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23 de agosto a 15 de setembro de 2016

O que é Filosofia?

- Diferentemente das matérias científicas, a Filosofia não é uma matéria de conhecimento, com um
objeto preciso e específico, mas uma forma de reflexão sobre todo e qualquer problema que
tenha caráter universal. Nas palavras de Kant, “não há filosofia que se possa aprender, só se
aprende a filosofar”.
- Ciência positiva é construção que parte sempre de um ou de mais pressupostos particulares, ou
seja, de certas afirmações que se aceitam como condição de validade de determinado sistema ou
ordem de conhecimentos. Filosofia é crítica de pressupostos, sem partir de pressupostos
particulares, sendo, assim, um conhecimento que converte em problema os pressupostos da
ciência (natureza crítica).
- O sentido de universalidade revela-se inseparável da Filosofia. É uma ciência cujos cultores
somente se considerariam satisfeitos se lhes fosse facultado atingir, com certeza e universalidade,
todos os princípios ou razões últimas explicativas da realidade, em plena interpretação da
experiência humana.
- O filósofo pode ser definido como o “peregrino da verdade”, para o qual as perguntas são mais
importantes do que as respostas. Isso nos remete à chamada maiêutica socrática, processo que
consiste na formulação de perguntas e na análise das respostas de maneira sucessiva até se chegar
à verdade ou contradição do enunciado.
- A Filosofia tende a não se contentar com uma resposta, enquanto esta não atinja a essência, a
razão última de um dado “campo” de problemas. Quando atingimos uma verdade que nos dá a
razão de ser de todo o sistema particular de conhecimento, e verificamos a impossibilidade de
reduzir tal verdade a outras verdades mais simples e subordinantes, segundo certa perspectiva,
dizemos que atingimos um princípio ou um pressuposto.
- A Filosofia deve ser vista como atividade perene do espírito, como paixão pela verdade essencial
e, nesse sentido, realiza, em seu mais alto grau e consequência, a qualidade inerente a toda
ciência: a insatisfação dos resultados e a procura cuidadosa de mais claros fundamentos, sem
outra finalidade além da puramente especulativa.
- Os primeiros filósofos gregos não concordaram em ser chamados de sábios, por terem
consciência do muito que ignoravam; preferiam ser conhecidos como amigos da sabedoria (ou
seja, filósofos). A Filosofia nasceu na Grécia, no século VI a. C., no momento em que alguns
indivíduos passaram a buscar explicações racionais para os problemas, rompendo com as
justificativas mitológicas reinantes. Conforme os problemas filosóficos foram sendo
solucionados pela ciência, deixaram de sê-lo.
- Em um primeiro momento, a Filosofia esteve relacionada aos problemas da natureza. Com
Sócrates, foi dada maior ênfase aos assuntos humanos (ética). Aristóteles, por sua vez, voltou sua
preocupação ao mundo físico.
- A Filosofia do Direito não é disciplina jurídica, mas é a própria Filosofia enquanto voltada para
uma ordem de realidade, que é a “realidade jurídica”. O Direito é realidade universal; onde quer
que exista homem, aí existe o Direito como expressão de vida e de convivência. Enquanto que o
jurista constrói a sua ciência partindo de certos pressupostos, que são fornecidos pela lei e pelos
códigos, o filósofo do Direito converte em problema o que para o jurista vale como resposta ou
ponto assente e imperativo.
- Nenhum sistema filosófico angaria a concordância unânime dos espíritos, ou seja, uma das
principais características da Filosofia é a falta de consenso, pois os sistemas filosóficos estão
sempre em choque. Nas palavras de Miguel Reale, “a Filosofia não existiria se todos os filósofos
culminassem em conclusões uniformes”.

• O que legitima o Direito?


