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3 – Assuntos polêmicos sobre a vida

3.1 Introdução _____________________________________________

3.1.1 – As polêmicas sobre a vida

Prosseguiremos nosso estudo tratando de uma série de assuntos que tem como
ponto de união sua relação com a vida humana e a ética. Clonagem humana, aborto,
eutanásia, pesquisas com células embrionárias e uso de informações do genoma humano
são questões polêmicas atuais e todas têm em comum alguns pontos que são centrais
para balizar a discussão. Trataremos inicialmente destes pontos, pois é a opinião sobre
estes pontos que definirá a opinião sobre as polêmicas.

3.1.2 – O início da vida

Uma das mais importantes questões, principalmente no que diz respeito às


pesquisas com células embrionárias e ao aborto é quando a vida realmente se inicia.
Tradicionalmente a Igreja Católica e muitas religiões, bem como muitas pessoas
independentemente de religião, têm adotado o momento da fertilização como o início
da vida. Uma posição mais liberal considera que somente se fala em vida quando o
óvulo fecundado é implantando no útero. Outros utilizam a distinção entre o feto antes e
depois da formação do córtex cerebral (início da vida cerebral – por analogia com a
morte quando cessa a vida cerebral) por volta de 3 meses de gestação. Ainda mais
radical é a opinião de que a vida só deve ser considerada quando o feto é capaz de ter
sobrevivência por ele próprio, algo que ocorre em torno de 5 meses de gestação. Por
fim, há os que defendem que a vida somente se inicia no momento do nascimento.
Deve ser aqui destacado que a Bíblia em diversos pontos vai contra a ideia de
que a vida surja apenas no nascimento, pois textos como Sl 139.16 e Jr 1.5 mostram
Deus se preocupando com a pessoa antes de seu nascimento. Quanto à distinção entre o
momento da fecundação e da implantação no útero, a Bíblia não chega a ser clara em
nenhum ponto, sendo necessário recorrer a raciocínios desenvolvidos sobre outros
pressupostos.

3.1.3 – O fim da vida

Se o início da vida era a questão principal nas polêmicas sobre aborto e


pesquisas com células embrionárias, no que diz respeito a eutanásia, a questão principal
é em relação ao momento em que a vida se encerra. A definição de morte aceita
atualmente é de quando o cérebro deixa de funcionar (morte cerebral). A questão da
eutanásia gira em torno da ortotanásia e da eutanásia propriamente. A ortotánasia é
quando, por exemplo, se desliga um aparelho de um paciente em coma e este não é
capaz de sobreviver sozinho, vindo a falecer. Já a eutanásia propriamente é provocar a
morte de uma pessoa em estado vegetativo, mas capaz de sobreviver sozinha, através de
uma ação externa, como uma injeção letal.

3.1.4 – Bem-estar humano contra o potencial de vida

Uma terceira questão importante é a discussão entre o que é mais importante, o


bem-estar de uma pessoa adulta ou a vida, seja a vida da própria pessoa (como ocorre na
eutanásia) ou uma vida em potencial (como nas discussões sobre a clonagem
terapêutica). Aqui se encaixa também os argumentos que apontam para o bem-estar da
coletividade.

3.1.5 – Responsabilidade, culpa e dolo

Outra questão importante é sobre a responsabilidade envolvida em diversas


situações (como nos casos de gravidez provocados por estupro). Esta questão está
envolvida também quando se pensa em abortos não-espontâneos, e o desdobramento
desta questão para as discussões aqui envolvidas. Aqui se situam também os
argumentos sobre o direito das mães em decidirem sobre seu próprio corpo no caso de
gestações de fetos anencefálicos.

3.1.6 – Plano de estudo destes assuntos.

Assim, como na polêmica anterior sobre o criacionismo desenvolvemos um


plano de estudos, aqui também utilizaremos deste artifício. O plano de estudos agora
será um pouco diferente, porém. Como sugerimos até aqui, embora sejam polêmicas
distintas, existe muita proximidade entre estes temas. Assim, estudaremos estas
polêmicas tentando responder a questões diversas, unindo todas as respostas e formando
um quadro de entendimento do assunto. Será esta nossa tarefa deste ponto em diante do
estudo.

3.2 Discutindo a polêmica ______________________________________

3.2.1 – Apresentação

Deste ponto em diante entraremos definitivamente na discussão de diversas


questões sobre as polêmicas relacionadas à vida. Algumas questões serão simples, em
princípio, outras mais complexas. Tentaremos em todas aprofundarmos suficientemente
no assunto, dando uma ideia geral e aprofundada, fugindo de soluções simplistas e
superficiais.

3.2.2 – Às perguntas:

3.2.2.1 – É correta a clonagem para fins reprodutivos?

