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Introdução
Pelo fato de vermos o Sol todos os dias, a tendência é achá-lo comum e não lhe darmos
o devido valor. Mas se pensarmos bem, surgem várias dúvidas:
O Sol está "queimando" há mais de 4,5 bilhões de anos, e deve continuar por mais
alguns bilhões. É composto de uma grande quantidade de gás, principalmente
hidrogênio e hélio. Por ser tão grande, sua gravidade é imensa, o suficiente para a força
gravitacional segurar todo aquele hidrogênio e hélio (e para manter todos os planetas
nas órbitas à sua volta).
O Sol é feito de gás e não possui uma superfície sólida, como a Terra. No entanto, tem
uma estrutura definida. As três principais zonas no interior do Sol estão apresentadas na
metade superior da Figura 1:
centro ou núcleo
zona radiativa
zona conectiva
Foto cedida pelo consórcio SOHO. O SOHO é um projeto de cooperação internacional entre a Agência
Espacial Européia (ESA) e a Administração Nacional para a Aeronáutica e o Espaço (NASA).
Figura 1. Visão geral das partes do Sol. As imagens da explosão, das
manchas solares e da proeminência foram todas captadas do SOHO.
Acima da superfície do Sol está sua atmosfera, composta de três partes, conforme
mostra a parte inferior da Figura 1:
fotosfera
cromosfera
coroa ou corona: a camada externa extremamente quente que está a milhões de
quilômetros distante da cromosfera.
Veremos que todas as principais características do Sol podem ser explicadas pelas
reações nucleares que geram a sua energia, os campos magnéticos que são causados
pela movimentação dos gases e a imensa gravidade.
O interior do Sol
A metade superior do Sol consiste de três áreas principais: o núcleo e as zonas radiativa
e convectiva.
Núcleo
O núcleo começa no centro e ocupa 25% do raio de circunferência do Sol. Ali, a
gravidade puxa toda a massa para o interior e cria uma pressão intensa. A pressão é forte
o bastante para forçar os átomos de hidrogênio a se unirem em reações de fusão nuclear.
Quatro átomos de hidrogênio se combinam para criar hélio-4 e energia em várias etapas:
Essas reações são responsáveis por 85% da energia do sol, os outros 15% vêm das
seguintes reações:
1. um hélio-3 e um hélio-4 se combinam para formar o berílio 7 (quatro prótons e
três nêutrons) e um raio gama;
2. um berílio-7 captura um elétron para se tornar um lítio-7 (três prótons e quatro
nêutrons) e um neutrino;
3. o lítio-7 se combina a um próton para formar dois átomos de hélio-4.
Os átomos de hélio-4 têm menos massa que os quatro átomos de hidrogênio que
iniciaram o processo. A diferença de massa foi convertida em energia conforme
descreve a teoria da relatividade de Einstein: (E=mc2). A energia é emitida em diversas
formas de luz (raio ultravioleta, raios X, luz visível, infra-vermelho, microondas e ondas
de rádio). O Sol também emite partículas energizadas (neutrinos e prótons) que
compõem o vento solar. Esta energia chega à Terra, aquecendo o planeta, definindo o
clima e fornecendo energia para que haja vida. A maior parte da radiação solar ou do
vento solar é inofensiva para nós porque a atmosfera terrestre nos protege. Segundo
ilustra a Figura 2, podemos utilizar telescópios especiais que estão a bordo do satélite SOHO
para ver os vários comprimentos de onda da luz que o sol emite e captar imagens para que os
cientistas possam estudar.
Foto cedida pelo consórcio SOHO. O SOHO é um projeto de cooperação internacional entre a ESA e a
NASA.
Figura 2. Imagem composta de todos os instrumentos do SOHO. A
imagem interior do Michelson Doppler Imager (MDI) ilustra os rios de
plasma que estão debaixo da superfície. A imagem da superfície foi
capturada com o extreme ultraviolet imaging telescope (EIT) em 304
ângstroms. Ambas as imagens foram sobrepostas em uma imagem do
Large Angle Spectroscopic Coronograph (LASCO) C2, que bloqueia o Sol
para que seja possível visualizar a coroa. A imagem mostra a abrangência
da pesquisa do SOHO desde o interior do Sol até a coroa externa.
