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ESPÍRITOS

Orixás são as vibrações cósmicas, mas usa-se este termo, carinhosamente, para identificar uma
entidade das linhas da Umbanda. Vou dividir em duas partes. As entidades com as quais
trabalho e a influência nas pessoas dos orixás cósmicos. Muitos médiuns têm dúvida quanto à
vantagem do desenvolvimento mediúnico. É sabido ser o equilíbrio o estágio perfeito do
homem espiritualizado. O treinamento dentro das engiras pode melhorar esta condição. Temos
dentro de nós, adormecidas, várias qualidades. Elas devem ser despertadas. Em cada uma
delas uma entidade, pelas suas características, age diretamente, aumentando, dentro de nós,
esses potenciais ainda adormecidos. Por isso acho necessário descrever as entidades que
conheço melhor, as que trabalho. Vejam suas características.

CABOCLO AKUAN - Aos membros da corrente: Os filhos estão nesta casa trazidos pela dor,
necessidade ou fé. Quando a dor suaviza, e a necessidade desaparece, a fé arrefece. Zâmbi
atende todos os pedidos pela fé. Assim, desaparecendo a necessidade, quando a fé arrefece, a
dor pode voltar. Meus filhos, se o sol está entrando em suas vidas, cuidado com o retorno dos
maus tempos. Só a fé é ouvida por Zâmbi. Fé é dedicação, culto aos espíritos e o interesse
pelos necessitados antes dos seus. Prefiro ter os meus filhos da minha casa pela fé, do que
pelo retorno da dor".

COMENTÁRIO

A Umbanda ainda não se firmou como uma religião comum e igual às tradicionais.
Praticamente só é procurada por pessoas em busca do milagre. E ele existe, exceto aos
enquadrados na imutável lei do karma. Mas o milagre não acontece como um passe de mágica.
Uma seqüência de fatos contribui para sua realização. Devemos buscar fundo as explicações. O
homem é um complexo material e espiritual. Os chacras energéticos mantêm o equilíbrio da
mente, do corpo e do espírito. Normalmente as pessoas em dificuldades estão com seus
chacras desequilibrados. Os trabalhos no terreiro através da energia criada pelo ambiente e
força dos médiuns, aliado com a energia dos espíritos e das suas extraordinárias magias
criadoras de campos de força, agem diretamente na aura, onde normalmente reside a causa.
Isto vale para doenças físicas, traumas psicológicos, brigas familiares, vícios ou dificuldades
materiais. Quando seus problemas são resolvidos o homem esquece depressa da força que o
curou e descuida da manutenção de suas energias, principalmente no culto da Umbanda, força
que o mantém em ordem mental, física e espiritual . O problema que o levou desesperado
atrás da Umbanda pode, por isso, voltar. Daí a mensagem do Caboclo Akuan onde
claramente avisa a todos para se cuidarem.

Vou acrescentar um dialogo do caboclo com uma pessoa que não estava sendo assídua nos
trabalhos:

- Meu pai, justificava o consulente, tenho faltado aos trabalhos por estar sobrecarregado
profissionalmente e isto me deixa muito cansado.
- Não entendo. Você veio pedir para eu te arranjar um trabalho. Atendi o pedido. Agora você
me diz não poder vir por causa deste trabalho. Como fui eu quem te causou este mal, vou
repará-lo, tirando o trabalho, se ele está te prejudicando.

- Não meu pai, não faça isso - retrucou de imediato o consulente.

- Não entendo vocês! - finalizou a poderosa entidade deixando transparecer toda sua
sabedoria, cortando definitivamente a consulta.

Uma médium perguntou ao Caboclo Akuan:

- Caboclo, meu filho perguntou-me quem manda no Ogum Rompe-mato. Eu respondi que
era o Caboclo Akuan. Ele continuou e perguntou-me quem mandava no Caboclo Akuan.
Não soube responder e vim perguntar-lhe.

- Diga a ele, minha filha, que é o Rompe-mato no terreiro dele.

