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O Evangelho de Nicodemos e os Atos de Pilatos

(https://sites.google.com/site/versaoportuguesa/home/antiga-literatura-espiritual/os-evangelhos-perdidos/o-
evangelho-de-nicodemus) – acesso em 07/09/17

Nicodemos (à esquerda) falando com Jesus, por Alexander Ivanov, 1850

"Membro proeminente do Sinédrio, e um homem de posses; viveu em Jerusalém no


primeiro século da era cristã. Ele é mencionado em João III:1-21, VII:50, XIX:39. Na
primeira destas passagens ele é representado como 'um governante dos judeus' que
aprendeu de Jesus o que "renascimento pelo batismo" significava, se é que esse
termo rabínico lhe era completamente desconhecido (...). A segunda passagem
recorda como ele fêz a sua visita a Jesus de noite, por forma a que não pudesse ser
conhecido como um dos discípulos deste. Na terceira passagem ele e José de
Arimateia são descritos como tendo tomado conta do corpo de Jesus de forma a lhe
darem um enterro decente. Que o homem trazido a uma tal proeminência no quarto
Evangelho deve ter sido uma figura bem conhecida da sociedade judaica desse
tempo é evidente. Com toda a probabilidade ele é o mesmo que o Nicodemus ben
Gorion do Talmude, um santo popular conhecido pelos seus poderes milagrosos; e
isto explicaria, também, a referência às "coisas divinas" nas conversas de Jesus com
ele (João, III:12).

O apocalíptico Evangelho de Nicodemos, que dá um relato de Jesus perante Pilatos


e o Sinédrio, tal como da sua morte e ressurreição, pertence ao século III, sendo que
o manuscrito existente mais antigo data do século XII".

Entrada "Nicodemus", da The Jewish Encyclopedia.


http://jewishencyclopedia.com/articles/11525-nicodemus
Duas páginas do manuscrito do século XII do Evangelho de Nicodemos

MEMORIAL DO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO FEITO NO TEMPO


DE PÔNCIO PILATOS
Prólogo
(ausente em alguns manuscritos e versões)

Eu, Ananias [em copta Aeneas, em latim Emaus], o Protetor, de categoria


pretoriana, versado na lei, a partir das escrituras divinas reconheci o nosso Senhor
Jesus Cristo e acerquei-me dele por fé e fui julgado merecedor do santo batismo: e
eu procurei os memoriais que foram feitos naquela altura, na época de nosso mestre
Jesus Cristo, que os judeus depositaram com Pôncio Pilatos, e encontrei os
memoriais em [letras] hebraicas, e pelo bom obséquio de Deus eu traduzi para
[letras] gregas para informar todos aqueles que invocam o nome do nosso Senhor
Jesus Cristo: no reinado do nossor Senhor Flavius Theodosius, no décimo sétimo
ano, e de Flavius Valentinianos o sexto, na nona indicção [corrompido: em latim, tem
o décimo oitavo ano de Theodosius, quando Valentinianus foi proclamado Augusto,
isto é, no ano 425 d.C.].

Todos vós, que lerem isto e traduzirem-no [ou copiarem] em outros livros, lembre-se
de mim e rezem por mim para que Deus seja bondoso comigo e misericordioso com
os meus pecados que eu pequei contra ele.

A paz seja com os que lêm e que ouvem estas coisas, e aos seus servos. Amen.

No décimo quinto [al. décimo nono] ano do governo de Tibério César, imperador dos
romanos, e de Herodes, rei da Galileia, no décimo nono ano do seu governo, no
oitavo das Calendas de Abril, que é o dia 25 de Março, no consulado de Rufus e
Rubellio, no quarto ano da duocentésima segunda Olimpíada, José que é Caifás era
o sumo sacerdote dos judeus:

Estas são as coisas que, depois da crucificação e paixão do Senhor, Nicodemos


registou e entregou ao sumo sacerdote e ao resto dos judeus: e o mesmo
NicodemoS expô-las em [letras] hebraicas.

1
Pois os chefes dos sacerdotes e escribas reuniram-se em conselho, mesmo Anás e
Caifás e Somne [Senes] e Dothaim [Dothael, Dathaes, Datam] e Gamaliel, Judas,
Levi e Nephtalim, Alexandre e Jairo e o resto dos judeus, e vieram ter com Pilatos
acusando Jesus de muitas ações, dizendo: Nós conhecemos este homem, que ele é
o filho de José o carpinteiro, gerado de Maria, e ele disse que ele é o Filho de Deus
um rei; mais, ele conspurca os sábados e ele destruiria a lei dos nossos pais.

Pilatos disse: E que coisas é que ele faria, e destruiriam a lei?

Os judeus disseram: Nós temos uma lei em que não devemos curar ninguém num
sábado, mas este homem de ações malvadas curou os coxos e os tortos, os débeis
e os cegos e os paralíticos, os mudos e os que estavam possessos, no dia de
sábado!
Pilatos disse-lhes: Por quais ações?

Eles disseram-lhe: Ele é um feiticeiro, e por Belzebu príncipe dos demónios ele
expulsa demónios, e eles todos lhe estão sujeitos.

Pilatos disse-lhes: Isso não é expulsar demónios por meio de um espírito imundo,
mas sim pelo deus Asclépio.

2
Os judeus disserm a Pilatos: Nós imploramos a vossa magestade que ele seja
levado ao vosso julgamento e ouvido. E Pilatos chamou-os junto dele e disse:
Digam-me, como posso eu, que sou um governador, examinar um rei? Eles
disseram-lhe: Nós não dizemos que ele é um rei, mas ele disse isso de si próprio.

E Pilatos chamou o mensageiro [cursor] e disse-lhe: Que Jesus seja trazido aqui,
mas com gentileza. E o mensageirro seguiu, e quando encontrou Jesus ele adorou-o
e tirou o lenço que tinha na mão e espalmou-o na terra e disse-lhe: Senhor, caminha
aqui e entra, pois o governador chamou-te. E quando os judeus viram o que o
mensageiro tinha feito, eles clamaram contra Pilatos dizendo: Por que não
chamaste por um arauto para entrar, mas por um mensageiro? Pois o mensageiro,
quando o viu, adorou-o e espalhou o seu lenço no chão e fê-lo caminhar por ele
como um rei!

3
Então Pilatos chamou o mensageiro e disse-lhe: Por que fizeste tu isto, e
espalmaste o teu lenço no chão e fizeste Jesus caminhar por cima dele? O
mensageiro disse-lhe: Senhor governador, quando tu me mandaste a Jerusalém ter
com Alexandre, eu vi Jesus sentado num asno, e as crianças dos hebreus
seguravam ramos nas suas mãos e gritavam, e outros estendiam as suas roupas
por baixo dele, dizendo: Salve agora, a ti que estás no mais alto: abençoado é
aquele que veio em nome do Senhor.

4
Os judeus clamaram e disseram ao mensageiro: Os filhos dos hebreus clamaram
em hebreu: como, pois, sabes tu em grego? O mensageiro disse-lhes: Eu perguntei
a um dos judeus e disse: O que estão eles a clamar em hebraico? E ele interpretou-
o para mim.

Pilatos disse-lhes: E como clamavam eles em hebraico? Os judeus disseram-


lhe: Hosanna membrome barouchamma adonai. Pilatos disse-lhes: E o Hosanna e o
resto, como é interpretado? Os judeus disseram-lhe: Salve, tu que está no mais alto:
abençoado é aquele que vem em nome do Senhor. Pilatos disse-lhes: Se vocês
próprios dão testemunho das palavras que foram ditas pelas crianças, onde é que o
mensageiro pecou? E eles calaram-se.

O governador disse ao mensageiro: Vai e trá-lo da maneira como quiseres. E o


mensageiro foi e fêz da manera anterior e disse a Jesus: Senhor, vem: o governador
chama-te.
5
Agora, quando Jesus entrou, e os porta-bandeira estavam a segurar os estandartes,
as imagens [bustos] dos estandartes curvaram-se e reverenciaram Jesus. E quando
os judeus viram o comportamento dos estandartes, como eles se tinham curvado e
reverenciado Jesus, eles clamaram desmedidamente contra os porta-bandeiras.
Mas Pilatos disse aos judeus: Não se maravilhem que as próprias imagens se
tenham curvado e reverenciado Jesus. Os judeus disseram a Pilatos: Nós vimos
como os porta-bandeiras fizeram-nas curvar e reverenciá-lo. E o governador chamou
os porta-bandeiras e disse-lhes: Por que fizeram isso vocês? Eles disseram a
Pilatos: Nós somos gregos e servidores dos templos, e como poderíamos nós
reverenciá-lo? Pois, realmente, enquanto segurávamos as imagens elas próprias se
curvaram e reverenciaram-no.

6
Então disse Pilatos aos chefes da sinagoga e aos anciãos do povo: Escolham
homens capazes e fortes e deixem-nos segurar nos estandartes, e deixem-nos ver
se eles se dobram por eles próprios. E os anciãos dos judeus tomaram doze
homens fortes e capazes e fizeram-nos segurar os estandartes aos seis, e foram
dispostos perante o assento de juízo do governador; e Pilatos disse ao mensageiro:
Tira-o da sala de julgamento [praetorium] e trá-lo outra vez da maneira que tu
quiseres. E Jesus saíu da sala de julgamento, ele e o mensageiro. E Pilatos chamou
para junto de si os que antes tinham segurado na imagem e disse-lhes: Eu jurei pela
segurança de César que, se os estandartes não se inclinassem quando Jesus
entrasse, cortarei as vossas cabeças.

E o governador ordenou a Jesus que entrasse segunda vez. E o mensageiro rogou


muito a Jesus que ele andasse sobre o seu lenço, e ele andou por cima e entrou. E
quando ele entrou, os estandartes curvaram-se por si próprios novamente e fizeram
reverência a Jesus.

II
1
Agora, quando Pilatos viu isso ele ficou assustado, e procurou levantar do assento
de julgamento. E enquanto ele pensava levantar-se, a sua esposa veio ter com ele,
dizendo: Não tenhas nada a ver com este homem justo, pois eu passei por muitas
coisas por causa dele de noite. E Pilatos chamou a si todos os judeus, e disse-lhes:
Vocês sabem que a minha esposa é temente a Deus e é bastante favorável aos
usos dos judeus? Eles disseram-lhe: Sim, nós sabemos isso. Pilatos disse-lhes:
Olhem, a minha esposa veio ter comigo, dizendo: Não tenhas nada com este
homem justo: pois eu passei por muitas coisas por causa dele de noite. Mas os
judeus responderam e disseram a Pilatos: Não te dissémos nós que ele é um
feiticeiro? Vê, ele enviou uma visão de um sonho à tua esposa.

2
E Pilatos chamou Jesus a si e disse-lhe: O que estas testemunhas têm contra ti? Tu
não dizes nada? Mas Jesus disse: Se eles não tivessem poder eles não teriam dito
nada; pois todos os homens têm poder sobre a sua boca, para falar bem ou mal:
eles fá-lo-ão.
3
Os anciãos dos judeus responderam e disseram a Jesus: O que iremos ver?
Primeiro, que tu nasceste da fornicação; segundo, que o teu nascimento em Belém
foi causa de chacina de crianças; terceiro, que o teu pai José e a tua mãe Maria
fugiram para o Egito porque eles não tinham confiança no povo.

