalho de perguntar por que ela tinha se rebaixado para buscar refúgio em Bev.
— Você acha que eles eram passageiros da diligência?
Descrença lavou o rosto de Charles. — Bem, inferno sim. O que mais eles
poderiam ter sido?
Evasivamente, Jesse deu de ombros. — Ela apenas parecia estranhamente
assustada, isso é tudo.
— Eu imagino. Você não estaria se você visse um homem parecido ao que
matou seu pai e irmão? Talvez ela tenha medo de que ele venha atrás dela. —
Charles deu um salto. — Você acha que ele viria?
Jesse balançou a cabeça. — Se ele tinha preocupações sobre ela causar
problemas, teria tomado conta dela quando matou seu irmão e pai. Por outro lado,
se ele estiver sendo procurado por assassinato, ela poderia servir como testemunha.
Charles caiu de volta contra a árvore. — Esse é o Ranger em você falando
agora.
Sorrindo, Jesse se estendeu a seu lado e apoiou-se em um cotovelo. —
Talvez.
— Tio Jesse! — Aaron gritou. — Venha escorregar com a gente!
Com ênfase exagerada, ele girou a cabeça de um lado para o outro.
— Vamos! É seguro!

Charles deu um soco em seu ombro. — Vá em frente. Passe esta tarde sendo
um menino de novo.

— Faça isso você.

— Eu iria, mas eu tenho uma dor de ressaca na minha cabeça.

Jesse estudou seu irmão. Ele odiava o ligeiro sulco entre as sobrancelhas de
Charles, que tinha recentemente tomado permanência, um lembrete constante de
seu desconforto. — Você vai ficar bem?
Charles assentiu levemente. — Contanto que eu não faça muita coisa eu
devo ficar bem. Parece como uma chuva de verão atrasada. É quando isso começa
a se transformar em uma tempestade que tenho que me preocupar. Vou apenas
sentar aqui e ver as meninas, mas você deve ir brincar.
— Não é decente. — Jesse puxou para cima as ervas daninhas mais curtas ao
seu redor e as jogou de lado.
Charles riu. — Decente?
— Não é conveniente para mim estar em torno de sua esposa quando ela está
vestida assim.
— O que há de errado com a maneira como ela está vestida? Eu achei muito
bonito.
Jesse fez uma careta. Era bonitinho. Isso é o que estava errado.
— Ah, Jesse, você passou tanto tempo sendo um grande irmão, mesmo
quando eu não estava por perto, que você nunca aprendeu a aproveitar a vida. O
pai não tinha o direito de colocar esse peso sobre suas costas, fazer você prometer
tomar contar de mim e Cassie.

— Ele tinha todo o direito. Eu era o mais velho.

— Você tinha 12 anos de idade. Uma criança. Ele lhe pediu para se tornar
um homem. — Charles colocou a mão no ombro de seu irmão. — Então, volte a
ser um menino pelo dia. Vá brincar com eles. Quem vai ver? Nós somos uma
família. Nós devemos nos sentir livres para desfrutar da companhia do outro.

Jesse contemplou sua decisão, então cedeu aos seus desejos. Ele se sentou.
Puxando as botas, ele olhou por cima do ombro para Charles. — Basta lembrar que
foi ideia sua.

Tirou as meias, as enfiou em suas botas, puxou a camisa sobre a cabeça e se


levantou. Lentamente, calmamente, Jesse se arrastou em direção às duas pessoas
que estavam no topo do barranco. Aaron o viu, e seus olhos se arregalaram. Jesse
rapidamente levantou a mão, em seguida, pressionou o dedo aos lábios. Aaron
assentiu em entendimento, em seguida, virou a atenção de Maddie a um imaginário
pássaro azul empoleirado em uma árvore.

Ao ouvir um galho estalar, Maddie se virou e se viu levantada do chão,


segura com firmeza nos braços de Jesse. Antes que ela pudesse protestar, Aaron
bateu o ombro na coxa de Jesse. Jesse gritou enquanto suas pernas deslizavam por
baixo dele. Galantemente torcendo para que suas costas batessem na lama, ele se
inclinou para baixo da encosta com Maddie debruçada sobre seu peito. Eles
atingiram a água. Ela voou por cima dele e pousou de bruços no riacho.
Ela surgiu precipitadamente, jogando o cabelo molhado dos olhos. — Seu
sangrento idiota!

Se esforçando para ficar de pé, Jesse caiu e se estendeu sobre a lama,


jogando os braços para fora e enviando o seu riso para os ramos grossos.

Atordoada, Maddie ouviu o rico timbre profundo de sua voz e observou a


maneira como seu peito retumbou.

Ele levantou a cabeça e olhou para ela. — Senhor, eu amo seu sotaque
quando você está com raiva.

Ela não poderia ter ficado mais surpresa se ele dissesse a ela que a amava.
Sua boca generosa tinha formado um largo sorriso. Seus olhos ônix prenderam os
dela, a mantendo cativa. Mesmo com lama na ponta de seu nariz, ele estava
devastadoramente bonito.

Ele lutou contra a enjoativa lama agarrada ao seu corpo, levantou-se, e


andou com dificuldade até ela. — Você está bem?

— Não, eu não estou bem. O que no mundo você achou que estava fazendo?

O sorriso desapareceu lentamente de seu rosto, e ele estendeu a mão. —


Aqui, me deixe ajudar.
— Eu posso levantar sozinha. — Com a lama afundando entre os dedos dos
pés, ela lutou para levantar. A lama foi sugada pelo seu pé enquanto ela tentava e
caiu de volta na água.

Ele se moveu atrás dela tão rapidamente quanto a lama grossa permitiu e
deslizou as mãos sob seus braços. Virando, ela o empurrou. Ele perdeu o equilíbrio
e caiu na água. Ela lutou contra o seu sorriso. — Não é muito divertido ser atirado
na água, não é?

Ele jogou o cabelo molhado da testa. — Oh, eu não sei nada sobre isso.

— O que você estava pensando? — ela perguntou em voz baixa.

— Eu não sei. Charles me disse para brincar, então eu pensei em tentar.

Ele se levantou e estendeu a mão para ela que colocou as próprias em torno
da dele. Ele a puxou para cima. Quando eles nadaram em direção à costa, a risada
de Aaron ecoou em torno deles. Jesse inclinou a cabeça para trás para olhar o
diabrete no topo do barranco, batendo os joelhos. — Aaron, o que você estava
pensando, me empurrando assim? Você deveria estar do meu lado!

— Não há nenhum lado, tio Jesse!

— Você vai desejar ter quando eu terminar com você! — Jesse começou a
subir o barranco. Aaron se levantou, jogou uma provocação apressada para o
homem que o seguia e correu na direção das árvores tão rápido quanto suas pernas
podiam conseguir..
Quando Jesse finalmente apanhou Aaron e o puxou para fora da árvore, fez
da pesca a punição pela brincadeira do menino. Enquanto pescavam, Maddie,
Charles, e as meninas sentaram debaixo de uma árvore próxima, rindo e comendo
as amoras que eles recolheram. Conforme as sombras do fim da tarde cobriram a
margem do riacho, eles começaram a caminhada para casa.

Marchando juntos, os adultos perderam de vista Aaron enquanto ele corria à


frente por entre as árvores. As meninas gritaram. Puxando a carroça, Jesse olhou
para trás para se certificar de que nada tinha caído para fora. Ele não estava
prestando muita atenção aos sulcos e rochas que faziam a viagem turbulenta. Em
vez disso, discretamente observava a mulher andando ao lado dele. Charles andava
no outro lado dela e Jesse não conseguia entender como seu irmão seguia ao lado
de Maddie sem a tocar. Se ela era sua esposa, ele tinha pelo menos que colocar o
braço em volta dela e a sentir pressionada contra o seu lado.

Ela escorregou uma saia sobre as calças, deixando seus pés cobertos de lama
visíveis. Seu cabelo pendia em uma trança por cima do ombro, mas alguns fios
ganharam sua liberdade e se penduravam em desordem ao redor do rosto. Se ele
tivesse o direito, daria a todo o seu cabelo a liberdade por um breve momento antes
de o capturar e o aprisionar na palma da sua mão.

Uma mancha azul escuro delineava um canto da boca de Maddie. Uma


pequena parte da lama tinha secado em uma orelha, uma parte maior tinha
reivindicado a bochecha, um rosto que o sol tinha acariciado e queimado, um rosto
arredondado com alegria quando um sorriso encheu seu rosto. Ela estava perdida
em sua juventude, despreocupada e feliz.
Aaron chegou correndo de volta por entre as árvores. — Temos companhia!

Charles olhou da cabeça de Maddie para Jesse. — Não temos uma diligência
agendada para parar hoje.

— Muita companhia! Depressa! — Aaron gritou antes de precipitadamente


voltar por entre as árvores.

Todo mundo aumentou seu ritmo o que deixou Maddie com falta de ar, uma
vez que fizeram o seu caminho para o quintal e a casa ficou à vista. Pelo menos
duas dúzias de adultos e uma série de crianças estavam reunidas no pátio. Jesse
soltou a carroça quando Hannah e Taylor pularam para fora.

— Bem, o casal recém-casado finalmente voltou! — McGuire gritou


enquanto os habitantes da cidade os cercavam.

Jesse pegou a surpresa e confusão no rosto de Charles, mas era o medo nos
olhos de Maddie quando o povo a afastou que lhe fez empurrar as pessoas para o
lado para chegar até ela. Ele envolveu sua mão ao redor de seu braço. — Está tudo
bem, Maddie. Eles estão aqui apenas para fazer você se sentir bem-vinda.

Em seguida, seu domínio sobre ela escorregou e um grupo de mulheres a


levou pelo pátio para a varanda dos fundos. Jesse foi içado precariamente sobre os
ombros e levado por todo o quintal como se fosse um saco de grãos. No meio da
confusão, ele foi colocado sem a menor cerimônia aos pés de Maddie.
Momentaneamente desorientado, ele lutou para ficar em pé e colocou a mão na
parte inferior das costas da cunhada, na esperança de a tranquilizar, sabendo que
quaisquer palavras que ele poderia ter oferecido teriam sido abafadas pela loucura
em torno deles.

— Vá em frente, cara! — McGuire cutucou. — Beije sua esposa. Você não


pode se casar em privado e não pagar um preço por isso.

Jesse olhou para McGuire como se o homem tivesse perdido o juízo. Eles
pensavam que Maddie era sua esposa? Ele tentou se lembrar do que ele disse na
cidade para lhes dar essa impressão e não conseguia se lembrar de uma única coisa
que ele disse a nenhum deles. Ele a apresentou...

Ele emitiu uma maldição silenciosa. Ele a apresentou como Sra. Lawson,
mas não se preocupou em explicar que era a Senhora Charles Lawson. Olhando
através do mar de rostos, ele se perguntou por que Charles não tinha trabalhado o
seu caminho para a varanda para reivindicar sua esposa.

Pânico golpeou com a força de um touro investindo quando viu Charles se


curvar e colocar seus braços sobre os joelhos. Ele deu um passo para fora da
varanda, seu objetivo sendo o de chegar a Charles antes que ele tivesse cambaleado
com a dor. Sua missão de misericórdia foi interrompida, e ele foi empurrado para
trás sob o beiral do telhado do alpendre conforme o refrão de "Beijo!" ressoou em
torno dele. Ele estava à beira de explicar que Charles estava com dor e que
precisava ajudá-lo quando Charles jogou a cabeça para trás e lançou seu riso.

Rindo! Charles estava rindo porque essas pessoas pensavam que Maddie era
casada com ele! Atordoado, Jesse podia fazer pouco mais do que sentir a irritação
inchar dentro dele. Ele estreitou os olhos. Então Charles estava curtindo esse mal-
entendido constrangedor, não era? Bem, Jesse poderia apreciar isso também. E se
Charles queria algo para rir, então por Deus, ele daria ao homem algo para rir.

Ele se virou para Maddie. A confusão e preocupação em seus olhos quase o


parou, mas quando ela estendeu a mão e agarrou sua camisa, ele a tomou nos
braços e baixou a boca para a dela.

Foi um erro.

Ele soube no momento em que seus lábios foram iluminados pelos dela, e
ele sentiu sua resposta: uma ligeira vibração como uma borboleta tocando em sua
primeira pétala.

Talvez tenha sido a surpresa de suas ações que fizeram sua boca se abrir um
pouco. Ele não se importava. Ele estabeleceu sua boca mais solidamente contra a
dela, aproveitando a oportunidade para enfiar a língua dentro e saborear
totalmente. Ela tinha gosto de amoras e carregava o cheiro do córrego, misturado
com a sombra de “Forget-Me-Not”.

Em seguida, o erro se intensificou por ela não responder da maneira que ele
esperava, mas da forma como ele tinha sonhado, acasalando a língua com a sua,
imitando um antigo ritual com um inocente abandono. Era tudo o que ele podia
fazer para não gemer em voz alta.

Ele queria dizer a ela para colocar os braços em volta de seu pescoço para
que ele pudesse sentir seus seios pressionados contra o peito, em vez de seus
punhos fechados agarrando sua camisa. Ele queria dizer a ela para respirar para que
ele pudesse sentir sua respiração quente abanando seu rosto. Ele queria dizer a ela
que ela tinha gosto melhor do que bolo esponja, mas sabia que uma vez que ele
levantasse os lábios dos dela, ele nunca mais teria permissão para os tocar.

Ele segurou a parte de trás de sua cabeça com uma mão forte e a inclinou
dramaticamente esperando que quando o beijo terminasse, quando Charles a
levasse, risos iriam cumprimentar sua audácia. Mas até esse momento, ele
saboreou o beijo, o puxando para fora, saqueando o que não tinha direito.

Sentiu um aperto de mão em seu braço. Relutantemente, ele ergueu a boca


da dela. Ela o olhou fixamente, sem piscar os olhos, sua respiração ofegante. Ele
desviou o olhar para Charles.

— O que diabos você pensa que está fazendo? — Charles exigiu.

— Beijando sua esposa.

— Espere um minuto, cara! — McGuire berrou. — Pensei que ela era


casada com você, Jesse.

— Não, ela está casada com Charles.

Murmúrios ecoaram entre os vizinhos reunidos.

— Então, Charles é quem deveria a ter estado beijando! — McGuire


anunciou.
— E eu agradeço a todos vocês que me deram a oportunidade de a receber
oficialmente na família.

Desenfreado, o riso bem-humorado os cercou quando ele deixou Maddie nos


braços de Charles. — Talvez da próxima vez você a reclame um pouco mais rápido.

Charles sentiu Maddie tremer. Ele a beijou de leve na testa antes de se


aproximar mais e olhou para os seus vizinhos. — Nos desculpem por alguns
momentos mas nós gostaríamos de nos tornar apresentáveis. Então, os receberemos
todos em nossa casa.

Ele lançou um olhar severo para Jesse antes de liderar Maddie para dentro.

~
Espiando discretamente pela janela do quarto, Maddie observou as sombras
se alongarem enquanto o crepúsculo se aproximava. Charles tinha levado as
crianças pelo corredor para os tornar apresentáveis, a deixando sozinha. Ela sabia
que deveria estar lavando a lama de seus pés, escovando os cabelos, decidindo
qual vestido usar, mas se sentia como se sua capacidade de pensar tivesse sido
roubada pelo beijo de Jesse.

Maddie apertou seus dedos em seus lábios. Eles eram um substituto pobre de
sua boca. Sua boca estava tão quente como um dia de verão. No entanto, naqueles
poucos momentos preciosos, a embalando em seus braços, sentiu como se ela fosse
um orvalho beijado por uma rosa despertada na madrugada fria, pouco mais do que
um pequeno broto desenrolando lentamente. Nunca passou pela mente dela o
afastar ou impedir.

Somente quando seus lábios deixaram os dela a verdade a insultou. Ela não
pertencia aos braços de Jesse. Ele não era dela para beijar ou para segurar. Ele não
era o único a quem ela deveria levar xícaras de café pela manhã. Ele não era o
único cujos movimentos a deviam lembrar de poesia.

Ela se repreendeu com uma litania de votos caindo em sua mente. Isso nunca
deveria acontecer novamente. Ela nunca deveria esquecer que estava casada com
Charles. Ela era sua esposa.

Ela ouviu uma batida suave na porta e atravessou o quarto. Abrindo a porta
ligeiramente, olhou para fora e seu coração bateu descontroladamente dentro de
seu peito quando Jesse apareceu diante dela.

— Eu lhe trouxe um banho. Está no quarto de princesa. — Sua voz era baixa,
seus modos moderados.

— Você não deveria ter me beijado assim... lá fora... na frente de todos. Sou
casada com Charles.

— Eu sei disso. Eu pensei que o iria provocar. Não funcionou do jeito que
eu esperava.

— Aquelas pessoas...
— Acharam que foi uma brincadeira.

— Mas não foi.

Jesse permitiu que seu olhar vagasse para seus lábios, ainda inchados de seu
beijo. Ele enfiou as mãos nos bolsos para se impedir de a puxar de volta em seus
braços. — Não, não foi. Mas só você e eu sabemos disso. E não vai acontecer
novamente.

— Mas Charles...

— Eu vou ter certeza de que ele entenda que foi tudo culpa minha. Agora é
melhor você ficar em frente ao hall. Temos pessoas à espera.

Rasgando seu olhar do dela, ele caminhou pelo corredor. Silenciosamente,


entrou no quarto das meninas e tirou um momento para assistir Charles puxar o
macacão de Taylor. Então ele respirou fundo, esperando mascarar as emoções
cruas estrondando em torno de seu peito. — Eu trouxe um banho para Maddie. Por
que você não mergulha as meninas na água?

Girando, Charles avançou sobre seu irmão. — O que diabos você achou que
estava fazendo lá fora?

— Por que diabos você não se apressou e a reclamou uma vez que você
entendeu o que todos eles pensavam?
Seus olhos entraram em confronto, preto contra o marrom, desafiadores,
questionadores, facilitando lentamente o perdão. Balançando a cabeça, Charles
sorriu com vontade. — A expressão de horror em seu rosto quando você percebeu
o que eles pensavam — Ele riu. — Oh, Jesse, se você pudesse ter visto a si mesmo.
Eu nunca vou esquecer o olhar em seu rosto, enquanto eu viver.

As palavras, um lembrete descuidado, fez Charles ficar sério e levou a ira de


Jesse.

— Não quer dizer nada — disse Jesse. — O que aconteceu lá fora.

— Significa alguma coisa — disse Charles quando ele se virou e ajudou


Hannah a sair de seu macacão. — Significa que meus bons hábitos estão
começando a passar para você, e você não está pensando nas coisas até a morte
antes de as fazer.

Jesse expulsou o fôlego que estava segurando. — Eu vou ajudar Aaron a


ficar pronto.

Andando para fora do quarto, ele desejou a Deus que tivesse pensado sobre
isso antes que a beijasse.
Abrindo as portas duplas da sala de visitas, Jesse convidou a todos para
dentro. A maioria das pessoas conhecia Charles há anos e se sentiam confortáveis
se fazendo em casa. Alguém puxou uma grande mesa e as mulheres espalharam
uma variedade de bolos e tortas ao longo de seu comprimento.

Os homens ajudaram a abastecer o armário com licor. Entre uma bebida e


outra, eles jogavam piadas bem-humoradas para Jesse. Facilitando o seu caminho
através da sala, ele sorriu e aceitou a gozação que lhe era devida. Quando chegou à
lareira estéril, apoiou o cotovelo em cima da lareira e teve uma visão clara das
escadas.

Descendo as escadas aos pulos, Aaron sorriu quando seu melhor amigo,
Billy Turner, que conseguiu se libertar do meio da multidão e correu em direção a
ele. O menino de cabelos claros agarrou o braço de Aaron e sussurrou em seu
ouvido. O rosto de Aaron se iluminou como uma fogueira no outono. Em uníssono,
os meninos correram para a porta. Jesse pigarreou com força, e um pesado silêncio
desceu sobre a sala. Aaron e Billy congelaram.

— Você precisa esperar até que seu Pai e a Senhorita Maddie desçam antes
de sair — disse Jesse.
— Ah, tio Jesse, Billy disse que ele tem filhotes de cachorro em sua carroça.
Será que devemos mesmo esperar?

Jesse deu um breve aceno de cabeça. Aaron se arrastou de volta e encostou


em uma das portas. Billy tomou o lugar ao lado dele. Ambos os meninos olharam
para o homem que os estava punindo sem nenhuma razão aparente. As pessoas que
tinham se transformado em estátuas humanas lançaram suas respirações e mais
uma vez encheram a sala com risos e conversa.

Jesse sorriu enquanto as meninas trabalhavam seu caminho para o fundo das
escadas onde as mulheres envolveram a atenção delas. Em seguida, ele levantou o
olhar para o alto da escada e sentiu como se alguém tivesse entregado um bom
sólido golpe no centro de seu peito.

Era difícil acreditar que a mulher graciosa descendo as escadas com o braço
ligado através do de Charles era a mesma que tinha estado chafurdando na lama
durante toda a tarde. Ela prendeu o cabelo e deixou alguns fios soltos para
enquadrar o rosto. O vestido elegante abraçava sua cintura fina e quadris estreitos.
A seda verde esmeralda reforçou a cor de seus olhos âmbar, acentuou suas
bochechas beijadas pelo sol, e trouxe destaque a seu cabelo cor de mel.

Em comparação com as outras mulheres, vestidas de forma caseira e com


chita, ela era uma rosa desabrochando entre os dentes de leão.

Apesar das pessoas aglomeradas dentro da sala, Maddie sabia exatamente


onde estava Jesse enquanto descia as escadas, os dedos agarrando o braço de
Charles. Ela esperava disfarçar o quão consciente estava dele olhando em volta da
sala, mas quando seu olhar completou metade da jornada, caiu sobre ele. As
feições escuras eram mais proeminentes contra o branco austero de sua camisa e
ela se sentiu como se tivesse estendido a mão e o tocado. Seu passo era hesitante
mas ela fingiu indiferença fazendo uma paródia de seus verdadeiros sentimentos.
Charles a estabilizou. Felizmente, ela sorriu para ele e esperou que ele culpasse sua
falta de jeito pelo nervosismo na reunião de seus amigos e não sobre as emoções
desconhecidas flutuando através de seu coração.

Andando ao lado dele na sala de estar, ela foi cercada por rostos que haviam
resistido aos aspectos mais ásperos da vida, as pessoas que conheciam as alegrias
encontradas na mais simples das coisas, porque muitas vezes era tudo o que tinham.
Seus rostos não eram do tipo a que ela estava acostumada a olhar. A sua
rugosidade era limitada à superfície exterior e não se estendia para dentro, para o
coração. Ela não sabia como reagir a essas pessoas que estavam tão ansiosas para a
receber em seu meio.

Sabendo que iria se lembrar de poucos nomes, ela sorriu hesitante quando as
introduções foram feitas. Enquanto passeava pela sala, ela estava muito consciente
do olhar de Jesse seguindo ela, quase como uma carícia.

Seu sorriso se tornou genuíno quando ela reconheceu a mulher que os tinha
servido no restaurante. Jean Lambourne os conduziu para a mesa cheia de comida.

— Agora, antes de começar a comer e celebrar, temos um pequeno presente


para você. — Ela alcançou atrás de uma cadeira e colocou uma grande caixa
embrulhada em papel pardo sobre a mesa. Um sorriso triunfante enfeitou suas
feições conforme ela ficou com os dedos entrelaçados através de seu estômago.
Inclinando-se, Charles sussurrou no ouvido de Maddie — Abra.

Ela olhou para ele. — Você deve abrir. Eles são seus amigos.

— Mas eles querem ser seus. Além disso, eu acho que é habitual a noiva
abrir o presente de casamento.

Ela lhe deu um sorriso trêmulo. A única vez que ela esteve em uma sala com
tanta gente tinha sido na noite em que entrou no salão de Bev.

Com os dedos trêmulos, ela puxou a corda que prendia o papel em volta da
caixa. O papel caiu. Ela levantou a tampa da caixa e tocou uma colcha de retalhos
de algodão em vários tons de azul colocados juntos em quadrados delimitados.

— Nós damos a todas as novas noivas uma colcha quando se casam — disse
Jean. — Essa seria de Maria, mas ela não vai se casar por mais dois meses por isso,
decidimos dar a você. Nós vamos fazer para ela outra. Claro, todos nós pensamos
que esta estava indo para você e Jesse, e é por isso que os homens não devem
assumir o trabalho das mulheres de fofocar. — Ela deu a Angus McGuire um olhar
duro. — Mas verdade seja dita, nós estamos bem felizes por Charles. Fico feliz em
o ver tomar uma esposa.

Maddie queria morrer quando o soluço escapou de sua garganta. Charles


colocou os braços ao redor dela. — Eles estão apenas tentando fazer você se sentir
bem-vinda — garantiu ele.
Ela balançou a cabeça. — Eles não entendem — ela sussurrou. — Eles
acham que nosso casamento-

— É uma ocasião feliz.

Ela podia ouvir os murmúrios e desejou que ela estivesse em qualquer lugar,
menos onde ela estava. — Eu não mereço o presente deles, Charles. Por favor,
conte a eles-

Jesse pigarreou. Com seus olhos cheios de lágrimas, Maddie levantou a


cabeça e olhou para ele.

Do outro lado da sala, ele segurou seu olhar, e ela sentiu como se ele
estivesse bem ao lado dela. Ele lhe deu um sorriso caloroso e levantou o copo. —
Eu gostaria de fazer um brinde. Para meu irmão, Charles, e a mulher que o pode
fazer feliz.

Ele levou o copo aos lábios em meio a aprovação e aplausos, e Maddie


percebeu que tinha sido dado a ela um presente mais precioso do que a colcha. E
ela não podia aceitar um sem aceitar o outro.

Charles lhe entregou um copo. Sorrindo timidamente, ela tomou um gole da


bebida com sabor de frutas. Ele bebeu de outro copo antes de convidar as pessoas a
ajudarem a propagar os alimentos ante eles. Depois se virou ligeiramente e
levantou o copo numa saudação silenciosa para Jesse. Jesse retribuiu o gesto e
bebeu o líquido restante em seu copo.
Aaron andou por toda a sala, Billy em seus calcanhares. — Tio Jesse,
podemos ir agora?

Jesse olhou para os rostos expectantes. — Sim, mas não tenha qualquer
noção de que você pode manter um desses cães. — Ele viu os meninos saírem
antes de voltar sua atenção para o casal recém-casado.

As meninas trabalharam seu caminho pelas damas admiradoras. Charles


levantou Hannah em seus braços. Maddie levantou Taylor e a colocou em seu
quadril.

Deslizando o braço livre em torno de Maddie, Charles a acompanhou pela


sala, parando de vez em quando para trocar gentilezas com uma pessoa ou outra.

Em pé ao seu lado, quase uma sombra silenciosa, Maddie estava


surpreendida com a facilidade com que ele começava conversas com pessoas
diferentes, discutindo as colheitas com um homem, um potro novo com outro. Ela
nunca tinha conhecido um homem como Charles, com um dom para colocar as
pessoas à vontade, tendo capacidade de oferecer amizade incondicional. Quando
entendeu o profundo afeto que as pessoas da cidade mantinham por seu marido, ela
reafirmou seu voto para ter certeza de que ele nunca lamentasse a noite em que lhe
pediu para casar com ele.

Se desculpando, Charles caminhou até o armário de bebidas, onde um idoso


homem encurvado capturou sua atenção e prolongou sua estadia.
Sem mais Charles ao seu lado, Maddie sentiu o manto da solidão em torno
dela, embora estivesse cercada por pessoas. Taylor se contorceu. Ela colocou a
criança no chão e a observou caminhar até a mesa, onde uma mulher idosa
prontamente encheu um prato para ela. Maddie abriu caminho até a porta. Ela tinha
sonhado muitas vezes com uma vida que incluía outras pessoas, de alguma forma
esperava que isso aliviasse a solidão com a qual tinha crescido. Olhando de frente
para a sala ela viu Charles rindo. Em seguida, ela fugiu para a noite.

Maddie tinha vindo para fora em busca de alguns momentos de solidão. Em


vez disso, tinha descoberto sombras de seu passado à espreita atrás do celeiro. Se
apressando através do quintal, em uma vã tentativa de fugir de sua consciência, ela
parou abruptamente com a visão de Jesse sentado nos degraus da varanda.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, seu tom de voz cortado,
sua respiração ofegante.

— Necessitava um pouco de ar fresco. Muitas pessoas dentro. O que você


está fazendo aqui?

Forçando os punhos a descerrar, seu corpo a relaxar, ela respirou fundo e


falou com uma calma que não sentia. — Mesma coisa.

— Você não está acostumada a estar em torno de muitas pessoas, não é?

Ela olhou rapidamente ao redor do pátio, em seguida para o céu enegrecido.


— Não.
Esticando suas longas pernas, ele se inclinou para trás e apoiou os cotovelos
na varanda. — Nem eu.

Ela olhou para o corpo estendido, o comprimento que tinha estado


pressionado contra o dela mais cedo. Ela sentiu o alarme que tinha experimentado
no celeiro desaparecer em sua presença dominante e se admirou de sua capacidade
de dissipar seus velhos medos, agitando a vida dela de novo. Ela entrelaçou os
dedos e pressionou as palmas das mãos suadas juntas. — Eu pensei que você
tivesse passado uma grande quantidade de tempo em torno de pessoas.

Ele balançou a cabeça. — Por muito tempo, a única companhia que eu tive
foi uma fogueira queimando brilhantemente na noite. — Ele deu de ombros. — Ou
algo assim.

A lua era menos que um pedaço reluzente no céu e no entanto, lançava luz
suficiente para que dentro das sombras de seu rosto, ela pudesse ver o mais
descarado dos sorrisos. Lembrando sua conversa no restaurante quando ela
descreveu sua vida em termos semelhantes, ela o olhou com cautela. — Você está
tirando sarro de mim?

— Não. — Ele ficou em uma posição sentada, plantando os cotovelos nas


coxas e balançando as mãos entre os joelhos. — Por que você não se senta?

Ela olhou ansiosamente para os degraus. Ela queria prolongar seu tempo
aqui fora, mas não tinha certeza de que queria prolongar seu tempo ao lado dele.
Os grilos gorjeavam com uma cadência constante. Um sapo-boi resmungava ao
longe e ela se lembrou do som de aviso de Jesse. — Por que você limpa a garganta
quando as crianças se comportam mal?

— Porque eu tendo a parecer muito mais cruel do que sou quando eu grito.
Eu limpar minha garganta vai fazer você se sentar?

Ela forçou de volta seu sorriso. — Eu não estou certa de que é uma boa ideia
eu me sentar aqui com você.

Ele acenou com a mão sobre a varanda. — Muito espaço. Nós não vamos
mesmo estar nos tocando.

Os grilos caíram em silêncio enquanto ela se aproximava e sentava na


varanda. Respirando fundo, ela ouviu como as criaturas ficavam confortáveis
novamente e retomavam seus sons noturnos. Ela desejou que pudesse se ajustar
assim tão facilmente quando as coisas ao seu redor mudavam.

Ela ouviu o calor de um riso e olhou por cima do ombro. — Eu posso ouvir
Charles rindo.

— Sim, ele está rindo muito mais desde que a trouxe para casa.

Ela deslizou as mãos entre os joelhos e as apertou juntas. — Você não ri


muito. Seu riso no riacho esta tarde me surpreendeu.

— Sim, me surpreendeu também.


Eles se sentaram em um silêncio por longos momentos, o cheiro de
madressilva flutuando no ar. Ela olhou para ele. — Você explicou a Charles...

— Sim.

— Você acha que ele entendeu?

— Pareceu que sim.

Cuidadosamente, ela balançou a cabeça se perguntando se deveria pedir a


ele para lhe explicar por que mesmo ele a quis beijar, como uma brincadeira ou de
outra forma. A mulher que ela tinha visto em pé diante do espelho enquanto se
preparava para tomar um banho tinha lama seca em quase todas as superfícies
expostas de seu corpo. Mechas de seu cabelo estavam saindo como os espinhos em
um cacto. Suas roupas estavam sujas e os pés descalços. Ela certamente
compreendeu por que Charles não tinha ido à frente para a reclamar. Mas por que
Jesse a havia tomado em seus braços a desconcertava. Não havia nada atraente ou
interessante sobre a mulher em pé na varanda de trás. Quanto à razão pela qual ela
não o tinha empurrado e os sentimentos que haviam emergido durante o beijo, era
melhor não contemplar aquilo. Ela tinha feito a sua escolha em Fort Worth. Se ela
não pudesse ter realização como uma mulher casada com Charles, iria pelo menos
encontrar a realização como mãe e uma esposa obediente.

Deslocando o quadril, Jesse descansou um cotovelo no degrau. — O seu pai


era Inglês?
Sua voz, embora baixa, a tirou de seu devaneio. Sua pergunta era mais
segura do que as que ela estava fazendo a si mesma. Ela deu um pequeno sorriso.
— E minha mãe. Ela era a filha primogênita de um duque. Meu pai era o sétimo
filho de um conde.

Ele não disse nada, simplesmente a observou.

— Sabe o que isso significa? — ela perguntou.

— Que se sua mãe tivesse sido uma convidada aqui, ela teria querido dormir
no quarto de princesa?

Ela riu, e Jesse desejou saber o segredo que lhe causou gargalhadas.

— Isso significa que ela não deveria se casar com ele.

— Por que não?

— Porque ele não tinha título e ela estava destinada a ser uma duquesa.

— Mas ela se casou com ele.

Ela trouxe os pés no degrau mais alto e colocou os braços em volta dos
joelhos. — Ela o amava muito. Eles fugiram, se casaram e deixaram a Inglaterra.
Em seguida, ele a trouxe para o Texas. Ela acreditou em suas promessas, aceitou
seus sonhos. — Olhando ao longe ela apoiou o queixo nos joelhos e suspirou
melancolicamente. — Apesar de tudo, ela nunca deixou de o amar.
— O que foi tudo? — ele perguntou, sua voz se misturando com os sons da
noite.

Ela ergueu um ombro. — Solidão. Decepção. A ocupação de meu pai o


manteve afastado uma grande parte do tempo. A mãe era sempre mais feliz quando
ele estava em casa falando de como viveríamos uma vez que as coisas
funcionassem para ele. Ele tinha esses grandes planos. A mãe me ensinou todas as
coisas que uma senhora deveria saber para quando eu estivesse confortável em
nossa nova vida, quando esta chegasse. O pai me segurava no colo e me dizia que
algum dia eu me casaria com um homem bom.

— E você fez.

Sorrindo, Maddie olhou para Jesse. — E eu fiz. Eu nunca conheci alguém


como Charles. Ele tem um bom coração.

— Ele é definitivamente uma das melhores pessoas.

Estendendo a mão, ela tocou a contusão em sua mandíbula. — Ele não me


parece o tipo de homem que teria atingido o outro.

Envolvendo a mão ao redor de seus dedos, ele a levou para o colo dela e a
mão dele voltou para o seu lado. — Ele não é. É por isso que seu punho foi capaz
de chegar tão perto de minha mandíbula como fez. Eu não estava esperando por
isso.
Ela se virou ligeiramente para que o pudesse ver mais de perto. — Você me
parece o tipo de homem que iria bater em alguém.

— Eu sou.

— Mas você não bateu em Charles de volta.

— Eu não vou bater no meu irmãozinho.

Ela o estudou. Eles eram irmãos, apenas quatro anos os separando e ainda
assim o destino tinha escolhido lhes dar diferentes vidas, os moldar homens
diferentes. — Você lutou com muitos homens?

— Lutei com a minha quota.

Um lado de sua boca se curvou ironicamente. — E eu suponho que você


sempre ganhou.

Ele lhe deu um pequeno sorriso. — Nem sempre.

Sua honestidade e recusa a ser um fanfarrão a surpreendeu. Os homens que


ela tinha conhecido não teriam hesitado a inchar o peito, afirmar inúmeras vitórias
e inflar a verdade com mentiras. — Aaron estaria desapontado ao ouvir isso. Ele
adora você.

— Eu sei. — Nojo marcou sua voz. — Eu tentei explicar a ele... — Sua voz
se afastou.
— O que você já tentou explicar?

— Que eu não sou um herói. Eu tinha um trabalho a fazer e o fiz. Isso é tudo.

Ela inclinou a cabeça. — Talvez isso seja tudo o que qualquer herói é,
alguém que não desiste até que o trabalho esteja feito.

— O seu pai foi um herói?

Virando o rosto ela abraçou os joelhos. — Eu não mereço Charles, você sabe.

— Isso é para ele decidir.

Ela olhou para ele.

— É mesmo?

Ele balançou a cabeça.

— E se você descobrir que eu não o mereço?

Se endireitando, ele se inclinou em direção a ela. — Eu vou descobrir o que,


Maddie? É disso que você tem medo?
Ela soltou um pequeno grito e pulou a seus pés. Uma pequena sombra negra
avançou pelo espaço curto e se lançou sobre seu sapato. Ela pulou para trás. A
sombra gritou e atacou novamente.

Jesse pegou o cachorro se contorcendo e o segurou ao luar. — Agora eu me


pergunto: de onde você veio?

Voltando, Maddie chegou timidamente e tentou tocar a cabeça do cachorro,


que virou o nariz molhado em direção a palma de sua mão, a língua saindo para a
lamber. Ela deu uma risadinha. — De onde é que ele veio?

— Billy trouxe alguns filhotes para mostrar a Aaron. Esse deve ter fugido.

— Será que o posso segurar?

— Claro. — Jesse deu o cão se contorcendo à Maddie. Ela se abaixou,


segurou o cachorro no colo edeslizou as mãos sobre seu corpo. Ela riu quando o
cachorro saiu de seu colo e pulou de volta para o poço de sua saia.

Jesse caiu de joelhos. — Ele vai se transformar em um grande cão.

— Como você sabe? — ela perguntou, sua voz cheia de admiração.

Ele espalmou uma das patas do filhote. — Porque ele tem pés grandes.

— Podemos ficar com ele?


Ela levantou o olhar para ele, a esperança sendo substituída pela cautela que
ele tantas vezes viu em seus olhos. Jesse sentiu necessidade de a ter olhando para
ele com a fé irrestrita de uma criança, não a apreensão de um adulto que tinha
aprendido as duras lições de confiança equivocada. Ele queria manter o sorriso em
seu rosto e o riso em sua voz. Ele queria trazer os sonhos de felicidade que seu pai
tinha prometido. — Eu não vejo por que não se Billy não se opuser a desistir dele.

Ela riu quando o cachorro lambeu seu queixo. — Você vai perguntar?

Charles abriu a porta de trás e saiu para a varanda. — O que vocês dois estão
fazendo aqui?

— Oh, Charles, olha! — Maddie segurou o cachorro para ele ver conforme
se aproximava. — Jesse disse que eu o poderia manter.

Charles se inclinou e admirou o sorriso radiante em seu rosto. — Oh, ele


disse?

— Sim, está tudo bem, não é?

— Está tudo bem para mim. — Ele olhou para Jesse, que tinha de repente se
tornado absorto a puxar punhados de grama. — As pessoas estão se preparando
para sair. Temos de lhes agradecer por virem. — Deslizando a mão sob o cotovelo
de Maddie, ele a ajudou a se levantar. Jesse ficou. Charles se inclinou para ele e
sussurrou com riso atado através de sua voz — Não achei que você gostava de
cachorros.
Rapidamente, ele se afastou de Jesse e colocou seu braço ao redor de
Maddie, rindo enquanto caminhavam em direção à frente da casa, onde os vizinhos
haviam deixado suas carroças e cavalos.

Com o cachorro aninhado em seus braços a distraindo, Maddie achou mais


fácil agradecer a todos por sua gentileza e lhes desejou uma agradável viagem de
volta ao lar.

— Ah, inferno!

Ela olhou para o rosto desapontado de Aaron enquanto ele caminhava em


direção a ela com as suas pequenas mãos fechadas em punhos ao seu lado. O
filhote de cachorro lambeu sua orelha, e ela sorriu.

Aaron olhou para ela. — Você não o deveria encontrar até que todos fossem
embora.

— Eu disse que ele não iria ficar naquela pequena caixa — disse Billy.

Aaron levantou as mãos para Maddie. — Você o dá para mim, por favor?

Ela entregou o cachorro. Aaron abraçou o cachorro ferozmente. — Tchau,


Ranger. — Em seguida, ele passou o cão negro para Billy.

— Você quer explicar exatamente o que está acontecendo aqui? —


perguntou Charles.
Se sentindo culpado, Aaron se remexeu e murmurou — Tio Jesse disse que
eu não poderia ter um cão. Eu e Billy então pensamos que se um dos filhotes
ficasse para trás, talvez o tio Jesse acabasse gostando dele uma vez que o
conhecesse e nós o manteríamos.

— Entendo. Você sabe onde o tio Jesse está agora?

— Não senhor.

— É de meu entendimento que ele está procurando por Billy para que ele
possa lhe perguntar se está tudo bem se mantivermos esse cão.

Os olhos de Aaron se arregalaram. — Sério?

Charles sorriu. — Sério.

Aaron pegou o cachorro dos braços de Billy. — Veja, eu disse que meu tio
era a melhor pessoa que já existiu. — Ele correu para longe. Billy o acompanhou
de perto, em seus calcanhares.

Charles puxou Maddie mais para seu lado. — Acho que eu deveria ter
mencionado a ele que o cachorro era para você.

Sorrindo, ela o abraçou e descansou o rosto em seu ombro. — Não importa,


conquanto que o mantenhamos.

— Ranger. — Ele suspirou. — Jesse vai amar isso.


— Por que ele não queria que Aaron tivesse um cão?

Observando como as carroças cheias de pessoas contentes partiam na noite,


Charles disse calmamente: — Porque os cães são algo mais para amar que morrem.
~
Fechando os olhos, Maddie saboreou a sensação da escova descendo pelo
comprimento de seu cabelo. Incapaz de dormir, ela se virou na cama até que
Charles a comparou com Taylor. Então ele pediu que ela levantasse e começou a
destrançar seus cabelos e os escovar.

— Bom?

Ela abriu os olhos e pegou o olhar de seu marido no espelho. Ela sorriu. —
Muito bom.

— Aconteceu alguma coisa hoje à noite? Será que Jesse...

— Não, Jesse não fez nada. Nós só conversamos. — Ela desejou que
pudesse culpar sua inquietação pela emoção da noite mas sabia que a causa era
muito mais profunda, mergulhada em algo que tinha acontecido quando saiu da
casa, algo que ela não tinha nenhum desejo que o marido soubesse. — Depois de
tudo o que fizemos hoje, eu esperava cair no sono assim que minha cabeça batesse
no travesseiro. Eu não sei por que isso não aconteceu.

Ele continuou a escovar seu cabelo. — Isso acontece comigo às vezes


também. Um passeio lá fora geralmente ajuda a me acalmar.
Ela balançou a cabeça. Um passeio lá fora era a última coisa que ela queria
esta noite. — Eu acho que você tem a cura em suas mãos agora. Você escovava o
cabelo de Alice?

— Toda noite. Ela o queria escovado uma centena de vezes. — Ele sorriu.
— Mas eu não me lembro de escovar por tanto tempo.

— Ela adormecia enquanto você estava escovando seu cabelo?

Corando, ele limpou a garganta. — Uh, não, acabávamos nos distraindo.

Quando o significado de suas palavras penetrou nela, ela emitiu um pequeno


— Oh — e estudou as mãos cruzadas com força no colo. — Como Alice era?

A escova parou, e Maddie olhou para o reflexo de Charles no espelho. Sua


expressão mantinha uma ternura, os olhos cheios de amor com a lembrança de
outra mulher. — Ela era calma e suave. Ela gostava de ver as borboletas na
primavera. É por isso que plantou tantas flores. Ela esperava as atrair para perto da
casa. Ela tinha uma força dentro dela na qual eu podia sempre confiar para me
apoiar durante os tempos difíceis.

— Ah, Maddie, eu gostaria de poder explicar o que eu sentia por ela. Foi
além do amor. Eu sentia como se ela fosse parte de mim. Talvez eu não tenha
lamentado corretamente, mas mesmo após sua morte, nunca senti que ela
realmente me deixou. Eu ainda sinto como se ela estivesse aqui comigo me
guiando, caminhando ao meu lado. Às vezes eu ouço sua voz no vento, sinto seu
carinho ao sol. Eu acredito que o que nós compartilhamos é raro. Talvez seja essa a
causa de que eu segure isso com tanta tenacidade ou talvez por isso eu não dê
espaço no meu coração para outra. — Ele passou o dedo ao longo de sua bochecha.
— Mesmo que eu goste de você imensamente e encontre a alegria estando ao seu
redor. Você se arrepende de se ter casado comigo?

Ela sustentou seu olhar no espelho. — Não, eu estou mais feliz aqui do que
eu já estive em toda a minha vida.

Ele sorriu gentilmente. — Bom. — Em seguida, ele voltou a escovar seus


cabelos. — Jesse disse que você estava chateada ontem.

Interiormente, ela sorriu. Ela não esperava que Jesse confessasse seu
comportamento rude durante a refeição.

— Você reconheceu os homens que você viu nos cartazes de recompensa?

Ela endureceu. Charles parou de escovar os cabelos. — Jesse pensou que


você reconheceu alguém.

Sacudindo a cabeça com veemência, ela lutou para extrair o ar de seus


pulmões. A virando um pouco, Charles se ajoelhou diante dela e segurou seu rosto
com as mãos. — Você não tem que ter medo. Nós não vamos deixar ninguém te
machucar. Você sabe quem matou seu pai e seu irmão?

Se ele não estivesse olhando para ela com preocupação sincera talvez ela
pudesse ter mentido. Em vez disso, ela falou uma verdade sussurrada. — Sim.
— Você viu alguém parecido com quem os matou ontem?

— Não.

Ele passou os dedos pelos cabelos. — Você tem medo que eles vão venham
atrás de você? — O medo a manteve em silêncio.

— Maddie, se você tem medo desses homens fale com Jesse. Como um
Ranger, ele rastreou os piores homens que ousaram cometer um crime; ele
justamente os puniu. Você quer que ele encontre os homens que mataram seu pai e
irmão?

— Não — ela sussurrou com voz rouca.

Ele fechou os braços ao redor dela. — Você não tem que ter medo.

Mas ela tinha. O pensamento de Jesse em busca dos homens que mataram
seu pai e Andrew a aterrorizava.
~
O grito de terror quebrou o sonho de Jesse. Ele se empurrou acordado, seu
corpo banhado em suor. Em seguida, o grito veio novamente, e ele percebeu que
não tinha sido parte de seu sonho.

Ele saiu correndo da cama, lutando em suas calças enquanto corria para o
corredor. Abotoou botões suficientes para manter suas calças ancoradas a seus
quadris antes de estourar no quarto de seu irmão.
Emaranhada nos lençóis, Maddie se contorcia e agitava os braços sobre seu
rosto como se afastasse demônios. Charles estava longe de ser visto. Atravessando
o quarto, Jesse sentou na cama e pegou Maddie contra ele. Envolvendo seus braços
ao redor do corpo trêmulo, ele a abraçou conforme seus soluços diminuíam e se
transformavam em gemidos que rasgaram seu coração. — Shh, Maddie. É apenas
um sonho.

Jesse a embalou com uma das mãos e trabalhou desajeitadamente com a


outra no emaranhado de lençóis até que a livrou deles e somente a camisola os
separava.

Ternamente, ele afastou as mechas de cabelo que haviam escapado de sua


trança e se agarrado a suas bochechas úmidas. Pressionando o rosto dela contra seu
peito nu, ele sentiu o lento gotejar de quentes lágrimas silenciosas. — Onde está
Charles? — ele perguntou em voz baixa.

Ela balançou a cabeça.

— Você quer me dizer o que fez você gritar?

Mais uma vez, ela balançou a cabeça. Inclinando a cabeça dela ele
pressionou um beijo em sua têmpora. — Eu nunca vou deixar que algo te
machuque.

Maddie sentiu a barba de fim de noite passar por seu rosto e pensou em
como muitas vezes algo áspero protegia algo macio. Seus dedos ásperos de
trabalharem pegaram a musselina de sua camisola enquanto suas mãos deslizavam
suavemente ao longo de sua espinha. Ela podia ouvir o bater forte e constante do
coração, sentir o calor de sua carne, a suavidade do cabelo cobrindo o peito contra
sua bochecha. Ela ouviu o profundo timbre de sua voz enquanto ele sussurrava
confiança e promessas de proteção. Quão desesperadamente ela queria aceitar
essas promessas, confiar nele, confessar tudo, parar de viver com medo.

