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"A constatação que a leitura melhora alguns problemas é clinica. Ou seja, foi percebida
nos pacientes, sem que houvesse uma ideia exata de como isso ocorria. O hábito de ler
ajuda na atividade cerebral: lentifica as ondas cerebrais induzindo a um estado de mais
relaxamento e estimula a memória; além da influência do conteúdo da leitura"
Baseados nessa observação, esses psiquiatras conseguiram um incentivo para dar acesso à
leitura a todos os pacientes, ao mesmo tempo que começaram a investigar o efeito da leitura
em alguns problemas psiquiátricos. Na sua investigação, soldados, que tinham um problema
comum nas guerras, chamado estresse pós-traumático, também se beneficiaram da leitura de
livros. Isso popularizou esse tratamento entre médicos militares.
Hoje em dia a VA (Veterans Administration) entidade que cuida da saúde dos militares norte-
americanos possui um extenso manual de biblioterapia, com indicação para várias doenças
psiquiátricas, além de disponibilizar biblioterapêutas para seus pacientes. No material da VA há
indicação de uso da leitura específica para tratar depressão, ansiedade, distúrbio bipolar,
transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, dependência química, programas de bem-
estar, prevenção de várias doenças, distúrbios sexuais, e obviamente, em estresse pós-
traumático.
Biblioterapia tem sido proposta para o tratamento de vários outros problemas de saúde além
das doenças psiquiátricas. Uma das áreas onde há um forte benefício para o emprego da
leitura é nos distúrbios do sono. Numa época onde os meios eletrônicos se expandem cada
vez mais, e há indícios que essa expansão possa ter relação com o aumento dos casos de
insônia e distúrbios do sono, resgatar a importância da leitura para regularizar o ritmo do sono
é um avanço.
Talvez a primeira referência do uso da leitura no tratamento de insônia seja a lenda das mil e
uma noites. Nela a princesa Xerazade, estaria condenada a morrer, porque o Rei Persa Xariar
mandava decapitar todas esposas na noite seguinte às núpcias temendo uma traição. Ela
escapa da morte contando histórias que fazem o rei dormir. Ansiando para saber o final de
cada história, e agradecido por ela ter resolvido sua dificuldade de dormir, ele poupa a vida da
princesa dia após dia contabilizando mil e uma noites, até que ele desiste da execução. Hoje
em dia muitos especialistas em sono têm recomendado aos portadores de insônia para evitar
televisão e computador no final do dia, trocando pelas páginas de um bom livro. As evidências
são que ler a noite ajuda a reduzir a atividade cerebral, o que auxilia a conciliar o sono.
Para ter alguns benefícios da leitura, basta começar a ler um bom livro todos os dias. Mas
quando se trata de um tratamento com biblioterapia, a estratégia é mais complexa, e exige uma
participação fundamental do terapeuta. No tratamento o terapeuta escolhe os livros que o
paciente vai ler – que ele conhece o conteúdo – para, em seguida, conversar sobre os
conteúdos lidos. O paciente pode receber uma recomendação de reler o texto, em situações
específicas. Ele pode também ser estimulado a escrever ou desenhar sobre os conteúdos
lidos. As vezes o biblioterapeuta pode ler os conteúdos para o paciente.
Não somente o ato de ler é benéfico, mas os conteúdos também são importantes para os
resultados esperados. A prática da biblioterapia está em escolher conteúdos, tipos de texto,
tamanho e ritmo de leitura, adequados, para o resultado esperado. Por exemplo, a leitura
adequada para insônia é mais lenta e repetitiva. Não é adequado propor um texto excitante de
um romance para isso. Por outro lado, muitas ficções romanceadas podem ajudar na
elaboração de conflitos pessoais, e por isso estão indicadas em diferentes problemas
psiquiátricos. Alguns psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente
adaptação a poesias e outros textos altamente simbólicos.
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Livros de autoajuda na área médica vendem horrores por uma razão muito
simples: eles funcionam.
Jornal Folha de São Paulo - por Hélio Schwartsman
Num trabalho publicado em 2004 no periódico “Psychological Medicine”, Peter den Boer
e seus colegas da Universidade de Gronigen, na Holanda, compararam vários estudos que
avaliaram a eficácia de livros de autoajuda (biblioterapia) em casos clínicos de ansiedade
e depressão.
Esses resultados estão em linha com o que foi apurado em outras metanálises feitas
principalmente nos anos 90, e também com as conclusões de uma força-tarefa que a
Associação Psicológica Americana (APA) montou em fins dos anos 80.
Antes, porém, de trocar seu psiquiatra (R$ 400 a sessão) e seu Prozac (R$ 145 a caixa
com 28 cápsulas) por um livro (R$ 19,90 o exemplar de “Como Curar a Depressão”, Ed.
Sextante), convém fazer algumas ponderações sobre esses achados.
E, como os remédios, livros errados envolvem alguns riscos. Num trabalho publicado em
2008 em “Professional Psychology”, Richard Redding e colegas avaliaram 50 obras
relativas a transtornos de ansiedade, depressão e trauma de alta vendagem nos EUA.
Como era de esperar, a qualidade e os problemas variam muito. Há desde aqueles livros
que apenas esquecem de avisar que o tratamento pode falhar (50% dos títulos) até os que
dão conselhos capazes de provocar efeitos adversos (18%).
A boa notícia é que, prestando atenção a alguns poucos itens, como se o autor é um
profissional de saúde mental e se tem títulos acadêmicos, é possível fugir das piores
arapucas. Em princípio, essa regra deve valer também para o Brasil.
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AA
Há uma nova terapia para depressão no Reino Unido e, a melhor parte, é que além de "low-cost"
não apresenta efeitos secundários. É chamada de "Biblioterapia" e faz jus ao nome: em vez de
fármacos, são prescritos livros. Isso mesmo: livros. É que, de acordo com alguns especialistas, além
de fomentar a empatia, a leitura pode ajudar os pacientes a superar as suas fragilidades
emocionais.
E sendo uma prescrição — e não apenas uma recomendação — há que seguir as indicações do
médico rigorosamente, depois de "aviar" a receita na biblioteca. Até porque não existem efeitos
secundários: "Ao contrário dos fármacos, ler um livro não acarreta efeitos secundários como o
ganho de peso, a diminuição do desejo sexual ou as náuseas", sublinha Price.
"Ler melhora a saúde mental e é difícil pensar na existência de malefícios quando se fala de um
programa como este", defende a investigadora. Por isso mesmo, tem cativado cada vez mais
adeptos. Ainda que não existam, para já, números oficiais sobre a sua verdadeira eficácia, a
investigadora adianta que, só nos primeiros três meses do programa, foram feitas mais de 100 mil
requisições dos livros de auto-ajuda recomendados.
Esta, porém, não é a primeira vez que o Serviço Nacional de Saúde britânico aposta neste tipo de
programas, numa forma de reconhecimento da importância dos livros. Uma outra iniciativa,
denominada "The Reader Organisation", por exemplo, reúne pessoas desempregadas, reclusos,
idosos ou apenas solitários para que, todos juntos, leiam poemas e livros de ficção em voz alta.
A "Biblioterapia" foi desenvolvia com base numa investigação do psiquiatra Neil Frude, em 2003,
que concluía precisamente que os livros tinham potencial para se assumir como substitutos dos anti-
depressivos. Ao acompanhar o percurso dos seus pacientes, Frude rapidamente percebeu que
estes compensavam a frustração da espera pelos primeiros efeitos dos fármacos — que podia durar
anos — com a leitura, como forma de entretenimento.