a. São Tomás de Aquino acreditava na existência de dois tipos de leis: as leis eternas e as leis
humanas. As primeiras se desdobrariam em leis divinas (textos sagrados que contém a palavra
de Deus) e leis naturais (descobertas pela razão). As leis humanas seriam aquelas criadas pelos
humanos para viver em sociedade, as quais, para serem minimamente justas, deveriam refletir,
de certa forma, a lei eterna. Em outras palavras, para São Tomás de Aquino, a lei humana
(Direito), para ser legítima, deveria estar de acordo com a lei natural, que, por sua vez, é regida
pela lei divina.
b. Para Karl Marx, o Direito, como regra de conduta coercitiva, nasce da ideologia da classe
dominante, que é precisamente a classe burguesa. O autor acreditava existir uma influência
incrivelmente forte do poder econômico sobre o Direito, de modo que a dominação econômica
de uns poucos sobre tantos outros se ratificaria por intermédio de um Estado de Direito, cujo
princípio capital é a lei. Portanto, diante do fato de que o Direito seria um instrumento de
opressão de classes, este não poderia ser legitimado.
c. Os contratualistas, por fim, defendem que a legitimação do Direito derivaria da autorização das
próprias pessoas, que haviam firmado uma espécie de pacto, a fim de garantir a própria
sobrevivência em sociedade através da constituição do Estado.
• O que é uma sociedade justa (exemplo das diferenças salariais)?
a. Segundo John Rawls, a resposta dependeria da existência, ou não, de um sistema de tributação e
redistribuição que beneficiasse os menos favorecidos. Se as diferenças revertem em prol dos
menos favorecidos, elas são moralmente justificáveis. Nota-se, claramente, que o pensamento
de Rawls pode ser lido como uma justificação do Estado de bem-estar social (políticas de
redistribuição).
b. Robert Nozick, por sua vez, faz uma defesa explícita de um Estado mínimo, defendendo que as
desigualdades sociais são consequência das trocas espontâneas (livres) do mercado. Para ele,
nenhuma redistribuição teria legitimidade, pois violaria os direitos de propriedade dos
indivíduos e desrespeitaria a liberdade individual (“solidariedade forçada”). Ademais, a
tributação dos rendimentos do trabalho seria equiparável ao trabalho forçado, tendo em vista
que o Estado estaria retirando de alguns indivíduos (sem o seu consentimento) parte daquilo
que possuem legitimamente, para beneficiar os mais desfavorecidos.
• Qual é a natureza humana?
a. Segundo Thomas Hobbes, os homens seriam maus por natureza (“o homem é o lobo do próprio
homem”), pois possuiriam um poder de violência ilimitado. O convívio, portanto, não é de boa
vontade, nem é agradável, mas sim convencional, aceitável e tolerável, pois através dele os
homens se abrigam, fugindo daquele estado de guerra generalizada de todos contra todos,
evidenciando a necessidade de criação do Estado. Esta se dá partir de um contrato social, que
visa a abdicação do poder ilimitado de cada um e o redirecionamento desse poder (poder de
polícia) para a manutenção da ordem e da estabilidade.
b. Jean-Jacques Rousseau defende a hipótese do homem natural originalmente íntegro,
biologicamente sadio e moralmente justo. A maldade e a injustiça não seriam naturais no
homem, mas derivadas da ordem social, ou seja, a sociedade da propriedade privada (firmada
através de um falso contrato social) corromperia as inclinações naturais do ser humano.
c. Jean-Paul Sartre, por sua vez, entende que “a existência precede a essência”, ou seja, a
existência humana precederia qualquer noção de finalidade, de valor ou de destinação prévia.
Não há que se falar em uma natureza humana, pois não haveria um Deus para criá-la; a única
natureza pré-existente é a biológica, o resto se adquire do mundo exterior. Pelo mesmo motivo,
Sartre também diz que “o homem está condenado a ser livre”: condenado porque não criou a si
mesmo, mas livre porque se constrói a partir de suas próprias escolhas, pelas quais é
responsável (subjetivismo ético). Nas palavras no filósofo, "não somos aquilo que fizeram de
nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.
• “Por que existe algo e não apenas o nada?”
a. Segundo Gottfried Leibniz, autor da pergunta, esta teria uma resposta inequívoca: Deus,
motivado por sua infinita boa vontade e guiado por sua livre vontade, teria criado o mundo. Isso
levaria a outra pergunta, qual seja a razão da existência de Deus. Leibniz, então, argumentou no
sentido de que “Deus existe porque existe”, de modo que a sua não existência seria uma
impossibilidade lógica. Em outras palavras, Deus seria um ser necessário.
b. David Hume e Immanuel Kant denunciaram a fórmula de Leibniz de algo cuja existência é
logicamente necessária. Para Hume, toda pretensa resposta seria uma ilusão ou um sofisma,
pois ela nunca poderia se basear na nossa experiência da realidade. Para Kant, a tentativa de
explicar a existência do todo implica, forçosamente, numa extensão ilegítima dos conceitos de
que dispomos para estruturar nossa experiência da realidade. A essência das coisas estaria além
além da nossa experiência, limitada no tempo e no espaço.
c. Na época contemporânea, quatro filósofos manifestaram suas opiniões sobre o tema. Bergson
defendeu que a definição do nada seria uma “pseudo-ideia”, ao passo que a questão formulada
por Leibniz seria uma “pseudo-pergunta”. Segundo Heidegger, a referida questão seria a mais
abrangente e importante pergunta filosófica. Já Ayer, discípulo de Hume, entendeu a pergunta
de Leibniz como um disparate sem lógica. E Russell, por sua vez, compreendeu que essa
questão estaria além da ciência, ou seja, haveria questões filosóficas que a Filosofia não poderia
responder (até porque a função principal desta é exatamente a formulação de perguntas).
- Pantonomia e autonomia (Ortega y Gasset)
• A Filosofia é pantônoma por não dividir seu objeto de estudo, que é estudado e analisado do
ponto de vista universal (cada conceito filosófico deve ser fabricado em função do todo).
• Autonomia: consiste na renúncia, por parte da Filosofia, a apoiar-se em nada anterior à própria
filosofia que se vai fazendo e no compromisso de não partir de verdades supostas (ao contrário da
ciência jurídica, por exemplo, que parte da divisão do Direito em público e privado). A Filosofia é
uma ciência sem suposições (questionamento de todos os pressupostos), que se constrói sem
admitir como fundamento nenhuma verdade que se dá por provada fora de seu próprio sistema. A
Filosofia é, pois, lei intelectual de si mesma. O principal expoente dessa característica da
Filosofia foi Nietzsche, que combateu as posturas dogmáticas (principalmente do racionalismo
cristão) e fez uma grande convocação à atitude crítica dos seres humanos.
- A importância da Filosofia para o homem contemporâneo (José Vilanova)
• A Filosofia do Direito procura um conhecimento absoluto do Direito, daquilo que este possui de
universal e necessário. Em todo objeto de estudo, se distinguem os elementos necessários e
contingentes: estes podem ou não estar presentes no objeto de estudo, sem que este seja alterado
nos seus caracteres; aqueles não podem faltar, sob pena de afetar a estrutura ou a essência do
objeto de estudo.
• Cosmovisão: representação do mundo ou do universo.
a. Em determinadas épocas, certas cosmovisões possuíram um predomínio quase que excludente.
Na Idade Média, havia uma cosmovisão bem clara e definida, que reinava de maneira
indiscutível: a cosmovisão teológica e teocrática. Sob esse prisma, tudo que se fazia neste
mundo teria uma importância meramente preparatória para o ingresso no outro mundo (a cidade
eterna, a cidade de Deus). A economia da época caracterizava-se por ser fechada e de consumo
e a sociedade era estamental (clero, nobreza e terceiro estado).
b. Na Idade Moderna, os descobrimentos cosmológicos referentes à posição do Sol e ao
movimento da Terra quebraram a concepção ptolomaica-aristotélica. O comércio, por sua vez,
ía se acentuando cada vez mais e a classe burguesa, que ganhava proeminência, não tinha lugar
nos estamentos medievais. Além disso, no plano das ideias, ganharam destaque a reforma
religiosa e a filosofia idealista de Descartes. Tudo isso serviu para romper com a cosmovisão
medieval e permitir a expansão de uma nova cosmovisão, a do racionalismo da ilustração.
Todavia, esta se viu frustrada em suas pretensões quando a Revolução Francesa, que pretendia
ser a concreção histórico-política do movimento ideológico racionalista, acabou sendo um “mar
de sangue”. Desse modo, quase todo o século XIX foi uma reação aos excessos cometidos no
período anterior (romancismo, historicismo, etc.).
c. Temos, então, que, desde o rompimento com a cosmovisão medieval e a destruição da pretensão
racionalista de construir uma cosmovisão própria, não há uma única cosmovisão vigente, mas
um pluralismo; e essa falta de uma cosmovisão sólida e definitiva gera uma certa angústia.
d. É neste contexto que a Filosofia, sendo pantônoma e autônoma, aparece como “tábua de
salvação”. A Filosofia nos diz que toda nostalgia de uma cosmovisão sólida e definitiva resulta
anacrônica. A virtude da razão consiste justamente na crítica dos fundamentos e o estado de
crise em que vivemos é fruto da crítica pertinaz da razão. Deste modo, cabe à cada um adotar
racionalmente a resposta que o situe no mundo.
e. A razão, no campo político, é encontrada na estrutura da democracia. Os intentos fascistas de
suprimir esse tipo de estrutura política, por sustentarem uma cosmovisão contrária à razão,
naturalmente, fracassaram.
f. A Filosofia é a única disciplina do conhecimento racional aonde existe a possibilidade de se
conquistar uma cosmovisão fundamentada e não dogmática (racional). As disciplinas científicas
não servem para esta tarefa porque se ocupam de uma parcela limitada da realidade. Nenhuma
ciência particular pode pretender dar uma cosmovisão racional através da razão tendo em vista
que, para tanto, são necessários uma preocupação com o todo e o questionamento de todos os
pressupostos.