4
Então disseram alguns deles que estavam por ali, homens devotos dos judeus: Nós
não dizemos que ele veio da fornicação; mas nós sabemos que José foi casado com
Maria, e ele não nasceu da fornicação. Pilatos disse àqueles judeus que disseram
que ele tinha vinda da fornicação: Este vosso dito não é verdadeiro porque houve
esponsórios, como também dizem estes que são da vossa nação. Anás e Caifás
disseram a Pilatos: Todas a nossa multidão clama que ele nasceu da fornicação, e
nós não somos acreditados: mas estes são prosélitos e discípulos dele. E Pilatos
chamou Anás e Caifás a si e disse-lhes: O que são prosélitos? Eles disseram-lhe:
Eles nasceram crianças dos gregos, e agora tornaram-se judeus. Então, disseram
eles que eu disse que ele não nasceu da fornicação, mesmo Lázaro, Asterius,
Antonius, Jacob, Amnes, Zenas, Samuel, Isaac, Phinees, Crispus, Aggripa e Judas.
Nás não nascemos prosélitos [em copta, 'não somos gregos'], mas somos filhos de
judeus e dizemos a verdade; pois, verdadeiramente, nós estivémos presentes nos
esponsórios de José e Maria.

5
E Pilatos chamou a si aqueles doze homens que disseram que ele não tinha
nascido da fornicação, e disse-lhes: Eu conjuro-vos pela segurança de Céssr, são
verdadeiras estas coisas que vocês disseram, que ele não nasceu da fornicação?
Eles disseram a Pilatos: Nós temos uma lei de não jurar, porque isso é pecado. Mas
deixem-nos jurar pela segurança de César não é como nós dissemos, e seremos
culpados de morte. Pilatos disse a Anás e Caifás: Não respondem a estas coisa?
Anás e Caifás disseram a Pilatos: Acreditam nestes doze homens que dizem que ele
não nasceu da fornicação, mas toda a nossa multidão clama que ele nasceu da
fornicação, e que é um feiticeiro, e diz que é o Filho de Deus e um rei, e em nós não
acreditam.

6
E Pilatos ordenou a toda a multidão que saíssem, menos os doze homens que
disseram que ele não tinha nascido da fornicação, e ele ordenou a Jesus que se
sentasse à parte e Pilatos disse-lhes: Por que causa querem eles matá-lo? Eles
dizem a Pilatos: Eles têm inveja, porque ele curou no dia de sábado. Pilatos disse:
Por uma boa ação eles querem matá-lo? Eles dizem-lhe: Sim.

III

1
E Pilatos estava cheio de indignação e saíu da sala de julgamento e disse-lhes: Eu
convoco o Sol para testemunhar que eu não acho falta neste homem. Os judeus
responderam e disseram ao governador: Se este homem não fosse um malfeitor nós
não o teríamos entregue a ti. E disse Pilatos: Levem-no e julguem-no de acordo com
a vossa lei. Os judeus disseram a Pilatos: Não é legal para nós matarmos este
homem. Pilatos disse: Deus proibiu-vos de matar, e permitiu a mim?
2
E Pilatos foi novamente para a sala de julgamento e chamou Jesus à parte e disse-
lhe: És tu o Rei dos judeus? Jesus respondeu e disse a Pilatos: Disseste tu esta
coisa por ti próprio, ou outras pessoas disseram-te isso de mim? Pilatos respondeu a
Jesus: Sou também eu um judeu? A tua própria nação e os chefes dos sacerdotes
entregaram-te a mim: que fizeste tu? Jesus respondeu: O meu reino não é deste
mundo, pois se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutado para
que eu não fosse entregue aos judeus mas o meu reino não é daqui. Pilatos disse-
lhe: És tu um rei, então? Jesus respondeu-lhe: Tu dizes que eu sou um rei, por esta
causa de que eu nasci e vim para que todo aquele que é da verdade ouça a minha
voz. Pilatos disse-lhe: O que é a verdade? Jesus disse-lhe: A verdade é dos céus.
Pilatos disse: Não há verdade sobre a terra? Jesus disse a Pilatos: Tu vês como
aqueles que dizem a verdade são julgados pelos que têm autoridade sobre a terra.

IV

1
E Pilatos deixou Jesus na sala de julgamentos e foi ter com os judeus e disse-lhes:
Eu não encontro falta nele. Os judeus disseram-lhe: Este homem disse: Eu sou
capaz de destruir este templo e em três dias construi-lo. Pilatos disse: Que templo?
Os judeus dizem: Aquele que Salomão construiu em quarenta e seis anos mas que
este homem disse que irá destruir e construir em três dias. Pilatos disse-lhes: Eu
não tenho culpa do sangue deste homem justo: tratem vocês disso. Os judeus
disseram: O seu sangue está sobre nós e nos nossos filhos.

2
E Pilatos chamou os anciãos e os sacerdotes e Levitas a si e disse-lhes
secretamente: Não façam isso: pois não há nada merecedor de morte naquilo de
que o acusaram, pois a vossa acusação é relativa a curar e profanar o sábado. Os
anciãos e os sacerdotes e levitas dizem: Se um homem blasfema contra César, ele
é merecedor de morte ou não? Pilatos disse: Ele é merecedor de morte. Os judeus
dizem a Pilatos: Se um homem é merecedor de morte se blasfema contra César,
este homem blasfemou contra Deus.

3
Então o governador ordenou a todos os judeus que saíssem da sala de julgamento,
e ele chamou Jesus a si e disse-lhe: O que farei contigo? Jesus disse a Pilatos: Faz
como se te tivesse sido dado. Pilatos disse: Como isso tivesse sido dado? Jesus
disse: Moisés e os profetas profetizaram acerca da minha morte e ressurreição.
Agora os judeus questionaram em segredo e ouviram, e eles disseram a Pilatos: O
que necessitas tu de ouvir mais desta blasfémia? Pilatos disse aos judeus: Se esta
palavra for de blasfémia, levem-no pela sua blasfémia, e levem-no à vossa sinagoga
e julguem-no de acordo com a vossa lei. Os judeus disseram a Pilatos: Está contido
na nossa lei, que se um homem pecar contra um homem, ele merece quarenta
chicotadas menos uma: mas aquele que blasfemar contra Deus, esse deve ser
apedrejado.
4
Pilatos disse-lhes: Levem-no e vinguem-se dele da maneira que quiserem. Os
judeus disseram a Pilatos: Nós queremos que ele seja crucificado. Pilatos disse: Ele
não merecia ser crucificado.

5
Agora, quando o governador olhava à volta para a multidão de judeus que estava ali
perto, ele viu muitos dos judeus a choramingar, e disse: Nem toda a multidão deseja
que ele seja morto. Os mais velhos dos velhos disseram: Para este fim veio toda a
multidão de nós para que ele seja morto. Pilatos disse aos judeus: Porque é que ele
deve morrer? Os judeus disseram: Porque ele chamou a si próprio o Filho de Deus,
e um rei.

V
1
Mas um certo homem, Nicodemos, um judeu, veio e parou em frente do governador
e disse: Eu rogo-te, bom [piedoso] senhor, permite-me dizer umas quantas palavras.
Pilatos disse: Diz lá. Nicodemos disse: Eu disse aos anciãos e aos sacerdotes e
levitas e a toda a multidão de judeus na sinagoga: Porque contendem vocês com
este homem? Este homem fez muitos e maravilhosos sinais, que nenhum homem
tinha feito, nem fará: deixem-no em paz e não planeiem nenhum mal contra ele: se
os sinais que ele fez são de Deus, eles permanecerão, mas se eles são de homem,
eles darão em nada. Pois verdadeiramente Moisés, quando ele foi enviado por Deus
ao Egito, fez muitos sinais, que Deus lhe ordenou fazer em frente do Faraó, rei do
Egito, e estavam lá certos homens, servos do Faraó, Jannes e Jambres, e eles
também fizeram não poucos sinais, daqueles que Moisés fez, e os egípcios tinham-
nos como deuses, até Jannes e Jambres: e como os sinais que eles fizeram não
eram de Deus, eles pereceram e também aqueles que acreditaram neles. E agora
deixem este homem ir, pois ele não é merecedor de morte.

2
Os judeus disseram a Nicodemos: Tu tornaste-te seu discípulo e tu falaste em apoio
dele. Nicodemos disse-lhes: O governador também se tornou seu discípulo, por ter
falado em seu apoio? César não o nomeou para esta dignidade? E os judeus
estavam furiosos e a ranger os dentes contra Nicodemos. Pilatos disse-lhes: Porque
rangem os dentes contra ele, se vocês ouviram a verdade? Os judeus dizem a
Nicodemos: Possas tu receber a sua verdade e a sua parte. Nicodemos disse:
Amen, Amen: possa eu recebê-la como vocês disseram.

VI
1
Agora um dos judeus veio para a frente e rogou ao governador que pudesse dizer
uma palavra. O governador disse: Se tu queres dizer qualquer coisa, fala lá. E o
judeu disse: Trinta e oito anos jazi eu numa cama sofrendo de dores, e ao chegar
Jesus muitos que estavam possessos e jaziam com diversas doenças foram curados
por ele, e certos [fiéis] jovens tiveram pena de mim e levaram-me com a minha cama
e trouxeram-me até ele; e quando Jesus me viu ele teve compaixão, e disse-me uma
palavra: Agarra na tua cama e anda. E eu levantei a minha cama e andei. Os judeus
dizem a Pilatos: Pergunta-lhe em que dia é que foi que ele foi curado disse: No
sábado. Os judeus dizem: Não te informámos disto, que no sábado ele curava e
expulsava demónios?

2
E outro judeu veio para a frente e disse: Eu nasci cego: Eu ouvia palavras mas não
via a face de nenhum homem: e quando Jesus passava perto eu gritei com uma
forte voz: Tem piedade de mim, ó filho de David. E ele teve pena de mim e pôs as
suas mãos sobre os meus olhos e eu recebi a vista imediatamente. E outro judeu
veio para a frente e disse: Eu estava corcunda e ele pôs-me direito com uma
palavra. E outro disse: Eu era leproso, e ele curou-me com uma palavra.

VII

E uma certa mulher chamada Berenice [em copta Beronice, em latim Verónica]
gritando de longe disse: Eu tinha um fluxo de sangue e toquei a fímbria da sua
veste, e o fluxo do meu sangue foi estancado quando eu tinha doze anos. Os judeus
dizem: Temos uma lei em como uma mulher não poderá dar testemunho.

VIII

E alguns outros, mesmo uma multidão de homens e de mulheres clamaram,


dizendo: Este homem é um profeta e os demónios estão-lhe sujeitos. Pilatos disse-
lhes: Os demónios estão-lhe sujeitos: Portanto os vossos mestres não lhe estão
também sujeitos? Eles dizem a Pilatos: Nós não sabemos. Outros também
disseram: Ele ressuscitou Lázaro que estava morto no seu túmulo desde há quatro
dias. E o governador teve medo e disse a toda a mulltidão dos judeus: Portanto
vocês vão derramar sangue inocente?

