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PERFORMANCE, CORPO, ARTE E CIÊNCIA: ESCRITAS DE SI NO

UNIVERSO ESTÉTICO DE ORLAN

Ana Lucia Soutto Mayor1

Resumo: A contemporaneidade vem testemunhando, em diferentes universos da cultura, uma


exposição intensa de processos de subjetivação, por meio dos quais se percebem tensionamentos entre
o íntimo e o público, o real e o ficcional. Múltiplos processos de escrita – diários, cartas, monólogos
– são atravessados por um pagamento de fronteiras entre as experiências do sujeito e construções
discursivas a elas acopladas, tornando, por vezes, indiscerníveis, as fronteiras entre o factual e o
imaginário. De modo mais específico, a performance – compreendida como uma linguagem artística
-, aciona esses tensionamentos, fazendo da figura do performer um sujeito que opera no limite entre
a experiência, o ato de criação e a linguagem, convocando o espectador a se deslocar da assistência
para a interação, por meio de trocas concretas e simbólicas, em que ambos são mutuamente afetados.
Este trabalho tem por objetivo, partindo das contribuições de Arfuch (2010) e Klinger (2007) acerca
das escritas de si e do conceito de autoficção, problematizar as relações entre o biográfico, o estético,
o científico e o político na obra da performer francesa Orlan – criadora do “Manifesto da Arte Carnal”
-, tomando como referência principal sua performance “A reencarnação de Santa Orlan”, nos anos
90, na qual a artista se submeteu a uma série de nove cirurgias plásticas, filmadas em tempo real, de
modo a questionar os limites entre a opressão sobre o corpo feminino, as intervenções cirúrgicas, a
reinvenção de si e processos identitários.
Palavras-chave: Performance, corpo, arte, ciência, Orlan.

Escritas de si, autoficção, performance: reflexões sobre a subjetividade contemporânea e o


corpo

O campo teórico das “escritas de si” tem esboçado um território vasto, no qual, a despeito da
centralidade dos estudos literários, se podem observar inflexões nos domínios de diversas outras
linguagens, tais como o cinema, o teatro, a dança, a performance. Interessa-nos, no escopo deste
trabalho, resgatar dois conceitos relacionados a esse campo teórico: o conceito de espaço biográfico,
como proposto por Leonor Arfuch (ARFUCH, 2010) e o conceito de autoficção, resgatado por Diana
Klinger, em diálogo com as contribuições do crítico e romancista Sergue Doubrouvsky (KLINGER,
2007).

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Pesquisadora em Saúde Pública do Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica da Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brasil.

1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Em sua obra O espaço biográfico – dilemas da subjetividade contemporânea, Leonor Arfuch dedica-
se a refazer um percurso histórico-crítico das narrativas autobiográficas, procurando compreender as
múltiplas facetas desses discursos ao longo dos tempos, no intuito de refletir sobre a presença
ostensiva desse modo narrativo na contemporaneidade. Para além de esmiuçar as sutilezas das
narrativas em primeira pessoa nesse processo histórico-cultural – notadamente no universo da
literatura -, Arfuch amplia a compreensão acerca desse tipo de estrutura discursiva, estabelecendo o
conceito de espaço biográfico para tentar mapear as expressões do eu nas sociedades
contemporâneas, fortemente marcadas pela espetacularização, propiciada por diferentes redes
midiáticas. Nas palavras da autora,

(...) não só a autobiografia, a história de vida ou a entrevista biográfica, performadas


temática e compositivamente enquanto tais, entrariam em nossa órbita de interesse,
mas também os diversos momentos biográficos que surgem, mesmo inopinadamente,
nas diversas narrativas, particularmente nas midiáticas. Ali, nesse registro gráfico ou
audiovisual que tenta dar conta obstinadamente – cada vez mais “pela boca de seus
protagonistas” – do “isso aconteceu”, talvez seja onde se manifesta, com maior
nitidez a busca da plenitude da presença – corpo, rosto, voz – como proteção
inequívoca da existência, da mítica singularidade do eu. (ARFUCH, 2010, p. 74)

Deve-se observar que o conceito de espaço biográfico amplia a perspectiva da visada subjetiva em
primeira pessoa, centrada nos relatos em si mesmos, para uma compreensão dos "momentos
biográficos", reconhecíveis, segundo Leonor Arfuch, nas "diversas narrativas, particularmente nas
midiáticas". O destaque conferido a esses momentos, em um mundo marcado pela espetacularização
do eu, favorecido pela avalanche de imagens visuais, quase sempre conectadas em rede, permite que
possamos pensar, também, na narratividade autobiográfica para além de suas formas consagradas na
linguagem literária ou em formas afins. Trata- se - como também sublinha Arfuch - da "busca da
plenitude da presença - corpo, rosto, voz - como proteção inequívoca da existência, da mítica
singularidade do eu".