• Generalidades e pressupostos das ciências


a. Todas as ciências estão em estreito contato com a Filosofia, tendo em vista que culminam seu
corpo teórico com alguns princípios gerais, axiomas e pressupostos que não estão dentro de seu
objeto de investigação.
b. Quando as ciências entram na etapa de crise de seus pressupostos e fundamentos, ou seja,
quando estes são colocados em questão, as fronteiras entre aquelas e a Filosofia se diluem,
propiciando um diálogo de grande proveito entre ambas.
• Ciências do homem
a. A Economia, a Sociologia, o Direito, a História, etc., estudam o homem sob uma perspectiva
específica, o que lhes impede ter um panorama total daquele. Essas ciências não são, portanto,
pantônomas. Neste contexto, a Filosofia possui uma dimensão especial, na medida em que
permite uma visão total acerca do homem, a qual não pode provir de nenhuma ciência
específica.
b. A Filosofia de Kant se funda em três perguntas (“O que podemos conhecer? O que devemos
fazer? O que nos é permitido esperar?”), que podem ser sintetizadas em uma única: “O que é o
homem?”.
- O positivismo filosófico de Comte e a redução da Filosofia a uma enciclopédia das ciências
• “A Filosofia é universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à Filosofia
interessa-se por tudo. Porém, não há homem que tudo possa saber. O que distingue a vã
pretensão de tudo saber [enciclopedismo] do propósito filosófico de apreender o todo
[pantonomia]?” (Jaspers)
• O pensamento comtiano teve muitos adeptos no campo do Direito, entretanto é errado afirmar que
o positivismo jurídico teria se originado do positivismo filosófico de Comte, pois, na época da
primeira manifestação sistemática do positivismo jurídico (escola de Exegese), Comte era apenas
uma criança. Se houve uma corrente influenciada pelo positivismo comtiano foi o sociologismo
jurídico (Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda, por exemplo).
• Com a lei dos três estágios, Comte quis mostrar o caminho da humanidade. Nessa forma
evolutiva, o estágio atual, para Comte, é o estágio positivo, no qual os métodos teológicos e
metafísicos não são mais empregados. Historicamente, ao estágio teológico correspondeu a
supremacia do poder militar (feudalismo); ao estágio metafísico correspondeu o idealismo juvenil
(que começa com a Reforma Protestante e termina com a Revolução Francesa); e, finalmente, ao
estágio positivo corresponde a sociedade industrial, a era da ciência e da tecnologia.
• Para Comte, a Filosofia só é digna desse nome enquanto não se diversifica da própria Ciência,
marcando uma visão orgânica da natureza e da sociedade, fundada nos resultados de um saber
constituído objetivamente à luz dos fatos ou das suas relações. Em outras palavras, Comte,
conhecido por sua aversão à metafísica e a quaisquer formas de conhecimento a priori, baseia o
saber filosófico sobre o alicerce das ciências positivas, de modo que a Filosofia seria inseparável
do saber empírico e a positivo. Comte propunha uma ciência denominada, inicialmente, de Física
Social ou Ciência da Sociedade e, posteriormente, chamada de Sociologia, na qual usaria a
experimentação e a observação, critérios das ciências naturais, aplicados na Sociologia.
• Entre ciência e Filosofia não haveria, portanto, uma diferença de essência ou de qualidade, mas
tão somente, uma diferença de grau ou de generalidade. O físico ou o químico elaboram,
apreciam um aspecto particular da realidade ou de algo; o mesmo fazem o biológo, o astrônomo
ou o matemático. Cada qual tem seu campo de pesquisa e unifica e delimita os resultados de suas
indagações. A ciência é, portanto, um saber parcial unificado, referente a um aspecto abstraído de
outros aspectos possíveis, como condição de observação e análise.
• A Filosofia viria depois, como enciclopédia das ciências ou sistematização das concepções
filosóficas. Terminada a tarefa de cada cientista no seu campo particular, ao filósofo caberia
realizar a síntese ou o compêndio dos resultados, a fim de propiciar àqueles a abertura de novas
perspectivas, e a todos uma compreensão total, mas positiva do universo. A visão total e unitária
dos conhecimentos científicos teria a vantagem de despertar em cada campo particular de
pesquisa a possibilidade de aspectos até então obscuros e despercebidos.
• Na visão positivista, assim como ocorria na Idade Média, a Filosofia também seria posta a serviço
de algo. Entretanto, a Filosofia não seria mais subordinada à teologia ou encontraria nesta um
“limite negativo”, mas estaria a serviço da ciência, cujos resultados deveria unificar e completar e
de cujas conclusões deveria partir (ponto de vista estático).
• Deste modo, a Filosofia deixa, praticamente, de desempenhar uma função criadora autônoma. A
Filosofia não cria e nem inova porque seu trabalho fica na dependência do trabalho alheio.
15 a 29 de setembro de 2016

Conceito e Tarefas da Filosofia do Direito

- A Filosofia do Direito, de acordo com Jorge Del Vecchio, seria “a disciplina que define o Direito
em sua universalidade lógica, investiga os fundamentos e os caracteres gerais do seu
desenvolvimento histórico e avalia-o segundo o ideal de justiça traçado pela razão pura”.
- Segundo Jorge Del Vecchio, a Filosofia se dividiria em:
• Filosofia teórica (estudo dos primeiros princípios do ser e do conhecer): engloba a ontologia ou
metafísica, a gnoseologia ou teoria do conhecimento, a lógica, a psicologia e a estética.
• Filosofia prática (estudo dos primeiros princípios do agir): compreende a Filosofia moral (ética) e
a Filosofia do Direito.
- Garcia Morent, por sua vez, defende que a Filosofia compreenderia, simplesmente, a ontologia e
a gnoseologia. Outras disciplinas, como a ética, estariam se distanciando da Filosofia.
- A diferença entre a Filosofia e a Ciência do Direito reside no modo pelo qual cada uma delas
considera o Direito: a primeira, no seu aspecto universal; a segunda, no seu aspecto particular.
Em outras palavras, a Ciência do Direito tem por objeto os sistemas particulares, considerados
individualmente para cada povo em dado tempo; jamais recai propriamente sobre o todo de um
sistema, mas efetua especificações e distinções, considerando apenas uma fração deste.
- Jorge Del Vecchio entende que a Filosofia seria responsável por três investigações:
• Lógica: definição do Direito in genere, tarefa que excederia a competência de qualquer ciência
jurídica particular. A investigação lógica é um pressuposto para as outras duas.
• Fenomenológica: o Direito é produto necessário da natureza humana, o que significa que, além
dos fatores particulares e imediatos que determinam as normas singulares, existem outros gerais e
comuns. A indicação das contingências, devido às quais uma lei ou costume se formou, não é
suficiente para nos demonstrar o fundamento da existência do Direito in genere; este fundamento
não pode ser descoberto pelas ciências jurídicas, pois, tendo estas por objeto um campo particular,
escapa à sua competência a pesquisa das causas genéricas universais.

