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Anais do Festival Literário de Paulo Afonso - FLIPA - 2017 - Faculdade Sete de Setembro - Paulo Afonso-Bahia

A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POESIA DE GREGÓRIO DE MATOS

Camila de Carvalho Dantas*


Wellington Neves Vieira**

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a representação feminina na poesia de Gre-
gório de Matos. Explora-se a visão do poeta acerca da mulher, na época do Brasil-Colônia
e suas condições perante à sociedade. A pesquisa foi constituída a partir de uma abordagem
qualitativa, descritiva e explanatória. Para fundamentar, foram utilizados alguns teóricos,
como Bordieu (2005), Rossiaud(1991) e outros. Assim, analisamos a representação da mu-
lher em diversas fases da história da humanidade, iniciando pela Grécia Antiga, até chegar
no período Barroco no Brasil. O trabalho constatou evidências como: a presença do patriar-
calismo; a desigualdade entre homens e mulheres; a disseminação da ideia de superioridade
masculina.

PALAVRAS-CHAVE: representação, mulher, poesia, Gregório de Matos

ABSTRACT

This article aims to analyze the representation of women in the poetry of Gregorio de Ma-
tos. It is explored the vision of the poet about the woman at the moment of Brazilian co-
lonization and its conditions before the society. The research was built from a qualitative,
descriptive and explanatory approach, and based on the studies of theorists such as Bordieu
(2005), Rossiaud (1991) and others. Thus, it was possible to analyze the representation of
women in many stages of human history, from the ancient Greece to Brazilian Baroque
period. The work verified evidences like the presence of patriarchy, the inequality between
men and women and the dissemination of the idea of male superiority over female.

KEYWORDS: representation, woman, poetry, Gregório de Matos

 Poeta baiano nascido em 23 de Dezembro de 1633, na cidade de Salvador, e morreu em 26 de Novembro de 1695
na de cidade de Recife, (as duas datas são incertas, há divergências entre estudiosos em relação a ambas).
* Discente do Curso de Letras da Faculdade Sete de Setembro - FASETE.
** Professor Mestre e orientador da disciplina Prática Interdisciplinar-IV.
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1 INTRODUÇÃO

Este artigo trata sobre a representação da mulher na obra de Gregório de Matos¹, fazen-
do um estudo aprofundado da vida e da obra do poeta baiano, utilizando pesquisas bibliográfi-
cas, consultadas em artigos científicos, livros e ferramentas digitais, acerca do tema. Ao longo
desta pesquisa, é importante ressaltar, que desde as sociedades mais antigas, a mulher esteve
submetida, a um regime de desigualdade diante dos homens; o sistema patriarcal é algo que
esteve presente nessas sociedades, influenciando de forma direta o modo de vida, e o desenvol-
vimento das condições impostas pelo meio social.
Além disso, neste trabalho teremos a oportunidade de conhecer melhor, a importância
da mulher, ao longo de vários períodos da humanidade, resultado de uma perspectiva histórica,
como uma forma de complementar, o objetivo central da pesquisa, reforçando a representativi-
dade feminina acerca da diversas facetas de Gregório de Matos.
A pesquisa foi constituída a partir de uma abordagem qualitativa, descritiva e explana-
tória. Para fundamentar essa pesquisa foram utilizados alguns teóricos, como: Bordieu (2005),
Rossiaud (1991) e Del (2005).O trabalho constatou evidências como: a presença do patriar-
calismo; a desigualdade entre homens e mulheres; a disseminação da ideia de superioridade
masculina em relação ao sexo oposto, e outros conceitos manifestos em diferentes períodos da
humanidade, em relação a figura feminina.
No primeiro tópico, é estudada a representação da mulher na Grécia, sendo abordados
os principais acontecimentos, em especial na Grécia Antiga, focando nas duas principais cida-
des do país desta época, Atenas e Esparta, relacionando as diferenças e semelhanças, do modo
de vida das mulheres nessas diferentes sociedades. O tópico seguinte trata da representação da
mulher na Idade Média, (mais conhecida como idade das trevas) é evidenciada uma forte influ-
ência da Igreja Católica, e os padrões rígidos impostos pela sociedade, reforça a ideia, de um
sistema patriarcal rigoroso, e com pouca liberdade de expressão para as mulheres.
Esse trabalho abrangerá, portanto, a representação da mulher estudada no período do
Renascimento, sendo notada, a ascensão das pessoas. Trata-se de um período que, de forma
geral, a Igreja Católica e o pensamento teocêntrico, começam a entrar em segundo plano, e o
homem, começa a se interessar por práticas mundanas. Neste contexto, a mulher continua presa
à um regime de desigualdade e submissão, porém há um desenvolvimento maior, em relação a
educação, aquisição de novos hábitos de vida.
No último tópico, o período literário destacado é o Barroco, através do qual apontaremos a
representatividade da mulher, na obra de Gregório de Matos mulher, relatando os principais aconte-

