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Editorial
Luciano Lannes
Editor
Caros leitores,
Conflitos, ahhh os conflitos. São tantos, de tantas cores, nuances, tamanhos
e intensidades. Como despertam emoções, como por vezes nos tiram do eixo,
turvam a visão, a racionalidade, bloqueiam a audição, intensificam posições,
cristalizam crenças.
Aprender a lidar com eles é a disciplina de uma vida. Pelo menos para mim foi e é
assim. Comecei neste caminho há quase 20 anos. Fiz uma das primeiras formações
em CNV dadas pelo Dominic Barter, pessoa incrível que trouxe a CNV para o Brasil
e com ela uma nova forma de olhar e lidar com os conflitos. De lá para cá, cada vez
mais vemos pessoas trabalhando o tema, tanto que o número de cursos e grupos
de estudo cresceram em uma escala fantástica, o que me dá uma esperança muito
grande em um futuro melhor.
Tivemos a edição 42 de novembro de 2016 falando sobre Coaching de Conflitos,
a 55 de dezembro de 2017 com um artigo “O caminho do “U” no Coaching e na
Mediação de Conflitos”, a 61 de junho de 2018 sobre CNV e a 75 de agosto de
2019 com o artigo “Dinâmicas Humanas, Performance e Gestão do Conflito”.
Uma busca em nosso acervo aponta 177 artigos que trazem a questão “conflito”.
Não posso pensar em pessoa melhor para coordenar uma edição abordando
o tema do que Ana Paula Peron. Ela vem estudando esta questão tão humana
há muitos anos e buscando formações e mais formações para abastecê-la de
subsídios para compreender melhor e propor formas cada vez mais simples,
orgânicas e factíveis de lidar com nossos conflitos.
“O conflito é, em sua essência, uma oportunidade para que sejam mais bem
observadas as certezas. Esta mudança de perspectiva pode ser uma ponte para
uma experiência de conflito que amplia, inclui, transcende e flui. Uma cultura que
acolha o conflito como uma possibilidade de aprendizado promove relações de mais
confiança e maturidade”.
Que este dossiê possa ajudar também você a ampliar a visão sobre novas
possibilidades de ver, sentir e lidar com os conflitos.
Luciano Lannes
Editor
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Caro João, inicialmente compartilho contigo ser esta uma questão que
provoca mesmo muitas indagações sobre nossa atuação como coaches,
pois, isso nos coloca em um contexto aonde nossa vulnerabilidade é
colocada em cheque e questionamos que caminhos seguir e como
lidamos com informações que recebemos de outras fontes que não a
do próprio coachee. Leio nas entrelinhas, sua preocupação sobre sua
capacidade profissional.
Referência bibliográfica:
Brown, Brené – A Arte da Imperfeição – Abandone
a pessoa que você acha que deve ser e seja você
mesmo – Editora Novo Conceito - 2012
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Palavras chave:
#aprendizado #coaching #coachee
#coach #investimento #etica
Apresentando a turma
Coordenação de Ana Paula Peron
Cocriadora do Programa Lapidar- “um caminho precioso para relações
mais saudáveis e sustentáveis”, educadora, coach executiva e consultora
em desenvolvimento de pessoas e equipes. Mediadora de conflitos
organizacionais certificada pela ICFML, utiliza em sua atuação
Processos Mediativos, Tecnologias de Conversação, Comunicação Não
Violenta e Processos Circulares, entre outras abordagens.
anapaula.peron@lapidar.me
A cada um dos meus amigos queridos que escreveu artigos para este dossiê eu
agradeço imensamente por sua contribuição generosa:
Thaís Silva e Luiz Everardo que nos trouxeram, em primeira mão, análises e preliminares
da terceira edição da pesquisa ABRH_2019 realizada pelo grupo de estudos sobre
conflitos nas organizações desta entidade, cujo propósito é compreender, medir e
saber como os profissionais de RH e gestores de diversas áreas enxergam o tema
Conflitos nas Organizações, e principalmente se o papel do RH está claro nesse
processo.
Fernanda Levy, com sua imensa experiência com o tema, convida a alta gestão a
enfrentarem seus conflitos positivamente atuando proativamente na prevenção do
agravamento dos mesmos. Propõe algumas ações possíveis e nos provoca com uma
proposição da criação de uma rede multidisciplinar, interna e externa à empresa,
formando uma equipe de trabalho sobre as bases da confiança, promovendo uma
nova cultura de abordagens do conflito.
Fátima Patz, minha grande companheira de muitas formações. Experiente mediadora
de conflitos e na gestão de projetos, faz uma conexão entre gestão das mudanças e
conflitos e sugere o modelo do círculo dos conflitos apresentado pelo Christopher
Moore como uma fonte de reflexão e abordagem.