Jesse sentiu cada curva que a mulher possuía pressionadas contra seu corpo.
Seu cabelo era suave contra sua bochecha. Seus tremores se foram. Suas lágrimas
arrefeceram em cima de seu peito. Nenhuma lágrima nova veio à tona. Era como
se seu corpo confiasse nele e sabia que ele não iria tirar proveito deste momento.
Ele desejava que seu coração confiasse nele assim tão facilmente.

Ele não sabia quanto tempo a segurou, quanto tempo ele a confortou. Nem
sabia quanto tempo Charles esteve de pé ao seu lado, observando. Ele afrouxou o
abraço. — Ela teve um sonho ruim.

Charles assentiu. — Eu não conseguia dormir. Estava andando lá fora


quando ouvi os gritos dela.

Jesse achou que ele não poderia ter estado segurando Maddie se Charles
tivesse ouvido os gritos e vindo correndo. Ele olhou para os pés descalços do irmão
e entendeu por que não o tinha ouvido entrar no quarto.

Ele deitou Maddie no travesseiro, se levantou e assistiu Charles se esticar ao


lado da esposa porque tinha o direito de o fazer. Jesse tinha nenhum direito. Ele
quase ultrapassou seus limites sentado na cama e a segurando tão apertado contra
seu corpo como tinha feito.

Se voltando da cena íntima, ele fez uma pequena pausa. Aaron estava na
porta com os olhos arregalados como duas luas cheias. Jesse virou o menino,
colocou a mão em seu ombro e o levou para fora, fechando a porta silenciosamente
atrás deles.

No corredor, duas pequenas crianças desoladas se levantaram, seus olhos


grandes e assustados. A boneca de pano ficou apanhada na curva do braço de
Taylor conforme ela apertou os punhos à boca. Os olhos de Taylor estavam cheios
de lágrimas não derramadas e seu queixo tremia. Jesse caiu de joelhos e abraçou as
duas meninas em seus braços.

— Está tudo bem agora. Sua mãe só teve um sonho ruim. Alguém quer
cacau? — Ele não esperou por uma resposta, mas desdobrou o corpo, levantou as
duas meninas nos braços e as levou para as escadas. Aaron pegou a lamparina que
seu pai havia deixado sobre uma mesa no corredor e correu à frente de seu tio para
que pudesse iluminar o caminho.

Na cozinha, Jesse depositou as meninas em suas cadeiras e começou a


aquecer um pouco de leite. Um silêncio antinatural pairou sobre a sala conforme
Jesse derreteu o cacau no leite morno. Ele derramou a mistura em quatro copos,
colocou os copos sobre a mesa e deu um passo em torno do cão aos pés de Aaron.
— Bebam — ele ordenou antes de tomar seu próprio assento. Sua mente
derivou quando o silêncio deu lugar ao som de sucção criado por bocas pequenas e
o arrastamento de copos para frente e para trás sobre a mesa.

— Com o que você acha que ela estava sonhando, tio Jesse?

Saindo de seu longo devaneio, Jesse olhou para o sobrinho. Suas mãos
estavam envolvidas em torno do copo, sua expressão preocupada se esforçando
para parecer com uma de adulto. Balançando a cabeça, Jesse olhou para suas
próprias mãos em volta do copo. O cacau tinha esfriado há muito tempo. Ele nunca
trouxe o copo aos lábios. — Eu não sei. Houve uma série de mudanças em sua vida.
Seu pai e irmão morreram. Ela se casou. Se encontrou com três crianças...

— Você não pense que nós daríamos pesadelos a ela! — A indignação


ressoou da pequena voz masculina.

Ele olhou para a mesa. Taylor fechou os olhos. Sua cabeça balançou, em
seguida, seus olhos se abriram. Hannah esperou ansiosamente por sua resposta com
sua língua saindo para pegar quaisquer vestígios remanescentes de cacau em seus
lábios. Ele sorriu.

— Não, vocês não dariam pesadelos a ela.

— Talvez ela tenha sonhando com aquele beijo que você deu nela. Billy
disse que você estava furando a sua língua em sua garganta. Talvez ela estivesse
sonhando que você estava a tentando sufocar.
Jesse reprimiu uma réplica na descrição de Billy do beijo. — Eu não quis
enfiar minha língua em sua garganta. E os meus beijos não são conhecidos por dar
às mulheres pesadelos. — Ele empurrou o copo para longe.

Agarrando o copo descartado, Aaron derramou o seu conteúdo na bacia no


chão ao lado da cadeira. Ele sorriu quando Ranger se mexeu desconfortavelmente.
— Talvez tenha sido com aquele homem que ela estava falando no celeiro.

O olhar de Jesse estalou sobre Aaron. — Que homem?

Aaron, levantou os ombros ossudos, até que quase tocaram seus ouvidos.

— Como ele era?

— Como se ele fosse amigo do diabo.


Em pé na cadeira de madeira, Aaron examinou cada cartaz pregado na
parede. Olhando para aqueles rostos austeros, gravados em preto e branco, o fez
sentir como se alguma criatura que vivia na lama estivesse rastejando sobre sua
pele.

— Bem?

Ele se virou para o tio. — Eu não o vejo.

Soltando um suspiro de frustração, Jesse puxou o chapéu da cabeça e os


dedos calejados passaram através de seu cabelo. Tinha sido um tiro no escuro, mas
desde que Maddie tinha gritado em seu sono, ele tinha estado mais do que curioso
sobre o seu passado e o homem com quem Aaron a tinha visto falar. Comprar um
presente de aniversário para Hannah lhe tinha fornecido a desculpa perfeita para
trazer Aaron até a cidade para ver se ele reconhecia o homem.

Era possível que o homem descrito estivesse na parede, mas as descrições


eram tão vagas, que ele achou improvável um menino de oito anos de idade
reconhecer o homem se ele lesse as descrições dele.
— Tudo certo. — Ele levantou Aaron para fora da cadeira e o colocou no
chão. — Corra e encontre para Hannah um presente para que possamos voltar.
Colocando o pé no largo assento da cadeira, ele descansou seu antebraço em
sua coxa levantada. Estudando as imagens, ele se perguntou qual era a causa dos
temores de Maddie. Ele arrancou uma folha de papel amarelada da parede. —
McGuire, você precisa se manter atualizado sobre esses cartazes. Sam Bass está
morto há quatro anos.
— Inferno homem, imagino que metade desses bandidos estão mortos ou na
prisão. Eu só afixei os cartazes porque o xerife me faz colocar e não me os deixa
tirar. Então eu não me incomodo. Não imagino ninguém prestando muita atenção a
essas coisas, de qualquer maneira.
Alguém tinha prestado muita atenção neles, como sempre. Maddie tinha
visto algo aqui que tinha colocado o temor de Deus em seu interior. Não o tipo de
medo abstrato que se experimenta quando o perigo está no ar, mas o tipo de medo
concreto que só vem do conhecimento pessoal. Em algum lugar nesta parede
estava pelo menos um homem que tinha tocado a sua vida, de alguma forma e que
a podia estar tocando ainda.
Impaciente, ele olhou para a criança puxando sua manga.
— Tio Jesse, eu estou chamando você. Eu encontrei um presente para
Hannah. Vamos ver.
Relutantemente, Jesse arrastou a cadeira no chão e depositou os cartazes
ante o barrigudo fogão preto. Em seguida, ele seguiu seu sobrinho através da loja.
— Você já viu algo assim? — Seu rosto radiante, Aaron ergueu uma
delicada pequena xícara branca com rosas vermelhas pintadas à mão adornando
sua borda. — Tem tudo. Pratos minúsculos e tigelas. E um pote para fazer chá.
Bem, não realmente para fazer chá. Apenas para fingir, mas ela vai amar, você não
acha?
— Acho que ela amará.

— Isso significa que nós os vamos levar para ela?

Sua resposta veio na forma de um sorriso largo e um bagunçar de cabelo do


garoto.
~
Os dedinhos de Hannah puxaram a corda. Em seguida, ela retirou lentamente
o papel marrom. Aniversários não vinham com muita frequência, e ela se sentia
como uma princesa em seu dia. Eles tinham jantado na grande sala de jantar com
os pratos bonitos com as flores azuis. Todo mundo estava vestindo suas melhores
roupas e conversando com ela como se fosse especial. E quando ela terminasse de
abrir seu presente, eles comeriam o bolo. Um grande bolo de chocolate com
cobertura de chocolate.

Levantando a tampa na caixa ela olhou para dentro, mas estava muito escuro
para ver qualquer coisa. Ela virou mais a tampa para trás. Sua boca formou um
círculo perfeito conforme ela soltou um suspiro satisfeito. Com cuidado, ela pegou
um pequeno prato.

Taylor fugiu em direção a caixa e olhou para dentro. — Posso ver?

Enquanto as meninas examinavam o conteúdo delicado da caixa, Aaron se


vangloriou: — Eu escolhi.
— Você fez um bom trabalho, filho — disse Charles, seu sorriso tão
brilhante como o de Hannah.

— Desejaria ter feito tão bem com os cartazes.

Jesse parou de limpar a garganta. Fazer isso agora só chamaria a atenção


para a observação de Aaron, e ele esperava que todo mundo fosse esquecer aquilo.

— O que você queria com os cartazes? — Maddie perguntou em voz baixa,


o medo refletido em seus olhos.

Na esperança de minimizar os danos, Jesse se inclinou para frente. — Não é


importante-

— Tio Jesse queria que eu visse se eu poderia apontar o homem com quem
você estava falando atrás do celeiro.

Jesse caiu para trás em sua cadeira. Por que diabos não tinha explicado a
Aaron que era um segredo?

— Que homem? — perguntou Charles.

— Você está se esgueirando para me espionar? — Maddie perguntou,


descrença e mágoa espelhadas em sua voz.

— Eu não estava me esgueirando — Aaron respondeu, embora ela estivesse


olhando para o tio Jesse. — Eu e Billy só saímos para falar, e nós te vimos.
— Que homem? — Charles perguntou novamente.

— Pergunte ao seu irmão. Ele sabe sangrentamente tanto. — Ela caminhou


até a mesa. — Vamos. É hora de ter algum bolo.

Ela começou a cortar enormes pedaços irregulares, colocando nos pratos e


os atirando nos lugares à mesa. Depois pegou Taylor e a colocou em sua cadeira.
Então foi a vez de Hannah, que se contorcia e gritava porque ela não queria deixar
seus pratos. Se curvando, Maddie pegou um pequeno prato e um copo. Em seguida,
ela levou Hannah até a mesa, a colocou sobre uma cadeira e colocou os preciosos
pratos ao lado dela. Hannah enfiou os dedos em seu pedaço de bolo e o colocou no
prato menor, onde ele ficou pendurado sobre os lados, a crosta escorrendo sobre a
mesa. Ela enfiou o dedo pegajoso na boca de Taylor.

Os membros masculinos da família marcharam até a mesa como criminosos


condenados e se sentaram calmamente.

— Feliz aniversário, Hannah — disse Maddie, forçando um sorriso brilhante


conforme ela cortou seu pedaço de bolo com um garfo e empurrou o pedaço em
sua boca. Ela não tinha certeza de que seria capaz de engolir o caroço crescendo
em sua garganta.

Uma rodada de feliz aniversário seguiu, e todo mundo começou a comer em


silêncio.

Jesse se inclinou sobre a mesa. — Maddie.


— Nenhum 'Maddie' para mim. Você não tinha o direito.

— Maddie, a visão daqueles cartazes trouxe o inferno fora de você, e não


negue. O medo estava claramente escrito em todo o seu rosto. Em seguida, Aaron a
vê conversando com um homem que não conhece, e você acorda no meio da noite
gritando. Eu só queria saber por quê.

— Então por que você não me perguntou?

Ele se recostou na cadeira. — Tudo bem. Eu estou perguntando. Quem era o


homem com quem você estava falando?

— Não é da sua maldita conta.

Jesse jogou as mãos no ar. — Você sabe quem ele é, Charles?

— Não, mas eu concordo com Maddie. Você não tinha o direito de fazer
toda essa investigação nas suas costas, e não apreciei nem um pouco que você
tenha usado meu filho para fazer isso.

— Alguém precisa fazer, porque você com certeza não fez antes de se casar
com ela. O que você sabe sobre ela?

Charles se eriçou. — Eu sei tudo o que preciso saber.


— Uma pessoa é composta de seu passado, Charles. Você sabe
absolutamente nada sobre Maddie.

— É suposto o casamento ser baseado na confiança! — Maddie jogou para


fora, o rosto um vermelho-fogo, os olhos ousados desmentindo Jesse.

Charles estava prestes a explicar que a confiança era pressuposto ser entre
uma mulher e seu marido, não uma mulher e seu cunhado, quando Jesse se
inclinou sobre a mesa e trancou seu olhar sobre o dela.

— Tudo bem. Eu vou parar de fazer perguntas. Eu vou parar de ser curioso
se você responder a uma pergunta.

Ela inclinou o queixo.

— Existe alguma chance de que o homem que falou com você prejudique
essas crianças?

Ela olhou lentamente ao redor da mesa para as crianças pequenas olhando


para ela com olhos castanhos. Ela acariciava seus rostos, antecipava seus abraços, e
adorava a cadência de suas vozes infantis. Seu olhar finalmente se moveu para o
duro, implacável rosto de Jesse. — Não, ele não iria prejudicar essas crianças. — E
ela rezou para que sua mentira não voltasse para a assombrar.

Jesse levantou de sua cadeira, se inclinou sobre o bolo e plantou as mãos


firmemente sobre a mesa. — Peço a Deus que você esteja dizendo a verdade,
porque eu te prometo isto: se você não estiver e algo acontecer com essas crianças,
os pesadelos que o seu amigo de trás do celeiro lhe dão vão parecer sonhos
agradáveis uma vez que eu acabar com você.

Charles ficou de pé. — Jesse, eu não vou tolerar que você ameace a minha
mulher dessa maneira.

Maddie se empurrou para longe da mesa e saiu correndo da sala, batendo a


porta dos fundos quando ela saiu para fora.

Charles deu a seu irmão um olhar gelado. — Não é possível que você nunca
esqueça, por um momento, que você foi um homem da lei?

Jesse o observou sair da sala e em seguida olhou ao redor da mesa. Ele havia
sido deixado com duas meninas chorando, suas grandes lágrimas caindo em seu
bolo.

— Tio Jesse?

Ele deslizou seu olhar para Aaron.

— Talvez nós devemos continuar olhando para os cartazes em segredo.

— Sim, eu estava pensando a mesma coisa.

~
Charles pegou Maddie na periferia do celeiro antes que ela desaparecesse
nas árvores. Ele colocou a mão em seu ombro, a girou e lhe abraçou. Seus soluços
caíram sobre seu peito. — Ah, Maddie.

— Charles, eu te juro, nada no meu passado vai machucar as crianças. Ele é


apenas cheio de amargas lembranças, isso é tudo. Não tem nada a ver com minha
vida agora, a felicidade que você me deu.

— Eu acredito em você. — Se inclinando para trás, ele elevou seu queixo


até que pode olhar em seus olhos. — E eu confio em você. Eu não sei o porquê,
mas a primeira vez que pus os olhos em você, eu sabia que seria uma boa mãe para
os meus filhos. Isso é tudo o que é importante para mim. Jesse é um grande irmão,
que teve vinte anos de ninguém com quem ser um irmão mais velho. Às vezes ele
se empolga com a sua preocupação.

— Às vezes? Parece-me que ele sempre se deixa levar. Eu não sei como ele
faz isso, mas traz à tona o pior em mim. Ele pode me fazer ficar tão zangada...

Ele sorriu. — É apenas parte de seu charme.

Ela emitiu um bufo muito pouco feminino. — Ele não tem um pingo de
charme em todo o seu corpo.

— Oh, ele tem algum. Você apenas tem que olhar profundamente para ver.
— Ele enxugou as lágrimas do seu rosto. — Agora vamos. Vamos ver se podemos
desfazer o dano. Eu pensei ter ouvido as meninas chorando quando eu saí.
Mantendo o braço em torno do seu ombro, Charles levou Maddie para casa.
Ela relaxou mais contra seu lado. Ela encontrou sua defesa reconfortante, mas
entremeados no conforto estavam tópicos de inquietação, porque sua confiança era
imerecida. Ela se forçou a ignorar os pensamentos mais escuros. — Eu deveria ter
deixado meu temperamento sob controle — disse ela em voz baixa. — Não foi
justo arruinar o aniversário de Hannah.

Ele abriu a porta e eles entraram na cozinha. — As crianças se recuperam


rapidamente. Tenho certeza de que amanhã Hannah terá esquecido e ela vai pensar
que este foi o melhor aniversário que já teve. — Ele inclinou a cabeça. — Ouça o
silêncio. Eu não posso nem as ouvir chorar mais.

Eles caminharam para a sala de jantar e Maddie sentiu sua raiva por Jesse se
esvaindo. Ela conseguiu pegar a raiva e trazer de volta à superfície. Ela não o iria
perdoar facilmente dessa vez, mas achou difícil permanecer com de um homem
que estava sentado no chão segurando desajeitadamente o delicado aro de uma
pequena xícara de chá.

— Mais chá, senhor? — perguntou Hannah.

Ele segurou a xícara em direção a sua anfitriã. — Sim, senhora.

Ela inclinou o bule sobre a sua xícara e observou o chá imaginário derramar.

— Isso é mais do que suficiente, Senhorita Hannah — disse Jesse.


Ela colocou o bule de chá no chão. O que restou do bolo de chocolate estava
em um prato no chão. Taylor retirou um pedaço de bolo e o colocou sobre um
pequeno prato. De rosto radiante, ela entregou a Jesse.

— Obrigado, Senhorita Taylor. Eu acredito que este é o melhor bolo que já


comi.

Charles se afastou de Maddie. — Bem, eu odeio pôr fim à festa tão cedo mas
Maddie e eu precisamos colocar as crianças na cama agora. — Ele levantou Taylor
e a entregou a Maddie. Então ele estendeu a mão para Hannah, a trazendo em seus
braços. — Jesse, por que você não vê se pode limpar essa bagunça que fez... a
parte dela que possa ser limpa.

Jesse balançou a cabeça e em seguida olhou para Maddie. Ela desviou o


olhar e saiu da sala. Ela parou quando chegou às escadas.

Aaron estava sentado no último degrau segurando Ranger contra o peito, os


dedos enterrados na pele grossa do filhote. Solenemente, ele ergueu o olhar. —
Não quis causar nenhum dano.

Maddie sentou-se nos degraus. — Eu sei, Aaron. Não estou chateada com
você.

— Tio Jesse não gostaria de a ver tendo pesadelos. Ele estava só querendo
pegar o homem e o fazer deixar de a perturbar. Foi você quem disse que uma
pessoa não precisa pedir licença se o que está fazendo é algo bom.
Maddie suspirou. — Isto é diferente, Aaron.

— Por quê?

— É difícil de explicar. Você, Hannah, Taylor, seu pai, e seu tio Jesse são
uma família. Eu estava começando a me sentir como se eu fosse parte de sua
família. Esta noite me senti como se eu não fosse.

— Por quê?

— Se o seu tio Jesse visse você brincando com um menino que não conhece,
você acha que ele iria pela cidade perguntar às pessoas quem o garoto era ou você
acha que ele viria e lhe perguntaria?

— Ele me perguntaria — Aaron respondeu, sem dúvidas ecoando em sua


voz jovem.

— Por quê?

Ele franziu a testa jovem. — Por que eu sou da família?

— Isso, e ele confia em você. Agora vá colocar Ranger em sua caixa na


cozinha e então vamos para a cama.

Ele quando o pai colocou a mão sob o cotovelo de Maddie e a ajudou a ficar
de pé.
— Depressa — Charles mandou.

Aaron assentiu. Abraçando Ranger apertado, correu pela sala de jantar para a
cozinha. Ele colocou o cachorro na caixa ao lado do fogão de ferro fundido. —
Acho que seria melhor você não se esgueirar para o meu quarto esta noite. Já é
ruim o suficiente ficar em apuros quando não é culpa minha e não quero piorar
quando é. — Ele puxou os restos de um cobertor usado sobre a cabeça do cão.
Então ele voltou para a sala de jantar. Jesse estava empilhando os pratos sobre a
mesa.

— Boa noite, tio Jesse.

Jesse olhou para ele. — Durma bem.

Aaron assentiu com a cabeça e caminhou solenemente para fora da sala.


Jesse decidiu levar o filhote e sua caixa para o quarto de Aaron, uma vez que todos
estivessem dormindo. Ele devia pelo menos isso ao garoto. Ele olhou para a mesa.
A bagunça poderia ficar lá até de manhã.

Pegando uma lamparina, ele caminhou pelo corredor para o estúdio. Com
suas prateleiras cobertas de livros, o lugar cheirava a obrigações e conhecimento.
Ele desejou ter reunido algum conhecimento hoje à noite.

Se serviu de uma bebida, sentou na grande cadeira de couro e olhou pela


vidraça. Por acaso, a única coisa que eles tinham em casa era uísque e olhar para
ele era como olhar em seus olhos. Parecia que ele estava estudando o uísque no
copo uma eternidade antes de ouvir Charles entrar na sala.
— Você não confia em ninguém? — perguntou Charles.

Jesse olhou para cima. — Confio em você.

Charles deu um suspiro profundo e caiu em uma cadeira em frente a seu


irmão. — Você não pode culpar Maddie porque gastei o seu dinheiro com ela. Ela
não me pediu isso.

— Eu não a culpo. Eu nem sequer me preocupo com o dinheiro mais.

— Então, o que incintou suas ações hoje?

Jesse bebeu o uísque, pegou a garrafa e encheu o copo. — Quer um pouco?

— Não.

Ele segurou o copo contra a lamparina sobre a mesa. — É bastante bonito


quando a luz brilha através disso, você não acha?

— Você está bêbado.

Jesse balançou a cabeça. — Às vezes, os olhos de Maddie parecem assim.


Quando uma luz brilha através deles. — Ele abaixou o vidro. — Mas a maior parte
do tempo, eles se parecem assim... escuros. Ela tem medo de alguma coisa. —
Com os dedos tortos, ele virou a mão. — Se eu pudesse entender do que ela tem
medo, eu poderia afastar a escuridão. Manter a luz em seus olhos o tempo todo.
— Você poderia simplesmente perguntar a ela, você sabe.

— Eu sou uma das coisas que ela teme.

— Não consigo imaginar porquê. Prometendo a ela pesadelos piores do que


os que ela já tem.

— Ela estava mentindo.

— Você pensa...

— Eu sei — Jesse insistiu com voz dura, não deixando qualquer margem
para dúvidas. — Esse problema do homem, Charles. Ela estava nervosa naquela
noite quando nós nos sentamos na varanda mas eu pensei que era por causa de
todas as pessoas que estavam aqui. Ela tem medo que ele volte e se dane. Se eu não
sei quem ele é como vou saber quando aparecer?

— Talvez ela confiasse em você se parasse de pensar nela como uma


obrigação...

— Acredite em mim, Charles, eu não estou pensando nela como uma


obrigação. — Ele levou o copo aos lábios e jogou a cabeça para trás.

— Como você está pensando nela?

Jesse deu a seu irmão um olhar duro. — Como sua esposa.


Orgulhosamente, Maddie olhou para a mesa. Ela tinha passado a ferro a
toalha branco até que não havia uma ruga nela e então colocou os pratos de
porcelana e utensílios de prata no lugar. A duquesa estaria honrada por comer aqui.

A diligência havia chegado pouco depois do meio dia. Os passageiros


desembarcaram e foram relaxar na sala de estar. A diligência que tinha vindo antes
só havia parado o tempo suficiente para uma mudança de cavalos e recolher a
correspondência. Mas hoje, o cocheiro estava dando aos passageiros um descanso
de duas horas antes que os levasse para Austin.

Ela foi até a cozinha, pegou duas toalhas dobradas e as envolveu em torno
das alças de uma panela grande. Jesse veio por trás dela.

— Eu posso fazer isso para você.

Ela lhe deu uma cotovelada nas costelas, pegou a panela, passou por ele e
voltou para a sala de jantar.

A risada de Charles encheu a cozinha. — Me lembre de nunca a deixar com


raiva. Eu não sabia que ela tinha um temperamento tão ardente e guardava rancor
por tanto tempo.
— Inferno, você não sabia nada sobre ela.

O sorriso de Charles desapareceu. — Eu sabia um inferno de muito mais do


que você imagina.

Maddie voltou. — Charles, você não acha que o mercenário deveria estar
vendo os cavalos?

Charles conteve o riso ao ver a expressão estrondosa cruzando o rosto de


Jesse. Aparentemente alheia a ela, Maddie colocou um pão quente em um prato e
caminhou de volta para a sala de jantar.

— Talvez você deva ver os cavalos — Charles sugeriu.

Jesse foi para o outro lado da sala, puxou o chapéu fora do prego na parede e
bateu a porta atrás de si. Com o contentamento escrito em seu rosto, Maddie entrou
na cozinha. — Você pode dizer a nossos clientes que a refeição está pronta.

Ela começou a pôr a mesa para a família, acrescentando lugares adicionais


para o cocheiro e seus guardas e deixando de colocar o lugar no final da mesa onde
Jesse normalmente se sentava.

— Maddie, já faz três dias. Você não acha que o poderia perdoar um pouco?

— Quando ele se desculpar.


— Ele não acha que fez algo de errado.

— Então é hora dele saber que o fez.

— Eu sei que ele feriu seus sentimentos...

— Ele não feriu meus sentimentos. A comida que eu coloquei para os nossos
clientes está ficando fria.

Suspirando em derrota, Charles saiu da sala. Maddie foi à varanda e chamou


as crianças. Ela tinha acabado de colocar a mesa e enchido seus pratos quando
Charles voltou e se sentou. A porta se abriu e o cocheiro e dois guardas entraram,
Jesse seguindo atrás.

Jesse olhou para a mesa e pegou um prato do armário quando todos os


outros tomaram seus lugares. Ele cavou alguns utensílios da gaveta. Arrastando sua
cadeira pelo chão, Jesse sentou e começou a encher de comida seu prato.

— Isso está muito bom, minha senhora.

Maddie olhou para o cocheiro. Ele parecia ser um homem que tinha muita
comida na maior parte do tempo. Seu cabelo vermelho era liso, mas espetava para
fora nos lados, dando a impressão de ainda usar seu chapéu. Ele brincou com
algumas migalhas da barba desgrenhada. Ela forçou um sorriso. — Obrigada.

— Então você está viajando com dois guardas agora, Nate? — Jesse
perguntou.
— Sim. Temos tido muitos roubos ultimamente. Você pensaria que as
pessoas esqueceram o que é um trabalho honesto. Os Rangers estão criando
emboscadas em áreas onde eles acham que um assalto é provável que ocorra, mas
se errarem eu tenho esses dois aqui para cobrir minha bunda.

— Quantas vezes você foi atacado? — Jesse perguntou.

— Duas vezes este mês. — Nate Webster olhou para Jesse. — Você está
pensando em voltar a ser um Texas Ranger?

Jesse balançou a cabeça. — Não, eu gosto de onde estou.

— Mesmo com a senhora brava com você? — Nate deu uma gargalhada,
então cutucou o cotovelo de Jesse. — Quer me dizer o que você fez para ela se
irritar?

Desde que seu tio estava apenas olhando para o homem, Aaron falou. — Ela
está brava com ele porque...

Jesse pigarreou com tanta força que um dos guardas se inclinou para trás e
quase tombou em sua cadeira. Aaron teria rido, mas com o olhar intenso de seu tio
concentrado nele, ele nem sequer ousou respirar.

Nate esticou o braço por cima da mesa e tocou a mão de Aaron. — Vamos
rapaz, você pode me dizer.
Engolindo em seco, Aaron moveu seu olhar para o cocheiro. — Não, senhor.
Eu acho melhor não.

— Ah, vamos lá, rapaz. Eu e seu tio somos velhos amigos. Nós não
mantemos segredos um do outro.

— Eu deveria ter deixado aqueles bravos Comanches tirarem seu escalpo. —


Jesse resmungou.

Os olhos de Aaron se arregalaram enquanto Nate batia as mãos sobre a mesa,


jogava a cabeça para trás e uivava com o riso.

— O tio Jesse salvou sua vida?

Nate passou as costas da mão na boca. — Claro que ele fez, garoto. Claro
que foi antes dele ser um Ranger. Ele ainda estava no exército e não era muito
maior do que você quando fez isso. Índios nos cercaram e este rapaz magro veio
cavalgando sobre a colina de armas a postos! — Nate ergueu as mãos no ar, o
indicador e o polegar estendidos, o polegar dobrando para trás e para frente,
rapidamente. — Bang Bang Bang!!! Ele atirou neles até que se foram!

— Ele fez realmente? — Aaron pulou, sua excitação ao ouvir a história


sobre seu tio era grande demais para o manter em sua cadeira.

— Claro como o inferno ele o fez.


— Mais do que provavelmente foi a meia dúzia de homens andando atrás de
mim que os assustou — disse Jesse.

— Atrás de você, certo. Inferno, eles estavam tão longe que você era o único
que sabia que estavam lá.

Jesse fez uma careta. — Não encha a cabeça do menino com mentiras.

Nate se inclinou sobre a mesa, seus olhos escuros afiados dentro dos de
Aaron. — Então eu vou te dizer a verdade honesta de Deus, rapaz. Seu tio é o
melhor homem da lei que já viveu. Nenhuma pessoa que o conhece vai lhe dizer
diferente.

Maddie estava tão presa na conversa sobre o evento que esqueceu por um
momento que estava zangada com o herói do conto de Nate. Em vez disso, ela se
viu olhando para ele, o imaginando como um homem jovem, suas crenças, então,
na diferença entre o certo e o errado tão fortes como estavam agora.

Seus olhos capturaram os dela por um breve momento antes dele empurrar
sua cadeira para trás e sair da casa.

— Por que o tio Jesse saiu se ele não acabou de comer? — Aaron perguntou.

— Porque garoto, ele não gosta que o bajulem. — Nate explicou enquanto
raspava o feijão do prato e empurrava pela boca.

~
Alerta para quaisquer sons vindos do corredor, o intruso foi na ponta dos pés
pela sala. A diligência tinha partido momentos antes e ele sabia que todo mundo
estaria voltando para casa em breve.

Cautelosamente, ele abriu a primeira gaveta da mesa de cabeceira. Olhando


para dentro, ele permitiu que um sorriso vitorioso aparecesse no rosto antes de
pegar o livro esfarrapado e desgastado.

O diário. O diário em que seu tio registrou suas façanhas como um Texas
Ranger. As palavras que enfeitavam as páginas eram um mistério, pois ele ainda
tinha que aprender a ler a escrita com as curvas elegantes e cachos que os adultos
usavam, mas ele planejava aprender algum dia. Quando ele aprendesse leria o
diário e conheceria todas as coisas sobre ser um Texas Ranger que seu tio
mantinha em segredo.

Folheando as páginas amareladas, Aaron parou quando chegou às duas


páginas entre as quais a chave descansava. Ele tirou a chave, colocou o livro na
cama e andou furtivamente através do quarto para o baú enorme onde seu tio
mantinha as lembranças de sua vida como um Ranger. Ele inseriu a chave e a girou.
Grunhindo, ele levantou a tampa pesada.

Aaron afastou o cobertor que tinha sido dado a seu tio por um chefe índio,
empurrou de lado as medalhas de louvor, o cinto de arma em que um bandido tinha
esculpido entalhes, empurrou as esporas e cavou mais fundo até que sentiu o
mensageiro da morte. Lentamente, ele o puxou para inspecionar como tinha feito
em numerosas ocasiões, quando ninguém estava por perto.
Ele correu um dedo sobre o cabo de marfim polido. O sol derramando pela
janela refletia o metal de prata do cabo. Ele nunca tinha visto nada tão bonito em
toda sua vida. Ele cruzou as mãos adoradoras em torno do revólver Colt.

— O que você está fazendo? — perguntou Hannah.

Se agachando Aaron se virou e apertou os dedos ao redor da arma. — Você


não tem nada melhor da fazer do que se deslocar sobre as pessoas?

Seus olhos se arregalaram. — Você não deveria brincar com a arma do tio
Jesse. Vou dizer ao pai.

Ele andou através do quarto e agarrou o braço de sua irmã. — Ah, vamos lá,
Hannah. O tio Jesse sempre lhe mostra onde guarda a chave do baú?

Ela balançou a cabeça.

— Bem, ele me disse para que eu pudesse usar sua arma sempre que eu
precisasse.

Hannah pareceu duvidosa apesar da evidência.

— Eu não estou brincando com ela. Eu só a queria ter comigo quando eu


sair para o mato caso o homem que eu vi com a Senhorita Maddie ainda esteja por
aí.

— O que você vai fazer na floresta?


— Eu vou brincar de Texas Ranger. Vou a deixar brincar também, se você
não contar ao pai. Dizer ao pai trará ao tio Jesse um montão de problemas.

Cuidadosamente, ela mordeu o lábio inferior. — Você não quer deixar tio
Jesse em apuros, não é?

Ela balançou a cabeça.

— Bom. — Ele pegou sua mão e a puxou para a porta, observando o


corredor. Nenhuma alma à vista. Ele correu pelo corredor, puxando Hannah, foi
para o quarto do pai e saiu pela porta que dava para a varanda.

— Por que estamos nos esgueirando se o tio Jesse quer que você tenha a
arma?

— Shh! — Aaron repreendeu. — Se você é uma Ranger tem que ser muito
silenciosa. Estou testando agora para ver se eu posso deixar você me acompanhar
ou não. — Ele abriu a porta e saiu para a varanda. Ainda não havia ninguém à vista.
Com Hannah em seus calcanhares, Aaron desceu as escadas hesitando, mantendo
olhos e os ouvidos alerta. Quando seus pés tocaram a terra, ele correu em direção à
floresta e não parou até estar escondido pelas árvores. Então ele esperou, escutando
os pequenos pés de Hannah. Ofegante e com os olhos arregalados, ela finalmente o
alcançou.

— Eu acho que você vai ser uma boa Ranger. Você pode me ajudar a
procurar Sam Bass.
— Mas o tio Jesse atirou nele.

— Não, ele não o fez. Outro Ranger atirou mas o tio Jesse ajudou a o
localizar. Disso é o que nós estamos brincando. Estamos em Round Rock, e
sabemos que Bass vai estar aqui a qualquer momento porque um de seus homens
nos enviou um telegrama. — Se inclinando, ele pegou um pedaço de pau. — Aqui.
Você pode ser o tio Jesse, e eu vou ser o Ranger que disparou em Bass.

Franzindo o nariz, Hannah estudou o galho bifurcado, tentando decidir por


onde atiraria.

— Siga-me — ele sussurrou, quando eles foram cercados por bandidos.

— Aaron, você realmente acha que o homem ainda está aqui?

— Pode ser. É por isso que eu tenho a arma.

— Como vou saber se eu o vou ver?

— Você saberá.

— Como?

Aaron se aproximou dela e sussurrou, como se as árvores tivessem ouvidos


— Ele é maior do que o tio Jesse, tão grande que bloqueia o sol. E ele está cheio de
cicatrizes correndo por todo seu rosto. Seu rosto se parece com o riacho quando a
água está baixa e a lama seca. Os olhos dela se arregalaram. — E ele fede
ferozmente. Eu e Billy pensamos que havia um gambá atrás do celeiro. Isso é o que
nós fomos ver, mas não. Era ele.

Os olhos da menina ficaram ainda mais amplos e Aaron não poderia ajudar
a si mesmo. Ele gritou — Boo!

Hannah gritou, e Aaron riu. — Vamos, Hannah. Se você o vir apenas grite e
eu vou te salvar. — E ele se dirigiu para a floresta.

Hannah se curvou e cautelosamente avançou. Ela ouviu os ramos


farfalharem e reforçou seu domínio sobre o galho. Ela ouviu a fuga de um rato sob
o musgo e apertou o galho até que seus dedos doíam. Ela ouviu as folhas
provenientes de invernos anteriores crepitarem na distância e sentiu seu coração
batendo contra o peito.

Eles chegaram a uma clareira. Ela não tinha nenhum desejo de estar em
campo aberto. Ela queria ficar escondida. Ela parou na borda mas Aaron marchou
em frente. — Aaron — ela chiou.

— Shh! — ele ordenou enquanto se movia através da clareira.

Ela sabia que o deveria seguir mas estava ouvindo muitos ruídos. Aaron
desapareceu na moita do outro lado da clareira. Os ruídos atrás dela aumentaram.
Não se atrevendo a respirar, Hannah olhou para trás quando uma grande figura
sombria emergiu detrás das árvores. Ela gritou no topo de seus pulmões.
Aaron chegou correndo de volta por entre as árvores. Sua bota se prendeu na
raiz de uma árvore retorcida. Ele caiu para frente. Seus braços bateram no chão
rangendo os cotovelos enquanto seus dedos apertavam o gatilho. O coice da arma
momentaneamente o levantou e empurrou para trás.

Ao ouvir o grito aterrorizado de uma criança, Jesse correu para a clareira. O


som de uma explosão foi registrado em sua mente uma fração de segundo antes
que sentisse algo bater nele e acender um fogo invisível dentro de seu corpo. Seus
joelhos se dobraram quando ele agarrou seu lado esquerdo, vagamente consciente
do calor pegajoso fluindo por seus dedos.

Através de uma névoa de dor, ele viu Aaron na distância. De joelhos, se


apoiando com um braço, ele gritou para o menino mas os sons vindos de sua
garganta eram ilegíveis e distantes, irreconhecíveis.

Colapsando no chão, ele observou facilmente a escuridão chegar em torno


da borda exterior do céu. Dedos minúsculos acariciaram sua bochecha.

— Hannah, traga o seu pai — ele forçou a fala através de respirações difíceis.

— Você vai gritar com Aaron?

Ele rolou a cabeça de um lado para o outro, piscando o suor dos olhos,
lutando contra a bile subindo em sua garganta. — Não, só traga o seu pai.

— Promete que não vai gritar com Aaron?


— Prometo. — A última coisa que viu antes da escuridão o envolver foi uma
menina pacientemente o observando como se ele fosse uma flor silvestre murcha.
Longe através da densa neblina que pairava sobre ele, ouviu o barulho do
chão. Gado. O gado estava chegando. Ele tinha que sair do caminho mas estava
malditamente cansado. Ele abriu os olhos para o céu cinzento. Doce senhor. Ele
acordou tarde demais. Ele já se sentia como se tivesse sido pisoteado. Ele tentou
sentar e o calor fluiu em torno dele. O gado estava se aproximando. Ele acabou
com seus esforços quando o som ficou mais alto. Em seguida o barulho parou e o
céu foi substituído pelo rosto preocupado de Charles.

Uísque. Ele precisava de uísque. E então ela estava lá, ajoelhada ao lado dele.
Ele bebeu o uísque dos olhos dela, fortalecendo sua determinação de não morrer de
um ferimento feito por um menino de oito anos de idade.

— Aaron — ele resmungou. — Minha culpa. Não deveria ter...

— Não importa agora — disse Maddie enquanto ela rapidamente lhe subia a
camisa.

Charles sentiu seu estômago guinar quando a carne rasgada no lado de Jesse,
logo abaixo de suas costelas, veio à tona. Respirando profundamente, ele abaixou a
cabeça. — Meu Deus.

— Você parece pior do que eu me sinto — disse Jesse.


— Maldito seja, não se atreva a mostrar senso de humor. Eu não sei qual a
primeira coisa a ser feita sobre ferimentos de bala. Vai me levar de duas a três
horas para chegar ao Doutor Murdoch, se eu o puder encontrar.

— Eu sei como cuidar de um ferimento a bala — disse Maddie enquanto


subiu sua saia, arrancou uma parte de sua anágua e a apertou no lado de Jesse. Seu
olhar se moveu entre os dois homens. — Quando meu pai levou um tiro, eu o
atendi.

— Seu pai morreu — Charles asperamente lembrou.

Considerando as circunstâncias, ela não se ofendeu com seu tom e lhe


assegurou calmamente. — Ele não morreu do ferimento que eu tratei. Esta ferida
parece muito pior do que é. A bala atravessou, e é o suficiente para que eu ache
que nenhum dano sério foi feito.

Esperança acendeu dentro dos olhos de Charles. — Ele é muito pesado para
eu carregar. Você vai ficar aqui com ele enquanto eu pego a carroça?

Ela assentiu com a cabeça. Charles levantou e correu em direção ao celeiro.

Cautelosamente, Maddie mais uma vez inspecionou a ferida. As feridas que


ela atendeu antes tinham sido piores. Estava certa de que tinham sido mas elas não
a tinham assustado como esta e ela não podia explicar seu medo. Ela sentiu o olhar
inquietante de Jesse nela. — Por favor você pode parar de olhar para mim?
— Se eu morrer, quero que a última coisa que eu veja seja seus olhos.

Ela estalou a cabeça ao redor. — Isso não é engraçado.

— Não era para ser.

Olhando para baixo sobre ele, ela piscou para conter as lágrimas. Sua voz
soava como se viesse de muito longe, como se estivesse fluindo para longe dele tão
facilmente quanto o seu sangue, e ele parecia muito mais velho com a dor gravada
dentro dos vincos de seu rosto. — Você não vai morrer. Eu só preciso parar o
sangramento e o livrar de infecção..

— Isso quer dizer que você me perdoou?

— Não.

— Ah, uísque, eu não sou o único que vai te machucar.


~
Jesse deitou na cama. Maldita Maddie por estar certa. Subir as escadas com
seu braço sobre o ombro de Charles tinha sido um erro, como ela tinha dito que
seria mas ele queria seu corpo doendo em uma cama macia. O quarto de princesa
estava tão longe mas ele achou que era o melhor. Ele precisava da cabeceira de
metal antes de tudo ser dito e feito.

Se sentia como a boneca de pano caída sobre o braço de Taylor conforme


Charles tirava sua camisa. Um dos olhos bordados da boneca tinha perdido a
maioria de sua costura. Ele precisava falar com Maddie para corrigir isso. Talvez
ela pudesse refazer todo o rosto da boneca. A boneca de uma menina deveria ter
um rosto bonito.

Ele ouviu sua camisa sangrenta tombar no chão. Charles tinha retirado o
restante da roupa de Jesse e colocado um lençol sobre sua parte inferior, quando
Maddie entrou no quarto carregando uma bandeja. Jesse estendeu a mão e
envolveu suas grandes mãos em torno das espirais de bronze frágeis. Charles saiu
correndo do quarto. Jesse olhou para Maddie. Ela estava derramando uísque sobre
suas mãos. O brilho do aço afiado da faca que descansava na mesa de cabeceira
chamou sua atenção. — Você vai me cortar? — ele perguntou.

Ela manteve o olhar desviado quando respondeu: — Você vai curar mais
rápido e mais facilmente se eu limpar a ferida e remover a carne que morrerá de
qualquer jeito. — Ela lhe lançou um olhar furtivo, o pedido de desculpas
subentendido em suas palavras. — Não vai ser agradável. Eu vou fazer isso o mais
rápido que puder.

— Faça o que tiver que fazer. Eu não vou gritar ou lutar com você.

— Eu tenho um láudano que o Doutor Murdoch me deu para uma


emergência — Charles disse quando voltou ao quarto. — Eu diria que esta é uma
emergência. Vou lhe dar um par de colheres e, com alguma sorte, você vai dormir
antes de Maddie começar.

Charles levantou a cabeça de Jesse e derramou o medicamento em sua boca.


Jesse fez uma careta e voltou a cabeça para o travesseiro. Ele deu um sorriso fraco
para Maddie antes de cerrar os dentes, acenar com a cabeça ligeiramente e apertar
os braços na cabeceira da cama.

A noite estava descendo em torno deles. — Charles, você vai segurar a


lâmpada para que eu possa ver melhor?

Charles se moveu para a posição. — Tem certeza que você sabe o que você
está fazendo?

Timidamente, Maddie tocou as bordas exteriores da ferida e sentiu Jesse


tenso. Olhando de relance para o rosto torturado, ela desejou que ele não estivesse
tão estóico. De alguma forma, isso fazia a tarefa parecer muito mais difícil. — Por
favor não me olhe enquanto eu faço isso.

Fechando os olhos, Jesse ficou com uma imagem de suas feições delicadas
com ele, se preparando para o inferno que ela estava prestes a lhe mostrar. Seu
corpo convulsionou enquanto ela limpava a ferida, desperdiçando bom uísque no
processo. Ele desejou que pudesse ficar quieto. Ele estava certo de que ouvir seus
grunhidos e gemidos não estaria fazendo o trabalho mais fácil. Então ele sentiu os
dedos deixarem seu lado e ouviu o raspar da faca sobre a mesa. Ele tinha se iludido.
Ele pensou ter lançado um grito estrangulado pouco antes de mergulhar no abismo
negro do inferno e perder a consciência.

Maddie não se lembrava de coser a ferida ou envolver as ataduras em torno


dele e não sabia que estava chorando até que Charles passou os braços instáveis
sobre ela. Ela virou o rosto em seu peito, desejando que fosse o peito de Jesse, os
braços de Jesse a consolando. Agora entendia por que a ferida a assustava tanto.
Ela a fez perceber que Jesse era vulnerável. Sua força, sua dedicação para os
proteger poderiam ser levadas embora tão facilmente quanto uma criança
arrancando uma flor de um prado.

— Será que ele vai morrer? — perguntou Charles.

Ela inclinou o rosto. Sua testa franzida, os cantos de sua boca não ansiosos
para formar um sorriso. Seus olhos mergulharam nos dela procurando a verdade.
— Não, nós fomos afortunados. A bala atravessou sem acertar nada além de carne
e músculo. Ele perdeu muito sangue. — Ela forçou um sorriso confiante. — Ele
não vai ser capaz de cortar qualquer madeira por um tempo, mas considerando a
quantidade de madeira que ele cortou ultimamente, nós provavelmente não vamos
precisar de uma por um par de anos, de qualquer maneira.

Ele segurou seu rosto. — Não sei o que teríamos feito se você não estivesse
aqui.

— Você teria conseguido.

Ele balançou a cabeça. — Eu não sei como você ficou tão calma. Como
você se lembrou de tudo o que fazer para tratar uma ferida?

Nervosa, seu olhar se agitou em torno do rosto dele. — Eu tenho uma boa
memória.

Um soluço lhes fez virar suas cabeças. Com o rosto coberto de lágrimas,
lábios trementes, mãos fechadas em punhos, Aaron estava na porta.
Charles atravessou o quarto, pegou o braço de Aaron, o girou e aplicou umas
palmadas com a mão livre no traseiro de Aaron. Então ele o virou de volta. — O
que diabos você achou que estava fazendo?

Aaron moveu um pouco a cabeça de lado a lado, com a voz presa em algum
lugar no fundo de sua alma apavorada.

Charles o sacudiu. — Vá para o seu quarto, e não se atreva a sair até que eu
diga.

— Sim, senhor — ele forçou para fora sua pequena voz vacilante enquanto
dava um último olhar para a figura imóvel deitada na cama antes de sair correndo
do quarto.

Charles passou os dedos trêmulos pelo cabelo e jogou a cabeça para trás. —
Cristo! — Ele bateu um punho contra a parede. — Cristo todo poderoso! — Ele
encostou a testa contra a parede.

Maddie atravessou o quarto e colocou a palma da sua mão contra suas costas.
— Charles?

— Eu nunca bati nele antes mas, querido Senhor, quando eu penso no que
poderia ter acontecido...

— Mas não aconteceu.


Ele olhou para ela. — O que precisamos fazer agora?

— Eu quero observar Jesse hoje à noite, estar perto, caso ele precise de
alguma coisa.

— O que posso fazer?

— Fazer alguma ceia para seus filhos, os colocar na cama e em seguida ir


para a cama sozinho.

— Eu vou pegar algo para você comer também.

— Eu não acho que possa comer agora.

Ele acenou com a compreensão, pensando que passaria pelo menos uma
semana antes dele ser capaz de manter qualquer alimento. — Eu vou te trazer um
pouco de água quente para a banheira no quarto.

— Isso seria bom.

Eles olharam para o corpo inerte de Jesse antes de caminharem para o


corredor. Os soluços abafados de Aaron saíram de debaixo da porta fechada de seu
quarto.

— Eu posso usar a água que já está na banheira — disse Maddie. — Por que
você não vai ver Aaron?
Charles passou a mão pelo cabelo. — Eu acho que é melhor eu ir.

Maddie foi até a porta de seu quarto e olhou por cima do ombro. O marido
dela estava estudando seriamente o chão. — Charles?

