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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

FLT0124 - Introdução aos Estudos Literários II


Prof.ª Andrea Saad Hossne

Projeto de Leitura analítico-interpretativa


Um olhar sobre o conto Pós-moderno
“Solar dos Príncipes”

Silmara Dias
Introdução
O conto “Solar dos príncipes” esta inserido dentro do livro Contos Negreiros
importante obra Literatura marginal ou periférica brasileira publicada em 2005, é de
autoria de Marcelino Freire , escritor pernambucano e morador de São Paulo desde
1991, é um autor contemporâneo que explora nos seus textos os problemas sociais.
O conto narra a história de um grupo de cinco negros, moradores da favela,
Morro do Pavão, tentando fazer um documentário sobre a vida dos moradores de um
condomínio de luxo, de classe média. Eles vão até o condomínio, porém ao chegarem lá
desencadeia-se uma série de desentendimentos entre eles e o porteiro, que no primeiro
momento já reconhece a situação como assalto, com isto eles não conseguem
propriamente o que queriam e acaba o porteiro chamando a policia , ela chegando com
tiros e o grupo “improvisando” a filmagem.
Este projeto tem a finalidade de apresentar uma análise-interpretativa deste
conto , observando a critica que ele traz ,como também a relação que se dá entre sua
estrutura e a forma conto.
O percurso utilizado para esta análise foi :definir a principio a sua espécie literária
como Literatura Marginal ou periférica e a diferença que há do termo “Marginal” de
1970 para o termo contemporâneo; a relação que se dá entre o titulo e o conto,
identificação do foco narrativo a partir de Friedman , análise das personagens com
elementos do texto e as classes sociais que são explicitadas; expor a critica social, o
preconceito e a denúncia que a obra promove e por fim mostrar por meio de aspectos
da forma conto , como e porque ele se caracteriza como tal.
Leitura analítico-interpretativa

Em “Solar dos Príncipes” estamos diante de uma espécie literária contemporânea


que pode ser denominada como Literatura Marginal, diferentemente do termo que era
usado na década de 1970 como afirma PEREIRA (1981, p.36):
"[...]O rótulo 'marginal' dizia respeito à reprodução de suas obras
(quase sempre poemas) de forma 'artesanal'. A também conhecida "geração
mimeógrafo" valia-se desse mecanismo para fazer circular as poesias
produzidas. As características principais dessa produção eram o tom irônico,
a escolha pelo uso de uma linguagem coloquial, drogas e sexo como
temáticas principais e a tematização do cotidiano carioca predominantemente
de classe média.
A partir dos anos 1990 denominou-se uma literatura periférica , em que agora os
autores são moradores das periferias ou provenientes delas, inseridos num contexto
social, da qual uma grande parcela da população é oprimida , marginalizada e
esquecida. Diante disto vão propagar suas vozes de revolta, denúncia e levar a um
pensamento critico por meio de uma literatura que traz uma representação do seu meio
social, explorando temas como a violência, preconceito, desigualdade social etc. Sendo
assim, Marcelino Freire autor deste conto e incorporado a esta espécime , sempre
enfatiza que sua escrita são reflexos de sua experiência de vida.
Ao iniciar a análise pelo título da obra pode-se perceber após a leitura dela a
relação que se faz do termo “Solar” designado como “terra ou castelo onde habitava a
nobreza...” (dicionário Caldas Aulete) e da critica social que se estabelece .Ele serve
para intensificar a diferença das duas classes sociais apresentadas no texto explicitando
como uma é privilegiada e superior a outra . As classes são : a baixa representada pelo
grupo de moradores do morro do Pavão e a média/alta por moradores do condomínio
de luxo.
No inicio da narrativa nos deparamos com a primeira oração: “Quatro negros e
uma negra na frente deste prédio. Podemos pressupor que será uma narrativa em terceira
pessoa , mas logo ao continuar a leitura temos dificuldade de reconhecer o narrador,
pois ao longo dele vai acontecendo a troca entre os personagens. Nesta primeira fala
vemos um narrador afastado da situação , mas logo em seguida a partir da fala dos
jovens ,o “respondemos”, da ideia de inclusão de mais narradores, de pessoas que estão
na cena . O uso do discurso indireto livre associado ao discurso direto em algumas
passagens criam dúvidas sobre a narrativa.
No desenrolar do conto as falas e os narradores vão se intercalando, ora o
porteiro é narrador, ora um dos moradores do morro do Pavão, ora temos o monólogo
interior direto do porteiro como podemos ver em “ Metralhadora, cano longos ,granada,
os negros armados até as gengivas. Não disse ? Vou correr. Nordestino é homem.
Porteiro é homem ou não é homem?”. Diante disto podemos identificar o foco narrativo
de Onisciência Seletiva Múltipla.
Neste ponto, o leitor ostensivamente escuta a ninguém; a estória
vem diretamente das mentes dos personagens à media que lá deixa suas
marcas. Como resultado, a tendência é quase inteiramente na direção da cena,
tanto dentro da mente quanto externamente, no discurso . na ação; e a
sumarização narrativa, se aparece de alguma forma, é fornecida de modo
discreto pelo autor, por modo de direção de cena, ou emerge através dos
pensamentos e palavras dos próprios personagens (FRIEDMAN, 2002, p.
177)