• Deontológica: investigação dos institutos jurídicos à luz da justiça. Cada homem sente em si a
faculdade de julgar e avaliar o Direito existente e sobre ele ajuizar; todo homem possui o
sentimento de justiça. A exigência de indagar sobre a justiça, ou seja, sobre como deve ser o
direito compreende tanto a especulação sobre o ideal, a que deve obedecer o Direito existente,
como a crítica da sua legitimidade e racionalidade. Desse modo, a Filosofia do Direito ocupa-se,
precisamente, daquilo que deve ou deveria ser o Direito, em oposição àquilo que é o Direito
(tarefa da Ciência do Direito).
a. Em Kant, o ideal de justiça é traçado pela razão pura, de modo que os conceitos de justiça e de
moral são universais (universalismo ético), e não variáveis por sociedade ou por indivíduo. Em
contrapartida, de acordo com o relativismo cultural, os ideais de justiça e de moral são relativos
à cada cultura, à cada sociedade e, até mesmo, à cada pessoa.
- Função prática
• “A Filosofia do Direito é ministra do progresso jurídico, reivindicadora do ideal.”
• Num primeiro momento, há uma formulação filosófica do ideal jurídico, o qual, posteriormente, é
incorporado ao direito positivo.

1º Momento 2º Momento

Hugo Grócio Progresso do Direito Internacional (direito das gentes ≠ direito natural)
Beccaria Progresso do Direito Penal (denúncia da tortura e das penas severas)

Rousseau Revolução Francesa (igualdade democrática)


Gandhi Luta contra o colonialismo (desobediência civil)

Luther King Movimento dos direitos civis (fim da discriminação institucional)


Peter Singer Bem-estar animal (denunciação dos maus-tratos)

• A Filosofia do Direito, ao sintetizar a história deste e ao especular sobre o seu ideal, atua como
intermediária entre aquela e este e como instrumento do progresso do Direito. De semelhante
posição deriva a função prática da Filosofia do Direito: ensinar e preparar o reconhecimento
positivo do ideal jurídico.
• Com o despertar da consciência crítica, surge a necessidade de averiguar se as imposições legais
vigentes são também justas, se a autoridade que manda procede segundo a razão. A Filosofia do
Direito inicia-se precisamente com a descoberta da antítese entre o justo natural e o justo moral.

29 de setembro a 27 de outubro de 2016

A Doutrina do Direito Natural

- O Jusnaturalismo é uma doutrina segundo a qual existe e pode ser conhecido um "direito
natural", ou seja, um sistema de normas de conduta intersubjetiva diverso do sistema constituído
pelas normas fixadas pelo Estado (direito positivo). Este direito natural tem validade em si, é
anterior e superior ao direito positivo e, em caso de conflito, é ele que deve prevalecer.
- Jusnaturalismo antigo
• As primeiras manifestações de jusnaturalismo se dão na antiga Grécia. Na Hélade, encontramos,
entre os pré-socráticos, uma distinção fundamental, que é também um dos motivos da "Antígona"
de Sófocles: a distinção entre o justo por natureza e o justo por convenção, ou, em outras
palavras, entre lei natural e lei positiva.
• Aristóteles reconhece que existe o justo por lei e o justo por natureza, afirmando que este tem por
toda a parte a mesma força, por não depender das opiniões e dos decretos dos homens, expressão
que é da natureza racional do homem. Aristóteles encara o problema da justiça como
bilateralidade, de modo que não haveria “justiça de um homem para consigo mesmo”. O filósofo
divide, ainda, o conceito de justiça entre geral e particular (esta, por sua vez, divide-se em
distributiva e equiparadora / corretiva).
a. A justiça geral seria uma das virtudes em saber estabelecer um justo meio que represente a
equidistância entre os extremos do pouco e do demasiado. Exemplificativamente, a bravura
(virtude) seria o justo meio entre a covardia e a temeridade (ambos vícios), ao passo que a
generosidade (virtude) seria o justo meio entre a avareza e a prodigalidade (ambos vícios).
b. A justiça distributiva regularia a relação entre a comunidade e os seus membros, consistindo na
repartição das honras, dos bens, dos cargos, das recompensas entre os indivíduos, de acordo
com o mérito de cada um e respeitado o princípio da proporcionalidade.
c. A justiça corretiva se difere da distributiva na medida em que visa o restabelecimento do
equilíbrio rompido entre os particulares: a igualdade aritmética (as coisas e as ações são levadas
em conta pelo seu valor objetivo, e não mais pela qualidade das pessoas). A justiça corretiva se
divide em comutativa (intento de regular as relações de troca em conformidade com certa
medida, visando a igualdade entre o que se dá e o que se recebe, entre a prestação e a
contraprestação) e judicial (aplicada em casos de violação, exigindo uma igualdade
proporcional entre o dano e o ressarcimento, entre o delito e a pena, fazendo prevalecer o
critério equitativo nas controvérsias que exigem a presença do juiz).

• Na Grécia, não existe uma palavra própria para mencionar o Direito, pois o conceito ainda se
fundia no conceito universal de justo. Em Roma, o que se vê é sobretudo uma concepção do
Direito Natural como conjunto dos princípios morais do agir, que refletem, de maneira imediata e
necessária, as obrigações do homem enquanto homem, imanentes do jus gentium.
• Por meio de Cícero (grande divulgador das teorias estoicas), observa-se que, em Roma, se repete
a distinção já posta na Grécia entre o Direito Positivo e o Direito Natural, ou melhor, entre o justo
por natureza e o justo por lei ou convenção. Nas obras de Cícero, notam-se passagens de apologia
à lei como expressão da ratio naturalis, sempre igual por toda parte, sempre eterna, determinando
o que deve ser feito e o que deve ser evitado.

• Cícero desenvolveu uma teoria tripartida de categorias de direitos, que depois seria defendida,
principalmente, por Ulpiano.
a. Jus naturale (Direito Natural): direito comum à todos os homens.
b. Jus gentium (Direito das Gentes): direito positivo e vigente, inspirado na razão natural, que
regula as relações entre os Estados.
c. Jus civile (Direito Civil): composto por aquelas regras de direito que são aplicáveis somente ao
povo romano (direito interno de cada Estado). Estas regras devem estar respaldadas pelo ius
naturale e que podem, até mesmo, coincidir com o ius gentium, contendo, porém, instituições e
fontes próprias em relação à este.

