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Os contos, em especial os
selecionados por Luiz Ruffato para
a edição destes Contos
antológicos, funcionam
individualmente e também em
conjunto. Roniwalter Jatobá por Osvalter
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casas (são domésticas, contínuos, moços e moças de recado), todos enfim atuam em
funções (isso quando conseguem um emprego) em que os humanos não podem imprimir,
registrar, as suas marcas, pegadas, de humanos que são.
Outra Paulicéia
O conto A mão esquerda, um clássico, e antológico, conto de Roniwalter, diz muito sobre a
visão de mundo dele, e revela o ponto central de seu projeto literário. Natanael, filho de
Elias e Marta, o protagonista da breve narrativa, nasceu em uma pequena e interiorana
cidade e migrou rumo a São Paulo, palco de muitos dos contos de Jatobá. Conseguiu um
emprego que garante apenas o salário para pagar as despesas e necessidades mínimas. Ele
perderá dedos de uma das mãos durante a jornada de trabalho. Natanael escreve e envia
cartas para a família fantasiando que, na grande cidade, tem uma vida digna, mas a sua
realidade não passa de inferno permanente.
Jatobá inventou uma ficção, mais do que particular, necessária, porque reflete o andar de
baixo, “misteriosamente” quase invisível na malha literária brasileira. O texto não é
panfletário, e bem que poderia ser, nem faz denúncia, e isso seria perfeitamente
compreensível, e necessário. Antes, trata-se de arte.
O receio de vir a ser demitido, que é uma questão constante para quem faz parte de classe
pouco favorecida economicamente falando, é tema de mais de um conto. Jatobá conseguiu
captar nuances de quem faz parte dessas castas condenadas à vida.
A ficção de Jatobá traduz, para o leitor, a sensação daqueles para quem viver é apenas
sofrer, passar a maior parte da existência dentro de fábricas, barracões, ônibus, com apenas
um dia de folga por semana, sem opção de lazer, o bar da rua do bairro, a eterna tentativa
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de ganhar o prêmio da loteria, para mudar a sorte, o azar, que é ter nascido pobre em um
país como o Brasil, onde poucos desfrutam (por quanto tempo ainda?) de um bem-estar
que não é bem nem estar.
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