IX

1
E ele chamou até si Nicodemos e aqueles doze homens que disseram que ele não
tinha nascido da fornicação, e disse-lhes: O que devo eu fazer, pois se levanta
sedição entre o povo? Eles disseram-lhe: Nós não sabemos, deixa-os tratarem
disso. Novamente Pilatos apelou a toda a multidão dos judeus e disse: Vocês sabem
que têm um costume em que, na festa do pão ázimo, eu vos liberte um prisioneiro.
Agora eu tenho um prisioneiro condenado na prisão, um assassino, Barrabás de
nome, e também este Jesus que está perante vós, em quem eu não acho nenhuma
falta. Quem vocês querem que eu vos liberte? Mas eles clamaram: Barrabás. Pilatos
disse: O que é que eu faço, então, com Jesus, que é chamado Cristo? Os judeus
dizem: Que seja crucificado. Mas alguns dos judeus responderam: Tu não és amigo
de César se deixares este homem ir; pois ele chamou a si próprio o Filho de Deus e
um rei: tu, portanto, vais tê-lo como rei, e não a César.

2
E Pilatos ficou irado e disse aos judeus: A vossa nação está sempre sediciosa e
vocês revoltam-se contra os vossos benfeitores. Os judeus dizem: Contra quais
benfeitores? Pilatos disse: De acordo com o que eu ouvi, o vosso Deus tirou-vos do
Egito de uma escravidão dura, e conduziu-vos a salvo pelo mar e por terra seca, e
na desolação vos alimentou com maná e deu-vos codornizes, e deu-vos água para
beber de um rochedo, e deu-vos uma lei. E em todas estas coisas vocês
provocaram o vosso Deus até à raiva, e fizeram um bezerro fundido, e enraiveceram
o vosso Deus e ele procurou chacinar-vos: e Moisés suplicou por vocês e vocês não
foram mortos. E agora vocês acusam-me de que eu odeio o rei [imperador].

3
E ele levantou-se da cadeira de julgamento e foi adiante. E os judeus clamaram,
dizendo: Nós conhecemos o nosso rei, exatamente César e não Jesus. Pois, de
facto, os homens sábios trouxeram presentes do leste até ele como a um rei, e
quando Herodes ouviu dos homens sábios que um rei tinha nascido, ele procurou
matá-lo, e quando o seu pai José soube disso, ele levou-o e à sua mãe e eles
fugiram para o Egito. E quando Herodes ouviu isso ele destruiu as crianças dos
hebreus que tinham nascido em Belém.

4
E quando Pilatos ouviu estas palavras ele ficou com medo. E Pilatos silenciou a
multidão, porque eles ainda gritavam, e disse-lhes: Então, portanto, é ele quem
Herodes procurava? Os judeus dizem: Sim, ele é este. E Pilatos tomou água e lavou
as suas mãos perante o sol, dizndo: Eu estou inocente do sangue deste homem
justo: tratem vocês disso. Novamente os judeus clamaram: O seu sangue esteja
sobre nós e sobre os nossos filhos.

5
Então Pilatos ordenou que o véu fosse estendido perante o assento de julgamento
onde ele se sentava, e disse a Jesus: A tua nação condenou-te [acusou-te] como
sendo um rei: portanto eu decretei que tu fosses primeiro açoitado de acordo com a
lei dos nossos piedosos imperadores, e depois seres pendurado na cruz no jardim
no jardim onde tu foste apanhado: e que Dysmas e Gestas, os dois malfeitores,
sejam crucificados contigo.

1
E Jesus saíu da sala de julgamento e os dois malfeitores com ele. E quando eles
chegaram ao sítio eles despiram-no das suas roupas e vestiram-no com uma peça
de linho e puseram-lhe uma coroa de espinhos na cabeça: da mesma forma eles
suspenderam os dois malfeitores. Mas Jesus disse: Pai perdoa-lhes, pois eles não
sabem o que fazem. E os soldados dividiram as suas roupas entre eles.

E as pessoas ficaram a olhar para ele, e os sacerdotes principais e os governantes


gozaram com ele, dizendo: Ele salvou outros, que se salve a si próprio: se ele é o
filho de Deus [que desça da cruz]. E os soldados também faziam pouco dele, vindo e
oferecendo-lhe vinagre com bílis; e eles diziam: Se tu és o Rei dos judeus, salva-te a
ti próprio.

E Pilatos, depois da sentença, ordenou que a sua acusação fosse escrita num título
em letras de grego e latim e hebreu, de acordo com os dizeres de Jesus: que ele era
o Rei dos judeus.
2
E um dos malfeitores que foram pendurados [de nome Gestas] falou-lhe, dizendo:
Se tu és o Cristo, salva-te a ti, e a nós. Mas Dysmas, respondendo, reprimiu-o,
dizendo: Tu não temes mesmo a Deus, vendo que estás na mesma condenação? E
nós, realmente, justamente, pois recebemos a recompensa correta das nossas
ações, mas este homem não fêz nada de errado. E ele disse a Jesus: Lembra-te de
mim, Senhor, no teu reino. E Jesus disse-lhe: Verdadeiramente, verdadeiramente,
eu te digo, que hoje tu [estarás] comigo no paraíso.

XI

1
E era por volta da sexta hora, e havia escuridão sobre a terra até à nona hora, pois o
sol tinha escurecido: e o véu do templo foi rasgado na névoa. E Jesus chamou em
voz alta e disse: Pai, baddach ephkid rouel, que é interpretado: Nas tuas mãos eu
entrego o meu espírito. E tendo falado assim ele rendeu o espírito. E quando o
centurião viu que o que aconteceu, ele glorificou a Deus, dizendo: Este homem era
justo. E todas as multidões que tinham vindo ver, quando contemplaram o que tinha
sido feito, bateram nos peitos e voltaram.

2
Mas o centurião relatou ao governador as coisas que tinham acontecido: e quando o
governador e a sua esposa ouviram, eles ficaram magoados, e não comeram nem
beberam nesse dia. E Pilatos chamou os judeus e disse-lhes: Viram o que
aconteceu? Mas eles disseram: Houve um eclipse de sol segundo costuma
acontecer.

3
E os seus conhecidos ficaram à distância, e as mulheres que vieram com ele da
Galileia, contemplando estas coisas. Mas um certo homem chamado José, sendo
um conselheiro, da cidade de Arimateia, que também procurava pelo reino de Deus,
este homem foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. E ele desceu-o e enrolou-o
numa peça de linho limpa e depositou-o num sepulcro lavrado onde ainda não tinha
sido depositado nenhum homem.

XII

1
Agora, quando os judeus ouviram que José tinha pedido o corpo de Jesus, eles
procuraram por ele e os doze homens que disseram que Jesus não tinha nascido da
fornicação, e por Nicodemos e muitos outros que tinham ido perante Pilatos e
declararam as suas boas obras. Mas todos eles se esconderam, e deles só
Nicodemos foi visto, pois ele era um dos governantes dos judeus.E Nicodemos
disse-lhes: Como é que vieram para a sinagoga? Os judeus disseram-lhe: Como é
que tu vieste à sinagoga? Pois tu és cúmplice dele, e o seu lote será contigo na vida
depois desta. Nicodemos disse: Amen, Amen. Da mesma forma José também
avançou e disse-lhes: Porque é que vocês estão aborrecidos comigo, por eu ter
pedido o corpo de Jesus? Vejam, eu depositei-o no meu novo túmulo, tendo-o
envolto em linho limpo, e rolei uma pedra sobre a porta da gruta. E vocês não
agiram corretamente com o justo, pois vocês não se arrependeram quando o
crucificaram, mas também o perfuraram com uma lança.

Mas os judeus agarraram José e ordenaram que ele fosse posto em segurança até
ao primeiro dia da semana: e eles disseram-lhe: Fica sabendo que o tempo não nos
deixou fazer nada contra ti, porque o sábado estava a raiar: mas fica a saber que
não terás funeral, mas daremos a tua carne às aves do céu. José disse-lhes: Isto é a
palavra de Golias, o gabarola, que censurou o Deus vivo e o divino David. Pois Deus
disse pelo profeta: A vingança é minha, e eu recompensarei, disse o Senhor. E,
agora, olhem, um que não estava circuncidado, mas circuncidado no coração, tomou
água e lavou as suas mãos perante o sol, dizendo: Eu estou inocente do sangue
desta pessoa justa: tratem vocês disso. E vocês responderam a Pilatos e disseram:
O seu sangue esteja sobre nós e sobre os nossos filhos. E agora eu temo que venha
a ira do Senhor sobre vocês e sobre os vossos filhos, como vocês disseram. Mas
quando os judeus ouviram estas palavras eles aumentaram em azedume na alma, e
agarraram José e levaram-no e fecharam-no numa casa onde não havia janela, e
guardas foram dispostos à porta: e eles selaram a porta do local onde José estava
fechado.

2
E no dia de sábado os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os levitas fizeram uma
disposição de que todos os homens deviam aparecer na sinagoga no primeiro dia da
semana. E toda a multidão se levantou cedo e realizou conselho na sinagoga acerca
de que tipo de morte deviam matá-lo. E quando o conselho estava reunido eles
ordenaram que ele fosse trazido com grande desonra. E quando abriram a porta
eles não o encontraram. E todas as pessoas estavam junto a eles e espantavam-se,
porque encontraram os selos fechados, e Caifás tinha a chave. E eles nunca mais
tiveram mãos sobre aqueles que tinham falado a favor de Jesus perante Pilatos.

XIII

1
E enquanto eles estavam sentados na sinagoga e se maravilhavam por causa de
José, ali vieram ter alguns guardas que os judeus tinham pedido a Pilatos para
guardar o sepulcro de Jesus não fossem por acaso os seus discípulos vir e roubá-lo.
E eles falaram e declararam aos governantes da sinagoga e aos sacerdotes e aos
levitas aquilo que se tinha passado: Como lá houve um grande tremor de terra, e
vimos um anjo descer do céu, e ele rolou a pedra para fora da boca da gruta, e
sentou-se nela. E ele brilhava como a neve e como o relâmpago, e nós estávamos
muito assustados e jazíamos como homens mortos. E nós ouvimos a voz do anjo
falando com as mulheres que esperavam no sepulcro, dizendo: Não temam: pois eu
sei que procuram Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui: ele ressuscitou, como
ele disse. Venham, vejam o lugar onde o Senhor jazia, e vão rapidamente e digam
aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e está na Galileia.

2
Os judeus dizem: Com que mulheres falou ele? Os da guarda dizem: Ñós não
sabemos quem elas eram. Os judeus dizem: A que horas foi? Os da guarda dizem:
À meia-noite. Os judeus dizem: E como é que vocês não apanharam as mulheres?
Os da guarda dizem: Nós ficámos como mortos com o medo, e não considerávamos
ver a luz do dia; como é que nós podíamos apanhá-las? Os judeus dizem: Como o
Senhor vivia, nós não acreditamos em vocês. Os da guarda disseram aos judeus:
Tantos sinais vocês viram naquele homem, e vocês não acreditaram, como é que
vocês haviam de acreditar em nós? Verdadeiramente vocês juraram corretamente
'como o Senhor vivia', pois ele realmente vive. Novamente os da guarda dizem: Nós
ouvimos que vocês encerraram aquele que pediu o corpo de Jesus, e que vocês
selaram a porta; e quando vocês a abriram não o encontraram. Entreguem então
José e nós vos daremos Jesus. Os judeus dizem: José partiu para a sua cidade. As
da guarda dizem aos judeus: Jesus também ressuscitou, como nós ouvimos do anjo,
e ele está na Galileia.