Denise Manfredi apresenta uma excelente abordagem sobre os custos dos conflitos
para as organizações diferenciando e analisando cada tipo de custo e apresenta o
coaching de conflitos como uma abordagem de solução dos mesmos.
Marcelo Girade, mediador e grande especialista em negociação fala sobre as novas
tecnologias de resolução de conflitos, mais especificamente sobre o Método Harvard
de Negociação e a forma efetiva de utilizá-los, que aumentam enormemente as
chances de ter melhores resultados nas interações negociais.
Terminamos com meu artigo sobre um modelo de Liderança Mediadora abordado por
Marc Gerzon que convida os líderes das empresas a observarem seu potencial como
transformadores dos conflitos em oportunidades de crescimento e desenvolvimento
de suas equipes.
Desejamos que você aproveite muito este dossiê feito com muito carinho a aproveito
para convidar você leitor a buscar o número 41 da revista coachingbrasil que contém
um outro dossiê sobre este tema apaixonante: Conflitos e suas possibilidades.
Transformar, mediar, negociar, conciliar, solucionar conflitos serão ações cada vez
mais necessárias para estes tempos que nos convidam a estabelecer relações mais
saudáveis e sustentáveis.
Leia em 13 min.
LÍDER MEDIADOR
Um modelo precioso para
resultados mais sustentáveis.
1. Visão Integral: é o compromisso de manter todos os lados do conflito, com toda sua complexidade;
3. Presença: capacidade de aplicar todos os recursos mentais, emocionais e espirituais a fim de observar e
solucionar conflitos;
5. Conversação consciente: utilizar formas mais criativas, diversificadas e eficientes de comunicação, para
que cada um possa aprender mais sobre o conflito e sobre si mesmos;
6. Diálogo: porta de entrada para a solução de conflitos, pois maximiza a capacidade humana de ligação e
inovação, reduzindo o apego a posições, criando maior consciência sobre os interesses mais profundos e
abrindo caminho para relacionamentos mais fortes;
7. Ligação: é o processo de estabelecer alianças e parcerias, a partir da confiança, respeito, empatia, cora-
gem e colaboração;
8. Inovação: promover soluções inovadoras que criem novas opções a serem reconhecidas pelas partes
como forma de solucionar o conflito.
Assim, desenvolver as competências necessárias para exercer tal liderança é um desafio para profissionais,
que terão de lidar com cada vez mais conflitos à medida que as diferenças se encontram com decisões de
maior complexidade, maior velocidade em ambientes mais ambíguos e incertos.
Nessa perspectiva, as lideranças exercem papel determinante para promover uma cultura que se interesse
pelo tema dos conflitos e suas derivações e o coloque no centro das reflexões, proporcionando análises
realistas das situações que se impõem. Acreditamos que é possível superar a superficialidade, apostando e
transmitindo segurança, equilíbrio e competência para lidar com a realidade sob uma abordagem efetiva e
competente em negociações inteligentes e profundas.
Referências:
BURBRIDGE, Marc, e BURBRIDGE, Anna. Gestão de conflitos: desafios do
mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012.
GERZON, Mark. Liderando pelo conflito: como líderes de sucesso transformam
diferenças em oportunidades. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006
Leia em 14 min.
Referências:
BURBRIDGE, Marc, e BURBRIDGE, Anna. Gestão de conflitos: desafios do mundo corporativo. São
Paulo: Saraiva, 2012
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar – Duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011
Mudanças nas
Leia em 13 min.
Empresas,
seus conflitos
e estratégias
para superar
Trabalhei por muitos anos com projetos de tec- acontecem tensões, discórdias e conflitos, em
nologia da informação e consequentemente diversas escalas de interação e consequências.
com suas mudanças. Neste período presenciei Ichak Adizes diz que para gerenciar uma organi-
os microcomputadores fazerem parte da vida zação é necessário decidir e implementar, e para
organizacional, a substituição de memorandos obter um critério de qualidade durante o pro-
em papel por emails, downsing, rightsizing, cen- cesso decisório é preciso uma equipe com perfis
tralização de atividades, descentralização de complementares e com interesses comuns na
atividades, reengenharia de processos, fusões e decisão. Ele afirma que os conflitos são intrín-
aquisições, redução de níveis da estrutura hie- secos ao próprio âmbito gerencial, sendo neces-
rárquica, a entrada da Internet, , comércio ele- sários e indispensáveis, segundo ele “só não há
trônico. Enfim, muita coisa! conflito quando não se tomam novas decisões,
Não vai parar por aqui, estão chegando a inte- ou quando não é preciso implementá-las... o que
ligência das coisas, a inteligência artificial, os só ocorre na morte”.