Começaremos respondendo a pergunta que motivou esta segunda série de


assuntos polêmicos (conforme sugestão de Sara em aula anterior da Escola Dominical).
Antes, expliquemos do que se trataria um clonagem para fins reprodutivos. A clonagem
de um organismo envolve normalmente uma técnica chamada transferência de núcleo
da célula somática, onde o núcleo de um óvulo (contendo seu material genético) é
removido e substituído pelo núcleo de uma célula somática retirada do corpo de um
adulto. Se o óvulo reconstituído for então estimulado a se dividir de forma bem
sucedida, o mesmo pode desenvolver-se para o estágio de préimplantação do
blastocisto. Na clonagem reprodutiva, o blastocisto clonado é então implantado no útero
de uma fêmea e permite-se a continuidade de seu desenvolvimento até o nascimento.
Entretanto, na clonagem para fins terapêuticos ou de pesquisa, ao invés de ser
implantado no útero, o blastocisto clonado é convertido em uma cultura de tecidos para
desenvolver uma linhagem de células-tronco que será utilizada para pesquisas ou
aplicações clínicas.
A clonagem é um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou
bactérias. Um clone é definido como uma população de moléculas, células ou
organismos que se originaram de uma única célula e que são idênticas à célula original e
entre elas. Em humanos, os clones naturais são os gêmeos idênticos que se originam da
divisão de um óvulo fertilizado. A grande revolução da Dolly, que abriu caminho para
possibilidade de clonagem humana, foi a demonstração, pela primeira vez, de que era
possível clonar um mamífero, isto é, produzir uma cópia geneticamente idêntica, a partir
de uma célula somática diferenciada. Para entendermos porque esta experiência foi
surpreendente, precisamos recordar um pouco de embriologia.
Todos nós já fomos uma célula única, resultante da fusão de um óvulo e um
espermatozóide. Esta primeira célula já tem no seu núcleo o DNA com toda a
informação genética para gerar um novo ser. O DNA nas células fica extremamente
condensado e organizado em cromossomos. Com exceção das nossas células sexuais, o
óvulo e o espermatozóide que têm 23 cromossomos, todas as outras células do nosso
corpo têm 46 cromossomos. Em cada célula, temos 22 pares que são iguais nos dois
sexos, chamados autossomos e um par de cromossomos sexuais: XX no sexo feminino e
XY no sexo masculino. Estas células, com 46 cromossomos, são chamadas células
somáticas. Voltemos agora à nossa primeira célula resultante da fusão do óvulo e do
espermatozóide. Logo após a fecundação, ela começa a se dividir: uma célula em duas,
duas em quatro, quatro em oito e assim por diante. Pelo menos até a fase de oito células,
cada uma delas é capaz de se desenvolver em um ser humano completo. São chamadas
de totipotentes. Na fase de oito a dezesseis células, as células do embrião se diferenciam
em dois grupos: um grupo de células externas que vão originar a placenta e os anexos
embrionários, e uma massa de células internas que vai originar o embrião propriamente
dito. Após 72 horas, este embrião, agora com cerca de cem células, é chamado de
blastocisto. É nesta fase que ocorre a implantação do embrião na cavidade uterina. As
células internas do blastocisto vão originar as centenas de tecidos que compõem o corpo
humano. São chamadas de células tronco embrionárias pluripotentes. A partir de um
determinado momento, estas células somáticas - que ainda são todas iguais - começam a
diferenciar-se nos vários tecidos que vão compor o organismo: sangue, fígado,
músculos, cérebro, ossos etc. Os genes que controlam esta diferenciação e o processo
pelo qual isto ocorre ainda são um mistério. O que sabemos é que uma vez
diferenciadas, as células somáticas perdem a capacidade de originar qualquer tecido. As
células descendentes de uma célula diferenciada vão manter as mesmas características
daquela que as originou, isto é, células de fígado vão originar células de fígado, células
musculares vão originar células musculares e assim por diante. Apesar de o número de
genes e de o DNA ser igual em todas as células do nosso corpo, os genes nas células
somáticas diferenciadas se expressam de maneiras diferentes em cada tecido, isto é, a
expressão gênica é específica para cada tecido. Com exceção dos genes responsáveis
pela manutenção do metabolismo celular (housekeeping genes) que se mantêm ativos
em todas as células do organismo, só irão funcionar em cada tecido ou órgão os genes
importantes para a manutenção deste. Os outros se mantêm "silenciados" ou inativos.
A grande notícia da Dolly foi justamente a descoberta de que uma célula somática de
mamífero, já diferenciada, poderia ser reprogramada ao estágio inicial e voltar a ser
totipotente. Isto foi conseguido através da transferência do núcleo de uma célula
somática da glândula mamária da ovelha que originou a Dolly para um óvulo enucleado.
Surpreendentemente, este começou a comportar-se como um óvulo recém-fecundado
por um espermatozóide. Isto provavelmente ocorreu porque o óvulo, quando fecundado,
tem mecanismos, para nós ainda desconhecidos, para reprogramar o DNA de modo a
tornar todos os seus genes novamente ativos, o que ocorre no processo normal de
fertilização.
Para a obtenção de um clone, este óvulo enucleado no qual foi transferido o núcleo da
célula somática foi inserido em um útero de uma outra ovelha. No caso da clonagem
humana reprodutiva, a proposta seria retirar-se o núcleo de uma célula somática, que
teoricamente poderia ser de qualquer tecido de uma criança ou adulto, inserir este
núcleo em um óvulo e implantá-lo em um útero (que funcionaria como uma barriga de
aluguel). Se este óvulo se desenvolver teremos um novo ser com as mesmas
características físicas da criança ou adulto de quem foi retirada a célula somática. Seria
como um gêmeo idêntico nascido posteriormente.
Já sabemos que não é um processo fácil. Dolly só nasceu depois de 276 tentativas que
fracassaram. Além disso, dentre as 277 células "da mãe de Dolly" que foram inseridas
em um óvulo sem núcleo, 90% não alcançaram nem o estágio de blastocisto. A tentativa
posterior de clonar outros mamíferos tais como camundongos, porcos, bezerros, um
cavalo e um veado também tem mostrado uma eficiência muito baixa e uma proporção
muito grande de abortos e embriões malformados. Penta, a primeira bezerra brasileira
clonada a partir de uma célula somática morreu adulta, em 2002, com um pouco mais de
um mês. Ainda em 2002, foi anunciada a clonagem do copycat o primeiro gato de
estimação clonado a partir de uma célula somática adulta. Para isto foram utilizados 188
óvulos que geraram 87 embriões e apenas um animal vivo. Na realidade, experiências
