Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Havia dois pajés: um, o mais velho, era mais sábio e se chamava
Waninjalosu; o outro, o mais novo, chamado Sanerakisu, era um pouco
atrapalhado. O mais sábio era o dono e cuidava das duas cabaças, walxusu,
onde ficavam guardados a noite e o dia. Ele controlava a abertura das cabaças,
mas a cabaça da noite ele controlava mais, para que o dia surgisse mais longo
do que a noite.
Certa vez, Waninjalosu foi à casa de Sanerakisu e disse:
- Eu vou passar um tempo no campo e quero que você cuide das outras
walxusu. A cabaça do dia você pode destampar e deixar toda aberta, mas a da
noite abra só um pouquinho. Tome cuidado para que a noite não escape.
Sanerakisu se confundiu e trocou as walxusu de lugar. Na hora de abrir
uma delas, pensou: “E agora? O que eu faço? Preciso continuar a fazer o dia e a
noite aparecerem, senão, quando Waninjalosu voltar, vai ficar bravo comigo”.
Então, destampou totalmente uma das walxusu e… o mundo escureceu!
Na mesma hora ele tampou a cabaça outra vez, mas de nada adiantou:
estava tudo escuro, não existia mais dia, era só noite, kanâtisu.
Sanerakisu ficou triste e não sabia o que fazer. Então, subiu numa árvore
e ficou gritando para ver se alguém ouvia:
- Hu, u, u, u...Foi mudando um pouquinho a voz, virando passarinho,
esticando a voz.
Ainda hoje ele fica de bico para cima esperando o sol nascer. Só anda e
canta à noite, na época da chuva. É o pássaro chorão chamado uhsu, que
significa “bico para cima”. Ele se parece com casca de árvore, por isso é muito
difícil vê-lo.
Fonte: KITHÃULU, Renê. I RAKISU, o menino criador. São Paulo: Editora Peirópolis,
2002. p.13-14.