Zona radiativa
A zona radiativa compõe 55% do raio de circunferência do Sol, desde o núcleo. Nesta
zona, a energia do núcleo é conduzida para fora pelos fótons. Depois de criado o fóton,
ele viaja cerca de 1 mícron (1 milionésimo de metro) antes de ser absorvido por uma
molécula de gás. Depois da absorção, a molécula de gás é aquecida e emite novamente
outro fóton no mesmo comprimento de onda, esse fóton reemitido viaja mais um mícron
antes de ser absorvido por outra molécula de gás e o ciclo se repete, cada interação entre
fóton e a molécula de gás leva tempo. Cerca de 1025 absorções e reemissões acontecem
nesta zona antes que o fóton chegue à superfície. Há um longo intervalo de tempo entre
o fóton criado no núcleo e o que alcança a superfície.
Zona convectiva
A zona convectiva, que são os 30% finais do raio de circunferência do Sol, é dominada
por correntes de condução de calor que levam a energia para o lado externo da
superfície. Essas correntes de condução de calor são movimentos ascendentes de gás
quente ao lado dos movimentos descendentes de gás frio, como se colocasse purpurina
em uma panela de água em fervura lenta. As correntes de convecção de calor carregam
fótons para o lado externo da superfície com mais velocidade do que a transferência
radiativa que ocorre no núcleo e na zona radiativa. Com tantas interações ocorrendo
entre fótons e moléculas de gás nas zonas radiativa e de convecção de calor, um fóton
leva cerca de 100 mil a 200 mil anos para chegar à superfície!
A atmosfera do Sol
Fatos sobre o Sol
Distância média da Terra =
~150 milhões de
quilômetros.
Raio = 696 mil quilômetros.
Acima da superfície do Sol está sua atmosfera,
Massa = 1,99 x 1030 kg (330
composta de três partes, conforme mostra a metade mil vezes a massa da Terra).
inferior da Figura 1:
fotosfera Composição (da massa) =
cromosfera 74% de hidrogênio, 25% de
hélio, 1% de outros
coroa: camada externa extremamente quente elementos.
que está a milhões de quilômetros distante da Temperatura média =
cromosfera. 5.800 kelvins ou ~5.500 ºC
(superfície), ~15,5 milhões
Veremos que todas as principais características do Sol de kelvins (núcleo).
podem ser explicadas pelas reações nucleares que Densidade média = 1,41
geram a sua energia, os campos magnéticos que são gramas por cm3.
causados pela movimentação dos gases e a imensa
gravidade. Período rotacional = 25
dias (equador) a 35 dias
(pólos).
Fotosfera
A fotosfera é a região mais inferior da atmosfera do Magnitude = -26,8
Sol e é o que podemos ver da Terra. Tem de 300 a 400 (aparente), +4,8 (absoluto) A
quilômetros de largura e uma temperatura média de magnitude aparente se refere
ao brilho da estrela no céu a
5.800 kelvins ou aproximadamente 5.500ºC. Parece partir do nosso ponto de
borbulhante ou granulada, como a superfície da água observação na Terra. A
em fervura lenta numa panela. Os "grãos" são as magnitude absoluta é o
superfícies das células de corrente de convecção de brilho real da estrela caso
calor, que estão por baixo e cada granulação pode ter todas as estrelas estivessem à
mesma distância da Terra.
mil km de largura. Ao atravessar a fotosfera, a Quanto menor o número,
temperatura cai e os gases, por estarem mais frios, não mais brilhante é a estrela.
emitem tanta energia em forma de luz. Portanto, a
extremidade exterior da fotosfera parece escura, um Distância do centro da Via
efeito chamado obscurecimento de limbo, Láctea = 25 mil anos-luz.
responsável pela borda definida da superfície do Sol.