sistemas neurais, robotização, muitas ativida- Celine Villax e Vittal S. Anantatmula reforçam
des simples e rotineiras serão substituídas pelo que os conflitos são parte integrante dos pro-
avanço da tecnologia. Existe uma expressão em jetos, pois geralmente estão associados à com-
inglês denominada VUCA, vulnerável, incerto plexidade, às incógnitas, às mudanças nos requi-
(uncertain), complexo e ambíguo, assim é a rea- sitos, membros da equipe vindos de diferentes
lidade onde as empresas estão inseridas, preci- disciplinas, localizados em diferentes regiões
sando responder às necessidades dos clientes geográficas, prazos e orçamentos agressivos.
ou consumidores e aos desafios do ambiente Devem ser gerenciados de forma construtiva,
econômico-social. para que as equipes possam se desenvolver e
Pode-se dizer que é muito pouco provável que progredir ao longo da vida útil de um projeto.
as organizações realizem seus objetivos de ne- Na verdade, baixos níveis de conflito às vezes
gócio sem gerar mudanças comportamentais podem até ser prejudiciais ao sucesso do proje-
ou culturais, ou seja, alteração na forma das to. As equipes de projeto que não são estimula-
pessoas atuarem. Neste ambiente turbulento das por debates, discussões e diferenças saudá-
Referências
ADIZES, Ichak - Os Ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito
- 3ª. ed – São Paulo: Pioneira, 1996.
MONTES, Eduardo; PATZ, Fatima - Gerenciamento das partes interessadas: Como engajar as pessoas em seus projetos
– USA: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2018
MOORE, Christopher W., - The Mediation Process: practical strategies for resolving Conflict – 4th Edition – USA: Jossey-
Bass, 2014
ROBBINS, Stephen P. – Comportamento Organizacional - Stephen P. Robbins, Timothy A. Judge, Filipe Sobral; [tradução
Rita de Cássia Gomes] – 14º ed – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010
SCHEIN, Edgar H. – Cultura Organizacional e liderança – São Paulo: Atlas, 2009
VILLAX, C. & ANANTATMULA, V. S. (2010). Understanding and managing conflict in a project environment. Paper pre-
sented at PMI® Research Conference: Defining the Future of Project Management, Washington, DC. Newtown Square,
PA: Project Management Institute.
Leia em 12 min.
A mediação pode ser utilizada nos mais diversos âmbitos, e aqui, no contexto
das questões organizacionais internas, desponta como realidade em cenários
estrangeiros e já ganha aderência nacional, seja em abordagem clássica ou
por meio de suas técnicas, levada por mediadores externos e/ou mediadores
internos, incluída em um design amplo ou segmentado.
Há espaço crescente para o desenvolvimento de programas de prevenção e
gestão de conflitos organizacionais. Os desafios existem e, como apontamos,
vão desde o convite inicial que fazemos aos gestores para que sejam seus
propulsores até sua independência e autonomia enquanto programa
institucional. Desafios que instigam e que estão à nossa disposição para que
sejam compreendidos, aceitos e superados, em permanente movimento.
Fica aqui nosso convite.
Palavras-chave: Desenho de
programas, Prevenção, Gestão,
Conflitos Organizacionais, Mediação,
Alta gestão, Confiança.
Leia em 13 min.
Para entendermos melhor essa reflexão, vamos voltar um pouco no tempo. O ano de 1981
está para a área de resolução de conflitos, em termos de mudança de paradigma, assim
como o final da década de 1960 está para a evolução da comunicação mundial. O primeiro
e-mail da história foi enviado por um professor da Universidade da Califórnia para um
amigo na Universidade de Stanford no ano de 1969, marcando o início de uma nova era da
informação. Curiosamente, esse foi um avanço motivado por um cenário de guerra.
O auge da Guerra Fria, entre o fim dos anos sessenta e meados dos anos oitenta, foi o
palco, paralelamente, ao desenvolvimento de um novo método de negociação, fruto da
inquietação de um professor de Direito da Universidade de Harvard. Incomodado pela
perda de amigos na Segunda Guerra Mundial, pelas polarizações entre nações e pela forma
com que as pessoas buscavam resolver suas diferenças utilizando os tribunais, o professor
Roger Fisher deu início a uma pesquisa para investigar formas de resolver conflitos sem
ter que colocar em jogo o relacionamento entre as pessoas. Desse movimento, nasce o
chamado Método de Harvard de Negociação. Fruto de extensas pesquisas com líderes
de destaque à época, que conseguiam resultados mais vantajosos e perenes em suas
negociações, o método é uma síntese do que grandes negociadores faziam e fazem
para alcançar resultados superiores aos de seus pares. À medida que os EUA e a antiga
União Soviética aperfeiçoavam sua tecnologia armamentista, os professores Roger
Fisher, William Ury e Bruce Patton aperfeiçoavam uma tecnologia integrativa de resolver
diferenças e negociar de forma colaborativa, apresentada na obra “Como Chegar ao Sim”,
em 1981.
