Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Graduado em Psicologia e Mestrando em História Social (Linha Política e Imaginário) ambos pela
Universidade Federal de Uberlândia – UFU.
Bolsista de Mestrado pela CAPES (2007-2009) e integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política (NEPHISPO)
willianvaz@yahoo.com.br
Resumo Abstract
Pensar a intolerância em toda a sua complexidade Thinking of intolerance in all its complexity is
faz-se necessário pensá-la enquanto um conceito thinking it while a historical concept that carries
histórico que carrega as marcas de seu tempo. the marks of its time. Nowadays, it is recognized
Atualmente, por exemplo, seu exercício se dá de in a subtler way, because discourse creates the
forma mais sutil, pois o discurso cria a idéia de que idea that some historical issues have already been
algumas questões históricas, tão calejadas pelo solved. In this paper we discuss the construction of
tempo, já foram resolvidas. Discute-se a a social space as well as of socialization for
construção de um espaço social e de socialização homosexuals, the rights acquired by black and
para os homossexuais, direitos adquiridos para os afro-descending people, equality between men and
negros e afro-descendentes, igualdade entre women in the job market, among others.
homens e mulheres no mercado de trabalho, etc. However, in practice, those subjects don’t seem to
No entanto, na prática, essas questões não contemplate exactly what is assured. In Brazil,
parecem refletir exatamente o que está mainly in the first half of the twentieth century,
assegurado. O Brasil, principalmente na primeira intolerance against black people was still more
metade do século XX, a intolerância contra os accentuated. They were seen as an inferior race
negros ainda era mais acentuada. Eram vistos which was blamed as responsible for delay of
como uma raça inferior que era vista como society. In that sense, this article discusses the
responsável pelo atraso da sociedade. Nesse form in which eugenist thought tried to solve the
sentido, este artigo discute a forma como o issue through an intolerant proposal of people
pensamento eugenista procurou resolver essa whitening.
questão através de uma proposta intolerante de Keywords: Intolerance. Eugeny. Race. Etnical
branqueamento dos povos. groups.
Palavras–Chave: Intolerância. Eugenia. Raça e
Etnia.
1
WIESEL, Elie. Prefácio. Foro Internacional sobre intolerância (1997: Paris, França). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 8.
2
WISEL, Elie. Prefácio. Foro Internacional sobre Intolerância (1997: Paris, França). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 7.
característica da intolerância, negar o outro em sua O termo eugenia (“boa geração”) foi cunhado por
humanidade na tentativa de diferenciá-lo do eu. Francis Galton em 1883, no livro Inquires into
No Brasil, no período colonial, sobretudo, as human faculty. Sob a influência da leitura do livro
minorias, transformaram-se em verdadeiros “bodes de seu primo Charles Darwin, A origem das espécies,
expiatórios”. Vistas como um entrave à idéia tão Galton lança as bases do que depois ganhará o nome
3
Cf. BLACK, Edwin. A Guerra contra os Fracos: A Eugenia e a Campanha Norte Americana para criar uma Raça Superior. São Paulo: A
Girafa, 2003.
4
Cf. MACHADO, Roberto (Org.). Danação da Norma. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
5
MOTA, André. Dos “quase brasileiros” ao perigo “de fora”: brasileiros e imigrantes sob um diagnóstico sanitário e eugênico. In: Quem
é bom já nasce feito: sanitarismo e eugenia no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 68.
6
Idem.
7
MOTA, André. Dos “quase brasileiros” ao perigo “de fora”: brasileiros e imigrantes sob um diagnóstico sanitário e eugênico. In: Quem
é bom já nasce feito: sanitarismo e eugenia no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 60.
8
Idem, Ibidem, p. 65-66.
A partir do que foi dito fica claro perceber que o BARRETO, L. Diário do Hospício – o cemitério dos
tema da intolerância não pode ser fechado em vivos. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura/ AGCRJ, 1988.
discussões simplórias. Em todos os momentos
históricos, e em todas as civilizações, ela foi BASTIDES, Roger. Sociologia das Doenças Mentais.
responsável pelo massacre de corpos, almas, São Paulo: Nacional; EDUSP, 1967.
culturas, personalidades e costumes. Assim, como
foi mostrado, a questão do discurso entra como um BLACK, Edwin. A Guerra contra os Fracos: A Eugenia
e a Campanha Norte Americana para criar uma
canal através do qual se exerce o poder e o controle
Raça Superior. São Paulo: A Girafa, 2003.
sobre os outros. A eugenia no Brasil revela um
quadro de intolerância, étnica, racial, cultural e CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio
social que acabou por levar pessoas inocentes a de Janeiro e a República que não foi/ José Murilo de
manicômios e prisões. Além de acentuar o Carvalho. - São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
preconceito racial sobre os negros, à medida que
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e
propõe um embraqueamento dos povos,
epidemias na Corte imperial/ Sidney Chalhoub.- São
relacionando a cor da pele ao atraso, à perversão, à Paulo: Companhia das Letras, 1996.
barbárie e a degenerescência.
Atualmente percebe-se que essas práticas COSTA, J. F. Ordem Médica e Norma Familiar. Rio de
tiveram grande repercussão e ainda sobrevivem Janeiro: Graal, 1983.
9
HÉRITIER, Françoise. O Eu, o Outro e a Intolerância. Foro Internacional sobre intolerância (1997: Paris, França). Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2000, p. 27.