Questão 1
Milton Santos crítica e principalmente discursa em seu texto A totalidade do diabo
(1977) sobre o capitalismo e sua formação geográfica, além de seus efeitos nos países
subdesenvolvidos. Segundo ele, novas relações socioeconômicas capitalistas a partir da
década de cinquenta modificaram as formas vigentes, valorizando o lucro do capital perante
as antigas formas de produção das regiões, tanto no contexto rural quanto urbano.
‘’ A formação sócio-econônomica é realmente uma totalidade. Não obstante, quando sua
evolução é governada diretamente de fora sem a participação do povo envolvido, a estrutura prevalece
– uma armação na qual as ações se localizam – não é a da ação, mas sim a estrutura global do sistema
capitalista. As formas introduzidas deste modo servem ao modo de produção dominante em vez de
servir à formação sócio-econômica local e às suas necessidades especificas. Trata-se de uma
totalidade doente, perversa e prejudicial. ‘’
(SANTOS,1977, pag.14 )
O espaço é analisado em quatro categorias internas no estudo da totalidade do
movimento. Segundo o autor ‘’ ... as categorias estrutura, função e forma bem como a de
processo (tempo e escala ) são indissociáveis tanto enquanto categorias analíticas como enquanto
categorias históricas. Elas são as categorias que definem a totalidade concreta, a totalidade em seu
processo permanente de totalização ‘’ (SANTOS,1977, p.12). É dado um maior enfoque na
forma, por ser ela a principal categoria modificada pelas relações capitalistas a partir
da década de cinquenta, com o objetivo de aumentar o ganho de capital. A passagem
‘’ Todas as formas são dotadas de uma estrutura técnica que compromete o futuro ‘’
(SANTOS,1977, p.13) mostra a importância e influência que ela tem na estrutura do
espaço.
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(Tabela 2)
¹ O coeficiente de Gini é um cálculo usado para medir a desigualdade social, ele apresenta dados
entre 0 e 1 onde zero é uma completa igualdade de renda e um uma completa desigualdade. Nesse
caso, ele foi usado para medir a concentração de terra.
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Questão 2
Segundo Carlos Lessa a economia política é ‘’um estudo das leis sociais de
produção e repartição [...] ‘’ (LESSA,1972) que trata do objeto como uma totalidade
em movimento². Para estudar esse processo de constante mutação, ele aponta a
Dialética³ como o ‘’único instrumento logico possível’’. Ou seja, pensar a totalidade em
todas as suas implicações. Este será o método utilizado para estudar a concentração
de renda no Brasil, no período de 1930 a 2010, buscando mostrar a maior quantidade
de dinâmicas que levaram a tais resultados. Para facilitar o entendimento do leitor a
resposta será divida em momentos socio econômicos chaves e destoantes dos
gráficos apresentados na pergunta.
O primeiro recorte data do período pós crise de 1929, crise na bolsa de valores
dos Estados Unidos que trouxe consequências para a economia brasileira. Como os
Estados Unidos era o principal comprador de café, principal exportação brasileira da
época, o governo teve de congelar os preços e comprar o excedente para não criar
uma crise brasileira. Isso gerou a insatisfação dos cafeicultores de São Paulo que
tinham grande poder político, e aliado as greves operarias levaram o Brasil a uma
instabilidade política que fez com que em 1930 Getúlio Vargas tomasse o poder. Sua
política industrial e desenvolvimentista, com pouca regulamentação trabalhista,
aumentou a concentração de renda no país até meados de 1940. Nessa data acontece
o implemento do salário mínimo no Brasil, junto com outras leis trabalhistas, fator
marcante que diminui a concentração de renda, oque pode ser visto pela diminuição
do 1 % mais rico na época de 1940 a 1960.A segunda guerra mundial também deve
ser comentada, uma vez que influenciou a economia de todo o mundo, mesmo não
sendo o principal influenciador das mudanças.
