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2010
RESUMO
Versa sobre a intervenção do Ministério Público no processo de falência, mormente na fase
preliminar. Traça delineamento do Parquet no ordenamento jurídico vigente. Disserta sobre o
conceito de interesse público e os direitos coletivos e difusos. Dimensiona tais fundamentos
no plano falimentar e aborda os aspectos constitucionais da disciplina conferida ao Ministério
Público e de suas funções institucionais. Analisa o Recurso Especial nº 867.128, atendo-se ao
argumento relativo à atuação interveniente do representante ministerial. Coteja o acórdão
prolatado com outros julgados que lhe são divergentes. Enfatiza a necessária manifestação do
fiscal da lei em todas as fases do processo, com sustentáculo em interpretação sistemática.
RESUMEN
Concierne a la intervención del Ministerio Público en el procedimiento de quiebra,
especialmente en la etapa preliminar. Traza la historia del Parquet en la ordenación jurídica
vigente. Se discute el concepto de interés público y los derechos colectivos y difusos. Trata
estos fundamientos em el nivel de la quiebra y se refiere a los aspectos constitucionales de la
asignatura dada al Ministerio Público y sus funciones institucionales. Analiza el Recurso
Especial n º 867.128, de acuerdo con la alegación relativa a la función de intervenir del
representante ministerial. Coteja la concertación promulgada con los demás que se
consideraron diferentes. Hace hincapié en la manifestación necesaria del fiscal de la ley en
todas las etapas del proceso, con el apoyo principal en la interpretación sistemática.
1 INTRUDUÇÃO
*
Aluna da Graduação em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
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legitimar a participação ministerial ou, em reverso, para ponderar pela inexistência de mácula
aos atos já executados sem a efetiva manifestação do Parquet. Trata-se de, sem maiores
reflexões sobre a importância histórica da instituição e sua essencialidade pactuada em ordem
constitucional, entendimento segundo o qual a finalidade da falência restringe-se à satisfação
dos credores, concluindo pelo caráter privatístico da demanda e minorando a atuação do
Ministério Público no curso do processo.
Com o fito de analisar tal perspectiva sob o prisma doutrinário, sem, todavia, a
pretensão de exaurir o temário, o presente estudo dedica-se à pesquisa sobre o Parquet,
permeando sua modelagem constitucional hodierna, em inquirição de sua relevância no
panorama jurídico e democrático. Passa, a seguir, ao estudo da ideia de interesse público e à
sua contextualização no plano falimentar, para, ao final, “atar as duas pontas da vida”, em
referência à obra machadiana1, inferindo pela sua fixação na fase preliminar do processo de
falência.
As considerações finais, com sustentáculo no Direito Constitucional e na doutrina
mais versada a respeito dos direitos coletivos e difusos, inseridos no conceito de interesse
público, pugnam pela necessidade de atuação ministerial no momento anterior à sentença
declaratória, consideração em harmonia com os aspectos históricos e teleológicos que serão
destacados neste trabalho.
2 MINISTÉRIO PÚBLICO
1
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 2008.
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2
SILVA, Cláudio Barros da. Ministério Público: uma instituição do Estado. Rio Grande do Sul, 2007.
Disponível em:< http://www.amprs.org.br/arquivos/comunicao _noticia/artigo_dr_ claudio_barros_silva.pdf>.
Acesso em: 15 out. 2009.
3
BRASIL. . Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967, com
a redação dada pela Emenda Constitucional n.1, de 17 de outubro de 1969 . Ed. Brasília, Distrito Federal:
Senado Federal, 1982.
4
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro
de 1988. In: ANGHER, Anne Joyce (org.). Vade Mecum. São Paulo: Rideel, 2009.
5
BULOS, Uadi Lammego. A Constituição Anotada.5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 1083.
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considerando a proteção a eles conferida contra eventuais represálias de agentes que viessem
a ser alcançados pela atividade ministerial.