Desdobrando essa reflexão, de maneira ainda mais precisa, no que se refere às "tecnologias da
presença" (Arfuch, 2010, p. 75), a ensaísta explicita a força da explicitação do vivido a necessidade
imperativa de sublinhar a existência, amplificando os efeitos da presença, em escala maximizada.
Segundo Arfuch,

Efetivamente, a proeminência do vivencial se articula com a obsessão de


certificação, do testemunho, a vertigem do "ao vivo", do tempo real, da imagem
transcorrendo sob (e para) a câmera, o efeito "vida real", o "verdadeiramente"

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ocorrido, experimentado, padecido, suscetível de ser atestado por protagonistas,
informantes, câmeras ou microfones, gravações, entrevistas, paparazzi,
desdunamentos, confissões... (ARFUCH, 2010, p.75)

Antes de pensarmos a performance como uma linguagem artística, a qual tensiona diferentes tipos
de fronteira, radicalizando a expressão do artista enquanto sujeito, em sua história de vida, é
importante recuperar um conceito fundamental, tomado no campo das escritas de si, para pensar a
subjetividade contemporânea manifesta, entre outras formas artísticas, na performance. Estamos
falando, aqui, do conceito de autoficção, criado pelo crítico Segue Doubrovsky e reapresentado por
Diana Klinger, em seu livro Escritas de si, escritas do outro - o retorno do autor e a virada
etnográfica (2007), no qual a autora busca compreender os modos de operação da autoficção e da
escrita etnográfica, em suas intersecções e singularidades. Deve-se esclarecer, de antemão, que,
embora a autora tenha como corpus narrativas literárias contemporâneas, os conceitos desenvolvidos
na primeira parte da obra, ainda que aplicados à esfera da literatura, parecem-nos bastante profícuos
na condução de um pensamento acerca das marcas expressivas autobiográficas presentes em outras
linguagens artísticas, sobretudo se considerarmos a noção de espaço biográfico, acima desenvolvida.

Klinger (2010, p.51) apresenta o conceito de autoficção, tal como cunhado por Segue Doubrovsky,
de modo a sublinhar a dimensão criadora do sujeito, ao escrever seu "relato biográfico".
Compreendendo esse conceito em um contexto pós-freudiano, Doubrovsky afirma que

(...) A (auto)biografia que se põe no lugar da cura é a "ficção" que conta para o
paciente como a história de sua vida. Quer dizer que o sentido de uma vida não se
descobre e depois se narra, mas se constroi na própria narração: o sujeito da
psicanálise cria uma ficção de si. E essa ficção não é verdadeira nem falsa, é apenas
a ficção que o sujeito cria para si próprio. (KLINGER, 2007, pp.51-52)

É importante enfatizar que a autoficção opera com um engendramento discursivo por meio do qual o
sujeito vai se constituindo como um ser de linguagem e na linguagem, tornando por vezes

indiscerníveis os limites entre o "real" e o "ficcional" ou - de modo mais radical - irrelevantes as


fronteiras entre o vivido e o imaginado, considerando que o estatuto da verdade se conforma segundo
sua apropriação mesma pelo sujeito que a professa e endossa. Pode-se conceber, desse modo "a
autoficção como uma perfomance do autor" (Klinger, 2007, p.51), um outro de si mesmo, sendo um
mesmo expandido. Nesse sentido, a autora aproxima, de modo explícito, o "texto da autoficção da
arte da performance" (Klinger, 2007, p.55). Em suas palavras,

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A arte da performance supõe uma exposição radical de si mesmo, do sujeito
enunciador assim como do local da enunciação, a exibição dos rituais íntimos, a
encenação de situações autobiográficas, a representação das identidades como uma
trabalho de constante restauração sempre inacabado (RAVETTI, 2002, p.47). No
texto de autoficção, entendido neste sentido, quebra-se o caráter naturalizado da
autobiografia (...) numa forma discursiva que ao mesmo tempo exibe o sujeito e o
questiona, ou seja, que expõe a subjetividade e a escritura como processos em
construção. Assim a obra de autoficção é comparável à arte da performance na
medida em que ambos se apresentam como textos inacabados, improvisados, work
in progress, como se o leitor assistisse "ao vivo" ao processo da escrita. (KLINGER,
2007, pp. 55-56)