Conforme esta proposição , podemos salientar que o narrador é ofuscado , pois a


narrativa ocorre majoritariamente pelas personagens , seus sentimentos e pensamentos
ocorrem no interior da narrativa e são transmitidos diretamente ao leitor ,com isto o
enredo vai se desenvolvendo através dos diálogos entre elas. E está de acordo com que é
elucidado por Candido , segundo ele “O enredo existe através dos personagens; as
personagens vivem do enredo. Enredo e personagem exprimem ligados, os intuitos do
romance, a visão da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam."
(pág. 51, 1976) .
Este enredo ou trama ocorre de forma linear , as ações vão sendo contadas
respeitando o tempo de cada ação, coerentes com a realidade em que aconteceram.
Pode-se Identificar também a intenção do autor ao usar este tipo de foco , de acordo
com a diferença dos termos “mostrar” e “contar” feita por Friedman em” o ponto de
ficção” (2002, pág.175)
O contar tem relação com o narrar, sumarizar, e o autor, mais do que isto, quer
mostrar , dar ênfase na cena , colocar o leitor próximo a cena , e para isto os cenários
são apresentados como se ocorressem naquele momento, com detalhes específicos ,
contínuos de tempo, lugar, ação, personagem e diálogo.
Portanto , resultante disto, as personagens deste texto são como representação
do real , não deixando de ser fictícia ,já que o real é apenas o ponto de partida para o
autor construir as personagens como está em “ A personagem do Romance” de
Cândido, podemos tratá-las “ como seres íntegros e facilmente delimitáveis, marcados
duma vez por todas com certos traços que os caracterizam.”(pág.58, 1976)
E também pode ser “Cópia fiel de pessoas reais, que não constituem propriamente
citações , mas reproduções.”(Idem). Onde o autor não retrata uma pessoa em si , mas
toda uma classe social.
Ainda em Cândido, podemos também defini-las como “personagens planas”,
visto que são construídas em torno de uma única ideia ou qualidade . Mais
delimitadamente elas são tipos e estão dividas por suas classes sociais, na qual são
detentoras de aspectos próprios. Os moradores representantes da classe baixa como
sujeitos sem voz, sem, vistos quase como objetos ou tratados como objetos pela mídia e
por toda sociedade .E é ai que se estabelece o embate entre ricos e pobres observados no
texto. O autor procura fazer a representação do real e suas personagens inseridas neste
cenário foram construídos para expressar esta realidade.
Quando os moradores do morro do Pavão vão até o condomínio de luxo ,
vemos a tentativa de inversão de foco ,em que se desencadeia o enredo. Os da classe
baixa, moradores de periferias podem ser observados , filmados e ainda terem a sua
visão deturpada que os documentários feitos podem trazer como na fala “A gente não
só ouve samba. Não só ouve bala”. E isto é tido como uma visão normal, aceitável. Já
em relação aos da classe alta, ao se fazer a mesma coisa, resulta-se num conflito tido
como crime e transgressão , invasão que evidenciam a violência das divisões espaciais e
sociais intransponíveis..
A proposta dos moradores e a tentativa de quebra das fronteiras
estabelecidas entre as classes é um tanto cínica na medida em que eles conhecem a sua
posição social e tentam jogar com uma inversão ingênua que pode ser interpretada como
uma atitude ridícula e sarcástica que acaba expondo as relações de poder do sistema
onde estão inseridos. O autor explora isto com ironia e um toque de humor ,
denunciando a estrutura de poder que rege a sociedade , a dificuldade de se manter uma
comunicação lógica entre as personagens evidencia também a falta de comunicação e
de coesão entre elas , o que reflete mais uma vez a diferença entre as classes sociais e o
preconceito que emana de tudo isso. A narrativa propõe levar ao pensamento critico e a
consciência critica que “é o processo no qual aqueles que estavam submersos na
realidade começam a sair para se reinserirem nela com uma consciência crítica”
(FREIRE, 2008, p. 88).
Relação entre “Solar dos príncipes” e a forma Conto.