3
E quando os judeus ouviram estas palavras eles ficaram assustados, dizendo:
Tomem cuidado não vá este relato ser ouvido e todos os homens se inclinem
perante Jesus. E os judeus fizeram um conselho e juntaram muito dinheiro e deram-
no aos soldados, dizendo: Ouçam lá: Enquanto nós dormíamos os seus discípulos
vieram de noite e roubaram-no. E se isto for ouvido pelo governador nós vamos
convencê-lo e proteger-vos. E eles aceitaram o dinheiro e fizeram como tinham sido
instruídos [E estes seus ditos foram publicitados entre todos os homens, na versão
latina]

XIV

1
Agora um certo sacerdote chamado Phinees e Addas um professor e Aggaeus [em
copta Ogias, em latim Egias] um levita, vieram da Galileia para Jerusalém e
contaram aos chefes da sinagoga e aos sacerdotes e aos levitas, dizendo: Nós
vimos Jesus e os seus discípulos sentados na montanha que é chamada Mamilch
[Mambre ou Malech em latim, Mabrech em copta], e ele disse aos seus discípulos:
Vão por todo o mundo e preguem a toda a criatura [a toda a criação]: aquele que
acreditar e for batizado será salvo, mas aquele que não acreditar será condenado.
[E estes sinais seguiram em todos deles que acreditarem: em meu nome eles
expulsarão demónios, eles falarão em línguas novas, eles agarrarão serpentes, e se
eles beberem alguma coisa mortal isso não lhes fará mal: eles imporão as mãos nos
doentes e eles recupararão]. E enquanto Jesus ainda falava com os seus discípulos
nós vimos ele ser levado para o céu.

2
Os anciãos e os sacerdotes e os levitas dizem: Dêm glória ao Deus de Israel e
façam confissão a ele: ouviram vocês de facto [ou vocês ouviram] e viram aquelas
coisas que nos disseram? Os que as contam dizem: Como o Senhor Deus dos
nossos pais Abraão, Isaac, e Jacob vive, nós ouvimos estas coisas e nós vimo-lo
levado para o céu. Os anciãos e os sacerdotes e os levitas dizem-lhes: Vocês
vêm para este fim, para que vocês possam contar-nos, ou vêm para pagar os
vossos votos a Deus? E eles dizem: Para pagar os nossos votos a Deus. Os anciãos
e os sumos sacerdotes e os levitas dizem-lhes: Se vocês vêm para pagar os vossos
votos a Deus, a que propósito vem esta história inútil que vocês balbuciaram perante
todo o povo? Phinees o sacerdote e Addas o professor e Aggaeus o levita dizem aos
chefes da sinagoga e sacerddotes e levitas: Se estas palavras que vocês disseram e
viram ser pecado, eis, estamos perante vocês: façam connosco conforme parecer
bdem aos vossos olhos. E eles levaram o livro da lei e disseram-lhes que eles não
deviam contar mais a quem quer que fosse estas palavras: e eles deram-lhes de
comer e de beber, e puseram-nos fora da cidade: além disso deram-lhes dinheiro, e
três homens para irem com eles, e encaminharam-nos até à Galileia, e eles partiram
em paz.

3
Agora, quando estes homens partiram para a Galileia, os sumos sacerdotes e os
chefes da sinagoga e os anciãos juntaram-se na sinagoga, e fecharam o portão, e
lamentaram com uma grande lamentação, dizendo: Que sinal é este que vem
acontecer em Israel? Mas Amlas e Caifás disseram: Por que estão vocês
perturbados? Porque choram vocês? Não sabem que os seus discípulos deram
muito ouro a eles para que guardassem o sepulcro e ensinaram-lhes a dizer que um
anjo tinha descido e rolado a pedra da porta do sepulcro? Mas os sacerdotes e os
anciãos disseram: Assim seja, que os seus discípulos roubaram o seu corpo; mas
como é que a sua alma entrou no seu corpo, e como está ele na Galileia? Mas eles
não conseguiam responder a estas coisas, e lá para o fim disseram: não é legítimo
para nós acreditar nos incircuncidados: Devemos acreditar nos soldados, de que um
anjo desceu do céu e rolou a pedra da porta do sepulcro? Mas, em verdade os seus
discípulos deram [...] sepulcro. Não sabem vocês que não é legítimo para os judeus
acreditar numa palavra qualquer dos incircuncidados, sabendo que aqueles que
recebem muito bem de nós falaram de acordo com aquilo que lhes ensinámos.

XV

1
E Nicodemos levantou-se e pôs-se perante o conselho, dizendo: Vocês falam bem.
Não sabem vocês, ó povo do Senhor, que os homens que vieram da Galileia, que
temem a Deus e são homens de substância, odiando a cobiça [em latim, uma
mentira], homens de paz? E eles fizeram-vo uma jura, dizendo: Nós vimos Jesus no
topo do monte Mamilch com os seus discípulos e que ele lhes ensinou todas as
coisas que vocês ouviram deles, e, dizem eles, nós vimo-lo ser levado para o céu. E
nenhum homem lhes perguntou de que maneira ele foi levado. Pois tal como o livro
das sagradas escrituras nos ensinou que Elias também foi levado para o céu, e
Eliseu gritou com uma voz alta, e Elias atirou a sua capa de pelos sobre Eliseu, e
Eliseu lançou a capa sobre o Jordão e passou por cima e foi para Jericó. E os filhos
dos profetas encontraram-no e disseram: Eliseu, onde está o teu senhor Elias? E ele
que ele tinha sido levado para o céu. E eles disseram a Eliseu: Um espírito não o
apanhou e lançou para cima de uma das montanhas? Mas vamos levar os nossos
servos connosco e procurá-lo. E eles persuadiram Eliseu e ele foi com eles, e eles
procuraram-no três dias e não o encontraram: e eles sabiam que ele tinha sido
levado. E agora ouçam-me, e vamos para todas as costas [variante: montanhas] de
Israel e ver se o Cristo não foi levado por um espírito e lançado para cima de uma
das montanhas. E este dito agradou-lhes a todos: e eles foram para todas as costas
[montanhas] e procuraram Jesus e não o encontraram. Mas eles encontraram José
em Arimateia, e nenhum homem lhe pôs as mãos em cima.

2
E eles falaram aos anciãos e aos sacerdotes e aos levitas, dizendo: Nós fomos por
todas as costas de Israel, e não encontramos Jesus; mas José nós encontramos em
Arimateia. E quando eles ouviram acerca de José eles regozijaram-se e deram glória
ao Deus de Israel. E os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os levitas formaram
conselho acerca de como se haveriam de encontrar com José, e eles pegaram num
volume de papel e escreveram estas palavras a José:

A paz esteja contigo. Nós sabemos que pecamos contra Deus e contra ti, e nós
rezamos ao Deus de Israel para que tu condescendesses a vir para a terra dos teus
pais e para as tuas crianças [em latim, Mas tu rezaste ao Deus de Israel, e ele
libertou-te das nossas mãos. Agora, portanto, condescende, etc.] pois nós estamos
todos perturbados, porque quando nós abrimos a porta nós não te encontramos: e
nós sabemos que gizamos um mau conselho contra ti, mas o Senhor ajudou-te. E o
Senhor ele próprio fêz de nenhum efeito [dispersou] o nosso conselho contra ti, ó pai
José, tu és digno de honra entre todas as pessoas.

3
E eles escolheram entre todo o Israel sete homens que eram amigos de José, a
quem o próprio José considerava seus amigos, e os chefes da sinagoga e os
sacerdotes e os levitas disseram-lhes: Olhem: se ele receber a nossa epístola e a
ler, saibam que ele virá convosco até nós: mas se ele não a ler, saibam que ele está
vexado connosco, e saúdem-no em paz e regressem até nós. E eles abençoaram os
homens e deixaram-nos ir.

E os homens foram ter com José e fizeram-lhe reverência, e disseram-lhe: A paz


esteja contigo. E ele disse: A paz seja convosco e com todo o povo de Israel. E eles
deram-lhe o livro da epístola, e José recebeu-o e leu-o e abraçou [ou beijou] a
epístola e abençoou a Deus e disse: Abençoado seja o Senhor Deus, que redimiu
Israel de derramar sangue inocente; e abençoado seja o Senhor, que enviou o seu
anjo e me abrigou debaixo das suas asas. [E ele beijou-os] e pôs uma mesa
perante eles, e eles comeram e beberam e ficaram lá.

4
E eles levantaram-se cedo e rezaram: e José selou a sua burra e foi com os
homens, e eles foram ter à cidade santa, Jerusalém. E todo o povo veio para se
encontrar com José e gritaram: A paz esteja contigo que entras. E ele disse a todo o
povo: A paz seja convosco, e todo o povo o beijou. E o povo rezou com José, e
ficaram espantados ao vê-lo.

E Nicodemos recebeu-o na sua casa e fez uma grande festa, e chamou Anás e
Caifás e os anciãos e os sacerdotes e os levitas para a sua casa. E eles comeram e
beberam alegremente com José, e eles ficaram espantados ao vê-lo.

5
E de manhã, que era a preparação, os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os
levitas levantaram-se cedo e vieram ter à casa de Nicodemos. e Nicodemos foi ao
encontro deles e disse: A paz seja convosco. E eles disseram: A paz seja contigo e
com José e com toda a tua casa e com toda a casa de José. E ele trouxe-os para a
sua casa. E o conselho completo foi montado, e José sentou-se entre Anás e Caifás
e nenhum homem lhe dirigiu uma palavra. E José disse: Porque é que vocês me
chamaram? E eles acenaram a Nicodemos que ele falasse a José. E Nicodemos
abriu a sua boca e disse a José: Pai, tu conheces que os reverendos doutores e os
sacerdotes e os levitas procuram aprender de ti uma matéria. E José disse:
Pergunta tu. E Anás e Caifás tomaram o livro da lei e rogaram a José dizendo: Dá
glória ao Deus de Israel e confessa-te a ele: [pois Achar, quando ele foi rogado pelo
profeta Jesus (Joshua), não jurou mas declarou-lhe todas as coisas e não escondeu
dele uma palavra: portanto tu também não escondas de nós nem sequer uma
palavra. E José: Eu não esconderei uma palavra de vós.] E eles disseram-lhe: Nós
ficamos muito vexados porque tu pediste o corpo de Jesus e envolveste-o numa
peça de linho limpa e depuseste-o numa tumba. E por esta causa nós pusemos-te
guardado numa casa onde não havia janela, e pusemos chaves e selos nas portas,
e guardas mantiveram o lugar enquanto tu estavas fechado. E no primeiro dia da
semana nós abrimo-la e não te encontramos, e nós ficamos muito perturbados, e
espanto houve em todo o povo do Senhor até ontem. Agora, portanto, declara-nos o
que te aconteceu.