• Diferentemente de Cícero, que entendia o Direito Natural como sendo ditado pela razão, Ulpiano
desenvolveu uma “concepção naturalista”, segundo a qual o Direito Natural seria aquele “que a
natureza ensina aos homens e aos irracionais”.
• O estoicismo de Cícero possui uma matriz em Epicuro. Todavia, posteriormente, se desdobrará no
cristianismo (o qual, mais tarde, influenciará Kant).
- Jusnaturalismo medieval
• Santo Tomás de Aquino é o principal intérprete da cosmovisão medieval. Ele entende que os
conceitos de lei e ordem são complementares. Lei seria uma ordenação da razão no sentido do
bem comum, promulgada por quem dirige a comunidade e de aplicabilidade universal (tanto ao
mundo humano quanto ao cosmos). Neste ponto, Santo Tomás possui uma tricotomia própria:
a. Lei eterna: razão de Deus, governadora de todo o universo e conhecida apenas parcialmente
pelos homens, através de suas manifestações (sendo a principal delas a lei natural).
b. Lei natural: versão parcial e imperfeita da lei eterna, que estabelece princípios morais
elementares aos quais os homens ascendem através da razão. A lei natural determina o que os
homens devem fazer (o bem) ou não (o mal), ou seja, rege o “agir” humano de uma forma geral,
ao passo que o Direito Natural diz respeito ao “agir” humano quando relacionado à justiça.
c. Lei humana: é o direito positivo. Se fundamenta na lei natural, da qual pode derivar
dedutivamente ou representar sua especificação em cada caso concreto. Pode se observar uma
derivação dedutiva da lei humana em relação à lei natural, quando esta estabelece que “deve-se
fazer o bem e evitar o mal” e aquela determina que “não se deve matar”. Já a especificação da
lei natural através da lei humana pode ser exemplificada quando aquela determina que “os
delinquentes devem ser castigados” (indeterminação) e esta impõe as penas para cada um dos
delitos (determinação).
d. Lei divina ou revelada: direito positivo posto por Deus, através das Sagradas Escrituras (Dez
Mandamentos). Diferentemente da lei eterna, que rege todo o universo, a lei divina ou revelada
se dirige especificamente às criaturas racionais.
• Santo Tomás de Aquino, pensador aristotélico, desenvolveu o conceito de justiça legal ou social,
que determinaria as obrigações dos membros da comunidade para com esta. A partir daí, estaria
completa a chamada “trilogia do justo”, formada pela justiça distributiva (deveres do todo para
com as partes), pela justiça comutativa (deveres das partes entre si) e pela justiça legal (deveres
das partes para com o todo).

• Santo Tomás de Aquino também desenvolveu uma ética das virtudes, com base nas quatro
virtudes enumeradas por Platão: prudência, justiça, fortaleza e intemperância. À estas, Santo
Tomás acrescentou as chamadas justiças teologais, quais sejam a fé, a caridade e a esperança.
• “Algo é correto porque Deus o ordena” (teoria do mandamento divino, defendida por Eutífron) ou
“Deus ordena algo porque é correto” (a retidão é prévia a Deus, conforme entendimento de
Sócrates)? Segundo Santo Tomás de Aquino, a correção está na própria razão de Deus, ou seja, a
retidão seria inerente a Deus.
- Jusnaturalismo moderno
• Segundo Guido Fassò, entre o jusnaturalismo antigo de Cícero, o jusnaturalismo medieval de
Santo Tomás de Aquino e o jusnaturalismo moderno de Hugo Grócio, haveria uma harmonia e
uma continuidade, pois o elemento racional estaria sempre presente. Esse entendimento é bastante
rechaçado pelos tomistas, como Michel Villey, que defendem a tese de que o jusnaturalismo
moderno (escolas do Direito Natural dos séculos XVII e XVIII) teria desvirtuado o
jusnaturalismo antigo e medieval (teria havido uma ruptura).
• Hugo Grócio é um dos fundadores que se chamava “Direito das Gentes” (hoje, denominado
Direito Internacional Público). Em seu livro “Do direito da guerra e da paz”, Grócio, um cristão
protestante, afirma que o Direito Natural existiria mesmo que Deus não existisse ou que,
existindo, não estivesse preocupado com as questões humanas. Depreende-se, portanto, que
Grócio retira do Direito Natural o seu elemento teológico, laicizando-o. Há uma visão do Direito
Natural como fruto da razão humana.
• No século XIII, Santo Tomás de Aquino defendia uma concepção racionalista. No século XIV,
Guilherme de Occam defendia um voluntarismo teológico. Na qualidade de filósofo nominalista
(aquele que defendia a não existência de conceitos universais, ou seja, não haveria um gênero
“homem”, mas apenas os indivíduos), Guilherme de Occam não acreditava na existência de um
Direito Natural, na medida em que este seria algo absolutamente genérico; haveria, sim, uma lei
moral que procederia da vontade de Deus (e não da razão Deste, como dizia Santo Tomás),
exteriorizada nas Sagradas Escrituras.
• Com a reforma de 1517, o calvinismo, em parte influenciado pelas ideias de Guilherme de
Occam, sofreu forte oposição por parte dos tomistas e de Hugo Grócio, o qual, embora não fosse
tomista, também evocava uma espécie de racionalidade: a humana.
• No jusnaturalismo antigo e medieval, a primazia estava no aspecto objetivo, ou seja, havia uma
lei natural, à qual os homens deveriam se adequar. Ao contrário, no jusnaturalismo moderno, a
primazia passou a estar no aspecto subjetivo, isto é, defendia-se a existência de direitos naturais
inatos, que deveriam ser respeitados pelas leis.
- O crepúsculo (ocaso) do Direito Natural (século XIX e primeira metade do século XX)
• No positivismo filosófico de Comte, não havia espaço para um Direito Natural. Tratava-se de
pensamento anti-metafísico e empirista, que não aceitava o raciocínio dedutivo.
• Na escola de Exegese francesa, também predominava uma visão anti-metafísica, anti-
jusnaturalista e estatalista, segundo a qual direito é apenas aquele criado pelo Estado (códigos0
ou, no máximo, permitido por ele (direito costumeiro). Havia, inclusive, a defesa do dogmatismo
legal (autossuficiência dos códigos) e da subordinação à vontade do legislador. Não sendo um
direito empirista, o Direito Natural não tinha lugar no século XIX.
• A escola histórica do Direito, da mesma forma, também se afastava as ideias jusnaturalistas, na
media em que entendia o Direito como produto da história e do espírito dos povos.

• Com o normativismo kelseniano, há um rompimento da dicotomia Direito Positivo x Direito


Natural. Segundo Kelsen, não haveria que se falar no segundo, pois só existiria o primeiro.
- O renascimento do Direito Natural
• Com o nazismo, passa a haver uma discussão no sentido de que o Direito deve obedecer à
parâmetros superiores, que seriam dados por um Direito Natural, o qual também foi evocado
quando do julgamento dos criminosos de guerra.
27 de outubro e 1º de novembro de 2016

O Normativismo de Kelsen

- Kelsen pode ser considerado um cético moral.