A comparação proposta por Diana Klinger, nos termos acima transcritos, põe em evidência dois tipos
de tangenciamentos entre essa "encenação de si" e a performance como linguagem: a expressão de
uma experiência subjetiva em que o artista se apresenta mais como indivíduo do que como
personagem e o caráter inacabado dessa construção de si mesmo. Esses dois aspectos serão retomados
quando da discussão específica do trabalho escolhido para análise, proposto pela performer Orlan -
"A reencarnação de Santa Orlan" -, na medida em que esses traços se revelam bastante presentes e
expressivos nessas performances.

Performance, corpo e escrita: reinvenções de Orlan

Aproximarmo-nos do trabalho da performer francesa Orlan é um convite a por em questão múltiplas


facetas dessa artista, em diferentes direções propostas por sua arte. A vasta fortuna crítica acerca de
seu trabalho aponta diversas possibilidades de análise, ainda que, de modo mais recorrente, tenhamos
encontrado estudos, com olhares próprios, sublinhando a dimensão estética de suas performances.
Neste trabalho, sem desconsiderar o estético como um aspecto decisivo no trabalho de Orlan,
interessa-nos investigar suas performances como "escritas de si", inscritas no

corpo da artista e o entrecruzamento entre os domínios da arte e da ciência, nas dobras da ética e da
política.

A performance, entre tantas possibilidades desafiadoras que coloca como linguagem artística, tem na
exposição do corpo um de seus traços constitutivos mais centrais. O corpo, na arte da performance,
além de apresentar, na grande maioria dos trabalhos, como elemento decisivo de sua expressão,
justapõe as figuras do performer e do espectador, tensionando-os em uma corrente estética e
sinestésica, no processo mesmo de construção da obra. A performance pode ser pensada como um

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território deslizante e fronteiriço, no qual são friccionadas as artes plásticas e as artes cênicas, a vida
e a arte, o sujeito criador e o sujeito espectador - co-construtores da experiência performática.

A performance surge, portanto, como uma manifestação artística em que o corpo é


utilizado como um instrumento de comunicação e arte, que se apropria de objetos,
situações e lugares - quase sempre naturalizados e socialmente aceitos - para dar-
lhes outros usos e significações e propor mudanças nas formas de percepção do que
está estabelecido. (GONÇALVES, 2004, p.88)

A performance, em seu caráter intrinsecamente interpelador e trangressivo, constitui-se como um


modo de "intervenção e experimentação" (Gonçalves, 2004, p.90), em que a proposta é realizada
como um "jogo", desestabilizador de percepções, conceitos e afetos. Gonçalves, retomando as
contribuições de Félix Guattari, indica a potência da performance no sentido do questionamento e da
desestabilização de nossas percepções cotidianas mais prosaicas, conduzindo-nos "formas
radicalmente mutantes de subjetividade" (GUATTARI apud GONÇALVES, 2004, p.90). Em outros
termos,

A performance potencializaria, assim, o instante, engajando-o num processo de


"descentramento estético", em que os componentes de expressão e elementos
retirados do cotidiano sofreria, "extrações intensivas" e passariam por uma
desconstrução de suas estruturas e códigos para propiciar uma recomposição, uma
recriação destes elementos. (...)

Neste contexto, a relação arte-corpo seria encarada como uma relação de


estranhamento, pois através dela se produz o estranhamento do próprio corpo que se
vê objetivado através de trocas de identidades, posições e formas imprevistas de
ocupação do espaço, gestuações e associações com objetos e com outras pessoas de
forma incomum. (GONÇALVES, 2004, p.91)

O “descentramento estético”, as “extrações intensivas” e o “estranhamento do próprio corpo” podem


ser facilmente reconhecidos no trabalho da performer Orlan, sobretudo se consideramos sua série de
“performances-cirúrgicas”, realizadas entre os anos de 1990 e 1993, nas quais a artista, tomando
referências estéticas de obras clássicas, tais como a “Monalisa”, de Leonardo da Vinci, a “Vênus”, de
Boticcelli, a “Psyché”, de Gerome propõe a discussão do corpo feminino, a histórica opressão sobre
o mesmo, as possibilidades de sua recriação, em um manifesto carnal de liberdade, invenção e
ousadia. Venus Brasileira Couy, em artigo acerca da obra de Orlan, assim descreve e comenta essa
série performática da artista, em seus antecedentes e realização:

Quando realizou a pesquisa para a “Reencarnação de Santa Orlan”, consultou um


psicanalista, que ao saber do que iria fazer, disse a Orlan que ela iria cometer
suicídio, proibindo-a de prosseguir com o trabalho (DUARTE, s.d.). Mesmo assim,
ao revés das advertências, continuou a realizar suas intervenções cirúrgicas. (...) No
entanto, Orlan não se cansa de reiterar que não é apenas uma artista que realiza

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performances, mas que fabrica obras realizadas por meio das cirurgias – “eu venho
da pintura e da escultura e retorno a elas sem cessar” (ORLAN, 1998).

(...) Orlan concebe um “retrato” feito com o nariz da escultura de Diana, da boca de
Europa, de Boucher, a testa de Mona Lisa, de Da Vinci, o queixo da Vênus, de
Botticelli e os olhos de Psychê, de Gerome. A seleção de cada uma das personagens
tem uma razão: não foram escolhidas pela beleza artística consagrada pelo cânone
ou pelo fato de serem mundialmente conhecidas, mas, sim, por sua história.
(FALBO, 2000, p.270-271) (COUY, 2008, p.7)

O processo de recomposição do corpo de Orlan pode ser lido como um processo de


autoficcionalização de si mesma, na medida em que a artista nem se apresenta como “ela mesma” –
o eu que entra no centro cirúrgico é um outro modificado pelas intervenções -, mas não chega a se
constituir em um duplo “clonado” da artista. Há um espaço de ressignificações do corpo, no qual
Orlan instaura um recriação de si mesma, em uma espécie de “autorretrato instável”, um rosto como
território desestabilizado e desestabilizador, emblema materializado dos princípios defendidos pela
performer em seu antológico “Manifesto da Arte Carnal”:

Arte carnal é autorretrato no sentido clássico, mas realizado por meio da


possibilidade da tecnologia. Oscila entre a desfiguração e refiguração. (...)

Arte carnal não está interessada no resultado da cirurgia estética, mas no processo
da cirurgia, o espetáculo e discurso do corpo modificado que se tornou o lugar do
debate público. (...)

A arte carnal transforma o corpo em linguagem, revertendo a ideia bíblica do verbo


feito carne; a carne é feita verbo. (ORLAN apud GONZAGA, 2012, pp.804-805)

Observando as palavras de Orlan, acima transcritas, pode-se verificar que a arte carnal aponta para
diferentes aspectos, potencializando fecunda discussões acerca dos mesmos. Por exemplo, ao
mencionar o "autorretrato", Orlan estabelece uma relação com a tecnologia, interface que abre um
campo de debates acerca das mídias, dos suportes, da ciência, no diálogo com a dimensão estética.
Orlan indica, também, a espetacularização do corpo, visibilizado em suas performances cirúrgicas,
permitindo ao espectador, conectado à sala de operações em tempo real, acompanhar todo o processo
de modificação do corpo da performer. Por fim, a artista tensiona as relações entre matéria e palavra,
evocando a potência do corpo como linguagem. Além da dimensão que vimos desenvolvendo até
aqui - a reinvenção do corpo como escrita de si -, o trabalho de Orlan opera com o entrecruzamento
entre arte, ciência, ética e política, a partir de uma reflexão acerca do corpo na contemporaneidade.

As performances-cirúrgicas de Orlan, por sua própria natureza, põem em cena as fronteiras entre a
arte, a ciência e a tecnologia, uma vez que suscitam discussões sobre limites e possibilidades entre
esses domínios. Se levarmos em conta, por exemplo, a referencialidade do universo médico, no qual

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as intervenções cirúrgicas se inscrevem, podemos por em questão como a arte é capaz de subverter a
lógica da necessidade do procedimento médico para uma lógica outra de tomar o procedimento como
um recurso discursivo a serviço das potências expressivas da arte.