O princípio da unidade diz respeito à constituição de um só órgão pelos membros do
Parquet, submetidos à direção de um procurador-geral. Registre-se que tal característica é
aplicável ao âmbito de cada uma das instituições em que se organiza, não para todas vistas
conjuntamente, isto é, em se tratando de Ministério Público Federal, a unidade significa que
todos os procuradores que desempenham suas atividades nesse âmbito compõem uma única
instituição, o que se aplica igualmente ao Ministério Público do Trabalho, ao Ministério
Público dos Estados, ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e ao Ministério
Público Militar, em seus respectivos quadros.
A indivisibilidade, por seu turno, refere-se ao óbice à fragmentação do MP em outros
Ministérios Públicos autônomos, não previstos pela Constituição, em seu rol taxativo.
Finalmente, deve-se ressaltar a garantia de autonomia funcional, aspecto primordial
para a efetiva atuação do Parquet frente a suas atribuições firmadas pela Carta Maior.
Alexandre de Moraes6 afirma que tamanha é a independência no exercício de suas funções
que seus integrantes só devem satisfação às leis e à sua consciência. Óbvio que a assertiva
merece temperamentos, considerando que tal margem de atuação insinua discricionariedade
exacerbada.
Por zelo à lisura e efetividade na atuação ministerial, representada a instituição por
seus membros, firmaram-se garantias e vedações aos integrantes do Ministério Público.
Bulos7 prefere denominá-las genericamente de garantias, subdividindo-as, posteriormente, em
garantias funcionais de liberdade, nas quais se inserem a vitaliciedade, a inamovibilidade e a
irredutibilidade de subsídios, e garantias funcionais de imparcialidade, referentes às vedações
citadas.
Quanto à primeira categoria, deve-se destacar que algumas garantias já haviam sido
previstas por Constituições pretéritas, mas não com tal amplitude e inteireza. Em regimes
autoritários, tais prerrogativas restavam frágeis frente ao poder de ingerência estatal, que,
muitas das vezes, por reger-se por Carta silente, aniquilavam conquistas expressamente
previstas em Constituições emanadas de regimes democráticos. Desta feita, a Carta Cidadã,
institucionalizando efetivamente o Parquet, concretizou garantias antes vulneráveis em face
da conjuntura histórica e política.
6
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 595.
7
BULOS, Uadi Lammego, op. cit., 2003, p. 1095.
41
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8
BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o
estatuto do Ministério Público da União. Diário Oficial da União, Brasília, 21 maio 1993.
9
BRASIL. Lei nº 8625, de 12 de fevereiro de 1993. Institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público,
dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 15 fev. 1993.
10
MORAES, Alexandre de, op. cit., 2007, p. 610.
11
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1246-PR. Relator Ministro
Moreira Alves. Data da decisão 06 de setembro de 1995. Diário de Justiça, Brasília, 06 out. 1995.
12
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução nº 08, de 08 de maio de 2006. Diário de
Justiça, Brasília, seção I, p. 933, 15 maio 2006.
42
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13
MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 64.
14
BULOS, Uadi Lammego, op. cit., 2007, p. 1139.
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3 INTERESSE PÚBLICO
15
MORAES, Alexandre de, op. cit., 2007, p. 600.
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verifica na jurisprudência. A lei brasileira não define o que seria interesse público, nem
mesmo lhe confere elementos necessários, como o faz em conceitos outros tais como o de
“urbano” para fins de cobrança do IPTU ou de “baixa renda” em matéria previdenciária.
Coube à doutrina lançar-se em busca de definição adequada à sua aplicação hodierna,
sobretudo como forma de dar cabo a ponderações que se inclinavam a visualizá-la inserida tão
somente no seio estatal. Interessante mencionar que não é particularmente brasileira essa
perquirição, mas observada igualmente em outros países, sempre sob a perspectiva espacial e
temporal a que está submetida.
Edwin Rekosh20, ao escrever sobre a advocacia do interesse público, afirma que há
múltiplos significados para a expressão, destacando as perspectivas social, substantiva e
processual existentes, sempre em alusão aos Estados Unidos. Sob o primeiro aspecto,
concerniria na defesa do povo, no contrapeso à força dos interesses das classes mais
poderosas, abrangendo, nesse desiderato, direitos civis, consumeristas, ambientais e
liberdades, no contexto do Estado Democrático.
