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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL – CAMPUS ERECHIM

AVALIAÇÃO FINAL PARA A DISCIPLINA DE HISTÓRIA DA AMÉRICA II


CURSO DE HISTÓRIA SEMESTRE 2017/2
Professor Dr. Mairon Escorsi Valério
________________________________________________________________________

O RACISMO NOSSO DE CADA DIA: UMA HERANÇA COLONIAL ESCRAVOCRATA

Keicy Salustiano da Silva1

Nesse momento, os Estados Unidos pareciam


exemplificar a existência de uma escravidão mercantil,
com criadouros de cativos e leis segregadoras. Já o
Brasil construía sua própria imagem manipulando a
noção de um “mal necessário”: a escravidão teria sido
por aqui mais positiva do que negativa. Difícil
imaginar que um sistema que supõe a posse de um
homem por outro possa ser benéfico2.
Lilia Moritz Schwarcz

Escolhi esse fulminante e preciso trecho de Lilia Schwarcz, pois ele me parece
particularmente apropriado para ilustrar previamente a discussão que irá preencher este trabalho.
Em poucas linhas Schwarcz resume a conversa sobre a comparação da ideologia escravagista no
Brasil e nos Estados Unidos. Reportaremos aqui mais especificamente ao século XIX, região Sul
dos Estados Unidos, em que a escravização era considerada um “bem explícito” fundamental para a
construção de uma identidade nacional. Em comparação ao Brasil em que a escravização foi
justificada como “mal necessário”, sendo crucial para o não declínio da economia do país.
O presente artigo tem como objetivo, incitar reflexão, discussão e problematização, sobre as
distinções no processo de construção da identidade nacional do Brasil, e do Sul dos Estados Unidos,
relacionado à ideologia escravagista. O propósito é analisar como tais diferenciações gerou duas
maneiras opostas de manifestação do preconceito racial ao longo da história dos dois países. Ou
seja, no Sul dos Estados Unidos uma segregação racial escancarada oficial e legislativa, e no Brasil

1 Graduanda no curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus
Erechim. E-mail: keicyssilva@gmail.com
2 SCHWARCZ, 2012, p.51.
um racismo encoberto e sutil. A tônica que ambienta tal proposta é a percepção de que, a forma
ideológica escravagista dos dois países resultou na diferença entre eles da manifestação do racismo,
entretanto vale deixar a mostra que tais discrepâncias não diminuem a perversão do mesmo.

Brasil e Sul dos Estados Unidos, as duas maiores potências na produção da escravidão, mas
com argumentos opostos no que tange defender tal prática. De acordo com Barbara Weinstein
(2008), autora que será base desse trabalho, em sua análise sobre a construção da identidade
nacional do Sul dos Estados Unidos e do Brasil, as duas nações do Novo Mundo ganharam forma a
partir da prática da escravização tida como essencial na produção do mundo pós-colonial. Mas a
ideia em torno da essencialidade desse sistema é o que nos chama a atenção. Primeiramente no Sul
dos Estados Unidos, a defesa da escravatura foi baseada na argumentação do “bem explícito”. As
elites de tal país tinham interesses não só econômicos, mas também moral, uma preocupação com a
construção da identidade nacional do país calcada na fundamentação do trabalho escravo como
elemento crucial para o futuro da nação. Os sulistas não viam a escravidão como algo fadado ao
desaparecimento ao longo da história, ou como um sistema inadequado, desagradável e danoso a
humanidade. Muito pelo contrário, a ótica era de um modelo escravocrata plenamente significativo
para a trajetória do país, e de irrefutável importância para a construção da identidade nacional. Ou
seja, um bem coletivo que deveria ser atributo permanente dessa sociedade.
É interessante analisar, que os males da escravidão não ocupavam a preocupação dos
sulistas, antes mesmo de tratarem a escravização como um mal, justificava-se a prática como
proteção à pureza da raça branca, recurso para os conflitos nas relações de duas raças diferentes, e
mais ainda, tutela benéfica aos escravizados. Considerando então, que a ausência do trabalho
escravo faria dos escravizados seres miseráveis, mendigos, excluídos do sistema social. A autora
explicita, a visão de mundo anticapitalista dos sulistas, no sentido de que, o trabalho livre seria
menos produtivo e menos adaptável ao sistema social do que o trabalho escravo. Segundo
Weinstein:
Longe de basear sua defesa da posse de escravos em noções liberais sobre os
direitos de propriedade ou numa previsão de colapso econômico, os sulistas
fundamentavam suas reivindicações na imoralidade do capitalismo de livre-
comércio e a desumanidade de um sistema trabalhista no qual as relações entre
empregador e empregado fossem mediadas exclusivamente pela motivação do
lucro. A escravidão pelo contrário (argumentavam os escravocratas sulistas),
garantia a proteção de um senhor a dependentes desprovidos de bens imóveis e
criava um relacionamento harmonioso entre capital e trabalho. (WEINSTEIN,
2008 p.384)
Nesse ponto percebemos como o argumento é de caráter moralizante, ou seja, o capitalismo com
toda sua lógica conflitante provoca preocupações com as desigualdades sociais, a pobreza e as
divergências entre as duas raças. Já a escravidão cria uma harmonia nas relações. Se é que isso é
possível. Os arquitetos da identidade nacional sulista imaginavam uma sociedade visivelmente
estratificada, buscando preservação da manutenção permanente de uma estrutura moldada em
privilégios de uns (brancos), em detrimento da escravização, e desumanização de outros.