COMENTÁRIO
Com seu jeito rude e um diálogo curto o Caboclo Akuan abriu um leque filosófico sobre a
Umbanda. Tenho que começar revelando como entendo a organização espiritual umbandista.
Muitos autores e também autoridades pregam a existência de sete linhas, com sete planos,
sete autoridades espirituais, sete mandantes, sete exus, sete pombas-gira, sete, sete,
sete...Sempre o sete. Apesar de reconhecer a vibração do número sete, acho que ele é usado
como um limitador. É muito fácil fazer uso e mandar acender sete velas, dar sete nós, entrar
no cemitério e dar sete passos. Conheço um pai-de-santo que recomenda as pessoas visitarem
sete igrejas. Pode? E assim vai o número sete cada vez mais limitando nosso raciocínio. Sobre
os sagrados sete Orixás, cinco deles são unânimes: Oxalá, Ogum, Iemanjá, Oxóssi e
Xangô. Faltam dois: uns cultuam, além deles, Yori (Oriente) e Yorimá (preto-velho). Outros,
ao invés de Yori ou Yorimá, os Ibêjis. Já são oito os cultos. E onde ficam Oxum e Iansã?
Na minha calculadora já são dez, sem esquecer que o Sr. Zélio de Moraes, o codificador da
Umbanda, ensinou os cinco já citados, mais o Oriente e Abaluaiê. Já são onze. Que confusão!
Fazendo uso do limitador sete, fico com as sete energias que não ocuparam corpo físico na
terra: os cinco, mais Oxum e Iansã. Olhei um dia para o infinito e resolvi dividi-lo em sete
pedaços. Cada um deles é a vibração de um Orixá. Dentro deste pedaço foi criada a energia
que deu vida a cada um de nós - o Pai Cósmico, carregando as influências dessas energias. Por
isso não aceito que ao reencarnar as pessoas possam mudar de orixá-de-cabeça. Se a
minúscula energia que criou minha vida veio da energia de Ogum, vou ser sempre Ogum. Por
entender ser o Orixá uma energia cósmica, não aceito a teoria de existirem filhos de crianças,
orientais ou pretos-velhos, por terem eles ocupado um cascão físico. São maravilhosos, mas
foram eguns. Também não saberia onde fazer minhas entregas. Em igrejas e praças? E antes
na sua origem onde eram feitas? Para tornar polêmico o limitador sete, o Pai Maneco disse: se
fossem só sete vibrações, Jesus Cristo teria dito: "na casa de meu Pai, tem sete moradas".
Escrevo como penso. Seria até contraditório pensar de uma maneira e escrever de outra. Vou
divagar, o que às vezes é bom. Aprendi que o mundo material é uma cópia imperfeita do
mundo espiritual. Vou fazer de conta ser o mundo espiritual é uma organização material. E o
meu mundo é o Brasil, considerando ser a Umbanda autenticamente brasileira. Temos um
Presidente da República, governadores e prefeitos. Três poderes: o executivo, legislativo e
judiciário. Estamos no faz-de-conta: todos são honestos e cumpridores de seus deveres, como
se fossem espíritos de luz. O presidente manda no país, o governador no estado e o prefeito na
cidade. As regras existem. As leis são criadas, os mandantes aprovam e o judiciário dirime as
dúvidas. E o povo cumpre as determinações do sistema. Não dá para fugir disso. E este sistema
só existe porque existem casas. Casas grandes, pequenas, bonitas, feias, de alvenaria, de
madeira, de ricos e de pobres. Essas moradias é que justificam a existência desta grande
organização. Sem elas não haveria sociedade. Nem presidente, nem governador e nem
prefeito. E quem manda nas casas são seus donos.Cada um manda em sua casa. O Presidente
da República pode criar leis, mas não tem o direito de entrar na nossa casa sem bater na porta,
nem o direito de mexer nos móveis e muito menos de mandar em nossa família. Dentro de
nossa casa somos mais poderosos que o Presidente do Brasil. Por isso o Caboclo Akuan
disse: "... o Rompe-mato na casa dele". É assim que penso do mundo espiritual: cada um
cumprindo seu dever, mas sem limitador numérico. Para encerrar não posso deixar de
cumprimentar os autores que sabem exatamente quantos espíritos existem no espaço...

Alguém perguntou ao Caboclo Akuan se a Umbanda veio para dominar todas as outras
religiões, ou seria apenas mais uma dentre tantas. Resposta:

"Meu filho, o céu estrelado é deslumbrante e tão bonito que você fixa perplexo diante de tanta
grandeza. Na verdade este conjunto marca o início do infinito. Se você tirar as estrelas, o céu
fica feio e sem marcas. As religiões são como o céu estrelado. Marcam o início do infinito".

E ainda, austero, mas deixando escapar leve ironia:

"Cabe a vocês fazerem a da Umbanda brilhar mais..."

COMENTÁRIO

Há uns quarenta anos tive uma grande decepção espiritual. No centro espírita que freqüentava
um médium kardecista deu uma falseada em sua conduta moral e ética. Pensei em abandonar
o espiritismo. Mas os espíritos são bons. Recebi uma mensagem: "entre tantas coisas, só Deus
é verdade". A sua simplicidade sinalizava uma reflexão profunda. Só consegui entendê-la
depois de um ano. Não existe religião sem a intermediação do homem. Ou é o padre, o pastor,
o monge, o médium ou o cavalo. Sempre um encarnado está traduzindo a voz de Deus. Se o
homem é imperfeito, com a mesma imperfeição nos chegam os ensinamentos divinos. Eu devia
perdoar o médium. Não fazer dele e de ninguém o legítimo representante do Criador. Por outro
lado, temos a necessidade de praticar uma religião, seja ela qual for. Só através delas
poderemos evoluir espiritualmente. Vejam a felicidade da mensagem do caboclo. As religiões
são o início do infinito. É uma marca. Deus existe! Sem ele a vida ficaria escura e feia. Vamos
ser religiosos e mais humildes. Devemos respeitar todas as religiões e seitas, desde que
proponham o retorno ao Criador.
Aconteceu uma briga entre tribos. Uma era a tribo dos esperançosos - os guerreiros. A outra
era a dos preguiçosos - os que não cumpriam a lei. Como sempre, a tribo dos guerreiros era
em menor número. O cacique da tribo dos guerreiros tinha na cabeça um cocar brilhante. Eles
entraram em guerra. O cacique achava que tinha que brigar com o outro cacique, mas não viu
nenhum inimigo com um cocar. Durante a batalha, o cacique desfaleceu. A outra tribo quis tirar
o seu cocar, pois nenhum deles tinha cocar. Aí descobriram que o cocar não era de penas, era
de luz. Atemorizados, a tribo dos preguiçosos, em maior número, abandonou a luta e seus
guerreiros se entregaram assustados àquele guerreiro que eles achavam ser feiticeiro porque
de suas penas havia muita luz. Uma voz se ouviu: vocês se entregaram não perante a força,
mas pela expectativa de ficarem subordinados à luz. O cacique entendeu que eles se renderam
não pelo medo da força, mas pela voz da razão, e isto incentivou o cacique a partir para novas
conquistas, sempre procurando o povo sofredor. A sua arma não era mais a força, era a razão
e a luz. O cacique mudou seu nome, queria ser chamado Cacique Umbanda, e ao invés de
expulsar os fracos, os tinha sob seu domínio, e assim o cacique Umbanda, formou uma grande
tribo e seus guerreiros são fortes, fracos e faltosos, mas o seu líder era o Cacique Umbanda
está abençoado por Zâmbi.