recentes, com diferentes tipos de animais, têm mostrado que esta reprogramação dos
genes, para o estágio embrionário, o qual originou Dolly, é extremamente difícil.
O grupo liderado por Ian Wilmut, o cientista escocês que se tornou famoso por esta
experiência, afirma que praticamente todos os animais que foram clonados nos últimos
anos a partir de células não embrionárias estão com problemas (Rhind, 2003). Entre os
diferentes defeitos observados nos pouquíssimos animais que nasceram vivos após
inúmeras tentativas, observam-se: placentas anormais, gigantismo em ovelhas e gado,
defeitos cardíacos em porcos, problemas pulmonares em vacas, ovelhas e porcos,
problemas imunológicos, falha na produção de leucócitos, defeitos musculares em
carneiros. De acordo com Hochedlinger e Jaenisch (2003), os avanços recentes em
clonagem reprodutiva permitem quatro conclusões importantes: 1) a maioria dos clones
morre no início da gestação; 2) os animais clonados têm defeitos e anormalidades
semelhantes, independentemente da célula doadora ou da espécie; 3) essas
anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprogramação do genoma; 4) a
eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora. De fato,
a clonagem reprodutiva a partir de células embrionárias tem mostrado uma eficiência de
dez a vinte vezes maior, provavelmente porque os genes que são fundamentais no início
da embriogênese estão ainda ativos no genoma da célula doadora (Hochedlinger e
Jaenisch, 2003).
É interessante que, dentre todos os mamíferos que já foram clonados, a eficiência é um
pouco maior em bezerros (cerca de 10% a 15%). Por outro lado, um fato intrigante é
que ainda não se tem notícias de macaco ou cachorro que tenha sido clonado. Talvez
seja por isso que a cientista inglesa Ann McLaren tenha afirmado que as falhas na
reprogramação do núcleo somático possam se constituir em uma barreira intransponível
para a clonagem humana.
Embora seja impossível hoje a clonagem reprodutiva humana, esta ideia já tem
levantado objeções ética de muitas pessoas. Mesmo assim, pessoas como o médico
italiano Antinori ou a seita dos raelianos defendem a clonagem humana, um
procedimento que tem sido proibido em todos os países. De fato, um documento
assinado em 2003 pelas academias de ciências de 63 países, inclusive o Brasil, pedem o
banimento da clonagem reprodutiva humana. O fato é que a simples possibilidade de
clonar humanos tem suscitado discussões éticas em todos os segmentos da sociedade,
tais como: Por que clonar? Quem deveria ser clonado? Quem iria decidir? Quem será o
pai ou a mãe do clone? O que fazer com os clones que nascerem defeituosos?
Para ficar mais claro, façamos algumas sub-perguntas dentro deste primeiro
questionamento de nosso estudo.
Sabendo dos riscos envolvidos nesta técnica e da grande probabilidade de gerar
fetos defeituosos, seria correto tentar clonar humanos apenas por motivo de curiosidade
científica? Neste ponto parece consenso que não há motivo para isto. Não há nenhum
benefício real em proceder a uma clonagem humana e as perdas são muito grandes.
Pensemos nos resultados que estes testes tiveram em animais até este momento. Outro
ponto diz respeito aos gastos necessários para chegar ao conhecimento necessário para
conseguir gerar clones humanos, diante de outras linhas de pesquisas contra doenças
muito mais urgentes.
Avancemos um passo e perguntemos: se fosse garantido que uma clonagem
fosse tão garantida como uma reprodução normal seria correto clonar uma pessoa?
Aqui, comecemos rejeitando um argumento canhestro levantado por alguns, que isto
envolveria brincar de Deus. Não me parece ser este um argumento verdadeiro nesta
discussão, pois se assim fosse, técnicas como reprodução assistida in vitro, transplantes
de órgãos e outros avanços científicos poderiam ser considerados como “brincar de
Deus”. A técnica em si não é o grande problema ético, mas sim as questões éticas,
sociológicas, políticas e ecológicas, por exemplo. Em termos éticos, primeiramente
podemos pensar nos abusos da técnica (uso para discriminação e eugenia). Mas o abuso,
por si só, não é motivo para proibir nada, pois se assim fosse deveríamos proibir quase
todas as pesquisas, pois quase todas apresentam potencial para abusos. Outras questões
são o fim da diversidade genética e os riscos que isso ocasionaria a humanidade (mas
neste ponto, outras tecnologias, como fissão nuclear também deveriam ser proibidas), o
fim da identidade genética única de cada individuo (mas aí nos lembramos dos gêmeos
univitelinos), o fato de com a clonagem os pais escolherem os filhos ao invés de eles
serem “dados” (mas o que dizer da escolha do sexo na reprodução assistida e das
doações?), e os riscos psicológicos, sociais e legais envolvidos (mas neste ponto não
parece que tenhamos dados para discutir isto neste momento). A favor da clonagem
humana os mais importantes argumentos são a liberdade e autonomia reprodutiva (mas
isto não pode ser considerado um direito, uma vez que não é algo natural do ser humano
se procriar a não ser dentro da relação conjugal), a possibilidade de gays, lésbicas e
celibatários terem filhos (novamente não existe direito aqui, pois os filhos devem ser
vistos no contexto do casamento heterossexual), a possibilidade de clonar pessoas com
grande capacidades artísticas, esportivas, intelectuais, etc. (mas quem garante que isto é
apenas resultado do genoma? Pesquisas recentes parecem desacreditar esta ideia até
certo ponto). A resposta neste caso, em minha opinião, é esta: se a clonagem fosse
garantida como tão segura quanto a reprodução natural não haveria nada que impedisse
do ponto de vista ético-religioso o uso da técnica por casais heterossexuais para gerarem
seus filhos (seria possível pensar em clonar crianças falecidas na infância como algo
correto?). O que diferencia as pessoas e as individualiza é sua alma e espírito, que não
podem ser clonados, de maneira que cada pessoa, mesmo assim gerada, seria única. Mas
os riscos envolvidos para conseguir desenvolver a técnica são tão grandes que não deve
ser permitida a pesquisa necessária para chegar até o ponto onde seja seguro. Logo, na
prática, a clonagem humana nunca deve vir a ser algo possível. Assim sendo, mesmo
numa base puramente científica, seria bastante irresponsável para qualquer pessoa tentar
fazer clonagem humana reprodutiva, dado o presente estágio do conhecimento
científico. Esta segunda pergunta, é, portanto, capciosa. Sem pesquisa muito
dificilmente chegaríamos a conclusão que os riscos seriam pequenos para clonagem
humana, de maneira que não há como descartar os riscos envolvidos – e são estes riscos
o principal problema ético envolvido nesta questão.