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cimentos, os fatos mais marcantes que estão relacionados ao poeta baiano, para conhecer ao máximo
o meio social, o contexto histórico, centralizando a representação da mulher seus poemas, estudando
essa representatividade e esse meio, como um forma de tentar desvendar um pouco da personalidade
do poeta diante de tamanha irreverência. Em relação a mulher na sociedade, foram analisados, três
poemas de estilos distintos, retratando o lirismo, e o lado erótico da obra, do poeta.

2 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA GRÉCIA

Este tópico tem como finalidade investigar a representação da mulher na Grécia, em


especial na Grécia Antiga, relatando os hábitos de vida das gregas, diante de uma sociedade
conservadora, em que a figura do homem, que era considerada superior à da mulher e a estas
restava a submissão total.
Quando se trata da representação da mulher, nesta época da Grécia, geralmente, o foco
maior está direcionado para as mulheres de Esparta e Atenas, porque, apesar do patriarcalismo
presente nas duas cidades, ambas tinham objetivos culturais bastantes diferentes. O papel da
mulher em meio a isso tudo era a procriação, administrar a casa, educar os filhos e ser fiel ao seu
marido. Logo, para o homem foram designadas outras tarefas da sociedade e, com o crescimen-
to do universo político, o lar perde espaço para as “sutilezas” masculinas (BORDIEU, 2005).
Diante de colocações como essas podemos constatar a coexistência de duas condições
sociais bem distintas; por um lado à recatada e dona do lar, alienada ao sistema de hierarquias
e valores de uma cultura patriarcalista. Por outro lado, o discurso do dominador, chefe da famí-
lia e soberano aos anseios femininos, o homem. Configura-se, assim, um posicionamento que
neutraliza a presença da mulher na sociedade. No livro,Política, Aristóteles alavanca a ideia de
essências absolutistas da natureza de cada ser, no que concerne ao estado da mulher é aposição
de submissão (ARISTÓTELES, 1997, p.33):

Todos possuem as diferentes partes da alma, mas possuem-nas diferentemente, pois


o escravo não possui de forma alguma a faculdade de deliberar, enquanto a mulher a
possui, mas sem autoridade plena, e a criança a tem, posto que ainda em formação.
(...) Devemos então dizer que todas aquelas pessoas tem suas qualidades próprias,
como o poeta (Sófocles, Ájax, vv.405-408) disse das mulheres: ‘O silêncio dá graça
as mulheres’, embora isto em nada se aplique ao homem.