COMENTÁRIO

Ficou bem clara a figuração da mensagem. A briga entre tribos é a luta do bem contra o mal.
Os guerreiros representavam os espíritos de luz e os preguiçosos os espíritos não esclarecidos,
desamparados, perturbadores e os que ainda vivem na escuridão e agarrados à crosta terrena.
O domínio dos espíritos atrasados ainda é maior. Mas a benção divina estava do lado dos
guerreiros, pois seu chefe brilhava intensamente seu chacra coronário, representado pelo cocar
brilhante. Iniciou-se a luta do bem contra o mal, devendo ser bem entendido que o grande
desafio e objetivo do alto astral é o encaminhamento destas entidades à trilha do bem e da
evolução espiritual. Vou dar um nome a este brioso cacique: Sete Encruzilhadas! Ele sabia
ser sua missão lutar contra aquelas pobres entidades. Fez uma avaliação. Procurou alguém à
sua altura. Não encontrou ninguém. A luta seria difícil. Resolveu baixar as armas e entregar-se
aos coitados. Imaginado-se vitoriosos, foram reclamar o grandioso troféu: o brilhante cocar de
luz! Era como querer alcançar o arco-íris. Não conseguiram pegar o cocar. Foi quando o
Cacique demonstrou sua força, dando-lhes conselhos amorosos e indicando o caminho da
espiritualidade e do perdão. Seu poder foi reconhecido e de vencedores passaram a seguidores
em busca do mesmo cocar, a coroa dos orixás. Humildemente reconheceu ser a razão a grande
arma contra os fracos. Sua arma passou a ser o amor. Seu objetivo a ajuda aos necessitados.
Passou a conquistar os fracos e criou uma grande tribo, heterogênea em cultura e sentimentos,
mas todos sob a liderança deste grande chefe. Foi quando gritou: por Deus, vou cumprir minha
missão. Meu nome será conhecido como Cacique Umbanda, e serei a religião brasileira.

"Aqueles que não sabem obedecer, além de atrapalharem os que obedecem, jamais vão saber
mandar".

COMENTÁRIO
Quando comecei a trabalhar como médium na Umbanda trazia comigo uma experiência de
vinte cinco anos na linha espírita kardecista. Por isso meu pai-de-santo revelou ter
constrangimento para lidar comigo. Dei-lhe total liberdade, até mesmo ameaçando de retirar-
me do terreiro se não merecesse tratamento igual aos meus irmãos de corrente. Não queria
privilégios. Acho a proteção cabível aos fracos. O aprendizado foi árduo. O austero intérprete
dos orixás usou e abusou de sua autoridade. Fazia de mim seu servo sem direito a reclamação.
Eu apreciava este tratamento. Não era masoquismo. Ao contrário, era fé. Afinal eu acreditava
nele. Sempre fui obediente. Era a consciência de quem sabia cumprir com seu dever. A cada
ordem, esperava, pacientemente, o momento da compreensão. Quando convocado ia aos
sábados ou domingos, embora intimamente contrariado, de vassoura na mão ajudar na limpeza
do terreiro. Era um rodízio obrigatório. Por ocasião de um ritual de Amaci foi estabelecido o
horário das 14:00 hs, numa segunda-feira. Quando de branco cheguei no terreiro recebi um
elogio do pai-de-santo. Ele sabia quanta coisa deixei para trás profissionalmente para participar
da solenidade. Expliquei: quando fiz o meu Amaci, existiam médiuns dando este apoio. Nada
mais justo eu retribuir a outros o que de outros recebi. Aprendi a obedecer. Fui guindado por
este mesmo pai-de-santo a pai-pequeno. Não tive dúvidas. Peguei o adejá e passei a mandar.
E eu tive capacidade para mandar, principalmente por ter sabido obedecer. Acho este o
objetivo da mensagem. Como poderia mandar se nunca sabia obedecer? Hoje como pai-de-
santo continuo mandando, mas sem faltar a ninguém com o respeito. Mas em mim, cumprindo
a lei da umbanda, só os orixás mandam, aos quais sirvo com muita humildade. Ogunhê!"

PAI MANECO - "Perdão não se pede. Conquista-se". O velho preto angolano deu mais
uma amostra de sua sabedoria. O relacionamento humano e social de perdoar ou pedir o
perdão é o mais mesquinho e mentiroso do relacionamento social. É utopia beirando o cinismo.
Tenho comigo que o perdão não existe. Vejam. Se alguém pratica um ato que desperte a
mágoa criam-se dois erros: o ato e este feio sentimento, característico de quem desconhece as
coisas do espírito. Aprendi a controlar meu emocional. Ao contrário, sinto pena de quem me
agride. Deve ser coisa de ogum. Mas quando, por um motivo qualquer sou o agressor, tento
depressa reparar o mal causado. Não em busca da simpatia do agredido, mas para o meu bem
estar. Mágoa é uma energia negativa vivendo em nossa aura. É o câncer do espírito. Ele fica
vivo e aumenta. Não existe possibilidade de desaparecer sem uma reciclagem dos sentimentos.
As agressões são frutos de sentimentos rancorosos. Não costumo vibrar nesta faixa. Talvez por
isso não tenho mágoa. Posso sim, ficar irado com meu agressor. Não misturo mágoa com a
raiva. Uma é do espírito e outra é da mente. Na mente dou um jeito. No espírito é bem mais
difícil.