Ele ergueu o olhar. O peso do tapa que ele tinha dado em Aaron era
claramente visível em seus olhos.

— Não pense nisso até a morte — disse ela calmamente.

Ele forçou um pequeno sorriso. — Eu não vou. — Em seguida, se dirigiu


para as escadas.

Aaron ouviu a porta de seu quarto ser aberta. Ele fechou os olhos e cerrou os
punhos em torno dos ouvidos. Ele ouviu a porta se fechar e sentiu a luz de uma
lamparina tocar suas pálpebras. Ele ouviu um pequeno som e abriu os olhos. Seu
pai estava agachado ao lado de sua cama, segurando uma lamparina em uma das
mãos e Ranger na outra.

Charles colocou a lamparina em uma mesa ao lado da cama, vendo o olhar


angustiado de seu filho. Saber que ele era o responsável por colocar o medo lá lhe
doía mais do que tudo na sua vida. — Quer me dizer o que aconteceu?

Lágrimas inundaram os olhos de Aaron. — Eu atirei no tio Jesse. — Charles


jogou o cão em cima da cama e pegou Aaron em seus braços.

— Eu sinto muito, pai. — Aaron chorou em seu ombro.


Sentado na cama, Charles puxou Aaron para o seu colo. — Eu sei. Me
desculpe, eu bati em você. — Ele segurou a cabeça de Aaron contra seu ombro. —
Eu quero que você me diga o que aconteceu.

Aaron fungou. — Eu ouvi Hannah gritar. Eu pensei que era o homem que eu
vi atrás do celeiro. Acho que ela pensou,também, mas era o tio Jesse. Eu estava
correndo para a ajudar e eu tropecei. A arma disparou. Eu não fiz de propósito. Ele
vai morrer?

Charles o apertou. — Não.

— Você me odeia, pai?

Charles o segurou mais apertado. — Oh, Deus, não. Eu amo você, filho.
Sempre vou amar, não importa o que você faça. O que aconteceu hoje assustou o
inferno fora de mim. As armas não são algo para brincar. É por isso que mantemos
os rifles trancados no armário no andar de baixo.

— Eu não vou tocar em uma arma de novo.

Deitando Aaron, Charles olhou para ele. — As armas têm um propósito,


Aaron, mas jogo não é um dos seus propósitos. Tomar a arma do tio Jesse esta
tarde foi errado. É por isso que você vai ficar em seu quarto. Não é porque você
atirou no tio Jesse, mas porque você tomou sua arma. Você entende a diferença?
Fungando, Aaron passou o dedo debaixo de seu nariz. — Acho que sim.
Quer que eu faça as tarefas do tio Jesse até que ele fique melhor?

Charles apertou seu ombro. — Nós as vamos fazer juntos até que ele fique
bem.

Pisar em um quarto não preenchido com a presença de sangue tinha feito


Maddie bem consciente do odor que emanava de suas roupas e mãos. Rapidamente,
ela tinha despojado suas roupas e lavado o sangue de Jesse de sua pele, mas ela
continuou a esfregar as mãos. Tinha esquecido de como era difícil remover a
sensação do sangue.

Sua pele estava cor de rosa e tremente quando ela finalmente se secou. Ela
escorregou em sua camisola e roupão antes de caminhar pelo corredor até o quarto
de princesa.

Os dedos de Jesse ainda estavam descansando entre os corrimões da


cabeceira da cama. Cautelosamente, ela moveu seus braços para o seu lado. O
bater e chocar no corredor a levou a olhar para a porta.

— Como ele está? — Charles perguntou enquanto puxava uma cadeira de


balanço para o quarto e depositava ao lado da cama.

— Ele não acordou ainda. Provavelmente não vai por um tempo. Seu corpo
precisa de descanso. Como estão as crianças?

— Alimentados e na cama. Foi a mais rápida refeição que eu já fiz.


— Você deve tentar dormir um pouco.

— Eu vou mais tarde. Sente-se.

Maddie sentou na cadeira de balanço. Com os olhos fixos no irmão, Charles


ficou ao lado da cama. — Você sabe, é estranho, mas o dia em que ele apareceu na
minha porta, me senti como se apenas vinte minutos tivessem se passado desde que
o vira pela última vez... Em vez de 20 anos. Ainda assim, eu faria quase qualquer
coisa para garantir que as minhas crianças nunca sejam separadas umas das outras.

Maddie pegou sua mão e deu um aperto suave. — Bem, você não será
separado de Jesse novamente por um bom tempo. Por que você não vai para a
cama? Eu o vou acordar se alguma coisa mudar.

Ele acariciou a mão dela. — Venha me buscar, se você precisar de mim.

Ela o viu sair e voltou sua atenção para Jesse. Mergulhou o pano na água fria
da bacia e o torceu com cuidado antes de se sentar na cama. Gentilmente, ela
enxugou o rosto de Jesse. O pano pegou na barba incipiente cobrindo seu queixo.
Ela rasparia seu rosto quando ele se sentisse mais forte. O pensamento de que
atenderia suas necessidades viris causou calor através dela. Ele era mais forte do
que Charles. Mesmo quando ele estava assim, seus músculos eram firmes.

— Ele morreu?
Maddie se virou. Aaron estava ao pé da cama, com os olhos brilhando com
lágrimas. — Papai lavou mamãe desse jeito quando ela morreu.

Ela se levantou da cama e se ajoelhou diante dele. — Não, não. Ele não está
morto. — Com os dedos, ela levemente penteou seu cabelo para trás de sua testa
franzida. — Ele tem uma pequena febre que eu estou tentando baixar. Isso é
normal com uma ferida como a dele. Seu corpo está lutando para curar. Gostaria de
me ajudar?

A necessidade de ajudar seu tio estava claramente escrita nos olhos de Aaron.
— Eu não deveria estar fora do meu quarto mas eu estava com medo. Eu não quero
que ele morra, Mãe.

O coração de Maddie transbordava de alegria quando puxou Aaron em seu


abraço. Os braços dele subiram ao redor de seu pescoço, a segurando como se
fosse sua salvação. — Eu não quis atirar nele de propósito.

— Nós todos sabemos isso. — Ela se inclinou para trás. — Eu estou


realmente cansada. Eu acho que seu pai iria entender se você me ajudasse e faria o
seu tio se sentir melhor.

Com o alívio evidente em suas feições, Aaron assentiu. Ele se sentou em um


lado de Jesse, Maddie, do outro. Ela lhe entregou um pano úmido, e ele o tocou
levemente no rosto do tio.

— Seu tio é bastante forte. Ele não vai quebrar se você o tocar com um
pouco mais de força.
Balançando a cabeça, Aaron moveu o pano para baixo do pescoço de Jesse.
Maddie molhou seu próprio pano antes de limpar o peito úmido. — O seu pai falou
com você?

Aaron olhou para ela. — Ele não está mais tão louco.

Ela pegou o pano de sua pequena mão, o mergulhou na água, o torceu e o


entregou de volta para ele. — Eu acho que ele estava mais assustado do que louco.
Ele te ama muito e o assustou pensar que você poderia ter sido o único a se
machucar.

Aaron torceu a boca e correu o pano ao longo do braço de Jesse. — Estou


feliz que papai tenha se casado com você.

As palavras foram ditas tão baixinho que ela quase não as ouviu. Ela sorriu
suavemente conforme eles continuaram a trabalhar juntos em silêncio.

~
Jesse abriu os olhos. Uma lamparina queimava sobre a mesa ao lado da
cama. Maddie estava sentada na cadeira de balanço com a cabeça inclinada em um
ângulo estranho e os olhos fechados. Aaron, com suas longas pernas balançando,
estava aninhado no ombro dela dormindo. Apesar da dor no seu lado e o calor do
corpo, ele sentiu um anseio estranho. Ele era a única pessoa na família que não
tinha dormido em seus braços reconfortantes.
Seu cabelo trançado estava envolto por cima do ombro e do outro lado a
mão de Aaron. Acima de dos olhos fechados, suas sobrancelhas finamente
arqueadas estavam relaxadas. Ela parecia mais jovem, mais inocente no sono. Ele
tinha um forte desejo de a proteger.

Ele quase riu com esse pensamento. Proteger? Ele não foi capaz de proteger
a si mesmo. O que o havia confundido deitado ali, o sangue de sua vida fluindo
para o chão, foi a certeza absoluta em sua voz quando ela falou. Ela tinha lidado
com ferimentos de bala antes, estava familiarizada com os perigos. Seus dedos
tinham sido constantes, sua determinação exata. Ela tinha as habilidades de um
médico, mas ela não era um médico. Um médico não teria sido forçado a subir em
uma mesa no salão de Bev.

Aaron se moveu em seu colo, e ela fechou os braços mais protetoramente em


torno dele. Lentamente, ela abriu os olhos. Não havia tanta luz para ele ver o
uísque claramente mas só de saber que estava lá era o suficiente para ele. Seus
olhos nos dela. O único movimento dentro da sala ocorreu quando ela piscou. E
esse movimento, simples como foi, quebrou o transe.

Deslizando Aaron sobre o assento, ela saiu da cadeira de balanço e


escorregou um travesseiro sob sua cabeça. Ela se ajoelhou ao lado da cama e alisou
suas sobrancelhas conforme estudava suas feições de perto. — Você está com dor?
Você quer um pouco de láudano?

— Uísque — ele resmungou.

— Você quer um pouco de uísque?


Balançando a cabeça ligeiramente, ele segurou seu rosto com a mão áspera,
movendo o polegar suavemente através de sua bochecha. — Seus olhos são como
uísque. — Seus olhos se fecharam. — Sinto muito.

Ela resistiu ao impulso de pressionar um beijo na palma de sua mão


enquanto se sentava na beirada da cama. Ela pegou sua mão e a trouxe para o colo,
envolvendo as mãos em torno dela. — Eu não sei exatamente pelo que você está
pedindo desculpas.

— Por todas as vezes que eu fiz você chorar.

— Você nunca me fez chorar.

Ele deu um sorriso indiferente. — Mentirosa.

— Bem, talvez uma vez.

— Duas vezes.

— Quatro vezes — ela admitiu.

Acima de seus olhos fechados, suas sobrancelhas se juntaram. — Quatro?


Desculpe.

— Tio Jesse?
Ele forçou seus olhos a abrirem.

— Tio Jesse, eu sinto muito.

Lutando, ele ergueu a mão do colo de Maddie e pegou a mão de Aaron,


puxando fracamente, mas foi tudo o que Aaron necessitou para se lançar sobre o
peito de Jesse e envolver seus braços em volta de seu pescoço. Jesse engoliu o
gemido de dor que irrompeu com as ações do garoto.

— Eu não deveria ter corrido. Eu sinto muito.

Os soluços do menino cortaram o coração de Jesse. Ele moveu a mão pelas


costas de Aaron, seus dedos se movendo levemente, oferecendo tranquilidade. —
Eu corri, também, na primeira vez que eu atirei em um homem.

Aaron levantou a cabeça, limpando as lágrimas de suas bochechas. — Você


fez realmente?

Ele balançou a cabeça ligeiramente. Maddie tocou as costas de Aaron. — É


melhor você ir para a cama. Deixe seu tio ter mais algum descanso.

— Eu te amo, tio Jesse — ele sussurrou antes de liberar seu aperto e correr
silenciosamente para fora do quarto.

Jesse capturou o olhar de Maddie. — Não me deixe morrer — ele ordenou


antes de cair de volta no esquecimento indolor.
Maddie afastou o cabelo de sua testa, sabendo que o pedido tinha pouco a
ver com o seu próprio desejo de viver, mas mais a ver com a tentativa de poupar a
consciência de Aaron.

Por longos momentos ela o observou no sono, então pegou a lamparina e


saiu do quarto. Calmamente, ela entrou no quarto de Aaron.

Olhando para a criança adormecida, ela sentiu seu coração inchar. Precisou
que chegasse perto de uma tragédia, mas Aaron tinha finalmente a chamado de
mãe. Ela não esperava que essa única palavra a tocasse tão profundamente. Ela
levantou o lençol sobre suas costas. Houve um movimento ao lado de Aaron e um
nariz preto molhado cutucou por baixo do lençol. Maddie sorriu quando percebeu
por que Charles tinha descido as escadas antes de falar com Aaron.

Segurando a lamparina, ela saiu do quarto, caminhou pelo corredor, e entrou


no quarto de Jesse. Ela nunca tinha estado neste quarto, embora muitas vezes
tivesse se perguntado como pareceria.

Ele carregava o perfume masculino, um aroma muito diferente daquele que


flutuava no quarto de princesa. No entanto, ela pensou, os aromas, embora
diferentes, de alguma forma, se complementavam. O mobiliário de carvalho
maciço duraria por toda a sua vida e além. Ele tinha arrumado a colcha
perfeitamente sobre a cama. Ele havia deixado nenhuma roupa no chão. O quarto
refletia a vida de um homem onde a ordem era uma exigência. A única coisa fora
do lugar era um livro descansando na cama.
Colocando a lamparina na mesa de cabeceira, ela sentou em cima da cama e
levantou o livro gasto em suas mãos. Ela voltou a capa e leu a data e as palavras
que fluíam livremente na primeira página. Suas mãos tremeram com a percepção
de que ela estava segurando seis anos da vida de Jesse, gravados em sua caligrafia.
Ela tinha pouca dúvida de que dentro destas páginas ela iria encontrar uma
contabilidade honesta de suas provações e tribulações, seus sentimentos e seus
pensamentos. Com sua crença na honestidade, ele teria gravado nada menos. Ela
sabia que deveria fechar o livro e sair do quarto, respeitar a sua privacidade e seu
passado da mesma maneira que ela estava exigindo que ele respeitasse o dela.

Inclinando para a luz, ela virou a página e continuou lendo.

Seus olhos se tornaram enérgicos, suas costas doíam, e seu coração


conheceu o pior medo do que qualquer um que ela já tivesse sentido. Ela fechou o
livro na página final.

Charles não tinha exagerado quando disse que Jesse era hábil em caçar
homens. Jesse tinha meticulosamente registrado os detalhes de suas atribuições.
Ela pensou que, se os homens da lei frequentassem escolas onde aprendessem as
ferramentas de seu ofício, o diário de Jesse poderia servir como livro didático.

Seus pensamentos se foram para o dia em que ele a levou para à cidade e ela
olhou com inocência a parede. A última coisa que ela esperava ver era um cartaz
do pai e Andrew. Os três membros restantes da pequena gangue de seu pai estavam
lá também, mas eles tinha tomado mais cuidado em manter seus rostos escondidos
e tinham nada mais do que descrições escassas que poderiam se aplicar a qualquer
um. Mas Jesse seria capaz de encontrar todos, se ele dispusesse sua mente nisso.
Silas e Walsh eram os que ela temia. Ela pensou ter despistado Silas até que
ele apareceu por trás do celeiro. Ironicamente, ele tinha estado em Waco
observando a diligência que ele e Walsh iriam roubar, quando tinha visto Maddie
entrar nela. Ele tinha alterado os seus planos e a seguiu. Ele pensou que ela
soubesse onde seu pai tinha enterrado um cofre cheio de dinheiro. Ela disse onde
procurar mas sabia que ele só iria encontrar sujeira. Ela rezou para que ele não
voltasse. Ele ameaçava seus sonhos mais do que Jesse.

Ao ouvir um gemido baixo, ela colocou o livro na cama, como ela o


encontrou, pegou a lamparina, e caminhou rapidamente para o quarto de princesa.

Jesse estava banhado em suor, com as mãos segurando as cobertas. Quando


ela atravessou a sala e colocou a lamparina na mesa de cabeceira, a luz pálida
tocou seu rosto para revelar as linhas profundas ao longo de sua testa e ao redor de
sua boca apertada. Como se sobrecarregado, ele abriu os olhos lentamente.

Maddie colocou a mão sobre seu punho cerrado. — Você está com muita
dor?

— Cansado. — Fechando os olhos, ele passou os dedos em torno de sua mão.


— Droga de sorte.

Ela passou a mão livre ao longo dos músculos firmes de seu braço. — Sim,
nós estamos.

— Nós? — Ele abriu os olhos. — Você não está com raiva de mim?
Sua voz carregava a cadência de uma criança esperançosa e efetivamente
derreteu qualquer raiva persistente dentro de seu peito. Ela apertou sua mão em sua
bochecha. — Eu deveria estar, mas não, eu não estou.

Ele passou a língua nos lábios secos. — Água.

— Eu sinto muito. Eu deveria ter lhe dado algo para beber antes. Espere
aqui.

Ele queria dizer a ela que não havia um inferno de algo que ele pudesse fazer
senão esperar, mas não valia a pena o esforço. Agarrando a lamparina, ela correu
para fora do quarto, o deixando na escuridão. Poucos minutos depois, ela voltou
com uma bandeja.

Maddie colocou a bandeja na mesa e moveu a lamparina. Ela pegou um


copo e cuidadosamente levantou sua cabeça. — Não beba muito rápido. — Ela
observou sua boca tocar o vidro e sua garganta trabalhar quando ele engoliu em
seco. Ela observou todos os pequenos detalhes, desejando que o pudesse odiar,
poderia usar a raiva como um escudo, mas como sempre, na sua presença, ela
sentia seus medos diminuírem até que eles eram pouco mais que sombras à espreita
em um canto. Ela não temia o homem, apenas as habilidades que ele tinha
adquirido enquanto trabalhava como um Texas Ranger. Se ele usasse suas
habilidades, poderia tirar o seu sonho. E foi assim que ela percebeu que
voluntariamente desistiria de seu sonho pela vida dele.
Ele engoliu o último gole da água. Ela retirou o copo. — Eu trouxe um
pouco de sopa também. Você pode se sentar e me deixar lhe dar um pouco?

Ele deu um pequeno aceno. Maddie colocou outro travesseiro sob a cabeça
de Jesse. Ela sentou na cama, pegou a tigela, levou a colher aos próprios lábios
para testar o calor da sopa e voltou o olhar para Jesse. Ele a olhava com uma fome
que ela temia ter pouco a ver com o estômago. — A sopa estava muito quente
quando a coloquei na tigela. Eu quero ter certeza de que esfriou o suficiente.

— Esfriou? — ele perguntou com uma voz rouca.

Ela assentiu com a cabeça e levou cuidadosamente a colher à sua boca. Ela
observou seus lábios sobre a prata e ele tomou a sopa da colher. Ela o alimentou
em silêncio. Ele havia tomado metade da tigela antes de fechar os olhos.

Ela colocou a tigela na bandeja e delicadamente afofou o travesseiro sob sua


cabeça para o deixar mais confortável. Umedeceu então um pano e gentilmente
limpou os últimos remanescentes de sopa ao redor de sua boca. Inadvertidamente,
seu dedo roçou a plenitude de seus lábios e ela se lembrou de quão suaves eles
pareciam quando pressionados contra os dela, quão quentes, quão flexíveis.

Ternamente, ela limpou o suor brilhando em seu peito e muito lentamente


deslizou o pano sobre suas costelas. Que sorte a bala não ter atingido mais acima;
que sorte, de fato. Se ele tivesse dado um passo para a direita, a bala poderia o ter
atingido completamente; se ele tivesse dado um passo para a esquerda, ela poderia
não ter sido capaz de ajudar.
O cobertor estava envolto sobre seus quadris, deixando descoberta uma nua
faixa de pele abaixo do curativo que ela tinha feito nele mais cedo. Enquanto ela
estava cuidando dele no início da noite, tinha dado pouca atenção ao fato de que
ele estava como um bebê recém-nascido. Seu umbigo espiava por baixo das
ataduras. Ela tinha um forte desejo de pressionar um beijo no lugar onde sua vida
tinha começado.

— Será que ele vai te machucar? — Jesse perguntou em voz baixa.

Maddie puxou o cobertor até seu peito e balançou a cabeça. Ela pensou que
ele estivesse adormecido e se perguntou há quanto tempo ele estava olhando para
ela.

— O homem que Aaron viu falando com você... Ele vai te machucar?

O temperamento dentro dela se inflamou e morreu. Ele não era um Texas


Ranger a atormentando, mas um amigo preocupado com seu bem-estar. Talvez
fosse o que ele tinha sido o tempo todo mas sua culpa tinha feito o ver de outra
forma. Ela não podia falar a verdade e também não poderia mentir. — Você não
acha que se ele fosse me machucar teria feito isso quando esteve aqui?

— Então do que você tem medo?

Distraída, ela passou o pano sobre seu peito. — Não é medo... — Ela fechou
os olhos e suspirou como se alguém tivesse acabado de colocar uma carga mais
pesada ainda sobre seus ombros. — Eu não sei — admitiu ela asperamente. —
Talvez seja medo. — Ela abriu os olhos. — Eu não mereço tudo isto, Charles, sua
casa, seus filhos. Eu não fiz nada para os merecer. Eu sinto como se a qualquer
momento alguém os fosse levar para longe. É difícil de explicar, provavelmente
impossível para você entender. As pessoas trabalham duro para alcançar seus
sonhos e tudo o que fiz foi ficar sobre uma mesa e puxar o corpete do meu vestido...

— Não! — ele murmurou. Jesse não a queria ver sobre a mesa, não queria
saber tudo o que ela sofreu antes de Charles ter feito sua oferta. Por que diabos não
tinha Charles dado o lance mais cedo? A dor violenta em seu lado não era nada
comparado ao que as calmas palavras faladas fizeram a seu coração. Ele baixou a
mão sobre a dela que descansava em seu peito. — Ninguém vai levar isso para
longe de você. — E apertou a mão dela, tanto quanto sua força diminuída permitia.
— Você tem a minha palavra.

Maddie apertou os olhos para reter as lágrimas. Ela estava tão cansada. O
calvário emocional do dia estava querendo cobrar seu preço e ela não imaginava
como reagir à promessa de Jesse, sabendo que poderia chegar o dia em que ele
teria que a quebrar, tendo idéia de que ele iria se ressentir profundamente dessa
promessa. Se Silas ousasse voltar...

— Como você era quando criança? — ele perguntou.

Estudando o rosto desfigurado pela dor, ela se lembrou que estava ali para o
confortar e não para que ele a consolasse. Mergulhando o pano na bacia, ela o
torceu e limpou o suor de sua testa. — Eu era pequena e muito magra. Passei
muito tempo fingindo.

— Cassie sempre fingia que ela era uma princesa. Foi isso que você fez?
Ela deixou o pano na bacia e passou os dedos por seu cabelo delicadamente,
o levantando da testa. — Você ainda sente falta dela, não é?

Ela viu os músculos de sua garganta trabalharem mas as palavras não saíram.
Ele fechou os olhos e quando os abriu novamente, eles estavam cheios de uma dor
crua, uma angústia maior do que qualquer outra que ela tinha visto em seus olhos
naquela noite.

— Ela era tão pequena — disse ele com voz rouca. — E se eles não
cuidaram bem dela?

Parecia uma noite projetada para compartilhar medos. A casa estava em


silêncio, devia ser muito tarde. Ela sabia que sua ligeira febre e estado
enfraquecido haviam feito seus medos e vulnerabilidade vir à tona. Caso contrário,
ele os manteria guardados em sua aparente rudeza.
Maddie gostaria de poder lhe fazer uma promessa tão facilmente como a
que Jesse tinha feito a ela.

Ela pressionou a palma da mão contra a bochecha com a barba por


fazer. — Tenho certeza de que eles cuidaram dela. Eles não a teriam levado se não
a quisessem.

E ele retribuiu colocando a mão áspera em seu rosto. — Então por que não a
posso encontrar?
Ela se surpreendeu com a força com que ele levou o rosto dela contra o peito.
Ela sentiu mais do que ouviu seu suspiro irregular.

— Por que não a posso encontrar?


Jesse tirou as pernas da cama. Se equilibrando contra os corrimões
retorcidos na cabeceira da cama de bronze, ele empurrou seu peso sobre as pernas
trêmulas. Segurando o lado ferido, ele ficou em pé no chão e, lentamente, andou
para seu quarto.

O quarto dele. Depois de quase uma semana, foi uma visão bem-vinda,
mesmo que ele estivesse respirando com dificuldade e seu corpo coberto por um
suor frio pelos esforços. Ele caminhou com dificuldade até a cama e se sentou.

Seu diário estava no centro da cama. Ele tinha sido um tolo por o
compartilhar com Aaron, um idiota ainda maior por o deixar ver a chave. Bem, ele
certamente pagava por sua tolice. Ele pegou e acariciou o desbotado livro da
mesma maneira que um homem acaricia uma mulher com quem passou a vida:
com amor, conhecendo cada vinco, cada ruga, compreendendo e aceitando as
forças que os tinha mantido até o momento juntos.

Vasculhando as páginas, ele soltou um suspiro de frustração. Se ele


certamente soubesse que o que estava no passado de Maddie iria ficar em seu
passado, ele a deixaria em paz. Mas enquanto ele esteve confinado à cama, passou
muito tempo se perguntando sobre o homem por trás do celeiro. Ela tinha medo
dele, admitindo isso ou não. Se ao menos ela confiasse nele...
Jesse tinha as habilidades e os recursos para acabar com os medos dela.

E daí ele ouviu a voz de Maddie, seguida do riso de Aaron, filtrado através
de sua janela. Segurando seu lado, ele saiu do quarto e foi descendo as escadas.

— Venha aqui, Aaron Lawson! — Desgostosa por não conseguir parar de


sorrir, Maddie bateu o pé.

— Não, senhora!

Ela avançou e ele saiu correndo. Então ele parou abruptamente e seus olhos
se arregalaram. — Tio Jesse!

Maddie se virou. Deixando a porta traseira aberta como se até mesmo


o pensamento de a fechar doesse muito, Jesse se moveu lentamente para a varanda.
Ela correu para ele, segurando seu braço e o ajudando a sentar numa cadeira. Ele
fez uma careta quando o quadril encostou na madeira dura.

— Aaron, feche a porta — Maddie ordenou. — E você, o que pensa que está
fazendo? Você não deveria estar fora da cama.

Ele piscou para ela. — Eu preciso começar a me mover. Além disso, eu


estive na cama tanto tempo, que estou ficando com feridas na minha bunda.

Corando, ela olhou na direção das árvores de carvalho à distância.


— Aaron, o que você não faz que Maddie quer que você faça?

— Mamãe quer que eu sente naquela cadeira lá fora, para que ela possa
cortar o meu cabelo, mas eu não acho que ele precisa ser cortado. E você?

Jesse não tinha ouvido uma só palavra que Aaron tinha pronunciado depois
da primeira: Mamãe. Quando o menino havia aceito Maddie tão completamente
em sua vida? Ele sentiu como se tivesse vivido em uma caverna por algum lugar.
Aaron o encarou. — O quê? — ele rosnou.

— Você precisa de um corte de cabelo mais que eu.

— Eu não ficaria surpreso. Talvez eu vá amanhã à cidade e cuide dele.

— Por que você não deixa mamãe o cortar? Ela cortou o cabelo do papai
antes que ele levasse as meninas para procurar amoras.

Ele mudou de posição na cadeira. — Eu acho que eu deixei Maddie ocupada


o suficiente esta semana.

— Eu não me importo. — Ela limpou as mãos no avental. — Eu o ia mesmo


lavar para você.

— Vamos, tio Jesse. Se você a deixar cortar seu cabelo eu a deixo cortar o
meu.
— Venha se sentar no quintal. Você poderia tomar um pouco de sol — ela
insistiu.

— Eu me sinto como se tivesse sido atropelado — disse ele quando se


sentou na cadeira no meio do quintal. Habilmente, ela envolveu uma toalha sobre
seus ombros e puxou as pontas para dentro do colarinho de sua camisa.

— Incline a cabeça para trás um pouco — ela pediu enquanto erguia uma
concha cheia de água.

Ele sentiu o jorro da água sobre sua cabeça uma e outra vez, até que seu
cabelo estava todo molhado. Ela trabalhou o sabão através de seu cabelo e em seu
couro cabeludo. Ele quase gemeu no puro prazer daquilo. Em seguida, ela usou a
concha cheia de água para lavar o sabão. Ele tinha quase caído no sono no
momento em que ele sentiu o pente passar através de seu cabelo e ouviu o primeiro
recorte da tesoura.

— Bem, bem, o que temos aqui?

Jesse olhou para seu irmão que carregava um balde de amoras. — Pelo
menos eu não andei por aí com um anel azul em volta da minha boca.

Rapidamente, Charles cobriu a boca com a mão e olhou para suas filhas
risonhas, suas bocas pintadas com tons iguais também. — Acho que não deveria
ter comido tantas, hein?
Uma explosão de buzina e o crack de um tiro ecoou na distância e levou os
risos e sorrisos a se esconderem.

— Maddie, leve as crianças para dentro — Jesse mandou enquanto se


levantava da cadeira, se inclinava com a dor e lutava para recuperar o fôlego.
Charles já estava correndo para a casa.

— O que é isso? — ela perguntou enquanto pegava a mão de cada menina.

— Uma diligência encontrando problemas em seu caminho.

Ele mancou em direção à varanda.

— Onde você pensa que está indo? — ela perguntou.

— Vou ajudar.

— O inferno que vai. — Ela agarrou seu braço. — Você não está forte o
suficiente ainda.

— Nós não temos escolha. Leve as crianças para o seu quarto e feche a porta.

Maddie levantou Taylor em um quadril, apertou a mão de Hannah e correu


para dentro. Ela parou nas escadas e viu Charles pegar os rifles do armário. —
Você realmente acha que eles são necessários?
Fechando a porta, ele se certificou de trancar e entregou um fuzil para Jesse.
Então ele tocou seu rosto. — Vamos rezar para que eles não sejam. Leve as
crianças lá para cima. Aaron, sua mãe nunca passou por isso antes, então você a
ajude

— Sim senhor. — Aaron subiu os degraus. — Venha.

Maddie viu os homens sairem de casa e em seguida foi atrás de Aaron


subindo as escadas. Eles entraram em seu quarto, fecharam a porta e a trancaram.
Aaron apertou o ouvido na porta.

— A diligência está aqui. Não ouvi mais disparos. — Ele lançou um olhar
furtivo em direção a Maddie enquanto ela se sentava na cama, segurando as duas
meninas perto. — Isso é um bom sinal.

— Isto é?

Ele balançou a cabeça com uma sabedoria que desmentia sua juventude. —
Significa que os ladrões provavelmente se afastaram uma vez que viram que a
diligência estava se aproximando da estalagem. — Ele pressionou seu ouvido
contra a porta.

— Ladrões ruins? — perguntou Taylor.

— Ruins — Hannah reconheceu. — Tio Jesse e papai odeiam ladrões.

— Shh. Devemos ficar quietos — disse Maddie.


— Ouvi algumas vozes, mas não são altas — disse Aaron. — Isso é um bom
sinal.

— Por que é? — perguntou Maddie.

— Porque se eles estivessem gritando, seria porque esses ladrões estavam


atacando. Eu odeio ladrões. — Ele se afastou da porta e caiu no chão. — Não é
certo o que eles fazem, tirando das pessoas o que é delas, as assustando. Estou feliz
por tio Jesse os rastrear. Quando eu crescer, eu o vou acompanhar também.

Houve uma batida suave na porta. Aaron ficou de pé e destrancou a porta.


Charles entrou no quarto e as meninas pularam do colo de Maddie e correram para
ele, que se ajoelhou, as abraçou e olhou por cima de suas cabeças para Maddie. —
Parece que o problema passou, mas com a escuridão chegando, os passageiros vão
ficar aqui esta noite. Jesse e eu vamos manter a vigília. Por que você não cuida do
conforto dos nossos clientes?

Balançando a cabeça, Maddie saiu do quarto. Ela achou desanimador


perceber que Jesse não era o único que via tudo em preto e branco.
~
Pisando para a varanda, Maddie olhou através da escuridão. — Jesse?

— Nos degraus — veio a voz baixa.

Ela caminhou rapidamente para o outro lado da varanda e se ajoelhou, só


então capaz de ver sua forma sombria. — Trouxe um pouco de café.
Ela sentiu sua mão ao redor da dela momentaneamente antes dele pegar o
copo de sua mão.

— Eu aprecio isso.

Ela se sentou no degrau mais alto. Sua perna esbarrou na dele. — Como
você está se sentindo? — ela perguntou.

— Cansado.

— É depois da meia noite. Você acha que eles vão vir?

— Não.

— Então por que você não vai para a cama?

— Porque quando um homem possui nenhuma alma, você nunca pode ter
certeza. Só porque eu não acho que eles sejam estúpidos o suficiente para atacar
não significa que eles não vão.

Ela puxou as pernas contra o peito e apoiou o queixo nos joelhos virados
para cima. — Você realmente fugiu a primeira vez que você atirou em um homem,
ou você estava apenas tentando fazer Aaron se sentir melhor?

Ele tomou um gole de café, olhando para as sombras que se moviam com a
brisa e as nuvens. — Eu vou te dizer se você responder uma pergunta minha.
Suspirando, ela olhou para ele na noite.

— Você vai responder a minha pergunta? — ele perguntou.

Ela sabia que era tolice colocar tanto poder em suas mãos, e ela não
conseguia entender por que ele queria, mas ela concordou. — Sim.

Ela o ouviu pousar o copo e sentiu seu dedo vindo para descansar sob seu
queixo, virando seu rosto até que ela estava olhando em seus olhos. — Você usa
seu cabelo solto depois de ter tomado um banho?

Ela estava grata pela escuridão cobrindo o profundo rubor colorindo suas
bochechas. — Sim.

Ele retirou a mão. — Meu irmão é um homem de sorte.

Ela observou-o, uma silhueta delineada pela noite, olhando para fora, talvez
olhando para dentro, e ela esperou.

— Foi durante a guerra. Eu tinha quatorze anos. Um menino do tambor. Nós


marchamos para a batalha ao lado daqueles com mosquetes. Uma vez que a batalha
começou, a fumaça pairava sobre o campo como uma pesada névoa da manhã. O
ritmo das batidas no tambor disse aos soldados o que precisava ser feito. Durante
uma batalha, quando nos movemos para a frente, eu pisei sobre os homens que
tinham abanado meu cabelo ao amanhecer. Olhei para os rostos de meninos não
muito mais velhos do que eu, que haviam enfrentado um inimigo não muito mais
velho do que eles. Naquele dia as vítimas foram muitas, então eu coloquei o meu
tambor de lado e peguei o rifle de um homem que não iria precisar mais. Eu fui em
busca de um homem vestido de cinza.

— E você o encontrou.

Ele acenou com a cabeça sabiamente. — Não foi difícil. Atirei no primeiro
homem que eu estive perto o suficiente para atirar. Ele parecia tão surpreso pouco
antes de morrer. Eu não esperava que ele soubesse que eu o tinha matado. Deixei
cair o rifle e corri, mas um oficial da cavalaria Rebelde com um sabre me parou.

— Ele lhe deu a cicatriz em suas costas?

— Sim. Quando me recuperei, eu era um soldado. Não era mais o menino do


tambor e eu não corri na próxima vez que matei um homem.

— Você vai compartilhar essa história com Aaron?

— Algum dia.

— Aaron é especial para você, não é?

— Eu amo todos eles, mas sim, Aaron é especial. Ele é tão parecido com
Charles que estar com ele é como recuperar o atraso em todos esses anos em que
Charles e eu estivemos separados.

— Que idade tinha Cassie na última vez que você a viu?


Ele moveu seu corpo. — Seis. Charles e eu tivemos sorte. Boas famílias nos
levaram. Eu não sei nada sobre a família que levou Cassie. Eu só posso esperar que
ela tenha tido uma vida feliz.

— Você teve uma vida feliz?

— Eu fiz um monte de coisas das quais estou orgulhoso, teve momentos que
eu não trocaria por nada. Mas quando você não tem alguém para os compartilhar,
os bons momentos de alguma forma parecem vazios. Foi por isso que era
importante para mim encontrar Charles e Cassie.

Por um longo tempo , ela ouviu o murmúrio suave do vento e pensou sobre
suas palavras. Ele precisava de mais do que Cassie e Charles para compartilhar
seus momentos. Ele precisava de seus próprios filhos, sua própria família. Ela
imaginou um menino de olhos negros de cabelo escuro, mantendo o ritmo com as
longas passadas de Jesse, aprendendo a diferença entre certo e errado ao seu lado.
E também imaginou uma menina com cabelo preto e olhos tão escuros quanto o
chão, derramando chá imaginário em uma pequena xícara de chá para seu pai. Ela
se perguntou sobre a mulher que ele iria escolher para compartilhar sua vida, seus
filhos. Ela sabia que, ao contrário de si mesma, a mulher seria imaculada.

— Eu provavelmente deveria pegar um pouco de café para Charles — disse


ela, finalmente.

— Sim, você provavelmente deveria.


Ela ficou de pé. — Mantenha uma vigilância cuidadosa.

— Eu manterei.

Ela caminhou ao redor da varanda superior para a parte de trás da casa. Seus
olhos se adaptaram à noite, e ela viu Charles escondido no canto. O rifle parecia
fora do lugar descansando em seu colo.

— Como você está se mantendo? — perguntou Maddie.

Charles pegou a mão dela e a puxou para baixo. — Bem, e você?

Ela entrelaçou os dedos nos dele. — Me sentindo como uma mãe, eu acho.
Estou preocupada com as crianças. Charles, se as coisas se resumem a isso, eu sei
como disparar um rifle. Não exatamente mas eu posso fazer muito barulho.

Ele a puxou então para a curva de seu ombro e colocou seu braço ao redor
dela. — Eles não vão vir. Jesse e eu já conversamos sobre isso. Se esses bandidos
aparecerem empurraremos o cofre para a varanda. Eles podem ficar com ele.

Ela se afastou. — Você vai lhes dar o dinheiro?

— Todo o dinheiro no mundo não vale a vida dos meus filhos. — Ele tocou
os dedos em sua bochecha. — Ou a da minha esposa.

Ela sentiu um aperto no peito com a percepção de que, ao contrário dos


homens que tinha conhecido antes, nem Charles nem Jesse a iriam colocar em
perigo. — Eu levei para Jesse um pouco de café. Você quer que eu lhe traga
também?

— Não, Jesse pode precisar dele para ficar acordado, ele está acostumado a
esse tipo de coisa e eu estou amarrado tão apertado como uma cerca de arame
farpado. Mesmo se você empurrasse a nossa cama aqui para fora e se enrolasse
nela comigo, eu não seria capaz de dormir. Mas você deve ir para a cama.

— Eu prefiro ficar aqui. Eu não estou certa de que sei mais como dormir
sozinha. — Ela se aconchegou contra ele. — Eu não me imagino ser capaz de
dormir, de qualquer maneira.

Quando o sol se levantou lentamente ao longo do horizonte, Jesse caminhou


ao redor da varanda e se agachou diante de Charles. Maddie estava aninhada em
seu ombro, dormindo.

— Eu estou indo montar com a espingarda para Carter até que atinjam
Austin.

— Isso é uma longa caminhada. Tem certeza que está bem para ir?

Jesse assentiu. — Dois homens com espingarda no topo da diligência


deveria desencorajar quaisquer assaltantes. Então por que não ficamos até o café da
manhã e depois tiramos essas pessoas daqui?

~
Mal respirando, Maddie aguçou os ouvidos para qualquer som e tudo o que
podia ouvir era a respiração rítmica de seu marido. Ela argumentou
veementemente contra Jesse ir com a diligência. O homem não tinha nada que
estar fora da cama, muito menos perambulando em todo o país no topo de uma
diligência aos empurrões.

Naquela noite, deitada ao lado do marido, Maddie ouviu o badalar solitário


do relógio no andar de baixo. Jesse tinha amarrado seu cavalo na parte de trás da
diligência e ela rezou para que ele não montasse de volta no mesmo dia. Ela
endureceu quando ouviu uma porta distante ser aberta. Ranger deu o seu latido de
boas-vindas e ficou em silêncio. Ela relaxou sabendo que Jesse tinha voltado para
casa, lutando contra o desejo de o ver.

— Por que você não vai ver se ele está com fome?

Assustada, ela levantou a cabeça. — Você está acordado?

— Estava esperando a mesma coisa que você.

— Eu provavelmente deveria mesmo ver se ele está bem.

— Eu acho que você deveria. Vou descer em um minuto.

Ela se arrastou para fora da cama, enfiou os braços em seu roupão e o


amarrou firmemente em torno de sua cintura. Seus pés descalços tocaram o chão.
Como um velho homem que ouve o sussurro da morte, Jesse sentou na
cadeira. Apoiando os cotovelos sobre a mesa, ele se perguntou como iria para a
cama e decidiu que provavelmente apenas dormiria onde estava.

Maldita Maddie por estar certa. Ele só tinha montado meio caminho para
Austin antes de dizer a Carter que ia que voltar. Carter lhe tinha dito para embarcar
no interior da diligência até que chegassem a Austin mas Jesse começou a acreditar
que ia morrer lá em cima e que se ele ia morrer, queria estar em casa.

— Oh, olhe para você!

Ele levantou a bola de chumbo que chamava de cabeça e olhou para a


mulher correndo na sala. Ela colocou uma mão fria em seu rosto.

— Você está todo quente e úmido. Começou a sangrar?

— Não, apenas cansado.

— Está com fome?

Ele balançou a cabeça e ela se afastou, o deixando a desejar que tivesse


negado estar com fome. Estendendo a mão, ele aumentou a chama na lamparina
para que a pudesse ver mais claramente. Ele nunca antes voltou para casa e teve
uma mulher ao lado dele.

Ela bateu uma panela sobre o fogão, seu retumbante estrépito metálico
ecoou por toda a sala. — Eu não gosto de perder o meu tempo e energia.
Ele fez uma careta quando ela bateu outra panela.

— Você monta para fora daqui, sem sequer se importar que todo meu
trabalho duro possa ir para o lixo. — Ela se virou e colocou as mãos nos quadris.
— Da próxima vez, você pode apenas sangrar até morrer.

Quando ela andou até ele, ele agarrou seu braço oscilante e gemeu quando
seus movimentos o congelaram. Ela parou e se ajoelhou ao lado dele.

— Você começou a sangrar.

Ele balançou a cabeça. — Não penso assim. Só não fique brava comigo hoje
à noite.

Ela moveu a lamparina para a borda da mesa e em seguida, cautelosamente


tirou sua camisa para fora da calça e a levantou. Ela pressionou os dedos às
bandagens ainda brancas e o sentiu tenso.

— Dói um pouco — ele falou.

Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela levantou o olhar para ele. —
Você não tem que ser o grande irmão de todos. Porque não pode se contentar
apenas em ser o irmão de Charles?

Ele passou os dedos ao longo de sua bochecha, capturando uma lágrima


caída. — Desta vez, eu não queria fazer você chorar.
Ela deitou a cabeça contra sua coxa, os soluços fazendo seus ombros
estreitos tremerem. Soltando sua mão, ele gentilmente esfregou suas costas. — Eu
sinto muito, Maddie. Eu não posso mudar o jeito que eu sou.

— Você poderia tentar — disse ela, com a voz abafada contra sua perna.

— Eu não posso olhar para o outro lado quando um erro está sendo feito.

Ela ergueu o olhar. — Mas isso não estava sendo feito para você.

— Não faz diferença. Um erro é um erro.

— E não existem exceções para você, existem?

Seus olhos eram um poço de tristeza e ,de alguma forma, ele sabia que sua
pergunta era de importância monumental, e que os momentos em que ele estivesse
em sua companhia não seriam os mesmos se ele respondesse errado. — Eu nunca
olhei para o outro lado quando um erro foi feito por alguém.

Seus olhos se fecharam, e ele teve um sentimento de afundamento em seu


estômago porque tinha dado a resposta errada. Passos soaram em toda a casa e, em
seguida, Charles entrou na cozinha. De pé, Maddie se afastou de Jesse e dispôs
panelas e frigideiras mais calmamente quando começou a aquecer um pouco da
carne cortada em tiras para ele. Charles colocou a mão no ombro de Jesse. —
Como você está se sentindo?
— Como se eu tivesse estado de pé no meio de um tumulto. Acabei de
deixar Meia-noite lá fora. Eu planejava ir até ele, uma vez que tivesse descansado.

— Eu vou cuidar de seus cascos. — Charles se dirigiu para a porta.

— Dê a ele um pouco de aveia extra, certo? Ele merece.

— Vou dar. — Charles fechou a porta silenciosamente atrás dele. Jesse


observou Maddie se movendo solenemente, sem palavras, em torno da cozinha.
Ele tinha um forte desejo de a abraçar e pedir desculpas por algo, por qualquer
coisa. Ele colocou a mão sobre a coxa. Nunca tinha tido uma mulher chorando nele.
Chorando por causa dele sim mas não chorando sobre ele. Algo em seu peito tinha
se contraído quando sentiu as lágrimas dela se infiltrarem através da lã de suas
calças.

Ele quase desejou que tivesse sido capaz de responder a sua pergunta de
forma diferente.
O ar sensual da noite se agarrou em Jesse enquanto se afastava do riacho.
Sua força estava retornando e seu lado tinha perdido a maior parte de sua
sensibilidade. Ele tinha sido capaz de transportar a banheira até a cozinha mais
cedo e preparar um banho para Maddie. Retardando os passos, ele só esperava que
tivesse ficado longe por tempo suficiente.

Com o andar vagaroso, ele se aproximou do quintal. A casa estava envolta


nas sombras da noite. Ele olhou em direção ao celeiro e viu uma luz pálida se
derramar por uma abertura estreita na porta.

Furtivamente, se arrastou pelo quintal e olhou para o celeiro. Ele viu


sombras dançarem assustadoramente contra uma parede mais distante. Em seguida,
Maddie apareceu, se esticando na ponta dos pés descalços, os dedos alçando as
vigas, seu corpo balançando de um lado para o outro.

Ela girou e seu vestido de chita azul se levantou para revelar suas
panturrilhas nuas. Ela desceu e seu cabelo trançado caiu sobre o ombro. Em
seguida, ela ficou de joelhos e pegou Ranger do chão e o colocou no colo, nariz
para cima, cauda para baixo e esfregou o rosto contra seu pescoço. — Oh Ranger,
você acha que ele vai saber que eu nunca dancei antes?
A porta rangeu quando Jesse a abriu e entrou no celeiro. Maddie virou
abraçada a Ranger até que o filhote gritou. Ela o largou e ele correu de volta ao seu
lugar.

Jesse se agachou à sua frente. Ela estava banhada pela luz de uma lanterna
amarela solitária pendurada no prego em uma viga. Gavinhas úmidas de seu cabelo
beijavam suas bochechas. A fragrância de “Forget-Me-Not” flutuava ao seu redor..

— Onde está Charles? — ele perguntou.

— Ele caiu no sono enquanto eu tomava banho.

Jesse se ajoelhou e descansou um braço sobre o joelho levantado. — Por que


você não disse a ele que nunca dançou?

Ela olhou para as mãos cruzadas sobre o colo. — Eu não sei. Às vezes fico
cansada de me sentir tão diferente. — Ela levantou o olhar para ele. — Todas essas
pessoas tiveram essas vidas normais, o tipo de vida que eu sempre quis.

— De que forma?

Ela ergueu o ombro ligeiramente. — Elas tiveram tantas pessoas em torno


delas, tiveram amigos para compartilhar suas alegrias e tristezas. Elas nunca
estiveram sozinhas.

— E você esteve sozinha com muita frequência.


— Eu nunca tive um amigo. Quando aquelas pessoas estavam aqui antes, eu
notei algumas das mulheres sussurrando umas com as outras, partilhando segredos
e eu nunca tive um amigo para compartilhar segredos. — Ela sentiu o olhar cheio
de compreensão sobre ela como se fosse uma carícia. Embora ele fosse a última
pessoa no mundo a quem deveria contar quaisquer confidências, ela se surpreendeu
ao descobrir que ele era o único com quem queria compartilhar qualquer coisa.

— Que segredos você iria compartilhar? — ele perguntou em voz baixa.

— Eu não sei. — Ela acenou com a mão impotente no ar. — Pequenas


coisas, como o fato de eu não saber dançar. Nada de importante.

Ele se levantou e estendeu a mão para ela. — Venha.

— Onde estamos indo?

— Em nenhum lugar. Eu vou te ensinar a dançar.

Seu coração disparou. Ela pensou que dançar com Jesse se pareceria tão
íntimo como um beijo e era uma intimidade que ela não se atrevia a sentir. — Oh,
isso não é necessário.

— Pensei que você queria fazer Charles feliz.

— Eu quero.
— Bem, não há nada que ele goste mais do que de dançar e eu imagino que
amanhã à noite, ele vai querer dançar com a esposa.