Dessa forma, pode-se compreender que o posicionamento de Aristóteles quanto às mu-


lheres é de inferioridade, contida na ideia universal de que a mulher é um ser passivo, apenas

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submissa, acarretando, assim, a significação discriminadora que o próprio referencial aristoté-


lico fomenta.
Numa posição contrária à de Aristóteles, o filosofo Sócrates apresenta outra postura:

[...]consequentemente meu amigo, não há nenhuma atividade no concerne à adminis-


tração da cidade que seja própria da mulher enquanto homem; ao contrário, as apti-
dões naturais estão igualmente distribuídas pelos dois sexos e é próprio da natureza
que a mulher, assim como o homem, participe em todas as atividades, [...] (PLATÃO
apud SÓCRATES, 2003, p.11)

Nota-se pensamentos contrários entre os dois pensadores;de um lado, o conservado-


rismo de Aristóteles, e de outro,os ideais liberalistas de Sócrates, ao colocar a figura feminina
no mesmo coeficiente e atribuições masculinas. São esses posicionamentos controversos que
representam a finalidade da mulher na sociedade grega, mais especificamente em Esparta e em
Atenas com características bem distintas:

De acordo com os relatos dos antigos, a mulher espartana era livre para circular na
cidade e recebia a educação estatal destinada a atender às necessidades do seu meio
social. Essa mulher desempenhava a relevante função social de gerar filhos robustos
e corajosos, ao passo que a mulher ateniense mantinha-se confinada em sua casa,
aprendendo com as mulheres mais próximas, em geral a mãe, como administrar o lar e
desenvolver as atividades domésticas, tais como; tecer, fabricar utensílios de cerâmica
e cuidar dos filhos (SILVA, 2005, p. 11).

Nesse sentido, percebe-se que as mulheres espartanas tinham certa “liberdade” em seu
meio de convívio;elas configuravam-secomo exemplo da mentalidade da sua época. Em contra-
partida, as mulheres de Atenas não tiveram tantos privilégios; como observamos, as atenienses
tinham um estilo de vida mais caseiro, eram tidas como objeto de desejos sexuais pelos mari-
dos, não podiam fazer parte de debates políticos, e diante da sociedade não eram vistas como
cidadãs. Ficavam responsáveis pela manutenção da casa.
Apesar das diferenças entre a forma de vida, das duas cidades, as mulheres sempre estive-
ram em segundo plano, e as decisões sempre eram tomadas pelos homens, designando a obediên-
cia e submissão, ao marido, pai, e os filhos, sem ter o direito de se rebelar ou contestar, algo que
fosse contrariar os interesses destes, pois “temos cortesãs para nos dar prazer; temos concubinas
para com elas coabitarmos diariamente; temos esposas com o propósito de termos filhos legítimos
e de termos uma guardiã fiel de tudo o que se refere à casa” (APOLODORO, 2011,p.59)
No trecho acima trazemos a dimensão, não rara, do papel da mulher na visão do homem.
Elas contidas, como fonte de prazer carnal, distração fora do casamento, e vistas como objetos,

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há também a necessidade de possuir mulheres dignas de serem donas de casa e cuidar da famí-
lia. Constata-se, que a figura feminina era necessária nessa sociedade patriarcal, porém, dentro
dos termos propostos pelo homem, que acabavam se colocando numa posição de superioridade
em relação as mulheres.
Procuramos refletir, portanto, sobre o modo de pensar as mulheres no mundo grego, que
acarreta uma visão negativa e subalterna do feminino. Pois a fundamentação teórica revelou
como dominante o pensar patriarcal, logo mais a seguir, teremos a oportunidade de constatar,
que a questão do patriarcalismo é algo presente nas diferentes fases da humanidade e em diver-
sas sociedades, algo que se faz presente na vida da mulher na Idade Média.

2.1 A representação da mulher na idade média

O presente tópico tem como objetivo investigar sobre a representação da mulher na