- O positivismo ideológico afirma que, se uma regra constitui uma norma de um sistema jurídico,
ela tem uma força moral obrigatória. O positivismo conceitual ou metodológico, por sua vez,
defende a ideia de que o conceito do direito deve levar em conta somente propriedades
descritivas, e não valorativas.
- O positivismo conceitual, diferentemente do positivismo ideológico, que sobrepõe a validade das
normas e o valor destas, faz uma distinção entre ambos os conceitos, consistindo num método de
identificação de normas.
- Segundo Carlos Santiago Nino, não poderiam ser enquadrados na primeira categoria os
principais positivistas, quais sejam Bentham, Austin, Hart, Ross, Bobbio e Kelsen, os quais
aceitam a segunda tese. Isso não significa, todavia, que estes positivistas não divirjam entre si:
Kelsen e Ross, por exemplo, não são cognitivistas éticos, ao passo que Bentham a Austin o são.
- Os jusnaturalistas, além de defenderem a existência de princípios morais dotados de caráter
universal, também entendem que uma norma não pode ser qualificada de jurídica caso venha a
contrariar os princípios de moralidade e de justiça. A primeira concepção não é de todo
confrontada pelo positivismo conceitual, tanto que Bentham e Austin, inclusive, concordam com
ela. Já o segundo entendimento, de fato, é bastante combatido pelo positivismo conceitual.
- Segundo García Amado, a Teoria Pura do Direito de Kelsen foi objeto de três falsidades:
• Atribuição à Kelsen de ideias típicas da hermenêutica do século XIX (Escola de Exegese): ao
contrário do chamado “método da subsunção” (aplicação mecânica da lei), Kelsen entende que,
obedecendo uma “moldura” traçada pela norma jurídica, o juiz decide de forma valorativa.
• A Teoria de Kelsen estaria impregnada de autoritarismo estatista: a ideia do Estado como entidade
fática e criadora Direito não é defendida por Kelsen, o qual entende que o Estado é, ele próprio,
uma ordem jurídica.

• Defesa da obediência do Direito injusto: Kelsen nem mesmo entra neste mérito, se limitando a
defender a existência de um dever jurídico de obedecer a norma.
3 a 10 de novembro de 2016

A Ética de Kant

- Kant resume o seu processo filosófico (“O que é o homem?”) em três perguntas:
• “O que posso saber?”
a. Em Kant, tudo parte da teoria do conhecimento (gnoseologia). Diferentemente de Wolf
(dogmatismo) e Hume (ceticismo), Kant desenvolveu uma posição metodológica própria,
denominada criticismo e caracterizada por uma análise crítica do processo de conhecimento,
com total centralidade no sujeito (até então, a Filosofia esteve muito mais preocupada com o
objeto). Existem, no entanto, limitações inerentes ao próprio sujeito, isto é, o sujeito não
apreende a realidade / essência última das coisas (“as coisas em si”) porque seu conhecimento
ocorre em função das suas limitações sensoriais. Desse modo, o que homens conhecem é uma
representação das coisas a partir da forma como estas se apresentam (o espaço e o tempo, por
exemplo, seriam realidades que estariam mente do sujeito e que permitiriam-no apreender o
mundo físico).
b. Kant afirma que a matéria de nosso conhecimento vem da experiência, do mundo exterior, por
meio de nossos sentidos. Contudo, essas informações vêm de uma forma desconexa, pois na
experiência não existem as noções de causa e efeito, por exemplo, que poderiam servir para
organizar esses dados. Assim, existem em nós formas de sensibilidade e formas do
entendimento. Por meio das formas da sensibilidade, temos acesso ao mundo exterior, e pelas
formas do entendimento construímos conceitos, com base nesse contato sensível com o mundo.
• “O que devo fazer?”
• “O que posso esperar?”
- Teorias deontológicas x Teorias teleológicas.
• As teorias deontológicas dão primazia ao dever em detrimento do bem (ética de Kant), ou seja, a
correção moral de um ato depende de sua valia intrínseca. Há uma crença na racionalidade
humana, a qual, embora seja única, pode ser didaticamente dividida em razão teórica (nos permite
conhecer o universo e o mundo físico) e em razão prática (nos permite conhecer a lei moral).
a. O grande esforço de reflexão filosófica que Kant empreende tem o objetivo de estudar um
âmbito teórico (o que ocorre de fato no universo, como a rotação dos planetas em volta do Sol)
e um âmbito prático / moral (o que pode ocorrer por ação livre dos seres humanos). Tanto no
âmbito teórico quanto no prático, é possível que o homem saia da ignorância e rompa com a
superstição, se ele for capaz de disciplinar filosoficamente a sua reflexão.
b. A razão pode conhecer como é o mundo físico e moral, não podendo, contudo, responder às
perguntas: Como foi a origem do mundo? Deus existe? A alma é imortal?
c. “Duas coisas que me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e
frequentemente o pensamento dela se ocupa: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de
mim.” (Kant)
• As teorias teleológicas dão primazia ao bem em detrimento do dever. Embora todas teorias
utilitaristas sejam teleológicas, nem toda teoria teleológica é utilitarista, como é o caso das teorias
de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino. O utilitarismo procura a maximização do bem-estar
geral, sendo possível o sacrifício de deveres e direitos individuais em prol de tal objetivo.
- Kant repudia o utilitarismo. Só porque uma coisa proporciona prazer a muitas pessoas, isso não
significa que possa ser considerada correta. O simples fato de a maioria, por maior que seja,
concordar com determinada lei, ainda que com convicção, não faz com que ela seja justa. O
argumento mais fundamental de Kant é o de que basear os princípios morais em preferências e
desejos (até mesmo o desejo da felicidade) seria um entendimento equivocado do que seria
moralidade. Embora fosse cristão, Kant não fundamenta a moralidade na autoridade divina, mas
argumenta que podemos atingir o princípio supremo da moralidade por meio do exercício
daquilo que ele denomina “pura razão prática”.
- Princípios morais
• Em Santo Tomás de Aquino, os princípios morais são heterônomos porque exteriores ao homem.
Em Kant, os princípios morais são autônomos porque dados pelo próprio homem a si mesmo,
com abstração dos ditados de certa autoridade humana ou divina e dos ditados dos próprios
desejos ou impulsos. Em outras palavras, a valia das ações (correção moral) é mais importante do
que as consequências destas; o que importa é fazer a coisa certa porque é a coisa certa, e não por
algum outro motivo exterior a ela (exemplo do comerciante e da criança e da caridade).
• Os princípios morais são, ainda, segundo Kant, absolutos / categóricos porque não comportam
exceções ou acomodações de qualquer espécie, motivo pelo qual, por exemplo, existiria um dever
moral de falar a verdade em toda e qualquer circunstância.
• Por fim, os princípios morais são universais porque vigoram em todos os tempos para todos os
seres racionais, independentemente de seus desejos, impulsos ou apetites.
- Imperativo hipotético
• Os imperativos hipotéticos são sempre condicionais, ou seja, há uma hipótese e um enunciado. Se
a ação for boa apenas como um meio para atingir determinada coisa, o imperativo será hipotético
(o Direito é considerado um imperativo hipotético porque não possui uma validade intrínseca).
• O imperativo hipotético será uma norma técnica quando se objetivar um fim particular e
contingente (por exemplo, “se quiser passar no vestibular, estude com afinco”), ao passo que será
uma norma de prudência quando o fim for universal e necessário (por exemplo, “se quiser ser
feliz, cultive boas amizades”).
- Imperativo categórico
• Os imperativos categóricos são incondicionais, ou seja, há apenas a regra. Se a ação for boa em si,
e, portanto, necessária para uma vontade que, por si só, esteja em sintonia com a razão, o
imperativo será categórico. Em outras palavras, há um comando sem referência e sem
dependência de nenhum outro propósito, motivo pelo qual apenas um imperativo categórico,
segundo Kant, pode ser considerado um imperativo da moralidade.
• “Aja apenas segundo um determinado princípio que, na sua opinião, deveria constituir uma lei
universal”, ou seja, só se deve agir de acordo com os princípios que podem ser universalizados
sem contradição.
a. Seria moralmente aceitável conseguir um empréstimo fazendo uma falsa promessa de que
devolveria o dinheiro em pouco tempo, promessa essa que sei que não poderei cumprir? Uma
falsa promessa poderia ser coerente com o imperativo categórico? Ao tentarmos universalizar
essa máxima e, ao mesmo tempo, agir de acordo com ela, descobriremos uma contradição: se
todos fizerem falsas promessas sempre que precisarem de dinheiro, ninguém mais acreditará
nessas promessas. Na verdade, não haveria promessas; a universalização da falsa promessa
eliminaria a instituição do cumprimento da promessa.
• “Aja de forma a tratar a humanidade, seja na sua pessoa, seja na pessoa de outrem, nunca como
um simples meio, mas sempre ao mesmo tempo como um fim.” Pessoas são seres racionais, não
possuindo apenas um valor relativo, mas também um valor absoluto, intrínseco (dignidade).
a. Quando prometo a uma pessoa pagar-lhe o dinheiro que espero conseguir emprestado, sabendo
que não poderei fazê-lo, eu a estou usando como um meio para resolver um problema
financeiro e não a estou tratando como um fim em si mesma, merecedora de respeito.
- Boa vontade
• Em Kant, a única coisa incondicionalmente boa é a “boa vontade”, no sentido de vontade de
obedecer a lei moral, independentemente do seu proveito ou desvantagem. A boa vontade não é
boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de determinado fim, mas apenas pelo
querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida
em valor infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em
proveito de alguma inclinação. A conformidade absoluta das intenções à lei moral corresponde à
virtude e torna o indivíduo digno da felicidade.