Não é intenção desse trabalho demonizar as práticas ideológicas e morais dos sulistas, ou
mesmo utilizar dos argumentos para referir aos Estados Unidos de modo prejulgado, especulativo, a
fim de insultar suas formas. A proposta é exercer a reflexão, e perceber, que os argumentos
utilizados pelos arquitetos da identidade nacional do Sul dos Estados Unidos, à favor da escravidão,
historicamente resultou em uma ideologia racista, sem dúvida, assumida.
O discurso ideológico para construção da nação carregado de conteúdo racista, refletiu ao
longo da trajetória do país, na manifestação de um racismo evidentemente óbvio. Refiro-me as leis
de Jim Crow vigoradas entre os séculos XIX e XX, que institucionalizou a segregação racial,
baseada na inferiorização dos povos de pele escura em relação aos brancos. Tal racismo se
manifestava cruelmente na separação dos espaços públicos para pessoas negras e brancas, com
placas indicativas de locais para pessoas de cor. Sanitários para pessoas brancas, sanitários para
pessoas de cor, trens para pessoas brancas, trens para pessoas de cor, bebedouros para pessoas
brancas, bebedouros para pessoas de cor e assim por diante.
Ou seja, o discurso estratégico do Velho Sul em defesa da escravidão como modelo essencial
e naturalmente adaptável à sociedade sulista, assumindo um caráter de benevolência e benção. Foi
“um enorme investimento de trabalho ideológico que incluiu uma intensificação do racismo e a total
exclusão de opiniões conflitantes do âmbito público”. 3 Calhou em um racismo oficial, legislativo,
escancarado diferente do racismo velado do Brasil, mas não menos perverso. Examinar
completamente as causas dessa questão está fora do contexto desse trabalho. O horizonte é perceber
que a herança colonial e escravocrata do Sul dos Estados Unidos, refletiu diretamente na identidade
nacional do país disseminando uma cultura oficialmente racista. Não há como precisar se foi essa a
sociedade nação que os sulistas imaginaram para o futuro, mas que ela existe e que esse resultado se
aproxima muito da intenção ideológica e moral do dito discurso, isso sim.

No Brasil a justificativa para a escravatura teve outra nuance, os argumentos apresentados


pelos brasileiros a favor da escravidão não defendia ela como bem explícito, mas como mal
necessário. Em meados do século XIX os parlamentares brasileiros e os senhores de escravos,
visualizavam a escravidão como uma instituição fadada ao fracasso, e não como um sistema
permanente da sociedade. Em algum momento iria ter um fim, mas enquanto não ocorria a ideia era
encontrar meios de prolongar sua existência. Isso porque os brasileiros admitiam a escravidão como
um “câncer” para a construção de uma identidade nacional. Mas o não declínio da agricultura, e da

3 WEINSTEIN, 2008, p. 390.


economia social, justificava o caráter maléfico do sistema escravista. Ou seja, o discurso não é
moral e sim material. Como declara Barbara Weinstein:
[...]Durante os debates sobre a escravidão no parlamento brasileiro, um deputado
declarou-se “escravocrata até os ossos” e sugeriu que “a escravidão deveria ser
mantida por amor aos próprios escravos”. Entretanto, esse mesmo deputado
também admitiu que “ninguém considera ser a escravidão uma instituição boa e
virtuosa”, enquanto outro importante político favorável à escravidão declarou
publicamente ser a escravidão “um câncer” na sociedade brasileira. No Brasil, ao
contrário do Sul dos Estados Unidos, até mesmo os defensores mais vigorosos da
escravidão raramente conseguiam manifestar seu apoio à instituição em termos não
ambíguos. (WEINSTEIN, 2008, p. 386)