"- Eu sou Justo. Sei que sou Justo porque vivo entre eles. Isto é conscientização. Entretanto,
seu eu quiser ser mais Justo que os Justos serei um vaidoso".

COMENTÁRIO

Com o desencarne de meu pai-de-santo, fiquei perdido. Havia abandonado o espiritismo


kardecista. A Umbanda estava dentro de mim. Corri vários terreiros, não consegui identificar-
me com nenhum. O que poderia fazer? Abrir um e convidar outro pai-de-santo para dirigi-lo?
Voltar às tênues, silenciosas e desprotegidas sessões de mesa? Tinha um compromisso com
companheiros na mesma situação e era urgente uma decisão. Mas não conseguia. A idéia de
preparar-me pai-de-santo estava latente. Mas por que? Não seria pretensão? Vaidade? Sei lá.
Não me decidia. Não sou humilde nem medroso, mas tornar-me pai-de-santo assustava-me. O
medo de um retrocesso espiritual pela vaidade dominava minha cabeça. No meio dessas
emoções desencontradas recebi a bendita luz do meu protetor e mestre, o Pai Maneco. Falou
comigo. Deixou a mensagem para tirar-me da indecisão. Ele não só deixou a mensagem, mas
tomou o cuidado de explicar-me seu significado. Disse: "tenho a consciência da lei dos
semelhantes. Se onde estou, todos são espíritos de luz, sou um deles, senão não
poderia estar aqui. Isto não é vaidade. É conhecimento. Só não posso pretender ter
mais luz, sob pena de ser expulso daqui. O verme da vaidade não pode desgraçar
meu espírito. Tomo muito cuidado para isto não acontecer. Cuido muito da minha
conscientização. Só através do conhecimento, e entre ele está a humildade, poderei
permanecer neste patamar. Vá em frente, incentivou-me. É teu caminho". E fui. E
tenho consciência de tudo ao meu redor. Até mesmo o conhecimento da minha vaidade e
capacidade para avaliar esta linda mensagem. A responsável por meu destino. Obrigado Pai
Maneco. Obrigado meu Pai Oxalá. Que Ogum me de força. Iemanjá me acolha com seu amor.
Oxum burile meu espírito. Iansã me proteja. Oxóssi me torne mais amoroso com a Natureza.
E Xangô me faça um homem mais justo.

"Se o boi soubesse a força que tem ninguém lhe botaria a canga".

COMENTÁRIO

Um médium experiente e maduro queixou-se ao Pai Maneco, com uma frase popular: "a
canga está pesada", motivando a resposta acima.

COMENTÁRIO

Se Oxalá Nosso Senhor Jesus Cristo não condenou as pecadoras, não compete ao Terreiro do
Pai Maneco julgar quem quer que seja!...

Sobre moral, vestimentas e a liberdade de expressão das pessoas no terreiro, não perguntem
ao pai-de-santo, mas a mim, que estarei no toco esperando por alguém sem pecado, para
discutirmos o assunto.

COMENTÁRIO

Na verdade uma pessoa reclamava muito do modo de algumas moças vestirem-se no terreiro,
além de ser uma ferrenha critica dos seus irmãos de corrente. Ela levou suas observações a um
capitão-de-terreiro que, por sua vez, comunicou o assunto ao Pai Maneco. Foi assim que surgiu
a mensagem acima.

PAI LUIZ - O Pai Luiz é filho de Xangô. Miúdo e muito velho, apresenta-se bem arcado. É doce
e bondoso. Fuma cachimbo e bebe cerveja preta. Meigo e carinhoso, mas tinhoso e matreiro
como todo preto-velho. Veste paletó e calças brancas. Tem uma barba bem grisalha. Fala
miúdo na terra, mas trabalha espiritualmente com muita força e sutileza.
O Pai Luiz representa a humildade.

CABOCLO JUNCO VERDE - O Caboclo Junco Verde não admite erros ou desrespeitos dentro
da umbanda. Prega a alegria como base do amor, e a obediência como ato de humildade e
respeito. Faz questão de alardear o machismo dentro da religião, talvez para cultuar a tradição
do índio brasileiro. Na mensagem não deixou nada de fora. Reuniu, com muita simplicidade
toda Umbanda.