3.2.2.2 – É correta a clonagem para fins terapêuticos?

Tendo discutido a questão da clonagem para fins reprodutivos, e chegada a hora


de avançar para uma questão mais concreta e real atualmente: a clonagem para fins
terapêuticos. Assim como fizemos com a clonagem para fins reprodutivos, vamos
esclarecer alguns pontos sobre esta técnica.
Como na clonagem reprodutiva, na clonagem voltada para fins terapêuticos e de
pesquisa também se desenvolve um blastocisto humano através da transferência de
núcleo de uma célula somática. No entanto, a diferença crucial reside no fato de que o
blastocisto clonado jamais é implantado no útero. As células isoladas do blastocisto são
usadas para gerar linhagens de células-tronco, que serão utilizadas em pesquisas e
aplicações clínicas. (Aproximadamente 5-6 dias depois que um óvulo humano é
fertilizado, o mesmo é denominado blastocisto e consiste de cerca de cem células, sendo
que a maioria delas estão já especializadas para formar a placenta. Muitos países que
permitem a terapêutica de fertilização in vitro (FIV) permitem a utilização de embriões
até quatorze dias após a fertilização).
Pesquisas utilizando tais técnicas de transferência de núcleo podem ser importantes para
o desenvolvimento de nossos conhecimentos básicos sobre, por exemplo, como o
núcleo celular pode ser reprogramado para acionar o conjunto de genes que
caracterizam uma determinada célula especializada, ou para nossa compreensão sobre a
base genética de doenças que afligem o homem, ou ainda para ampliar nosso
entendimento sobre como reprogramar genes humanos defeituosos. Um objetivo de
longo prazo seria o de aprender como reprogramar células somáticas, transformando-as
em células-tronco e, assim, propiciar um meio para a obtenção de células-tronco,
geneticamente compatíveis com o paciente, sem a necessidade do uso de óvulos e
embriões. Isso é, evidentemente, somente justificável no caso em que as pesquisas
desenvolvidas com animais não sejam suficientes para apresentar alternativas viáveis,
justificando, neste caso, o uso de óvulos humanos.
Células-tronco são células que podem auto-replicar-se e, também, gerar células
especializadas à medida que elas se multipliquem. Células-tronco poderiam ser
utilizadas para a geração de células e tecidos de reposição que poderiam ser usados no
tratamento de muitas doenças e situações, incluindo aqui a doença de Parkinson,
leucemia, apoplexia, diabetes, lesões na coluna vertebral e problemas de pele, tal como
queimaduras. Órgãos e tecidos danificados poderiam ser colonizados com células
normais derivadas de células-tronco para restaurar suas fisiologias ou acelerar sua
recuperação, ou, ainda, órgãos poderiam ser transplantados garantindo-se células-tronco
que propiciariam um arcabouço apropriado para a sua reconstituição.
Células-tronco ocorrem em todos os estágios do desenvolvimento, do embrião à fase
adulta, mas sua versatilidade e abundância se reduz gradualmente com a idade.
Enquanto células-tronco embrionárias podem ser capazes de produzir qualquer uma das
200 diferentes espécies de células especializadas que formam o corpo humano, células-
tronco adultas aparentemente somente são capazes de produzir um ou alguns poucos
tipos de célula. Recentemente argumentou-se que células-tronco adultas demonstraram-
se suficientemente versáteis, tornando desnecessária a derivação de células-tronco de
embriões humanos jovens. Descobertas científicas já anunciadas até o presente não
corroboram essa conclusão, porém. Assim sendo, pesquisas, tanto com células-tronco
embrionárias, como com células-tronco adultas são vitais para uma avaliação adequada
das perspectivas das terapias de células-tronco para o tratamento de doenças sérias e
lesões.

Na clonagem para fins terapêuticos, serão gerados só tecidos, em laboratório, sem