Idade Média, explorando de forma crítica, os principais comportamentos da sociedade, em que
estavam inseridas, fazendo uma análise sobre o contexto social, cultural e os hábitos de vida,
dessas mulheres.
A Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas, foi um período em que a hu-
manidade estava deixando os costumes medievais e adotando costumes mais modernos. Assim
como na Grécia, o patriarcalismo também moldava aquela sociedade e a submissão da mulher
diante do homem era algo considerado necessário, pois elas eram vistas como seres inferiores e
propensas aos pecados da carne. Partido disso, Arnaud Laufre faz a seguinte colocação: “a alma
de uma mulher e a alma de uma porca são quase o mesmo, ou seja, não valem grande coisa”
(LAUFRE apud MACEDO, 1990).
Diante disso, podemos ter noção de como as mulheres eram mal interpretadas numa socieda-
de conservadora, foram pouco valorizadas, tidas como seres inferiores e objetos, pelos pais, maridos,
filhos. Além da influência, da Igreja Católica, que estava consolidada, como uma grande instituição
religiosa, respeitada, estável e temida, por todos daquela sociedade, centraliza-se Deus acima de
todas as coisas, como uma forma, de persuadir e dominar as pessoas, para seguir seus princípios.
Neste contexto social, a mulher, por ser vista como pecadora e inferior, era temida pela
a possibilidade de trair seus “superiores”, e cabia a estes domina-las e castiga-las, caso fizessem
algo, que fosse contra seus desígnios de homem, perante os comportamentos, considerados ade-
quados por aquele meio social. É notável, que todas as formas de castigos, físicos e psíquicos,
praticados contra as mulheres, sempre eram embasados em teorias preconceituosas, e usadas
como justificativa, para as práticas de tais atos.

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Em relação a vida amorosa, financeira, e familiar, a mulher se enquadra em padrões


bastante rigorosos, impostos pela sociedade da época, não tinham direito de herdar bens da
própria família, a estes, era dados ao filho homem e primogênito, como uma forma de preser-
var o dinheiro em família, e não causar divisão, para as mulheres restavam apenas o dote, que
recebiam quando casavam-se, sendo administrado pelo marido, o objetivo do casamento, era a
procriação, e manter vínculos financeiros em famílias.
Por serem consideradas objetos pelos homens, a estes não foi permitido demostrar amor
pelas suas mulheres, e as relações sexuais, entre casais, só eram permitidas pela Igreja Católica
com o objetivo da reprodução, caso contrário, a prática era considerada como fornicação, e se
fosse descoberta, era duramente punida pela igreja com penitências rigorosas, e longos períodos
de abstinência
A prostituição era algo que também fazia parte da sociedade na Idade Média, sendo
considerada uma atividade aceitável; as meretrizes se instalavam em bordéis e casas de
banho, distribuídos pelas cidades, sendo divididas em classes diferentes, tinham as corte-
sãs, as escravas e as prostitutas independentes, atendendo homens de diferentes idades e
classes, apesar de ser uma atividade tolerada, as pessoas tradicionais da época, não tinham
uma boa visão, em relação as prostitutas as prostitutas transmitiam uma visão: “mesmo fora
dos grandes cinturões de pobreza , que multiplicavam por todos os caminhos o número de
mulheres que se ofereciam, moças vagabundas iam, com ou seus rufiões, de cidade em ci-
dade , reforçando aqui e ali o pequeno grupo de mulheres ‘comuns a muitos’( ROSSIAUD.
p. 20, 1991)
Nesse trecho de Rossiaud, é relatado sobre a peregrinação, dessas prostitutas em vários
lugares, tornando-se mulheres acessíveis, a todos aqueles que procuravam os locais, onde elas
se encontravam, consumando uma prática que foi aceita pela sociedade, dentro de algumas
normas, e que na maioria das vezes, foi considerada a solução para a homossexualidade, e a
diminuição na ocorrência de estupros, praticados contra as mulheres, de uma maneira geral,
praticados por jovens da sociedade da época.
Podemos concluir que a representação da mulher, neste período continuava embasada
na presença do patriarcalismo de maneira significativa e, o homem considerado como dono e
superior da verdade absoluta; além disso, discutimos as doutrinas impostas pela Igreja Católi-
ca, em que, centralizava a questão religiosa, acerca dos comportamentos da sociedade. Logo
a seguir, será explorado a representação da mulher no Renascimento, e as suas vivências uma
sociedade de transição para a era moderna.