A umbanda é magia: magia não é privilégio de ninguém. Magia é a arte de manipular a


natureza criando campos de força. E é exatamente isso que fazem os Orixás nos terreiros de
Umbanda. Junta elementos para criar desde um simples patuá até uma enorme energia
positiva para destruir outra da mesma intensidade criada por espíritos malignos. Magia é botar
um imã dentro de um coité com água junto com uma guia para absorver as energias negativas
desta guia. É falar com as salamandras para esfriarem o fogo permitindo tocá-lo sem se
queimar. Ir no morro e ouvir e entender o som do vento ou saber onde se esconde o duende.
Magia não tem receituário nem dicionário. Magia é magia. Quem agüenta mandinga manipula
patuá. Já vi um médium de 55 quilos incorporado carregar nas costas um homem de 140
quilos, espíritos acender charuto com pemba, sentar em cacos de vidro, apertar contra a
parede uma vela acesa e ela ficar pregada, sem queimar a frágil madeira. Por ter evidenciado
muitas coisas ao longo das minhas atividades espirituais conclui que o termo magia é muito mal
usado ou entendido. Todas as pessoas que trabalham na Umbanda são pequenos magos.
Direta ou indiretamente praticam a magia, uns conscientes e outros inconscientes. Por burrice
tem gente matando cabritos, comendo carne crua e alguns, pasmem, praticando a magia do
sexo, esta a mais burra e inexistente magia. São pessoas desorientadas e pervertidas usando o
nome da magia para saciar seus instintos grotescos. Um conselho: não queiram entender a
magia. Deixem isso para as entidades.

Abaixo explico os termos usados pelo Caboclo Junco Verde na mensagem acima:

MAGIA DO MARAFO: a cachaça tem dupla função: serve para amortecer o médium
permitindo ao espírito melhor domínio de seu mental e é manipulado no plano espiritual para
fins que fogem completamente à nossa compreensão. De certo apenas sabemos que nenhum
espírito vem no terreiro para beber. O Exu Tranca Ruas das Almas inquirido sobre a
necessidade do espírito beber respondeu: "se eu quisesse beber não viria nos terreiros. Iria
freqüentar os bares onde vivem os alcoólatras e lá arranjaria um copo-vivo - termo usado
aqueles que são dominados por espíritos viciados em bebida. Aqui vale um ensinamento: no
mundo espiritual existe o principio da lei que o semelhante atrai o semelhante. Todo homem
embriagado quase sempre está acompanhado de um espírito também viciado. Como o espírito
não pode ingerir a bebida ele aspira o cheiro do álcool acumulado no perispírito do bêbado
(copo-vivo) sempre incentivando-o ingerir enormes quantidades de bebida ficando uma parte
para ele e outra para o espírito. Interessante que esse espíritos protegem o seu doador, como
nós fazemos com o copo que nos serve para beber água. Quando comecei a trabalhar na
umbanda o Caboclo Junco Verde bebeu uma garrafa inteira de uma cachaça chamada Velho
Barreiro. Dose para me mandar ao hospital em coma, pois sou Avesso a bebidas alcoólicas e
fico tonto com pequena dose de licor. Fiquei assustado. Pedi ao caboclo para mudar a bebida
sob pena de não mais querer trabalhar com ele. Fui atendido. Hoje bebe um pouco de cerveja.
Isto é magia.

MAGIA DA FUMAÇA: Todas as religiões do mundo usam a fumaça como depurador das
energias. A defumação é sagrada e consagrada pelo mundo inteiro, desde os monges tibetanos
até os padres católicos. O turíbulo do orixá é o charuto. Faz parte da cultura indígena e por
extensão da umbanda. Não devemos confundir a fumaça do charuto com a defumação através
de ervas ou bastões cheirosos. Ambos têm funções importantes na religião, mas são usados de
forma diferente. Não devemos esquecer os vários tipos de fumaças usadas pelos espíritos.
Além do charuto, o palheiro ou cachimbo do preto-velho, o cigarro comum das pombas-gira,
também produzem o mesmo efeito. Uma forma também eficiente e forte para defumar é pano
na brasa. Vejam, existem várias formas, mas todas produzem fumaça e o cheiro. O fumo às
vezes serve para as entidades nos darem lições. O Pai Luiz, preto-velho com quem trabalho,
pediu para usar no seu cachimbo fumo em corda, exigindo que fosse eu quem cortasse e
preparasse para ele o fumo. Indagado por quê disse: "enquanto ele for cortando vai se
lembrando de mim..."

MAGIA DO SOM E DO MOVIMENTO: a música foi feita para as pessoas se amarem. O som
mexe os nossos sentimentos. E também fazia parte da cultura dos índios. É um mantra. Mas
não é só isso. O som repercute no éter. Ele vibra. A fala mansa domina e a fala grosseira irrita.
Ele tem um equilíbrio regulando nossas emoções. Quando ouvimos uma música forte sentimos
força interior e ficamos mansos e dóceis ao som de uma música suave. Quem não se lembra
emocionado da canção de ninar docemente cantadas por nossas mães? E quem não se lembra
dos sustos e medos passados na infância por gritos histéricos de alguém? Imaginem estarmos
sentados à beira de um rio com os olhos fechados, ouvindo o gostoso barulho da água
formando pequenas marolas, ainda premiado com o canto de um sabiá e outros pássaros além
de uma pequena brisa nos refrescando. É um sentimento ligado ao som e movimento. Agora
estamos voltando para casa. Os carros em sentido contrário fazendo o ruído na janela, a buzina
dos apressados motoristas tentando a ultrapassagem com o som ligado em volume máximo
tocando um pagode imoral desses conjuntos comerciais ou as barulhentas guitarras dessas
bandas histéricas. Nossas emoções, com certeza, serão diferentes. O movimento tem o mesmo
efeito do som. Reparem que um andar calmo e firme transmite uma personalidade segura. Um
andar desordenado e atabalhoado agita as energias em sua volta. Vejam um exército
marchando. O garbo dos soldados emociona a todos. Falei do andar. E a dança! Quantos
efeitos ela causa. Quando se fala em espiritualidade nosso parâmetro é Jesus Cristo. Na minha
cabeça Jesus era um homem sereno, de andar firme, gestos harmoniosos, com voz suave,
pausada e clara, o que em absoluto me faz pensar fosse um homem triste. Ao contrário,
imagino tenha sido um homem levando sempre um sorriso a todos, mas nunca deve ter dado
uma gargalhada. Nas suas caminhadas não devia cansar, pois seus passos deveriam ser firmes
e uniformes, sem jamais correr. Se alguém me perguntasse qual o movimento mais equilibrado
que pudesse conceber, responderia, sem hesitação: o levantar do braço de Jesus Cristo
acompanhado de sua firme voz.