Sob o prisma substantivo, o que mais se aproxima do objetivo deste item, admite o
estudioso a dificuldade em encontrar significado satisfatório para a expressão e conclui que
não houve êxito entre editores que se aventuraram em tal desígnio. Processualmente, por seu
turno, remeteria à instrumentalização da lei como meio para efetivar a participação da
sociedade organizada na consecução de políticas que atendam suas necessidades, no
direcionamento e redefinição da esfera pública. Seria, nas palavras do autor, “o elemento
crítico da democracia”.
Carla Huerta Ochoa21, em trabalho direcionado à Seguridade Social, nega que haja um
sentido unívoco ao conceito, ainda que regulamentado pelo Direito mexicano e delimitado
pelo acervo jurisprudencial.
Referindo-se ao âmbito administrativo, sustenta que a Teoria do Conceito
Indeterminado não se aplica para justificar a arbitrariedade na atuação estatal, o que, no que
interessa a este trabalho, poderia ser interpretado sob o prisma jurídico.
Significa que, mesmo se tratando de uma definição em aberto, da qual se busque
aproximação, sem a exatidão de conceitos outros mais objetivos, não há que se considerar que
20
REKOSH, Edwin. Quem define o interesse público?: estratégias do direito de interesse público na Europa
Centro-Oriental. Revista Internacional de Direitos Humanos: SUR, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 175-187, 1 sem.
2005. Disponível em: < http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/22031>. Acesso em: 16 out. 2009.
21
OCHOA, Carla Huerta. El concepto de interés público y su función em materia de seguridad nacional.
Seguridad Pública. CISNEROS FARÍAS, Germán; FERNÁNDEZ RUIZ, Jorge; LÓPEZ OLVERA, Miguel
Alejandro (Coords.), México, UNAM-Instituto de Investigaciones Jurídicas, 2007, pp. 132-136. Disponível
em:< www.bibliojuridica.org /libros/5/2375/8.pdf> . Acesso em: 16out. 2009.
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possa ser interpretado para ensejar decisões discricionárias pela sua (in)existência no caso em
observação, ou, ainda, pelos moldes em que se verificaria. Julga que o limite, quanto a tal
processo cognitivo, estaria na exclusão do sentido oposto, qual seja, o de interesse privado.
A caracterização residual da expressão “interesse público”, como sugere a autora, não
é, todavia, a ideal, como ela própria admite, ao afirmar que não se trataria necessariamente de
uma relação de oposição entre os conceitos, mas de superação, isto é, o interesse público
transcenderia o privado, o que torna insuficiente a definição do conceito por tal método.
Voltando-se ao Direito brasileiro, Fernando César Bolque22 apresenta inicialmente a
divergência doutrinária quanto à utilização dos vocábulos “direitos” e “interesses”, no que se
refere à defesa coletiva. Menciona que alguns autores aplicavam indistintamente os conceitos,
partindo da ideia de que, a partir do momento em que trazidos para o ordenamento,
adquiriram configuração legal, explicitada pela denominação “direito”. Outros, por
entenderem que esse termo seria estritamente vinculado ao aspecto individualista, que antes
prevalecia no âmbito jurídico, descartam sua utilização, conferindo primazia ao vocábulo
“interesse”, mais adequado à tutela de interesses coletivos.
Pontua o autor que, na prática legislativa brasileira, adotou-se o primeiro
entendimento, o que importou a concepção sinonímica dos termos ao tratar de questões
atinentes ao bem social. Exemplo estaria no parágrafo único do artigo 81 da lei nº 8078/9023,
que versa sobre a tutela dos interesses consumeristas.
O pesquisador utiliza o vocábulo “direitos metaindividuais” para designar gênero do
qual seriam espécies os direitos coletivos e difusos. Socorrendo-se do trabalho de Mancuso24,
afirma que estes direitos se caracterizam pela indeterminação dos sujeitos, pela
indivisibilidade do objeto, pela litigiosidade interna e, finalmente, por sua transfiguração
espaço-temporal25. Diferenciam-se dos direitos coletivos pelo fato de que estes últimos
possibilitam a identificação dos indivíduos ou dos grupos a eles vinculados.