As justificativas eram ambíguas, mas a intenção de defesa estava diretamente ligada à economia,
como aponta José Murilo de Carvalho, a ideia que permanecia era, “usar o escravo até o final e ao
mesmo tempo procurar alternativas”4 para o progresso da nação.
Podemos tomar como exemplo as movimentações no parlamento brasileiro do século de
XIX em torno da abolição do tráfico negreiro, exigida pela lei de 1831 sancionada pela Inglaterra.
Os parlamentares chegavam a se recusar discutir tal questão, não só lamentavam a possibilidade do
fim do tráfico, e medo constante de passar fome sem ele, como criaram vários meios para estender
os prazos. Ou seja, formas de silenciar e de não ver a lei de 1831. Mas essa não é a tônica desse
trabalho, apenas nos serve como exemplo o fato, de que o Brasil trabalhou em um discurso
ideológico, que ao mesmo tempo que essumia a escravidão como um mal, precisava dela para
sobreviver.
A ausência do bem explícito no discurso brasileiro não tira o peso da ideologia e da defesa
de um modelo social escravocrata. Pelo contrário, da mesma forma que os Sul dos Estados Unidos,
o Brasil defende a manutenção (até quando for possível) de um sistema baseado em privilégios de
uns (brancos), em detrimento da escravização de outros. Convém aqui me desculpar com os(as)
leitores(as) pela repetitividade na questão. Mas é expressamente para elucidar que, tanto um quanto
o outro país defendia um mesmo modelo de sociedade. A diferença está na forma e no conteúdo de
como isso era elaborado.
Claramente as estratégias discursivas são distintas, o discurso escravagista do Sul dos
Estados Unidos, condizia com a prática racista louvando a segregação racial. No caso do Brasil o
discurso não é condizente, pois encobre uma prática racista. Concordando com Weinstein, essa
“fraca” argumentação brasileira em defesa da escravidão, “criou um clima político no qual a
experimentação com o recurso à meação e outras formas de trabalho não-escravo podia ser
aplaudida no Brasil em vez de ser criticada[…] como ocorria no Sul dos Estados Unidos” 5. Isto é,
para os brasileiros a iniciativa de substituir escravos por trabalhadores imigrantes era elogiada,

4 CARVALHO, 2011, p. 318.


5 WEINSTEIN, 2008, p. 387.
apoiada publicamente, mas só no discurso, para mostrar-se a favor do bem-estar da nação (afinal
admitia-se o mal da escravidão), mas omitindo acreditar no contrário.
Com efeito, o discurso brasileiro que oculta o conteúdo racista, refletiu ao longo da história
do país, na manifestação de uma outra forma de racismo, um racismo perversamente sutil e
sofisticado, que muitos não conseguem enxergar. Não um racismo declarado como no Sul dos
Estados Unidos, mas sim implícito em forma de harmonia racial. Tomemos como exemplo uma
pesquisa citada pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, realizada em 1988, em São Paulo, na qual
97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito contra negros, e 98% dos mesmos
entrevistados afirmaram conhecer outras pessoas que tinham, sim preconceito contra negros. Outro
exemplo ainda segundo Schwarcz:
Em 1995, o jornal Folha de S.Paulo divulgou uma pesquisa sobre o mesmo tema
cujos resultados são semelhantes. Apesar de 89% dos brasileiros dizerem haver
preconceito de cor contra negros no Brasil, só 10% admitem tê-lo. No entanto, de
maneira indireta, 87% revelam algum preconceito ao concordar com frases e ditos
de conteúdo racista, ou mesmo ao enunciá-los. Tal pesquisa foi repetida em 2011, e
os resultados foram basicamente idênticos, mostrando como não se trata de supor
que os brasileiros desconheçam a existência do preconceito: jogam-no, porém, para
outras esferas, outros contextos ou pessoas afastadas. Trata-se, pois, de “um
preconceito do outro”.6(SCHWARCZ, 2012, p.30-31)

Enquanto o racismo no Sul dos Estados Unidos se refletiu nos séculos XIX e XX escancarado, no
Brasil nos séculos XX e XXI se revelou velado, encoberto, quase não existente.
Diante disso, há de se ressaltar que não objetivamos engendrar uma culpa, e julgar as
atitudes dos brasileiros escravocratas. Mas, perceber que herdamos muito desses elementos
discursivos, e da prática do racismo sonegado. Talvez as elites brasileiras ainda não estivessem
muito preocupadas com a construção de uma identidade nacional, mas sim com a sustentação da
vida econômica do país. Mesmo assim, vemos na cultura de hoje, um Brasil resultante de uma
ideologia escravocrata não incumbida no discurso.