MAGIA DA GUIA: uma vez perguntei ao pai Maneco o que poderia ser tirado do ritual da
umbanda. Respondeu: vou dizer o que não se pode tirar: as guias, os elementos, os mantras e
a quimbanda. A guia é o elemento de ligação entre o médium e o espírito. Imanta-se um
campo de força nela centralizado criando uma eficiente proteção contra eventuais energias
negativas. Sempre carrego uma guia de miçanga pequena com a cor de meu Orixá. Tempos
atrás no encerramento de um trabalho de praia, uma médium não estava bem. O trabalho
tinha começado às 20 hs. Eram quase 05 hs. Da madrugada. A ultima coisa que queria era
perder tempo para o encerramento. Quis ser rápido. Não hesitei. Agarrei as mãos da médium e
puxei toda aquela energia ruim. Em mim, saberia o que fazer. Deu certo, mas além da
indesejável vibração, perdi mais tempo catando na areia as contas da minha guia rompida no
instante da passagem energética. Descobri ser ela um pára-raios, ou melhor, um pára-energias.
A guia deve ser feita de acordo com a vontade do espírito. Guia não é colar nem enfeite.
Existem vários tipos de guia. A guia do orixá cósmico é feita com pedras da cor cultuada pelo
dirigente do terreiro. São pedras de cristal e suas miçangas podem ser distribuídas com bom
gosto. Mas jamais exageradas ou grande. Deve ser usada pendurada no pescoço e nunca
atravessada no ombro. Guia de caboclo é feita com sementes de capiá, também conhecida
como lágrimas-de-Nossa-Senhora, outras sementes como coronha (olho-de-boi), dentes,
pedaços de ossos, bambus, conchas e outros elementos marítimos e até penas coloridas, tudo
de acordo com a solicitação da entidade e conforme a sua origem. Os pretos-velhos são mais
humildes em suas guias. Gostam de muita simplicidade e preferem a guia inteira de sementes
de capiá e poucos elementos. Fiz uma guia para o meu padrinho Pai Joaquim. Caprichei. Fiz
toda cheia de elementos compatíveis com a sua força. Capiá intermediado com dentes, olho-
de-cabra e outras coisas mais. Entreguei-lhe orgulhoso. Ele agradeceu muito. Só que na
primeira consulta deu de presente ao consulente. Fiz outra. Arrebentou. Fiz outra mais suave,
com menos elementos. Arrebentou. Fiz outra mais suave ainda. Arrebentou. Fiz outra só de
sementes de capiá. Até hoje ele usa. Onde errei? Subestimei sua humildade. O Pai Tobias
disse-me querer em sua guia um guiso de cobra. Fiz-lhe a guia como queria, mas sem o tal
guiso. Entreguei-lhe. Ficou alegre e eu também. Afinal não tinha reclamado a falta do
elemento. Fez a mesma coisa que o Pai Joaquim. Deu de presente. Fiz outra, claro, com o
guiso. Não presenteou mais. Guia não é nossa. Pertence à entidade que a usa para nossa
proteção.

MAGIA DO PONTO RISCADO: a sagrada grafia dos orixás serve para identificar o espírito
comunicante, para chamar falanges e construir campos de força. Vejam esta passagem: a gira
era de quimbanda. O exu Tranca Ruas das Almas havia armado um trabalho no centro do
terreiro. Era para uma família necessitada. As entidades trabalhavam nele. Já passava da meia-
noite quando a poderosa entidade comunicou sua intenção de fazer a entrega do trabalho na
calunga pequena -cemitério. Alguns minutos disse não precisar mais ir ao cemitério, mas queria
ficar no terreiro até o sol nascer. Para alívio geral, logo em seguida levantou o trabalho
determinando o encerramento da gira. Espírito não brinca, principalmente uma entidade do
cepo do exu Tranca Ruas das Almas. A explicação veio de fora. O Exu Gira Mundo estava
incorporado em eficiente pai-de-santo, confidenciou estar maravilhado com o trabalho por ter o
povo da calunga, segundo suas palavras, vindo no terreiro aceitar o trabalho solicitado. Quando
o exu Tranca Ruas das Almas riscou o ponto (grafia do orixá), havia solicitado auxílio aos
espíritos trabalhadores com a energia do cemitério. Disse fazer a entrega naquele local, por ser
lá onde eles receberiam o trabalho. Com certeza ele recebeu uma mensagem tipo: deixe que
nós vamos lá. Foi quando disse não precisar mais ir ao cemitério, mas teria que ficar esperando
por eles no terreiro - o que aconteceria até o sol nascer. Vieram antes, receberam e aceitaram
o trabalho, permitindo o encerramento da gira. Isto é uma das tantas magias do ponto riscado.
Pai-de-santo experiente identifica o espírito pelo seu ponto riscado.