Relutante, ela se levantou. Ele colocou a mão na cintura dela e a sentiu


endurecer. — Você precisa relaxar. As pessoas se tocam quando dançam. — Ele
colocou a mão mole em seu ombro e pegou a outra na sua. Seus olhos estavam
fixos no chão. — Não olhe meus pés.

— Como vou saber o que fazer?

— Você vai sentir os movimentos. Basta os seguir e vai ter que levantar os
olhos porque não posso começar enquanto você está observando os pés.

Ela ergueu o olhar para o centro de seu peito. Ele deu um passo para trás. —
Venha.

Meio sem jeito, ela deu um passo para a frente, para em seguida sair do
abraço, cruzando os braços sob os seios. — Eu não posso fazer isso.

— Por que não?

— Porque você é tão crítico.

— Tudo bem então, vamos tentar de outra forma. Feche os olhos e finja que
eu sou Charles.

— Porque?
— Porque você fica confortável com ele. Feche os olhos e finja que eu sou
ele ou o vou acordar e lhe dizer para vir aqui e ensinar sua mulher a dançar.

Ela colocou as mãos nos quadris. — Você faria isso, não é?

Ele sorriu. — Sim.

— Ahh, tudo bem. — Ela voltou para a frente dele.

— Agora, feche os olhos. — Ela os arregalou.

Ele suspirou. — Confie em mim. Só dessa vez.

Ela fechou os olhos. — Basta lembrar que eu os posso abrir a qualquer


momento que quiser.

Ele colocou uma das mãos dela em seu ombro, segurou sua outra mão na
dele e a rodeou na cintura com o braço livre. — Agora, finja que eu sou Charles.

— Suas mãos são muito ásperas.

— Finja que não são. Imagine que eu pareço amável e compassivo, em vez
de alguém que parece estar cavalgando para fugir do inferno.
Os olhos dela se abriram, capturando a solenidade do rosto a sua frente. —
Isso é o que você pensa, não é? — ele lhe perguntou. — Eu tive mais de um
desesperado me descrevendo dessa forma.

— Eu imagino que esses homens tenham pensado isso de você enquanto os


tentava capturar, mas você não está seguindo meu rastro, está?

— Não, eu não estou. Agora, feche os olhos e finja que sou seu marido.

Ela fechou os olhos. Imaginar que ele era seu marido era um pouco diferente
de imaginar que ele era Charles. Ela não tinha que fingir que suas mãos não eram
ásperas ou que teve que se esticar um pouco para colocar a mão em seu ombro. A
única coisa que ela tinha que fingir era que ele sabia a verdade e, mesmo assim,
ainda gostava de ser seu marido. Ela ouviu um relincho de cavalo em algum lugar
distante, ouviu uma coruja no celeiro piar das vigas e ouviu um cantarolar suave.
— O que é isso? — ela perguntou em voz baixa.

— “Ninguém É Querido.” É uma das minhas favoritas.

— É adorável.

— Se concentre na melodia e quando eu me mover, siga.

Ele voltou a cantarolar. Com a mente com nada além do timbre ressonante
da música que ele criou, ela o sentiu dar um suave passo para trás. Para sua
surpresa, ela o seguiu como se seu pé o tivesse feito a vida toda.
Muito lentamente, ela abriu os olhos e levantou o olhar para ele, querendo
nadar nas profundezas negras de seus olhos.

Um sorriso aliviou seu rosto. — É isso aí. Um homem gosta de olhar nos
olhos da mulher com quem ele está dançando. Isto é uma valsa.

— Eu gosto disso.

— Eu achei que você gostaria.

Ela estava hipnotizada pela profunda ressonância de sua voz, quase podendo
ouvir os acordes suaves de um violino. Parecia que eles estavam apenas
balançando na brisa como as pétalas de um dente de leão sopradas pela respiração
de uma criança.

— Respire, Uísque. Você não quer desmaiar quando Charles estiver


dançando com você amanhã à noite.

— Como você pode pensar em todas as coisas que tem que fazer de uma só
vez: mover seus pés, ouvir a música, respirar?

— Eu só estou pensando em uma coisa — ele disse calmamente enquanto


seus olhos mergulhavam profundamente nos dela.

— Se importa se eu tiver minha vez? — perguntou Charles.

— Cristo todo poderoso! — Jesse rugiu quando ele pulou para longe dela.
Maddie cambaleou para trás antes de pegar o equilíbrio. E ela estava
respirando agora, respirando com dificuldade.

Jesse passou as mãos pelos cabelos. — Você assustou o inferno fora de mim!

Charles riu. — Sim, eu achei que assustaria.

— Você é sortudo por eu não ter uma arma amarrada a minha coxa. Jesus!
Você devia dar a um homem algum aviso.

— Mas isso foi muito mais divertido. Vocês valsam muitas vezes no celeiro
após a meia-noite?

— Ela não sabe dançar. Eu a estava apenas ensinando.

Charles arqueou uma sobrancelha. — Oh!

— Nada de “oh” para mim. Você continua dizendo que sabe muito sobre ela.
Assim sendo você deveria saber que ela não sabe dançar, e deveria ter tido tempo
para ensinar para que ela não se sentisse fora de lugar amanhã à noite. Antes de eu
chegar aqui, ela estava tendo aulas com o maldito cachorro!

— Bem, talvez eu deva terminar as lições.

— Sim, talvez seja melhor. — Sem olhar para para Maddie, Jesse saiu do
celeiro.
Charles a olhou. — Eu acho que foi rude de minha parte interromper.

— Honestamente, ele só estava me ensinando a dançar.

— Eu sei.

Ele a tomou nos braços e a guiou através dos passos. Suas mãos não eram
ásperas e seus olhos não eram negros. As notas melódicas de um violino não
derivavam em sua mente. Ela não se sentia como se estivesse flutuando no vento.

Mas ele era seu marido. Ela levantou o olhar para ele devolveu o sorriso e
seguiu seus movimentos como ela planejava fazer pelo resto de sua vida.

~
O sol afundou lentamente além do horizonte, criando uma névoa suave de
cores do verão atrasadas através de um céu azul, levando consigo um pouco do
calor que se fazia sentir ao longo do dia.

A carroça rangeu quando rolou pela estrada de terra. Uma roda mergulhou
em um barranco raso. As crianças na parte de trás da carroça gritaram, Charles riu,
e Maddie caiu encostada em Jesse estar sentada ao lado dele no banco. Ele a
firmou com uma das mãos e a ajudou a recuperar um pouco de sua dignidade. Uma
vez firmada, ela alisou a saia e olhou por cima do ombro para a família na parte de
trás da carroça. A família dela.
Ela queria ter ido na traseira com eles mas Charles tinha insistido em que
fosse no banco da frente para que não sujasse o vestido. Ela usava o mesmo
vestido verde esmeralda que vestiu na noite em que conhecera seus amigos e
vizinhos. Não entendia por que Jesse estava guiando os cavalos, por que ela foi
forçada a se sentar ao seu lado. Cada vez que o movimento da carroça a levava a se
encostar nele, ela desejava fervorosamente ter sentado com as crianças.

— Será que Charles lhe ensinou a quadrilha? — Jesse perguntou, seus olhos
focados na frente.

— Sim — ela disse calmamente. — Ele me ensinou várias maneiras


diferentes de dançar. — Mas a valsa era a sua favorita, seria sempre a sua favorita.

Ele assentiu. — Imagino que ele a vai manter ocupada a maior parte da noite.

— Você gosta de dançar ou estava apenas sendo gentil na noite passada?

— Se eu gosto ou não depende de com quem eu estou dançando.

Na parte de trás da carroça, Aaron se levantou e se encostou nas costas de


Jesse. — Você vai dançar com a viúva Parker?

Jesse lançou um olhar por cima do ombro. — Acho que eu poderia.

Maddie sentiu uma pontada inesperada de decepção com a resposta dele e


percebeu que, sem dúvida, o veria dançando com várias mulheres ao longo da noite.
— Você não vai se casar com ela, não é? — Aaron perguntou.

Usando o polegar, Jesse empurrou o chapéu da testa e estudou o céu como se


estivesse pensando seriamente em uma resposta. Um pequeno sorriso aliviou seu
rosto e ele olhou para Aaron. — Acho que eu poderia.

Maddie sentiu seu coração despencar. Ela sabia que não tinha nenhuma
razão, nenhum direito de se importar com o que ele havia dito mas se importava, e
a profundidade de seu desapontamento com isso a assustava. Ela tinha um marido.
Não havia nenhuma razão para que Jesse não devesse ter uma esposa.

Aaron uivou. — Mas ela parece um sapo-boi! Soa como um, também!

Charles deu um tapinha no traseiro de Aaron. — Aaron Lawson, não fale


mal das pessoas.

— Mas é verdade! — Ele chegou mais perto, colocou a palma da mão contra
o rosto de Jesse e virou sua cabeça até que seus olhares puderam se encontrar. —
Você não vai se casar com ela, vai?

Jesse lambeu os lábios e piscou. — Ela faz um bom bolo esponja.

— O mesmo acontece com mamãe. Você poderia se casar com mamãe, se


você deseja se casar com alguém.

O olhar de Jesse entrou em confronto com o de Maddie. Seu rosto assumiu


um tom mais lindo que o do pôr do sol. — Ela já está casada — ele disse baixinho,
voltando sua atenção para a estrada, pedindo a Deus que Charles puxasse Aaron
para baixo e o fizesse ficar quieto.

— Mas você gosta dela o suficiente, não é? — Aaron perguntou.

— Eu gosto muito dela.

— Então você deveria se casar com ela.

— Uma mulher só pode ter um marido e Maddie já está casada com o seu
pai.

— Bem, isso não parece justo. E se uma mulher gosta de mais de um homem?

Jesse cerrou os maxilares. Sua cabeça estaria doendo no momento em que


chegassem à casa dos Turner se essa linha de questionamento continuasse. — É
preciso mais do que gostar de uma pessoa. Em geral, as pessoas se casam porque
elas se amam.

— Você não ama mamãe?

Jesse quase caiu fora do banco, girou o corpo, e olhou para Charles. — Ele é
seu filho. Por que diabos você não está explicando tudo isso a ele?

Lutando para conter um sorriso, Charles deu de ombros ligeiramente. —


Achei que você estava explicando isso bem o suficiente. — Ele puxou a camisa de
Aaron. — Vamos lá. Se sente.
— Mas ele não respondeu minha pergunta.

— Às vezes é melhor se as questões são deixadas sem resposta.

Aaron caiu sobre o banco e se contorceu até que ficou confortável. — Por
que isso?

— Porque então você pode passar a noite se perguntando qual é a resposta.

Isso não fazia sentido para Aaron. Se ele quisesse adivinhar não teria feito a
pergunta, para começar.

A viúva Parker, Maddie teve o prazer de descobrir, parecia exatamente como


um sapo-boi. Sua pele era esticada, seus olhos arregalados e seu pescoço era grosso
com camadas de rugas que balançavam com cada um de seus movimentos, não
importando o quão pequenos fossem. Ela também percebeu que era bondade o que
levou Jesse a pedir à mulher para dançar três vezes. Seu rosto se iluminou cada vez
que ele a acompanhou até o centro do celeiro. Conforme a viúva Parker balançava
ao som do violino, Maddie quase a podia imaginar como uma mulher jovem e
podia ver a beleza interior que tinha feito o Sr. Parker se casar com ela. Ela sentiu
seus sentimentos por Jesse aumentarem porque só ele arrumou tempo para dar à
idosa mulher solitária um momento de sua juventude.

Dentro do celeiro, lamparinas de querosene brilhavam criando uma


intimidade quente na estrutura cavernosa. Ficando mais à vontade, Maddie
atravessou o celeiro e contornou as crianças brincando com o novo lote de gatinhos.
Ela estava desapontada porque Charles não dançou com ela, tanto quanto Jesse
tinha dito que faria. E muitas vezes desejou, para seu desgosto, que parecesse um
sapo-boi para que Jesse a tirasse para dançar.

Jesse estudou o uísque no copo. A cor era perfeita. Ele quase podia ver os
olhos dela. Ele bebeu o líquido âmbar. Ele nunca tinha desfrutado de uma dança ou
de socializar tão pouco em toda a sua vida.

Ele tinha planejado dançar com Maddie pelo menos uma vez mas as
perguntas de Aaron no caminho até lá pôs fim a essas intenções. A última coisa
que queria era chamar a atenção para seus sentimentos por Maddie. Por mais que
ele odiasse, sua melhor tática era a ignorar.

— Poderia me dar um desses? — Charles perguntou quando veio ficar ao


lado de Jesse.

— Certamente. — Ele derramou um uísque para Charles, outro para si


mesmo e bebeu o seu antes do irmão ter levantado seu copo da mesa.

— Você deve dançar com Maddie — disse Charles.

— Dance você com ela.

Charles sorriu. — Eu dancei. Várias vezes, na verdade. As pessoas vão


começar a falar se seu próprio cunhado não dançar com ela.
— Então, deixe que falem. Nunca dei a mínima para o que as pessoas
pensam.

— Mas Maddie sim.

— E isso significa?

Charles tomou um pequeno gole. — Significa que você deve dançar com ela.

Jesse bateu o copo sobre a mesa. — Vou pensar sobre isso.

Ele se dirigiu para longe do celeiro, para onde Maddie estava. Ele não queria
que Charles soubesse que a qualquer momento poderia ter dito, exatamente, sobre
qual pedaço de palha sua esposa estava. Ele planejava deixar duas ou três danças
passarem e então, casualmente, a buscar como se a idéia de dançar com ela tivesse
acabado de lhe ocorrer. Era um bom plano e que teria funcionado se ele não tivesse
visto Thelma Jones agarrando o braço de Maddie, a puxando para o lado, e só
então ele mudou de direção.

~
— Você não acreditaria como fiquei chocada ao ouvir que Charles tinha se
casado.

Um rato. Thelma Jones lembrou Maddie de um rato com seus pequenos


olhos redondos. Ela se perguntou se era o tamanho de seus olhos que a fazia
enrugar seu nariz ou se era porque a mulher continuamente farejava um queijo.
— Eu estava visitando minha irmã em Houston e quando voltei, ouvi a
notícia. Eu quase desmaiei. Ele amava Alice ferozmente, você sabe. Nenhum de
nós, especialmente eu, esperávamos que ele se casasse novamente.

Maddie sorriu sem saber como responder às declarações entregues em uma


voz tão estridente.

— Porque, se eu tivesse sabido que Charles consideraria se casar de novo,


eu teria ido atrás dele, eu mesma.

Ela tentou imaginar Charles deitado na cama com os braços em torno da


mulher ossuda em pé diante dela. Ela balançou a cabeça com o pensamento.

— Alice era um anjo, tão doce e gentil. Nunca faria mal a ninguém. Sempre
cuidava das pessoas. Charles a amava muito.

— Ele ainda a ama.

A boca de Thelma caiu aberta. — Mas ele se casou com você.

— Porque ele ficou bêbado olhando em seus olhos.

Maddie saltou quando a voz de Jesse explodiu atrás dela.

— E agora, se você nos der licença, Senhorita Jones, eu gostaria de dançar


com a minha cunhada.
Jesse a levou para a pista de dança antes que ela pudesse protestar, não que
ela fosse. Maddie não conseguia se lembrar de colocar a mão na dele ou descansar
a outra em seu ombro. Ela não se lembrava de quando ele colocou a mão na sua
cintura ou exatamente quando eles tinham parado de andar e começaram a valsar,
mas ela estava deslizando pela pista de dança.

— Você não deve a essas pessoas quaisquer explicações, Maddie.

— Mas eu não quero que elas tenham a impressão errada.

— Você não deve se preocupar com o que elas pensam.

— Por que não?

— Porque as opiniões delas não são importantes. Você deve fazer as coisas
por causa de como a fazem se sentir e não pelo que as outras pessoas vão sentir ou
pensar.

Ela inclinou a cabeça. — É por isso que você dançou com a viúva Parker?
Pela forma como isso faz você se sentir?

Gemendo, ele fechou os olhos momentaneamente, não errando um só passo


conforme se movia ao ritmo da música. — Peço a ela para dançar porque é a única
mulher aqui que não acha que vou enfiar um anel de casamento em seu dedo. Nada
pior do que uma mulher que pensa que um convite para dançar é um pedido de
casamento.
— É por isso que você me pediu para dançar? Porque dançar com mulheres
casadas é seguro?

Seguro? Dançar com ela era tudo, menos seguro. Se ela percebesse como a
segurava mais perto do que o adequado, mais perto do que ele segurava qualquer
outra mulher...

— Charles achou que eu deveria lhe pedir para dançar.

Balançando a cabeça ligeiramente, ela desviou o olhar mas não antes dele
ver o brilho de dor refletido em seus olhos. — Será que ele lhe disse o quanto você
está linda hoje à noite?

Voltando o olhar para ele, ela balançou a cabeça.

— Bem, ele deveria ter dito.

— Será que ele lhe disse que você parece bonito?

Ele olhou para ela. Ela tinha aquele sorriso travesso familiar em seu rosto, o
que sempre o fez consciente de que ele realmente tinha um coração batendo dentro
do peito. — Não, ele não disse.

— Bem, ele deveria ter dito.

Jesse riu, apertou seu abraço nela e a deslizou por toda a pista de dança.
Era errado desfrutar de dançar com Jesse tanto quanto Maddie desfrutava.
Ela gostava da sensação de sua mão dentro da dele, a maneira como seu corpo se
movia e da forma como seu corpo respondia como se tivessem estado se movendo
juntos desde o início dos tempos.

De repente, ele a puxou para si e parou, a colocou de lado e passou por entre
a multidão de casais dançando. Maddie gritou quando viu Charles cair em uma
mesa distante, a mão batendo em uma lamparina. Ele caiu no chão. O fogo dentro
escapou para inflamar a palha.

Era vantajoso estar cercado por camponeses que conheciam os perigos


exatos de um incêndio no celeiro. Jesse foi o primeiro a chegar ao local. Ele
arrastou Charles longe das chamas lambendo a palha. Ele se inclinou e apertou a
cabeça contra o peito de Charles, aliviado por ouvir o barulho constante do coração
de seu irmão.

Em seguida, ele pegou um cobertor e tomou seu lugar entre os outros


homens que batiam no fogo. Quando as chamas finais morreram, ele retornou ao
corpo inerte, inconsciente de Charles e verificou por queimaduras. O único
ferimento visível era uma mancha vermelha em sua mão onde ele tinha tocado a
lamparina.

— Nunca soube que Charles não fosse capaz de manter seu licor.

Jesse olhou para Ray Turner, o pai de Billy. Foi seu que quase tinha pego
fogo.
— Estarei aqui amanhã para cuidar dos danos.

Ray balançou a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nenhum grande dano
foi feito.

— Eu vou estar aqui, de qualquer maneira. — Jesse olhou ao redor da


multidão de rostos ansiosos. — Maddie, pegue as crianças. — Ignorando a dor
maçante em seu lado, ele começou a levantar Charles.

— Quer tentar o encharcar com água? — perguntou Ray.

— Não — disse ele enquanto lutava para ficar em pé, embalando seu irmão
nos braços. Ele trabalhou seu caminho através da multidão de curiosos.

Maddie tinha procurado as meninas e as segurava pelas mãos, quando


percebeu que o incêndio havia começado. Ela encontrou Aaron no celeiro, os olhos
arregalados ao testemunhar o evento. Ela estava colocando as crianças na carroça
quando Jesse chegou até eles.

— Aaron, eu quero colocar a cabeça do seu pai em seu colo.

Aaron se posicionou e Jesse colocou o irmão na carroça com a cabeça no


colo do filho. Ele pegou um cobertor e o acomodou em volta de seu corpo. Taylor
colocou sua pequena mão no rosto de Charles. — Papai está machucado?

Jesse tocou seus cachos. — Ele vai ficar bem. — E rezou para que ele
ficasse. Se virando para Maddie, ele reconheceu o fogo da raiva em seus olhos,
igual ao que ela havia dirigido a ele muitas vezes para não saber o que significava.
— Você quer ir atrás com ele?

Sem dizer uma palavra, ela levantou as saias e foi para a frente da carroça.
Jesse correu a seguiu e a ajudou a subir no assento. Ele tinha a sensação de que ia
ser uma viagem muita longa para casa.

A lua cheia enfeitava o céu à noite, lançando um brilho prateado em todo o


campo. Os cavalos se arrastavam. Jesse podia sentir a tensão no corpo de Maddie
como uma mortalha. Ele desejou que pudesse pensar em uma explicação racional
além da verdade. Com as crianças na parte de trás, atentas a qualquer conversa, ele
sabia que havia pouco que pudesse dizer. — Tio Jesse?

Ele olhou por cima do ombro para Hannah banhada pelo luar. — O que, meu
anjo?

— Papai vai morrer?

Ele sentiu o coração bater contra retumbar contra o peito. Segurando as


rédeas com uma mão, ele esticou a outra, levantou a criança pequena e a colocou
em seu colo. Ele ouviu uma briga na parte de trás e olhou para para ver Taylor em
pé na carroça, sua boneca caída sobre o braço dela.

— Maddie, isto está assustado as crianças. Será que você pode segurar
Taylor?
Ele estava agradecido de que ela, sem hesitar, se virou e arrancou Taylor da
parte traseira da carroça.

Maddie abraçou a criança em seu colo, lembrando da primeira noite que ela
sentiu uma decepção tão aguçada por seu pai, um homem que ela nunca tinha
realmente conhecido mas que tinha admirado e amado mesmo assim. Quão difícil
deveria ser para estas crianças, cujo pai estava sempre com elas, saber que era
falível.

— Eu acho que o seu pai só bebeu uísque demais — Maddie falou como
forma de explicação.

Jesse ouviu o entendimento em sua voz e o leve sotaque tecido em torno de


suas palavras. Ela ainda estava com raiva, provavelmente fervendo. Não havia
como negar isso, e ainda assim, estava tentando não deixar as crianças saberem.
Sua admiração por ela cresceu.

Então ela começou a cantarolar uma melodia suave, logo dando voz às
palavras gentis e enchendo a noite com uma doce canção de ninar.

No momento em que chegaram em casa, as meninas tinham caído no sono.


Jesse parou a carroça diante da casa e moveu Hannah em seus braços. — Se você
levar Taylor, eu vou levar Hannah para a cama. Então eu vou voltar para Charles.

Maddie virou a cabeça ao redor, seu rosto definido em linhas duras,


implacáveis. — Deixe que durma aqui a noite toda. Isso servirá como castigo por
ele ter ficado bêbado, colocando a vida de todos em perigo e nos envergonhando
assim.

Com Taylor situada em um braço, ela saiu da carroça. Segurando Hannah,


Jesse desceu e caminhou até a parte de trás da carroça — Espere aqui com o seu
pai — ele instruiu para Aaron. — Eu vou estar de volta em um minuto.

Ele carregou Hannah para dentro e a deitou na cama dela. Maddie já estava
despindo Taylor. — Você vai despir Hannah?

Ela assentiu com a cabeça.

— Maddie?

Rapidamente, ela levantou a mão, seus dedos abertos como se ela não
quisesse nada se intrometendo em sua raiva. — É melhor você ver Aaron.

Não foi até que ele saiu do quarto que Maddie relaxou sua postura
endurecida e enterrou o rosto entre as mãos. Ela queria fazer a Charles o que ele
havia feito para Aaron quando atirou em Jesse. Ela o queria sacudir, colocar sua
mão contra suas costas e perguntar o que diabos ele estava pensando. Ela
estremeceu quando uma visão do que poderia ter acontecido correu através de sua
mente.

Preparar as garotas para a cama levou uma enorme quantidade de tempo por
seus dedos se recusarem a cooperar. Botões foram arrancados do vestido de
Hannah e rolaram pelo chão. Ela ficou surpresa porque não acordou as meninas
com suas tentativas desajeitadas para tirar suas roupas.

Eventualmente, ela conseguiu deslizar suas camisolas sobre suas cabeças.


Ela enfiou as colchas em torno de cada menina, esmaeceu a lamparina e saiu para o
corredor.

Ela entrou no quarto de Aaron. Ele estava deitado sobre a cama, com os
olhos fechados no sono, suas roupas ainda nele, uma bota no chão, a outra ainda
em seu pé. Ela retirou a segunda bota, cautelosamente colocou um cobertor sobre
ele e saiu do quarto.

Ela caminhou até seu quarto parando na porta e viu Jesse tirar a camisa de
Charles como se ele fosse uma criança exausta por passar o dia no circo. Ele
lançou a camisa sem olhar para trás e se moveu para o pé da cama.

— Seu maldito idiota — ele sussurrou asperamente enquanto tirava a bota


de Charles e a deixava cair no chão. Então ele olhou para cima e seus olhos
encontraram os dela.

— Você o deveria ter deixado na carroça — disse ela secamente antes de se


afastar.

Observando ela ir, Jesse passou os dedos pelo cabelo. Ele ouviu uma porta
bater no térreo. Ele certamente entenderia se a mulher nunca mais voltasse. Ele
terminou de despir seu irmão e arrumou a colcha a volta dele. Ficou com ele
alguns minutos observando, escutando sua respiração e achou que preferia
enfrentar uma gangue de bandidos do que Maddie neste momento, mas ele também
sabia que não a poderia deixar passar por isso e sofrer sozinha.

O luar peneirado pelas folhas nas árvores guiou seu caminho. O orvalho já
tinha se estabelecido pela noite e conduziu os passos dela, deixando uma trilha que
ele poderia facilmente seguir. Ele a encontrou no riacho, a lua criando um halo de
prata a sua volta. Ele sentou ao lado dela na rocha coberta de musgo.

Maddie não desviou sua atenção do fluxo do riacho, mas sentiu a presença
de Jesse como se ele a tivesse abraçado. Ela limpou as lágrimas dos olhos e
aconchegou mais o xale..

— Quando a família que me acolheu decidiu ir mais para o oeste, eu lutei


contra isso — disse Jesse em voz baixa. — Eles me amarraram na traseira da
carroça, me dando nenhuma escolha. Eu sabia que eles não tinham a intenção de
serem cruéis. Eles estavam apenas fazendo o que pensavam ser o melhor. Minha
última lembrança de Charles foi de ficar olhando para ele correndo atrás de mim
com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu jurei então que o iria encontrar, manter a
promessa que fiz a meu pai e cuidar dele.

— Ele não é mais uma criança — disse ela suavemente quando ela olhou
para ele.

— Não, mas ele ainda é meu irmão.

Ela balançou a cabeça. — Eu não o posso perdoar por isso. Ele ficou bêbado
depois que nos casamos, e ele me prometeu que não faria isso novamente. Ele
colocou a vida de todos em perigo esta noite. — Ela olhou para ele procurando por
entendimento. — Eu estava tão envergonhada por ter ele ficado bêbado e fazer
papel de bobo. Eu não sei como você o levou para fora de lá com tanta dignidade.

Com o polegar, ele removeu uma lágrima brilhando de sua bochecha. — Ele
não é um bêbado, Maddie.

— Eu estava lá. Eu o vi caindo no celeiro.

Jesse passou as mãos pelos cabelos. — Ele não é um bêbado. Droga. Droga
— ele sussurrou, como se qualquer luta que fosse lutado já estivesse perdida. —
Eu disse a ele para lhe dizer. Ele não tinha nenhum direito...

— Nenhum direito de quê?

— De se casar com você e não lhe dizer.

Ela observou as emoções em seu rosto como se ele estivesse reunindo


coragem para enfrentar um inimigo imbatível. Ele envolveu sua mão ao redor da
dela. — Ele está morrendo, Maddie.

Ela sentiu seu coração guinar, sua garganta dar um nó. Ela balançou a
cabeça e apertou sua mão como se pudesse afastar as palavras que ele tinha falado.
— Ele não pode estar morrendo. Ele parece bem. Ele está completamente bem. E
isso não aconteceu desde que nos casamos...
— Já aconteceu... Várias vezes. Ele recebe essas dores em sua cabeça.
Quando elas ficam muito ruins, ele desmaia. Você não percebeu o quão fraco é o
seu lado esquerdo? Quando ele está segurando você, não percebe que ele não tem
força?

— Eu apenas pensei que era porque ele não trabalhava tão duro como você e
porque não era tão forte.

Ele balançou a cabeça, as palavras entupindo sua garganta. — O médico


acha que há alguma coisa errada dentro de sua cabeça. — Seu belo rosto ficou
contorcido de dor pelo conhecimento. — As dores estão piorando, vindo com mais
frequência. Ele está provavelmente... provavelmente... — Ele enfiou as mãos pelos
cabelos. — Eu não sei quanto tempo ele tem.

Sua negação de suas palavras foi abafada por seus soluços. Ele a tomou nos
braços e a consolou, não usando palavras, apenas sons suaves de conforto.

— Ele não pode morrer. Eu não quero que ele morra — ela forçou para fora
através de sua dor.

Ele embalou seu rosto em suas mãos. — Ah Maddie, você o ama então? —
ele perguntou com voz rouca enquanto seus lábios se arrastavam sobre seus olhos,
suas bochechas, provando o sal de suas lágrimas.

Sua resposta veio através de seus lábios entreabertos, silenciosamente,


acolhedores.
Ele gemeu, deitando sua boca sobre a dela, a beijando profundamente,
completamente, com toda a paixão que ele tinha retido na primeira vez que a
beijou. Sua língua varreu as cavernas de seda, roubando os tesouros de sua boca: o
sabor, a sensação, a fome.

De seu cabelo, ele tirou os grampos, um por um, permitindo que as tranças
de mel caíssem sobre seus ombros, para derramar em suas mãos grandes quando
ele a deitou na margem coberta de musgo e esticou o corpo ao longo do dela.

Ele ergueu a boca da dela e olhou para o seu amado rosto, banhado pela luz
da lua cheia.

Seus olhos eram negros como o riacho, e Maddie pensou que preferia nadar
na lagoa de seus olhos do que em quaisquer águas. — Há tempos — ela disse
suavemente — que eu gostaria que tivesse sido você quem desse o lance sobre
mim em Fort Worth.

Balançando a cabeça, ele enterrou o rosto em seu cabelo abundante. — Não,


Maddie. Nunca deseje isso. Eu nunca teria ofertado tanto dinheiro. E se eu tivesse,
eu nunca teria tido a compaixão de a levar comigo.

Ele roçou os lábios ao longo de suas bochechas, seu queixo, a ponta de seu
nariz, os olhos fechados. Em seguida, ele lançou um suspiro trêmulo e aninhou o
rosto na curva de seu pescoço. Ele beijou o ponto sensível atrás da sua orelha,
sentindo os arrepios viajarem através de seu corpo. Lentamente, ele desabotoou a
gola alta de seu vestido, arrastando beijos ao longo de seu pescoço até que ele
pudesse mergulhar a língua na cavidade na base de sua garganta.
— Isso é errado — ela sussurrou. — Charles é meu marido.

Ele levantou a cabeça, os olhos acariciando seu rosto. — Eu sei disso. Eu


carrego esse pensamento para a minha cama toda noite e me enrosco nele e digo a
mim mesmo que eu não posso sentir por você o que eu sinto. Mas que se dane, eu
sinto.

Sua boca desceu para cobrir a dela, comunicando silenciosamente o que ele
não tinha direito de expressar em voz alta. Ele roçou os lábios nos dela, sua língua
mergulhando profundamente.

Choramingando, ela se arqueou contra ele, enterrando as mãos em seu


cabelo, o apertando contra ela, ousando tomar o que ele estava oferecendo. Pela
primeira vez, ela teve uma compreensão clara de tudo o que estava faltando em seu
casamento. Pressionada duramente contra sua coxa estava a evidência de seu
desejo e aquilo acendeu as chamas queimando dentro de seu coração. Ela agora
compreendia toda a extensão do seu sacrifício: o que sentia por este homem era o
que uma mulher deveria sentir pelo homem com quem se casasse. Ela queria
compartilhar suas alegrias, suas tristezas, o apoiar durante os maus momentos, o ter
a abraçando nos bons. E ela queria ter filhos, seus filhos.

Ela começou a lutar contra os sentimentos em seu coração, contra o abraço


que ela queria, os beijos que ela ansiava, o homem que amava. Ela empurrou seus
ombros até que ele se levantou o suficiente para que ela pudesse deslizar para o
lado dele.
— Maddie — disse ele com voz rouca.

Ela ficou de pé e correu. Ela o ouviu chamar o nome dela, o imaginou atado
à dor que igualmente perfurava seu próprio coração. E ela correu muito mais
rápido.
Charles lutou para não acordar. Além de seu desconforto habitual, uma dor
surda tinha se estabelecido na altura de sua testa. Ele tocou o galo endurecido e
estremeceu com a sensibilidade. Tentou se lembrar, incapaz de recordar muito da
noite no baile.

Ele cheirou o aroma de café. Apertando os olhos contra a luz do amanhecer


peneirada através das janelas, ele olhou ao redor do quarto. Vestida para o dia,
Maddie estava sentada na cama. Ele sentiu a queimadura em sua mão e fez uma
careta. — Eu fiz isso de novo, não foi?

Ela assentiu com a cabeça ligeiramente. Ele estudou sua expressão, seus
olhos se enchendo de conhecimento. Ele cerrou os dentes. — Jesse disse a você,
não foi?

— Sim.

— Maldito! Droga ele não tinha o direito! — Ele lutou para ficar em pé,
jogou as cobertas de cima dele para para o lado, para em seguida as jogar de volta
sobre os quadris. — Quem diabos me despiu?

— Jesse.
— Você poderia por favor me dar algumas roupas? Eu não posso estar
indignado quando estou totalmente nu.

Ela caminhou até a cômoda. Ela supôs que sua modéstia fosse o resultado de
seu acidente. Mesmo que ele a segurasse à noite, ela só estava familiarizada com
seu ombro e braços. A parte inferior de seu corpo nunca entrou em contato com a
dela, o que a fez perceber que era sem dúvida uma fonte de embaraço para ele ter
um corpo que nunca mais reagiria da maneira como o de Jesse reagiu ontem à noite.
Ela pegou algumas roupas, as levou para a cama, e se sentou as segurando
firmemente em seu colo. — Por que você não me disse?

— Por favor, posso ter as minhas roupas?

— Porque?

— Então eu posso me vestir e ir bater o inferno fora de meu irmão.

— Não, eu quis dizer, por que você não me contou?

— Maddie...

— Por que você não me disse?

Charles viu as lágrimas transbordando em seus olhos e sentiu sua raiva ir


embora. — Porque eu achei que se eu não dissesse as palavras, isso não iria
acontecer.
— Mas vai — ela murmurou, e ele observou o fluxo de lágrimas em seu
rosto.

Balançando a cabeça, ele a tomou em seus braços. — Não chore, Maddie.


Você não deveria se preocupar comigo.

Ela o abraçou e bateu seu punho em suas costas. — Bem, eu me preocupo.

— Você só deve se preocupar com as crianças. E talvez, com Jesse um


pouco.

— Eu amo as crianças.

— Eu sei que você ama. — Embalando seu rosto com as mãos, ele a levou
para longe de seu ombro, seus olhos segurando os dela. — Você não tem que ficar.
O nosso casamento não foi consumado. Uma anulação seria bastante fácil de se
obter. Você poderia ir para outro lugar, começar de novo. Eu cuidaria para que
você tivesse os meios para isso.

Fungando, ela balançou a cabeça. — Você estava lá quando eu precisei de


alguém. Você me ajudou, Charles, quando você nem sequer me conhecia. Como
posso não estar aqui para você quando eu vim a me importar tanto?

Ternamente, ele penteou os tufos de cabelo de seu rosto. — O prazer foi


meu por a tirar de Bev. O que eu tenho para lhe oferecer nos próximos meses,
provavelmente, não será nada agradável.
— Eu quero ficar, fazer o que puder para tornar isso mais fácil.

— Você tem alguma ideia do quanto muito mais fácil você já tornou isso?
Você ama meus filhos como se fossem seus próprios. Esse é o presente que eu
queria deixar para eles, Maddie.

— Você está com medo? — ela perguntou em voz baixa.

Ele lhe deu um sorriso suave. — Eu não tenho medo da morte, mas eu tenho
medo de Alice não estar lá esperando por mim, que eu não a vá ver, que ela não
esteja comigo. Eternidade sem a minha Alice certamente seria o inferno.

Suavemente, Maddie acariciou sua bochecha. Ele pegou a mão dela, virou a
palma para ele, e deu um beijo em seu centro. — Algum dia, Maddie, eu espero
que você encontre o tipo de amor que eu compartilhei com Alice. Não há maior
presente do que receber o amor em igual medida.

~
Jesse levou Meia-noite para a cocheira e colocou aveia na calha antes de
remover a sela do cavalo. — Jesse?

Ele não precisava ouvir a voz de Maddie para saber que ela estava atrás dele.
Ele depositou a sela sobre a grade da baia e se virou lentamente. Suas mãos
estavam à sua frente, os olhos cheios de tristeza.

— Houve muito dano feito ontem à noite no celeiro dos Turners? — ela
perguntou.
— Não, e eu cuidei do pouco que houve.

— Será que eles ainda acham que Charles estava bêbado?

— O assunto não veio. Eu não ofereci nenhuma informação. Eu não quero


Aaron ouvindo algo de um amigo quando ele deveria ouvir isso da família.

Ela assentiu com a cabeça, e ele percebeu que os nós dos dedos em suas
mãos estavam ficando brancos.

— Eu amo Charles. — Ela baixou o olhar perturbado ao chão


momentaneamente antes de o levar de volta para o seu. — Na noite passada, eu
estava compreensivelmente chateada. Eu precisava de conforto, e peguei o que
você ofereceu, dando pouca atenção às consequências ou o que você poderia ter
interpretado da minha reação e minhas palavras. Eu quero que você entenda que o
que aconteceu no riacho nunca vai acontecer novamente. Charles é meu marido, e
se o meu amor por ele não é tão forte como deveria ser, a minha lealdade a ele é
inabalável. Eu já lhe disse antes que eu o quero fazer feliz e isso não mudou.

Jesse a observou sair, seu semblante de coragem. Ela era um soldado


relutante convocado em uma batalha que não foi de sua escolha mas ela iria ficar
firme. Era estranho, mas ele a amava ainda mais pelas palavras que tinha acabado
de falar.

~
Charles passeava pela grama alta. Ele tinha deixado as crianças e Maddie no
riacho. Ela sugerira o passeio durante o café da manhã, o que tornou perfeitamente
claro que Jesse não era bem-vindo para se juntar a eles. A atitude dela o havia
confundido.

E Jesse não tinha esclarecido isso também. Quando ele argumentou a favor
de Jesse ir com eles, este tinha sido veementemente contra.

Charles tirou o chapéu e enxugou a testa. A brisa soprando era demasiada


quente para fazer muito bem, a menos que um homem estivesse suando e ele
imaginou que Jesse tinha uma boa quantidade de suor. As batidas de seu martelo
haviam ecoado de forma constante por toda a terra a maior parte da manhã.

— Como está indo? — ele perguntou enquanto se aproximava da cerca


inacabada.

Jesse bateu a placa no lugar. — Bem.

Charles apoiou os braços no topo do corrimão da cerca. — Você sabe, nos


tempos antigos, os imperadores geralmente matavam um mensageiro se ele era
portador de más notícias. Eu estou querendo saber se Maddie não está voltando a
má notícia que você contou ontem à noite contra você.

— Por que você acha isso?

— Vocês dois pareciam estar se dando bem, e agora é como se vocês


estivessem evitando um ao outro novamente.
Jesse desamarrou o lenço vermelho rodeando o pescoço, o deixou cair no
balde de água e o trouxe molhado de volta ao lugar. — Eu acho que é mais
provável que ela tenha percebido que não tem muito tempo com você e quer ter
mais.

Charles contemplou as nuvens rolando. — Talvez. Você já pensou em tomar


uma esposa?

Jesse bateu um prego na madeira. — Eu pensei sobre isso.

— E?

— E o que?

— Você pensa em ter uma esposa?

— Eu poderia.

— Quando?

— Como diabos eu vou saber? Eu não sou como você. Eu não tomarei uma
mulher apenas porque o vento mudou de direção.

— Você está pensando nisso até a morte, não é?


— Certamente, maldição! Eu não tenho nenhum desejo de me casar com
uma mulher e acordar na manhã seguinte com a paixão satisfeita para descobrir
que eu cometi um erro com o qual eu tenho que viver para o resto da minha vida.

Charles balançou a cabeça. — Você nunca vai se casar.

— Eu poderia.

— Não você não vai. — Ele bateu com a mão no corrimão. — É exatamente
por isso que eu me casei com Maddie.

Jesse franziu a testa. — Porque?

— Porque eu conheço você, e eu sei que você vai pensar sobre isso até que
seja um homem velho e meus filhos iriam crescer sem saber o que é ter uma
mulher ao redor.

— Sim, bem, você já parou para pensar que talvez você pode estar errado, e
eu poderia ter uma esposa? Então eu teria que viver com as duas mulheres sob o
mesmo teto.

— Tenho certeza de que Maddie seguiria em frente se você pedisse a ela.

Jesse bateu seu sétimo prego na mesma peça de madeira. Um tornado não
seria capaz de quebrar um pedaço de madeira desse poste. — Isso não seria justo.
Ela ama os seus filhos. Eles a adoram, também.
— Como você se sente sobre ela?

— Maddie?

Charles lutou contra o seu sorriso. — Não, a viúva Parker. Sim, Maddie.

Jesse deu de ombros. — Não tenho sentimentos sobre ela de uma maneira..
ou de outra. Ela é sua esposa...

Um grito de alarme ecoou das árvores distantes. Ambos os homens


desviaram sua atenção para Aaron enquanto ele corria pelo campo. — É mamãe!

Jesse saltou por cima da cerca e correu na direção das árvores. Charles
achou que era uma coisa boa Jesse não ter nenhum sentimento por Maddie,
levando em conta o quão rápido o homem correu e que ele não foi capaz de manter
o ritmo dos passos frenéticos de Jesse.

~
— Que diabos você está fazendo? — Jesse rugiu.

— Apenas me ponha pra baixo — Maddie implorou.

— Deveria ter visto ela trepando nessa árvore, tio Jesse. Ela estava muito
bem até que olhou para baixo.
Sem fôlego, Charles correu para a clareira. Jesse virou e apontou um dedo
acusador em direção ao topo da árvore de carvalho gigante. — Você vê a sua
esposa?

Charles apertou os olhos contra o sol filtrado através das folhas abundantes.
— O que ela está fazendo lá em cima?

— Ela estava pendurada na corda. — Aaron agarrou a corda atada


pendurada da árvore. — Nós íamos usá-la para nos balançar para o riacho, mas,
então, ela parou e ficou com medo.

Com um olhar de desgosto, Jesse balançou a cabeça. — Ela é sua esposa.


Você a traga para baixo.

— Você é mais forte do que eu. Por que você não vai lá e a entrega para
mim?

Maldizendo, Jesse caiu no chão e puxou as botas. Aaron se agachou ao lado


dele. — Quer que eu lhe diga quais ramos são os melhores para usar?

Jesse lhe deu um olhar gelado. — Eu sei como subir em uma árvore.

— Eu não sabia. Papai disse que você nasceu totalmente crescido, que você
nunca foi um menino. Eu não sabia que os homens totalmente crescidos subiam em
árvores.

Jesse olhou para Charles. — Eu não nasci totalmente crescido.


Charles colocou a mão no ombro de Aaron e o puxou de volta. — Eu não
quis dizer isso como um insulto. Eu simplesmente quis dizer que você sempre
tratou com responsabilidade as coisas.

Jesse desdobrou seu corpo e olhou para a mulher enrolada longitudinalmente


em torno de um galho grosso. Ele cruzou os braços sobre o peito. — Você sabe?
Eu não provo um bolo esponja há um bom tempo. Há alguém por aqui que vai me
fazer um?

— Eu irei!

— Eu!

Ele olhou para os dois rostos expectantes e toda a sua irritação se dissipou.
Ele pegou cada menina sob o queixo. — Assim que eu trouxer a mãe de vocês para
baixo.

Ele balançou para o menor ramo da árvore e então ele pegou o que estava
acima dele e se levantou. Ele não podia imaginar como Maddie tinha subido até lá
em cima da árvore. Ele sentiu a casca grossa raspar sob seus braços, mãos e pés.
Talvez em gratidão, ela colocaria pomada em seus cortes. Ele balançou o
pensamento para longe. Ela deixou a sua posição perfeitamente clara naquela
manhã. Agora era a sua vez de ser indiferente.

Mas uma vez que ele chegou ao galho e o montou, pressionando as costas
contra a casca da árvore e observou a figura de bruços, ele sabia que não poderia
ser indiferente a ela mais do que ele poderia fazer as águas do riacho pararem de
fluir.

Se curvando na cintura e estendendo a mão, ele colocou o braço entre seu


estômago plano e os ramos da árvore áspera e puxou ligeiramente. Ela não se
moveu.

— Você vai ter que soltar, Maddie.

— Eu não posso.

— Eu não vou deixar você cair.

— Basta se mover como se você fosse uma lagarta que rasteja para trás! —
Aaron gritou para as copas das árvores.

Jesse apertou seu abraço nela. — Confie em mim.

— Não é uma questão de confiança, seu sangrento idiota. É uma questão de


medo!

Ele suspirou. — Se o medo traz o seu sotaque à tona também, como é que eu
nunca sei se você está com raiva ou medo de mim?

— Eu nunca tive medo de você.


Ele gostaria de poder ver mais do que a parte de trás de sua cabeça e desejou
que pudesse olhar em seus olhos. — Nunca? — ele perguntou em voz baixa.

— Nunca de você, mas das coisas que você acredita.

— Eu não acredito em nada que a deveria assustar.

Ela deu um suspiro profundo. — Para você, tudo, todo mundo é bom ou
ruim. Você não entende que às vezes boas pessoas fazem coisas más, pessoas más
fazem coisas boas. — Forçando um olho aberto, ela olhou para ele. — Você já fez
algo ruim, algo que teve vergonha de fazer, algo que se você pudesse fazer de novo
faria diferente?

Por longos momentos, empoleirada no galho de árvore, ela o estudou. Ela


fechou os olhos. — Você não fez.

As palavras dela o fizeram se sentir como se sua pessoa possuísse


deficiências. Ele rastejou ao longo do ramo de árvore até que seus quadris estavam
pressionados contra os dela.

— Mantenha os olhos fechados e relaxe as mãos — disse ele calmamente.


Com o braço ainda abaixo de sua cintura, ele lentamente a levantou até que seus
corpos estavam pressionados juntos, suas costas contra seu peito nu, seu traseiro
entre suas coxas. Ela moveu seus quadris, e ele gemeu. — Não se contorça.

— Eu ia cair.
— Você não ia cair. Eu não vou deixar você cair. Agora nós vamos balançar
sua perna para a esquerda. — Ele enfiou a mão debaixo de sua coxa, guiando sua
perna por cima do ramo, movendo os quadris até o lado dela estar pressionado
contra seu peito. — Agora embrulhe as mãos em volta da minha mão.

Ela o fez, e ele fechou a mão em torno da dela, segurando firmemente,

— Você vai ficar no meu pé e então eu a vou abaixar para Charles. Você
pode ter uma pequena queda, mas isso deve amenizar a maior parte do impacto.

Deslizando o outro braço debaixo de seus braços, ele a tirou do ramo até que
seu pé descalço tocou o dele.

Maddie sentiu o calcanhar de seu pé esfregar toda a parte superior do seu pé,
criando uma sensação mais íntima do que quando a pressionou contra o peito. Uma
imagem deste homem na cama, seu pé buscando o seu, lhe veio à mente. Ela
fechou os olhos. Ela nunca procurou os pés descalços de Charles no meio da noite.

Seu pé se afastou do dele enquanto ele tirou a mão de debaixo de seus braços
e a baixou mais. Ela balançou no ar.

— Vamos lá, Maddie. Eu vou te pegar! — Charles gritou.

Ela respirou fundo, seu corpo ficou tenso, e gritou quando os dedos de Jesse
deslizaram para longe dos dela. Ela sentiu os braços de Charles irem ao redor dela
antes de que ambos caíssem ao chão.
Charles riu quando ela rolou de cima dele. — Você pode abrir os olhos
agora.

Ela fez e sorriu para os rostos preocupados em torno dela.

— O que levou você a subir em uma árvore, se você estava com medo do
alto? — perguntou Charles.

— Eu não fazia idéia que ficaria com medo. — Ela ficou de pé e olhou para
a árvore. — Certifique-se de que a corda esteja amarrada bem apertada!

— Sim, senhora!

Jesse escorregou para mais longe no galho de árvore e firmou a corda. Os


nós dela poderiam ter se mantido, mas ele não tinha vontade de subir de volta
nesta árvore maldita. No momento em que ele refazia o caminho para o chão, a
família estava reunida perto da margem do riacho.