Quanto aos direitos individuais homogêneos, espécie autônoma em relação ao gênero
metaindividual acima apontado, afirma que mantêm sua qualidade de individuais, porque
pertinentes aos indivíduos assim considerados, e não inseridos em uma coletividade passível
ou não de identificação. São, portanto, de titularidade facilmente reconhecida, mas que, em
22
BOLQUE, Fernando César. Interesses difusos e coletivos: conceito e legitimidade para agir. Justitia, São
Paulo, v. 61, n. 185/188, p. 174-200, jan./dez. 1999. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/dspace
/handle/2011/23701>. Acesso em: 16out. 2009.
23
BRASIL. Lei n. 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2007.
24
MANCUSO apud BOLQUE, op. cit., 1999, p. 186.
25
BOLQUE, Fernando César, op. cit., 1999, p. 186.
47
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26
MAZZILLI, Hugo Nigro. Interesses coletivos e difusos. Justitia, São Paulo, v. 54, n. 157, p. 41-54, jan./mar.
1992. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/23377> . Acesso em: 16 out. 2009.
27
Id. Ibid., 1992, p. 42.
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que o representante do Parquet atuará como autor, portanto, parte material na relação jurídica
construída, importante salientar que, deste modo, o legislador tornou exemplificativos os
direitos até então referidos em ordem constitucional, permitindo que outros sejam apreciados
desta forma.
Essa interpretação, ainda que receba críticas daqueles que julgam taxativo o elenco de
matérias ditas coletivas em sentido amplo, coaduna-se ao que já fora mencionado no início
destas considerações: o valor semântico da expressão “interesse público”, por ser amplo e
abstrato, deve ser verificado em cada caso concreto, não se olvidando, por certo, da boa
técnica interpretativa, que exige, para tanto, a compreensão dos valores envolvidos, a tutela a
eles conferida pela Constituição e, por conseguinte, a legitimidade do Ministério Público, seja
na qualidade de parte, seja como fiscal maior da lei.
28
BRASIL. Lei nº 5869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, 17 jan. 1973.
29
FERNANDES, Carlos Henrique. Ministério Público e interesse público – A hipótese prevista no art. 82, inciso
III, parte final, do Código de Processo Civil.. Atuação - Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense - v.
2, n. 2, p. 11–52, jan./abr. 2004. Disponível em:< http://www.mp.sc. gov.br/portal /site/portal/portal_
detalhe.asp? campo=2636>. Acesso em: 17out. 2009.
49
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30
MENDONÇA LIMA apud FERNANDES, op. cit., 2004, p. 30.
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sirvam como pretexto para furtar-se da necessária conduta fiscalizadora que lhe compete em
questões que atinjam direitos coletivos, difusos ou individuais homogêneos.
Quanto ao entendimento jurisprudencial, colaciona-se, por oportuno, voto da Ministra
Relatora no julgamento do agravo n° 1.0074.07.034538-9/001, Maria Elza31, que, para tanto,
cita o promotor de justiça Mário Moraes Marques Júnior:
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pela Carta Maior, no que se insere a preservação da ordem jurídica, dever funcional do
Ministério Público, do qual não se poderá abster.
Considerando tais elementos, insustentável a dispensa, como se verifica em julgados
pelo País, do representante ministerial em sua atividade intervencionista, por entender-se que
não haja interesse público, mas tão somente matérias atinentes àqueles sujeitos da lide. A
referida consideração não prima pelas diretrizes delineadas, tampouco tem em relevo o papel
histórico do Parquet e sua intrínseca vinculação ao conceito em análise, razão pela qual não
merece guarida nos planos doutrinário e jurisprudencial domésticos.