MAGIA DO PONTEIRO: os magos antigos já usavam a espada como elemento de grande


importância em seus trabalhos de magia. Na verdade a ponta do aço é usada para explodir
campos negativos de forças. Quando fincado ele firma a magia, ou seja, firma o ponto. Todos
os espíritos na umbanda fazem uso do ponteiro. É difícil identificar suas intenções quando
"batem os ponteiros". Mas batem, e batem muito bem.

MAGIA DO TERREIRO: O terreiro é a casa santa dos umbandistas. Nele se concentram todas
as energias dos espíritos. Suas firmezas, o congá, o roncó, a casa dos exus e o respeito dos
freqüentadores. É o lugar onde cultuamos e desenvolvemos nossa espiritualidade através do
emocionante encontro com o mundo dos espíritos, os habitantes outro lado da vida, a nossa
aruanda.

MAGIA DA HIERARQUIA: uma pessoa da cultura disse-me um dia: "gostei muito da


Umbanda. Lá todos são deuses, ou seja, todos têm condição de fazer o milagre." A hierarquia
na umbanda é respeitadíssima por todos os participantes. O pai ou mãe-de-santo dita as regras
e a filosofia da casa, as mães e pais pequenos são seus auxiliares diretos, os capitães cuidam
da gira e dos médiuns e os ogans cuidam da engoma, o conjunto de instrumentos usados no
terreiro. Sobre a obediência à hierarquia o Caboclo Akuan disse: quem não sabe obedecer,
jamais poderá mandar. Este conjunto de respeito forma a união e a integridade mágica da casa
dos espíritos.

MAGIA DA CORRENTE: Li e usei: ninguém é tão forte como todos nós juntos. A corrente é a
grande força do terreiro. Uma vez alguém perguntou ao Pai Maneco a importância de um
terreiro bonito e confortável. "Meu filho, se esta casa cair, referindo-se a parte material, pois
batia na parede de alvenaria, vocês vão se reunir lá fora, olhando para o céu estrelado, e vão
continuar trabalhando. Mas se a corrente se dissolver, o terreiro, mesmo belo e sólido, vai
fechar. Na verdade acho a corrente mais merecedora de cuidados que estas paredes frias.
Nunca trabalhei sozinho, só com a corrente. Quem trabalha sozinho, um dia ou outro, vai se
complicar. É inevitável o desastre. A corrente, como diz a mensagem é a força do terreiro.
Tudo gira em torno dela. São meus pequenos deuses. Que Oxalá abençoe a todos eles.

MAGIA DO CABOCLO: A presença do índio brasileiro na umbanda é a prova incontestável de


sua nacionalidade. Mesmo nas outras linhas a sua cultura está sempre presente. Ele representa
a força. Nem poderia ser diferente partindo de um povo morador nas matas e dentro das
florestas e conhecedor de todos seus segredos, inclusive os espirituais.
MAGIA DA CRIANÇA: imagine uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e
a vivência de um homem velho e ainda gozar a imunidade própria dos inocentes. A entidade
conhecida na umbanda por erê é assim. Faz tipo de criança, pedindo como material de trabalho
chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de bolinhas -o
refrigerante e trata a todos como tio e vô. Não sei. Às vezes fico atrapalhado. Acho que é pela
com minha idade. Por outro lado, algumas vezes, fico deslumbrado com a eficiência de seus
trabalhos. Uma vez telefonou-me um fazendeiro assustado pelas mortes de seu gado. Achava
ser trabalho feito. Ele foi ao terreiro tendo sido atendido normalmente. No final do trabalho
uma criança incorporada chamou-o e, com uma pemba, fez um desenho no chão como se
fosse um mapa todo recortado. No meio desenhou três corações e um risco como um rio,
fazendo um encontro com outro. "Tio, falou, os corações simbolizam seus três filhos." O
homem confirmou. Mostrando o mapa, disse ser a sua casa construída com vários pedaços. O
homem explicou ter sua fazenda sido constituída por várias áreas. Apontando exatamente no
encontro dos riscos, disse estar ali o problema, estando a água cheia de veneno e onde os
bichinhos do tio estavam morrendo. Mais tarde o fazendeiro telefonou-me dizendo estar a água
do rio realmente envenenada por agro-tóxico. Outra vez, no encerramento do trabalho uma
experiente médium deu sinais de incorporação de criança. Claro, disse-lhe não permitir a
incorporação, a final estávamos encerrando a gira. Mas não deu. Ela incorporou e batendo
palmas e bunda no chão, veio ao meu encontro pedindo um dólar. Um dólar? Respondi. O que
você vai fazer com um dólar? Ela insistiu: quero um dólar. Achamos graça. A cena foi alegre e
descontraída. Alguém tem um dólar para a criança? Perguntei ironicamente. Da assistência uma
moça fez sinal afirmativo. Fiquei perplexo. Somente eu conhecia o seu problema. Tinha câncer
maligno nas cordas vocais e testava com a cirurgia marcada. Da ironia à seriedade, convidei a
moça para entrar no terreiro e fazer a entrega do dólar ao erê. A entidade fez festa ao dólar,
deixou-o de lado e agarrou-se na garganta da moça fazendo-lhe leves passes magnéticos. Ela
fez a cirurgia na terra, mas está curada. Os erês são, via de regra, responsáveis pela limpeza
espiritual do terreiro. A incorporação da criança é típica. Sempre andam se arrastando e
dificilmente ficam em pé. Perguntaram ao Pai Maneco por que a incorporação se dá desta
forma. "Se não for assim, ninguém conseguirá controlar a gira", respondeu lacônico.