• Boa vontade é a vontade que, não só é conforme o dever, mas também pelo dever, determinada
única e exclusivamente pela razão. Em outras palavras, a boa vontade é a vontade da pessoa que
cumpre o seu dever, não porque é do seu interesse ou porque possui uma inclinação para tanto,
mas porque, simplesmente, é o dever, cuja validade intrínseca pode ser identificada por qualquer
homem (mais uma vez, o exemplo do comerciante e da criança).
• Três teses resumem a boa vontade kantiana:
a. A única coisa boa moralmente, sem restrições, é a boa vontade.
b. A boa vontade é a vontade de agir por dever.
c. A ação moralmente boa é aquela que se realiza, de acordo e pelo dever.
• Diferentemente da boa vontade, a inteligência não é boa em si mesma porque pode ocasionar
situações moralmente ruins (criminoso inteligente x criminoso rude).
- Postulados da razão prática kantiana
• Liberdade: se cumpríssemos o dever moral porque estamos programados biologicamente para tal,
que valia teria nosso ato moral? A nossa prática só tem valor moral porque somos livres e, sendo
livres, optamos pelo dever, ou seja, os homens são livres para cumprir o dever moral.
• Existência de Deus e imortalidade da alma: embora o dever deva ser feito em função do próprio
dever, e não em função da felicidade (utilitarismo), Kant entende que seria intolerável se os
homens virtuosos (que cumprem o seu dever moral) não fossem recompensados pela felicidade.
Como é fato que, no mundo em que vivemos, nem sempre a virtude é recompensada, a
moralidade pressupõe necessariamente a existência de Deus e a imortalidade da alma, de modo
que, não vindo a recompensa neste mundo, ela viria no próximo.

17 a 24 de novembro de 2016

O Liberalismo Político de Rawls

- Construtivismo político: em Santo Tomás de Aquino, os homens ascendem racionalmente aos


princípios morais (intuicionismo racional). Já em Kant, os sujeitos racionais constroem os
princípios morais, os quais regem toda a moralidade do indivíduo (construtivismo moral). Por
fim, em Rawls, os sujeitos racionais também constroem os princípios morais, os quais, todavia,
se direcionam à vida da pólis, à moralidade pública (construtivismo político).
- Rawls tem uma concepção de pessoa, que se vincula a um processo de construção para se chegar
aos princípios de justiça. Em outras palavras, entre os princípios de justiça e a concepção de
pessoa, há a mediação de um processo de construção, que Rawls chama de “posição original”.
• A concepção de pessoa de Rawls é a seguinte: as pessoas são livres, iguais, razoáveis (capazes de
ter um senso de justiça e de se adequarem a ele) e racionais (possuem uma concepção própria do
seu bem e um plano de vida racional).
• A posição original não tem existência concreta (situação “contra-fática” e não histórica), sendo
um ponto de vista distanciado (imparcial) a partir do qual se pode fazer um acordo justo entre
pessoas livres e iguais. Em outras palavras, a posição original é uma situação hipotética na qual as
partes contratantes escolhem, sob um véu de ignorância, os princípios de justiça que devem
governar a estrutura básica (principais instituições) da sociedade.
• O véu de ignorância de que trata Rawls “cobre” as partes na posição original, tirando-lhes a visão
e garantindo a imparcialidade, pois, em caso contrário, aquelas certamente escolheriam princípios
de justiça que lhes beneficiassem. Na posição original, sob o véu da ignorância, as partes
desconhecem sua posição de classe ou status social, sua sorte na distribuição de talentos e
capacidades naturais, suas características psicológicas, sua concepção do bem e a situação
particular da sociedade da qual fazem parte, sendo, portanto, capazes de escolherem princípios de
justiça imparciais.
• Rawls entende que, como o acordo é justo, visto que as partes estão, na posição original, cobertas
por um véu de ignorância, os princípios daí decorrentes serão obrigatoriamente justos (justiça
procedimental pura).
- Princípios de justiça
• “Cada pessoa tem direito igual a um sistema plenamente adequado de liberdades e de direitos
básicos iguais para todos, compatíveis com um mesmo sistema para todos [princípio da
liberdade]. As desigualdades sociais e econômicas devem preencher duas condições: em primeiro
lugar, devem estar ligadas a funções e a posições abertas a todos em condições de justa
igualdade de oportunidades [princípio da igualdade equitativa de oportunidades]; e, em segundo
lugar, devem proporcionar a maior vantagem para os membros mais desfavorecidos da sociedade
[princípio da diferença].”
• O princípio da liberdade é pressuposto para a realização do princípio da igualdade equitativa de
oportunidades, o qual, por sua vez, o é para o princípio da diferença. O princípio da liberdade é
prioritário e exige a aplicação imparcial das liberdades fundamentais a todos os indivíduos, quais
sejam a liberdade política, de pensamento de consciência, de expressão, de reunião e da pessoa
(integridade física e psicológica), bem como a proteção contra a prisão arbitrária e o direito à
propriedade privada dos bens pessoais.
• “Os princípios de justiça são passíveis de se adequar tanto a um regime econômico capitalista
quanto a um regime econômico socialista”: segundo Rawls, a propriedade privada dos bens de
produção não é uma liberdade fundamental, na medida em que, no socialismo, ela não existe. Em
outras palavras, por não ser possível em ambos os sistemas econômicos, a propriedade privada
dos bens de produção, embora possa existir, não é uma liberdade fundamental.
• Em Rawls, as liberdade básicas podem ser regulamentadas (e é razoável que sejam), mas não
podem ser restringidas. A restrição de determinada liberdade só poderia ser admitida se fosse
necessária para salvar a própria liberdade (por exemplo, o partido nazista é proibido pois, caso
chegasse ao poder, uma de sua medida seria o fechamento do Parlamento).
• O princípio da igualdade equitativa de oportunidades não se confunde com a noção segundo a
qual as carreiras estão abertas aos talentos. Em outras palavras, o referido princípio não pode
levar à existência de uma sociedade meritocrática, salvo se as desigualdades econômicas e sociais
reverterem em prol dos mais desfavorecidos (lembrar do exemplo das diferenças salariais); caso
contrário, a sociedade será ilegítima.