6
E José disse: no dia da preparação por volta da hora décima vocês fecharam-me, e
eu continuei lá durante todo o sábado. E à meia-noite, quando eu estava levantado e
a rezar, a casa onde vocês me fecharam foi tomada pelos quatro cantos, e eu vi
como que um relâmpago de luz nos meus olhos, e cheio de medo eu caí por terra. E
alguém me tomou pela mão e retirou-me do sítio onde eu tinha caído; e salpicos de
água foram lançados daminha cabeça aos pés, e um odor de unguento chegou às
minhas narinas. E ele limpou a minha cara e beijou-me e disse-me: Não temas,
José: abre os teus olhos e vê quem é que está a falar contigo. E eu olhei para cima
e vi Jesus e tremi, e pensei que fosse um espírito: e eu disse os mandamentos: e ele
disse-os comigo. E [como] vocês não ignoram, um espírito, se ele encontra um
homem e ouve os mandamentos, foge logo. E quando eu percebi que ele os disse
comigo, eu disse-lhe: Rabbi Elias? E ele disse-me:Eu não sou Elias. E eu disse-lhe:
Quem és tu, Senhor? E ele disse-me: E sou Jesus, cujo corpo tu pediste a Pilatos, e
me vestiste em linho limpo e cobriste a minha face com um lenço, e depuseste-me
no teu novo subterrâneo e rolaste uma pedra grande na porta do subterrâneo. E eu
disse aquele que falou comigo: Mostra-me o lugar onde eu te depus. E ele trouxe-
me e mostrou-me e lugar onde eu o depus, e a peça de linho lá estava, e o lenço
que estava sobre a sua face. E eu soube que era Jesus. E ele levou-me pela mão e
pôs-me no meio da minha casa, estando as portas fechadas, e depôs-me na minha
cama e disse-me: A paz seja contigo. E ele beijou-mee disse-me: Até quarenta dias
terem acabado não sais da tua casa: pois vê, eu vou até aos meus irmãos na
Galileia.

XVI

1
E quando os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os levitas ouviram estas palavras
de José eles ficaram como homens mortos e cairam ao chão, e jejuaram atá à hora
nona. E Nicodemos com José confortaram Anás e Caifás e os sacerdotes e os
levitas, dizendo: Levantem-se e fiquem de pé e comam pão e fortaleçam as vossas
almas, pois amanhã é o sábado do Senhor. E eles levantaram-se e rezaram a Deus
e comeram e beberam, e mandaram cada homem para a sua casa.
2
E no sábado os [variante: os nossos] professores e os sacerdotes e os levitas
sentaram-se e questionaram-se uns aos outros e disseram: O que é esta ira que
veio sobre nós? Pois nós conhecemos o seu pai e a sua mãe. Levi o professor
disse: Eu sei que os seus pais temiam a Deus e não deixavam de cumprir os seus
votos e pagavam os dízimos três vezes por ano. E quando Jesus nasceu, os seus
pais trouxeram-no a este lugar e fizeram sacrifícios e queimaram oferendas a Deus.
E [quando] o grande professor Simeão o tomou nos seus braços e disse: Agora
deixa o teu servo, Senhor, partir em paz pois os meus olhos viram a tua salvação
que tu preparaste perante a face de todos os povos, uma luz para iluminar os
gentios e a glória do teu povo Israel. E Simeão abençoou-os e disse a Maria sua
mãe: Eu dou-te estas boas notícias relativas a esta criança. E Maria disse: Boas,
meu senhor? E Simeão disse-lhe: Boas. Vê, ele está estabelecido para a queda e
levantar de muitos em Israel, e para um sinal contra o qual se fala: e uma espada
trespassará o teu coração, para que os pensamentos de muitos corações possam
ser revelados.

3
Eles disseram a Levi o professor: Como sabes tu estas coisas? Levi disse-lhes: Não
sabem vocês que foi dele que eu aprendi a lei? O conselho disse-lhe: Nós
queríamos ver o teu pai. E foram à procura do seu pai, e perguntaram-lhe, e ele
disse-lhes: Porque é que vocês não acreditam no meu filho? O abençoado e justo
Simeão, ele, ensinou-lhe a lei. O conselho disse: Rabi Levi, é verdadeira a palavra
que tu falaste? E ele disse: É verdadeira.

Então os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os levitas disseram entre eles:


Vamos, mandemos à Galileia os três homens que vieram e nos contaram do seu
ensinamento e da sua posição, e que eles nos digam como o viram. E esta palavra
agradou-lhes a todos,e eles enviaram os três que tinham antes ido com eles à
Galileia e disseram-lhes: Digam ao rabi Addas e ao rabi Phinees e ao rabi Aggaeus:
a paz esteja convosco e com todos os que estão convosco. Dado que se levantou
uma grande questão no conselho, nós mandamos ter convosco para vos chamar
para este lugar sagrado de Jerusalém.

4
E os homens foram à Galileia e encontrram-nos sentados e a meditar acerca da lei,
e saudamo-los em paz. E os homens que estavam na Galileia disseram àqueles que
tinham vindo ter com eles. A paz seja com todo o Israel. E eles disseram: A paz
esteja contigo. Novamente eles lhes disseram: Porque vieram vocês? E os que
foram enviados disseram: O conselho chama-vos para a cidade santa de Jerusalém.
E quando os homens ouviram que eles tinham sido solicitados pelo conselho, eles
rezaram a Deus e sentaram-se para comer com os homens e comeram e beberam,
e levantaram-se e vieram em paz a Jerusalém.

5
E de manhã o conselho foi estabelecido na sinagoga, e eles examinaram-nos,
dizendo: Vocês viram realmente Jesus sentado no monte Mamilch, quando ele
ensinava aos seus onze discípulos, e viram-no ser levado? E os homens
responderam-lhes e disseram: Vimo-lo ser levado, ainda assim o contamos a vocês.
6
Anás disse: Separem-nos uns dos outros, e vamos ver seas suas palavras
concordam. E eles separaram-nos uns dos outros, e chamaram Addas primeiro e
disseram-lhe: Como é que tu viste Jesus a ser levado? Addas disse: Quando ele se
sentou no monte Mamilch e ensinou os seus discípulos, nós vimos uma nuvem que
o ensombrou e aos discípulos: e a nuvem levou-o para o céu, e os seus discípulos
caíram [alternativo: rezaram, deitaram-se] de caras na terra. E chamaram Phinees o
sacerdote, e interrogaram-no, dizendo: Como é que tu viste Jesus ser levado? E ele
falou da mesm maneira. E novamente eles perguntaram a Aggaeus, e ele também
falou da mesma maneira. E o conselho disse: Está contido na lei de Moisés: Na
boca de dois ou três cada palavra será estabelecida.

Abuthem [em grego Bouthem, em latim Abudem, em arménio Abuthem, em copta


Abuthom] o professor disse: Está escrito na lei: Enoque caminhava com Deus e não
está porque Deus o levou. Jaeirus o professor disse: Nós também ouvimos acerca
da morte do sagrado Moisés e não o vimos; pois está escrit na lei do Senhor. E
Moisés morreu à boca do Senhor, e nenhum homem soube da sua sepultura até
este dia. E o rabi Levi disse: Porque o rabi Simeão disse, quando viu Jesus: Olhem,
esta criança veio para a queda e o levantar de muitos em Israel e para um sinal
contra o qual falam? E o rabi Isaac disse: Está escrito na lei: Vejam, eu envio o meu
mensageiro perante a vossa face, que irá até vós para vos manter no bom caminho,
pois o meu nome é nomeado por causa disso.

7
Então disseram Anás e Caifás: Vocês disseram bem essas coisas que estão escritas
na lei de Moisés, que nenhum homem viu a morte de Enoque, e nenhum homem
nomeou a morte de Moisés. Mas Jesus falou perante Pilatos, e nós sabemos que ele
recebeu bofetadas e cuspidelas na cara, e que os soldados lhe puseram uma coroa
de espinhos e que ele foi açoitado e recebeu a condenação de Pilatos, e que ele foi
crucificado no lugar do crânio e dois ladrões com ele, e que lhe deram vinagre a
beber com fel, e que Longino o soldado perfurou-lhe o lado com uma lança, e que
José o nosso honrado pai pediu o seu corpo, e que, como ele disse, ele ressuscitou,
e que [literalmente, como] os três professores dizem: Nós vimo-lo ser levado para o
céu, e o rabi Levi falou e testemunhou as coisas que foram ditas pelo rabi Simeão, e
que ele disse: Olhem, esta criança veio para a queda e o levantar de muitos em
Israel e para um sinal contra o qual falam.

E todos os professores disseram a todo o povo do Senhor: Se isto se tem vindo a


passar vindo do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos, vocês devem saber
seguramente, ó casa de Jacob, que está escrito: Amaldiçoado seja todo aquele que
está enforcado numa árvore. E outra escritura ensina: Os deuses que não fizeram o
céu e a terra perecerão.

E os sacerdotes e os levitas disseram uns aos outros: Se o seu memorial durar até
ao Sommos [em copta Soum] que é chamado Jobel [Jubileu], saibam que ele
prevalecerá para sempre e juntará um novo povo para si.

Então os chefes da sinagoga e os sacerdotes e os levitas admoestaram todo o


Israel, dizendo: Amaldiçoado é o homem que adora aquilo que a mão do homem fêz,
e amaldiçoado é o homem que adorar criaturas e não o Criador. E todo o povo
disse: Amen, amen.

E todo o povo cantoou um hino ao Senhor e disse: Abençoado seja o Senhor que
deu repouso ao povo de Israel, de acordo com tudo aquilo que ele disse. Não caíu
uma só palavra ao chão de todos os seus bons dizeres que ele falou ao seu servo
Moisés. O Senhor nosso Deus esteja connosco como ele esteve com os nossos
pais: que ele não se esqueça de nós. E que ele não nos destrua de virarmos o
nosso coração para ele, de andar por todos os seus caminhos e conservar os seus
estatutos e os seus juízos que ele ordenou aos nossos pais. E o Senhor será Rei de
toda a terra nesse dia. E haverá só um Senhor e o seu nome um só, o Senhor o
nosso Rei: ele salvar-nos-á.

Não há ninguém como tu, ó Senhor. Grande és tu, ó Senhor, e grande é o teu nome.

Cura-nos, ó Senhor, pelo teu poder, e nós seremos curados: salva-nos, senhor, e
nós seremos salvos: pois nós somos a tua parte e a tua herança.

E o Senhor não esquecerá o seu povo pelo seu grande nome, pois o Senhor
começou a fazer de nós o seu povo.

E quando eles tinham cantado este hino eles mandaram cada homem para sua
casa, glorificando a Deus [Pois dele é a glória, palavra sem fim. Amen]

ATOS DE PILATOS
PARTE II - A DESCIDA AO INFERNO

Este escrito, ou o núcleo dele, a história da Descida ao Inferno não fazia


originalmente parte dos Atos de Pilatos. É provavelmente um documento mais
antigo. Quando é que ele foi ligado aos Atos de Pilatos é incerto.

A Parte I, capítulo XVI, acaba com palavras dos chefes da sinagoga, etc., Todas as
nações servi-lo-ão, e reis virão de longe adorando-o e magnificando-o. A Parte II,
capítulo I, começa a partir disto.

I (XVII)

1
E José levantou-e e disse a Anás e Caifás: Verdadeiramente e de direito vocês se
maravilham porque vocês ouviram que Jesus foi visto vivo depois da morte, e que
ele ascendeu aos céus. No entanto é mais maravilhoso que ele não resuscitou
sozinho dos mortos, mas ressuscitou muitos outros mortos dos seus sepulcros, e
eles foram vistos por muitos deJerusalém. E agora ouçam-me; pois todos nós
conhecemos o abençoado Simeão, o sumo sacerdote que recebeu a criança Jesus
nas suas mãos no templo. E este Simeão tinha dois filhos, irmãos em sangue e
todos nós estivémos no seu adormecimento [morte] e no seu funeral. Vão, então, e
procurem os seus sepulcros: pois eles estão abertos, porque eles ressuscitaram, e
vejam que eles estão na cidade de Arimateia vivendo juntos em oração. E, de facto,
homens ouviram-nos gritar, e no entanto eles não falam com nenhum homem, mas
estão silenciosos como homens mortos. Mas venham, vamos até eles e com toda a
honra e gentileza vamos trazê-los até nós e, se nós lhes pedirmos, com sorte eles
contar-nos-ão acerca do mistério da sua ressureição novamente.