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2.2 A Representação da mulher no Renascimento

Neste tópico, investigamos sobre o período de transição entre a Idade Média e o renas-
cimento, na Europa, como isso afetou a representatividade da mulher, no Brasil Colônia, e os
costumes trazidos de Portugal, dentro da fase renascentista no Brasil. O renascimento surgiu
na Europa por volta do século XVI, agregando novos valores a cultura da sociedade, desmisti-
ficando as crenças, deixando o teocentrismo de lado, colocando o antropocentrismo em vigor,
buscando inserir novos costumes que centralizam o homem.
Neste novo contexto cultural, as mulheres continuavam sem grandes evoluções, e o re-
gime patriarcal se mantinha presente. No Brasil, com a chegada dos portugueses, e o início das
atividades coloniais, foram ocorrendo as misturas entre diferentes etnias e encontro de culturas
entre povos (portugueses, índios nativos, e os negros trazidos a força da África).(..) “
Com a chegada dos portugueses, o processo de estadia que iniciava, o período de colo-
nização, toda a bagagem cultural e o modo de vida desses colonizadores, refletia diretamente
na vida da mulher. Nesta sociedade que se iniciava, a mulher estava inserida numa condição de
submissão, e muitas vezes, expostas aos rigorosos padrões educacionais da época, sendo prepa-
radas para costurar, cozinhar e treinadas para tornarem-se boas donas de casa e esposas, além
da submissão a Igreja católica. Nesta perspectiva, Del, faz a seguinte colocação:

Algumas ordens religiosas femininas dedicara-se especialmente à educação para me-


ninas órfãs, com a preocupação de preservá-las da “contaminação dos vícios e ao
cuidado das moças sem emprego daquelas que se desviavam do caminho (DEL PRIO-
RE,2006, p, 445).

Por ser um período, em que novos hábitos estavam sendo inseridos, e a linha de pensa-
mento das sociedades, estavam sendo mudadas, as mulheres começaram a ter acesso à educa-
ção, e posteriormente, conseguiram visibilidade diante de seu meio social. Nessa nova socieda-
de que estava estabelecida no Brasil-colônia, podemos citar o seguinte:

O absolutismo do pater famílias em nossa terra só começou a se dissolver à medida


que outras instituições e figuras cresceram, como o interesse e o apoio da família real
que aqui se instalou, deslocando o centro de poder, até então nas mãos dos senhores
patriarcais, para estas figuras e instituições (ROCHA-COUTINHO 1994, p,75)

Podemos analisar,o interesse dos portugueses, com os resultados conquistados na colô-


nia, o crescimento cultural e social, que ocorreu neste período no Brasil. Em meio a isso tudo,

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a representação da mulher está dividida em três classes: a mulher branca, a índia, e a mulher
negra. A mulher branca, era educada para ser moça de família, e casar com os senhores da so-
ciedade, sendo idealizada como símbolo de pureza, (obediente ao esposo, e alma pertencente a
Deus), fazendo parte da sociedade aristocrática.
Ao contrário disso, a mulher negra (a escrava), era vista como suja, e com fama de ‘boa de
cama’, servia de objeto, para atender os caprichos em relação ao prazer, de seus senhores, sendo
usadas para atender aos desejos carnais destes. As mulheres indígenas, tinham uma vida mais ru-
ral, trabalhavam com o cultivo no campo, além do artesanato, assim como as outras, não ficaram
despercebidas, diante dos olhos dos colonizadores e também se relacionaram com eles.
Averígua-se, que o período renascentista no Brasil, foi um momento de iniciação da so-
ciedade colonial no país, e o encontro de culturas que houve na colonização, formou uma nova
visão, e a perspectiva de evolução da representatividade feminina da época. Logo mais, explo-
raremos a imagem da mulher, no período Barroco brasileiro, analisando a poesia de Gregório de
Matos aprofundando um pouco mais, sobre a representatividade feminina, numa perspectiva,
histórica e artística.