Aaron foi até o galho mais baixo que se espalhava sobre a água, agarrou a
corda, e com uma pequena agitação, se balançou sobre as águas do riacho. Ele
soltou a corda, gritou, e caiu na água com um poderoso respingo. Jesse sorriu
enquanto Charles subia no ramo.

Taylor deixou o grupo e veio para ficar diante dele. — Faço bolo Ponja?

Ele abaixou seu corpo. — Talvez mais tarde. Agora, por que você não vai
aproveitar o riacho?
Um sorriso de alegria iluminou seu rosto antes que ela corresse de volta para
a margem. Pegando suas botas, Jesse desdobrou o corpo e começou a caminhar de
volta ao trabalhos Ele ouviu o grito de Maddie de prazer, seguido de um “splash”
distante. Apressando o passo, ele se obrigou a manter o olhar focado no horizonte
distante, manter seus pés se movendo em direção a uma cerca que não seria
concluída até que o peso dos anos dobrasse suas costas.

O suor escorria por sua têmpora. O pensamento das águas frescas do riacho
o tentou. O riacho era longo e sinuoso com outros lugares projetados pela natureza
para a natação. Talvez ele trabalhasse na cerca um pouco mais e daí fosse procurar
um novo lugar para nadar.

Ele ouviu o sussurro do vento e sorriu. Quase soou como Maddie chamando
seu nome. Então ele ouviu o seu nome de forma mais clara, não deixando nenhuma
dúvida de que era a voz dela atrás dele.

Ele se virou para a ver se aproximando, sem fôlego e molhada até os ossos
pelas águas do riacho.

— Eu não falei obrigada por você me tirar da árvore.

Ele deu de ombros. — Valeu a pena o tempo gasto. As meninas prometeram


me fazer um bolo.

— Nós o faremos depois do jantar.


— Eu aprecio isso. — Ele apontou o polegar em direção à área atrás dele. —
É melhor voltar para a minha cerca.

Ele deu um passo atrás. Ela deu um passo para a frente.

— Não vá — disse ela baixinho. — Eu estava errada por pensar que


poderíamos ter um piquenique em família sem você.

Ele não tinha certeza se foi o jeito que ela estava olhando para ele ou ele
estar em pé à sua frente com pés descalços que o fez se sentir tão vulnerável
naquele momento. Ele desejou que tivesse gasto um tempo para colocar as botas
para que ele soubesse. Ele deu outro passo para trás. — Eu realmente preciso
trabalhar um pouco na minha cerca.

Ela deu dois passos para a frente. — Por favor, fique. Charles e as crianças
querem você aqui.

— E o que você quer?

— Eu não quero passar o dia subindo em árvores apenas para ter a sua
companhia por um tempo.

— Como diabos você chegou lá em cima, afinal?

Ela sorriu. — Eu não sei. Você vai voltar?


Ele deu um suspiro profundo. — Suponho que sim. Não quero passar meu
dia subindo em árvores, de qualquer maneira.

Eles começaram a caminhar de volta para o riacho. Ele se abaixou, puxou


uma flor amarela, e estendeu para ela.

— Para que isso? — ela perguntou enquanto pegava.

— Para fazer Charles feliz.

Eles se aproximaram da margem do riacho e Jesse se viu rodeado por


pequenos diabretes o instando em direção à corda. Ele deixou cair as botas, subiu
para o ramo baixo da árvore e girou sobre o riacho. Ele soltou a corda e caiu na
água morna.

Charles passou o braço em volta da cintura de Maddie. — Obrigado por o


convidar a ficar.

— Eu quero que você seja feliz, e eu poderia dizer que você não estava sem
que ele estivesse aqui.

— Você sempre vai compartilhar as crianças com ele, não vai? Ele estaria
perdido sem elas.

— Claro que eu vou.


— Bom. Agora, vamos ver se não podemos fazer deste o melhor piquenique
que já tivemos.

Pelo restante do dia, o riso deles ecoou ao longo do riacho.


Incapaz de dormir, Maddie percorria a casa, a lamparina em sua mão
iluminando o caminho. Charles tinha ido dormir, mas o sono não veio para ela tão
facilmente. Permaneceu em seus braços até que ouviu a respiração ritmada, se
apoiou sobre um cotovelo para se levantar e o olhou, sua silhueta delineada pela
noite. Ela notou coisas agora que lhe haviam escapado antes: a magreza dele, o
profundo sulco entre as sobrancelhas que permaneceu mesmo depois de ter
adormecido e o abraço que não era tão forte como tinha sido uma vez.

Ela viu a luz pálida escapando para o corredor por debaixo da porta do
estúdio. Levantando a luz, ela o percorreu tranquilamente e pressionou o ouvido
contra a porta. Ela não podia ouvir qualquer som. Preparada para travar uma guerra
se ela descobrisse que Silas havia retornado, virou a maçaneta, abriu a porta e
olhou para dentro.

Jesse estava debruçado sobre papéis e livros espalhados pela mesa. Ele fez
anotações, pegou uma folha de papel, a estudou, deixou cair e escreveu indicações.
Seu cabelo estava desgrenhado e ela podia ver os sulcos que seus dedos frustrados
tinham feito nos fios grossos. Era muito mais de meia-noite e lhe ocorreu que ele
nunca ia dormir quando eles o faziam, ocupado com algum trabalho e que, ao
amanhecer, já estava acordado executando tarefas, muito antes de qualquer outra
pessoa.
Fechando os olhos, ele abaixou a cabeça, suspirou profundamente e esfregou
a parte de trás do seu pescoço. Ele rolou a cabeça de um lado para o outro e para
trás.

No momento em que abriu os olhos, ela caminhou até o centro da sala. —


Eu pensei que você tivesse dito que Charles cuidava dos livros.

Jogando o lápis para baixo, ele forçou um sorriso cansado. — Eu acho que é
hora de você aprender a verdade. Texas Rangers mentem.

— Você faz tudo isso. — Ela afirmou, fato que ele não negou.

— Parece mais importante para Charles passar o tempo que lhe resta com as
crianças. — Seus olhos nos dela. — E sua esposa.

Ela sentiu o calor lavar seu rosto. Aquela verdade estava sempre entre eles.
Ela era casada com seu irmão.

— Você não parece muito satisfeito com os números que estava escrevendo.

Ele deu um suspiro profundo, esfregando as mãos sobre o rosto, como se


pudesse apagar as marcas gravadas. — Nós precisamos do gado.

A culpa prorrompeu, uma raiva irracional crescendo nela. — E eu suponho


que você está me culpando...
Jesse levantou uma mão. Se ele não estivesse tão cansado, a deixaria
desabafar sua raiva apenas para que ele pudesse apreciar o leve sotaque que
induzia. — Eu não estou culpando ninguém. Eu estou apenas afirmando a verdade.
Você vê como algumas diligências param por aqui. O número delas está
diminuindo . As pessoas estão usando os trens.

Caminhando para a janela, ela olhou para a noite. — Talvez você possa me
levar de volta para Fort Worth. Talvez eles dêem de volta o seu dinheiro.

— Eu duvido que eles nos paguem o que você vale a pena.

Ela se virou. — E quanto seria isso, Sr. Lawson?

— Um inferno de mais de mil dólares, Sra. Lawson.

Ela piscou as lágrimas. Ela esperava que ele depreciasse seu valor, e não que
o melhorasse.

Ele a estudou, seu olhar negro penetrante. — Você sabe quem matou seu pai
e seu irmão?

— Que diferença isso faz? — ela perguntou.

Ele baixou a cabeça em suas mãos esfregando os olhos, controlando a raiva.


O medo tinha acendido seus olhos e jogado suas defesas no lugar. Ela conservava o
seu passado da mesma maneira que uma mãe loba protegia seus filhotes. Ele pegou
o lápis e o jogou de volta para baixo. — Eu estou pensando seriamente em virar
caçador de recompensas. Assim, eu o poderia fazer por algo pessoal, pegar quem
lhe dá pesadelos e o prender para que você não esteja mais com medo.

— Caçador de recompensas?

Ele se encolheu quando o nojo marcou seu rosto. — Eu não vejo um monte
de escolhas. Texas Rangers não fazem um inferno de muito dinheiro. Levei anos
para economizar dinheiro suficiente para poder começar um rebanho. Eu não tenho
anos. Acho que se eu visar dois ou três alvos com boas recompensas neles...

— Alvos? Parece que você está caçando animais.

— Eles são animais. Eles são assassinos...

— Você matou!

— Mas eu nunca assassinei.

— E há uma diferença?

— Sim, senhora, há. E eu acho que você sabe muito bem qual é.

— Eu não vou ficar em uma casa que é mantida com o dinheiro de sangue.

— E o que diabos você estará fazendo, Maddie? Você vai ter três filhos
pendurados em suas saias onde quer que vá. Você aprendeu alguma habilidade
desde que deixou Fort Worth?
Ela andou até o outro lado da sala, colocou as palmas das mãos sobre a mesa
e se inclinou em direção a ele. — Sim, de fato, eu aprendi. Eu vou correr para uma
estalagem em outro lugar.

— Você não está me ouvindo. Estalagens estão fechando por todo o estado.
Estalagens em cidades maiores estão se convertendo em hotéis, se há algo na
cidade para atrair as pessoas. Caso contrário, eles estão fechando, também.

— Então eu vou encontrar um hotel.

Ele revirou os olhos. — E como diabos você vai fazer isso?

— Eu vou pensar em alguma coisa.

— Se você acha que talvez vá encontrar algum outro homem morrendo tão
desesperado como Charles...

A rachadura da palma de Maddie batendo no rosto de Jesse ecoou por toda a


sala. — Seu sangrento idiota.

Ela saiu da sala. Ele baixou a cabeça em suas mãos. Só um homem


desesperado se casaria com ela. Um homem perdidamente apaixonado.

A leve batida na porta agitou Maddie de um sono inquieto. Saindo do abraço


de Charles ela caminhou descalça pelo chão de madeira, abriu a porta um pouco, e
olhou para o corredor sombrio.
— Vista-se. Há algo que eu quero te mostrar — Jesse sussurrou.

— Vá para o inferno.

— Maddie, por favor. — Sua voz ecoou com um desespero que ela nunca
tinha ouvido nele antes.

Ela apertou os olhos. — O sol nem nasceu ainda.

— É por isso que temos que nos apressar. Me encontre na cozinha.

Jesse partiu antes que ela pudesse emitir quaisquer novos protestos. Ela
fechou a porta e olhou para o marido dormindo e se perguntou como ele se sentiria
se soubesse que sua esposa estava se esgueirando com seu irmão nas primeiras
horas da manhã.

Jesse estava tomando um gole de café quando Maddie entrou na cozinha. Na


penumbra, ele ainda podia ver o inchaço em volta dos olhos, a desorientação que
muitas vezes marcava o início de um novo dia.

— Quer um café antes de encabeçar lá fora? — ele perguntou.

— Encabeçar lá fora? Para onde estamos indo?

— Você vai ver. Quer café?


Ela balançou a cabeça.

— Então vamos. — Ele pousou o copo, abriu a porta e esperou que ela
passasse. Relutantemente ela fez isso. Fechando a porta atrás deles, Jesse andou
pela varanda de trás e pulou para o chão. — Vamos. Temos que nos apressar. —
Com certeiros passos largos, ele se dirigiu para a floresta.

Maddie correu atrás dele. Quando o alcançou, ele estendeu o braço para trás,
envolveu sua mão ao redor da dela e a guiou através da floresta escura.

Seus passos eram propositais, intencionais. Era óbvio que ele estava
familiarizado com o caminho na escuridão.

Jesse parou e Maddie se viu numa clareira. O que quer que estivesse diante
dela era invisível, ainda envolto nas sombras da noite. Se agachando, ele a puxou
para baixo ao lado dele, deslizou o braço por trás dela, apertando a mão na cintura
dela, se inclinando contra seu quadril, a estabilizando. E por um longo tempo eles
esperaram em silêncio, com os olhos treinados no horizonte distante.

Maddie viu os primeiros dedos do sol tocando timidamente ao longo do


horizonte. Eles estenderam a mão e pintaram o céu em lavanda, laranja, uma cor de
rosa arrebatadora. Uma obra-prima foi criada nos céus para que revelassem a obra-
prima sobre a terra: o vale, exuberantemente verde; o riacho, ainda na luz da
manhã, refletindo a beleza do céu.

— É lindo — ela sussurrou maravilhada, não querendo perturbar a Mãe


Natureza em sua glória.
— No meio de toda esta floresta, Maddie, é como se Deus apenas jogasse
sua mão forte para baixo, — ele fez um movimento de varredura com a mão em
concha — e dissesse, “Aqui, você deve criar gado.”

Ela estudou o perfil do homem que ela veio a amar e, pela primeira vez, não
sentiu culpa pelos sentimentos que nutria por Jesse. Seu amor por ele era tão bonito
como o nascer do sol. E o seu sonho. Ela queria que ele tivesse seu sonho.

— Quando você irá embora? — ela perguntou em voz baixa, sua voz
transmitindo a compreensão e aceitação da sua decisão, seu coração se expandindo
para além dos seus limites, porque era importante para ele que lhe desse tanto. Ela
viu sua garganta trabalhar quando ele engoliu em seco.

— No fim de semana.

Ela não podia fazer mais do que assentir e rezar para que a realização do
sonho dele não significasse a morte dela.

— Um par de nossos vizinhos me deve alguns favores. Vou tomar


providências para que eles chequem você de vez em quando. Se algo precisar ser
feito, você deve deixar para eles fazerem. Eu vou cuidar de tudo antes de ir para
que tudo o que você e Charles tenham que fazer seja apenas pequenas coisas. E eu
vou deixar você saber sempre onde eu estou para que seja capaz de entrar em
contato comigo se precisar de mim.

O pensamento não dito pendurou entre eles: se Charles morrer.


— Quanto tempo você vai ficar fora?

— Esperemos que não por muito tempo. Vou atrás daqueles com as maiores
recompensas.

Daqueles. Ele não se referia a eles como homens, e ela percebeu que ele não
queria pensar neles como homens, que o pensamento dele estar pensando assim era
tão desagradável para ele como era para ela. E no entanto, sonhos exigiam
sacrifícios. Mesmo o mais magnífico dos sonhos, a pessoa tinha que estar disposta
a se dar, a fim de o possuir.

— Aqueles com as maiores recompensas são os mais perigosos, não são? —


Ela não conseguiu que sua voz parasse de tremer. Ele se recusou a lhe olhar ou
responder. — Eu não poderia suportar se eu perdesse você e Charles. Eu cheguei a
amar vocês tanto.

Ele se virou então, seu olhar se aprofundando no dela, ela se perguntou se


ele podia ver através de seus olhos, de seu coração e saber que o amor que ela
mantinha por ele era tão incrivelmente diferente, muito mais profundo do que o
amor que ela mantinha por Charles.

— Eu vou ter cuidado. E eu vou voltar. Meus sonhos estão aqui, Maddie.
Tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu já procurei... Eu encontrei aqui mesmo.
Ela pensou que ele a iria beijar, de tão intenso que era seu olhar, tanta
saudade estava espelhada em seus olhos, mas ele não o fez. Em vez disso a puxou
com mais segurança a seu lado e olhou para a terra novamente.

Eles permaneceram assim por longos momentos, pensando em sonhos e o


preço que cada um poderia ser convidado a pagar para os alcançar.

~
A diligência parou no crepúsculo. Jesse se esticou acima do apoio para os
pés e ajudou o cocheiro a pegar as bagagens que iriam abaixo. Maddie se
aproximou dos passageiros descendo ao lado da diligência. Uma mulher roliça
acariciou seus seios generosos com um lenço de renda.

— Como está quente — disse ela.

Um homem que estava a seu lado riu. — Você está sempre quente, Lilly.

Ela apertou seu braço com força suficiente para o mandar cambaleando para
trás. — Pelo que você deve sempre ser grato, Thomas. — Sorrindo brilhantemente,
ela se virou para seu público. — Ele está, é claro, se referindo ao fato de eu ter
estado exposta ao sol na diligência. — E seus olhos se arregalaram. Com um
floreio, ela correu para o carro e prendeu suas garras pintadas em volta da coxa de
Jesse. — Senhor, senhor, eu lhe imploro. Essa é a minha bagagem. Por favor, tome
cuidado com ela.

Jesse deu um meio sorriso. — Sim, senhora.


Sua mão viajou lentamente para cima e para baixo de sua coxa. — Meu
santo, você não é mesmo um garoto da cidade, não é?

— Não, minha senhora, mas eu acho que seus olhos poderiam lhe ter dito
isso tão facilmente quanto sua mão.

Timidamente, ela olhou para ele através de seus cílios grossos. — Mas não
teria sido tão divertido, não é?

Maddie com força limpou a garganta. Lilly gritou e pulou para trás, com a
mão na garganta. Maddie produziu seu mais doce sorriso. — Por favor, me permita
a familiarizar com a nossa casa e mostrar onde você pode se refrescar depois de
tanto tempo nesta viagem quente.

Lilly lançou um olhar por cima do ombro para o homem que agora estava
rindo. — Deveria me ter dito que era casado. Eu não mexo com homens casados.
— Ela cuspiu fora as palavras e se juntou aos outros passageiros, enquanto Maddie
os conduzia para dentro da casa.

Maddie colocou o nome de todos no registro de hóspedes e lhes mostrou


seus respectivos quartos.

~
Aaron jogou a vara que estava a uma curta distância dele. Ranger avançou,
rosnou para o objeto ofensivo, estudou, latiu, o pegou na boca e correu de volta
para o lado do menino.
— Bom cachorro. — Ele bateu na cabeça do filhote e jogou a vara para que
ele pegasse um pouco mais longe do que tinha feito antes. Ranger efetuou a mesma
rotina antes de trazer a vara de volta para Aaron.

— Cão esperto que você tem aí — disse uma voz profunda.

Aaron virou sobre os pés traseiros e olhou para o homem bem vestido. Ele
era quase tão alto quanto o tio Jesse. — Sim senhor.

O homem se ajoelhou e passou a mão rapidamente no lado de Ranger. —


Qual o nome dele?

— Ranger.

O homem sorriu. — Como você decidiu sobre um nome como esse?

— Eu lhe dei esse nome pelo meu tio Jesse. Ele era um Texas Ranger.

— Onde está seu tio agora?

— Ajudando o cocheiro, eu imagino.

O homem pegou a vara de Aaron e a jogou. — Então ele seria o homem alto
com o cabelo preto.

— Sim senhor, é ele.


— E qual é o seu nome?

— Aaron.

O homem estendeu a mão. — Eu sou Paul.

Aaron limpou a pequena garganta. — Supostamente não chamamos os


hóspedes pelo seu primeiro nome.

O sorriso do homem aumentou. — Somner. Paul Somner.

Aaron enfiou a mão dentro da que foi oferecida a ele. — É um prazer o


conhecer, Sr. Somner.

Maddie saiu para a varanda. — Aaron, eu preciso de você e Hannah para


reunir alguns gravetos.

— Sim, senhora. — Ele olhou para Paul Somner. — Tenho que fazer o que
mamãe diz. Papai realmente falou sobre isso. — Ele ficou de pé e começou a
correr. — Vamos, Ranger!

Maddie saiu da varanda e se aproximou do homem que estava no quintal.


Ele usava um colete de brocado e uma jaqueta sob medida. Ela achava que o vento
não se atreveria a golpear seu cabelo loiro. Seu rosto era o de um homem jovem,
mas algo em seus olhos azul-acinzentados falavam de experiência. — Eu o posso
ajudar com alguma coisa, Sr. Somner?
— Não, Sra. Lawson, eu estava apenas olhando ao redor. Depois de estar
enfiado naquela diligência pela maior parte do dia, eu senti a necessidade de esticar
as pernas. É um bom rapaz que você tem ai.

— Nós estamos orgulhosos dele.

Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Se você me desculpar por parecer tão
indiscreto reparei que dificilmente seja velha o suficiente para ter um menino
dessa idade.

Maddie sentiu o calor aquecer seu rosto. — Meu marido foi casado antes.

Um escarlate profundo corou as bochechas lisas. — Eu pareço ter tropeçado


em mim com esse elogio. Eu sinto muito pela perda do seu marido. Vocês estão
casados há muito tempo?

— A apenas alguns meses.

Ele concedeu-lhe um sorriso gracioso. — Meus parabéns a você, então.

— Obrigada.

Seu sorriso se alargou, criando uma pequena covinha na bochecha esquerda.


— Estou prestes a me casar. Minha noiva está esperando por minha volta no leste.
Eu tinha alguns negócios a tratar aqui e os queria tirar do caminho antes do
casamento.
Sorrindo, ela inclinou a cabeça. — Meus parabéns a você, então.

— Obrigado. Eu estava pensando em a trazer aqui na nossa viagem de lua de


mel mas cada cidade que eu visitei neste estado é tão diferente da anterior que
quase não sei do que ela mais gostaria. Onde você acha que ela pode gostar de
passar algum tempo?

Maddie cruzou as mãos. — Eu não sei. Eu gosto da área ao redor daqui, as


colinas, a vegetação.

— Você cresceu por aqui?

— Não.

Ele esperou como se esperasse esclarecimentos. Quando nenhum veio, ele


estudou suas botas. — Visitei recentemente Galveston. — Ele levantou os olhos
para ela. — Você acha que ela gostaria disso?

Ela balançou a cabeça. — Eu realmente não sei. Eu nunca estive lá.

Ele sorriu. — Gosto de ouvir o barulho da onda na costa. Acho que deixaria
memórias agradáveis.

— Parece adorável.
— Talvez mas ela passou algum tempo no Oceano Atlântico. Eu suponho
que o Golfo do México não é muito diferente. E sobre Fort Worth ou Dallas? Há
alguma coisa de interessante lá?

— Há alguns teatros finos.

— Qual deles você recomendaria?

Maddie riu levemente. — Eu nunca estive em algum deles.

— Realmente? Você parece uma senhora culta. Eu pensei que certamente


você tinha crescido na alta sociedade.

Ela balançou a cabeça. — Não, minha vida tem sido sempre bastante
simples e clara.

— Não há aventuras, nenhuma emoção?

— Eu tenho toda a emoção de que preciso aqui com três crianças.

— Mas antes de você se casar, nunca fez algo mais do que isso?

Ela sorriu suavemente. — Não, Sr. Somner, durante o tempo de que me


lembro, a vida que tenho aqui é o que eu sempre quis. Agora, se você me der
licença, eu preciso ter uma refeição preparada para você e para os outros hóspedes.

Maddie entrou na cozinha, levantou a tampa na panela, e cheirou o guisado.


— Eles estão com fome — disse Jesse enquanto ele e Charles entravam na
cozinha. — Eles já se estão sentando à mesa.

— Está tudo pronto. Nós só precisamos levar as travessas e colocar lá —


disse Maddie.

— Tenha cuidado quando você estiver servindo a Senhorita Lilly para não
derramar nada desse guisado n ela — Jesse brincou.

Inclinando o nariz no ar, ela começou a despejar o cozido na tigela. — O


pensamento nunca passou pela minha cabeça.

Jesse riu. — Você não é boa em contar mentiras, Maddie.

— Ela é uma petulante descarada. Você não acha isso, Charles?

Charles pegou a jarra de água. — O que eu acho é que será melhor


começarmos a servi-los. — Ele se dirigiu para a sala de jantar.

Maddie terminou de preencher a tigela grande com guisado, a pegou e levou


para fora da cozinha.

Lilly estava mais uma vez enxugando o peito, chamando a atenção de cada
um para seus generosos dotes. Maddie ficou repugnada por ver a platéia extasiada
com a mulher incluindo seu marido e seu cunhado. Jesse e Charles trocaram
sorrisos adolescentes, e ela estava tentada a deixar a tarefa de cuidar dos hóspedes
em suas mãos.

Lilly se inclinou sobre a mesa. — Sr. Somner?

Sentado em frente a ela, Paul Somner sorriu. — Paul. Por favor, me chame
de Paul. Viajar de diligência cria uma intimidade entre os passageiros que a
viagem de trem não faz.

Ela lhe lançou um sorriso. — E você me parece ser um homem que prefere a
intimidade.

Ele corou claramente até as raízes de seu cabelo loiro.

— Eu acredito que você mencionou que vive em Washington. Você é um


político, por acaso?

— Não, senhora.

— Então, o que um homem bonito como você faz em Washington para


ganhar a vida?

— Eu sou um detetive da Agência Pinkerton.

O som de uma tigela caindo no chão e quebrando em mil pedaços ecoou por
toda a sala. Charles deixou a água espirrar sobre a mesa enquanto o copo que
estava segurando caía, antes que corresse para se juntar a Jesse e Maddie.
Ela estava de joelhos, lutando contra as lágrimas, seus dedos trêmulos
pegando os restos quebrados. — Oh, eu sinto muito.

Jesse colocou a mão no ombro dela. — Não importa.

— Oh, mas importa. Era tão bonito. Eu fui descuidada. Era tão bonito.
Importado da Inglaterra. — Seu olhar permaneceu paralisado no chão, no ensopado
salpicado, e nos pedaços quebrados da porcelana.

— Eu sei a verdade, Maddie — Jesse disse calmamente.

Ela ergueu a cabeça. Jesse estava totalmente despreparado para o puro terror
refletido em seus olhos. Gentilmente, ele lhe apertou o ombro. — Eu sei que você
nunca esteve apaixonada pelo meu guisado e que você estava tentando poupar
essas pessoas de o comer, mas eu temo ter feito o suficiente para durar até dez
acidentes.

Ela cobriu a boca com a mão trêmula quando o terror recuou e o profundo
alívio tomou conta dela. As lágrimas correram em seu rosto enquanto tentava rir
mas os sons que saíram se assemelhavam mais a soluços. Jesse se inclinou para
trás. Charles colocou os braços em volta dela e a ajudo a a se levantar. — Vamos,
Maddie. Temos outras tigelas. Eu jamais gostei dessa, de qualquer maneira.

— Mentiroso — ela sussurrou enquanto ele a levava para a cozinha.


Jesse pegou várias peças da tigela quebrada antes de torcer o corpo
ligeiramente e olhar para a mesa. Os convidados tinham voltado a sua atenção para
brincadeiras divertidas. Todos os convidados, exceto Paul Somner.

Somner estava sentado, o cotovelo na mesa, com o queixo apoiado na mão,


sua expressão pensativa. Seu olhar fixo em Jesse e em seguida, como se alguma
questão profunda houvesse sido respondida, ele se voltou para os que estavam
sentados à sua frente.

~
Fechando a porta atrás dela, Maddie pisou na varanda dos fundos. Limpar a
sala de jantar e cozinha depois do jantar pareceu demorar uma eternidade. Ela tinha
sido incapaz de fazer suas mãos funcionarem. Sua mente estava absorvida com
pensamentos do homem da Agência Pinkerton, tentando lembrar exatamente do
que ele lhe perguntou mais cedo, que resposta ela tinha dado. O homem
provavelmente nem sequer estava noivo, simplesmente havia usado o artifício para
determinar com que partes do estado estava familiarizada.

Ela sabia que várias empresas de diligência levavam os roubos contra seus
cocheiros como uma afronta pessoal. Ela caminhou até o parapeito, apertou suas
mãos nele e respirou fundo. Uma pessoa sempre pagava quando injuriava outros.
De uma forma ou de outra, elas sempre pagavam.

Paul Somner saiu das sombras. — Sra. Lawson.

Maddie virou-se, lutando para acalmar seu coração errático, disfarçar o


medo que sentia. — Sr. Somner.
— Eu não a queria assustar.

Ela voltou seu olhar para o quintal. — Você não assustou.

— Eu estava indo pedir desculpas por antes, quando minha revelação sobre
ser um detetive da Pinkerton a pareceu incomodar.

— Eu lhe asseguro, isso não aconteceu. Eu estava tão absorta em observar a


Senhorita Lilly que eu esqueci sobre a tigela. Ela escorregou. Isso é tudo.

— Ah, sim, a Senhorita Lilly. Ela é suficiente para distrair alguém. — Ele
limpou a garganta. — As acomodações e comida aqui são excepcionais.
Certamente vale os dois dólares que vou pagar antes de sair amanhã de manhã.

— Meu marido sente grande de orgulho de sua estalagem.

— Bem como ele deveria. — Ele se moveu até ficar de pé ao lado dela,
perto o suficiente para que percebesse o cheiro de limão. Arejado e limpo. Ela o
podia perceber a estudando, podia sentir seus olhos tomando cada detalhe de seu
rosto.

— Você tem olhos incomuns, Senhora Lawson. O tom deles é tal que um
homem provavelmente não se esquece, uma vez que olha para eles.

Rapidamente, Maddie caminhou para fora da varanda. — Se você me der


licença, Sr. Somner, eu tenho mais algumas tarefas para cuidar antes de me deitar.
Somner observou como a mulher foi engolida pelas sombras da noite. Ele
retirou um charuto fino e um pequeno par de tesouras de prata do bolso do peito.
Cortando fora a ponta, ele colocou o charuto na boca, acendeu um fósforo e o
acendeu, permitindo que a chama do fósforo queimasse muito tempo depois dele
precisar. Ele levou vários pequenos sopros antes de liberar a fumaça em um grande
gesto. Ele tirou o charuto da boca, o estendeu na mão e o estudou por um momento.
— Eu não gosto muito de ser espionado, Sr. Lawson.

Jesse saiu das sombras. — E eu não gosto muito de ver Maddie chateada.

— Não foi minha intenção a chatear.

Jesse se moveu até que ele estava ao lado de Somner. O homem era de
pequena estatura, e ainda assim não havia nada pequeno em sua forma. — Passei
um monte de anos trabalhando como um Texas Ranger. Eu conheço o olhar de um
homem que está à procura de alguém. Eu conheço o olhar de um homem quando
ele encontra a pessoa que está procurando. Você encontrou quem estava
procurando.

Somner inclinou a cabeça e sorriu. — Sim, Sr. Lawson, eu encontrei.

— O que você pretende fazer sobre isso?

Somner olhou para a noite. Ele tomou uma longa tragada em seu charuto e,
em seguida, lançou três círculos perfeitos de fumaça no ar. — Por enquanto... nada.
Eu tenho uma reputação de oferecer surpresas. Mais de uma pessoa está envolvida
neste caso. Tenho poucas dúvidas de que, eventualmente, todos eles virão juntos.
Quando o fizerem, eu mostrarei minha pequena surpresa.

Jesse se inclinou até que seu rosto esteve perto o suficiente do de Somner
que ele poderia ter dito ao homem de qual plantação veio o tabaco que ele fumava.
— Bem, enquanto você está esperando para mostrar a sua pequena surpresa,
contemple isso. Você faz qualquer coisa para causar àquela pequena mulher
qualquer sentimento de dor ou tristeza e pouco antes de morrer, você vai se
arrepender do dia em que nasceu.

Somner casualmente arqueou uma sobrancelha. — Eu esperaria uma ameaça


tão apaixonada do marido da mulher e não de seu cunhado.

— Eu coloco a família acima de tudo seja a família através do sangue ou do


casamento. Qualquer pessoa que prejudicar qualquer membro da minha família,
vai responder a mim. E vai responder muito caro.

Somner inclinou a cabeça em reconhecimento dos sentimentos de Jesse. —


Eu vou manter isso em mente, Sr. Lawson.

— Preste bem atenção ao que você faz.

Jesse saiu da varanda e desapareceu para além das árvores. Somner escutou
o vento, fumando seu charuto, e pensou sobre o futuro. Era bom entregar surpresas,
mas esta, ele tinha pouca dúvida, seria a mais gratificante de sua carreira.

~
Em pé diante do riacho, observando o fluxo de águas barrentas, Maddie
ouviu os passos suaves de Jesse. Ela queria virar e se atirar nos braços dele, sentir a
proteção que ele tinha oferecido a tantos durante a sua vida. Mas ele só tinha
oferecido sua proteção àqueles que mereciam, e ela sabia que era uma dos indignos.

— Maddie, me diga — ele implorou em voz baixa, o profundo timbre de sua


voz uma carícia através de sua alma. — Diga do que você tem medo. Conte por
que você acha que Somner é uma ameaça para você.

— Eu não acho isso.

Ele tocou em seu braço e ela deslizou para longe.

— Eu não vou deixar ninguém te machucar. Eu não vou deixar nenhum


dano vir até você, mas eu tenho que saber com o que estamos lidando aqui.

Ela riu. — Você não é invencível, Jesse. Aaron provou isso facilmente.

Ele baixou a cabeça para trás, correndo os dedos pelos cabelos, frustrado. —
Você disse que um casamento deve ser construído sobre confiança...

— Eu não sou casada com você.

— Você parece se lembrar disso só quando lhe é conveniente.

Ela se virou. — Eu nunca me desviei dos votos que troquei com Charles.
— Não, você não fez, mas eu não estou falando de você e Charles. Eu estou
falando sobre você e eu.

— Não existe você e eu. — Ela olhou para seu amado rosto, desejando que a
verdade não fosse tão dolorosa. — E nunca haverá, Jesse.

— Em dois dias, Maddie, eu irei para o quartel-general dos Rangers em


Austin. A informação deles não será tão obtusa como a de McGuire. Eu vou
descobrir o que eu preciso saber.

— Eu sei que você vai.

— Então, pelo amor de Deus, me diga agora. Confie em mim hoje à noite,
antes de eu ir.

Ela passou a ponta dos dedos ao longo de sua bochecha. — Não é uma
questão de confiança, seu sangrento idiota — ela disse suavemente.

Se afastando, ela procurou as águas. Quando ele voltasse e olhasse para ela,
ela seria mais uma vez como era antes e teria que deixar para trás tudo o que ela
amava.
— Você vai mesmo então? — perguntou Charles.

Jesse deslizou o rifle Winchester para a bainha descansando ao lado de sua


sela. A diligência tinha partido pouco depois do amanhecer e ele decidiu não
esperar mais um dia para sair. Ele tinha pouca dúvida de que Somner voltaria e,
com um olhar atento, estaria à espera para entregar sua surpresa. Ele queria já saber
ao cair da noite o que quer que fosse que Somner sabia agora. — Sim.

— Qualquer ideia de quanto tempo você ficará fora?

— O tempo que for preciso. — Ele jogou os alforjes no lugar.

— Eu sinto muito, Jesse. Eu não tinha o direito de não comprar o gado que
você queria.

Com um polegar, Jesse levantou o chapéu para trás da testa. — No maldito


tempo que isso aconteceu você percebeu isso e pediu desculpas.

— Eu percebi isso no minuto em que entreguei o dinheiro a Bev. Eu apenas


pensei que as coisas iriam dar certo.
Jesse estendeu a mão. Quando Charles a agarrou, ele o puxou para perto,
abraçou com força, e rezou para que não fosse a última vez que ele o visse. Ele o
soltou, montou em seu cavalo, e trouxe a aba do chapéu para baixo sobre a testa.
— Se faz alguma diferença, eu acho que você fez o melhor investimento.

Ele levou Meia-noite do celeiro para o sol. Olhando para a varanda dos
fundos, sentiu a decepção revolver dentro de seu peito. Ele não esperava que
Maddie estivesse lá, mas droga, ele esperava que ela o fosse ver partir.

Charles saiu do celeiro. — Tome cuidado agora.

Jesse olhou para ele. — Eu irei. — Ele ouviu uma porta abrir e voltou sua
atenção para a casa.

As meninas correram em direção a ele. Hannah, com a vantagem da idade,


chegou em primeiro lugar. Ela ergueu uma pequena trouxa coberta de pano. —
Nós fizemos um bolo esponja para você levar.

Aceitando a oferta, ele sentiu o calor se espalhar pelo coração.. — Eu


aprecio isso. — Com o canto do olho, ele percebeu um movimento e olhou de novo
para a varanda. Maddie estava ali, abraçando a viga. Abaixando, ele tocou no rosto
de cada menina. Em seguida enviou Meia-noite em um trote e freou ao lado de
Maddie na varanda.

Seus olhos se encontraram e se travaram, o dele lhe implorando para dizer a


verdade, o dela lhe suplicando para não perguntar. Ele levantou a trouxa. — Eu
aprecio o bolo.
— Coma enquanto está quente.

— Eu irei. — Ele tinha mil coisas que queria dizer a ela, uma vida inteira. —
Maddie...

— Tome cuidado — ela insistiu, lágrimas transbordando em seus olhos.

Se ela fosse sua única responsabilidade, ele desmontaria então e mandaria


para o inferno o gado, Somner, e seu passado. O peso que ele carregava em seus
ombros nunca pareceu maior. Ele tirou o chapéu e comandou Meia-noite em um
trote lento.

Ela observou Aaron e Ranger correrem atrás dele. Jesse parou e bagunçou o
cabelo de Aaron. Então ele partiu. Ela estava certa de que seus sonhos estavam
sendo levados dentro de seus alforjes.

Charles caminhou até a varanda. — Eu imagino que ele não vai ficar fora
muito tempo.

— Não, eu imagino que ele não vai. — Ela sorriu para o marido. — Você
parece cansado. Por que não vai pescar com Aaron?

— Peixe para o jantar parece bom para mim. Por que não vamos todos?

Pisando fora da varanda, ela pegou a mão de Taylor. — Vamos lá, vamos
ver se podemos encontrar um peixe-gato.
~
Ela era uma covarde.

Olhando para fora da janela do quarto para a escuridão da noite, Maddie


reconheceu aquela verdade solitária. Em seu coração, ela já conhecia o caminho
que seguiria, e ela o faria com qualquer dignidade que pudesse ter.

Lamentando muito, ela fechou os olhos. Ela deveria ter sido honesta com
Charles. Ela nunca deveria ter permitido que ele e seus filhos se importassem com
ela. Ela deveria ter rejeitado sua proposta e voltado para Bev de onde pequenas
crianças de olhos castanhos não iriam olhar para ela com amor. Agora ela iria
destruir a fé deles com a verdade.

Charles era seu marido. Ela lhe diria esta noite o que Jesse, sem dúvida,
descobriria na parte da manhã. Ela se ofereceria para ficar com ele enquanto ele
precisasse dela. Então ela calmamente se entregaria às autoridades. Se ele não
pudesse mais suportar a visão dela, ela iria se entregar amanhã.

Ela se afastou da janela e dobrou a colcha sobre a cama. Ela iria sentir falta
das crianças desesperadamente. Ela sentiria falta de Charles. Enxugando as
lágrimas de suas bochechas, ela sabia que sentiria falta de Jesse acima de tudo. Ela
queria dizer a ele antes que se fosse mas ela não podia... Não depois de todas as
vezes que ele tinha prometido que não iria deixar ninguém ou qualquer coisa mal
ficar impune. A verdade sobre seu passado lhe daria nenhuma escolha além de
quebrar suas promessas, e ela não queria ver aquele conhecimento refletido em
seus olhos.
Se ela não o amasse tanto, pudesse ter dito a ele. Talvez fosse por isso que
podia dizer a Charles agora. Por mais que ela se importasse com ele, Charles não
era o dono de seu coração. Ele pertencia exclusivamente a seu irmão.

Ela ouviu uma tábua ranger e cair em silêncio. Ela olhou para fora da janela,
mas não conseguia ver nada entre as sombras. Ela atravessou o quarto, abriu a
porta um pouco, e olhou para o corredor. Charles deveria ter retornado depois de
verificar lá embaixo. Ela se perguntou se ele tinha tido um de seus ataques e se isso
o que tinha causado o latido de Ranger. Talvez o cão agora estivesse lambendo seu
rosto inconsciente. Ela correu pelo quarto, pegou a lamparina, e se dirigiu para o
corredor. Descendo as escadas, ela olhou ao redor pelos vários cômodos.. Ela
entrou na sala de jantar e viu uma luz pálida vindo da cozinha.

Ela correu para a cozinha e parou abruptamente com a visão que a


cumprimentou. — Silas — ela sussurrou com voz rouca.

— Você mentiu para mim, menina Maddie — o homem gigante disse, seu
rosto cheio de cicatrizes um testemunho da vida que viveu.

Maddie olhou para Charles sentado em uma cadeira, com as mãos amarradas
atrás das costas, um pano enfiado em sua boca. Desculpas não ditas encheram os
olhos dele, a compreensão encheu os seus. Um movimento chamou sua atenção, e
ela viu o brutamontes gordo conhecido como Walsh. Ele se sentava no chão
passando a mão enorme sobre Ranger.
Semelhante a um búfalo, Silas balançou a cabeça grande como se estivesse
cheio de uma grande tristeza. — O dinheiro não estava enterrado onde você disse,
menina Maddie.

— Vocês provavelmente cavaram no lugar errado.

— Walsh escavou a área por uma semana.

— Talvez você tenha entendido mal minhas instruções.

Ele deixou um jorro de suco de tabaco voar e pousar perto de seus pés
descalços. — Talvez. Nós deveríamos ter voltado mais cedo, mas tivemos um
pelotão maldito em nosso rabo perto de um mês e tivemos que ir para o México
por um tempo. Você não teria tirado ele sem nós, não é, menina?

— Como é que eu conseguiria isso sem sair daqui?

Ele olhou ao redor da cozinha. — Você está vivendo bem, Maddie. Você
deve ter negociado algo por isso. Talvez você tenha desenterrado o dinheiro
sozinha. Talvez esteja aqui em algum lugar. — Ele sacou a arma do coldre. — Em
qual das pernas dele devo atirar primeiro?

Charles fechou os olhos e Maddie sentiu o medo rastejando através dela. O


que foi que Jesse tinha dito sobre os homens que não tinham almas? Quando
terminassem com Charles, eles prejudicariam as crianças, se ela dissesse a eles o
que eles queriam saber ou não. — Se você o machucar, não lhe direi qualquer coisa.
Eu vou com você e mostrarei exatamente onde o pai enterrou esse dinheiro.
Silas vomitou seu suco de tabaco para que ele pousasse no rosto de Charles.
— Essa é minha garota. — Ele se arrastou em direção à porta. — Vamos, Walsh.

Walsh ficou de pé, segurando Ranger em sua mão grande.

— Deixe o cão, Walsh — disse Maddie.

— Mas eu gosto dele, Maddie. — Ele esfregou o cão contra sua bochecha.
— Eu quero ficar com ele.

— Deixe — ela ordenou.

— Ele o pode levar se ele quiser — disse Silas.

Ela colocou as mãos nos quadris. — Eu sou a única que sobrou que sabe
onde meu pai enterrou aquele cofre. É melhor me manter um pouco feliz.

— Deixe o cachorro — Silas rosnou.

Petulante, Walsh despejou Ranger em sua caixa e se arrastou para fora da


sala. Silas agarrou o braço de Maddie. Ela olhou para Charles. — Me perdoe — ela
sussurrou antes que fosse puxada para fora dali.

~
Charles lutou contra a corda que irritava seus pulsos. Ele puxou tenso e
pensou em derrubar a cadeira, mas não ganharia nada além da língua de Ranger em
seu rosto. Ele deixou cair o queixo contra o peito. Pensamentos retumbaram em
sua mente como uma tempestade invadindo a luz do sol. Como ele podia ter estado
tão errado? O que ele iria dizer às crianças?

Ele reforçou sua determinação, rangeu os dentes, e trabalhou nas cordas.


Ainda estava escuro quando ele as deslizou pelas mãos livres. Ele puxou o pano
sujo de sua boca, desamarrou seus pés, e correu para a bomba de água. Enchendo
as mãos em concha, ele bebeu e jogou água fria em seu rosto ao mesmo tempo.

Ele não queria sobrecarregar o seu filho, mas, no momento, ele não viu outra
escolha. Ele não tinha nenhum desejo de confiar este assunto ao xerife local ou ter
vizinhos intrometidos perguntando. Ele acordaria Aaron e explicaria apenas o
suficiente para que o menino ficasse alerta, mas não com medo. Ele o deixaria
observando as meninas, enquanto ele ia até Austin. Ele e Jesse poderiam estar de
volta antes do anoitecer. Ele ia ter Jesse em um dia atrás dos homens que tinham
levado Maddie, mas conhecendo o irmão, Charles sabia que um dia não faria
diferença.

Ele caminhou rapidamente através da sala de jantar para o hall.


Inesperadamente, sentiu a tempestade na cabeça e a corrida da dor mais forte, com
mais fúria do que jamais sentiu antes. Ele fechou os olhos, apertou as palmas das
mãos contra as têmporas, e cambaleou para trás. — Querido Deus, não agora, por
favor, não agora! — A oração angustiada ficou sem resposta. Ele caiu do outro
lado das escadas e afundou no abismo negro.

~
Jesse estava sentado na cadeira com a mão cobrindo o queixo. Adormeceu
um par de vezes durante a tarde, mas as imagens dos homens procurados por
homicídio continuaram se intrometendo em sua paz. Ele tinha montado a maior
parte da noite voltando para a estalagem, sabendo que deveria estar em movimento
agora, mas estaria condenado se saísse antes de Charles acordar.

Charles gemeu. Jesse saiu da cadeira e colocou a mão em seu ombro.


Charles abriu os olhos, em seguida, os bateu fechados. — Doce senhor.

— Você tem muita dor?

— Chega um momento em que você para de medir sua intensidade. Estou


neste momento.

— O que posso fazer para você?

— Láudano. No topo da gaveta da cômoda.

Jesse pegou o analgésico. Ele derramou o líquido na boca de Charles.


Gemendo, Charles deixou cair a cabeça sobre o travesseiro. — Quando você
chegou aqui?

— Por volta do meio-dia. Encontrei você no fundo das escadas coberto com
uma manta.

— As crianças?
— Eles estão bem. Eles comeram bolo esponja no café da manhã, em
seguida, mantiveram vigília ao seu lado. Aaron estava com medo de procurar ajuda,
com medo de deixar as meninas.

— Como você soube que tinha que voltar?

— Eu não sabia. Eu precisava falar com Maddie.

Alarmado com a renúncia que ouviu na voz de Jesse, Charles abriu os olhos.
Jesse tocou na ferida aberta em seu pulso. — Quer me dizer o que aconteceu aqui?

Lutando, Charles conseguiu se sentar. — Dois homens vieram e levaram


Maddie.

Jesse saiu da cadeira para o outro lado do quarto, passando as duas mãos
sobre a janela e olhou para fora sem nada ver.

— Ela foi com eles de boa vontade?

— Eu não diria exatamente que ela estava disposta. Eles disseram que ela
sabia onde estava enterrado algum dinheiro e ameaçaram atirar em mim se ela não
lhes dissesse onde ele estava.— Quando Jesse não respondeu, Charles se forçou a
fazer a pergunta que não estava certo de que queria respondida, com medo de que
já soubesse a resposta. — O que você descobriu em Austin?

Liberando uma grande rajada de ar, Jesse abaixou a cabeça. — O que eu


suspeitava o tempo todo. O pai e o irmão dela não eram passageiros naquela
diligência, Charles. — Ele lançou um olhar de soslaio para o irmão. — Eles foram
os únicos a roubando. — Ele puxou um pedaço de papel do bolso e o desdobrou.
— Seu pai era conhecido como o Highwayman por causa de seu sotaque
pronunciado. Sempre que ele parava uma diligência gritava, "Se levantem e Se
rendam", que é comum entre os salteadores na Inglaterra. No começo, ele andava
com o filho. Então, mais tarde, o que se acreditava ser um outro filho se juntou às
fileiras. Uma vez que eles nunca mataram ninguém, eles eram considerados
relativamente inofensivos, mas irritantes por eles aliviarem os passageiros dos seus
objetos de valor. Há alguns anos, a popularidade deles se desvaneceu quando se
juntaram com dois homens que eram ásperos e rápidos para puxar o gatilho.

Charles gemeu. — Os dois homens... Maddie chamou-os pelo nome.

— Silas e Walsh?

Charles assentiu. — Não se atreva a dizer que você me disse isso.

Jesse jogou a cabeça para trás e passou seus dedos pelo cabelo. — Eu não
sonharia com isso.

Charles esfregou a testa. — O que você vai fazer?

— Eu estou indo atrás deles. Eles mataram quatro homens.

— Gostaria de saber por que Maddie nunca mencionou que tinha um outro
irmão.
— Porque ela não tinha outro irmão. — Jesse jogou o papel em cima da
cama.

Charles leu a descrição do jovem. Era demasiado vago para um artista


desenhar, mas continha descrição suficiente para que um homem reconhecesse o
bandido, e ele a reconheceu. Ele levantou a cabeça. — O que você vai fazer?

— Eu disse a você. Vou atrás deles.

— O que você vai fazer com Maddie?