O método traz a resposta para um antigo dilema, presente em todas as situações onde
estão em jogo os nossos interesses e os interesses do outro. Competir ou Cooperar?
Satisfazer meus interesses, colocando em risco o relacionamento com o outro lado ou
ajudar meu oponente a satisfazer os interesses dele em detrimento dos meus? Forçar o
outro a fazer as minhas vontades ou ceder às vontades do outro? Pressionar para conseguir
um resultado importante para mim, mesmo que essa estratégia ameace a boa relação
que tenho com o meu interlocutor, ou ceder à pressão e ter ameaçados os resultados
que preciso alcançar, mas salvando a relação? Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton
responderam a essas perguntas com uma nova abordagem, baseada em quatro grandes
Hoje, mais do que nunca, precisamos fazer uma atualização em nossos modelos
mentais, nossas formas de ver o mundo e de atuar nele, sobretudo em nossas
relações. Manter-se obsoleto é uma escolha que cobra um preço mais elevado
Thais Silva
Psicóloga, Psicóloga, Coach, Consultora e Professora
com mais de 20 anos de atuação em consultoria de Re-
cursos Humanos. Facilitadora do Grupo de Pesquisa em
Gestão de Conflitos da ABRH-SP e membro do Grupo de
O que realmente
Excelência em Coaching do CRA-SP.
thais.c.o.silva@gmail.com
sabemos sobre
conflitos Leia em 6 min.
organizacionais
no Brasil?
Um conflito pode ser gerenciado? De que forma? de empresas nacionais (68%), aproximadamente
Quais as causas dos conflitos organizacionais? 27% de empresas multinacionais e 5% em
Qual o papel da área de Recursos Humanos organizações de caráter filantrópico, públicas
na resolução dos conflitos? Para responder a e startups. Consideramos que esse dado que
essas e outras questões relacionadas ao tema demonstra representatividade do mercado
conflitos nas organizações, a ABRH-SP vem nacional na distribuição das respostas.
promovendo, desde 2016, uma pesquisa junto Conflito não é um tema muito fácil de ser
aos seus associados e com divulgação ampla e tratado, tanto no âmbito organizacional, como
aberta a todo o mercado organizacional. no pessoal, pois ainda é visto, na maior parte
Ao perceber que no Brasil existiam poucos das situações, como algo ruim. Ainda há muito
estudos ou pesquisas sobre essas questões e preconceito e medo acerca do tema. Entretanto,
reconhecendo a relevância do tema surgiu a se bem tratado e gerenciado, pode fazer total
iniciativa em formar um grupo de estudos para diferença entre a solução para um problema e
desenvolver e compartilhar esse conhecimento. um grande prejuízo para a organização e para as
Desde então foram realizadas cinco edições pessoas que nela trabalham.
anuais do grupo de estudos e três edições Nessa terceira edição da pesquisa o propósito
da pesquisa, com o objetivo inclusive de criar é compreender, medir e saber como os
uma base histórica de acompanhamento da profissionais de RH e gestores de diversas
sua evolução e desdobramentos. A pesquisa é áreas enxergam o tema, e principalmente
realizada pelos integrantes do Grupo de Estudos se o papel do RH está claro nesse processo.
sobre o Papel do RH na Prevenção, Gestão e Isso porque em muitas situações de conflitos
Resolução de Conflitos. internos nas organizações, são envolvidos os
Na edição de 2019 responderam à pesquisa 247 colaboradores, os gestores e um profissional
profissionais vinculados a organizações, sendo da área de gestão de pessoas, mas ainda sem
aproximadamente 70% executivos e gestores clareza do que se espera de cada uma das partes
e 30% analistas, especialistas ou consultores e quais ferramentas estão disponíveis para esse
internos. Do total de respostas 80% são processo. Desejam apenas que o conflito seja
integrantes de RH o que nos indica uma grande logo eliminado para não atrapalhar a autoridade
participação da área. Quanto às organizações, do gestor e a moral da equipe.