Velocidade e período
orbital = 230 quilômetros
Cromosfera por segundo e 200 milhões
A cromosfera está acima da fotosfera cerca de 2 mil de anos.
quilômetros de distância. A temperatura aumenta
através de toda a cromosfera de 4.500 kelvins para 10.000 kelvins (cerca de 4.200 ºC
para 9.700 ºC). Acredita-se que a cromosfera é aquecida pela convecção de calor dentro
da fotosfera subjacente. À medida que os gases se agitam na fotosfera e produzem
ondas de choque que aquecem os gases situados nas proximidades, as quais perfuram a
cromosfera em forma de milhões de erupções em forma de jatos de gás quente
chamadas espículas. Cada espícula sobe cerca de 5 mil quilômetros acima da fotosfera e
dura somente alguns minutos. As espículas também podem acompanhar linhas de
campo magnético do Sol, feitas pelos movimentos dos gases dentro do Sol.
Coroa
A coroa é a última camada do Sol e está a milhões de quilômetros de distância da
fotosfera. O melhor momento para vê-la é durante um eclipse solar ou em imagens de
raio X do Sol. A temperatura média da coroa é de cerca de 2 milhões de kelvins, embora
não se saiba por que ela é tão quente. Acredita-se que seja pelo magnetismo do Sol. A
coroa tem áreas brilhantes (quentes) e áreas escuras chamadas buracos coronais. Os
buracos coronais são relativamente frios e acredita-se que sejam áreas em que partículas
do vento solar conseguem escapar.
Manchas solares
As manchas solares são áreas escuras e frias que aparecem em pares na fotosfera, e são
caracterizadas também como campos magnéticos intensos (cerca de 5 mil vezes maiores
que o da Terra) que atravessam a superfície. As linhas de campo saem por uma mancha
e entram novamente por outra. O campo magnético é gerado pelos movimentos dos
gases no interior do Sol. A atividade das manchas solares ocorre como parte de um ciclo
de 11 anos chamado ciclo solar em que há períodos de atividade máxima e mínima.
Atualmente, estamos em época de atividade solar máxima (Figura 3).
Foto cedida pelo consórcio SOHO. O SOHO é um projeto de cooperação internacional entre a
ESA e a NASA.
Figura 3. O ciclo solar de 11 anos refletido por uma série de manchas
solares registradas até o momento e projetadas (linha pontilhada).
São mostradas as imagens do magnetograma do MDI (em cinza) e do
EIT em 195 ângstroms (em verde). Neste ciclo, o Sol passa por um
período de atividade (máximo solar) seguido de um período de
calmaria (mínimo solar). O nível ascendente pode ser visto
claramente na comparação entre as imagens do EIT e do
MDI.verde). Neste ciclo, o Sol passa por um período de atividade
(máximo solar) seguido de um período de calmaria (mínimo solar). O
nível ascendente pode ser visto claramente na comparação entre as
imagens do EIT e do MDI.
Não se sabe o que causa este ciclo de 11 anos, mas foram propostas duas hipóteses:
Proeminências solares
Ocasionalmente, nuvens de gases da cromosfera ascendem e se movimentam ao longo
das linhas magnéticas dos pares de manchas solares. Os arcos de gás são chamados de
proeminências (Figura 4). As proeminências podem durar de dois a três meses
atingindo até 50 mil quilômetros de extensão ou mais, acima da superfície do Sol. Ao
atingir essa altura acima da superfície, podem entrar em erupção, algo que pode durar de
alguns minutos a algumas horas, e jogar grandes quantidades de material através da
coroa, que cairão no espaço a mil km/s. Essas erupções são chamadas de ejeção da
massa coronal.
Foto cedida pelo consórcio SOHO. O SOHO é um projeto de cooperação internacional entre a ESA
e a NASA.