Desviando o olhar, Jesse caminhou em direção à porta. Charles se esforçou


para sair da cama e ficou instável. — Jesus Cristo, Jesse! Por uma vez em sua vida,
não pense nisso até a morte.

Jesse parou, com a mão na maçaneta da porta. — Eu não pensei em qualquer


coisa desde que você a trouxe para casa, e eu me arrependo de cada vez que eu não
pensei. — Ele abriu a porta e saiu.

Pressionando a palma da mão contra a testa, Charles correu atrás dele. —


Bem, enquanto você está pensando nisso até a morte, considere isso. Ela não sabe
onde está o dinheiro. Ela só disse a eles que sabia para que nenhum dano fosse
feito a mim ou às crianças.

Parcialmente descendo as escadas, Jesse parou e olhou por cima do ombro.


— Como você sabe disso?
— Se ela soubesse onde estava o dinheiro, não teria entrado no salão de Bev.

— Talvez ela não tenha tido os meios para chegar a ele.

Charles segurou o olhar firme de seu irmão. — Eu acho que se uma mulher
tivesse uma escolha entre entrar no salão de Bev ou rastejar em suas mãos e
joelhos para um cofre cheio de dinheiro, ela rastejaria.

~
Com a leveza de uma sombra, Jesse se aproximou da cabana escondida
dentro do matagal. Ele estava atrás deles há três dias. O crepúsculo o rodeava. Ele
sabia que seria vantajoso esperar até o raiar do dia, para pegar inconscientes na
primeira luz. Essa é a maneira que ele tinha sido ensinado a fazer as coisas.

Ele ouviu o estrondo feio de um punho batendo na carne antes de chegar ao


lado da cabana. A raiva se espalhar dentro dele, olhou através das quebrada e
estilhaçada janela estreita. Maddie estava esparramada no chão de terra. Um
gigante se elevava sobre ela.

— Você está mentindo, menina Maddie.

Balançando a cabeça, ela lutou para se sentar. — Eu não sei onde está o
dinheiro, Silas.

Silas a bateu no chão e Jesse se sentiu ferver. Ele tocou no revólver e freou
sua raiva. Agora não era o momento de perder o controle de suas emoções. —
Walsh, me consiga uma corda.
Jesse observou o outro homem sair da cabana. O homem maior se ajoelhou
sobre Maddie, agarrou seu cabelo e o puxou para cima. — Eu sei maneiras de fazer
você falar. E lhe dou a minha palavra que antes desta noite acabar, você vai me
dizer onde o dinheiro está enterrado, e você estará malditamente contente de o
desenterrar para mim.

Jesse afastou-se da janela e ouviu algo estalar sob sua bota. Ele olhou para
os dois pequenos galhos mantidos em conjunto com um pedaço de corda para que
eles formassem uma cruz. Voltando sua atenção para a tarefa em mãos, ele
continuou andando e começou a fazer seu trabalho.

Maddie sentiu como se ela fosse uma boneca de pano, quando Silas a
colocou sobre a cama no canto do quarto individual. Ela a arrastou e pressionou as
costas contra a parede.

— Walsh certamente está levando muito tempo — disse Silas quando soltou
o cinto da arma e o deixou cair sobre a mesa. — Provavelmente esqueceu o que
diabos eu mandei ele fazer. — Sua boca formou um sorriso distorcido conforme
ele passou os olhos sobre ela.

Ela agarrou o roupão em torno de sua garganta. — Se você fizer qualquer


coisa, Silas...

— O quê? Você não vai me dizer onde está o dinheiro? — Ele agarrou seu
tornozelo e a puxou para a cama. Ele caiu em cima dela, capturou seus pulsos com
uma mão carnuda, e os segurou acima de sua cabeça. A outra mão percorreu
insolentemente seu corpo.

Sua respiração era quente e rançosa, enquanto ele deslizava a boca através
de sua garganta. Profundamente, Maddie gritou, mas ela sabia que expressar seu
horror só iria inflamar sua luxúria e violência. Ele levantou sua camisola e com um
pequeno gemido conseguiu libertar suas algemas. Ele riu e enfiou os dedos em
suas nádegas. Ela ouviu um baque de corda no chão, grata por Walsh ter voltado a
tempo.

— Você pode ficar e assistir, Walsh — Silas rosnou sem levantar a cabeça
de onde estava enterrado ao lado de sua garganta — ou você pode sair, mas se você
me impedir de a tomar neste momento, eu vou te matar.

Silêncio permeou o quarto. Então grilhões foram sacudidos no chão. Silas


virou a cabeça para o lado e encontrou o olhar do cano de uma arma. Ele olhou
para cima e descobriu que Satanás tinha surgido das entranhas do inferno.

— Desça dela ou eu vou te matar — disse Jesse, sua voz ameaçadoramente


baixa.

Silas recuou. Com um rápido e suave movimento Jesse guardou a arma,


girou o punho em volta e enviou Silas para o chão batido. — Levante-se, seu filho
da puta — Jesse resmungou.

Se esforçando para levantar, Silas agitou seus braços atarracados. Jesse deu
um golpe sólido no intestino do homem e depois outro no centro de sua face. Silas
caiu no chão com um baque retumbante. Jesse pegou os grilhões e rolou Silas de
costas. Ele apertou suas mãos e pés nas algemas antes de o arrastar pelo chão de
terra. Ele deixou em um canto e caminhou de volta para a cama.

Enrolada em uma bola, Maddie olhou para ele. Carne inchada e contusões
pretas marcavam um lado de seu rosto. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto
ele gentilmente tocava sua carne abusada. — Eles não vão te machucar mais,
Maddie. — Ele estendeu a arma na direção dela. Ela levantou os olhos do cano da
arma para seu rosto endurecido. — Segure a arma. Se ele se mover uma polegada,
mate. Eu tenho o outro algemado do lado de fora. Eu quero ele aqui onde eu o
possa ver.

Tomando a arma, Maddie a segurou com as mãos trêmulas. Ela o observou


caminhar através da porta. Ela rezou para que ele viesse, rezou para que ele não
viesse. Ela tinha visto nas profundezas frias de seus olhos que ele sabia a verdade.
Ele não era mais o homem que ela tinha beijado no riacho, nem era o homem com
quem ela dançou no celeiro. Ele era um Texas Ranger determinado a levar a cabo o
seu dever.

Com a confusão marcando seu rosto, Walsh tropeçou na frente de Jesse. Ele
andou e caiu ao lado de Silas. Jesse pegou uma corda.

— Atire nele, menina Maddie — Silas insistiu. — Atire nele ou você vai
cair junto com a gente. Você estava lá, menina, quando matamos o primeiro. Isso
faz de você tão culpada quanto nós.
De costas para ela, Jesse envolveu a corda em volta dos homens como se
Silas não estivesse falando. Ela sentiu como se alguém tivesse cortado seu coração.
Ele confiava nela, e por algum motivo que ela não conseguia explicar, doía que ele
confiasse.

Quando os dois homens foram adequadamente imobilizados, Jesse agachou-


se e se dirigiu a eles. — Eu sou curto em paciência, e estou ansioso para chegar em
casa. Eu acho que vocês dois serão pendurados de qualquer maneira, mas se vocês
fizerem qualquer coisa para me aborrecer, eu vou atirar em vocês aqui e agora.

Ele se levantou, caminhou até Maddie, pegou a arma dela, e a colocou em


seu coldre. Ela baixou o olhar para os grilhões descansando no chão. Fechando os
olhos, ela estendeu as mãos, palmas para cima.

— Por que você não faz um café? Eu vou precisar dele para me manter
acordado esta noite. Eu vou até meu cavalo e eu volto já.

Ela o observou desaparecer. Desejando que ele a tratasse como a sujeira que
era, se ajoelhou diante do pequeno fogo na lareira. Ela se sentiu somo se fosse
uma menina que sabia que fez algo errado e espera pela uma surra, surra que nunca
veio e era aí que residia a punição.

— Será que ele prometeu livrar você, menina? — Silas falou pelo quarto. —
Ele não tem poder sobre a lei. Ele não a pode salvar. Só o velho Silas pode fazer
isso. Minha arma ainda está sobre a mesa. A pegue e apenas o machuque. Eu vou
acabar com ele. Sabe o que eles fazem para as mulheres na prisão? Eles vão fazer
para você todas as coisas que eu queria fazer, mas ninguém os vai parar.
— Eu roubei os sonhos dele uma vez, Silas. Eu não vou fazer isso de novo.
— Um som na porta ganhou a atenção dela, e olhou para cima. Segurando seu rifle,
Jesse entrou na estrutura em ruínas.

— Você pode dormir na cama hoje à noite — disse ele enquanto colocava
seu rifle sobre a mesa.

Ela derramou um pouco de café em um copo e colocou sobre a mesa. Então


ela saiu mancando pelo chão de barro e deitou na cama, rolando para que
enfrentasse a parede. Ela sentiu o afundamento na cama sob seu peso.

— Aqui. Segure isso para o seu rosto.

Girando, ela tomou o pano úmido que ele ofereceu e o apertou contra seu
rosto. Ela desejou que aquilo aliviasse a dor em seu coração tão facilmente como
fez com a dor em seu rosto. Ela não se mexeu quando Jesse colocou o pé dela em
sua coxa. Ouviu-o rasgar um cobertor. Então ela sentiu ele enrolar a tira de lã em
torno de seu pé.

— Eles nem sequer permitiram que você colocasse seus sapatos?

Ela não respondeu, não achou que ele esperava uma resposta. Ternamente,
ele envolveu seu outro pé em silêncio. Quando sentiu ele sair da cama, ela se
abaixou e pegou um cobertor. O quarto de repente parecia tão frio como uma
tempestade de inverno. Ela o ouviu arrastar uma cadeira pelo chão e colocar contra
a parede ao lado da cama. Ela gemeu em protesto quando ele deixou cair seu corpo
no assento.

— Charles sabe de tudo? — ela perguntou em voz baixa.

— Sim.

— E as crianças?

— Não.

Encontrando algum conforto em sua resposta, ela se perguntou como ele iria
explicar sua ausência às crianças, quando ele voltasse para casa. Ela o sentiu puxar
o cobertor por cima de seu ombro. Tão simples como a ação foi, causou uma dor
muito maior dentro de seu coração do que qualquer uma das palavras duras que ele
já tinha falado para ela.

— Tente dormir um pouco. Nós começaremos uma dura viagem de dois dias
amanhã.

— Onde estamos indo? — ela perguntou.

— Eu vou levar você para a sede dos Rangers em Austin.

Ela levantou os joelhos e deixou que as lágrimas silenciosamente lavassem


seu rosto.
Jesse concentrou sua atenção nos dois homens amontoados no canto. O
exército havia lhe ensinado disciplina. Os Rangers lhe ensinaram contenção. Levou
cada grama da força de vontade que ele possuía para não engatinhar na cama e se
abraçar Maddie.

Ele tinha que manter uma rédea apertada em seu coração, tinha nada a dizer
sobre este assunto, mas que com certeza queria falar o que sentia. Se ele permitisse
que seu coração falasse, teria vindo para esta cabana com suas armas em punho e
matado os dois homens pelo atrevimento de a terem levado. Se ele permitisse que
seu coração falasse, ele a levaria para o México e construiria um rancho lá. Ele iria
levar as crianças, mas que tipo de vida ele poderia lhes dar? Certamente não uma
que eles pudessem se orgulhar. Não, seu coração tinha que ficar em silêncio sobre
este assunto.

Ele olhou ao redor da cabana. Ele não achava que tinha mudado muito ao
longo dos anos. Todo o mobiliário era caseiro, e pareceu que ninguém tinha levado
muito tempo para fazê-la. Imaginou Maddie como uma menina, jogando no chão
de terra. Ela teria tido ali pequenas xícaras de chá. Ele se perguntou se ela tinha
tido uma boneca de pano. Ele baixou a cabeça para trás e ouviu o vento uivando
através das rachaduras nas paredes.

Jesse se obrigou ficar acordado. O interior da cabana era sombrio. Além dela,
através das frestas na janela e as rachaduras na porta, ele podia ver o amanhecer
emergindo. No canto, os dois homens roncavam como ursos hibernando. Ele olhou
para a cama a seu lado. Ela estava vazia.
Ele saiu correndo da cadeira, e caiu no chão. Correu para fora e estacou.
Todos os cavalos estavam pastando nas proximidades.

Levando em conta todos os detalhes a sua volta, seus olhos e ouvidos


atentos, ele começou a percorrer a área. Andou para o lado da cabana e se sentiu
como um idiota quando Maddie o olhou agachada e voltou para sua tarefa.

Ele se ajoelhou ao lado dela. — A sepultura da sua mãe?

Balançando a cabeça, ela endireitou a cruz que seu pé grande quase tinha
destruído no dia anterior. — Eu costumava pensar que se eu alguma vez tivesse
dinheiro, iria marcar seu lugar com uma cruz adequada.

— Imagino que ela preferiria a que você fez quando jovem.

— Eu odeio perguntar, mas se eles me pendurarem, você vai me trazer de


volta e me enterra ao lado da minha mãe?

Ele tomou os galhos de suas mãos trêmulas, se inclinou e os colocou na terra.


— Ninguém a vai pendurar.

— Eu acho que prefiro a forca a ir para a prisão. Prisão para uma mulher não
pode ser agradável.

— Não, eu não acho que é.


Ela cerrou os punhos, lutando contra as lágrimas, desejando que fosse
ninguém além de Jesse se curvasse com ela ali, grata porque ele estava agora a seu
lado. Muitas vezes acreditou que ficaria louca com as emoções confusas que
sentia por ele. — O dinheiro que Silas está procurando...

— Eu sei que você não sabe onde está.

Ela respirou fundo. — Ele está enterrado sob a sujeira na lareira.

Agarrando seu braço, ele a girou. — O quê?

— Foi tomado a partir de uma diligência em Wells Fargo. O pelotão estava


quente no nosso rastro e por isso nos dividimos. Papai e eu viemos para cá e ele
enterrou o dinheiro. Então, nós encontramos os outros em Fort Worth. Eles
decidiram fazer mais um trabalho antes de voltar e dividir o dinheiro. Só que eles
não sabiam que os Texas Rangers estavam esperando um assalto e tinham montado
uma emboscada. Papai e Andrew foram mortos. Silas e Walsh não sabiam onde o
dinheiro estava enterrado.

Ele estudou seu rosto. — Por que você não voltou e pegou o dinheiro?

— Porque ele não pertence a mim. Eu nunca usei o dinheiro de qualquer


roubo.

— Por que você não disse a Silas onde estava?


Ela encolheu os ombros. — Não era dele, ou de qualquer um. Eu sabia que
ele ia me matar se ele tivesse o dinheiro ou não. Eu queria morrer com dignidade,
sabendo que o tinha frustrado.

Seus dedos se apertaram em torno em seus braços e ele segurou


delicadamente sua face. Seu coração gritou na angústia que ela viu refletida em
seus olhos.

— Por que você não confiou em mim? — ele murmurou.

— Eu confio em você como eu nunca confiei em ninguém na minha vida, e


isso faz tudo muito mais difícil de suportar. Eu tinha vergonha, Jesse. Eu não
queria ver a verdade do que sou refletida em seus olhos. Você, Charles, as crianças.
Vocês são todos tão bons, tão íntegros. Charles pensou que quando eu entrei na
casa de Bev, eu estivesse declinando em minha vida. Mas a verdade é que estava
realmente subindo”

— Como diabos você imaginou isso?

— Trabalhando para Bev, eu não teria tomado dinheiro de um homem sem


lhe dar algo em troca.

— E isso era importante para você?

Suas lágrimas quentes desceram como um riacho por suas bochechas. — Eu


nunca soube o que o papai e Andrew faziam até minha mãe morrer. Quando ela se
foi e chegou a hora do próximo trabalho deles, me levaram junto. Nas primeiras
vezes eu só segurava os cavalos, enquanto eles roubavam uma diligência, mas
quando fiquei mais velha eu ameaçava atirar nas pessoas se elas não cooperassem.
Eu odiava isso, e eu me odiava por não ir embora. Eu acreditava no Pai, quando ele
dizia que a próxima vez seria a última.

Ela soltou uma risada estrangulada. — Eu sei que é difícil de entender, mas
ele era um bom pai e Andrew era um bom irmão. Eu os amava, mesmo depois de
saber o que faziam. Mas eles não eram bons homens. Eles faziam coisas que não
eram certas. Foi tão difícil... amá-los, odiando as coisas que faziam.

— Você já matou alguém?

Ela balançou a cabeça. — Eu estava com medo de que pudesse matar


alguém, então eu nunca carregava minha arma.

— Sua pequena tola. Você sabe como facilmente poderia ter morrido?

— Eu não me importava. Minha vida não valia nada até que Charles me
pediu para ser uma mãe para seus filhos. Era uma chance para eu dar sem tomar.
— Novas lágrimas encheram seus olhos e caíram sobre suas bochechas. — Será
que Charles me odeia?

Ele trouxe seu rosto tão perto do dele que ela sentiu sua respiração
sussurrando em seus lábios.

— Como alguém poderia te odiar?


— Você não?

Seus olhos mergulharam profundamente nos dela. — Não, uísque, eu nunca


poderia te odiar. — Ele roçou os dedos em sua bochecha. — Mas eu a tenho que
levar para Austin.

Corajosamente, ela balançou a cabeça. — Eu sei. Se você não levasse, não


seria o homem que é. — Ou o homem que eu amo.

Naquele exato momento, ele desejava que fosse qualquer um, menos quem
era. Ele levantou. — Eu vou desenterrar o dinheiro e nós vamos levá-lo de volta
com a gente.

Relutante, ela o seguiu até a cabana, sussurrando adeus a seus sonhos no


caminho.
Era meio-dia, três dias depois, quando Jesse levou seus cativos para a sede
dos Rangers. Um homem atrás de uma mesa se levantou e apertou sua mão. —
Bem, Jesse, eu não achei que o iria ver de volta tão cedo.

— Tenho sorte, Bob. Eu estou trazendo estes dois bandidos junto com este
dinheiro que roubaram de uma diligência em Wells Fargo. — Ele baixou o alforje
sobre a mesa.

Bob sinalizou para dois Rangers em pé nas proximidades. Os homens


agarraram Silas e Walsh. Silas lutou. — Você está vindo também, Maddie. Você é
uma de nós. — O Ranger o puxou para as grades. — Não sei o que ele prometeu a
você, garota, mas você vai ser pendurada com a gente! — Sua voz ecoou pelo
corredor até desaparecer no silêncio.

Bob estava sentado atrás de sua mesa e tirou alguns papéis. — Estes são
deles, não é?

Jesse olhou para os cartazes. — Sim.

Bob assentiu. — E sobre este último membro do bando? Este jovem. — Ele
estudou Maddie. — Já se teve especulações de que talvez fosse uma menina.
— Ela é a filha do líder.

Maddie voltou o olhar para o chão. Ela esperava que as próximas palavras
de Jesse soassem como uma sentença de morte, mas essas palavras não vieram,
apenas o silêncio, pairando à volta dela. Infelizmente, ela percebeu que ele estava
esperando que ela admitisse abertamente a verdade.

Endireitando os ombros, ela ergueu os olhos para o homem atrás do balcão.


Ela iria enfrentar o que estava por vir sem a covardia que Silas tinha mostrado. Ela
respirou, pensou rapidamente como as dizer e abriu a boca para falar.

— Mas ela se separou do bando em Fort Worth — disse Jesse.

Maddie girou a cabeça para ele. Com o rosto de pedra, Jesse estava olhando
diretamente nos olhos do homem sentado em frente à mesa. Bob pigarreou. — Eu
vejo. Tem certeza disso, não é?

— Eu vou apostar minha vida nisso.

Bob se recostou na cadeira. — Não me lembro de você ter me apresentado à


senhora aqui.

— Maddie é a esposa do meu irmão. Aqueles dois a raptaram. Eu acho que


eles estavam procurando por um resgate.
Bob passou o dedo sobre os lábios. — O que foi que aquele cara gritou sobre
o enforcamento dela mesmo?

— Você sabe tão bem quanto eu, Bob, que não pode dar credibilidade a
qualquer coisa que um prisioneiro irritado diz.

Bob riu. — Eu acho que talvez eu esteja atrás desta mesa por tempo demais.
Naturalmente eu não estaria aqui, se você não me tivesse salvo a vida em setenta e
oito.

Jesse mudou de postura. — Rangers não mantêm um registro sobre as


dívidas que temos uns com os outros.

— Eu sei que a maioria não, mas eu sim. — Ele examinou Maddie mais um
momento e limpou a garganta. — Sem um corpo, eu não posso lhe dar uma
recompensa pelo último membro da gangue.

— Não estava à procura de uma.

Bob rabiscou em alguns papéis e o entregou para Jesse. — Basta partir e eu


vou ver que o dinheiro por aqueles dois seja enviado para você.

Jesse assinou os papéis. Então ele colocou a mão sob o cotovelo de Maddie.
— Eu verei você por aí, Bob.
Bob se inclinou para frente. — Eu vou passar a história desta jovem senhora.
Não há sentido que caçadores de recompensa desperdicem seu tempo procurando
por ela.

— Eu aprecio isso — disse Jesse quando ele abriu a porta.

— Jesse?

Ele olhou por cima do ombro.

— Você acabou de fazer uma maldição, apenas esteja certo de que ela não
voltará para nos assombrar.

Jesse deu um aceno brusco e escoltou Maddie para fora. Ela colocou os
braços em torno de um pilar áspero. Não havia esperado caminhar na luz do sol
novamente ou respirar o ar não contaminado. Suas pernas vacilaram. Passaram
vários momentos de respirar profundamente antes de ela ousar olhar Jesse.

Andando pela calçada, ele deu a ela um olhar superficial antes de voltar sua
atenção para a atividade dos pedestres. — Eu não posso te levar para casa desse
jeito. Há uma casa de banhos na saída de Congress Avenue. Vamos nos refrescar,
ter uma refeição rápida, e então vamos montar para casa. — Ele agarrou as rédeas
de seus cavalos e começou a caminhar.

Como se em transe, Maddie o seguiu através da multidão de pessoas. Ela


queria tocar os edifícios apenas para se certificar de que ela não estava dormindo e
sonhando com tudo isso, mas seus passos largos a deixaram sem tempo para
divagações.

Eles entraram na casa de banhos e uma pequena mulher se apressou a lhes


atender. Jesse conversou com ela um momento e a mulher se aproximou de
Maddie, sorriu para ela, e lhe tomou o braço. — Venha comigo, senhora.

Maddie sentiu um momento de pânico e olhou para Jesse.

Ele deu um breve aceno de cabeça. — Rosa vai atender as suas necessidades.
Basta ir com ela.

Obediente, ela seguiu a mulher até uma pequena sala no fim do corredor.

— Se sente aqui, senhora, enquanto meus meninos enchem a banheira.

Os jovens se arrastaram e novamente encheram a banheira de madeira com


vapor de água. Sentada no banco de madeira, Maddie estudou suas mãos. Suas
unhas estavam rachadas e quebradas, os nós dos dedos esfolados, e sua pele áspera.
Por um tempo elas tinham sido as mãos de uma mãe, depois de serem as mãos de
um fora da lei. Agora, ela não sabia o que eram.

Os jovens despejaram a água dos últimos baldes para a banheira, inclinaram


seus chapéus, e saíram, fechando a porta silenciosamente atrás deles. Maddie
desembrulhou as tiras da colcha de seus pés e esfregou os dedos. Cada músculo e
osso de seu corpo doía. Uma batida rápida soou na porta antes de Rosa colocar a
cabeça dentro da sala.
— Senhora, você está decente?

Decente não era uma palavra que ela teria associado a si mesma. — Eu ainda
estou vestida.

Rosa entrou na sala. — Seu marido me disse para lhe dar essas coisas. —
Ela entregou a Maddie um grande pacote embrulhado em papel pardo.

Lentamente, Maddie desembrulhou o pacote. Ela correu os dedos ao longo


da saia, blusa, botas e roupas de baixo.

— Oh, senhora, você tem tanta sorte de ter um marido tão carinhoso, que
ama tanto você. — Rosa revirou os olhos para o teto. — E um tão bonito, também.
— Ela ergueu um pequeno frasco. — Ele me disse para deitar isso em sua água. —
Quando os sais de banho atingiram a água, o cheiro de “Forget-Me-Not” flutuou
no quarto.

Abraçando as roupas, cheirando a doce fragrância da água, Maddie caiu no


chão. O primeiro soluço arruinou seu corpo. Em algum lugar distante, ela ouviu a
voz de Rosa. Seus passos leves quando a mulher saiu correndo do quarto logo
foram substituídos pelos passos mais pesados de Jesse correndo. Ele caiu no chão e
a abraçou.

Ela apertou o rosto contra seu peito e chorou por todas as coisas que ela
tinha sido, tudo o que ela era, tudo o que ela sempre quis ser.
— Shh, Maddie, isso já é demais.

Ela balançou a cabeça vigorosamente contra seu peito. — Ele sabe que você
não estava dizendo a verdade.

— Provavelmente.

Ela inclinou o rosto coberto de lágrimas, seus olhos procurando os seus. —


Você não sabe o que você fez? Eles vão mandar você para a prisão-

— Ninguém estará me mandando para a prisão. Na medida em que o estado


do Texas está em causa, o quinto membro do bando não existe mais.

— Mas o homem da Agência Pinkerton-

— Eu não acho que Somner vai se incomodar com você. — Ele suspirou
profundamente. — Ele me disse que mais de uma pessoa estava envolvida. Eu
estou supondo que ele quis dizer Silas e Walsh. Eu acho que uma vez que ele
partiu na diligência, ele voltou e esperou por eles. Uma vez que ele não os impediu
de a levar, eu só posso supor que ele não era tão inteligente o quanto pensava. Eu
acho que eles correram até ele e o mataram.

— Talvez ele esteja apenas ferido em algum lugar.

— Talvez. Eu vou dar uma boa olhada em volta quando voltarmos. Se eu


não encontrar nada, vou mandar um telegrama para Washington.
Ela estudou seu rosto calmo e se lembrou das palavras que ele tinha falado
há muito tempo sobre os erros que um homem cometia quando ele não pensava em
suas ações. — Você não pode tomar a lei em suas próprias mãos. Você vai
lamentar-

— Não. — Ele retirou os fios soltos de cabelo do rosto. — Não, Maddie, eu


nunca lamentarei o que fiz hoje. — Ele passou o dedo sobre as rugas de
preocupação gravadas dentro de sua testa. — Isso não foi algo que eu fiz sem
pensar muito; eu pensei nisso quase até a morte. — Ele lhe deu um pequeno sorriso.

Ela balançou a cabeça. — Você não pode fazer disso algo pessoal...

— Eu não fiz. Por que diabos você acha que eu tenho sido um bastardo frio
desde que eu entrei naquela cabana? Porque eu não queria que meu coração falasse
ao invés da minha cabeça.

— Jesse, o que você fez não está certo.

— Droga, Maddie, por que você está lutando comigo sobre isso? Passei anos
caçando bandidos e malfeitores. Eu conheço uma pessoa má quando vejo uma. —
Ele segurou seu rosto, seus olhos segurando os dela. — Não há uma centelha de
maldade em você. — Quando ela abriu a boca para protestar, ele acrescentou. —
Tudo bem. Você andou com alguns homens maus. Você segurou os cavalos e você
apontou uma arma descarregada em algumas pessoas, mas há muito mais
honestidade e bondade em você do que há na metade das pessoas andando naquela
rua lá fora. — Ele esfregou os dedos sobre seu rosto. — Confie em mim.
— Mas Charles e as crianças-

— Apenas sofreriam se você fosse a julgamento e, no final, você seria


considerada inocente. Até o momento que eu descesse do banco de testemunhas,
nenhuma pessoa do júri se atreveria a votar culpada.

— O que você faria, ameaçá-los com pesadelos?

— Não, eu diria a eles o quão bem você cuidou do meu irmão e os seus
filhos. Eu iria dizer-lhes como você preferiu vender o seu corpo do que a sua alma.
Eu diria a eles sobre um cofre enterrado em uma lareira que podia ter-lhe dado uma
vida que a maioria das pessoas apenas sonham.

As lágrimas encheram seus olhos. — Eu não mereço isso — ela sussurrou


com voz rouca.

Envolvendo seus braços ao redor dela, ele a puxou contra seu peito. Ele
sentiu as lágrimas quentes escorrerem por seu peito. — Eu não conheço quem é
mais merecedor de um novo começo, Maddie.

Eles montaram muito tempo depois de o sol se pôr. Maddie pensou que
Jesse queria que eles viajassem durante a noite, mas sem aviso, ele parou e
desmontou. Baixou da égua e passou a fazer um acampamento sem uma palavra.
Ele tirou a sela dos cavalos e os amarrou e fez uma fogueira.
Maddie sentou-se nos cobertores que ela espalhou diante da fogueira e viu
como Jesse andava silenciosamente ao redor do perímetro. Ciente de que tudo
estava seguro, ele voltou para o fogo e acrescentou um pouco mais de madeira seca.
Seu olhar estava focado sobre as chamas se contorcendo. Ela se perguntou se seus
pensamentos queimavam de forma constante como o fogo, se ele estava
começando a lamentar a mentira que ele tinha dito com tanta facilidade a um
companheiro Ranger. Ela não iria abrigar maus sentimentos por ele, ela entenderia
completamente se ele a levasse de volta para Austin de manhã.

Ele atiçou o fogo, e quando ele falou, sua voz se misturou com o rugido do
fogo da fogueira. — Eu quero esta noite, Maddie. — Ele girou o corpo para longe
do fogo até a sua atenção estar voltada inteiramente para ela. — Diga que não me
ama, e eu vou dormir no outro lado do fogo. Caso contrário, tenho a intenção de ter
esta noite.

Lágrimas encheram seus olhos. — Eu me importo com Charles — ela


sussurrou com voz rouca. — Eu não o quero machucar.

Em silêncio, ele se moveu agilmente através do espaço estreito os separando


e se sentou ao lado dela. Ele embalou sua bochecha enquanto seu polegar
acariciava sua pele macia. — Eu vou tomar nada que pertença unicamente a
Charles, mas eu vou deixar seu direito de lado.

Ela baixou o olhar. — Por favor, não me peça isto.

— Eu não estou pedindo para você desonrar seus votos. Eu só estou pedindo
que você me dê algo para eu levar comigo quando sairmos daqui amanhã. — Ele
se inclinou até que ela sentiu sua respiração afagar sua bochecha. — Diga que você
não me ama.

Um soluço escapou de sua garganta obstruída. Ele inclinou seu rosto, seus
polegares limpando suavemente as lágrimas de suas bochechas. — Eu amo você,
Uísque.

Outro soluço soou, e as lágrimas aumentaram. Se ele não tivesse dito as


palavras, ela pensou que poderia ter esquecido a terna expressão em seus olhos.

— Você é a esposa do meu irmão. Eu carrego esse pensamento comigo a


cada minuto de cada dia, a cada segundo de cada noite. Meu maior desejo é que
Charles viva o tempo suficiente para ver seu primeiro neto, mas isso significa que
eu vou ser um velho antes de ter outra oportunidade para a ter em meus braços
durante toda a noite.

Deitando o rosto contra seu peito, ela ouviu o ritmo constante de seu coração.
Ela inalou o cheiro persistente de seu banho, misturado com o suor da viagem. —
Você não pode esperar o que nunca poderá ter.

— Como eu não poderia? — ele perguntou, sentindo o calor de suas


lágrimas mergulharem através do tecido de sua camisa. — Você me toca de
maneiras que eu nem sabia que poderia ser tocado. — Ele passou a mão grande em
torno da menor dela. — Eu não estou falando sobre esse tipo de toque, embora
Deus sabe que eu penso sobre isso com frequência suficiente. — Gentilmente, ele
colocou um dedo sob seu queixo e inclinou seu olhar para cima para encontrar o
seu. — Eu estou falando sobre o que eu sinto quando vejo você com as crianças.
— Ele pressionou a palma de sua mão contra o peito dele. — Eu estou falando
sobre o que eu sinto profundamente aqui quando você sorri, o terror que me rasga
quando eu vejo o medo em seus olhos, a alegria que explode dentro de mim
quando eu ouço você rir. Você sente nada disso por mim?

Ela sentia tudo isso e muito mais, mas ela não poderia lhe dar esperança
onde não havia nenhuma. Quando ele timidamente tocou os lábios nos dela, ela
forçou sua boca a permanecer imóvel, a ignorar o calor, a atração de seu toque.

— Droga, Maddie — ele murmurou. — Ou me diz que você não me ama ou


me mostre que você ama.

Nenhuma raiva marcava sua voz, só uma dor angustiante. Um momento


fugaz era tudo o que ele pedia, era tudo o que ela poderia lhe dar. Ela não podia
negar o coração dele, nem podia negar o dela.

Quando ele novamente baixou a boca para a dela, ela congratulou-se com o
seu beijo com a certeza de que o amor verdadeiro o conduzia. Gemendo com a
resposta dela, ele passou a língua dentro de sua boca, roubando os tesouros que ela
oferecia. Seus dedos agarraram sua camisa, e ele apertou-a mais perto, saboreando
a sensação dela em seus braços.

Hoje à noite. Eles teriam hoje à noite, e ele tinha a intenção de se certificar
de que fosse o suficiente para levar com ele através de todas as noites que estavam
à frente quando ele não a teria em seus braços. Ele ergueu a boca da dela e olhou
em seus olhos. Ele viu a dúvida piscar brevemente nas profundezas apaixonadas.
— Eu juro, Maddie, quando eu a levar para casa, para Charles amanhã, nós
dois vamos ser capazes de olhar nos olhos dele e não sentir culpa. Confie em mim.

Ela lhe deu um sorriso travesso. — Não é em você com quem eu estou
preocupada em confiar, seu sangrento idiota.

Sorrindo, ele a puxou para perto. — Deus, eu te amo. Há um pequeno rio um


pouco além daquelas árvores. Nade comigo. — Sem esperar resposta, ele envolveu
sua mão ao redor da dela, puxou-a para cima, e caminhou em direção ao rio.

A lua cheia refletia-se nas águas escuras conforme eles serpenteavam pela
margem. Em algum lugar um peixe espirrou, um sapo gritou com voz rouca, e
grilos cantaram.

— Eu vou tirar a roupa ali e encontrá-la na água — disse Jesse.

Maddie viu quando ele se tornou um com as sombras. Lentamente, ela


desabotoou a camisa. Ela tirou as botas e meias e colocou-as ao lado de uma pedra.
Então ela tirou a camisa e a saia. Ficando em sua camisola de linho e ceroulas, ela
ficou esperando ouvir o som de Jesse entrando na água.

Ele emergiu das sombras em toda a sua glória nua, elegante e poderoso com
o luar dançando em torno dele.

Ela pensou que ela nunca tinha visto algo tão bonito. Ela tocou os dedos
trêmulos em seu peito. — Você não está na água — ela sussurrou.
— Eu sempre me perguntei como o seu cabelo pareceria se eu desse a ele a
sua liberdade. Naquela noite, perto do riacho, fiquei desapontado que eu não tinha
dado boa olhada dele. — Ele pegou sua trança e lentamente desvendou os fios. Um
sorriso de apreciação enfeitou seu rosto quando ele derramou seu cabelo sobre suas
mãos. Ele começou a desatar as fitas em sua camisola.

Ela fechou as mãos sobre a dele. — Não devemos.

— Maddie, você pode ser uma velha antes de eu fazer amor com você. Pelo
menos deixe-me ter a memória do seu corpo quando você era jovem.

Ela esfregou as mãos sobre as costas das mãos dele, ao longo de seus pulsos,
e até seus antebraços antes de deixar cair as mãos ao lado do corpo. Suas mãos
trabalharam para soltar as fitas e libertar os botões. Ele passou o dedo ao longo do
laço na parte superior de sua camisola até que sua mão se curvou sobre seu ombro.
Ele deslizou a roupa por seu braço.

Ela sentiu o sussurro fresco do ar da noite ao longo de sua carne, mas foi o
seu toque quente conforme ele espalmou seu seio que enviou um arrepio de prazer
correndo através de seu corpo.

Ele baixou sua boca, saboreando sua carne. Gemendo baixinho, Maddie
enfiou os dedos entre os fios grossos de seu cabelo. Sua língua rodou sobre seu
mamilo, e ela sentiu os joelhos enfraquecerem. Ele segurou as mãos grandes e
fortes contra a parte baixa de suas costas a para apoiar. Seu rosto cutucou
suavemente de lado a roupa que cobria o outro seio de modo a boca poder lhe dar
as mesmas atenções. Ele arrastou a boca para o vale entre seus seios, e seguiu
lentamente a inclinação de sua garganta, marcando sua trilha com pequenas
mordidas de amor. Ele fundiu sua boca sobre a dela e, tomou um gole do néctar em
seu interior. Ele não tinha necessidade de pressa; ela era sua pela noite, mas ele
sabia que não seria suficiente. Uma vida inteira com ela não seria suficiente. Ele
tirou o resto de sua roupa antes de a levantar em seus braços. — Eu não estou com
vontade de nadar.

Envolvendo os braços em volta do seu pescoço, ela escondeu o rosto em seu


ombro enquanto ele caminhava para o acampamento. Com cuidado, ele a deitou
sobre o cobertor e se esticou ao lado dela.

Descansando em um cotovelo, ele passou a mão do ombro até o pulso dela e


entrelaçou os dedos nos dela. Ele lhe trouxe o pulso aos lábios e deu um beijo
carinhoso na carne que Silas tinha machucado. — Quando o vi em cima de você,
eu o quis matar. — ele disse em uma voz áspera. — Eu nunca tive que me
controlar tão duro em minha vida para não matar um homem.

Ela colocou os dedos contra sua mandíbula tensa. — Agora acabou, lembra?
— ela perguntou em voz baixa.

Seu olhar viajou até seu rosto pálido, e ele tocou as costas de sua mão em
seu rosto. — Eu gostaria que minhas mãos não fossem tão ásperas. Você teve mãos
ásperas suficientes tocando em você.

Ela pressionou a palma da mão contra a dele. — Eu gosto da sensação de


suas mãos.
Seus olhos escureceram. — Você gosta?

Sorrindo calorosamente, ela balançou a cabeça. — Na noite em que você me


ensinou a dançar valsa eu só reclamei da rugosidade em suas mãos para que você
não soubesse o quanto eu gostei quando você me tocou.

Ele deslizou a mão ao longo do comprimento de seu corpo. — Você é tão


linda — ele sussurrou. — Quando você for uma mulher velha e eu fizer amor com
você, é desta maneira que eu vou te ver.

Maddie observou as chamas douradas do fogo lançarem sua luz contra sua
forma esculpida. Seguindo o seu exemplo, ela passou a mão sobre as linhas duras e
planas que compunham este homem. — Eu vou estar enrugada e igual a viúva
Parker e você se arrependerá de ter perdido sua juventude, me esperando.

— Meus olhos vão ver você como você realmente é. — Ele pegou sua mão e
apertou a palma da mão contra o seu coração batendo. — Mas aqui, eu sempre vou
ver você como você é hoje à noite.

Seus braços foram ao redor dela, puxando seu corpo para perto. Ela se
encaixou perfeitamente, suave onde ele era duro, curva onde ele era reto, estreita,
onde ele era amplo, suave onde ele estava áspero. Antes do amanhecer aparecer ao
longo do horizonte, ele se esforçaria a memorizar tudo sobre ela. Ele passou os
dedos pelos longos fios de cabelo mel, sedosos. Ele respirou fundo a fragrância de
“Forget-Me-Not”.
Eles deitaram por mais tempo, sem fazer nenhum som, com alguns
movimentos, apenas memorizando a sensação um do outro.

Ele colocou o dedo embaixo de seu queixo, trazendo sua face para cima até
que seus olhos se fixaram nos seus. — Há tantas coisas que eu quero dizer a você,
coisas que eu quero ouvir você dizer para mim, tantas maneiras que eu quero tocar
em você. Maldito eu por amar meu irmão tanto. — Ele carinhosamente roçou os
lábios nos dela. Então sua língua brincou com as bordas exteriores de sua boca.

Maddie abriu os lábios ligeiramente. A ponta de sua língua tocou a dele e


lançou um convite que não podia ser ignorado. Seus lábios, suas línguas, suas
bocas se tornaram um, lentamente sondando como uma criança a quem foi dado
um poema para memorizar e aprender linha por linha, adicionando uma linha após
outra, até que o poema em sua mente estivesse completo. Assim foi, cada vagaroso
explorar da boca do outro. Seus corpos procuraram criar seu próprio refrão,
pressionando perto, memorizando as linhas, as curvas, as texturas. Suas mãos
pacientemente exploraram o que não era proibido, por acordo tácito, mantendo
uma regularidade que apenas seus corações puderam entender.

Com o tempo, ele ergueu a boca da dela, olhando para o uísque de seus
olhos, bebendo deles para se preencher. — Eu sempre me perguntei como seria a
sensação de segurar você, enquanto você dorme.

Letargicamente, ela balançou a cabeça. — Eu não quero perder esta noite


dormindo.
Mas, eventualmente, como Jesse sabia que aconteceria, o esgotamento dos
últimos dias a apanhou e ela fechou os olhos. Ele sentiu seu corpo relaxar em seus
braços. Ele trouxe os cobertores sobre eles e se enrolou em torno dela. Ouvindo a
noite, ele memorizou a sensação dela em seus braços.

Abrindo os olhos à escuridão da madrugada, Maddie puxou os cobertores


mais perto em torno dela. Suas roupas foram cuidadosamente dobradas sobre os
cobertores. Agachado diante do fogo, Jesse trouxe lentamente uma xícara de café
longe de seus lábios.

Agarrando as cobertas contra o peito, ela se sentou e ele lhe ofereceu a


xícara. Com os dedos trêmulos, ela trouxe o copo aos lábios e tomou um pequeno
gole, seus olhos nunca deixando os dele. Ela devolveu a xícara para ele e ele a
jogou de lado.

— Oh, inferno — ele murmurou, a tomando em seus braços. — O sol não


saiu ainda.

Então ele a beijou, um exame de consciência, um beijo ardente, cheio de


beleza e agonia, por mais um momento compartilhado, mais uma despedida para
suportar. Com um gemido, ela caiu contra ele e seus braços se apertaram ao redor
dela, sua boca tão desesperada quanto a dela para se preencherem, para roubar as
sensações maravilhosas e as acumular para as longas e solitárias noites por vir
quando apenas as memórias iriam compartilhar a cama deles.

Ele pressionou o rosto no recanto do seu ombro, tomou grandes respirações,


e esperou que a respiração dela e o seus batimentos cardíacos voltassem ao normal.
Ele passou os dedos pelo seu cabelo uma última vez, inalou o cheiro dela, e tocou a
maciez de sua bochecha. — Nos dias e noites que virão, Maddie, se lembre de que
nada que você der a Charles a vai levar para longe de mim.

Ela assentiu com a cabeça, incapaz de falar com as lágrimas entupindo sua
garganta. Ela sentiu sua retirada começar profundamente dentro de seu peito, muito
antes de seus braços a soltarem.

— É melhor você se vestir agora para que eu possa levar você para casa.

Ela o observou apagar o fogo, o cobrir com a sujeira, e embalar seus poucos
pertences. Não foi até que ele deixou pronto os cavalos que ela começou a se vestir.

A névoa do amanhecer tinha se afastado pelo tempo que a casa entrou em


vista. Maddie ouviu a voz de Aaron anunciar a chegada deles.

Jesse desmontou e deu a volta para a ajudar a desmontar. Por um breve


instante em que eles estiveram escondidos da vista de outros seus olhos se
atreveram a dizer o que suas vozes não podiam. — O que eu sinto por você nunca
vai se apagar, Maddie. Lembre-se disso. — Brevemente, suas mãos apertaram sua
cintura pequena. — Agora, vá em frente.

Ele a soltou e estudou a sela, como se ele nunca tivesse visto uma antes. Ela
deslizou para longe dele e ele envolveu sua mão ao redor da sela para se impedir
de a puxar de volta. Deixar que andasse para os braços de outro homem foi a coisa
mais difícil que ele já tinha feito em sua vida.
Andando rápido, o coração dela lutou querendo voltar para mais um
momento, para o lugar de consolo dentro do abraço de Jesse e ela forçou um
sorriso que rapidamente mudou para uma genuína expressão de seus sentimentos
quando viu as meninas correrem em sua direção.

— Mamãe! Mamãe!

Ela caiu de joelhos, tendo ambas as meninas nos braços e as abraçando


firmemente. Com lágrimas nos olhos, ela olhou para cima, surpresa ao ver o olhar
duro nos olhos de Aaron.

— Aqueles homens fizeram isso? — ele perguntou, apontando para sua


bochecha.

Ela assentiu com a cabeça.

— Tio Jesse, você deu a eles o quê? — ele perguntou, sua postura
advertindo seu tio que era melhor ele ter ido em defesa de sua mãe.

Jesse tomou as rédeas dos dois cavalos. — Eu dei a eles um par de olhos
negros e um nariz quebrado.

Aaron acenou com a cabeça em aprovação. Quando Maddie se levantou, ele


atirou os braços em volta dela. Ela o abraçou com força, olhando por cima da sua
cabeça para Charles. Charles parecia desgastado, seus olhos cansados. Soltando
Aaron, ela olhou para as crianças e tocou as manchas de cal que decoravam seus
rostos e roupas. — O que é isso?
— Papai disse que você sempre quis ter uma cerca branca em torno de sua
casa então construímos uma para você — explicou Aaron.

Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela se virou para o marido. Ele
lhe deu um leve sorriso antes dele a abraçar.

— Eu sinto muito — ela sussurrou.

— Shh. Você está em casa agora. Isso é tudo o que importa.

Ela sentiu os pequenos puxões em sua saia e olhou para os rostos radiantes.

— Quer ver a cerca? — perguntou Hannah.

Ela assentiu com a cabeça e seguiu as crianças.

Charles caminhou até onde Jesse estava em silêncio, segurando os cavalos.


— Não houve uma grande recepção de herói para você.

Jesse deu de ombros. — Não estava esperando uma.

— Os homens que a levaram...

— Estão na prisão agora. Imagino que eles eventualmente vão ser


pendurados pelos assassinatos que cometeram. Eles não vão dar a Maddie mais
problemas.
— E sobre o passado dela?

— Cuidei disso.

Charles soltou um suspiro de alívio. — Devo-lhe mais do que eu jamais


poderei pagar.

— Você não me deve nada. — Ele balançou a cabeça em direção às crianças.


— Então, vocês construíram uma cerca para ela?

— Sim. Era algo que ela me disse que sempre quis.

— Como você soube que eu traria ela de volta?

Charles sorriu — Eu só sabia. Acho que você vai nos deixar novamente em
breve.

Jesse balançou a cabeça. — As recompensas sobre aqueles dois homens


foram generosas. — Ele sorriu. — Eu tenho mais do que suficiente para conseguir
meu gado aqui.
O bater nas portas dos quartos começou em uma extremidade do corredor e
viajou até a outra.

— Vamos! — Jesse gritou. — Todo mundo saindo da cama! É um dia para


os sonhos.

Com olhos turvos, Aaron cambaleou para o corredor. Jesse o virou e o


empurrou de volta para o quarto. — Você tem que colocar roupas, garoto.

A porta do quarto das meninas se abriu. Maddie saiu, as duas meninas a


reboque, vestidas com seus macacões. Ele sabia que ela estaria acordada. Ela sorriu
para ele e lançou seu domínio sobre as meninas. Ele ergueu as duas em seus braços.

— Querem ver como um sonho parece quando se realiza? — ele perguntou.

As meninas assentiram com a cabeça vigorosamente. Ele as abraçou mais


apertado e viu como Maddie desaparecia em seu próprio quarto. O amor que ele
sentia por ela antes não se comparava com o amor crescendo dentro dele a cada dia
que passava. Era ridículo, totalmente insano para um homem se apaixonar mais
profundamente por uma mulher por causa do amor que ela dava a seu irmão, mas
Jesse estava fazendo exatamente isso.
Ela estava enchendo os dias restantes de Charles com risos, sorrisos, e um
calor radiante. Jesse estava carregando tantos banhos e passando tantas noites em
pé perto do riacho que ele perdeu a conta.

Colocando o xale ao redor dos ombros, Maddie saiu do quarto. — Vamos,


Charles. É o dia de Jesse.

Jesse queria dizer a ela que era o dia deles. Então, seu olhar encontrou o dele
ele percebeu que não precisava dizer nada. Ela sabia.

Charles saiu do quarto, deslizando seus suspensórios sobre os ombros. —


Aqui, eu vou levar Taylor. Vamos, Aaron.