tivemos uma distribuição equilibrada por
tamanho de empresas e uma participação maior Os resultados obtidos com os participantes
Aliás, a comunicação parece ser um ponto muito Acreditamos que é importante criar nas organizações
interessante em todo o contexto que envolve os as condições necessárias para prevenir os conflitos, por
conflitos, sejam eles interpessoais ou organizacionais. meio da preparação de gestores e colaboradores para
Notamos que as falhas de comunicação são a primeira se comunicarem melhor; desenvolver a tolerância para
causa declarada em maior número para a ocorrência lidar com as diferenças e conseguirem se relacionar
dos conflitos. E qual empresa não tem problemas de de forma mais harmoniosa. Na pesquisa encontramos
comunicação? Comunicação sobre a estratégia, sobre empresas, embora ainda em menor número, que
as políticas, sobre os processos, alçadas de aprovação e têm capacitado continuamente suas equipes em
até o que foi dito ou deixou de ser, em uma reunião com comunicação assertiva, facilitação, mediação de
certeza geram “zonas cinzas” em que cada um pode conflitos e comunicação não violenta. Percebemos
colocar a interpretação que melhor me convém. Esse que todas estas práticas combinadas podem levar
geralmente é o primeiro degrau na escala dos conflitos. uma organização a administrar os conflitos de forma
positiva, gerando novas ideias e vínculos mais próximos
Na sequência percebemos que as diferenças do dia-a-dia, entre as pessoas.
quando não esclarecidas, podem se tornar problemas
maiores e chegar até a ocasionar o afastamento e a Nesse sentido o próprio RH precisa definir de forma
interrupção da comunicação, entre membros de uma clara qual o seu papel na prevenção dos conflitos e
área, entre líderes de áreas complementares que passam como poderá intervir. Isso porque o que encontramos
a se tornar rivais. Esta é uma excelente oportunidade como resposta nessas três edições da pesquisa até
para a intervenção de alguém neutro, seja o líder ou o momento, aponta para a falta de certeza sobre o
um colaborador especializado da área de RH ou até que pode ser feito, as causas e por quem. Parece que
um profissional especializado de fora da empresa. Que muitas vezes a gestão dos conflitos nas organizações
tenha a capacidade de entender os pontos de vistas, é mais uma atribuição pessoal de quem tem mais perfil
“mediar” os diferentes interesses, ajudar a soluções ou jeitinho para lidar com o tema, e não com base em
comuns e reestabelecer o diálogo. Mais uma vez então conceitos, abordagens e ferramentas estruturadas,
vemos a comunicação participando do processo, desta disponíveis e comprovadas, como por exemplo, o
vez não como causa ou consequência, mas sim como conflict coaching. Assim, capacitar os gestores para
ferramenta na gestão de conflitos! atuarem como mediadores, seus profissionais para
atuarem como facilitadores e conhecer as metodologias
Por mais que haja uma ocorrência menor das conse- e técnicas que podem ser encontradas no mercado e
quências mais graves dos conflitos nas organizações, aplicadas por profissionais externos à organização se
tais como greves, litígios e sabotagens, estes podem vir torna de extrema importância para que os custos e
a causar grandes prejuízos às organizações, ainda que prejuízos – financeiros e emocionais - gerados pelos
sejam difíceis de serem identificados e corretamente conflitos sejam de fato, vistos e prevenidos.
medidos.
As dificuldades em apurar os custos dos conflitos, são Palavras-chave: rh, pesquisa, conflitos, organizações,
decorrentes do fato de alguns deles serem indiretos empresas, causas, ferramentas.
Uma relação
de confiança
Nesta década, o uso do coaching, como processo Ora, a exigência e a necessidade de que o coachee
de desenvolvimento profissional ou pessoal, fale sobre suas dificuldades e insatisfações com
muito se intensificou. Não apenas refiro-me ao seus comportamentos e resultados no processo
fato de que o coaching passou a ser usado por de coaching, de certa maneira uma exposição de
grande maioria das organizações, como também fragilidades, tem como pré-requisito a confiança
passou a ser oferecido em larga escala, para os no coach, isto é, o coachee precisa acreditar que
diversos níveis de liderança – de presidentes até o coach é uma pessoa integra e um profissional
supervisores. capaz e interessado em ajudá-lo, que manterá
As múltiplas soluções encontradas pelas áreas de sob sigilo tudo o que for tratado entre eles.
desenvolvimento organizacional para oferecer
o coaching incluem a contratação de coaches Partindo dessa premissa, então devemos
externos, a preparação e formação de coaches considerar que, para que a confiança seja
internos ou dos gestores superiores para atuarem estabelecida, inicialmente o coachee deve ter
como coaches junto aos seus subordinados. o direito de escolher o seu coach e também o
Cada opção tem vantagens e desvantagens em sigilo dos assuntos que irá tratar com o coach.