2
Quando eles ouviram estas coisas, todos eles se regozijaram. E Anás e Caifás,
Nicodemos e José e Gamaliel foram e não os encontraram no seu sepulcro, mas
foram até à cidade de Arimateia, e encontraram-nos lá, ajoelhando nos seus joelhos
e dedicando-se à oração. E eles beijaram-nos, e com toda a reverência e no temor
de Deus eles trouxeram-nos para Jerusalém, para a sinagoga. E eles fecharam as
portas e tomaram a lei do Senhor e puseram-na nas suas mãos, e pediram-lhes pelo
Deus Adonai e o Deus de Israel, que falaram com os nossos pais pelos profetas,
dizendo: Acreditam que é Jesus que ressuscitou dos mortos? Digam-nos como
vocês ressuscitaram dos mortos.

3
E quando Karinus e Leucius ouviram este pedido, eles tremeram no seu corpo e
gemeram, estando perturbados no coração. E olhando em conjunto para o céu eles
fizeram o sinal da cruz com os seus dedos nas suas línguas, e ambos falaram
imediatamente, dizendo: Dêem-nos um volume de papiro [na tradução inglesa,
'paper', 'papel', o que não tem sentido na época], e deixem-nos escrever o que nós
vimos e ouvimos. E eles deram-lhes, e cada um deles se sentou e escreveu,
dizendo:

II (XVIII)

1
Ó Senhor Jesus Cristo, vida e ressurreição dos mortos [alternativa, ressurreição dos
mortos e vida dos viventes], digna-te falar-nos dos mistérios da tua magestade que
tu realizaste depois da tua morte na cruz, pois nós fomos conjurados pelo teu Nome.
Pois tu ordenaste aos teus servos que não dissessem a nenhum homem os
segredos da tua divina magestade que tu realizaste no inferno.

Agora, quando nós nos assentamos com os nossos pais no profundo, na


obscuridade das trevas, de repente veio um calor dourado do sol e uma luz púrpura
e real brilhou sobre nós. E, imediatamente, o pai de toda a raça de homens, junto
com todos os patriarcas e profetas, regozijou-se, dizendo: Esta luz é o começo
[autor] da luz eterna que prometeu enviar-nos a sua luz co-eterna. E Isaías gritou e
disse: Esta é a luz do Pai, até do Filho de Deus, conforme eu profetizei quando eu
vivia sobre a terra. A terra de Zabulon e a terra de Neftalim para além do Jordão, da
Galileia dos gentios, o povo que caminhava na escuridão viram uma grande luz, e
aqueles que vivem na terra da sombra da morte, sobre eles a luz brilha. E agora
deixai-a vir e brilhar sobre nós que nos sentamos na morte.

2
E enquanto todos nós nos regozijavamos na luz que brilhava sobre nós, veio até nós
o nosso pai Simeão e ele, regozijando-se, disse-nos: Glorifiquem o Senhor Jesus
Cristo, pois eu recebi-o nas minhas mãos no templo que ele tinha nascido uma
criança e, sendo conduzido pelo Espírito Santo, eu confessei-me e disse-lhe: Agora
que os meus olhos viram a minha salvação que tu preparaste perante a face de toda
a gente, uma luz para alumiar os gentios, e para ser a glória do teu povo de Israel: E
quando eles ouviram estas coisas, toda a multidão dos santos regozijou-se ainda
maia.

3
E depois disso veio um como se fosse um habitante da desolação, e ele foi
questionado por todos: Quem és tu? E ele respondeu-lhes e disse: Eu sou João, a
voz e o profeta do Altíssimo, que veio antes da face do seu advento para preparar os
seus caminhos, para dar conhecimento da salvação ao seu povo, pela remissão dos
seus pecados. E quando eu o vi vindo até mim, dirigido pelo Espírito Santo, eu
disse: Contemplem o Cordeiro de Deus, contemplem-o que ele retira os pecados do
mundo. E eu batizei-o no rio do Jordão, e vi o Espírito Santo descendo sobre ele
com o aspeto de uma pomba, e ouvi uma voz vinda do céu dizendo: Este é o meu
Filho bem amado, em quem eu me comprazo. E agora eu vim perante esta face, e
vim declarar-vos que ele está perto para nos visitar, mal o dia começe, o Filho de
Deus, vindo até nós que nos sentamos na escuridão e na sombra da morte.

III (XIX)

1
E quando o pai Adão, que foi criado primeiro, ouviu isto, até que Jesus foi batizado
no Jordão, ele gritou ao seu filho Seth, dizendo: Declara aos teus filhos aos
patriarcas e aos profetas tudo o que ouviste do arcanjo Miguel, quando eu te mandei
até aos portões do paraíso para que tu pudesses rogar a Deus que te enviasseo seu
anjo para te dar o óleo da árvore da misericórdia para ungir o meu corpo quando eu
estava doente. Então Seth aproximou-se dos santos patriarcas e profetas, e disse:
Quando eu, Seth, estava a rezar junto aos portões do paraíso, vi que Miguel o anjo
do Senhor me apareceu, dizendo: Eu fui enviado junto de ti pelo Senhor: sou eu que
sou disposto sobre o corpo do homem. E eu digo-te, Seth, não te vexes com
lágrimas, rezando e rogando pelo óleo da árvore da misericórdia, com que tu possas
ungir o teu pai Adão para a dor do seu corpo: pois tu não serás capaz de o receber a
não ser nos últimos dias e tempos, a não ser quando cinco mil e quinhentos anos
[alternativa, 5.952] estiverem cumpridos: então o muito amado Filho de Deus virá à
terra para levantar o corpo de Adão e os corpos dos mortos, e ele virá e será
batizado no Jordão. E quando ele sair da água do Jordão, então ele ungirá com o
óleo da misericórdia todos os que acreditarem nele, e esse óleo da misericórdia
estará em todas as gerações daqueles que nascerem da água e do Espírito Santo,
para a vida eterna. Então o muito amado Filho de Deus, o próprio Cristo Jesus,
descerá à terra e trará o nosso pai Adão ao paraíso, até à árvore da misericórdia.

E quando eles ouviram estas coisas de Seth, todos os patriarcas e profetas se


regozijaram com um grande regozijo.
IV (XX)

1
E enquanto todos os santos se regozijavam, vejam que Satã o príncipe e chefe da
morte disse ao Inferno: Preparem-se para receber Jesus que se gabou de ser ele
próprio o Filho de Deus, ao passo que ele é um homem que teme a morte, e disse: A
minha alma está pesarosa até à morte. E ele foi muito meu inimigo, causando-me
grande dor, e muitos que eu fiz cegos, aleijados, mudos, leprosos, e possessos ele
curou com uma palavra: e alguns que eu trouxe até vocês mortos, a eles ele tirou de
vós.

2
O Inferno respondeu e disse a Satã o príncipe: Quem é ele que é tão poderoso, se
ele é um homem que teme a morte? Pois todos os poderosos da terra estão em
sujeição pelo meu poder, até mesmo aqueles que tu me trouxeste subjugados pelo
teu poder. Se, então, tu és poderoso, que tipo de homem é este Jesus que, apesar
de temer a morte, resiste ao teu poder? Se ele é tão poderoso na sua humanidade,
verdadeiramente eu te digo que ele é todo poderoso, e nenhum homem pode resistir
ao seu poder. E quando ele disse que ele temia a morte, ele iria enredar-te, e mágoa
cairá sobre ti por tempos eternos. Mas Satã o príncipe do Tártaro disse: Porque
duvidas tu e temes receber este Jesus que é o teu dversário e o meu? Pois eu
tentei-o, e acicatei o meu antigo povo dos judeus com inveja e ira contra ele. Eu afiei
uma lança para o trespassar, fel e vinagre misturei eu para lhe dar de beber, e eu
preparei-lhe uma cruz para o crucificar e pregos para o furarem: e a sua morte não
está ao alcance, por forma a que eu possa trazê-lo até vós para ser sujeito a vós e a
mim.

3
O Inferno respondeu e disse: Tu disseste-me que foi ele que tirou homens mortos de
mim. Pois tem havido muitos que, enquanto viviam na terra, tiraram homens mortos
de mim, contudo não pelo seu próprio poder mas sim através de oração a Deus, e o
seu Deus todo poderoso tirou-os de mim. Quem é este Jesus que pela sua própria
palavra tirou homens mortos de mim? Por acaso é ele o que pela palavra da sua
ordem devolveu à vida Lázaro que estava morto há quatro dias e cheirava mal e
estava corrompido, a quem eu mantinha aqui morto. Satã o príncipe da morte
respondeu e disse: É o mesmo Jesus. Quando o Inferno ouviu isto ele disse-lhe: Eu
rogo-te pela tua força e pela minha própria que não mo tragas. Pois nessa altura eu,
quando ouvi a ordem da sua palavra, estremeci e fui dominado pelo medo, e todos
os meus ministros comigo ficaram perturbados. Nem podíamos nós reter Lázaro,
mas ele, como uma águia, sacudindo-se saltou com toda a agilidade e rapidez, e
saiu de nós, e também a terra que detinha o corpo morto de Lázaro imediatamente o
devolveu vivo. Por isso agora eu sei que esse homem que foi capaz de fazer estas
coisas é um Deus forte no ordenar e poderoso na humanidade, e que ele é o
salvador da humanidade. E se tu o trazes até mim ele libertará todos os que aqui
estão fechados na dura prisão e presos nas correntes dos seus pecados que não
podem ser quebradas, e tra-los-á até à vida.

V (XXI)

1
E quando Satã o príncipe e o Inferno disseram isto juntos, de repente chegou uma
voz como que de trovão e um grito espiritual. Removam, ó príncipes, os vossos
portões, e levantem-se as vossas portas eternas, e o Rei da glória entrará. Quando
o Inferno ouviu aquilo ele disse a Satã o príncipe: Deixa-me e sai da minha casa: se
tu és um guerreiro poderoso, luta tu contra o Rei da glória. Mas o que é que tu tens a
ver com ele? E o Inferno expulsou Satã para fora da sua morada. Então disse o
Inferno aos seus ministros malvados: Fechem as duras portas de bronze e ponham
nelas as barras de ferro e aguentem robustamente, não vamos nós, que mantemos
em cativeiro, sermos tomados cativos.

2
Mas quando toda a multidão dos santos ouviu aquilo, eles falaram com uma voz de
repreensão ao Inferno: Abre as tuas portas, para que o Rei da glória possa entrar. E
David gritou, dizendo: Não te profetizei eu, quando estava vivo sobre a terra: Que
eles dêem graças ao Senhor, pelas suas mercês e as suas maravilhas aos filhos dos
homens; quem quebrou os portões de bronze e desfez as barras de ferro em
pedaços? Ele tirou-as do caminho da sua iniquidade. E depois disso, da mesma
maneira disse Isaías: Não te profetizei eu, quando estava vivo sobre a terra: Os
mortos levantar-se-ão, e aqueles que estão nos túmulos ressuscitarão, e aqueles
que estão na terra regozijar-se-ão, pois o orvalho que vem do Senhor é a sua cura?
E novamente eu disse: Ó morte, onde está o teu ferrão? Ó Inferno, onde está a tua
vitória?