— Estou indo! — Ele pulou em um pé no corredor conforme arrastava uma


bota em seu outro pé. E depois ele soltou o pé e começou a correr pelas escadas. —
Vamos! — ele gritou.

Eles desceram as escadas e andaram pela casa na escuridão cinzenta. Jesse


assumiu a liderança com Hannah agarrada ao seu pescoço. Aaron lutou para
igualar seus passos aos dele com Ranger seguindo em seus calcanhares. Com a
mão em volta do seu braço, Maddie caminhava ao lado de Charles, enquanto ele
carregava Taylor.

A névoa do amanhecer revestia o chão, abafando a passagem deles. Jesse


parou e caiu de joelhos. Ele colocou Hannah sobre uma coxa, enquanto Aaron se
encostava a seu lado. Maddie se ajoelhou ao lado dele. Charles se agachou ao lado
dela e colocou o braço em volta de sua cintura.
E eles esperaram.

Na escuridão, com o ar fresco da manhã circulando, eles eram pouco mais


que sombras agachadas na borda da floresta.

Do canto do olho, Maddie observava Jesse. Para o restante de sua vida, ele
nunca iria ter um dia como este. Ela queria estar em seus braços, compartilhando
este momento com ele, ela sabia que se ele tivesse pedido, ela teria vindo aqui com
ele sozinha. Mas ele não tinha pedido. Tão grande era o seu amor por seu irmão
que ele negaria seu próprio coração e as coisas que ele queria, compartilhando seus
sonhos com os filhos de outro homem em vez dos dele.

Charles tirou a mão da cintura de Maddie. — Taylor, este é o dia do seu tio
Jesse. Por que você não se senta com ele? — ele levantou a criança de seu joelho, e
ela passou por cima de Maddie para chegar a Jesse. Ele a puxou para o seu colo.

O sol aumentou ao longo do horizonte, cobrindo a terra com sua luz. À


distância, eles ouviram um berro profundo, seguido pelos gritos dos homens, o
trotar dos cascos. Então, lentamente, o vale verde assumiu uma nova aparência, a
aparência de um sonho realizado, quando o rebanho de gado com chifres longos
apareceu para eles. — Eu os vejo! — Aaron gritou.

Jesse jogou o braço em torno do menino, o puxou para perto e o abraçou.


As meninas pularam das coxas de Jesse. Hannah agarrou as mãos de Taylor e a
girou em um círculo até que elas riam com tanta força que caíram no chão.
Charles se levantou e ajudou Maddie a se levantar também. Ela olhou para
Jesse. Um belo sorriso enfeitava seu rosto.

— Eu acho que papai teria ficado orgulhoso — disse Charles.

Jesse desdobrou seu corpo e olhou para a terra, o gado, a família que o
rodeava. — Ele teria ficado muito orgulhoso.

Maddie estendeu as mãos para as meninas. — Vamos, meninas. Precisamos


ter o café da manhã pronto. — Ela olhou para Jesse. — Só que eu não acho que
você vai precisar de café para ficar de bom humor hoje.

— Não, senhora. Nada poderia me colocar de mau humor hoje.

Charles passou o braço em torno de Maddie. A família foi embora, levando a


memória da chegada do sonho com eles.

— Você vai me ensinar a ser um cowboy em vez de um estalajadeiro, certo


tio Jesse?

Jesse bagunçou o cabelo do menino conforme eles marcharam em direção à


casa. — Certo.

— Quanto tempo ficarão aqui os homens que trouxeram o gado? —


perguntou Charles.
— Tanto quanto eu precisar deles. Eu preciso construir algum tipo de abrigo.
Não é possível lhes pedir para dormir lá fora toda noite.

Ao longe, uma buzina sinalizou a chegada inesperada de uma diligência.

Jesse olhou para Charles. — Eu não estou com vontade de trabalhar hoje. O
que diz de cuidarmos dos cavalos deles, enfiarmos um pouco de comida em suas
mãos, e os enviar de volta à estrada?

— Soa como uma boa ideia para mim.

Eles apertaram o passo e chegaram à frente da estalagem, quando a


diligência freou até parar.

Jesse abriu a porta e congelou quando Paul Somner pisou no chão.

— Bom Deus, homem, você parece que viu um fantasma — disse Somner
— mas, então, considerando o telegrama que enviou aos meus superiores, eu acho
que você pensa que está olhando para um fantasma.

— O que diabos você esta fazendo aqui? — Jesse grunhiu.

— Agora essa é uma maneira de dar boas-vindas a um convidado?

A curta distância, Maddie se aproximou mais contra o lado de Charles. Ele


apertou seu abraço reconfortante sobre ela conforme ele sussurrou em seu ouvido
— Não se preocupe. Jesse vai cuidar dele.
— Paul! — Uma voz feminina flutuou fora da diligência. — Paul, me ajude
a sair daqui. Está um calor sufocante.

— Certamente, amor. — Paul estendeu a mão para a diligência e ajudou uma


jovem mulher descer. Ela era pequena, de pequenos ossos, o cabelo castanho
varrido debaixo de um chapéu elegante, com o rosto parcialmente escondido por
uma venda preta.

— Eu vou te matar se eu descobrir que eu estou no meio de uma cidade


movimentada e as pessoas estão olhando estupidamente para mim.

— Ouça. Isso soa como se nós estivéssemos em uma movimentada cidade?

Ela inclinou a cabeça. — Não. — Ela cheirou. — Nem cheira como uma
cidade. Tem cheiro... de campo.

— Muito bom.

— Agora, você vai me dizer por que me deixou com os olhos vendados?

Inclinando-se perto, ele falou em voz baixa. — Porque, meu amor, seu
presente de casamento está aqui, mas você o deve encontrar. — Com um floreio,
ele removeu sua venda.

Ela olhou rapidamente para as pessoas que estavam à sua frente. Em seguida,
seus olhos caíram sobre a casa, e ela engasgou. — Oh, Paul. Você saiu do seu
trabalho com a Agência. Você me comprou uma casa, e nós estamos indo nos
estabelecer aqui.

Lentamente, ele balançou a cabeça. — Eu temo que você está condenada a


viver em Washington, pelo menos por um tempo. Esta é a estalagem onde nós
vamos passar alguns dias de descanso.

Ela projetou seu queixo, jogou as mãos para os quadris e bateu o pé pequeno.
— Então me dê uma dica, uma boa dica, ou eu vou pedir quartos separados — ela
ameaçou com um brilho provocante nos olhos dela.

Carinhosamente, ele traçou seus dedos ao longo de sua bochecha. — É


alguém que você esteve procurando desde que você tinha seis anos de idade.

Ela se virou e olhou para Jesse atentamente. — Oh meu Deus! — As mãos


dela voaram para a boca conforme os olhos foram inundados de lágrimas. —
Ninguém tem olhos tão negros como Jesse.

Jesse olhou para a mulher pequena desmoronando diante dele. Seus olhos
castanhos e cabelo castanho eram tão parecidos com os de sua mãe. Seus olhos
correram para Paul Somner.

Sorrindo presunçosamente, o homem estava encostado do lado da diligência.


— Surpresa!

O olhar de Jesse voou de volta para a mulher com as lágrimas escorrendo


pelo rosto.
— Jesse?

Ele não podia fazer mais do que assentir. Então seus braços estavam em
volta de seu pescoço, os braços dele estavam em torno de sua cintura. Ele a
levantou do chão e a abraçou com força contra ele. — Cassie? — ele perguntou
com voz rouca. Ela balançou a cabeça vigorosamente, e ele apertou sua irmã mais
perto.

Charles soltou Maddie e caminhou em direção a seu irmão. Jesse se virou


para Charles e suavemente colocou Cassie de volta no chão.

Quando ela estudou Charles, ela cobriu a boca novamente. — Oh, Paul!
Você encontrou os dois! — Ela voou para os braços de Charles e quase o derrubou.
Ele a abraçou com força.

Quando ela o soltou, ela estudou as crianças. — E de quem são estas


crianças? Não, não, não me diga. Elas têm que ser suas, Charles. — Ela ajoelhou-
se na frente de Aaron e afastou seu cabelo da testa. — Ele se parece com como
Charles estava da última vez que o vi. Ele não parece, Jesse?

— Sim, ele parece. Este é Aaron. — Ele caiu ao lado do garoto. — Esta é a
sua tia Cassie.

— Ela se parece muito com papai, você não acha?

— Ela e seu papai parecem com sua avó.


— E você parece com vovô.

Jesse assentiu.

— Isso significa que eu tenho que a abraçar?

— Suponho que sim.

Aaron assentiu aceitando sua sentença e atirou os braços em volta do


pescoço da mulher. Ele soube que a mulher era do tipo que abraçava quando ele a
viu, e ele sabia que era melhor apenas dar logo todos os abraços.

— E quem são esses anjos? — perguntou Cassie.

— Hannah e Taylor — disse Jesse.

Elas precisaram de nenhum aviso para abraçar sua tia. As mantendo perto,
Cassie saboreou a sensação das meninas. Quando ela as soltou, Paul a ajudou a
ficar de pé.

Charles trouxe Maddie para a frente da multidão. — Esta é a minha esposa,


Maddie.

Maddie sorriu hesitante para Paul, em seguida, para Cassie. Cassie sentiu
nenhuma incerteza. Ela abraçou Maddie como se a tivesse conhecido durante toda
sua vida.
— Nós estávamos nos preparando para tomar o café da manhã — disse
Maddie. — Vocês gostariam de se juntar a nós?

Cassie passou o braço pelo de Maddie. — Isso seria maravilhoso. E eu quero


ver a casa e ouvir tudo sobre como você conheceu Charles. Temos tanta coisa para
recuperar pelo atraso de anos e anos.

— Quando a varíola atingiu a comunidade, o Sr. e a Sra Lawrence decidiram


partir. Eu não estou certa para onde estávamos indo, mas o Sr. Lawrence faleceu na
viagem. A Sra. Lawrence voltou para sua família na Virgínia.

— Então, no ano passado, quando ela morreu, eu descobri que ela tinha
deixado tudo para mim. No início, eu não sabia o que fazer com todo o dinheiro.
Eu pensei em tentar os encontrar eu mesma, mas parecia uma tarefa impossível. Eu
fui para a Agência Pinkerton, em Washington. E eles atribuíram Paul para o meu
caso. — Ela sorriu calorosamente para seu marido.

— Ele é um investigador extremamente qualificado. Depois de nosso


primeiro encontro, eu percebi que eu não me lembrava o suficiente sobre minha
infância para realmente o ajudar em sua busca. Ele sugeriu que saíssemos para
jantar onde poderíamos discutir as coisas em um ambiente mais casual. Ele pensou
que a abordagem poderia desencadear memórias.

— E fez isso? — Jesse perguntou, a voz tensa.


— Bem, sim, de fato, fez. Me lembrei de tantos pequenos detalhes que nós
fomos jantar com mais frequência. Então Paul me perguntou se eu conhecia alguns
cavalheiros. Ele sentiu que poderia haver algo sobre eles que me faria lembrar dos
meus irmãos e ele os entrevistou. — Ela franziu as sobrancelhas e olhou para o
marido. — Engraçado, nenhum deles jamais falou comigo novamente depois disso.
— Ela apertou sua mão. — Não que isso importe agora. E, claro, ele encontrou
vocês.

— E era bastante considerável esta herança? — Jesse perguntou, batendo


com os dedos no braço da cadeira, seu olhar fixo em Paul.

— Sim, foi — respondeu Cassie.

Jesse se inclinou para frente. — E Somner apenas decidiu se casar com você
sem obter a permissão de seus irmãos em primeiro lugar?

— Bem, nós não poderíamos ter viajado juntos por todo o país se não
estivéssemos casados.

— Ele poderia ter pedido permissão, quando ele esteve aqui antes.

— E estragar a minha surpresa? — Paul interrompeu.

— Eu quero saber por que você se casou com ela.

— Eu acho que as minhas razões são óbvias.


— Por que você não me esclarece?

Paul se inclinou para frente até que seu olhar estava no mesmo nível com o
de Jesse. — Eu a amo.

— O que está acontecendo entre vocês dois?

— Jesse está só brincando de irmão mais velho — Charles informou. —


Depois de todos esses anos, Cassie, você vai ter que se acostumar com isso.

— Eu preciso de um pouco de ar fresco — disse Paul antes de se levantar e


sair da sala.

Na varanda de trás, ele fumou seu charuto. Cassie não gostava muito que ele
fumasse, e ele supôs que ele precisava considerar desistir dos charutos. Por outro
lado, qual mulher quereria se casar com um homem que era perfeito? — Ainda me
espionando, Jesse?

Jesse deu um passo para a varanda. — Não me lembro de ter lhe dado
permissão para me chamar de outra coisa senão Sr. Lawson.

Paul trincou os dentes. — Você é um maldito velho irascível, não é? Não


consigo imaginar por que Cassie estava tão ansiosa para o encontrar.

— Bem, eu não posso imaginar por que ela se casaria com você.
Paul olhou para ele de lado. — Você não pode? Em algum lugar abaixo da
sua aparência rude eu acredito que bate o coração de um homem que sabe o que é
olhar através da sala para uma mulher e saber que ele nunca deixaria nada nem
ninguém a prejudicar. Cassie está segura comigo, assim como Maddie está segura
com você.

Jesse deu um suspiro. — Quanto tempo eu vou ter que sofrer com a sua
presença irritante?

— Eu estive pensando nisso. Charles parece ter envelhecido


consideravelmente desde a última vez que eu estive aqui. Eu tinha planejado ficar
apenas alguns dias. Então eu ia levar Cassie para Galveston, mas estou pensando
que poderia significar mais para ela nos anos posteriores se nós ficássemos aqui
um pouco mais. — Ele arqueou uma sobrancelha questionando.

Jesse assentiu. — Ela pode preferir ficar aqui um pouco mais.

— Nesse caso, por que você não me diz o que eu posso fazer para ajudar a
tirar parte da carga de seus ombros?

Conforme Jesse erguia a tábua, ele admitiu para si mesmo o que ele iria
admitir a ninguém. Ele sentia um certo grau de admiração por Somner. Na semana
passada, o homem tinha empreendido com tenacidade cada tarefa que Jesse tinha
sugerido. Foi um pouco desconcertante perceber que eles tinham mais coisas em
comum do que não tinham.
Paul bateu o prego na tábua. Ele sentiu uma certa medida de orgulho por
suas realizações nesta semana. Ele conseguiu manter o ritmo com Jesse, um feito
que ele pensava que poucos homens eram capazes de fazer. Ele endireitou as
costas, tirou o chapéu, e permitiu que a brisa despenteasse o cabelo dele. Ele olhou
por cima do ombro. — Que som é esse?

Jesse largou o martelo dentro do balde, retirou as camisas do poste, e jogou


uma para Paul. — A razão pela qual esta cerca nunca vai ser terminada. — Ele
passou por cima de uma parte incompleta da cerca. — Venha.

Apressando-se para alcançar as longas passadas de Jesse, Paul o seguiu para


a floresta. Ele ouviu o riso e um respingo distante. Em seguida, eles caminhavam
em uma pequena clareira.

— Paul! — Cassie gritou. Ela soltou a corda e acenou pouco antes de


mergulhar na água.

— Meu Deus, o que é que ela está vestindo? — perguntou Paul.

— A mais recente moda deste lado do riacho — respondeu Jesse.

Aaron correu. — Tio Paul, me deixe mostrar o deslizar na lama.

Paul seguiu o menino para a encosta lamacenta. — Você disse que é —


Essas foram suas últimas palavras e deu um grito, quando Aaron bateu com o
ombro contra a coxa de seu tio. Paul deslizou para baixo do aterro lamacento e
atingiu a água. Ele olhou para cima e viu Jesse orgulhosamente dando um tapinha
no ombro de Aaron.

Jesse olhou para o homem deitado na água. — Surpresa! — Então ele jogou
a cabeça para trás e riu, um estrondo profundo que enviou os pássaros a voarem
das árvores. Paul retornou sua risada.

Jesse voltou sua atenção para seu irmão. Charles estava estendido no chão, a
cabeça apoiada no colo de Maddie enquanto ela corria continuamente os dedos
pelo seu cabelo. Ele atravessou a clareira e se agachou diante deles. — Ele está
dormindo?

— Não, eu não estou dormindo — disse Charles, abrindo um olho. — Não


com toda essa gritaria e comoção acontecendo.

Jesse olhou ao longe, nas formações de nuvens grossas revestindo o céu. —


Parece fazer um tempo mais fresco aqui.

— Por isso que eu decidi passar o dia de hoje no riacho — disse Maddie. —
Cassie nunca nadou em um riacho antes.

Jesse deu um largo sorriso. — A julgar pela expressão no rosto de Paul


quando ele atingiu a água, ele tampouco.

— Eu acho que você gosta dele — disse Charles.


Jesse olhou para o casal sendo chapinhado de água pelas meninas na
margem, o que lhes permitia mergulhar de volta, fingindo ataques diretos. — Eu
acho que Cassie poderia ter feito uma escolha pior — disse ele a contragosto.

Charles se sentou e esfregou o braço esquerdo, tentando tirar a dormência


dele enquanto ele se inclinava contra a árvore. — Eu acho que você diz isso apenas
porque ele superou você. Você pensou que ele estava à procura de Maddie quando
ele estava realmente procurando por você.

— Ele poderia pelo menos ter tido a decência de explicar a situação para
mim quando eu o confrontei.

— Quando você o confrontou? — perguntou Charles.

Jesse começou a puxar para cima as ervas daninhas. — Quando ele esteve
aqui antes.

— Exatamente o quê você disse a ele?

— Eu não me lembro exatamente. Talvez eu o tenha ameaçado matar.

— O quê? — Maddie e Charles exclamaram em uníssono.

Ele deu de ombros. — Só se ele fizesse Maddie infeliz. Agora, eu o vou


matar se ele fizer Cassie infeliz.

— Eu não acho que ele está em perigo — disse Maddie.


Ele sorriu. — Não, eu não acho que ele está.

Tremendo, Taylor se aproximou, se deixou cair no colo de Jesse, e


pressionou as costas molhadas contra seu peito. Maddie lhe entregou uma toalha.
Ele a colocou sobre Taylor e esfregou energicamente.

Cassie logo se juntou a eles e envolveu um cobertor em torno de seu corpo


encharcado. — Isso foi revigorante. — Ela olhou ao seu redor. — Isso é
maravilhoso. É tão estranho, e eu não sei como explicar isso, mas eu não me sinto
como se tivéssemos realmente estado separados.

— Eu sei o que você quer dizer — disse Charles. — Eu me senti da mesma


forma quando Jesse apareceu na minha porta.

— Eu acho que é o que significa ser uma família — disse Cassie suavemente
— saber que anos e milhas nunca podem realmente separar você. Vocês sabem
onde mamãe e papai estão enterrados?

— Não — disse Jesse. — Havia um monte de túmulos.

Decepção teceu as feições de Cassie. — Eu tinha a esperança de erguer um


monumento sobre o lugar de descanso deles, mas vou ter de me contentar com a
nomeação do fundo de doação em homenagem a eles.

— Fundo de Doação? — Jesse perguntou.


Cassie riu timidamente. — Minha herança. Nós a deixamos para isto e
encontramos causas dignas para as distribuir.

— Você não está vivendo dela? — Jesse perguntou.

— Da minha, não. Ela era uma ninharia comparada à herança de Paul que
seus pais deixaram quando morreram. Nós não precisávamos dela, então ao invés
de a ver se perdendo entre sua riqueza, ele sugeriu que eu a colocasse em um fundo
de confiança e usasse para obras de caridade.

Os olhos de Jesse se estreitaram. — Ele tem um monte de dinheiro?

— Oh, meu Deus, sim.

— E ele simplesmente esqueceu de mencionar esse fato pequeno sobre si


mesmo no outro dia quando eu acusei de se casar com você pela sua herança.

— Ele é realmente bastante modesto e tenho certeza de que...

— Ele queria que fosse uma surpresa — Jesse resmungou.

Cassie sorriu. — Bem, ele desfruta de suas surpresas.


A brisa fria do outono bagunçou o cabelo de Aaron quando ele se sentou na
varanda com seu pai. Se Billy o visse, Billy o chamaria de mocinha por estar
sentado no colo de seu pai, mas Aaron não se importava. Ele conhecia segredos,
segredos que seu pai lhe dizia quando eles assistiam a queda do sol além do
horizonte. Segredos que faziam ele abraçar seu pai um pouco mais apertado à noite.
Segredos que o faziam feliz por que podia se sentar no colo de seu pai à noite,
quando ninguém estava olhando.

— Eu queria que fosse primavera — disse ele melancolicamente.

— Por que? — perguntou Charles.

— Então, nós poderíamos fazer uma pipa e a soltar.

— Por que temos que esperar pela primavera?

— Nunca vi ninguém empinar pipa no outono — respondeu Aaron.

— Então nós seríamos os primeiros, não?


Aaron ficou inquieto se mexendo até que pôde enfrentar seu pai. — Você
acha que estaria tudo bem?

— Eu não vejo por que não. Eu gostaria de soltar uma pipa, também.

Aaron saltou do colo do pai. — Devemos manter isso em segredo, também?

— Não, vamos compartilhar com os outros. Veja se eles querem se juntar a


nós.

— Eu aposto que eles vão! — Aaron gritou quando saiu da varanda e correu
pela porta.

Charles deu uma última olhada no pôr do sol antes de seguir seu filho para
dentro.

Aaron desceu as escadas, dois degraus de cada vez, e derrapou na sala. Jesse
e Paul olharam para cima do tabuleiro de damas. Maddie parou de bordar o olho da
boneca de Taylor. Cassie, Hannah, e Taylor abaixaram suas xícaras de chá.

— Eu e Papai faremos uma pipa esta noite! E a soltaremos amanhã — Aaron


anunciou, a excitação claramente visível em seu rosto.

— Onde é que você a vai soltar? — Jesse perguntou.

— No prado. Você vai ter que mover suas vacas.


Jesse arqueou uma sobrancelha. — Oh, eu vou?

— Sim, senhor, se você não se importar.

Jesse olhou para seu irmão quando Charles sentou ao lado de Maddie no
sofá e pegou sua mão. — Você soltará uma pipa amanhã? — Jesse perguntou.

— Se tivermos uma brisa como a que tivemos hoje. Aaron não quer esperar
até a primavera. Nem eu.

— Bem, então, me deixe afirmar a minha vitória aqui, e nós vamos fazer
uma.

— Por que fazer apenas uma? — perguntou Paul. — Nós temos três crianças
aqui. Parece que devemos fazer três.

— Nós? — Jesse bufou. — O que um garoto da cidade sabe sobre como


fazer pipas?

Paul sorriu. — Eu posso fazer uma pipa que faria Benjamin Franklin ter
inveja.

— Sério? — Jesse incentivou.

— Realmente.
— O que há com vocês dois? — perguntou Cassie. — Por que vocês tem
que competir em tudo?

— Senhora, nem sequer começamos a competir. — Jesse se recostou na


cadeira, com os olhos em Paul. — Escolha o seu parceiro.

Paul olhou ao redor da sala. — Quem quer me ajudar a fazer a melhor pipa
que já enfeitou o céu?

Hannah acenou com a mão. — Eu vou ajudá-lo, tio Paul.

— E você, Taylor? Você quer me ajudar? — Jesse perguntou.

Taylor balançou a cabeça.

— Tudo bem — Jesse disse, olhando para o seu adversário. — Por que você
não cede, e nós vamos trabalhar nas pipas?

Paul balançou a cabeça. — Eu não estou perdendo. Este jogo é meu.

Jesse bateu com a mão na mesa. — Estou me sentindo esta noite magnânimo.
Eu vou lhe conceder isso.

— Oh, não, você está apenas tentando me negar uma vitória.

— Paul! Se ele desistir, você ganha — disse Cassie.


— Não, eu não ganho. Eu não vou ganhar a menos que eu o vença, e ele
sabe disso.

Jesse sorriu. — Você vai se contentar com um empate?

Levantando as mãos para fora da mesa, Paul devolveu o sorriso. — Eu posso.


É o mais perto que vou chegar a uma vitória honesta, até amanhã de qualquer
maneira.

Eles arrastaram suas cadeiras pelo chão em uníssono, e as meninas correram


para seus lados. Jesse içou Taylor em seus braços. — Vamos ver o que podemos
encontrar para fazer uma pipa.

Quando todos saíram da sala, Charles apertou a mão de Maddie. — Você


quer ajudar?

— Não, eu tenho outra coisa em mente para a minha contribuição desta noite.
Você e Aaron começam e eu os vou surpreender.

— Tudo bem. — De pé, ele vacilou, se inclinou e colocou a mão na parte de


trás do sofá.

Maddie colocou a palma da mão em suas costas. — Você está bem?

— Sim, só fiquei tonto por um minuto.


Ela passou o braço pelo dele. — Minha surpresa terá lugar na cozinha. Por
que você não anda comigo até a sala de jantar?

Deslocando seu peso, ele se inclinou contra ela. — Um verdadeiro


cavalheiro a iria levar por todo o caminho até a cozinha.

— Não quando ele tem algo tão importante como uma pipa para fazer.

No momento em que eles saíram da sala de jantar, a grande mesa de


carvalho estava coberta com ingredientes para a pipa: palitos finos, galhos, papel
de jornal, corda. Aaron estava ocupado misturando farinha e água para fazer uma
pasta para manter sua pipa junta. Ele levantou a colher. Não contente com a
consistência da substância branca, acrescentou mais água e agitou-a novamente.

Maddie puxou uma cadeira. — Você se senta aqui, e eu vou pegar a minha
surpresa. — Conforme Charles se sentou, ela olhou através da mesa para Jesse,
com os olhos mais exigentes como sempre, estudando Charles. Ele levantou o
olhar para ela. — Eu tenho alguns pedaços de chita que vocês podem usar para as
caudas de suas pipas — disse ela.

Ela caminhou até a cozinha e apertou as mãos contra a mesa, inclinando a


cabeça, lutando para conter as lágrimas, sabendo que não as poderia liberar até
depois que todos tivessem ido para a cama. Ela se obrigou a ouvir o riso vindo do
outro aposento, o riso inocente das crianças se misturando com o riso conhecedor
dos adultos. Ela ouviu a brincadeira alegre, os argumentos enganosos, as vozes
excitadas das crianças. Então, ela ouviu a voz profunda que ela precisava ouvir.
— Onde foi que você disse que a chita estava?

Virando, ela foi direto para o abraço forte de Jesse. Ele fez nada mais do que
abraçar, mas foi o suficiente. Respirando fundo, ela deu um passo para trás e sorriu.
— Os retalhos estão em minha cesta de costura na sala de estar.

Ele tocou os nós dos dedos em sua bochecha, soletrando as palavras "Eu te
amo", e calmamente saiu da sala, deixando seu amor e força para trás. Ela colocou
seu coração em volta dos presentes dele, tirou um pote da parede, empurrou a
panela no fogão, e começou a trabalhar.

Algum tempo depois, ela voltou para a sala de jantar e colocou um prato ao
lado de Charles.

— Papai, você tem que amarrar a corda mais apertada ou os paus não vão
ficar juntos — disse Aaron.

Segurando sua mão esquerda e a movendo para o seu colo, Charles olhou
para Maddie. — Meus dedos parecem não querer trabalhar.

Ela forçou um sorriso corajoso para ele e para as crianças que estavam
olhando. — Eu mesma tenho dificuldade em lidar com isso, mas eu vou ajudar
Aaron se você saborear o Fudge e deixar saber se vale a pena compartilhar. Abra a
boca. — Ela bateu um pedaço de doce em sua boca.

Ele fechou os olhos e sorriu. — Sim, vale a pena compartilhar.


— Então, o passe para cá — disse Jesse.

Maddie moveu o prato para o meio da mesa, em seguida, começou a ajudar


Aaron com sua pipa. Charles estendeu a mão sobre a mesa para outro pedaço. —
Não consigo me lembrar da última vez que comi Fudge — disse ele.

— Sabe por que eu fiz esse doce? — ela perguntou.

— Não.

Ela sorriu. — Porque a primeira vez que eu olhei em seus olhos, eu pensei
no Fudge que minha mãe costumava fazer no Natal.

Charles se inclinou para trás. — Isso é interessante. Meus olhos lembram


você de Fudge. Seus olhos lembram Jesse de uísque. O que os olhos de Jesse
lembram?

Ela olhou para baixo na mesa, olhando nos olhos negros.

— Café! — Hannah gritou, com a mão cobrindo seu sorriso largo. — Porque
o tio Jesse bebe muito café, ele enche sua barriga e vai para os olhos.

— E o que seus olhos me lembram? — Jesse perguntou, seus olhos se


estreitando.

Hannah inclinou-se sobre a mesa até que a ponta de seu nariz estava quase
tocando o nariz de Jesse, e seus olhos estavam grandes e redondos.
— Bolo de chocolate — disse Jesse quando ele a agarrou e fez cócegas em
sua barriga. — É porque você come muito bolo de chocolate que enche sua barriga
e vai para os olhos!

Guinchando, Hannah desabou sobre a mesa.

— Tire suas mãos de minha parceira — disse Paul enquanto Jesse fazia
cócegas em Hannah. Ela gritou quando seus dois tios continuaram seu ataque.

— Do que você está rindo, Aaron? — perguntou Cassie. Juntas, ela e


Maddie puxaram Aaron para fora da cadeira. Ele se contorcia no chão conforme
elas faziam cócegas.

Taylor desceu da cadeira e se arrastou para o colo de Charles. — Fud — ela


sussurrou. Charles puxou o prato mais perto. Juntos, eles assistiram a comoção
acontecendo em volta deles enquanto comiam, pedaço após pedaço de Fudge do
prato.

Jesse parou de fazer cócegas em Hannah e olhou para o outro extremo da


mesa. — Ei, o que aconteceu com o fudge?

Paul parou de fazer cócegas em Hannah, Maddie e Cassie pararam de fazer


cócegas em Aaron, e todo mundo ficou muito quieto. Jesse caminhou até Taylor.
Ela fechou os olhos apertados.

— De que cor são seus olhos, Taylor? — Jesse perguntou.


Ela balançou a cabeça vigorosamente.

— Eles não me iriam lembrar de fudge, iriam?

Ela gritou quando ele a pegou e a colocou sobre a mesa. — Não, eu acho
que eles não iriam, mas os do seu pai sim!

Charles não soube como aconteceu, mas de repente se viu sob ataque. Ele
tentou escapar dos dedos contorcidos de Jesse e em vez disso deslizou para o chão,
sua risada ecoando a sua volta. — Bom Senhor! Jesse, pare!

— Você comeu todo o Fudge!

— Foi Taylor! Não eu!

— Não! — Taylor gritou conforme ela rastejou sobre o fim da mesa.

Aaron se levantou e começou a fazer cócegas em seu pai. Quando Hannah


logo se juntou a ele, Jesse recuou. Paul colocou Taylor no chão. — Vá agradar seu
pai — disse ele, e ela correu para o homem se contorcendo, seus pequenos dedos
trabalhando para aumentar o riso.

Charles riu e rolou de lado a lado até que ele estava sem ar. Observando de
perto, Jesse levantou Aaron e Hannah para longe. — Isso é o suficiente. — Taylor
apoiou a cabeça no peito de Charles.
— Mas o que dizer do Fudge? — Aaron perguntou.

— Maddie apenas fará um pouco mais — disse Jesse. — Se não


terminarmos estas pipas, elas não poderão voar amanhã.

Maddie se ajoelhou ao lado de Charles. — Você está bem?

— Sim, eu precisava disso.

Ela o ajudou a se levantar e todos se reuniram ao redor da mesa. Voltando


sua atenção para as pipas, eles já não trabalharam em equipes, mas trabalharam
como uma família.

Maddie saiu da cama e foi até a janela. Olhando para fora, ela viu Charles
sentado em uma cadeira de balanço na varanda. Ela pegou seu roupão, enfiou os
braços e se juntou a ele. — O que você está fazendo aqui? — ela sussurrou,
puxando o roupão com mais força sobre ela para se agasalhar do frio da madrugada.

— Só queria ver o nascer do sol. — Ele estendeu a mão para ela.

Ela colocou a mão na sua, se lembrando de um momento em que a dele


parecia tão quente e forte. Agora, parecia que a primeira geada do outono havia se
estabelecido sobre ela. Ele deu um leve puxão. — Venha se sentar comigo.
— Só um minuto. — Ela caminhou de volta para seu quarto e voltou com a
colcha da cama deles. Sentando em seu colo, ela colocou a colcha em volta deles e
se aconchegou contra ele. Charles sorriu. — Nós deveríamos ter feito isso antes.

— Nunca fez esse frio na parte da manhã antes de agora.

— Vai ser quente ao meio-dia, mas você sente a brisa? É uma boa brisa para
soltar uma pipa.

Sob a colcha, Maddie tomou suas mãos nas dela e esfregou vivamente,
tentando restaurar um pouco de calor em seus dedos. — Eu pensei em fazer um
piquenique e passarmos um dia inteiro ao ar livre.

Charles passou os dedos em torno dos dela, acalmando suas mãos. —


Maddie, eu quero que você saiba que se for permitido a um homem levar suas
memórias com ele, o céu será muito mais doce com os presentes que você me deu.

Com lágrimas transbordando nos olhos, ela olhou para seu amado rosto,
querendo negar a implicação de suas palavras, mas sabendo que aquilo não seria
bom. Em vez disso, ela expressou as palavras que sabia que iriam dar a ele mais
paz. — Eu vou cuidar bem de seus filhos e os amar como se fossem meus.

— Eu sei que você vai. E você continue fazendo o café de Jesse forte e
escuro como breu. Parece melhorar seu humor.

Então, porque ela nunca tinha feito isso antes, ela apertou os lábios nos dele,
o beijando docemente. Emoldurando seu rosto, ele o inclinou para o dele, olhou em
seus olhos, um sorriso enfeitando seu rosto. — Talvez devêssemos ter feito isso
antes, também.

Sorrindo suavemente, ela deitou a cabeça na curva de seu ombro. — Talvez


sim — disse ela calmamente.

Envolvendo os braço ao redor dela, ele olhou para o horizonte distante,


passando pelas colinas cobertas de árvores, vestidas nas cores do outono. — Ah,
Maddie, olhe. Vai ser um dia bonito.

Ela virou a cabeça ligeiramente, mas o novo amanhecer era pouco mais que
uma névoa de cores vistas através de um arco-íris de suas lágrimas.

— Solte! — Charles gritou enquanto Aaron corria, sua mão segurando a


pipa, o braço estendido em direção ao céu.

Aaron lançou a pipa, e ela pegou o vento, subindo para o céu azul. Hannah
lançou sua pipa e o vento a levou em direção às nuvens. Taylor se agarrava ao
pescoço de Jesse enquanto ele corria com ela. Então ela abriu os dedos, e a pipa
momentaneamente mergulhou para baixo antes que flutuasse para cima. As
crianças gritaram, os adultos aplaudiram, e sorrisos cheios enfeitava cada rosto no
prado. As crianças correram para trás e reivindicaram os galhos que ancoravam o
vôo das pipas.

— Acha que ela vai tocar o céu, papai? — Aaron perguntou.


Charles se agachou. — Sim, eu acho que vai.

— Você acha que mamãe a pode ver?

— Sim.

— Eu soltarei uma pipa a cada outono, papai. Você vai olhar para ela?

Com lágrimas entupindo sua garganta, Charles puxou Aaron para perto. —
Sim, filho, eu vou olhar para ela.

— Você a vai tocar?

— Sim, eu vou, e sua mãe vai,também.

— Eu vou compartilhar os segredos com Hannah e Taylor quando elas


ficarem velhas o suficiente.

— Eu te amo — Charles sussurrou. Então ele se levantou, e seus passos


vacilaram.

Jesse olhou para ele. — Você está bem?

Ele assentiu. — Apenas cansado. — Ele caminhou até Hannah e a abraçou.


Depois ele se ajoelhou e abraçou Taylor. Depois que ela voltou sua atenção para a
sua pipa voando, Charles continuou ajoelhado, uma mão pressionada no chão,
apoiado no braço para se segurar.

Jesse se agachou ao lado dele. — Por que não vamos nos sentar sob a árvore
por um tempo?

Charles assentiu. Jesse o ajudou a se levantar. Maddie chegou ao lado dele.


— Charles?

Ele pegou a mão dela, desejando que tivesse força para lhe apertar a mão e a
tranquilizar. — Você fica com Taylor. Ela vai ficar chateada se ela perder sua pipa.

Ela não tinha nem a coragem, nem o desejo de sorrir, mas colocou um leve
beijo em sua bochecha antes de voltar sua atenção para Taylor.

Charles se inclinou para Jesse, enquanto caminhavam lentamente em direção


ao grupo de árvores. Jesse o ajudou quando ele sentou no chão sob a sombra fresca
da árvore de carvalho. Charles se inclinou contra a casca áspera da e Jesse sentou
ao lado dele. — Maddie se encaixou aqui, não foi, Jesse?

Jesse olhou através da clareira para Maddie, ouvindo sua risada conforme
ela ajudava Taylor a guiar sua pipa. — Sim.

Com esforço, Charles moveu seu corpo, cavou algo do bolso e colocou na
mão de Jesse. — Você se lembra disso?
Jesse olhou para o círculo delicado de ouro. — O anel da mamãe. Como
você o chegou a ter?

— Se lembra daquela caixa de utilidades e finalidades que eu costumava


guardar debaixo do meu travesseiro e nunca compartilhava com vocês? De alguma
forma, ele terminou lá. Nunca pareceu certo que eu o tivesse. Eu comprei para
Alice e Maddie seus próprios anéis.

Jesse fechou os dedos sobre o presente precioso. Sua mãe tinha muitas vezes
lhe dito que o anel a ligava ao que ela amava.

— Você poderia me fazer um favor? — perguntou Charles.

Jesse olhou para seu irmão, sua tez pálida. — Qualquer coisa.

— Eu quero que você me prometa que, quando o homem que ama Maddie se
casar com ela, ele vai colocar o anel em seu dedo.

Jesse virou o rosto, apertando o punho até que ele sentiu o anel cortar a
palma de sua mão. Ele tinha sido tão transparente nestes últimos meses?

— Prometa.

Jesse deu um breve aceno de cabeça, sua voz rouca. — Eu prometo.

Suspirando de alívio, Charles se deitou contra a árvore. — Isso a vai manter


na família, não vai, Jesse?
Jesse desenrolou a mão. — Sim.

Os olhos de Charles se preencheram com pesar. — Eu sinto muito, Jesse. Eu


deveria ter lhe dado sua liberdade há muito tempo... Quando eu percebi que ela
estava apaixonada por você.

Jesse encontrou o olhar de seu irmão. — Ela nunca se afastou de seus votos,
Charles. Nada mais que palavras se passou entre nós. — Ele fez uma careta. —
Bem, talvez um beijo ou dois.

— Eu sei, e isso de alguma forma faz com que eu pareça muito mais egoísta,
mas você vê, eu sou um covarde. Eu estive sempre com medo de que morreria à
noite... E eu não quero estar sozinho. Isso é um inferno de uma coisa para pedir a
uma mulher.

— Ela é sua esposa...

— Não, Jesse, ela nunca foi a minha esposa. Ela tem sido uma boa mãe para
os meus filhos e uma amiga querida para mim, mas nunca minha esposa. — Ele
descansou a palma da mão sobre o peito. — Dentro do meu coração, eu tive apenas
uma esposa... E foi Alice. Você tem que entender o quanto eu amo Alice ou você
nunca vai entender o que eu vou dizer a você agora.

~
— Pipa, voa alto! — gritou Taylor, com as mãos fechadas em punhos
apertados ao redor do galho onde estava a corda da pipa. Maddie puxou Taylor
contra ela e ouviu o rufar do vento, um som bonito, quase como uma canção de
amor enfeitando os céus. Uma calma estava em volta dela, e ela conheceu uma paz
interior diferente de qualquer uma que já tinha conhecido.

Ao longe, ela ouviu os soluços angustiados e olhou na direção das árvores


onde Jesse tinha levado Charles. Ela sentiu seu coração despencar com a visão de
Jesse pairando sobre Charles.

— Eu vou observar Taylor — disse Paul, colocando a mão sobre seu ombro.

Maddie se virou para Paul. Ela viu em seu rosto a verdade dolorosa que seu
coração não queria aceitar. Cassie estava aninhada a seu lado. Ela observou os
pequenos ombros de Cassie se agitarem conforme o braço de Paul protetor
blindava sua dor das crianças. Ela apertou a mão de Cassie. — Você quer vir
comigo?

Virando o rosto do peito de Paul, Cassie sacudiu a cabeça e forçou um


sorriso trêmulo. — Eu prefiro que a minha última memória de Charles seja dele
empinando uma pipa. — Ela enxugou as lágrimas de seus olhos. — Paul e eu
vamos manter as crianças ocupadas. Vá para Jesse.

Grata pela sua força tranquila e calma, Maddie assentiu. Andando


rapidamente na direção das árvores envoltas nas sombras do fim da tarde, o
sofrimento brotou dentro dela, ela reuniu sua própria coragem e força. Ela se
ajoelhou na grama alta. Se pudesse ter encontrado as palavras para exprimir em
voz alta, ela as teria dito, mas sabia que algumas coisas na vida foram feitas para
serem entregues em silêncio. Ela colocou as mãos nos ombros trêmulos de Jesse.
Gentilmente, ele deitou Charles na terra fria antes de envolver seus braços
em torno de Maddie e pressionar o rosto contra seu peito. — Nós estávamos
falando. Então ele apontou para as árvores e disse que viu Alice, que ela estava tão
bonita como ela esteve no dia em que ele se casou com ela. Eu olhei, mas eu não vi
nada. — Ele levantou a cabeça, seus olhos procurando os dela por algo que ele não
conseguia entender. — Ele estava sorrindo, e havia tanta alegria em seus olhos,
que eu não posso sequer tentar descrever. Ele estendeu a mão, curvando seus dedos
como se estivesse tomando a mão de alguém. — Ele sufocou um soluço. — Então
ele se foi.

Maddie o puxou contra ela e sentiu o corpo se sacudir com a força de sua
tristeza.

— Maldição, isso machuca — ele sussurrou com voz rouca. — Eu não


estava pronto para a partida dele.

— Mas ele estava. — Com lágrimas inundando seus olhos, ela embalou sua
bochecha com a palma da mão. — Ele perdeu Alice, e agora ele está com ela.

Balançando a cabeça, Jesse se afastou e enxugou as lágrimas do rosto. Ele


roçou seu pulso sob nariz, fungando e sufocando quaisquer outras lágrimas. — Sim,
ele estava me dizendo o quanto ele a amava e o quanto ele se importava com você.
— Ele soltou um suspiro irregular. — Eu o preciso levar para a casa.

— Eu vou com você.


Ele podia fazer pouco mais do que assentir. Ele levantou Charles em seus
braços, o embalando uma última vez.

A porta rangeu quando Maddie a abriu e saiu para a varanda. Aaron estava
sentado nos degraus, os cotovelos em suas coxas, o queixo pousado em suas mãos.
Ranger jazia a seus pés como ele, também lamentando.

Naquela tarde, Charles tinha sido colocado para descansar ao lado de sua
amada Alice. Taylor era muito jovem para entender. Para Hannah, Charles tinha
ido apenas em uma viagem para estar com sua mãe. Apenas Aaron entendia a
realidade. Maddie se sentou ao lado dele.

— Está tudo bem chorar, Aaron.

Aaron sacudiu a cabeça. — Tio Jesse não chorou.

— Sim, ele chorou — disse ela baixinho. — E quando o fez, eu coloquei


meus braços em torno dele desse jeito. — Ela colocou os braços em torno de
Aaron, o puxando contra o peito. — E o abracei.

O primeiro soluço foi em silêncio, não mais que um tremor passando pelo
corpo da criança. Ele foi seguido por um soluço que soou como se tivesse sido
arrancado de seu coração. — Eu sinto falta de papai — resmungou Aaron, atirando
os braços em volta de Maddie.
Maddie autorizou suas próprias lágrimas a lavarem seu rosto enquanto ela
encostava o rosto no topo da cabeça de Aaron. — Todos nós sentimos. Ele era
muito especial e é nisso que nós temos que pensar e lembrar, de todos os seus
sorrisos, o som de sua risada, o quanto nós o amamos, o quanto ele nos amou.

Aaron se afastou, enxugando as lágrimas do rosto. — Você vai se casar com


o tio Jesse agora? Papai disse que você iria. Disse que eu devia compreender o
assunto.

Maddie olhou para longe, a culpa se manifestando porque Charles tinha


visto através dela, tinha sabido sobre os sentimentos que ela nutria por seu irmão.

— Você o ama, não é? — Aaron perguntou.

Ela o puxou para perto, descansando o queixo no topo de sua cabeça. — É


muito cedo, Aaron. Nossos corações ainda doem.
Cassie caminhou para o pequeno cemitério. Como ele tinha feito tantas
vezes nos dias que se passaram, Jesse estava diante do túmulo de Charles. Ela
colocou as mãos em torno de duas ripas da cerca.

— Paul e eu decidimos ir para Galveston por um par de semanas — disse ela.


— Nós pensamos em levar as crianças conosco, lhes dar uma mudança de cenário,
os conhecer melhor.

Jesse olhou para ela e assentiu. — Isso soa como uma boa ideia. Talvez você
pudesse levar Maddie com vocês também.

Cassie abriu a boca como se fosse falar, depois a fechou. Ela olhou para as
folhas douradas das árvores. A vida nunca parecia simples. Ela trouxe seu olhar de
volta para Jesse. — Na verdade Jesse, eu estava pensando que talvez você e
Maddie poderiam se casar antes de partirmos. Isso lhe daria a chance de ter algum
tempo sem as crianças ao redor.

— Jesus! — Jesse se moveu rapidamente pelo portão e caminhou em torno


da cerca até que ficou de frente para ela. — Faz apenas duas semanas. Mostre
algum respeito, pelo amor de Deus.
— É isso o que você e Maddie estão fazendo? Mostrando respeito? É por
isso que evitam um ao outro, por que vocês não falam com o outro? É por isso que
você está aqui na frente do túmulo de Charles e ela caminha até o riacho? Por
respeito? Ou é por culpa?

Jesse passou os dedos pelo cabelo, com a voz entrecortada. — Charles sabia
o que nós sentíamos. Eu tomei o que era dele.

Cassie colocou a mão em seu braço. — Não, Jesse. Ele nunca teve a
intenção de que Maddie fosse dele. — Ela tirou um envelope do bolso. — Charles
deu isso a Paul no dia anterior de sua morte. Ele lhe disse para me dar quando
fosse a hora. Quero compartilhar uma parte dela com você. — Ela tirou um pedaço
de papel do envelope e começou a ler em voz baixa.

Minha querida Cassie,

Na minha vida, eu soube o que é ser verdadeiramente amado. Eu conheci o


profundo amor de uma esposa por seu marido, dos filhos por seu pai, e de um
irmão por seu irmão.

Você pode pensar que eu enlouqueci, e talvez eu tenha, mas conforme a


morte pairava sobre mim, eu encontrei uma necessidade de deixar presentes para
aqueles que eu amo, aqueles que me amam, presentes que o tempo não iria apagar.
Embora separados por longos anos, eu conheço Jesse como se ele tivesse
sido criado ao meu lado. Eu sei que ele vai cuidar de meus filhos como eu, que ele
vai dar a eles abnegadamente tudo o que ele tem para dar. E eu temia que, quando
meus filhos crescessem e se afastassem, Jesse iria olhar ao redor e se encontrar
velho e sozinho.

Você vê, querida irmã, ao contrário de você e de mim, Jesse nunca coloca
seu coração em primeiro lugar. E assim, eu tomei uma esposa, esperando que o
amor que ela e Jesse iriam compartilhar com meus filhos pudesse a alcançar eles
também.

Caso a minha esperança mais querida fosse realizada, Jesse e Maddie


deveriam decidir se casar, é meu desejo que você incentive-os a não esperar, para
não lamentar por um ano ou mesmo um dia.

Apesar de deixar todos vocês me trazer grande tristeza, agora estou com a
minha querida Alice e meu coração está mais uma vez completo. A minha
esperança é que Jesse e Maddie encontrem a mesma alegria um no outro.

Cassie dobrou o papel e colocou-o de volta no envelope. — Vamos sair


sábado à tarde. Eu pensei que uma cerimônia simples aqui na casa seria apropriado.
— Ela abraçou Jesse enquanto ele ficava continuava em silêncio diante dela. —
Maddie está no riacho.