termos de efetividade e diferentes custos. Não Podemos afirmar que nesse primeiro momento
quero aqui comparar essas diferenças, tampouco da relação coach/coachee “deve rolar uma
pretendo analisar os aspectos de competências química positiva” ou, de outra forma, “os santos
necessárias aos profissionais para atuarem como devem bater”. Falando tecnicamente deve
coaches. O foco que desejo aprofundar neste haver afinidade, simpatia e empatia entre o
texto é sobre o requerimento básico do coaching, coachee e o coach. Quando a área de RH impõe
a relação de confiança. um coach, seja interno ou externo, ou, ainda,
Vamos começar considerando que a ação essencial quando o gestor é quem faz o papel de coach,
do coach é provocar, instigar, estimular e orientar essas condições ficam prejudicadas e podem
o coachee, ao elaborar as situações trazidas à baila, representar barreiras a serem vencidas para o
nas quais reconhece que encontra dificuldades ou sucesso do processo de desenvolvimento via
obtém resultados pouco satisfatórios, para que coaching. Vale considerar que, enquanto o coach
aprenda e se desenvolva a partir de suas próprias externo, em geral, será não conhecido pelo
experiências e lembranças. coachee, os coaches internos certamente são
conhecidos e terão imagens positivas, neutras
ou negativas já estabelecidas junto ao coachee.
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As inúmeras
possibilidades exploradas
no coaching de carreira
Uma das coisas mais interessantes sobre os processos de
coaching de carreira é observar os elementos trazidos
pelos coachees no início da nossa jornada e compará-
los ao resultado final, após alguns meses de trabalho.
Gosto de lembrar como tudo começou, o caminho que
percorremos juntos e ver a força interior que eles tiveram
para chegar onde estão.
Caso 1:
Situação profissional no início do processo: a cliente estava em
um momento de pausa na carreira de administradora de empresas,
dedicando-se à desafiadora missão de ser mãe de dois, sem
qualquer remuneração ou pacote de benefícios.
Objetivo com o coaching: encontrar um novo formato de atuação
profissional, que lhe possibilitasse flexibilidade de tempo, qualidade
de vida e exercer a maternidade de forma atuante e presente.
O que descobriu no processo de coaching (dentre outras coisas):
que tinha uma grande necessidade e prazer em ajudar ao próximo
(âncora de carreira forte em “Vontade de Servir” a uma causa);
sentia-se incapaz de tentar algo novo por estar há muito tempo
fora do mercado e (re)conhecer alguns de seus talentos trouxe a
segurança de que precisava para alçar novos voos.
Status atual (3 anos após concluir o processo): abriu seu
próprio negócio no ramo de educação na área de beleza, atuando
diretamente com profissionais em início de carreira ou em busca
de aperfeiçoamento, exercendo seus talentos e conciliando com a
rotina familiar.
Caso 2:
Situação profissional no início do processo: há 3 anos em casa
dedicando-se exclusivamente à filha, após abandonar carreira no
varejo do mercado de luxo.
Objetivo com o coaching: encontrar um trabalho que não causasse
impacto negativo na filha e que também trouxesse satisfação
pessoal, desafio intelectual, para sentir-se produtiva.
O que descobriu ao longo do processo de coaching (dentre
outras coisas): não sabia o que queria, mas tinha certeza do que
não queria: voltar para a profissão anterior, pois não podia mais
se comprometer com horários fixos e finais de semana. Entrou
em contato com seus talentos e o resgate de suas qualidades
possibilitaram a criação de sua nova carreira, algo que ela jamais
havia imaginado (nem eu!).
Status atual (3 anos após concluir o processo): é um misto de
personal organizer com concierge de luxo, atendendo clientes
pessoas físicas e jurídicas (lojas, escolas), o que permite ter
flexibilidade para acomodar todas as suas necessidades (pessoais
e profissionais).
Leia em 9 min
Em todas as nossas decisões financeiras têm um É sabido que alguns vinhos não tão caros têm
componente muito importante e que a maioria das uma classificação alta enquanto vinhos de maior
pessoas não percebem, que interfere tanto para o valor nem sempre têm a mesma classificação nas
bem quanto para o mal, que são as nossas emoções. avalições dos experts no assunto.