Exemplo pertinente ao objeto deste estudo está no REsp nº867.128-SP, de relatoria
da Ministra Fátima Nancy Andrighi.32 Sobre a intervenção do Ministério Público na fase
preliminar da falência, assim se manifestou:
O entendimento esposado pela Relatora foi acompanhado pela maioria dos Ministros,
excetuando-se Massami Uyeda, que, discordando do voto apresentado, entendera necessária a
participação do Parquet em todas as fases do processo, mesmo antes da decretação de
falência, por se tratar de assunto de interesse público.33
Ainda que vencido, não se pode desconsiderar a pertinência do entendimento do
Ministro Uyeda, porquanto segue raciocínio que se fortalece na jurisprudência pátria, sob
fundamentos que vão além da Lei Falimentar e que se coadunam com a interpretação
sistemática e teleológica da Constituição Federal, da Lei Complementar nº 75/93 e do Código
de Processo Civil.
32
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 867.128-SP. Terceira Turma . Ministra Relatora
Fátima Nancy Andrighi. Julgado em 01 de outubro de 2009. Diário de Justiça, Brasília, 18 nov. 2009.
33
STJ matem decisão que decretou a falência da Transbrasil. Brasília, 2009. Disponível em:< http://www.
stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=94105>. Acesso em 17 out. 2009.
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4 CONCLUSÃO
34
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Agravo de Instrumento nº 2006.00.2.013721-9.
1ª Turma Cível. Relator: Desembargador Silvânio Barbosa dos Santos. Julgado em 14 de março de 2007.
Diário de Justiça, Brasília, 15 maio 2007.
35
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Agravo de Instrumento nº 20060020067027. 2ª
Turma Cível. Relator: Desembargador J.J. Costa Carvalho. Julgado em 11 de novembro de 2006. Diário de
Justiça, Brasília, 31 out. 2006.
36
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Voto da Ministra Relatora Leila Arlanch na
Apelação Cível nº 2007 01 1 009267-6. Sexta Turma Cível. Julgado em 07 de novembro de 2007. Diário de
Justiça, 18 dez. 2007.
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literalidade legal, o que se coaduna com a melhor interpretação da norma à luz da disciplina
constitucional e de dinâmica interpretação sistemática.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 2008.
BOLQUE, Fernando César. Interesses difusos e coletivos: conceito e legitimidade para agir.
Justitia, São Paulo, v. 61, n. 185/188, p. 174-200, jan./dez. 1999. Disponível em:
<http://bdjur.stj.gov.br/dspace /handle/2011/23701>. Acesso em: 16 out. 2009.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução nº 08, de 08 de maio de 2006.
Diário de Justiça, Brasília, seção I, p. 933, 15 maio 2006.
BRASIL. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de
janeiro de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional n.1, de 17 de outubro de
1969 . Ed. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal, 1982.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada
em 5 de outubro de 1988 . In: ANGHER, Anne Joyce (org.). Vade Mecum. São Paulo:
Rideel, 2009.
BRASIL. Lei nº 5869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.
BRASIL. Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2007.
BRASIL. Lei nº 8625, de 12 de fevereiro de 1993. Institui a Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público, dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos
Estados e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 15 fev. 1993.
BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organização, as
atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. Diário Oficial da União, Brasília,
21 maio 1993.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial n.
665414/PR. Ministro Relator Herman Benjamin, Segunda Tuma. Julgado em 08 de maio de
2007. Diário de Justiça, Brasília, 10 set. 2007.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 28529/ SP. Ministra Relatora
Laurita Vaz. Segunda Turma. Julgado em 25 de junho de 2002. Diário de Justiça, Brasília,
26 ago. 2002.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 154789/SP. Ministro Relator
Waldemar Zveiter. Terceira Turma. Julgado em em 07 de dezembro de 1999. Diário de
Justiça, Brasília, 21 fev. 2000.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 867.128-SP. Terceira Turma .
Ministra Relatora Fátima Nancy Andrighi. Julgado em 01 de outubro de 2009. Diário de
Justiça, Brasília, 18 nov. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1246-PR.
Relator Ministro Moreira Alves. Data da decisão 06 de setembro de 1995. Diário de Justiça,
Brasília, 06 out. 1995.
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