MAGIA DO PRETO VELHO: o preto-velho é o feiticeiro, apesar de suas mensagens serem


baseadas no evangelho. É o fala mansa, humilde, mas intransigente. É ele quem nos dá os
puxões de orelha. Na magia, além dos segredos de origem africana, conhecem a cultura dos
pajés indígenas. Eles que organizam os trabalhos para o exu, aliás, seu subalterno direto.

CABOCLO DA CACHOEIRA - o Caboclo da Cachoeira, sisudo, rosto vincado, corpo esguio,


falando pouco, é o legitimo representante da linha de Xangô. Seu senso de justiça é
dominante. Cumpre todo ritual da Umbanda rigorosamente e é capaz de subir durante a gira se
não lhe dispensarem respeito. É intransigente e embora aparente mau humor tem um coração
imenso e é capaz de emocionar-se pela tristeza dos seus filhos. Certa vez uma pessoa sentou-
se à sua frente. Sem nada perguntar, o Caboclo da Cachoeira foi contando sua vida: "eu era
revoltado e não gostava dos meus semelhantes. Saí da tribo e fui viver sozinho. Minha casa
ficava à margem de um bonito rio. A solidão foi minha companheira. Meus pensamentos
giravam só pelas coisas que tinha deixado para trás. Meu amargo coração aumentava cada vez
mais a mágoa que carregava. Descobri que ninguém pode viver sozinho. Quem se isola não
consegue colher bons pensamentos? Aí parou. Olhou fixamente para o rapaz à sua frente e
perguntou-lhe o que queria. "Nada meu pai. Na verdade vinha lhe contar que ia sair da casa
dos meus pais para viver sozinho...".
O Caboclo da Cachoeira representa a austeridade e a justiça.

JOÃOZINHO DA PRAIA - O Joãozinho da Praia é a criança da linha de Cosme e Damião, ou


melhor, dizendo, da Linha dos Ibejis - ou Erês. Imaginem se voltássemos aos nossos três ou
sete anos de idade, com toda a experiência atual. Que criança seria aquela, com quatro anos
pensando como um homem de cinqüenta. Vamos além: um espírito com a lembrança de
trezentos anos de reencarnações, ocupando um cascão de uma criança com menos de sete
anos. Esta é a criança que incorpora nos terreiros. Sábios moleques, como poucos, nos
confortam e indicam o caminho da felicidade.
Joãozinho da Praia tem a cor preta, anda de calça, sem camisa, aparenta sete anos, tem o
cabelo totalmente raspado. É um líder na linha dos Ibejis.
Representa a inocência.

MESTRES CHIN E SHIBIA - Na Linha do Oriente (Yori), trabalho com dois mestres. Um o
Mestre Chin. Não dá para calcular a sua idade. Velhinho, com túnica verde, com enfeites de
meia lua nos ombros, cabelos compridos e um cavanhaque enorme. Faz parte da falange do
Mestre Ramatis. Só fala em amor e bondade. Trabalha na linha da cura e junto com o Mestre
Shibia desenvolve maravilhoso trabalho de efeitos físicos. O outro, o Mestre Shibia, apresenta-
se de roupas muito pobres, coberto com pele de cordeiro. Cabelos e barbas pretas, mal
cuidados. Vive isolado, como um ermitão e só aparece para resolver trabalhos relacionados
com ectoplasma e efeitos físicos. Ríspido, age diretamente nas pessoas, para equilibrar os
chacras ou desenvolver, com o Mestre Chin, algum trabalho delicado de manipulação enérgica
ou efeitos físicos.
Representam os dois a sabedoria.

CIGANO WOISLER - Cabelos grisalhos, chefe de tribo que foi, o Cigano Woisler ainda
mantém toda a delicadeza, esperteza, vivacidade e misticismo do cigano. Roupas discretas e
colete preto todo enfeitado dirige a gira dos ciganos com muita sabedoria. Dá liberdade
perfeitamente encaixada dentro do respeito e bom senso. Gosta de contar estórias,
principalmente relacionadas com roubos de cavalos, profissão que exercia com grande orgulho
e diz que não entendia porque era perseguido pela guarda real, uma vez que seu pai, seu avô
e todos os seus ancestrais eram ladrões de cavalos. Nasceu na Hungria e por lá peregrinava,
sempre fugindo de seus inimigos, os guardas dos reis, príncipes ou nobres. Interessantes suas
estórias, porque nelas sempre deixa uma mensagem bonita de amor, garra e coragem.
Representa a felicidade.

JOÃO BOIADEIRO - O sêo João Boiadeiro, sempre montado em um cavalo branco, dá nítida
marca de ter habitado o sul brasileiro. É alto, corpo forte, rosto comprido e queimado pelo sol,
com vasto bigode preto. Veste bombachas, facão na cinta, capa preta levada lateralmente no
ombro, chapéu preto, lenço no pescoço e laço na mão. Assim o sêo João apresenta-se no
terreiro. Gênio alegre e descontraído pode, quando desrespeitado virar para a irritação e
violência. Tem que ser tratado com muito respeito, que, aliás, merece, não gostando de
intimidade. Gosta de conversar. Conta passagens de sua vida sempre ressaltando a liberdade,
amor pela natureza, respeito aos animais e fidelidade ao patrão, muito embora diga, que seus
patrões são o sol a lua, a chuva, o vento, os campos e rios. Costuma dizer que ninguém pode
ser feliz sem a liberdade. Faz trabalhos maravilhosos, tanto na Umbanda como na Quimbanda.
Representa a liberdade.

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