implantação no útero. Não se trata de clonar um feto até alguns meses dentro do útero
para depois lhe retirar os órgãos como alguns acreditam. Também não há porque
chamar esse óvulo de embrião após a transferência de núcleo porque ele nunca terá esse
destino.
Uma pesquisa publicada na revista Sciences por um grupo de cientistas coreanos
(Hwang e col., 2004) confirma a possibilidade de obter-se células-tronco pluripotentes a
partir da técnica de clonagem terapêutica ou transferência de núcleos (TN). O trabalho
foi feito graças a participação de dezesseis mulheres voluntárias que doaram, ao todo,
242 óvulos e células "cumulus" (células que ficam ao redor dos óvulos) para contribuir
com pesquisas visando à clonagem terapêutica. As células cumulus, que já são células
diferenciadas, foram transferidas para os óvulos dos quais haviam sido retirados os
próprios núcleos. Dentre esses, 25% conseguiram se dividir e chegar ao estágio de
blastocisto, portanto, capazes de produzir linhagens de células-tronco pluripotentes. A
clonagem terapêutica teria a vantagem de evitar rejeição se o doador fosse a própria
pessoa. Seria o caso, por exemplo, de reconstituir a medula em alguém que se tornou
paraplégico após um acidente ou para substituir o tecido cardíaco em uma pessoa que
sofreu um infarto. Entretanto, esta técnica tem suas limitações. O doador não poderia ser
a própria pessoa quando se tratasse de alguém afetado por doença genética, pois a
mutação patogênica causadora da doença estaria presente em todas as células. No caso
de usar-se linhagens de células-tronco embrionárias de outra pessoa, ter-se-ia também o
problema da compatibilidade entre o doador e o receptor. Seria o caso, por exemplo, de
alguém afetado por distrofia muscular progressiva, pois haveria necessidade de se
substituir seu tecido muscular. Ele não poderia utilizar-se de suas próprias células-
tronco, mas de um doador compatível que poderia, eventualmente, ser um parente
próximo. Além disso, não sabemos se, no caso de células obtidas de uma pessoa idosa
afetada pelo mal de Alzheimer, por exemplo, se as células clonadas teriam a mesma
idade do doador ou se seriam células jovens. Outra questão em aberto diz respeito à
reprogramação dos genes que poderiam inviabilizar o processo dependendo do tecido
ou do órgão a ser substituído. Em resumo, por mais que sejamos favoráveis à clonagem
terapêutica, trata-se de uma tecnologia que necessita de muita pesquisa antes de ser
aplicada no tratamento clínico. Por este motivo, a grande esperança, a curto prazo, para
terapia celular, vem da utilização de células-tronco de outras fontes.
Existem células-tronco em vários tecidos (como medula óssea, sangue, fígado) de
crianças e adultos. Entretanto, a quantidade é pequena e não sabemos ainda em que
tecidos são capazes de se diferenciar. Pesquisas recentes mostraram que células-tronco
retiradas da medula de indivíduos com problemas cardíacos foram capazes de
reconstituir o músculo do seu coração, o que abre perspectivas fantásticas de tratamento
para pessoas com problemas cardíacos. Mas a maior limitação da técnica, do
autotransplante é que ela não serviria para portadores de doenças genéticas. É
importante lembrar que as doenças genéticas afetam 3-4% das crianças que nascem. Ou
seja, mais de cinco milhões de brasileiros para uma população atual de 170 milhões de
pessoas. É verdade que nem todas as doenças genéticas poderiam ser tratadas com
células-tronco, mas se pensarmos somente nas doenças neuromusculares degenerativas,
que afetam uma em cada mil pessoas, estamos falando de quase duzentas mil pessoas.
Se as células-tronco de cordão tiverem a potencialidade desejada, a alternativa será o
uso de células-tronco embrionárias obtidas de embriões não utilizados que são
descartados em clínicas de fertilização. Os opositores ao uso de células embrionárias
para fins terapêuticos argumentam que isto poderia gerar um comércio de óvulos ou que
haveria destruição de "embriões humanos" e não é ético destruir uma vida para salvar
outra.
Exposto do que se trata uso de clonagem para fins terapêuticos, vamos à discussão das
questões inicialmente propostas.
A grande questão no uso das células embrionárias para pesquisas para fins terapêuticos
é o momento onde a vida se inicia. É tempo de discutirmos esta questão.
Já apontamos que textos como Sl 139.16 e Jr 1.5 parecem contrários a ideia de que a
vida se inicie no nascimento. Entretanto, é claro que há uma diferença de status entre
um feto e um bebê recém-nascido para sociedade. Pensemos na repercussão que há num
aborto espontâneo e na morte de uma criança. Da mesma maneira, há uma diferença de
status entre os diversos estágios de desenvolvimento do feto. Cerca da metade dos
óvulos fecundados são abortados espontaneamente nas primeiras semanas da gravidez.
Se o feto fosse constantemente percebido como uma criança, seria natural que todos
estes casos que hoje ou passam despercebidos ou são motivo de um modesto pesar,
tivessem o peso da morte de uma criança real, com choro, luto, funeral e registro
policial.
Mais importante ainda é a distinção entre os embriões fecundados e aqueles que estão
implantados no útero feminino. No caso do processo natural de fecundação, esta
distinção não é importante, mas no caso de fecundação assistida, esta questão é
importante. Existem muitos embriões congelados em clínicas de tratamento. Seriam
estes embriões considerados como vida? Não há argumento bíblico para esta questão e
isto acaba tendo de ser resolvido por outros argumentos. Se pensarmos que estes
embriões congelados nunca serão colocados em um útero, eles nunca terão chance de ter
vida. É difícil diferenciar entre estes embriões e um óvulo ou espermatozóide, e
ninguém nunca defenderia o direito dos espermatozóides ou dos óvulos (embora os
óvulos tenham potencial de serem fecundados e se desenvolver numa vida potencial).
Diante deste argumento fico com a opinião de que a vida só se inicia no momento onde
o embrião se fixa no útero materno. Porque motivo adotar esta opinião? Por mera
praticidade do uso das células embrionárias? Não. A base lógica da teoria da nidação é a
segmentação do indivíduo, que consiste no fato de os gêmeos monozigóticos, que
possuem o mesmo código genético, separarem-se no momento da implantação do zigoto
no útero, ou ao menos, obrigatoriamente, antes que se finde a nidação. Desse modo, só
se poderia cogitar de um ser humano quando presente a característica da unicidade e, até
que se ultrapassasse essa fase de segmentação, não haveria como reconhecer ambos os
seres como uma pessoa. Quanto ao pré-embrião, não há como atribuirmos a um
conglomerado de células potencialmente capaz de gerar a vida, a denominação de vida
humana, pela inexistência de um requisito primordial: a unicidade, a individualização.
Desse modo, mostra-se insuficiente o DNA para a caracterização do início da vida, do
mesmo modo que é irrelevante ter um cadáver a forma humana e a presença de DNA
único.
Uma vez que tenhamos aceitado a teoria da nidação como base para o início da vida, as
discussões tornam-se mais fáceis. As pesquisas com células-tronco embrionárias são,
portanto, corretas, pois não envolvem vida humana.
Finalizando, a "personalização" do embrião humano desde o ato fecundador que produz
a primeira célula embrionária pode, a rigor, ter sentido através do projeto parental de
levar este ser à personalidade, mas não tem sentido ao se tratar de um embrião não
acolhido por ventre materno algum, e que não tem por si próprio capacidade alguma de
afirmar-se como sujeito moral. A noção de "pessoa humana potencial" é usada
significar que o embrião humano é precioso em razão da capacidade que ele tem de
tornar-se um ser pessoal, na hipótese de que encontre um útero para sua nidação, e uma
sociedade para sua educação. Mas nenhuma moral diz que todo ser potencial deve ser
atualizado. E seria tanto mais absurdo dizê-lo no momento em que a biologia nos ensina
que todas as células de nosso corpo, em todo caso todas suas células-tronco, têm um
potencial embrionário.
A teoria da nidação é também coerente com alguns fatos. Citemos um. O uso do DIU
(Dispositivo Intra Uterino) muitas vezes atua impedindo que o óvulo fecundado se fixe
no útero. Seria o DIU uma forma de aborto? Pela teoria da nidação, não.