3
Quando ouviram aquilo de Isaías, todos os santos disseram ao Inferno: Abre os teus
portões, agora tu serás subjugado e ficarás fraco e sem força. E veio uma forte voz
como de trovão, dizendo: Removam, ó príncipes, os vossos portões e levantem as
portas do inferno, e o Rei da glória entrará. E quando o Inferno viu que eles assim
gritaram duas vezes, ele disse, como se não o soubesse: Quem é o Rei da glória? E
David respondeu ao Inferno e disse: As palavras deste grito eu conheço, pois pelo
seu espírito eu profetizei o mesmo; e agora eu digo-te aquilo que eu disse antes: O
Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha, é ele o Rei da glória. E: O
Senhor olhou para baixo do céu para poder ouvir os gemidos daqueles que estão
agrilhoados e libertar os seus filhos que foram mortos. E agora, ó tu muito
abominável e malcheiroso Inferno, abre os teus portões, para que o Rei da glória
possa entrar. E quando David disse isto ao Inferno, o Senhor magestosamente
apareceu na forma de um homem e iluminou a escuridão eterna e quebrou os laços
que não podiam ser desatados: e o socorro do seu poder eterno visitou-nos que
estávamos sentados na profunda escuridão das nossas transgressões e na sombra
de morte dos nossos pecados.

VI (XXII)

1
Quando o Inferno e a morte e os seus ministros malvados viram aquilo, eles ficaram
acometidos pelo medo, eles e os seus cruéis oficiais, à vista do brilho de uma luz tão
grande no seu próprio reino, vendo Cristo subitamente na sua moradia, e eles
gritaram, dizendo: Nós estamos subjugados por ti. Quem és tu que és enviado pelo
Senhor para nossa confusão? Quem és tu que sem qualquer dano de corrupção, e
com os sinais [?] da tua magestade sem mácula, em ira condenas o nosso
poder? Quem és tu que és tão grande e tão pequeno, simultaneamente humilde e
exaltado, simultaneamente soldado e comandante, um maravilhoso guerreiro na
forma de um fiador, e um Rei de glória vivo e morto, a quem a cruz causou a morte?
Tu que jazeste morto no sepulcro desceste até nós vivo e à tua morte toda a criação
estremeceu e todas as estrelas foram sacudidas e tu tornaste-te livre entre os
mortos e derrotaste as nossas legiões. Quem és tu que libertas os prisioneiros que
estão amarrados pelo pecado original e os restauras na sua anterior liberdade?
Quem és tu que derramaste a tua divina e brilhante luz sobre aqueles que estavam
cegos com a escuridão dos seus pecados? Da mesma maneira todas as legiões de
diabos foram acometidas commedo semelhante e gritaram todas no terror da sua
confusão, dizendo: Quem és tu, Jesus, um homem tão poderoso e brilhante em
magestade, tão excelente sem mácula e limpo do pecado? Pois aquele mundo da
terra que esteve sempre sujeito a nós até agora, e que pagava tributo em nosso
proveito, nunca nos mandou um homem morto como tu, nem nunca despachou uma
tal oferta ao Inferno. Quem, então, és tu que tão destemidamente entrastes nas
nossas fronteiras, e não só não temeste os nossos tormentos mas, além disso,
ensaias levar todos os homens dos nossos laços? Por acaso tu és aquele Jesus, de
quem Satã o nosso príncipe disse que pela tua morte na cruz tu devias receber o
domínio do mundo inteiro?

2
Então o Rei da glória, na sua magestade, calcou com os pés a morte, e agarrou
Satã o príncipe e entregou-o ao poder do Inferno, e puxou para si Adão para o seu
próprio brilho.

VII (XXIII)

Então o Inferno, recebendo Satã o príncipe, com dolorida repreensão disse-lhe: Ó


príncipe da perdição e chefe da destruição, Belzebu, o desprezo dos anjos e o
cuspido dos justos porque quiseste fazer tu isto? Tu crucificaste o Rei da glória e ao
seu falecimento prometeste-nos grandes despojos da sua morte: como um tolo tu
não sabias o que fizeste. Pois vê isto, este Jesus pôs em fuga pelo brilho da sua
magestade toda a escuridão da morte, e quebrou as fortes profundezas das prisões,
e fêz sair os prisioneiros e soltou os que estavam amarrados. E todos os que
estavam a suspirar nos nossos tormentos regozijam-se contra nós, e às suas
orações os nossos domínios são vencidos e os nossos reinos conquistados, e agora
já nenhuma nação de homens nos teme mais. E para além disto, os mortos que
nunca estavam acostumados a ser orgulhosos triunfam sobre nós, e os cativos que
nunca podiam ser alegres ameaçam-nos. Ó príncipe Satã, pai de todos os malvados
e descrentes e renegados porque fizestes isto? Aqueles que desde o início
desesperaram da vida e salvação agora não se ouvem nenhuns dos seus
costumeiros bramidos, nem nenhum gemido deles soa nos nossos ouvidos, nem há
lá nenhum sinal de lágrimas na face de nenhum deles. Ó príncipe Satã, detentor das
chaves do inferno, as tuas riquezas que obtiveste pela árvore da transgressão e a
perda do paraíso, tu perdeste pela árvore da cruz, e toda a tua alegria pereceu.
Quando tu penduraste Cristo Jesus o Rei da glória tu lutaste contra ti próprio e
contra mim. Doravante tu saberás que tormentos eternos e dores infinitas tu sofrerás
por estares em mim para sempre. Ó príncipe Satã, autor da morte e cabeça de todo
o orgulho, devias primeiro ter procurado matéria do mal neste Jesus: Porque tu te
aventuraste sem causa e crucificá-lo injustamente, contra quem tu não achaste
queixa, e trazer ao nosso reino o inocente e o justo, e soltar os culpados e os
descrentes e os injustos de todo o mundo? E quando o Inferno assim falou a Satã o
príncipe, então disse o Rei da glória ao Inferno: Satã o príncipe estará em teu poder
para sempre no lugar de Adão e dos seus filhos, até aqueles que são os meus
justos.

VIII (XXIV)

1
E o Senhor estendendo à frente a sua mão, disse: Venham até mim, todos vós os
meus santos que levam a minha imagem e a minha semelhança . Vós que pela
árvore e o diabo e a morte foram condenados, vejam agora o diabo e a morte
condenados por vós. E imediatamente todos os santos se juntaram num só sob a
mão do Senhor: E o Senhor, segurando a mão direita de Adão, disse-lhes: A paz
seja contigo com todos os teus filhos que são os meus justos. Mas Adão, atirando-se
aos joelhos do Senhor, pediu-lhe com lágrimas e súplicas, e disse com uma voz alta:
Eu magnificar-te-ei, ó Senhor, pois tu me soltaste e não fizeste os meus inimigos
triunfarem sobre mim: Ó Senhor meu Deus eu gritei a ti e tu curaste-me; Senhor, tu
trouxeste a minha alma do inferno, tu libertaste-me daqueles que descem para o
fosso. Pois há raiva na sua indignação e a vida está do seu bom deleite. Da mesma
maneira todos os santos de Deus ajoelharam e atiraram-se aos pés do Senhor,
dizendo em uníssono: Tu vieste, ó redentor do mundo: aquilo que tu prognosticaste
pela lei e pelos teus profetas, isso realizaste tu por ações. Tu redimiste os vivos pela
tua cruz, e pela morte na cruz tu desceste até nós, para que tu pudesses salvar-nos
do inferno e da morte através da tua magestade. Ó Senhor, tal como tu dispuseste o
nome da tua glória nos céus e dispuseste a tua cruz como um sinal de redenção
sobre a terra, assim, Senhor, dispõe o sinal da vitória da tua cruz no inferno, para
que a morte possa não ter mais domínio.

2
E o Senhor estendeu em frente a sua mão e fêz o sinal da cruz sobre Adão e sobre
todos os seus santos, e ele tomou a mão direita de Adão e saíu do inferno, e tos os
santos o seguiram. Só então David gritou alto e disse: Cantai ao Senhor uma nova
canção, pois ele fêz coisas maravilhosas. A sua mão direita forjou a salvação para
ele e para o seu santo braço. O Senhor tornou conhecida a sua morte salvadora,
perante a face de todas as nações ele revelou a sua retidão. E toda a mulidão dos
santos respondeu, dizendo: Tal honra têm todos os seus santos. Amén, Aleluia.

3
E a seguir Habacuc o profeta gritou e disse: Tu vieste para a salvação do teu povo
para libertar os escolhidos. E todos os santos responderam, dizendo: Bendito é
aquele que vem em nome do Senhor. Deus é o Senhor e mostrou-nos luz. Amen,
Aleluia. Da mesma forma depois o profeta Miqueias também gritou, dizendo: Que
Deus é como tu, ó Senhor, tirando a iniquidade e removendo pecados? E agora tu
retiveste a tua ira como testemunho de que tu és misericordioso de livre vontade, e
tu viraste-te e tiveste piedade de nós, tu perdoaste todas as nossas iniquidades e
afundaste todos os nossos pecados nas profundezas do mar, como tu juraste aos
nossos pais nos dias de outrora. E todos os santos responderam, dizendo: Este é o
nossos Deus para sempre e sempre, ele será o nosso guia, mundo sem fim. Amen,
Aleluia. E assim falaram todos os profetas, referindo palavras sagradas nos seus
louvores, e todos os santos seguiram o Senhor, gritando Amen, Aleluia.

IX (XXV)

Mas o Senhor, segurando a mão de Adão, entregou-o a Miguel o arcanjo, e todos os


santos seguiram Miguel o arcanjo, e ele trouxe-os todos para a glória e a beleza
[graça] do paraíso. E ali encontraram-se com dois homens, anciãos dos dias, e
quando eles foram questionados pelos santos: Quem são vocês que ainda não
estavam mortos no inferno connosco e estão postos no paraíso no corpo? Então um
deles respondeu, disse: Eu sou Enoque que foi levado para cá pela palavra do
Senhor, e este que está comigo é Elias o Tesbita que foi levado num carro de fogo:
e até este dia não provámos a morte, mas somos recebidos na vinda do Anticristo
para lutar contra ele com sinais e maravilhas de Deus, e para sermos mortos por ele
em Jerusalém, e depois de três dias e meio, sermos levados para as
nuvens, novamente vivos.

X (XXVI)

E quando Enoque e Elias falaram assim com os santos, vê chegou outro homem de
roupa vil, trazendo nos seus ombros o sinal da cruz; a quem quando o viram,
todos os santos lhe disseram: Quem és tu? Pois a tua aparência é a de um ladrão; e
porque é que tu tens um sinal nos teus ombros? E ele respondeu-lhes e disse:
Vocês disseram corretamente: porque eu fui um ladrão, fazendo toda a espécie de
mal na terra. E os judeus crucificaram-me com Jesus, e eu vi as maravilhas na
Criação que aconteceram através da cruz de Jesus quando ele foi crucificado, e eu
acreditei que ele era o criador de todas as criaturas e o rei todo poderoso, e eu
supliquei-lhe, dizendo: Lembra-te de mim, Senhor, quando tu fores para o teu reino.
E imediatamente ele recebeu a minha oração, e disse-me: Verdadeiramente eu te
digo, neste dia tu estarás comigo no paraíso: e ele deu-me o sinal da cruz, dizendo:
Leva isto e vai para o paraíso, e se o anjo que guarda o paraíso não te deixar entrar,
mostra-lhe o sinal da cruz, e dir-lhe-ás: Jesus Cristo o Filho de Deus que agora está
crucificado enviou-me. E assim que eu fiz isto, eu disse estas coisas ao anjo que
guarda o paraíso; e quando ele ouviu isto de mim, imediatamente ele abriu a porta e
trouxe-me e pôs-me no lado direito do paraíso, dizendo: Agora olha, espera um
pouco, e Adão o pai de toda a humanidade irá entrar com todos os seus filhos que
são santos e justos, depois do triunfo e glória da ascensão de Cristo o Senhor que
está crucificado. Quando eles ouviram todas estas palavras do ladrão, todos os
santos patriarcas e profetas disseram a uma só voz: Bendito seja o Senhor Todo
Poderoso, o Pai das boas coisas eternas, o Pai das mercês, tu que deste tal graça
aos teus pecadores e trouxeste-os de volta à beleza do paraíso e às tuas boas
pastagens: pois esta é a muito sagrada vida do espírito. Amén, Amén.