• Rawls entende que os indivíduos não possuem mérito moral por terem determinados talentos, os
quais, por serem bens comum, devem ser revertidos para a sociedade.
• Ex: há um padrão A de distribuição, no qual cada pessoa recebe quatro salários mínimos, e um
padrão B de distribuição, no qual a pessoa 1 recebe cinco salários mínimos, a pessoa 2 recebe seis
salários mínimos, a pessoa 3 recebe sete salários mínimos e assim por diante. Rawls entenderia
que o padrão B seria mais justo, na medida em que a pessoa que está em pior situação (pessoa 1)
está melhor do que estaria numa sociedade na qual vigorasse o padrão A de igualdade absoluta
(maximização da porção mínima).
- A retomada da razão prática
• A ética pode ser dividida em ciência da moral ou ética descritiva, ética normativa, ética analítica
ou metaética e ética aplicada.
• Ética normativa: é a parte da ética que indaga o que certo, o que é bom e o que é obrigatório, ou
seja, a ética normativa é o estudo das várias correntes de determinação da ação correta,
respondendo a perguntas como “o que devemos fazer?” (Kant) e “qual a melhor forma de
viver?” (Aristóteles). Em suma, no âmbito da ética normativa, nós formulamos juízos de valor,
determinando, efetivamente, que coisas são justas e boas.
a. São três as principais correntes da ética normativa, quais sejam a ética das virtudes aristotélico-
tomista, a ética do dever de Kant e a ética utilitarista. É possível falar, ainda, numa quarta
corrente da ética normativa, denominada ética do mandamento divino.
b. A ética normativa é o núcleo mais importante da ética, podendo ser chamada, também, de ética
substancial. Seu objeto é a determinação de princípios básicos de justiça e, mais genericamente,
de moralidade. Quando Santo Tomás de Aquino fala que “deve-se fazer o bem e evitar o mal”,
bem como quando Kant estabelece o imperativo categórico para avaliação da máxima das
ações, nós estamos no campo da ética normativa.
• Ética analítica ou metaética: é uma aplicação à ética da filosofia analítica. Esta, por sua vez,
reduziu a filosofia a um estudo da linguagem da ciência, ou seja, para um filósofo analítico, a
filosofia é simplesmente uma metodologia da ciência. Deste modo, analogamente, para um ético
analítico ou metaético, a ética consiste no estudo da linguagem da moral (o que é o bom, o
correto, o justo e o dever?) e na discussão do caráter dos juízos de valor (seriam estes descritivos
e empiricamente verificáveis?).
• Rawls, inquestionavelmente, foi um liberal igualitário, defensor do Estado de bem estar social.
Segundo Dworkin, também um liberal igualitário, para os liberais, a justiça deve ser independente
de qualquer concepção a respeito da excelência humana ou da vida boa, na medida em que, em
um modelo liberal de sociedade, é o próprio indivíduo que sabe a sua concepção acerca da
excelência humana e da vida boa (a sociedade não impõe aos indivíduos qualquer ideal).
• Em Rawls, há um compromisso (conciliação) entre os ideais de liberdade e igualdade,
diferentemente de Nozick, que dá uma total primazia à liberdade, e de Dworkin, que vê na
igualdade o cerne do liberalismo.
• O obra de Rawls A Theory of Justice (1971) trouxe muitas inovações, dentre as quais a tentativa
de reconciliação de duas faces da teoria política tradicional que estavam distanciadas: o estudo do
desejável e o estudo do exequível. No século XX, a economia e a ciência política restringiram seu
domínio ao terreno dos fatos (exequibilidade), não se envolvendo com questões de desejabilidade,
ao passo que a Filosofia caracterizou-se justamente por fazer o contrário. No seu livro, Rawls
preocupa-se tanto com aquilo que é desejável (formulação de princípios de justiça que devem
reger a sociedade) quanto com o que é exequível (estabilidade das estruturas sociopolíticas que
serão adequadas aos princípios de justiça).
• No final do século XIX e início do século XX, três razões teriam levado ao predomínio do
discurso metaético (o qual, em regra, afasta a possibilidade de uma razão prática), em detrimento
das questões relacionadas à ética normativa.
a. Intuito de esclarecer a linguagem moral: achava-se que, em ética, as discussões eram, muitas
vezes, provenientes do descordo em relação aos termos morais, ou seja, por exemplo, para se
discutir se determinado fato era ou não justo, antes deveria haver um conceito do que é justo.
b. Obsessão pela neutralidade (epistemologia weberiana): a ciência deveria preocupar-se apenas
com juízos de fato ou de realidade, que têm uma comprovação empírica, e não com juízos de
valor de caráter estético ou ético.
c. Complexo de “grilo falante”: os filósofos não queriam ser confundidos com moralistas (“grilos
falantes”) e, por isso, teriam abandonado a prescrição de juízos de valor.
• Importante ressaltar que nem todos os filósofos metaéticos abandonaram por completo a ética
normativa, como nos casos de Moore, Stevenson e Hare.
• Ayer, mais radical e influenciado pelas ideias de Hume, Russell e Wittgenstein, entendia ética
como sinônimo de metaética, afastando totalmente a ética normativa. Para o autor, somente duas
proposições teriam um caráter significativo: as analíticas (formuladas a priori e nas quais o
predicado nada acrescenta ao sujeito) e as empíricas (formuladas a posteriori e nas quais o
predicado acrescenta algo ao sujeito). As proposições éticas, não sendo analíticas e nem
empíricas, não teriam significado cognoscitivo, constituindo-se em “pseudojuízos” (Ayer é o que
se chama de emotivista ético, para quem qualquer juízo ético seria uma descrição de emoções).

• No século XX, Rawls, ao mesmo tempo em que desafiou o predomínio da metaética através da
proposição de uma volta da ética normativa, também procurou construir uma alternativa ao
pensamento utilitarista que dominava o cenário anglo-americano, no âmbito da própria ética
normativa. Em outras palavras, Rawls enfrentou o ceticismo em relação da possibilidade de
fundamentar racionalmente a moral.

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