Figura 4. Grande proeminência eruptiva solar na imagem do hélio-2 a
304 ângstroms com uma imagem da Terra adicionada para a
comparação do tamanho. Esta proeminência em 24 de julho de 1999
foi particularmente grande e na forma de arco, e chegou a atingir 35
vezes o tamanho do planeta Terra. As proeminências em erupção,
quando direcionadas para a Terra, podem afetar os aparelhos de
comunicação, os sistemas de navegação e até as redes elétricas,
enquanto produzem auroras visíveis no céu durante a noite.
Fulgurações solares
Às vezes, em grupos complexos de manchas solares, explosões violentas e abruptas
ocorrem, chamadas de fulgurações solares. Acredita-se que sejam causadas por
alterações repentinas no campo magnético em áreas nas quais ele está concentrado. As
fulgurações solares são acompanhadas por liberação de gás, elétrons, luz visível, raios
ultravioleta e raios-X. Quando esta radiação e estas partículas atingem o campo
magnético da Terra, interagem com ele nos pólos para produzir as auroras (boreais,
austrais) como mostra a figura abaixo (Figura 5). Os "flares" solares também podem
interferir nas comunicações, nos satélites, nos sistemas de navegação e até mesmo nas
redes elétricas. A radiação e as partículas ionizam a atmosfera e impedem o movimento das
ondas de rádio entre os satélites e o solo ou entre o solo e o solo. As partículas ionizadas na
atmosfera podem induzir descargas de eletricidade na fiação elétrica e levar a oscilações de
energia. Essas oscilações podem sobrecarregar uma rede elétrica e causar blecautes (quedas
de energia).
Foto cedida pelo consórcio SOHO. O SOHO é um projeto de cooperação internacional entre a ESA
e a NASA.
Figura 5. O campo magnético do Sol e a liberação de plasma afetam
diretamente a Terra e o resto do sistema solar. Os ventos solares
formam a magnetosfera da Terra, e as tempestades magnéticas estão
ilustradas aqui, à medida que se aproximam da Terra. Essas
tempestades que ocorrem com freqüência podem interferir nos
aparelhos de comunicação e nos equipamentos de navegação, danificar
satélites e até mesmo causar blecautes (quedas de energia). As linhas
brancas representam o vento solar, a linha roxa é a linha de choque em
arco e as linhas azuis em volta da Terra representam sua magnetosfera
protetora. A nuvem magnética de plasma pode ter viajado 50 milhões
de quilômetros de distância no momento em que chega à Terra.
O destino do Sol
O Sol está brilhando há cerca de 4,5 bilhões de anos. Tem combustível suficiente de
hidrogênio para "queimar" por 10 bilhões de anos, aproximadamente. O tamanho do Sol
é um balanço entre a pressão exterior, feita pela liberação de energia da fusão nuclear e
a força de tração da gravidade, que exerce uma atração para o interior do corpo estelar.
Futuramente, quando o combustível de hidrogênio do núcleo acabar, este se contrairá
sob o peso da gravidade. No entanto, pode ocorrer alguma fusão do hidrogênio nas
camadas superiores. À medida que o núcleo se contrair, ele aquecerá, e esse calor
aquecerá as camadas superiores, fazendo-as se expandir. Enquanto as camadas externas
se expandem, o raio do Sol aumentará e o transformará numa gigante vermelha. O raio
da gigante vermelha vai ultrapassar a órbita da Terra. O nosso planeta será sugado para
o núcleo do Sol e será vaporizado. Algum tempo depois, o núcleo se tornará quente o
suficiente para fazer o hélio se transformar em carbono. Quando o combustível de hélio
acabar, o núcleo irá se expandir e esfriar. As camadas superiores irão se expandir e
expelir material solar. Por fim, o núcleo também se resfriará até se tornar uma anã
branca e, finalmente, uma anã negra. O processo todo levará alguns bilhões de anos.
Como pode ver, nosso Sol é um tanto complexo e muito interessante, e agora você já
sabe mais sobre como ele produz a luz e o calor de que toda a forma de vida na Terra
depende.
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