XI (XXVII)

Estes são os divinos e sagrados mistérios que nós vimos e ouvimos, até eu, Karinus,
e Leucius: mas nós não éramos dignos de relataro resto dos mistérios de Deus, de
acordo com o que Miguel o arcanjo nos encarregou estritamente, dizendo: Vocês
irão com os vossos irmãos até Jerusalém e ficarão em oração, gritando e
glorificando a ressureição do Senhor Jesus Cristo, que vos levantou dos mortos
juntamente com ele, e vocês não falarão com nenhum homem, mas sentar-se-ão
como homens mudos, até que chegue a hora quando o próprio Senhor vos
encarregue de declarar os seus mistérios. Mas a nós Miguel o arcanjo deu ordem de
que nós devíamos passar o Jordão para um lugar rico e fértil, onde há muitos que
ressuscitaram junto connosco para testemunho da ressurreição de Cristo o Senhor.
Pois três dias apenas autorizados a nós que ressuscitámos, para celebrar a paixão
do Senhor em Jerusalém com os nossos familiares [parentes] que estão a viver
paratestemunho da ressurreição de Cristo o Senhor: e nós fomos batizados no
sagrado rio Jordão e recebemos vestes brancas, cada um de nós. E depois dos três
dias, quando tínhamos celebrado a paixão do Senhor, todos eles foram apanhados
nas nuvens que se levantaram novamente connosco, e foram levados por cima do
Jordão e não mais foram vistos por homem nenhum. Mas a nós foi dito que nós
devíamos permanecer na cidade de Arimateia e continuar a rezar.

Estas são todas as coisas que o Senhor nos pediu que declássemos a vós: dêem
louvores e graças [confissão] a ele, e arrependam-se para que possam ter
misericórdia. A paz esteja convosco do mesmo Senhor Jesus Cristo que é o
Salvador de todos nós. Amen.

E quando eles acabaram de escrever todas as coisas nos diversos volumes de


papito eles levantaram-se; e Karinus deu o que escreveu às mãos de Anás e Caifás
e Gamaliel; da mesma forma Leucius deu o que ele escreveu nas mãos de
Nicodemos e de José. E de repente eles foram transfigurados e tornaram-se
extremamente brancos e não mais foram vistos. Mas os seus escritos foram
encontrados como sendo o mesmo [literalmente iguais], nem mais nem menos uma
letra.

E quando todos da sinagoga dos judeus ouviram estees ditos maravilhosos de


Karinus e Leucius, eles disseram uns aos outros: De verdade todas estas coisas
foram forjadas pelo Senhor, e abençoado seja o Senhor, mundo sem fim, Amen. E
eles todos saíram com a mente muito perturbada, ferindo osseus peitos com medo e
tremor, e mandaram todos os homens para as susa casas.
E todas estas coisas que foram ditas pelos judeus na sua sinagoga, José e
Nicodemos imediatamente declararam ao governador. E o próprio Pilatos escreveu
todas as coisas que foram feitas e ditas relativamente a Jesus pelos judeus, e
depositou todas as palavras nos livros públicos da sua sala de julgamento
[praetorium].

XII (XXVIII)

Este capítulo não se encontra na maioria das cópias deste evangelho.

Depos destas coisas Pilatos entrou no templo dos judeus e reuniu todos os chefes
dos sacerdotes, e os professores [grammaticos] e escribas e doutores da lei, e foi
com eles ao local sagrado do templo e ordenou que todas as portas fossem
fechadas, e disse-lhes: Nós ouvimos que vocês têm neste templo uma certa grande
Biblia; por isso eu vos peço que ela seja apresentada perante nós. E quando aquela
grande Bíblia adornada com ouro e jóias preciosas foi trazida por quatro ministros,
Pilatos disse a eles todos: Eu vos conjuro pelo Deus dos vossos pais que vos
ordenou que construísses este templo no lugar do seu santuário, que vocês não me
escondam a verdade de mim. Vocês conhecem todas as coisas que estão escritas
na Bíblia; mas digam-me se vocês encontraram nas escrituras que este Jesus que
vocês crucificaram é o Filho de Deus que devia vir para a salvação da humanidade,
e em que ano dos tempos ele deve vir. Declarem-me se vocês o crucificaram em
ignorância ou em conhecimento.

E Anás e Caifás quando foram assim conjurados ordenaram ao resto que saísse do
templo; e eles próprios fecharam todas as portas do templo e do santuário, e
disseram a Pilatos: Tu conjuraste-nos, ó excelente juiz, pelo edifício deste templo
tornar manifesta a ti a verdade e a razão [ou um relato verídico]. Depois de termos
crucificado Jesus, sem saber que ele era o Filho de Deus, mas supondo que de
alguma forma ele fez as suas obras maravilhosas, nós fizemos uma grande
assembleia [sinagoga] neste templo; e quando conferenciávamos uns com os outros
relativamente aos sinais das obras poderosas que Jesus fez, nós encontrámos
muitas testemunhas da nossa própria nação que disseram que tinham visto Jesus
vivo depois da sua paixão, e que ele tinha passado para as alturas do céu. Mais, nós
vimos duas testemunhas que Jesus ressuscitara dos mortos, que nos declararam
muitas coisas maravilhosas que Jesus fez entre os mortos, as quais coisas nós
temos escritas nas nossas mãos. Agora o nosso costume é que cada ano perante a
nossa assembleia nós abrimos esta Bíblia sagrada e inquirimos o testemunho de
Deus. E nós encontrámos no primeiro livro dos Setenta como Miguel o anjo falou ao
terceiro filho de Adão o primeiro homem, relativamente os cinco mil e quinhentos
anos, em que devia vir o muito amado Filho de Deus, o próprio Cristo e, para além
disso, nós pensámos que talvez este mesmo fosse o Deus de Israel que disse a
Moisés: Faz para ti uma arca da aliança com comprimento de dois cúbitos e meio, e
de largura um cúbito e meio, e de altura um cúbito e meio. Pois por esses cinco
cúbitos e meio nós compreendemos e soubemos a forma da arca da velha aliança,
pois que em cinco mil e quinhentos anos Jesus Cristo devia vir na arca do seu
corpo: e nós derscobrimos que ele é o Deus de Israel, o próprio Filho de Deus. Pois
depois da sua paixão, nós, o chefe dos sacerdotes, porque nos maravilhamos com
os sinais que aconteceram no seu relato, abrimos a Bíblia, e procuramos todas as
gerações na geração de José, e Maria a mãe de Cristo, tomando-a como sendo da
semente de David: e nós descobrimos que a partir do dia em que Deus fez os céus e
a terra e o primeiro homem, desde esse tempo até ao Dilúvio são 2.212 anos: e do
Dilúvio até à construção da torre 531 anos; e da construção da torre até Abraão 606
anos; e de Abraão até à saída dos filhos de Israel do Egipto 470 anos; e da saída
dos filhos de Israel do Egipto até à construção do templo 511 anos; e da construção
do templo até à destruição do mesmo templo 464 anos; até agora encontramos na
Bíblia de Esdras: e inquirindo desde o incêndio do templo até à chegada de Cristo e
o seu nascimento nós descobrimos que são 636 anos, que juntos eram cinco mil e
quinhentos anos tal como encontramos escrito na Bíblia que Miguel o arcanjo
declarou perante Seth o terceiro filho de Adão, que depois de cinco mil e quinhentos
anos Cristo o Filho de Deus teria de [deveria?] vir. Até aqui ainda não contamos a
nenhum homem, não fosse haver um cisma nas nossas sinagogas; e agora, ó
excelente juiz, tu conjuraste-nos pr esta sagrada Bíblia dos testemunhos de Deus, e
nós te declaramos: e nós também te conjuramos pela tua vida e saúde que não
declares estas palavras a nenhum homem em Jerusalém.

XIII (XXIX)

E Pilatos, quando ouviu estas palavras de Anás e Caifás, assentou-as todas nos
atos do Senhor e Salvador nos livros públicos da suasala de julgamentos, e
escreveu uma carta a Cláudio e rei da cidade de Roma, dizendo:

[A seguinte Epístola ou Relato de Pilatos está inserida em grego nos tardios Atos de
Pedro e Paulo, e a Pseudo-Marcelo Paixão de Pedro e Paulo. Têmo-la assim em
grego e latim, e o grego é aqui usado como base da versão]

Pôncio Pilatos a Cláudio, saudações.

Sobreveio uma matéria que eu próprio trouxe para a luz [ou julguei-a]: pois os judeus
através da inveja puniram-se a si próprios e à sua posteridade com juízos temíveis
da sua própria falta; pois enquanto que os seus pais tinham promessas [alternativa,
tinham-lhes anunciado] de que o seu Deus lhes enviaria do céu o seu sagrado único,
que devia ser de direito chamado o seu rei, e prometeu-lhes que o mandaria sobre a
terra por uma virgem; ele, então [ou este Deus dos hebreus, então], veio que eu era
governador da Judeia, e eles viram-no a dar luz aos cegos, limpando leprosos,
curando os paralíticos, expulsando demónios dos homens, ressuscitando os mortos,
repreendendo os ventos, caminhando sobre as ondas do mar de pé enxuto, e
fazendo muitas outras maravilhas, e todo o povo dos judeus chamando-lhe o Filho
de Deus: os sumos sacerdotes, em consequência, movidos com inveja contra ele,
apanharam-no e entregaram-mo a mim e trouxeram contra ele uma falsa acusação
atrás uma da outra, dizendo que ele era um feiticeiro e fazia coisas contrárias à sua
lei.

Mas eu, acreditando que estas coisas eram assim, tendo-o açoitado, entreguei-lho à
sua vontade: e eles crucificaram-no, e quando ele foi enterrado eles puseram
guardas com ele. Mas enquanto os meus soldados vigiavam-no ele ressuscitou no
terceiro dia: contudo, tão acesa estava a malícia dos judeus que eles deram dinheiro
aos soldados, dizendo: Digam que os seus discípulos roubaram o seu corpo. Mas
eles, embora tenham levado o dinheiro, não foram capazes de manter silêncio
relativamente àquilo que se tinha passado, pois também eles tinham testemunhado
que o viram ressuscitar e que tinham recebido dinheiro dos judeus. E estas coisas
relatei eu por esta causa, não fosse algum outro mentir-te [em latim, não fosse
alguém mentir diferentemente] e tu achasses correto acreditar nas falsas histórias
dos judeus.

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