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0008
Abstract: The present forms of reading emerge from new social practices, derived
from modern life that demands that the subject adopts other or new abilities to
deal with the reading and writing activities. A historical retrospective demonstrates
that, from classical antiquity to modernity, there has been a series of modifications
in the act of reading, depending on the different materialities that supportedthe
texts. Because of the emergence of the computer and, in particular of the Internet
that contributed with new elements to think about literacy, changing the forms of
understanding this new concept, this article intends to present a brief explanation
*
Mestre em Filologia e linguística da língua portuguesa. Professora da Universidade Estadual do Norte do Paraná
(UENP), campus de Jacarezinho. E-mail: rosineyvale@uenp.edu.br
**
Professora Adjunta da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus Jacarezinho. Doutora em Estudos
da Linguagem. E-mail: marilucia@uenp.edu.br.
of the history of reading, focusing on the changes of support, as well as the change
in readers’ profile due to the new technologies. The article also presents athe
experienceof a teacher fromthe final years of elementary schoolin the computer lab
of a state school, and proposes a reflection about teachers´ role concerningthe need
to deal with new tools in their teaching practices.
Keywords: Digital literacy; History of reading; Teaching of reading.
mento, atesta Rojo (2007), os atos de ler e danças consideráveis em nossa sociedade.
escrever são ainda mais fundamentados na Dentre essas mudanças, merece destaque a
interação virtual que em nossas interações criação de outros gêneros textuais, soman-
cotidianas, no mundo atual, o que torna re- do-se aos tantos que já circulam em nossa
levante e urgente o estudo e a discussão so- sociedade letrada. “Entre eles, podemos
bre letramentos digitais. citar o chat, o hipertexto, a multimídia, a
Assim, pensar no tema Letramento Di- hipermídia, os banners publicitários, a li-
gital leva-nos a ponderar sobre os impactos teratura digital em toda a sua diversidade
das novas tecnologias nas práticas letradas e, provavelmente, alguns outros que ainda
e de ensino e a observar que os eventos de não somos capazes de mencionar” (COSCA-
letramento que ocorrem com a interme- RELLI, 2006, p.65)
diação da Internet exigem novas práticas e Então, nesse oceano de novos gêne-
habilidades de leitura e de escrita (SOARES, ros textuais e, consequentemente, de no-
2002). Por certo, a reflexão gira em torno do vas práticas e demandas sociais, o papel do
modo como esses novos suportes, em espe- professor, como mediador, pensando numa
cial o computador, podem ser ferramenta concepção de ensino e de aprendizagem
útil também na escola, no apoio às práticas que visem a um ensino como construção de
pedagógicas, simplificando e dinamizando conhecimento, como uma via de mão du-
o cotidiano da sala de aula. pla, implicando o diálogo e, portanto, não
Vale lembrar que “o termo ‘ tecnologia tratando os aprendizes como máquina deco-
da informação’ não é, necessariamente, si- dificadoras, ganha um contorno especial (RI-
nônimo de computador hardware e software. BEIRO, 2006, p.90). Não que o professor não
Todavia o computador pode ser considera- tenha sido visto como figura importante no
do como o principal representante dessa processo de ensino e de aprendizagem, mas
tecnologia (...)”. (NETO, 2006, p. 51) A novi- hoje isso se torna ainda mais patente, uma
dade do computador é que, segundo Char- vez que,
tier (1998) pela primeira vez, no mesmo su-
O professor precisa, então, além de
porte, o texto, a imagem e o som podem ser guiar-se pelas orientações dadas pe-
conservados e transmitidos. Todas mídias los PCN, atualizar-se com relação às
muito conhecidas das sociedades atuais, tecnologias intelectuais disponíveis
mas que agora se apresentam simultanea- no mundo de hoje”. (...) ‘É, hoje, tarefa
mente. do professor ensinar’ os alunos a bus-
car a informação e a fazer a triagem
dela (RIBEIRO, 2006, p. 86- 87- grifos
O professor como mediador de conhe-
cimentos: a leitura na era digital
do autor).
Os professores precisam encarar esse
Em concordância com Coscarelli desafio de se preparar para essa nova
(2006), apregoamos que não há dúvidas de realidade, aprendendo a lidar com os
que o advento da internet provocou mu- recursos básicos e planejando formas
lhe faltavam instruções para que houvesse seria uma ótima oportunidade pra o entre-
de fato uma finalidade naquilo que se tenimento, para a diversão e aprenderiam
propunha. A insegurança dela deixava os muito com essa “brincadeira séria”.
alunos dispersos e inquietos. Durante a Nesse sentido, relembramos o alerta
atividade, alguns alunos questionaram: de Coscarelli sobre a necessidade de “os pro-
“professora, pra que serve o e-mail?”. fessores se preparem para operar desemba-
Acreditamos que a escolha dessa ati- raçadamente com esse instrumental. Isso
vidade, pela professora, poderia se caracte- não significa ser expert em informática,
rizar como produtiva, e segundo Coscarelli mas familiarizar-se com os recursos básicos
(2011), é uma atividade prazerosa e que con- necessários à utilização dessa tecnologia”
tribui para o letramento digital dos alunos. (2011, p. 40).