Em seu artigo "O corpo pós-humano: notas sobre arte, tecnologia e práticas corporais
contemporâneas", Joana de Vilhena Novaes comenta acerca do lugar do corpo na contemporaneidade,
tomando o trabalho de Orlan como paradigmático para refletir acerca as transformações pelas quais
o corpo vem passando nos tempos de hoje:

No atual contexto de redesenho tecnológico e médico, Orlan toca a essência do ser


humano: imagem, corpo, identidade, fronteiras. Baseando-se em seu trabalho,
precursor de questões sobre o pós-humano, Orlan revela uma crise do corpo
contemporâneo, um organismo que oscila entre a desapropriação e reapropriação,
abrindo o caminho para a promulgação da imaginação individual e coletiva. O
resultado desta crise parece ser a encarnação de um corpo-imagem, corpo comum e
narcisista. Com as suas auto-hibridações, Orlan induz a uma nova era: a realização
do homem através da tela do espelho digital. (NOVAES, 2010, p.409)

A reflexão acima desenvolvida situa o trabalho de Orlan em um território híbrido, no qual a ciência
e a arte, a ética e a política estabelecem fricções potentes, com as quais é possível inscrever a obra
dessa performer em um universo múltiplo de questionamentos e proposições, inclusive, em processos
formativos nos mais diversos níveis. As intervenções radicais e transgressoras do processo criativo
de Orlan operam como dispositivos capazes de desafiar nossa humanidade comum, em um face a face
com nossa inelutável finitude.

Ao agir na própria carne, [Orlan] parece tentar dominar o desafio da carne, afastar-
se do risco e da ansiedade associados à decomposição do corpo. (Para fazer isso,
fornece uma imagem com a ideia de morte e desaparecimento do sujeito. Ao publicar
esta tentativa, Orlan nos oferece a oportunidade de ver para além do limite do corpo.
O que é um corpo que fala, se não uma encarnação divina? Orlan combina a figura
do cirurgião, cuja função parece ser a de um mestre da obra de arte, dono da natureza
e tenta postergar a morte por tempo indeterminado. (NOVAES, 2010, p.414)

Referências

ARFUCH, Leonor. O Espaço Biográfico- Dilemas da Subjetividade Contemporânea/Leonor


Arfuch. tradução, Paloma Vidal. - Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.

COUY, Venus Brasileira. “Perdão se devo fazê-los sofrer” – A Arte Carnal de Orlan”. In: Travessias
Ed.03 Educação, Cultura, Linguagem e Arte. 2008. ISSN 1982-5935. Disponível em
www.unioeste.br/travessias. Acesso em: 29/06/17.

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GONÇALVES, Fernando do Nascimento. "Performance: um fenômeno de arte-corpo-comunicação".
In: Logos 20. Corpo, arte, comunicação. Ano 11, no.20, 1o. semestre de 2004.

GONZAGA, Ricardo Maurício. “O corpo como rascunho: Orlan, o verbo feito carne feito Imagem
feita verbo”. In: Anais do Congresso Internacional da Associação de Pesquisadores em Crítica
Genética, X Edição, 2012.

KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnográfica:
Bernardo Carvalho, Fernando Vallejo, Washington Cucurto, João Gilberto Noll, César Aira,
Silviano Santiago/Diana Irene Klinger. - Rio de Janeiro: 7Letras, 2007.

NOVAES, Joana de Vilhena. "O corpo põs-humano: notas sobre arte, tecnologia e práticas
corporais contemporâneas". Disponível em http://www.uva.br/trivium/edicao1-dez-2010/artigos-
tematicos/3-o-corpo-pos-humano.pdf. Acesso em 30/06/17.

Perfomance, body, art and science: writings of self in Orlan's aesthetic world

Abstract: Contemporaneousness has witnessed, in different universes of culture, an intense


exposition of processes of subjectivation, through which tensions are perceived between the intimate
and the public, the real and the fictional. Multiple writing processes - diaries, letters, monologues -
are crossed by a blurring of the boundaries between the experiences of the subject and discursive
constructions attached to them, making the boundaries between factual and imaginary sometimes
indiscernible. More specifically, performance - understood as an artistic language - triggers these
tensions, making the performer figure a subject that operates on the borderline between experience,
the act of creation, and language, inviting the viewer to move from assistance to The interaction,
through concrete and symbolic exchanges, in which both are mutually affected.
Based on the contributions of ARFUCH (2010) and KLINGER (2007) on the writing of self and the
concept of autofiction, this paper aims to problematize the relations between the biographical,
aesthetic, scientific and political in the work of the French performer Orlan - creator of the "Manifesto
of Carnal Art", taking as its main reference her performance "The reincarnation of Santa Orlan" in
the 90s, in which the artist underwent nine plastic surgeries, filmed in real time, in order to question
The limits between oppression over the female body, surgical interventions and identity processes.
Keywords: Performance, body, art, science, Orlan.

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