3.2.2.3 – É correto o uso da pílula do dia seguinte?

Passando do campo da clonagem para o campo do aborto, a primeira pergunta


que poderíamos fazer é sobre o uso da pílula do dia seguinte. Seria correto o uso deste
recurso? Seria uma forma de aborto?
As pílulas do dia seguinte atuam impedindo que o óvulo fecundado consiga
chegar até o útero e se fixar (há uma série de mecanismo para isto, que não cabe aqui
discutirmos). Diante da conclusão que chegamos anteriormente, favorável a teoria da
nidação, somos obrigados, por coerência, a aceitar a pílula do dia seguinte como uma
técnica contraceptiva, e não abortiva, assim como o DIU e a camisinha. Portanto, um
casal, casado, que quisesse impedir uma gestação poderia usar esta técnica sem recair
em nenhum pecado. Esta seria única ocasião aceitável, porém, desde que nossa posição
é pelo sexo pós-casamento.
3.2.2.4 – É correto o aborto?

Deixando a questão da clonagem definitivamente, passemos a uma questão já


relacionada diretamente ao aborto. Em primeiro lugar, negamos definitivamente que o
aborto apenas por ser uma gravidez indesejada é uma prática totalmente reprovável, que
não podemos endossar, e que vai contra os princípios bíblicos. A Bíblia não trata
diretamente da questão do aborto, mas por princípios de comparação e extensão de
raciocínio é possível chegar a conclusão que a posição bíblica é contrária. Temos alguns
argumentos comuns para a defesa do aborto, que são falaciosos. Vejamos alguns.
Um primeiro argumento é de que o aborto deve ser legalizado por que toda
gravidez deve ser desejável. Este é um argumento absurdo. O "desejo" ou "não desejo"
não afeta em nada a dignidade e o valor intrínseco de uma pessoa. A criança não é uma
"coisa" cujo valor pode ser decidido por outro de acordo com seu estado de ânimo. Por
outro lado, que uma mulher não esteja contente com sua gravidez durante os primeiro
meses não indica que esta mesma mulher não vá amar a seu bebê uma vez nascido.
Um segundo argumento é o de que a mulher tem direito a decidir sobre seu
próprio corpo. É triste ver a propaganda "pró-escolha" apresentar o aborto como um
"direito" de toda a mulher, reivindicando esse direito precisamente em nome da
"liberação" das mulheres. É uma triste propaganda, essa que só pode tornar amarguradas
e tristes as mulheres que lançam mão desse "direito". Quem irá "liberá-las" depois de
ganharem consciência do que fizeram, violando os seus instintos humanos mais
íntimos? Este argumento é repugnante e falso, pois não apenas vai contra o direito de
vida da criança sendo gerada, como vai a favor de uma liberdade sexual feminina, que
nada mais é do que pecado e influência maligna.
Se não aceitamos definitivamente o aborto induzido por motivo de escolha
apenas, podemos pensar em outros casos mais complexos, a princípio. Passemos a estes.

3.2.2.5 – É correto o aborto de fetos com problemas congênitos?