A partir de 1960, mais precisamente em 1964 quando começa o período de
ditadura militar no país, a concentração de renda volta a crescer. Os motivos para tal
acontecimento se devem a duas principais características: O chamado ‘milagre
econômico ‘e a repressão aos movimentos trabalhistas. A primeira característica tem
início em 1969 e se da por um crescimento acelerado da indústria e criação de
empregos. Tal fato, porém, aumentou a desigualdade quando o governo resolve
diminuir em 20 % o salário mínimo, e, junto com as futuras repressões dos
movimentos trabalhistas, levou a um crescimento da concentração de renda. Apesar
do crescimento econômico a inflação se torna elevada, entre 15% e 20% ao ano, e a
divida externa do país começa a aumentar gradualmente, levando ao fim do milagre
em 1974.
Aliado a crise mundial do petróleo em 1974 devido a uma serie de conflitos
envolvendo os produtores árabes e os Estados Unidos, como a guerra dos seis dias
e a guerra do Yom kipur, a crise brasileira de recessão e instabilidade se estende até
a década de 90, mesmo com as varias tentativas de acabar com a hiperinflação com
planos econômicos que vão do governo de José Sarney ate o de Fernando Collor.
Apenas em 1994 com a implantação do plano no governo Itamar Franco é que o Brasil
consegue se reestruturar economicamente, fazendo a economia crescer novamente
e assim a desigualdade. Um acontecimento relevante é a crise de 2000, novamente
nos Estados Unidos, que levou a uma queda do recebimento dos 1 % mais rico.
² Termo criada por Milton Santos que define a economia como a totalidade em
movimento de determinada formação socioespacial.
³ dialética é o debate pela contradição e contraposição que busca a verdade, nesse
contexto é a busca da crise por diversos fatores.
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Com o fim da ditadura militar e a reestruturação da economia, o salário mínimo
começou a crescer, e com as transformações sociais e econômicas feitas através de
programas de inclusão e diminuição da concentração de renda no período do governo
Lula, de 2003 a 2011, o Brasil teve sua menor concentração nos últimos 40 anos.
Questão 3
É fato que as relações econômicas no território brasileiro não são
uniformemente distribuídas devido a sua extensão e os diversos tipos de colonização
especificas de cada região. Desde os tempos de colônia certas regiões foram
favorecidas na questão desenvolvimentista e outras foram deixadas de lado. Devido
a essa multiplicidade de fatores o Brasil, é hoje um conjunto de regiões de diferentes
desenvolvimentos econômicos e sociais, uns necessitando mais apoio do Estado do
que outros.
Retirado do gráfico, é conclusivo que a região Norte e Nordeste é a menos
desenvolvida economicamente, fato associado ao caráter industrial da região centro
sul que o Estado teve durante toda a sua história. Atrelado a isso vem o Mercado, que
não se interessa por questões sociais, apenas resultados econômicos. Isso quer dizer
que ele sempre procura a forma mais rentável de acontecer, nesse caso favorecendo
ainda mais essas regiões e formando polos econômicos de influência mundial, como
o caso da cidade de São Paulo.
Para combater esse direcionamento, o Estado começou a atrair o Mercado
através de políticas de subsídio em outras regiões, numa tentativa de
desenvolvimento geral do país, tendo como exemplo a zona franca de Manaus, no
Norte. É demonstrado aí a complexa relação entre Mercado e Estado: Um necessita
do outro, mas sempre trazendo consequências ou sociais ou econômicas. Programas
de desenvolvimento e inclusão das regiões mais pobres como o Bolsa Família são
uma tentativa do Estado de incluir essas populações no Mercado e assim, diminuir os
problemas sociais. Tais programas servem também para ocupar regiões em que o
Mercado neoliberal não atua e que ficariam sem nenhum incentivo se não fosse o
Estado.
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Referências
CARVALHO,Joelson Gonçalves de . Agricultura e questão agrária no Brasil –
condicionantes estruturais da concentração fundiária
SILVA, José Gomes in STÉDILE, João Pedro. A questão agrária na década de 90.
4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2004.