A autora ressalta que a estrutura do texto Quanto ao comportamento dos alu-
e-mail, as formas de fazer abertura e fecha- nos, eles ficaram muito agitados e pediram
mento desse gênero textual, as variações de ajuda o tempo todo, falaram e riram alto,
registros usados nele, bem como abrevia- tornando o ambiente, a maioria das vezes,
ções, emoticons, etiquetas da Net são assun- ensurdecedor. A professora sozinha, sem
tos que podem ser abordados e discutidos auxilio não deu conta de controla-los, além
com os alunos. No entanto, não foi isso que do que, queriam terminar tudo “correndo”
presenciamos durante a aula observada. para entrar nos “joguinho”.
Nesse caso específico, a atividade ficou res- No que tange ao interesse pelas aulas
trita a produção do e-mail como já mencio- ditas “diferentes”, é evidente que ele existe.
nado, não houve “gancho” com a sua disci- As crianças adoram o fato de usar o compu-
plina em nenhum momento e em nenhum tador, no entanto o que pode prejudicar o
sentido. Tão pouco a professora conseguiu andamento das tarefas é o fato de elas terem
“controlar” a leitura dos alunos sobre as ins- que fazer atividades para as não veem tem
truções de como fazer o e-mail, os passos a sentido. Na outras aulas presenciadas, mui-
serem seguidos. tas relutaram em realizar a tarefa, alegando
Lembramos, ainda, que minutos antes que era “muito chata”, “sem graça”, “pra que
de acabar a aula, a professora pediu para vim aqui fazer isso?”.
que os alunos copiassem o Login e a senha Enfim, observamos que, embora a pro-
no caderno. Muitos não sabiam o que Login fessora seja muito dedicada e tenha um ob-
significava e por isso, não conseguiam as- jetivo ao propor a atividade, não consegue
sociar sua função. Não foi trabalhado, por deixar isso claro para os alunos. Isso preju-
exemplo, o envio do e-mail entre os eles, o dica o andamento da aula. Desse modo, ao
que poderia ser avaliado como resultado usar o computador como meio alternativo
positivo ou negativo, quem sabe, acerca dos para trabalhar, foi perceptível sua falta de
objetivos e resultados finais pressupostos habilidade e mesmo de entendimento so-
para essa determinada aula. Além do que, bre o que estava fazendo. A impressão que
tivemos é que a professora queria usar o cundos são os campos a serem explorados
laboratório mais para parecer mostrar que no terreno da leitura e das novas tecnologias
estava atenta às práticas modernas de ensi- e o quão diversas são as formas de aborda-
no-aprendizagem. Porém, dado o exposto, gem, diversas, mas não menos importantes
as atividade ficavam restritas ao entreteni- umas das outras.
mento. É bom lembrar que a história da leitu-
Ratifica-se com isso, o que Santos ra e dos seus suportes, como também a da
(2003) expôs sobre o interesse e a vontade humanidade de maneira geral, é história de
de inovar dos professores e das dificuldades adaptação, sempre. A rigor, não há nada que
que enfrentam com a falta de instrumentos se possa dizer completamente estranho, por
teóricos e empíricos para isso. Há muito mais que isso possa parecer; o que, na ver-
que se fazer ainda, para que o trabalho com dade, o leitor faz
a leitura e a escrita nas escolas, via meios
É reconhecer certas características,
tecnológicos, nesse caso o computador e a deduzir outras, empregar a familia-
internet, se tornem realmente eficazes. Não ridade que já possui, sua experiência
adianta sair da sala de aula, trocar a lousa de leitura pregressa, num suporte que
pela tela do computador, se não houver an- demandará novas reações. Ao explo-
tes disso um entendimento do que se vai rar o novo material e aplicar conhe-
fazer. A prática docente aponta para novos cimentos prévios, o leitor acaba por
aprendizados, e o professor como mediador chegar a uma nova forma de manipu-
de conhecimentos está diante de mais um lar (navegar!) o objeto novo, que pas-
sa, então, a fazer parte de um univer-
desafio.
so de possibilidades que jamais será
E a tarefa não é fácil. Realmente são fechado (RIBEIRO, 2011, p.131).
muitas as angústias, as indagações, as dú-
vidas, os medos, os anseios e os desejos. De E nesse contexto, no espaço educativo,
nossa parte, colocamo-nos no mesmo pata- as práticas pedagógicas, estarão melhor
mar daqueles que buscam respostas para as centradas, no momento em que for possível
suas inquietações (O quê fazer? Como fa- realmente “estar trabalhando na direção
zer?) e vamos erguendo castelos que ora pa- de incorporar novos saberes/modos de
recem construídos em terra firme ora sobre conhecer (...) Desse modo, aqueles que
areia movediça. fazem a ‘cultura escolar’ devem refletir sobre
como incorporar as novas tecnologias”
Considerações finais (GOULART, 2011, p.55).
Indubitavelmente, a questão dos
Posto que nossa pretensão neste texto, suportes de leitura tem relevância no
não fora trazer respostas, esperamos que os processo de ensino/aprendizagem;
pontos arrolados, embora breves, tenham contudo, tal discussão faz sentido, à medida
sido suficientes para evidenciar o quão fe- que seja gerida paralelamente à criação de