Nosso primeiro questionamento é quanto ao aborto induzido de fetos com


problemas congênitos. Este tipo de aborto, às vezes chamado de “Aborto eugenésico”, é
defendido por algumas pessoas. Trata-se do que seria feito, por exemplo, com crianças
com doenças graves e possivelmente fatais. O caso mais emblemático talvez seja dos
fetos anencefálicos, ou seja, aqueles sem cérebro.
A anencefalia trata-se de uma anomalia diagnosticável, porém, não possui nenhuma
explicação plausível para justificar sua origem, sabendo-se, apenas, que o feto não
apresenta abóbada craniana e os hemisférios cerebrais ou não existem, ou se apresentam
como pequenas formações aderidas à base do crânio. A anencefalia é fatal em 100% dos
casos até hoje conhecidos.
Quanto ao aborto eugenésico, não podemos ser favoráveis a este. Primeiramente, porque
não existem diagnósticos 100% seguros em grande parte das doenças congênitas, o que
por si só já seria arriscado e um atentado a vida humana. Em segundo lugar, no caso dos
fetos que mesmo com deficiências tenham grande chance de viver, aceitar o aborto seria
fazer um julgamento moral sobre uma vida ser superior ou mais digna de ser vivida do
que outra. O que impede a generalização deste mesmo raciocínio para se concluir que é
correto matar uma criança deficiente? Não há argumento que sustente esta posição, e ela
é perigosa. Não há diferença entre as pessoas normais e anormais no que concerne a
satisfação da vida, atitude perante o futuro e vulnerabilidade à frustração. Dizer que
crianças com defeitos congênitos desfrutariam menos da vida é uma opinião que carece
de apoio empírico e teórico.
Inclusive são numerosos os testemunhos dos pais de crianças deficientes físicos ou
mentais que manifestam o amor e a alegria que esses filhos lhes proporcionaram.
Quanto aos casos onde praticamente não há chance de sobrevivência como no caso dos
fetos anencefálicos, novamente não podemos ser favoráveis, pois permitir o aborto
nestes casos seria endossar uma forma de homicídio (embora o status do feto não é o
mesmo de uma pessoa nascida, como nossos códigos penais indicam) e retirar uma vida
que foi por Deus dada. Além disso, seria ir contra a fé que Deus pode fazer um milagre
nestes casos.
Embora considerando os abortos nestes casos como sendo moralmente, eticamente e
religiosamente errados, deixamos a dúvida quanto à criminalização dos abortos de fetos
anencefálicos e com doenças congênitas muito graves. Em minha opinião, estes casos
deveriam ser deixados sobre decisão da família, alertando-a, porém, sobre os erros
envolvidos e conseqüências, mas dando também suporte à decisão.

3.2.2.6 – É correto o aborto nos casos de abuso sexual?

O segundo caso que precisamos tratar é o das gestações causadas por estupro.
Este tipo de aborto é conhecido como “aborto sentimental”. Embora seja triste saber que
existam pessoas capazes de fazer isto com seus semelhantes, um erro não justifica outro,
e também nestes casos não podemos ser favoráveis ao aborto. O resultado do estupro é
uma criança que não tem culpa do que aconteceu. Se se deseja evitar a gravidez, que se
use a pílula do dia seguinte então. Devemos observar que este tipo de aborto não é
considerado crime no Brasil.

3.2.2.7 – É correto o aborto para salvar a vida da mulher?

Esta talvez seja a mais difícil questão pertinente ao aborto. Abortos realizados
para salvar a vida da gestante não são criminalizados na legislação brasileira. Seria
errado salvar a vida da mãe retirando o feto?
Devemos lembrar que casos onde esta situação está presente são cada vez mais
raros, pois na maioria das vezes é possível se salvar a vida da mãe. Mas se houvesse
realmente o risco a questão seria delicada. A Bíblia, demonstrando diversos casos onde
mães morreram na gestação, parece demonstrar que também neste caso o aborto seria
errado e observando outros princípios realmente seria este o caso. Novamente
apontamos, porém, que este é um caso extremamente sensível.
Com esta questão podemos encerrar a questão do aborto e passar para as
próximas questões polêmicas quanto à vida.

3.2.2.8 – É correta a prática da eutanásia?