De modo geral, o conto “Solar dos Príncipes” pertence a forma conto por
haver nele elementos para considerá-lo como tal. Segundo Cortázar, ele acredita que há
certas constantes e valores que se aplicam a todos os contos. Uma das primeiras
características do conto é o seu tamanho em relação ao número de páginas , diferente do
romance em que o enredo se desenrola em páginas e mais páginas o conto precisa ser
breve. Esta narrativa com três páginas está dentro deste primeiro parâmetro que diz “...
o conto parte da noção de limite, um primeiro lugar, de limite físico...” (Cortázar. 1974,
pág. 151).É importante também que ele posso ser lido de uma vez , sem nenhuma
interferência do mundo ao redor, para que nada interfira e que o leitor possa adentrar-se
inteiramente na narrativa.
Em seguida é preciso que no texto o tempo e o espaço estejam condensados ,
como na ilustração relacionando o conto com uma fotografia , na qual elucidam como
“..o de recortar um fragmento da realidade, fixando-lhe determinados limites, mas de tal
modo que este recorte atue como uma explosão abra de par em par uma realidade muito
mais ampla...”(Cortázar.1974,pág.151). Que é o que podemos notar neste conto , o
enredo se desenrola como numa cena , de forma que os diálogos das personagens e
suas ações se incorporam ao espaço e ao tempo e tudo acontece de uma vez.
Diferentemente das categorias tidas como : conto de fadas ,o chamado “tele” ,
maravilhoso, em que não há regras do mundo natural e sim exploração do imaginário e
do fantástico onde há elementos do real e do imaginário etc. Ele é um conto que está
dentro da forma literária pós-moderna ,onde há o rompimento com uma linguagem mais
rebuscada .Temos o uso livre de palavrões e em muitas vezes uma linguagem mais
próxima da oralidade. É o momento em que se usa a literatura como forma estética de
denunciar e criticar as desigualdades sociais e preconceitos que são geradas no convívio
em sociedade.
Ítalo Ogliari Mestre em Teoria da Literatura pela PUCRS ,”vai concluir que o
que é conto pós-moderno é o texto que questiona a definição de conto proposta pelo
modernismo, ou, até mesmo, é o que o autor pós-moderno afirmar que é um conto. E é
neste questionar que o próprio autor prefere chamar o texto de canto “(referência
simultânea ao épico e ao lugar periférico; ao literário, por isso ficcional, e ao histórico,
por isso traumático).” (2010, pág. 167).
Referências Bibliográficas

Candido, Antonio. “ A personagem do Romance”. In : A personagens de ficção. São


Paulo : Perspectiva,1976. pp 51-58 .
Cortázar, Julio. “Alguns aspectos do conto” .In: Valise de cronópio . São Paulo:
Perspectiva,1974 .pp 151.
Freire, Paulo. Conscientização: ”teoria e prática da libertação”. 3.ed. São Paulo:
Centauro, 2008.
Freire, Marcelino. “Solar dos Príncipes”. In : Contos Negreiros. Rio de Janeiro: Record,
2005.
Friedman, Norman.”O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito
critico”. Trad.de Fábio Fonseca de Melo. In: Revista USP. No 53. São
Paulo:USP,março/abril/maio 2002. Pp. 175-177.
Ogliari, Ítalo.” A poética do conto pós-moderno e a situação do gênero no Brasil”.
2010. 167 f. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação de Letras,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
Pereira, C. A. Messeder. “Retrato de época: poesia marginal nos anos 70”. Rio de
Janeiro: MEC/ Funarte, 1981.
Santos, Jair Ferreira. “O que é Pós-moderno”. São Paulo: brasiliense, 2006.
“Solar”.Def. 2 a. Dicionário online Caldas Aulete. 2008.

Souza , Edson .” O real como trauma em narrativas de Marcelino Freire”. In: Anais do
SILEL. Volume 3, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2013.

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