Você está no supermercado e ouve no sistema
Significado de heurística (sf) ou vieses no dicionário: de som o narrador dizer que tem uma promoção
Ciência ou arte que leva à invenção e descoberta relâmpago, um produto com um desconto e os
dos fatos. Método de ensino que consiste em que clientes que levarem nos próximos dez minutos,
o educando chegue à verdade pelos próprios meios. terão direito a um desconto super especial. Mesmo
Ramo da ciência histórica que consiste na pesquisa não precisando do produto ou não constando na
de documentos e fontes do passado. Procedimentos sua lista de compras você se sente tentado(a) a
e normas usados em pesquisa feita por meio da comprar para aproveitar a superoferta?
quantificação de proximidade a um determinado
objetivo. O entendimento de como os vieses agem em
Dicionário Michaelis. nós nos capacita a tomar decisões melhores para
um consumo consciente, comprando produtos
Com o objetivo de entender a influência das nossas e serviços que realmente atendem às nossas
emoções nas decisões financeiras dos indivíduos, os necessidades, evitando o gasto desnecessário e
estudos incluíram outras áreas como a Psicologia e aumentando a nossa capacidade de acumulação e
Sociologia, surgindo as Finanças Comportamentais. poupança a longo prazo.
Com isto ampliou-se o conceito para trazer à luz o
fato de que estas decisões são incompatíveis com Estudos comprovam que a maioria de nós está
o entendimento de que não são baseadas no que exposta a vieses comportamentais e um deles é
é racional. a racionalidade, que pressupõe que as pessoas
No entanto, estudos (Thaler e Sunstein, 2008) têm consideram todas as informações disponíveis no
demonstrado que o nosso comportamento varia momento da decisão, porém isto não garante que
no tempo e no espaço, estando sujeito a vieses não cometemos erros ao decidir, inclusive pelo fato
cognitivos, emoções e influências sociais. de que não temos acesso à maioria das informações
Ao fazermos escolhas financeiras reais, nem relevantes para a tomada de decisões.
sempre percebemos o que nos move, quais as Estes vieses estão presentes também no momento
condições influenciam e como a nossa mente de decidirmos sobre os nossos investimentos e
opera em cada uma destas decisões. A questão aplicações financeiras, melhores oportunidades,
relevante é que temos limitações naturais, nossa riscos e benefícios.
racionalidade e inteligência nos expõem a ciladas É por este motivo que tantas pessoas, no intuito de
e armadilhas fazendo com que sejamos irracionais obter resultados mais rápidos, ou mesmo maiores,
em nossas decisões. optam pelas ofertas de investimento e aplicam
naqueles de ganho rápido e muito atrativos.
Como exemplo podemos observar a questão do
argumento “grátis” utilizado em promoções. Você Também por isso é que crescem tanto os golpes
já percebeu qual o efeito que causa em você? nos investidores com este perfil.
Ao ler a palavra GRÁTIS, você faz a conta para ver Você é deste tipo de pessoa, vai logo acreditando
se realmente o desconto foi abatido do preço real nas ofertas de ganho fácil e rápido que recebe
ou está embutido no valor que você está pagando, pelas redes sociais, e-mails, amigos?
sem perceber?
Quem sou
eu ?
Conhecer a alma humana é uma busca
que existe desde tempos antigos. Na
Grécia Antiga, Hipócrates definiu 4
humores básicos: sanguíneo, colérico,
melancólico e fleugmático. Jung definiu
quatro tipos psicológicos, base de
muitas abordagens que visam conhecer
características pessoais e profissionais:
intuição, sensação, pensamento e
sentimento. Existem diversas outras
abordagens e classificações dos tipos
humanos. Madá Boog e eu integramos
este conhecimento com nossa
experiência, e adotamos a terminologia
rei – guerreiro – mago – amante,
descritos em detalhes em nosso livro
“Con-viver em equipe: construindo
relacionamentos sustentáveis”, nas
versões impressa e eletrônica.
Rei
• O idoso tipo “rei” tem como missão de vida a inovação. Gosta de empreender,
está sempre atento às novidades, é muito curioso.
Guerreiro
• O idoso tipo “guerreiro” tem como missão de vida a realização. É o “faço, logo
existo”.
• Quer realizar e concretizar coisas. Tem muita iniciativa, não hesita em “arregaçar
as mangas” e fazer uma tarefa, seja um relatório, uma carta, enxugar a louça
ou jardinagem.
• Ele faz tudo rápido e quer acabar logo. É uma pessoa determinada, sempre
à procura de algo a fazer. Fica inquieto se não tem nada a fazer. As palavras
“casa de repouso” trazem aflição a ele.
• Pode tornar-se um “velho ranzinza”, pois sendo tão focado em sua lista de
afazeres, sempre com pressa, esquece as pessoas ao seu redor, que o veem
como insensível.
• O idoso tipo “mago” tem como missão de vida a estruturação. A ordem é para ele muito
importante.
• Fica irritado se mexem em suas coisas e tiram da ordem. Seu armário, livros e documentos
estão sempre arrumados e classificados. É uma pessoa cuidadosa, disciplinada, meticulosa
e precisa.