Após tratarmos das polêmicas relacionadas ao nascimento, passemos a tratar das


polêmicas relacionadas à morte. O termo eutanásia vem do grego e pode ser traduzido
como “boa morte” ou “morte apropriada”. O termo eutanásia é amplo e engloba
diversas situações.
A eutanásia pode ser classificada de diversas formas, dependendo do critério
adotado. Quanto ao tipo de ação temos: eutanásia ativa (quando o ato é deliberado para
provocar a morte de uma pessoa que está passando por grande sofrimento), passiva (o
paciente terminal morre por não ter sido feita uma intervenção ou por esta ser retirada) e
de duplo-efeito (a morte é acelerada por conta de medidas feitas visando a diminuição
da dor). Quanto à intenção do paciente a eutanásia pode voluntária, involuntária e não-
voluntária. Outro termo geralmente utilizado é suicídio assistido, que se trata de ajudar
uma pessoa que não tem capacidade e deseja retirar a própria vida.
No Brasil a eutanásia é considerada homicídio. Está tramitando no Senado
Federal, um projeto de lei 125/96, elaborado desde 1995, estabelecendo critérios para a
legalização da "morte sem dor". O projeto prevê a possibilidade de que pessoas com
sofrimento físico ou psíquico possam solicitar que sejam realizados procedimentos que
visem a sua própria morte. A autorização para estes procedimentos será dada por uma
junta médica, composta por 5 membros, sendo dois especialistas no problema do
solicitante. Caso o paciente esteja impossibilitado de expressar a sua vontade, um
familiar ou amigo poderá solicitar à Justiça tal autorização. O projeto de lei é bastante
falho na abordagem de algumas questões fundamentais, tais como o estabelecimento de
prazos para que o paciente reflita sobre sua decisão, sobre quem será o médico
responsável pela realização do procedimento que irá causar a morte do paciente, entre
outros itens.
Como toda polêmica agora tratada, a eutanásia tem correntes divergentes em sua
discussão. De um lado há os que defendem a eutanásia, apontando para a dor causada ao
paciente e a sua família, os gastos desnecessários, etc. que no final resultam apenas em
prolongar uma morte que virá de qualquer maneira. Os contrários a eutanásia, por outro
lado, lembram de casos perdidos, de pessoas que conseguiram se recuperar quando
ninguém mais acreditava.
As questões relacionadas à eutanásia são bastante complexas, de maneira que
levantaremos alguns pontos-chave antes de passarmos a qualquer conclusão.
A relevância sobre o debate quanto à eutanásia se mostra quando vemos, por
exemplo, que existe uma federação mundial de entidades pró-eutanásia. Portanto, o
cristão, como parte da sociedade, deve estar por dentro destas questões e saber como se
posicionar.
A primeira questão quanto à eutanásia e as verdades bíblicas, é que o sofrimento,
ao contrário do que muitos visões humanistas seculares pregam, não diminui o valor da
vida humana. A visão bíblica, além de atribuir valor intrínseco à vida, e não
circunstancial, possui outra visão do sofrimento. Ela reconhece que sofrimento não é
algo desejável e pode diminuir o nosso desfrutar imediato desta vida, numa visão
meramente temporal, como registra Paulo em 1 Co 1.8, "...a tribulação que nos
sobreveio... foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida".
O sofrimento também pode ocorrer como resultado direto do pecado (Tg 4.8-9), mas,
em várias ocasiões, ocorre dentro dos propósitos insondáveis de Deus, com a finalidade
didática de nos ensinar alguma coisa. Nesse sentido, paradoxalmente, em vez de retirar
qualidade da vida, pode adicionar qualidade real. O sofrimento pode fazer com que nos
acheguemos e dependamos mais de Deus e capacitar, tanto ao que sofre como aos que
dele precisam cuidar, ao aprendizado de lições preciosas para o crescimento conjunto
dos fiéis, como ensina 2 Co 1.3-4, que diz: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em
toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em
alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus".
Com essa visão, pensando nos resultados benéficos, podemos até nos gloriar nas
tribulações (Rm. 5.3-4). Paulo também nos escreve que "aprendeu o segredo de estar
contente em qualquer e toda situação" (Fp 4.12). Não podemos confundir o direito de
procurar a felicidade (dádiva de Deus aos homens), com o direito inexistente de se obter
felicidade (prerrogativa da soberania de Deus). Ou seja, a ausência de felicidade
aparente e temporal não diminui a qualidade de vida e não nos dá nenhuma prerrogativa
sobre a decisão de vida ou morte, nossa e de outros, como defendem os proponentes da
eutanásia.
Outro ponto que não pode ser desconsiderado no debate, quando feito sob a ótica
cristã, é que a morte não é algo natural, mas resultado do pecado (Rm 6.23). É verdade
que servos de Deus muitas vezes expressaram o desejo de morrer antes do tempo
apontado por Deus, buscando encontrá-lo (Fp 1.23), mas submeteram-se à vontade de
Deus em suas vidas, sendo o exemplo maior o do nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 26.39).
A eutanásia ativa, diante disto, não pode ser considerada como moralmente e
espiritualmente correta. Não está sob o controle do homem o final da vida, sendo esta
uma dádiva de Deus. Não há muito que se discutir neste ponto. O argumento pró-
escolha, já sugerido na discussão sobre o aborto, não é algo que seja válido na ética
cristã.
A eutanásia passiva, entretanto, é tida como moralmente aceitável pela maioria.
A vida sustentada por aparelhos é algo artificial, ocorrendo em pacientes terminais.
Geralmente, quando a pessoa chega a esse estágio é sinal de que o cérebro entrou em
colapso e apenas o coração e a respiração estão sendo mantidos por meio de máquinas e
aparelhos. O principal ponto é o avanço da medicina, que faz com que cada vez mais
seja possível se prolongar a vida do paciente, muito embora grande parte de suas
funções vitais estejam comprometidas. A eutanásia passiva deve ser discutida e cada
caso analisado com cuidado. Não é possível afirmar nada categórico quanto a isto. A
Bíblia não permite que tiremos a vida, mas também não ordena que façamos esforços
fúteis para mantê-la.
Um primeiro ponto quanto à eutanásia passiva é o desejo da pessoa antes de
entrar no estado terminal. Isto é facilitado caso a pessoa tenha expressado seu desejo
antes de ficar doente, mas isto levanta a questão se a pessoa manteria este desejo ao
saber que está no estado terminal. Algumas pessoas defendem que todos deveriam fazer
um documento onde expressassem seus desejos sob as mais variadas condições, como
coma, dano cerebral irreversível. Esperar, porém, que uma pessoa com saúde venha a
pensar nisto é muitas vezes inimaginável. Outro ponto é o desejo da família em insistir
que a vida de seu familiar seja mantida, algo que deve certamente ser considerado.
Outro ponto a ser levado em questão é o resultado da liberação da prática da eutanásia e
a depreciação da vida que isto poderia trazer à sociedade.
Concluindo, a eutanásia ativa, com o argumento de evitar o sofrimento, não é algo que o
cristão deva defender. Quanto à eutanásia passiva ou indireta, esta é aceitável dentro de
casos específicos.

3.2.2.9 – Outras questões.

Tratamos das principais questões polêmicas dentro do que convenciona chamar


de bioética. Não aprofundaremos em mais nenhuma discussão, mas terminaremos este
capítulo citando outras questões polêmicas dentro desta divisão:
 Os direitos dos animais e ecologia: sendo a vertente mais importante aquela
contrária aos testes científicos em cobaias, e mesmo vegetarianismo extremo.
 Trans-humanismo: vertente de pessoas que defende o uso da tecnologia para
aprimorar as capacidades do homem, produzindo uma raça superior. Esta
discussão é mais evidenciada em discussões a respeito da ética nas intervenções
estéticas ou doping (mesmo genético), e mesmo nas pesquisas anti-
envelhecimento.
 Limites éticos da ciência: questão cada vez debatida, por exemplo nas discussões
sobre modificações genéticas.
 Ética médica: muito ligada às questões que discutimos, sobre aborto, eutanásia,
etc.
Tendo tratado de mais estas questões polêmicas, passaremos agora a tratar de questões
doutrinárias polêmicas, começando por aquela que em nossas igrejas sem dúvida é a
principal: predestinação.

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