3 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO BARROCO SOB A ÓTICA DA POESIA DE


GREGÓRIO DE MATOS

O objetivo deste tópico é estudar a representação da mulher, no período Barroco do Bra-


sil, relacionando as principais temáticas, abordadas pela sociedade da época, e a visão sobre a
mulher, usando o principal nome desse período da nossa literatura: Gregório de Matos.
O Brasil, ainda sendo colônia de Portugal no século XVII, as referências culturais, artís-
ticas, e costumes da sociedade, adquiridas pelo país geralmente vinham dos Lusitanos, com a li-
teratura não foi diferente. Gregório de Matos, está inserido no Seiscentismo ou período Barroco
no Brasil, movimento proveniente de Portugal, dando início a um estilo relativamente novo na
literatura brasileira, que mostra o contraste e busca ficar no meio termo, mostrando dualidades
entre a mesma coisa: “O Barroco é a fusão do velho com o novo” (MASSAUD, MOISÉS, p.66)
ou seja, é um movimento de contraste, que procura aliar os opostos, como por exemplo, a luz
e a sombra. É nesta perspectiva, que defende-se a teoria, que o barroco que complementa os
opostos, ao mesmo tempo fazendo uma relação direta entre ambos.
Gregório de Matos, entrou para o cânone da literatura nacional em sua poesia, retrata a
mulher de maneira mista, pode ser representada com intenso romantismo e símbolo de pureza,

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até um lado mais erótico, com uso de poemas pornográficos, além de escrever poemas com o
uso freiras, em situações de promiscuidade e de intenso pecado. “a mulher parece sem impor-
tância, a não ser por sua beleza na poesia lírica, e nas poesias satíricas quando é hostilizada e
ridicularizada” (KURY, 2005p.32) .
Nesta citação de Kury, podemos entender um pouco sobre a mulher, na obra do poeta,
em que ela estuda os dois lados dessa representação, evidenciando uma análise aprofundada,
acerca dos diferentes papéis, exercidos e idealizados para mulheres, na poesia do poeta baiano.
Deixando em evidência traços barrocos, em que é demonstrado o contraste acerca da figura
feminina, em momentos idealizada, outrora punida e satirizada.
É visível as características mais relevantes do barroco no Brasil, e também sobre o
principal percursor do movimento: Gregório de Matos, faz-se uma breve descrição, sobre esse
grande poeta, demostrando de forma clara, sobre sua forte personalidade artística, em relação
ao período barroco numa poesia bastante expressiva.
Foi realizada uma análise crítica acerca de alguns poemas que exibem a mulher em dife-
rentes aspectos. Por conseguinte, refletimos sobre os principais comportamentos da sociedade
da época, mesmo que de maneira subtendida o poeta consegue traduzir os principais aconteci-
mentos envolvendo o estado da Bahia, bem como o Brasil-Colônia. A seguir, iniciaremos com
um soneto em que a poesia lírica amorosa, representa a mulher de maneira idealizada e como
símbolo de pureza.

À mesma D. Ângela

Anjo no nome, Angélica na cara,


Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a cortara


De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Ser como Anjo sois dos meus altares,


Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólico azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,


Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

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Podemos observar neste soneto (composto por dois quartetos e dois terceto), possui es-
quema de rimas: ABBA/ ABBA/ CDC/ DCD. A mulher é retratada com caracteres românticos,
pureza, delicadeza, sendo exaltada e idealizada pelo eu poético. Encaixa-se na poesialírica, pois
o cuidado, a fineza e cada detalhe que o poeta tem em exaltar, representa muito bem a mulher
branca, pois estas, naquela época eram vistas como símbolo de pureza, dignas de bons casa-
mentos, com homens da nobreza, sendo as Senhoras respeitadas pela sociedade.
Ao contrário da mulher branca, a mulher negra/mulata (escrava), é exaltada com forte erotis-
mo, e seus atributos físicos, a fama de boa de cama, rende a elas a visão de prostituta e indigna. Ou
seja, além de realizar as tarefas obrigatórias da sua condição de escrava, aquelas que eram tidas como
prediletas, pelos seus Senhores foram obrigadas,a deitar-se com eles, Geralmente o acesso de outro
homem, ou escravos, as estas negras era dificultados, sob penalidade de castigos físicos, e aumento da
carga de trabalho. Em contrapartida, destacamos a visão da negra/mulata na poesia de Gregório:

O espírito e a carne

Minha rica mulatinha


Desvelo e cuidado meu,
Eu já fora todo teu,
E foras toda minha
Juro-te, minha vidinha,
Se acaso minha quês ser,
Que todo me hei de acender
Em ser teu amante fino pois
Porque já perco o tino,
E ando para morrer.

Neste poema, podemos perceber uma relação de opostos, existe a presença, de um


lirismo amoroso muito grande, e a mistura do desejo carnal, em que a mulher mulata/negra é
representada com erotismo, objeto de desejo, para uma possível conquista por parte de algum
senhor, com quem, já possuiu algum caso amoroso, pois há tentativa de reconquista-la.
Neste poema, Gregório de Matos trata da mulher negra, e deixa evidente a imagem de
uma mulher capaz de despertar o desejo carnal, e os extintos dos homens, confirmando uma
prática bastante comum na época do Brasil-Colônia, as negras usadas como objetos pelos seus
senhores, e a exaltação de seus atributos físicos, revelando-se como impura, servia apenas para
agradar seus senhores, e tornarem-se suas amantes, ficando numa posição de inferioridade, suja
e prostituta, perante a sociedade.
Gregório de Matos, em seus poemas eróticos, além de usar a imagem da mulher comum, ele
também fazia uso da imagem de freiras, figura importante, presente na construção da imagem da Igreja

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Católica, provocando assim, um grande assombro na sociedade da época. Nesses poemas, ele denun-
ciava as corrupções, e os escândalos sexuais, envolvendo conventos e clérigos ligados a instituição
religiosa. No próximo poema, veremos a imagem da freira, representada de forma bastante erótica:

Necessidades forçosas da natureza humana

Descarto-me da tronga, que me chupa


Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.
Busco uma freira, que me desentupa
A via, que o desuso ás vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre como chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?
Amigo, que se limpa de carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão a sua cachopa

Nesse poema, a freira é exposta com forte desejo carnal, o ato é consumado, de modo
arrebatador, e com um índice de satisfação muito grande, o uso de expressões fortes é algo que
deixa o poema intenso, e que causa impacto nas pessoas, principalmente naquela época da
Bahia, porque Gregório de Matos em sua obra, denuncia os maus hábitos das pessoas, governo
e instituições corruptas, no caso essa freira que está sendo representada, retrata as falhas e os
escândalos sexuais, envolvendo a Igreja Católica.
Diante dos três poemas apresentados podemos constar que a representação da mulher
na poesia de Gregório, expressa, sobretudo características da poesia romântica, como objeto da
pureza, uma mulher idealizada, contendo traços angelicais, bem como, a presença de um liris-
mo intenso, além da presença da mulher, que traz uma perspectiva fortemente erótica, focada
na negra e mulata até freiras que são figuras da Igreja Católica, sendo representadas com forte
apelo carnal, e desejo sexual.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho, tratamos da representação feminina em diferentes períodos da história,


desde a Grécia Antiga até o Brasil-colonial. Essa investigação pôde constatar a presença do pa-

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triarcalismo; a desigualdade entre homens e mulheres; a disseminação da ideia de superioridade


masculina em relação ao sexo oposto, foram evidentes nos períodos investigados pela trajetória
teórica e literária deste trabalho. Destarte a representação da mulher na poesia de Gregório de
Matos, propiciou conhecer a estético literária desse poeta, que representa as diferentes faces
da mulher, em sua obra, bem como o contexto histórico em que elas estavam inseridas. Desse
modo, essa pesquisa espera contribuir para estudos futuros a respeito da representação feminina
nas poesias de Gregório de Matos.

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