• Tudo deve ser exato, o “mais ou menos” o desagrada. É um fiel cumpridor de horários, e fica
nervoso com o atraso dos outros, pois sempre procura chegar na hora ou até um pouco mais
cedo. Não gosta de imprevistos, e para ele tudo precisa ser planejado com antecedência.
• Numa viagem, curta ou longa, tem tudo previamente organizado, onde dormir, onde comer,
que lugares visitar, e fica em pânico se algo sai do planejado. O idoso mago detesta estar
errado, para ele menos que nota 10 é impensável.
• Tende a ser teimoso em seus pontos de vista. Critica os outros e a si mesmo, e tende a não
ser muito sociável.
• No coaching precisa aprender como lidar com imprevistos, com mudanças e com sentimentos,
seus e dos outros.
Amante
• O idoso tipo “amante” tem como missão de vida a integração. Gosta de pessoas e de um
ambiente tranquilo e acolhedor.
• Sempre está à disposição dos outros para ajudá-los, quer seja hospedar um amigo em sua
casa ou levar alguém da família a um exame médico.
• É uma pessoa muito tolerante, às vezes em excesso, o que faz dele uma vítima de outros que
abusam de sua generosidade.
• Seu lado negativo é ser exageradamente submisso aos outros, não toma iniciativas e falta-
lhe assertividade.
• Cada um de nós, criança, jovem ou idoso tem a presença destes 4 “personagens” dentro de si,
e cada perfil é único. Não existe um perfil ideal, pois cada um é o que é.
• O tipo que utilizamos menos, costuma ser a nossa “pedra no sapato”, e pode ser desenvolvido
com ações sugeridas num processo de coaching
• Nos relacionamentos, os diversos tipos se completam, cada um agregando o que o outro não
tem.
O maior problema dos relacionamentos entre pessoas, cada um com seu perfil, é achar que o seu jeito
de ser é o único e é o certo. Devemos ter muito cuidado em não rotular as pessoas, pois cada um de
nós é único, e muito mais complexo que cada um dos quatro tipos. Conhecer as características de cada
tipo nos ajuda a estabelecer relacionamentos mais harmoniosos. O que é diferente, é só diferente,
não quer dizer que é errado.
Gostaria de conhecer os seu Perfil Comportamental? Envie um e-mail para gustavo@boog.com.br com
seu nome / e-mail / telefone celular. Enviaremos o link para você preencher e conhecer-se melhor, e
assim ajudá-lo a responder “quem sou eu?”.
• Idosos
• Tipos
• Rei
• Guerreiro
• Mago
• Amante
Leia em min.
Nesse momento, parece inevitável uma conversa “difícil”. E isso parece ser
procrastinado mantendo um “sim” mais ou menos para a parceria, que já não prospera
como se espera. A atitude de buscar parcerias e ter que desfazer ou revisar os acordos
parece ser um tema mais comum do que eu imaginava. Como coaches, nos treinamos
bem para esclarecer com nossos clientes o limite da parceria que se constrói entre
coach e coachee, mas parece que damos menor atenção para fazer com a mesma
cautela os limites desse acordo com colegas de profissão.
Estou em uma situação dessas atualmente. E parece que meus clientes ganham o
poder de ler a minha lista de temas difíceis de lidar e trazem para a sessão temas
comuns aos meus. Não é engraçado isso?
Olívia, em seus quase 60 anos, estava vibrando por se sentir mais jovem e livre do
que nunca antes ao longo de toda sua vida profissional corporativa sendo sócia de
uma empresa. Escolheu o caminho do coaching por sentir realização e liberdade. E,
de repente, se vê em uma parceria, quase uma sociedade, colocando sua liberdade à
prova. Como assim? Ela se questionava.
Eu, nos meus 40, busquei o coaching por motivos semelhantes: queria levar para o
mundo um processo de transformação que muito fez sentido em minha vida e com
o qual descobri verdadeira paixão. A promessa de um estilo de trabalho com mais
liberdade de escolha também foi um atrativo.
- Descobri que não quero mais essa parceria. O que fazer diante disso? Olívia
se perguntou.
Olívia saiu da sessão com energia e o script que buscava para essa conversa
que iria dissolver sua parceria, sem dissolver sua amizade e consideração pela
parceira, que continuaria admirando.
Essa foi a solução de Olívia. No meu caso, acredito que não será o
encerramento da parceria, mas uma revisão de acordos e limites. E será uma
conversa importante também para reconectar com o propósito original dessa
parceria, que talvez tenha se modificado ao longo dos anos.
Vou lá fazer minha sessão e me preparar para essa conversa difícil. Estou
certa de que se tornará fácil depois de ganhar essa clareza de Olívia. Desejo
o mesmo para você, se estiver também lidando com uma parceria que precisa
mudar. Boa sorte!
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