Em seguida, ela se afastou. Jesse olhou para os marcadores de granito. —


Você não tinha o direito, Charles, o direito de se casar com ela, esperando que ela
se casasse comigo. — Ele enfiou a mão no bolso. — Mas eu sou muito feliz por
você ter feito isso.

Com o crepúsculo caindo em torno dele, Jesse caminhou em direção ao


riacho. Ele puxou uma folha de uma árvore e começou a rasgar. Ele sabia o que
sentia em seu coração, achava que sabia o que Maddie sentia no dela, mas ela
nunca tinha falado as palavras. Elas não tinham sido dele para receber, mesmo que
ela quisesse as dizer em voz alta.

Ele veio para a margem do riacho e a viu como ele sabia que ela estaria:
sentada, olhando para a água se movendo lentamente... sozinha. Ele conhecia o
sentimento, o havia sentido pela maior parte de sua vida. E ele sabia qual era a
sensação de olhar através de uma sala, encontrar e segurar o olhar dela e lhe dizer
mil coisas sem falar uma uma só palavra.

Ela não se mexeu quando ele sentou ao lado dela. Ele desejou ter reunido
mais folhas para triturar. Ele suspirou, sem saber a melhor maneira de abordar o
assunto. Ali estava ele, mais uma vez fazendo algo sem pensar a respeito. Ele com
certeza esperava que Charles estivesse feliz. — Cassie quer levar as crianças para
Galveston por um par de semanas.

Ela olhou para ele e sorriu. — Oh, eles iriam gostar disso.

Ele coçou o queixo. — Sim, acho que sim. — Ele moveu seu corpo e enfiou
a mão no bolso. — Sabe o que é isso?

Maddie pegou o anel e o segurou na luz escurecida do sol. — Um anel.


— O anel da nossa mãe. Charles me fez prometer que o homem que amasse
você iria colocar esse anel no seu dedo quando ele se casasse com você.

Ela franziu as sobrancelhas e estudou seu rosto. — O quê?

Ele limpou a garganta tão gentilmente quanto podia. — Pensei em fazer isso
no sábado.

— Você pensou em fazer isso no sábado?

— Colocar o anel em seu dedo.

— Neste sábado?

— Eu sei que nós não lamentamos um ano, mas se eu aprendi uma coisa, é
que você nunca sabe o que vai acontecer amanhã. Maddie, eu estou na idade que
meu pai tinha quando ele morreu. E Charles... ele partiu mais jovem. Eu só percebi
que enquanto estamos jovens e saudáveis, devemos fazer isso. É o que Charles
teria desejado.

— Você vai se casar comigo porque é o que Charles queria? — ela


perguntou, um ligeiro sotaque pontuando suas palavras.

— Não, eu vou colocar esse anel no seu dedo porque isso é o que ele queria.
— Ele embalou seu rosto entre suas mãos fortes. — Eu vou me casar com você
porque eu te amo. — A dúvida surgiu dentro de seus olhos. — Ou seja, se você
quiser se casar comigo. Você quer?
Ela colocou as mãos sobre as dele e deu um sorriso que lhe disse tudo, antes
que ela falasse qual sua resposta seria. — Oh sim!

~
Jesse revirou os ombros, sentindo o peso da gravata no pescoço. Enfiando o
dedo entre o nó da gravata e sua garganta, ele a afrouxou até que ele pôde respirar
novamente. Com desgosto, ele olhou para o reflexo do homem sentado na cadeira
atrás dele e ficou um forte desejo de tirar o sorriso de seu rosto.
— Eu pareço um „dandy‟ vestido assim. Inferno, eu me pareço com você!
— Então, sua noiva deve ficar muito satisfeita — disse Paul.
— Eu não sei por que temos de ser tão formais sobre o casamento. Não é
como se ela não tivesse se casado antes.
Paul ficou de pé. — Eu acho que isso por si só seria motivo suficiente para
você se certificar de que hoje seja especial para Maddie.
Jesse mais uma vez ajustou suas roupas.

— Você não está nervoso, não é? — perguntou Paul.

— Claro que não, eu não estou nervoso.

— Vamos descer, então?

— Isso não parece certo — disse Jesse quando ele começou a reorganizar a
gravata.
— Parecia antes de você começar a brincar com ela. — Paul tirou as mãos
de Jesse para o lado e começou a endireitar a gravata.

— Tenha a certeza de que está certa.

Paul deu um suspiro cansado. — Ela esteve das outras três vezes que eu fiz
isso. Ela ficará bem se você mantiver suas mãos desajeitadas fora dela. — Ele deu
um passo para trás. — Não. Nem mesmo olhe no espelho. Apenas aceite minha
palavra. Está perfeita. Vamos chegar no térreo antes de você mexer nela de novo.

Ignorando a admoestação de Paul, Jesse deu um último olhar para o seu


reflexo no espelho. Ele com certeza esperava que Maddie apreciasse todos os
problemas que ele estava tendo em seu nome. — Tudo bem, vamos lá.

Ele saiu para o corredor. Cassie lançou um som de alegria, correu para ele, e
o abraçou apertado. — Como você está bonito!

Ele olhou ao redor do corredor. — Onde está Maddie?

— Ela vai descer daqui a pouco.

— Por que não podemos descer as escadas juntos?

— Porque este é o dia dela, e uma noiva deve ter uma entrada.

— Por que ela precisa de uma entrada? Somos apenas nós, as crianças, e
uma agradável cerimônia tranquila.
Sorrindo, Cassie levantou o rosto. — Ela teve uma agradável cerimônia
tranquila quando se casou com Charles. Eu queria que hoje fosse especial.

— Com medo de descer por si mesmo? — perguntou Paul.

Jesse sacudiu a cabeça e olhou com raiva para o homem irritante. — Não,
eu não estou com medo.

— Então vamos.

Jesse andou em direção às escadas. — Maddie vai descer depressa, não é?


— Ele olhou por cima do ombro. — E se certifique de que ela use o cabelo solto.

— O quê? — Cassie perguntou, seus olhos e boca igualmente arregalados.


— Eu passei duas horas o prendendo.

— Então desprenda. Eu nunca vi seu cabelo solto na luz do dia. Se você quer
que ela faça uma entrada, eu tenho certeza de que ela vai fazer um inferno de uma
entrada com seu cabelo solto. — Ele revirou os ombros uma última vez e começou
a descer as escadas.

— Finalmente o noivo apareceu! — McGuire gritou quando ele se encostou


no corrimão ao pé da escada.
Jesse parou no meio da escada e olhou para o proprietário da loja geral. Ele
tinha removido recentemente cada cartaz de procurado ultrapassado da parede de
McGuire. — O que diabos você está fazendo aqui?

— Eu te disse antes, homem, você não pode se casar secretamente.

Jesse sentiu aquele olhar passando através dele como uma flecha certeira em
seu intestino. Ele continuou descendo as escadas com mais cautela até que ele pôde
espiar a sala. Tudo o que ele podia ver eram as costas das cabeças, as costas de um
monte de cabeças. Ele deu um passo para dentro do hall de entrada, girou, e
mandou um olhar acusador de volta para seu cunhado. Paul sorriu.

— Não se atreva a dizer isso — Jesse advertiu.

— Por que não? É muito divertido dizer. — O sorriso de Paul aumentou. —


Surpresa! — Rindo, ele trotou de volta até as escadas. — Eu vou buscar a noiva!

McGuire colocou a mão no ombro de Jesse. — Nós só queríamos que você


soubesse que aprovamos.

— Supostamente era para ser apenas uma agradável cerimônia tranquila.

— Bem, nós vamos manter as coisas calmas se é isso que você quer, mas
nós trouxemos um tocador de violino. — Ele piscou. — Estou pensando em pedir à
viúva Parker para dançar. Você não gostaria de me negar o prazer, não é? Agora
que eu sei que você não está atrás dela.
— Atrás dela?

— Inferno sim, cara. Você dançou com ela tanto que eu pensei que você
estivesse doce para ela.

— Eu nunca fui doce para ela.

McGuire deu um tapa no seu ombro. — Então vamos lá, cara. Vamos levar
esse casamento adiante.

Agitando as mãos e cumprimentando os convidados conforme ele andava,


Jesse atravessou a sala até que estava de pé em frente da lareira. Ele apertou a mão
do ministro e olhou para seu padrinho.

— Você está nervoso, tio Jesse? — Aaron sussurrou.

— Sim. E você?

Aaron assentiu.

Jesse colocou a mão no ombro do rapaz. — Você se sair muito bem. — Ele
sorriu para Hannah e Taylor, vestidas com elegância, estando do outro lado do
ministro.

Hannah segurou suas mãos ao redor de sua boca. — Você vai ser feliz, tio
Jesse.
Com o sorriso ficando mais aberto, ele acenou com a cabeça. Então ele se
virou e olhou para as portas da sala abertas para as escadas.

Maddie olhou mais uma vez para seu reflexo no espelho e sacudiu a cabeça.
— Cassie, eu não posso usar o vestido de casamento de Alice.

— Por que não? — Cassie perguntou enquanto ajustava a cauda que


flutuava atrás do vestido marfim.

— Porque ela e Charles compartilharam algo especial...

— E você e Jesse não?

Maddie estudou suas mãos trêmulas. — Ele merece alguém melhor do que
eu.

— Isso é para ele decidir.

Ela ergueu o olhar para Cassie. — É?

Cassie assentiu. — E eu diria que ele já está decidido.

— Eu quero ser boa para ele, o fazer feliz.

— Então se case com ele e lhe dê um dia e uma noite como nenhuma que ele
já teve. — Ela abraçou Maddie. — Agora, vamos lá. Você tem um homem nervoso
esperando por você.
~

Jesse observou Cassie descer as escadas correndo e se sentar em uma cadeira


na primeira fila das pessoas reunidas. Encontrando seu olhar, ela sorriu
inocentemente. Ela era sortuda pela sala estar cheia de pessoas ou ele a teria
estrangulado ali. Eles teriam uma longa conversa quando isto tivesse acabado. Ela
estava pegando todos os maus hábitos do marido.

Ele olhou para trás em direção à escada e, de repente, ele não se importava
se todo o estado do Texas estava sentado na sala de estar. Maddie, com seu cabelo
cor de mel caindo em cascata sobre os ombros e as costas estava mais bonita do
que ele jamais imaginou e estava prestes a se tornar sua.

Seus olhos o procuraram e seguraram o olhar dele, e ele sentiu como se tudo
tivesse diminuído em volta para brilhar as duas únicas pessoas que importavam.
Ela caminhou pela sala, o braço apoiado ao de Paul. As pessoas levantaram quando
ela passou, e de repente Jesse esteve malditamente feliz porque estavam todos aqui,
malditamente feliz que ela tivesse tido esse momento, que ela sempre saberia que
seu casamento tinha sido abençoado pelos bons desejos dos amigos.

Com lágrimas transbordando em seus olhos, ela ficou diante dele. O ministro
pigarreou. — E quem dá esta mulher a este homem?

— Charles — disse Paul. Ele apertou a mão de Maddie e deu um passo atrás,
para a deixar para o cuidado de Jesse.
Jesse não se importava se ela deveria lhe dar o braço e ficar ao seu lado. Não
era o suficiente, não era o suficiente para o que ele estava sentindo, não era o
suficiente para tudo o que ele viu refletido em seus olhos. Ele tomou sua mão,
gentilmente a puxou contra ele e colocou seu outro braço atrás de suas costas, a
segurando perto, da forma como ele a pretendia manter pelo resto de sua vida.

Maddie inclinou o rosto para ele, olhando profundamente em seus olhos,


caindo nas profundezas de obsidiana, sabendo que ele sempre a seguraria. Ela
ouviu as palavras do ministro de amor e casamento. Ela escutou o profundo timbre
da voz de Jesse enquanto ele dava seus votos. Em seguida, ela recitou seus
próprios votos, desejando que pudesse lhe dizer o quão estes eram tão diferentes,
tão belamente diferentes dos que ela trocou com Charles. Mas olhando em seus
olhos quando ele deslizou o anel de sua mãe em seu dedo, ela sabia que ele sabia.

Em seguida, ele abaixou a boca para a dela, lhe concedendo um beijo doce e
cheio com a promessa de paixão.

Quando ele levantou os lábios dos dela, as crianças os cercaram, cada uma
querendo seus próprios abraços e então foi a vez de Cassie, com lágrimas nos olhos
e depois Paul.

Os convidados deixaram suas cadeiras e vieram para a frente para expressar


sua felicidade para o casal.

Maddie não ouviu as pessoas afastarem as cadeiras para os lados mas ouviu
os acordes cadenciados do violino. Sorrindo, Jesse a tomou em seus braços e
dançou com ela pela sala. Eles dançaram sozinhos, cercados pela família e amigos,
até que a música desapareceu. Em seguida, outra música começou e outros casais
se juntaram a eles no chão.

— O seu marido disse que você está linda? — Jesse perguntou quando ele se
moveu no compasso da música.

— Não — disse Maddie enquanto seguia seus passos.

— Você está linda.

— A sua esposa lhe disse o quão bonito você está?

Ele tocou o dedo à têmpora. — Sim, eu acho que ela disse.

A valsa continuou mas Maddie estava ciente de nada além dos olhos de seu
marido sobre ela, sua mão segurando a dela. — Um marido não deve ter segredos
de sua esposa. Sobre o que você pensa quando você está dançando?

— Depende de com quem eu estou dançando.

A música se afastou em silêncio. Ele sussurrou perto de seu ouvido — Tente


escapulir após a próxima dança, e eu vou te dizer sobre o que eu estava pensando
naquela noite no celeiro.

Paul chegou até eles. — Eu acredito que é habitual a noiva dançar com o
padrinho, mas eu temo que Aaron não queira a parte de dançar, então eu
gentilmente me ofereci para o substituir. Você não se importa, se importa, Jesse?
— Não, isso vai me dar a chance de dançar com a minha irmã. — Ele
apertou a mão de Maddie. — Não esqueça. — Ele fez o seu caminho através da
multidão até que localizou Cassie, tomou sua mão, e a levou para o centro da sala.

— Você está com raiva de mim — disse ela.

— Não. Eu estava, mas eu não estou mais.

— Bom. Isto é como os casamentos devem ser: com a família e os amigos


comemorando um novo começo. É da maneira que Charles queria.

— Deus, eu sinto falta dele, Cassie.

— Mas há muito dele aqui, Jesse. Você não pode se virar sem ser lembrado
dele.

Eles valsaram até que a melodia lírica chegou ao fim. Jesse levou seus dedos
aos lábios e beijou a ponta deles. — Nunca dancei com a minha irmã antes.
Obrigado.

Ele esbarrou nela quando alguém esbarrou nele. Ele olhou para o rosto
radiante de Aaron conforme ele embalava um filhote de cachorro manchado de
preto e branco contra seu peito.

— Olhe, tio Jesse. Billy tem mais alguns filhotes. Ele nos quer dar este como
um presente de casamento! Você vai deixar?
Jesse estudou o rosto jovem, um rosto tão parecido com um que ele tinha
acalentado como uma criança, e perdido como um adolescente. Ele soltou um
suspiro de resignação que fez o sorriso de Aaron aumentar. — Eu suponho que sim.
Do que você vai chamá-lo? Rancher?

— Inferno, não! Eu vou chamá-la de Princesa!

— Ela? Aaron, espere! — Jesse gritou enquanto o menino corria e


desaparecia além das portas abertas. Ele olhou para Cassie e descobriu que seu
sorriso conhecedor era tão irritante quanto o que seu marido usava quando ele
estava ao lado dela. — Eu preciso de um pouco de ar fresco.

Ele andou pela casa e pisou na varanda de trás, respirando profundamente o


ar do lado de fora, saboreando o cheiro distante de “Forget-Me-Not.”

Maddie se virou e se encostou na viga. — Eu temia que você não viesse.

— Eu me deixei levar. Parece que nós temos um outro cão. Princesa é o


nome dela.

Ela sorriu. — Isso deve fazer Ranger feliz.

— Isso é o que eu temo.


Ela puxou a lapela de seu paletó. — Eu acho que você está tentando mudar
de assunto. Falar sobre os cães não vai funcionar. Sobre o que você estava
pensando quando estávamos dançando no celeiro?

Ele apoiou as mãos fortes em ambos os lados de seu rosto delicado, enfiando
os dedos pelos seus magníficos cabelos, seus olhos sondando profundamente os
dela. — Que eu desejava que você fosse minha.

Ele a beijou então como nunca a tinha beijado antes: com o conhecimento
inequívoco de que ele poderia dar a ela tudo o que tinha para dar, pedir a ela tudo o
que ela queria compartilhar. Eles não eram mais ladrões roubando olhares,
implorando toques, nutrindo sentimentos proibidos.

Ela colocou os braços em volta de seu pescoço e ele baixou as mãos para
suas costas, pressionando seu corpo contra o comprimento dele, a beijando
profundamente, saboreando aquilo a que ele agora tinha direito absoluto.

À distância, ele ouviu uma buzina. — Isso deve ser a diligência — ele
sussurrou, seus lábios pairando acima dos dela.

— Eu preciso deixar as crianças prontas — disse ela calmamente.

Ele assentiu quase imperceptivelmente antes de pressionar seus lábios nos


dela. Ela deslizou os dedos em seus cabelos, suspirou e ergueu a boca da dele. —
Nós vamos ter convidados durante a noite, se não formos cuidadosos.
— Isso é o suficiente. — Ele roçou os lábios nos dela. — Deixe as crianças
prontas. Eu tenho algumas coisas que preciso ver feitas.

Ele a soltou e deu um passo para fora da varanda. Assistindo suas longas
pernas o conduzindo para fora de sua vista, Maddie sentiu a alegria inchar dentro
dela. — Obrigada, Charles — ela sussurrou. — Obrigada por todos os presentes
que você me deu neste dia.
Maddie acenou até que ela já não podia ver os pequenos braços que se
agitavam para fora das janelas, até que a diligência desapareceu pela nuvem de
poeira e a poeira assentou no chão, deixando apenas o crepúsculo escurecendo para
trás.

Ela apertou as lágrimas quando Jesse puxou as lágrimas contra seu peito
robusto.

— Eles vão ficar bem — disse ele, e ela sentiu o estrondo profundo de seu
peito.

— Eu sei. É só que eu já sinto falta deles.

— Então eu acho que vou ter que fazer algo para manter sua mente ocupada.

Antecipação a percorreu quando ele enterrou primeiro as mãos, em seguida,


seu rosto em suas tranças de mel. Ele soltou um suspiro irregular. — Será que
Charles lhe falou sobre o acidente que ele teve com o garanhão no estábulo?
Ela assentiu com a cabeça, agradecida de que Charles tinha dito a Jesse
sobre a sua impotência. Ela tinha medo de que seu novo marido pensasse que era
mais experiente do que em realidade.

— Eu estava lá quando aconteceu. Stallion quebrou duas de suas costelas. —


Ele colocou as mãos em seus ombros. — Isso foi tudo o que ele fez. —
Lentamente, ele a virou para o encarar e lhe acariciou o queixo com os polegares.
— Texas Rangers não são os únicos que mentem.

— Porque? — ela sussurrou quando a importância de sua declaração se


tornou clara.

— Porque ele queria que sua primeira vez fosse com um homem que você
amasse. Esse foi seu presente para você por todos os presentes que você deu a ele.

Beijando-a ternamente, ele provou o sal de suas lágrimas. — Será a primeira


vez que você vai estar com um homem que você ama, Maddie?

Dando um sorriso trêmulo, ela balançou a cabeça.

Enxugando as lágrimas de suas bochechas, ele segurou o olhar dela no seu.


— Me diga...— suplicou ele suavemente.

— Eu amo você, Jesse.

— Você sabe por quanto tempo eu esperei, o quanto eu quis ouvir você dizer
isso? — Se inclinando ele passou o braço sob seus joelhos e a carregou em seus
braços. — Eu pretendo fazer com que o presente que Charles deu a você seja o
presente mais precioso que você vai receber.

Envolvendo os braços em volta do pescoço dele, ela apertou o rosto contra


seu ombro enquanto ele a levava para a casa. Ele abriu a porta, entrou, e fechou-a
de repente com o pé.

— Não deveríamos esperar até que o sol se ponha? — ela perguntou


enquanto eles subiam as escadas.

— O sol está se pondo agora, e nós já esperamos tempo suficiente.

Ele a levou para o quarto de princesa, a colocou no chão, e silenciosamente


fechou a porta. As cortinas estavam fechadas, ocultando o quarto em sombras.
Uma lamparina queimava na mesa de cabeceira. Um fogo preguiçoso dançava
dentro da lareira. Uma névoa obscura surgiu acima da água na banheira de madeira
descansando ante a lareira.

— Quando você preparou o banho? — Maddie perguntou em voz baixa.

— Paul teve o cuidado de fazê-lo para mim.

— Eu acho que você gosta dele.

— Ele tem seus momentos. — Ele deu um passo para trás dela. Capturando
o cabelo dela, ele o colocou sobre um dos ombros. Ele desfez vários botões até que
a alta gola do vestido revelou seu pescoço delgado. Ele beijou sua nuca, então o
ponto sensível atrás da orelha. — Eu pensei em tomarmos um banho desde a
primeira noite que eu carreguei a água para você.

Ela sentiu os dedos percorrerem o comprimento de sua coluna, desapertando


os botões restantes. Ela fechou os olhos, saboreando a sensação de suas mãos
conforme elas deslizaram sobre seu corpo, removendo suas roupas até que elas
eram nada mais do que uma piscina de seda ao lado de seus pés. Suas roupas
rapidamente se juntaram as dela. Ele a levou para a banheira e a depositou na água,
deixando seu cabelo cair em cascata sobre a borda como se fosse uma cachoeira.

Ela afundou na água morna e o perfume de “Forget-Me-Not” flutuou em


volta dela.

Sentado sobre os calcanhares, ele traçou o dedo ao longo da curva de seu


seio, onde a água batia suavemente. A maciez da água compensou a aspereza da
pele do dedo para criar um arrepio harmonioso ao longo da pele dela. Ela sentiu
seus mamilos se endurecerem enquanto a mão dele mergulhava sob a água para a
parte base de seu seio.

Ela enfiou os dedos úmidos através do espesso tapete que cobria o peito dele.
— Eu queria fazer isso no dia em que você me levantou para sair da diligência.

— Eu queria fazer isso toda vez que eu lhe trazia a água para um banho. —
Ele levantou a palma da mão e polvilhou a água sobre os ombros, observando o
rastro de água vagando para baixo, deixando gotas de umidade para trás.
— Quando Charles informou você sobre o seu presente para mim? —
Maddie perguntou baixinho.

Jesse encontrou seu olhar âmbar. — Na tarde que soltamos as pipas.

— Então, todos esses meses...

— Eu pensei que meu irmão já estava no céu.

Ela cobriu seu rosto, o puxando perto. — Você estava disposto a dar tanto a
ele.

— Tudo o que eu queria.

Ela esfregou o rosto contra seu pescoço. — Na noite em que estivemos em


volta da fogueira... antes disso, eu nunca tinha visto um homem...

Ele a afastou um pouco para que seu rosto não estivesse mais escondido.
Suas bochechas estavam brilhantes de embaraço, e ele a amou por isso. Ele
arqueou uma sobrancelha. — Nunca?

Lentamente, ela moveu a cabeça de um lado para o outro, os olhos fixos nos
dele. — Acho que eu deveria ter me sentido tímida. — Ela permitiu que seu olhar
seguisse os contornos do seu corpo. Um sorriso apreciativo aliviou seu rosto
enquanto seu olhar voltava para os olhos dele.. — Eu pensei que você era
magnífico, e parecia tão certo olhar você e tocar em você. — Ela passou a mão ao
longo de seu peito. — Sempre me senti confortável com você perto.
Ele passou a mão ao longo das curvas que ele tinha memorizado pela
fogueira. — Eu vou tocar toda você esta noite, Maddie. — Ele deslizou sua mão ao
longo de seu quadril. — Mas não na banheira.

Lhe dando um sorriso terno, ele se levantou e estendeu a mão para a toalha
na frente do fogo. Ela sorriu enquanto as sombras brincavam com a pele bronzeada.

Ele jogou a toalha na cama, deslizou seus braços para debaixo dela e a
levantou da água. Ele a deitou na cama e, usou a toalha para secar seus braços
lentamente. Depois ele começou a secar suas pernas. Ela traçou seu dedo ao longo
da cicatriz nas suas costas. Então ele jogou a toalha de lado.

— Eu ainda estou molhada.

— Eu sei — ele disse quando se deitou a seu lado. — Mas sempre que eu ia
a pé até o riacho, eu pensava nisto.

Maddie estava fria, onde a água brilhava sobre seu corpo. Ele mergulhou o
rosto entre seus seios, e ela sentiu o calor de sua boca enquanto ele sugava as
gotículas. Enterrando os dedos em seus cabelos, ela gemeu baixinho, ficando mais
quente conforme ele deslizou a boca sobre a sua pele, bebendo dela.

Ele levantou os olhos para ela. — Ah, Uísque, você é tão doce. — Ele a
beijou devagar, saboreando a sensação de sua boca acasalando com a dele,
saqueando o que ele agora tinha direito absoluto.
Maddie passou o pé até sua panturrilha, em seguida, para baixo, chegando
até os dedos dos pés tocando na ponta do seu pé. Ela deslizou as mãos pelas costas
dele, sobre seu corpo, recitando o poema que ela tinha memorizado tão bem
naquela noite em volta da fogueira. Hoje à noite, o poema terminaria de forma
diferente. Hoje à noite, ela iria explorar o que ela não se atreveu a explorar antes.

Ela deslizou as mãos entre seus corpos e colocou os dedos em torno dele.
Ele rosnou profundamente dentro de seu peito e aprofundou o beijo. Respondendo
como ela tinha tantas vezes feito em seus sonhos, ela pegou o que ele ofereceu e
exigiu mais. Ela acariciou-lhe, maravilhada com a suavidade aveludada. Ele
levantou a boca da dela e arrastou seus lábios ao longo de sua garganta.

— Ah, Uísque. — Ele abriu caminho para baixo, explorando os picos, em


seguida, descendo para os vales, degustando, provocando, acariciando com uma
ternura infinita. Ele deixou nada inexplorado, e ela se deliciou com sua exploração,
a descoberta de uma beleza de sensações desencadeadas pelo seu toque.

Ao lado da fogueira, ele havia se controlado, tocando-a de maneiras que


criaram um calor, mas agora ele a tocou de uma forma que criou uma necessidade,
uma necessidade de saber como o poema iria terminar. — Oh, Jesse!

Ele levantou o rosto do vale entre suas coxas e moveu-se para cima,
abaixando a boca para a dela. Ela o beijou profundamente com um anseio que
rivalizava com o seu. Ele se ergueu acima dela. Instintivamente, ela levantou os
quadris para o receber e ele mergulhou em suas doces profundidades.

Ela soltou um pequeno grito e ele congelou.


— Oh, Deus. Eu te machuquei.

Ela balançou a cabeça. — Só um pouco.

Ele fechou os olhos, falando com a voz entrecortada. — Eu sinto muito,


Maddie. Eu não estava pensando. — Ele se apoiou nos cotovelos e roçou os dedos
ao longo de sua bochecha. — Eu nunca tive uma virgem.

Ela sorriu, o sorriso maroto que ele amava, e perguntou: — É a sua primeira
vez, também?

— É a minha primeira vez com uma mulher que eu amo.

Lágrimas reuniram-se em seus olhos.

— Eu amo você, Uísque.

Passando seus dedos por seu cabelo, ela o apertou para baixo e trouxe seus
lábios nos dela. Suas línguas dançaram uma valsa lenta com uma melodia criada
por seus corações. Lentamente, seus corpos começaram a seguir o mesmo ritmo.
Ele saiu dela.

— Não me deixe — ela sussurrou enquanto ela apertava as mãos em seus


quadris.
Ele sorriu. — Eu voltarei. — Ele fez o seu caminho de volta. — Será que
isso dói?

— Não.

Seus movimentos continuaram, lentos e calmos, como o oceano chegando


em cima da costa. Quando ela não vacilou, seus movimentos se intensificaram.
Quando ela sorriu, ele lançou toda a paixão que estava segurando.

Maddie sentiu o poder completo deste homem conforme seus impulsos a


levaram a novas alturas. Ela caiu nas profundezas de obsidiana de seus olhos,
sentindo as sensações aumentarem de intensidade, de forma quase insuportável.
Ela fechou os olhos.

— Não feche seus olhos — ele pediu através de respirações trabalhosas.

Ela abriu os olhos e segurou os dele, enquanto ele a levava mais longe da
costa. Ela engasgou quando uma onda de sensações chegou, seguida rapidamente
por outra. E quando a última onda rolou, a levantou ainda mais alto. Ela gritou, se
agarrando a ele conforme seu corpo estremeceu repetidamente com suas estocadas
finais, seus gemidos criando o verso final perfeito.

Por longos momentos, repletos, eles fizeram pouco mais do que olhar para o
outro. Então ele sorriu para ela. Seu rosto estava relaxado e totalmente em paz. Sua
boca se curvou em um pequeno arremedo de um sorriso. — O que você está
pensando? — ele perguntou.
Ela suspirou baixinho. — Eu estava pensando sobre Charles.

— Isso é o que um homem quer ouvir depois que de fazer amor com uma
mulher. Que ela está pensando em outro homem.

Ele deixou cair um beijo rápido em seus lábios e fez um movimento para se
mover para fora dela. Ela emoldurou seu rosto, parando seus movimentos. — Não
se mova para longe. Eu só estava pensando em que presente incrivelmente belo
Charles me deu. — Carinhosamente, ela arrastou seus dedos sobre seu rosto. — Eu
não posso sequer começar a imaginar qual seria a sensação de ter o corpo de outro
homem dentro do meu sem o amor estar nos ligando. Se eu soubesse que
supostamente seria assim tão belo... eu nunca teria caminhado até Bev.

Ele enterrou o rosto em seu cabelo. — Ah, Uísque.

— Eu não sabia que seria assim, Jesse.

— Nem eu — ele respondeu asperamente.

— Você não? — Ela perguntou incrédula.

Tomando a mão dela, ele pressionou a palma da contra o seu coração


batendo. — O que eu sinto aqui, eu nunca senti antes por ninguém. Você é o
melhor presente que eu já recebi.

Com lágrimas nos olhos, ela sussurrou com voz rouca: — Eu quero fazer
você feliz.
— Você já faz — disse ele pouco antes dele abaixar a boca para a dela.

Charles dormia com o braço sobre o estômago de Maddie. Jesse dormia com
seu corpo envolto ao dela. Ela acordou com a certeza de que estava realmente
dormindo com um homem viril. Ela esticou os dedos do pé até que os pôde
esfregar no peito do pé dele. Ela sorriu. Era muito melhor quando ela estava
aconchegada embaixo dele na cama e não pendurada em um galho de árvore.

Ele moveu o corpo, e ela aproveitou a oportunidade para rolar em direção à


borda da cama. Seu braço a puxou e a arrastou de volta para baixo dele. Ela
estudou seu rosto. Seus olhos estavam fechados e seu rosto estava completamente
relaxado. — Jesse?

Ele moveu nem um músculo. Ela soprou uma brisa suave sob seu queixo.
Seu nariz se contraiu. Ela beijou o centro de seu peito e ouviu um ronronar suave
em sua garganta. Ela esperou, e ele começou a roncar suavemente. — Jesse?

Quando ele não respondeu, ela começou a sair de debaixo dele como se
fosse uma lagarta se movendo lateralmente. Ela pensou em Aaron e quis saber
como ele estava desfrutando de sua aventura. Tudo parecia tão tranquilo, sem as
crianças ao redor. Quando ela se sentou, o braço de Jesse serpenteou para fora e a
puxou para trás.

— Aonde você está indo? — ele perguntou, sua voz grossa de sono.
Ela se virou para que o pudesse enfrentar e enfiou os dedos pelos cabelos em
seu peito. — Pensei em pegar um pouco de café.

Um canto de sua boca inclinou para cima. — Você não acha que eu vou
estar de bom humor hoje?

— Oh, eu o pretendo manter de bom humor, mas eu achei que não faria mal
começar bem o dia.

Ele balançou a cabeça enquanto seus olhos escureciam. — Eu estou


mudando meus hábitos. Eu não estou mais começando o dia com café. Estou
começando com uísque.

Sua boca desceu para capturar a dela, e ela foi a única que ronronou.
Envolvendo seus braços ao redor dele, ela sentiu seus músculos ondularem quando
ele se aninhou entre suas coxas. Ele entrou nela se movendo lenta e
preguiçosamente contra ela. Ela apertou as coxas e ele gemeu, aprofundando as
estocadas.

Ele beijou a ponta de seu nariz, ela beijou seu queixo. Ele beijou o ponto
sensível abaixo de sua orelha, ela beijou sua garganta, seguindo seu pomo de Adão
conforme ele deslizou para cima e para baixo. Ele beijou seu ombro, ela beijou o
dele. Em seguida, ele se levantou, e os movimentos preguiçosos uniram em um
frenesi de impulsos. Maddie ansiosamente cumprimentou seus golpes até que ela
estremeceu debaixo dele, até que ele estremeceu acima dela.
Ele caiu sobre o cotovelo com a respiração difícil. Ela passou as mãos ao
longo de suas costas úmidas, sabendo agora por que ela encontrava o suor deste
homem tão atraente. Ele sorriu para ela. — Bom dia.

Ela devolveu o sorriso. — Bom dia.

Ele rolou para o lado a trazendo a com ele. — Eu nunca beberei café
novamente.

Ela riu e se aconchegou contra ele. O fogo tinha se extinguido há muito


tempo, mas eles nunca se preocuparam em reduzir o brilho da lamparina. Ela ainda
brilhava sobre eles. Maddie levantou e olhou para a janela. O aperto de Jesse nela
aumentou.

— Me eixe por um minuto — disse ela.

— Aonde você está indo?

— Eu quero ver uma coisa.

Seu braço saiu dela. Ela deslizou para fora da cama, com os pés descalços
foi em direção a janela e puxou a cortina. Ele se levantou em num cotovelo e
apreciou a vista esplêndida de seu traseiro. Em seguida, ele gostou de a ver correr
de volta para a cama e deslizar debaixo das cobertas.

— O sol não surgiu ainda — ela disse quando se aconchegou procurando por
calor. — Eu quero olhar para o seu sonho quando o sol nascer.
— Meu sonho está aqui, Maddie, com você. Todos esses anos, eu apenas
pensei que era meu gado.

— Um homem pode ter mais de um sonho. Por favor?

Ele deixou cair um breve beijo em seus lábios. — Tudo certo. — Ele saiu da
cama, vestiu suas calças e caminhou até a porta. Lá, ele esperou.

Ela se levantou e colocou um cobertor sobre os ombros. — O que você está


esperando?

Ele olhou por cima do ombro. — Eu só estou querendo saber se eu vou


encontrar uma das surpresas de Somner quando eu abrir esta porta. A cidade inteira
poderia estar esperando no corredor para ver se nós apreciamos a noite.

Sorrindo, ela atravessou o quarto, abriu os braços, e enrolou o cobertor em


torno dele, pressionando os seios contra seu peito nu. — Quer que eu vá com você?

Ele deslizou o braço ao redor dela. — Sim.

Ela foi com ele para seu quarto e o observou se vestir. Então foi a vez dele
com ela para o quarto dela e a observar se vestir.

— Qual é o quarto que você quer que seja o nosso quarto? — ele perguntou
quando ela escorregou para a saia que ele tinha comprado para ela em Austin.
— Seu quarto.

— Vou mover suas coisas para lá esta tarde.

Na parte fresca da manhã pouco antes do amanhecer, eles caminharam pela


floresta até que chegaram ao prado. Jesse se sentou, colocou Maddie entre suas
coxas, e envolveu um cobertor em torno dela. Eles assistiram juntos o sol aparecer
no horizonte enquanto a brisa trazia o cheiro do gado até eles.

— Eu queria estar aqui com você desse jeito na manhã que eles chegaram —
disse ela calmamente.

Ele apertou seu abraço. — Você estava comigo, Maddie, no meu coração.

Jesse tinha selado Meia-noite e amarrado ele em um arbusto próximo. Ele se


levantou, pegou seu cavalo, e levantou Maddie para a sela. Então ele montou atrás
dela e a puxou contra seu peito. Eles cavalgaram lentamente ao longo da periferia
do rebanho.

E depois foram para o riacho. Jesse espalhou um cobertor sobre as folhas


caídas. Se aconchegando um contra o outro, eles desfrutaram de um piquenique.

Pelo resto do dia eles fizeram pouco mais do que experimentar a alegria de
partilharem aqueles momentos juntos, o que se tinham negado no passado.
~

Maddie sentiu o deslizar impetuoso através de seu cabelo. Ela nunca teria
pensado que seu marido era do tipo de homem que escovava o cabelo de uma
mulher. Ele lhe tinha dado um outro banho. Então ela lhe dera um. Ele tinha
gostado até que saiu da água com o cheiro de flores, mas o seu estado de espírito
descontente não durou muito tempo.

Ela estava sentada diante do espelho com seu roupão. O marido dela estava
atrás dela nu como no dia em que nasceu. Ele se moveu para o lado, e ela teve um
vislumbre de seu esplendor no espelho. Ele veio para trás, e ela ficou com nada
mais do que a visão de seu peito.

Lentamente, ela afrouxou o nó do roupão e abriu o suficiente para mostrar


um pouquinho só de sua pele. Ela ergueu o olhar e observou o de seu marido se
escurecer. Embora ele continuasse a pentear o cabelo dela, não aplicou tanta
pressão, nem permitiu que a escova vagasse tanto.

E então, ela terminou de abrir o roupão. Seu reflexo no espelho capturou


toda a atenção dele. Ela ouviu a escova cair sem deixar de o olhar nos olhos e
deslizou o roupão pelo ombro.

Ele caiu de joelhos, a virou levemente e escondeu o rosto entre seus seios.
— Querido Deus, mas você é doce.

— Eu estava tentando ser devassa.


Ele tomou as mechas de seu cabelo entre os dedos. — Seu cabelo sempre me
fez lembrar do mel e eu me perguntava se você era assim tão doce. Quando eu olho
em seus olhos quase posso sentir o uísque queimando dentro de mim. Eu me
pergunto o que realmente você é.

Ela enfiou os dedos pelos cabelos. — E o que eu sou?

— Ambos.

Ele rodou sua língua ao redor de um mamilo. Ela se arqueou para ele que
continuava a amar o outro seio. Ela baixou a cabeça para a frente até que a
bochecha dela estava pressionada contra o topo de sua cabeça. — Eu estou
queimando agora, Jesse.

— Enrole suas pernas em volta da minha cintura.

Ela fez o que ele pediu. Ele deslizou uma mão sob suas nádegas e envolveu
um braço ao redor de suas costas. Ele se levantou, e ela se agarrou a ele.

— Tire seu roupão.

Ela se deixou despir, um braço de cada vez, permitindo que o roupão caísse
no chão. Ele cruzou o quarto e se sentou na cama. Ele segurou a parte de trás de
sua cabeça e inclinou seu rosto para que sua boca pudesse trancar a dela. A
beijando profundamente, ele a depositou na cama, cobrindo o corpo dela com o seu.
O fogo na lareira rugiu, lançando o seu calor na direção deles, coisa de que
tinham pouca necessidade já que criaram o seu próprio fogo um dentro do outro.
Jesse deslizou seus braços debaixo dela, a pressionando contra ele, quando e a
girou. Ela soltou um suspiro surpreso quando se viu montando os quadris dele. A
questão surgiu em seus olhos, e em seu olhar escurecido ela encontrou a resposta.
Ela levantou os quadris e trouxe abaixo para o embainhar. Ele passou os dedos
pelos cabelos dela, os espalhando até formar uma cortina em volta deles.

Sorrindo, ela colou os lábios nos dele. Sua boca se congratulou com a dela, a
seduzindo para explorar sem pressa. Ele segurou seus seios e delicadamente os
moldou para caber na palma da mão. Ela lentamente circulou seus quadris até que
sentiu a primeira faísca. Ela levantou os lábios dos dele e enterrou o rosto em seu
pescoço. Colocando as mãos nos quadris, ele pediu para ela continuar. Ela se
levantou e seguiu o ritmo que tinha definido. Ele mais uma vez segurou seus seios,
apertando suavemente. Ela sentiu as faíscas inflamarem e lançou um pequeno grito.
Ele levantou a cabeça do travesseiro e amamentou seu peito. E ela explodiu em mil
fogos.

Ele caiu no travesseiro e ela o beijou avidamente, tentando compartilhar


tudo o que tinha acabado de experimentar. Ele embalou seus quadris, e ela sentiu
os tremores se iniciarem no corpo dele. E ela desabou, ouvindo as batidas do seu
coração duro, sentindo o subir e descer do seu peito sob seu rosto.

— Toda vez que fazemos amor, eu sinto como se tivesse recebido um


presente — disse ela calmamente. — Será que vai ser sempre assim, Jesse?

— Sempre, Uísque.
Ela beijou seu ombro, pescoço, mandíbula. — Você vai me dar um outro
presente?

Enfiando os dedos por seus cabelos, ele inclinou seu rosto até que a pôde
olhar nos olhos. — Eu vou lhe dar todos os presentes que você quiser.
Os primeiros raios de sol da manhã se infiltravam pela janela quando
Maddie abriu os olhos lentamente.

Jesse se moveu silenciosamente pelo quarto e gentilmente se sentou na cama.


Com carinho, ele penteou os tufos de cabelo longe de seu rosto. — Como você está
se sentindo?

Ela sorriu calorosamente. — Um pouco cansada. — Ela moveu seu corpo.


— Um pouco dolorida.

— Quer se sentar?

Ela assentiu com a cabeça. Ele passou o braço sob suas costas, a levantou, e
empurrou travesseiros atrás dela. Ela se acomodou contra os travesseiros, sentindo
um contentamento maior do que qualquer um que ela já tinha conhecido.

— Como ela é? — ela perguntou.

Jesse olhou para sua filha, situada em paz dentro de seu pequeno berço ao
lado da cama. — Linda.
Maddie colocou a palma da mão contra sua bochecha eriçada. — Você
dormiu?

Ele cobriu a mão dela, virou a cabeça e deu um beijo no centro de sua palma.
— Eu nunca pensei sobre ter a minha própria família, uma família que fosse minha.
Desde que eu tinha doze anos, tudo o que eu queria era encontrar Charles e Cassie.
Então, quando eu encontrei Charles, eu fiquei contente de compartilhar seus filhos.
— Ele apertou a mão dela, limpou a garganta obstruída, e afagou sua bochecha. —
Mas o presente que você me deu nas primeiras horas antes do amanhecer desta
manhã... Ah, Maddie, eu não consegui dormir pela maravilha dela, pela maravilha
que é você.

Ele capturou uma lágrima conforme ela se arrastou lentamente pelo seu rosto.
— Eu amo você, Uísque.

Um grito suave tirou sua atenção dela. Ele olhou para a filha quando ela
começou a exercitar os pulmões com mais ferocidade. — O que é isso? É um
sotaque Inglês o que eu ouço?

Cheia de alegria, Maddie riu. — Acho que ela está provavelmente com fome
e ficando impaciente com você por não a trazer aqui.

Enquanto ela desabotoava a camisola, ele ergueu a filha do berço e a levou


para a cama. Maddie tomou o bebê, embalando em seus braços, a guiando ao peito.
Jesse observou quando sua filha trabalhou a boca vigorosamente para pegar
a nutrição de sua mãe. — As crianças gostariam de a ver esta manhã. Acho que
eles querem também...se certificar de que está tudo bem.

Ela sorriu. — Por que você não os deixa prontos? Nós devemos concluir
aqui até você voltar.

Inclinando-se, Jesse a beijou brevemente antes de se levantar e sair do quarto.

Maddie passou os dedos pelo fino, cabelo ébano da filha. Ela contou seus
dedos das mãos e pés como fez pouco depois que sua filha nasceu. Ela estudou a
maneira como seus cílios grossos descansavam nas bochechas rosadas. —
Obrigada, Charles — ela sussurrou. — Obrigada por me levar tirar de Bev.
Obrigada por me dar uma família para amar.

Momentos depois, quando a filha parou de mamar, Maddie a ergueu sobre o


ombro. Com uma das mãos, ela abotoou sua camisola, espantada com a rapidez
que ela estava se adaptando à filha, quão natural tudo parecia. Ela ouviu uma
batida suave na porta. — Entre.

A porta se abriu um pouco e três cabeças olharam para dentro de uma só vez.

— Venham — Maddie pediu. Hannah e Taylor andaram na ponta dos pés


para o quarto. — O que vocês estão fazendo? — perguntou Maddie.

— Tio Jesse disse que tínhamos que ficar quietas — Hannah sussurrou.
— Eu não acho que vocês tem que ficar quietas. Se apressem até aqui para
que eu possa ganhar alguns abraços.
As meninas correram para o outro lado do quarto, disputando seus lugares
ao lado da cama. Maddie estendeu a mão e deu a cada uma um abraço. Aaron
chegou, e ela estendeu a mão.
— Ah, mãe. — Ele se inclinou e a abraçou, cuidando para não se intrometer
no espaço agora ocupado pelo mais novo membro da família. Ele se endireitou e
estudou o bebê. — Ela se parece com o tio Jesse.
Jesse se sentou no outro lado da cama. Maddie sorriu. — Sim, ela parece.—
Ela inclinou o rosto do bebê para as crianças. — Vejam, os olhos são escuros.
— Qual o nome dela? — perguntou Hannah.
— Charlene.
— Parece com o nome de papai — disse Aaron.
— Está tudo bem para você? — Jesse perguntou.
Aaron olhou para seu tio. — Sim. Eu acho que ele gostaria disso.
— Lindo bebê — disse Taylor, suas mãos dobradas em cima da colcha
enquanto ela se inclinava para a cama.
— Sim, ela é um lindo bebê — disse Maddie. — Assim como você foi
quando você nasceu. E ela vai crescer para ser tão bonita como você é agora.
Com seu rosto radiante, Taylor olhou para Hannah.
— E tão bonita quanto eu — disse Hannah.
— E tão bonita quanto você — Maddie lhe assegurou.
— Eu estava pensando — Aaron começou — se você é minha mãe e ele é
meu tio, ela é minha irmã ou minha prima?
— O que você quer que ela seja? — perguntou Maddie.
— Minha irmã.
— Então, isso é o que ela é.
Aaron estufou o peito com o pensamento de ter uma outra irmã.
— Por que vocês não vão para a cozinha, e eu vou descer em um minuto
para ver o café da manhã? — Jesse perguntou.
As meninas correram para fora do quarto. Aaron andou mais devagar, parou
na porta e olhou de volta para o quarto. — Tio Jesse, eu estive pensando. Charlene
pode ficar confusa se eu sou seu irmão e Hannah e Taylor são suas irmãs e
chamarmos você de tio. Estou pensando que talvez nós devêssemos começar a
chamar você de papai. Só assim ela não crescerá confusa. Papai me disse que
estaria tudo bem quando eu estivesse pronto. Agora é um bom momento para estar
pronto, vendo como eu tenho uma irmã nova e tudo.
Maddie sentiu as lágrimas em seus olhos. Ela olhou para Jesse e assistiu seu
pomo de Adão trabalhar. Gentilmente, ele limpou a garganta obstruída. — Eu
gostaria disso — disse ele com a voz rouca.
Aaron sorriu. — Eu vou dizer a Hannah e Taylor. — Ele fechou a porta
silenciosamente atrás dele.
Deitando Charlene ao lado dela na cama, Maddie estendeu a mão e colocou
os braços em volta dos ombros de Jesse. Com cuidado, ele a puxou para perto,
enterrando o rosto em seu cabelo.
— Outro presente? — ela sussurrou.
Erguendo a cabeça, ele olhou em seus olhos. — Tenho a sensação de que
vamos passar o resto de nossas vidas descobrindo todos os presentes que Charles
nos deixou. — Ele embalou o amado rosto em suas mãos grandes. — Mas você
sempre será o presente pelo que eu vou ser mais grato.
Ele abaixou a boca para a dela, a beijando ternamente, inibindo seu desejo,
lhe dando nada além de seu amor.
Ela aceitou a sua marca em seu coração, sabendo que nos anos vindouros,
quando seus corpos estivessem velhos e cansados, eles só precisariam dar as mãos
para experimentar a alegria deste amor.
E ela sabia que seus corações para sempre se lembrariam, não só dos
presentes, mas do homem especial que os tinha envolvido em amor e o entregue a
eles com cuidado.

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