Em acordo com Weinstein, “comparar as atitudes raciais nos Estados Unidos e no Brasil
tornou-se um exercício ligeiramente perigoso”. E não há intuito nesse trabalho de encerrar uma
análise ou debate sobre essa questão. Mas de exercer a reflexão sobre como os discursos
escravagistas dos dois países, resultaram em diferentes manifestações do racismo ao longo dos
séculos. Mas cada uma condizente com o discurso escravocrata do seu país respectivo. Os dois se
mostraram racistas, a diferença foi na forma de apresentação do racismo.
É interessante analisar como o Brasil se mostra um país treinado em assumir que algo é
ruim, mas vamos utilizar mesmo assim, ou vamos fingir que não estamos vendo. De acordo com

6 Segundo a autora a pesquisa foi realizada por João Batista de Jesus Félix, em seu projeto de mestrado no
Departamento de Antropologia Social da Universidade de São Paulo.
Chalhoub (2012) o silêncio sobre a lei de 1831 que proibia o tráfico de escravos no Brasil foi
mantido fortemente ao longo do século XIX, e o tráfico continuava. O que talvez conserva-se até os
dias atuais, o costume de contornar a legislação, o costume de silenciar , antes não queria se discutir
sobre a lei anti-tráfico, não podia se falar em abolição com medo de não sobreviver sem esse “mal
necessário”. Hoje é preferível ignorar os problemas raciais do país, e manter um racismo velado que
facilita a manutenção do mito da democracia racial, e dificulta a formação da identidade negra.
Não estamos dizendo que o racismo escancarado do Sul dos Estados Unidos é menos
prejudicial, longe disso. Os dois são racismos prejudiciais ao processo de construção de uma
identidade nacional e de uma cultura. O destaque para o Brasil vem por conta de sermos parte dessa
trama, e que, sem dúvida, herdamos muitos elementos culturais do período em questão. O que
convém ressaltar que, essa herança colonial escravocrata reflete hoje uma cultura rasteira, um Brasil
com discurso progressista mas que esforça-se para manter uma forma conservadora.
Ainda que em nosso texto muito tenha ficado de fora, e que um exame assim tão breve não
seria o suficiente capaz de esgotar determinado tema. Há de convir, que tal problematização não
seria capaz de engendrar uma técnica e ou perspectiva revolucionária. Até porque não foi esse o
intuito. Mas, ainda assim, e de modo pessimista, podemos concordar com Schwarcz citada na
epígrafe, a respeito da indiscutível perversão da escravidão. Que mesmo por muito tempo colocada
como “mal necessário” foi utilizada para apoiar um discurso que escondia uma prática racista. Até
porque, posteriormente esse mesmo Brasil que dizia, que a cor da pele não era de forma algum
motivo de escravização. Instituiu projetos para imigração de europeus para o Brasil, com intuito de
substituir a mão de obra escrava pela mão de obra livre assalariada. Porém com intenções claras de
branqueamento da população brasileira. É esse o ponto de ênfase, o Brasil tem um histórico de
capacidade de utilizar de um determinado discurso para encobrir uma forma totalmente contrária.
Desse modo cabe-nos declarar que ainda permanecemos imperito no assunto aqui declarado,
mas como foi proposto desde o início desse trabalho, exercemos a atividade que aqui vou chamar de
histórico-filosófica, tal exercício sem carga de culpa em relação ao mundo, mas como uma
concepção de que o que herdou-se hoje da sociedade colonial escravocrata, tanto a brasileira,
quanto a Sulista, tem relação muito próxima das origens discursivas daquela época, e sem dúvida,
ainda se manifesta nas duas sociedades elencadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem/Teatro de sombras. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2011.
CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão: ilegalidade e costumes no Brasil oitocentista. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na
sociabilidade brasileira. São Paulo: Claro Enigma, 2012.

WEINSTEIN, Barbara. Escravidão, cidadania e identidade nacional no Brasil e no Sul dos


EUA. In: Nacionalismo no Novo Mundo. Org. Marco A. Pamplona e Don H. Doyle. Rio de Janeiro:
Record, 2008.

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